Material Programa

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 125

(https://md.claretiano.edu.

br/prosausocurg-

g02289-ago-2024-grad-ead/)

1. Introdução
Seja bem-vindo!

Iniciamos agora o estudo de s. Neste


material, você encontrará ciclos de estudo que o auxiliarão na compreensão e
domínio de aspectos históricos, antropológicos, sociológicos, �losó�cos e téc-
nicos da história da saúde brasileira, do processo saúde-doença, do conceito
de homem nesse processo, de sinais vitais, primeiros socorros, ações de socor-
ros nos acidentes e emergências clínicas de diferentes origens, bem como bi-
ossegurança, traumatismos, ferimentos e lesões, hemorragias e emergências
clínicas.

Esta disciplina tem seu conteúdo relacionado à saúde, todavia, sua abordagem
está direcionada para um contexto mais amplo, a�nal, trataremos de sua in-
serção no contexto social e escolar.

A Educação a Distância exigirá de você uma nova forma de estudos, uma vez
que você será o protagonista de sua aprendizagem. No entanto, você não esta-
rá sozinho, pois terá o apoio necessário para a construção do seu conhecimen-
to. Esse será um desa�o que enfrentaremos juntos, e, com sua dedicação, o
crescimento pro�ssional e pessoal será conquistado.

Ao iniciar a disciplina, não se esqueça de assumir o compromisso de partici-


par e de interagir com seus tutores e com seus colegas de curso nas tarefas in-
dicadas, assim como de fazer a leitura não só deste material, mas também das
bibliogra�as indicadas. Tenha certeza de que, ao apropriar-se dessa postura,
você facilitará a aprendizagem de novos conhecimentos, o que levará, certa-
mente, a um exercício pro�ssional comprometido com a valorização das pos-
sibilidades educacionais das práticas em saúde crítico-re�exivas.
Visando ao favorecimento dos estudos, o conteúdo deste material está organi-
zado em cinco ciclos.

No Ciclo 1, a história da saúde no Brasil será contextualizada para o estudo da


disciplina, utilizando, para isso, a análise histórica. A compreensão crítica
dessa história é importante, pois é a partir dela que nos posicionamos atual-
mente como cidadãos e pro�ssionais in�uenciados por todo o processo con�i-
tuoso de sua construção.

No Ciclo 2, compreenderemos como a saúde está organizada na atualidade


com os diversos programas do governo, por meio do Ministério da Saúde, bem
como qual é a atenção dispensada por este a esse tema e suas relações com
outros setores, como a Educação. Neste ciclo, buscaremos uma re�exão do
contexto da saúde em interação com o contexto educacional.

Já no terceiro ciclo, apresentaremos os primeiros socorros, sinais vitais, ações


de socorros nos acidentes e emergências clínicas de diferentes origens, bem
como biossegurança.

En�m, os Ciclos 4 e 5 tratarão de traumatismos, ferimentos e lesões, hemorra-


gias e emergências clínicas e os procedimentos possíveis a um pro�ssional de
Educação Física.

Desejamos, no início desta trajetória, que você se empenhe em cumprir as ta-


refas propostas, concentrando-se, sempre, na qualidade de sua formação!

2. Informações da Disciplina
Ementa
A disciplina de Programas de Saúde e Socorros Urgentes tem como intuito a
formação dos alunos, consonante aos princípios e diretrizes do Sistema Único
de Saúde (SUS), para atuarem em diferentes níveis de atenção à saúde, com
enfoque na promoção, prevenção e recuperação da saúde da população.
Proporcionará, também, conhecimentos fundamentais para que os alunos te-
nham condições de prestar os primeiros socorros aos acidentados, visto que,
na prática de exercícios físicos, o futuro pro�ssional poderá enfrentar situa-
ções, em que tenha que prestar socorro ao aluno/cliente, em diferentes faixas
etárias. Para tanto, o aluno deverá conhecer os princípios e as técnicas de
atendimento de emergência em diferentes situações. O domínio dos conteúdos
abordados na disciplina habilitará o aluno para intervir, de forma consciente e
quali�cada, no seu campo de atuação, desde a prevenção de acidente ao aten-
dimento de intercorrências mórbidas mais comuns. Para o alcance dessas
premissas, será abordado os conteúdos referentes ao processo-saúde-doença,
ao longo da história; Sistema Único de Saúde (SUS); ações e programas de saú-
de governamentais; segurança do socorrista e da vítima; aspectos legais e se-
gurança de cena; procedimentos básicos de avaliação da vítima, remoção e
transporte e acionar sistema de urgência/emergência; emergências clínicas e
cardiorrespiratórias; lesões de partes moles, cabeça e coluna, musculoesquelé-
ticas; emergências relacionadas ao ambiente, veneno, queimadura e eletrocus-
são.

Objetivos Especí�cos
• Contextualizar o processo saúde-doença na história da saúde do Brasil.
• Conhecer o Sistema Único de Saúde (SUS), organização, projetos e pro-
gramas.
• Relacionar os conceitos de Educação em Saúde na prática da saúde e da
educação.
• Compreender as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).
• De�nir as noções de saúde mental e o corpo no cotidiano.
• Conhecer e identi�car as principais ações a serem feitas nas situações
de acidente.
• Identi�car a sequência de ações para exame e atendimento da vítima.
• Compreender e identi�car os sinais e sintomas que caracterizam a para-
da cardiorrespiratória de adultos.
• Identi�car os elos que compõem a cadeia da sobrevida e as ações a se-
rem realizadas na parada cardiorrespiratória.
• Identi�car os sinais e sintomas e as ações a serem realizadas nas se-
guintes situações de emergência: desmaio, convulsão, engasgo, infarto
agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral (AVC).
(https://md.claretiano.edu.br/prosausocurg-

g02289-ago-2024-grad-ead/)

Ciclo 1 – História da Saúde no Brasil

Conteúdos
• Compreender o conceito saúde-doença, os seus determinantes e os níveis
de atenção em saúde.
• Evolução histórica - período colonial, sanitarismo, previdência social, o
regime militar e os re�exos na saúde.
• Movimento sanitarista brasileiro e a Constituição de 1988.
• VIII Conferência Nacional de Saúde.
• Sistema Único de Saúde.

Problematização
Qual o conceito de saúde preconizado no Brasil, pela Organização Mundial da
Saúde? Quais os determinantes do processo saúde-doença? O que signi�ca
prevenção primária, secundária, terciária e quaternária? Quais foram às medi-
das sanitaristas realizadas por Oswaldo Cruz? Quais as ações desenvolvidas
por Carlos Chagas? Como surgiu a Previdência Social? O que signi�ca CAPs e
IAPs? Qual o impacto do regime militar na saúde do Brasil? O que é o Sistema
Único de Saúde (SUS)? Quais são seus princípios e seus respectivos preceitos?
Quais são as ações de saúde desenvolvidas pelo SUS? Quais são as ações e
programas de Saúde desenvolvidos pelo SUS? O que signi�cou a VIII
Conferência Nacional de saúde para o SUS?

1. Introdução
Para iniciar o estudo da disciplina ,é
indispensável um breve histórico sobre como a saúde foi se estruturando em
nosso país. É importante compreendermos os interesses e saberes que perpas-
sam a história e, assim, nos posicionarmos diante de processos de saúde-
doença e da busca da cidadania e autonomia com o próprio corpo e com a saú-
de de cada um.

2. Histórico da saúde no Brasil


Em 1988, houve a promulgação da Constituição Brasileira. Nela, há uma seção
dedicada especialmente à saúde, composta pelos Artigos de 196 a 200.
Vejamos, a seguir, o que dizem três desses artigos:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, �scalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por
pessoa física ou jurídica de direito privado.

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as se-
guintes diretrizes:

I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem pre-


juízo dos serviços assistenciais;

III – participação da comunidade (STF, 2012).

Esses direitos constitucionais, que destacam ações de promoção, proteção e


recuperação, além de �scalização, controle, organização da saúde, atendimen-
to integral e participação social, nem sempre foram naturalmente concedidos;
são parte de um processo de luta da população brasileira há anos. A história
da saúde no país está associada a determinantes históricos e à evolução
político-social e econômica. Tais contextos in�uenciaram e ainda in�uenci-
am o setor da saúde brasileira.

No período colonial, o Brasil não dispunha de nenhum modelo de saúde insti-


tucionalizado, e as enfermidades eram cuidadas com plantas, ervas e curan-
deiros. Havia a carência de médicos pro�ssionais no país, tanto que, em 1789,
só existiam aqui quatro médicos exercendo a pro�ssão. Ocorreu, então, a dis-
seminação dos boticários (farmacêuticos), que viajavam pelo país mesmo sem
possuir aprendizado acadêmico – o processo de habilitação na função consis-
tia tão somente em acompanhar um serviço de uma botica já estabelecida du-
rante certo período de tempo, ao �m do qual prestavam exame perante �sica-
tura e se aprovado, o candidato recebia a “carta de habilitação”, e estava apto a
instalar sua própria botica (SALLES, 1971). Essa prática de consultar-se um
farmacêutico quando se tem algum sintoma ainda é presente no cotidiano
brasileiro.

Com a chegada da família real no Rio de Janeiro, em 1808, criou-se uma estru-
tura mínima sanitária para dar suporte ao poder e realizar um controle sanitá-
rio mínimo na capital do império. Forçaram a criação das duas primeiras es-
colas de medicina do país: o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar
da Cidade de Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. E foram essas
as únicas medidas governamentais até a República.

Até esse momento de reconstituição histórica, observa-se que a colonização


do Brasil não respeitou e não dialogou com a cultura existente na época, de
tratamento com ervas e curandeiros. No início, houve uma valorização do sa-
ber fazer, isto é, o farmacêutico habilitava-se no momento em que, diante de
uma �scalização, era considerado apto a medicar e a tratar. A �gura dos médi-
cos era escassa, e, por isso, o farmacêutico tinha um valor social e para a saú-
de reconhecido. A estrutura sanitária só foi instituída no Brasil Império, com a
chegada da família real, e apenas na sua capital. Duas escolas de Medicina fo-
ram criadas na ocasião, e a �nalidade era atender o poder constituído da épo-
ca. O sistema de saúde no Brasil inicia-se já na relação de poder, e, desde esse
período, o acesso a ele era excludente, sendo apenas para as camadas mais al-
tas da população.
Primeiras medidas sanitaristas no Brasil
A �gura do médico Oswaldo Cruz surgiu na nomeação do Presidente
Rodrigues Alves (1902-1906), a �m de combater a disseminação de doenças
como a varíola, a malária, a febre amarela e, posteriormente, a peste. Suas
ações tinham forte apelo policialesco. Ele convocou 1500 pessoas para invadir
as casas das pessoas e queimar roupas e colchões, sem nenhuma ação educa-
tiva, e a população �cou indignada com essa atuação sanitária. O auge da in-
dignação resultou na instituição, pelo médico, da vacinação antivariólica, fato
que levou o povo às ruas e iniciou a conhecida Revolta das Vacinas. Oswaldo
Cruz, então, foi afastado do cargo.

O motivo que levou o governo a nomear esse médico a Diretor do


Departamento Federal de Saúde Pública foi a disseminação das doenças gerar,
naquela ocasião, consequências tanto para a saúde coletiva quanto para o co-
mércio exterior, in�uenciando a economia externa, já que os navios estrangei-
ros não queriam mais atracar no Porto do Rio de Janeiro. O modelo de saúde
de Oswaldo Cruz �cou conhecido como “campanhista”, possuindo forte visão
militar, no qual os �ns justi�cam os meios. Esse modelo obteve vitórias no
controle das doenças epidêmicas, conseguindo erradicar a febre amarela no
Rio de Janeiro, tornando, com isso, hegemônico na área de saúde coletiva du-
rante décadas. Nesse período, surge o embrião do Instituto Oswaldo Cruz, exis-
tente hoje no Rio de Janeiro. A organização dessa diretoria possuía uma seção
demográ�ca, um laboratório bacteriológico, um serviço de engenharia sanitá-
ria e de pro�laxia da febre amarela e a inspetoria de isolamento e desinfecção.

O seu sucessor, Carlos Chagas, nomeado, em 1920, Diretor do Departamento de


Saúde Pública, agora ligado ao Ministério da Justiça, introduz na prática cam-
panhista a educação sanitarista e a propaganda. Tal médico expande essa
prática para além do Rio de Janeiro e cria a primeira escola de enfermagem, a
Escola de Enfermagem Anna Nery. Enquanto a sociedade brasileira esteve do-
minada por uma economia agro-exportadora, acentada na monocultura cafe-
eira, o que se exigia do sistema de saúde era, sobretudo, uma política de sanea-
mento destinado aos espaços de circulação das mercadorias exportáveis e a
erradicação ou controle das doenças que poderiam prejudicar a exportação.
Por esta razão, desde o �nal do século passado até o início dos anos 60, predo-
minou o modelo do sanitarismo campanhista (MENDES, 1992).
No Brasil, como se pode observar, as medidas sanitaristas têm forte cunho mi-
litar e de imposição, principalmente, para a preservação do campo econômico,
quer dizer, da relação nacional com a exportação. A população, já nesse perío-
do, conseguiu se mobilizar e destituir Oswaldo Cruz do Departamento Federal
de Saúde Pública. O sucessor incrementou a ideia campanhista introduzindo a
propaganda, mas o destino dessa campanha continuava a ser a preservação
do comércio exterior, isto é, ela era destinada a espaços de circulação de mer-
cadorias. A questão econômica – e somente ela – dominava a institucionali-
zação da saúde pública no país.

Nascimento e desenvolvimento da Previdência Social e


políticas de saúde entre 1923-1964
A Previdência Social é tema recorrente na mídia, uma vez que é objeto de inte-
resse político e, constantemente, alvo de escândalos. A ideia de uma previdên-
cia social no Brasil surgiu como medida de proteção aos trabalhadores do
país. Vejamos, a seguir, em que contexto apareceu essa ideia, de acordo com
Cunha e Cunha (1998):

[...] os operários no início do século 20 ainda não tinham quaisquer garantias traba-
lhistas, tais como: férias, jornada de trabalho de�nida, pensão ou aposentadoria. O
surgimento da Previdência Social no Brasil se insere num processo de modi�cação
da postura liberal (não intervenção do Estado) do Estado frente à problemática tra-
balhista e social, portanto, num contexto político e social mais amplo. Esta mudan-
ça se dá enquanto decorrência da contradição entre a posição marcadamente libe-
ral do Estado frente às questões trabalhistas e sociais e um movimento operário-
sindical que assumia importância crescente e se posicionava contra tal postura.
Esta também é a época de nascimento da legislação trabalhista brasileira. Em 1923
é promulgada a lei Eloy Chaves, que para alguns autores pode ser de�nida como
marco do início da Previdência Social no Brasil. No período compreendido entre
1923 e 1930 surgem as Caixas de Aposentadoria e Pensões – CAPs. Eram organiza-
das por empresas, de natureza civil e privada, responsáveis pelos benefícios pecu-
niários e serviços de saúde para os empregados de empresas especí�cas. As CAPs
eram �nanciadas com recursos dos empregados e empregadores e administradas
por comissões formadas de representantes da empresa e dos empregados. Cabia ao
setor público apenas a resolução de con�itos (apud BRASIL, 2005, p. 29).

O surgimento das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) também obede-


ceu à mesma lógica: somente as empresas estratégicas para a economia naci-
onal é que conseguiam fundar suas caixas.

As primeiras foram as dos trabalhadores das companhias de via férrea e portuári-


os. Era autenticamente uma espécie de seguro social, ou seja, só tinha direito aque-
le que pagava a contribuição estipulada, que garantiria certos benefícios como a
aposentadoria e, principalmente a assistência médica. Como eram privados, ou se-
ja, eram mantidos por empresas, ainda não se con�guravam como iniciativas do
Estado, muito embora, curiosamente, os presidentes dessas Caixas fossem nomea-
dos pelo Presidente da República, havendo um claro interesse do governo na ma-
nutenção desse sistema (FONTILENE JÚNIOR, 2008, n. p.).

As CAPs, que, posteriormente, foram transformadas em Institutos de


Aposentadorias e Pensões (IAPs), congregavam os trabalhadores por categori-
as pro�ssionais. Apesar de estarem voltados, prioritariamente, para os benefí-
cios e pensões, os IAPs também ofereciam serviços médicos, mas essa assis-
tência era limitada aos trabalhadores inseridos em empregos formais e orga-
nizados. Esse modelo corresponde à concepção de cidadania regulada – mo-
dalidade em que a base dos direitos não se encontra em valores políticos uni-
versais, e sim em um sistema de estrati�cação ocupacional de�nido por nor-
ma legal. Assim, trabalhadores rurais, domésticos e trabalhadores informais
eram vistos como pré-cidadãos (ESCORES; TEIXEIRA, 2008).

Os IAPs eram autarquias de nível nacional centralizadas no governo federal,


nas quais a �liação se dava por categorias pro�ssionais, diferentemente das
CAPs, que eram promovidas por empresas. Já sob regime de repartição, os
IAPs ofereciam maior nível de proteção, como assistência médica para �lia-
dos e dependentes, porém, os saldos superavitários (devido aos poucos bene�-
ciários) no início do sistema foram utilizados para outros �ns, além da con-
cessão de aposentadorias e pensões generosas. O �nanciamento da previdên-
cia social – dos IAPs e das poucas CAPs então remanescentes – tem origem
nas contribuições dos empregadores, dos trabalhadores e do próprio Estado,
em geral criando impostos previdenciários. Institui-se, então, o regime de ca-
pitalização: as diferenças entre receita e despesa passam a ser investidas lu-
crativamente.

A partir de 1930, o Estado recebe fortes pressões por parte de intelectuais e mi-
litares para a criação de novos serviços na área de saúde pública, culminando,
em 1931, com a criação do Ministério da Educação e Saúde. Nessa fase, a saúde
pública de�niu seu papel, e os burocratas e as classes que apoiavam a
Revolução Constitucionalista obtiveram grandes privilégios políticos (IYDA,
1994).

Convivendo com uma constante alternância de seus dirigentes, o Ministério �cou


refém das instabilidades políticas decorrentes das disputas entre as diversas forças
que haviam se aliado em torno do novo regime. O Ministério da Educação e Saúde
passou a ter um caráter centralizador, normatizando e uniformizando as estruturas
estaduais, nas mãos de interventores escolhidos pelo executivo federal, as quais
deveriam assumir as atividades municipais.

A estrutura administrativa da saúde pública instituída nesse período permaneceu


quase inalterada até a criação do Ministério da Saúde em 1953.

O período �cou marcado pela separação entre saúde pública – centrada na erradi-
cação de doenças infectocontagiosas, endemias ou epidemias – e assistência mé-
dica previdenciária, de caráter individual, destinada aos indivíduos acometidos por
doenças que lhes impediam de trabalhar.

A assistência individual não estava sob o controle do Ministério da Educação e


Saúde e sim do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (ESCORES; TEIXEIRA,
2008, n. p.).

A criação de um Ministério da Saúde independente do da Educação foi o gran-


de marco do ano de 1953. Sua estrutura era frágil, e seu orçamento era a menor
fração do antigo Ministério da Educação e Saúde, cabendo-lhe um terço do im-
posto da educação e saúde. Até 1964, o Ministério da Saúde teve transitorieda-
de de seus titulares, evidenciando a barganha política dos governantes. Houve,
também, aumento dos gastos da previdência com a assistência médica, am-
pliando as doenças a serem contempladas por ela. O foco do processo saúde-
doença era, principalmente, a doença.
Kubitschek buscou, tanto em seu programa de saúde como em suas primeiras me-
didas como presidente eleito, apresentar as relações entre enfermidades e nação na
mesma chave positiva que emoldurava suas proposições para o desenvolvimento
do país. Em sua opinião, o Brasil havia superado as “doenças pestilenciais” (como a
febre amarela e a peste bubônica) e o novo governo deveria dedicar-se a combater
primordialmente as “doenças de massa”, tais como a tuberculose, a lepra, as doen-
ças gastrointestinais e as endemias rurais, que debilitavam e tornavam improduti-
vos milhões de brasileiros.

[...] No governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek durante o período de


1956 a 1960, houve transformações econômicas estruturais e conjunturais no país
apoiada principalmente pelo capital estrangeiro. A saúde não era o tema central do
governo de Kubitschek e ele em sua campanha a presidente em 1955 rejeitou a as-
sociação entre enfermidades e o Brasil dizendo a frase que – o Brasil não seria
mais apenas “doença” (KUBITSCHEK, 1955a, p. 4-32).

Além disso, alertava: o país já deveria agir contra as “doenças crônico-


degenerativas” ou as enfermidades do mundo desenvolvido, como o câncer.
Guardando semelhanças com os objetivos gerais do movimento médico-higienista
da Primeira República, o programa de Juscelino explicitava visão otimista sobre o
futuro do país, reforçando a idéia de que a saúde dos brasileiros estava melhor do
que havia sido e que as doenças que os a�igiam já não eram as do início do século
XX (HOCHMAN, 2009, p. 23).

No campo da saúde, houve, também, o Congresso de Hospitais, instituindo ser-


viços próprios das empresas. Nasce uma nova prestação privada de serviços
de saúde, por meio da emergência da medicina de grupo. Podemos considerar
esse formato de prestação de serviço como o precursor da política neoliberal
na saúde, pois hoje há planos de saúde constituídos de empresas com �nali-
dade lucrativa, isto é, a estrutura hospitalar de natureza lucrativa já estava
montada e apontava na direção da formação de empresas médicas; a corpora-
ção médica estava ligada há interesses capitalistas.

Sucedeu Juscelino Jânio Quadros, o 22º Presidente do Brasil (http://pt.wikipe-


dia.org/wiki/Brasil), com um mandato breve entre 31 de janeiro (http://pt.wiki-
pedia.org/wiki/31_de_janeiro) de 1961 (http://pt.wikipedia.org/wiki/1961) e 25
de agosto (http://pt.wikipedia.org/wiki/25_de_agosto) de 1961 (http://pt.wiki-
pedia.org/wiki/1961), quando renunciou ao poder. Após sua renúncia, os mili-
tares tentaram vetar a chegada do Vice-presidente João Goulart (Jango) à pre-
sidência, por descon�arem que ele pudesse ser uma ameaça à segurança na-
cional, principalmente pela ideia de comunismo. Houve, então, um movimen-
to chamado “Campanha da Legalidade”, liderado por Leonel Brizola. Com vári-
as pressões e con�itos, em 7 de setembro de 1961, João Goulart assumiu a vaga
deixada por Jânio Quadros. A instalação do parlamentarismo fez que João
Goulart não tivesse meios para aprovar suas propostas políticas. No
Ministério da Saúde, houve sucessão de seis ministros em três anos.

O penúltimo, Souto Maior, apresentou um conceito ampliado de saúde, no XV


Congresso de Higiene, em 1962. A saúde da população deveria ser entendida como
suas condições globais de trabalho. Reconhecia um círculo vicioso entre pobreza e
doença e subordinava sua interrupção a um projeto de desenvolvimento nacional.
Nesse Congresso, a indústria farmacêutica nacional manifestou-se contra a cres-
cente desnacionalização do setor. A expansão das multinacionais de medicamen-
tos era percebida como fator capaz de in�uenciar a orientação política do setor
saúde por meio da construção de um modelo de ampliação descontrolada do aten-
dimento médico hospitalar (TEIXEIRA, 2008, p. 7).

Outro marco da história da saúde no âmbito ministerial ocorreu em 1963, com a re-
alização da III Conferência Nacional da Saúde (CNS), convocada pelo ministro
Wilson Fadul, árduo defensor da tese de municipalização.

A Conferência propunha a reordenação dos serviços de assistência médico-


sanitária e alinhamentos gerais para determinar uma nova divisão das atribuições
e responsabilidades entre os níveis político-administrativos da Federação visando,
sobretudo, a municipalização (BRASIL, 2010, n. p.).

Havia a pretensão de descentralizar o modelo de saúde, iniciando desde o


atendimento básico até o nível terciário médico-hospitalar especializado. No
�nal do governo de Jango, a área da saúde estava diante de uma intensa polê-
mica entre os interesses nacionais e do capital estrangeiro. Além disso, o seu
governo teve a proposição de reforma agrária radical, estatização do abasteci-
mento e nacionalização.

Os partidos que se opunham a João Goulart, como a União Democrática


Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD), o acusavam de estar pla-
nejando um golpe esquerdista e de ser o responsável pelos problemas que o
Brasil enfrentava na época. No dia 13 de março de 1964, João Goulart realizou
um grande comício na Central do Brasil (Rio de Janeiro), onde defendeu as
Reformas de Base e prometeu mudanças radicais na estrutura agrária, econô-
mica e educacional do país. Seis dias depois, em 19 de março, os conservado-
res organizaram um protesto que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do
centro da cidade de São Paulo contra as intenções de João Goulart. Foi a
Marcha da Família com Deus pela Liberdade.

A crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de mar-


ço de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saíram às ruas. Evitando uma
guerra civil, Jango deixou o país, refugiando-se no Uruguai. Os militares �nal-
mente tomaram o poder e, em seguida, estabeleceram o AI-1 (Ato
Institucional). Com 11 artigos, esse documento dava ao governo militar o poder
de alterar a constituição, cassar mandatos legislativos, suspender direitos po-
líticos por dez anos e demitir, colocar em disponibilidade ou aposentar com-
pulsoriamente qualquer pessoa que fosse contra a segurança do país, o regime
democrático e a probidade da administração pública, além de determinar elei-
ções indiretas para a presidência da república. Foi nesse contexto que emergiu
o movimento sanitário no interior das universidades, como decorrência da ex-
clusão da participação dos trabalhadores e técnicos no processo decisório das
políticas de saúde, as quais eram tomadas pelos governos autoritários em seu
próprio benefício (BERTOLOZZI; GRECO, 1996).

Compreensão do Regime Militar e os re�exos na saúde


“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina” (ANDRADE, s. n. t.).

O novo governo passou a trabalhar por decreto, como já supracitado, pelo cha-
mado AI (Ato Institucional). O presidente baixava o AI sem consultar nin-
guém, e todos tinham de obedecer. O AI-1 determinava que a eleição para pre-
sidente da república fosse indireta, ou seja, com o Congresso Nacional já sem
os deputados e senadores incômodos, devidamente cassados, e um único can-
didato. Em 15 de abril de 1964, era anunciado o primeiro general-presidente,
que iria governar o Brasil segundo interesses do grande capital estrangeiro
nos próximos anos: . Esse general, a
pouco mais de 20 dias de governo, decretou o AI-2, que acabava, de�nitiva-
mente, com eleições diretas para presidente da república, e quem votaria nes-
se cargo seriam os senadores e deputados, de forma nominal e declarada. Ele
acaba, também, com partidos políticos, podendo apenas dois existirem:
ARENA (Aliança Renovadora Nacional) E MDB (Movimento Democrático
Brasileiro). O primeiro era do governo e apoiava o regime militar, e o segundo
era a oposição consentida. A ditadura, querendo uma imagem democrática,
permitia a existência de um partido levemente contrário, contanto que nin-
guém �zesse uma oposição muito forte. No começo de 1966, é lançado o AI-3,
que determinava que as eleições para governador também seriam indiretas.

No campo econômico do Governo Castello Branco, o salário dos operários foi


considerado responsável pela crise econômica; portanto, os aumentos salari-
ais deveriam ser menores que a in�ação. Um dos recursos para diminuir salá-
rios foi a extinção da estabilidade. Pela lei antiga, depois de dez anos numa
empresa, o empregado praticamente tinha estabilidade, mas isso foi derruba-
do pela criação do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), em 1966, o
qual ainda existe, funcionando assim: todo mês, o patrão deposita no banco
uma parte do salário do empregado, formando uma espécie de caderneta de
poupança. Essa poupança só pode ser sacada em algumas situações, como
compra de casa ou determinados problemas de saúde. As empresas, assim, �-
caram mais livres para demitir, e foi-se criando um exército de reserva (pesso-
as desempregadas que aceitam qualquer salário por trabalho). Há, claramente,
o aumento de exploração da força de trabalho.

