Hidrólise, Titulação, Solução Tampão.

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Hidrólise de sais

Hidrólise é a palavra grega que significa, «ruptura pela água».


Na presença da água alguns sais reagem produzindo soluções ácidas ou alcalinas. A
água pura é neutra e a concentração de iões hidrónio e hidróxido são iguais, por isso,
para que um sal torne a água ácida ou alcalina, deverá alterar a proporção entre os iões
H3O+ e OH-. Assim, durante a hidrólise ocorre uma ruptura das ligações H - O da
molécula da água.

Vamos em seguida analisar os diferentes tipos de sais. Porém, para esta análise
necessitamos de recordar algumas conclusões que tirámos anteriormente e outras que
já se estudaram em classes anteriores. Por isso, é importante recordar que:
✓ Os ácidos e as bases fortes têm uma grande extensão, na presença da água
ionizam-se completamente, o equilíbrio desloca-se para a direita e dificilmente, os
iões resultantes podem produzir a reação inversa, isto é, voltarem a produzir o ácido
ou a base da qual provêm;
✓ Os ácidos e as bases fracas têm uma pequena extensão, na presença da água
ionizam-se muito pouco, o equilíbrio desloca-se para a esquerda e facilmente os
iões resultantes podem produzir a reação inversa, isto é, voltarem a produzir o ácido
ou a base da qual provêm.
✓ Os sais são resultantes da reação entre um ácido e uma base. – Os sais que provêm
de um ácido ou de uma base forte são designados sais de ácido ou de base forte.
Enquanto os sais que provêm de um ácido ou de uma base fraca são designados
sais de ácido ou de base fraca.

Sais de ácido fraco e base forte


O acetato de sódio (CH3COONa) é um sal proveniente de um ácido fraco, o ácido
acético (CH3COOH), e de uma base forte, o hidróxido de sódio (NaOH).
Na presença da água, este sal dissocia-se de acordo com a equação química da reação:
NaC2H3O2 (s) ⇄ Na+ (aq) + C2H3O2- (aq)
ou
CH3COONa (s) + H2O (l) ⇄ Na+ (aq) + CH3COO- (aq)

• O ião Na+ provém de uma base forte, este dificilmente pode reagir com a água
formando a base forte, o ião Na+ é um ácido fraco.
• O iao CH3COO- provém de um ácido fraco, este facilmente pode reagir com a água
formando o ácido fraco, o ião CH3COO- é uma base forte.

Assim, a reação do ião CH3COO- com a água pode ser escrita da seguinte forma:
C2H3O2- (aq) + H2O (l) ⇄ CH3COOH (aq) + OH- (aq)

A presença de iões OH- no produto CH3COOH significa que a solução aquosa do acetato
de sódio tem carácter básico. Assim podemos concluir que:
• A solução aquosa de um sal proveniente de um ácido fraco e uma base forte
tem carácter alcalino ou básico.
Portanto, o carácter do sal que provém do mais «forte», neste caso a base, é que
predomina é carácter básico à solução.

Constante de hidrólise
Com base no equilíbrio estabelecido na hidrólise do ião acetato,
CH3COO- (aq) + H2O (l) ⇄ CH3COOH (aq) + OH- (aq)

Podemos escrever a expressão da constante de equilíbrio. Assim,


[CH COOH] . [OH− ] [CH3 COOH] . [OH− ]
Kc = [CH3 COO−] . [H O] ⟺ Kc . [H2O] = [CH COO− ]
3 2 3
O produto Kc . [H2O], define uma nova constante, a constante de hidrólise «Kh». Assim,
[CH3 COOH] . [OH− ]
Kh = [CH COO− ] 3

A ionização do ácido acético estabelece o seguinte equilíbrio:


HC2H3O2 (aq) + H2O (l) ⇄ C2H3O (aq) + H3O+ (aq)

Assim, a constante de acidez pode ser escrita na forma:


[CH3 COO− ] . [H3 O+] 1 [CH3 COOH]
Ka = [CH3 COOH] .
⟺ = [CH − ] . [H O+ ]
𝐾a 3 COO 3

Se multiplicar a equação da constante de hidrólise por [H3O+], teremos:


