Currículo e Multiculturalismo - EDReview
Currículo e Multiculturalismo - EDReview
Currículo e Multiculturalismo - EDReview
Lisboa: Edições
Pedago.
ISBN- 972-8980-01-9
pp., 236.
indivíduos a partir de idéias recebidas. Estas idéias são construídas pelas classes detentoras
do poder, pretendendo um consenso cultural entre as classes trabalhadoras e os objetivos
das classes hegemônicas, de forma a ser mantido o status quo. (Paraskeva, Ross e Hursh,
2006).
Currículo e Multiculturalismo, cruza-se com estas idéias base, uma vez que, alterando-se
apenas as «burguesias», os interesses se prendem sempre com uma visão imperialista e
monolítica da sociedade e do mundo, sendo que esta visão é a de uma sociedade desigual e,
naturalmente, estratificada. Como refere Michael Apple (1990:26), tentando definir estes
conceitos, «(…) a hegemonia age para “saturar” a nossa própria consciência, de forma que
o mundo educacional, econômico e social que observamos, e com o qual interagimos, e as
interpretações apoiadas no senso comum que nele colocamos, se torna num mundo tout
court, o único mundo.» Embora se tenha a consciência de que a manutenção da hegemonia
não é uma construção atual, vem-nos à memória o que diz Platão acerca da Justiça e do que
hoje poderemos chamar de construção de senso comum:
Certamente cada forma de Governo estabelece as leis em vista do seu próprio
interesse (…) uma vez promulgadas essas leis, fazem saber como justo para os seus
governados, o que lhes convém, a eles, governantes, e se alguém transgride, punem-
no como violador da lei e da justiça. É isto, (…), o que eu quero dizer ao afirmar a
identidade do princípio da justiça em todas as cidades: o que convém aos poderes
estabelecidos. Estes é que detêm a força. De onde resulta, para quem saiba pensar
com correcção, que a justiça é a mesma em toda a parte: a conveniência do mais
forte (2005, p. 21)
Impressiona-nos a atualidade de Platão relativamente à manutenção do poder,
sobretudo porque se mantém, na sua essência, inalterada. Esta estratificação social produz
naturalmente diferenciação social e econômica. O capital cultural transmitido pela classe
hegemônica é fechado e é um fato feito à medida para os seus iguais, valendo-nos da imagem
usada em João Formosinho (2007). A todos os outros, obviamente, não lhes servirá. Como
lembram Michael Apple e Lois Weis (1997), definindo o conceito de legitimação, as escolas
são parte integrante de uma estrutura através da qual os grupos sociais recebem
legitimidade e através da qual as ideologias sociais e culturais são recriadas, mantidas e
continuamente construídas. Prossegue, evocando a falaciosa idéia que, desta forma, se
fomenta a crença social de que as principais instituições da nossa sociedade são igualmente
responsivas a todos, independentemente da raça, classe ou gênero, (Apple, 1997). Esta é
uma reflexão que transversalmente ocupará todos os capítulos da obra em análise, como
adiante veremos mais em concreto.
Assim, podemos ter a ousadia de avançar a hipótese que Currículo e Multiculturalismo
só existe uma vez que a educação se insere nesta estrutura mais ampla de instituições e
valores (Apple, 1997). Dá-se demasiada importância ao modo como as crianças aprendem,
às dificuldades ou não por eles reveladas e não se pensa o suficiente na questão
fundamental. Porque é que aprendem o que aprendem? Para quê? Quem os ensina? Que
métodos são utilizados? Também é muito importante pensar de que forma a sociedade se
organiza para apresentar uma realidade que se coaduna com os objetivos dos grupos de
poder, utilizando uma «propaganda» ideológica refinada e persistente atacando em várias
frentes, fazendo-se valer muitas vezes de conceitos históricos significativos para uma
consciência comum - propositadamente maquiados e esventrados dos seus objetivos
primeiros - sendo que a educação e os meios de comunicação social são dois dos
fundamentais.
