Hidrólise, Titulação, Solução Tampão.
Hidrólise, Titulação, Solução Tampão.
Hidrólise, Titulação, Solução Tampão.
Vamos em seguida analisar os diferentes tipos de sais. Porém, para esta análise
necessitamos de recordar algumas conclusões que tirámos anteriormente e outras que
já se estudaram em classes anteriores. Por isso, é importante recordar que:
✓ Os ácidos e as bases fortes têm uma grande extensão, na presença da água
ionizam-se completamente, o equilíbrio desloca-se para a direita e dificilmente, os
iões resultantes podem produzir a reação inversa, isto é, voltarem a produzir o ácido
ou a base da qual provêm;
✓ Os ácidos e as bases fracas têm uma pequena extensão, na presença da água
ionizam-se muito pouco, o equilíbrio desloca-se para a esquerda e facilmente os
iões resultantes podem produzir a reação inversa, isto é, voltarem a produzir o ácido
ou a base da qual provêm.
✓ Os sais são resultantes da reação entre um ácido e uma base. – Os sais que provêm
de um ácido ou de uma base forte são designados sais de ácido ou de base forte.
Enquanto os sais que provêm de um ácido ou de uma base fraca são designados
sais de ácido ou de base fraca.
• O ião Na+ provém de uma base forte, este dificilmente pode reagir com a água
formando a base forte, o ião Na+ é um ácido fraco.
• O iao CH3COO- provém de um ácido fraco, este facilmente pode reagir com a água
formando o ácido fraco, o ião CH3COO- é uma base forte.
Assim, a reação do ião CH3COO- com a água pode ser escrita da seguinte forma:
C2H3O2- (aq) + H2O (l) ⇄ CH3COOH (aq) + OH- (aq)
A presença de iões OH- no produto CH3COOH significa que a solução aquosa do acetato
de sódio tem carácter básico. Assim podemos concluir que:
• A solução aquosa de um sal proveniente de um ácido fraco e uma base forte
tem carácter alcalino ou básico.
Portanto, o carácter do sal que provém do mais «forte», neste caso a base, é que
predomina é carácter básico à solução.
Constante de hidrólise
Com base no equilíbrio estabelecido na hidrólise do ião acetato,
CH3COO- (aq) + H2O (l) ⇄ CH3COOH (aq) + OH- (aq)
Portanto, a constante de hidrólise do sal de ácido fraco e base forte é dada pelo
quociente entre o produto iónico da água e a constante de ácido que é a parte fraca
do sal.
• O ião CI- provém de um ácido forte, este ião dificilmente pode reagir com a água
formando o ácido forte. O ião CI- é uma base fraca.
• O ião NH4+ provém de uma base fraca, este ião facilmente pode reagir com a água
formando a base fraca. O ião N𝐇𝟒+ é um ácido forte.
O componente que provém da parte fraca do sal é que reage com a água (sofre a
hidrólise). Assim, a reação do ião NH4+ com a água, pode ser expressa:
NH4+ (aq) + H2O (l) ⇄ NH4+ (aq) + H3O+ (aq)
A presença de iões H3O+ significa que a solução aquosa de cloreto de amónio tem
carácter ácido. Assim, podemos concluir que:
• A solução aquosa de um sal proveniente de um ácido forte e uma base fraca
tem carácter ácido.
O carácter do «mais forte», neste caso o ácido, torna-se carácter da solução.
Constante de hidrólise
A semelhança do que fizemos anteriormente, com base no equilíbrio estabelecido na
hidrólise do ião amónio,
NH4+ (aq) + H2O (l) ⇄ NH3 (aq) + H3O+ (aq)
Tal como no caso anterior, o produto Kc . [H2O], define uma nova constante, a constante
de hidrólise «Kh». Assim,
[N𝐻3 ] .[H3 O+ ]
Kh = [NH+
4]
• O ião Na+ provém de uma base forte, dificilmente pode reagir com a água
formando base forte, ião Na+ é um ácido fraco.
• O ião Cl- também provém de um ácido forte, também dificilmente pode reagir
com a água formando o ácido forte, o ião CI- é uma base fraca.
