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DOI: 10.

17648/2447-1798-revistapsicofae-v9n2-9 Pluralidades em Saúde Mental


2020, v. 09, n. 2, revistapsicofae-v9n2-9

Perda Gestacional: Aspectos Emocionais da Mulher e o Suporte da


Família na Elaboração do Luto

Beatriz Grupp da Rosa1 iD

Resumo: O presente estudo visa discutir sobre como a rede de apoio pode contribuir a respeito das
questões emocionais de mulheres que sofreram aborto espontâneo. Sua relevância é observada sobre a
possibilidade de ampliar a discussão do conteúdo no meio acadêmico, por haver poucos estudos a respeito
desse tema. Portanto, foi realizada uma revisão sistemática de literatura, nisso, foi possível perceber que
o luto da perda gestacional não é reconhecido socialmente, e isso desenvolve transtornos emocionais nas
mulheres, sendo assim, é necessário que a família auxilie a mulher durante um momento como este, para
que possa elaborar seu luto.

Palavras-chave: aborto espontâneo, luto, família

Miscarriage: Emotional Aspects of Woman and the Support of the


Family in the Development of Grieving

Abstract: The present study aims to discuss how the social support can contribute to the emotional issues
of women who have suffered miscarriage. Its relevance is observed on the possibility of expanding the
discussion of the content in the academic environment, due to the few studies on this topic. Therefore, a
systematic literature review was carried out. In this, it was possible to perceive that the grief of gestational
loss is not socially recognized, and this develops emotional disorders in women, so it is necessary for the
family to have the woman experience this moment so that you can work out your mourning.

Keywords: spontaneous abortion, bereavement, family

Para uma melhor compreensão, é necessário abordar que o aborto ocorre quando há expulsão
ovular antes de completar 22 semanas de gestação. Considera-se como abortamento precoce
quando o feto não chega à décima terceira semana de vida, e, tardia quando este acontece
entre a 13ª semana e 22ª semana. Por conta disso, é necessário que haja o acompanhamento
clínico e ultrassonográfico para que o profissional da saúde possa avaliar o estado em que se
encontra a gravidez. O abortamento pode muitas vezes ser evitado, sendo então imprescindíveis
as consultas regulares ao obstetra. A mulher também deve ficar atenta nos sintomas físicos que
o abortamento normalmente apresenta, como, por exemplo, sangramentos e dores pélvicas,
pois ao notar essas diferenças em seu corpo ela já pode recorrer ao atendimento médico para
que possa fazer o tratamento certo e evitar futuros abortamentos (Ministério da Saúde, 2010).
O enfoque desta pesquisa foi analisar através da literatura sobre a importância da família e do
cônjuge durante o luto materno por abortamento, tal como compreender de que maneira esse
suporte contribui na prevenção de possíveis transtornos psiquiátricos que surgem na decorrência
do aborto. A pesquisa realizou-se por meio de uma revisão de literatura, a fim de levantar
publicações científicas sobre aspectos emocionais presentes em mulheres que sofreram de
aborto espontâneo, além de estudar a importância do papel da família diante a situação.

1
Psicóloga. Pós-Graduanda em Psicodrama Psicoterapêutico pela Associação Paranaense de Psicodrama.
Graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Associação Paranaense de Psicodrama, Curitiba-PR,
Brasil. E-mail: [email protected]

Submetido em: 29/06/2020. Primeira decisão editorial: 17/09/2020. Aceito em: 26/11/2020.
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Para que possamos compreender melhor sobre como essa é dar subsídios aos profissionais no apoio
o assunto do estudo, Freitas e Barros (2015) apontam que às mulheres e às famílias, a fim de que consigam
a morte de um filho que ainda está em fase de gestação apoiar a gestante para superar essa fase, visto que
tem um grande impacto para os pais, especialmente é uma temática pouco explorada na literatura.
a mãe, pois é ela quem vivencia diretamente esse Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é, revisar na
processo em função das transformações corporais. No literatura, quais são as reações emocionais presentes
caso do abortamento, a mãe ainda terá de enfrentar o em mulheres que sofreram de abortamento não
procedimento para a retirada do feto, o qual pode ser induzido, e qual o papel da rede de apoio em relação
extremamente invasivo. a elaboração desse luto.
Embora a gestante sofra diretamente com o
luto, também é importante pontuar que os familiares Fundamentação Teórica
e amigos sentem a perda, porém, em muitos casos
existe um silenciamento vindo destes, no quesito
O aborto é a expulsão ovular antes de
de querer que a mulher acelere seu processo de
completar 22 semanas de gestação. Considera-se
elaboração. Ou seja, esses indivíduos passam a
como abortamento precoce quando o feto não chega
realizar comentários de que logo essa mãe poderá
à décima terceira semana de vida, e, tardia quando
engravidar novamente, no intuito de substituir o filho
este acontece entre a 13ª semana e 22ª semana.
perdido. E nesses casos, ocorre uma desvalidação e
A manifestação física de um abortamento pode
silenciamento do luto, ainda mais quando a gravidez
ser percebida por dores pélvicas e sangramentos
se encontra em estado inicial e ocorreu a perda, pois
excessivos durante a gestação, sendo importante a
socialmente não se é aceito o luto, pelo fato do início
mulher procurar por seu médico quando estiver com
da gestação ser algo pouco visto já que a barriga não
esses sintomas (Ministério da Saúde, 2010).
é visível, bem como o corpo da mulher ainda não
Como abordado anteriormente, a perda de
sofreu toda mudança que uma gravidez proporciona
um feto que ainda se encontra em desenvolvimento
(Faria-Schutzer et al., 2014).
pode acarretar em muita dor e sofrimento para a
Portanto, é importante compreender como
mulher que o estava gestando, justamente pelo fato
ocorre a elaboração desse luto, pois é provável
de criar uma idealização de seu filho. O abortamento
que exista um vínculo entre a mãe e o bebê que
pode gerar conflitos tanto na mulher quanto em
está crescendo em seu útero, visto que desde a
seu parceiro, sendo que ambos se encontram em
concepção – quando planejada, criam-se fantasias
desamparo diante a perda, porém, seus sentimentos
sobre a maternidade, o que quando se interrompe,
não são compreendidos e com frequência são
gera angústia nessa mãe. Sofrer o silenciamento pela
negligenciados pelas outras pessoas, pois há uma
população diante um aborto não induzido, faz com
dificuldade na população em conseguir se sensibilizar
que muitas mulheres se sintam inseguras, gerando
pelo momento que o casal está passando.
ansiedade em suas futuras gestações. Quando dada a
Entretanto, por mais que essas mães que
notícia da perda do feto, além da família, também é de
perderam seus filhos na gestação busquem por
importância da equipe de saúde se manter atenta ao
apoio familiar, não serão todos que conseguirão
estado emocional em que se encontra a mulher por
compreender o momento que ela e seu marido
conta da situação vulnerável que se encontra exposta
estão passando. Tal assunto é pertinente, visto que
(Freitas & Barros, 2015; Faria-Schutzer et al., 2014).
de acordo com a OMS, em 2015 no Brasil, houve
Em decorrência de tal problemática, a
192.239 abortamentos espontâneos, sendo que em
proposta dessa pesquisa é compreender por meio
2014 o número chegou a 206.230 (Fernandes, 2017).
da literatura como a família pode contribuir para que
Em caso de morte de crianças recém-nascidas,
uma mãe possa elaborar seu luto diante uma perda
o hospital fornece serviços de sepultamento para as
gestacional, a fim de que se evitem complicações
famílias, ou encaminha o corpo para o IML. Porém,
psiquiátricas futuras. A relevância de uma pesquisa
essa realidade não acontece com mortes pré-natais,

