Aplicao Da Lei Penal Quanto As Pessoas

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

ABDULCADRE AMISSE PAULINO

ABDUL ABUDO CHALÉ

ALBERTO CUAMBAJ

IGOR KALAWIA DAVÓ DOMINGO CÉSAR

INOCENCIO MALATE

MARCELINO SILVA

NAZIA JUBEIDA KABA

WILSON AFONSO ALBERTO

APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS

NAMPULA

2024
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO

ABDULCADRE AMISSE PAULINO

ABDUL ADUDO CHALÉ

ALBERTO CUAMBAJ

IGOR KALAWIA DAVÓ DOMINGO CÉSAR

INOCENCIO MALATE

MARCELINO SILVA

NAZIA JUBEIDA KABA

WILSON AFONSO ALBERTO

APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS

Trabalho em grupo de carácter avaliativo, da


cadeira de Direito Penal I, Turma única, I
Semestre, 2º Ano, pós Laboral, curso de
licenciatura em Direito.
Leccionada pela Dra. Tehssin M. Ikbal

NAMPULA

2024
Lista de Abreviaturas

Art. ‐ Artigo;

CP -Código Penal;

N.⁰ ‐ Número;

p. - Página.

Prof.- Professor
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1
1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS ........................................................ 2
1.1. Noção de Direito Penal ........................................................................................................ 2
2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS ........................................................ 3
2.1. Princípio da igualdade .......................................................................................................... 4
3. IMUNIDADDE E APLICAÇAO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS
SINGULARES ............................................................................................................................ 4
3.1. Imunidades no âmbito Internacional e Interno ..................................................................... 5
3.2. Imunidade dos funcionários da ONU ................................................................................... 6
4. IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS ............................................................................................ 7
4.1. Espécies de Imunidades Diplomáticas ................................................................................. 9
5. IMUNIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ................................................................ 9
5.1. Prerrogativas dos Deputados da Assembleia da República ............................................... 10
5.2. Prerrogativas dos Membros do Governo ............................................................................ 11
6. Imputabilidade e Inimputabilidade ........................................................................................... 12
6.1. Responsabilidade Penal ...................................................................................................... 12
6.2. A Responsabilidade das Pessoas Colectivas ...................................................................... 13
CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 14
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.......................................................................................... 15
INTRODUÇÃO

O presente trabalho é de carácter avaliativo e tem como tema Aplicacao da Lei


Penal quanto as pessoas, o tema enquadra-se na área do Direito Público, concretamente na
cadeira de Direito Penal. O mesmo surge no âmbito da orientação da docente da cadeira, o
trabalho gira em torno da aplicação da lei penal quanto as pessoas, onde ao longo da abordagem
debruçará além da aplicação da lei penal quanto as pessoas, fará menção dos sujeitos que não são
susceptíveis da aplicação da lei penal, imunidade, excepções relativas a aplicabilidade da lei
penal, dentre outros aspectos pertinentes.

Importa salientar que, durante a realização do trabalho, e para a sua concretização,


várias foram as obras consultadas, a fim de obter informações plausíveis e adequadas para o seu
uso, e que as mesmas se encontram patentes nas referências bibliográficas.

Portanto, é do nosso inteiro conhecimento que todo trabalho científico deve


infalivelmente apresentar uma certa estrutura de modo a clarificar a sua compreensão. Neste
caso, o trabalho em causa não foge à regra estabelecida, sendo que, o mesmo encontra-se
estruturado da seguinte maneira:

 Introdução;
 Desenvolvimento;
 Conclusão; e
 Bibliografia

1
1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS

1.1. Noção de Direito Penal

O Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que visam ditar as infracções


penais e as devidas sanções. O direito penal em sentido objectivo é entendido como o conjunto
de normas que ditam as sanções, que entende-se em termo latim por ius Puenale. Enquanto em
sentido subjectivo, é o ius Puniendi, que é o poder punitivo do Estado resultante da sua soberania
e competência para considerar como crime certos comportamentos humanos e ligar-lhes sanções
específicas1.

