Maria Regina Celestino de Almeida: Texto:Os Índios Na História Do Brasil No Século XIX Da Invisibilidade Ao Protagonismo
Maria Regina Celestino de Almeida: Texto:Os Índios Na História Do Brasil No Século XIX Da Invisibilidade Ao Protagonismo
Maria Regina Celestino de Almeida: Texto:Os Índios Na História Do Brasil No Século XIX Da Invisibilidade Ao Protagonismo
INDIGENA
No decorrer do século XIX, incentivados pela política assimilacionista da Coroa portuguesa e depois do Império, as
câmaras municipais e os moradores intensificavam suas investidas para apoderar-se das terras e dos rendimentos
coletivos das aldeias.
Estas eram descritas como decadentes e miseráveis, mas continuavam despertando conflitos, pois os índios
insistiam em preservá-las. Misturados e transformados no interior das aldeias, os aldeados, talvez, dificilmente
pudessem se distinguir de seus vizinhos não índios por sinais diacríticos, laços consanguíneos, caracteres físicos ou
traços culturais nítidos, porém não abandonaram suas identidades indígenas.
Os Índios e a negação da mestiçagens: o pertencimento a aldeia e ao passado foram
elos fundamentais dessa negação
Foi principalmente em torno da ação política comum pela manutenção desses direitos que essas
identidades, a meu ver, se mantiveram e até se fortaleceram nesse período, contra as pressões que se
faziam no sentido de reconhecê-los como mestiços.
Unificava-os a ideia de pertencer à aldeia e o compartilhamento de um passado comum que remontava à
fundação da aldeia e à aliança com os portugueses, bem como a ação política coletiva em busca dos
direitos que lhes tinham sido dados.
Apesar das misturas, afirmavam, como informam os documentos, a identidade indígena que naquele
mundo conturbado lhes garantia a vida comunitária e a terra coletiva. (Regina, Maria, 2012, p. 32)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
OS INDIOS NA LUTA CONTRA A EXTINÇÃO DAS ALDEIAS
O processo de extinção das antigas aldeias coloniais envolveu, em várias regiões, o apagamento das
identidades indígenas por diferentes autoridades e moradores.
Esse apagamento era contrariado pela ação política dos próprios índios que, com requerimentos e
petições, desafiavam esses discursos afirmando a identidade indígena e seus antigos direitos obtidos
pelos acordos com a Coroa Portuguesa.
As aldeias acabariam extintas, porém, após processos longos, repletos de avanços e recuos. Nesses
processos, os índios tiveram participação importante, contribuindo, me parece, para retardá-los.
Do século XIX aos nossos dias, inúmeros povos indígenas deixaram de existir como etnias diferenciadas.
Porém, muitos deles estão ressurgindo hoje mediante processos de etnogênese pelos quais reafirmam
suas identidades indígenas e reivindicam direitos, sobretudo à terra coletiva, como se observa no
Nordeste e no Espírito Santo.
Outros, contudo, desapareceram, como foi o caso dos aldeados do Rio de Janeiro. É instigante, no
entanto, vê-los também reaparecer, de certa forma, não só nas histórias que vêm sendo reconstruídas,
como também nas memórias de seus descendentes. A
A aldeia de São Lourenço foi, como visto, extinta em 1866. Contudo, no bairro do mesmo nome, em
Niterói, José Luiz de Arariboia Cardoso e Gilda Rodrigues, em 1930 e 2003, respectivamente, assumiram
sua descendência dos índios da aldeia e do próprio Arariboia, seu primeiro capitão-mor. (Regina, Maria,
2012, p. 35)