Alfabetização e Letramento
Alfabetização e Letramento
Alfabetização e Letramento
E LETRAMENTO
PROF.A LUCIANA SOUSA FERRO
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-reitor:
Prof. Me. Ney Stival
Gestão Educacional:
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Primeiramente, deixo uma frase de
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios Diagramação:
não vale a pena ser vivida.” Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Cada um de nós tem uma grande
responsabilidade sobre as escolhas que Revisão Textual:
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida Gabriela de Castro Pereira
acadêmica e profissional, refletindo diretamente Letícia Toniete Izeppe Bisconcim
em nossa vida pessoal e em nossas relações Mariana Tait Romancini
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade
é exigente e busca por tecnologia, informação Produção Audiovisual:
e conhecimento advindos de profissionais que Heber Acuña Berger
possuam novas habilidades para liderança e Leonardo Mateus Gusmão Lopes
sobrevivência no mercado de trabalho. Márcio Alexandre Júnior Lara
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
01
DISCIPLINA:
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4
1 - A HISTÓRIA DA ESCRITA E A ORIGEM DO ALFABETO ..................................................................................... 5
2 - A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA: LER E ESCREVER PARA QUE? .................................................................. 10
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INTRODUÇÃO
Neste estudo discutiremos que ler e escrever nem sempre foi a forma de os homens se
comunicarem. Na primitividade as primeiras tentativas de comunicação se deram por meio de
grunhidos e gestos evoluindo para os grafismos, também conhecidos como pictogramas (desenhos
rupestres). Na sequência, os ideogramas (símbolos que representavam palavras) passaram a
codificar o pensamento humano até evoluir para a escrita alfabética que hoje conhecemos e faz
parte de nossas vidas.
As reflexões seguem rumo à aprendizagem do código linguístico para além da
comunicação entre os homens, mas na escrita como instrumento de apropriação da cultura pelo
indivíduo e sua inserção no mundo como sujeito crítico e transformador da realidade. Para isso,
compreender as razões pelas quais a escrita foi criada e a função social que exerce, contribuirá
para o ensino da linguagem escrita que promova o desenvolvimento humano em suas máximas
capacidades psíquicas.
Essas e outras reflexões farão parte de nossas discussões no decorrer dos textos rumo à
alfabetização.
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Além dos desenhos, outras formas de comunicação fizeram parte da história humana
como os gestos com as mãos, nós em cordinhas e bastões para entalhar o cálculo e a cronologia,
ou seja, tais objetos marcavam o tempo de acordo com os ciclos da natureza.
Com o passar dos anos, de acordo com suas necessidades o homem passou a subdividir
o ciclo do dia, inventando, por exemplo, o relógio do sol, da água ou de areia, conhecido como
ampulheta. A criação de todos esses símbolos demonstra o progresso e o desenvolvimento dos
meios de comunicação primitivos. Muitos foram os esforços para manter a comunicação de
alguns elementos da palavra ou do pensamento, porém, como demonstrado no documentário,
chegou-se ao estágio da escrita somente após as primeiras tentativas de representação gráfica.
Muitos anos se passaram até que o homem construísse uma forma de escrita que ampliasse
as possibilidades de uma comunicação mais precisa, como representar nos desenhos a própria
fala, registrando letras e palavras na sequência em que eram faladas.
Assim, para cada desenho foi atribuído um significado, ou seja, cada elemento foi
separado de acordo com seu significado e conforme a estrutura da língua falada. Essa forma de
representação das ideias foi utilizada por diferentes civilizações em períodos distintos, como os
sumérios, os egípcios e os chineses.
Nesse processo, escrever tornou-se uma atividade frequente, logo, os sinais foram
evoluindo a um tipo de escrita inteiramente convencional. Desse modo, surgiu
uma nova forma de escrever o som da fala, criando a necessidade de um sinal
que pudesse representar as ideias.
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Com esta conquista da escrita, ampliou-se a possibilidade de se escrever tudo aquilo que
se falava, como os nomes de pessoas e lugares e isso influenciou a relação comercial entre as
civilizações do Mediterrâneo, assim como o uso de pictogramas de origem egípcia, cretense e de
outros povos.
Finalmente, por volta do ano 800 a.C., os gregos, conhecendo a escrita
consonantal fenícia, nela introduziram a escrita das vogais, conseguindo, assim,
representar, separadamente, todos os elementos que compunham uma sílaba - o
homem chegava ao alfabeto. A escrita alfabética acompanhou o nascimento de
novas civilizações e países, permanecendo basicamente a mesma até os dias de
hoje [...] (BRASIL, 2001).
Representando as palavras pelos sons, a escrita alfabética também expressa ideias, como
nos antigos pictogramas sumérios e egípcios. Todo esse processo foi sofrendo transformações
ao longo da história e das culturas conforme as necessidades cada vez mais complexas de o ser
humano se comunicar, ou seja, o surgimento da escrita alfabética é resultado das relações do
trabalho humano que os indivíduos experimentaram diante das necessidades de comunicação.
Todo esse conhecimento foi transmitido de geração em geração por uma linguagem que
no início misturava sons e gestos, de forma que cada povo codificou os sons da sua língua para
reproduzi-los, os quais, gradativamente foram progredindo para a escrita atual.
Essa história revela que a escrita é um bem cultural que foi sendo constituída historicamente
e determinada socialmente nas relações políticas, sociais e econômicas dos homens vivendo
em sociedade, ou seja, não é um processo natural, mas produzido pelos homens a partir de
suas necessidades singulares constituídas no coletivo. Esse produto cultural possibilitou e
possibilita ao homem ampliar e aprofundar seus conhecimentos e, consequentemente, avançar o
desenvolvimento de suas funções psíquicas.
Isso porque quando os homens primitivos deixam de ser nômades e passam a plantar e criar
animais, a escrita foi sendo desenvolvida para guardar os registros de contas e trocas comerciais,
tornando-se um instrumento de valor inestimável para a difusão de ideias e informações.
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Em suas pesquisas, Luria (1986) destaca que a necessidade de uma comunicação mais
precisa entre as pessoas, em função do trabalho, ocasionou a aparição da linguagem como
resultado da história social, ou seja,
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Com o tempo, o instrumento “escrita” começa a substituir cada vez mais o instrumento
“memória”, e as genealogias e os textos religiosos passaram a ser escritos. Desse modo,
compreendemos que a capacidade que a humanidade desenvolveu de transmitir conhecimento,
permitiu sua sobrevivência como espécie, dando-lhe supremacia na escala evolutiva.
Ao buscar elementos para a compreensão da função social da escrita, os estudos de
Vigotski (2000), Leontiev (1983) e Luria (2008) constituem a base fundamental que explica a
linguagem escrita como um processo histórico e dialético. Vigotski (2000) considera a linguagem
como instrumento do pensamento e Leontiev (1983) a considera como instrumento simbólico,
no qual estão consubstanciadas complexas ações mentais.
O desenvolvimento dessas ações por parte de cada sujeito ocorre mediante a apropriação
da linguagem que foi produzida pelos homens ao longo da história. Nesse mesmo sentido, Luria
distingue a linguagem como um sistema de códigos, elaborados no processo da história social,
que transmite qualquer informação, mesmo aquelas que estão fora do contexto da ação que está
sendo praticada.
