Urbanização Brasileira

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Urbanização brasileira

O processo de urbanização diz respeito ao fenômeno que ocorre quando a população urbana cresce
mais que a população rural. Assim, a urbanização está diretamente associada ao dinamismo populacional
de um município, que é a área total do território, somando o perímetro urbano com a zona rural. É
considerado urbanizado o território que apresenta mais da metade da população residindo em áreas urbanas.
Ao trabalharmos com conceito de crescimento urbano, os fatores considerados são os espaciais, ou seja, o
crescimento físico do perímetro urbano em relação à zona rural de um município. A taxa de urbanização,
por outro lado, apresenta uma relação entre a população urbana e população total de uma determinada
localidade.
No histórico brasileiro, pequenos centros urbanos ocorrem desde o Período Colonial e foram se
desenvolvendo de forma gradual até a primeira metade do século XX. O avanço da urbanização no Brasil
está relacionado com a mudanças econômicas e sociais promovidas pelo desenvolvimento territorial
brasileiro. Foi na segunda metade do século XX que as áreas urbanas se tornaram pontos de concentração
populacional e maior infraestrutura, propiciando o aumento dessas áreas.
A maior parte da população brasileira reside em áreas urbanas que, em termos de extensão,
abrangem menos de 1% do território brasileiro. Ao longo do século XX, a população urbana foi crescendo,
até que nos anos 1960 se tornou maior que a população residente em áreas rurais.
Na década de 1920, apenas 6 municípios brasileiros apresentavam mais de 100 mil habitantes: Belém, Porto
Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Nesse período, a agropecuária voltada para a
exportação estava no centro da economia brasileira, influenciando diretamente a distribuição da população
pelo território. A partir de 1930, essa estrutura muda, com a crise enfrentada pelas atividades
agroexportadores, como o café.
Na sequência, o governo brasileiro incentiva o crescimento e o dinamismo das indústrias, dando
início a intensa transformação espacial pelo qual passa o país. O fluxo de pessoas que migram do campo
para a cidade se intensifica, motivados pela demanda por mão de obra. O próprio desenvolvimento
industrial vai ser responsável pela modernização do processo produtivo no campo, dispensando boa parte
dos trabalhadores das lavouras. A metade do século XX marca um forte êxodo rural, tendo as maiores
cidades do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, como destino. Simbolicamente, a década de 1960 marca a
mudança de um país rural (agrário-exportador) para o status de país urbano-industrial.
O regime militar, iniciado em 1964, trouxe grandes mudanças políticas e econômicas para o país,
marcando um período de intensa intervenção estatal, com a construção de obras de infraestrutura e o
“milagre econômico” no final da década. Esse período também representa transformações socioespaciais,
tendo em vista que o governo passou a incentivar a urbanização para o interior do país.
Nesse curto período, a população e o Estado foram obrigados a se adaptar ao novo estilo de vida urbano,
seus benefícios e, principalmente, os problemas desse recente, acelerado e desordenado processo.
Urbanização e transformação das paisagens

A urbanização brasileira provocou uma intensa transformação das paisagens. O crescimento urbano
dos municípios recebe novos elementos há todo momento. Essa expansão pode ser ordenada, seguindo
padrões estabelecidos previamente, com a formulação de legislações específicas, como os planos diretores,
que buscam orientar o crescimento dos municípios, estabelecendo a distribuição dos serviços prestados
pelo estado e das atividades econômicas, delimitando áreas predominantemente residenciais, comerciais e
industriais. No Brasil, em sua recente urbanização, não foram seguidos parâmetros para um crescimento
ordenado e planejado. Assim, a maior parte das cidades, especialmente as capitais, apresentou o crescimento
das áreas periféricas com bairros desprovidos de oferta de serviços, como saneamento básico, saúde e
educação, além de indústrias e comércios instalados em áreas indevidas, provocando o aumento de diversas
formas de poluição: atmosférica, hídrica e sonora. Além dos problemas citados, o crescimento desordenado
intensificou as desigualdades socioeconômicas nos espaços urbanos.