Como consequência, nenhum dos iões sofre hidrólise. Lembre-se que no sal a partícula
que reage com a água (sofre a hidrólise) é a que provém «do lado fraco» e, como
nenhuma das partículas vem lado fraco, a solução contínua neutra, ou seja, [H3O+] =
[OH-]. Assim, podemos concluir que:
• A solução aquosa de um sal proveniente de um ácido forte e de uma base forte
tem carácter neutro e não sofre hidrólise.
Sais de ácido fraco e base fraca
O cianeto de amónio (NH4CN) é um exemplo de um sal proveniente de um ácido fraco,
o ácido cianídrico (HCN) e de uma base fraca, o hidróxido de amónio (NH 4OH).
Em presença de água, este sal dissocia-se de acordo com a reação:
NH4CN + H2O ⇄ NH4+ + CN-
• O ião NH4+ provém duma base fraca. Por isso reage com água formando a base
fraca. O ião N𝐇𝟒+ é um ácido forte.
• O ião CN- provém de um ácido fraco, é uma base forte. Por isso reage com água
formando o ácido fraco. O ião CN- é um ácido forte.
NH4+ + CN- + H2O ⇄ NH4OH + HCN
• A solução aquosa de um sal proveniente de um ácido fraco e base fraca tem
carácter neutro.
Constante de hidrólise
Tal como procedemos nos casos anteriores, na hidrólise de sal de ácido e base fracos:
NH4+ + CN- + H2O ⇄ NH4OH + HCN
Indicadores ácido-base - são ácidos ou bases orgânicos fracos que alteram a sua cor
quando passam de um meio ácido para um meio básico ou vice-versa. Ou são
substâncias orgânicas (ácido e base conjugada) fracas que apresentam colorações
diferentes quando em meio ácido ou básico.
• O indicador ácido e sua base conjugada devem apresentar duas cores bem
diferentes por forma a facilitar a identificação da mudança da cor.
• Os indicadores apresentam uma zona de viragem ou intervalo de viragem da
cor, que é o intervalo ou faixa de pH, relativamente curto, no qual um indicador
ácido-base sofre a alteração da cor.
Como:
Ka = Kind
[𝐾ind .[HI−
n]
[H3O+] =
[I−
n ]
Sabe-se que
[I−
n]
pH = pKind + [HI−n]
Solução tampão
Quando 0,1 cm3 de uma solução de HCI a 1,0 M é adicionada a 1 dm 3 (1 litro) de água
ou de uma solução de cloreto de sódio, o pH muda bruscamente de 7 para 4, isto é, 3
unidades de pH. Isto demonstra, claramente, que o pH da água e da solução de cloreto
de sódio, são muito sensíveis, mesmo à adição de pequenas quantidades de ácidos ou
bases. Se isto acontecesse com sistemas biológicos, os organismos vivos morreriam
imediatamente. Felizmente, as plantas e os animais estão protegidos contra estas
mudanças bruscas no pH, devido à presença de tampões.
Soluções tampão - são soluções que resistem às mudanças do pH quando lhes são
adicionados um ácido ou uma base.
As soluções tampão são também importantes em vários processos industriais onde o
pH não deve variar muito de um determinado valor. Muitos alimentos sintéticos e
processados, devem ser preparados na forma de tampões, de tal forma que eles podem
ser digeridos no nosso corpo sem que alterem o seu pH. Por exemplo, o pH do sangue
é normalmente igual a 7,4. Na maioria dos casos, uma mudança de apenas 0,5 no pH
do sangue pode ser fatal.
As soluções tampão normalmente consistem em:
• Uma solução de um ácido fraco na presença do seu sal. Por exemplo, o ácido
etanóico e o etanoato de sódio ou, o ácido carbónico e o hidrogenocarbonato de
sódio.
• Uma solução de uma base fraca na presença do seu sal. Por exemplo, o
amoníaco e o cloreto de amónio.