Para compreender esse processo, vamos desenvolver nesse primeiro momento, a análise
do significado epistemológico da linguagem como uma forma de comunicação objetivada que só
existe nas relações humanas. Para isso, nos apoiamos em Marx (2002, p. 33-34), o qual considera:
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O estudo ainda explica que esse fato ocorre porque a escrita torna-se uma linguagem
isolada, em que a criança “[...] conversa com a folha de papel em branco, com um interlocutor
imaginário ou apenas representado [...]” (VIGOTSKI, 2000, p. 313), isso exige um maior nível de
abstração por parte da criança, pois antes de registrar ou grafar os sistemas simbólicos, ela precisa
representá-lo no pensamento.
Outra questão apontada pelo autor como sendo o motivo central da linguagem escrita
é o fato de a criança, durante esse processo, agir voluntariamente, ou seja, agir de acordo com
suas estruturas psíquicas organizadas pelo ambiente histórico-social, neste caso, organizado
pelo ensino escolar sistematizado. No entanto, a criança necessita ter consciência das estruturas
sonoras das palavras que irá escrever, separando os códigos lingüísticos em partes – silabas,
e depois juntá-los novamente para registrar o que deseja, tornando a escrita clara para o seu
interlocutor. Esse processo é destacado por Vigotski (1934, p. 122-123) ao explicitar:
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Nesse processo de compreensão, Vigotski (2000) tem como premissa que o aprendizado e
o desenvolvimento fazem parte da vida da criança desde seu nascimento, pois os considera inter-
relacionados. Assim, o aprendizado escolar é aquele que depende diretamente do desenvolvimento
das funções psíquicas como a memória, a atenção voluntária, a abstração, a imaginação que, de
acordo com Vigotski (2000), são os processos psicológicos superiores de origem sócio-cultural,
enquanto os processos elementares são de origem biológica, os quais, por meio dos signos,
transformam-se em funções superiores (sensação, percepção, atenção, memória, pensamento,
linguagem, imaginação, emoção e sentimento). Para o autor:
Com base nesse pressuposto teórico, entende-se que, com o desenvolvimento das funções
psíquicas superiores, a criança avança concomitantemente em seu desenvolvimento, ou seja, por
meio das interações sociais, da relação com o outro e da apropriação dos instrumentos e dos
signos (elementos mediadores), desenvolvem-se as funções complexas do pensamento.
Dessa forma, podemos dizer que o processo de construção da escrita é mediado por
estes instrumentos e signos transmitidos culturalmente, então, por vivermos em um mundo
socialmente letrado, desde tenra idade, a criança tem contato com esse sistema alfabetizado.
Vigotski (2000) afirma que o aprendizado em cooperação com os pares mais desenvolvidos
(adultos ou colegas) é determinante da construção de um novo domínio de conhecimento e de
novas funções. Assim, o ensino da leitura e da escrita deve ser organizado de modo que ler e
escrever seja necessário às crianças, pois se a colocarmos diante de situações de registros escritos
para mero cumprimento dos conteúdos previstos em planejamento, o ato de escrever será
mecânico e esvaziado de sentido.
Assim sendo, para a criança se apropriar da escrita, é necessário que ela seja ensinada
e, nesse processo de aquisição, o ensino implica uma necessidade, um motivo, um desejo de
apropriação da mesma. Segundo Rojo (1997), as crianças têm uma motivação imaginária,
um prazer na leitura e na construção e reprodução de histórias de fadas e de contos, além da
necessidade de registrar uma linguagem de ordem prática como, bilhetes, receitas, registros ou
experiências escolares, organização de listas ou agendas.
A autora completa dizendo que, em qualquer dos casos, a escrita deve ser relevante
à vida das crianças e incorporada por elas como uma tarefa necessária que supere a ideia de
movimentos motores impressos no papel. Dessa forma, o indivíduo estabelece diferentes maneiras
de comunicação com o outro, tendo diversos motivos para escrever, logo, seu discurso escrito é
estruturado de acordo com seu destino, ou seja, para quem é escrito. Neste caso, as diferentes
relações estabelecidas com o interlocutor
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[...] vão determinar o que podemos ou não dizer, o que devemos ou não dizer
e como e quando. Teremos também diferentes motivos ou intenções de efeito:
comunicar e fazer contato; guiar a ação do interlocutor, informar e registrar,
solicitar e obter algo; reivindicar ou protestar; registrar nossa vivência e nossas
sensações [...] (ROJO, 1997, p. 53).
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É relevante que o professor ensine e o aluno aprenda, pois ambos mantêm relações
distintas, isto é, “o ensino é a relação que o professor estabelece com o conhecimento, o qual,
portanto, está no plano do mediato, e a aprendizagem é a relação que o aluno estabelece com o
conhecimento, o qual está no plano imediato”. Assim Oliveira, Almeida e Arnoni (2007, p. 114)
discorrem sobre as dificuldades e a importância da abstração na aprendizagem, propostos por
Vigotski (2006), quando afirmam que organizar os processos psíquicos da aprendizagem:
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Para ensinar, o professor não pode ignorar o cotidiano dos estudantes, pois o
ensino é efetivo somente pela contraposição do conhecimento que ele pretende
vincular aos elementos desse cotidiano apresentados pelos alunos (OLIVEIRA;
ALMEIDA; ARNONI, 2007, p. 117).
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Confirmando essa ideia, Vigotski (2006) ressalta que o desenvolvimento dos indivíduos
passa de um plano inicial pautado nas funções básicas biológicas e, com a mediação dos pares
mais desenvolvidos, direciona-se a um plano cultural. Para isso, a linguagem, especificamente
humana, assume papel imprescindível na evolução dos conhecimentos científicos como, por
exemplo, a aquisição da fala, momento em que a criança aprenderá a falar se pertencer a um
grupo de falantes porque, apesar de as condições físicas e biológicas serem necessárias nesse
processo, não suprem as necessidades de o indivíduo adquirir a linguagem estabelecida em seu
meio cultural.
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
02
DISCIPLINA:
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
AS CONCEPÇÕES TEÓRICAS E
OS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO
PROF.A LUCIANA SOUSA FERRO
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................ 21
1 - CONCEPÇÕES TEÓRICAS: FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA METODOLÓGICA ........................................ 22
2 - OS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES .......................................... 27
3 - ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E
DA ESCRITA .............................................................................................................................................................. 37
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INTRODUÇÃO
Nos estudos anteriores fizemos uma breve síntese acerca do longo caminho da escrita
na história e compreendemos a importância desse bem cultural produzido pela humanidade
e organizado pelas sociedades de geração em geração. Vimos, também, os diversos percursos
da escrita e as transformações que ocorreram ao longo dos anos, em diferentes culturas até que
chegasse à sua forma padrão de registro.
O surgimento da imprensa e a intensificação da presença da escrita na sociedade fizeram
com que sua aprendizagem se tornasse uma necessidade por parte dos sujeitos. A inserção
de adultos e crianças na cultura letrada passou a ocorrer de forma planejada e em espaço
sistematicamente organizado para ensinar e aprender a ler e escrever: a escola.