A.1. Cidades espontâneas

São cidades que surgiram de pequenos núcleos de povoamento, que geralmente viviam de atividades
rurais ou comerciais no passado, sem qualquer planejamento prévio. Apresentam um mosaico urbano
heterogêneo, como ruas com diversas larguras e traçados, mostrando as várias épocas e tendências
econômicas e urbanísticas que atravessaram. Podemos classificar em:
• feitorias – cidades que serviam como base para explorar o interior dos territórios e os portos
destinados para as exportações dos produtos típicos, por exemplo: São Vicente (SP).
• defesa – a origem do povoamento se deu em torno de fortificações; no caso no Brasil, construções
portuguesas, que buscavam coibir invasões estrangeiras, por exemplo: Fortaleza (CE).
• missões religiosas – os primeiros habitantes desses povoamentos foram missionários religiosos
que buscavam converter a população local, por exemplo: São Miguel das Missões (RS).
• mineração – essas cidades são formadas por grandes fluxos de pessoas em busca das riquezas
minerais na região, como metais e pedras preciosas, por exemplo: Cidade de Goiás (GO).
• núcleos de colonização – são cidades criadas por imigrantes oriundos da mesma região. Formam
comunidades que buscam preservar traços culturais dos países de onde vieram, por exemplo: Pomerode
(SC). entroncamentos viários – o encontro de diferentes vias de transporte de pessoas e mercadorias foi o
principal motivador da origem e do crescimento de várias cidades, por exemplo: Bauru (SP).
A.2. Cidades planejadas

Durante todo o processo de urbanização mundial e brasileiro, houve casos de cidades que surgiram
de planejamentos prévios. No Brasil, há alguns exemplos de cidades que surgiram de projetos urbanísticos,
as mais importantes são: Salvador (1549), Teresina (1852), Aracaju (1855), Belo Horizonte (1897), Goiânia
(1933), Brasília (1960) e Palmas (1989).

A.3. Função urbana

A função urbana evidencia as principais atividades que impulsionam a economia de uma cidade.
Essa função pode expandir por todo o município e para outras cidades da mesma região. Em geral, as
cidades tendem a uma diversificação das suas funções, muitas vezes impossibilitando a definição da
principal função. Vejamos alguns exemplos de funções urbanas.
• Administrativa: sede de municípios, estados ou países, tem como principal função abrigar as
principais instituições governamentais, o que normalmente corresponde às cidades planejadas, como
Brasília (DF), Palmas (TO) e Teresina (PI).
• Turística: cidade que possui atrativos turísticos de ordem natural ou cultural, como praias, fontes
termais, montanhas, serras, parques, monumentos históricos etc.; esses são fatores que alavancam a
economia do município. São exemplos Caldas Novas (GO), Porto Seguro (BA) e Gramado (RS).
• Comercial: cidade que recebeu e recebe incentivos governamentais ou está posicionada em
entroncamentos viários que favorece o desenvolvimento do comércio, prestação de serviços e atividades de
logística, como Manaus (AM), Uberlândia (MG) e Campina Grande (PB).
• Industrial: município que surgiu e se desenvolveu em torno de polos industriais, como Camaçari
(BA), Paulínia (SP) e São José dos Pinhais (PR).
• Religiosa: cidade que se desenvolveu em torno de templos e locais de adoração, como Aparecida
(SP), Bom Jesus da Lapa (BA), Juazeiro do Norte (CE) e Nova Trento (SC).
• Militar: o crescimento da cidade está relacionado a instituições militares presentes no município,
como Resende (RJ) e Pirassununga (SP).
• Universitária: destaca se com atividades em torno de universidades, como Ilha Solteira (SP),
Viçosa (MG) e São Carlos (SP).

B. A origem das cidades brasileiras

O processo de urbanização no Brasil remonta à década de1960, quando o crescimento da população