Os sucessivos governos militares continuaram a utilizar os Atos


Institucionais, chegando até o AI-17. O Presidente Costa e Silva, que sucedeu
Castello Branco, decretou, em 13 de dezembro de 1968, o AI-5, no qual cancela-
va todos os dispositivos da Constituição de 1967 que pudessem ser utilizados
pela oposição. O AI-5 autorizava o presidente da república, em caráter excepci-
onal, e, portanto, sem apreciação judicial, a: decretar o recesso do Congresso
Nacional; intervir nos estados e municípios; cassar mandatos parlamentares;
suspender, por dez anos, os direitos políticos de qualquer cidadão; decretar o
con�sco de bens considerados ilícitos; e suspender a garantia do habeas cor-
pus. No preâmbulo do ato, dizia-se ser essa uma necessidade para atingir os
objetivos da revolução, “com vistas a encontrar os meios indispensáveis para
a obra de reconstrução econômica, �nanceira e moral do país”. No mesmo dia
em que se instituiu o AI-5, foi decretado o recesso do Congresso Nacional por
tempo indeterminado – só em outubro de 1969, o Congresso seria reaberto, pa-
ra referendar a escolha do General Emílio Garrastazu Médici para a presidên-
cia da república.

Mas o Decreto AI-5 vigorou até dezembro de 1978 e produziu um elenco de


ações arbitrárias de efeitos duradouros. De�niu o momento mais duro do regi-
me, dando poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente os
que fossem inimigos do regime ou considerados como tal. A cassação de di-
reitos políticos, agora descentralizada, poderia ser decretada com extrema ra-
pidez e sem burocracia; o direito de defesa ampla ao acusado foi eliminado;
suspeitos poderiam ter sua prisão decretada imediatamente, sem necessidade
de ordem judicial; os direitos políticos do cidadão comum foram cancelados; e
os direitos individuais foram eliminados pela instituição do crime de desacato
à autoridade.

Os militares, em relação à previdência, também buscavam o maior controle e


organização em conformidade com outras ações na área econômica, política e
social. Em 1966, criou-se o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), su-
bordinado ao Ministério do Trabalho (resultado da uni�cação dos IAPs), com o
objetivo de modernizar a máquina estatal e aumentar a regulação do Estado.
Essa reforma afetou profundamente a saúde pública e medicina previdenciá-
ria. A população enfrentava altas taxas de mortalidade devido às péssimas
condições de saúde, agravadas com a repressão política, com cassações, exí-
lio, aposentadoria compulsória de pesquisadores e fechamento de centros de
pesquisas. É importante notar que as políticas de saúde, nessa época, eram ex-
clusivas ao atendimento do cidadão, este entendido como assalariado e inseri-
do no mercado formal de trabalho. Aos excluídos desse patamar, restava re-
correr à �lantropia e aos poucos estabelecimentos mantidos pelo Estado que
atendiam os não previdenciários (OLIVEIRA, 2009).
As políticas de saúde dos governos da ditadura militar privilegiaram o setor priva-
do, com compras de serviços de assistência médica, apoio aos investimentos e em-
presas, intensi�cado com subsídios �scais. Nessa mesma época uni�caram-se os
IAPs, surgindo assim o “INPS – Instituto Nacional de Previdência Social”. Apesar
da ditadura, foi nessa época que se iniciou o ensaio de um atendimento universal
em saúde no Brasil, como na extensão dos direitos previdenciários aos trabalhado-
res rurais e atendimento de não-previdenciários em alguns hospitais em casos de
emergência. Entretanto, como nos aponta PAIM (2003), o acesso à saúde continua-
va limitado, e essas exceções geralmente constituíam atendimento mais precário
daquele da medicina previdenciária (OLIVEIRA, 2009, n. p.).

No regime militar, a repressão contra as classes subalternas servia aos inte-


resses do grande capital, garantindo uma exploração da força de trabalho, im-
pedindo manifestações organizadas dos trabalhadores em favor dos seus di-
reitos. Dessa forma, a política previdenciária e outras políticas sociais em ge-
ral foram utilizadas como moeda de troca: a extensão de alguns direitos soci-
ais tinha como objetivo buscar legitimidade para um regime essencialmente
coercitivo. Data do início da década de 1970, em plena ditadura, a inclusão tar-
dia de segmentos de trabalhadores até então deixados à margem do sistema
previdenciário, como os trabalhadores rurais, os empregados domésticos e os
autônomos. Em meados da década de 1970, pode-se dizer que o conjunto de
trabalhadores inseridos no mercado formal de trabalho estava vinculado, de
algum modo, ao sistema previdenciário. Mais uma vez, repete-se um antigo
traço da história brasileira: ainda que algumas das reivindicações das classes
subalternas sejam incorporadas ao projeto de poder das classes dominantes,
as modi�cações políticas, sociais e econômicas ocorrem sem a participação
efetiva dessas classes subalternas.

Os movimentos sociais estavam quase ausentes na sociedade, sendo os movi-


mentos políticos sociais limitados, principalmente o do operariado. Então, o
movimento estudantil torna-se a principal organização de oposição ao regime.

Com o aumento da repressão, as organizações dos movimentos políticos e so-


ciais �caram limitadas. O movimento operário, por exemplo, era praticamente
ausente. O movimento estudantil torna-se, então, a principal organização de
oposição ao regime. Durante 15 anos, quase não houve greves no Brasil, justa-
mente os anos entre 1964 e 1978, nos quais a ditadura militar foi mais dura.
Nesse período, aconteceram várias prisões, torturas, assassinatos políticos e o
desaparecimento de pessoas. Nessa época, morreram, �caram presos e/ou fo-
ram exilados trabalhadores, estudantes, intelectuais, padres etc.

A ditadura militar durou mais de 20 anos, criando uma tendência de desenvol-


vimento econômico, social e político. Aprofundou problemas estruturais com
um sistema regulador da sociedade intenso. Nas relações sociais, era essa
ideia reguladora que dominava, por meio de uma política assistencialista; as-
sim, buscava-se suavizar as tensões sociais, legitimar o regime e acumular
capital.

Como visto, a previdência foi uni�cada com a junção dos IAPs, em 1966, cres-
cendo a ingerência do Estado na sociedade, com este excluindo os trabalhado-
res na gestão da previdência. O setor de saúde assume características capita-
listas, incorpora as modi�cações tecnológicas do exterior, tendo as seguintes
características:

Extensão da cobertura previdenciária de forma a abranger a quase totalidade da


população urbana, incluindo, após 73, os trabalhadores rurais, empregadas domés-
ticas e trabalhadores autônomos; ênfase na prática médica curativa, individual, as-
sistencialista e especializada, e articulação do Estado com os interesses do capital
internacional, via indústrias farmacêuticas e de equipamento hospitalar; criação
do complexo médico-industrial, responsável pelas elevadas taxas de acumulação
de capital das grandes empresas monopolistas internacionais na área de produção
de medicamentos e de equipamentos médicos;

Interferência estatal na previdência, desenvolvendo um padrão de organização da


prática médica orientada para a lucratividade do setor saúde, propiciando a capita-
lização da medicina e privilegiando o produtor privado desses serviços; organiza-
ção da prática médica em moldes compatíveis com a expansão do capitalismo no
Brasil, com a diferenciação do atendimento em relação à clientela e das �nalidades
que esta prática cumpre em cada uma das formas de organização da atenção médi-
ca (BRAVO, 2001, p. 2).

Os questionamentos das políticas de saúde iniciaram-se no �nal da década de


1970 e início de 1980, por meio de sindicatos e partidos do meio acadêmico e
cientí�co. Iniciam-se debates em seminários, congressos, com questões sobre
as epidemias, as endemias e a degradação da qualidade de vida da população.
Os movimentos populares, como associação de moradores, de mulheres, sindi-
catos, igreja e partidos políticos, exigiam soluções para os problemas de saúde
criados no regime autoritário (LUZ, 1991). Nesse período, foi marcante a produ-
ção cientí�ca de intelectuais, professores e pesquisadores, que, reforçando os
estudos já existentes desde o início da década, criticavam o modelo vigente,
denunciavam as más condições de vida da população e propunham alternati-
vas para a construção de uma nova política de saúde efetivamente democráti-
ca.

Quase toda essa produção adotava uma postura radical de crítica ao centralis-
mo autoritário do regime militar (SOARES; MOTA, s. d.). O movimento começa
a ganhar força, até a criação do SUS pela Constituição de 1988. Assim, surge o
Movimento Sanitário Brasileiro, que se apropria dessas pesquisas para denun-
ciar os efeitos do modelo econômico na saúde das pessoas. Defende a reforma
sanitária, que é um processo político em busca de conquistas sociais – conse-
quentemente, da saúde – e responsável pela construção do novo sistema naci-
onal de saúde.

Movimento Sanitarista Brasileiro e as conquistas na


Constituição de 1988
O movimento político pela Reforma Sanitária no Brasil reivindicava mudan-
ças para além do setor de saúde, visando à consolidação da democracia e ci-
dadania nos países. A maioria da população nos anos 1980 era excluída do di-
reito à saúde, que era restrita aos trabalhadores que contribuíam com o
Instituto Nacional de Previdência Social.

Com a redemocratização, a derrota das eleições diretas em 1984, vem o adven-


to da Nova República, em 1985: a sociedade brasileira conquista, por meio da
eleição indireta, um presidente não militar, elegendo um presidente civil, o
primeiro desde 1964. Foi formada uma aliança, a Aliança Democrática, para
derrotar o autoritarismo do colégio eleitoral, e, assim, elegeu-se Tancredo
Neves para presidente e José Sarney para vice-presidente, uma transição ne-
gociada. Com a morte de Tancredo, em 21 de abril, Sarney assume o posto de
presidente da república.
Paralelamente a esse acontecimento, o movimento sanitarista brasileiro cres-
ceu e ganhou representatividade por meio dos pro�ssionais de saúde, usuári-
os, políticos e lideranças populares, na luta pela reestruturação do nosso siste-
ma de saúde.

O marco desse movimento ocorreu em 1986, durante a VIII Conferência


Nacional de Saúde, em Brasília, congregando o expressivo número de 5.000
participantes, provenientes de um leque bastante diversi�cado de agentes/su-
jeitos sociais e políticos da sociedade civil organizada. A participação no
evento foi signi�cativa, precedida de mobilizações em pré-conferências esta-
duais. Foi garantida a autonomia na escolha dos representantes de entidades
e delegados para conferência. É inédita essa convocação do poder executivo
do Brasil na convocação da sociedade civil para o debate de políticas e/ou pro-
gramas do governo.

No relatório �nal da conferência, a saúde passa a ser de�nida como o resulta-


do não apenas das condições de alimentação, habitação, educação, trabalho,
lazer e acesso aos serviços de saúde, mas, sobretudo, da forma de organização
da produção na sociedade e das desigualdades nela existentes.

Vejamos um trecho do texto do relatório:

Saúde como Direito – em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das
condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de
saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da pro-
dução, que podem gerar desigualdades nos níveis de vida.

Direito à saúde signi�ca a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e de


acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recupe-
ração de saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do território nacio-
nal, levando ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade
(BRASIL, 1986, p. 4).

Essa conferência teve propostas concretas que foram defendidas na


Assembleia Nacional Constituinte criada em 1987. Dentre as propostas,
destacam-se: a saúde seria defendida como direito de todo cidadão, indepen-
dentemente de ter contribuído, de ser trabalhador rural ou não trabalhador;
não se deveria excluir nenhum brasileiro do acesso à saúde; as ações de saúde
deveriam garantir o acesso da população às ações preventivas e curativas; ha-
veria a descentralização da gestão tanto administrativa como �nanceira e a
inserção do controle social das ações de saúde. Controle social é a participa-
ção da sociedade no acompanhamento e veri�cação das ações da gestão pú-
blica na execução das políticas públicas, avaliando os objetivos, processos e
resultados.

O movimento preconizava a mudança do modelo médico-assistencial priva-


tista para um sistema nacional de saúde universal, público, participativo, des-
centralizado e de qualidade. O movimento sanitário torna-se uma experiência
singular e rica no campo da luta em torno das políticas públicas e das suas
implicações para o relacionamento Estado-sociedade.

O Governo Sarney constituía-se de forças políticas heterogêneas, isto é, forças


conservadoras e progressistas, havendo, portanto, interesses opostos: de um
lado, os privatistas, e, do outro, os estatizantes, não tendo nenhuma força he-
gemônica. Diante desse quadro, o que possibilitou transformações importan-
tes foi o movimento sanitário, que teve um papel fundamental nas conquistas
políticas, como em 1987, e o Decreto nº 94.657/87, que cria o Programa de
Desenvolvimento dos Sistemas Uni�cados e Descentralizados de Saúde
(SUDS). Esse programa prevê �nanciamento tripartido na área da saúde, nas
esferas federal, estadual e municipal, dando autonomia a esses dois últimos
níveis de gestão da saúde. A ideia é universalizar o acesso aos serviços de
saúde por meio do fortalecimento do setor público de oferta de serviços.

O Suds avançou na política de descentralização da saúde e, principalmente na des-


centralização do orçamento, permitindo uma maior autonomia dos estados na pro-
gramação das atividades do setor; deu prosseguimento às estratégias de hierarqui-
zação e universalização da rede de saúde e retirou do Inamps a soma de poder que
ele centralizava (VENÂNCIO, 2005, p. 4).

O SUDS foi a base para a construção do SUS, e ele a�rmava a participação da


sociedade civil, recomendando a criação de conselhos de saúde. No entanto, a
composição deles não foi estipulada. O local em que havia maior disputa polí-
tica não era nos conselhos, mas, sim, na Assembleia Nacional Constituinte,
em que os conservadores eram contrários aos direitos sociais. Assim, para
contrapor o conservadorismo, os deputados ligados à Reforma Sanitária
uniram-se em uma plenária nacional de entidades de saúde, visando inserir
as propostas do movimento sanitário, principalmente as da VIII Conferência
Nacional de Saúde, no texto constitucional. Essa plenária desenvolveu um tra-
balho de mobilização e negociações no Congresso Nacional. O debate consti-
tuinte foi acirrado e revelou resistências por parte dos prestadores de serviço
privado do setor de saúde e da medicina autônoma, além dos constituintes
conservadores. Mas essa disputa não barrou a aprovação do SUS e seus prin-
cípios.

Em 5 de outubro de 1988, é promulgada a 8º Constituição do Brasil, denomina-


da “Constituição Cidadã”, sendo um marco fundamental na rede�nição das
prioridades da política do Estado na área da saúde pública.

Na constituinte, delimitou-se, então, que saúde é qualidade de vida e, portanto,


deve estar vinculada aos direitos humanos, ao direito ao trabalho, à moradia,
educação, alimentação e lazer. O direito à saúde, especialmente quando exa-
minado sob a ótica da qualidade de vida, exige, também, que a superação das
desigualdades envolva o acesso democrático a alimentos, medicamentos e
serviços que sejam seguros e que tenham sua qualidade controlada pelo Poder
Público. Qualidade de vida implica o reconhecimento do ser humano como ser
integral. O conceito de cidadania que a Constituição assegura deve ser tradu-
zido nas condições de vida da população.

Figueiredo Neto et al. (2010) ressaltam que a promoção da atenção à saúde são
fundamentais e fazem parte do elenco de políticas sociais necessárias para a
construção de uma sociedade justa e democrática, sendo essa a missão cen-
tral do SUS.

Como se pode perceber, o processo saúde-doença tem relação com diversos


aspectos (políticos, sociais, culturais, de interesses de setores etc.). Desde a co-
lonização do Brasil até a aprovação do SUS, o conceito de saúde foi sendo
transformado, atendendo às ideologias vigentes em cada época. Sem dúvida, a
saúde associada à qualidade de vida, aos direitos humanos, à cidadania como
preconizada no SUS, é um avanço importante para quaisquer cidadãos brasi-
leiros. Os conceitos historicamente traduzem a visão de homem em cada pe-
ríodo e a sua organização social.

SUS: princípios e implantação


A base do texto foi a cartilha do Ministério da Saúde de 1990, intitulada ABC
do SUS – doutrinas e princípios.

A sigla “SUS”, que signi�ca “Sistema Único de Saúde”, traz a ideia de único
porque segue a mesma doutrina e os princípios organizativos em todo país,
que está sob responsabilidade das três esferas de governo (federal, estadual e
municipal). O SUS é um sistema com serviços e ações que interagem para um
�m comum, trabalhando com atividades de promoção, proteção e recuperação
da saúde.

Sua base doutrinária segue os seguintes princípios:


– É a garantia de atenção à saúde por parte do sistema, a todo e
qualquer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a
todos os serviços públicos de saúde, assim como àqueles contratados pelo poder
público. Saúde é direito de cidadania e dever do Governo: municipal, estadual e fe-
deral.

– É assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a com-


plexidade que cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem privilégios e
sem barreiras. Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas
necessidades até o limite do que o sistema puder oferecer para todos.

– É o reconhecimento na prática dos serviços de que:

Cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade. As ações de


promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um todo indivisível e
não podem ser compartimentalizadas. As unidades prestadoras de serviço, com
seus diversos graus de complexidade, formam também um todo indivisível con�-
gurando um sistema capaz de prestar assistência integral. En�m, o homem é um
ser integral, bio-psico-social, e deverá ser atendido com esta visão integral por um
sistema de saúde também integral, voltado a promover, proteger e recuperar sua
saúde (OLIVEIRA et al., 2007; MATTOS, 2009, n. p.).

Há, também, os princípios que regem sua organização:


– Os serviços devem ser organizados em níveis
de complexidade tecnológica crescente, dispostos numa área geográ�ca delimitada
e com a de�nição da população a ser atendida. Isto implica na capacidade dos ser-
viços em oferecer a uma determinada população todas as modalidades de assis-
tência, bem como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível, possibilitando um
ótimo grau de resolubilidade (solução de seus problemas). O acesso da população à
rede deve se dar através dos serviços de nível primário de atenção que devem estar
quali�cados para atender e resolver os principais problemas que demandam os ser-
viços de saúde. Os demais, deverão ser referenciados para os serviços de maior
complexidade tecnológica. A rede de serviços, organizada de forma hierarquizada e
regionalizada, permite um conhecimento maior dos problemas de saúde da popula-
ção da área delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária,
controle de vetores, educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e
hospitalar em todos os níveis de complexidade.

– É a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento


ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço corres-
pondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua compe-
tência.

– É entendida como uma redistribuição das responsabilidades


quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da
idéia de que quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de
acerto. Assim, o que é abrangência de um município deve ser de responsabilidade
do governo municipal; o que abrange um estado ou uma região estadual deve estar
sob responsabilidade do governo estadual, e, o que for de abrangência nacional será
de responsabilidade federal.

Aos municípios cabe, portanto, a maior responsabilidade na promoção das ações


de saúde diretamente voltadas aos seus cidadãos.

– É a garantia constitucional de que a população, atra-


vés de suas entidades representativas, participará do processo de formulação das
políticas de saúde e do controle da sua execução, em todos os níveis, desde o fede-
ral até o local. Essa participação deve se dar nos Conselhos de Saúde, com repre-
sentação paritária de usuários, governo, pro�ssionais de saúde e prestadores de
serviço. Outra forma de participação são as conferências de saúde, periódicas, para
de�nir prioridades e linhas de ação sobre a saúde.

– A Constituição de�niu que, quando por in-


su�ciência do setor público, for necessário a contratação de serviços privados, isso
deve se dar sob três condições:
A celebração de contrato, conforme as normas de direito público, ou seja, interesse
público prevalecendo sobre o particular;

A instituição privada deverá estar de acordo com os princípios básicos e normas


técnicas do SUS. Prevalecem, assim, os princípios da universalidade, eqüidade etc.,
como se o serviço privado fosse público, uma vez que, quando contratado, atua em
nome deste;

A integração dos serviços privados deverá se dar na mesma lógica organizativa do


SUS, em termos de posição de�nida na rede regionalizada e hierarquizada dos ser-
viços. Dessa forma, em cada região, deverá estar claramente estabelecido,
considerando-se os serviços públicos e privados contratados, quem vai fazer o que,
em que nível e em que lugar (OLIVEIRA et al., 2007; MATTOS, 2009, n. p.).

Gestão do SUS
Nos municípios, os gestores do SUS são as secretarias municipais de saúde ou
as prefeituras, sendo responsáveis os respectivos secretários municipais e
prefeitos. Nos estados, os gestores são os secretários estaduais de saúde e, no
âmbito federal, o Ministério da Saúde. A responsabilidade sobre as ações e
serviços de saúde em cada esfera de governo, portanto, é do titular da secreta-
ria respectiva, e do Ministério da Saúde no âmbito federal.

Os gestores têm responsabilidades no âmbito municipal, cabendo a eles pro-


gramar, executar e avaliar as ações de promoção, proteção e recuperação da
saúde. Isso signi�ca que o município deve ser o primeiro e o maior responsá-
vel pelas ações de saúde para a sua população. Os serviços devem ser ofereci-
dos em quantidade e qualidade adequadas às necessidades de saúde da popu-
lação, e ninguém melhor do que os gestores municipais para avaliar e progra-
mar as ações de saúde em função da problemática da população do seu muni-
cípio.

Em nível estadual, o secretário estadual de saúde, como gestor estadual, é o


responsável pela coordenação das ações de saúde do seu estado. Seu plano di-
retor será a consolidação das necessidades propostas de cada município, por
meio de planos municipais ajustados entre si. O estado deverá corrigir distor-
ções existentes e induzir os municípios ao desenvolvimento das ações. Assim,
cabe também aos estados planejar e controlar o SUS em seu nível de respon-
sabilidade e executar apenas as ações de saúde que os municípios não forem
capazes e/ou que não lhes couber executar.

Em nível federal, o gestor é o Ministério da Saúde, e sua missão é liderar o


conjunto de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, identi�can-
do riscos e necessidades nas diferentes regiões para a melhoria da qualidade
de vida do povo brasileiro, contribuindo para o seu desenvolvimento. Em ou-
tras palavras, ele é o responsável pela formulação, coordenação e controle da
política nacional de saúde, tendo importantes funções no planejamento, �-
nanciamento, cooperação técnica o controle do SUS.

Ainda que a saúde seja um direito de todos e um dever do Estado, isso não dis-
pensa cada indivíduo da responsabilidade por seu autocuidado nem as em-
presas, escolas, sindicatos, imprensa e associações de sua participação no
processo.

Ações de promoção, proteção e recuperação da saúde


As ações a serem desenvolvidas no SUS devem ter como base principal as ca-
racterísticas do per�l epidemiológico da população, não só em termos de do-
enças mais frequentes, como também em termos das condições socioeconô-
micas da comunidade, dos seus hábitos e seus estilos de vida e de suas neces-
sidades de saúde, sentidas ou não sentidas – aí incluída, por extensão, a infra-
estrutura de serviços disponíveis.

Ações de promoção e proteção de saúde


Esses grupos de ações podem ser desenvolvidos por instituições governamen-
tais, empresas, associações comunitárias e indivíduos. Tais ações visam à re-
dução de fatores de risco que constituem ameaça à saúde das pessoas, poden-
do provocar-lhes incapacidades e doenças. Esses grupos compreendem um
elenco bastante vasto e diversi�cado de ações, de natureza eminentemente
preventiva.

No campo da , são exemplos de ações: Educação em Saúde; bons pa-


drões de alimentação e nutrição; adoção de estilos de vida saudáveis; uso ade-
quado e desenvolvimento de aptidões e capacidades; aconselhamentos especí-
�cos, como os de cunho genético e sexual. Mediante essas ações, são estimu-
ladas as práticas da ginástica e outros exercícios físicos, os hábitos de higiene
pessoal, domiciliar e ambiental, e, em contrapartida, desestimulados o seden-
tarismo, o tabagismo, o alcoolismo, o consumo de drogas e a promiscuidade
sexual. No desenvolvimento dessas ações, devem ser utilizados, de forma pro-
gramática e sistemática, com emprego de linguagem adequada ao público-
alvo, os diferentes meios e veículos disponíveis de comunicação ao alcance da
comunidade: cartazes, rádio, jornal, televisão, alto-falantes, palestras e debates
em escolas, associações de bairro, igrejas, empresas, clubes de serviço e lazer,
entre outros.

No campo da , são exemplos de ações: vigilância epidemiológica, va-


cinações, saneamento básico, vigilância sanitária, exames médicos e odonto-
lógicos periódicos, entre outros. Com base na vigilância epidemiológica, são
obtidas as informações para conhecer e acompanhar, a todo momento, o esta-
do de saúde da comunidade e para desencadear, oportunamente, as medidas
dirigidas à prevenção e ao controle das doenças e agravos à saúde.

A vigilância sanitária busca garantir a qualidade de serviços, meio ambiente,


ambiente de trabalho e produtos (alimentos, medicamentos, cosméticos, sane-
antes domissanitários, agrotóxicos e outros), mediante a identi�cação, o con-
trole ou a eliminação de fatores de risco à saúde neles eventualmente presen-
tes. São exemplos de serviços sujeitos à vigilância sanitária: unidades de saú-
de, restaurantes, academias de ginástica, institutos de beleza, piscinas públi-
cas etc. No meio ambiente, a vigilância sanitária procura evitar ou controlar a
poluição do ar, do solo e da água, a contaminação por agrotóxicos, o uso do
mercúrio nos garimpos etc. Nos locais de trabalho, a vigilância sanitária
preocupa-se, por exemplo, em assegurar condições ambientais satisfatórias
(iluminação, temperatura, umidade, ventilação, nível sonoro), adequação ergo-
métrica de máquinas, equipamentos móveis, eliminação de substâncias e pro-
dutos que podem provocar doenças ocupacionais etc. Em relação aos produ-
tos, a vigilância sanitária não se limita apenas à �scalização dos artigos já ex-
postos ao consumo, mas efetua, com prioridade, a inspeção sanitária e técnica
das respectivas linhas de fabricação, de modo a evitar a sua comercialização
em condições insatisfatórias de segurança e qualidade.
No campo da , esse grupo de ações envolve o diagnóstico e o tra-
tamento de doenças, acidentes e danos de toda natureza, a limitação da invali-
dez e a reabilitação. Essas ações são exercidas pelos serviços públicos de saú-
de (ambulatórias e hospitalares) e, de forma complementar, pelos serviços
particulares, contratados ou conveniados, que integram a rede do SUS nos ní-
veis federais, estaduais e municipais, particularmente nos dois últimos, nos
quais deve estar concentrada a maior parte dessas atividades.

3. Programas de saúde
Existem grupos populacionais que estão mais expostos a riscos na sua saúde,
e isso é evidenciado pelos registros disponíveis de morbimortalidade, como,
por exemplo, menores de um ano, gestantes, idosos, trabalhadores urbanos e
rurais sob certas condições de trabalho etc.

A intensidade e a peculiaridade dessa exposição variam bastante com os ní-


veis sociais e características epidemiológicas de cada região e, muitas vezes,
da microrregião. A exposição a riscos também pode ser vista e entendida em
função de cada doença, como no caso da tuberculose, do câncer, da hansenía-
se, de doenças cardiovasculares, da AIDS e outras patologias.

Portanto, no planejamento da produção das ações de educação em saúde e de vigi-


lância epidemiológica, vigilância sanitária, controle de vetores e atendimento am-
bulatorial e hospitalar, devem ser normalizados alguns procedimentos a serem di-
rigidos especialmente a situações de risco, com a �nalidade de intensi�car a pro-
moção, proteção e recuperação da saúde. Daí o conceito e prática dos programas de
saúde, que fazem parte da produção geral das ações de saúde pelas instituições,
unidades e pro�ssionais da área (BRASIL, 2012).

O texto ABC do SUS – doutrinas e princípios foi publicado em 1990, e, atual-


mente, já estamos com mais de 20 anos de SUS. A implantação desse sistema,
desde sua preconização até os dias atuais, é dinâmica e complexa; portanto,
está sempre em movimento. A partir do conhecimento do ABC do SUS, é im-
portante retomarmos historicamente sua implantação e analisarmos como na
atualidade ele vem se comportando. Qual será o papel do professor de
Educação Física, da escola e dos setores da sociedade civil? Por que é impor-
tante a relação da Educação Física com o SUS e, principalmente, no ambiente
escolar?

