Schneider FranciscoQuintanilha
Schneider FranciscoQuintanilha
Schneider FranciscoQuintanilha
Introdução
A presença indígena nas cidades tema de grande controvérsia ante a visão e
imagem estereotipada de que o índio uma vez ligado à natureza necessariamente deveria
estar apartado do convívio humano. O que se evidencia, conforme as raízes históricas e
de dominação cultural que permearam o processo de colonização do Brasil pelos
europeus, é que na visão de muitos quando o indígena está no espaço urbano, logo o
mesmo “deixa de ser índio”.
No entanto, dados oficiais apontam uma forte e expressiva presença indígena
nos centros urbanos do país, o que surpreende visto a existência de poucas iniciativas e
elaboração de políticas públicas que incluam a questão dos direitos assegurados
constitucionalmente a tais povos. O que persiste é a invisibilidade dos direitos indígenas
na cidade, pois que segundo os ditames da cultura e saberes predominantes a presença
dos índios nesse espaço figura como algo ilegítimo.
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Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Mestra em História (UPF); Mestranda em Direito e
Justiça Social (PPGD/FURG); E-mail: [email protected].
2
Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Doutor em Direito (UFPR); Professor Associado da
Faculdade de Direito (FADIR/FURG) e do Mestrado em Direito e Justiça Social (PPGD/FURG); E-mail:
[email protected].
Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades
indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los,
progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional (BRASIL, 1973, grifos
nossos).
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O termo decolonial com a supressão do “s”, utilizado por Catherine Walsh quer marcar uma distinção
com o significado de descolonizar em seu sentido clássico. Conforme explica a autora, não se trata de
desfazer o colonial ou revertê-lo, superando o momento colonial pelo pós-colonial, mas sim de provocar
uma postura contínua de transgredir e insurgir. Então, “Lo decolonial denota, entonces, un camino de
lucha continuo en el cual podemos identificar, visibilizar y alentar “lugares” de exterioridad y
construcciones alternativas” (WALSH, 2009, p. 15-16).
Imagem 1 – Dormindo sobre um pano ao chão, Bruna, filha de Amalicia Fernandes, da etnia Guarani, da
Aldeia de Itapuã, Cidade de Viamão (região metropolitana de Porto Alegre). Fonte: Arquivo pessoal da
autora. Foto em janeiro de 2015, com autorização da indígena. Elaboração própria.
A presença dos indígenas no centro de Porto Alegre é algo constante. Eles saem
de suas reservas ou aldeias e vem para a cidade vender seu artesanato. Muito comum as
crianças acompanharem suas famílias, geralmente às suas mães e quando não vendem
seus cestos, pedem por “moeda”. Abaixo, duas crianças, ainda na Rua Otávio Rocha,
em Porto Alegre, detalhe para o menor que só falava em guarani.
Com tais imagens percebe-se que “ler a cidade por meio das culturas que nela
habitam é imperativo” (ROSADO; FAGUNDES, 2013, p. 7). Portanto, para a
efetivação dos direitos indígenas assegurados pela Constituição Federal de 1988 cabe
superarmos a lógica hegemônica que compreende o espaço urbano enquanto
mercadoria, o que acaba por impedir que os demais indivíduos enxerguem “a existência
de outros modos de ser humano na cidade” (ROSADO; FAGUNDES, Id.), como se
aborda a seguir.
Imagem 3 – Natália, Juliana e Rafael, da etnia Guarani, Comunidade Campo Bonito, do Município de
Torres (Litoral Norte do Rio Grande do Sul). Fonte: Arquivo pessoal da Autora. Foto em janeiro de 2015,
com autorização do indígena homem. Elaboração Própria.
Imagem 5. Angela com seu artesanato e ervas medicinais, na Rua Vigário José Inácio, Centro, Porto
Alegre. Fonte: Arquivo pessoal da autora. Foto em janeiro de 2015, com autorização da indígena.
Elaboração Própria.
Imagem 7 – Amalicia Fernandes, com as filhas Bruna (4 anos) e Luciana (6 anos). Fonte: Arquivo pessoal
da autora. Foto em janeiro de 2015, com autorização da indígena. Elaboração própria.
Conclusão
O objetivo do estudo, como anunciado inicialmente, fora tratar do tema da
(in)visibilidade dos direitos indígenas nos grandes centros urbanos, em especial na
cidade de Porto Alegre. Para isso, na tentativa de delimitar tal intento dividiu-se a
abordagem em três momentos, a começar pelo apanhado acerca dos Direitos Indígenas
no Brasil a partir de 1988; passando pela reflexão sobre a Cidade como Espaço de
Convivência e Diálogo Intercultural, evidenciando que é possível continuar sendo índio
na cidade; e por fim, demonstrando um pouco sobre as Culturas Indígenas na Cidade de
Porto Alegre.
Ao término do trabalho evidencia-se o quanto ainda resta aprofundar tal
pesquisa, na qual se optou inserir algumas imagens para ilustrar e ao mesmo tempo,
tentar captar sobre o tema em comento. Para sensibilizar sobre uma temática de tamanha
grandiosidade e importância reconhece-se que primeiramente deve-se sensibilizar o
pesquisador.
Como tratar sobre direitos indígenas ou reconhecimento de direitos indígenas,
sem nunca ter falado com um índio? Como compreender o indígena na cidade, sem sair
em busca desse na realidade da cidade? A partir de tais indagações justifica-se a
inserção das imagens, pois que serviram para pesquisa de campo (embora não
exaustiva) para o diálogo com os indígenas encontrados no centro de Porto Alegre.
Tentou-se confrontar os estudos teóricos com a questão na prática. A conclusão que se
chega, é de que ainda há muito a pesquisar dentro dessa perspectiva dos estudos
decoloniais latino-americanos, principalmente na tentativa de desconstrução de
preconceitos e incoerência que permeiam o estudo da temática indígena no Brasil.
Uma certeza é de que a cidade pode ser um espaço de realização dos direitos
indígenas, ante a adoção de mecanismos políticos e ações permanentes pelos órgãos
responsáveis, como o setor público em parceria com a sociedade civil, organizações e
instituições acadêmicas, entre outros. E de somente pelo diálogo democrático e
Sessão temática Cidade - 390
intercultural pode-se construir a cidade onde a felicidade seja uma finalidade e uma
realização igualitária para todos.
Referências
BAPTISTA, Marcela Meneghetti; SOUZA, Gabriela Coelho de. O mbyá reko como
subsídio para a qualificação das políticas públicas no contexto da Região Metropolitana
de Porto Alegre/RS. In: ROSADO, Rosa Maris; FAGUNDES, Luiz Fernando Caldas
(Orgs.). Presença indígena na cidade: reflexões, ações e políticas. Núcleo de Políticas
para Povos Indígenas. Porto Alegre: Gráfica Hartmann, 2013, p. 13-41.