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é apenas registrado um atestado de óbito e caso o comum entre os casais que sofreram de abortamento
bebê tenha mais de meio quilo, mais de 22 semanas criar-se um processo ritualístico, a fim de conseguir
e possui o tamanho maior que 25 centímetros é elaborar essa perda, sendo que em algumas ocasiões
oferecido o serviço de sepultamento. Caso o feto a família realiza um próprio funeral para se despedir
não apresente os padrões citados anteriormente, (Iaconelli, 2007). A elaboração da perda, ou seja,
é simplesmente descartado como lixo hospitalar o luto é composto por algumas fases que ocorrem
(Fernandes, 2017). diante o passar do tempo da perda.
Desta forma, podemos perceber que Consta-se de que, quando vem a notícia do
já dentro do hospital há um certo descuido no falecimento, a pessoa entra em choque, sendo esta
tratamento que se dá ao aborto, visto que o descarta uma reação imediata e é a ocasião em que o indivíduo
como mero lixo hospitalar. Além disso, são muitas se encontra acolhida por diversas pessoas. Após esse
as mulheres no Brasil que sofrem desse problema, e processo, vem a fase da negação, na qual a pessoa
dentro da sociedade brasileira existem muitos tabus enlutada tem dificuldade em aceitar a realidade
criados em torno tanto do aborto quanto do luto, por que está vivendo, ou seja, não aceita a morte. O
processo da dor e aflição, possui a função de colocar
conta disso, é imprescindível que haja discussão em
o enlutado dentro da sua realidade – aquela que é
torno do abortamento espontâneo, visto que, existe
estar longe da pessoa que se foi –, e é a partir dessa
resistência em falar sobre e intervir nessas questões.
fase que a pessoa vivência internamente a dor de
Para fundamentar a discussão nesse estudo, é
perder um ente querido (Carvalho & Meyer, 2007).
necessário compreender que atualmente a sociedade
A próxima fase do luto é a tristeza, sendo
minimiza assuntos como o abortamento espontâneo,
algo quase universal, visto que a maioria das pessoas
não dando a devida repercussão que merece. As
se sentem tristes quando perdem alguém querido,
discussões atuais parecem mais em torno do aborto e pode ser que nesse período surjam sintomas
induzido, sobre o planejamento familiar ou a respeitos depressivos. A possibilidade dessa fase ser prolongada
das técnicas de fertilização. Essa recusa em falar a é alta, por conta do indivíduo sempre procurar em
respeito do abortamento não induzido vem de algo sua lembrança certos momentos que já passou com
cultural, uma dificuldade em discutir a respeito sobre aquele que faleceu (Carvalho & Meyer, 2007).
morte e finitude, sem contar que a palavra “aborto” O luto pode funcionar como um
possui um peso negativo significativo, gerando a desestabilizador emocional de uma pessoa, pois,
recusa em se falar a respeito (Quayle, 1997). não estamos acostumados com o sentimento de
A palavra aborto tem o mesmo peso de algo perda, principalmente quando há um vínculo afetivo
anômalo, até mesmo remete à palavra “monstro”. com a outra parte que se foi. Quando se trata de
O termo é usado pejorativamente, pois, possui o um luto relacionado ao aborto, o sofrimento gerado
significado de “falha”. E sem perceber, isso influência na mãe pode ser de maior intensidade, devido à
indiretamente nas pessoas a forma de interpretar idealização que ela cria em torno da maternidade e
seu verdadeiro significado, tomando o termo como de seu futuro filho. Por conta desse sentimento, essas
se fosse um fracasso pessoal. A mulher que sofre mulheres estão bastante propensas a desenvolverem
de abortamento, atribui esse significado para si, problemas como depressão, transtorno de pânico e
acreditando que de fato é um fracasso por não ansiedade, ainda mais quando a perda se encontra
conseguir desempenhar adequadamente esse papel recente, porém esses sintomas tendem a diminuir
materno que lhe atribuem, e isso causa um abalo com o passar do tempo (Carvalho & Meyer, 2007;
psíquico (Quayle, 1997). Kate, 2014; Rodrigues & Hoga, 2005).
Quando a gravidez é interrompida de forma Por ter diversos tipos de aborto, como já
indesejada, a mulher procura descobrir quem é essa dito anteriormente, no estágio inicial da gravidez
criança que ela gestou, visto que foi construída toda muitas vezes o luto não é reconhecido pelos demais
uma história a partir de suas expectativas, e, quando por não se ter algo visível para comprovar a perda.
não se concretiza essa fantasia, é necessário que Porém, quando se trata de um abortamento tardio,
ela possa compreender aquilo que está perdendo. É a sua elaboração pode ser facilitada, visto que