[CH3 COOH] . [OH− ] H O+
Kh = [CH3 COO− ]
. [H3 O+ ]
3

Agrupando as concentrações de forma diferente, podemos escrever:


[CH COOH]
Kh = [CH COO3 − ] . [H O+ ] . [H3 O+ ] . [OH − ]
3 3

Comparando a primeira parte da equação com a constante de acidez, vê-se que


𝐾
corresponde ao inverso da constante de acidez «Kh = 𝐾w », e a última parte da equação
a
corresponde ao produto iónico da água «𝐾w », pois Kw = [H3O+] . [OH-]. Assim,
𝐾
Kh = 𝐾w
a

Portanto, a constante de hidrólise do sal de ácido fraco e base forte é dada pelo
quociente entre o produto iónico da água e a constante de ácido que é a parte fraca
do sal.

Sais de ácido forte e base fraca


O cloreto de amónio (NH4CI) é um exemplo de um sal proveniente de um ácido forte, o
ácido clorídrico (HCI) e de uma base fraca, o amoníaco (NH 3).
Na presença da água, este sal dissocia-se de acordo com a equação química da reação:
NH4Cl (aq) + NH4+ (aq) ⇄ Cl- (aq)

• O ião CI- provém de um ácido forte, este ião dificilmente pode reagir com a água
formando o ácido forte. O ião CI- é uma base fraca.
• O ião NH4+ provém de uma base fraca, este ião facilmente pode reagir com a água
formando a base fraca. O ião N𝐇𝟒+ é um ácido forte.

O componente que provém da parte fraca do sal é que reage com a água (sofre a
hidrólise). Assim, a reação do ião NH4+ com a água, pode ser expressa:
NH4+ (aq) + H2O (l) ⇄ NH4+ (aq) + H3O+ (aq)

A presença de iões H3O+ significa que a solução aquosa de cloreto de amónio tem
carácter ácido. Assim, podemos concluir que:
• A solução aquosa de um sal proveniente de um ácido forte e uma base fraca
tem carácter ácido.
O carácter do «mais forte», neste caso o ácido, torna-se carácter da solução.
Constante de hidrólise
A semelhança do que fizemos anteriormente, com base no equilíbrio estabelecido na
hidrólise do ião amónio,
NH4+ (aq) + H2O (l) ⇄ NH3 (aq) + H3O+ (aq)

podemos escrever a expressão da constante de equilíbrio. Assim,


[NH3 ] . [H3 O+ ] [NH3 ] .[H3 O+ ]
Kc = [NH4+].[H2 O]
⇔ Kc . [H2O] = [NH+
4]

Tal como no caso anterior, o produto Kc . [H2O], define uma nova constante, a constante
de hidrólise «Kh». Assim,
[N𝐻3 ] .[H3 O+ ]
Kh = [NH+
4]

A ionização do amoníaco estabelece o seguinte equilíbrio:


NH3 (aq) + H2O (l) ⇄ NH4+ (aq) + OH- (aq)

Assim, a constante de basicidade pode ser escrita na forma:


[NH+ −
4 ] .[OH ] 1 [N𝐻3 ]
Kb = ⇔ =
[NH3 ] 𝐾b [NH4+] .[OH− ]

Se multiplicar a equação da constante de hidrólise por [OH-], teremos:


[N𝐻3 ] .[H3 O+ ] [OH− ][
Kh = [NH4 ]
. [ [OH− ] ]

Agrupando as concentrações de forma diferente, podemos escrever:


[N𝐻3 ] + − 𝐾w
Kh = [NH+ ] .[OH −] . [H3 O ]. [OH ] ⇔ Kh = 𝐾
4 b

A constante de hidrólise de um ácido forte e base fraca é dada pelo quociente do


produto iónico da água e da constante de basicidade (que é a parte fraca).

