Desigualdade e Imposto

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

EDUARDO MARIOT GRR20152897


JOSÉ ALEMAR GRR20192361
PAULO CALLUF GRR20192424
VITOR RIBEIRO GRR20190127

DESIGUALDADE E IMPOSTO

CURITIBA-PR
2022
1. Imposto de renda e desigualdade

1.1 Tributação

Os gastos do governo podem ser financiados por meio de emissão de moeda,


lançamento de títulos, empréstimos e, principalmente, pela tributação: a
transferência compulsória de recursos dos entes privados para o setor público.

De acordo com Riani (2013), o mecanismo da tributação, associado às


políticas orçamentárias, intervém diretamente na alocação dos recursos e sua
distribuição na sociedade, podendo ter impacto, também, na redução das
desigualdades em relação à riqueza, renda e consumo. Desta forma, o sistema de
tributação varia de acordo com as políticas econômicas e sociais adotadas em cada
país.

Das principais análises que apontam como o sistema de tributação deve


funcionar, no geral, espera-se que sigam os seguintes pontos:

● Cada indivíduo deve ser taxado de acordo com a sua habilidade para pagar;

● Os tributos devem ser universais, impostos sem distinção a indivíduos em


condições similares;

● Os tributos seriam escolhidos de forma a minimizar sua interferência no


sistema de mercado, a fim de não torná-lo mais ineficiente.

1.2 Princípios e teorias da tributação

Com o objetivo de ser o mais justo possível, os sistemas de tributação


baseiam-se nos princípios do benefício e da habilidade de pagamento.

O princípio do benefício estabelece que cada indivíduo na sociedade pague


um tributo de acordo com o montante de benefícios que recebe do Estado, tornando
o sistema tributário mais eficiente e evitando que um contribuinte pague pelo
benefício de outro. No entanto, esse princípio tem complexa aplicação, pois é difícil
estabelecer qual o grau de benefício gerado para cada indivíduo, uma vez que os
agentes são resistentes a revelarem suas preferências, muitos decidem atuar como

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free-riders. Tem-se ainda a dificuldade de medir o benefício individual, em termos
monetários, que definiria o valor do imposto a ser pago.

O princípio da habilidade de pagamento estabelece que indivíduos com


habilidades iguais devem contribuir com o mesmo montante, enquanto indivíduos
com habilidades diferentes devem ter um pagamento diferenciado, tornando o
sistema tributário mais justo. A dificuldade nesse caso consiste em estabelecer um
sistema que defina os níveis adequados de tributação para cada classe de
indivíduos, que permita diferenciá-los de acordo com sua habilidade ou capacidade
de pagamento.

Levando em consideração esses princípios, podemos destacar duas


principais teorias de tributação: Teoria da Tributação Equitativa (TTE) e Teoria da
Tributação Ótima (TTO).

A TTE está baseada no princípio da habilidade de pagamento e é tida


atualmente como fundamento na formulação de sistemas tributários em diversos
países. Ela prevê uma diretriz comum de tributação para a população,
independentemente de uma correlação entre os cidadãos e as melhorias geradas
por atos do ente público (princípio do benefício). Nesse sentido, a adoção de um
sistema de tributação proporcional (um percentual de imposto único, independente
do nível da renda) gera equidade horizontal, mas não tem nenhum efeito sobre a
distribuição da renda na sociedade, enquanto a adoção de um sistema de tributação
progressivo (percentual do imposto a ser pago aumenta como o aumento no nível da
renda) gera equidade vertical (maior justiça tributária e redistribuição da riqueza). Já
um sistema regressivo (o percentual imposto a ser pago diminui com o aumento no
nível da renda) piora a distribuição da riqueza e a concentra nas classes de maior
poder aquisitivo.

A TTO defende, primeiramente, atingir os objetivos da eficiência econômica,


causando o menor impacto possível nas decisões das pessoas (sistema de
tributação neutro). Os precursores da TTO defendiam a tributação do consumo, com
alíquotas maiores para bens com baixa elasticidade, e uma menor tributação sobre a
renda. Os teóricos da TTO são críticos da TTE pois acreditam que num sistema de
tributação progressivo, as alíquotas marginais altas e crescentes tenderiam a
desincentivar os indivíduos mais produtivos, resultando em uma perda econômica
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para o conjunto da sociedade e, consequentemente, menor receita para o Estado. A
TTO tem sido revista por diversos autores, que num contexto de crescimento dos
níveis de desigualdade, têm incorporado à teoria mecanismos de taxação de renda e
patrimônio e uma menor tributação sobre bens básicos consumidos pelos mais
pobres.