É no espaço escolar que estão presentes as concepções teóricas e os métodos de ensino que
embasam as práticas pedagógicas das quais discutiremos no decorrer do texto. Não abordaremos
todas as concepções teóricas e métodos pedagógicos, mas aqueles que consideramos mais
relevantes para este estudo. Salientamos que tanto as concepções quanto os métodos, surgiram
diante das necessidades humanas decorridas num dado momento histórico e visam nortear a
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Saviani (2008) dividiu as concepções em dois grupos, sendo o primeiro deles, a concepção
não crítica ou liberal, onde se acreditava que a educação mudava a sociedade, mas sofria com
as artimanhas da mesma, ou seja, tinha-se uma educação voltada para a preparação do homem
para o desenvolvimento de papeis sociais, adaptando-o a valores, regras e normas, sem levar em
conta as desigualdades sociais. Estão presentes neste grupo, as Pedagogias Tradicional, Escola
Nova e Tecnicista.
A Pedagogia Tradicional, que se sustentou até o fim do século XIX, voltava-se para a
filosofia, procurando formar o homem de acordo com as necessidades por ela ditada. A Pedagogia
da Escola Nova ganhou destaque em 1930 tendo como pioneiro Anísio Teixeira. Essa pedagogia
ganha autonomia da filosofia, critica a pedagogia anterior, centrando-se na preocupação com a
individualidade do ser. A Pedagogia Tecnicista surgiu entre 1960 e 1970 com base na teoria do
capital humano, cujo princípio era o de educar para o trabalho. Uma proposta pedagógica que
deveria seguir os avanços do capitalismo, sendo a educação considerada como “[...] algo decisivo
do ponto de vista do desenvolvimento econômico, um bem de produção, portanto” (SAVIANI,
2008, p.110).
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Na verdade, essas teorias não contêm uma proposta pedagógica. Elas empenham-
se tão somente em explicar o mecanismo de funcionamento da escola tal como
está constituída. Em outros termos, pelo seu caráter reprodutivista, essas teorias
consideram que a escola não poderia ser diferente do que é (SAVIANI, 2009 p.
27).
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Vejamos uma síntese com as concepções teóricas de acordo com Saviani (2009) e a
organização do ensino a partir de cada uma delas:
TEORIAS NÃO-CRÍTICAS:
TEORIAS CRÍTICAS
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Papel do aluno: Considerado como agente social o aluno encontra-se em nível diferente
do professor. Enquanto sua compreensão do conteúdo é sincrética (mal elaborada) a compreensão
do professor é sintética (visão da totalidade das diferentes determinações sociais). É nesse nível
que o aluno deve chegar.
b) Pedagogia libertadora
Papel da escola: Transmitir os conteúdos culturais com base na realidade dos alunos.
Papel do professor: Propor discussões refletindo sobre a realidade circundante para
transformá-la.
Papel do aluno: Sujeito participante ativo do processo de construção do conhecimento.
c) Pedagogia libertária:
Papel da escola: Mudar a personalidade dos alunos a partir de suas vivências.
Papel do professor: Ensinar a partir dos interesses dos alunos; conforme suas escolhas.
Papel do aluno: Aprender os conteúdos relevantes para mudar a sua realidade.
Metodologia: Método reflexivo.
TEORIAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS
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Posição dos autores: Os AIE são religiosos; escolares; familiares; jurídicos; políticos;
sindicais; informações da mídia (imprensa, rádio, TV, etc.); culturais (artes).
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Vários foram os métodos utilizados nas escolas brasileiras para se alfabetizar crianças,
jovens e adultos. Adotamos o alfabeto latino porque fomos colonizados por portugueses, cuja
nação fazia uso desse tipo de escrita. É possível analisar o ensino da leitura e da escrita como um
ato em que as crianças aprendem a decodificar letras em sons para ler e a codificar sons em letras
para escrever. Mas onde esse processo teve início?
De acordo com Mortatti (2000), a partir dos anos de 1890, após a proclamação da
República, a educação no Brasil se tornou um instrumento privilegiado, ou seja, tinha como
propósito ensinar as crianças a ler e a escrever, pois até então este ensino ficava por conta de
práticas culturais que eram transmitidas nos lares ou nas poucas escolas do Império. Com a
necessidade de ter mão de obra qualificada para atender ao meio profissional e aos ideais do Estado
Republicano, as escolas assumiram um importante papel de instrumento de modernização.
Pode-se perceber então que, desde a implantação do modelo republicano em nossas
escolas, o fracasso escolar estava presente devido a vários fatores, entre eles, a não obrigatoriedade
do ensino, pouca oferta de vagas, população analfabeta na zona rural e falta de vontade política
para estruturar um sistema nacional de ensino.
A alfabetização se impôs como um problema estratégico, sendo preciso criar soluções
urgentes que conseguissem mobilizar administradores públicos, legisladores do ensino e
intelectuais de diferentes áreas de ensino. A esse respeito, Mortatti (2000) explica que:
Como a autora deixa claro, nas últimas décadas vem-se estudando um método
revolucionário que possa mudar a questão da alfabetização brasileira. Historicamente, o ensino
no Brasil teve a influência de diferentes métodos de alfabetização. Como revela as pesquisas de
Mortatti (2000), entre o final do Império no século XIX até a década de 1970, no século XX, a
alfabetização passou por três diferentes métodos denominados genericamente como “métodos
tradicionais de alfabetização”. Sob essa denominação encontramos o método sintético, o analítico
e o misto.
Todos esses métodos foram utilizados, respectivamente nessa ordem (sintético, analítico
e misto) durante décadas para ensinar as crianças a ler e a escrever. Um método sucumbia
quando outro se firmava entre os educadores e isto acontecia pelo surgimento de novas ideias e
concepções teóricas (MORTATTI, 2000).
As mudanças de métodos que ora acusam o sistema escolar, ora acusam a falta de
compreensão da utilização de métodos ou ainda as mudanças históricas e/ou políticas públicas,
na verdade acabam deixando de resolver o problema do analfabetismo. Pensando nisto, Mortatti
(2000) dividiu em quatro momentos importantes a história dos métodos de alfabetização,
explicando que cada um deles fica caracterizado por uma disputa de concretização relacionada
com o ensino da leitura e escrita, ou seja, cada método de alfabetização lançado era caracterizado
como o melhor para um determinado momento histórico.
O primeiro momento, Mortatti (2000) classifica como “a metodização do ensino da
leitura”, ou seja, até no final do império brasileiro, o ensino era organizado em salas adaptadas
que abrigavam os alunos de todas as séries. Nesse modelo, o ensino dependia muito mais do
empenho de professor e aluno para subsistir, pois o material disponível para o ensino da leitura
e escrita era precário.
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Mortatti (2000) explica que até o final do império, para o ensino da leitura e da escrita,
era utilizado o método de marcha sintética que funcionava da parte para o todo. Soletrava-se o
nome das letras e diziam-se os sons correspondentes a elas. Assim, partindo das sílabas, ia da
silabação à emissão de sons. Dessa forma, iniciava-se o ensino da leitura com apresentação das
letras. Quando reunidas as letras, ensinava-se então a ler as palavras formadas e, por fim, eram
ensinadas as frases isoladas ou agrupadas, enquanto a escrita ficava por conta da caligrafia e
ortografia. No final do século XIX foram produzidas as primeiras cartilhas brasileiras que se
baseavam nos métodos de marcha sintética que circularam por muitas décadas.
