A Injustica Do Sistema Sistema Tributario Injusto

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

A injustiça do sistema - Sistema tributário injusto

resep nasi kuning resep ayam bakar resep puding coklat resep nasi goreng resep kue
nastar rese
p bolu kukus
resep puding
brownies
resep brownies kukus
resep kue lapis
resep opor ayam
bumbu sate
kue bolu
cara membuat bakso
cara membuat es krim
resep rendang
resep pancake
resep ayam goreng
resep ikan bakar
cara membuat risoles

2009 . Ano 6 . Edição 52 - 05/07/2009

Sistema tributário injusto

Por Marcelo Maiolono Martins, de Brasília

Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social conclui que tributação perpetua


desigualdades

Osistema tributário brasileiro é injusto e contribui para a perpetuação e o aprofundamento das


desigualdades sociais, constata o estudo "Indicadores do Sistema Tributário Nacional",
elaborado pelo Observatório da Equidade, órgão do Conselho de Desenvolvimento Econômico
e Social (CEDES). O documento recebeu parecer favorável durante a 30ª Reunião Plenária do
CDES, realizada em 4 de junho, em Brasília.

De acordo com o Observatório, a injustiça tributária materializa-se, principalmente, no fato de


que quem ganha menos (trabalhadores assalariados e pobres) paga mais, favorecendo
proprietários e aplicadores, que, proporcionalmente, recolhem menos impostos. Essa
realidade, que se manifesta também territorialmente, é decorrência de cinco características que
se interrelacionam: o sistema tributário é regressivo e a carga é mal distribuída; o retorno social
é baixo em relação à carga tributária; a estrutura tributária inibe as atividades produtivas e a
geração de emprego; o pacto federativo é inadequado em relação às suas competências
tributárias, responsabilidades e territorialidades; e, finalmente, não há cidadania tributária.

Esse quadro "denuncia de forma contundente as consequências e a natureza estrutural das


iniquidades no Brasil. Isto porque o sistema tributário se constitui em instrumento de

1/6
A injustiça do sistema - Sistema tributário injusto

reprodução de justiça ou injustiça na forma de apropriar e (re) distribuir a riqueza nacional".

De acordo com os autores do texto, "a reprodução estrutural da fragilidade social é


demonstrada pela diferença entre o que pagam de tributos os que ganham menos e os que
ganham mais, entre o que é arrecadado e o que é investido em políticas públicas para a
população em maior grau de fragilidade, assim como na falta de visibilidade dos impostos
embutidos em produtos e serviços que a maioria da população paga".

Para a professora de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, Tânia Bacelar,


qualquer tentativa de mudar o sistema tributário, tornando-o mais justo, esbarrará no
Congresso Nacional e nos governos estaduais e municipais. "Em uma federação tão grande e
diversificada, qualquer mudança incomoda alguém", explica, citando o caso do Imposto sobe
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que, no Brasil, ao contrário do que ocorre em
todos os países que cobram tributo semelhante, é arrecadado pelo estado produtor e não pelo
estado consumidor. "Assim, São Paulo, justamente o estado mais industrializado, recolhe um
percentual sobre tudo o que vende para as demais unidades da federação", diz a economista,
membro do CDES e ex- secretária de Fazenda de Pernambuco.

De fato, reforma tributária é um tema sobre o qual o Congresso Nacional já se debruçou várias
vezes, nas últimas décadas. Em vão. Desde 2007, um projeto de autoria do Executivo tem sido
discutido e sucessivamente alterado, recosturado e retardado em sua tramitação. A poucos
dias do recesso parlamentar de julho, o governo ainda tentava articular com os líderes dos
partidos políticos um novo texto de consenso.

Entre as propostas está a transferência da cobrança do ICMS da origem para o destino,


corrigindo a distorção apontada por Tânia Bacelar.

Outras mudanças propostas são a criação de uma única legislação nacional; a redução do
volume de tributos e a desoneração das folhas de pagamentos e investimentos. Há, também, a
intenção, por parte de algumas correntes, de vincular certas receitas a gastos específicos,
como educação, saúde e previdência, um complicador a mais na negociação.

No estudo "Avaliação dos impactos macroeconômicos e de bem-estar da reforma tributária no


Brasil", os economistas Ricardo de Castro Pereira, da Universidade Federal do Ceará, e Pedro
Cavalcanti Ferreira, da Fundação Getúlio Vargas, estimam que a proposta do governo, se
aprovada, terá impactos significativos no aumento da renda per capita, do produto interno bruto
e no emprego. De acordo com o documento, a criação do IVA (Imposto sobre o Valor Agregado
Federal), em substituição aos tributos cumulativos como o PIS, Cofins e o ICMS, a
desoneração tributária completa dos investimentos e da folha de pagamento das empresas vão
impactar positivamente a economia.

