Processamento Implícito e Dependência Química

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 8

Psicologia: Teoria e Pesquisa

Jan-Mar 2013, Vol. 29 n. 1, pp. 7-14

Processamento Implícito e Dependência Química: Teoria, Avaliação e Perspectivas

Ana Carolina Peuker1


Fernanda Machado Lopes
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Carolina Baptista Menezes
Universidade Federal de Pelotas
Silvia Mendes Cunha
Lisiane Bizarro
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO – Pesquisas recentes têm investigado mecanismos cognitivos implícitos que influenciam a decisão e o comportamento
de uso da droga, como viés atencional e reatividade a pistas. Tais respostas são eliciadas automaticamente, potencializando a
vulnerabilidade à dependência e recaída ao uso da droga. Este estudo teve como objetivo apresentar a perspectiva teórica dos
modelos de duplo-processamento dos comportamentos aditivos assim como discutir a influência dos processos automáticos
no uso de drogas, suas formas de avaliação e técnicas que objetivam modificar diretamente tais processos. Os resultados
sugerem que medidas implícitas possam avaliar os mecanismos automáticos mais acuradamente do que medidas explícitas.
Diante disso, sugere-se que intervenções voltadas para a transformação das cognições implícitas sejam alternativas eficazes
para o tratamento da dependência química.

Palavras-chave: cognição implícita, dependência química, viés atencional

Implicit Processes and Drug Addiction: Theory, Assessment and Future Directions

ABSTRACT – Recent studies have investigated the implicit cognitive mechanisms that influence the decision to use drugs and
drug use behavior, such as attentional bias and reactivity to cues. Those responses are automatically elicited and can increase
vulnerability to addiction and relapse. This review aimed to present theoretical perspective of dual-process models of addictive
behaviors and to discuss the influence of automatic processes in drug intake, how they can be assessed, and techniques to
directly modify them. The results suggest that implicit measures can assess the automatic mechanisms more accurately than
explicit measures. Therefore, it is suggested that interventions aimed at the transformation of implicit cognitions can be effective
alternatives for the treatment of addictive behaviors.

Keywords: implicit cognition, addiction, attentional bias

Teorias da adição sugerem que usuários de drogas apre- de processos implícitos) e relevância teórica (aqueles que
sentam estratégias de tomada de decisão que geralmente versavam sobre teorias de duplo processamento na depen-
resultam em escolhas de recompensas imediatas apesar dência química e processamento implícito).
das possíveis consequências negativas no futuro (Verdejo-
-García & Bechara, 2009; Verdejo-García, Pérez-García, &
Bechara, 2006). Dessa forma, o paradoxo central nos com- Processamento Implícito e Dependência Química:
portamentos aditivos é que os usuários persistem utilizando Considerações Teóricas
a droga mesmo (re)conhecendo os danos potenciais associa-
dos a ela. O objetivo deste artigo é apresentar e discutir a A maioria dos modelos de duplo processamento propõe
perspectiva de duplo-processamento, uma vez que esta pode que o comportamento humano é guiado por dois sistemas
contribuir para entender esse aparente paradoxo (Rooke, semi-independentes de processamento da informação,
Hine, & Thorsteinsson, 2008; Wiers & Stacy, 2006). Este ainda que possa haver algumas distinções entre os níveis
estudo teórico foi produzido a partir da revisão de bases de análise sugeridos por diferentes modelos. Um sistema,
de dados nacionais e internacionais (SciELO, LILACS e ascendente (bottom-up) é considerado de associação rápida,
PUBMED) considerando como descritores de interesse as não-intencional e vinculado ao afeto, em geral impulsivo,
palavras dual-process models, implicit cognition, addiction envolvendo uma avaliação automática do estímulo em termos
e attentional bias. Foram selecionados artigos publicados de sua relevância motivacional e emocional. O outro sistema,
nas últimas duas décadas que, dentro da temática, contem- descendente (top-down) é racional-analítico, intencional,
plavam um ou mais itens como: período de publicação, incluindo processos controlados relacionados à tomada de
pertinência (aqueles que incluíam método de avaliação decisão, regulação da emoção e expectativas de resultados
(Rooke et al., 2008; Wiers & Stacy, 2006).
1 Endereço para correspondência: Ramiro Barcelos, 2600/ sala
O uso de substâncias psicoativas promove alterações em
02 - Bairro Santa Cecília Porto Alegre, RS. CEP 90035-003. substratos neurais relacionados à emoção e à motivação. Com
E-mail: [email protected] a exposição repetida à substância, o sistema impulsivo se tor-