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há um corpo presente que veio a falecer e pode A seguir, o trecho de Parkes (2014) apud
se encaixar nos critérios para a realização de um Kate (2014) aborda a respeito sobre os males que
funeral (Santos, 2015). a repressão dos sentimentos causa em pessoas
No terceiro trimestre de gestação, existe um enlutadas:
contato maior entre mãe e bebê, já que este possui [...] a repressão excessiva dos sentimentos
forma, pois se movimenta dentro do ventre de sua relacionados ao luto é prejudicial e pode
genitora. E, ao se ter maior contato entre os dois, as levar ao luto patológico. Em sua visão, o ideal
expectativas em relação ao futuro de seu filho vão é o equilíbrio entre a evitação e a obsessão,
crescendo em decorrer da gravidez, e quando há a que possibilita que o enlutado elabore aos
perda, o impacto pode ter outros desdobramentos poucos sua perda. (Parkes, 1998, como
emocionais em relação ao da mulher que sofreu o citado em Kate, 2014, p. 15).
aborto no começo da gravidez (Santos, 2015).
Rodrigues e Hoga (2005) realizam uma
Dessa maneira, entende-se que o processo
crítica em relação aos profissionais da saúde, pois
de luto é individual, pois como visto nos parágrafos
é dever destes em orientar e ensinar como se deve
anteriores, é composto por fases que visam a sua
atuar diante situações tão delicadas, pois há um
elaboração, e dependendo em qual estágio se
despreparo por parte dos cônjuges em receber a
encontrava a gravidez, pode ser que compreender
mulher que sofreu abortamento. Existe, de fato, uma
o aborto seja mais fácil em alguns casos, porém
preocupação vinda destes, uma necessidade em
em outros, pode de fato causar desconforto e certo
apoiar e confortar sua esposa, mas, esses parceiros
conflito entre os genitores.
também sentem com a perda e isso pode gerar
Quando se diz conflitos entre os genitores,
confusão. É comum que esses companheiros não
tem o intuito de discutir que, além das mulheres,
sabem como lidar com a própria dor, e tampouco
os pais dos bebês também podem sofrer com
sabem como manejar de forma efetiva esse apoio
esse processo de perda, diante do qual, em geral,
direcionado à sua mulher.
permanecem em silêncio. O impacto do aborto é
O casal deve enfrentar uma nova adaptação
grandioso no casal, podendo causar conflitos entre
frente à perda já que futuramente podem ser que
os cônjuges ou fortalecer sua união, visto que as
venham a ter uma nova gestação, e ao superar sua
mulheres valorizam mais quando seus parceiros
perda, conseguirão passar novamente por esse
compartilham seu sofrimento e angústia junto delas,
processo e preparados para o que vier (Santos, 2015).
e quando não se tem um diálogo sobre isso, pode
Porém, quando não ocorre satisfatoriamente
ocorrer distanciamento entre as partes, gerando
o luto, e o casal acaba por engravidar novamente, seu
rompimentos (Kate, 2014).
bebê pode ser intitulado como um reparador daquele
Esses conflitos entre o casal acontecem
que não nasceu, ou também, podem confundir seu
pelo fato dos homens atribuírem os cuidados de
futuro filho com aquele que já morreu, gerando possível
questões reprodutivas somente às mulheres, porém,
conflito de identidade na criança (Santos, 2015).
é de se ressaltar que o apoio do companheiro deve
Isso acontece pelo sofrimento que
vir desde o momento da concepção, pois isso trará
muitas mães possuem quando vem a engravidar
conforto para sua parceira. E quando a pessoa deixa
novamente, como pode ser visto no trecho a seguir
de manifestar essa sua perda, faz com que ela não
de Santos (2015):
elabore satisfatoriamente seu luto, o que pode
conduzir à crença de que é a responsável pela morte Na gravidez posterior à perda gestacional,
daquele que se foi (Rodrigues & Hoga, 2005). assiste-se frequentemente à predominância da
E não é apenas um filho que o casal está angústia, em que os medos de uma nova perda
perdendo, junto com isso vem a perda da autoestima, são constantes. Apesar de poder não existir
pois como já apontado essas pessoas são acometidas nenhuma realidade clínica na gravidez actual
pelo sentimento de fracasso e pela sensação de falha que justifique os receios dos pais, a verdade
ao proteger sua prole (Santos, 2015). é que, frequentemente, surgem, nestes casos,