O SUS só é possível com o envolvimento de todos os setores da sociedade; co-


mo já dito, a ideia é de trabalhar-se o conceito de saúde de forma ampliada, o
que inclui estilos de vida, qualidade de vida, moradia, alimentação, transporte,
direitos, deveres, entre tantos outros aspectos. Essas condições não pertencem
apenas a um setor social, pois diversos são os atores agentes de transforma-
ção da qualidade de vida e cidadania da população, inclusive os nossos alu-
nos.

Implantação do SUS
Segundo Peres (s. n. t.), uma das etapas para a implantação do SUS no Brasil é
a municipalização da saúde, ou seja, que o município se responsabilize em ad-
ministrar o dinheiro arrecadado e promova ações em saúde. Entretanto:

[...] existe especialmente três grandes obstáculos para que este processo não ocorra:
o primeiro é a questão �nanceira, pois os gastos com saúde no Brasil são incompa-
tíveis com a real necessidade, além de variar muito a destinação das verbas em pe-
ríodos de crise.

O segundo relaciona-se com a capitalização da saúde, onde há grande expansão


dos seguros saúde privados, podendo “des�gurar os serviços públicos e expandir a
mercantilização da saúde”.

O terceiro obstáculo para implementação da municipalização da saúde diz respeito


à ambiguidade dos textos legais, quando não se deixa claro, em certos momentos
das Normas Operacionais Básicas, quais são os compromissos e responsabilidades
destas instituições privadas para com a população (PERES, 2012, n. p).

Enquanto esses obstáculos não forem resolvidos, o modelo médico-


assistencial continuará predominando sobre o país. Eles “conspiram contra os
princípios da universalidade, eqüidade e integralidade na atenção à saúde
consagrados na Constituição” (PAIM, 1992, p. 40). Uma das formas para rever-
ter o quadro é a participação popular nos conselhos de saúde que existe no
bairro, no município e no estado.
A comunidade civil pode buscar a participação nas políticas públicas por
meio dos conselhos, inclusive as escolas. O fortalecimento do SUS pode ser re-
alizado por meio de ações intersetoriais, ou seja, da articulação entre sujeitos
de setores sociais diversos e, portanto, de saberes, poderes e vontades diver-
sos, para enfrentar problemas complexos. É uma nova forma de trabalhar, de
governar e de construir políticas públicas, que pretende possibilitar a supera-
ção da fragmentação dos conhecimentos e das estruturas sociais para produ-
zir efeitos mais signi�cativos na saúde da população.

A educação, a saúde, a assistência social etc. possuem saberes complexos que


se complementam na busca da qualidade de vida e dos direitos da população.
A implantação do SUS ultrapassa o limite circunscrito dos pro�ssionais da
saúde. Sem a participação de outros setores, sem o fortalecimento dos conse-
lhos, o modelo médico-assistencial poderá predominar.

Mesmo com essas di�culdades, o SUS é um dos sistemas que se propõe a ser
universal, ou seja, a garantir que o acesso à atenção e a assistência à saúde
ocorram em todos os níveis de complexidade, desde atendimentos a ocorrên-
cias menores, como machucados que necessitam de curativos, até transplante
de órgãos, além de garantir aos cidadãos brasileiros a promoção e proteção à
saúde no sentido amplo do conceito.

Atualmente, o SUS oferece serviços de qualidade a todos os cidadãos brasilei-


ros, mesmo àqueles que têm seus planos privados e acreditam não usufruir do
mesmo nível de atendimento. O SUS hoje, por meio de órgãos federais, estadu-
ais e municipais, �scaliza todos os insumos de medicação e padrões de higie-
ne em estabelecimentos que manipulam alimentos, bem como custeia medi-
cações caras para quaisquer cidadãos e socorre pessoas por meio do SAMU,
entre tantos outros serviços. Por isso, hoje, a defesa do SUS é associada à defe-
sa da vida, e ele está organizado em todo o território nacional como um siste-
ma, ponto esse que iremos re�etir no próximo ciclo, por meio dos programas
governamentais e da organização dos serviços do SUS.

4. Considerações
O objetivo deste ciclo foi introduzir você no campo histórico da saúde pública
brasileira. Para isso, associaram-se os diversos contextos brasileiros, desde o
Brasil Colônia, incluindo a ditadura de Getúlio Vargas, o governo de Juscelino,
a ditadura militar dos anos 1960 aos 1980, até a criação do SUS. Em todas as
descrições históricas feitas, é possível a re�exão de qualquer assunto, e o aqui
proposto foi o da saúde pública.

Com o estudo deste primeiro ciclo, foi possível veri�car como os processos de
cidadania e saúde estão intimamente relacionados e fazem parte de opressões
e conquistas em cada momento. As políticas públicas não estão dadas, e essa
é uma luta que pertence a quaisquer cidadãos. Por isso, foi importante com-
preender, de forma panorâmica, a evolução das ações na área de saúde, bem
como ver que a efetivação do direito à saúde depende do provimento de políti-
cas que assegurem esse direito, cabendo, especi�camente, ao SUS, a promo-
ção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e das coletividades, de
forma equitativa.
(https://md.claretiano.edu.br/prosausocurg-

g02289-ago-2024-grad-ead/)

Ciclo 2 – Organização da Saúde, Programas


Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e
Intersetorialidade

Conteúdos
• Programas governamentais: Dengue: programa de combate, conceito, pre-
venção, quadro clínico, tratamento.
• Principais Programas governamentais desenvolvidos no Brasil.
• Programa de saúde da família: estratégia para reorientação do modelo de
saúde.
• Conceito de saúde, promoção de saúde e Educação em Saúde no território.
• Doença Sexualmente Transmissível: HIV/AIDS.
• Segurança do socorrista e da vítima. Direitos e deveres. Aspectos Legais
relacionados ao atendimento de primeiros socorros. Segurança da cena.

Problematização
O que é dengue e as principais medidas preventivas? O que é o Programa de
saúde da família? Quais são os objetivos desse modelo? Como atua no territó-
rio? Qual a importância da intersetorialidade para a qualidade de vida? O que é
DST? Como prevenir, diagnosticar e tratar? Qual o papel da mídia para a con-
cepção de corpo saudável, na contemporaneidade? O que são primeiros socor-
ros? Quais são os principais objetivos dos primeiros socorros? Quais as princi-
pais informações a fornecer para o resgate médico? Quais são os aspectos le-
gais relacionados ao atendimento de primeiros socorros? Qual é o conceito de
segurança de cena? Como proceder para dimensionar os riscos e saber o que
será necessário para resolver a situação? Quais são as ações que devem ser re-
alizadas no momento em que o socorrista �ca a par da situação?
1. Introdução
O SUS traz uma concepção ampliada do processo saúde-doença quando pro-
põe que:

Saúde é a resultante das condições de habitação, alimentação, educação, renda,


meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da
terra e acesso a serviços de saúde (BRASIL, 1986, p. 4, grifos nossos).

A partir dessa concepção, a atenção à saúde tende a organizar políticas e


ações de saúde na perspectiva interdisciplinar, sendo fundamentadas nos
princípios da universalidade, integralidade e equidade. A equidade propõe ga-
rantir a atenção de forma igualitária, sendo considerada desigualdade das
condições sociossanitárias da população.

Toda formulação de políticas para atender à população tem prioridades. A im-


plantação de serviços e ações de saúde no SUS busca respeitar o direito da po-
pulação brasileira em geral de ter as suas necessidades de saúde atendidas,
porém considerando as diferenças constituídas historicamente e que expres-
sam direitos desiguais de saúde, segundo regiões do país, estados e municípi-
os. Então, a ideia é associar à atenção a saúde, a prioridade de ações, recursos
�nanceiros etc., em favor, prioritariamente, dos mais desfavorecidos,
caminhando-se, assim, em direção à diminuição das desigualdades.

O Ministério da Saúde propõe, portanto, várias ações e programas na área da


saúde. Segundo o próprio Ministério, a �nalidade é trazer a saúde para perto
do cidadão e dar ao pro�ssional a especialização necessária para exercer seu
trabalho com qualidade (BRASIL, 2010).

No site do Ministério da Saúde, disponível em: <http://portalsaude.sau-


de.gov.br/portalsaude/index.cfm> qualquer cidadão que tenha acesso à inter-
net é capaz de navegar e conhecer os programas e ações.

Além disso, não há dúvida de que existem situações que estão no imaginário
de todos como amedrontadoras: são os acidentes e situações de emergência
em saúde. Na maioria das vezes, não sabemos em que pensar nem em que fa-
zer primeiro.

Prestar os primeiros socorros a alguém que tenha sofrido um acidente ou que


esteja sofrendo um agravo à saúde requer alguns conhecimentos básicos, pos-
síveis a todo e qualquer cidadão, o que, na maioria das vezes, tem a ver com
providenciar ajuda pro�ssional e saber, principalmente, o que não se deve fa-
zer.

Além desses conhecimentos básicos, abordaremos, neste ciclo, alguns outros


saberes mais elaborados, para que o pro�ssional da saúde possa ter uma pos-
tura mais técnica e trabalhada para sua atuação.

Durante muitos anos, prestar primeiros socorros era simplesmente transpor-


tar a vítima, o mais rapidamente possível, no primeiro veículo disponível, sem
maiores cuidados . Com a evolução da ciência ao longo dos anos, além da ob-
servação da prática e dos estudos realizados, muita coisa mudou, e cada vez
mais são de�nidos o que chamamos de . Esses pro-
tocolos são guias que orientam as ações que devemos realizar nessas situa-
ções. O transporte “mais rápido possível” se tornou coisa do passado, sendo,
hoje em dia, o chamado por socorro (ligar 192, ou 193) uma das ações essenci-
ais no momento da emergência, seja em caso de acidente ou não.

Os protocolos utilizados auxiliam-nos a ordenar as ações no atendimento de


emergência, não nos deixam esquecer atitudes ou procedimentos importantes
e diminuem a possibilidade de erro. São construídos por grupos de especialis-
tas, depois de discussões que acontecem em congressos e estudos pelo mundo
afora, e abordam os principais problemas na emergência.

Além dos protocolos internacionais, existem problemas locais, cujos procedi-


mentos são de�nidos pelas autoridades nacionais, como os acidentes com
animais peçonhentos, que, no caso do Brasil, a fonte de norteamento das
ações é o Ministério da Saúde, baseado nos seus especialistas dos Institutos
Vital Brazil e Butantã.
Nos momentos de discussão sobre esses temas, traga todas as suas dúvidas,
informações já adquiridas e conhecimentos anteriores para enriquecer os tra-
balhos. Somente saberemos o que é senso comum, conhecimento cientí�co,
folclore e mito se conversarmos a respeito, pois, em primeiros socorros, folclo-
re e mitos são o que não falta. Como pro�ssional da saúde, você cumpre um
importante papel na difusão de conceitos adequados de saúde.

2. Combate à dengue
Os países tropicais estão mais vulneráveis à dengue; portanto, o Ministério da
Saúde propõe o controle da doença, incluindo pro�ssionais, cidadãos em geral
e educadores para auxiliar nesse trabalho. Assim, atualmente, informações e
materiais (vídeo, cartazes, folhetos etc.) são de fácil acesso às pessoas.

O combate a uma doença tem relação com a educação. Desse modo, o


Ministério da Saúde diz que é essencial o aprendizado disso na formação de
professores, e você está sendo formado, também, para lidar com diversas situ-
ações no interior da escola, como, por exemplo, de pessoas com dengue. Nesse
caso, o que fazer? Inicialmente, é importante conhecer, saber prevenir, saber
orientar no caso de necessidade e saber encaminhar devidamente tais pesso-
as, pois a dengue pode levar a óbito.

A dengue é uma doença infecciosa aguda que pode ser de curso benigno ou
grave, dependendo da forma em que se apresenta. A primeira manifestação é
a febre, geralmente alta (de 39°C a 40°C), de início abrupto. É transmitida pela
picada do mosquito Aedes aegypti infectado. Ocorre, principalmente, nas áre-
as tropicais e subtropicais do mundo, inclusive no Brasil. As epidemias geral-
mente acontecem no verão, durante ou imediatamente após períodos chuvo-
sos. O quadro clínico é amplo, apresentando desde uma síndrome febril ines-
pecí�ca até quadros mais graves, como hemorragia, choque e, às vezes, óbito.
Os sintomas mais comuns são:

1. Febre alta com duração de dois a sete dias.


2. Dor de cabeça.
3. Dor no corpo e nas juntas.
4. Dor atrás dos olhos.
5. Manchas vermelhas pelo corpo.
Deve-se procurar imediatamente um médico em qualquer uma das situações
a seguir:

1. Dores na barriga fortes e contínuas.


2. Vômitos persistentes.
3. Sangramento pelo nariz, boca e gengivas.
4. Sede excessiva e boca seca.

Caso observe que você ou alguém está com suspeita de dengue e começou a
apresentar dores abdominais e vômitos, utilizando somente medicamentos
prescritos pelo médico para aliviar as dores e a febre, busque uma unidade de
saúde imediatamente.

As unidades de saúde e seus graus de complexidade variam. Geralmente, em


uma região na qual há escolas, principalmente as públicas, existe uma
Unidade Básica de Saúde e/ou Unidade de Saúde da Família. Essas unidades
cuidam diretamente das pessoas que pertencem àquela região; por isso, é mui-
to importante a escola ter contato com elas sempre.

Tratamentos
Ao ser observado o primeiro sintoma da dengue, deve-se buscar orientação médica
no serviço de saúde mais próximo. Só depois de consultar um médico, alguns cui-
dados devem ser tomados, como: Manter-se em repouso e beber muito líquido (in-
clusive soro caseiro). A reidratação oral é uma medida importante e deve ser reali-
zada durante todo o período de duração da doença e, principalmente, da febre. O
tratamento da dengue é de suporte, ou seja, alívio dos sintomas, reposição de líqui-
dos perdidos e manutenção da atividade sanguínea.

Para combater a dengue é necessário que toda a comunidade participe. É impor-


tante que o tema seja abordado em sala de aula, para que os alunos divulguem as
informações em casa e no bairro (SESAB, 2012).

Prevenção
A melhor maneira de lidar com a dengue é prevenindo. O ambiente escolar é
propício para incentivar ações de prevenção, pois as pessoas estão nesse am-
biente de ensino-aprendizagem, e o diálogo compartilhado poderá ser uma re-
alidade ali.

Deixamos aqui os pontos para a prevenção discriminados pelo Ministério da


Saúde (2012):

Não deixe água acumulada sobre a laje. Manter o saco de lixo bem fechado e fora
do alcance dos animais até o recolhimento pelo serviço de limpeza urbana. Manter
a caixa d’água completamente fechada para impedir que vire criadouro do mosqui-
to. Manter bem tampados tonéis e barris d’água. Encher de areia até a borda os pra-
tinhos dos vasos de plantas.

Lavar semanalmente por dentro, com escova e sabão, os tanques utilizados para ar-
mazenar água.

Se você não colocou areia e acumulou água no pratinho de planta, lavá-lo com es-
cova, água e sabão. Fazer isso uma vez por semana.

Remover folhas e galhos e tudo que possa impedir a água de correr pelas calhas.
Jogar no lixo todo objeto que possa acumular água, como embalagens usadas, po-
tes, latas, copos, garrafas vazias e etc.

Se você tiver vasos de plantas aquáticas, trocar a água e lavar o vaso principalmen-
te por dentro com escova, água e sabão pelo menos uma vez por semana.

Colocar o lixo em sacos plásticos e manter a lixeira bem fechada. Não jogue lixo em
terrenos baldios.

Lavar principalmente por dentro, com escova e sabão, os utensílios usados para
guardar água em casa, como jarras, garrafas, potes, baldes, etc.

3. Saúde da família
Este tópico está baseado em informações encontradas no site do Ministério da
Saúde, em informes técnicos institucionais editados na Revista de Saúde
Pública, em 2000, e em artigos diversos sobre o Programa de Saúde da Família
e a Estratégia de Saúde da Família.
O Programa de Saúde da Família foi criado em 1993 e hoje é uma das metas
importantes do Governo Federal para as pessoas que lutam por uma saúde pú-
blica digna, universal, integral, equânime e de qualidade.

SAÚDE DA FAMÍLIA
O objetivo do Programa Saúde da Família (PSF) é atuar na manutenção da saúde e na pre-
venção de doenças, alterando, assim, o modelo de saúde centrado em hospitais. Criado em
1993, o programa já atende 103 milhões de pessoas (PORTAL DA SAÚDE, 2012).

Conforme o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF):

A Saúde da Família caracteriza-se como a porta de entrada prioritária de um siste-


ma hierarquizado, regionalizado de saúde e vem provocando um importante movi-
mento de reorientação do modelo de atenção à saúde no SUS (SAÚDE MAIS PERTO
DE VOCÊ, 2012).

Esse modelo de saúde no SUS tem por base a implantação de equipes multi-
pro�ssionais que atuam em Unidades Básicas de Saúde e são responsáveis
por um número predeterminado de famílias localizadas numa área delimita-
da.

A expansão e a quali�cação da atenção básica, organizadas pela Estratégia de


Saúde da Família, compõem parte do conjunto de prioridades políticas apre-
sentadas pelo Ministério da Saúde e aprovadas pelo Conselho Nacional de
Saúde. Essa concepção supera a antiga proposição de caráter exclusivamente
centrado na doença, desenvolvendo-se por meio de práticas gerenciais e sani-
tárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipes, diri-
gidas às populações de territórios delimitados, pelos quais assumem respon-
sabilidade.

O PSF não é uma peça isolada do sistema de saúde, mas um componente arti-
culado com todos os níveis. A ideia desse programa é ordenar os encaminha-
mentos e racionalizar o uso de tecnologias. Isso é possível porque as equipes
dos PSFs estão próximas à população. A atenção primária não descarta a alta
complexidade hospitalar, por exemplo, apenas articula todas as necessidades
da população e a disposição de todos, racionaliza o uso e democratiza o aces-
so. Como é isso? Não há necessidade de uma pessoa buscar um hospital por
um estado gripal; isso pode ser resolvido perto do local onde ela mora, por
meio de uma Unidade de Saúde da Família. O controle e as atividades direcio-
nadas à qualidade de vida da população podem ser o apoio para hipertensos,
diabéticos, cardíacos, entre outros, sendo estes encaminhados a um serviço de
alta complexidade quando houver necessidade e por meio da Unidade de
Saúde da Família.
Com base nessas premissas, o Programa Saúde da Família representa tanto uma
estratégia para reverter à forma atual de prestação de assistência à saúde como
uma proposta de reorganização da atenção básica como eixo de reorientação do
modelo assistencial, respondendo a uma nova concepção de saúde não mais cen-
trada somente na assistência à doença mas, sobretudo, na promoção da qualidade
de vida. Caracteriza-se pela sintonia com os princípios da universalidade, eqüidade
da atenção e integralidade das ações. Estrutura-se, assim, na lógica básica de aten-
ção à saúde, gerando novas práticas e a�rmando a indissociabilidade entre os tra-
balhos clínicos e a promoção da saúde.

O modelo de atenção preconizado pelo Saúde da Família já foi testado em vários


países, com contextos culturais de diferentes dimensões e níveis diferenciados de
desenvolvimento socioeconômico, como por exemplo Canadá, Reino Unido e Cuba,
resolvendo mais de 85% dos casos.

O percentual restante destina-se a unidades mais complexas. Além do mais, o pro-


grama permite uma forte integração entre o Ministério, as secretarias estaduais, os
municípios, a comunidade local e outros parceiros, em benefício de todos. Por seus
princípios, o Programa Saúde da Família é, nos últimos anos, a mais importante
mudança estrutural já realizada na saúde pública no Brasil.

A estratégia do PSF propõe uma nova dinâmica para a estruturação dos serviços de
saúde, bem como para a sua relação com a comunidade e entre os diversos níveis e
complexidade assistencial.

Assume o compromisso de prestar assistência universal, integral, equânime, contí-


nua e, acima de tudo, resolutiva à população, na unidade de saúde e no domicílio,
sempre de acordo com as suas reais necessidades. Identi�ca os fatores de risco aos
quais ela está exposta, neles intervindo de forma apropriada.

O PSF representa ações combinadas a partir da noção ampliada de saúde que en-
globa tudo àquilo que possa levar a pessoa a ser mais feliz e produtiva. Propõe-se a
humanizar as práticas de saúde, buscando a satisfação do usuário pelo estreito re-
lacionamento dos pro�ssionais com a comunidade, estimulando-a ao reconheci-
mento da saúde como um direito de cidadania e, portanto, expressão e qualidade de
vida.

Uma das principais estratégias da Saúde da Família é sua capacidade de propor ali-
anças, seja no interior do próprio sistema de saúde, seja nas ações desenvolvidas
com as áreas de saneamento, educação, cultura, transporte, entre outras. Por ser
um projeto estruturante, deve provocar uma transformação interna do sistema,
com vistas à reorganização das ações e serviços de saúde. Essa mudança implica
na ruptura da dicotomia entre as ações de saúde pública e a atenção médica indivi-
dual, bem como entre as práticas educativas e assistenciais.

Con�gura, também, uma nova concepção de trabalho, uma nova forma de vínculo
entre os membros de uma equipe, diferentemente do modelo biomédico tradicional,
permitindo maior diversidade das ações e busca permanente do consenso. Sob es-
sa perspectiva, o papel do pro�ssional de saúde é aliar-se à família no cumprimen-
to de sua missão, fortalecendo-a e proporcionando o apoio necessário ao desempe-
nho de suas responsabilidades, jamais tentando substituí-la. Tal relação de traba-
lho, baseada na interdisciplinaridade e não mais na multidisciplinaridade, associa-
da a não-aceitação do refúgio da assistência no positivismo biológico, requer uma
nova abordagem que questione as certezas pro�ssionais e estimule a permanente
comunicação horizontal entre os componentes de uma equipe.

A equipe de saúde da família deve realizar uma permanente interação com a co-
munidade, no sentido de mobilizá-la, estimular sua participação e envolvê-la nas
atividades (REVISTA DE SAÚDE PÚBLICA, 2012).

Todas essas atribuições deverão ser desenvolvidas de forma dinâmica, com


avaliação permanente, pelo acompanhamento de indicadores de saúde da
área de abrangência.

O PSF, portanto, visa ao trabalho na lógica da promoção da saúde, almejando a


integralidade da assistência ao usuário como sujeito integrado à família, ao
domicílio e à comunidade.

Conceito de saúde, promoção de saúde e Educação em


Saúde no território
O PSF é a estratégia da saúde que busca parceiros de outros campos do saber,
como as escolas inseridas em seus territórios, por exemplo. Como sabemos, as
ações na área da saúde devem extrapolar em muito a área exclusiva da aten-
ção assistencial à própria saúde; ações em outras esferas, como habitação,
transporte, renda, lazer, educação etc. devem ser implementadas, com o objeti-
vo de garantir saúde aos brasileiros.

O processo saúde-doença é um processo social caracterizado pelas relações


dos homens com a natureza (meio ambiente, espaço, território) e com os ou-
tros homens (por meio do trabalho e das relações sociais, culturais e políticas)
num determinado espaço geográ�co e num determinado tempo histórico.

A garantia à saúde transcende, portanto, a esfera das atividades clínico-


assistenciais, suscitando a necessidade de um novo paradigma que dê conta
da abrangência do processo saúde-doença.

A Carta de Intenções da Primeira Conferência Internacional sobre Promoção


da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá, em 1986, de�ne a promoção à saúde
como:

[...] o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua quali-


dade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse processo.
Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, os indivíduos
e grupos devem saber identi�car aspirações, satisfazer necessidades e modi�car
favoravelmente o meio ambiente [...] Assim, a promoção à saúde não é responsabi-
lidade exclusiva do setor da saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável,
na direção de um bem-estar global (CARTA DE OTTAWA, 2012).

A Carta de Ottawa, como é conhecida, advoga que a saúde constitui o maior


recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal e que é somente
por meio das ações de promoção que as condições e recursos fundamentais
para a saúde se tornam cada vez mais favoráveis. Ela considera que esses re-
cursos são:
– paz: redução da violência;

– habitação: condições dignas de moradia, tanto em relação ao espaço físico quan-


to ao assentamento legal;

– educação: cumprimento do ensino compulsório, redução da evasão escolar e re-


visão da qualidade de ensino;

– alimentação: garantia de política municipal de geração e de mecanismos de troca


de produtos alimentícios e, principalmente, garantia de alimento na mesa da famí-
lia;

– renda: a geração de renda para todos e com volume compatível com a vivência;

– ecossistema saudável: ar salubre; água potável disponível 24 horas por dia; ali-
mentos existentes em quantidade su�ciente e de boa qualidade;

– os recursos renováveis: o mais importante é o próprio homem, que se renova ca-


da vez que se recupera de um mal-estar [...] Os serviços de saúde devem estar aptos
para atender o homem em todos os seus níveis de complexidade, seja com recursos
próprios ou em parceria com outros municípios;

– justiça social e eqüidade: a iniqüidade é caracterizada pela diferença de velocida-


de com que o progresso atinge as pessoas [...] avaliada indiretamente pela área geo-
grá�ca em que o cidadão reside. Dessa forma é que se busca, através do esquadri-
nhamento do município em territórios homogêneos, observar os determinantes e
suas conseqüências ao bem-estar. A promoção da eqüidade é feita pela redução dos
efeitos nocivos à salubridade e pelo reforço dos fatores positivos (CARTA DE
OTTAWA, 2012).

Como podemos ver, em 1986, elaborou-se internacionalmente um conceito


amplo de saúde, considerando-a como o maior recurso para o desenvolvimen-
to social, econômico e pessoal. É visível que esse conceito abrange todos os
princípios preconizados pelo SUS e só é possível com a inserção de diversos
setores e campos de saberes nessa conquista.

As equipes do PSF que absorverem esse conceito certamente buscarão equipa-


mentos (associações de bairro, escolas, CRAS, sindicatos etc.) e pessoas inseri-
das no território (lideranças naturais, presidentes de associação etc.) para rea-
lizar ações direcionadas à saúde. Nesse sentido, as escolas, por serem espaços
educacionais, são um potencial de parceria real.

A ideia ampliada de Educação em Saúde é fundamental nesse processo. O


conceito de Educação em Saúde também é de�nido como um processo que
abrange a participação de toda a população no contexto de sua vida cotidiana,
e não apenas das pessoas sob risco de adoecer.

Uma Educação em Saúde nos moldes da integralidade inclui políticas públi-


cas comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania,
envolvidas na melhoria da qualidade de vida e na promoção do homem. Em
outras palavras, falamos de ambientes apropriados para além dos tratamentos
clínicos e curativos (SCHALL; STUCHINER, 1999).

As ações de Educação em Saúde devem considerar saberes técnico-cientí�cos


e populares. As relações constituídas culturalmente são signi�cativas e po-
dem, ao longo de um processo, ser libertadoras ou opressoras (MORIN, 1998);
portanto, é importante almejar, culturalmente, o exercício de cidadania. Esse
exercício é capaz de provocar mudanças individuais e prontidão para atuar na
família e na comunidade, contribuindo para a transformação social (CATRIB
et al., 2003).

A Educação em Saúde relaciona-se com pensamentos de Freire (2000, n. p.),


pois ela é:

[...] coerente e competente, que testemunha seu gosto pela vida, sua esperança no
mundo melhor, que atesta sua capacidade de luta, seu respeito às diferenças da rea-
lidade, a maneira consistente com que vive sua presença no mundo.

Assim, para educar em saúde, faz-se necessário estar aberto ao contorno geo-
grá�co, social, político e cultural do indivíduo, da família e da comunidade.
Nesse sentido, a escola torna-se espaço primordial para as ações de Educação
em Saúde:
Na escola, onde crianças e jovens passam grande parte de seu dia, as ações de ori-
entação de promoção da saúde constituem importante meio de informação. A esco-
la, local onde vivem, aprendem e trabalham muitas pessoas, é um espaço no qual
programas de educação e saúde podem ter grande repercussão, atingindo os estu-
dantes nas etapas in�uenciáveis de sua vida, quais sejam, a infância e adolescên-
cia (BRASIL, 2002, n. p.).