1.3 A tributação no Brasil

Na Constituição Federal de 1988, os direitos sociais da população brasileira


foram ampliados e universalizados, em consonância com a TTE. O Sistema
Tributário Brasileiro prevê impostos, taxas, empréstimos compulsórios, contribuições
de melhoria e contribuições sociais, que podem ser arrecadados pelos governos
federal, estadual e municipal, e se apresenta em um emaranhado complexo de
normas federais, estaduais e municipais. De forma geral, os impostos incidem sobre
três bases: o consumo, a renda e o patrimônio dos cidadãos e das empresas.

Atualmente, no Brasil, os tributos sobre o consumo (impostos indiretos)


respondem por 43% da arrecadação total, enquanto tributos sobre a renda
correspondem a 22,5% e tributos sobre o patrimônio a 4,5%. Em países
desenvolvidos, a tributação sobre o consumo é menor, com uma média de 33% para
os integrantes da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE), sendo 23,5% no Canadá e 17,5% nos Estados Unidos. A tributação sobre a
renda e sobre o patrimônio têm também médias maiores, de 33,5% e 5,5%,
respectivamente, para a OCDE. Para o Canadá são de 48% sobre a renda e 11,5%
sobre o patrimônio.

Estudos recentes relacionam como o sistema tributário brasileiro tem


contribuído para a manutenção do nível elevado de desigualdade e concentração de
renda no país nas últimas décadas. No caso do consumo, como os tributos
incidentes sobre determinada mercadoria são iguais para qualquer consumidor,
quem ganha pouco, na comparação com quem ganha muito, acaba perdendo uma
parte maior da sua renda com esses tributos na hora da compra.

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Os impostos sobre veículos, imóveis e terras, pagos por ricos e pobres,
também estão desequilibrados. Em muitas cidades, em especial nas menores, os
imóveis não estão detalhadamente cadastrados, e o valor do imposto acaba sendo
apenas simbólico — pesando mais no bolso dos pobres. Mesmo quando estão
corretamente cadastrados, o valor venal de casas, apartamentos e terrenos costuma
estar defasado, não correspondendo ao preço de mercado. Tal defasagem prejudica
mais os pobres no pagamento do IPTU. Já o Imposto Territorial Rural (ITR), que
incide sobre as fazendas, corresponde a cerca de 0,1% da arrecadação federal.

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1.4 Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF)

O Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) no Brasil é do tipo progressivo.


Atualmente, existem cinco faixas de renda, cada uma com sua respectiva alíquota
do imposto. A faixa mais baixa atinge as pessoas com rendimento mensal de até R$
1.903,98, que ficam isentas do tributo.

Tabela 1 - IRPF 2022

Valor a deduzir do
Base de cálculo mensal Alíquota
IR

Até R$ 1.903,98 Isento R$ 0,00

De R$ 1.903,98 a R$ 2.826,65 7,5% R$ 142,80

De R$ 2.826,65 a R$ 3.751,06 15% R$ 354,80

De R$ 3.751,06 a R$ 4.664,68 22,5% R$ 636,13

Acima de R$ 4.664,68 27,5% R$ 869,36

Fonte: Receita Federal

Na visão de muitos economistas, a desigualdade social brasileira também é


alimentada pela forma como a renda é tributada. Comparando com a prática
mundial, verifica-se que o IRPF no Brasil apresenta um perfil brando se comparado
com outras administrações tributárias. Em sua estrutura, o IRPF utiliza faixas de
isenção relativamente altas, combinadas com uma alíquota marginal máxima de
27,5%, o que restringe sua capacidade distributiva, colocando-a abaixo da média de
países da OCDE.

Para além dos rendimentos tributados sob a estrutura de alíquotas


progressivas, o IRPF é ainda mais leniente com as rendas de capital. Tributadas
exclusivamente na fonte, por alíquotas lineares ou simplesmente isentas, como o
caso notório da distribuição de lucros e dividendos (isentos desde 1996), este fato
coloca o Brasil em um reduzido grupo de nações que não taxam essa renda paga a
pessoas físicas.