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complicações obstétricas, tais como a ameaça em vez de ser discutido as pessoas preferem deixar
de expulsão prematura, a prematuridade e o de lado. O trecho a seguir de Campbell (2011) traz a
baixo peso à nascença. (Santos, 2015, p. 13) respeito de como a influência social impacta na forma
como a pessoa lida pessoalmente com seu luto.
É necessário perceber como é delicada essa
O luto como processo individual está
questão para o casal, visto que suas estruturas são
diretamente relacionado ao luto como processo
abaladas diante tal notícia, sendo preciso trabalhar
social. Isso porque cada indivíduo está inserido
em torno dessa temática para poder prevenir
em uma sociedade que, [...], exerce influência
possíveis sofrimentos emocionais em futuras
gestações, e que existem tais probabilidades de se sobre os sentimentos e comportamentos gerados
ter outro abortamento (Rios et al., 2016). pelo falecimento de uma pessoa. Por esta razão,
Seria ideal que a rede de apoio pudesse a elaboração psicológica do luto resulta da
oferecer suporte diante tal perda, porém, muitas maneira como um grupo social pensa a morte e se
vezes, a família não consegue suprir essa demanda, comporta diante dela. (Campbell, 2011, p. 49)Como
visto que a perda do casal é algo particular deles, exposto na pesquisa de Carvalho e Meyer (2007),
sendo de difícil compreensão do próximo sobre a que entrevistaram 12 mulheres na condição de
dor que o outro está sentindo. E, com essa barreira abortamento, verificou-se que clamam pelo conforto
criada pela família, o processo de luto poderá ser familiar durante a sua perda. Muitas conseguiram
complicado, sendo uma perda ambígua, isto é, “seguir em frente”, pois estavam acompanhadas de
como o feto não é visível e concreto para quem vê seus maridos ou mães. Vale ressaltar que a figura
de fora, não se sabe ao certo o motivo da tristeza familiar de maior importância que apareceu nos
daqueles que sofreram com o aborto, gerando uma relatos dessa pesquisa foi o marido.
deslegitimação do luto. E é considerada ambígua Muitas mulheres tentam se apoiar junto
justamente por não haver esse reconhecimento por de seus parceiros, visto que estes também se
parte dos outros, como também a perda gestacional encontram em momento de luto, pelo fato de
em si (Rios et al., 2016). idealizarem da mesma forma que suas esposas
Essa forma de perda é bastante julgada como seria a paternidade, sendo também necessário
socialmente, pelo fato de não se ter o “objeto” averiguar como esses homens estão reagindo. Com
visível aos outros, podendo levar a uma negação o processo de enlutamento, pois, além de sofrer o
do luto por parte daquele que perdeu, e, assim, os abortamento, a saúde de sua companheira também
sentimentos negativos vão se intensificando cada pode estar em risco devido a todo o processo. Diante
vez mais. Esse luto é julgado socialmente, já que isso, é necessário avaliar como é a relação desse
existe um impasse dentro da sociedade em relação casal, pois a união faz com que eles se apoiem e
à morte de crianças, por conta da imagem vulnerável possam encontrar forças diante algo que lhes trouxe
construída no decorrer da história, sendo assim, é de sofrimento (Carvalho & Meyer, 2007).
extrema importância a família estar presente diante O apoio do parceiro e da família é
um momento como esse, porém, em decorrência ao imprescindível para essas mulheres que estão
histórico-social em relação a mortalidade infantil, o passando pelo luto da perda de seu filho, pois,
apoio se mostra deficiente nesse quesito (Carvalho quando este não ocorre de uma forma funcional,
& Meyer, 2007; Rios et al., 2016). pode gerar problemas psiquiátricos, como a
Para poder discutir sobre a questão do apoio ansiedade patológica e depressão, os quais já são
familiar diante uma situação de abortamento, é comuns durante a gravidez.
preciso compreender o processo do luto e como isso Após sofrer do abortamento, muitas
afeta as partes envolvidas. Kate (2014) aborda em sua mulheres acreditam que merecem ser punidas,
tese sobre como o luto é influenciado pelo meio social pois acreditam serem culpadas pelo acontecido e
em que a pessoa se encontra inserida, ainda mais por expressam o desejo de ter feito algo diferente na
ser um tema considerado tabu pela sociedade, que gravidez para que pudessem evitar o aborto. Por

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mais que essas mães desejam ter sua família por aborto apresentaram, como consequência,
perto em um momento tão delicado, estas também elevados índices de problemas de saúde
mostravam muita insatisfação com seus parceiros, mental, incluindo depressão (47% de
relatando que desaprovavam certas atitudes destes, aumento), ansiedade, comportamentos
diante tal ocasião (Benute et al., 2009). suicidas e abuso de substância. (Mariutti,
Além disso, são muitos os sintomas 2010, p. 34)
psicológicos que se apresentam após o abortamento, Muitas vezes, pessoas que não estão
porém, em relação aos abortos naturais, a prevalência passando pelo processo de luto possuem dificuldades
é de que surjam pelo menos a ansiedade e depressão, em apoiar adequadamente o outro que se encontra
e que sua duração é em torno 6 meses após a perda. em sofrimento. Existem muitas limitações quanto
Isso varia de acordo com o indivíduo e conforme é ao que falar, e a comunicação se torna uma tarefa
elaborado o luto, muitas mulheres associam a perda difícil. E quando se comenta algo inadequado para
gestacional como um grande evento traumático. o momento, esta pessoa se sente como se fosse um
A depressão acaba se tornando um efeito que incômodo para o enlutado, além de que, quando seus
normalmente aparece após o aborto, porém, sentimentos são expressos da maneira inadequada,
muitas vezes é ignorada pelas pessoas que estão em a mulher pode associar essas ações como se fossem
torno da mulher. O adiamento do sofrimento que atos de pena e piedade, colocando-a em uma posição
seria natural e esperado diante da perda pode ter inferior, pelo simples fato de sofrer (Parkes, 1998).
consequências futuramente, de uma forma ou de O sentimento de dor e sofrimento é inevitável,
outras perturbações emocionais surgirão na mulher e, ao receber visitas após a perda, as pessoas que se
(Mariutti, 2010). encontram em luto se sentem acolhidas pelo próximo,
Porém, não há um motivo em específico bem como gostam da solidariedade recebida, pois,
para o desencadeamento desses problemas, visto essa expressão a seu ver é como se fossem tributos
que a gravidez é encarada de maneira particular para aquele que está morto. São ações importantes,
para cada pessoa, porém, o motivo que acaba a vir pois mostram ao enlutado que ele possui companhia
desolar muitas mães é justamente o fim de algo para aquele momento tão triste, oferecendo a ele
que elas tanto esperavam e não foi concretizado. segurança. O familiar que se encontra disposto a
Muitas vezes, o adoecimento psíquico ocorre devido ajudar, deve se manter preparado para compartilhar
a autoatribuirão do sentimento de culpa podendo a dor e se mostrar presente para ajudar nas tarefas
até acreditar que futuramente poderão “pagar” por cotidianas, que muitas vezes podem ser difíceis de
isso. Também vale ressaltar que, muitas vezes, esse serem realizadas pelo enlutado (Parkes, 1998).
sentimento de culpa surge por conta da sociedade Através destas ações, cria-se uma
esperar que todas as mulheres tenham filhos e comunicação silenciosa entre as partes e, por meio
exerçam a função maternal, de ter que zelar sua dela é possível que se receba afeto e, a pessoa
prole, e quando isso não ocorre, a sensação para enlutada começa a expor seus anseios para o próximo
essas mães é de que elas não são párias para tal (Parkes, 1998). Sendo assim, percebe-se que a família
(Benute et al., 2009). pode ser um agente importante nesse momento, já
Mariutti (2010) aborda em sua tese trechos que são aqueles que se encontram presentes na vida
que explanam bem a relação entre mulheres que do indivíduo e ter alguém de afeto por perto pode
sofreram aborto e a probabilidade de se ter algum ser de grande ajude para conseguir superar essa dor
futuro distúrbio psiquiátrico: da perda.
[...] as mulheres que haviam tido abortos Portanto, observa-se que ações são
tinham uma probabilidade de 1,5 vez maior importantes junto ao casal que sofre aborto, como via
de sofrer alguma enfermidade mental, de prevenção de complicações psiquiátricas futuras.
e duas ou três vezes maior de abusar do Apesar da literatura focar mais na mulher, o homem
álcool e drogas. [...] Aquelas que tiveram um também pode ser incluído. E para que essa mãe não

