Avaliação Nutricional, Nutrizes e Amamentação
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RESUMO
O estudo objetiva conhecer a percepção das gestantes atendidas na Atenção Primária à Saúde de Aracati/CE sobre aspectos da
alimentação e nutrição na saúde materna e infantil e avaliar o efeito de intervenções de Educação Alimentar e Nutricional.
Estudo exploratório e descritivo, de natureza qualitativa, constituído por 08 gestantes no Pré-Natal da Unidade Básica de
Saúde Abengruta II, entre agosto e outubro de 2019. Foram executadas 4 etapas: 1) entrevista com as participantes; 2)
aplicação do grupo focal inicial; 3) intervenção educativa/oficinas temáticas e 4) realização do grupo focal final. Utilizou-se a
técnica qualitativa Análise do Discurso. Observou-se que a maioria encontrava-se na faixa etária de 32 a 39 anos, possuía o
ensino médio completo e renda de até 1 salário mínimo. Além disso, verificou-se que todas eram casadas ou moravam com o
companheiro, mais da metade estava no segundo trimestre gestacional, aproximadamente 62,5% iniciaram a gestação com
sobrepeso ou obesidade e, no momento da entrevista, 87,5% foram classificadas com sobrepeso ou obesidade. Nas oficinas, as
gestantes consolidaram o conhecimento e sentiram-se mais seguras em aderir às orientações nutricionais. A maioria possuía
conhecimento prévio sobre alimentação e nutrição e as oficinas pareceram estimular a adoção de hábitos alimentares
saudáveis.
Palavras-chave: Educação Alimentar e Nutricional; Saúde Materno-Infantil; Estratégia Saúde da Família.
ABSTRACT
The study aims to understand the perception of pregnant women attended in Primary Health Care in Aracati/CE on aspects of
food and nutrition in maternal and child health and to evaluate the effect of interventions in Food and Nutrition Education.
Exploratory and descriptive study, of qualitative nature, consisting of 08 pregnant women in the Prenatal Care of the Basic
Health Unit Abengruta II, between august and october 2019. There were 4 steps: 1) interview with the participants; 2)
application of the initial focus group; 3) educational intervention/thematic workshops and 4) realization of the final focus
group. The qualitative technique Discourse Analysis was used. It was observed that the majority were in the age group of 32 to
39 years old, had completed high school and earned up to 1 minimum wage. In addition, it was found that all were married or
lived with a partner, more than half were in the second gestational trimester, approximately 62,5% started pregnancy with
overweight or obesity and, at the time of the interview, 87,5% were classified as overweight or obesity. In the workshops,
pregnant women consolidated their knowledge and felt safer in adhering to nutritional guidelines. Most had previous
knowledge about food and nutrition and the workshops seem to encourage the adoption of healthy eating habits.
Keywords: Food and Nutrition Education; Maternal and Child Health; Family Health Strategy.
RESUMEN
El estudio tiene como objetivo comprender la percepción de las gestantes atendidas en Atención Primaria de Salud en
Aracati/CE sobre aspectos de alimentación y nutrición en la salud maternoinfantil y evaluar el efecto de las intervenciones en
Educación Alimentaria y Nutricional. Estudio exploratorio y descriptivo, de carácter cualitativo, conformado por 08 gestantes
en la Atención Prenatal de la Unidad Básica de Salud Abengruta II, entre agosto y octubre de 2019. Se realizaron 4 pasos: 1)
entrevista a las participantes; 2) aplicación del grupo focal inicial; 3) intervención educativa/talleres temáticos y 4) realización
del grupo focal final. Se utilizó la técnica de Análisis cualitativo del discurso. Se observó que la mayoría estaba en el grupo de
edad de 32 a 39 años, había completado la escuela secundaria y ganado hasta 1 salario mínimo. Además, se encontró que todos
estaban casados o vivían en pareja, más de la mitad estaban en el segundo trimestre del embarazo, aproximadamente el 62,5%
inició el embarazo con sobrepeso u obesidad y, al momento de la entrevista, el 87,5% estaban clasificados como sobrepeso u
obesidad. En los talleres, las mujeres embarazadas consolidaron sus conocimientos y se sintieron más seguras en el
cumplimiento de las pautas nutricionales. La mayoría tenía conocimientos previos sobre alimentación y nutrición y los talleres
parecen fomentar la adopción de hábitos alimentarios saludables.
Palabras-clave: Educación Alimentaria y Nutricional; Salud Materno-Infantil; Estrategia de Salud Familiar.
1
Nutricionista graduada pela Universidade Potiguar (UNP). Residência em Cancerologia no Instituto do Câncer do Ceará (ICC) pela
Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE). Residência em Saúde da Família e Comunidade no município de Aracati/CE pela ESP/CE.