7
AC Peuker et al.

na sensibilizado aos efeitos da droga e às pistas relacionadas drogas estaria relacionado ao comprometimento do funciona-
a ela (Robinson & Berridge, 1993). A sensitização desses mento executivo (Goldstein & Volkow, 2002; Verdejo-García
sistemas e dos seus correlatos neurais pode automatizar um et al., 2006; Verdejo-García & Bechara, 2009; Wiers et al.,
conjunto de ações que levam à procura e ao uso impulsivo da 2007; Wiers & Stacy, 2006). Esse prejuízo, aliado à saliên-
droga. Isso está de acordo com o modelo da adição proposto cia motivacional adquirida pelas pistas associadas à droga,
por Tiffany (1990), que considera que os esquemas de ação podem contribuir para o aparecimento da fissura e da busca
associados ao uso da substância se tornam progressivamente compulsiva pela substância (Field & Cox, 2008).
automáticos, pois, com o uso repetido da droga, os estímulos Conjuntamente, todos esses aspectos refletem modi-
relacionados a ela (ex.: imagens, sons, odores) passam a ficações que ocasionam um desequilíbrio entre os dois
integrar uma rede associativa armazenada na memória. sistemas – reflexivo e impulsivo – e seus distintos circuitos
Quando o usuário é exposto a tais pistas, os esquemas de neurais. O resultado é uma preponderância dos processos
ação são ativados, desencadeando a necessidade de consumir implícitos em detrimento de metas cognitivas explícitas
a substância. Dessa forma, o comportamento de uso pode (Wiers & Stacy, 2006; Yin & Knowlton, 2006). Dessa for-
iniciar e terminar sem intenção, sendo difícil de evitá-lo na ma, o comportamento aditivo se torna mais impulsionado
presença do estímulo eliciador (Tiffany, 1990). Essa tendên- pelo estímulo e é automatizado, favorecendo a transição
cia de ação automatizada pode ser inibida caso o indivíduo para o uso compulsivo da droga, à dependência e à recaída
tenha capacidade cognitiva suficiente e motivação para tal. (Goldstein & Volkow, 2002; Rooke et al., 2008; Wiers &
No entanto, a inibição é menos provável entre usuários de Stacy, 2006). Ou seja, quando um comportamento aditivo
drogas, pois estes estão mais suscetíveis e altamente sensíveis se desenvolve, o sistema de processamento emocional
às propriedades motivacionais das pistas associadas à droga automático (ou “impulsivo”) sofre neuroadaptações e se
(Field & Cox, 2008; Wiers & Stacy, 2006). torna sensibilizado para os efeitos da droga e para as pistas
Em termos neurobiológicos, a adição às drogas esteve pre- que predizem seu uso. Algumas dessas alterações envolvem
dominantemente associada ao sistema cerebral de recompensa, substratos neurais relacionados à emoção e à motivação.
considerado crucial para os efeitos reforçadores das drogas. Como resultado, pistas ambientais associadas ao uso da
Contudo, atualmente discute-se que de forma isolada o aumento droga capturam automaticamente a atenção do usuário,
dos níveis de dopamina na via mesolímbica seria insuficiente podendo eliciar um conjunto automático de tendências
para explicar o processo aditivo como um todo; embora se de ação de aproximação da droga. Essa tendência de ação
admita que as mudanças estruturais e funcionais observadas na pode ser inibida caso existam motivação e recursos cog-
adição, incluindo alterações no córtex frontal, são mediadas pela nitivos disponíveis para tal (processamento controlado ou
dopamina. Devido à diminuição do processamento pré-frontal “reflexivo”). Na medida em que o comportamento aditivo
(top-down) e, portanto, das funções de controle executivo no se desenvolve, a modulação/inibição da resposta impulsiva
processo de adição, há um aumento de respostas afetivas guia- torna-se mais difícil. A intoxicação aguda e a exposição
das por estímulos sensoriais (bottom-up) eliciadas por pistas crônica à droga promovem o fortalecimento de tendências
condicionadas aos efeitos droga (Goldstein & Volkow, 2002). de aproximação automáticas e o enfraquecimento das
Dessa maneira, o pobre controle sobre os impulsos e habilidades para moderar a resposta impulsiva de uso da
o comportamento tipicamente observados em usuários de droga (Figura 1).