urbana se tornou maior que o crescimento das áreas rurais, fenômeno esse intimamente associado à
industrialização.
A urbanização brasileira é, portanto, recente, no entanto, o surgimento de núcleos urbanos e a
fundação de cidades é bastante antigo, iniciando-se já na colonização do território.
Os portugueses, nos primeiros anos de colonização, não se preocuparam em fixar território em suas
terras na América do Sul, limitando-se a construir feitorias no litoral, como a feitoria de Cabo Frio, fundada
pelo navegador Américo Vespúcio em 1503, para servir de entreposto para as embarcações lusas
transportarem mercadorias, como o pau-brasil.Com as invasões estrangeiras, houve a necessidade de fundar
as primeiras vilas, no sentido de proteger os interesses portugueses, como Ilhéus e Porto Seguro, na Bahia;
Olinda e Igaraçu, em Pernambuco; e São Vicente e Cananeia, em São Paulo. Esse panorama se manteve
durante as capitanias hereditárias quando a colônia estava voltada à produção agrícola (açúcar) e, mais
tarde, à extração de minérios, que seriam exportados para a metrópole, e o primeiro povoado a ganhar status
de cidade foi Salvador (1549), a primeira capital e a primeira cidade planejada do país. Nesse período, as
vilas e cidades estavam concentradas no litoral, facilitando o acesso aos portos, centralizando funções
administrativas e comerciais. Com o passar dos anos, a pecuária, as expedições (entradas e bandeiras) e as
missões catequizadoras dos jesuítas foram responsáveis pela fundação das primeiras aglomerações que
viriam a ser as primeiras cidades interioranas, destacando-se a importância do Rio São Francisco para esse
processo, com a fundação dos primeiros povoados, como Penedo, em Alagoas, Barra e Bom Jesus da Lapa,
na Bahia.
Entre 1693 e 1729, os bandeirantes paulistas, mestiços e marginalizados, descobrem ouro no sertão
brasileiro. A notícia de riquezas no interior brasileiro causou uma corrida para as regiões das minas,
provocando o primeiro surto de ocupação no interior no Brasil, quando as atenções deixaram,
momentaneamente, o campo e passaram para os povoados e as cidades. As mudanças foram além, com a
mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, o que marcou o começo do predomínio econômico
do Centro-Sul brasileiro. O ciclo minerador durou pouco tempo e a importância das cidades sucumbiu,
novamente, para o campo com o ciclo cafeeiro.
Durante os séculos XIX e XX, o café foi o principal produto gerador de riquezas para o Brasil,
garantindo o acúmulo decapitais para o crescimento das cidades de algumas localidades do país,
fortalecendo, ainda mais, o papel das áreas urbanas, atribuído pelos primeiros colonizadores, de local de
irradiação da cultura europeia. Um exemplo dessa situação foi a capital federal, o Rio de Janeiro, que passou
por um processo de reurbanização, no final do século XIX e início do XX, aos moldes do processo que
ocorreu em Paris, França, com o embelezamento da região central da cidade e a expulsão dos habitantes
dos cortiços para a periferia da baixada fluminense ou para os morros. São Paulo e cidades do interior
paulista também tiveram seus processos de crescimento urbano.
O processo de urbanização no Brasil intensificou-se após a Crise de 1929, quando a cafeicultura foi
atingida pela queda no consumo dos mercados europeus e norte-americano. Os governos da época
estimularam a industrialização, que provocou um grande êxodo rural, com trabalhadores se dirigindo para
os grandes centros urbanos, atraídos principalmente pelos altos salários pagos nas fábricas, em comparação
aos trabalhos no campo. A construção de rodovias que interligavam localidades mais distantes também
favoreceu a o êxodo rural e o crescimento das cidades, especialmente após da década de 1950.
O crescimento urbano também foi facilitado pela estrutura fundiária brasileira, que permanecia com
as mesmas características dos primórdios da colonização (concentração de terras), houve também leis que
concediam direitos aos trabalhadores do campo, como o Estatuto do Trabalhador do Campo, de 1963.
Projetos governamentais desenvolvimentistas, entre os anos 1950 a 1970 foram responsáveis pela
urbanização do interior brasileiro, entre eles está o Plano de Metas, na segunda metade dos anos 1950, no
governo de Juscelino Kubitschek, a construção de Brasília (1960), o "milagre econômico" entre 1968 e
1973, do então Ministro da Fazenda, Delfim Netto, e expansão das fronteiras agrícolas que estimulou a
fundação de cidades nas regiões Centro-Oeste e Norte, por meio das chamadas frentes pioneiras, que se
tornaram mais intensas a partir das décadas de 1960 e 1970.
A partir de 1970, o Brasil passou a ser considerado um país urbanizado, quando mais da metade da
população já se encontrava em áreas urbanas. Atualmente, em média, 8 em cada 10 brasileiros vivem em
concentrações urbanas, o que equivale aos níveis de urbanização dos países desenvolvidos, mas a
velocidade com que esse processo se deu, com um êxodo rural alavancado pela mecanização no campo e
pelo desemprego, provocou uma urbanização que carece de melhorias em todos os arranjos urbanos
existentes no país, nos quais se encontram submoradias, como as favelas, e aumento do subemprego, pois
indústria e comércio não foram suficientes para absorver toda a massa de trabalhadores que saíram das
zonas rurais, promovendo a hipertrofia do setor terciário.

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