Tese 2
Tese 2
Tese 2
São Leopoldo - RS
2004
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Tese de Doutorado
São Leopoldo − RS
2004
Para
Guilherme, Paula e Nilda
Dedico a
Reinoldo Edmundo Endler,
James Richard Phelan,
Cecília Mensch Endler e
Amalie Phelan.
In memoriam
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10
sob slogan o som que o campo produz. O consagrado som nosso de cada dia,
definitivamente, constituíra-se em memória e história.
outro tipo de informação, vale dizer, formação como ouvinte, jovem cidadão e
futuro jornalista e professor.
Foi na Continental que ouvi Beatles e música urbana feita em Porto Alegre
pela primeira vez. Ouvi rock norte-americano e inglês, com sons e vozes cujas
existências até ali desconhecia, isto dentro de uma mesma programação musical
articulada com o samba brasileiro de raiz, apresentando ora Zé Keti, ora Paulinho
da Viola ou Clementina de Jesus, entre outras atrações. Ouvi milonga urbana, em
nova roupagem, rodando em espaço colado à sonoridade recente da MPB,
trazendo ora o novo vinil de Milton Nascimento, ora Chico Buarque ou Caetano
Veloso, entre outros.
Antes disto, desde 1986, motivado pela experiência dentro da sala de aula,
teve início uma jornada de reflexão e questionamento sobre os fenômenos da
comunicação de massa, a partir da atuação profissional como professor de Teoria
da Comunicação para as habilitações de Jornalismo, Relações Públicas e
Publicidade e Propaganda, dentro do Curso de Comunicação Social, na Unisinos.
Continental, esta narrativa, per si, não era, ainda, a história crítica imaginada,
intentada pela pesquisa.
Para este estudo das narrativas, não sobre a Rádio, mas, sobretudo, aquelas
narrativas pela emissora propriamente produzidas, ampliou-se a rede do
empreendimento da pesquisa. Tratava-se, então, naquele elenco de problemas, de
uma história parcial, por fragmentos, das narrativas radiofônicas produzidas no
tempo histórico passado, datado, circunscrito e interpretado, pelo trabalho de
exploração, de reconstituição e de análise.
enigmático – vale dizer – objeto “mudo”, até então, silenciado no tempo histórico
recente.
A pesquisa orientou-se para a escuta ativa das falas, enquanto relatos, mais
ou menos, fragmentários, sobre peripécias factuais e, mesmo, temas mitificados.
O modo encontrado foi não desconsiderá-los, mas buscar aspectos elucidativos,
diferentes racionalidades investigativas e teóricas, para enquadramentos dos
fenômenos. Ao término da trajetória, entendemos, ter contribuído, de algum
modo, para o conjunto de estudos sobre a entrevista, quer enquanto prática do
radialismo e jornalismo, quer enquanto método ou técnica da ciência social.
a) Primeira Estação:
b) Segunda Estação:
“Mr. Lee” não é menos interessante. Ele carrega o patrocínio das Lojas
Renner, empresa que acabava de ganhar exclusividade para a comercialização no
país da marca Lee de jeans, até então importadas por butiques ou adquiridas por
contrabando. “Mr. Lee”, anteriormente, dedicara-se à música country norte-
americana, quando autodenominava-se Julius Brown, mas, logo, estava rodando
música pop em geral, MPB e, de modo inédito, começava a apresentar a jovem
música urbana de Porto Alegre. Nelson Coelho de Castro, Bebeto Alves e Os
Almôndegas (banda integrada por Kleiton & Kledir), entre outros, aparecem ali,
primeiro em fitas gravadas pela rádio, depois nos shows em auditórios e clubes
promovidos pela Continental. Posteriormente, em discos gravados, ainda em vinil.
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c) Terceira Estação:
d) Quarta Estação:
e) Quinta Estação:
f) Sexta Estação:
g) Sétima Estação:
h) Oitava Estação:
i) Nona Estação:
j) Décima Estação:
Por ora, podemos afirmar que a paidéia enquanto fenômeno existente, para
a nossa interpretação, possibilitou uma espécie de articulação entre
particularidades dispersas. Como é sabido, são fundamentais, aqui, os elementos
produzidos e amalgamados pelas sabedorias locais, mesmo os discursos
fragmentalistas e/ou fragmentados protagonizados ou disseminados pela indústria
cultural, bem como elementos de conhecimento do domínio do senso comum e da
tradição em redes orais e de convivência. Esteve presente como uma orientação
para o trabalho da pesquisa, epistemologicamente, reconciliar, quando possível,
ou, pelo menos, buscar a possível articulação destes diferentes saberes, não
hegemônico, sem concordância com o que recomenda Santos (1989).
para a história, como fazer científico em sentido amplo, e para a história oral, em
específico, com ressonâncias, inclusive, em determinados questionamentos em
nossa própria pesquisa.
A história oral como caminho, como método para chegar a um fim, a uma
finalidade, em processo de conhecimento, inicialmente, surgiu como possibilidade
de trabalho durante o desenvolvimento do “Projeto Vox”, embrião da atual
pesquisa, como já referimos, anteriormente.
E, assim, uma história de vida, ainda que ele ressalte não ser o único tipo de
informação que possa garantir a tarefa, “propicia uma base sobre a qual
pressuposições podem ser feitas de modo realista, como uma aproximação, grosso
modo, da direção na qual se encontra a verdade”.
Nossa orientação metodológica, pois, aqui, vai ao encontro, mais uma vez,
pelo estabelecido por Aceves Lozano, quando este bem define o processo de
trabalho daquilo que denomina estilo do analista completo dos historiadores orais
(sejam estes antropólogos, sociólogos, historiadores profissionais etc). Segundo
Aceves Lozano, estes pesquisadores
Além de ressaltar que aquele estudo sobre a Chicago dos anos 1920
possuía elevado sabor etnográfico, Becker refere, ainda, outros aspectos que nos
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O Autor vai mais além, quando refere o rigor elástico para designar o
qualitativo do paradigma indicial. A concepção do indicado rigor elástico está
relacionada com a idéia de contra-sentido. Darnton (1986, p. XVII), que propõe,
igualmente, uma dada teoria dos indícios, sugerindo, sempre, ir “apressando o
passo sempre que tropeçar numa surpresa”, refere a necessidade de abrir-se um
caminho através de um universo mental estranho.
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o Autor. Para ele, esta intuição vincula, estreitamente, o animal homem com as
demais espécies animais e está, enquanto forma de conhecimento, muito longe de
qualquer forma superior, não sendo, pois, sinônimo de domínio ou privilégio de
poucos elegidos.
assim, através das falas das entrevistas que se pôde descortinar, trazer à tona, as
lembranças remotas, os silêncios, as zonas de sombra, o ainda não-dito.