Para melhor percebermos como um tampão funciona, podemos considerar um
hipotético ácido fraco «HA» e o seu sal «MA». Nesta solução, o ácido vai-se dissociar,
mas com pequena extensão, porque é um ácido fraco, enquanto o seu sal se vai
dissociar completamente. As reações dos equilíbrios que se estabelecem podem ser
representadas na forma:
HA (aq) ⇄ H+ (aq) + A- (aq)
MA (s) ⇄ M+ (aq) + A- (aq)
O suco gástrico deve ser mantido a um pH que se encontra entre 1,6 e 1,8.
Exercício resolvido
1. Uma solução tampão foi feita pela adição de 3,28 g de etanoato de sódio com 1 litro
de ácido etanóico a 0,01 mol/l.
a) Calcule o pH do tampão (Ka = 1,7.10-5).
b) Calcule o pH, quando se adiciona 1 cm3 de NaOH de 1 M ao tampão.
Resolução
a) São dados os seguintes valores:
M=3,28g
V=1l
[CH3COOH] = 0,01 mol/l
O número de moles do sal pode ser determinado pela expressão:
n 3,28
n = M ⟹ n = 82 ⇔ n = 0,04 mol
A concentração do sal pode ser determinada pela expressão:
n 0,04
C= ⇒C= ⇔ C = 0,04 mol/l
V 1
Podemos calcular o pH do tampão através da equação:
[ácido] 0,01
pH = pKa – log [sal]
⟹ pH = - log (1,75.10-5) – log 0,04 ⟹ pH = 5,37
b) Como:
V= 1 cm3 = 0,001 dm3
C = 1M
n
C = V ⇔ n = C·V ⟹ n=1.0,001 ⇔ n = 0,001 mol
Isto significa que foram adicionados ao tampão 0,001 mol de iões OH- (porque NaOH é
uma base forte e dissocia-se completamente).
Quando se adiciona NaOH ao tampão, ele reage com o CH3COOH e forma CH3COONa,
por isso a concentração do ácido diminui em 0,001 mol e do sal aumenta em 0,001 mol.
Assim, após a adição de 0,001 mol de NaOH,
[acido] = 0,01-0,001 = 0,009 mol/l
[sal] = 0,04 + 0,001 = 0,041mol/l
Assim,
[ácido] 0,009
pH = pKa – log [sal] ⟹ pH = - log (1,75.10-5) – log 0,041 ⇔ pH = 5,43
Nota: se se tivesse adicionado um ácido em vez de uma base, a concentração do ácido
iria aumentar e do sal iria diminuir.
Exercícios resolvidos
1. Haverá ou não formação de precipitado quando misturam-se volumes iguais de
cloreto de cálcio, CaCl2 0,05 M e sulfato de sódio, Na2SO4 0,00 4M? Dado K, (CaSO4)
= 9. 10-6.
Resolução
Dados
V1=V2
[CaCl2] = 0,05 M
[Na2SO4] = 0,004 M
Ks (Ca2SO4) =9.10-6
PI=?
Para se saber se haverá ou não formação de precipitado, deve-se calcular o produto
iónico do sal «insolúvel» resultante da mistura dos sais dados. Assim procede-se:
CaCl2 + H2O → Caa+ + 2CI-
Na2SO4 + H2O → 2Na+ + SO4
Ca2+ + SO2−4 → CaSO4
Portanto, quando se mistura as soluções dos sais CaCl 2 e Na2SO4, forma-se o sal
«insolúvel» de CaSO4. A equação de ionização de CaSO4 que nos permite determinar
o produto iónico, PI é:→
CaSO4 + H2O → Ca2+ + SO2− 4
As concentrações dos iões Ca2+ e SO2− 4 antes da mistura são iguais às dos respectivos
sais (sal dissocia-se completamente). Entretanto deve-se usar as concentrações destes
depois da mistura.
Como se trata de volumes iguais (V1 = V2) dos sais dissolvidos, o volume total será g
dobro do volume inicial de cada solução de sal dado. Pelo que, as concentrações dos
iões Ca2+ e S0a depois da mistura, passam a ser metade das concentrações iniciais.
