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ALTA SOROCABANA: UMA AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE

DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO A PARTIR DO CAFÉ

Cesar Augusto Ilódio Alves


Fabio Ricci
Adriana Leônidas de Oliveira

Resumo
O presente artigo tem por objetivo realizar uma avaliação do processo de desenvolvimento
regional da região alta sorocabana, a partir do café, apontando através de bases
bibliográficas o processo ocorrido na região e sua transformação baseada nos principais
munícipios do período histórico da ascensão do café. A região da Alta Sorocabana, está
localizada na região Oeste do Estado de São Paulo e sua composição atual abriga 36
munícipios, segundo o IBGE e a fundação Seade, perfazendo uma região bastante
importante ao Estado por razões econômicas. Esta teve seu processo de evolução
decorrente de diversas variáveis, mas principalmente a partir do processo de expansão das
ferrovias, que tornaram o acesso a ela facilitado e que permitiram a expansão produtiva do
café, algodão, cana de açúcar e outros produtos agrícolas, possibilitando assim à condição
destes poderem ser escoados a outras regiões e até mesmo levados a exportação. Em
virtude de sua extensão territorial está também se tornou atrativa aos desbravadores que lá
foram instalando se e constituindo vilarejos que mais tarde se tornaram cidades referências
a região, por um ou outro fator. O presente trabalho foi organizado de forma a propiciar
entendimento do leitor, mesmo que leigo ao assunto, sem deixar de atender ao objetivo
proposto. Para isto, este artigo está dividido em quatro partes, além desta: (1) referencial
teórico, que aborda a teorização sobre o assunto tratado; (2) método, descrevendo os
procedimentos adotados pelos autores; (3) discussão; e, por último, (4) considerações.
Palavras-chave: Gestão e desenvolvimento regional. Região Alta Sorocabana. Café.

HIGH SOROCABANA: A REGION OF DEVELOPMENT REVIEW OF COFFEE FROM

Abstract
This article aims to conduct an assessment of the regional development process of high
sorocabana region, from coffee, pointing through bibliographic databases the process
occurred in the region and its transformation based on the main municipalities of the historic
coffee rise period. The region of Upper Sorocabana, is located in the state's western region
of São Paulo and its current composition is home to 36 municipalities, according to IBGE and
SEADE foundation, making a very important region to the State for economic reasons. This
had its development process due to several variables, but mainly from the expansion of
railroads process, which made access to it easier and that allowed the coffee production
expansion, cotton, sugar cane and other agricultural products, thus enabling the condition of
these can be disposed of to other regions and even led to export. Because of its territorial
extension it is also become attractive to explorers who have been there if installing and
constituting villages that later became cities references the region, by either factor. This work
was organized in order to facilitate understanding of the reader, even lay the matter, while
meeting the objective. Therefore, this article is divided into four parts, in addition to this: (1)
theoretical framework that will address the theorizing about the subject matter; (2) method,
describing the procedures adopted by the authors; (3) discussion; and finally, (4)
considerations.

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Keywords: Management and regional development. Region High Sorocabana. Coffee.

1. Introdução

A região da Alta Sorocabana tem por sede política administrativa a cidade de


Presidente Prudente. A Alta Sorocabana está localizada na região Oeste do Estado de São
Paulo, fazendo fronteira com os estados do Mato Grosso do Sul e Paraná, sendo
considerada está uma sub-região da 10ª Região Administrativa do Estado de São Paulo, por
estar contida em uma região maior que é a Oeste, a qual ainda abriga outras três sub-
regiões além da Alta Sorocabana, a Alta Paulista, Extremo Oeste e Noroeste Paulista,
conforme apontado por Olivetti (2005).
A Alta Sorocabana é uma importante região do estado de São Paulo que acabou por
desenvolver e expandir muito por decorrência do incremento das estradas de ferro,
implantadas principalmente para atender interesses de fazendeiros e empresários, que
investiram na construção destes aparatos a partir de 1867, visando a redução de seus
custos e ampliação de suas margens de lucratividade, através da implementação logística
para transporte de seus produtos, na época sendo um dos principais produzidos, o café.
O presente trabalho foi organizado buscando possibilitar o entendimento do leitor,
mesmo que leigo ao assunto, sem deixar de atender ao objetivo proposto. Para isto, este
artigo está dividido em quatro partes, além desta: (1) referencial teórico, onde será abordada
a teorização do assunto; (2) método, descrevendo os procedimentos adotados pelos
autores; (3) discussão; e, por último, (4) considerações, traçadas pelos autores.
Esta se justifica por contribuir com uma avaliação do processo de desenvolvimento
regional da região Alta Sorocabana, a partir do café, através de pesquisas que permitiram
aos autores, identificar o atual grau de especialização e concentração de atividades
produtivas desta cultura e outras também, que possibilitaram a realização de um diagnóstico
e o apontamento das principais atividades que hoje denotam a sustentabilidade da região.
Para Riedl et all, 2008, os estudos sobre concentração e especialização são
importantes para se compreender as dinâmicas que ocorrem nos processos de
desenvolvimento local, desta forma, este estudo se faz pertinente, afim possibilitar novas
discussões em torno do papel e importância de uma ou outra cultura no desenvolvimento de
uma região e/ou munícipios.

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A partir dos estudos realizados, o que pode se apontar inicialmente é o fato que a
atividade hegemônica da região hoje não é mais a cultura do café, contudo evidenciou se
que este foi um dos principais produtos, que permitiram o desenvolvimento e
proporcionaram a condição de sustentabilidade da região no Estado e país nos dias de hoje.