É necessária uma reflexão, aqui, sobre esta nova associação entre técnica
de entrevista, memória e história oral. Mesmo considerando-se como verdadeira a
afirmação que indica que a conversação é o modelo comunicacional, por
excelência, servindo esta, até como metáfora exemplar, indicativa, para expressar
o objeto de toda a comunicação social, verificamos como problemática esta
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Com isto, “é possível pensar que aquilo que está em jogo é a construção da
Continental como um sujeito da tua pesquisa”, conforme sugestão de Gutfreind,
em entrevista para o Autor, ainda no desenrolar desta pesquisa.
abertura para o diálogo, na prática da entrevista, Buber (1982, p. 151) ressalva que
“[...] onde quer que os homens mantenham relações entre si, uma ou outra atitude
é encontrada em maior ou menor escala”. Na prática de pesquisa, esta ressalva
funcionou como um alerta para a possibilidade de ocorrência, freqüente ou
intensa, da lógica do propagandista, para a qual prestamos atenção.
que está em debate, entre outras questões, é o confronto entre logos e mythos e, se
a questão freudiana tenciona o acesso ao inconsciente e ao desejo do sujeito,
ambos constituem modelos próprios de problematização da linguagem e
objetivam o melhor conhecimento. Dito de outro modo e ressalvadas as diferenças
acentuadas pelas sociedades históricas, em ambos os exemplos resplandece a
construção humana voltada para o auto-esclarecimento.
esta ênfase não foi suficiente diante das diferentes demandas e necessidades de
conhecimento do problema em foco.
Mesmo concordando, em parte, com Arlette Farge, quando e onde esta faz
ressalva para a relação de “fascínio do historiador com seu próprio arquivo” e,
mesmo referindo o impacto pela importância na pesquisa deste arquivo, que se
mostra “belo porém traiçoeiro”, para a realidade cotidiana do pesquisador, pois o
arquivo teria como “corolário de sua beleza toda uma encenação de ilusão”,
Voldman termina por propugnar que nada é mais importante para aquele que
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trabalha com arquivo e história oral do que o “desejo de explicação”, algo dotado
de valor principal, que se apodera dos historiadores que lidam com as fontes orais.
Mas, para tanto, são necessários o cuidado processual e o rigor metodológico.
pesquisador. Isto porque, se para o historiador que opera com documentos escritos
declarativos é necessário praticar uma dúvida sistemática, da qual somente o
cruzamento com outras informações permite a elucidação, para o historiador que
trabalha com a palavra-fonte a questão é dupla, pois “[...] o historiador que ouve a
palavra-fonte expressa uma dúvida sobre a dúvida, pois duas subjetividades
imediatas se conjugam, tanto para esclarecer quanto para confundir as pistas”
(VOLDMAN, 2001, p. 37).
teto dos trabalhos, por cansaço ou outra limitação, naquela determinada sessão de
trabalho.
Não existe uma regra geral que limite o tempo de realização de entrevistas,
o mesmo podendo ser dito sobre o local ideal para o encontro entrevistado e
entrevistador. Em nossa experiência, procuramos, em todas as circunstâncias,
garantir certa privacidade ou, no mínimo, espaço físico que possibilitasse algum
recolhimento, quando das sessões de trabalho. Para tanto, inclusive, foi útil, desde
os agendamentos das entrevistas, referir a necessidade de uso de gravador. A
partir desta sinalização, por iniciativa do próprio entrevistado, ou por reforço
nosso quanto à necessidade de local com algum nível de isolamento, garantimos,
na maior parte das vezes, local adequado, tanto para realização técnica das
gravações sem maior incidência de ruído indesejado, quanto para a necessária
interação humana, interpessoal, de aproximação para o trabalho de entrevistas.
É neste sentido que Voldman (2001, p.256) indica o testemunho oral como
sendo “um elemento no qual se apóia a escrita da história e que, como tal, está
sujeito à verificação”. Aprendemos, no trabalho da tese, que a fonte de entrevista
estava a serviço, fundamentalmente, da informação e esclarecimento de dados. Já
o corpus estruturava-se, basicamente, para sofrer a análise pretendida.
Esta lista, em muitos nomes alterada, por inclusão e por exclusão, foi o
núcleo da unidade básica da pesquisa, ponto de partida. Deste grupo, retiramos
nomes e relatos para pesquisa, realmente, empreendida. A resultante dos relatos
aparece, no capítulo 7, sob a forma de Peripécias da Continental.
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uma mídia volátil (como constitutivamente ocorre ser uma emissora de rádio),
uma emissora distante no tempo (portanto, refém de um resgate obrigatoriamente
advindo do exercício individual e coletivo da memória, através de
mnemotécnicas). E, sobretudo, a oportunidade de narrar a história de uma rádio
que, não possuindo acervo nem completo, nem sequer abundante de programas,
produtos ou documentos, possibilitou, fragmentariamente, pistas, indícios e peças
isoladas, algumas destas em suporte técnico de mídia, de modo a instigar,
provocar a criação de uma história da Continental, hoje, caracterizada por este
ser-estar entre meios de comunicação de massa.
Em sendo fenômeno aceito, com menor ou maior ênfase, pela ciência, que
a história é também uma prática social, como indica Michel de Certeau (1982, p.
104), buscamos e ressaltamos o caráter único, inédito, de cada um dos eventos,
historicamente, dados. E é, diante desta busca pelo estabelecimento e
compreensão da especificidade, pelo entendimento deste particular diante do
geral, que se verifica a associação, para o historiador, entre a explicação racional e
a urdidura do relato.
filosofia, quando Ricouer (1961) refere que as dificuldades do historiador não são
vícios do método, mas trata-se de “equívocos bem fundamentados”.
Entendemos que todo ato de linguagem, todo ato de fala, em suma, que
todo discurso, com esta ou aquela cifra de significação, é, igualmente, um modo,
uma forma específica de ação. Na presente pesquisa, a especificidade da ação,
para nosso juízo, está centrada em algum tipo de narração, vale dizer, enunciação.
Por isto, foi preciso investir em questionamentos que levaram a nossa
problematização sobre narrativas até a região de fronteiras entre a teoria da
literatura, a análise do discurso, a lingüística e a semiótica.
Por isto, urge como necessário, seja para uma rádio-emissora de pequeno,
médio ou grande porte, possuir, em alguma escala, estrutura produtiva de
radiojornalismo. Isto se tornou verdadeiro, para cada categoria e porte de
emissora, possuindo esta, ou não, equipe completa de redação e/ou departamento
de jornalismo. No Brasil, inclusive, a legislação vigente determina
proporcionalidade percentual de programação voltada para a informação, em
relação, sobretudo, à veiculação de publicidade e propaganda e à quantidade de
programação musical e de entretenimento, em geral.