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Também é consenso que o teto salarial que garante a isenção do IRPF está
defasado, fazendo com que muitas pessoas de baixa renda fiquem acima dele e
tenham que pagar o IR. Outro problema é que a faixa mais alta atinge as pessoas
com rendimento mensal a partir de R$ 4.664,68, obrigando-as a pagar a alíquota
máxima de 27,5%. Isso significa que quem recebe R$ 5.000,00 por mês paga a
mesma alíquota de quem recebe, por exemplo, R$ 50.000,00. Em outros países é
possível encontrar mais faixas salariais e alíquotas superiores, na Coreia do Sul, por
exemplo, há sete faixas, e a alíquota mais alta do Imposto de Renda é de 42%.

1.5 Patrimônio x Renda

Embora previsto na Constituição Brasileira, o Imposto Sobre Grandes


Fortunas (IGF) nunca foi implementado por falta de lei que a regulamente, definindo
o que é uma grande fortuna e qual o valor do imposto a ser cobrado.

Outra discussão sempre presente em debates sobre o sistema tributário


brasileiro é se deveria ser cobrado Imposto de Renda sobre a transmissão de
patrimônio através de doação e herança. Do ponto de vista teórico, heranças e
doações não constituem renda, mas meras transferências de capital e, portanto, não
são alcançadas pelo imposto de renda. No entanto, para economistas, todos os
acréscimos patrimoniais constituem “renda”, uma vez que aumentam o patrimônio do
destinatário, sendo também passíveis de tributação.

2. A estabilidade da desigualdade de renda no Brasil

A desigualdade de renda está relacionada aos níveis de educação, saúde,


nutrição, mortalidade, violência e várias outras características da sociedade, cujas
mudanças são frutos da efetividade das políticas públicas. Já a concentração ou não
da renda estabelece como funciona, na prática, o sistema tributário que é a fonte de
recursos para praticamente todas as políticas públicas.

O estudo a seguir, elaborado por pesquisadores do Departamento de


Sociologia da Universidade de Brasília em 2014, mostra que, mesmo no contexto de
crescimento econômico vivenciado pelo Brasil entre os anos de 2006 e 2012, há

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evidências que a desigualdade de renda no Brasil é mais alta do que se imaginava e
permaneceu estável no período.

Com o objetivo de mensurar o nível e a evolução da desigualdade de renda


no Brasil entre 2006 e 2012 e a parcela do crescimento da renda apropriada por
diferentes grupos sociais, os pesquisadores utilizaram os dados tributários
provenientes da Declaração Anual de Ajuste do Imposto de Renda da Pessoa Física
(DIRPF) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

O PNAD é uma pesquisa domiciliar feita pelo IBGE que produz informações
básicas para o estudo do desenvolvimento socioeconômico e permite a investigação
dos indicadores conjunturais de trabalho e rendimento.

Os autores, no entanto, consideram que tanto a DIRPF quanto a PNAD são


distribuições incompletas: a primeira não traz informações adequadas sobre a
população mais pobre, por não declarar IR; e a segunda, não parece cobrir a
população mais rica. Ao combinar ambas procura-se suplantar as deficiências de
cada uma.

Embora existam vários fatores concorrendo para que o Brasil seja um dos
países mais desiguais do mundo, a concentração de renda é uma das mais
importantes. Ela deixa para trás metade da população brasileira, que divide apenas
10% do total da renda do país. Enquanto os 10% mais ricos ocupam 60% do total da
renda. Tal concentração de recursos acaba por definir uma assimetria de poder que
afeta todas as relações, desde a distribuição das oportunidades, à sobreposição do
poder econômico sobre o poder político, afetando o próprio funcionamento da
democracia e do sistema tributário, que passa a reproduzir a desigualdade do
sistema.

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Gráfico 1

Curva de Lorenz: Segundo o artigo de referência, 90% da população possui 40% da renda. Medida a
partir de dados tributários que indica estabilidade do índice.

Estudos de desigualdade brasileira a partir da análise dos dados da PNAD


entre 2001 e 2011, defende a redução da desigualdade em uma perspectiva
histórica, na primeira década dos anos 2000, recuando abaixo do piso da série
histórica, que passou a ser calculado em 1960. Para a pesquisa, observou-se um
aumento do índice de Gini entre 1960 e 1990 para então experimentar uma redução
expressiva a partir dos anos 2000. Os resultados desta pesquisa foram celebrados
pela sociedade brasileira, ganhando amplo destaque na mídia nacional.

