Aplicao Da Lei Penal Quanto As Pessoas
Aplicao Da Lei Penal Quanto As Pessoas
Aplicao Da Lei Penal Quanto As Pessoas
FACULDADE DE DIREITO
ALBERTO CUAMBAJ
INOCENCIO MALATE
MARCELINO SILVA
NAMPULA
2024
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
ALBERTO CUAMBAJ
INOCENCIO MALATE
MARCELINO SILVA
NAMPULA
2024
Lista de Abreviaturas
Art. ‐ Artigo;
CP -Código Penal;
N.⁰ ‐ Número;
p. - Página.
Prof.- Professor
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1
1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS ........................................................ 2
1.1. Noção de Direito Penal ........................................................................................................ 2
2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS ........................................................ 3
2.1. Princípio da igualdade .......................................................................................................... 4
3. IMUNIDADDE E APLICAÇAO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS
SINGULARES ............................................................................................................................ 4
3.1. Imunidades no âmbito Internacional e Interno ..................................................................... 5
3.2. Imunidade dos funcionários da ONU ................................................................................... 6
4. IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS ............................................................................................ 7
4.1. Espécies de Imunidades Diplomáticas ................................................................................. 9
5. IMUNIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ................................................................ 9
5.1. Prerrogativas dos Deputados da Assembleia da República ............................................... 10
5.2. Prerrogativas dos Membros do Governo ............................................................................ 11
6. Imputabilidade e Inimputabilidade ........................................................................................... 12
6.1. Responsabilidade Penal ...................................................................................................... 12
6.2. A Responsabilidade das Pessoas Colectivas ...................................................................... 13
CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 14
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.......................................................................................... 15
INTRODUÇÃO
Introdução;
Desenvolvimento;
Conclusão; e
Bibliografia
1
1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS
Nesse sentido, chama-se direito penal ao conjunto das normas jurídicas que ligam
a certos comportamentos humanos, os crimes, determinadas consequências jurídicas privativas
deste ramo de direito. A mais importante destas consequências, tanto do ponto de vista
quantitativo, como qualitativo (social) é a pena, a qual só pode ser aplicada ao agente do crime
que tenha actuado com culpa. Ao lado da pena prevê, porém, o direito penal outro género de
consequências jurídicas, são as medidas de segurança, as quais não supõem a culpa do agente,
mas a sua perigosidade3.Pode-se ainda conceituá-lo, como o conjunto de normas jurídicas que
materializando o poder punitivo do Estado, define as infracções penais (crimes e contraversões) e
comina as sanções correspondentes (penas, medidas de segurança ou consequência legal),
1
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007, p.3.
2
Idem, P. 3.
3
Idem, P. 3.
2
estabelecendo ainda os princípios e garantias em face do exercício deste poder, ao mesmo tempo
em que cria os pressupostos de punibilidade4.
A aplicação da lei penal quanto às pessoas é um dos aspectos que diz respeito a
Teoria da lei penal, quanto a aplicação da lei penal no tempo e o relativo a aplicação da lei penal
no espaço. Isto porque, o nosso direito e concretamente à Constituição da República têm algumas
regras especiais em relação a certas pessoas, ou a pessoas que ocupam certos cargos, quanto ao
funcionamento da lei penal, em relação a actos praticados por essas pessoas5.
Contudo, pode parecer, e de certo modo acaba por funcionar como tal, uma
violação do princípio da igualdade, só que essas eventuais excepções são feitas pela própria
constituição e portanto não se levanta os problemas de inconstitucionalidade, a não ser por quem
admita, de forma mais ou menos metafísica, que é possível haver normas constitucionais feridas
de inconstitucionalidade6.