Em 1876, data que Mortatti (2000) elege como marco crucial do primeiro momento nessa
história, foi publicada em Portugal a Cartilha Maternal ou Arte da leitura, escrita pelo poeta
português João de Deus. A partir de 1880, o método João de Deus contido nas cartilhas publicadas
passou a ser divulgado nas províncias de São Paulo e do Espírito Santo. O que diferenciava o
método João de Deus é que se iniciava o ensino da leitura pela palavra, para depois analisar a
parte dos valores fonéticos das letras.
Esse primeiro momento se estende até o início da década de 1890, nele acontece a disputa
entre os defensores do método João de Deus e aqueles que continuavam a defender e utilizar
os métodos sintéticos. Com essa disputa a autora ressalta: “[...] o ensino da leitura envolve
necessariamente uma questão método, ou seja, enfatiza-se como ensinar metodicamente,
relacionado como o que ensinar [...]” (MORTATTI, 2000, p. 5).
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Métodos sintéticos:
• Alfabético: aprende-se primeiro as letras, depois formação de sílabas de
consoantes com vogais, palavras e textos.
• Fônico: aprende-se por meio de associação entre fonemas e grafemas.
• Silábico ou Silabação: aprende-se primeiro as sílabas para depois formar
palavras.
Métodos analíticos:
• Palavração: aprende-se a partir da palavra, do contato com os vocábulos em
uma sequência de todos os sons da língua e somente depois, de aprender um
certo número de palavras, inicia-se a formação de frases.
• Setenciação: aprende-se a partir da frase, a qual é dividida em palavras e destas
as sílabas.
• Global: composto por várias unidades de leitura com começo, meio e fim, as
quais são ligadas por frases com sentidos de modo a chamar a atenção e o
interesse da criança.
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Com base nos estudos de Piaget, Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999) desenvolveu
diferentes níveis de desenvolvimento da escrita para avaliar os progressos da criança em seu
processo de ensino e aprendizagem. Os principais são: pictórico (rabiscos), pré-silábico (letras
aleatórias), silábico (uma letra para cada sílaba), silábico-alfabético (falta de algumas letras na
escrita de palavras, mas possíveis de leitura e compreensão) e alfabético (com erros ortográficos).
Nas escolas que adotam estes pressupostos, a avaliação do nível de desenvolvimento da
escrita nas crianças é realizada por meio de sondagens, em que a professora dita quatro palavras
do mesmo grupo semântico e em ordem decrescente silábica, acrescida no final com uma frase,
que deve conter uma ou mais palavras já ditadas para que as crianças sozinhas, sem ajuda ou
intervenções, as registrem como “sabem” ou “acham que sabem”.
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Por exemplo, vamos imaginar que a professora aplicou a seguinte sondagem com as
crianças, como uma tarefa escolar para ser executada sem apoio, um desafio: grupo semântico
de palavras (todos animais): ELEFANTE (quatro sílabas), GIRAFA (três sílabas), GATO (duas
sílabas), RÃ (uma sílaba) e por últimos a frase “EU VI ELEFANTE E GIRAFA NO ZOOLÓGICO”.
Geralmente, a organização dessa tarefa consistia na entrega de uma folha com o seguinte registro:
linhas numeradas de 1 a 4 para as palavras solitárias e linha 5 para a escrita da frase. Nos quadros
em branco ao lado, a criança poderia utilizar o recurso do desenho para representar as sentenças
ditadas.
Nessa folha, a criança registrava as palavras ditadas pela professora. Vamos analisar os
possíveis registros:
1 - Ao registrar apenas desenhos para representar a escrita das palavras, considera-se que
a criança se encontra no nível pictórico.
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3 - Ao escrever uma letra para cada sílaba, nível silábico, pois a criança relaciona a escrita
à fala, entrando em conflito com a quantidade de letras necessárias para escrever a palavra.
Exemplo: ELFT (elefante – podendo inserir outras letras aleatórias na sequência da última letra
por acreditar ser impossível ler escrever “elefante” com poucas letras, mesmo que, quando a
pronuncia, perceba apenas os fonemas que registrou. Exemplo: ELFTFPONB).
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De acordo com Capovilla e Capovilla (2002), a criança passa por três estágios na aquisição
de leitura e escrita: o primeiro estágio chamado “logográfico”, a criança trata do texto mais ou
menos como se fosse um desenho, e não uma escrita alfabética. Nesse estágio, a leitura consiste
no reconhecimento visual global de uma série de palavras comuns que a criança encontra com
grande frequência. No segundo estágio denominado “alfabético”, as relações entre o texto e a fala
se fortalecem primeiro em relação à escrita e, depois, também em relação à leitura. Nesse estágio,
a criança aprende o princípio da decodificação na leitura e o da codificação na escrita.
Já no terceiro estágio denominado “ortográfico”, a criança aprende que há palavras que
envolvem irregularidade nas relações entre os grafemas e os fonemas. Ela aprende que é preciso
memorizar essas palavras para que possa fazer uma boa pronúncia na leitura e uma boa produção
ortográfica na escrita. A criança pode se concentrar na memorização das exceções às regras (isto
é, na ortografia das palavras grafonemicamente irregulares), na análise morfológica das palavras
que lhe permite aprender seu significado.
Constatamos ainda, que o método fônico recuperou alguns princípios dos métodos
tradicionais de alfabetização ao propor o ensino sistemático de forma explícita, e estabelecendo
a relação entre grafemas e fonemas organizados em três grandes eixos: a consciência fonológica,
o conhecimento das correspondências grafo-fonêmicas e a produção e interpretação de textos.
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O filme “O sorriso da Monaliza” (Mike Newell) lançado em 2003 nos EUA, retrata
essa ideia de superação de práticas consideradas tradicionais por meio de um
ensino que considera o sujeito em sua totalidade. A história se passa no ano de
1953, em que Katherine Watson é uma recém-formanda da UCLA que foi contratada,
para lecionar História da Arte na prestigiosa Wellesley College, uma escola só
No decorrer de todo o texto até aqui já deixamos implícitas as relações existentes entre
alfabetização e letramento, mas, talvez, não ainda de modo claro para alguns. Por isso, a seguir
conversaremos a respeito dos conceitos “alfabetização” e “Letramento” e suas implicações no
processo de “alfabetizar” e “letrar” os indivíduos.
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Dessa forma, aquilo que estava centrado na alfabetização focou-se no letramento, ou seja,
na prática ocorreu o privilégio do processo de letramento. Mas qual a diferença entre alfabetização
e letramento? Em que os termos se aproximam e seguem de forma interdependente?
Magda Becker Soares, professora titular da Faculdade de Educação da UFMG
(Universidade de Minas Gerais), doutora em educação e pesquisadora do “letramento”, destaca
Nesse contexto, alfabetização passa a ser compreendida como a ação de ensinar e aprender
ler e escrever em um processo de desenvolvimento de habilidades necessárias para a aquisição
da leitura e da escrita. Já letramento, é considerado o estado ou condição que um grupo social
ou indivíduo adquire como consequência de se ter apropriado da escrita e da leitura significativa
(SOARES, 1998).