Os capítulos a analisar mais aprofundadamente dão, de forma clara e inequívoca,
resposta a estas e outras questões pertinentes, para as quais convém não baixar a guarda e
manter uma perspectiva crítica tentando encontrar correntes de pensamento e ação
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se torna um problema dentro da vida escolar. De fato, embora a argumentação possa não
abranger todos os docentes, é um fato, uma vez que quase na totalidade das ocasiões se
preferem os paliativos e as operações de maquiagem dos reais problemas do que debater a
questão da ausência de atenção à diferença cultural. Debatem-se problemas como
abandono escolar, insucesso ou violência, tentando resolvê-lo com a tecnicidade de sempre,
ignorando que para uma elevada percentagem da população estudantil as aprendizagens e
até o ambiente escolar criado, não é, de todo, significativo. Apontam-se as conseqüências
como os únicos problemas e atiram-se atenuamentos – entre eles meros procedimentos
administrativos para converter insucesso em sucesso estatístico (Paraskeva, 2001: 199) –
para que se possa continuar, de olhos vendados e andando em círculo, fazendo de conta
que se ensina de forma democrática só porque todos tiveram o direito de entrar na escola.
O papel dos professores, neste capítulo de Lília Bartolomé, é amplamente debatido.
Aludindo à idéia de Michael Apple de reprodução, a autora tem consciência que os próprios
professores são fruto de uma sociedade discriminatória e, logo, aceitam com algum
pacifismo e naturalidade as desigualdades dentro da sala de aula. Mais do que isso,
podemos mesmo dizer que os professores reforçam essas desigualdades através do que
ensinam; da forma que o fazem e a forma como avaliam. A avaliação – ou antes,
classificação – é a única forma de diferenciar e estratificar de acordo com as normas da
divisão social do trabalho (Apple, 1990, Hextall, 1976). A avaliação é portanto, a forma que
o poder vigente nas sociedades ocidentais encontraram para exercer o controle social,
criando rótulos de acordo com as «competências» que cada estudante revela, neste jogo de
cartas viciadas à partida. Assim, são criados, dentro de cada sala de aula, pequenos ghettos,
passando estes «outcasts» a serem encarados como detentores de alguma espécie de
deficiência cultural ou genética que não pode ser corrigida. Este modelo redutor da
educação obriga-nos a questionar o porquê de o insucesso atingir sempre os mesmos
grupos. Romanticamente atribuímos sempre as mesmas razões: falta de trabalho; falta de
interesse; falta de atenção… parece ser preferível atribuir as culpas ao outro (Apple, 1990),
porque os métodos; os conteúdos e todas as orientações que são pedidas aos docentes, são
escrupulosamente seguidas. Como expõe já João Formosinho (1987), o currículo uniforme
é insensível às características, necessidades e interesses dos alunos, porque se operacionaliza
perante uma amostra variada, sendo assim, é provável que os alunos com maior diversidade
ao nível dos interesses e aptidões sejam os mais prejudicados. É preciso, portanto, acordar
política e pedagogicamente, para que se possa ensinar todos os alunos de uma sala, de
forma democrática e respeitando a individualidade e cultura(s) de cada um.
Maria Luísa Branco, no segundo capítulo desta coletânea, A Educação Democrática
Face aos Desafios do Multiculturalismo, faz uma análise destes dois conceitos – Democracia e
Multiculturalismo – questiona se o simples direito de acesso à educação fará dela uma
«educação democrática»; questiona e questiona o leitor, acerca da educação que temos e
daquela que queremos ter, fornecendo pistas acerca do que entende ser uma verdadeira
educação democrática, crítica e, consequentemente multicultural. Uma educação que forme
sujeitos pensantes e não meros reprodutores sociais formatados pelas classes dominantes
da sociedade, servindo interesses mercantilistas. O conceito de democracia, em educação
como em outros aspectos da vida em sociedade, não pode estar desligado dos conceitos de
igualdade e liberdade. O fato de proporcionar a Educação para Todos não oferece, por si, um
ensino democrático.