Entretanto, apesar da lei penal através do princípio da igualdade ditar que deverá a
lei penal, ser aplicada para todos, não concedendo privilégios para pessoas que limitem a
aplicabilidade da mesma. Há, no entanto, pessoas que por virtude das suas funções na estrutura
orgânica do Estado ou em razão de regras de Direito Internacional gozam de imunidades7. Ou
seja, trata-se de situações em relação às quais se verifica um condicionamento na instauração ou
prossecução do procedimento penal.8 Nesses termos não é propriamente uma limitação da
aplicabilidade da lei penal substantiva, mas uma limitação da competência jurisdicional dos
tribunais. Assim, é preciso, todavia, distinguir as excepções de carácter substantivo das
excepções de carácter adjectivo ou processual9.
4
QUEIROZ, Paulo, Direito penal, 4ª edição, Lumen Juris Editora, 2008, p.3.
5
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I, 2ª edição, aafdl editora, 1984. P.505.
6
Idem, P. 505.
7
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 318
8
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.190
9
FERREIRA, Manuel Cavaleiro de, Direito Penal Português: partes geral, 2ª edição, Verbo editora 1982, p.157.
3
2.1. Princípio da igualdade
Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão
sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de
nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção
política, como se estabelece no artigo 35º da CRM10. Portanto, dizer que todas as pessoas são
iguais perante a lei, quer dizer que a lei criminal moçambicana aplica-se a todos os cidadãos que
se encontrem a ela vinculados. Isto é, os cidadãos encontram-se em paridade jurídica na
atribuição de direitos e deveres ou obrigações (paridade de tratamento jurídico, desde que as
condições, a capacidade e as atitudes sejam idênticas)11.
Esta é uma regra geral, contudo, em certos sectores, sofre desvios, concedendo-se
algumas prerrogativas a certas pessoas em razão das funções que ocupam, ou de compromissos
decorrentes do direito internacional. Portanto, são regras do direito público interno e do direito
internacional público que impõem tratamento peculiar a certas pessoas em função dos cargos que
exercem, com o objectivo de que tais funções serão exercidas sem perturbações. Portanto, as
prerrogativas em causa não constituem privilégios pessoais, mas às funções exercidas12.
10
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro.
11
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018, p.95.
12
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018, p.95.
13
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.195
14
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/lei-penal-em-relacao-as-pessoas/359790178
4
As imunidades constituem privilégios por força dos quais as pessoas a quem são
atribuídos não ficam sujeitas à jurisdição do Estado ou não lhe são aplicáveis as sanções nas leis
penais15. Discute-se na doutrina a natureza destes privilégios, se são de natureza substantiva ou
simplesmente adjectiva, isto é, se gozam de uma isenção quanto à inaplicabilidade das penas
previstas nas leis penais para os factos por eles praticados e aos quais, segundo os princípios
gerais, seria aplicável a lei penal moçambicana, o que poderia qualificar-se como causa de não
punibilidade, ou simplesmente se gozam de, se não submeterem à jurisdição penal moçambicana.
Assim, a natureza substantiva ou processual das imunidades só pode determinar-se em razão de
cada imunidade concreta, em função dos termos que a lei atribui16.
15
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editora Verbo, 2001, pág. 321
16
Idem, P. 321.
17
MIRABET, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora atlas S.A, 27ª edição, 2007,
p.60.
18
NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em 18 de Abril de 1961
19
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/lei-penal-em-relacao-as-pessoas/359790178
5
república,20 Nos termos do artigo 173 n.°1, 2 e 3 da Constituição da República de
Moçambique21.
Portanto, Organização das Nações Unidas, os seus bens e património, onde quer
que estejam situados e independentemente do seu detentor, gozam de imunidade de qualquer
20
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 322.
21
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro.
22
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 322.
23
DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
2019 p.46
24
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção sobre os
Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.
25
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.º 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção sobre os
Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.
6
procedimento judicial, salvo na medida em que a Organização a ela tenha renunciado
expressamente num determinado caso, nos termos do artigo 2 da presente resolução26.
4. IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS
26
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção sobre os
Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.
27
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora atlas S.A, 27ª edição, 2007,
p.65.