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No Brasil as pessoas não leem. São indivíduos que sabem ler e escrever, mas não
praticam essa habilidade e alguns não sabem sequer preencher um requerimento
[...] Como no filme Central do Brasil – alguns personagens conheciam a carta,
mas não podiam escrevê-la por serem analfabetos. Eles ditavam a carta dentro
do gênero, mesmo sem saber ler e escrever. A personagem principal, a Dora
(interpretada pela atriz Fernanda Montenegro), era um instrumento para essas
pessoas letradas, mas não alfabetizadas, usarem a leitura e a escrita (SOARES,
Um dos maiores problemas apontados por Soares (2003 apud Elias, 2003) no processo
de ensino da leitura e da escrita é o professor não considerar o contexto histórico em que os
alunos estão inseridos, por isso, a escola precisa criar as condições para que os alunos se tornem
alfabetizados e letrados a partir de materiais escritos de qualidade física e literária com diferentes
usos da escrita nos mais variados contextos.
Para a autora, com a extinção das cartilhas jogou-se fora também o conceito de método
de alfabetização afirmando:
[...] não é possível ensinar ler e escrever ou qualquer coisa em educação, sem
um método. Há poucos livros de alfabetização que tenham uma organização
metodológica para orientar professores e crianças neste processo de
aprendizagem (SOARES, 2003 apud ELIAS, 2003).
Isso não significa que apoiamos o retorno das cartilhas com textos fragmentados
e sem sentido como já vimos anteriormente, mas concordamos com Magda Soares de que é
importante um método de alfabetização que de fato ensine a leitura e a escrita significativa. Para
isso, é necessário o comprometimento de todos os professores que lidam com as crianças, pois,
em todas as disciplinas cada professor deve estar atento à escrita e leitura das crianças; como elas
interpretam as situações problemas que lhe são propostas na área da matemática, arte, história,
geografia, filosofia etc. Por exemplo, na geografia o professor ensina a leitura de mapas; em
artes a leitura das pinturas em telas, esculturas e demais obras; na filosofia ler e compreender a
subjetividade expressa nas palavras etc.
Sabemos que é o professor alfabetizador quem deve letrar as crianças sem descuidar das
especificidades da língua materna, uma vez que,
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Dessa forma, alfabetizar letrando requer do aluno: conhecer a escrita, usar a escrita e
aprender a escrita, logo, o letramento por ele mesmo não nos ajuda a compreender o processo
de aquisição da leitura e da escrita, assim como a alfabetização, mas criar as necessidades que
motivam as crianças ler e escrever, produzir as condições para essa apropriação e intervir de
modo que forma e conteúdo se coincidam é o que garante a verdadeira apropriação da leitura e da
escrita pela criança, independente do termo adotado para designar o nível de sua aprendizagem
nessa área.
Vejamos as definições a respeito de alguns termos utilizados no processo de alfabetização
e letramento:
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Conhecer os termos mais utilizados para designar a condição do outro em relação à leitura
e a escrita nos ajuda a compreender alguns conceitos e as finalidades para os quais são usados,
porém, consideramos que o mais importante nesse processo de mudanças é compreender que
o conceito de alfabetização foi se ampliando em direção ao letramento e, apesar das diferenças
entre os dois termos, são indissociáveis e dependem um do outro para se desenvolver rumo à
apropriação da leitura e da escrita capaz de tornar os sujeitos parte integrante do gênero humano.
Dando sequência a essa discussão, desvelaremos a seguir alguns obstáculos que ainda
assolam o processo de alfabetização, entre eles, a desmetodização do ensino e apontaremos
algumas possibilidades de uma prática pedagógica que promova a apropriação da leitura e da
escrita pela criança.
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
03
DISCIPLINA:
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
TEORIA E PRÁTICA:
RELAÇÕES INTERDEPENDENTES
PROF.A LUCIANA SOUSA FERRO
SUMÁRIO DA UNIDADE
NTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................ 42
1 - LER E ESCREVER: QUANDO É HORA DE APRENDER? ................................................................................... 43
1.1. O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ESCRITA NA CRIANÇA ....................................... 48
1.2. PRÁTICAS DE ENSINO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NO PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA LEITURA E
DA ESCRITA............................................................................................................................................................... 69
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INTRODUÇÃO
A relação dialética entre teoria e prática é o que define a direção do trabalho escolar com
vistas ao ensino capaz de produzir nas crianças toda a cultura humana acumulada no decorrer da
história, pois são (ou pelo menos deveria ser) os fundamentos teóricos que sustentam a prática
escolar, assim como esta deve justificar e garantir os seus princípios, ou seja, teoria e prática
devem manter uma relação contínua de interdependência.
Para melhor compreendermos essa questão, trouxemos à tona uma discussão tanto
polêmica nas últimas décadas: qual é a hora certa de ensinar a criança a ler e escrever? Em que
momento do desenvolvimento infantil a criança está “preparada” para ser alfabetizada? Há um
tempo certo e determinado para o ensino da leitura e da escrita?
No processo de compreensão dessas inquietações, faz-se importante compreender os
estágios de desenvolvimento da linguagem escrita pelos quais a criança perpassa, o que faremos
apoiados nos estudos e experimentos de Luria (2006) e Vigotski (1931), percebendo os princípios
que regem o processo de ensino e aprendizagem da criança, em especial, o desenvolvimento da
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Para Vigotski, a aprendizagem se dá muito antes de a criança ter o primeiro contato com
o meio escolar. Sabemos então, que é na escola que a criança se desenvolverá e irá aprimorar e
aprofundar o conhecimento já aprendido. Nesse sentido, a educação infantil assume um papel
primordial na educação escolar da criança, pois as aprendizagens adquiridas nesse ambiente
formam as bases que possibilitarão desenvolver, por exemplo, a capacidade de imaginar,
raciocinar, interagir, criar, imitar, promovendo as ações do pensamento de percepção, memória,
atenção, linguagem etc.
Em função disso, é importante ressaltar o desenvolvimento afetivo-cognitivo das crianças
da educação infantil, lembrando sempre que nenhuma criança é igual à outra, pois o que definirá
“quem é” a criança e “o que ela virá a ser”, são as condições em que ela está inserida e o ensino
nela encarnada. Nessa direção, Martins (2010), considera que o desenvolvimento é um processo
unitário e não somatório de experiências que sucedem naturalmente de modo linear ou mecânico
com o passar dos anos.
Por isso, a aprendizagem escolar passa a ter importância significativa ao promover na
criança o amplo desenvolvimento das funções psicológicas. Nesse caso, é possível atribuir à
alfabetização a extraordinária transformação intelectual que a criança experimenta, pela primeira
vez, ao aprender a ler e a escrever. Foi assim que Vigotski (2006) compreendeu que é na idade
escolar que a criança alcança o desenvolvimento de suas funções psíquicas superiores, ou seja, o
As crianças inseridas num contexto permeado pela escrita de forma tão intensa,
não permanecem incólumes desde muito pequenas, não apenas se interessam
pelos diferentes materiais escritos com os quais convivem como também
manifestam uma curiosidade premente de decifrar e compreender o seu
significado e de se comunicar através dessa linguagem, independentemente de
estarem ou não frequentando a escola (STEMMER, 2010, p. 131)
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Por isso, quando as crianças chegam à escola ficam curiosas e ansiosas para
pegar o lápis e “escrever” em uma folha de papel, mas muitos professores da
educação Infantil consideram que a alfabetização só acontecerá no primeiro ano
do ensino fundamental. Esta síntese de pensamento foi relatada por Stemmer
(2010), que diz que a formalização da alfabetização não tem sido colocada para
educação infantil, pois se sabe que, historicamente, esta tem sido função dos
anos iniciais do ensino fundamental. Todavia, para Stemmer cabe ao primeiro ano
escolar iniciar formalmente a alfabetização, mas seus processos ocorrem muito
antes disso.