Processamento Funções Executivas Motivação


Controlado (Habilidade (Inibir/Modificar)
(”Reflexivo”) Inibir/Redirecionar)
Regulação Álcool/Drogas
Emoção avaliados como
estímulos emocionais

Processamento
Inibição
Automático
(”Impulsivo”) Tendência de ação
Álcool/Drogas Uso de
avaliados como aproximação álcool/drogas
estímulos emocionais implícita

Álcool/Drogas

Sensitização

Estímulo Associado
(ex.: festas)

Figura 1. Visão geral esquemática dos diferentes processos envolvidos no desenvolvimento dos comportamentos
aditivos (adaptado de Wiers & Stacy, 2006).

8 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2013, Vol. 29 n. 1, pp. 7-14


Processamento Implícito e Dependência Química

Processamento Implícito e Dependência Química: para o estímulo de interesse, mas na exposição prolongada
Formas de Avaliação existe tempo hábil para que o indivíduo realize mais de
uma mudança na orientação da atenção. Portanto, o tipo de
Os processos automáticos já foram identificados ante- mudança atencional capturada pela tarefa de atenção visual
riormente na gênese dos comportamentos aditivos (Tiffany, pode incluir a orientação inicial e, posteriormente, atenção
1990). Apesar disso, apenas recentemente um corpo de evi- mantida para o estímulo de interesse (Field & Cox, 2008).
dências tem sido formulado, à medida que novos paradigmas O VA pode operar de forma distinta dependendo da
de avaliação dos processos automáticos ou implícitos envol- operação cognitiva em análise ou da população estudada.
vidos nas adições têm sido desenvolvidos (Wiers & Stacy, Jovens fumantes com uma história de repetidas tentativas
2006). Conforme exposto, diversos aspectos do processa- para parar de fumar mostraram maior vigilância para ima-
mento implícito, os quais independem de um processamento gens relacionadas ao tabaco expostas por 500 ms do que
consciente, podem influenciar a decisão e o comportamento fumantes sem este histórico prévio de tentativas de cessação
de uso da substância. Por isso, normalmente esse tipo de e maior viés do que não fumantes. Quando os estímulos fo-
cognição é avaliada através de medidas indiretas, como o ram apresentados por 2000 ms os fumantes como um todo
viés atencional e a reatividade a pistas (Rooke et al., 2008; apresentaram viés para as pistas associadas ao tabaco mas
Wiers & Stacy, 2006). os não fumantes não, sugerindo que no tabagismo o viés
O viés atencional (VA) refere-se a um processo cognitivo estaria atrelado à manutenção da atenção (Bradley, Mogg,
implícito e involuntário que pode orientar o comportamento Wright, & Field, 2003). Por outro lado, outros estudos com
do uso da substância em um nível pré-consciente (Cox, Fa- fumantes revelaram que o viés atencional pode operar durante
dardi, & Pothos, 2006; Shoenmakers et al., 2010). Devido todo o processo cognitivo da atenção (Ehrman et al., 2002;
a uma predisposição natural e/ou experiências anteriores de Field et al., 2004). Demonstrou-se que jovens fumantes, com
aprendizagem, os indivíduos podem ser mais ou menos pro- dois anos e meio de uso de cigarro em média e com baixa
pensos a ter seu foco atencional capturado automaticamente dependência de nicotina, apresentaram viés atencional para
através de pistas ambientais relacionadas à droga. Indivíduos pistas associadas à droga em todo o processo cognitivo da
dependentes de drogas apresentam viés cognitivo para pistas atenção quando comparados a não fumantes, sugerindo que
associadas a sua droga de escolha. Eles tendem a alocar sua fumar por poucos anos e com baixo nível de dependência
atenção, preferencialmente, para pistas relacionadas à droga pode alterar tanto a orientação inicial como a manutenção da