Portanto, o Direito Penal designa a parte do ordenamento jurídico que determina


os pressupostos da punibilidade, bem como os caracteres específicos da conduta punível,
cominando determinadas penas e prevendo, a par de outras consequências jurídicas,
especialmente medidas de tratamento e segurança. Assim, o Direito Penal é o conjunto das
prescrições emanadas do Estado que ligam ao crime como facto e a pena como consequência. Ou
seja, o Direito Penal é antes um ramo de Direito Público constituído por um conjunto de normas
e princípios jurídicos que ligam ao crime ou delito, como facto, a pena e medidas de segurança,
como consequências jurídicas2.

Nesse sentido, chama-se direito penal ao conjunto das normas jurídicas que ligam
a certos comportamentos humanos, os crimes, determinadas consequências jurídicas privativas
deste ramo de direito. A mais importante destas consequências, tanto do ponto de vista
quantitativo, como qualitativo (social) é a pena, a qual só pode ser aplicada ao agente do crime
que tenha actuado com culpa. Ao lado da pena prevê, porém, o direito penal outro género de
consequências jurídicas, são as medidas de segurança, as quais não supõem a culpa do agente,
mas a sua perigosidade3.Pode-se ainda conceituá-lo, como o conjunto de normas jurídicas que
materializando o poder punitivo do Estado, define as infracções penais (crimes e contraversões) e
comina as sanções correspondentes (penas, medidas de segurança ou consequência legal),

1
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007, p.3.
2
Idem, P. 3.
3
Idem, P. 3.

2
estabelecendo ainda os princípios e garantias em face do exercício deste poder, ao mesmo tempo
em que cria os pressupostos de punibilidade4.

2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS

A aplicação da lei penal quanto às pessoas é um dos aspectos que diz respeito a
Teoria da lei penal, quanto a aplicação da lei penal no tempo e o relativo a aplicação da lei penal
no espaço. Isto porque, o nosso direito e concretamente à Constituição da República têm algumas
regras especiais em relação a certas pessoas, ou a pessoas que ocupam certos cargos, quanto ao
funcionamento da lei penal, em relação a actos praticados por essas pessoas5.

Contudo, pode parecer, e de certo modo acaba por funcionar como tal, uma
violação do princípio da igualdade, só que essas eventuais excepções são feitas pela própria
constituição e portanto não se levanta os problemas de inconstitucionalidade, a não ser por quem
admita, de forma mais ou menos metafísica, que é possível haver normas constitucionais feridas
de inconstitucionalidade6.

Entretanto, apesar da lei penal através do princípio da igualdade ditar que deverá a
lei penal, ser aplicada para todos, não concedendo privilégios para pessoas que limitem a
aplicabilidade da mesma. Há, no entanto, pessoas que por virtude das suas funções na estrutura
orgânica do Estado ou em razão de regras de Direito Internacional gozam de imunidades7. Ou
seja, trata-se de situações em relação às quais se verifica um condicionamento na instauração ou
prossecução do procedimento penal.8 Nesses termos não é propriamente uma limitação da
aplicabilidade da lei penal substantiva, mas uma limitação da competência jurisdicional dos
tribunais. Assim, é preciso, todavia, distinguir as excepções de carácter substantivo das
excepções de carácter adjectivo ou processual9.

4
QUEIROZ, Paulo, Direito penal, 4ª edição, Lumen Juris Editora, 2008, p.3.
5
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I, 2ª edição, aafdl editora, 1984. P.505.
6
Idem, P. 505.
7
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 318
8
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.190
9
FERREIRA, Manuel Cavaleiro de, Direito Penal Português: partes geral, 2ª edição, Verbo editora 1982, p.157.

3
2.1. Princípio da igualdade

Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão
sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de
nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção
política, como se estabelece no artigo 35º da CRM10. Portanto, dizer que todas as pessoas são
iguais perante a lei, quer dizer que a lei criminal moçambicana aplica-se a todos os cidadãos que
se encontrem a ela vinculados. Isto é, os cidadãos encontram-se em paridade jurídica na
atribuição de direitos e deveres ou obrigações (paridade de tratamento jurídico, desde que as
condições, a capacidade e as atitudes sejam idênticas)11.