Pós-graduada em Nutrição Funcional e Fitoterapia pela Faculdade de Quixeramobim (UNIQ). 2 Doutora em Saúde Coletiva
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Mestre em Ciências da Nutrição (Universidade Federal da Paraíba, linha Saúde
Coletiva e Epidemiologia), Especialista em Saúde da Família (Residência Multiprofissional - Escola de Formação em Saúde da
Família Visconde de Sabóia/Universidade Estadual Vale do Acaraú) e Nutricionista (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
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INTRODUÇÃO
Nesta premissa, a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) apresenta-se como uma das
estratégias fundamentais no processo de cuidado para o público materno-infantil e deve ser
pautada em documentos norteadores, tais como o Marco de Referência de Educação Alimentar
e Nutricional para Políticas Públicas5. Este documento vem propiciar maior reflexão sobre a
importância da atenção nutricional na promoção da saúde da população brasileira , afirmando
que “a promoção da alimentação adequada e saudável é a expressão da cidadania e fator
protetor da vida”. A EAN deve estimular a autonomia do sujeito para práticas alimentares
saudáveis, valorizando e respeitando as especificidades culturais e regionais dos diferentes
grupos e etnias, na perspectiva da Segurança Alimentar e Nutricional e da garantia do Direito
6
Humano à Alimentação Adequada .
Tendo em vista que a saúde do recém-nascido é determinada por diversos fatores, e que
o pré-natal constitui uma excelente oportunidade para orientar as gestantes sobre os hábitos
alimentares, como alternativa primordial para diminuir os riscos de agravos à saúde e melhorar
o perfil nutricional e metabólico, é bem plausível a necessidade de realizar estudos e
intervenções nesse ciclo da vida.
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METODOLOGIA
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A etapa 3 foi composta por 3 oficinas temáticas, cada uma delas abordando um tema
relevante para a promoção da saúde desse público com ênfase nas ações de EAN, auxiliando no
empoderamento das usuárias e no desenvolvimento da autonomia diante de suas escolhas
alimentares. Estas foram conduzidas pela pesquisadora e aconteciam na sala de reuniões da
própria UBS, com periodicidade quinzenal e duração aproximada de 90 a 120 minutos cada.
Optou-se por atividades interativas e rodas de conversa, e na tentativa de facilitar a interação,
as cadeiras eram previamente dispostas em semicírculo.
Todo o material utilizado nas oficinas foi produzido com base nas publicações do
7
Ministério da Saúde, a saber: Dez Passos de Alimentação Saudável para Gestantes , Guia
10 11
Alimentar para crianças menores de dois anos e para a população brasileira e a Cartilha
12
Orientações Nutricionais: da gestação à primeira infância . Além da confecção de cartazes, um
notebook foi utilizado para reproduzir slides com ilustrações e explicações sobre os temas,
sempre utilizando muitas figuras e o mínimo de texto.
A segunda oficina teve como tema “Leite materno e principais dúvidas/questões sobre
amamentação”, possibilitando entender a composição do leite materno, a importância desta
prática exclusiva até o sexto mês de vida do recém-nascido para o desenvolvimento do
mesmo, assim como os benefícios para a saúde da mãe. Foram dadas dicas de como prevenir
fissuras nas mamas, leite empedrado ou mamas muito cheias; posições para amamentar;
esclarecimentos quanto ao uso de fórmulas infantis; orientações de como conciliar
amamentação e retorno ao trabalho.
A terceira oficina teve como objetivo orientar sobre “Alimentação da nutriz e da criança
nos primeiros meses de vida”. A importância do tema se dá pelo papel que desempenha na
saúde materna e infantil. A estratégia serviu de base para revisar os grupos alimentares,
apresentar e discutir a composição de um prato saudável e sugerir alternativas mais saudáveis
aos alimentos ultraprocessados.
Para a avaliação qualitativa das percepções maternas, foi utilizada a técnica de Análise do
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Discurso (AD), especificamente a análise temática, cujo objeto de estudo é o próprio discurso
13
dos pesquisados .
RESULTADOS
Em relação à análise dos grupos focais, ambos contaram com a participação das mesmas
gestantes, totalizando 8 usuárias. Os resultados do grupo focal inicial apontaram que as
usuárias entendem a importância de práticas alimentares saudáveis com a ingestão maior de
alimentos naturais, como frutas e legumes, e um consumo reduzido de alimentos
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Conjuntamente, nas respostas sobre os principais alimentos que não podem faltar na
gestação, foi citada a ingestão de frutas e verduras além de alguns nutrientes, em especial
proteínas, cálcio e ferro, segundo as narrativas: “Proteínas saudáveis como a carne branca,
também verduras e frutas, e alimentos que contém cálcio” (Gestante C); “Alimentos ricos em
ferro, verduras e frutas” (Gestante A); “Frutas, verduras, legumes, carnes magras,
carboidratos saudáveis, como batata doce e arroz integral” (Gestante B).
Os discursos das gestantes acerca do número de refeições que devem ser realizadas ao
longo do dia ressaltaram um total de 5 a 6 refeições, o que pode ser expresso nas seguintes
falas: “Cinco, sendo café da manhã, lanche, almoço, lanche e jantar” (Gestante E); “Seis
refeições, a cada três horas e fazer ingestão de lanches saudáveis” (Gestante B).