2. Referencial teórico

2.1. O café no Brasil

O café no Brasil foi introduzido ainda em seu período de colonização pelos


portugueses que tinham conhecimento desta iguaria, um produto com ampla aceitação pelo
europeu. Segundo Taunay (1939, p. 263), o primeiro português que cogitou o plantio do café
no Brasil, para fins comerciais foi Duarte Ribeiro de Macedo, diplomata e escritor em 1618,
visando à obtenção de vantagens mercantis.
Porém segundo Taunay (1939, p. 267-268), após diversas recomendações e
ponderações de Antonio Vieira, acerca da condição do Brasil, ser capaz de produzir café
satisfatoriamente bem, assim como já o havia feito com outras variedades de plantas vindas
dos mais diversos lugares, Ribeiro de Macedo, aconselha ao rei, que mandasse o Brasil a
Índia ou que enviasse a Índia ao Brasil, isto é, que o permitisse levar um navio carregado de
diferentes plantas já nascidas e também pessoas especializadas em cada uma delas,
incluindo o café, para serem transplantados no Brasil, sob os cuidados destes especialistas,
em troca de produtos brasileiros.
Já em 1673, o Brasil começa a divulgação dos produtos que podem ser
comercializados a outros países, comunicando primeiramente a França, que aqui havia
cerca de 37 produtos diferentes, a ocasião, encabeçadas pelo café. Tal produção deste
produto era apontado estar sendo realizada nos estados do Maranhão e Pará, sendo o café
mais fortemente produzido no Pará.
Taunay (1939, p.272), afirma em sua obra, “A história do Café no Brasil”, não ser
possível afirmar que tais fatos sejam verídicos, pois equívocos de datas e contradições
acabaram por existir a época, contudo registros em documentos históricos apontam que
mesmo com erros não intencionais, tais fatos não poderiam ser tão longínquos a verdade.
Este relato documental apontado por Taunay (1939), se contrapõe ao que é
tradicionalmente é apontado como sendo a origem do café do Brasil, em que se afirma que
este foi trazido ao país em 1727, pelo sargento-mor Francisco de Mello Palheta, a partir da

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Guiana Francesa. Sendo contato nesta versão histórica, que este oficial foi encaminhado a
Guiana Francesa em missão diplomática, pelo então governador do Maranhão e grão do
Pará, afim de estabelecer relações diplomáticas visando solucionar problemas fronteiriços.
Os detalhes de como as mudas que vieram para o Brasil foram trazidas por ele, não
são devidamente esclarecidos, pois tais relatos sequem conotações romantizadas em
alguns apontamentos e em outros de maneira a depreciar sua conquista, alegando que
foram adquiridas por meios escusos. O certo é que após tais mudas serem trazidas ao país,
rapidamente estas se adaptaram ao clima da região de Belém do Pará, seguindo também
facilmente adaptada ao Maranhão na sequência e posteriormente Bahia e Rio de Janeiro se
alastrando por meio da Serra do Mar e chegando em 1825, ao Vale do Paraíba e Minas
Gerais.

2.2. O café no estado de São Paulo

O café adentra ao Estado de São Paulo, em 1825, vindo por meio do Rio de Janeiro,
por meio da Serra do Mar, chegando ao Vale do Paraíba e já no começo do século XX, o
Estado de São Paulo, figurava como o maior produtor de café do Brasil e também no
mundo, isto em decorrente do processo de expansão de fronteiras agrícolas, em virtude de
fatores como a migração da cultura cafeeira para áreas e regiões com menor intensificação
do processo industrial.
Por isto, o Vale do Paraíba e Litoral Norte figuraram como uma região muito
importante neste processo de expansão do café para todo o Estado, segundo Müller (1969)
a cafeicultura foi o fator que a levou a progresso e propiciou o crescimento e diversificação
das funções urbanas da região. Porém já em 1900, com o processo de exportação em alta,
decorrente da demanda internacional, o avanço desta cultura se deu a regiões ocupadas
anteriormente no período da colonização, por culturas de cana de açúcar, alimentos e gado,
estas em geral ocupadas por populações indígenas e famílias pioneiras.
A interiorização do café se deu em decorrência do processo de implantação de
ferrovias, que segundo Matos (1990, p. 59), foram construídas para “atender às
necessidades do desenvolvimento da cultura cafeeira”. Estas necessidades, apontavam o
alto custo do transporte e da mão de obra alocada para atender o escoamento da produção.
Com o estabelecimento deste tipo de transporte ferroviário em maior escala e ligações, tais
custos e encargos relacionados a transporte e mão de obra diminuíram de forma
considerável.

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Vale citar que em virtude do desinteresse da companhia inglesa que construiu a
estrada de ferro que ligava o Porto de Santos até a cidade de Jundiaí, não demonstrar
interesse em expandir seus trilhos por considerar que a sua lucratividade já era bastante
satisfatória, acabou ficando a cargo dos fazendeiros e empresários interessados, realizar a
expansão das linhas férreas para atender a seus interesses, sendo que as principais
companhias construídas por tais, as estradas de ferro Santos-Jundiaí (1867), Companhia
Paulista de Estrada de Ferro (1872), Companhia Ituana de Estrada de Ferro (1873),
Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (1875) e a Sorocaba (1875).
Com a extensão das linhas férreas advindo do investimento estrangeiro por
intermédios dos fazendeiros e empresários, que se pautaram nas possibilidades de
lucratividade, a produção de café pode ser ampliada através desta conscientização dos
produtores e empresários, interessados na exportação.

(...) com o café atingindo regiões cada vez mais distantes do


litoral, o que era possível graças à abundância de terras de
solo ainda virgem, as ferrovias surgiram para auxiliar a
produção cafeeira já existente, tornando o transporte mais
rápido, seguro e barato da produção com destino ao porto de
Santos. (Carvalho, 2007, p.2).