Sais de ácido forte e base forte


O cloreto de sódio (NaCI) é um exemplo de um sal proveniente de um ácido forte, o
ácido clorídrico (HCI) e de uma base forte, o hidróxido de sódio (NaOH).
Na presença da água, este sal dissocia-se de acordo com a reação:
NaCl (s) → Na+ (aq) + CI- (aq)

• O ião Na+ provém de uma base forte, dificilmente pode reagir com a água
formando base forte, ião Na+ é um ácido fraco.
• O ião Cl- também provém de um ácido forte, também dificilmente pode reagir
com a água formando o ácido forte, o ião CI- é uma base fraca.

Como consequência, nenhum dos iões sofre hidrólise. Lembre-se que no sal a partícula
que reage com a água (sofre a hidrólise) é a que provém «do lado fraco» e, como
nenhuma das partículas vem lado fraco, a solução contínua neutra, ou seja, [H3O+] =
[OH-]. Assim, podemos concluir que:
• A solução aquosa de um sal proveniente de um ácido forte e de uma base forte
tem carácter neutro e não sofre hidrólise.
Sais de ácido fraco e base fraca
O cianeto de amónio (NH4CN) é um exemplo de um sal proveniente de um ácido fraco,
o ácido cianídrico (HCN) e de uma base fraca, o hidróxido de amónio (NH 4OH).
Em presença de água, este sal dissocia-se de acordo com a reação:
NH4CN + H2O ⇄ NH4+ + CN-

• O ião NH4+ provém duma base fraca. Por isso reage com água formando a base
fraca. O ião N𝐇𝟒+ é um ácido forte.
• O ião CN- provém de um ácido fraco, é uma base forte. Por isso reage com água
formando o ácido fraco. O ião CN- é um ácido forte.
NH4+ + CN- + H2O ⇄ NH4OH + HCN
• A solução aquosa de um sal proveniente de um ácido fraco e base fraca tem
carácter neutro.

Constante de hidrólise
Tal como procedemos nos casos anteriores, na hidrólise de sal de ácido e base fracos:
NH4+ + CN- + H2O ⇄ NH4OH + HCN

A expressão da constante de equilíbrio será:


[𝑁𝐻 𝑂𝐻] . [𝐻𝐶𝑁] [𝑁𝐻4 𝑂𝐻] . [𝐻𝐶𝑁]
Kc = [NH+ ]4. [C𝑁− ] . [H O] ⇔ 𝐾c . [H2 O] = [NH + ] . [C𝑁 − ]
4 2 4
[𝑁𝐻4 𝑂𝐻] . [𝐻𝐶𝑁]
Kh =
[NH+ −
4 ] . [C𝑁 ]

Com recurso a artifícios matemáticos já vistos, resulta que:


𝐾
Kh = 𝐾 . w𝐾
a b

Na expressão de Kh, o denominador é sempre constituído pela constante K da parte


fraca do sal (do ácido fraco, da base fraca ou de ambos).
Em relação à hidrólise de sais pode-se concluir;
• Quem sofre a hidrólise não é o sal todo, mas apenas o ião correspondente ao
ácido ou base fracos.
• O ião que hidrolisa liberta da água, o ião de carga elétrica do mesmo sinal.
• Na solução predomina sempre o carácter do mais forte, No entanto, quando
ambos são fortes ou fracos, a solução é neutra.
• A hidrólise pode mudar o pH de uma solução. Quando se liberta H 3O+ a solução
torna-se ácida (pH <7).Quando se liberta o OH-, a solução torna-se básica (pH>
7).
Indicadores ácido-base

A medição do pH de solução, além da sua efetivação através de pH metro, também é


feita com maior regularidade, através do uso de indicadores ácido-base. É igual mente
comum o uso de indicadores universais, que são misturas de vários indicadores, cuja
cor varia gradualmente mostrando o valor de pH.

Indicadores ácido-base - são ácidos ou bases orgânicos fracos que alteram a sua cor
quando passam de um meio ácido para um meio básico ou vice-versa. Ou são
substâncias orgânicas (ácido e base conjugada) fracas que apresentam colorações
diferentes quando em meio ácido ou básico.