É incontestável o papel do professor como Educador em Saúde, principalmen-


te o professor de Educação Física, que é um pro�ssional que dialoga com vári-
as áreas do saber, sobretudo a da Educação e a da Saúde. O professor de
Educação Física tem um ambiente móvel em seu local de trabalho, pois
utiliza-se de espaços mais fechados, como as salas de aula; espaços abertos,
como quadras cobertas ou não; espaços lúdicos, como parques e salas de jo-
gos; en�m, trabalha na mobilidade da escola e, se possível, do bairro e da cida-
de.

O corpo, o movimento no espaço físico, o psicológico e a cultura tornam-se al-


go a ser re�etido pelo professor de Educação Física, pois possibilitam que ele
seja capaz de abrir espaços para incluir em seu trabalho ações e estudos de
naturezas diversas, permitindo a análise do corpo de seus educandos e do seu
próprio, como agentes criadores de cultura (SÉRGIO, 1987). As parcerias com
os PSFs nas re�exões e ações da saúde, educação, cultura, paz, violência, reno-
vação, qualidade de vida etc. poderão dinamizar e potencializar a conquista da
cidadania e autonomia dos alunos, suas famílias e comunidade, sendo então
necessária a compreensão do que é a intersetorialidade para o professor de
Educação Física.

Importância da intersetorialidade e da qualidade de vida


O texto a seguir foi retirado, na íntegra, da dissertação de Mestrado de Santos
(2005), da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de
Campinas – FCM-UNICAMP. Esse estudo re�ete sobre ações intersetoriais em
Educação e Saúde.

O setor saúde, ao se pautar pela concepção ampliada de saúde, é multidimensio-


nal, ou seja, sua compreensão perpassa outras áreas do conhecimento. Chaves
(1998) esquematiza esta noção em um diagrama circular onde a saúde aparece no
centro, rodeada por outros setores conectados entre si e a ela, representando a in-
teração entre diferentes áreas para compreensão e intervenção sob uma realidade
complexa. O autor aponta oito áreas prioritárias para o setor saúde: ecológica, epi-
demiológica, estratégica, econômica-política, educacional, psico-socio-cultural,
transcendental e ética. Para este estudo, destacamos a área educacional.

As concepções da trans e intersetorialidade das ações surgiram da nova orienta-


ção da Saúde Coletiva na busca por promoção de saúde, cuja conquista signi�ca
que necessariamente as políticas sociais e econômicas devem passar por um pro-
cesso de reformulação, originando o que se convencionou chamar de “políticas
saudáveis” (MOYSÉS; MOYSÉS; KREMPEL, 2004).

Para vários autores que estudam este tema, isto só é possível por meio de ações
intersetoriais, de forma que um setor somente desenhará suas estratégias, ações e
objetivos conforme as repercussões sobre as estratégias, ações e objetivos do outro
setor (TEIXEIRA; PAIM, 2002). Isto signi�ca, que o setor educacional, por exemplo,
deve organizar suas práticas a partir dos efeitos que alcançam sobre o setor saúde,
na direção da promoção da saúde.

Buss (1998, p. 179) aponta a estratégia intersetorial de:

“[...]
usar as escolas como espaços privilegiados de fazer saúde por meio de progra-
mas de saúde escolar e de programas de educação em saúde com escolares. A
promoção da saúde obtida através de iniciativas criativas de educação para o se-
tor, que são desenvolvidas em conjunto por professores e pro�ssionais de saúde
visando a ampliação da consciência sanitária – tem mostrado enorme capacidade
para estender seus efeitos ao longo da vida futura de cada estudante, assim como,
de imediato, para o interior de suas famílias”.

À Educação cabe ainda a formação de cidadãos conscientes a respeito do mundo e


de seus próprios corpos, os quais além de transformarem seus comportamentos,
possam ser capazes de participar na construção de políticas públicas saudáveis e
consequente melhoria da qualidade de vida (BUSS, 1998).

Por sua vez, as políticas públicas saudáveis surgem como resposta a um novo en-
tendimento das formas de organização em sociedade das civilizações humanas.
Homens e mulheres são seres racionais e que estabelecem relações sociais para
sobrevivência. Entretanto, não basta simplesmente sobreviver, pois criamos uma
necessidade subjetiva, a . Isto só foi possível porque ações e relações hu-
manas adquiriram signi�cados coletivos, constituindo o que chamamos de cultu-
ra.

Para sobrevivermos com qualidade no mundo contemporâneo, precisamos de


condições favoráveis de vida, apontadas por BUSS (1996), e que dividimos em con-
cretas (como alimentação, habitação, trabalho) e abstratas (como amor, paz, ami-
zade). Usufruir destas condições, em maior ou menor grau, con�gura uma melhor
ou pior qualidade de vida.

Contudo, somente o setor Saúde não é capaz de suprir todas as necessidades obje-
tivas e subjetivas que explicitamos. Assim, a promoção da saúde deve ser uma
prioridade em todas as políticas sociais, pois o que será do homem e da mulher
sem condições adequadas de sobrevivência e felicidade? Podemos a�rmar, sem
receio, que nenhuma destas condições básicas de vida é possível sem a saúde.
Saúde é o bem humano essencial e primordial. Interpretamos que foi com esta
preocupação que a XI Conferência Nacional de Saúde elegeu como prioridade para
efetivação do SUS, além da participação social (SANTOS, 2005, n. p.).

4. Farmácia popular
O Governo Federal criou o Programa Farmácia Popular do Brasil para ampliar o
acesso aos medicamentos para as doenças mais comuns entre os cidadãos.

O Programa possui uma rede própria de Farmácias Populares e a parceria com far-
mácias e drogarias da rede privada, chamada de Sistema de Copagamento ou “Aqui
tem Farmácia Popular”.

O Programa Farmácia Popular do Brasil, tem o objetivo de levar medicamentos es-


senciais a um baixo custo para mais perto da população, melhorando o acesso e be-
ne�ciando uma maior quantidade de pessoas. O Programa atua sobre dois eixos de
ação: as UNIDADES PRÓPRIAS, em funcionamento desde junho de 2004, que são
desenvolvidas em parceria com Municípios e Estados e o SISTEMA DE
COPAGAMENTO, lançado em março de 2006, desenvolvido em parceria com farmá-
cias e drogarias privadas.

As unidades próprias são operacionalizadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),


que coordena a estruturação das unidades e executa a compra dos medicamentos,
o abastecimento das unidades e a capacitação dos pro�ssionais.

Contam, atualmente, com um elenco de 108 medicamentos mais o preservativo


masculino, os quais são dispensados pelo seu valor de custo representando uma re-
dução de até 90% do valor comparando-se com farmácias e drogarias privadas. A
única condição para a aquisição dos medicamentos disponíveis nas unidades, nes-
te caso, é a apresentação de receita médica ou odontológica.

Já no SISTEMA DE COPAGAMENTO, o Governo Federal paga uma parte do valor


dos medicamentos e o cidadão paga o restante. O valor pago pelo Governo é �xo e
equivale a 90% do Valor de Referência (consulte os valores na legislação do
Programa). Por esse motivo, o cidadão pode pagar menos para alguns medicamen-
tos do que para outros, de acordo com a marca e o preço praticado pelo estabeleci-
mento. Para ter acesso a essa economia, basta que a pessoa procure uma drogaria
com a marca “Aqui tem Farmácia Popular” e apresente a receita médica acompa-
nhada do seu CPF e documento com foto. Atualmente, o Sistema de Copagamento
está trabalhando com medicamentos para hipertensão, diabetes, colesterol, asma,
rinite, mal de Parkinson, osteoporose e glaucoma, além de anticoncepcionais e
fraldas geriátricas (PORTAL DA SAÚDE, 2012).

5. UPA 24h
As Unidades de Pronto Atendimento – UPA 24h são estruturas de complexidade in-
termediária entre as Unidades Básicas de Saúde e as portas de urgência hospitala-
res, onde em conjunto com estas compõe uma rede organizada de Atenção às
Urgências. São integrantes do componente pré-hospitalar �xo e devem ser implan-
tadas em locais/unidades estratégicos para a con�guração das redes de atenção à
urgência, com acolhimento e classi�cação de risco em todas as unidades, em con-
formidade com a Política Nacional de Atenção às Urgências.

A estratégia de atendimento está diretamente relacionada ao trabalho do Serviço


Móvel de Urgência – SAMU que organiza o �uxo de atendimento e encaminha o
paciente ao serviço de saúde adequado à situação.

Podemos classi�car as UPAs em três (3) diferentes portes, de acordo com a popula-
ção da região a ser coberta, a capacidade instalada (área física, número de leitos
disponíveis, recursos humanos e capacidade diária de atendimentos médicos) e pa-
ra cada porte foi instituído incentivo �nanceiro de investimento para implantação
das mesmas além de despesas de custeio mensal (quadros abaixo) (PORTAL DA
SAÚDE, 2012).

As UPAs, localizadas em regiões das cidades, são, potencialmente, locais em


que as emergências e urgências possíveis de ocorrer no ambiente escolar po-
dem ser encaminhadas, dependendo do grau de extensão e gravidade do pro-
blema. Esse é um local com um grau de complexidade diferenciado do
Programa de Saúde da Família, que é a porta de entrada do sistema de saúde.

6. SAMU-192
O SAMU 192 faz parte da Política Nacional de Urgências e Emergências, de 2003, e
ajuda a organizar o atendimento na rede pública prestando socorro à população em
casos de emergência. Com o SAMU 192, o governo federal está reduzindo o número
de óbitos, o tempo de internação em hospitais e as sequelas decorrentes da falta de
socorro precoce. O serviço funciona 24 horas por dia com equipes de pro�ssionais
de saúde, como médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e socorristas que
atendem às urgências de natureza traumática, clínica, pediátrica, cirúrgica, gineco-
obstétrica e de saúde mental da população.

SAMU realiza o atendimento de urgência e emergência em qualquer lugar: residên-


cias, locais de trabalho e vias públicas, contando com as Centrais de Regulação,
pro�ssionais e veículos de salvamento.

As Centrais de Regulação tem um papel indispensável para o resultado positivo do


atendimento; sendo o socorro feito, após chamada gratuita, para o telefone 192. A li-
gação é atendida por técnicos que identi�cam a emergência e, imediatamente,
transferem o telefonema para o médico regulador. Esse pro�ssional faz o diagnósti-
co da situação e inicia o atendimento no mesmo instante, orientando o paciente, ou
a pessoa que fez a chamada, sobre as primeiras ações.

Esse mesmo médico regulador avalia qual o melhor procedimento para o paciente:
orienta a pessoa a procurar um posto de saúde; designa uma ambulância de supor-
te básico de vida, com auxiliar de enfermagem e socorrista para o atendimento no
local; ou, de acordo com a gravidade do caso, envia uma UTI móvel, com médico e
enfermeiro. Com poder de autoridade sanitária, o médico regulador comunica a ur-
gência ou emergência aos hospitais públicos e, dessa maneira, reserva leitos para
que o atendimento de urgência tenha continuidade (PORTAL DA SAÚDE, 2012).

1. Na ocorrência de problemas cardiorrespiratórios.


2. Em casos de intoxicação exógena.
3. Em caso de queimaduras graves.
4. Na ocorrência de maus tratos.
5. Em trabalhos de parto em que haja risco de morte da mãe ou do feto.
6. Em casos de tentativas de suicídio.
7. Em crises hipertensivas.
8. Quando houver acidentes/traumas com vítimas.
9. Em casos de afogamentos.
10. Em casos de choque elétrico.
11. Em acidentes com produtos perigosos.
12. Na transferência inter-hospitalar de doentes com risco de morte.

Política Nacional de Atenção às Urgências


A Política Nacional de Atenção às Urgências tem como �nalidade proteger a
vida das pessoas e garantir a qualidade do atendimento no SUS. Suas diretri-
zes são: a universalidade, a integralidade, a descentralização e a participação
social, ao lado da humanização, a qual todo cidadão tem direito.

A política tem como foco cinco grandes ações:

1. Organizar o atendimento de urgência nos pronto-atendimentos, Unidades


Básicas de Saúde e nas equipes do Programa Saúde da Família.
2. Estruturar o atendimento pré-hospitalar móvel (SAMU-192).
3. Reorganizar as grandes urgências e os prontos-socorros em hospitais.
4. Criar a retaguarda hospitalar para os atendidos nas urgências.
5. Estruturar o atendimento pós-hospitalar.

O Governo Federal possui outras ações e programas, todos de interesse públi-


co, os quais podem ser conhecidos no site do Ministério da Saúde. No entanto,
para o objetivo desta disciplina, esses programas supracitados são os mais
importantes.

7. Noções de DST
Você sabe o que signi�ca a sigla “DST”? Ela quer dizer “Doença Sexualmente
Transmissível”, ou seja, trata-se das doenças transmitidas por meio de rela-
ções sexuais, tendo uma pessoa saudável e outra infectada, que mantêm rela-
ção sexual sem proteção, isto é, sem camisinha.

Nas relações sexuais, é importante que se tenha higiene, principalmente aque-


las pessoas que optam por ter maior número de parceiros. A prevenção de
quaisquer delas geralmente está associada à higiene e ao uso de camisinha
em todas as formas de relação (anal, oral, vaginal etc.), não importando se es-
se relacionamento é heterossexual ou homossexual.
Neste tópico, abordaremos a AIDS, que é a mais conhecida dentre as DSTs,
mas é preciso ressaltar que há outras doenças transmitidas por meio do sexo,
a saber: sí�lis, gonorreia, herpes genital, candidíase, HPV, linfogranuloma ve-
néreo, granuloma inguinal, pediculose do púbis, hepatite B, triconomíase geni-
tal, além das infecções por ureaplasma, por gardnerella ou por molusco conta-
gioso.

Sobre a AIDS
Apenas o fundamental para a compreensão do tema AIDS será apresentado
aqui, pois nossa intenção é oferecer somente noções básicas para se trabalhar
como educador na prevenção dessa doença. O campo de estudo aprofundado
do assunto, na área biológica, é a disciplina Imunologia, que, entre outros as-
pectos, trata da compreensão do que é a AIDS. No entanto, neste estudo, objeti-
vamos que você obtenha uma ideia geral dessa DST, para transmiti-la de for-
ma simples aos seus educandos. A intenção é que este texto sirva de apoio pa-
ra o trabalho nas escolas, juntamente com formas criativas de prevenção da
AIDS.

“AIDS” é uma sigla em inglês que signi�ca, em português, “Síndrome da


Imunode�ciência Adquirida”. Ela atua no sistema imunológico do indivíduo
portador dessa doença.

O sistema imunológico é o principal sistema do organismo vivo para combater


micro-organismos invasores, impedindo que vírus, bactérias e parasitas ajam
no corpo de forma a prejudicá-lo. Todo ser humano nasce com uma imunida-
de inata, mas ainda imatura. Ao nascermos e entrarmos em contato com o
mundo externo ao útero materno, inicia-se um processo de aprendizagem no
sistema imunológico, ou seja, gradativamente, ele irá aprendendo a responder
a cada antígeno (partículas, substâncias, micro-organismos estranhos ao cor-
po humano).

Para cada antígeno, o organismo é estimulado a produzir anticorpos (proteí-


nas produzidas no corpo em resposta à presença de antígenos). Há especi�ci-
dades na produção de anticorpos, quer dizer, cada antígeno estimula a produ-
ção de um tipo de anticorpo. Desse modo, cada anticorpo inibe ou neutraliza
um tipo de antígeno, e, assim, a imunidade vai sendo adquirida, apreendida. O
sistema imunológico possui memória e produz o anticorpo para cada antígeno
sempre que necessário e cada vez mais rápido. Por isso, muitas pessoas não
apresentam uma doença mais de uma vez. Essa é a função da vacina, por
exemplo, que é produzida a partir de uma forma atenuada do vírus de determi-
nada doença, ativando a produção de anticorpos no organismo. Dessa manei-
ra, quando o organismo entra em contato com a substância produtora da do-
ença, ele busca, em sua memória, os dados que combatem ou neutralizam es-
sa doença. No caso da AIDS, porém, ainda não foi produzida uma vacina que
combata o seu vírus.

O HIV é o vírus que causa a AIDS. É uma sigla em inglês para “Vírus da
Imunode�ciência Humana”. Ele ataca as células de defesa do organismo, al-
terna o DNA das células, integra-se ao código genético das células infectadas
e usa-as para fazer cópias de si mesmo. Cada vez que a célula infectada se di-
vide, ela produz uma cópia de seu código genético e uma cópia do código ge-
nético do vírus, prejudicando, com isso, o sistema imunológico. Assim, o indi-
víduo que tem o vírus HIV �ca sujeito a doenças oportunistas, que são assim
chamadas porque tiram proveito da fraqueza do sistema imunológico para
instalarem-se no organismo, sendo estas, geralmente, de origem infecciosa.
Desse modo, doenças que não causariam problemas graves em pessoas não
infectadas pelo HIV, em um portador do vírus, geram vários problemas, porque
o corpo não consegue defender-se.

É importante saber que nem todas as pessoas que têm o vírus HIV têm AIDS
ou desenvolvem a doença, mas elas transmitem. Há soropositivos que vivem
anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença, mas, mesmo as-
sim, podem transmitir o vírus por meio de relações sexuais desprotegidas,
bem como pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou através da
gravidez e da amamentação.

Formas de contágio
O HIV pode estar presente no esperma masculino, nas secreções vaginais fe-
mininas, no leite materno e no sangue. As principais formas de contágio des-
critas atualmente são: via relações sexuais com pessoas infectadas pelo vírus;
transfusão de sangue que contenha o vírus HIV; troca de seringas com pesso-
as infectadas; contato com material cortante infectado; e via mãe para �lho,
por meio da gestação ou da amamentação, sendo esta denominada “transmis-
são vertical”.

O vírus da AIDS é transmitido somente pelo contato direto e/ou troca de san-
gue e/ou �uidos corporais de uma pessoa infectada. O carinho, o abraço, o
contato via ar, o aperto de mãos, o beijo na boca, a masturbação a dois, suor, lá-
grimas, saliva, espirro, vasos sanitários, piscinas, picadas de insetos, copos,
pratos, talheres, roupas de cama, toalhas usadas por pessoas que têm o vírus
da AIDS e a comida não transmitem o vírus.

Sintomas
Os sintomas são próprios de doenças oportunistas e podem ser confundidos.
Em geral, há febre, dores musculares e articulares, crescimento dos gânglios,
dores de garganta, vermelhidão no corpo, emagrecimento. Os sintomas às ve-
zes vêm e desaparecem.

É geralmente observado emagrecimento rápido, sem que a pessoa esteja fa-


zendo dieta, além de diarreias prolongadas, febres persistentes, tosse seca, su-
ores noturnos e cansaço, erupções na pele e manchas vermelhas.

Se a pessoa contaminada ainda tiver maior queda nas defesas do organismo,


outras doenças mais graves poderão surgir. As mais comuns são a pneumo-
nia, câncer, problemas na memória, problemas neurológicos, sarcomas (tipo
de câncer de pele), entre outras. O indivíduo portador do vírus da AIDS pode
chegar a óbito.

Como descobrir que se tem o vírus HIV?


Não é possível saber se a pessoa tem AIDS apenas pela aparência ou por al-
gum sintoma. Se, no ambiente escolar, familiar, de trabalho etc. alguém é acu-
sado de ser aidético, isso está mais relacionado com o preconceito do que com
a verdade, e esse tema é importante de ser trabalhado na escola. Muitas pes-
soas aparentemente saudáveis podem ser portadoras do vírus HIV.

O único meio de saber se o indivíduo tem o vírus é por meio de exames de


sangue realizados em laboratórios. Mesmo o exame sendo positivo, não signi-
�ca que a pessoa tem AIDS, e sim que ela teve contato com o vírus. O exame
detecta a presença de anticorpos contra o HIV, e não o HIV; por isso, é necessá-
rio um tempo entre o contato de risco e a formação de anticorpos. Só haverá
anticorpos circulantes no sangue depois de decorrido esse período, chamado
“janela biológica”, que varia de três a 12 semanas.

Por que fazer o teste?


Saber precocemente do contágio pelo HIV (http://www.aids.gov.br/pagina/hiv)
aumenta a expectativa de vida do soropositivo. Quem busca tratamento espe-
cializado no tempo certo e segue as recomendações do médico ganha em qua-
lidade de vida (BRASIL, 2011).

Mães soropositivas
As mães soropositivas têm 99% de chance de ter �lhos sem o HIV
(http://www.aids.gov.br/pagina/uso-de-antirretrovirais-em-gestantes) se se-
guirem o tratamento recomendado durante o pré-natal, parto e pós-parto. Por
isso, é importante uma mulher grávida que tenha passado por uma situação
de risco, como ter feito sexo desprotegido ou compartilhado seringas, fazer o
exame.

Local de realização dos exames


Os exames podem ser realizados no Sistema Único de Saúde (SUS) gratuita-
mente, nas unidades da rede pública e nos Centros de Testagem e
Aconselhamento (CTA (http://www.aids.gov.br/tipo_endereco/centro-de-
testagem-e-aconselhamento)). Eles podem ser feitos, inclusive, de forma anô-
nima. Nesses centros, além da coleta e da execução dos testes, há um proces-
so de aconselhamento (http://www.aids.gov.br/pagina/aconselhamento) antes
e depois do teste, para facilitar a correta interpretação do resultado pelo paci-
ente (BRASIL, 2011).

Encaminhamentos
Caso seja con�rmado o diagnóstico de HIV positivo, o portador do vírus deve
ser encaminhado a serviços de saúde. A consulta com o pro�ssional de saúde
é o momento certo para esclarecer todas as dúvidas e acontecer os encami-
nhamentos necessários à melhora da qualidade de vida e ao tratamento. A
equipe envolvida no atendimento de soropositivos tem todas as condições de
responder sobre qualquer assunto relacionado ao tratamento e à prevenção
(http://www.aids.gov.br/pagina/formas-de-contagio) da doença.

Prevenir é melhor que remediar


Para prevenir, é importante saber como se pega ou não o vírus da AIDS, aspec-
tos esses que já foram mencionados no Tópico Formas de contágio. Portanto,
neste espaço, serão abordadas as metodologias do trabalho pela prevenção, e
não exatamente o conteúdo a ser abordado.

Figueiredo e Gregori (1998, n. p.) trazem, no texto Os diferentes modelos de pre-


venção à AIDS adotados em campanhas e projetos, as diferentes metodologias
utilizadas para o tratamento desse tema. Descrevemos de forma literal parte
desse texto. Acompanhe:
: As ações desse modelo “tem como base princípios mo-
rais e religiosos, onde somente a abstinência deveria ser contemplada como forma
de se prevenir a AIDS por via sexual”. Outra recomendação seria o reforço da mono-
gamia e condenação das relações extraconjugais. “Este modelo tem sido considera-
do contraproducente nas avaliações de diversos pro�ssionais”, pois embora a mai-
oria da população almeje tais preceitos, eles não são efetivamente seguidos na vida
cotidiana das pessoas, seja pelos jovens que são sexualmente ativos ou pela cultura
que reforça um padrão masculino de in�delidade sexual.

: “Esse modelo propõe o fortalecimento de in-


formações sobre AIDS de modo imparcial e cientí�co. Segundo esta proposta os jo-
vens teriam condições de tomar decisões racionais e bem fundamentadas”, que in-
cluiriam práticas preventivas. “Infelizmente, as avaliações constataram que apesar
dos jovens assimilarem as informações, isto não os mantinha longe de comporta-
mentos inseguros”.

: Esse modelo “promove estilos de vida associa-


dos à boa saúde, a auto-estima, a ecologia. Vem sendo trabalhado na França com
bons resultados”. Acredita-se que com o desenvolvimento de noções de auto-
cuidado os indivíduos realizem escolhas mais positivas no seu estilo de vida,
expondo-se menos a situações de risco à saúde física e mental, tanto com relação à
prevenção de doenças como a AIDS, como da utilização de drogas psicotrópicas.

: Esse modelo supõe a presença de um agente externo,


um educador ou um coordenador. Ele desenvolve “técnicas que visam melhorar ou
desenvolver a auto-estima, a capacidade de lidar com a ansiedade, a habilidade de
decidir, de comunicar e de negociar, e a capacidade de resistir às pressões do grupo.
É um modelo que tem demonstrado bons resultados, mas que depende muito de ca-
pacitação de educadores e de sua disponibilidade e paciência”.

: Esse modelo preconiza a “utilização dos pró-


prios jovens como multiplicadores das informações e o fortalecimento de organiza-
ções de solidariedade e ajuda entre os jovens, como é muito recente, ainda não foi
su�cientemente avaliado”. Na prevenção ao uso de drogas supõe, igualmente, que a
relação horizontal de indivíduos com um código comum tenha mais e�cácia que
recomendações externas aos grupos de convivência social, como por exemplo, a
Associação dos Alcoólatras Anônimos, entre outros grupos.

: Surgiu para a prevenção da AIDS entre os usuários de drogas in-


jetáveis. A constatação de que nem sempre a conduta preconizada idealmente
(abandono do uso de drogas) fosse possível para alguns indivíduos, pelos mais va-
riados motivos (sociais, econômicos ou psicológicos, orientou que fossem criadas
estratégias de prevenção que reduzissem a possibilidade de exposição ao HIV.
Assim, foram criadas escalas de prevenção que procuravam dar conta das diferen-
tes situações de exposição a AIDS. Uma ação inicial (1) recomenda o não uso de
drogas; (2) numa segunda escala de intervenção, recomenda-se que caso haja uso,
tais drogas não sejam injetáveis; (3) caso haja uso de drogas injetáveis, esta deve
ser realizada com a utilização de material descartável; (4) caso isso não seja possí-
vel pela falta de acesso ou motivos econômicos, recomenda-se a esterilização ca-
seira da seringa e da agulha do usuário, antes que seja por ele reutilizada.

A grande contribuição do emprego do conceito de Redução de Danos foi à extensão


da prevenção aos indivíduos que não tinham possibilidade de adotar uma conduta
considerada ideal, incluindo-os, com várias possibilidades, em outras formas de
prevenção. Até então a maioria das campanhas excluía algum grupo por
considerá-lo inatingível.

Metodologias ativas de aprendizagem como formas de tra-


balhar com a prevenção
Trabalhar com a prevenção é buscar formas de conscientizar a população so-
bre sua vida, seus papéis, seus anseios e desejos relacionados com re�exões
no campo da ciência e do saber popular. Isso não é possível de ser realizado de
forma vertical, quer dizer, um detentor de saber que exerce o papel de profes-
sor e que o guarda em um recipiente, podendo ser o cérebro esse saber, des-
considera que a aprendizagem é um processo apreendido com afeto, saber,
cognição, mente, corpo, contexto etc.

No campo da saúde e da educação, há metodologias diversas para se pensar o


processo ensino-aprendizagem. No contexto em que se propõe trabalhar com
prevenção a saúde em ambiente escolar ou de saúde e que a ideia seria mu-
danças de atitudes, propõe-se aqui a problematização como método.

A problematização é fundamentada em Paulo Freire (1995) e prioriza a trans-


formação da realidade social. O autor considera que todo ser humano tem vo-
cação para ser sujeito da história, e não objeto. O ser humano pode dar uma di-
reção consciente em sua vida, ele capta dados objetivos da realidade de forma
re�exiva com capacidade de transcender. O ser humano integra-se às condi-
ções do contexto e busca responder aos desa�os existentes. Por esse motivo, é
imprescindível, no processo ensino-aprendizagem, considerar o saber de cada
um, bem como o saber coletivo e o contexto em que está inserido. Todos sa-
bem algo, não existem, nesse caso, analfabetos; portanto, a relação entre o
educador e o educando deve ser horizontal e dar-se por meio de diálogo, da vi-
vência de cada um, suas experiências vividas. Os problemas e linguagens de-
vem ser compartilhados.