Esta é uma regra geral, contudo, em certos sectores, sofre desvios, concedendo-se
algumas prerrogativas a certas pessoas em razão das funções que ocupam, ou de compromissos
decorrentes do direito internacional. Portanto, são regras do direito público interno e do direito
internacional público que impõem tratamento peculiar a certas pessoas em função dos cargos que
exercem, com o objectivo de que tais funções serão exercidas sem perturbações. Portanto, as
prerrogativas em causa não constituem privilégios pessoais, mas às funções exercidas12.

Existem, assim, prerrogativas do direito penal substantivo e prerrogativas do


direito penal processual ou de carácter adjectivo. As substantivas subtraem as pessoas que delas
desfrutam da aplicação da lei penal, como que apagassem o crime, as segundas, as processuais,
criam condições especiais em sede processual, fazendo o procedimento penal depender de certas
condições13.

1. 3. IMUNIDADDE E APLICAÇAO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS


SINGULARES
Não se aplicará a lei penal Moçambicana em pessoas que exerçam funções
internacionais em Moçambique. E se tratando de direito interno, a lei penal não será aplicada em
casos que o agente ocupe cargo público que lhe dê a imunidade constitucional14.

10
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro.
11
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018, p.95.
12
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018, p.95.
13
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.195
14
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/lei-penal-em-relacao-as-pessoas/359790178

4
As imunidades constituem privilégios por força dos quais as pessoas a quem são
atribuídos não ficam sujeitas à jurisdição do Estado ou não lhe são aplicáveis as sanções nas leis
penais15. Discute-se na doutrina a natureza destes privilégios, se são de natureza substantiva ou
simplesmente adjectiva, isto é, se gozam de uma isenção quanto à inaplicabilidade das penas
previstas nas leis penais para os factos por eles praticados e aos quais, segundo os princípios
gerais, seria aplicável a lei penal moçambicana, o que poderia qualificar-se como causa de não
punibilidade, ou simplesmente se gozam de, se não submeterem à jurisdição penal moçambicana.
Assim, a natureza substantiva ou processual das imunidades só pode determinar-se em razão de
cada imunidade concreta, em função dos termos que a lei atribui16.

As imunidades costumam classificar-se em absolutas e relativas. São absolutas as


que exime de responsabilidade ou isentam de submissão à jurisdição por qualquer crime. São
relativas as que resultam do exercício de determinadas funções. Contudo, o fundamento das
imunidades, internas e internacionais, é sempre a natureza política, interna ou internacional17.

3.1. Imunidades no âmbito Internacional e Interno

As imunidades diplomáticas encontram fundamentos na Convenção de Viena,


assinada em 18 de Abril de 196118. No entanto, estas imunidades foram criadas para que
houvesse extremo respeito ao Estado representado, e para que as pessoas que exerçam essas
funções possam exercê-las de forma eficaz. Assim, essa imunidade não deve ser vista como
benefício ou privilégio pessoal, e sim como uma prerrogativa funcional, pois estas só são de
alcance a pessoas como certas funções ou actividade que exercem19.

As imunidades absolutas são reservadas aos chefes de Estado estrageiros, são


pois, imunidades de direito público internacional geral. As imunidades podem ser relativas ou
funcionais tanto podem ser de direito publico interno e de direito público internacional. Assim,
são as imunidades de direito publico interno, as que gozam os deputados da assembleia da

15
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editora Verbo, 2001, pág. 321
16
Idem, P. 321.
17
MIRABET, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora atlas S.A, 27ª edição, 2007,
p.60.
18
NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em 18 de Abril de 1961
19
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/lei-penal-em-relacao-as-pessoas/359790178

5
república,20 Nos termos do artigo 173 n.°1, 2 e 3 da Constituição da República de
Moçambique21.

Entretanto, são imunidades de direito público internacional as que gozam os


diplomatas e agentes internacionais equiparados aos agentes diplomáticos22, trata-se das
imunidades diplomáticas decorrentes do Direito Internacional Público, a qual leva em
consideração a função exercida pelo autor do crime.23

3.2. Imunidade dos funcionários da ONU

A Convenção das Nações Unidas sobre Privilégios e Imunidades, de 13 de


Fevereiro de 1946, é um instrumento jurídico internacional destinado a conceder privilégios e
imunidades às Nações Unidas, nos territórios dos Estados Membros da Organização, bem como
aos seus funcionários no exercício de funções relacionadas com a Organização24.