Características dos indicadores

• O indicador ácido e sua base conjugada devem apresentar duas cores bem
diferentes por forma a facilitar a identificação da mudança da cor.
• Os indicadores apresentam uma zona de viragem ou intervalo de viragem da
cor, que é o intervalo ou faixa de pH, relativamente curto, no qual um indicador
ácido-base sofre a alteração da cor.

Cores e intervalos de viragem de alguns indicadores ácido-bases

Cor em meio [H2] (mol/l) Intervalo de pH de


Indicadores
Ácido Básico viragem
Fenolftaleína Incolor Vermelha 8,2 à 10
Tornassol Vermelha Azul 5,0 à 7,0
Alaranjado de metil Vermelha Amarela 3,0 à 4,4
Azul de bromofenol Amarela Azul 3,0 à 4,4
Vermelha de metil Vermelho Amarelo 4,7 à 7,8
Azul de bromotimol Incolor Róseo 8,2 à 9,8

O funcionamento dos indicadores ácido-base toma como base o princípio de Le


Chatelier para o deslocamento de equilíbrios químicos. Consideremos por exemplo um
ácido Hln e sua base conjugada l. Num equilíbrio protolítico.

Hln + H2O ⇄ H3O+ + In−


Cor 1 Cor 2

É óbvio que quando ao sistema em equilíbrio se adiciona um ácido (aumento de H + ou


H3O+), o equilíbrio deslocar-se-á para a esquerda, manifestando-se assim, com maior
vigor, a cor 1. Entretanto, quando se adiciona uma base (aumento de iões OH -), estes
iões OH- reagem com H3O+ diminuindo a sua concentração no lado direito, facto que faz
com que o equilíbrio se desloque para a direita e passa a predominar a cor 2.
O indicador alaranjado de meti HMe, por exemplo, quando em solução estabelece o
equilíbrio:

HMe + H2O ⇄ H3O+ + Me−


Vermelho Incolor Amarelo
• A adição de um ácido, que corresponde ao aumento da concentração de H3O+,
desloca o equilíbrio para a esquerda e desta forma a solução torna-se vermelha.
• A adição de uma base, que é a inserção de iões OH- no sistema, fará com que
os OH- adicionados reajam com os H3O+ diminuindo assim a concentração
destes últimos. Assim o equilíbrio desloca-se para a direita, manifestando-se a
cor amarela.

Para o cálculo do pH de indicadores, que corresponde à zona de viragem destes,


consideremos o equilíbrio:

Hln + H2O ⇄ H3O+ + In−


[H3 O+] . [I−
n]
Ka =
[HI−
n]

Como:

Ka = Kind
[𝐾ind .[HI−
n]
[H3O+] =
[I−
n ]

Multiplicando ambos membros por -log


[𝐾ind .[HI−
n]
- log [H3O+] = - log [I−
n]

Sabe-se que

- log [H3O+] = pH e – logKa= pKa


[HI−
n]
pH= - log Kind – log [I−
n]

[I−
n]
pH = pKind + [HI−n]
Solução tampão
Quando 0,1 cm3 de uma solução de HCI a 1,0 M é adicionada a 1 dm 3 (1 litro) de água
ou de uma solução de cloreto de sódio, o pH muda bruscamente de 7 para 4, isto é, 3
unidades de pH. Isto demonstra, claramente, que o pH da água e da solução de cloreto
de sódio, são muito sensíveis, mesmo à adição de pequenas quantidades de ácidos ou
bases. Se isto acontecesse com sistemas biológicos, os organismos vivos morreriam
imediatamente. Felizmente, as plantas e os animais estão protegidos contra estas
mudanças bruscas no pH, devido à presença de tampões.
Soluções tampão - são soluções que resistem às mudanças do pH quando lhes são
adicionados um ácido ou uma base.
As soluções tampão são também importantes em vários processos industriais onde o
pH não deve variar muito de um determinado valor. Muitos alimentos sintéticos e
processados, devem ser preparados na forma de tampões, de tal forma que eles podem
ser digeridos no nosso corpo sem que alterem o seu pH. Por exemplo, o pH do sangue
é normalmente igual a 7,4. Na maioria dos casos, uma mudança de apenas 0,5 no pH
do sangue pode ser fatal.
As soluções tampão normalmente consistem em:
• Uma solução de um ácido fraco na presença do seu sal. Por exemplo, o ácido
etanóico e o etanoato de sódio ou, o ácido carbónico e o hidrogenocarbonato de
sódio.
• Uma solução de uma base fraca na presença do seu sal. Por exemplo, o
amoníaco e o cloreto de amónio.
Para melhor percebermos como um tampão funciona, podemos considerar um
hipotético ácido fraco «HA» e o seu sal «MA». Nesta solução, o ácido vai-se dissociar,
mas com pequena extensão, porque é um ácido fraco, enquanto o seu sal se vai
dissociar completamente. As reações dos equilíbrios que se estabelecem podem ser
representadas na forma:
HA (aq) ⇄ H+ (aq) + A- (aq)
MA (s) ⇄ M+ (aq) + A- (aq)