2.3. A região da Alta Sorocabana

A região da Alta Sorocabana atualmente, com sua sede política administrativa na


cidade de Presidente Prudente e está localizada na região Oeste do Estado de São Paulo,
fazendo fronteira com os estados do Mato Grosso do Sul e Paraná, sendo considerada está
uma sub-região da 10ª Região Administrativa do Estado de São Paulo, por estar contida em
uma região maior que é a Oeste, a qual ainda abriga outras três sub-regiões além da Alta
Sorocabana, sendo estas a Alta Paulista, Extremo Oeste e Noroeste Paulista, conforme
apontado por Olivetti (2005).
É claro que esta região assim como as demais regiões do Estado, sofreram
alterações ao longo dos tempos, não permanecendo com as suas configurações iniciais,
fato este decorrente do surgimento de alguns munícipios, desmembramento de outros e até
mesmo a extinção de outros.
Outro fator que pode se ser apontado para a diferenciação a configuração inicial, são
os nomes dos munícipios, sendo que alguns destes como é o caso de Campos Novos
Paulista, anteriormente era conhecida como Campos Novos do Paranapanema, se
modificaram.

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A localização da região pode ser melhor compreendida com a sua visualização na
figura 1, que segue, demonstrando o mapa das regiões do Estado de São Paulo.

Figura 1: Mapa das regiões do Estado de São Paulo

Adaptado pelos autores. Fonte: IEA-APTA

A região Alta Sorocabana contempla atualmente 36 municípios, sendo estes:


Agudos, Alvares Machado, Assis, Avaré, Borá, Campos Novos Paulista (Antiga Campos
Novos do Paranapanema), Cândido Mota, Chavantes, Campina Monte Alegre, Espírito
Santo do Turvo, Fartura, Ipaussu, Itatinga, Lençóis Paulista, Maracaí, Martinópolis, Óleo,
Ourinhos, Palmital, Paraguaçu Paulista, Piraju, Pirapozinho, Platina, Presidente Bernardes,
Presidente Epitácio, Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Quatá, Salto Grande,
Águas de Santa Barbara (Antiga Santa Barbara do Rio Pardo), Santa Cruz do Rio Pardo,
Santo Anastácio, São Manuel, São Pedro do Turvo, Rancharia e Regente Feijó.
A região atualmente é bastante importante ao Estado por contar com uma grande
extensão territorial (km²) produtora de diversas culturas agrícolas, industrias, prestação de
serviços e também por decorrência de seu exponencial crescimento populacional em suas
principais cidades, conforme pode ser verificado na tabela 1 a seguir.

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Tabela 1: Tabela populacional e territorial descritiva dos municípios da atual região Alta Sorocabana
Área Densidade
Municípios População População Territorial Demográfica
estimada (2015) (2010) (km²) (hab/km²)
AGUDOS 36.524 34.524 966.708 35,73
ALVARES MACHADO 24.651 23.513 347.646 67,69
ASSIS 101.597 95.144 460.609 206,70
AVARÉ 88.385 82.934 1.213.06 68,37
BORÁ 836 805 118.951 6,80
CAMPOS NOVOS PAULISTA 4839 4539 484.199 9,38
CÂNDIDO MOTA 31.131 29.844 595.811 50,12
CHAVANTES 12.484 12.144 188.727 64,40
CAMPINA MONTE ALEGRE 5.901 5.567 185.031 30,09
ESPÍRITO SANTO DO TURVO 4.621 4.244 193.666 21,92
FARTURA 15.960 15.320 429.171 35,70
IPAUSSU 14.579 13.663 209.554 65,17
ITATINGA 19.738 18.052 979.817 18,42
LENÇÓIS PAULISTA 66.131 61.428 809.541 75,88
MARACAÍ 13.931 13.332 533.498 24,97
MARTINÓPOLIS 25.805 24.219 1.253.53 19,33
ÓLEO 2.628 2.673 198.938 13,49
OURINHOS 110.282 103.035 295.82 347,78
PALMITAL 22.094 21.186 548.407 38,67
PARAGUAÇU PAULISTA 44.794 42.278 1.001.49 42,22
PIRAJU 29.664 28.475 504.591 56.44
PIRAPOZINHO 26.594 24.694 477.673 51,66
PLATINA 3.434 3.192 327.48 9,77
PRESIDENTE BERNARDES 13.568 13.570 749.234 18,12
PRESIDENTE EPITÁCIO 43.535 41.318 1.260.28 32,79
PRESIDENTE PRUDENTE 222.192 207.610 560.637 368,89
PRESIDENTE VENCESLAU 39.407 37.910 755.203 50,10
QUATÁ 13.702 12.799 651.341 19,68
SALTO GRANDE 9.223 8.787 188.419 46,64
ÁGUAS DE SANTA BARBARA 5.944 5.601 404.463 13,83
SANTA CRUZ DO RIO PARDO 46.633 43.921 1.114.75 39,44
SANTO ANASTÁCIO 21.044 20.475 552.876 37,06
SÃO MANUEL 40.367 38.342 650.734 58,92
SÃO PEDRO DO TURVO 7.567 7.168 731.221 9,84
RANCHARIA 29.778 28.804 1.587.50 18,14
REGENTE FEIJÓ 19.733 18.494 263.28 69,77
Fonte: IBGE: Elaborado pelos autores

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Muitas cidades da região, assim como tantas outras do país, nasceram às margens
de uma igreja, e tiveram seu desenvolvimento partindo da agricultura. Na região um caso
que seguiu este roteiro foi Assis, fundada em 1º de julho de 1905, em um entroncamento de
importantes rotas, entre as cidades de, Salto Grande e Campos Novos do Paranapanema,
que após a legalização das terras do munícipio no cartório de Campos Novos do
Paranapanema, teve com a construção da capela inicialmente de pau a pique num declive,
de onde se possibilitava a sua visão, a vinda de moradores ao se arredor e geração o
povoamento da cidade.
O mesmo se deu em outras cidades da região, tendo sido citadas estas para apontar
que na configuração do período citado, as cidades de Salto Grande e principalmente
Campos Novos do Paranapanema, eram cidades bastante importantes e detinham negócios
que movimentavam a região como um todo, como no caso dos serviços jurídicos que eram
todos realizados em Campos Novos do Paranapanema (MACHADO, 2005).
Já em 1915, com a chegada da ferrovia, o desenvolvimento das cidades cortadas por
esta, foi exponencial, já que tais possibilitavam seu desenvolvimento principalmente através
da agricultura, que deixava de ser de subsistência tornando se algo maior, em função das
possibilidades de recepção e envio de mercadorias a outras localidades a um custo menor.
Um excelente exemplo disto foi à estrada de ferro da Sorocabana, que foi implantada
no espaço, onde era a antiga estrada Boiadeira, aberta a partir de 1892 pelo governo do
estado, melhorada em 1906 e que começava em Campos Novos do Paranapanema,
passando por Platina e Conceição do Monte Alegre, seguindo até o Mato Grosso (SANTOS
FILHO, 1999). Através desta, a região acabou tendo um grande desenvolvimento urbano,
gerado pela facilidade de comunicação entre munícipios e regiões, além do aumento
populacional e de serviços, que segundo Christofoletti:

[...] o transporte ferroviário significou para o desenvolvimento econômico


do Vale do Paranapanema a transposição de uma geografia longínqua e
a chegada de uma nova realidade [...] as ferrovias logo se tornaram o
principal meio de circulação e escoamento da produção agrícola,
formando o eixo estrutural das implantações urbanas
(CHRISTOFOLETTI, 2009, p. 28).

Em comparação com outras regiões do Estado de São Paulo, está teve a sua
evolução considerada tardia por conta do processo de povoamento, algo que a lhe deu a
condição ou característica de ser vista como sendo uma das “localidades promissoras e

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aptas à potencialização das condições de reestruturação econômica por que passava o
país” (MACHADO, 2005, p. 57).

Com o processo de implantação das vias férreas e a mecânica da agricultura


impulsionada com este implemento pode se apontar que:

[...] desenvolvimento regional dentro de um contexto de reorganização do


Estado, da economia e da sociedade como um todo. Seja através dos
camaradas e especialistas das fazendas, seja através dos profissionais
liberais de seus centros urbanos, uma importante classe intermediária se
formou em seus núcleos de ocupação (MACHADO, 2005, p. 57).

Cabe salientar que, todo o processo de implantação de linhas férreas na região,


teve muitas interferências políticas e alterações de percursos, que como cita Dantas
(1978, p.47) que “deu-se outro rumo ao traçado planeja”, esta decorrente do empenho de
proprietários de terras, junto aos poderes públicos.

Alterações de grau de importância às cidades, promovidas pela chegada dos


trilhos, também se tornaram um fator de grande importância a serem citadas, como a
situação de Campos Novos do Paranapanema, que era a cidade mais importante do
período pré-ferroviário, por não ser contemplada por trilhos, passou tal condição a Salto
Grande, que os recebeu em 1905, permanecendo lá até 1912.

O progresso e desenvolvimento de determinados municípios ficaram a cargo


também da montagem das estações de trem, que tinham a previsão ser estabelecidas a
intervalos regulares, decorrentes da necessidade de reabastecimento de lenha e água,
que conforme Monbeig (1984, p. 347) “varia pouco, em todas as redes, a distância entre
as estações, oscilando entre dez e quinze quilômetros”.
Outro fator bastante importante para a região foi a chegada da energia elétrica na
década de 1920, através da Companhia de Eletricidade do Vale do Paranapanema,
construída em 1924, que a passou a fornecer um serviço ainda com pouca qualidade, mas
atendendo as cidades Salto Grande, Rancharia e Assis, que mais tarde se mostrou ser de
bastante má qualidade, gerando total descontentamento da população, que acabou por se
rebelar e incendiar a usina a vapor do Vale do Paranapanema. Contudo tal fato da chegada
da eletricidade pode ser considerado bastante importante para a região que segundo
Machado, fez com que:

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[...] a população da Alta Sorocabana aumentou para 236.994 seu número
de habitantes. Representando 8,95% da população total do Estado (...).
De 1920 a 1935, a população salta para 576.812 habitantes, ou 11,67%
do total (MACHADO, 2005, p. 51).

Tal crescimento populacional foi freado por tempos, decorrente da crise cafeeira,
que acabou por promover certa estagnação à região, devido ao café ter se estabelecido
como um dos principais produtos cultivados na região.

2.3.1. O café na região da Alta Sorocabana

O café na região teve grande importância para toda a economia do Estado, pois por
muito tempo se estabeleceu como sendo um dos principais produtos cultivados e
distribuídos no país. Até a década de 1950, o café e o algodão eram produtos que
movimentavam amplamente a economia regional, sendo estes os principais geradores do
desenvolvimento regional, muito em razão da necessidade de seu escoamento, que permitiu
incrementos tecnológicos e forçou a expansão de áreas até então não exploradas, na
região.
O mesmo ocorria claro, ao longo do Estado, fazendo do café como um dos principais
produtos cultivados ao longo de toda a sua extensão, cerca de 55,3% de toda a área
cultivada, e em geral produzidos de forma a ter alta qualidade, buscando atender aos
padrões de exigência europeu, focando que a produção deste, fosse destinada
principalmente a exportação, mantendo somente no país a produção de menor qualidade e
aceitável a nossa população.
Contudo apesar de serem bastante elevadas às áreas cultivadas da cultura deste
produto, todas com bastante distinção e particularidades, ficou sob a incumbência ao interior
do Estado as maiores parcelas de áreas cultivadas, tal como a região estudada que detinha
55,2% de sua área destinada ao café, que só possuía área cultivada menor que as regiões
Paulista, Araraquarense e Mogiana, conforme pode ser visto na tabela 2, no início do
século.

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Tabela 2: Área cultivada por café nas principais regiões do Estado em 1904-1905 (em %).
Regiões Café
Alta Sorocabana 55,2
Capital 1,1
Vale do Paraíba e Litoral Norte 43,8
Araraquarense 63,8
Santos e Litoral Sul 12,9
Mogiana 69,0
Paulista 61,9
Fonte: Adaptado pelos autores, São Paulo (1906-1907)

Já se pensarmos no volume produzido tomando por base os estudos de Miliet


(1946), em que este realizou levantamentos da produção de café em arrobas por diversos
períodos e os apontou em forma de evolução, podendo ser visto na tabela 3, dentro do
período relevante e pertinente a região de estudo, que é a partir de quando começou a
haver produção nesta, pode-se verificar um crescimento exponencial de tal cultura, superior
até mesmo a regiões com mais tradição no cultivo do café, e que por razões diversas foram
perdendo espaços neste aspecto.