28
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
29
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.191
30
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
7
natureza do instituto. Assim, a imunidade não afasta, porém, a possibilidade de ser o agente
diplomático processado em seu Estado de origem31.
Aos membros do pessoal administrativo e técnico da missão, além dos familiares que
com eles vivam, desde que não sejam nacionais do Estado acreditador nem nele tenham
residência permanente, nos termos do artigo 37, n.o 2º, da Convenção de Viena de 1961;
31
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, ob. cit. p.65.
32
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.191
33
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, ob. cit. p.65.
34
NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em 18 de Abril de 1961.
8
Aos membros do pessoal de serviço da missão que não sejam nacionais do Estado
acreditador nem nele tenham residência permanente, quanto aos actos praticados no
exercício de suas funções, nos termos do art.º 37, n. 3º, da Convenção de Viena de 1961;
Funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc), quando em serviço. Não
se aplica, contudo, aos criados particulares dos membros da missão35.
O artigo 35° da CRM, estabelece que todos os cidadãos são iguais perante a lei e
gozam dos mesmos direitos. Portanto, a lei penal será igual para todos, mas apesar disso, o artigo
152.° da CRM sobre a responsabilidade do Presidente da República, impõe algumas
especialidades em relação as infracções praticadas pela pessoa que ocupa o cargo. 37 É o caso de,
por exemplo, ao contrário do comum dos mortais, o Presidente da República responder perante o
35
NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em 18 de Abril de 1961.
36
DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
2019 pp.46-47
37
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República de
Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
9
Tribunal Supremo em primeira instância (não passa pelas instâncias inferiores dos tribunais
criminais) que é julgado por um crime praticado no exercício das suas funções38.
Por outro lado, segundo o n.°3, é à Assembleia da República que cabe a iniciativa
do processo (não é ao Ministério Público) e para que esse processo possa iniciar-se é necessário
que a Assembleia da República aprove por maioria de 2/3, uma proposta de um quinto dos
deputados. Por maioria de 2/3, uma proposta de um quinto dos deputados. Portanto, a própria
instauração quanto à iniciativa de acção processual, e quanto à possibilidade de ela prosseguir,
quanto à instância do tribunal que a julga, há especialidade em relação ao presidente39.
Para além disso, o n°2 deste artigo, também implica uma especialização
importante em relação ao Presidente da República, pois diz que por crimes estranhos ao
exercício das suas funções, o Presidente da República responde depois de findo o mandato
(perante os Tribunais comuns). Assim, a Constituição estabelece somente prerrogativas
processuais, de que depende procedibilidade da acção penal contra o Presidente da República40.
Isto são resumidamente as especialidades da responsabilidade criminal (ou especialidade da
aplicação da lei penal quanto às pessoas) do Presidente da República.
Estabelece o artigo 173, n.º 1 da CRM, que nenhum Deputado pode ser detido ou
preso, salvo em caso de flagrante delito, ou submetido a julgamento sem o consentimento da
Assembleia da República41. Estamos em sede de uma prerrogativa adjectiva, da qual depende o
seguimento da acção penal. Neste caso, a acção penal pode ser instaurada, contudo, para que o
deputado seja ouvido ou submetido a julgamento é preciso que a Assembleia da República,
através da sua Comissão Permanente, quebre a imunidade parlamentar de que goza. Sendo detido
em flagrante delito, na mesma, não poderá ser validada a prisão sem consentimento da
Assembleia da República42.
38
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. aafdl editora, 2ª edição, 1984. p.5056.
39
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro.
40
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro.
41
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
42
Idem.
10
No entanto, o artigo 173° é claramente o reflexo da aplicação da lei penal quanto
as pessoas, em função dos cargos que ocupam, portanto, este artigo refere-se aos deputados da
Assembleia da República e tratando das suas imunidades tem também reflexos quanto à
responsabilidade criminal43. Portanto, nos termos do n° 1 do artigo 174 da CRM, se estabelece
que que não há responsabilidade criminal (além de outras) por opiniões que emitirem durante o
exercício das suas funções44. Ou seja, por exemplo, um deputado que interpele outro de uma
maneira insultuosa em princípio não pode ser objecto de um processo por injúria, e poderia se
isso acontecesse no meio da rua, sem estar em uma sessão da Assembleia da República, nos
termos do n.o 2 do artigo 174 da CRM45.