Assim, a mistura contém uma concentração relativamente elevada de ácido HA não


ionizada (por ser um ácido fraco). A concentração do ião A - também é relativamente
elevada.
• Se de repente se adicionar um ácido ao sistema, os iões H + do ácido vão
combinar com os iões A- da solução e vão formar ácido HA não ionizado.
• Se de repente se adicionar uma base ao sistema, os iões OH - vão combinar com
os iões H+ formando água. Consequentemente, o ácido HA deve-se dissociar
para restabelecer o equilíbrio. Assim, podemos afirmar que a formação de um
tampão se deve:
- À presença de iões A- que servem para eliminar os iões H + que são adicionados à
solução.
- À presença do ácido HA não dissociado para fornecer iões H +, para eliminar os iões
OH- que são adicionados à solução.
Uma solução tampão resiste à variação de pH até todo o ácido HÁ ou sal MA serem
consumidos. A esta resistência às variações de pH designa-se de efeito tampão.

Cálculo do pH de soluções tampão


Numa solução tampão constituída por um ácido fraco HA e o seu sal MA, estabelecem-
se os seguintes equilíbrios:
HA (aq) ⇄ H+ (aq) + A- (aq)
MA (s) ⇄ M+ (aq) + A- (aq)
Assim, podemos escrever a expressão da constante de acidez para o ácido.
[H+] . [A− ] [HA]
Ka = [HA]
⇔ [H+ ] = 𝐾𝑎 . [A− ]
Mas como o ácido é fraco e por isso se dissocia muito pouco, enquanto o sal se dissocia
completamente, a concentração dos iões [A-] será igual à concentração do sal. Assim,
podemos escrever:
[ácido]
[H+] = Ka.
[sal]
+
Como pH= - log [H ], então,
[ácido]
pH= - log (𝐾a . [sal]
)
[ácido]
⟺ pH = - log pKa – log [sal]
(logaritmo de um produto é igual à soma dos logaritmos).
[ácido]
pH = pKa – log [sal]

Nota: pKa= - log Ka


Porém, também se usa outra relação que vamos deduzir em seguida:
⟺ pH = -log Ka - (log [ácido] - log [sal]) (logaritmo de um quociente é igual a diferença dos logaritmos).
⟺ pH =- log Ka – log[ácido] + log [sal] ⟺
[sal]
⟺ pH = pKa + log [ácido]

Esta última expressão corresponde a chamada Equação de Henderson-Hasselbach


para um tampão ácido.
No caso de um tampão formado por uma base fraca e o seu sal, as equações para o
cálculo do pH do tampão são:
[base] [sal]
pOH = pKb – log [sal] ou ⟹ pOH = pKb – log [base]

E esta é a equação de Henderson-Hasselbach para tampões básicos.

Importância das soluções tampão


As soluções tampão têm grande importância em processos biológicos, em investigações
bioquímicas, na medicina no funcionamento dos organismos vivos. Também são
importantes na indústria.
Nas investigações bioquímicas, por exemplo, as culturas de microrganismos são, em
geral desenvolvidas em meios tamponados pois, estes vivem melhor em determinadas
faixas de pH. Os fluidos corporais também são mantidos em sistemas tampões. Por
exemplo, o sangue deve ser mantido a um pH entre 7,3 a 7,5 graças ao sistema:
HCO− 2−
3 /H2CO3 e HPO4 /H2PO4

O suco gástrico deve ser mantido a um pH que se encontra entre 1,6 e 1,8.