Tabela 3: Produção de Café no Estado de São Paulo em arrobas


Ano

Alta
Norte Central Mogiana Paulista Araraquarense Noroeste Total
Sorocabana

2.074.267 3.008.350 2.262.599 2.458.134 420.000 - 151.000 10.374.350


1886

767.069 2.780.525 7.852.020 4.148.462 4.152.438 722.119 1.676.228 22.098.861


1920

898.332 3.716.021 8.521.076 6.110.213 14.126.113 12.544.045 6.524.410 52.440.210


1935

Fonte: Adaptado pelos autores de Ricci (2006): Fonte: MILLIET, Sergio. (op. cit. pp. 17-27).

Ainda, de acordo com o apresentado por Miliet (1946) é possível perceber a


evolução na produção de café no Estado, ao longo do período e em especial nas regiões
Araraquarense, Noroeste que tiveram crescimentos exponenciais, seguidos pela região
estudada, a Alta Sorocabana, que pode ter seu crescimento considerado como substancial,

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ao longo do período. Em contrapartida pode se verificar que a região Norte teve uma
diminuição bastante significativa em sua produção. Estes pontos podem ser vistos também
na tabela 4, que apresenta tais esta produção em porcentagem.

Tabela 4: Produção de Café no Estado de São Paulo em porcentagem


Alta
Ano Norte Central Mogiana Paulista Araraquarense Noroeste Total
Sorocabana
1886 19,99 29,00 21,81 23,69 4,50 - 1,46 100,00
1920 3,47 12,58 35,53 18,77 18,79 3,27 7,59 100,00
1935 1,71 7,09 16,25 11,65 26,94 23,92 12,44 100,00
Fonte: Adaptado pelos autores de Ricci (2006): Fonte: MILLIET, Sergio. (op. cit. pp. 17-27).

Ainda é possível inserirmos realizar uma análise intra-regionalizada com foco na


região estudada, que conforme apresentado apesar do processo de diminuição bastante
acentuada no Estado, teve sua produção ao longo do período estudado por Miliet (1946),
um crescimento a ordem de 85,20%, tornando se assim sua produção bastante relevante ao
estado, ficando atrás somente das regiões Araraquarense, Noroeste e Mogiana, neste
devida ordem.
Para tal análise será contemplada aqui as 10 cidades com maior expressividade na
visão do autor, conforme exposto na tabela 5 baseada no apresentado por Miliet a cerca da
produtividade e população das cidades da Alta Sorocabana, nos períodos de 1886, 1920 e
1936.

Tabela 5: Produção de Café na Região Alta Sorocabana em arrobas e porcentagem nos períodos de
1886, 1920 e 1936
Munícipios 1886 – Arrobas e % 1920 – Arrobas e % 1936 – Arrobas e %
Presidente Prudente - - - - 367.850 5,79
São Manuel 150.000 99,34 412.553 28,47 859.310 13,54
Candido Mota - - - - 93.096 1,46
Santa Cruz do Rio Pardo - - 68.320 4,71 318.140 5,02
Lençóis 1.000 0,66 68.420 4,72 189.520 2,98
Botucatu - - 228.320 15,76 405.500 6,38
Campos Novos - - 3.760 0,26 283.710 4,48
Paraguassú - - - - 209.870 3,30
Salto Grande - - 1.460 0,10 102.400 1,62
Demais municípios - - 666.492 45,98 3.517.521 55,43
Total da região 151.000 100 1.449.325 100 6.346.917 100
Fonte: Adaptado pelos autores: Fonte: MILLIET, Sergio. (op. cit. p. 66).

2.3.2. Medida de especialização (Quociente Locacional)

Para se apurar o nível de especialização de um munícipio ou região, se faz


necessário tomar conhecimento de seu contexto histórico cultural, para que possa haver

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uma correta interpretação dos dados obtidos e assim não indicar razões equivocadas da
especialização do objeto estudado.
Cabe também ter clareza que com uma correta análise das especificidades de um
munícipio ou região, é possível se identificar o grau de especialização e concentração que
tal possui a atividades produtivas, permitindo assim aos gestores públicos, potencializar
ações de políticas públicas para geração de desenvolvimento.
A delimitação de especializações regionais, em geral, utiliza se o QL (Quociente
Locacional), como uma medida de especialização que busca comparar a participação
percentual de da região, relacionando a um setor específico com o total do emprego da
economia nacional, gerando resultados que podem ser maior que um (>1), que demonstra
potencial capacidade exportadora ou menor que (<1), demonstrando a subsistência interna
regional, através de atividades básicas, conforme descreve Haddad (1989, p.232).
Este instrumento de medida de especialização (QL) permite a realização de
comparações entre regiões, através da realização do cálculo da fórmula aponta na Fórmula
1.

Fórmula 1: Fórmula de cálculo do quociente locacional

Fonte: Riedl et.al. Perspectiva Econômica v.4, n. 2:65-85

Para maior compreensão, fica descrito que Eij, representa o emprego do setor i na
região j. O ETj, representa o emprego total (em todos os setores considerados) na região j.
O EiT, representa o emprego do setor i em todas as regiões e ETT representa o emprego
total em todas as regiões.

3. Método

Para este trabalho foi escolhido como método de pesquisa, o exploratório, que
segundo Richardson et. al (1989, p. 281), “[...] procura conhecer as características de um
fenômeno para procurar explicações das causas e conseqüências de dito fenômeno”. Ainda
segundo Mattar (1994, p. 84), “[...] visa prover o pesquisador de um maior conhecimento
sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva.