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dependa apenas de profissionais para conseguir lidar Foram utilizados artigos publicados de
com essa perda, é de extrema importância que se 2010 a 2018 em língua portuguesa ou inglesa, a
tenha algum suporte vindo de seu parceiro e família, partir dos descritores definidos no DeCs BVS, que
pois assim, ela será acolhida e poderá receber a foram: morte-fetal; aborto espontâneo; luto; apoio
devida atenção que necessita no momento. social e família (fetal death; spontaneous abortion;
bereavement; social support and family). Sendo
Método realizada uma busca a partir das palavras-chave
selecionadas no DeCs BVS, a saber: morte-fetal;
aborto espontâneo; luto, apoio social e família (fetal
Foi realizada uma revisão sistemática de
death; spontaneous abortion; bereavement; social
literatura, de acordo com Sampaio e Mancini (2007),
support and family). Os termos serão combinados
este tipo de revisão utiliza diversas fontes de dados
por operadores booleanos (morte fetal OR aborto
a respeito do tema que será abordado em estudo.
espontâneo) AND (apoio social OR famíla) AND luto.
Para isso, com esse método, foi reunido informações
Foram selecionados os artigos publicados a partir de
necessárias a fim de conseguir integrar seu
2010, momento em que foi lançado uma Cartilha da
conteúdo, e posteriormente, encontrada uma forma
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo sobre
de intervenção para a problemática da pesquisa. E
pré-natal e puerpério. Os artigos encontrados nas
para analisar o conteúdo encontrado, notou-se que
plataformas: ScieLo, PubMed, CAPES, sendo também
o método da análise textual discursiva, foi o que mais
encontrado dois artigos na plataforma do Google
compactuava com a proposta deste estudo, pois, de
Acadêmico. As publicações estavam redigidas em
acordo com os autores Moraes e Galiazzi (2011):
inglês ou português, bem como, foram encontradas
[...] é um caminho do pensamento do
na íntegra, para poder realizar a leitura de seus
pesquisador. Como tal, é um processo
resumos, a fim de verificar a pertinência do conteúdo,
singular e dinâmico que cada pesquisador
constrói, sem ponto determinado de partida para então definir se eram incluídos para a leitura
ou de chegada. Por ser singular e dinâmico, integral. Os estudos encontrados que são revisão de
o caminho do pensamento não pode ser literatura foram analisados separadamente daqueles
dirigido de fora, mas precisa ser construído que possuem metodologia aplicada.
no próprio processo, pelo próprio sujeito. Os artigos incluídos eram aqueles disponíveis
Ao mesmo tempo esta metodologia confere na íntegra que foram publicados a partir de 2010
ao pesquisador ampla liberdade de criar e que condiziam com os descritores selecionados.
se expressar. Realizar uma análise textual Para isso, foram lidos integralmente e seu conteúdo
discursiva é pôr-se no movimento das qualitativamente analisado, por meio de análise
verdades, dos pensamentos. Sendo processo textual do discurso, definindo as categorias a partir da
fundado na liberdade e na criatividade, leitura e dos objetivos da presente pesquisa. Enquanto
não possibilita que exista nada de fixo e
os artigos que, em sua literatura não abordavam as
previamente definido. Exige desfazer-se de
questões levantadas nos descritores presentes nesse
ancoras seguras para se libertar e navegar
em paragens nunca antes navegadas. É estudo, ou que, após a leitura dos resumos, não
criar os caminhos e as rotas enquanto tratavam dos objetivos do presente estudo.
se prossegue, com toda insegurança e
incerteza que isso acarrete. Ainda que o Resultados
caminho finalmente resultante seja linear,
por força da linguagem em que precisa ser
Ao ser realizada a revisão de literatura,
expresso, em cada ponto há sempre infinitas
foram encontrados ao todo 321 artigos, sendo estes
possibilidades de percursos. Daí mais uma
buscados pela base de dados: Scielo, PubMed, CAPES
razão de insegurança e angústia (Moraes &
e plataforma do Google Acadêmico. Porém, foi
Galiazzi, 2011, p. 166).
aplicado o critério de exclusão em todas essas bases