Portanto, independentemente dos recursos utilizados, a dinâmica é sempre o


diálogo a partir da problematização da realidade; assim, criam-se a conscien-
tização e espaços para ações sociais e políticas. A ideia é partir da experiência
concreta do estudante e, por meio do diálogo, corresponsabilizá-lo, para que
esse conhecimento inicial seja ultrapassado e atinja um conhecimento crítico
e sistematizado que faça sentido e mude atitudes.

No caso da AIDS, há vários conhecimentos prévios em relação ao assunto,


apreendidos por meio da mídia, em casa, na rua – temos sempre alguma ideia
do que se trata. Há modos de se ver o assunto, seja de maneira aberta, seja de
maneira preconceituosa. O assunto não é algo puramente técnico e que só tem
relação com os pro�ssionais da saúde. A AIDS, assim como quaisquer proces-
sos de saúde-doença, faz parte de uma construção histórico-cultural; por isso,
é muito importante ter como base, no processo preventivo, a realidade vivida.
O ideal é trabalhar a vida real, ou seja, a realidade como ponto de partida, e o
estudo do tema, ou seja, abrir espaços para que as pessoas dialoguem sobre
seus conhecimentos prévios do assunto, em um primeiro momento, e, em um
segundo, responsabilizar os envolvidos para uma busca teórico-cientí�ca do
assunto, retornando o olhar para a realidade. Com isso, criam-se questiona-
mentos, criam-se con�itos, cria-se uma situação em que o sujeito pode dar o
seu referencial e abrir espaços para questioná-lo, bem como pode identi�car o
que precisa ser mudado na realidade e buscar os conhecimentos necessários
para intervir na realidade. É fundamental que os estudantes (jovens, crianças
ou adultos) se alinhem no processo de prevenção da AIDS, sem preconceito e
com apropriação de si mesmo e do tema.

Trabalho com estigma e preconceito


O preconceito e o estigma são elementos que di�cultam o trabalho com a pre-
venção ao HIV/AIDS.
Há, ainda hoje, várias crenças sobre a temática que gera movimentos de ex-
clusão. Uma delas é de que a AIDS se relaciona com grupos de risco, gerando
um processo de separações humanas por categorias sociais. Outra crença é de
que a AIDS é algo que ocorre entre os jovens. Há, também, relações de precon-
ceito relativas à pobreza, ao gênero e à opção sexual. São processos capazes de
gerar discriminações e intolerâncias.

A AIDS surgiu há mais de 20 anos, e, ainda hoje, o preconceito é alto e subjeti-


vamente se coloca numa relação do “eu” com “o outro aidético”, tirando deste
aspectos de humanidade. Portanto, trabalhar com esse tema é também inter-
ferir em processos de violência social.

O preconceito em relação a essa doença em pleno século 21, quando a


Medicina vive diversos avanços tecnológicos, ainda se mantém na relação
com as primeiras explicações da epidemia, que a denominou de “peste gay”. A
ideia inicial é de que o contato com homossexuais devia ser evitado, bem co-
mo com prostitutas, usuários de drogas, pessoas pobres etc.

No campo da Educação, deve-se incentivar a tolerância e a convivência ética e


solidária entre todos.

O corpo na cultura contemporânea


“O ser humano está inserido em uma rede complexa de símbolos, saberes, mi-
tos, crenças, memórias, valores, imagens etc.” (BRITO, 2004, p. 51), em constan-
te construção e reconstrução; portanto, é uma rede inacabada. Ele caminha
interagindo com essas forças, podendo inclusive con�gurá-las, construir for-
mas e subjetividades, opor e identi�car subjetividades culturais. A presença
palpável de agentes somáticos, assim como traços dessa presença, é central
no entendimento da subjetividade (BRITO, 2011).

Os humanos são seres encarnados em um tempo e um espaço, onde convivem


com aspectos sociais, históricos e culturais. O seu fazer não nasce apenas de
sua subjetividade singular, mas também é mediado como participante de prá-
ticas culturais. Nós estamos sempre no meio de outras pessoas e outros signi-
�cados; nossas funções são de�nidas, ao menos parcialmente, em termos de
nosso tempo e espaço. A cultura é um gerador de estruturalidade e torna pos-
sível a vida (BRITO, 2011).

A cultura, como um saber coletivo e acumulado em memória social, geradora


de princípios e conhecimentos, poderá ser libertadora ou opressora (MORIN,
2002). No contexto cultural, há a formação dos dogmas e normatizações. A
cultura estabelece modelos de ação e conduta, por meio de processos de iden-
ti�cação e de projeções que os indivíduos e grupos sociais constroem a partir
dos símbolos culturais.

Na contemporaneidade, vivemos a busca incessante pelo corpo perfeito, idea-


lizado segundo padrões da mídia – inclusive, é totalmente permitida a trans-
formação desse corpo cirurgicamente, como algo modi�cável segundo os pa-
drões exigidos pelos ícones dos meios de comunicação. Tudo é mutável, é ver-
dade, mas, atualmente, isso é tão banalizado que chega a ser descartável. O
que não é apreciado é descartado, independentemente de o objeto em questão
ser um celular, uma televisão, a vida ou o próprio corpo.

Há repercussões desse contexto no campo da Educação Física, pois o modela-


mento desses corpos midiáticos está diretamente associado ao �tness, a uma
vida saudável – não que isso seja verdadeiro. Vê-se, nos meios de comunica-
ção, a associação da ginástica e do exercício a um modelo estético, a um es-
culpimento do corpo (BETTI, 2004).

Uma nova cultura do consumo estabelece-se a partir da imagem do corpo bo-


nito, sexualmente disponível e associado ao hedonismo, ao lazer e à exibição,
enfatizando a importância da aparência e do visual. Essas imagens de corpo
são divulgadas pelos meios de comunicação de massa e mídia eletrônica, exi-
gindo toda uma rotina de exercícios, dietas, cosméticos, terapias, entre outras
preocupações com a imagem e a autoexpressão, uma exposição sem limites
do corpo (corpo-outdoor) (NÓBREGA, s. d.).

Os corpos atuais estão globalizados, vivem on-line, informações de todos os ti-


pos colocam ao vivo e em tempo real notícias e padrões de qualquer parte do
mundo. Esse processo de virtualização do corpo se concretiza na alteração
das funções somáticas, como: a percepção, os movimentos de deslocamento
do corpo, as alterações na visibilidade do corpo, seja por reconstituições da
pele e dos tecidos, seja pela criação de modelos digitais do corpo, entre outras
possibilidades.

O fenômeno de reconstrução da identidade do humano a partir da virtualiza-


ção cria o hipercorpo, propício às mais diversas viagens e trocas entre os indi-
víduos (NÓBREGA, s. d.).

O conhecimento do corpo sempre fez parte do processo de formação na


Educação Física, e trabalhar com esse conhecimento em um processo de
ensino-aprendizagem é muito importante. Como a�rma Carmo Junior (2009),
a educação é algo abrangente, e educar o físico parece limitar o conceito de
Educação Física ao que ela representa, isto é, a um referencial cultural. Não
seria coerente educar o físico sem educar o ser humano na sua totalidade, mo-
tivo pelo qual é importante se conhecer o corpo no contexto contemporâneo.

Os estudantes com os quais os pro�ssionais de Educação Física trabalham


atualmente estão inseridos nesse processo virtualizado e globalizado. A pro-
posição do professor de Educação Física é trabalhar a formação da consciên-
cia do sujeito, inclusive corporal, de forma crítica, pretendendo gerar con�itos
na construção de um corpo autônomo, em contraposição com esse corpo mer-
cadológico, robotizado.

Essa conscientização corporal na Educação Física não pretende adquirir uma


função socializadora, ou seja, colaborar para a adaptação do homem à socie-
dade, mas, sim, contribuir para a formação do homem como um ser integral e
agente da transformação social. Assim, a proposta é de que os indivíduos,
além de serem capazes de participar de atividades corporais, desenvolvam o
espírito crítico em relação à prática de tais atividades.

O papel do pro�ssional da Educação Física é auxiliar o sujeito no processo de


mediação simbólica desse saber orgânico para a consciência, levando-o à au-
tonomia no âmbito da cultura corporal de movimento (BETTI, 2004).

Os professores de Educação Física podem ser inseridos nesta sociedade e de-


senvolver um homem integral, no sentido de possuírem autonomia, quer dizer,
poder de decisão sobre o que querem de seus próprios corpos, promovendo, as-
sim, conscientização e transformação social.

8. Segurança da cena
Iniciaremos, agora, nosso estudo sobre os primeiros socorros. O conceito de
segurança da cena é talvez o mais importante em primeiros socorros. É pen-
sando na segurança da cena que evitamos ações intempestivas que poderiam
inclusive colocar em risco a vida e a integridade do socorrista (pessoa que
presta os socorros), da vítima e dos circundantes (transeuntes, passantes, ob-
servadores).

Quando estamos diante de uma cena de emergência, devemos nos fazer algu-
mas perguntas, que visam abordar todos os aspectos da cena, identi�cando os
riscos, necessidade de socorro especializado e limitações que os recursos ime-
diatos podem ter.

Quando pensamos na segurança da cena, fazemos como se déssemos um pas-


so para trás, olhando para a situação como um quadro ou uma foto. Esse dis-
tanciamento imaginário nos faz olhar para o cenário geral e evita o que se
chama de “visão em túnel”. Um socorrista que atravessa uma rua em desaba-
lada carreira para alcançar uma vítima de colisão ou atropelamento vê so-
mente a vítima, e não a rua. Pode, dessa forma, com grande possibilidade de
acerto, transformar-se em mais uma vítima. Portanto, a velha máxima faz-se
presente: “tenha calma!”.

Você pode argumentar: “mas isso só acontece em situações extremas!”. Ora,


riscos à segurança podem acontecer em qualquer lugar: na escola (que, no seu
caso, pode ser seu local de trabalho), em casa, na rua. Fios elétricos desenca-
pados, estruturas, construções ou reformas, piscinas, pisos escorregadios, ca-
cos de vidro, caixas de energia elétrica, animais, substâncias tóxicas (fumaça,
gases etc.), parafernálias para uso de drogas (seringas, cachimbos, agulhas),
tráfego intenso e, até mesmo, uma pessoa em surto de agressividade, que pode
ser considerada um risco à segurança de si e dos outros.

Para dimensionar esses riscos e saber o que será necessário, faça estas três
perguntas:

• : olhe para a situação e de�na: é um atropelamento, colisão


de veículos, queda (de altura, da própria altura), acidente de mergulho (em
rio ou piscina), intoxicação (por drogas, medicamentos, plantas, gases
etc.). É um desmaio, convulsão, uma pessoa passando mal? A pessoa não
consegue respirar? Está pálida? Azulada? Suando frio? A pessoa não
apresenta movimento de nenhum tipo? A pessoa está com um lado para-
lisado?
• : procure por todo e qualquer tipo de si-
tuação que possa oferecer risco: eletricidade, fogo, altura, água, explosão,
movimento intenso de carros ou pessoas, estruturas colapsadas, escadas,
terreno escorregadio. Nessa pergunta, pense nos riscos de contaminação
biológica, inclusive. Você pode, somente olhando para a vítima, dizer,
com certeza, se essa pessoa é ou não portadora de alguma doença infec-
ciosa? Obviamente, a resposta é não.
• : al-
gumas vezes, a resposta a essa pergunta também é não. Nesse caso,
trata-se de uma situação em que só pro�ssionais podem atuar, por terem
treinamento e equipamentos adequados. Situações como essas pedem
apenas que as pessoas se mantenham afastadas e que informem as auto-
ridades competentes: Corpo de Bombeiros, SAMU, Polícia, concessionária
de estradas (de acordo com o caso). Esses serviços acionarão outros, se
for preciso, como CETESB, Companhia de Energia Elétrica etc.

Resumindo:
Se sim, vamos lá! Se não, afaste-se, afaste as pessoas e chame ajuda.

Se, para ajudar a vítima, o único risco é o de contaminação biológica, será ne-
cessário o uso de equipamento de proteção individual para tal. Geralmente, es-
ses equipamentos devem proteger o socorrista do contato com �uidos, como
saliva, escarro, sangue, vômito, entre outros.

O equipamento mínimo necessário para proteção individual deve fazer parte


de qualquer “caixinha” de primeiros socorros.

Assim como os pro�ssionais da saúde, veri�que as vacinas que você pode e


deve tomar para se prevenir, como as de tétano e hepatite, que são as mais co-
muns e estão disponibilizadas no SUS. Porém, estar imunizado contra doen-
ças como essas não elimina a necessidade do uso de EPI (Equipamento de
Proteção Individual).

Esses conceitos (uso de EPI, normas de proteção universal etc.) estão dentro
do grande conceito chamado de “biossegurança” e compreendem todos os
equipamentos e atitudes que evitam ou minimizam a possibilidade de contá-
gio ou contato com agentes contaminantes ou intoxicantes.

As normas de biossegurança e a avaliação da segurança da cena fazem parte


de uma das regras de ouro da emergência:
. Portanto, novamente, tenha calma, olhe
para a situação e não aja intempestivamente. A cautela, nesses casos, é a me-
lhor conselheira.

Algumas ações podem ser realizadas no momento em que você �ca a par da
situação:

• : a aglomeração em torno da vítima normalmente não


ajuda e até atrapalha. Utilize o artifício de que a vítima precisa de espaço
para respirar. Se houver pessoas afoitas demais em ajudar, distribua tare-
fas e faça-as se sentirem úteis de alguma forma. Chame para perto de vo-
cê somente quem e quantos precisar.
• : providencie uma forma de visualização de isolamento, com
galhos, cavaletes, cones, lanternas, o que for possível, principalmente se
for local de tráfego de veículos, como ruas, avenidas e estradas, ou outras
situações, como incêndio, desabamento de estruturas etc.
• : solicite a alguém que ligue 192 ou 193,
dependendo da situação e da estrutura que a cidade possui.

9. Avaliação da vítima
A avaliação da vítima e os procedimentos relacionados aos achados clínicos
têm sofrido várias modi�cações ao longo do tempo. O que era verdade há dois
ou cinco anos hoje pode ser considerado procedimento ine�caz ou inadequa-
do. Portanto, mantenha-se atualizado!
Os procedimentos de avaliação da vítima podem ser divididos em dois cami-
nhos diferentes: se a vítima não sofreu “acidente” e se a vítima sofreu “aciden-
te”. Para �ns didáticos e técnicos, a partir de agora, não usaremos mais a ex-
pressão “acidente” e vamos passar a chamá-la de . Esse é um nome
técnico e mais correto que se dá a
.

Todos os procedimentos e protocolos de atendimento à vítima que traremos


aqui estão baseados nas últimas resoluções de comitês internacionais, sobre
as quais podemos encontrar mais informações no Tópico Referências
Bibliográ�cas.

Você verá que, a partir de agora, juntaremos conceitos de anatomia, �siologia,


patologia, entre outros. Será um bom momento para rever os estudos já reali-
zados; portanto, não deixe passar nenhuma dúvida, conceitos ou ideias.

Para esquentar um pouco nossa discussão, vamos conversar sobre a palavra “aci-
dente”. Por que a professora de Português escorregou e caiu no corredor? Porque
alguém deixou o chão molhado? Porque havia uma goteira? A goteira existia por-
que ninguém trocou as telhas quebradas? Ou ela estava usando uma sandália ve-
lha que quebrou? Por que a pessoa foi atropelada? Porque não olhou direito ao
atravessar a rua? Porque o motorista estava desatento? Passou o sinal vermelho?

Se formos descartar, dos acontecimentos que normalmente chamamos de “aci-


dente”, aqueles que, por ação humana, foram determinados ou que poderiam não
acontecer, pouco nos resta para chamarmos mesmo de . A ação humana
acaba, portanto, determinando a maioria dos eventos, por (por exemplo,
alguém está trabalhando em um andaime de construção pela primeira vez e deixa
escapulir uma ferramenta da mão, e esta cai na cabeça de um passante na calça-
da, ou seja, fazer alguma coisa que você não está plenamente capacitado para tal),
(o responsável pela obra não colocou a proteção que precisava para
que nada caísse na cabeça de quem estava passando, ou seja, você sabe o que tem
de ser feito e não faz) ou (o operário �ca fazendo malabarismos com
a ferramenta, que acaba “voando” da mão, ou seja, sabe do grau do risco envolvido
e, mesmo assim, age além da justa medida da prudência, excedendo os limites do
bom senso).

Tente lembrar-se de situações ou imaginar possibilidades delas tentando identi�-


car se foi “acidente” ou se poderia ser classi�cada como imperícia, negligência ou
imprudência.

Converse com seus parentes e amigos e faça-os pensar em casos que já ouviram
falar ou presenciaram. Faça o exercício de avaliar a situação e tente imaginar as
causas.

É de espantar como, a partir desses conceitos, pouca coisa pode ser determinada
ao “acaso” ou à sorte. No fundo, alguém “pisou na bola”.

As vítimas que não sofreram trauma serão chamadas de .

Avaliação da vítima de trauma


A grande maioria das vítimas de trauma apresenta uma situação de leve a
média gravidade. Estatisticamente, apenas aproximadamente 10% das vítimas
apresenta quadros graves.

No trauma, o processo �siopatológico que está por trás da maioria das situa-
ções com risco de morte é a falta de oxigenação das células teciduais, que faz
que o organismo passe a produzir energia utilizando o metabolismo anaeróbi-
co.

Para que o metabolismo normal de produção de energia ocorra (metabolismo


aeróbico), são necessários, minimamente, três componentes:

• . Para isso, o ar precisa


ser respirável; o ar precisa chegar até os pulmões (vias aéreas livres); os
pulmões devem ser capazes de proporcionar a troca de gases; e, por �m,
precisa haver glóbulos vermelhos perfundidos em quantidade na área de
troca pulmonar.
• . Para isso, é preciso haver
volume de sangue su�ciente.
• . O circuito onde o sangue
�ui (artérias e veias) e o coração devem estar plenos nas suas funções.

A avaliação inicial da vítima de trauma tem como objetivo identi�car e corri-


gir essas situações.

O protocolo dos primeiros socorros que rege a ação no atendimento da vítima


de trauma é o que chamamos de “ABCDE”. Essas letras fazem parte de um mé-
todo mnemônico que foi criado a partir de palavras em inglês que nos ajudam
a lembrar o que fazer.

Essas palavras têm relação com a dinâmica dos processos que podem levar
alguém à morte mais rapidamente em uma situação de trauma, como, por
exemplo, obstrução da via aérea (por inconsciência ou sangue), parada respi-
ratória, parada cardiorrespiratória, sangramento externo abundante, trauma-
tismo craniano e outras lesões ou ferimentos graves, como, por exemplo, fra-
turas, amputações, ferimentos por arma branca ou projétil de arma de fogo em
cabeça, tórax ou abdome, entre outros, que acabam por levar a uma situação
grave.

Muitos esportes ou atividades recreativas podem provocar lesões graves. Essas le-
sões podem ser causadas por forças de desaceleração súbita, compressão excessi-
va (como nos saltos, por exemplo), rotação, hiperextensão ou hiper�exão. Atletas
ocasionais ou sem treinamento, orientação, condicionamento ou equipamentos de
proteção são mais propensos a lesões. Mesmo atletas com treinamento bem ori-
entado e equilibrado podem sofrer lesões. Esportes que envolvem atividades po-
tencialmente de alta velocidade, desaceleração, colisões e impactos se asseme-
lham a ocorrências com motocicletas ou veículos motorizados.

Inicialmente, de acordo com aquelas perguntas feitas na segurança e avalia-


ção da cena, você de�niu de que tipo de situação se trata, não de�niu? É ou
não é trauma? E, a�nal de contas, para que você precisa saber disso?

Um dos traumas que podem ocorrer e que não é visível aos olhos é a lesão de
coluna. Sendo assim, a regra é que a vítima possa ter sofrido
traumatismo raquimedular, tendo chance de sofrer lesões permanentes.

Portanto, é por isso que perguntamos “o que é isso”, pois precisamos saber
de “por a mão” na vítima: é ou não é possível que a pessoa tenha lesão de
coluna? Essa pessoa pode se mover? Pode ser movida de posição sem preocu-
pações?

Situações que podem ser consideradas potencialmente de risco para trauma-


tismo raquimedular são:

1. Queda acima de dois metros de altura.


2. Queda curta com velocidade associada (saltos).
3. Mergulho (mergulho em altura ou em água rasa).
4. Colisões.
5. Atropelamento.
6. Capotamento.
7. Agressão física.
8. Lesões por projétil de arma de fogo em cabeça, pescoço, tórax ou abdome.
9. Ejeção de veículo em movimento (carro, moto, bicicleta, skate, patins etc.).

O ABCDE primário, ou avaliação primária, deve ser realizado em 15-30 segun-


dos, pois deve identi�car apenas as condições de risco de morte iminente, ou
seja, só faremos o ABCDE se a vítima estiver . Caso a vítima esteja
, não precisaremos ver se respira ou se o coração está batendo, pois
essas condições são sine qua non para manter-se a consciência.

Portanto, primeiramente, vamos veri�car se a vítima está consciente ou não,


e, para isso, o na vítima é para segurar a cabeça, antes que ela
se vire sozinha. Não permita que a vítima faça nenhum movimento de rotação
ou lateralização da cabeça na tentativa de olhar para você.

Essa primeira ação faz parte da letra A do ABCDE. Vamos a ela e às outras.

A (Airway) – abertura da via aérea com estabilização da cabeça e coluna cer-


vical

Posicione-se por trás da vítima, de joelhos ou deitado de bruços, e assuma a


posição de controle. As mãos são colocadas uma de cada lado da cabeça da ví-
tima, cobrindo as orelhas com as palmas. Os dedos são espalhados de forma a
estabilizar a cabeça, sendo que o quarto e o quinto dedo de cada mão devem
envolver a parte posterior do crânio da vítima. Os cotovelos podem �car en-
costados no chão, um de cada lado, ou apoiados sobre os joelhos do socorrista.
Você não deve soltar a cabeça da vítima até que o socorro especializado che-
gue.

Ao assumir essa posição, você imediatamente vai perceber que não poderá fa-
zer mais nada além disso, pois, ao estabilizar a cabeça, não poderá mais soltá-
la. Se você precisar sair do local, coloque outra pessoa no seu lugar.

: Prentice-Hall (1994, n. p.).


Figura 1 Controle da coluna cervical.

Na suposição de inconsciência, outra pessoa deve postar-se ao lado da vítima


para chamá-la e conduzir o restante da avaliação.

Essa segunda pessoa deve tocar a vítima levemente nos ombros e chamá-la
em voz alta. A vítima que tem algum grau de consciência deve esboçar algu-
ma resposta ou, então, responder claramente ao chamado.

Na ausência de resposta, consideramos a vítima inconsciente. Na inconsciên-


cia, ocorre o relaxamento dos músculos voluntários que se tornam �ácidos.
Um dos problemas desse relaxamento é o músculo da língua, que acaba por
“cair”, desabando sobre a passagem do ar, impedindo-o de chegar aos pul-
mões.
: Prentice-Hall (1994, n. p.).
Figura 2 Língua bloqueando a passagem do ar.

Para liberar a via aérea, o socorrista que assumiu a estabilização manual deve
posicionar o segundo e terceiro dedos sob o ângulo da mandíbula e
impulsioná-la para cima. Essa técnica recebe diversos nomes:
, ou, em inglês, .

Figura 3 Manobra de propulsão da mandíbula.

Como a maior parte da língua está presa à mandíbula, o movimento de eleva-


ção desse osso movimenta, também, a língua, retirando-a da passagem do ar.
Caso a vítima permaneça inconsciente, o socorrista deve manter a elevação
da mandíbula.

O segundo socorrista deve rapidamente olhar a cavidade oral, procurando


sangue, próteses dentárias soltas ou qualquer outra coisa que obstrua a passa-
gem do ar, removendo o problema.

B (Breathing) – respiração
O socorrista postado ao lado da vítima deve aproximar seu rosto em direção
ao nariz e boca da vítima, direcionando seu olhar para o tórax. É o que chama-
mos de “ver, ouvir e sentir” a respiração. Devemos ver o movimento do tórax,
ouvir a respiração e sentir o ar que sai da boca e nariz da vítima na nossa face.

Esse segundo socorrista deve observar se a respiração está rápida ou lenta, se


o tórax se move simetricamente ou se algum dos lados do tórax está se mo-
vendo diferentemente do seu oposto, se a respiração é profunda ou super�cial.
Essa avaliação deve ser rápida, durando entre 5 e 10 segundos. No Ciclo 4, es-
tudaremos o tema Parada Cardiorrespiratória para situações em que a vítima
.

C (Circulation) – circulação

Como já abordamos anteriormente, para que a circulação aconteça, são neces-


sários três componentes: o coração, o sangue e os vasos sanguíneos (artérias e
veias). Portanto, na letra C, observamos todos esses componentes, iniciando
pelo pulso carotídeo.

O segundo socorrista deve colocar os dedos indicadores e médio no meio do


pescoço da vítima, localizando a artéria carótida entre a traqueia e o músculo
esternocleidomastoideo. A palpação do pulso deve demorar, também, em tor-
no de dez segundos. Se não houver pulso, isso é uma parada cardiorrespirató-
ria (que estudaremos mais detalhadamente no Ciclo 4). Observe se o pulso está
forte ou fraco, rápido ou lento. Atente-se, também, para a cor da pele: se está
corada ou descorada, pálida ou azulada, quente ou fria. No Tópico Problemas
no “C” de Circulação, abordaremos essas ações, com o tema .
Figura 4 Veri�que o pulso carotídeo.

Os sangramentos externos, que também chamamos de “sangramentos óbvi-


os”, são bastantes simples de se localizar, porém, devemos procurar sangra-
mentos que estejam sendo contidos por roupas volumosas.

O segundo socorrista deve passar a mão sob a vítima, sem movimentá-la, pro-
curando por manchas de sangue na roupa.

Os sangramentos internos não são tão fáceis de identi�car e serão abordados


no tema .

D (Disability) – avaliação neurológica rápida

Se a vítima está com os olhos abertos e responde adequadamente às pergun-


tas, dizemos, então, que está alerta e consciente. Isso signi�ca, também, que o
cérebro está sendo oxigenado adequadamente. Porém, se permanece com os
olhos fechados mesmo depois de chamada ou se não está respondendo “coisa
com coisa”, então, o nível de consciência está alterado. A função cerebral dá-
nos uma noção indireta da oxigenação cerebral. Uma vítima agitada, agressi-
va, que não coopera ou que está muito sonolenta deve ser considerada como
tendo oxigenação cerebral ruim (hipóxia), até prova em contrário.

Uma vítima com nível de consciência alterado, seja por agitação, seja por in-
consciência, deve alertá-lo para uma destas quatro possibilidades:

1. Oxigenação cerebral diminuída (hipóxia, ou hipoperfusão).


2. Lesão do Sistema Nervoso Central (SNC).
3. Intoxicação por drogas ou álcool.
4. Distúrbio metabólico (diabetes, convulsão).

Ainda dentro da avaliação neurológica, as pupilas devem ser examinadas, de-


vendo ser observado seu tamanho e simetria. Pupilas dilatadas podem signi�-
car oxigenação cerebral ruim ou intoxicação por determinadas drogas, lícitas
ou ilícitas. Pupilas demasiadamente contraídas podem signi�car uso de ou-
tras drogas, lícitas ou ilícitas, ou, ainda, exposição à luz intensa.

Antigamente, pupilas dilatadas signi�cavam sinal de morte. Hoje em dia,


sabe-se que esse é um erro que pode ser fatal. Substâncias para dilatar a pupi-
la em consultas oftálmicas, drogas lícitas ou ilícitas, entre outras, podem levar
a erros de diagnóstico.

E (Exposure) – exposição

A vítima deve ser avaliada por inteiro, procurando-se por lesões óbvias; deve
ter suas roupas abertas, dentro do possível, para observar lesões localizadas, e,
ao �nal, deve ser protegida contra hipotermia (mesmo que o tempo esteja
quente). A vítima de trauma perde calor com grande rapidez, e, sendo a manu-
tenção da temperatura uma das funções essenciais para a vida, devemos evi-
tar essa situação, cobrindo-a o mais rápido possível.
Se a vítima estiver de bruços, somente a desvire (veja a técnica mais adiante), ca-
so seja impossível determinar se há ou não respiração. Caso contrário,
mantenha-a na mesma posição, sem mexer a cabeça, e aguarde socorro especiali-
zado.