Quando se considera a análise dos dados provenientes da Receita Federal,


os resultados são distintos daqueles provenientes da PNAD, e apontam que a
desigualdade permaneceu estável entre 2006 e 2012. Combinando dados da PNAD
com dados tributários pretende-se alcançar a classe de renda mais alta, que tende a
ocultar a renda na pesquisa por domicílio. Tais pesquisas, portanto, tendem a
subestimar o rendimento dos mais ricos, principalmente porque não podem
mensurar os rendimentos de ganhos de capital e sofrem com a recusa dos mais
ricos em participar das pesquisas.

Com os dados da DIRPF pretende-se incluir rendimentos que não são


contabilizados das pessoas que ganham mais, ou seja, daquelas que respondem
por 60% da renda no Brasil. Nos seis anos avaliados, o nível de concentração de

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renda manteve-se praticamente estável, com o coeficiente de Gini maior e mais
estável que aqueles obtidos com os dados do PNAD.

Fonte: Neri e Souza (2012) e Medeiros e Souza (2016)

Foram combinados dados da PNAD de 2006 a 2012 a dados da DIRPF de


2006 a 2012 para se produzirem distribuições completas de rendimentos. As
informações do PNAD provêm de microdados com ponderações atualizadas até
dezembro de 2013 ao passo que as informações da DIRPF têm dupla origem: parte
é publicada pela Receita Federal do Brasil (RFB) em seu site e parte foi
originalmente produzida para o estudo de Castro (2014) sobre incidência tributária.
Como estes dados consistem de tabulações, para obter frações exatas de
população foram realizadas interpolações de Pareto, conforme a metodologia usada
por Piketty (2001). Os 90% mais pobres são representados por meio do PNAD e os
10% mais ricos por meio da DIRPF.

O gráfico abaixo, produzido pelos autores em um estudo complementar,


aponta a estabilidade do índice de Gini no período.

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Gráfico 3

Fonte: Medeiros e Souza (2016)

Quando as rendas no topo da distribuição são ajustadas a partir de dados


tributários, a queda na desigualdade deixa de existir.

Neste gráfico é possível observar que a estabilidade da desigualdade se


mantém quando retirados a base da distribuição, os 25% mais pobres, todos de
renda zero e praticamente todos os adultos com renda muito baixa. Neste caso,
observa-se uma pequena queda no índice quando é composto pelos três quartos
superiores da renda da população. Mas quando a alteração vem no topo da
distribuição, os 5% mais ricos, a tendência de desigualdade passa a ser de queda e
o nível de desigualdade cai consideravelmente. A mudança causada pelos 5% mais
ricos é claramente mais forte que aquela causada por um grupo cinco vezes maior,
os 25% mais pobres. Ou seja, os ricos afetam muito mais o comportamento da
desigualdade que os pobres.

3. IDH e combate à pobreza

Segundo recente estudo publicado pelo IBGE[1], o índice de Gini não deve
ser utilizado isoladamente como um indicador para avaliar a desigualdade ou as
condições sociais de um país pelo simples fato de que desigualdades sempre
existirão.

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Uma variável importante para esse fim é o índice de desenvolvimento humano
(IDH), criado em 1990 pelo PNUD – Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, que leva em consideração três características socioeconômicas
de uma região: Expectativa de Vida ao Nascer; Anos de Estudo e PIB per capita.

No gráfico abaixo temos o IDH do Brasil entre 1990 e 2019, mostrando


claramente a evolução positiva ao longo dos anos.

Gráfico 4 - IDH Brasil (1990-2019)

Fonte: CNN Brasil

Segundo a reavaliação da desigualdade, proposta por Medeiros, Souza e


Castro (2014), com base nas Declarações de Imposto de Renda das Pessoas
Físicas, o Brasil é o país mais desigual do mundo, passando do 9º pior para 1º,
enquanto países africanos apresentam desigualdades menores, mas IDH também
menores.

Ou seja, é a pobreza e não a desigualdade que deve ser combatida, o que –


no Brasil – tem-se conseguido, com relativo sucesso, nas últimas décadas.

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Como medidas para o desenvolvimento e o combate à pobreza destacam-se:
investimentos em infraestrutura (estradas, portos, ferrovias, aeroportos); maior
abertura econômica; maior cooperação entre governo, empresários e trabalhadores;
fortalecimento do Estado de Bem-estar Social (previdência, saúde, educação e
outras transferências de renda) e do consumo interno; e investimentos em pesquisa
e inovação.