Conforme nossa observação, hoje, podemos dizer que aquela redação, nos
exemplos examinados, apresentava problemas quanto à grafia e à pontuação.
Afirmava o texto:
ar, fossem contra a ditadura militar, ou contra algum costume social mais
conservador, ou, ainda, especialmente, contra determinado tipo de musicalidade.
Sobretudo, discursos de ataque à música popular brasileira antiga, representada,
por exemplo, por Silvio Caldas; e à chamada música marca-diabo, cujos
protótipos estiveram, inúmeras vezes mencionados, em Jerry Adriani e Nélson
Ned. As falas dos DJ’s e comunicadores, igualmente, anunciaram aquilo que os
programadores musicais da Continental elegeram como musicalidade distinta,
seleta e selecionada para público ouvinte da emissora, com isso trazendo para o
dial as músicas dos jovens compositores e intérpretes da música popular
brasileira, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton
Nascimento, Gonzaga Jr., entre outros, até então, praticamente, desconhecidos ou
não ouvidos, porque não programados em emissoras de rádio para o grande
público. A mesma parcela de novidade foi garantida com a inclusão da nova
música urbana de Porto Alegre, com grande freqüência, na grade diária de
programação da emissora.
Junto com as novas músicas, chegavam as novas falas e, nestas falas dos
DJ’s, estavam as gírias. Entre as gírias que a “fala livre” atualizaria o rádio,
trazidas das ruas, das escolas, dos parques, dos teatros, dos cinemas, das casas e
das festas, estavam os novos termos neoprediletos da juventude. Entre esses,
podemos citar: cocota, sarro, magrinhagem, trilegal, tric-tric, sacada, bixo,
bolação, entre outros. Estavam as inúmeras palavras, os novos sentidos que, a
partir dali, tornaram-se ainda mais incorporadas ao falar de Porto Alegre e,
inclusive, muitos terminaram integrados ao padrão culto (FISCHER, 1999 e
2000).
A canção Deu pra ti, de Kleiton e Kledir, pode ser interpretada como
espécie de súmula ou legado poético sobre aquele tempo-espaço, onde estavam
presentes, entre outros fenômenos, o plurilingüismo e a cultura mundializada
(ORTIZ, 1994, p. 164-165), atualizados pelos falares porto-alegrenses, em
contigüidade com as narrativas da Continental, via discursos urdidos na década
iniciada em 1970.
Deu pra ti
Baixo astral
Vou pra Porto Alegre, tchau
Quando eu ando assim meio down
Vou pra Porto e.... bah... tri legal
Coisas de magia, sei lá
Paralelo 30
Alô tchurma do Bonfim
As guria tão tri afim
Garopaba ou Bar João
Beladona e chimarrão
Que saudade da Redenção
Do Fogaça e do Falcão
Cobertor de orelha pro frio
E a galera no Beira Rio.
É neste contexto que Porto Alegre, na “fala livre” dos DJ’s da Continental,
pela primeira vez na história, foi rebatizada de “Porto City”, ao longo da
programação diária. A transformação designativa, com alteração do nome da antes
também denominada “cantada e conhecida Porto dos Casais” (nome dado em
alusão aos colonizadores açorianos), transformava-se, segundo esta nova versão,
em “Porto City”, pela enunciação específica da Continental. Para nosso modo de
interpretação, aquela nova alusão de nome à cidade era algo paradigmático e
ocorria ao mesmo ritmo e tempo que a cidade vivia uma transformação radical,
real do espaço urbano e do pólo cultural que, já então, era Porto Alegre.
Esta peça para o restaurante Barril e para o Inter, em 1973, servia para
marcar, ao mesmo tempo, a ênfase no fazer publicidade com humor e a busca pelo
público mais amplo, universal, como acontecia ser aquele do futebol e do
restaurante e casa de chope.
com jornais diários locais (Folha da Manhã e Zero Hora) e nacionais (como O
Pasquim, O Globo e O Estado de São Paulo, sobretudo).
Cada peça tinha início com a fala de locução, a seco, com apresentação de
texto poético. Ouvia-se, por exemplo: “Subo o degrau das horas e mergulho na
piscina azul da tarde./ O teu sorriso é como o sol: ilumina porém arde./”
Ou, ainda, esta outra peça: “Nesta posição os ponteiros, não é por nada,
mas bem parecem um punhal, no coração da madrugada”.
Ou, ainda, como neste outro exemplo: “Dentro do tempo corro, vivo, amo,
morro. Toca o despertador: é a eternidade pedindo socorro./”
irresistível, 39) faixa brilhante, 40) som e amor, 41) fantástica, 42) futuro
presente, 43) envolvente, 44) som de sempre, 45) cristalina, 46) alta rotação , 47)
rádio à parte, 48) acima do estabelecido, 49) absoluta, 50) superquente, 51)
magic sound, 52) o som do amor, 53) som jovem, 54) o som do sucesso, 55)
comando jovem, 56) mensagem jovem, 57) a explosão do rádio, 58) rádio
original, 59) 24 horas no ar, 60) ligação permanente, 61) a força do rádio.
Como foi possível reconstituir pela ação da pesquisa, este era o padrão
completo para apresentação, definitivo e consagrado pela praxe, utilizado como
solução funcional de comunicação e marca de identidade da Rádio Continental, ao
longo dos anos, costurando slogans.
[...] seres e objetos culturais nunca são dados, são postos por
práticas sociais e históricas determinadas, por formas da
sociabilidade, da relação intersubjetiva, grupal, de classe, da
relação com o visível e o invisível, com o tempo e o espaço,
com o possível e o impossível, com o necessário e o
contingente.
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fresta por onde passaria e, logo, ganharia mais palco, a música popular urbana,
feita por e para universitários e estudantes vivendo em Porto Alegre e, claro, sob
certos aspectos, vivendo a vida de Lee.
A busca pelo humor como valor e deste como algo presente em toda a
programação diária da Continental podia ser aferida desde os slogans de
identificação da emissora, através das máximas de auto-institucionalização, ou
reverberando nas falas debochadas dos DJ’s, e, também, no enquadramento
transgressor da publicidade feita, até atingindo o espaço sisudo porque aquele
destinado para a produção de hard news, local em outras emissoras consagrado,
tão somente ou, sobretudo, para enunciação da miséria e da tragédia humana
cotidiana.
federal. Eleito, atua no Rio de Janeiro onde, por meio de um amigo e compadre,
obtém, através de auxílio do ex-governador Negrão de Lima, a oportunidade legal
para criar a Continental, em Porto Alegre.
