1939 14547 1 PB
1939 14547 1 PB
1939 14547 1 PB
Resumo
1 Dr.; Biólogo; Professor Adjunto do Instituto de Biologia, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal
da Bahia; Endereço: Rua Barão de Geremoabo, 147, Campus de Ondina, CEP: 40170-290, Salvador, Bahia,
Brasil; E-mail: [email protected] (*) Autor para correspondência.
2 Bolsista PIBIC, CNPq no Laboratório de Carcinologia do Departamento de Biologia do Setor de Ecologia
da Universidade Federal de Lavras, Endereço: Caixa Postal 3037, CEP: 37200-000, Lavras, Minas Gerais,
Brasil; E-mail: [email protected]
3 Especialista; Bióloga; Universidade de Cruz Alta, Cruz Alta; Endereço: Rua Andrade Neves, 308, CEP: 98025-
810, Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil; E-mail: [email protected]
Lotic ecosystems are integrated systems which need integrated approaches to the
study of environmental impacts. This work aimed to evaluate the environmental
quality in the microbasin of Fiúza River, Panambi (RS). Were analyzed three
stretches in Fiúza River and three stretches in arroio Moinho, its main tributary.
So, they were evaluated: composition and diversity of benthic macroinvertebrates,
habitat diversity by the use of a rapid evaluation protocol; BMWP’ biological index
and physical, chemical and microbiological water analysis. In total 832 individuals
were collected of 25 taxa of benthic macroinvertebrates. The taxa that presented
higher number of individuals were: Chironomidae (252), Hydropsychidae (154)
and Leptophlebiidae (140). The habit diversity evaluation demonstrated that the
stretches didn’t maintain its natural status. The BMWP’ index showed that the
water quality was acceptable in only two stretches. In general, the stretches farther
of the urban influences had the highest diversity. The termotolerants coliforms
and physical-chemical parameters analysis characterized the water as improper
to use. It’s concluded that the microbasin of Fiúza River is altered, mainly in the
urban zone due to anthropogenic activity.
Key words: water quality; benthic macroinvertebrates; chironomidae; BMWP’
index; termotolerants coliforms.
512 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.10 N.2 Maio/Ago. 2014
em estudo e verificar o nível dos impactos, microbacias, auxiliando, inclusive para que
condições de habitat e nível de conservação ações preservacionistas sejam efetuadas. O
(CALLISTO et al., 2002). objetivo deste estudo foi providenciar tal
O monitoramento da qualidade informação para a microbacia do rio Fiúza
da água por indicadores biológicos tem em Panambi - RS.
sido usado para a verificação de alterações
espaciais e temporais (CAIRNS et al., 1993). Material e Métodos
Dessa forma, considerando que a maior
parte desses ecossistemas estão sujeitos
a distúrbios ambientais, que podem vir a Área de estudo
interferir nos processos físicos, químicos ou
biológicos associados à manutenção da vida Panambi encontra-se no Planalto
aquática, é muito provável que os organismos Médio Gaúcho, região Noroeste, situado
da biota apresentem mudanças em seu nas coordenadas geográficas 28º17’33’’ Sul
comportamento, estrutura e organização e 53º30’06’’ Oeste. O município possui
(KARR, 1991). Dentre os organismos, área de 409,9 km² e está a 418 m de
potencialmente afetados, encontram-se os altitude. O clima é subtropical úmido e a
macroinvertebrados bentônicos, considerados formação fitoecológica é floresta estacional
bons indicadores da qualidade de água semidecidual. O estudo foi desenvolvido no
em ambientes lóticos (MONTEIRO et rio Fiúza (rio de 2ª ordem) e em seu afluente
al., 2008), porque possuem locomoção principal, denominado arroio Moinho,
limitada, se fixam ao substrato e têm ambos localizados no município de Panambi
um ciclo de vida relativamente longo - RS, sendo o rio Fiúza responsável pelo
( JUNQUEIRA; CAMPOS, 1998). Soma-se abastecimento de água do município. A
a isso o fato de que a distribuição, a ocorrência microbacia hidrográfica cobre uma área
e a abundância da macrofauna bentônica de aproximadamente 190 km², dos quais
dependem muito da característica ambiental 150 km² situam-se em Panambi - RS. A
predominante, principalmente corrente, microbacia do rio Fiúza está inserida na bacia
substrato, disponibilidade de alimento, hidrográfica do Rio Ijuí, localizada a norte-
abrigo contra predadores e homeostase do noroeste do Rio Grande do Sul. A bacia
meio (MERRITT; CUMMINS, 1996), hidrográfica do rio Ijuí possui área de 10.849
demonstrando a efetividade do uso de tais km² e encontra-se na região hidrográfica da
organismos em ações de biomonitoramento bacia do rio Uruguai (BRASIL, 2006).