Exercício resolvido
1. Uma solução tampão foi feita pela adição de 3,28 g de etanoato de sódio com 1 litro
de ácido etanóico a 0,01 mol/l.
a) Calcule o pH do tampão (Ka = 1,7.10-5).
b) Calcule o pH, quando se adiciona 1 cm3 de NaOH de 1 M ao tampão.

Resolução
a) São dados os seguintes valores:
M=3,28g
V=1l
[CH3COOH] = 0,01 mol/l
O número de moles do sal pode ser determinado pela expressão:
n 3,28
n = M ⟹ n = 82 ⇔ n = 0,04 mol
A concentração do sal pode ser determinada pela expressão:
n 0,04
C= ⇒C= ⇔ C = 0,04 mol/l
V 1
Podemos calcular o pH do tampão através da equação:
[ácido] 0,01
pH = pKa – log [sal]
⟹ pH = - log (1,75.10-5) – log 0,04 ⟹ pH = 5,37
b) Como:
V= 1 cm3 = 0,001 dm3
C = 1M
n
C = V ⇔ n = C·V ⟹ n=1.0,001 ⇔ n = 0,001 mol

Isto significa que foram adicionados ao tampão 0,001 mol de iões OH- (porque NaOH é
uma base forte e dissocia-se completamente).
Quando se adiciona NaOH ao tampão, ele reage com o CH3COOH e forma CH3COONa,
por isso a concentração do ácido diminui em 0,001 mol e do sal aumenta em 0,001 mol.
Assim, após a adição de 0,001 mol de NaOH,
[acido] = 0,01-0,001 = 0,009 mol/l
[sal] = 0,04 + 0,001 = 0,041mol/l
Assim,
[ácido] 0,009
pH = pKa – log [sal] ⟹ pH = - log (1,75.10-5) – log 0,041 ⇔ pH = 5,43
Nota: se se tivesse adicionado um ácido em vez de uma base, a concentração do ácido
iria aumentar e do sal iria diminuir.

Solubilidade e produto de solubilidade


Quando em um litro de água se deita gradualmente pequenas quantidades de um
composto, observa-se que o composto vai-se dissolvendo até um ponto em que não
mais se dissolve sequer um grão do composto – a solução ficou saturada.

Solubilidade de um composto é a quantidade máxima de um soluto que conseguimos


dissolver numa certa quantidade de solvente para obter 1 litro de solução saturada, a
uma dada temperatura. Ou é a quantidade de substância (massa) necessária para
saturar 100 g ou 1000 g ou 1 litro de solvente, a temperatura fixa.
Certas substâncias são muito solúveis em determinado solvente, por exemplo, pode-
se dissolver,220 g de nitrato de prata, AgNO3 em 1 litro de água; outras são pouco
solúveis, por exemplo, podemos dissolver 2 g de sulfato de cálcio, CaSO 4 em, 1 litro
de água. Também existem substâncias muito pouco solúveis ou insolúveis, por
exemplo, 0,009 g de sulfato de bário, BaSO4, a 273 K.
A solubilidade, geralmente representa-se pela letra «s». Para:
• s <0,01 M - substância insolúvel
• 0,01 <s <0,1 M - substância pouco solúvel
• s > 0,1 M - substância bem solúvel

Na solução saturada estabelece-se um equilíbrio entre os iões do sólido [M + (aq), X- (aq)]


dissolvido e o excesso de sólido [MX (s)] na solução:
MX (s) ⇄ M+ (aq) + X- (aq)

A lei de Equilíbrio para a reação é:


[M+] .[X− ]
Kc = [MX]

Mas como a concentração do MX é constante porque está no estado sólido, o produto