A questão, para nós, não é, tão somente, marcar, na presente tese, a ordem
cronológica do aparecimento das referidas emissoras, firmando, em primeiro
lugar, a Rádio da Universidade e, somente após, a Continental. No detalhe da
cronologia, reside uma ilação que julgamos necessária fazer, como contribuição
desta tese.
Dizer isto é dizer mais do que afirmar, tão somente, que a Continental
inspirou-se, em alguns aspectos, como certa musicalidade internacional e uso de
vinhetas, conforme modelo original da Rádio Mundial, do Rio de Janeiro, de lá,
tão somente, retirando subsídios para elaborar a novíssima programação, como é
afirmado em alguns autores, que repetem, aliás, os depoimentos dos próprios
criadores do então novo modelo da Continental, a partir de 1971. O espelhamento
referido é, em parte, verdadeiro, mas não apenas este movimento pôde ser
observado, conforme a nossa sugestão.
Antes disso, interagindo com a opinião ponderada expressa por uma das
mais sólidas pesquisas deste continente radiofônico, acompanhamos Meditsch
(2001, p. 45), quando o pesquisador gaúcho, com atuação junto à Universidade
Federal de Santa Catarina, afirma sobre o estado da arte.
empreendida por Cunha (2002), quando o rádio foi estudado com recursos
advindos da teoria da literatura e da recepção.
Uma das nossas hipóteses na pesquisa incide sobre a relação entre a cidade
enquanto macro habitat cultural e midiático e a qualidade da produção radialística
e radiofônica erguida naquele universo, onde figura, em destaque, a experiência
irrepetível da Continental. Entretanto, esta experiência, queremos ressaltar,
ladeada e enriquecida por outras, também relevantes e significativas, seja de
cunho literário, musical, teatral e técnico, de modo a oferecer lastro, insumo e
dados concretos e simbólicos, no contexto, para interação com a Continental,
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dessa forma, visitada e reconhecida, sob esta escuta, como sujeito real e simbólico
dentro do continente, sonoro e radiofônico, da cultura porto-alegrense e gaúcha.
dali, a RBS, nova voz vitoriosa, para aquele momento, como a representante e a
articuladora do novo grupo no poder dentro do espaço público e mídiático.
antes, na busca pela precisão de nexos históricos das peripécias, bem mais do que
no eterno jogo de potencialização das palavras.
Menino Deus. Não demora quase nada a espera na ante-sala da Visor Produções e
Propaganda.
7.1.2 Raízes
A seriedade do rosto, concluo apressado, talvez, tenha bem mais a ver com
o pacote que ele carrega pelo longo corredor. O homem que se dirige para a sala
onde fica a Revisão do jornal parece, mesmo, remoer questões, coisas pendentes,
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aflições, talvez. Mas Vampré, talvez, saiba que carrega algo relevante. Sob o
braço, porta o pacote com a revisão final. É o resultado de mais de dois anos de
leituras, de pesquisas extenuantes em arquivos, de buscas em coleções, de
entrevistas com amigos e colegas. Octavio Vampré carrega para entregar o texto
escrito que, de modo pioneiro, resume, sob ótica própria e aplicada, a história do
rádio e da televisão gaúcha.
Após consulta junto aos partidos políticos e órgãos púbicos, a procura por
indicação de dados sobre a figura pública e privada de Victor Issler resultara,
praticamente, nula. Decidimos, então, acionar uma solução prática, corriqueira,
empreendida em trabalhos de pesquisa jornalística, isto é, o acionamento do
serviço de auxílio à lista de atendimento aos assinantes de empresas telefônicas.
Através deste recurso, chegamos a aproximadamente vinte endereços telefônicos
de pessoas com sobrenome Issler, em todo o estado. Um destes, inclusive,
indicava: Victor Issler.
direção designara comissão para pesquisar dados históricos sobre Issler, com
objetivo de futura publicação, e nós voltávamos à lista telefônica.
Issler, nas eleições de 1961, é eleito como segundo suplente, abrigado sob
a legenda do PTB, e assume uma cadeira porque correligionários, entre estes João
Goulart, são chamados para composição do primeiro escalão do Governo Federal.
estava assinado por José Roberto Marinho, Ricardo Marinho (pelo espólio) e
Victorio Alba Serra de Berredo, acionista cedente de direitos em favor dos dois
outros representados. O curioso, no contrato, é a coincidência entre os endereços
residenciais indicados por José Roberto Marinho, por Victorio Alba Serra de
Berredo, advogado profissional, e a nova sede da empresa, todos localizados na
Rua do Russel, 434, na cidade do Rio de Janeiro.
e já parte constitutiva das próprias ações peripeciais estão as demandas por manter
a programação prometida e a necessidade de faturamento da Rádio.
Ortiz (1988) cita Herbert Schiller que, em um de seus artigos, observa que
a comunicação segue o capital, e este se relaciona, intrinsecamente, com a
publicidade. Ortiz vê, na publicidade, o agente financiador da “era de ouro” do
rádio. A chegada da televisão como novo competidor, dentro do recente patamar
da indústria cultural brasileira, expressava novo padrão de comportamento
industrial e econômico, levando, também, o rádio a adotar alguma especialização
no mercado,
Haeser que também faz pesquisa sobre a Continental. Depois, solicito que ela
mostre a carteira do trabalho, documento oficial e, na presente pesquisa, peça
fundamental para recuperação de algumas datas e nomes.
E com Dona Marina surge o nome de Jair Silva que, muito jovem, chega
ao Edifício do Relógio, levado pela própria Marina, pois se trata de um cunhado,
casado com a irmã dela. De encarregado dos serviços gerais, Jair passa a cuidar da
discoteca da Rádio que conta com cerca de mil discos, com o pessoal de
microfone pedindo, sempre, novos LPs, e o gerente lembrando que “a verba
andava curta”. Marina Lima lembra, certa vez, uma das visitas de Cauby Peixoto,
que ocorreu antes de seu LP em lançamento estar disponível na discoteca. O
cantor desceu à Rua dos Andradas, indo até a loja de discos mais próxima,
adquirindo seu próprio LP e retornando para falar e ouvir o próprio trabalho no ar.
Ivã Trilha, mais tarde sócio de Teixeirinha, atua na emissora; Amélia Vagner é a
responsável pelo Departamento Pessoal; Roberto Pedroso (já falecido) e o
inseparável Gilberto são os “irmãos metralhas” que trabalham na mesa de áudio.
O grupo todo ficará alarmado ao saber, no final da década iniciada em 1960, que a
planta dos transmissores, ainda movidos a óleo diesel, pegou fogo, durante um
final de semana. Na recolocação do equipamento, a Rede Globo está garantindo a
substituição por transmissores Gates, totalmente transistorizados. A Continental,
com aquela medida, estava preparada para iniciar a próxima década com melhor
som.