[CaCl2+ ]0 0,05
[Ca2+]o = [CaCl2]o = 0,05M → [Ca2+]f = = = 0,025M
2 2
[SO2−
4 ]0 0,004
[SO2− 2−
4 ]o = [Na2SO4]o= 0,004 M → [SO4 ]f = 2
= 2
= 0,002M
Com base nestas concentrações determina-se o P.l:
PI (CaSO4) = [Ca2+]·[SO2−
4 ]
P| (CaSO4) = 0,025 ×0,002
PI (CaSO4) = 0,00005
PI (CaSO4) = 5·10-5
Comparando o produto iónico, PI (CaSO4) e o produto de solubilidade Ks (CaSO4) =
9.10-6, tem-se PI> Ks. Quando é assim, conclui-se que de facto haverá formação de
precipitado de CaSO4.
R.: Há formação de precipitado, pois o produto iónico é maior que o produto de
solubilidade.
Titulação
Titulação - é uma técnica laboratorial de análise química quantitativa, usada para
determinar a concentração de um determinado reagente.
A área da química que se dedica a esta determinação das concentrações das soluções
ou simplesmente dosagem das soluções chama-se titulometria.
Na medicina, a titulação é um processo de determinação da dosagem de
medicamentos de modo a encontrar o efeito desejado, com êxito para os pacientes.
Com certeza, não se administra volume igual de medicamento de certa concentração a
um bebé e a um adulto.
Titulação volumétrica
Consideremos a volumetria por neutralização. Para este efeito basta fazer reagir um
volume conhecido de solução problema com um volume conhecido de solução padrão.
Assim:
Solução problema 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑖𝑑𝑜 − 𝑉1 Solução problema 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑖𝑑𝑜 − 𝑉2
{ {
𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑐𝑎𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎 − 𝑁1 𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑐𝑎𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎 − 𝑁2
Então, aplicando o princípio de equivalência:
N2 . N2
N1. V1 = N2. V2 ⇔ N1 =
V1
determinando-se a concentração desconhecida N1.
Nota: no caso de concentração molar o princípio de equivalência é:
M2 . V2
M1. V1 = M2. V2 ⇔ M1 =
V1
Reações redox e electroquímica
O termo «redox» é usado pelos químicos como uma abreviatura dos processos de
redução e oxidação. Estes dois processos ocorrem usualmente em simultâneo. As
reações redox incluem os processos tais como a queima, o enferrujamento e a
respiração. Originalmente, os químicos tinham um ponto de vista muito limitado das
reações redox. Usavam apenas o termo para descrever as reações entre o oxigénio e
outras substâncias em que houvesse perda e ganho de oxigénio, simultaneamente.
Hoje em dia, foi estendida para incluir todos os processos em que ocorre a transferência
de eletrões. Uma importante aplicação das reações redox, é a produção de energia
elétrica a partir de reações químicas. Este é o fenómeno que ocorre nas pilhas de uso
doméstico e baterias de automóvel.
Quando um metal reage com oxigénio para formar óxidos, por exemplo:
2Mg (s) + O2 (g) → 2Mg2+ + O2
2Na (s) + O2 (g) → 2Na+ + O2
2Mg —> 2Mg2+ + 4e-
O2 + 4e- → 2O2
Reações com transferência de eletrões como a que acabamos de ver, são chamadas
reações redox. As equações separadas em que se mostram os eletrões cedidos e
recebidos, são chamadas semi-equações ou semi-reações.
A oxidação é definida como a reação de perda de eletrões e a redução é definida como
a reação de ganho de eletrões.
Na primeira semi-reação, o Mg perde eletrões, por isso é oxidado para Mg2+; por outro
lado, o O2 ganha eletrões, por isso, é reduzido.
O agente oxidante é definido como a espécie que recebe eletrões. A espécie que cede
eletrões é definida como o agente redutor. Por isso, o Mg é o agente redutor e o O2 é
o agente oxidante.
Há aqui uma espécie de troca. A substância que sofre oxidação é o agente redutor e a
que sofre redução é o agente oxidante.
Resumindo:
• Reações redox são reações que ocorrem com transferência de eletrões.
• Oxidação é a reação que ocorre com perda de eletrões.
• Redução é a reação que ocorre com ganho de eletrões.
• Agente oxidante é a substância que sofre redução.
• Agente redutor é a substância que sofre oxidação.