Assim, o art.º 11 da Resolução n.o 21/2000, estabelece que os representantes dos


membros junto dos órgãos principais e subsidiários das Nações Unidas e nas conferências
convocadas pelas Nações Unidas gozam, durante o exercício das suas funções e no decurso de
viagens com destino ao local da reunião ou no regresso dessa reunião, dos privilégios e
imunidades, que são entre outras, imunidade de prisão ou de detenção da sua pessoa e de
apreensão da sua bagagem pessoal, bem como, no que respeita aos actos por eles praticados na
sua qualidade de representantes (incluindo as suas palavras e escritos), imunidade de qualquer
procedimento judicial25.

Portanto, Organização das Nações Unidas, os seus bens e património, onde quer
que estejam situados e independentemente do seu detentor, gozam de imunidade de qualquer

20
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 322.
21
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro.
22
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 322.
23
DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
2019 p.46
24
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção sobre os
Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.
25
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.º 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção sobre os
Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.

6
procedimento judicial, salvo na medida em que a Organização a ela tenha renunciado
expressamente num determinado caso, nos termos do artigo 2 da presente resolução26.

4. IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS

A concessão de privilégios a representantes, relativamente aos actos ilícitos por


eles praticados, é antiga praxe no direito das gentes, fundando-se no respeito e consideração ao
Estado que representam, e na necessidade de cercar sua actividade de garantia para desempenho
de sua missão diplomática ou consular. Assim, estas poderiam também enquadrar-se num
princípio de extraterritorialidade27.

As imunidades diplomáticas provêm do direito internacional, e são aplicáveis aos


chefes de Estado e de Governos estrangeiros e representantes desses governos no território
nacional. Portanto, essas entidades estão, graças ao direito internacional, excluídos da jurisdição
penal moçambicana28.

Neste contexto, é costume e prática internacional que os Chefes de Estado


estrangeiros, quando não viajem incógnitos, e pratiquem factos criminais, não possam ser
punidos, devendo apenas ser convidados a retirarem-se ou serem expulsos, pedindo-se depois
reparações por via diplomática29. É o caso típico das prerrogativas penais substantivas, pois
embora sujeitos aos preceitos penais primários das normas penais, escapar ao preceito secundário
que é a pena. Mas seja como for, eles devem, por estarem sujeitos ao preceito primário, evitar a
prática da infracção30.

Entende-se com isto, que os chefes de Estado e os representantes de governos


estrageiros estão excluídos da jurisdição criminal, ou seja, da jurisdição penal em países em que
estes exercem as suas funções. É possível, porém, a renúncia à imunidade da jurisdição penal
que, entretanto, é da competência do Estado Anfitrião, e não do agente diplomático, pela própria

26
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção sobre os
Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.
27
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora atlas S.A, 27ª edição, 2007,
p.65.
28
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
29
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.191
30
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018

7
natureza do instituto. Assim, a imunidade não afasta, porém, a possibilidade de ser o agente
diplomático processado em seu Estado de origem31.

Neste contexto, a imunidade tem início com a entrada do agente diplomático no


território do Estado Anfitrião para assumir o seu posto e perdura enquanto permanecer no
exercício de suas funções até que venha a sair do país ou transcorra o prazo fixado para fazê-lo.
Cobre também a imunidade o chefe de Estado estrangeiro que visita o país, bem como os
membros de sua comitiva. É costume retirar o agrément aos diplomatas que praticarem delitos
no país, fazendo-os assim sair do território e permitindo que os respectivos países os julguem. O
mesmo, em regra, se aplica aos agentes internacionais equiparados aos agentes diplomáticos, ao
pessoal oficial das missões diplomáticas, bem como à família destes e em certa medida aos
cônsules.32

As sedes diplomáticas (embaixadas, sedes de organismos internacionais) são


consideradas extensão de território estrangeiro, embora sejam invioláveis como garantia aos
representantes. Na Convenção de Viena, determina-se que os locais das missões diplomáticas são
invioláveis, não podendo ser objecto de busca, requisição, embargo ou medida de execução. Fica
assegurada a protecção a seus arquivos, documentos, correspondência etc. Todavia, os delitos
cometidos nas representações diplomáticas serão alcançados pela lei moçambicana se praticados
por pessoas que não gozem de imunidade33.