O fenômeno Roberto Carlos tem início em 1962, quando faz seu primeiro
sucesso comercial, em disco e nas rádios, com “Splish, splesh”. Aquele ano, Porto
Alegre conhece, igualmente, seu “primeiro conjunto”, modo como eram
denominadas as bandas com guitarras elétricas, geralmente integradas em
composições de três músicos de cordas, mais o baterista. Trata-se do grupo
“Apache”, considerado como a primeira banda de rock de Porto Alegre. As
primeiras bandas têm, no programa do apresentador Antonio Gabriel, na TV
Piratini, o espaço dominical para exibições. Logo, Ivan Castro, na TV Gaúcha,
também programará música jovem. Este tipo de experiência, no rádio, ao vivo, os
músicos e a população local precisarão esperar pela Continental, em 1971.
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Quando menino, Judeu era levado pelo velho pai para assistir os jogos do
Grêmio, no glorioso Estádio da Baixada, onde, hoje, está o Parcão do bairro
Moinhos de Vento. Fernando acompanhava o pai de bom grado, feliz, mesmo.
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mas as atenções do garoto estavam fixas fora das quatro linhas do gramado verde
e do jogo de futebol. Acontece que, das arquibancadas da antiga Baixada, era
possível avistar os cavalinhos correndo no Prado antigo.
Judeu não sabia de tudo aquilo que a Globo iria aceitar e temia, sobretudo,
naquilo que proporia, isto é, as excelentes condições de contrato para o futuro
diretor e para o vice da nova programação da Continental. Na conversação, a
Globo foi aceitando, uma a uma, as solicitações levadas por Judeu.
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Até chegar à Globo, muito antes disso, Judeu fora procurado por
representantes de Roberto Marinho, em Porto Alegre. A Globo queria vender a
Continental. Porém Judeu não tinha capital e, entre seus amigos, ninguém topou
fazer negócio. O projeto, que indicava uma programação segmentada para o
jovem que pensa, Westphalen já desenvolvera, em parte. A nova rádio seria “para
o jovem que pensa” e seria “uma rádio que faria o jovem pensar”, isto é, ele
queria uma “rádio inteligente”.
O retorno para Porto Alegre é sem contrato, ainda, mas fica tudo acertado,
apalavreado. Fernando está em Porto Alegre à procura de um advogado para
ajudá-lo. Está feliz, com pressa e “louco de medo” com tudo aquilo. O advogado
escolhido é Ronaldo Glaciester, primo de Fernando.
Mas Westphalen afirma que a Rádio, à época, já tinha uma grande virtude:
público que nós queríamos. Por isso, fizemos coisas que eram
para marcar, mesmo que não fossem para durar.
Então, era necessário fazer a turma chegar até nós. Aí, usamos
nossa inventiva. Ousamos. Precisamos ousar e criar tudo ao
nosso alcance e, aí, foi uma grata surpresa, pois o pessoal de
criação, o pessoal das agências começou a colaborar e enviar
coisas novas, pegar junto.
Estava terminado, embora não para sempre, o fluxo inicial de idas e vindas
de gerentes temporários, chegados do Rio de Janeiro, como Alan Kardec Queiroz
e Souza, em 1965, Gilvã Portela, entre outros, finalizando com a gestão de
Tabajara Tajes, em 1970. Armando Queiroz, o homem de ligação entre a Globo,
no Rio e Porto Alegre, igualmente, passava a ser menos exigido. Antes do novo
projeto, a Continental chegou a ter cerca de 50 funcionários. Agora, sob a nova
direção de Westphalen, chegará a contar com grupo de cerca de 30 colaboradores,
bem remunerados e com pagamentos em dia.
Este ganho pelo uso da FM seria, posteriormente, proibido pelo governo, a partir
de 1974, quando surgem as primeiras emissoras totalmente operadas em
freqüência modulada.
Segundo ele,
“Herman Kann, entre outras preciosidades, afirmava que o Brasil não tinha
petróleo. E que o petróleo existente era de baixa qualidade, isto já existindo a
Petrobrás desde Getúlio Vargas...”, complementa Eloy.
grupo da produção, como para a instância da recepção. Ele se junta a outros, como
o Agente 1120 e o crítico de cinema Hiron Goidanich, que passam a encorpar a
Continental, dividindo as aprendizagens e convivências cotidianas. Ao construir-
se como rádio de expressão para a juventude, a Continental torna-se pólo para
formação destes ouvintes, e, igualmente, referência para o grupo profissional que,
mais do que em torno dela gravitam, verdadeiramente, comungam estilo de vida,
proximidades existenciais e, claro, compartilham o saber técnico necessário para
qualificar a programação da Rádio. Em 1972, Milton Nascimento estava lançando
o álbum “Clube de Esquina”, paradigmático para a emissora, como constatamos.
Idéia semelhante à propagada pela obra de Milton, de resto, produto de uma ação
coletiva de amigos situados no fazer musical, torna-se parâmetro para existência
real da Continental.
Trazidas por um boy, ou pela esposa Lúcia, ou, raramente, pelo próprio
Luís Fernando, as crônicas, inicialmente, eram gastronômicas, mas, logo, pela arte
de Verissimo, tornaram-se de assuntos diversos. No período mais censurado da
Rádio, as crônicas passam a ser enviadas, previamente, para análise na Polícia
Federal, tornando o processo de produção mais moroso.
7.1.15 “Cascalho”
“Cascalho”, no ar, logo surpreende, não apenas pela ironia e pelo inusitado
do nome, como também, pelo uso da voz estridente, pela velocidade e por utilizar
muita gíria local associada à língua inglesa: “Mostrei que tinha uma personalidade
própria e que unia emoção, humor, loucuras para cativar o ouvinte. Consegui”.
“Cascalho” surpreende os ouvintes trazendo muita música inédita, programando,
na Rádio, os sons internacionais das boates, os sons exclusivos trazidos pelo
Agente 1120, com a colaboração de programadores competentes e de rara
criatividade, como João Batista Schüller. Francisco Anele é o homem da mesa de
áudio, incansável e magistral na criação de vinhetas. Ao longo dos anos,
“Cascalho” contará com a colaboração atenta de amigos e colegas. O músico
Hermes Aquino, durante temporada, trabalha como produtor de “Cascalho”. Igual
experiência terá o programador musical Ricardo Barão e Coconut. DJ’s de casas
noturnas porto-alegrenses tornam-se parceiros, como é o caso de Claudinho
Pereira.
282
cunhado por ele para “música brega”). Entre as figuras alvo estava o famoso
radialista da Rádio Guaíba e publicitário, Flávio Alcaraz Gomes, espécie de
inimigo público da Continental. “Cascalho” fazia ironia e humor, sobretudo,
quanto às reportagens internacionais de Alcaraz, sempre cercadas de aparato
mercadológico e comercial e realizada em estilo pragmático grandiloqüente.