As próprias democracias neoliberais e conservadoras, escondem em si –
contraditoriamente – princípios totalitaristas, na medida em que não servem os interesses
de todos, nas suas diferenças, mas sim os interesses de determinados grupos que sempre
prevalecem à frente da organização e gestão social e política. Como ressalta Paraskeva
(2001:219) este debate democrático da educação reflete-se na permanente querela entre
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Escola e a Diversidade (2004). Bem ilustra os objetivos últimos da educação que temos, que
lida com a diferença de um ponto de vista meramente tecnicista e utilitário:
Precisamos duma escola que continue a exigir (…). Neste sentido, deverá também
ser uma escola capaz de valorizar outras aprendizagens, capazes de trabalhar com a
diferença e capaz de discriminar pela positiva. Deverá ser uma escola voltada para
fora, voltada para a família, voltada para as empresas e para que estas participem
nas actividades escolares, pois será uma maneira de não deixarem de reclamar a
qualificação dos seus trabalhadores, voltada para as autarquias e, largo senso,
voltada para os movimentos social, cultural, recreativo e associativo. Sobretudo,
será uma escola voltada para uma lógica de envolvimento que tornará mais fácil a
obtenção de resultados, por mais pequenos que venham a ser, ou seja, uma escola
que se entende como diversa e que se diversifica
(http://www.portugal.gov.pt/portal/pt/governos/governos_constitucionais/gc16
/ministerios/me/comunicacao/intervencoes/20041110_me_int_seaae_diversidade
.htm)
Este ensaio geral para a formação de trabalhadores, o mercantilismo dos sistemas
educativos, é visível ainda através da filosofia de «cultura do esforço», controlada através de
exames, rankings esquecendo as idiossincrasias que se encontram, naturalmente, em
qualquer sociedade. Diferenças sem as quais teremos uma sociedade culturalmente mais
pobre, com o que quase poderíamos chamar de genocídio cultural.
Surgindo como um exemplo de força contra-hegemônica, Luís Armando Gandin,
no capítulo seis, Criando Alternativas Reais às Políticas Educativas, apresenta o projeto de uma
escola crítica, ativa e verdadeiramente multicultural em Porto Alegre, Brasil. Este é um
exemplo de sucesso com alunos que tradicionalmente são rotulados de inadaptados ou
desmotivados das aprendizagens escolares. O autor destaca que o neoliberalismo recriou
uma realidade de tal maneira aparentemente convincente e «ajustada» que se torna, muitas
vezes, difícil vislumbrar realidades alternativas. Esta é uma idéia que é recorrente a partir,
sobretudo, da queda do muro de Berlim e desagregação da URSS e da sua associação ao
«fim das ideologias». Deste momento em diante, quase poderia dizer-se que o capitalismo e
a democracia burguesa constituem o coroamento da história da Humanidade, quase
dizendo que esta teria atingido o ponto culminante da sua evolução política e social,
vencendo as dificuldades e os «obstáculos», sendo os mais importantes o fascismo e o
socialismo. Luís Armando Gandin enfatiza ainda a apropriação, nesta narrativa neoliberal,
de termos tradicionalmente ligados a outras correntes de pensamento, termos que chama
«novo dicionário da lógica neoliberal»: igualdade, cooperação, democracia ou participação,
que nesta lógica de economia de mercado assumem novos significados, ajustando-se ao
discurso hegemônico. A solução, apresentada neste capítulo, gira em torno de um currículo
verdadeiramente multicultural, participado, participante, colaborativo e significativo para
todos os agentes envolvidos, principalmente os destinatários da educação. Um projeto em
que o currículo não é imposto externamente, mas sim criado por aqueles que se encontram
envolvidos na vida quotidiana das escolas. Este será o fator decisivo de sucesso do mesmo.
O autor refere ainda as condições para a implementação deste projeto, mostrando que é
um processo difícil uma vez que rompe com o status quo e com os objetivos de
determinadas políticas vigentes. Mostra que é possível, querendo, encontrar brechas nos
sistemas neoliberais, para tentar implementar introduzir alternativas culturais à visão
monolítica atual. Este projeto vai, de algum modo ao encontro do que Antônio Gramsci
também defendia, no início do século XX, reclamando o desenvolvimento de uma cultura
contra-hegemônica advogando a necessidade de educar os trabalhadores para encorajar o
surgimento de intelectuais dentro da classe trabalhadora, de forma a que, eles próprios,
pudessem expressar politicamente os seus próprios interesses, diferentes da classe
minoritária, mas detentora de poder.
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de ser postos em prática no dia-a-dia e continuamente trabalhados por cada um e para cada
um. Principalmente quando falamos de Educação.
De fato, a democratização do ensino, pelo menos em termos numéricos, foi uma
realidade. Não apenas as classes poderosas poderiam aceder ao ensino e à educação, mas
todos poderiam fazê-lo. A questão que se coloca é se, de fato, as diferenças terminariam
após o acesso? A verdadeira democratização do ensino reside não no simples acesso à
educação, mas no acesso, e no direito, a uma educação de qualidade. Como lhe chama
Fernando Diogo, uma «boa educação».