Por outro lado o n ° 1 do artigo 173 da CRM, dispõe que para um deputado ser
preso, ou detido, ou submetido a julgamento é necessária autorização da Assembleia da
República, salvo se isso se passar em flagrante delito. Nos demais números, se estabelece que se
o deputado for constituído arguido em um processo penal pendente é ouvido o deputado, por um
juiz conselheiro, gozando este de foro especial, sendo julgado pelo Tribunal Supremo.46
43
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984 p.506.
44
Idem, P. 506.
45
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro
46
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro
47
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro
48
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República (2004), in Boletim da República, 1ª série, nº51 de
22 de Dezembro
11
Trata-se, igualmente, de uma prerrogativa de natureza processual, da qual depende o
procedimento penal.49
6. Imputabilidade e Inimputabilidade
No direito penal para se punir um individuo é preciso que tenha uma maturidade
mental suficiente. Assim, para ser imputável, é preciso que seja maior de 16 anos e ter
maturidade mental suficiente, para então se aplicar a lei penal a determinada pessoa50.
49
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
50
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
51
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
12
Penal, bem como, pelo seu cumprimento; pelo indulto; pela prescrição e pela reabilitação, nos
termos do art.º 156 do Código Penal.52
Este é o outros aspecto que merece atenção relativamente a aplicação da lei penal
quanto as pessoas. Pois à admissibilidade da responsabilidade penal das pessoas colectivas e aos
intricados problemas que este aspecto suscita. Assim, então que embora a pessoa jurídica não
possa delinquir nem ser castigada como tal, não devem, numa perspectivas político criminal,
ficar impunes os factos que lhe são atribuíveis, tendo em consideração de que a vontade formal
que decide uma dada conduta não seja a vontade de indivíduos concretos, mas antes a vontade
social.53 Tendo atenção que as pessoas jurídicas são sempre associações de pessoas físicas com
peculiares relações de poder ou dependência entre si e com muita frequência essas associações
potencializam a prática de crimes de certos géneros, como sucede mais frequentemente com os
crimes económicos.54 Assim, se estabelece no art.º 85 que pelos crimes praticados pelas pessoas
colectivas e entidades equiparadas aplicam-se as penas principais de dissolução ou de multa.
52
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
53
Idem. P. 323.
54
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 324
13
CONCLUSÃO
Entretanto, apesar da lei penal através do princípio da igualdade ditar que deverá a
lei penal, ser aplicada para todos, não concedendo privilégios para pessoas que limitem a
aplicabilidade da mesma. Há, no entanto, pessoas que por virtude das suas funções na estrutura
orgânica do Estado ou em razão de regras de Direito Internacional gozam de imunidades. Ou
seja, trata-se de situações em relação às quais se verifica um condicionamento na instauração ou
prossecução do procedimento penal. Nesses termos não é propriamente uma limitação da
aplicabilidade da lei penal substantiva, mas uma limitação da competência jurisdicional dos
tribunais.
14
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
Legislações:
Doutrina:
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984.
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora.
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007.
DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, 2019.
FERREIRA, Manuel Cavaleiro de, Direito Penal Português: partes geral, 2ª edição,
Verbo editora 1982.
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica Editora, Maputo, 2018.
MAUS, Victor. A Aplicabilidade da Lei das Contravenções Penais no Ordenamento
Jurídico Contemporâneo, Santa Cruz do Sul, 2017.
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora
atlas S.A, 27ª edição, 2007.
QUEIROZ, Paulo, Direito penal, 4ª edição, Lumen Juris Editora, 2008.
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo,
2001.
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/lei-penal-em-relacao-as-pessoas/359790178
15