da qualidade de cursos hídricos. As amostragens dos
Dessa forma, acredita-se que uma macroinvertebrados bentônicos foram
visão que integre análises de composição realizadas em seis trechos distintos, sendo
e diversidade de macroinvertebrados três deles no rio Fiúza (cerca de 10 a 20 m
bentônicos, parâmetros físico-químicos de largura) e outros três no arroio Moinho
e microbiológicos de qualidade da (cerca de 4 a 5 m de largura). Em todos os
água e protocolos de avaliação rápida ambientes de coleta, a profundidade não
de habitats pode propiciar um efetivo superou 40 cm. A velocidade média e a vazão
estudo acerca da condição ambiental de média no rio Fiúza e no arroio Moinho
514 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.10 N.2 Maio/Ago. 2014
poluição, classificando a qualidade da água Resultados e Discussão
desde péssima até excelente.
Procedeu-se análise físico-química e Ao todo, foram coletados 832
microbiológica da água: turbidez (NTU), indivíduos pertencentes a 25 táxons. Os
alcalinidade (mg/L CaCO3), dureza (mg/L organismos foram classificados para os
CaCO3), demanda química de oxigênio – filos Annelida (Oligochaeta e Hirudinea)
DQO (mg/L O2), amônia (mg/L NH3), pH, e Arthropoda (Crustacea e Insecta). Os
coliformes termotolerantes (NMP/100ml), táxons que apresentaram maior número
coliformes totais (NMP/ml) e mesófilos de indivíduos foram: Chironomidae (252),
heterotróficos (UFC/ml). As análises foram Hydropsychidae (154) e Leptophlebiidae
realizadas no Laboratório de Águas da (140). Para os táxons Isopoda, Gomphidae
Unicruz de acordo com Clesceri e Greenberg e Nymphulini foi encontrado apenas um
(2005) e os dados foram analisados à luz da indivíduo. Apenas três táxons ocorreram
Resolução CONAMA no 357 de 17 de março em todos os trechos de coleta: Aeglidae,
de 2005 (BRASIL, 2005). Hydropsychidae e Chironomidae (Tabela 1).
(Continua...)
516 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.10 N.2 Maio/Ago. 2014
de recursos alimentares do que predadores COPATTI et al., 2013a).Tal dado é confirmado
e coletores. Whiles e Wallace (1997) neste estudo, uma vez que a microbacia do
acrescentam que organismos fragmentadores rio Fiúza recebe grande aporte de esgotos
alimentam-se de matéria orgânica grossa, domésticos, fornecendo altas quantidades de
possibilitando que a matéria orgânica fina alimento para os Chironomídeos. Além disso,
sirva de alimento para coletores e filtradores. o arroio Moinho por possuir uma menor vazão
Copatti et al. (2010) explicam que a menor de água, tende apresentar maior acúmulo
ocorrência de fragmentadores está relacionada de matéria orgânica, sustentando maior
ao fato dos rios situarem-se em locais com abundância de Chironomídeos.
escassa mata ripária e, consequentemente, De forma geral, a diversidade foi maior
baixa oferta de recursos vegetais alóctones. no rio Fiúza em comparação com o arroio
Tal informação corrobora para este estudo, Moinho (Tabela 2) e, na medida em que
pois em grande parte de sua extensão, a mata ambos os cursos hídricos percorrem o trecho
ripária é inexistente ou escassa na microbacia urbano, reduziram sua diversidade. Isto pode
do rio Fiúza. Para a estruturação da teia trófica ser explicado pelo fato de receberem grande
envolvendo macroinvertebrados bentônicos, a aporte de efluentes domésticos, bem como
deficiência em número de representantes deste a ocorrência de outros impactos ambientais
nicho trófico pode afetar o estabelecimento de evidentes, como erosão das margens e ausência
relações ecológicas. de mata ripária. O arroio Moinho, além de
Chironomidae foi o táxon mais receber impactos similares ao rio Fiúza, tem
abundante (Tabela 1). Os Chironomídeos, como desvantagem a sua menor vazão de
dentre os bioindicadores, quase sempre se água e correntes aquáticas menos intensas e
apresentam como dominantes nos ambientes maior deposição de areia e lama. Isso implica
aquáticos, devido a sua tolerância a situações em condições deficitárias para degradação
extremas de oxigenação e por apresentarem da matéria orgânica e de outros resíduos
grande capacidade competitiva (CALLISTO depositados, consequentemente ocorrendo
et al., 2001). Sua presença é verificada uma diminuição da disponibilidade de
em todos os ambientes que apresentam micro-habitat do ambiente, resultando
características eutróficas (MARQUES et al., no comprometimento da abundância e da
1999; BUBINAS; JAGMINIENÉ, 2001; distribuição dos organismos.