O autor, neste capítulo oitavo, analisa a posição da escola face à diversidade
referindo que a esta revela graves incapacidades em lidar com a heterogeneidade do
público-alvo da sua ação. Segundo o Fernando Diogo, esta dificuldade foi conseqüência da
massificação do ensino. Naturalmente que sim, uma vez que as reformas educativas não
abrangem aspectos de múltiplas culturas; mantiveram-se – propositadamente ou apenas por
inação? – os currículos de sempre feitos à medida das populações estudantis pertencentes a
uma determinada classe social: a dos que se abrigam debaixo do guarda-chuva do poder.
Obviamente, qualquer currículo tem um caráter uniformizador. No entanto, dizemos nós,
simultaneamente criador de diferença; formata os que pertencem ao poder para líderes e os
que não pertencem, para mão-de-obra dos primeiros. Os últimos sendo os que sustentam a
base da pirâmide capitalista. Como ressalta Noam Chomsky (2003:19) os primeiros define-
os como aqueles a quem «cabe pensar» e os últimos como os que precisarão sempre ser
guiados por outros que pensem por eles. Uma vez mais, tal como no capítulo primeiro da
obra em apreço, é apontado tecnicismo como solução ineficaz para a resolução dos
problemas causados por uma escola que não se adapta às necessidades de quem a freqüenta
e não é significativa para todos. Prosseguindo, o autor deste capítulo, citando Sacristán
(2000), explica de que forma as soluções técnicas nos contextos escolares foram criando
desigualdades ao querer gerir as diferenças.
Estas questões técnicas, pomposamente chamadas de adaptações curriculares ou
diferenciação curricular acabam por ser, na sua maioria, desculpas para camuflar a falta de rigor
no ensino, uma vez que promovem não aprendizagens significativas mas sim um
facilitismo para passagens quase automáticas e para bem das estatísticas de avaliação e
sucesso aparente. Fernando Diogo, parece-nos partidário de que esta é uma solução
possível, apesar de ser necessária uma planificação efetiva desde a elaboração dos Projetos
Educativos de Escola até aos Projetos Curriculares de Turma. Permitindo-nos, não
obstante, discordar deste aspecto, uma vez que todos sabemos que a escola está sempre
condicionada por orientações rígidas que não permitem que os professores – como
principais agentes educativos – possam ter condições favoráveis para a aplicação de uma
verdadeira diferenciação curricular e ensino significativo; com professores desmotivados e
castrados progressivamente da sua função intelectual. Por fim uma escola que apregoa que
o ensino seja adaptado à cultura de cada um dos seus destinatários quando as avaliações são
«cegas» e uniformes e só se pretende quantificar as aprendizagens que foram questionadas,
independentemente das aprendizagens efetuadas e do seu significado e interesse para cada
um de nós, diferentes que somos.
No capítulo nono, Educar Para a Cidadania! Palavra de Professores, Fernando Paulo
Baptista reflete acerca da importância da linguagem e da língua, sobretudo da língua
materna, como principal forma de compreensão do mundo e construção individual
promotora de cultura; atitude crítica fomentadora de uma cidadania ativa. Concordaremos
com este princípio e lembramos o que Derrick de Kerckhove (1995:61) faz referência ao
poder da linguagem, à qual chama de poderosa tecnologia e o mais completo sistema de
processamento de informação, uma vez que é o software que conduz à psicologia humana. A
linguagem afeta, segundo o mesmo autor, os comportamentos. Diz mesmo que a invenção
do alfabeto criou duas revoluções: uma no cérebro e outra no mundo. A que Fernando
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condições, proporcionadas pela sociedade atual. Sobretudo, nós, professores, devemos ter
consciência que assim não é. Não há apenas uma língua oficial no país e dentro da língua
oficial majoritária há idiossincrasias lingüísticas, de pronúncia ou vocabulário, que têm sido
denegridas ao longo dos tempos, empobrecendo a língua materna; a população que
constitui o nosso país não tem uma mesma História, nem sequer uma mesma visão da
História. Muitos habitantes, plenos cidadãos, tiveram origens diferenciadas e,
consequentemente, visões quase opostas da História de Portugal que consta nos conteúdos
curriculares; o cidadão português é de diferentes proveniências e raças, no entanto,
continuamos a olhar aqueles que são de raças diferentes da caucasiana como sendo, à
partida, estrangeiros…no pior sentido que a palavra pode ter, o de estranho. E não
esqueçamos ainda, sobretudo nos últimos anos, a vaga de imigração que trouxe consigo
diferentes línguas, culturas e raças, que preferimos tornar semelhantes ao invés de nos
enriquecer culturalmente com a diversidade, integrando-as, de fato, na educação. Não
esqueçamos ainda as diferentes realidades do nosso país. Nem todos vivemos rodeados de
Internet, tecnologia e acesso à informação; enquanto parte do país vive no século XXI,
outra parte vive ainda nos inícios do XX – se quisermos ser otimistas… portanto, como
nos alerta a obra em tela, não deve ser usado apenas um discurso educativo partindo do
princípio que a audiência é una culturalmente, mas sim, vários discursos que sejam
significativos para todos a quem se destinam. Esta obra, Currículo e Multiculturalismo aponta-
nos os nossos próprios caminhos a seguir, ao fomentar esta visão crítica.