3.1 Reflexões para uma reforma tributária

Economistas afirmam que, comparativamente a outros países que também


oferecem educação e saúde gratuitas, a carga tributária nacional não é elevada,
mas sim desigual (elevada para os mais pobres). Uma reforma tributária mais
alinhada à TTE, que reduzisse os tributos do consumo (aliviando a cobrança dos
pobres) e ao mesmo tempo eleva os tributos da renda e do patrimônio (exigindo
mais dos ricos), não alteraria a carga tributária total, pois redução e aumento seriam
proporcionais. Argumentam ainda que tais medidas seriam benéficas para o próprio
capitalismo, que precisa de consumidores com poder de compra, além de serem
defendidas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Um estudo elaborado pelo economista Rodrigo Cardoso Fernandes do Centro


de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas
Gerais (Cedeplar/UFMG) em 2016, aponta que uma tributação sobre os lucros e
dividendos nas modalidades linear (alíquota de 15%) e progressiva (variando entre
15% e 27,5%) elevaria consideravelmente a arrecadação (entre R$ 22 bilhões e R$
39 bilhões) e causaria uma redução de 2,23% e 2,67% no Índice Gini,
respectivamente, ilustrando a concentração desproporcional dos lucros e dividendos
nos estratos superiores. Enquanto a tributação pelo IRPF original reduz o Gini em
apenas 1,69%.

Outra visão, herdada da TTO e da Escola Austríaca de Economia,


normalmente ligadas a economistas com vertente mais liberal, acreditam que a
tributação deve buscar primordialmente a eficiência econômica, resgatando
princípios com ter uma base larga de contribuintes (isonomia); incidência em face de
uma demanda inelástica (contribuintes não teriam como evitar); regras simples
(segurança jurídica); e alíquota não progressiva (tributo proporcional).

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Na sua reflexão, entendem que a tributação sobre Renda e Consumo, como
instrumento para Redistribuição da Renda diminui tanto a produção quanto o poder
aquisitivo dos contribuintes, levando a uma perda de qualidade de vida (Hoppe);
tributação sobre o Patrimônio (acumulação de renda) reduz a criação de nova
riqueza e o padrão de vida (Hayek); tributos geram distorções no sistema de preços
= peso-morto (Mises); justiça social orienta ações políticas que aproximam o Estado
de um Sistema Totalitário; e Impostos sobre o Capital, a Herança e a Propriedade
são autodestrutivos se levados a extremos (Rothbard).

Uma outra vertente defende a criação de um novo tributo que incida sobre a
movimentação financeira, com a pretensão de ser um Imposto Único, substituindo
todos os demais impostos existentes no país, e que cumpriria bem o papel do tributo
ótimo. Uma proposta do atual governo federal para tal imposto, com alíquota de
0,2%, prevê arrecadar cerca de 125 bilhões de reais, sobre uma movimentação
financeira anual estimada de 62 trilhões de reais.

Segundo dados do IBGE, o PIB brasileiro em 2021 foi de 8,7 trilhões,


resultando em uma arrecadação total de 3,13 trilhões, sendo 1,9 tri em tributos
federais e 1,23 tri em tributos estaduais e municipais, ou seja, cerca de 36% sobre o
PIB nacional.

Ora, um imposto único com alíquota de 6% sobre a movimentação financeira


estimada de 62 trilhões de reais, teria a capacidade de arrecadar 3,72 trilhões
(42,5% do PIB), 16% a mais do que a arrecadação atual – de forma imediata e muito
mais eficiente.

Os efeitos imediatos deste Imposto Único seriam a redução dos preços de


todos os produtos e serviços, entre 30 a 40%, aumentando o poder de compra dos
cidadãos; acabando com discussões como tributação sobre dividendos, herança,
grandes fortunas, capital estrangeiro, guerra fiscal, cumulatividade, isenções; efeito
cascata; redução da máquina pública, com a diminuição do quadro de funcionários
públicos em todos os poderes, nas três esferas; inclusão de parcela significativa de
não-contribuintes, como crime organizado, sonegadores.

Duas questões merecem atenção em uma proposta audaciosa como está: a)


uma parcela considerável dos contribuintes pode buscar maneiras de escapar do

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sistema financeiro nacional (SFN), substituindo suas movimentações financeiras por
dinheiro, criptomoedas, e outras práticas de elisão fiscal; b) a necessidade de
criação de um mecanismo justo e automático de distribuição do montante
arrecadado, entre a União, os Estados e os Municípios, evitando entraves, atrasos e
interferências políticas nos repasses.

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Referências

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Janeiro: LTC,2013.
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