Tabela 2 - Diversidade de Shannon-Wiener (H’), equitabilidade de Pielou (J’), número de
táxons EPT, riqueza total (S) e dominância (k) de macroinvertebrados bentônicos
para na microbacia do rio Fiúza
Estimador A1 A2 A3 F1 F2 F3
H’ 0,852 0,687 0,315 0,923 0,783 0,752
J’ 0,743 0,636 0,330 0,767 0,752 0,723
EPT 6 4 2 6 3 3
S 14 12 9 16 11 11
k (%) 43,36 57,04 75,37 26,90 34,65 50,00
Fonte: Autores (2012).
Nota: A = arroio Moinho. F = rio Fiúza.
518 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.10 N.2 Maio/Ago. 2014
e a riqueza por rarefação é um dado de rarefação também indicam melhor
mais confiável que a riqueza observada qualidade hídrica para os trechos da área
(COPATTI et al., 2013b). E, assim como rural (A1 e F1) e para o rio Fiúza em
a riqueza observada (Tabela 2), os dados comparação com seu afluente (Tabela 3).
Tabela 3 - Rarefação calculada para 72 indivíduos de macroinvertebrados bentônicos na
microbacia do rio Fiúza.
A1 A2 A3 F1 F2 F3
Riqueza 12,27 10,12 4,45 12,84 9,91 11
Fonte: Autores (2012).
Nota: A = arroio Moinho. F = rio Fiúza.
Para maior precisão no diagnóstico 60 (Tabela 4). Krupek (2010) argumenta que o
ambiental na microbacia do rio Fiúza, utilizou- uso de avaliações rápidas (como este protocolo) é
se o protocolo de avaliação rápida de diversidade uma importante ferramenta no desenvolvimento
de hábitats segundo Callisto et al. (2002), em de programas de monitoramento ecológico e na
que os trechos receberam pontuação entre 31 e restauração de ambientes lóticos.
520 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.10 N.2 Maio/Ago. 2014
De acordo com a tabela 4, nenhum sp.), cinamomo (Melia azedarach), cipreste
trecho manteve sua característica natural. Os (Cupressus sp.) e principalmente Eucalyptus
trechos A1, F1, F2 e F3 foram considerados sp. e Pinus sp. Outras situações que interferem
alterados e os trechos A2 e A3 impactados, na qualidade ambiental na microbacia do rio
sendo estes os mais preocupantes. Além Fiúza são: animais mortos (margens e leito
disso, em todos os trechos avaliados, a do rio), acúmulo de lixo e entulhos (margens
água apresentou cor turva, não opaca, bem e leito do rio) e saídas de escoadouros pluviais
como assoreamento do leito do rio em despejando esgoto. O grande número de
decorrência de erosão em maior ou menor perturbações antrópicas identificadas para a
grau e certa instabilidade nas margens Como microbacia do rio Fiúza contribui para uma
característica positiva, relata-se a ausência menor ocorrência de macroinvertebrados
de oleosidade na água e no substrato para bentônicos, afetando principalmente
a microbacia. Além disso, em nenhum organismos mais sensíveis. De uma maneira
dos trechos verificou-se cobertura vegetal geral, o arroio Moinho se encontra mais
no leito, mas no trecho A1 registraram- degradado que o rio Fiúza e isso decorre muito
se plantas aquáticas (esparsas em local de em função da sua menor vazão de água, o que
remanso), representadas por Eichhornia implica em menor capacidade de degradação
crassipes (aguapés). de materiais poluentes. A menor vazão se deve
Dentre os fatores que contribuíram ao estrangulamento que o arroio Moinho sofre
para os trechos A2 e A3 terem sido e à baixa declividade, sendo que em alguns
classificados como impactados citam-se: trechos esta chega a ser nula.