Contursi, manifestando-se com orgulho, nega que fizesse rádio “para uma
elite somente”:
igualmente, referência aos usuários de outros meios e, daí, viver-se “Na Porto
Alegre dos motoqueiros”, dos “ciclistas” e dos “taxistas”.
Cidade que comportava narrativas polêmicas, como “Na Porto Alegre das
meninas da Indepê” (numa referência às jovens prostitutas localizadas numa
301
7.1.20 A Bomba
É neste espaço que Dona Marina Lima, certa manhã, quando chegava para
trabalhar, deparava-se com cena insólita, ao ser abordada pela secretária, que
apontava para um embrulho embaixo de um banco, próximo à sala da direção.
(MAC)
BICHOS DA RADIO CONTINENTAL
ATENÇAO:
QUANDO a criança queima a mão ao tocar no fogo, aprende
uma lição;
QUANDO ao atravessarmos uma rua e somos atropelados...
podemos aprender uma lição ou perder a chance;
QUANDO uma bomba explode no estúdio, aprendemos uma
lição ou nunca mais...
QUANDO ao banharmos na praia e mãos de ferro nos manter
submersos, perdemos a oportunidade de aprender uma lição;
QUANDO o nosso carro pega fogo, o prejuízo causado é uma
lição;
QUANDO a nossa esposa recebe fotografias junto com as
amantes, arranjamos serias complicações;
QUANDO ao chegarmos tarde em casa e alguém nos quebrar os
ossos, aprendemos uma lição;
QUANDO levamos uma surra por falarmos de mais,
aprendemos uma lição; e
QUANDO alguém de nossa família é seqüestrado, também
aprendemos a mais dura lição.
FINALMENTE, somos bastantes (sic) inteligentes para, não
mechermos (sic) em abelheiras, principalmente porque somos
conhecidos, também, como velhos integrantes do MC-74/75.
Um aviso do
M A C
(Movimento Anti-Comunista)
jornalismo, com aquela estrutura, não podia concorrer nem se estabelecer com
médotos idênticos das grandes emissoras, como Guaíba e Gaúcha. A alternativa
estava, novamente, em inventar sistemática e produto diferenciado. E foi assim
que a Continental chegou às 17 edições diárias do “1120 é Notícia”, com texto
mais ágil e de jornalismo interpretativo, sempre ao final de cada hora cheia da
programação. Para tanto, a Continental possuía somente uma agência de notícias
contratada, a France Press, e fazia muito rádio-escuta e leitura esmiuçada de
jornais do centro do país e alternativos e, também, revistas, além de contar com
informantes e colaboradores em alguns pontos estratégicos, como a Assembléia
Legislativa e Câmara de Vereadores, segundo depoimento de Westphalen.
Dear Sérgio,
[...] vamos às tuas perguntas específicas...
Sobre Início profissional:
Eu tinha uns 13 anos e era ouvinte fiel da 1120. Gostava do
Clóvis Dias Costa, eventualmente do Cascalho ("Se liga porque
a nave já vai zarpar.../Cascalho Times está no ar!/ Você vai
sorrir...vai ficar legal / Das 18 às 19h...na Continental! (E
Pepsi!!!!)") Re re re...memories...
Logo depois, descobri o programa do Júlio Fürst, o Cowboy do
Rádio, depois o Vivendo a Vida de Lee. Adorava gravar com
microfoninho por fora do radinho (não tinha plugs diretos) e
ouvia o dia inteiro (“Espantalho”, “Poluição”,
“Ultimamente”...) Sabia as letras de cor. E os caras novos
viraram meus ídolos (“Inconsciente Coletivo”, Fernando
Ribeiro, Gilberto Travi). Eu ia nos concertos e anotava tudo o
que acontecia. Depois, chegava em casa e desenhava os
músicos. Ou seja, fazia uma reportagem artesanal... Nos
concertos seguintes eu fui lá na frente conversar com um
técnico e mostrar meus albunzinhos... Era o Francisco Anele
Filho, o maior arquivo vivo de toda a história musical
contemporânea do RS... Ele, muito gentil, se empolgou e disse
312
Não sei se entendi muito bem a pergunta. Mas vou tentar falar
alguma coisa. Como disse antes, a rádio tinha estilo e
modernidade, e isso polia muito a linguagem e o acabamento
dos programas. Levei de lá a leveza, o imediatismo, o calor da
rádio ao vivo, com a marca de que dá pra ser jovem sem ser
burro e pobre. Isso não é tão comum hoje em dia. Acho pobre,
limitado e de mau gosto muito do que ouço hoje em dia como
rádio "jovem, da galera, da moçada" ou whatever... Quem tem
hoje 30 e tantos, 40 e tantos anos, certamente embalou sua
juventude ao som da Superquente e tem muito carinho pelos
então comunicadores e seus programas. Até os jingles eu me
lembro... Ela fez história, foi o apogeu e o soçobro da
comunicação jovem em AM em Porto Alegre. Quando ela foi
enterrada, surgiram como rolo compressor as FMs ao vivo que
também enterraram as FMs de elevador e consultório. Chegou a
Cidade FM, criou-se a Gaúcha FM, Ipanema, Atlântida, etc.
Veio a era dos Comunicadores (alguns “gritões” demais) e a
AM voltou a ser rádio brega de classes mais baixas, sem
ambições culturais, de notícias para aposentados e motoristas,
ou de gaúcho grosso para tradicionalistas. Aquele era o cenário
da época, não tinha como hoje, radiojornalismo bem feito pra
todas as classes... Na AM o jovem não tinha mais nada pra
ouvir. E começou o reinado das FMs... Não é à toa que os
314
Julio César Fürst sempre apreciou muito a música e, por isso, desde
menino, esteve com ela, primeiro, por prazer e, logo, para trabalho. Fará breve
carreira como músico, chegando a atuar, profissionalmente, antes do rádio, e,
321
Interpretamos que o fator regional possa ter auxiliado bastante para aquela
aposta da Lee no solo gaúcho como porta de entrada no País. A tradição
agropastorial do Estado e o mito do gaúcho foram, talvez, dados considerados
relevantes pelos investidores, estrangeiros e locais, quando da opção. Nos Estados
Unidos, a Lee estava associada à figura do cowboy e, aqui no Brasil, trabalharia a
mesma idéia, a partir de um Estado que construíra a figura do gaúcho. De resto,
conforme localizamos na pesquisa, em passado recente, outra iniciativa
semelhante havia sido realizada com boa eficácia empresarial, associando rádio,
programa musical e roupa de brim.