Conscientização - Para Antoninho Trevisan, membro do Conselho e um dos que colaboraram


na elaboração do documento do Observatório da Equidade, a sociedade precisa ser informada
sobre o quanto paga de tributos indiretos. "Sem essa conscientização", diz, "não haverá
mobilização e, portanto, será difícil fazer com que o Congresso, os estados e os municípios
reflitam a unanimidade que o trabalho do Observatório da Equidade reflete em relação à

2/6
A injustiça do sistema - Sistema tributário injusto

questão fiscal".

"Trata-se, sem dúvida, de um documento histórico. Pela primeira vez, temos um trabalho claro,
acessível, que demonstra, com isenção e sem comprometimentos partidários, que o sistema
tributário brasileiro é inadequado", diz, acrescentando que de sua elaboração participaram,
efetivamente, todos os setores da sociedade (empresários, governo, trabalhadores, academia),
o que assegura legitimidade ao documento. Para o empresário, o primeiro passo para se
avançar na direção do que o CDES propõe, antes mesmo da reforma tributária, é procurar
reduzir os impostos indiretos. Injustos, eles incidem sobre o produto e, portanto, são cobrados
de todos que consomem, independentemente da renda.

Para o diretor de Estudos Sociais do Ipea, Jorge Abrahão, o grande mérito do estudo
elaborado pelo corpo técnico do Observatório da Equidade é a "quantificação de uma realidade
e, consequentemente, a possibilidade de, daqui a um ou dois anos, à luz de uma nova
pesquisa, poder dizer se o Brasil avançou ou regrediu" na questão da equidade tributária.

Abrahão diz que o brasileiro sempre reclama que paga muito imposto, mas, na verdade há uma
má distribuição da carga tributária. Para exemplificar, ele diz que o documento elaborado pelo
Observatório mostra que, de fato, a maioria da sociedade paga demais, enquanto uma
pequena parcela, a dos mais ricos, paga de menos. "O setor que se sustenta sobre o
patrimônio não paga imposto. Recolhe, mas não paga, na verdade, porque repassa para o
preço final ao consumidor o custo dos tributos", exemplifica. O estudo do Observatório,
comenta ele, oferece à sociedade informações qualificadas e quantificadas para que essa
discussão se dê de maneira ampla, entre todos os setores sociais, sem as tendências
partidárias.

O estudo do Observatório ressalta que um sistema tributário justo "deve ter como princípio
norteador a equidade", segundo a qual o ônus fiscal deve ser distribuído de maneira
progressiva: aqueles que contam com maior nível de rendimento e estoque de riquezas devem
contribuir proporcionalmente mais com o pagamento de tributos.

Não é o que ocorre. Os tributos diretos, incidentes sobre a renda e o patrimônio, têm sido
gradualmente suprimidos. E são os que permitem melhor justiça fiscal.

Até o exercício de 2008, apenas duas faixas de renda dividiam os cidadãos para efeito de
pagamento de Imposto de Renda; no passado, chegaram a haver até 13 faixas. Neste ano, o
governo ampliou a tabela para quatro faixas de rendas.

Já os tributos indiretos, incidentes sobre o consumo, não oferecem possibilidade de cobrar


menos dos mais pobres. Por exemplo, uma pessoa que ganha um salário mínimo, ao adquirir
uma geladeira, paga o mesmo montante de impostos que um cidadão com renda mais alta que
compre a mesma geladeira. A distribuição também é desigual no plano federativo: as unidades
mais pobres, que arrecadam menos, não conseguem oferecer serviços públicos com a mesma
qualidade de um estado rico.

Mesmo com o reconhecimento da injustiça do sistema pelo CDES, não há perspectiva de

3/6
A injustiça do sistema - Sistema tributário injusto

mudança no curto prazo. Na avaliação do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, feita na


reunião do Conselho, "tudo indica" que a reforma tributária não será aprovada antes de 2010.
O conselheiro Germano Rigotto disse que "falta de vontade política" ao governo para aprovar a
reforma no Congresso Nacional.

Paulo Bernardo ressaltou, entretanto, que o governo fez uma série de aperfeiçoamentos no
sistema tribuário. "Fizemos sucessivas negociações para diminuir tributos", lembrou ele,
citando como exemplo a criação do sistema de tributação simplificada para microempresas e
empresas de pequeno porte (Simples).

Para o técnico do Ipea José Aparecido Ribeiro, que trabalhou diretamente com o levantamento
de informações e na elaboração do documento final, além da injustiça cristalizada pelo sistema
tributário, o cidadão e o empresário são massacrados por uma carga de impostos muito acima
da definida em lei. Os créditos fiscais, por exemplo, não são concedidos ou o são em 12, 24 ou
36 meses.

"Imagine o caso de uma empresa que precisa investir e que, para isso, lança mão de um
programa de incentivo qualquer que lhe dá alguma isenção na compra de máquinas, por
exemplo. Só que, em vez de obter o desconto a que faz jus na hora da compra, ela precisa
esperar que o governo, federal ou do estado ou do município, lance esse crédito. Muitas vezes,
porém, são criadas enormes dificuldades burocráticas que impedem ou dificultam a efetivação
do benefício", explica. Esse custo segundo ele, no fim das contas, cairá no bolso do
consumidor final.