[...] está interessada em “escrever como os adultos”; para ela, o ato de escrever
não é um meio para recordar, para representar algum significado, mas um ato
suficiente em si mesmo, um brinquedo.
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Desse modo, compreendemos que em sala de aula o professor deve estabelecer objetivos
claros para a sua prática no que tange ao desenvolvimento da linguagem escrita e não apenas a
escrita das letras (VIGOTSKI, 2000) que faz parte do processo da aquisição da leitura e da escrita
da criança mesmo antes de ela entrar na escola; é preciso planejar intencionalmente as tarefas
diárias na escola, de modo a possibilitar novos e mais complexos estágios do desenvolvimento
intelectual da criança. Para isso, é indispensável que os professores conheçam e compreendam
como ocorre a pré-história da escrita no processo de alfabetização para que desenvolvam de
maneira consciente e intencional,
[...] uma prática pedagógica que poderá ir muito além de apenas favorecer a
alfabetização. A própria escola já irá favorecer à criança uma diversidade muito
grande de estímulos gráficos, é isso de fundamental importância, sobretudo para
as crianças oriundas de um meio cultural onde a leitura e a escrita têm um valor
expressivo [...] Na Educação Infantil, portanto, só pra falarmos do processo de
apropriação da leitura e da escrita, são inúmeras as contribuições possíveis:
o fortalecimento da comunicação gestual e oral entre educadores e crianças;
a organização do espaço físico que lhes permite interagir com seus pares,
criando diferentes formas de manifestações através da brincadeira; o contato
com livros de histórias, jornais, enciclopédias, dicionários, gibis...; as salas e
os espaços externos que se constituem em espaços textualizados, elaborados
com a cumplicidade das crianças; a expressão corporal através da música,
ARCE, A.; MARTINS, L. M. (Org.). Ensinando aos pequenos de zero a três anos.
Campinas, SP: Editora Alínea, 2009.
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Figura 2 – Menina lendo com lápis na mão. Fonte: Google Images (2017).
Com base nos estudos de Luria (2006) e Vigotski (1931), revelaremos os caminhos
percorridos pela criança no processo de alfabetização, pois assim como na história do surgimento
da escrita, também existe uma pré-história no processo de aquisição da linguagem escrita pela
criança.
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Ao estudar as formas de linguagem, Vigotski (1931) observou que a língua escrita não
se resume na reprodução da língua falada, mas se trata de um sistema rigoroso, minucioso,
organizado que não se apoia nas expressões da fisionomia, gestos e tom de voz, como ocorre
quando falamos.
Quando uma criança entra na escola traz consigo uma série de habilidades e destrezas;
técnicas motoras complexas existentes há milhares de anos, que só é possível ela reproduzir, porque
conviveu com pares mais desenvolvidos e deles se apropriou dos modos de comportamento.
Porém, tais habilidades não garantem por si mesmas que a criança aprenda a ler e escrever,
pois elas aprendem com certa rapidez a forma externa da escrita ao imitar os adultos, mas são
incapazes de aprender “[...] os atributos psicológicos específicos que qualquer ato deve ser, caso
venha a ser usado como instrumento a serviço de algum fim” (LURIA, 2006, p. 149).
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Podemos obervar que os registros escritos (rabiscos) de Brina não têm conexão com
as sentenças ditadas, mas segundo Luria, ela soube apontar onde estava cada frase quando
questionada por ele. Esse comportamento revela que a criança não lê o que “escreveu”, mas
recorda, lembra-se do que era para ser escrito e onde fez tais registros. Nesse experimento, Luria
(2006, p. 158) afirma:
[...] fica claro que Brina compreendeu a tarefa e empregou uma forma primitiva
de escrita, escrevendo por meio de sinais topográficos. Esses sinais eram muito
estáveis; quando inquirida diretamente, ela não os misturava; distinguia-os
rigorosamente, sabendo, com exatidão, o significado de cada um.
Essa é considerada por Luria como a primeira forma de escrita, quando os registros
estabelecem relação funcional com a escrita, mesmo que ainda não diferenciada em sua forma
aparente. A escrita diferenciada organiza o pensamento da criança, mas não possui conteúdo;
sinaliza a representação de algum significado, mas não o determina; representa um “signo
primário para tomar notas”.
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A escrita diferenciada é variável, pois a criança pode esquecer alguns dias depois o que
registrou e recorrer novamente a diferentes técnicas não-diferenciadas.
O avanço da escrita diferenciada auxiliar da memória para o registro dos signos que
expressam de fato um conteúdo marca o quarto estágio da “escrita por imagens ou pictográfica”.
Nesse estágio, quantidades e formas permitem que a criança avance na pictografia e na
memorização, pois
linhas e rabiscos são substituídas por figuras e imagens. E estas dão lugar a signos.
Nesta sequência de acontecimentos está todo o caminho do desenvolvimento da
escrita, tanto na história da civilização como no desenvolvimento da criança
(LURIA, 2006, p. 161).
Quando as crianças desenham objetos complexos, elas o fazem a partir das suas
qualidades gerais e não pelas partes componentes. A maneira global como as crianças realizam
seus rabiscos e desenhos podem indicar a maneira como entendem a representação da língua
escrita. Nesse momento, a escrita se torna estável, pois os registros escritos começam a auxiliar
na memória como instrumento de amplificação o que, consequentemente, abre caminho para o
desenvolvimento da escrita na criança, é o que mostra o exemplo a seguir.
Nesse experimento, a criança representou signos diversos, entre eles, uma sentença
abstrata quando lhe foi pedido para registrar a ideia de “fome”.
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Uma vaca tem quatro “Eu sei que ela tem quatro
pernas e um rabo. pernas e isto (escreve) é I”.
Observamos que, nesse caso, as letras não têm função, elas não representam as sentenças
tampouco indicam o sentido das mesmas, o desenho é substituído por letras, mas ainda não
emitem significado ao que está sendo falado.
A partir desses experimentos, Luria conclui (2006, p. 188):
“[...] não é a compreensão que gera o ato, mas é muito mais o ato que produz
a compreensão – na verdade, o ato frequentemente precede a compreensão.
Antes que a criança tenha compreendido o sentido e o mecanismo da escrita, já
efetuou inúmeras tentativas para elaborar métodos primitivos, e estes são, para
ela, a pré-história de sua escrita.”