tipo de fundo composto por areia e lama Além do protocolo de avaliação
e, por consequência, com uma menor rápida de Callisto et al. (2002), também foi
heterogeneidade de habitats, modificações analisada a qualidade ambiental pelo índice
do tipo canalização e, odor desagradável BMWP’, a qual aponta que em nenhum
no sedimento e água. No trecho A2, foi trecho analisado ocorreu boa qualidade da
constatado grande depósito de lama, sendo água, e mesmo uma qualificação aceitável
o fundo com mais de 75% coberto de lama só foi registrada para dois trechos (A1 e
(Tabela 4). A presença de sedimentos F1), sendo nos demais denominada como
está diretamente relacionada à qualidade duvidosa (Tabela 5). A presença de impactos
do habitat aquático, mas se eles estão ambientais, principalmente decorrentes
depositados, formando calhas ou obstruindo do despejo de esgotos domésticos, é
o leito dos rios, acabam diminuindo os acentuada a tal ponto que o ambiente não
locais disponíveis para a biota aquática mais consegue manter suas características
(RODRIGUES et al., 2010), o que foi naturais. Dessa forma, muitos organismos
verificado em A2 e A3. com sensibilidade a poluição, deixam de
Nos trechos avaliados, a mata ripária ocorrer e tal ausência reduz a pontuação do
apresentou-se restrita, com extensão índice BMWP’ nos trechos mais afetados. A
inferior a 6 m, e muitas vezes não natural, par disso, muitos dos organismos presentes
com presença de vegetação exótica, como estão adaptados às condições ambientais
taquara (Merostachys multiramea), uva-do- e apresentam limites de tolerância a
japão (Hovenia dulcis), limoeiro (Citrus diferentes alterações na mesma.
Pontuação 80 57 46 75 54 50
Qualidade Aceitável Duvidosa Duvidosa Aceitável Duvidosa Duvidosa
Fonte: Autores (2012).
Nota: A = arroio Moinho. F = rio Fiúza.
522 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.10 N.2 Maio/Ago. 2014
Em relação aos coliformes monitoramento na área ambiental deve ser
termotolerantes (Tabela 6), que indicam entendido como uma medida preventiva,
contaminação por material fecal, a utilizado para evidenciar ou medir um risco
concentração no arroio Moinho encontra-se (PIVETTA, 2001). A avaliação ambiental
acima do valor máximo estabelecido, sendo proposta neste trabalho mostrou-se
tal água imprópria para os usos das Classes como um método viável, pois integram
I, II e III (BRASIL, 2005). É possível que per tur bações aquátic as e terrestres,
a presença de contaminação de coliformes parâmetros biológicos e físico-químicos,
termotolerantes não implique necessariamente podendo-se determinar com maior eficácia
em um desequilíbrio ecológico, mas o conjunto o efeito dos impactos antropogênicos na
das informações analisadas para a microbacia qualidade ambiental de microbacias.
do rio Fiúza (Tabelas 1 a 6 e Figura 1)
demonstra que impactos ambientais ocorrem Conclusão
comumente e tendem a comprometer a
biodiversidade local. A microbacia do rio Fiúza apresenta-
De acordo com Copatti et al. (2013b) é se alterada, principalmente devido à
necessário integrar as ferramentas biológicas atividade antrópica (como despejo de esgoto
(diversidade, índices bióticos) com as doméstico e a destruição da mata ripária),
análises físicas e químicas e do ambiente não apresentando mais suas características
físico para diagnosticar a degradação de naturais. Os trechos hídricos localizados
rios de pequena ordem sujeitos a ações na zona urbana apresentaram a qualidade
antrópicas. Cada um desses indicadores se ambiental mais precária. As alterações
torna significativo a sua maneira, pois são antrópicas são refletidas pela menor
criados visando um destino diversificado abundância de alguns táxons e grupos tróficos
para a água, então é importante ter uma de macroinvertebrados bentônicos, bem
visão que integre um conjunto de avaliações como alterações de habitat e de parâmetros
(BOLLMANN; MARQUES, 2000). O físico-químicos e microbiológicos da água.
Referências
BISPO, P. C.; CRISCI-BISPO, V. L. Plecoptera. In: COSTA, S.; IDE, S.; SIMONKA, C. E.
(Org.). Insetos Imaturos. Metamorfose e Identificação. Ribeirão Preto: Holos, 2006. p. 67-70.
524 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.10 N.2 Maio/Ago. 2014
COPATTI, C. E.; ROSS, M.; COPATTI, B. R.; FAGUNDES, L. S. Bioassessment using
benthic macroinvertebrates of the water quality in the Tigreiro river, Jacuí Basin. Acta
Scientiarum. Biological Sciences, Maringá, v. 35, n. 4, p. 521-529, 2013b.
SILVEIRA, M. P.; BUSS, D. F.; NESSIMIAN, J. L.; BAPTISTA, D. F. Spatial and temporal
distribution of benthic macroinvertebrates in southeastern Brazilian river. Brazilian Journal
of Biology, São Paulo, v. 66, n. 2B, p. 623-632, 2006.
526 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.10 N.2 Maio/Ago. 2014