Vale destacar, que a imunidade não se restringe ao agente diplomático e sua


família. Conforme a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961, essa imunidade
também se estende às seguintes pessoas34:

 Aos membros do pessoal administrativo e técnico da missão, além dos familiares que
com eles vivam, desde que não sejam nacionais do Estado acreditador nem nele tenham
residência permanente, nos termos do artigo 37, n.o 2º, da Convenção de Viena de 1961;

31
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, ob. cit. p.65.
32
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.191
33
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, ob. cit. p.65.
34
NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em 18 de Abril de 1961.

8
 Aos membros do pessoal de serviço da missão que não sejam nacionais do Estado
acreditador nem nele tenham residência permanente, quanto aos actos praticados no
exercício de suas funções, nos termos do art.º 37, n. 3º, da Convenção de Viena de 1961;
 Funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc), quando em serviço. Não
se aplica, contudo, aos criados particulares dos membros da missão35.

4.1. Espécies de Imunidades Diplomáticas

A sistemática da prerrogativa diplomática induz ao reconhecimento das seguintes


dimensões ou espécies:

 Imunidade Material ou Inviolabilidade: Significa que o diplomata e sua família, bem


como os imunes por extensão, não estão sujeitos a qualquer forma de prisão em
Moçambique.
 Imunidade Processual ou Imunidade Formal ou Imunidade de Jurisdição: Todas as
pessoas revestidas de imunidade diplomática não estão subordinadas à jurisdição penal
Moçambicana (jurisdição do Estado acreditador), mas sim à jurisdição penal do Estado
ao qual pertencem (jurisdição do Estado acreditam-te), não são obrigadas, por exemplo, a
prestar depoimento como testemunha36.

5. IMUNIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

O artigo 35° da CRM, estabelece que todos os cidadãos são iguais perante a lei e
gozam dos mesmos direitos. Portanto, a lei penal será igual para todos, mas apesar disso, o artigo
152.° da CRM sobre a responsabilidade do Presidente da República, impõe algumas
especialidades em relação as infracções praticadas pela pessoa que ocupa o cargo. 37 É o caso de,
por exemplo, ao contrário do comum dos mortais, o Presidente da República responder perante o

35
NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em 18 de Abril de 1961.
36
DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
2019 pp.46-47
37
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República de
Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.

9
Tribunal Supremo em primeira instância (não passa pelas instâncias inferiores dos tribunais
criminais) que é julgado por um crime praticado no exercício das suas funções38.

Por outro lado, segundo o n.°3, é à Assembleia da República que cabe a iniciativa
do processo (não é ao Ministério Público) e para que esse processo possa iniciar-se é necessário
que a Assembleia da República aprove por maioria de 2/3, uma proposta de um quinto dos
deputados. Por maioria de 2/3, uma proposta de um quinto dos deputados. Portanto, a própria
instauração quanto à iniciativa de acção processual, e quanto à possibilidade de ela prosseguir,
quanto à instância do tribunal que a julga, há especialidade em relação ao presidente39.

Para além disso, o n°2 deste artigo, também implica uma especialização
importante em relação ao Presidente da República, pois diz que por crimes estranhos ao
exercício das suas funções, o Presidente da República responde depois de findo o mandato
(perante os Tribunais comuns). Assim, a Constituição estabelece somente prerrogativas
processuais, de que depende procedibilidade da acção penal contra o Presidente da República40.
Isto são resumidamente as especialidades da responsabilidade criminal (ou especialidade da
aplicação da lei penal quanto às pessoas) do Presidente da República.

5.1. Prerrogativas dos Deputados da Assembleia da República

Estabelece o artigo 173, n.º 1 da CRM, que nenhum Deputado pode ser detido ou
preso, salvo em caso de flagrante delito, ou submetido a julgamento sem o consentimento da
Assembleia da República41. Estamos em sede de uma prerrogativa adjectiva, da qual depende o
seguimento da acção penal. Neste caso, a acção penal pode ser instaurada, contudo, para que o
deputado seja ouvido ou submetido a julgamento é preciso que a Assembleia da República,
através da sua Comissão Permanente, quebre a imunidade parlamentar de que goza. Sendo detido
em flagrante delito, na mesma, não poderá ser validada a prisão sem consentimento da
Assembleia da República42.