Se houver risco ambiental, como incêndio, explosões, contaminação física ou quí-


mica, não entre na cena, ou, se possível, retire a vítima o mais rápido e cuidadosa-
mente possível.

A avaliação primária, ou ABCDE primário, como já dissemos anteriormente, é


um processo que deve ser executado rapidamente, tentando identi�car e corri-
gir os problemas prioritários que colocam a vida em risco.

É óbvio que, se a vítima está alerta e conversando, a prioridade é identi�car


outras lesões ou situações menos óbvias, mas que também podem levar a es-
tados mais graves. Assim, a vítima estando sem problemas na avaliação pri-
mária, passaremos à .

Avaliação secundária da vítima de trauma


Antes de iniciar a avaliação secundária, você deve certi�car-se de que obser-
vou todos os itens da avaliação primária, sobre os quais estudaremos um a um
nos parágrafos subsequentes, identi�cando-os e corrigindo-os. Por exemplo,
você não deve deixar sem controle um ferimento aberto com sangramento
abundante para realizar a avaliação secundária. O objetivo dessa avaliação é
identi�car lesões ou problemas que não são óbvios e não foram identi�cados
na avaliação primária e que podem colocar a vida em risco ou não.

A avaliação secundária pode ser realizada enquanto o socorro especializado


não chega. Você deve aproveitar os momentos de consciência e lucidez da ví-
tima para coletar dados importantes, como o telefone de alguém da família,
nome completo, endereço etc.

A avaliação secundária compõe-se de três itens:


• Avaliação da cabeça aos pés, ou exame objetivo.
• Entrevista, ou exame subjetivo.
• Avaliação dos sinais vitais.

Vamos, agora, conhecê-los um a um.

Avaliação da cabeça aos pés, ou exame objetivo


A é denominada dessa forma para que uma or-
dem na avaliação seja seguida. É também chamada de “exame objetivo”, por-
que é a reunião de informações que identi�ca objetivamente, ou
seja, a partir do que vê, ouve ou sente. Caso a vítima esteja consciente, peça
ajuda para que ela indique onde está doendo, ou, ainda, que ela diga, de acordo
com a região avaliada, se está doendo ou não. A dor é um forte indicativo de
problema ou de lesão. Caso esteja inconsciente, você terá apenas seus recur-
sos para identi�car lesões. Seus recursos nada mais são do que alguns dos
seus sentidos: tato, audição, visão e olfato.

Aproveite seus conhecimentos de anatomia e �siologia; agora eles serão de


muita ajuda para você.

Palpe, com as mãos espalmadas, todas as regiões do corpo, iniciando pela ca-
beça e seguindo até os pés. Procure por sinais de sangramento. Observe a pre-
sença de lesões na pele, como equimoses, hematomas, escoriações, contusões
lacerações, cortes ou ferimentos penetrantes (a de�nição de cada tipo de feri-
mento veremos no Tópico Problemas no “E” de Exposição e proteção contra
hipotermia). Veja e sinta se há deformidades ósseas, inchaços (edema), abau-
lamentos ou afundamentos resultados de fraturas ou incapacidades funcio-
nais agudas.

Repare na cor da pele, se pálida, azulada ou avermelhada. A pele dá-nos infor-


mações importantes caso esteja úmida, pegajosa, seca, pálida, avermelhada ou
azulada. A pele pálida pode signi�car pouco sangue circulante, dor ou reação
autonômica (sistema nervoso autônomo), de medo ou pavor, por exemplo. A
pele avermelhada pode signi�car contusão, in�amação ou, até mesmo, febre.
A pele azulada signi�ca pouca oxigenação. Uma região do corpo que se apre-
senta quente, inchada (edema), dolorida e vermelha muito provavelmente está
in�amada. Sinta a temperatura, se quente, fria ou normal. Ouça ruídos dife-
rentes da respiração ou atente para gemidos da vítima torporosa. Odores es-
tranhos podem indicar doenças (como diabetes, doenças renais) ou intoxica-
ções (álcool, produtos de limpeza etc.). Ainda utilizando sua e , os-
sos fraturados podem produzir o que chamamos de “crepitação” ao serem pal-
pados.

Temos de ter muito cuidado na palpação. Esse procedimento deve ser �rme,
porém não intempestivo, especialmente na palpação do crânio, da face e, tam-
bém, dos locais que a vítima informa dor importante. Nas extremidades, caso
a vítima esteja consciente, peça para executar movimentos leves, como aper-
tar sua mão ou mover o dedão do pé. Esses movimentos, se executados, po-
dem indicar que, até então, não há lesão raquimedular, o que não signi�ca que
não há lesão de coluna.

Vá relacionando mentalmente todos os seus achados. Ao �nal do exame, você


vai decidir, em ordem de prioridade, o que fazer primeiro, sempre seguindo da
lesão mais grave para a mais leve.

Por exemplo, você deverá imobilizar, primeiramente, o quadril, que você sus-
peita ter lesão, e, depois, o punho, e não o contrário.

Entrevista, ou exame subjetivo


O procedimento chamado de “entrevista”, ou “exame subjetivo”, recebe esse
nome por representar a reunião de informações que são fornecidas pela víti-
ma. Obviamente, para isso, a vítima precisa estar consciente e lúcida.

Pergunte a ela seu nome completo, idade, endereço e telefones para contato. É
preciso aproveitar ao máximo esses momentos de consciência e lucidez para
obter-se essas informações. Caso a vítima se torne inconsciente, será possível,
com esses dados, o contato com a família.

Aqui também se usa de um artifício para lembrar-se do que perguntar, que é


representado pelas letras da palavra em inglês .
S (Symptoms) – sintomas

Pergunte se a vítima está sentindo dor e em que região. Pergunte, também, so-
bre tontura, náusea (ânsia de vômito); se houve perda da consciência (se �cou
desmaiada); se há perda de memória. Pergunte, por exemplo, se a vítima se
lembra de tudo o que aconteceu. Pergunte se ela consegue sentir seu toque nas
mãos e nos pés.

A (Alergies) – alergias

Pergunte se a vítima tem alergia a algum medicamento ou substância. Essa


informação é muito importante para os pro�ssionais do SAMU e do hospital
que receberá a vítima, a �m de que sejam evitados acidentes de administração
de medicação, por exemplo.

M (Medications) – medicações em uso

Pergunte se a vítima usou ou tem usado medicações, sejam de uso contínuo,


sejam de uso eventual. Algumas medicações podem “mascarar” o estado da
vítima; outras são incompatíveis com drogas que podem ser administradas
em momentos de urgência.

P (Past Medical History) – passado clínico

Aqui precisamos saber se a vítima é portadora de alguma doença preexistente,


como hipertensão, insu�ciência cardíaca, epilepsia, diabetes, depressão ou ou-
tras doenças mentais, etc.

L (Last Meal) – última refeição

Esse dado é importante para as vítimas que precisam ir para cirurgia de emer-
gência. Há quanto tempo foi a sua última refeição? O que comeu? Por exemplo,
se a vítima acabou de comer uma feijoada e sofreu um atropelamento, o estô-
mago estará, com certeza, bem cheio, e isso deve ser informado ao anestesista,
para o caso de ser necessária uma cirurgia, pelo risco de vômito no momento
da indução anestésica. Pelo mesmo motivo, nos traumas,

E (Event) – evento desencadeador


O que aconteceu? A senhora que caiu da escada escorregou e caiu? Ou teve um
escurecimento da visão, ou tontura, e depois caiu (isso signi�ca que ela pode
ter tido um derrame e, por isso, caiu da escada)? O pedreiro que estava no an-
daime da obra na escola teve uma convulsão e depois caiu do andaime? O avô
da criança que veio buscá-la na escola e que bateu o carro no poste teve algum
sintoma cardíaco e perdeu os sentidos antes de bater ou bateu o carro e depois
perdeu os sentidos? Seu aluno está inconsciente no vestiário. Ele tem alguma
doença? Tomou algum remédio? Usou drogas? Tomou bebida alcoólica? Não
se alimentou? Bateu a cabeça?

Veja que a avaliação da cabeça aos pés e a entrevista são as ferramentas mais
valiosas para o levantamento de informações sobre a vítima, suas lesões e
problemas.

10. Considerações
Finalizamos este ciclo não com a intenção de esgotar o assunto, mas, sim, de
introduzir você nos conhecimentos sobre os programas, projetos e ações do
governo no campo da saúde. Nesses projetos da saúde, preconiza-se a interse-
torialidade, o que cabe muito bem nos campos da educação, saúde e cidada-
nia.

O aspecto fundamental deste ciclo é incentivar a construção de projetos que


associem saúde e educação. Na prática conjunta com a aquisição de saberes
do Ciclo 1 e do Ciclo 2, saiba fazer escolhas pro�ssionais para trabalhar com a
prevenção; escolher o melhor método, sabendo que este está sempre associado
a uma linha de pensamento; trabalhar com educação e saúde na intersetoria-
lidade, na construção da autonomia de seus estudantes; bem como re�etir so-
bre o corpo na sociedade atual e sobre a Educação Física como espaço poten-
cial de construção de corpos livres e autônomos.

Além disso, adentramos no conteúdo sobre os Primeiros Socorros, com os te-


mas segurança do socorrista e da vítima, direitos e deveres, aspectos legais re-
lacionados ao atendimento de primeiros socorros e segurança da cena.

Até o próximo ciclo!


(https://md.claretiano.edu.br/prosausocurg-

g02289-ago-2024-grad-ead/)

Ciclo 3 – Atendimento aos acidentes

Conteúdos
• Avaliação primária da vítima.
• Avaliação secundária da vítima.

Problematização
Como avaliar a vítima de trauma? Quais são as situações que podem ser con-
sideradas potencialmente de risco para traumatismo raquimedular? Como
proceder a avaliação A, B, C, D e E? Como proceder para realizar a avaliação
secundária da vítima? O que signi�ca sinais vitais? Quais são os parâmetros
de normalidade? Como proceder diante das hemorragias externas? E nas he-
morragias internas? Quais são os diferentes tipos de ferimentos e as respecti-
vas intervenções?

1. Introdução
Dando sequência no assunto do ciclo anterior, continuaremos nosso estudo
sobre os primeiros socorros.

2. Avaliação primária e secundária da vítima


Avaliação dos sinais vitais
Dentro da classi�cação “sinais vitais”, estão: , ou pulso;
; e . Outros dados, como
pupilas, pele etc., não são considerados sinais vitais. Para medir a pressão ar-
terial e a temperatura, são necessários o es�gmomanômetro e o termômetro,
respectivamente; portanto, pode ser difícil a obtenção desses dados com preci-
são sem o auxílio de tais instrumentos. Vamos aqui discutir o que signi�cam
essas informações e alguns “truques” que nos podem ser bastante úteis.

: podemos simpli�car e apenas observar se a pele está quente,


fria ou normal. A pele quente pode signi�car in�amação, infecção, febre, expo-
sição ao calor ou reação do sistema nervoso autônomo (raiva, vergonha – es-
ses sinais são bastante fugazes). A pele fria pode signi�car exposição ao frio,
reação vascular à perda de sangue, reações do sistema nervoso autônomo
(medo ou fuga), assim como dor.

Recomendamos que você pesquise sobre os conceitos de in�amação e infec-


ção para que obtenha um melhor entendimento.

: o pulso informa-nos sobre o status do coração e da circu-


lação. Um pulso forte e acelerado pode ser a resposta orgânica ao exercício, à
febre ou ao estresse. Pulso acelerado e �no pode ser resposta à perda de san-
gue ou compensação de pressão baixa; pode, também, ser resposta à dor, me-
do, angústia. A FC de um adulto normal pode variar de 80 a 100 batimentos por
minuto. Normalmente, o coração dos atletas bate com uma frequência menor,
pois o treinamento faz que esse órgão se torne mais e�ciente, com contrações
mais fortes, mais efetivas, com frequências entre 80 e 60 batimentos por mi-
nuto, mesmo sob esforço. Frequências abaixo de 60 ou acima de 120 indicam
problemas e estarão acompanhadas de outros sintomas e sinais indicativos.
Ausência de pulso na artéria radial (localizada junto ao punho) não é bom si-
nal, pois signi�ca que a pressão arterial sistólica está menor que 8cm H2O, ou
80mmHg. Ausência de pulso na artéria carótida (artéria do meio do pescoço) é
um sinal, signi�cando parada cardíaca!

: a respiração, da mesma forma que o pulso, responde


�siologicamente de acordo com a solicitação orgânica, o que signi�ca que, no
exercício, no estresse, na dor, entre outras situações, normalmente, a frequên-
cia respiratória (FR) vai sofrer alterações. É também importante ouvir o ruído
respiratório. Na asma, nas bronquites, por exemplo, os brônquios estão cons-
tritos, fazendo que o ar passe fazendo um som de assobio (sibilo), como o ven-
to forte passando na fresta da janela. Adultos normais apresentam em torno
de 12 respirações por minuto. FR maior que 20 ou menor que 12 movimentos
por minuto é sinal de preocupação. O organismo pode solicitar aumento da FR
em diversas situações, tais como contusão no tórax, ferimentos abertos no tó-
rax, compensação de diabetes, perda de sangue etc. A diminuição da FR pode
ser relacionada ao uso ou abuso de drogas, lícitas ou ilícitas, como sedativos,
álcool, éter, entre outras, que levam à depressão do centro de controle respira-
tório no cérebro. A FR aumentada é um sinal de que o corpo está lutando, ao
contrário da diminuição, que pode signi�car falência da respiração.

: a medida da pressão arterial informa-nos sobre a força que o


sangue exerce na parede das artérias durante sua passagem. É in�uenciada
pelo volume de sangue circulante, pelo diâmetro e resistência oferecidos pelas
artérias e pela força de contração do coração. O valor maior da pressão (que
vem sempre em primeiro) signi�ca a pressão sistólica (da sístole do coração),
chamado também de , e o valor menor (que vem sempre por
último) é a pressão da diástole (relaxamento do coração), ou, ainda,
. Esse é um dos sinais vitais que tem mais desinformações e folclore
ao seu redor. As pessoas costumam dizer que a pressão “normal” é 12 x 8 (di-
zem “doze por oito”). Na verdade, isso é uma generalização. Para saber qual é a
pressão “normal” de uma pessoa, é preciso que se façam várias medidas, em
diferentes momentos do dia, por vários dias. Mulheres normalmente apresen-
tam pressão dita “mais baixa”, principalmente durante a gravidez. Crianças
também apresentam valores pressóricos mais baixos que 12 x 8. É muito co-
mum, também, o mito de colocar sal debaixo da língua ou fazer a pessoa co-
mer uma azeitona quando pensam que ela está com a pressão baixa, provavel-
mente relacionando o sal com a retenção de líquido e consequente aumento
da pressão, porém, esse procedimento é ine�caz e incapaz de aumentar a
pressão em tempo tão curto (veja o Tópico Desmaio, no Ciclo 5). Para saber os
valores da pressão arterial, é necessária a utilização de um aparelho para me-
dição, pois não é muito fácil obtermos esse dado. Podemos, no entanto, inferir
que, se a vítima apresenta pulso na artéria radial (no punho), signi�ca que o
coração está com pressão sistólica su�ciente para que o sangue chegue até lá,
e isso é um bom sinal.
Relate aos pro�ssionais que vieram atender ao seu chamado (192 ou 193) todas
as informações que coletar.

Vamos então agora discutir alguns dos problemas da avaliação primária e se-
cundária.

Problemas no “A” da via aérea


Neste tópico, vamos discutir alguns dos procedimentos para liberação da via
aérea. Porém, o problema especí�co de engasgo por corpo estranho será discu-
tido no Ciclo 5.

Como dissemos anteriormente, a inconsciência, ou desmaio, é a situação que


intrinsecamente pode levar, com mais frequência, à obstrução da via aérea.
Essa situação ocorre com mais facilidade caso a vítima esteja em decúbito
dorsal horizontal, ou seja, deitada de costas, pois, nessa posição, a língua pode
“cair” sobre a via aérea.

O traumatismo craniano (contusão na cabeça) pode muito frequentemente


causar comprometimento da função neurológica, levando ao rebaixamento do
nível de consciência. Daí até ocorrer um relaxamento muscular generalizado
e, por consequência, o relaxamento da língua é coisa de pouco tempo.

Para liberar a via aérea, o socorrista deve realizar a manobra de elevação da


mandíbula, ou jaw thrust, que é uma das manobras para desobstrução manual
da via aérea, descrita, anteriormente, na letra A do ABCDE.

Se a vítima não recobrar a consciência ou, no mínimo, super�cializar o nível


de consciência (isto é, passar de inconsciência a torpor ou passar a balbuciar
gemidos ou palavras), o socorrista deverá manter a abertura manual da via
aérea. Quando o organismo recobrar o tônus muscular, não será mais necessá-
ria a manutenção da manobra.

Caso a vítima esteja em decúbito ventral horizontal (de barriga para baixo),
respirando e consciente, é melhor deixá-la nessa posição até a chegada da
ambulância.
Na impossibilidade de manter a vítima “de barriga para baixo”, por inconsci-
ência, sangramento na região anterior do corpo ou outras situações de risco,
você vai precisar desvirá-la. Chame ajuda de outras pessoas e desvire a vítima
como se rolasse um bloco ou um tronco de árvore.

A obstrução da via aérea pode ser causada, também, por sangue ou vômito.
Essa é uma situação bem difícil para você lidar sozinho, pois é necessário
equipamento de aspiração e sondas especiais para desobstruí-la; portanto, es-
se é um trabalho para um pro�ssional especializado (SAMU ou Corpo de
Bombeiros) fazê-lo.

Situações como essa são bastante angustiantes para quem está prestando so-
corro. Por sorte, não são tão comuns, pois traumas como esses são resultado
de lesões causadas por grande energia cinética, como alta velocidade, grandes
quedas, violência etc.

Problemas no “B” da respiração


Como dito anteriormente, a respiração, tanto na frequência como na profundi-
dade, responde às necessidades do corpo. Por exemplo, para melhorar a oxige-
nação do sangue nas vítimas com hemorragia, o organismo aumenta automa-
ticamente o número de movimentos respiratórios, até a exaustão.

Todo o processo respiratório depende de inúmeros fatores, como, por exemplo:

1. Ar respirável.
2. Vias aéreas livres (desde a boca e nariz até os bronquíolos).
3. Integridade da caixa torácica (costelas, músculo diafragma, músculos in-
tercostais, pleuras etc.).
4. Integridade do parênquima (tecido) pulmonar.
5. Integridade do Sistema Nervoso Central e Autônomo.
6. Integridade e funcionamento do Sistema Circulatório (sangue, artérias,
veias e coração).

Como podemos observar, o A, o B e o C dependem muito uns dos outros para


que o organismo funcione adequadamente. Problemas em qualquer um deles
afetam diretamente os outros.
É importante atentar para a vítima de traumatismo craniano, seja por qual-
quer mecanismo, ou que tenha feito ingestão de bebida alcoólica, pois esses
dois agentes potencializam o efeito depressor do centro de controle da respira-
ção.

Favoreça a respiração da vítima afastando as pessoas; desafrouxe ou desabo-


toe roupas, cintos, gravatas etc.

Em caso de intoxicação por gases ou fumaça, retire a fonte de intoxicação de


perto da vítima ou a afaste da fonte – obviamente, se for seguro para você rea-
lizar esse procedimento.

A contusão torácica ocasionada por uma força de alta energia cinética (agres-
são, colisão, queda etc.) pode muito provavelmente provocar uma contusão
pulmonar, levando ao edema (inchaço) do tecido pulmonar e consequente di�-
culdade para realização das trocas gasosas. Esse processo é sentido pela víti-
ma como di�culdade para respirar, angústia respiratória, aumento da frequên-
cia respiratória e consequente diminuição da profundidade das respirações
(respirações mais curtas).

A vítima que está apresentando di�culdade respiratória tem grande di�culda-


de para permanecer deitada. Isso é verdade tanto no trauma como em situa-
ções clínicas (insu�ciência respiratória, infarto, insu�ciência cardíaca etc.).
Nestas, a vítima pode permanecer sentada ou semissentada, porém, no trau-
ma, há o risco de lesão de medula caso haja movimentação da coluna.

Caso a respiração esteja ausente, proceda de acordo com a reanimação cardio-


pulmonar, que você conhecerá no Ciclo 4.

Problemas no “C” de circulação


Como também já foi dito, na avaliação da circulação, devemos procurar se há
pulso na artéria carótida (um dos chamados “pulsos centrais”) e se há sangra-
mentos externos.

Na ausência de pulso carotídeo, você deverá proceder de acordo com o proto-


colo de reanimação cardiopulmonar que está descrito no Ciclo 4. A reanima-
ção deve ser mantida até a chegada das equipes de emergência.

Na presença de pulso, procure os sangramentos externos. Na grande maioria


das vezes, diante de um trauma, a vítima estará consciente, respirando, com
pulso e, talvez, com algum corte com sangramento. Caso não haja suspeita de
lesão de coluna, você precisará então apenas conter esse sangramento, não
sendo necessária a estabilização da cabeça (como, por exemplo, em casos de
cortes sem queda).

O sistema circulatório é responsável por levar sangue oxigenado e em quanti-


dade su�ciente para todos os tecidos e células do corpo. Para manter a vida,
todas as células necessitam de oxigênio e glicose para realização do metabo-
lismo celular. Essas duas substâncias essenciais somente conseguem chegar
até as células por meio da circulação. O oxigênio e a glicose entram nas rea-
ções químicas conhecidas como “Ciclo de Krebs” para produção de energia.
Esse processo é chamado de “metabolismo aeróbico”, ou seja, utiliza “ar” para
acontecer. Na ausência de oxigênio, as células passam a produzir energia por
meio do metabolismo anaeróbico. Esse é um processo bastante ine�ciente de
produção de energia, quase “desesperado”, que, além disso, produz metabólitos
tóxicos (ácido láctico e ácido pirúvico) difíceis de serem descartados, diferen-
temente do CO2 e H2O da reação normal. Esses ácidos vão se acumulando no
organismo, deixando o ambiente interno do corpo em acidose. Nosso organis-
mo não consegue funcionar em acidose, e a progressão desse estado leva à
morte.

A oferta inadequada de oxigênio aos tecidos do corpo é chamada de “choque”.


Portanto, o “estado de choque” ao qual nos referimos aqui não é aquele “trau-
ma psicológico” que estamos acostumados a ouvir e ver em reportagens e �l-
mes. Essa é uma síndrome patológica, que pode levar à morte se não corrigida.

O choque pode ser causado por fatores associados à falência do sistema cardi-
ovascular:

• Volume (conteúdo).
• Vasos sanguíneos (continente).
• Coração (bomba).
Nas perdas de volume, vamos nos ater às hemorragias, tanto externas como
internas, aos vasos sanguíneos, cujos ferimentos são os causadores de proble-
mas, e, por �m, à falência cardíaca, em situações como infarto ou edema agu-
do de pulmão, que são os principais causadores de choque. Existem outras si-
tuações que podem levar ao choque, mas fazem parte mais frequentemente do
universo de situações mais difíceis de ocorrer na vida do cidadão comum ou,
então, encontradas no ambiente hospitalar.

Vamos utilizar o exemplo das hemorragias para discutir o choque.

O choque hemorrágico, também denominado “choque hipovolêmico”, ocorre


quando há perda signi�cativa de sangue ou desidratação, isto é, quando acon-
tece um desequilíbrio entre o volume de líquido (conteúdo) e o tamanho do
continente (lembra-se de que a pressão arterial é a força que o sangue exerce
nas paredes das artérias?). Nesses casos, o organismo lança mão de alguns
mecanismos, chamados de “compensatórios”, para tentar manter o �uxo de
sangue normal para os tecidos:

• : para manter o mesmo


�uxo de sangue para as células, o coração bate mais forte e mais rápido. O
resultado disso é um pulso rápido e ligeiramente mais forte, que denomi-
namos como “taquicardia”.
• : o corpo “escolhe” para onde mandar o sangue,
elegendo os órgãos importantes (coração, pulmões, cérebro e rins), e dei-
xa de mandar sangue para a pele, por exemplo. Além disso, a vasocons-
trição periférica diminui o tamanho do continente, adequando-o ao volu-
me de sangue disponível. O resultado é a palidez.
• : o organismo tenta melho-
rar a captação de oxigênio para aumentar a oferta para as hemácias.
Além disso, como as células estão já começando a fazer metabolismo
anaeróbico, o corpo tenta, por meio da respiração, eliminar os subprodu-
tos tóxicos dessa reação química. O resultado é o que chamamos de “ta-
quipneia”, que é uma respiração rápida e super�cial.

Todos esses recursos são ativados pelo corpo para tentar compensar a falta de
sangue, resultando em uma vítima pálida, sudoreica (suor excessivo causado
por re�exo vagal), com a pele fria, com pulso e respirações mais rápidos.
Essa é a maneira de descon�armos de uma hemorragia que não se apresenta
externamente. Junte a causa (agressão, atropelamento, colisão, queda etc.)
com esses sintomas e você poderá praticamente a�rmar que a vítima tem um
sangramento. Se você não vê esse sangramento (hemorragia externa), então, é
um sangramento interno (hemorragia interna). Esses recursos, chamados de
“mecanismos compensatórios”, já indicam que a vítima em choque. O
choque compensado já quer dizer perda de sangue signi�cativa e que temos
pouco tempo para tentar reverter a situação, ou seja, a vítima tem de chegar
rapidamente a um hospital.

À medida que o sangramento continua, esses mecanismos começam a entrar


em falência, e, por �m, o corpo entra em colapso e morre. Portanto, nos primei-
ros socorros, o objetivo é estancar o sangramento, no caso das hemorragias
externas, ou retardar seus efeitos, no caso das hemorragias internas. Estas, na
maioria das vezes, somente serão interrompidas com procedimentos cirúrgi-
cos.

As são fáceis de identi�car, e, para contê-las, utilizamos


esta sequência de ações:

1. : utilize gazes, compressas ou panos


limpos, como toalhas ou guardanapos. Faça certa pressão sobre o feri-
mento. Não remova as gazes, compressas ou o pano já colocado sobre o
ferimento. Se estiverem encharcados de sangue, não os substitua, coloque
mais compressas sobre os primeiros (ao retirar compressas que estão em
contato com o ferimento, você remove, também, os coágulos que já estão
se formando – não se engane; aqui, coágulos não são ruins, são, em vez
disso, a única coisa que vai fazer o sangramento parar). Exceção: só não
fazemos compressão direta sobre fraturas expostas ou ferimentos com
vidro encravado.
2. : se não houver fratura associada na região,
você pode elevá-la até que �que acima da altura do coração. Obviamente,
essa ação só é possível em ferimentos nos membros superiores e inferio-
res.
3. : procure pela artéria mais pró-
xima do ferimento e faça uma compressão média, a �m de diminuir o �u-
xo de sangue para o ferimento. Identi�que no seu corpo os vários locais
em que temos pulsos palpáveis facilmente alcançáveis nas seguintes ar-
térias: braquial, femoral e radial.
4. : faça uma imobilização
para impedir a movimentação da região e não permita que a vítima faça
esforço físico. Qualquer esforço vai aumentar o batimento cardíaco, au-
mentando, também, o sangramento. Nesse sentido, faça o possível para
acalmar a vítima. O medo e a angústia também aumentam os batimentos
cardíacos.

O uso de torniquete é bastante controverso, porém, em situações limite, se você estiver di-
ante de um sangramento incontrolável e todas as ações anteriores já tiverem sido realiza-
das sem sucesso na contensão da hemorragia, em locais com falta de recurso ou onde o
atendimento hospitalar está muito distante, você pode considerar a aplicação do torniquete
– porém, com a possibilidade quase certa de perda do membro.