Kc · [M+]. [X-] define uma nova constante chamada produto de solubilidade ou
constante do produto de solubilidade «Kps» ou «Ks».
O produto de solubilidade é o produto das concentrações dos iões de um soluto sólido
numa solução saturada no equilíbrio, estando cada concentração elevada à potência
igual ao coeficiente do ião na equação de dissociação iónica.
Para a equação:
MX (s) ⇄ yM+ (aq) + zX- (aq) Ks = [M+] y · [X-] x
Formação de precipitado
Uma importante aplicação do produto de solubilidade é a possibilidade de prever a
formação de precipitados (sólidos que se depositam no fundo do recipiente da solução).
O produto de solubilidade é determinado pelo produto das concentrações dos iões no
equilíbrio tratando-se de uma solução saturada. E os valores deste encontram-se
tabelados.
Entretanto, pode-se determinar o produto iónico, Pl ou quociente da reação, Qs, em
qualquer momento da formação do equilíbrio iónico dos sólidos. O produto iónico é
determinado pelo produto das concentrações dos iões no equilíbrio, estando estes
elevadas aos respectivos coeficientes dos iões.
Comparando o valor do produto iónico Pl, com o produto de solubilidade Ks (cujos
valores estão tabelados) podemos prever se no equilíbrio haverá formação de
precipitado ou não.
Generalizando, se:
• Pl <Ks, não ocorre a formação de precipitado.
• PI = Ks, temos uma solução saturada.
• P1> Ks, ocorre a formação de precipitado.

Exercícios resolvidos
1. Haverá ou não formação de precipitado quando misturam-se volumes iguais de
cloreto de cálcio, CaCl2 0,05 M e sulfato de sódio, Na2SO4 0,00 4M? Dado K, (CaSO4)
= 9. 10-6.
Resolução
Dados
V1=V2
[CaCl2] = 0,05 M
[Na2SO4] = 0,004 M
Ks (Ca2SO4) =9.10-6
PI=?
Para se saber se haverá ou não formação de precipitado, deve-se calcular o produto
iónico do sal «insolúvel» resultante da mistura dos sais dados. Assim procede-se:
CaCl2 + H2O → Caa+ + 2CI-
Na2SO4 + H2O → 2Na+ + SO4
Ca2+ + SO2−4 → CaSO4
Portanto, quando se mistura as soluções dos sais CaCl 2 e Na2SO4, forma-se o sal
«insolúvel» de CaSO4. A equação de ionização de CaSO4 que nos permite determinar
o produto iónico, PI é:→
CaSO4 + H2O → Ca2+ + SO2− 4

As concentrações dos iões Ca2+ e SO2− 4 antes da mistura são iguais às dos respectivos
sais (sal dissocia-se completamente). Entretanto deve-se usar as concentrações destes
depois da mistura.
Como se trata de volumes iguais (V1 = V2) dos sais dissolvidos, o volume total será g
dobro do volume inicial de cada solução de sal dado. Pelo que, as concentrações dos
iões Ca2+ e S0a depois da mistura, passam a ser metade das concentrações iniciais.
[CaCl2+ ]0 0,05
[Ca2+]o = [CaCl2]o = 0,05M → [Ca2+]f = = = 0,025M
2 2
[SO2−
4 ]0 0,004
[SO2− 2−
4 ]o = [Na2SO4]o= 0,004 M → [SO4 ]f = 2
= 2
= 0,002M
Com base nestas concentrações determina-se o P.l:
PI (CaSO4) = [Ca2+]·[SO2−
4 ]
P| (CaSO4) = 0,025 ×0,002
PI (CaSO4) = 0,00005
PI (CaSO4) = 5·10-5
Comparando o produto iónico, PI (CaSO4) e o produto de solubilidade Ks (CaSO4) =
9.10-6, tem-se PI> Ks. Quando é assim, conclui-se que de facto haverá formação de
precipitado de CaSO4.
R.: Há formação de precipitado, pois o produto iónico é maior que o produto de
solubilidade.

Titulação
Titulação - é uma técnica laboratorial de análise química quantitativa, usada para
determinar a concentração de um determinado reagente.