1
No roteiro de rádio, Loc é abreviação para locutor, assim como Tec indica acionamento da
técnica de áudio. No roteiro a seguir, procuramos manter grafia e modo para apresentação
original:
324
No Brasil, a idéia de formar rede nacional com “Mr. Lee” sempre existiu e,
dessa forma, o programa “Vivendo a vida de Lee”, apresentado por Fürst, será
também transmitido pela Rádio Iguaçu, de Curitiba. Naquele tempo, sem poder
contar com serviços de satélites para transmissão, Fürst gravava todos os
programas para Curitiba, que eram apresentados no mesmo horário da edição
325
No mesmo ano de 1975, Julio Furst está sendo convidado para ser jurado
do Musipuc, tradicional competição que reúne músicos e universitários gaúchos,
já em terceira edição. Igualmente, são jurados João Batista Schuler, então, pela
Rádio Porto Alegre; Alice De Lorenzi, do Jornal Hoje; e Fernando Vieira, da TV
Difusora, entre outros. Das 52 composições escritas, foram selecionadas 24,
divididas entre duas noites classificatórias, dias 5 e 6 de junho. A cada noite, seis
músicas foram selecionadas para a finalíssima, dia 7. Segundo cronista do Jornal
Minuano, na edição daquele mês, o público “soube aceitar e aplaudir o resultado
final”, embora tenha chegado a vaiar o show de abertura do grupo “Em Palpos de
Aranha”.
O grande vencedor foi o conjunto “Status 4”, grupo vocal misto, que
apresentou a composição “Violeiro cantador”, com música de Edson Santos e
letra de Roberto Gonçalves da Silva. O segundo lugar ficou para “Em mar
aberto”, de Arnaldo Sisson e Fernando Ribeiro (ganhadores do II Musipuc). A
terceira colocada foi “Quem sabe?”, de Mauro Rotemberg e Irineu Goldspan e,
em quarto lugar, “Lar doce lar”, de Alexandre Vieira e José Antonio Araújo (que
defenderam a canção acompanhados de Ângela Langaro, formando o
“Inconsciente Coletivo”).
repórter da colônia, em que Gilberto Travi vivia uma recriação do típico “colono”
alemão, e, ainda, a dupla Rancheirinho e Mári Farmacinha que ironizava à famosa
dupla Teixeirinha e Meiry Terezinha, músicos regionalistas com programas de
rádio sempre patrocinados por diferentes marcas de remédios.
Se, à noite, a Continental encerrava o turno, após o horário das aulas, nas
universidades, com “Mr. Lee” conversando com o público, pela manhã, no
caminho para as aulas, o universitário, ou pré-vestibulando, ou secundarista podia
manter conversação, ao vivo e em linguagem atualizada, com os professores
Fogaça e Clóvis, que traziam temas relevantes, em abordagem local e
pessoalizadas.
Continental, os sucessos Vento Negro (de autoria do próprio Fogaça), Até não
mais e Quadro Negro (ambas do Kledir Ramil). As duas primeiras composições
rodam sem parar, com exclusividade, na Continental.
Afirma Dedé:
Confidencia Dedé:
Segundo a produtora,
era tudo uma grande turma que ficava por lá, em torno da
Rádio. E muitos deles mantêm um convívio legal até hoje:
Bebeto Alves, Fernando Pezão, Zé Flavio, os Ramil. O Nelson
Coelho de Castro chegando depois.
Segundo Dedé,
Segundo Pery, a
Até ali, a comunicação era feita por adultos para adultos. Agora,
a Rádio falava com o jovem, masculino e feminino, com
linguagem própria, falando de sua realidade, seus desejos e
sonhos. Esta foi, na minha opinião, a diferença, o valor da
352
Para erguer o modelo 1120 de notícia, era preciso muito trabalho, relembra
Adroaldo Correa, inicialmente, redator na equipe, que tinha Wladymir Ungaretti
como chefe de redação. Para Adroaldo, então cursando o segundo ano de
Jornalismo na Fabico-UFRGS, tudo teve início com convite de integrante da
equipe, André Jockymann (filho do escritor e jornalista Sérgio), em 1975. Dois
anos depois, formado, Adroaldo será designado chefe do departamento Jornais
Falados, como era caracterizada, em lei, a chefia do radiojornalismo em
emissoras.
“Nós éramos informados o tempo todo por alguém que detinha mais
informações do que nós, ou seja, o próprio serviço de censura da Polícia Federal”,
afirma Adroaldo. Mas, o problema era a censura terrível, 24 horas no dia. Naquele
período, a Continental assinava os serviços de apenas uma agência de notícias, a
France Press.
Por fim, naquele ano atribulado, a última proibição recaía sobre notícia
dada, na semana anterior, pela revista Isto é, na página 8. O bilhete é escrito com
redobradas marcas, numa lauda pequena de edição do programa 1120 é Notícia:
CENSURACENSURACENSURACENSURACENSURACEN
SURACENSURACEN
ATENÇÃO. . . . ATENÇÃO. . . ATENÇÃO. . .. . ATENÇÃO. .
DE ORDEM SUPERIOR, TÁ PROIBIDA A DIVULGAÇÃO
DE NOTÍCIAS OU COMENTÁRIOS SOBRE A VISITA DE
DIRETORES OU MEMBROS DA “AMNESTY
INTERNATIONAL” AO BRASIL. (QUANDO NÃO FOI
EXPLICITADO) (alguém, posteriormente, escreve a caneta a
fonte e data)
TRANSMITIU A DETERMINAÇÃO O MAGGIONI, DO
DEPARTAMENTO DE CENSURA DA POLÍCIA FEDERAL
DE PORTO ALEGRE.
DISSE QUE RECEBEU RÁDIO DE BRASÍLIA.
DEIXE ESTE BILHETE NA MÁQUINA AO SAIR. NO
PRIMEIRO DIA AVISE DE “VIVAVOZ”. E AVISE AO
COLEGA NO HORÁRIO EM SEGUIDA AO SEU.
Foi este jogo político pesado do regime, que incluía coquetel de fatos e
temas censurados, com aplicação de multas em diferentes situações e por diversos
motivos, que forçava o modelo Continental a soçobrar. Também, o ataque mais
intenso da concorrência na esfera comercial, representado pelas ofertas crescentes
de rádios FMs, a partir de 1975, tornara a continuação da programação e do
sucesso desta tarefas cada vez mais inatingíveis. O respaldo, até então integral,
sobretudo por parte da gerência carioca do Sistema Globo de Rádio, igualmente,
tinha começado a dar sinais de esgotamento. O conjunto de dados da realidade, na
interpretação de Fernando Westphalen, indicava que ele deveria sair da
Continental, até, inclusive, para garantir alguma sobrevida ao projeto. Assim, ele
voltava para o mercado publicitário, naquele final de 1977, atuando na RS Escala,
e Marcus Vinícius, fiel escudeiro, assumiria como diretor da 1120, na última bem-
sucedida etapa de sucesso das peripécias da Rádio.