Nas , como a própria expressão diz, não há externaliza-


ção de sangue e, portanto, é mais difícil saber se está acontecendo ou não.
Para descon�ar de que a vítima possui algum sangramento interno, associa-
mos o tipo de lesão sofrido pela vítima aos sinais e sintomas de perda de san-
gue já elencados anteriormente. Além disso, algumas indicações podem nos
ser úteis, tais como:

1. : vermelhidão na pele – indicam pancada forte. Procure essas


marcas no tórax, abdome e na pele sobre grandes conjuntos musculares,
pois esses lugares podem conter grandes quantidades de sangue extrava-
sado.
2. : rompimento de pequenos vasos sanguíneos, como os capila-
res – também indicam contusão forte.
3. : rompimento de grandes vasos sanguíneos, formando um
“lago” (chamado de “loja”) de sangue sob a pele – a palpação desse local
dá a sensação de �utuação.
4. : as fraturas de fêmur e dos ossos da cintura
pélvica, por exemplo, podem causar grandes perdas sanguíneas, de 1,5l a
3,0l, respectivamente.

Como já dissemos anteriormente, não é possível, nos primeiros socorros, con-


ter a hemorragia interna, isso só será feito por cirurgia. Porém, podemos tentar
retardar seus efeitos:

• : coloque um apoio alto sob os joelhos, ele-


vando as pernas em 30° a 45°, se não houver lesão de coluna associada –
esse procedimento “drena” o sangue das pernas para a circulação.
• : cubra a vítima evitando a perda de calor – a hipotermia
que acontece nas hemorragias é bastante prejudicial à vida.
• .

Esses procedimentos também devem ser feitos para vítimas com hemorragia
externa.

Antigamente, havia uma diferenciação de procedimentos para sangramentos de origem venosa, capilar
ou arterial. Atualmente, essa diferenciação não é mais comum em primeiros socorros.

Problemas no “D” de avaliação neurológica rápida


Os pontos avaliados neste tópico são as pupilas e o estado da consciência.
Vamos discorrer rapidamente sobre eles, mas, nos primeiros socorros, não te-
mos muitas ações para corrigir esses problemas, restando-nos apenas a cons-
tatação da gravidade e consequente informação para os pro�ssionais da emer-
gência.

: não é à toa que os antigos diziam que “os olhos são a janela da alma”.
Em emergência, dizemos que as pupilas nos mostram o estado do cérebro. As
pupilas, quando estão dilatadas (midríase), não sendo ação de nenhuma droga
ou medicamento, indicam pouca ou nenhuma oxigenação cerebral. Nas lesões
cranianas que afetam apenas um lado do cérebro, uma das pupilas estará de
tamanho diferente, geralmente maior, do que a outra. Nas lesões que atingem
todo o cérebro, as duas pupilas estarão dilatadas. Pupilas contraídas (miose)
ocorrem por ação da luz forte ou de drogas e, também, em algumas lesões e
doenças cerebrais.

: do estado de vigília (acordado e atento) ao coma, são


várias as gradações da consciência, passando pela agitação, confusão mental,
sonolência e torpor. Para avaliar a consciência, usamos perguntas simples, co-
mo qual o nome da pessoa, se ela sabe que dia é e onde está. Se a vítima não
responde adequadamente a essas questões, se faz repetidamente a mesma
pergunta ou se diz coisas sem sentido, dizemos que está confusa ou desorien-
tada. Essa situação indica, no mínimo, contusão cerebral. Respostas lentas
(abre os olhos lentamente) ou ausência de resposta indicam lesões mais gra-
ves no cérebro.

Não se esqueça de que existem várias drogas, lícitas e ilícitas, que têm sua
ação no Sistema Nervoso Central, lenti�cando ou acelerando as respostas da
vítima sob sua ação. Tente identi�car se a vítima fez uso de alguma delas, in-
cluindo álcool. Porém, cuidado! Não atribua toda sonolência ao uso de drogas.

Problemas no “E” de Exposição e proteção contra hipoter-


mia
Na exposição da vítima, vamos procurar por ferimentos e, ao mesmo tempo,
cobrir a vítima. Neste tópico, vamos então discorrer sobre vários tipos de feri-
mentos, alguns bem comuns, outros nem tanto.

Você não verá aqui a indicação de nenhuma substância para limpeza dos feri-
mentos além de água e sabão! Não recomendamos o uso de substâncias casei-
ras, como açúcar, limão, vinagre, terra, cinza de algodão, folha de bananeira
etc. ou, ainda, glicerinas, vaselinas, água oxigenada etc. Repetimos:

Vamos então à descrição desses ferimentos e ações em cada um deles.

: ferimentos abertos, normalmente causados por objetos com gume, co-


mo facas, cacos de vidro, ferramentas etc.; têm as bordas lisas e podem ser
desde super�ciais a bem profundos e extensos. Devemos proceder a limpeza
somente com água e sabão caso o corte seja super�cial. Cortes profundos pre-
cisam ter o sangramento contido imediatamente. Proceda conforme a conten-
são de hemorragias externas.

: ferimentos abertos, causados pelo atrito da pele com superfícies.


Podem ser super�ciais, como os causados por galhos, ou bastante extensos,
como os causados pelo atrito com cordas ou com o asfalto nas quedas de mo-
to. São ferimentos extremamente dolorosos, pois o sistema atingido, que é a
pele, possui grandes quantidades de inervação sensorial. Devem ser lavados
com água e sabão. Dependendo da quantidade de pele atingida, podem causar
re�exo vaso vagal pela dor e até perda considerável de líquido pela pele ex-
posta.

O uso de substâncias para limpeza e desinfecção diária de um ferimento deve


ser orientado por um médico ou enfermeiro especialista. Não use substâncias
à base de iodo, pois podem ser tóxicas. Isso serve também para líquidos ou po-
madas.

: ferimentos fechados, causados por objetos rombudos (sem gume),


podem apresentar eritemas, equimoses ou hematomas. Podem causar rompi-
mento de órgãos internos. Nas contusões em membros (tanto superiores como
inferiores), pode ser aplicado gelo (nunca aplique gelo diretamente sobre a pe-
le e por não mais do que 15 minutos em cada aplicação). O uso de gelo em le-
sões abertas ou com sangramento ativo (hematomas ou equimoses) é con-
traindicado, pois o efeito rebote da vasocontrição é bastante intenso, chegando
a aumentar o sangramento após a retirada do gelo (aprenderemos mais sobre
o uso do gelo a seguir, na explicação de amputações).

Um objeto, mesmo que rombudo, pode, pela ação da força, causar o dilacera-
mento dos tecidos, como, por exemplo, uma pancada forte em um músculo
com um bastão de beisebol. Esse ferimento é chamado de .

: são ferimentos abertos de bordas irregulares que rasgam o tecido,


órgão, víscera, músculo ou pele, normalmente causados por objetos com vári-
as faces, como rodas dentadas, portas, forças de arrancamento (aceleração ou
desaceleração bruscas) etc. Os ferimentos que apresentam sangramento exter-
no devem ser tratados como qualquer hemorragia.

: ferimentos causados por objetos punctóricos ou trans�xantes,


como projéteis de arma de fogo, tesouras, �oretes, chaves de fenda, furadores
de gelo etc. Contenha a hemorragia externa.
: o objeto não deve ser retirado, sob risco
de aumentar o ferimento e aumentar a hemorragia. Faça um curativo volumo-
so, tentando criar um apoio em volta do objeto que evite sua movimentação.
Esse curativo deve ser feito com gazes ou compressas estéreis no contato com
a pele aberta ou pano limpo, como toalhas, pano de cozinha etc. Deve também
sustentar 2/3 (dois terços) do objeto que está para fora do corpo.

Pessoas que �cam presas em lanças ou outro tipo de ferimento dessa natureza
somente devem ser retiradas pelo Corpo de Bombeiros, que tem equipamento
para efetuar o corte desses objetos.

: feche o ferimento com um quadrado de plástico


limpo e estéril, transparente, sem cor, ocluindo três lados com esparadrapo. O
ferimento aberto no tórax pode causar o que chamamos de “ferida aspirativa”.
A abertura causada pelo ferimento facilita a entrada de ar por esse local. O cu-
rativo plástico de três pontas (como é chamado esse procedimento) evita que o
ar entre no tórax pelo “buraco errado”.

: ferimentos que apresentam abertura da parede abdominal com


saída de vísceras. Cubra as vísceras com plástico limpo e estéril, transparente,
sem cor, para evitar o ressecamento da víscera. Não use gazes ou panos, mes-
mo que umedecidos com soro �siológico.

: são dois os procedimentos: um com o segmento amputado, outro


na ponta do corpo onde aconteceu a amputação. No corpo, a hemorragia deve
ser contida da mesma forma que qualquer outra hemorragia; com o segmento
amputado, este deve ser envolvido em gaze seca estéril, depois, deve ser colo-
cado em saco plástico bem fechado e somente depois disso deve ser colocado
em gelo. A parte amputada deve entrar em contato direto com o gelo.

Em qualquer grande ferimento, existe o risco de a vítima perder muito sangue


e entrar em choque hemorrágico. Observe os sinais de perda de sangue e, além
do curativo do ferimento, use os procedimentos para retardar os efeitos do
choque: aqueça a vítima, eleve as pernas e não se esqueça de chamar ajuda!
Rápido!
: esse tipo de ferimento pode atingir músculos, tendões e
ligamentos. Com relação a tendões e ligamentos, geralmente, esses ferimentos
estão localizados próximos às articulações. Existem vários graus de distensão,
sendo alguns bastante graves. A dor é bastante intensa e pode haver edema,
equimose e hematoma. Pode ser colocado gelo no local (se não houver sangra-
mento) e deve ser feita a imobilização.

: esse ferimento se caracteriza pelo rompimento total ou parcial dos


ligamentos que sustentam uma articulação. Pode haver também rompimento
da cápsula articular. Não é um ferimento simples e não pode ser confundido
com distensão, entorse ou fratura. Normalmente, está associado a muita dor e
desvio importante na articulação. É um ferimento grave. Pode estar associado
à fratura, e, nesse caso, a gravidade aumenta. A tentativa de “colocar no lugar”
pode romper ainda mais as estruturas e aumentar a gravidade da lesão; por-
tanto, por mais dor que esteja ocorrendo, não tente colocar no lugar o membro
luxado. Imobilize-o na posição encontrada e encaminhe a vítima o mais rápi-
do possível para um especialista. Não é raro saber de pessoas que já tiveram
um ombro luxado e que este sempre “sai do lugar”; às vezes, isso se tornando
até uma brincadeira. Na verdade, essa pessoa teve uma luxação que foi mal
tratada, tanto nos primeiros socorros como no tratamento de�nitivo, �cando a
articulação como se fosse uma dobradiça de porta velha e mal parafusada, o
que não é nem de perto motivo de graça ou brincadeira.

: em primeiros socorros, somente dizemos com certeza que


alguém tem uma fratura se a lesão for muito óbvia. Ao contrário, dizemos ape-
nas que a vítima tem uma suspeita de fratura. As fraturas podem ser acompa-
nhadas por dor, restrição ou incapacidade de movimento, edema (inchaço),
equimose, hematoma. Pode ou não haver desvio anatômico, principalmente
em membros com dois ou mais ossos, como o antebraço (rádio e ulna), a perna
(tíbia e fíbula), os ossos do carpo e do tarso. O osso fraturado sangra como
qualquer estrutura do organismo, e, quanto maior o osso, maior o sangramen-
to. Além disso, tanto as forças que causaram o ferimento quanto as próprias
pontas ósseas podem causar lesões musculares e vasculares, aumentando
ainda mais o sangramento. Pode haver lesão do nervo na região da fratura.
Essas lesões podem apresentar-se com dormência, formigamento, perda da
capacidade de movimentação e perda de pulso periférico do membro atingido.
O membro pode apresentar-se pálido e frio. Imobilize a região de acordo com
os princípios de imobilização de�nidos mais adiante.

: dizemos que a fratura é aberta ou exposta se


houver comunicação entre o foco de fratura e o meio externo (como, por
exemplo, em uma fratura causada por um tiro). Portanto, necessariamente,
não é preciso haver exposição óssea, apesar de esta ser a apresentação mais
comum dessa lesão. Nunca, jamais, tente colocar as pontas ósseas expostas
para dentro do ferimento. Aborde o ferimento como se fosse um ferimento
com objeto encravado: proteja as pontas expostas e faça um curativo ao redor
do ferimento além da própria imobilização. Para imobilizar, siga as mesmas
regras da imobilização de lesões ósteo-articulares do quadro a seguir. Esse fe-
rimento tem um risco potencial de sangramento, portanto, �que atento aos si-
nais de choque e proceda de acordo com o protocolo para o choque hemorrági-
co.

• : observe cor, temperatura, motricidade e sensibilidade.


Compare com o membro contralateral.
• Se a lesão for num osso, imobilize a articulação acima e a articulação abaixo
da lesão.
• Se a lesão for numa articulação, imobilize o osso acima e o osso abaixo da le-
são.
• Acolchoe os espaços entre a vítima e as talas.
• Em membros inferiores, sempre estenda mais a imobilização, devido ao pe-
so.
• Em lesões de quadril, estenda a imobilização do meio do tórax aos pés.

É possível a improvisação de materiais para imobilizar, como cabos de vassoura,


travesseiros, cobertores, jornais ou revistas, porém, não se esqueça de acolchoar
bem o contato da vítima com esses materiais, de forma que seu uso não provoque
mais dor. Utilize, para isso, toalhas, lençóis, camisas etc.

• Se for possível o uso de materiais pro�ssionais para imobilização, como talas


�exíveis e bandagens triangulares, utilize-os conforme os mesmos princípi-
os anteriores.
• A imobilização bem realizada diminui em grande parte a dor e o sangramen-
to.
• Após a imobilização, compare novamente com a avaliação inicial: observe
cor, temperatura, motricidade e sensibilidade. Qualquer alteração desses pa-
râmetros deve levar à reavaliação da imobilização e da vítima.

: são ferimentos causados por diversos agentes, com graduação


na profundidade e na extensão. O cálculo da área corpórea queimada é um re-
curso para o tratamento de hidratação realizado no hospital, além de medir a
gravidade. Para os primeiros socorros, é importante de�nir, mesmo que gros-
seiramente, qual a extensão de área corpórea atingida. Para também de�nir a
gravidade, além da extensão, usamos os parâmetros da profundidade e da
área atingida.

Para calcular a área, ou, ainda, a superfície corpórea queimada (SCQ), usamos,
no ambiente hospitalar, a chamada “regra dos nove”, porém, em primeiros so-
corros, sugerimos a regra da palma da mão, que corresponde a 1% de superfí-
cie corpórea. Utilize como parâmetro a , e não a sua.

Com relação à profundidade, são aquelas que atingem


apenas a camada super�cial da pele, causando vermelhidão, edema (inchaço)
e bastante dor; são aquelas que atingem até a camada
média da pele, chamada “derme”, causando bolhas e bastante dor; são
aquelas que atingem todas as camadas da pele, incluindo o
tecido celular subcutâneo, podendo atingir músculos, vísceras e ossos. As
queimaduras de 3º grau podem se apresentar carbonizadas ou coureáceas
(com aparência de couro) e, apesar de serem consideradas indolores (pois as
terminações nervosas também foram destruídas), estão circundadas por áreas
de 2º e 1º graus, que são bastante dolorosas.

São consideradas queimaduras graves:

1. Queimaduras de 1º ou 2º grau que alcançam 25% de SCQ.


2. Queimaduras de 3º grau que alcançam 10% de SCQ.
3. Queimaduras nas mãos, pés, virilha, e face.
4. Queimaduras das vias aéreas (por inalação de ar quente ou fumaça).
5. Queimaduras circulares (circundam uma área do corpo, como braço, per-
na, abdome, tórax, pescoço etc.).
6. Queimaduras em pessoas menores de cinco anos e maiores de 50 anos.
7. Queimaduras elétricas.
8. Queimaduras associadas a outras lesões (fraturas, traumatismo craniano
etc.).
9. Queimaduras associadas a outras doenças (diabetes, insu�ciência cardía-
ca etc.).

Os agentes térmicos são os agentes mais comuns, sendo a queimadura por es-
caldo a mais frequente, e as crianças, as vítimas comuns. Como o mecanismo
causador é a transferência de calor de um objeto ou substância para o corpo, a
melhor forma de controlar a queimadura térmica é fazer a mesma coisa, ou
seja, transferir o calor da pele para outro corpo, que, nessa situação, o melhor
remédio é a ! Portanto, resfrie a queimadura com água em temperatura
ambiente. Ao passar pela pele, a água vai remover o calor em excesso. Essa
ação vai restringir a área queimada e controlar a dor.

As queimaduras por causas elétricas atingem normalmente adultos jovens


em ambiente de trabalho, sendo que a corrente elétrica, ao passar pelo corpo,
gera calor, causando necrose (morte dos tecidos), destruição dos tecidos mus-
culares, coagulação do sangue e lesão endotelial (parede dos vasos). Além dis-
so, a corrente elétrica de natureza alternada interfere na �siologia elétrica car-
díaca, levando à arritmia grave e parada cardíaca.

As queimaduras elétricas produzem ferimentos de entrada e saída da corren-


te, indicando, com grande certeza, o caminho percorrido pela energia. O feri-
mento de entrada normalmente é menor em relação ao ferimento de saída.

As queimaduras por radiação têm, na queimadura de sol, sua representante


mais frequente, e, como o próprio nome diz, não são causadas pelo calor do
sol, mas, sim, pela radiação (UVA e UVB, essa última a mais lesiva). Casos le-
ves e não complicados de queimadura solar resultam em irritação e vermelhi-
dão na pele. A exposição grave e não tratada pode causar choque e até morte.
A dor pode estar presente em quase todas as situações. Os sintomas aparecem
em torno de duas a seis horas após a exposição e têm seu pico com 12 a 24 ho-
ras, podendo variar de bolhas somente percebidas com a esfregação da pele a
extensas áreas com sequestro de �uido do organismo (perda maciça de líqui-
do levando à desidratação); desequilíbrio eletrolítico; infecção; febre; náusea
e/ou vômitos etc. Nos casos leves e moderados, a pele começa a se recuperar
entre quatro e sete dias. Mas não se engane!
Só o tempo. Portanto, no caso de queimadura solar, o melhor é
!

As queimaduras químicas, excetuando as situações que envolvem agentes de


limpeza e sanitários domésticos, ocorrem, na sua maioria, em situações de
trabalho. Aqui, o remédio também vai ser a água, que não somente vai diluir a
substância química, como também vai “varrê-la” da superfície do corpo, de-
vendo ser aplicada tanto para substâncias ácidas como para álcalis.

Em toda situação de queimadura, preste atenção no agente causador e garanta


inicialmente que você não corre perigo, tanto nas situações de incêndio ou ex-
plosões como nas queimaduras elétricas e químicas. Esteja seguro de que vo-
cê não corre risco antes de tocar na vítima.

1. Caso a vítima esteja em chamas, você deve, primeiramente, extingui-las.


Cubra a vítima com um cobertor ou role-a até que as chamas sejam apa-
gadas.
2. Resfrie a área queimada com água em abundância. O resfriamento da pe-
le deve ser feito com menos abundância no caso das queimaduras graves,
pelo risco de hipotermia. Não rompa as bolhas.
3. Retire objetos que retêm calor, como anéis, pulseiras, relógios, colares,
brincos, cintos, carteiras etc., mesmo que grudados na pele.
4. Remova as roupas. Se houver roupas derretidas aderidas à pele, estas não
devem ser removidas. Corte em volta da área aderida.
5. Não use substâncias caseiras, como manteiga, pomadas (nenhuma!), va-
selina, glicerina, pasta de dente, pó de café etc. Como já dissemos, em pri-
meiros socorros, usamos apenas . O curativo que será feito diaria-
mente vai ser de�nido pelo médico ou enfermeiro especialista.

1. Corte a fonte de energia se possível.


2. Se não for possível afastar a vítima da fonte, ou a fonte da vítima, chame
o Corpo de Bombeiros.
3. Avalie se a vítima está em parada cardíaca (estudaremos mais profunda-
mente esse assunto na Ciclo 4).
4. Identi�que se há ferimentos de entrada e saída da corrente elétrica. Isso
fornecerá ao médico uma noção de que órgãos foram atingidos.

1. Somente se aproxime se for seguro! Toque na vítima usando proteção: lu-


va de borracha, avental, máscara e gorro.
2. Enxágue a vítima com água em abundância. Não se esqueça de remover
os sapatos (para não empoçar água com substância química nos pés) e
roupas. Cuidado com os respingos!
3. Em caso de substâncias químicas ácidas, enxágue por 10 minutos.
4. Em caso de substâncias químicas básicas (álcalis), enxágue por 15 minu-
tos.
5. Em caso de substância de categoria desconhecida, enxágue por 20 minu-
tos.

1. Não use cremes com anestésicos ou com perfume (o perfume contém ál-
cool, que desidrata mais a pele).
2. Banhos frios podem ajudar a aliviar os sintomas.
3. Leve a vítima ao médico se for grave.

3. Considerações
Obviamente, existem inúmeras variações dos ferimentos que aqui vimos, bem
como muitos outros tipos de ferimentos, porém, não foi o objetivo desta unida-
de percorrer todos eles ou transformá-lo em um pro�ssional da emergência. O
importante é saber comportar-se na maioria das situações e, principalmente,
como chamar ajuda!

No próximo ciclo, abordaremos as ocorrências e situações em que não está en-


volvido trauma.

Bons estudos!
(https://md.claretiano.edu.br/prosausocurg-

g02289-ago-2024-grad-ead/)

Ciclo 4 – Parada cardiorrespiratória

Conteúdos
• Parada cardiorrespiratória.

Problematização
O que é a parada cardiorrespiratória? Quais os procedimentos que devemos se-
guir diante de uma vítima com suspeita de parada cardiorrespiratória? Como
proceder para realizar a reanimação cardiorrespiratória precoce? Quais são os
elos da corrente da sobrevivência? Descreva-os.

1. Introdução
A parada cardiorrespiratória (PCR) é um dos eventos dramáticos que podem
ocorrer dentro do espectro das emergências, principalmente porque a grande
maioria das pessoas não sabe o que fazer nessa situação.

Em vários países mundo afora, existem programas de treinamento da comu-


nidade para reconhecimento da PCR e realização da massagem cardíaca, sen-
do as escolas, os professores, as crianças e seus parentes o grande público pa-
ra o ensinamento dessas ações (Figura 1).
Figura 1 Cartaz de informação utilizado pela American Heart Association –
AHA 2010.

O desenvolvimento desses programas é baseado no conhecimento já adquiri-


do há muito tempo pela comunidade cientí�ca de que quanto mais precoce-
mente for iniciado o procedimento de reanimação cardíaca, maior a possibili-
dade de sobrevida para a vítima.

No Brasil, existem poucos programas com esse objetivo, e talvez fossem os


conteúdos programáticos da Educação Física, em parceria com as Ciências
Biológicas, um bom caminho para instituir essas ações dentro da escola e da
comunidade que a circunda.

Os procedimentos e protocolos que utilizaremos aqui estão publicados na últi-


ma revisão de diretrizes para reanimação feita pela American Heart
Association e pelo Consenso Internacional ILCOR – Aliança Internacional dos
Comitês de Ressuscitação – (2010), aceitos e utilizados também no Brasil.

A modi�cação dos procedimentos é realizada sempre com base em trabalhos


cientí�cos e profundas discussões com especialistas. Essas modi�cações
ocorrem a cada dois ou quatro anos, dependendo dos resultados dos trabalhos
de pesquisa em andamento.

A American Heart Association (AHA) de�niu o conceito de


, e este tem se mostrado uma metáfora útil para �xação dos ele-
mentos e ações que o compõem, como mostrou a Figura 1. Elos da Corrente da
Sobrevivência resumem a compreensão atual da melhor abordagem para o
tratamento das pessoas com parada cardíaca súbitas. Esses elos sofrem modi-
�cações dependendo da vítima a ser abordada – se adulto, criança ou bebê.

A Corrente da Sobrevivência trata de uma situação com vítima inconsciente e


potencialmente em parada cardiorrespiratória. Os procedimentos obviamente
serão diferentes se a vítima estiver acordada.

Como vimos no Ciclo 3, as situações de emergência determinam o ABCDE na


avaliação da vítima de acidente, porém, na vítima clínica (sem ocorrência de
trauma), essas situações são diferentes, a saber:

1. Parada cardíaca.
2. Ataque cardíaco (infarto agudo do miocárdio).
3. AVC (acidente vascular cerebral, ou derrame).
4. Obstrução das vias aéreas (engasgo por corpos estranhos).

Devido à natureza dessas situações, a sequência das letras na avaliação �ca


sendo (Circulação-Vias Aéreas-Respiração) para a vítima clínica.

2. Vítima com suspeita de parada cardiorrespi-


ratória
A parada cardiorrespiratória (PCR), ou, simplesmente, parada cardíaca, é uma
das situações que exigem do socorrista ações precisas e rápidas, pois trata-se
de uma emergência real. As atitudes tomadas podem determinar o resultado
ou a sobrevida da vítima.

Em que pese tomarmos e fazermos as ações para reanimação o mais correta-


mente possível, não devemos colocar o peso do resultado sobre nossas costas,
pois existem situações fora do alcance dos esforços de reanimação.

Com base nas estatísticas comprovadas mundialmente e, também, no Brasil, a


parada cardíaca súbita, que atinge os adultos, na sua grande maioria, acontece
fora do ambiente hospitalar, ou seja, na rua, em casa, no trabalho. Na maioria
das vezes, o coração dessa pessoa está no estado que chamamos de “�brilação
ventricular”.

A �brilação ventricular (FV) é uma situação potencialmente reversível por


meio de massagem cardíaca e des�brilação, que devem ser feitas o mais pre-
cocemente possível. A massagem cardíaca é um procedimento que pode ser
feito por qualquer pessoa, desde que devidamente treinada (saberemos mais
nos parágrafos seguintes sobre a descrição do procedimento), e a des�brilação
pode ser realizada por meio de aparelhos automáticos e manuais. Os apare-
lhos manuais dependem da atuação de um pro�ssional médico, e os automáti-
cos funcionam, como a própria palavra diz, automaticamente, pois são progra-
mados para reconhecer a �brilação ventricular e aplicar o tratamento (cho-
que). Qualquer pessoa com um mínimo de treinamento pode utilizá-lo.

Daí a grande febre mundial para treinamento da população e para aquisição e


acesso público aos des�briladores externos automáticos, os DEAs. Esses equi-
pamentos são de fácil manuseio e requerem uma curtíssima capacitação para
sua operação. Com farta bibliogra�a e trabalhos sobre o tema, a utilização do
DEA o mais precocemente possível, juntamente com a massagem cardíaca,
tem sua e�cácia comprovada na reversão dos quadros de parada cardíaca por
�brilação ventricular.

Uma das ações de orientação para a saúde que devem fazer parte das suas ati-
vidades como professor é mostrar aos seus alunos como reconhecer a PCR e
saber o que fazer nesses casos. Quanto mais pessoas da comunidade estive-
rem orientadas para realizar esses procedimentos, mais teremos chances de
reverter uma parada cardíaca. Essas são ações não somente de saúde, mas
também de civilidade, cidadania e preocupação com o bem-estar de todos.

Nessa situação, devemos seguir cinco elos da Corrente da Sobrevivência


(Figura 2) dita. As ações a serem realizadas são:

1. Acesso rápido.
2. RCP precoce.
3. Des�brilação precoce.
4. Suporte avançado precoce.
5. Cuidados integrados pós-reanimação.
Figura 2 Cadeia da sobrevida.

: o acesso rápido inclui o reconhecimento preco-


ce da situação de possível PCR e o acionamento do serviço de emergência. As
pessoas também devem ser encorajadas a reconhecer os sinais de alerta, co-
mo dor torácica, falta de ar, e acionar o sistema de emergência antes do colap-
so se possível.