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Vigotski (1931, p. 196, tradução nossa) contribui com essa ideia afirmando:
Para que a criança atinja essa descoberta fundamental, deve entender que não
só se pode desenhar coisas, mas também a fala. Essa foi a descoberta que levou
a humanidade ao método genial de escrever por letras e palavras, e essa mesma
descoberta leva a criança a escrever as letras. Do ponto de vista psicológico,
esse fato significa passar do desenho de objetos ao desenho das palavras. É
difícil determinar como ocorre tal transição uma vez que as investigações não
chegaram ainda a resultados determinados e os métodos de ensino da escrita
comumente aceitos não permitem observar esta transição. Uma coisa é certa: a
verdadeira linguagem escrita da criança (e não o domínio do hábito de escrever)
se desenvolve provavelmente de forma semelhante, ou seja, passa do desenho
de objetos ao desenho das palavras. Os vários métodos de ensino da escrita
permitem realizar isso de forma diferente. Muitos métodos utilizam o gesto
auxiliar para unir o símbolo verbal com o escrito; outros se valem do desenho
que representa o objeto dado. Todo o segredo do ensino da língua escrita está
na preparação e organização adequada dessa passagem natural. Assim que
acontece, a criança domina o mecanismo da linguagem escrita, resta como
missão posterior aperfeiçoá-lo.
Por isso, a brincadeira de faz-de-conta representa, para Vigotski (1931), uma das mais
importantes contribuições no processo de desenvolvimento da escrita: um objeto pode representar
um signo, independente dos gestos da criança.
Assim como o jogo simbólico, o desenho tem importante papel, pois é uma prévia da
linguagem escrita; é uma linguagem gráfica oriunda da linguagem verbal (fala), uma vez que, nos
desenhos a criança manifesta as riquezas guardadas em sua memória, como se estivesse relatando
algo. De acordo com Coelho (2011, p. 59):
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No ato de desenhar, primeiro a criança faz gesticulações para mostrar em seus desenhos o
que deseja representar, é uma escrita no ar. Depois, passa a representar algum objeto ou situação.
Nesse percurso, “o desenvolvimento da escrita se dá, portanto, através do deslocamento do
desenho de coisas para o desenho das palavras” (STEMMER, 2010, p. 135).
Diante dessas discussões, compreendemos que a educação infantil é um espaço
privilegiado se trabalhar a leitura e a escrita, já que é nesse local que estão as crianças em período
de desenvolvimento, cujo, atividade principal, são os jogos simbólicos, o desenho, dramatizações,
brincadeiras e tantas outras possibilidades de representação das ideias que caminham para a
escrita das palavras, frases e textos com sentido e significado; carregados de cultura.
Portanto, a alfabetização se inicia muito antes do ingresso da criança no 1º ano do
ensino fundamental, considerando seu período de desenvolvimento e atividade dominante, ou
seja, aquelas que as motivam a querer aprender. Isso não significa que na educação infantil será
ensinado aquilo que a criança ainda não tem condições de aprender, tampouco insistir naquilo
que ela já sabe, mas ensinar o que ela precisa aprender para se desenvolver de modo integral.
Partindo desse pressuposto, então podemos dizer que ao se apropriar da escrita e da
leitura formal nas séries inicias, a criança garante sua inserção no mundo e o desenvolvimento
de suas funções psicológicas superiores? Isso depende das condições em que o trabalho escolar
está sendo organizado para o ensino da leitura e escrita, pois somente o bom ensino da escrita
e da leitura irá garantir que as aprendizagens adquiridas pela criança promovam de fato o seu
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
04
DISCIPLINA:
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
O TRABALHO ESCOLAR NA
PERSPECTIVA DO LETRAMENTO
PROF.A LUCIANA SOUSA FERRO
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 59
1 - O PROBLEMA DA DESMETODIZAÇÃO NA APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA ................................ 60
1.1. A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO: CONDIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO ................................................... 64
1.2. PRÁTICAS DE ENSINO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NO PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA LEITURA E
DA ESCRITA .............................................................................................................................................................. 69
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INTRODUÇÃO
No início de nossos estudos dirigimos a atenção para a história da escrita e sua função
social. Também perpassamos pelas concepções teóricas e métodos de alfabetização no Brasil,
momento em que observamos as mudanças que ocorreram nos métodos utilizados para se
alfabetizar. Métodos sintéticos, analíticos e mistos estiveram presentes nas escolas brasileiras, até
se chegar às últimas décadas, quando houve perda de um método específico para se alfabetizar.
É nessa perspectiva que analisaremos a relação entre a organização do ensino e o
desenvolvimento psíquico dos alunos, discussão que nos autorizou a questionar a existência ou
ausência de métodos de ensino e o desempenho escolar dos alunos no processo de alfabetização,
já que as crianças passam a ser responsável pelo seu próprio conhecimento em um dado momento
histórico.
Essa problemática resultou em um grande contingente de crianças não-alfabetizadas,
mas sujeitos que apenas codificam e decodificam os códigos linguísticos sendo, muitas vezes,
incapazes de uma leitura ampla e profunda de mundo. E agora, o que fazer?
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1 - O PROBLEMA DA DESMETODIZAÇÃO NA
APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA
No decorrer dos estudos, percebemos em cada momento histórico-social a tensão entre
modernos e antigos métodos e concepções e a busca constante pela definição do novo, melhor e
mais desejável método de alfabetização. Hoje, as divergências continuam e muitos pesquisadores
e estudiosos da área educacional questionam as novas práticas, propostas de ensino e métodos
pedagógicos atuais
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Diante dessa análise existe uma desvalorização dos estudos teóricos e, hoje, o educador
estuda a prática pela prática buscando, muitas vezes, “receitas” de ensino. O trabalho que os
professores realizam não tem nada de teoria pedagógica e, por isso, justifica-se não discuti-las
mais nas universidades sob o argumento de que elas não teriam impacto nas práticas cotidianas
das escolas.
Concordamos que na prática o professor não realiza de forma pura uma teoria
pedagógica, entretanto, não significa que a prática pedagógica se realiza sem a influência das
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As reflexões apresentadas até aqui se direcionam para um ensino escolar que promova o
desenvolvimento humano em suas formas mais elevadas do pensamento e, para que isso ocorra,
é preciso que os alunos interajam de forma consciente com o mundo e incorporem os signos e
instrumentos criados pela humanidade e determinados pela sociedade em cada período histórico
social vigente.
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A discussão, então, volta-se com ênfase para as situações em que a criança apresenta
todas as condições físicas e biológicas para aprender, frequenta a escola assiduamente e, mesmo
assim, não consegue aprender a ler e escrever como os outros pares de seu convívio.
Portanto, acreditamos ser pertinente abarcar e retomar as reflexões que englobam o
campo escolar, pois algumas concepções teóricas como as escolanovistas, depositam no aluno
toda a responsabilidade de aquisição do saber e exime o professor do ato de ensinar, pois acredita
que ele deve “facilitar” o conhecimento do educando, em vez de direcionar sistematicamente os
conteúdos que promovem o seu desenvolvimento.
Na perspectiva neoliberal, cabe ao aluno construir seu próprio conhecimento e, ao
professor, esperar que suas funções psíquicas estejam amadurecidas para aprender, ou seja, os
conteúdos científicos não são valorizados, pois as aprendizagens que os alunos adquirem no
meio em que vivem é que prevalecem no contexto escolar.