A área da química que se dedica a esta determinação das concentrações das soluções
ou simplesmente dosagem das soluções chama-se titulometria.
Na medicina, a titulação é um processo de determinação da dosagem de
medicamentos de modo a encontrar o efeito desejado, com êxito para os pacientes.
Com certeza, não se administra volume igual de medicamento de certa concentração a
um bebé e a um adulto.

O princípio básico para se determinar a concentração de uma solução consiste em


estabelecer uma reação química entre um volume conhecido da solução de
concentração desconhecida (solução problema) com um volume determinado de um
reagente de concentração conhecida (solução padrão).
Existem dois métodos básicos para a determinação da concentração das soluções: a
volumetria e a gravimetria. A volumetria baseia-se na medida dos volumes das
soluções reagentes e, a gravimetria baseia-se na pesagem de um dos produtos da
reação. A gravimetria tem a vantagem de oferecer resultados mais exactos, no entanto,
a volumetria fornece rapidamente os resultados.

Titulação volumétrica
Consideremos a volumetria por neutralização. Para este efeito basta fazer reagir um
volume conhecido de solução problema com um volume conhecido de solução padrão.
Assim:
Solução problema 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑖𝑑𝑜 − 𝑉1 Solução problema 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑖𝑑𝑜 − 𝑉2
{ {
𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑐𝑎𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎 − 𝑁1 𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑐𝑎𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎 − 𝑁2
Então, aplicando o princípio de equivalência:
N2 . N2
N1. V1 = N2. V2 ⇔ N1 =
V1
determinando-se a concentração desconhecida N1.
Nota: no caso de concentração molar o princípio de equivalência é:
M2 . V2
M1. V1 = M2. V2 ⇔ M1 =
V1
Reações redox e electroquímica
O termo «redox» é usado pelos químicos como uma abreviatura dos processos de
redução e oxidação. Estes dois processos ocorrem usualmente em simultâneo. As
reações redox incluem os processos tais como a queima, o enferrujamento e a
respiração. Originalmente, os químicos tinham um ponto de vista muito limitado das
reações redox. Usavam apenas o termo para descrever as reações entre o oxigénio e
outras substâncias em que houvesse perda e ganho de oxigénio, simultaneamente.
Hoje em dia, foi estendida para incluir todos os processos em que ocorre a transferência
de eletrões. Uma importante aplicação das reações redox, é a produção de energia
elétrica a partir de reações químicas. Este é o fenómeno que ocorre nas pilhas de uso
doméstico e baterias de automóvel.

Quando um metal reage com oxigénio para formar óxidos, por exemplo:
2Mg (s) + O2 (g) → 2Mg2+ + O2
2Na (s) + O2 (g) → 2Na+ + O2
2Mg —> 2Mg2+ + 4e-
O2 + 4e- → 2O2

O metal é oxidado e o oxigénio é reduzido. Durante este processo, os átomos do metal


perdem eletrões para formarem iões positivos e o oxigénio ganha eletrões para
formar iões negativos. O oxigénio recebe os eletrões cedidos pelo metal.

Reações com transferência de eletrões como a que acabamos de ver, são chamadas
reações redox. As equações separadas em que se mostram os eletrões cedidos e
recebidos, são chamadas semi-equações ou semi-reações.
A oxidação é definida como a reação de perda de eletrões e a redução é definida como
a reação de ganho de eletrões.

Na primeira semi-reação, o Mg perde eletrões, por isso é oxidado para Mg2+; por outro
lado, o O2 ganha eletrões, por isso, é reduzido.
O agente oxidante é definido como a espécie que recebe eletrões. A espécie que cede
eletrões é definida como o agente redutor. Por isso, o Mg é o agente redutor e o O2 é
o agente oxidante.
Há aqui uma espécie de troca. A substância que sofre oxidação é o agente redutor e a
que sofre redução é o agente oxidante.

Resumindo:
• Reações redox são reações que ocorrem com transferência de eletrões.
• Oxidação é a reação que ocorre com perda de eletrões.
• Redução é a reação que ocorre com ganho de eletrões.
• Agente oxidante é a substância que sofre redução.
• Agente redutor é a substância que sofre oxidação.

Tipos de reacções redox

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