38
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. aafdl editora, 2ª edição, 1984. p.5056.
39
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro.
40
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro.
41
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
42
Idem.

10
No entanto, o artigo 173° é claramente o reflexo da aplicação da lei penal quanto
as pessoas, em função dos cargos que ocupam, portanto, este artigo refere-se aos deputados da
Assembleia da República e tratando das suas imunidades tem também reflexos quanto à
responsabilidade criminal43. Portanto, nos termos do n° 1 do artigo 174 da CRM, se estabelece
que que não há responsabilidade criminal (além de outras) por opiniões que emitirem durante o
exercício das suas funções44. Ou seja, por exemplo, um deputado que interpele outro de uma
maneira insultuosa em princípio não pode ser objecto de um processo por injúria, e poderia se
isso acontecesse no meio da rua, sem estar em uma sessão da Assembleia da República, nos
termos do n.o 2 do artigo 174 da CRM45.

Por outro lado o n ° 1 do artigo 173 da CRM, dispõe que para um deputado ser
preso, ou detido, ou submetido a julgamento é necessária autorização da Assembleia da
República, salvo se isso se passar em flagrante delito. Nos demais números, se estabelece que se
o deputado for constituído arguido em um processo penal pendente é ouvido o deputado, por um
juiz conselheiro, gozando este de foro especial, sendo julgado pelo Tribunal Supremo.46

5.2. Prerrogativas dos Membros do Governo

Os membros do Governo, o n.º 1 do artigo 210 da CRM, dispõe em relação à sua


eventual responsabilidade criminal, e a especialidade que aqui é significativa é que, nos tempos
deste artigo, é necessário, para que um processo-crime siga contra um membro do Governo, que
ele seja suspenso do exercício das suas funções por deliberação da Assembleia da República,
excepto se ao facto corresponder pena maior47.

Os membros do Governo não podem ser detidos ou presos sem autorização do


Presidente da República, salvo em flagrante delito e por crime doloso a que corresponda pena de
prisão maior nos termos do n.º 1 do artigo 210 da Constituição da República de Moçambique48.

43
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984 p.506.
44
Idem, P. 506.
45
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro
46
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro
47
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro
48
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro

11
Trata-se, igualmente, de uma prerrogativa de natureza processual, da qual depende o
procedimento penal.49

6. Imputabilidade e Inimputabilidade

No direito penal para se punir um individuo é preciso que tenha uma maturidade
mental suficiente. Assim, para ser imputável, é preciso que seja maior de 16 anos e ter
maturidade mental suficiente, para então se aplicar a lei penal a determinada pessoa50.

No que concerne a inimputabilidade, há que dizer que esta comporta duas


modalidades, que são inimputabilidade absoluta, onde se estabelece que não são susceptíveis de
imputação: os menores que não tiverem completado 16 anos e os que sofrem de anomalia
psíquica sem intervalos lúcidos. E inimputabilidade relativa, onde se estabelece que são
relativamente inimputáveis: os menores que, tendo mais de 16 anos e menos de 21, tiverem
procedido sem discernimento; os que sofrem de anomalia psíquica que, embora tenham
intervalos lúcidos, praticarem o facto naquele estado; e os que, por qualquer outro motivo
independentemente da sua vontade, estiverem acidentalmente privados do exercício das suas
faculdades intelectuais no momento de cometerem o facto punível, nos termos do art.º 48 e 49 do
CP, respectivamente51.

6.1. Responsabilidade Penal

A responsabilidade penal consiste na obrigação de reparar o dano causado na


ordem jurídica da sociedade, cumprindo a pena ou a medida estabelecida na lei. No entanto,
salvo o disposto no artigo 50 do Código Penal e nos casos especialmente previstos na lei, só as
pessoas singulares são susceptíveis de responsabilidade penal, nos termos dos artigos 28 e 29 do
Código Penal. Assim, o procedimento criminal, as penas e as medidas de segurança extinguem-
se, não só nos casos previstos no artigo 3, mas também, pela morte do agente do crime; pela
prescrição do procedimento criminal, embora não seja alegada pelo réu ou este retenha qualquer
objecto por efeito do crime; pela amnistia, e nos demais casos previstos no art.º 155 do Código

49
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
50
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
51
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.