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Por isso é apropriada para os primeiros estágios da investigação, quando a
familiaridade, o conhecimento e a compreensão do fenômeno por parte do pesquisador são
geralmente insuficientes ou inexistentes”.
Este método científico de análise de dados buscou estabelecer condições a
promoção de uma análise detalhada dos aspectos estudados, relacionando-os corretamente
ao instrumento de medição de especialização adotado (QL), baseando-se em bibliografias e
conceitos obtidos por meio de pesquisa bibliográfica.
Ainda de acordo com o apresentado no referencial teórico sobre a fórmula do QL,
podemos também compreendê-lo como sendo um instrumento que permite a visualização
de uma condição atual do objeto estudado em nível de suas maiores aptidões, seja esta a
agricultura, indústria ou serviço, gerando maiores condições de análises que se relacionem
a por exemplo, as atividades de políticas públicas, investimentos públicos e privados, além
ainda de estudos acadêmicos.
Nesta pesquisa realizada para o desenvolvimento deste artigo, este instrumento,
permitiu o aprofundamento das discussões que seguiram, denotando o que é trabalhado
com maior incidência atualmente na região estudada e as suas relações atuais com o café,
proposta desta avaliação.

4. Discussões

A identificação da especialização ou potencial de uma região é algo que demanda


um profundo estudo e análises que devem basear se em indicadores e mensurações
obtidas através de instrumentos confiáveis que permitam a geração de dados que
possibilitem considerações. Ao se pensar em especializações ou potencialidades de um
município ou região deve se pensar que estes, a partir daquilo que praticam precisam lhes
gerar sustentabilidade econômica e tornar seus agentes produtivos locais e dependentes
viáveis.

4.1. A representatividade atual do café nos principais municípios da região Alta


Sorocabana

O café por muito tempo permitiu a região da Alta Sorocabana, grande destaque no
cenário nacional, que teve no século XIX, um período de grande ascensão, decorrente desta
cultura agrícola, período em que o café era um dos produtos que mais lhe permitiu
notoriedade e propiciou condições de expandir seu território e economia.

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Atualmente este produto já não é mais o propulsor econômico da região, tal como
poderá ser visto nos indicadores de especialização para comparativo de representatividade
mais a frente e que pode ser percebido através da tabela 6 que segue, onde à
demonstração da representatividade do café em municípios de significativa representação a
região e que no passado eram grandes produtores deste produto.

Tabela 6: Representatividade do café atualmente nos principais munícipios estudados (2013)


Indicadores de Especialização para comparativo de representatividade
Quantidade total Área total Rendimento Valor da produção
produzida colhida médio em R$
Municípios (Toneladas) (Hectare) (Quilogramas
por hectare)
Presidente Prudente - - - -
São Manuel 2.400 1.600 1.500 11.040
Candido Mota 216 200 1.080 950
Santa Cruz do Rio 1.200
Pardo 804 670 3.722
Lençóis Paulista 687 428 1.605 3.779
Botucatu 960 800 1.200 4.416
Campos Novos 1.200
Paulista 300 250 1.389
Paraguaçu Paulista 22 22 1.000 100
Salto Grande 700 700 1.000 3.240
Totais 6.089 4.670 9.785 28.636
Elaborada pelos autores. Fonte: IBGE, 2014.

4.2. Nível de especialização atual dos principais municípios da região Alta


Sorocabana

Estudos sobre concentração e especialização são importantes para compreender as


dinâmicas que ocorrem nos processos de desenvolvimento regional, tornando-os fatores
importantes no momento de se traçar diagnósticos mais precisos, quanto aos agentes de
influência econômica de uma região, praça ou cidade.
Nesta perspectiva, busca-se aqui demonstrar acerca do desenvolvimento da região
em estudo, abordando o histórico de suas atividades e seu desenvolvimento econômico,
apontados através do instrumento de medição de especialização, quociente locacional (QL),
onde pode se apontar as migrações de níveis de especializações em que se encontram os
principais munícipios escolhidos da região Alta Sorocabana, através do contexto e dados
obtidos no período de 2000 e 2010, através da Fundação Seade, conforme apontados na
tabela 7.

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Tabela 7: Nível de especialização dos municípios na Região Alta Sorocabana – 2000/2010
2000 2010
Municípios Agricultura Industria Serviço Agricultura Industria Serviço
Presidente Prudente 0,10 0,78 1,14 0,10 0,72 1,23
São Manuel 1,54 1,11 0,93 2,15 0,81 0,95
Candido Mota 2,06 1,07 0,91 2,53 0,62 0,99
Santa Cruz do Rio Pardo 2,22 1,13 0,87 1,32 1,05 0,94
Lençóis Paulista 0,91 1,79 0,72 0,89 1,26 0,90
Botucatu 0,91 1,19 0,94 0,56 1,44 0,86
Campos Novos Paulista 5,48 0,29 0,96 6,26 0,14 0,76
Paraguaçu Paulista 2,60 0,79 0,97 2,78 0,68 0,93
Salto Grande 2,44 1,62 0,68 2,96 0,65 0,92
Demais municípios 1,10 0,91 1,03 1,15 1,01 0,98
Elaborada pelos autores. Fonte: SEADE, 2014.