Esquecer estes fatos, como tão bem nos lembra a obra Currículo e Multiculturalismo,
empobrece uma sociedade quando poderia ser facilmente ser utilizada para a enriquecer e
ao mesmo tempo evitar conflitos, que ela própria cria, ao tentar aculturar cegamente os que
encara como diferentes.
O próprio conceito de diferença é discutível. Só se é diferente de um modelo que é
escolhido por alguém, como o modelo de normalidade; de semelhança. Esta criação de
similitudes tem sido, na cultura e educação portuguesas, um esforço determinado das
políticas vigentes. Disto também, nos fala a obra Currículo e Multiculturalismo, explica-nos as
razões que se escondem por trás do currículo e das políticas que o apóiam e das
dificuldades em alterar este status quo.
A realidade social de diferentes pontos do país, por pequeno que seja, não é una.
Há realidades sociais diversas. Estas idiossincrasias, ao invés de serem exploradas para
valorizar as populações, estão a ser camufladas pela aculturação que a educação tem por
finalidade – por orientação política – e que a comunicação social também pretende
eliminar, ora denegrindo-as, ora por propositada omissão.
A obra Currículo e Multiculturalismo importa sobretudo aos educadores porque ajuda a
descerrar a cortina que oculta o currículo – retomando a expressão de Jurjo Santomé
(1995), abrindo caminho aos docentes e outros profissionais da educação a terem uma
leitura mais crítica da realidade educativa e das suas implicações sociais. Uma leitura crítica
relativamente à seleção do que se ensina; porquê se ensina e ter consciência das
conseqüências de tal atuação. Importantes ainda serão os capítulos da obra que encerram
em si alguns ventos de esperança, com exemplos de sucesso em escolas que saltaram a
barreira da hegemonia vigente.
Como educadora, em Portugal, poderei dizer que o livro Currículo e Multiculturalismo
ajuda a que se compreenda melhor a escola e os alunos que temos e a ter a consciência que
nós, professores, contribuímos para aquilo que eles poderão ser. Ajuda a compreender
claramente que ser professor encerra em si uma atitude política, em que – de forma
simplista – podemos enquadrar-nos em duas grandes vertentes: a que coopera com uma
visão hegemônica da sociedade, que ajuda a criar desigualdades e encara a sociedade com
uma perspectiva mono cultural; ou desenvolver um trabalho crítico – embora mais penoso
pelas dificuldades criadas pela máquina estatal – tendo em conta a multiculturalidade, a
http://edrev.asu.edu/reviews/revp53 14
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membro fundador da Paulo Freire Special Interest Group da American Educational Research
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traduzido para língua portuguesa inúmeros trabalhos de intelectuais radicais e críticos dos
Estados Unidos, Inglaterra e Espanha. De entre as suas publicações destacam-se As
Dinâmicas dos Conflitos Ideológicos e Culturais na Fundamentação do Currículo; Ventos de
Desescolarização: A Nova Ameaça à Escolarização Pública (em co-autoria com Jurjo Torres
Santomé e Michael Apple); Diálogos Educacionais e Curriculares à Esquerda (em co-autoria com
Álvaro Hypólito e Luís Gandin); Um Século de Estudos Curriculares; Reinventar a Pedagogia
Crítica (em co-autoria com César Rossatto e Ricky Lee Allen); Currículo e Multiculturalismo;
Currículo e Tecnologia Educativa – Volume 1 (em co-autoria com Lia Oliveira); Marxismo e
Educação – Volume 1 (em co-autoria com Wayne Ross e David Hursh); Ideologia, Cultura e
Currículo; Multiculturalismo, Currículo e Formação Docente – Volumes 1& 2 (em co-autoria com
Júlio Diniz-Pereira e Gloria Ladson-Billings).