Observatório da Equidade destaca cinco pontos críticos do sistema tributário brasileiro:

- A distribuição da carga tributária desrespeita o princípio da equidade. Em decorrência do elevado


- O retorno social é baixo em relação à carga tributária. Dos 33,8% do PIB arrecadados em 2005, a

- Há grande número de tributos, tributação em cascata, tributação da folha de pagamentos, excesso


- A distribuição de recursos no âmbito da federação não se orienta por critérios de equidade. O des
- Não se verificam as condições adequadas para o exercício da cidadania tributária. Como os tributo

4/6
A injustiça do sistema - Sistema tributário injusto

Pobre paga mais

Estudo do Ipea confirma: população de menor renda é penalizada pelo sistema tributário
brasileiro

Oestudo "Receita pública: quem paga e como se gasta no Brasil", divulgado no mês passado
pelo Ipea, confirma as conclusões do Observatório da Equidade: os pobres são mais
penalizados pela carga tributária do que a parcela que tem ganhos mais altos. Segundo o Ipea,
os trabalhadores que ganham o equivalente a até dois salários mínimos trabalham 197 dias por
ano para pagar impostos. Já os que ganham mais de 30 salários mínimos destinam 106 dias
por ano ao pagamento de tributos. Se a carga tributária fosse distribuída igualmente entre
todos, cada contribuinte teria que trabalhar 132 dias por ano para pagar impostos.

De acordo com o estudo, a faixa salarial de até dois mínimos arca com uma carga tributária de
53,9%, percentual que diminui gradativamente nas faixas de maior rendimento. A carga
tributária cai para 41,9% na faixa salarial entre dois e três salários mínimos, para 37,4% na
faixa entre três e cinco salários, até chegar a 29%, paga por quem ganha mais de 30 salários
mínimos por mês.

O estudo, feito com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e
da Secretaria do Tesouro Nacional, pressupõe uma carga tributária total de 36,2%, no ano de
2008.

Os dados do IBGE demonstram que os proprietários - empresários e trabalhadores por conta


própria - ficam com 51,7% do produto interno bruto (PIB) brasileiro. Os assalariados (ou não
proprietários) ficam com os 48,3% restantes. Mas na hora de pagar impostos, os proprietários
arcam com a menor parte: 13,6% de carga tributária, enquanto os assalariados contribuem
com 24,4%. "Os não proprietários têm uma carga tributária bruta 78,1% superior à dos
proprietários", explicou José Aparecido Ribeiro, técnico do Ipea, durante a divulgação do
estudo, resultado de parceria do instituto com a Secretaria da Receita Federal.

Os técnicos do Ipea defendem no estudo um sistema tributário progressivo, de forma que os


contribuintes de maior renda paguem proporcionalmente mais impostos. "Estudos recentes,
entretanto, têm demonstrado que o sistema tributário brasileiro faz exatamente o contrário -
tributa mais os mais pobres. Os 10% mais pobres da população brasileira destinam 32,8% da
sua renda para o pagamento de tributos, enquanto que para os 10% mais ricos, o ônus
estimado é de 22,7% da renda", relatam.

Mas o estudo pondera que o dinheiro arrecadado financia inúmeros serviços e programas
sociais, como a Previdência Social, educação e saúde e também paga a conta de juros do
governo. O pagamento de aposentadorias e pensões previdenciárias urbanas, por exemplo,
consome 4,53% do PIB, ou 16,5 dias de trabalho de cada contribuinte. O pagamento desses
benefícios aos trabalhadores rurais consome mais cinco dias de trabalho de todos. O programa
Bolsa Família, que em 2008 beneficiou 11,6 milhões de famílias, custa 0,38% do PIB ou 1,4 dia
de contribuição.

5/6
A injustiça do sistema - Sistema tributário injusto

Além dos gastos na área social, o dinheiro arrecadado com impostos financia investimentos em
infraestrutura, segurança nacional, segurança pública e meio ambiente, por exemplo. "É
importante esse exercício para dar visibilidade ao fato de que a arrecadação dos tributos não
desaparece pura e simplesmente nas entranhas da burocracia. Ela financia a atuação do
Estado, e boa parte desta atuação se dá pelo pagamento de benefícios de distintas formas, e
pela prestação de bens e serviços a enormes contingentes da população", ressalta o
documento.

Entre as grandes despesas, pagas pelos contribuintes, está a conta de juros: "É importante dar
o devido destaque ao montante destinado ao pagamento de juros da dívida pública", que, no
ano passado, consumiu 3,8% do PIB. Os contribuintes brasileiros trabalham 14 dias por ano só
para pagar juros da dívida pública. "Mas a situação já foi ainda mais grave: em 2007, as
despesas federais com juros foram de 5,4% do PIB, o equivalente a cerca de 19,5 dias de
trabalho do contribuinte", lembra o estudo. A conta de juros, incluindo os gastos dos estados e
municípios, consumiu, em 2008, quase um sexto de toda a carga tributária arrecadada.

6/6

Você também pode gostar