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citadas, ou seja, aqueles artigos que não condiziam a perda gestacional, além de investigarem os
com o tema proposto, eram duplicados ou não possíveis transtornos mentais que surgiam em
estavam completos na íntegra, foram descartados, decorrência ao peso que essas mulheres tomavam
reduzindo para 9 artigos e um trabalho de conclusão com a perda. Os autores também abordam, mesmo
de curso. Desses trabalhos citados, foram inclusos que minimamente, quais eram as pessoas que se
estudos escritos na língua inglesa. A Figura a seguir recorria ao suporte emocional.
representa como foi o critério aplicado ao realizar a
revisão pela base de dados:
Discussão
Figura 1
Fluxograma dos artigos selecionados
Ao realizar a revisão sistemática, é
Artigos encontrados através necessário discutir a respeito da dificuldade
da base de dados:
N°321 em encontrar artigos que tratem sobre o
tema deste estudo, tanto é que, o número
Artigos excluídos: N°307 de pesquisas selecionadas foi drasticamente
Artigos duplicados:
N°4 Motivos: reduzido, permanecendo apenas aqueles que
Artigos excluídos por não
estarem redigidos em inglês ou abordavam brevemente sobre o tema. A seguir, foi
Artigos selecionados depois português: N°69
da exclusão dos duplicados:
realizada uma tabela para caracterizar os artigos
Artigos excluídos por não
N°317 condizerem com o assunto selecionados, mostrando qual foi sua amostra, a
desde presente estudo: N°152
Artigos que não estavam sua metodologia e quais foram os resultados que
completos: N°86
Artigos completos analisados: os autores obtiveram com suas pesquisas. Destes
N°4
10 artigos encontrados, 7 realizaram um estudo
de campo, entretanto, apenas 2 destas pesquisas
Conforme ao que fora exposto na
abrangem um número maior de entrevistados, a
Figura 1, dos 321 artigos encontrados, 4 foram
fim de se ter uma análise quantitativa, sendo que
excluídos, pois se tratavam de duplicados. Nisso,
nas outras literaturas, tratava-se de um número
restaram 317 artigos, porém, apenas 10 artigos se
inferior de entrevistadas, o qual variava entre 26
enquadravam com o tema proposto da pesquisa,
a 5 participantes, para que os autores realizassem
enquanto dos 307 restantes, 69 estavam em uma
estudos qualitativos, os quais se eram analisados
língua não correspondente ao proposto, 152
o discurso das mulheres que sofreram de
abordavam temas como: adolescentes grávidas,
abortamento. Além dos estudos de campo, foram
aborto induzido ou problemas fisiológicos; e os
encontrados 3 artigos de revisão de literatura, que
86 excluídos posteriormente, era devido a não se
discutiram a respeito do luto, do abortamento e
encontrarem disponível na íntegra. Destes artigos
dos aspectos emocionais das gestantes.
selecionados: 2 artigos foram encontrados na
Percebe-se que ao realizar a revisão, os
plataforma Scielo; 2 disponíveis na CAPES; 3 artigos
autores trazem sobre a dificuldade das mulheres
disponíveis na plataforma PUBMED e 2 destes
em elaborar o luto diante uma perda gestacional,
estavam disponibilizados como download em PDF,
visto que a sociedade não o reconhece como uma
na plataforma do Google Acadêmico. Destes 10
perda de fato, e isto acarreta em complicações
artigos selecionados, 8 foram realizadas pesquisas
psicológicas, pois há uma recusa de terceiros em
empíricas com mulheres ou homens que passaram
criar um rito para velar aquele corpo que não veio
por um processo de luto diante um aborto,
a nascer, portanto, essas mães tendem a buscar o
enquanto 2 artigos eram revisão sistemática
conforto do companheiro e família.
de literatura. Todos os estudos analisavam os
aspectos emocionais de mães que sofriam com

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Quadro 1
Amostra dos artigos selecionados condizentes com a pesquisa continua
Autor e
Amostra Metodologia Resultados
Ano
Após sofrer abortamento, nota-se que as mulheres
Lemos 11 mulheres Entrevista aberta, realizada
ficam mais vulneráveis e propensas a desenvolver
& Cunha internadas em a metodologia Análise do
humor deprimido e angústia, necessitando de suporte
(2015) uma maternidade. Conteúdo de Bardin.
emocional para conseguir enfrentar essa perda.
6 participantes Ao sofrer um aborto, as mulheres se encontram
Carmaneiro que sofreram Entrevista aberta, analisado desamparadas e, caso o luto perdure, pode se
et al. aborto no através do método desencadear crise de ansiedade ou depressão.
(2015) primeiro trimestre fenomenológico. Não só a mulher sofre, mas, com a perda, seu
da gestação companheiro e sua família também sofrem.
10 mulheres Observou-se que as mulheres nutriam sentimento
pacientes de Estudo de caso com de culpa pelo aborto, acreditando que fizeram algo
Heleno
um ambulatório aplicação de entrevista e que o abortamento seria um castigo, se sentiram
(2010)
de Reprodução clínica e aplicação de escala deprimidas e não se sentiram contempladas com o
Assistida apoio profissional.
O tema aborto é um tabu na sociedade, não se reconhece
Revisão de Análise de revisão de o luto deste. O casal se encontra desamparado quando
Kate (2014)
literatura literatura isto ocorre, portanto, é necessário encontrar meios de
fazer dar o suporte necessário.
5 mulheres
que sofreram Método clínico qualitativo, As mulheres se sentem angustiadas e
Faria-
de aborto entrevista semiestruturada, incompreendidas; pessoas desvalorizam o seu luto,
Schutzer et
espontâneo após realizada a análise de mas a família pode ser um fator que ajuda a manter
al. (2014)
20 semanas de conteúdo essa mãe de volta à realidade.
gestação
Todos os membros da família participam do
Revisão sistemática de
processo de luto. Para a sociedade, esse é um
5 artigos literatura, utilizando o
Leal & luto desconhecido. Cada membro da família lida
científicos método PICO, o qual avalia
Moreira de maneira diferente com o luto. O pai adota um
publicados nos população, intervenção,
(2017) papel primordial de apoio e suporte e contém seu
últimos 6 anos procedimento padrão e o
sofrimento emocional, os avós e demais filhos
desfecho (outcome)
também se sentem desamparados.
Coleta realizada no As mulheres enlutadas demonstraram necessidade
26 mulheres que Brasil e Canadá, aplicado em ter seu luto reconhecido. Ter apoio social é
Paris et al.
sofreram com formulário e escala; fundamental para que consigam elaborar seu luto,
(2016)
óbito fetal foram analisadas pois se sentem isoladas e não conseguem expressar
correspondências múltiplas sua dor.
137 mulheres
Foi realizada um grupo
que sofreram
de comparação, entre As mulheres que sofreram de aborto tendem a
Kulathilaka de aborto e
mulheres que sofreram desencadear depressão e não só as mulheres;
et al. outras 137 que
ou não de aborto, sendo ademais, todos da família podem sofrer com alguma
(2016) estavam sendo
usado um questionário e angústia.
acompanhadas
uma escala
em uma clínica

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Quadro 1
Amostra dos artigos selecionados condizentes com a pesquisa conclusão