Contrapondo esta ideia, Sforni (2004) pontua:
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Sabemos que há vários espaços que contribuem nas aprendizagens dos sujeitos, mas
ao compreendermos a educação como prática social que promove o desenvolvimento dos
indivíduos e na alfabetização como via principal de acesso á cultura humana, somente na escola o
conhecimento científico está consolidado nas ciências e nas artes e podem ser apropriados pelos
alunos por meio de um ensino sitematicamente organizado.
Nesse percurso, o papel do professor é fundamental, pois ele é o adulto que porta os
signos e instrumentos que medeiam com os alunos; é ele o profissional que tem condições de
conduzir a aprendizagem dos alunos por meio de uma prática consciente. Dessa forma, a escola
possibilitará as vias fundamentais para que seja desenvolvida a escrita e a leitura, aliadas desde os
primeiros anos escolares, que refletirão nas séries seguintes promovendo, assim, a aprendizagem
para o desenvolvimento intelectual e para a prática social.
Partindo dessa premissa, entendemos que a promoção do desenvolvimento depende
“do que se adquire e de como se adquire” (KOSTIUK, 2005, p. 48). Ou seja, depende do
conteúdo adquirido e como ele é adquirido. Segundo Kostiuk (2005), o domínio de um objeto
de estudo “perfeitamente determinado” não garante a promoção do desenvolvimento real, é
pelo desenvolvimento do pensamento da criança que isso ocorre, ou seja, da capacidade de ela
“analisar e generalizar os fenômenos da realidade, de raciocinar corretamente”. Resumindo, é
necessário:
Nessa perspectiva, o ensino não pode restringir-se apenas à transmissão dos conhecimentos,
mas organizar-se de forma a favorecer o desenvolvimento de todas as características psíquicas,
por meio de métodos que desenvolva o pensamento e os demais processos mentais, uma vez que,
“o domínio do material escolar” é o início do processo de desenvolvimento.
Será que a ideia de que os alunos vão construindo seu próprio conhecimento não
tem limitado a aprendizagem dos alunos? Será que não é possível contemplar a
função social da escrita sem abrir mão de um método para se alfabetizar? Para
responder a essa questão outra pergunta se faz necessária: É possível que os
alunos dominem a linguagem escrita sem que o seu ensino seja devidamente
organizado? O que significa dominar um conhecimento, no caso, a escrita?
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Porém, ressaltamos que a poesia e outros textos, por si mesmo não motiva na criança
o desejo de aprender, é preciso que o professor diariamente crie, produza as necessidades que
motivarão as crianças à aprendizagem da leitura e da escrita como parte de sua vida. Os textos,
as músicas, dramatizações, entrevistas, jogos, brincadeiras etc., são recursos didáticos utilizados
para impulsionar a aprendizagem dos alunos, mas serão instrumentos de apropriação da cultura,
se (somente “se”), o professor conduzir e orientar a criança na atividade de estudo.
A obra da literatura infantil “Menino que aprendeu a ver” (RUTH ROCHA, 1987)
conta a história do menino João, que aprendeu pouco a pouco uma lição: as
coisas do mundo a gente precisa ver.
Seguindo esse princípio de ensino, também compreendemos que iniciar o ensino da leitura
e da escrita por meio de palavras isoladas, descontextualizadas, desconexas, compostas ou não por
sílabas simples, não propicia uma alfabetização que promova as funções psicológicas dos alunos,
ao contrário, o fato de abordar a escrita “[...] como se os seus únicos elementos componentes
fossem as letras do alfabeto, ignorando completamente o fato de que, para veicularmos qualquer
ideia, necessitamos de outros sinais gráficos [...]” (SÉRKEZ; MARTINS, 1996, P. 18).
Esse fator impedirá ou dificultará à criança perceber que uma mesma sílaba pode
representar diferentes sons ou o mesmo som pode ser escrito com letras distintas, o que só
possível explorar dentro de um contexto para que tenha sentido à criança
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Com isso, discordamos dos métodos neoliberais de alfabetização que defendem a ideia
de que os “erros” ortográficos das crianças são “equívocos” que fazem parte do processo de
construção da escrita e, por isso, não podem ser corrigidos de imediato, mas a própria criança
deve percebê-los e se autocorrigir quando atingir níveis de maturação cognitivo mais avançados.
Por isso, é comum alguns professores apenas transcrevem as palavras corretamente
abaixo da escrita “errada” da criança sem orientação do por que o faz. Essa prática pode seguir
no decorrer da vida escolar da criança e ela correr sérios riscos de chegar ao ensino superior
cometendo os mesmos erros ortográficos do passado, já que os professores passaram anos em
estado de espera de que, como num “clic” ou “passe de mágica”, a criança aprenda a complexidade
da língua portuguesa.
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Sabemos que os erros fazem parte dos caminhos percorridos pela criança rumo à
alfabetização, mas é dever do professor orientá-la nesse processo por meio do ensino que conduza
o seu desenvolvimento para formas cada vez mais complexas do pensamento, aprimorando a
leitura e a escrita, não apenas dos signos linguísticos, mas de mundo.
Nessa direção, o professor deve ter domínio dos conteúdos a serem ensinados e planejar
suas aulas com antecedência, ou seja, ao entrar em sala de aula, o professor deve ter claro o que
irá ensinar; por que o ensino daquele conteúdo é importante para a criança; que mudanças e
avanços o ensino de tal conteúdo irá provocar no conhecimento das crianças; quais são as ações
planejadas e que intervenções serão realizadas no interior de cada ação, as quais orientarão a
criança no curso de suas aprendizagens rumo ao conhecimento científico.
Para a criança se alfabetizar ela precisa ter a necessidade de escrever algo para alguém, de
se comunicar com o outro; de representar na escrita os seus gestos, a sua fala e as suas ideias. Deve
compreender que na relação fonema e grafema as palavras são formadas por sílabas que produzem
diversos sons e que, diferentes letras, podem produzir sons iguais; perceber os diferentes sentidos
e significados daquilo que se escreve e lê e que usamos mais letras para escrever uma palavra
que sílabas quando a pronunciamos; que o mundo é letrado por inúmeros signos e símbolos que
transmitem ideias e dele, ela faz parte integral.
Trabalhar a alfabetização nessa perspectiva é uma necessidade que deve ser enfrentado
para que possamos formar sujeitos não apenas escolarizados, mas leitores e escritores que
dominam os instrumentos simbólicos que ampliam a sua capacidade de interação com o mundo.
Nessa perspectiva, pensar em um ensino de qualidade que promova os conhecimentos por meio
da leitura e da escrita, ainda é um desafio que requer muito estudo, pois a alfabetização não é uma
tarefa que se inicia no quando a criança chega ao ensino fundamental, mas uma responsabilidade
de todas as séries, inclusive da educação infantil.
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REFERÊNCIAS
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ARCE, A.; MARTINS, L. M. (Org.). Ensinando aos pequenos de zero a três anos. Campinas, SP:
Editora Alínea, 2009.
ELIAS, A. O que é letramento. O Diário do Grande ABC, Santo Andrè, 29 agosto 2003.
FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre, RS: Artes
Médicas, 1991.
HIGOUNET, C. História concisa da escrita. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S.; FRANCO. F. M. de M. Minidicionário Houaiss da Língua
Portuguesa. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa.
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