É bastante importante notar que alguns munícipios não tiveram grandes variações
em seu nível de especialização de uma década para outra, como é o caso das cidades de
Presidente Prudente, que na agricultura manteve se estável e Lençóis Paulista que sofreu
um pequeno decréscimo, tendo todos os demais munícipios em sua somatória, também tido
em sua totalidade uma variação bastante baixa.
Mas já os municípios de São Manuel, Candido Mota, Campos Novos Paulista,
Paraguaçu Paulista e Salto Grande, no índice de especialização em agricultura, tiveram um
incremente considerável positivo e os municípios de Santa Cruz do Rio Pardo e Botucatu, a
variação deste índice foi negativa.
Em geral tais variações, se dão por conta da migração de especializações, como
pode ser visto no caso de São Manuel, em que o índice da indústria de um período para o
outro sofreu uma variação próxima ao crescimento da outra. Repetindo se o mesmo a
cidade de Candido Mota, Campos Novos Paulista, Paraguaçu Paulista e Salto Grande.
Mas também tal variação pode ser decorrente de fatores outros, tal como migração
econômica de uma região a outra, por exemplo, algo como a saída de capital industrial de
determinado município a outro ou outra região, entre outras razões.
Para que se possa ter uma clara noção da representatividade atual dos munícipios
da região, nas áreas de agricultura, indústria e serviço foram elaboradas as tabelas 8, 9 e 10
demonstradas a seguir, permitindo assim a visualização da participação dos principais
municípios da região, em relação ao Estado e ao Brasil. Através da utilização do quociente
locacional (QL), é possível realizar uma caracterização econômica da região ou município,
além de identificar potencialidades de desenvolvimento desta, através do quão
representativas são as suas especializações na área.

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Tais estudos são importantes, pois podem determinar ações de políticas públicas
mais eficazes e planos de gestão mais assertivos ao que realmente é ou são as áreas de
especialização de um munícipio ou região, tal como afirma Becker (2002, p.88), “o processo
de desenvolvimento regional deixa de ser pura e simplesmente uma questão quantitativa e
adquire crescentes dimensões qualitativas, através do pleno reconhecimento e do pleno
desabrochar das diversidades regionais”.
Na tabela 8 é apresentada a representatividade que cada município ocupa
atualmente na agricultura perante ao Estado e ao país, sendo que nesta incluem se todas as
culturas agrícolas, inclusive a do café.

Tabela 8: Representatividade atual dos munícipios estudados em relação ao Estado e ao Brasil na


respectiva área de especialização – Agricultura (2013)
Indicador comparativo de representatividade - Agricultura
Municípios
Munícipio Estado de São Paulo % Brasil %
Presidente Prudente 28.691 0,255 0,027
São Manuel 104.573 0,928 0,099
Candido Mota 106.423 0,945 0,101
Santa Cruz do Rio 0,798 0,085
89.920
Pardo
11.265.005 105.163.000
Lençóis Paulista 140.224 1,245 0,133
Botucatu 90.713 0,805 0,086
Campos Novos Paulista 44.599 0,396 0,042
Paraguaçu Paulista 122.441 1,087 0,116
Salto Grande 26.037 0,231 0,024
Totais 753.621 11.265.005 6,690 105.163.000 0,431
Elaborada pelos autores. Fonte: IBGE, 2014.

Na tabela 9 é apresentado a representatividade que cada município ocupa


atualmente na questão produtiva industrial perante ao Estado e ao país.

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Tabela 9: Representatividade atual dos munícipios estudados em relação ao Estado e ao Brasil na
respectiva área de especialização – Industria (2013)
Indicador comparativo de representatividade - Industria
Municípios
Munícipio Estado de São Paulo % Brasil %
Presidente Prudente 866.523 0,447 0,161
São Manuel 182.137 0,094 0,034
Candido Mota 105.924 0,055 0,020
Santa Cruz do Rio 0,070
376.134 0,194
Pardo
193.980.716 539.315.998
Lençóis Paulista 598.642 0,309 0,111
Botucatu 1.189.808 0,613 0,221
Campos Novos Paulista 5.303 0,003 0,001
Paraguaçu Paulista 126.049 0,065 0,023
Salto Grande 22.499 0,012 0,004
Totais 3.473.019 193.980.716 1,790 539.315.998 0,644
Elaborada pelos autores. Fonte: IBGE, 2014.

Na tabela 10 é apresentado a representatividade que cada município ocupa


atualmente na questão serviço, perante ao Estado e ao país.

Tabela 10: Representatividade atual dos munícipios estudados em relação ao Estado e ao Brasil na
respectiva área de especialização – Serviço (2013)
Indicador comparativo de representatividade - Serviço
Municípios
Munícipio Estado de São % Brasil %
Paulo
Presidente Prudente 3.677.473 0,904 0,307
São Manuel 436.441 0,107 0,036
Candido Mota 348.449 0,086 0,029
Santa Cruz do Rio 0,057
684.145 0,168
Pardo
406.723.721 1.197.774.001
Lençóis Paulista 930.828 0,229 0,078
Botucatu 1.712.786 0,421 0,143
Campos Novos Paulista 38.542 0,009 0,003
Paraguaçu Paulista 434.948 0,107 0,036
Salto Grande 55.569 0,014 0,005
Totais 8.319.171 406.723.721 2,045 1.197.774.001 0,695
Elaborada pelos autores. Fonte: IBGE, 2014.

Através do uso de instrumentos de medição, tal como o quociente locacional (QL),


tais análises deixam de ser meramente numéricas (Quantitativas) e passam a ser também
interpretativas (Qualitativas), mesmo que baseadas em números, que é o resultado do QL,
tornando possível e necessário a realização de interpretações destes, a fim de gerar
condições a obtenção de resultados a partir de tais, possibilitando assim a realização de
trabalhos e ações mais direcionadas em políticas públicas por exemplo.

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5. Considerações

O artigo procurou analisar como a região da Alta Sorocabana, desenvolveu-se a


partir do café, sendo para isto realizado o estudo da região, a base de levantamentos
bibliográficos, documentais e uso do instrumento quociente locacional (QL), que possibilitou
a visualização de indicadores de especialização dos principais munícipios da região,
escolhidos por meio de sua importância na época em que a região iniciou o seu
desenvolvimento e despontamento.
Através das pesquisas realizadas, ficou evidente que a cultura cafeeira hoje não é
mais o grande forte a região da Alta Sorocabana, sendo está dividida a indústria e os
serviços. Contudo o objetivo deste artigo é a realização da avaliação do processo de
desenvolvimento da região a partir do café, portanto é conveniente apontar que está teve
seu desenvolvimento impulsionado por decorrência de diversos agentes, dentre eles
atuando como um dos principais o café.
Tal desenvolvimento da região deu-se através da proliferação de estradas de ferro,
criadas para gerar facilitadores produtivos e escoamento desta cultura e outras, confirmadas
de certo modo pelo censo agrícola realizado em 1905, que apontou o crescimento de
propriedades de todos os portes agrícolas, envoltas ao plantio de café e que empregavam
milhares de trabalhadores, inclusive imigrantes que perfaziam cerca de 65% dos
trabalhadores, aproximadamente 46% das fazendas da região, conforme pode ser visto na
tabela 11 de indicadores de produtores de café a seguir.