No tocante aos cuidados a serem adotados para evitar o ganho de peso excessivo
durante a gravidez, as participantes incluíram em seus discursos a prática de atividade física,
restrição de alimentos específicos e recomendação de alimentação saudável. Observou-se
relatos como: “Fazer as seis refeições incluindo alimentos saudáveis” (Gestante F); “Evitar
doces, frituras e comer excessivamente” (Gestante E); “Realizar alguma atividade física e ter
uma boa alimentação” (Gestante G).
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realizadas para avaliar a participação das usuárias nas atividades sobre o cuidado nutricional
para o binômio mãe-filho evidenciaram as respostas positivas: “Nunca participei de atividades
assim, e hoje sei da importância que elas trazem para a saúde da mãe e da criança” (Gestante
E); “Foi muito bom participar do grupo e aprender como melhorar a minha saúde e a da minha
filha também, por isso eu recomendo para outras gestantes” (Gestante D); “Foi válido
participar do grupo porque pude aprender mais e esclarecer dúvidas com relação à
alimentação” (Gestante G).
DISCUSSÃO
Nossos achados estão de acordo com um estudo realizado em Juiz de Fora (Minas Gerais),
onde 76,4% da amostra era casada ou vivia em união consensual15. Esses resultados são
importantes, haja vista que as gestantes que possuem vínculo afetivo com seus companheiros
dividem os saberes da gestação e juntos passam a conhecer a assistência prestada durante o
pré-natal16.
Quanto à escolaridade, viu-se que a maioria das mulheres tinha até o ensino médio
completo. A busca pelo atendimento na UBS sinaliza um interesse pela sua saúde e de seus
filhos, ao passo que o Ministério da Saúde considera a baixa escolaridade como fator de risco
17
obstétrico . A respeito da renda familiar, a resposta de até um salário mínimo é inquietante,
posto que condições socioeconômicas desfavoráveis estão associadas a alguns riscos para a
gestação, sugerindo indagações sobre instabilidades sociais e programáticas que podem
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atuar em situações de riscos à saúde, trazendo grandes desafios aos profissionais e aos
serviços de saúde18.
Relativamente à análise dos diversos discursos expostos pelas grávidas nos grupos
focais, compreende-se que aumentar o consumo de alimentos saudáveis como frutas,
verduras e legumes; evitar alimentos ricos em gorduras e sódio; e realizar as refeições nos
horários corretos são estratégias aceitas pelas gestantes como práticas saudáveis, apesar da
21
dificuldade em aderir a este novo comportamento alimentar . Tal consumo contribui com a
adequação de macro e micronutrientes, fator associado a melhores condições de saúde na
gestação e ao crescimento e desenvolvimento adequado do feto12. Em contrapartida, um
maior risco de obesidade e diabetes mellitus gestacional tem sido correlacionado ao consumo
de alimentos industrializados22.
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A satisfação encontrada nas narrativas das usuárias revela como uma assistência
nutricional adequada pode contribuir para uma maior adesão das mulheres às orientações e
recomendações articuladas durante as oficinas educativas. A incorporação de práticas
alimentares mais saudáveis resulta na mudança da dieta que, por sua vez, pode ser mantida
após o período gestacional21.
Acredita-se que o desenvolvimento das ações na APS parte de técnicas educativas que
possam intervir no processo de saúde-doença da população. Neste entendimento, a
alimentação e a nutrição fazem parte das condições básicas para a promoção e proteção à
saúde no contexto da Saúde Pública, sendo que as estratégias de EAN representam papel
fundamental na ESF, que surge para reorganizar a rede de atenção a fim de aproximar o
trabalho educativo na comunidade, ampliando o seu campo de intervenções (28).
Promover o fortalecimento dessas ações no âmbito da Saúde Pública é uma forma menos
onerosa e mais eficiente da prevenção do aumento da incidência de casos de obesidade e
doenças associadas a uma alimentação inadequada, tendo em vista que as complicações
decorrentes desses casos ocasionam uma maior demanda nos serviços de saúde de média e
alta complexidade. Ademais, estes problemas apresentam maior dificuldade quanto à
(29)
resolutividade e acarretam elevados gastos públicos .
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os relatos evidenciaram que a maioria das participantes possuía conhecimento prévio
sobre alimentação e nutrição na saúde materna e infantil e as oficinas educativas parecem
contribuir para a aquisição de novas informações primordiais e estimular a adoção de hábitos
alimentares saudáveis. Portanto, acredita-se que o estudo poderá incentivar e sensibilizar
gestores de políticas públicas e profissionais de diversas áreas sobre a importância das ações
de EAN, enquanto estratégia imprescindível no enfrentamento de novos desafios no cenário
da Saúde Coletiva.
Não foi possível avaliar se as oficinas educativas realizadas produziram efeitos
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DATA DE RECEBIMENTO:
08/12/2020
AUTOR CORRESPONDENTE:
Jamille de Lima Santos
[email protected]
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