Autor e
Amostra Metodologia Resultados
Ano
As famílias não reagem bem com a notícia do
Foram abortamento, sendo que tanto o homem quanto a
entrevistados mulher sofrem. Estes alegam que para elaborar o
Meaney et Entrevista semiestruturada
6 homens e 10 luto, é importante encontrar formas de expressar sua
al. (2017) e análise fenomenológica
mulheres em uma dor. Normalmente, casais que sofrem com aborto
maternidade tendem a procurar suporte emocional através de
parentes e amigos, por se sentirem mais acolhidos.
As mulheres que sofrem de aborto sentem muita
culpa com o ocorrido e acreditam que tenham feito
algo de errado. Existe a crença de que seu corpo
falhou com seu lado feminino. Os autores relatam
Kersting Artigos
que a família e amigos podem não reconhecer essa
& Wagner sobre aborto Revisão de literatura
perda, ainda mais quando o casal pretende realizar
(2012) espontâneo
um funeral para se despedir do bebê. Além disso,
os homens demonstram menos o luto pelo qual
estão passando e isso pode acarretar conflitos no
relacionamento.

Antes de discutir a respeito do papel da família em tais situações, é necessário abordar sobre o
luto em si. Os autores Leal e Moreira (2016), assim como Kate (2014), trazem em seus artigos que, não há o
reconhecimento do abortamento espontâneo como uma forma de perda, pois, as famílias que sofreram de
morte fetal não possuem seu luto reconhecido, devido ao fato das pessoas não reconhecerem o feto como
alguém que fazia parte da família, além disso, a própria mulher também possui dificuldades em reconhecer sua
própria perda. Portanto, Kate (2014) explora em seu estudo, justamente esta temática, visto que a sociedade
em si, não compreende o processo do luto, devido ao fato de vivermos em um ritmo dinâmico, o qual, não
é permitido parar, e como a finitude é o encerramento de um ciclo, normalmente se torna algo evitado de
ser falado culturalmente. Isso faz com que haja negligência entre as pessoas quando se é necessário apoiar
alguém que está passando por um luto.
E, como Leal e Moreira (2017) discutem sobre essa questão da falta do reconhecimento do próprio
enlutado, Kate (2014) traz em seu artigo um trecho sobre como deve ser realizado o trabalho do luto:
[...] o trabalho de luto – adaptação à perda – envolve quatro tarefas básicas, essenciais para que a
pessoa/sistema familiar recuperem o equilíbrio e completem o luto: aceitar a realidade da perda,
experienciar a dor da perda, ajustar-se/adaptar-se a um ambiente no qual a pessoa/objeto desejado
não existe e transferir a energia emocional investindo-a noutras relações. (Kate, 2014, p. 10)
De acordo com o artigo de Lemos e Cunha (2015) e de Carmeneiro et al. (2015) as modificações
corporais que ocorrem durante a gravidez, faz com que a mulher normalmente crie uma fantasia em relação
ao bebê que está gestando, e ao sofrer de um aborto, os indícios da gravidez somem, causando abalo psíquico
na mulher, gerando ansiedade com a possibilidade em ter novas perdas gestacionais. Nota-se que diante a
coleta de dados dos autores, o sentimento de tristeza e impotência eram os mais presentes nas mulheres que
sofreram de aborto, sendo que, uma participante relata que teria sido “o desfazer de um sonho” (Carmeneiro
et al., 2015, p. 112).
A perda desse sonho faz com que as mulheres anseiem por uma gravidez futura, entretanto, os
autores divergem na questão deste sentimento, pois, algumas participantes relataram possuir medo e
angústia de passar por uma nova gravidez e sofrer novamente de abortamento, enquanto outras alegam

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que esperavam ansiosas para engravidar outra vez e por um aborto, e o que sentiram diante situações
finalmente concretizar seu sonho de ser mãe. Lemos que eram expostas. Estas relataram sentirem-se
e Cunha (2015) entrevistaram algumas mulheres que isoladas ou, quando outras mulheres perguntavam
passaram por esse processo, e é perceptível em seu a respeito de seus filhos apontaram sentimentos de
depoimento esta questão de engravidar ou não de tristeza, impotência e fracasso, além de atribuírem
novo, como é mostrado abaixo: o questionamento do por que isso tinha acontecido
Para mim foi horrível, foi um “baque” muito com elas.
grande, muito triste [...] mas eu agora Outro aspecto importante abordado por
também não tento, não tentaria por eu ter Kersting et al. (2012) é que o luto pode dependendo
esse medo de perder de novo, porque isso da expectativa em que a mãe colocou em torno da
agora ficou marcado em mim [...]. E eu não gravidez, bem como, a forma em que a família lida com
quero passar por esta mesma sensação... essa perda. Pois, como comentado anteriormente
(Rebeca, 30 anos, mãe de três filhos). (Lemos através de Leal & Moreira (2017), as pessoas podem
& Cunha, 2015, p. 1128) não reconhecer o luto de uma perda gestacional, e
isso causa em complicações, pois a mulher se sente
Devido a essa ansiedade e falta do
impossibilitada em se despedir do filho.
reconhecimento do luto, Kersting e Wagner (2012),
As autoras ainda comentam a questão
Heleno (2010), Kulathilaka et al. (2016) trazem em
da maneira em que o cônjuge lida com a perda
seus estudos que esses aspectos abordados podem
gestacional, pois, de acordo com Meaney et al.
desencadear depressão nas mulheres que sofreram
(2017) além da mulher, o homem também tende
de abortamento, sendo que, ao entrevistarem as
a sofrer com o aborto. Entretanto, conforme visto
participantes, foi realizado um grupo de comparação
com os 6 homens entrevistados, por não ter contato
a fim de ponderar a probabilidade de desencadear
direto da gestação, sua forma de manifestar o luto
depressão, e Kulathilaka et al. (2016) relatam que
é diferente ao de sua companheira, ou seja, esta
aquelas mulheres que sofreram com uma morte
ocorre em curtos períodos de tempo e com menos
fetal tinham a probabilidade de 26,6% a mais em
intensidade. Pode acontecer dos membros do casal
desencadear uma depressão, em comparação com
ao conseguirem compreender o momento pelo qual
aquelas que nunca sofreram de abortamento.
o outro está passando, gerando possíveis conflitos
Heleno (2010) ainda traz em seu artigo que
no relacionamento. Portanto é necessário que haja
o sentimento dessas mulheres entrevistadas era o de
apoio mútuo durante situações como esta, pois
inferioridade, justamente pelo fato de não conseguir
ambos estão sofrendo com a perda. Além disso, Kate
engravidar. Em decorrência a esses fatores citados,
(2014) também enfatiza essa questão, alegando que
existe a probabilidade de desenvolverem problemas
o impacto do aborto é grandioso no casal, podendo
psiquiátricos decorrentes ao aborto. Ainda enfatiza
causar conflitos entre os cônjuges ou fortalecer
que, o fator cultural, além de interferir na maneira
sua união, visto que as mulheres valorizam mais
que se elabora o luto, também pode fazer com que
quando seus parceiros compartilham seu sofrimento
apareção sentimento de fracasso em ser mãe.
e angústia junto delas, e quando não se tem um
Conforme Lemos e Cunha (2015), ao estarem
diálogo sobre isso, pode ocorrer distanciamento
expostas dentro de um hospital de maternidade,
entre as partes, gerando rompimentos.
rodeadas por outras gestantes, puérperas e
As 10 participantes da pesquisa de Meaney et
mulheres que tiveram seus bebês, aquelas mães
al. (2017) relatam que se sentiram receosas ao pedir
que tiveram um abortamento, sofrem por estarem
por ajuda profissional após sua perda, sendo que
ali, pois, como dito anteriormente, há a crença
recorreram às suas famílias e amigos para lhes dar
de que elas não conseguiram desempenhar o seu
o apoio emocional que necessitavam no momento.
papel biológico natural, as deixando vulneráveis
Embora na pesquisa de Kersting et al. (2012) indicam
emocionalmente. Através de seu estudo, os autores
certos conflitos conjugais devido ao abortamento,
trazem o depoimento de 11 mulheres que passaram