: a RCP (reanimação cardiopulmonar), também


chamada de “massagem cardíaca”, é mais e�caz quando iniciada imediata-
mente após o colapso da vítima. Estudos demonstram constantemente que a
RCP realizada por circundantes tem um efeito positivo sobre a sobrevivência e
deve ser mantida até a chegada do des�brilador ou do serviço de emergência.

: a des�brilação precoce é o elo da


Corrente da Sobrevivência que mais provavelmente melhora os índices de so-
brevida para vítimas de parada cardíaca com �brilação ventricular (FV).
Disponibilizar DEAs para um grande número de pessoas treinadas na comuni-
dade (clubes, escolas, estádios, lugares de grande circulação) pode ser um pas-
so fundamental para aumentar a sobrevivência a uma parada fora do hospital.

: a chegada do suporte avançado ao lo-


cal da emergência consegue garantir que a vítima receba cuidados especiali-
zados (suporte ventilatório avançado, medicação endovenosa, controle das ar-
ritmias, estabilização etc.) mais rapidamente do que levar a vítima até o hospi-
tal.

: dentro do hospital, os mai-


ores esforços devem ser instituídos para melhorar a sobrevida da vítima de
parada cardíaca, que devem incluir um sistema abrangente, estruturado, inte-
grado e multidisciplinar de cuidados pós-PCR, suporte cardiopulmonar e neu-
rológico, hipotermia terapêutica e intervenções coronárias percutâneas (quan-
do indicado), eletroencefalograma para o diagnóstico de convulsões e monito-
rização contínua em pacientes comatosos após o retorno da circulação espon-
tânea.

Vamos então descrever os procedimentos que estão contidos em cada elo até a
chegada do serviço de emergência.

Acesso rápido
O tempo é um dos fatores que mais in�uenciam resultados bons ou ruins.
Portanto, reconhecer rapidamente a necessidade de socorro e ajuda é uma das
ações mais importantes para o socorrista.

A qualquer instante, podemos nos deparar com uma pessoa inconsciente – no


trabalho, na rua ou em casa. Procure determinar rapidamente se essa pessoa
está reagindo ou não.

Aproxime-se e chame em voz alta a pessoa, ao mesmo tempo em que a toca


nos ombros, dizendo: “você está bem?”.

Caso não haja resposta, não haja movimentos respiratórios ou a vítima esteja
em respiração agônica (movimento torácico ine�caz), dizemos que a vítima
está inconsciente, e, nesse caso, você deve chamar ajuda imediatamente (192
ou 193), pedindo, também, que venha um DEA, ou peça para que alguém que
esteja próximo o faça.

Reanimação cardiopulmonar precoce


Após ter acionado o serviço de emergência e solicitado um DEA, volte para a
vítima e veri�que se há presença de pulso carotídeo. Posicione-se de joelhos
ao lado da vítima, na altura do tórax. Utilizando os dedos indicador e médio,
localize o meio do pescoço, exatamente sobre a proeminência laríngea, antigo
“pomo-de-adão” (faça a correspondência da região caso a vítima seja do sexo
feminino), e escorregue os dedos pela borda da traqueia até conseguir palpar a
artéria carótida (no espaço entre a traqueia e o músculo esternocleidomastoi-
deo). Procure sentir o pulso por, no máximo, dez segundos.

À ausência do pulso carotídeo chamamos de “parada cardiorrespiratória”, e


você deve imediatamente iniciar as compressões cardíacas.

Posicione o “calcanhar” de ambas as mãos (região hipotenar) um sobre o ou-


tro, exatamente sobre o osso externo, no seu terço inferior, devendo coincidir a
linha intermamilar da vítima com o seu dedo médio, como ilustra a Figura 3.

Figura 3 Posicionamento das mãos sobre o tórax.

Aproxime-se o su�ciente para fazer que seus braços �quem esticados e ali-
nhados em 90° com o tórax, como podemos observar na Figura 4.
Figura 4 Ilustração da posição do corpo para realização da RCP.

Não use a força dos braços para fazer a massagem cardíaca, mas, sim, o peso
das costas.

Inicie a massagem fazendo 30 compressões e 2 ventilações boca-máscara.


Continue fazendo ciclos de 30:2 até completar 5 ciclos, ou seja, 2min de reani-
mação, interrompendo para checar novamente e rapidamente o pulso.
Continuando a ausência de pulso, reinicie os 5 ciclos de 30:2. Estando presente
o pulso, veri�que se a respiração também está presente e, caso negativo, faça
somente uma ventilação a cada 5-6s. Para melhor compreensão desse proce-
dimento, observe a Figura 5.
Figura 5 Posição do corpo para massagem cardíaca.

Somente faça as ventilações caso seja possível o uso de algum mecanismo de


barreira (máscara com válvula unidirecional ou outro mecanismo). Não im-
provise com sacolas de supermercado ou pedaços de plástico. O risco de ad-
quirir doenças infectocontagiosas existe.

Para fazer as ventilações, pince as narinas, fechando-as completamente.


Através da máscara de barreira, coloque seus lábios à volta dos lábios da víti-
ma. Faça uma inspiração ligeiramente mais profunda e insu�e ar para dentro
da vítima, o su�ciente para provocar elevação do tórax. Cada insu�ação não
deve demorar mais que um segundo.

A cada sequência de 30 compressões, você deverá fazer duas ventilações.

Ao �nal de 5 ciclos de 30:2, cheque o pulso carotídeo.

Caso você esteja contando com a ajuda de outro socorrista, um poderá assu-
mir as compressões e o outro poderá assumir as ventilações. Porém, ao �nal
de 5 ciclos, as posições devem ser trocadas, independentemente de o massa-
geador sentir-se bem ou não para continuar (Figura 6).

Se você estiver sozinho, aguente �rme! Não há outra saída!


Figura 6 Fazendo a ventilação boca a boca (use sempre máscara de barreira).

Des�brilação precoce
Caso exista a possibilidade de se obter um des�brilador antes mesmo da che-
gada do SAMU (isso pode ocorrer em clubes, casas noturnas, escolas, aviões
etc.), interrompa imediatamente as compressões e utilize o aparelho.

Se a pessoa que está trazendo o aparelho souber como utilizá-lo, esta deve ini-
ciar os procedimentos, enquanto você continua com as massagens até que o
aparelho ordene sua interrupção.

O DEA é um aparelho de fácil operação, pois, após ser ligado, dá início a uma
série de comandos de voz que orientam todos os passos a serem realizados.

A sequência básica de ações do DEA possui as etapas que se seguem:

1. Ligar o aparelho.
2. Colocar as pás adesivas no tórax do paciente.
3. Análise.
4. Choque recomendado ou não recomendado.
Choque recomendado (presença de FV): o choque deve ser de�agrado.
Choque não recomendado (ausência de FV): o aparelho vai solicitar que
seja checado o pulso e RCP se necessário.
5. Interrupção para checagem a cada 2 minutos.
Assim que o choque for de�agrado, as compressões devem ser imediatamente
reiniciadas na sequência de 30:2, até completar 5 ciclos ou 2 minutos para no-
va checagem.

Caso o DEA não identi�que a necessidade de choque, o próprio aparelho orien-


tará para que o socorrista veri�que a necessidade de RCP (reanimação cardio-
pulmonar), e deve-se, então, checar o pulso. Na ausência de pulso, as compres-
sões devem ser realizadas na mesma proporção de 30:2. Na presença de pulso,
veri�que a necessidade de ventilação.

Estando ausente apenas a respiração, faça uma ventilação a cada 5-6 segun-
dos, durante mais 2 minutos, checando o pulso na sequência, ou até a vítima
recobrar a respiração espontânea.

Essa sequência de RCP deve ser realizada por pro�ssionais da área da saúde
(educadores físicos inclusos). A sequência designada para leigos tem diferen-
ças, e, caso você inicie um programa de treinamento no seu local de trabalho,
veri�que corretamente o protocolo que será utilizado. Conheceremos o algorit-
mo da sequência completa da RCP para pro�ssionais da saúde no Quadro 1.

Estando o pulso e a respiração presentes, coloque a vítima na posição de recu-


peração (deitada sobre o lado esquerdo).

As funções vitais da respiração e da circulação (batimento cardíaco) são suscetí-


veis a diversos fatores, tais como:

– afogamento;

– infarto agudo do miocárdio;

– intoxicação por drogas (inclusive álcool);

– intoxicação por fumaça ou venenos;


– choque elétrico;

– traumatismo craniano;

– ferimentos diretos sobre o coração e os pulmões;

– acidente vascular cerebral (derrame);

– perda maciça de sangue;

– outras situações.

Seja qual for a causa da parada cardíaca ou da parada respiratória, não há alte-
ração dos procedimentos, ou seja, se não há pulso, qualquer que seja a causa,
você deverá fazer massagem cardíaca. Se não houver respiração, você deverá
fazer a ventilação, não importando a causa, mesmo no caso de afogamento!

No afogamento, muitas pessoas pensam que a “água no pulmão” é o problema,


porém essa é uma informação incorreta. A água que se acumula, na grande
maioria dos casos, está na via aérea e no estômago. A falta de oxigenação cau-
sada pela submersão leva à parada cardiorrespiratória ou respiratória, ou seja,
ela não está respirando, e o coração não está batendo, e, portanto, o que a víti-
ma precisa é de !

Algoritmo de reanimação cardiopulmonar de adultos para pro�ssio-


nais da saúde.
Você deve manter as compressões durante o tempo necessário, até que haja
retorno do pulso ou até a chegada do SAMU (em situações extremas, até a sua
exaustão).

A ordem para que a reanimação não seja realizada ou seja interrompida deve
ser feita por um médico ou autoridade policial na ausência deste (em localida-
des distantes).

3. Considerações
Neste ciclo, você teve a oportunidade de conhecer os procedimentos que deve-
mos seguir diante de uma vítima com suspeita de parada cardiorrespiratória.

Lembre-se que os conteúdos não se esgotam aqui. Continue seus estudos so-
bre o assunto!
(https://md.claretiano.edu.br/prosausocurg-

g02289-ago-2024-grad-ead/)

Ciclo 5 – Outras emergências clínicas

Conteúdos
• Outras emergências clínicas: Desmaio. Convulsão. Engasgo.
• Infarto agudo do miocárdio (IAM).
• Acidente vascular Cerebral (AVC).

Problematização
O que é desmaio? Quais as suas causas? Quais os sintomas? Como ajudar a
pessoas em desmaio? Como se caracteriza a convulsão? Como se caracteriza a
epilepsia? Quais
são as principais causas da convulsão? Quais as principais condutas diante da
crise convulsiva? Como se apresenta a pessoa em situação de engasgo? Quais
as condutas
para atender a vitima de engasgo? O que signi�ca infarto agudo do miocárdio
(IAM)? Quais os sintomas apresentados? Quais as condutas para o atendimen-
to de IAM? O
que signi�ca Acidente vascular Cerebral (AVC)? Quais são os sinais e sintomas
apresentados? Como reconhecer o AVC? Qual a conduta a ser adotada?

1. Introdução
Agora, nosso estudo será em torno de outras emergências clínicas, como o
desmaio, a convulsão e o engasgo, além do Infarto Agudo do Miocárdio e do
Acidente Vascular Cerebral.
Abordaremos as causas, os sintomas e as condutas a serem tomadas nesses
casos.

2. Outras emergências clínicas


Desmaio
O desmaio é de�nido como a perda súbita e temporária da consciência, ou se-
ja, a situação acontece de repente e logo passa!

Normalmente, as situações causadoras do desmaio são autolimitadas. Isso


signi�ca que sem interferência externa o próprio corpo consegue reverter o
problema, pelo menos temporariamente.

O mecanismo �siopatológico do desmaio dá-se por falta de oxigênio no cére-


bro (hipóxia), falta de glicose (hipoglicemia) ou falta de ambos, por um �uxo
diminuído de sangue para irrigação cerebral.

Como causas do desmaio, estão:

1. Calor excessivo (vasodilatação periférica, di�cultando o �uxo de sangue


para a cabeça).
2. Posição imóvel ereta prolongada (pouco retorno venoso – posição do sol-
dado em guarda).
3. Lipotimia (queda brusca da pressão quando uma pessoa agachada se le-
vanta rapidamente).
4. Jejum prolongado ou baixa ingestão de calorias.
5. Estresse agudo e intenso, medo e pavor.

A pessoa pode apresentar palidez, sudorese (suor excessivo) e pele fria. Pode
também referir tontura, escurecimento da visão e mal-estar.

Para ajudar uma pessoa que sofreu um desmaio, primeiramente, tente se acal-
mar e, principalmente, não tente levantar ou colocar a pessoa em pé! A pessoa
está desmaiada, sem controle muscular, e não há ninguém que consiga colo-
car alguém nessa situação em pé ou mesmo sentada em uma cadeira!
Deixe-a no chão, veri�que se está respirando e coloque-a, então, na posição de
recuperação, até que volte à consciência.

Desafrouxe roupas, como colarinho, gravata, cintos, o que for possível. Assim
que a pessoa conseguir, coloque-a em lugar calmo e fresco.

Normalmente, a situação do desmaio resolve-se naturalmente, em até pouco


mais de 1 minuto.

Somente dê água para quem estiver totalmente recobrado. Não forneça nada
para beber ou comer a quem está torporoso (meio mole).

Pergunte o sample (já mencionado na Ciclo 2), direcionando mais precisamen-


te para o que aconteceu antes do desmaio e se a pessoa está bem ou mal ali-
mentada. Não se esqueça de perguntar se a pessoa possui alguma doença ou
faz algum tratamento de saúde.

Se na queda a pessoa bater com a cabeça no chão, você terá dois problemas: o
primeiro é a causa do desmaio e o segundo é o traumatismo craniano. Nessa
situação, é necessário imobilização e até RX ou tomogra�a. Não se esqueça de
chamar o SAMU! Muitas pessoas acreditam que é necessário colocar a pessoa
sentada com a cabeça entre as pernas, pedindo para que faça força etc., mas
nada disso é necessário. Exceto em uma situação em que o retorno do des-
maio está demorando muito, na qual podemos elevar as pernas da vítima (co-
loque almofadas sob os joelhos para não forçar a articulação, até, no máximo,
30° de elevação). O desmaio não precisa de atitudes heroicas ou de di�culdade
para ser resolvido.

Quando uma pessoa que está inconsciente demora a recobrar o estado de aler-
ta, isso deixa de ser um desmaio de uma causa simples, como calor ou pressão
baixa. A causa pode ser uma situação mais grave, como um sintoma de algu-
ma doença, e, portanto, a pessoa deve ser obrigatoriamente levada a um hospi-
tal.

Convulsão
A convulsão é uma situação em que há uma descarga elétrica que acontece
em um grupo de neurônios e que pode se espalhar para parte do cérebro ou na
sua totalidade. Pode ocorrer por causas simples, por situações de agressões
externas ou por doenças.

A causa mais comum é a doença chamada “epilepsia”, que se caracteriza por


uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não
tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante al-
guns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que
podem �car restritos a esse local ou espalhar-se. As medicações atuam de for-
ma a minimizar a possibilidade de convulsões.

Qualquer pessoa está sujeita a ter uma convulsão; é só ver as causas que po-
dem desencadeá-la:

1. Traumatismo craniano (em outras palavras, pancada na cabeça).


2. Intoxicação por drogas (lícitas ou ilícitas).
3. Hipoglicemia (falta de açúcar no sangue).
4. Meningite (infecção das meninges que envolvem o cérebro e a medula).
5. Tumores cranianos.
6. Hipóxia (falta de oxigênio).
7. Febre alta em crianças menores de 6 anos.

Existem vários tipos de convulsão, mas o mais comum é a convulsão generali-


zada. Nela, inicialmente, a vítima perde a consciência (por isso, pode sofrer
uma queda), os músculos fazem movimentos tônicos e clônicos, há liberação
de esfíncteres (a vítima pode urinar e evacuar) e produção intensa de saliva
(por isso aparece a espuma).

Porém, tudo isso não é nada comparado ao grande mito que envolve a convul-
são: a língua. O que acontece de verdade com a língua?

As pessoas acreditam que a língua “enrola” ou que a vítima vai “engolir” a lín-
gua! Mas isso pouco tem de verdade. Anatomicamente,

Porém, não é de todo errado nos preocuparmos com o problema da língua; só


devemos fazê-lo na hora certa.

Durante a convulsão, todos os músculos estão se contraindo, inclusive a lín-


gua, posto que também é um músculo. O objetivo do cuidado nesse momento é
impedir que a vítima sofra ferimentos pelos movimentos bruscos que estão
acontecendo. Portanto, você deve impedir que a vítima bata a cabeça no chão,
colocando suas mãos como travesseiro sob a cabeça dela. Afaste objetos ou
móveis que possam machucá-la, como mesas, cadeiras etc. Não restrinja os
movimentos convulsivos, pois a força destes é imensa, e você pode até provo-
car uma fratura. Deixe os membros livres e não segure a cabeça, apenas a pro-
teja. É possível que a língua �que presa entre os dentes durante a convulsão,
podendo até ocorrer cortes de super�ciais a profundos. Não há nada o que fa-
zer durante a contração da mandíbula. Não tente abrir a boca ou retirar a lín-
gua de entre os dentes da vítima. Seus esforços serão inúteis, podendo até pro-
vocar lesões na vítima e em você mesmo. Aguarde a convulsão passar.

Após a convulsão, você consegue perceber que os movimentos começam a �-


car mais suaves e que a respiração da vítima �ca ruidosa (roncos) e difícil.
Isso ocorre porque o relaxamento muscular atinge também a língua, que, com
o peso e falta de tônus, cai sobre a via aérea. Nesse momento, basta lateralizar
a cabeça da vítima para o lado e também girar o corpo todo para o lado es-
querdo (posição de recuperação). Executando apenas esse movimento, você
resolve vários problemas: a saliva que está acumulada vai escorrer para fora
da boca e a respiração acontecerá livremente, pois a língua não vai atrapalhar
a passagem do ar e o �uxo de sangue para o coração também melhorará.

Enquanto isso, você pode:

• Pedir que alguém chame ajuda.


• Afastar curiosos, que podem atrapalhar sua atuação.
• Conversar com a vítima acalmando-a, mesmo que pareça que ela não es-
tá consciente.

Se houve lesão na língua, também haverá sangue misturado com a saliva.


Você pode envolver a língua em gaze seca e levar a vítima para o hospital (é
importante o uso de luvas!).
Veri�que também se a vítima está acompanhada e, ao recobrar a consciência,
pergunte o que houve, se a vítima é portadora de epilepsia, se está sob medica-
ção, se a prescrição está sendo seguida etc.

É possível que a vítima não queira ir até o hospital, pois pode estar confusa
(estado comum após uma convulsão) ou mesmo por acreditar que o pior já
passou. Você pode tentar convencê-la, mas não pode obrigá-la a ir ao hospital.

Apesar de parecer muito tempo, uma convulsão não dura mais que um ou dois
minutos. O grande perigo é o que chamamos de “estado de mal epiléptico”
(normalmente, isso acontece em quem possui a doença epilepsia), que ocorre
quando mal termina uma convulsão e já se inicia outra, sem o tempo necessá-
rio para o cérebro se recompor. Isso é uma emergência neurológica, e o paci-
ente deve receber medicação especí�ca urgentemente para que a situação seja
controlada. Por isso, toda pessoa que tem uma convulsão deveria �car no hos-
pital sob observação.

Engasgo
O engasgo com o qual nos preocupamos é o que acontece por obstrução da via
aérea por objetos ou alimentos sólidos, impedindo a passagem do ar para os
pulmões.

Espinhas de peixe machucam a garganta, mas não obstruem a via aérea!


Cuidado com os truques para fazer “descer” a espinha, para não empurrá-la e
provocar ferimentos ainda maiores. Espinhas �ninhas são digeridas pelos áci-
dos do estômago. Caso a espinha seja grande, acalme a pessoa e leve-a para o
pronto-socorro. A tosse é o mecanismo natural mais e�ciente para desobstru-
ção da via aérea, pois é um grande volume de ar que tenta passar pela obstru-
ção em grande velocidade. A manobra de desobstrução da via aérea nada
mais é do que a tentativa de realizar a mesma coisa que a tosse.

Na situação de engasgo por objeto (pedaços de alimento, como carne, doces,


balas, chicletes, ou brinquedos, ou próteses dentárias), existe um “divisor de
águas” para ação imediata ou não do socorrista que está presenciando a situa-
ção: a pessoa ainda está conseguindo respirar ou não?
A pessoa engasgada assume uma posição típica, segurando a garganta com
uma ou com as duas mãos, e também apresenta expressão de angústia respi-
ratória (ânsia por ar), como ilustra a Figura 1.

Figura 1 Posição universal do engasgo.

Preste atenção para não confundir infarto com engasgo. Para que isso não
aconteça, é importante, ao aproximar-se da pessoa, perguntar: “você está en-
gasgado?”.

Em caso negativo, veja se é dor no peito ou qualquer outra coisa e proceda


conforme o caso.

Na resposta positiva, veri�que se a pessoa consegue tossir com e�ciência ou


emitir palavras, signi�cando que ainda há espaço para passagem de ar.
Acontecendo assim, estimule a pessoa a respirar e tossir com bastante força.

Muitas pessoas nessa hora fazem “simpatias”, como erguer os braços e bater
nas costas. Tudo é válido se a pessoa ainda está respirando. Se a pessoa não
consegue respirar, tossir ou falar, aja imediatamente! Coloque-se atrás dela, fa-
zendo com seu corpo um “muro de arrimo” junto das costas da vítima, não dei-
xando espaço entre vocês. Coloque seus braços à volta da cintura da vítima na
distância média entre o umbigo e o apêndice xifoide. Junte suas mãos e faça
movimentos de “soco” para dentro e para cima no abdome da vítima, como
mostra a Figura 2.
Figura 2 Manobra de Heimilich, ou manobra de desengasgo.

Faça esses “socos” até a vítima “cuspir” o objeto para fora ou até que, na im-
possibilidade de desobstrução, a pessoa, já sem ar, desmaie. Nesse caso,
deite-a no chão e inicie a RCP. A única diferença é que, ao ventilar a pessoa,
você deve veri�car a cavidade oral e, se for possível, retirar o objeto.

A técnica da massagem cardíaca também provoca um aumento da pressão


dentro do tórax, e, dessa forma, é possível “empurrar” o objeto para cima,
deixando-o mais visível e alcançável na via aérea.

Não se esqueça de chamar ajuda, pois, se a vítima evoluir para uma parada
cardíaca, quanto menos tempo demorar para a ambulância chegar, melhor! Se
o objeto for “cuspido” com a vítima ainda consciente, isso é o que de melhor
poderia acontecer. Veri�que se a respiração está adequada, acalme a vítima e
insista para que ela seja examinada por um médico.

Infarto agudo do miocárdio


Um dos “fantasmas” que assombram o homem moderno é o infarto agudo do
miocárdio e, portanto, também é um assunto cheio de folclore e informações
desencontradas.

O músculo do coração (miocárdio) é irrigado por diversas artérias, chamadas


“coronárias”. O infarto agudo do miocárdio (IAM) é uma obstrução que ocorre
em uma dessas artérias que impede o livre �uxo de sangue, fazendo que as cé-
lulas cardíacas à frente dessa obstrução �quem sem oxigênio e glicose, subs-
tâncias essenciais para a sobrevivência de qualquer célula. Disso decorre so-
frimento e até a morte dessas células.

Essa obstrução pode ser causada por diversos fatores que não cabem aqui ser
discutidos, porém, como um pro�ssional da saúde, você deve estar alerta aos
fatores de risco e, sempre que possível, orientar seus alunos para melhorar a
qualidade de vida, minimizando a possibilidade de ocorrência desse tipo de
evento. Dentro dos fatores de risco, estão: alimentação inadequada, sedentaris-
mo, hábito de fumar, estresse, hipertensão arterial sistêmica, diabetes, coleste-
rol alto, sobrepeso e obesidade, fatores genéticos, alcoolismo, entre outros.

Os sintomas e sinais do IAM podem ser: dor aguda no peito e em compressão


(sensação de morte iminente), falta de ar, palidez, sudorese e náusea, por ve-
zes, com vômito. A dor no peito pode irradiar-se para diversas regiões, como:
braço esquerdo, costas, mandíbula e para a região epigástrica. A irradiação pa-
ra a região gástrica acaba por ser confundida com mal-estar estomacal e pode
fazer que as pessoas subestimem essa dor e não pensem que pode ser na rea-
lidade um infarto.

Sua tarefa é impedir que a pessoa com suspeita de infarto se movimente


(qualquer esforço muscular signi�ca aumento de trabalho para o coração),
deixando-a em repouso na posição mais confortável possível enquanto aguar-
da a ambulância. Desafrouxe as roupas, como cintos e gravatas. Não tente me-
didas caseiras, como chás, sal embaixo da língua ou outras coisas. Por vezes, o
paciente portador de doença cardíaca possui prescrição de algum medica-
mento para o momento de dor no peito. Siga as indicações da prescrição, se
houver.

Uma pessoa que esteja sofrendo um infarto não deve ser levada com carro
particular ao hospital, pois pode ocorrer uma parada cardíaca no meio do ca-
minho, e não há possibilidade de realizar RCP dentro de um carro. Um infarto
não é sinônimo de parada cardíaca, assim como parada cardíaca não quer di-
zer infarto. O infarto pode evoluir para a parada cardíaca.
Derrame, ou acidente vascular cerebral
O derrame, ou acidente vascular cerebral (AVC), também chamado de “aciden-
te vascular encefálico”, tem sinais e sintomas que invariavelmente afetam as
funções cerebrais, tais como: perda da consciência (desmaio) ou torpor, perda
ou di�culdade de coordenação motora e da fala, convulsões, dor de cabeça in-
tensa e súbita, entre outros.

O AVC pode acontecer a partir do rompimento (AVC hemorrágico) ou da obs-


trução (AVC isquêmico) de um vaso sanguíneo no encéfalo.

É muito importante reconhecer os sinais e sintomas e acionar o serviço de


emergência o mais rapidamente possível, pois o tempo é fator determinante
para a possibilidade de sobrevida e diminuição das sequelas.

Para poder reconhecer mais precisamente o AVC, você pode utilizar-se de três
pontos básicos para identi�cação:

1. : peça para a pessoa falar alguma coisa,


como seu nome completo, endereço ou qualquer outra resposta. Observe
se a fala sai pastosa ou embolada.
2. : peça para a pessoa forçar o riso.
Observe se a rima labial �ca repuxada para algum lado.
3. : peça para a pessoa sustentar os braços esticados
para frente, na altura dos ombros, com os olhos fechados. Observe se não
há sustentação ou se algum braço tende a cair.

Caso um ou mais desses sinais esteja presente, é muito provável que a pessoa
esteja tendo um AVC. Isso só deve apressar a ida ao hospital.

As pessoas com tendências a desenvolver um AVC (praticamente os mesmos


fatores de risco do infarto) devem ser alertadas para a prevenção, e a
Educação Física exerce um grande papel nessas ações.

Além disso, os exercícios podem ajudar na recuperação de pacientes que so-


freram agravos à saúde, e você, como pro�ssional da saúde, pode exercer seus
conhecimentos em ambientes como escolas, academias, programas de saúde
da família, entre outros.

A atuação dos pro�ssionais da Educação Física na educação para a saúde tem


�cado cada vez mais expressiva, e é importante que você se mantenha atuali-
zado tanto nos conteúdos da saúde como nos conteúdos de atendimento das
emergências.

O importante é sempre manter a calma e chamar ajuda!

Nunca se esqueça disso.

Boa sorte!

3. Considerações �nais
Chegamos ao término do último ciclo da disciplina Programas de Saúde e
Socorros Urgentes.

O foco deste ciclo foi introduzir você no campo das emergências clínicas, com
o objetivo de tornar o menos angustiante possível momentos como esses.

Você deve compreender que as informações aqui apresentadas são referenci-


ais para a construção de novos conhecimentos, e suas compreensões devem
ser ampliadas na direção dos objetivos. Existem inúmeros outros elementos
que não constam neste ciclo e podem ser utilizados. Cabe agora a você
aprofundar-se o mais que puder e construir seu próprio conhecimento.

Você também pode gostar