362
O Judeu foi logo falando: “Eu tenho carro, eu tenho carteira de habilitação
e sei o caminho. Eu vou por conta própria”, o que os federais aceitaram, narra
Adroaldo. Já “as minhas condições e as do Jorge não eram estas e fomos os dois
de carona numa Veraneio azul”, narra Adroaldo, referindo que encontraria,
369
O último a ser solto foi Jorge. Tarde da noite, todo mundo procurando por
Jorge, e ele já em casa. Depois de muita procura, conta Adroaldo, alguém
conseguiu falar com uma vizinha do mesmo andar. “O Jorge? Ele já chegou, sim.
Inclusive, ele está ouvindo som com o toca-disco um pouco alto na sala”.
Aquela poderia ser uma calma manhã de trabalho para o locutor do turno,
Vladimir Oliveira, atualmente, na Rádio Guaíba. O parceiro é o redator Oscar dos
Santos Flores da Silva Júnior, 23 anos, então, formando em Jornalismo pela
Fabico-UFRGS. É ele que está entrando no estúdio, trazendo, em mãos, as laudas
da última edição do turno, para ir ao ar às 13 horas. Aquele poderia ser um sábado
tranqüilo para Oscar e Vladimir, não fosse aquele dia 25 de agosto de 1973.
O texto redigido por Oscar e lido por Vladimir estava dentro do estilo
irreverente da Rádio e, como mandava a prática usual, trazia um fato encadeado a
outro, articulados de modo opinativo. O texto iniciava, segundo rememora Oscar,
exatamente dizendo o seguinte:
A Rádio Continental foi suspensa com dois dias fora do ar como punição e
foi obrigada a pagar multa, em dinheiro, além de responder a inquérito. Oscar
Flores perdeu seu emprego e, também, respondeu a inquérito. Em 1973, Oscar não
esquece, aconteceu sua formatura em jornalismo. E ele já estava “batizado”.
Aquele ano, pela primeira e única vez, a Rádio fizera a cobertura especial
das eleições municipais e estava desejando feliz ano novo com uma mensagem
institucional gravada por Fernando Westphalen.
líder Gamal Abdel Nasser (1918-1970). Para aquele grupo político-militar, era
fundamental deter o poderio da Rede Globo, impedir a expansão da mesma no
país, delimitar a importância e o domínio da empresa de Roberto Marinho na
comunicação e no cenário político nacional.
7.1.42 O Mapa
Esta ação crítica dos usuários, referida pelos autores, recaindo sobre
diferentes escopos de produção midiática, sobre linguagens, gêneros socialmente
compartilhados, sobre a cultura de geração/interpretação de sentidos, nós
localizamos, exemplarmente, na Continental. Os autores indicam como exemplo,
pela capacidade interpretativa e processo de aprendizagem crítica, a experiência
com cine-clubes, na década iniciada em 1970 (CALAZANS; BRAGA, 2001,
p.132).
Desde Oliver Sacks, e antes deste, com Sigmund Freud, sabemos que é
possível, através da escuta, construir nexos, desvendar proposições, investigar
enigmas, construir sentidos e significações. O rádio possibilita ao ouvinte uma
experiência particular. Socialmente, ergue-se como “cortina sonora” e “capa
protetora” para sujeitos da identidade de escuta, seja na fruição do consumo, seja
na estesia da música. Individualmente, oportuniza desde o zapping despretencioso
até o mergulho em rios profundos intrapsíquicos, “fontes de espaço auditivo”,
diria Mcluhan (1967, p. 335). A presente pesquisa advoga para a Continental a
realização de partes destes trabalhos, mesmo que em processo de descontinuidade,
configurando uma paidéia radiofônica situada na cidade de Porto Alegre, na
década iniciada em 1971, para jovens universitários e estudantes da classe média.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos oitenta e dois anos, o rádio surgiu para a civilização brasileira,
primeiramente, como experiência cultural de gente chic e letrada, cresceu em
importância até tornar-se coqueluche popular, sobretudo, a partir da
industrialização iniciada a contar da Revolução de 1930, e seguiu em frente, em
interações sociais e interlocuções crescentes e massivas, dentro de um país semi-
alfabetizado e de dimensões continentais.
Neste contexto, a história oral surgiu como fonte teórica e ponte técnica
para o contato possível com a memória social dos protagonistas, com aqueles que
fizeram a Rádio, ouvidos em entrevistas em que o conjunto de vozes era sinônimo
de oportunidade única para, até certo ponto, voltarmos a ouvir a Continental, sob
novo prisma, já dentro do projeto acadêmico da pesquisa.
Assim, ficou claro que a Continental não nascia como expressão de uma
única voz. E esta estruturação polivox da Continental verificamos não somente a
partir da articulação múltipla de gêneros musicais. Estava, igualmente, pela
polifonia provocada pelos diferentes discursos dispostos e em disputa, inclusive,
na oferta múltipla dos falares. Diante do sistema, como voz política, diante do
autoritarismo e diante da cultura estabelecida, a Continental erguia-se,
cotidianamente, como contravoz de juventude oposicionista em Porto Alegre. O
feixe de vozes da Continental, assim, articulava, ao mesmo tempo, diferentes
gêneros musicais e diferentes discursos em polifonia unificada pela contraposição
marcada na programação, ao vivo, da Rádio.
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2 ENTREVISTAS
Bertoldo Lauer Filho, responsável técnico pelo som. Entrevista pessoal para
Autor, concedida em 18 de dezembro de 2003.
Clóvis Dias Costa, apresentador. Entrevista para Autor, concedida por telefone,
20 de maio de 2002.
João Batista Schuller. Entrevistas concedidas para Autor, por correio eletrônico,
entre 15 de outubro e 19 de dezembro de 2003.
Júlio Fürst, “Mr. Lee”, DJ. Entrevista concedida por telefone, em 12 de julho de
2002 e pessoal para Autor, em 3 de dezembro de 2003.
Luís Fernando Veríssimo, redator. Entrevistas para Autor, por correio eletrônico,
concedida em 7 de novembro de 2003.
Paulo Acosta, redator. Entrevista concedida para Autor, por telefone e por correio
eletrônico, respectivamente, em 28 de novembro e em 3 de dezembro de 2003.
Plínio Omar Pereira Nunes, redator. Entrevista pessoal para Autor, concedida em
1° de novembro de 2002.
Suzana Sperb Caye, viúva do “Agente 1120”. Entrevista pessoal para Autor,
concedida em 6 de dezembro de 2003.