Tabela 11: Indicadores de produtores de café na região da Alta Sorocabana (1905)


Área média Área média Trab. por % Trab. % Faz. com
com café plantada com Faz. Estrang. Estrang.
Alta Sorocabana café
177 14,8 14,3 65 46
Fonte: Adaptado pelos autores de Luna, Klein e Summerhill: Fonte: Estud. Econ., São Paulo, vol. 44,
n.1, p. 153-184.

Segundo Miliet (1941), a região oeste do Estado, em que está localizada a região
Alta Sorocabana, tornou se bastante atrativa e sendo procurada por pobres e ricos, algo que
ocorreu até 1936, provocado pelo que ele chamou de abertura do sertão. Em virtude da alta
produtividade do café esta conseguiu realizar o enfrentamento da crise econômica da época
de maneira satisfatória, inclusive conseguindo manter se em progresso e atraindo imigrantes
que passaram a constituir a raça ativa empreendedora fisicamente forte.

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Uma das hipóteses possíveis para se apontar tal condição de progresso, era o fato
de na época não haverem grandes condições tecnológicas e equipamentos adequados a
produção cafeeira, sendo assim o fato das terras serem ainda virgens ao plantio desta
cultura, proporcionou vantagens aqueles que investiram no plantio do café, que aliado a
condição do transporte para escoamento produtivo puderam manter este processo de
desenvolvimento.
A região da Alta Sorocabana não era uma região que se restringia somente ao
plantio do café, mas com grande representatividade na produção do Estado, que a época
era o maior produtor do país. Por consequência também, pode se apontar que a distribuição
do café da região, atendia em grande parte o consumo interno, ou seja, tinha uma qualidade
que não atendia o padrão europeu.
Corroborando a tal fato, pode-se citar Presidente Prudente, município que atravessou
distintas fases econômicas desde a extração da madeira, a criação de gado, passando pelo
café (décadas de 20 e 30), do algodão (décadas de 30 e 40), novamente o gado, que passa
a ser uma atividade econômica forte a partir de meados de 1980.
A cidade de São Manuel, no início do século XX, registrou seu maior
desenvolvimento com as fazendas de café, que posteriormente, volta-se para a cana-de-
açúcar, provocando o deslocamento de boa parte da população rural para a sua área
urbana. Atualmente sua maior economia na produção agrícola se volta às culturas do café,
cana de açúcar e laranja.
No município de Candido Mota, de acordo com a Cooperativa Agroindustrial deste
município na década de 1950, o café que era o principal produto cultivado e comercializado,
o munícipio destacava se devido às características do seu solo. Já na década de 70, a
economia passava a ingressar para o setor de exportação e a agricultura se modernizava
tecnologicamente.
Santa Cruz do Rio Pardo que teve a pecuária como principal atividade em seu
surgimento, deve seu desenvolvimento à cultura do café e a chegada dos trilhos da Estrada
de Ferro Sorocabana ocorrida nos últimos anos do século XIX.
Lençóis Paulista considerado um município jovem teve como cultivo em grande
escala a cana-de-açúcar, mas possui grande participação na economia industrial. O
município abriga empresas nos segmentos de produtos químicos, açúcar, álcool, celulose,
energia, estruturas metálicas, sistemas de informação e alimentos.

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A mais antiga referência à região e, especificamente, à serra de Botucatu, que teve a
influência de imigrantes atraídos pela expansão do café do tipo amarelo, transformando
Botucatu em um Centro Regional, contudo com a decadência da cafeicultura, por volta de
1930, houve uma forte ascensão da agropecuária, e, atualmente as atividades industriais
vem ganhando força.
Campos Novos Paulista, com seu solo fértil e a consolidação de uma infraestrutura
de transporte ferroviário, passou a atrair pioneiros interessados no cultivo do café na época,
que em conjunto, desenvolviam outras lavouras de subsistência, como arroz, feijão, milho e
mandioca, devido à grande dificuldade de transporte de outras áreas e à facilidade de
produzi-las no local. Atualmente a economia baseia-se principalmente, no cultivo de cana-
de-açúcar, mandioca, laranja, soja, milho e na pecuária bovina.
Paraguaçu Paulista, entre os anos de 2000 e 2010 apresentou um “QL” considerável
em atividade de agricultura com relação à totalidade da Região da Alta Sorocabana. O
município tornou se Estância Turística em 1997, o que vem proporcionando a esta,
crescimento na área do turismo, elevando sua atividade em serviços.
Salto Grande, segundo dados do IBGE (2012), tem a indústria, como o segundo
setor mais relevante a sua economia, sendo serviços a maior fonte geradora de seu PIB
atual, embora a Agropecuária tenha tido também certo destaque.
Analisando as informações já traçadas e verificando se os dados atuais dos
munícipios da região, segundo o IBGE e a Fundação Seade, pode se apontar que o café
não é mais, através da agricultura a principal atividade destes, porém em seu contexto
histórico foi um produto de grande destaque e que possibilitou a maior parte, suas
transformações em cenário econômico regional e os permitiram migrar de uma condição de
território para municípios. Além disto, foi através do café que outras atividades foram sendo
integradas aos cotidianos da região, permitindo assim aos municípios alterações em seus
contextos de especialização, tornando os mais ativos em atividades industriais e/ou
serviços.

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