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Penal, bem como, pelo seu cumprimento; pelo indulto; pela prescrição e pela reabilitação, nos
termos do art.º 156 do Código Penal.52

6.2. A Responsabilidade das Pessoas Colectivas

Este é o outros aspecto que merece atenção relativamente a aplicação da lei penal
quanto as pessoas. Pois à admissibilidade da responsabilidade penal das pessoas colectivas e aos
intricados problemas que este aspecto suscita. Assim, então que embora a pessoa jurídica não
possa delinquir nem ser castigada como tal, não devem, numa perspectivas político criminal,
ficar impunes os factos que lhe são atribuíveis, tendo em consideração de que a vontade formal
que decide uma dada conduta não seja a vontade de indivíduos concretos, mas antes a vontade
social.53 Tendo atenção que as pessoas jurídicas são sempre associações de pessoas físicas com
peculiares relações de poder ou dependência entre si e com muita frequência essas associações
potencializam a prática de crimes de certos géneros, como sucede mais frequentemente com os
crimes económicos.54 Assim, se estabelece no art.º 85 que pelos crimes praticados pelas pessoas
colectivas e entidades equiparadas aplicam-se as penas principais de dissolução ou de multa.

52
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
53
Idem. P. 323.
54
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 324

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CONCLUSÃO

Concluído o trabalho constatou-se que falar da aplicação da lei penal quanto as


pessoas é falar das regras especiais de aplicação da lei penal em relação a certas pessoas, ou a
pessoas que ocupam certos cargos, quanto ao funcionamento da lei penal, em relação a actos
praticados por essas pessoas não ficam sujeitas à jurisdição do Estado.

Entretanto, apesar da lei penal através do princípio da igualdade ditar que deverá a
lei penal, ser aplicada para todos, não concedendo privilégios para pessoas que limitem a
aplicabilidade da mesma. Há, no entanto, pessoas que por virtude das suas funções na estrutura
orgânica do Estado ou em razão de regras de Direito Internacional gozam de imunidades. Ou
seja, trata-se de situações em relação às quais se verifica um condicionamento na instauração ou
prossecução do procedimento penal. Nesses termos não é propriamente uma limitação da
aplicabilidade da lei penal substantiva, mas uma limitação da competência jurisdicional dos
tribunais.

A aplicação da lei penal quanto as pessoas, também comporta limitações de


jurisdição penal relativamente a imunidades, que constituem privilégios por força dos quais as
pessoas a quem são atribuídos não ficam sujeitas à jurisdição do Estado ou não lhe são aplicáveis
as sanções nas leis penais. As imunidades podem ser de direito publico interno e de direito
público internacional. Assim, são as imunidades de direito público interno, as que gozam os
deputados da assembleia da república. Entretanto, são imunidades de direito público
internacional as que gozam os diplomatas e agentes internacionais equiparados aos agentes
diplomáticos, trata-se das imunidades diplomáticas decorrentes do Direito Internacional Público,
a qual leva em consideração a função exercida pelo autor do crime.

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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

Legislações:

 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da


República, 1º série, nº51 de 22 de Dezembro
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o
novo Código Penal, in Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
 NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em
18 de Abril de 1961.
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que
ratifica a Convenção sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de
Fevereiro de 1946.

Doutrina:
 BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984.
 CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora.
 DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007.
 DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, 2019.
 FERREIRA, Manuel Cavaleiro de, Direito Penal Português: partes geral, 2ª edição,
Verbo editora 1982.
 MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica Editora, Maputo, 2018.
 MAUS, Victor. A Aplicabilidade da Lei das Contravenções Penais no Ordenamento
Jurídico Contemporâneo, Santa Cruz do Sul, 2017.
 MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora
atlas S.A, 27ª edição, 2007.
 QUEIROZ, Paulo, Direito penal, 4ª edição, Lumen Juris Editora, 2008.
 SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo,
2001.
 https://www.jusbrasil.com.br/artigos/lei-penal-em-relacao-as-pessoas/359790178

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