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Meaney et al. (2017) relatam que após sofrerem a Considerações Finais
perda, as mulheres tendem a recorrer ao conforto e
apoio de seus maridos, os atribuindo a um papel de Torna-se notável a delicadeza que é trabalhar
suporte emocional. com mulheres que sofreram de abortamento
Além de desejar o apoio do companheiro, espontâneo, sendo que muitas dessas mães, criam
nota-se diante o artigo de Faria-Schutzer (2014), que as expectativas em torno do feto que estão gerando.
participantes de sua pesquisa mencionam haver uma Quando mulheres não conseguem levar a gestação
melhora em seu aspecto emocional, quando a família até o final, ficam abaladas emocionalmente
permitia que a mulher vivenciasse o luto, isto é, os o que pode ser agravado pelo fato de que em
familiares auxiliaram estas mães a retomar a realidade, nossa sociedade a perda gestacional é um tabu,
organizando um funeral e dando a oportunidade de se dificultando a elaboração do luto, e isso ocasiona
despedir daquele filho que não nasceu. E, Paris et al. em grandes chances da mulher desencadear algum
(2016) apontam que as participantes de sua pesquisa problema psiquiátrico, desde depressão a estresse
alegaram se sentir melhor quando a família e equipe pós-traumático, bem como, instabilidade em suas
médica permitiam que elas entrassem em contato relações interpessoais.
com o bebê que não nasceu, pois isso proporcionou Devido a isso, foi tentado resgatar neste
que enfrentassem a perda, podendo expressar sua estudo, o papel que a família pode exercer diante
dor e evitando a possibilidade de um estresse pós- uma situação desta, portanto, conclui-se que é
traumático, por deixar de conhecer o filho. necessário o reconhecimento da perda e do luto
Leal e Moreira (2017) em sua revisão de pelos familiares, pois assim, não desqualificarão os
literatura, reúnem diversos textos, os quais enfocam sentimentos daquela mãe que perdeu seu bebê. E,
sobre a importância em se manter um diálogo diante para que haja uma validação dos seus sentimentos,
uma situação como essa: é necessário que seja realizado algum rito para
Os estudos enunciados referem que é velar aquele corpo que não nasceu, bem como,
importante a promoção da comunicação mostrar aos poucos esta nova realidade que a mãe
intergeracional (pais e avós) (E2), e pais e está passando, pois assim, a mulher conseguirá
filhos (E3). Em algumas famílias em que compreender melhor sua situação.
não houve reconhecimento da perda e/ou Inclusive, evidencia-se que não só a mulher
partilha do sofrimento, as relações entre sofre com a perda, mas todos os familiares são
estes ficaram fragilizadas, levando a que este afetados de alguma forma, portanto, é necessário
evento causasse tensão intergeracional (E1, que seja estimulado um diálogo entre de gerações, a
E2). (Leal & Moreira, 2017, p. 11) fim de que seja esclarecido seus sentimentos, a fim
Portanto, é necessário que haja esse diálogo de evitar possíveis conflitos futuros, e assim, fazer
quando for a hora da mãe ter de desfazer do enxoval com que a mulher se sinta acolhida.
montado para o bebê, pois esse momento pode Por fim, é importante ressaltar que, há uma
ser de grande dor aos pais, e a família estando lacuna nos estudos que abrangem este tema, sendo
presente, pode encorajar a mulher a desempenhar que houve uma dificuldade em conseguir reunir
um papel mais ativo durante esta situação, dando- conteúdo para podê-lo discutir, e, por se tratar de
lhe mais autonomia em suas escolhas, bem como um momento delicado. Como dito anteriormente,
incentivado sua independência diante as decisões a estudar a respeito de como ajudar essas mães e seus
serem tomadas em relação ao abortamento. Embora familiares a elaborar o luto, é necessário para que
a mulher tenha perdido o feto, é necessário que sua possa instruir futuramente, famílias que não sabem
assistência deva ser igual àquela que foi prestada como auxiliar aquela mulher (ou casal) que estão
enquanto ainda gestava, para que se sintam acolhidas passando por um este momento, bem como, fazer
e sem ter a impressão de que são culpadas por algo com que profissionais da saúde possam ter um olhar
(Faria-Schutzer, 2014; Kate, 2018). mais apurado diante essas situações.

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