em detrimento de outros estímulos do meio. Uma vez que a atenção para esta classe de estímulos (Lopes, 2009).
atenção é capturada, tais pistas passam a exercer uma maior Em outro estudo, bebedores sociais e dependentes de
influência sobre o comportamento do indivíduo (Field & álcool em abstinência por mais de duas semanas apresentaram
Cox, 2008; Lopes, Peuker, & Bizarro, 2008). viés para pistas associados à droga no tempo de exposição
A tarefa de atenção visual (Visual Probe Task) é um 50 ms, mas quando os estímulos foram apresentados por
dos principais paradigmas utilizados para investigar o VA 500 ms ambos os grupos evitaram tais estímulos. Houve
(Peuker, Lopes, & Bizarro, 2009). Trata-se de uma tarefa associação entre o viés e padrão de consumo de álcool no
computadorizada de atenção que avalia o tempo de reação dos menor tempo de exposição, isto é, os indivíduos que bebiam
indivíduos para detectar e responder a um alvo apresentado maiores quantidades de álcool, na vigência do uso da droga,
onde havia um estímulo relacionado à droga. Avalia-se dessa apresentaram maior viés. A partir disso, sugeriu-se que em
forma a direção e as possíveis mudanças na orientação do tempos de exposição curtos o paradigma da tarefa de atenção
foco atencional do participante. Por exemplo, se o partici- visual seria útil para avaliar traço, um aspecto relacionado
pante detecta e responde mais rapidamente a estímulos que à gravidade da adição que não se modificaria nos períodos
substituíam imagens relacionadas à droga do que a estímulos iniciais da abstinência. Em contraste, em tempos de exposição
que substituíam imagens controle, presume-se um viés na maiores esse paradigma avaliaria características relacionadas
atenção para esse tipo de estímulo. Ou seja, o VA é tido como ao estado, que sofreriam alterações nas já primeiras semanas
o estado hiperatentivo do usuário de droga em direção aos da abstinência (Vollstädt-Klein, Loeber, Goltz, Mann, &
estímulos condicionados a ela (Field & Cox, 2008). Kiefer, 2009).
Uma vantagem que a tarefa de atenção visual oferece é A avaliação direta da reatividade a pistas associadas
poder investigar todo o processo cognitivo da atenção através à droga é outra abordagem que pode ser empregada nas
da manipulação do tempo de exposição dos estímulos; desde pesquisas sobre os processos implícitos envolvidos nos
o momento mais automático, ou implícito, até o mais explíci- comportamentos aditivos. A reatividade a pistas refere-se à
to, ou influenciado por variáveis motivacionais e pelo esforço variedade de respostas que são observadas quando os depen-
cognitivo. A orientação inicial é um processo relativamente dentes de drogas, ex-dependentes ou usuários frequentes são
rápido, mais implícito, que pode ser avaliado mesmo quando expostos ao estímulo previamente associado aos efeitos da
a duração da exposição dos estímulos apresentados for curta droga (Cunha & Bizarro, 2011; Rooke et al., 2008), tais como
(100-200ms), indicando um viés automatizado (Field, Mogg, variáveis fisiológicas (p.ex. alterações na taxa cardíaca ou
Zatteler, & Bradley, 2004). Já a manutenção da atenção é ativações neurais), subjetivas (p.ex. fissura) e comportamen-
um processamento mais explícito à medida que é mais in- tais (p.ex. recaída) (Vollstädt-Klein et al., 2009). Teorias do
fluenciado por variáveis motivacionais, e pode ser medido condicionamento sugerem que a pista ambiental relacionada
por tempos maiores de exposição dos estímulos (2000ms). aos efeitos reforçadores da droga adquire valor motivacional
A lógica subjacente é a de que em tempos de exposição a partir de repetidos pareamentos com os efeitos incondicio-
menores o indivíduo orienta sua atenção apenas uma vez nados da substância. Assim, o estímulo condicionado que

Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2013, Vol. 29 n. 1, pp. 7-14 9


AC Peuker et al.

sinaliza a disponibilidade da droga pode provocar reatividade Metanálise realizada em estudos da área revelou que a
fisiológica, psicológica e comportamental. Sendo assim, a reatividade a pistas pode gerar aumento no auto-relato de
exposição repetida ao estímulo associado à droga também fissura e respostas fisiológicas significativas em fumantes,
pode contribuir para o comportamento de uso, provocar a alcoolistas, adictos em heroína e cocaína (Carter & Tiffany,
busca compulsiva e a recaída em indivíduos abstinentes 1999). Estudos empíricos utilizando exposição a pistas ima-
(Chiamulera, 2005). ginárias ou in vivo relacionadas ao consumo concomitante de
Uma forma de avaliar essa reatividade é através de parâ- álcool e cigarro revelam aumento no relato de fissura por uma
metros psicofisiológicos, como por exemplo, a mensuração da das substâncias após a exposição a pistas associadas a outra
atividade eletrocardiográfica e da resposta da condutividade substância. Tal fenômeno ocorreu tanto no sentido exposição
da pele (Rooke et al., 2008). Respostas de reatividade a pistas a pistas associadas ao beber eliciar fissura por cigarro como
têm sido utilizadas como preditores do desfecho do tratamen- da forma inversa (Cooney et al., 2007; Drobes, 2002; Erblich
to, envolvendo a maior predisposição à recaída. Igualmente, et al., 2009; Palfai, Monti, Ostafin, & Hutchison, 2000).
podem ser utilizadas como marcadores da gravidade da de- A exposição recorrente a pistas associadas à segunda
pendência. Através dos potenciais relacionados a evento, a substância pode impedir a eficácia do tratamento e a manu-
análise da atividade elétrica do cérebro em resposta a imagens tenção da abstinência. Por isso, é importante que essa questão
associadas à droga também é um campo de estudos promissor seja problematizada no que se refere ao desenvolvimento de
na investigação da reatividade a pistas (Polich, 2003). Estu- estratégias de prevenção e tratamento (Drobes, 2002). Estudo
dos com imageamento cerebral também são uma alternativa, recente investigou a relação entre fissura por cigarro e fissura
sendo que estes têm revelado correlatos neuroanatômicos da por crack utilizando o paradigma da exposição a pistas, no
reatividade a pistas relacionadas à droga em áreas cerebrais qual os pacientes foram expostos a imagens de pistas rela-
envolvidas em processos motivacionais, emocionais e cogniti- cionadas ao consumo de crack. Após a exposição, houve
vos (Chiamulera, 2005; Yalachkov, Kaiser, & Naumer, 2011). aumento significativo na fissura por crack, mas também na
Outra modalidade de investigação da reatividade a pistas são fissura por cigarro (Araujo & Zeni, 2011).
os estudos utilizando realidade virtual. Estudo com utilização
da realidade virtual revelou que fumantes quando expostos a
ambiente virtual congruente com o comportamento de fumar Processamento Implícito e Comportamentos Aditivos:
exibiram maiores respostas de reatividade a pistas (Traylor, Intervenções Atuais
Parrish, Copp, & Bordnick, 2011).
Além da reatividade a pistas associadas à substância Intervenções que visam influenciar diretamente os pro-
eliciar a fissura ou urgência em consumir a mesma, também cessos cognitivos implícitos têm sido desenvolvidas. Na
pode ocorrer dessas pistas condicionadas às drogas induzirem dependência química, intervenções como o retreinamento da
a fissura por uma segunda substância. Esse fenômeno é rela- atenção e a meditação têm sido empregadas como técnicas
tado na literatura como reatividade cruzada a pistas (Cunha & complementares aos tratamentos existentes no sentido de
Bizarro, 2011). Por exemplo, de forma comum, a exposição melhorar o controle inibitório.
a estímulos ambientais relacionados ao beber constitui um O retreinamento da atenção (attentional retraining)
gatilho para pensamentos sobre o fumar, resultando na fissura consiste em modificar tarefas utilizadas para avaliar o viés
pelo cigarro e na probabilidade aumentada de seu consumo. na atenção com o intuito de treinar a focalização da atenção
Tal fenômeno pode ser entendido como condicionamento de para pistas não relacionadas à droga. Por exemplo, na versão
segunda ordem, ou seja, a resposta de fissura para consumo original da tarefa de atenção visual, o alvo substitui ima-
do cigarro pode ser eliciada pelas pistas associadas ao álcool gens relacionadas à droga e imagens neutras com a mesma
e vice-versa. É possível que o consumo de álcool e as pistas frequência (50% cada). Na versão de retreinamento, o alvo
relacionadas ao beber se configurem como gatilho para o substitui as imagens neutras em 90% ou até 100% das vezes.
comportamento de fumar, como resultado de exposições Dessa maneira, o usuário da droga reaprende, implicitamente,
repetidas ao álcool e ao cigarro concomitantes na história de a direcionar sua atenção para o estímulo neutro e a desengajar
aprendizagem do indivíduo. Assim, duas respostas condicio- sua atenção da pista relacionada à droga. Para isso, alguns
nadas são estabelecidas através de uma mesma pista: fissura pesquisadores têm utilizado uma versão modificada da tarefa
para beber e para fumar (Cunha, 2010; Erblich, Montgomery, de atenção visual para manipular, mais do que para medir, o
& Bovbjerg, 2009). viés atencional (Field & Eastwood, 2005; Field et al., 2007;
O paradigma da reatividade cruzada a pistas pode justifi- Schoenmakers et al., 2007; Attwood, O’Sullivan , Leonards,
car os elevados índices de consumo concomitante de álcool Mackintosh, & Munafo, 2008).
e cigarro (Cunha & Bizarro, 2011). Tal co-ocorrência é Tipicamente, nesses estudos os participantes são alocados
amplamente referida pela literatura da área (Dawson, 2000; em grupos que diferem quanto à localização dos alvos aos
Field, Moog, & Bradley, 2005; Hoffman, Welte, & Barnes, quais eles devem atender. Nos grupos “prestar atenção na
2001; Kahler et al., 2008; Mintz, Boyd, Rose, Charuvastra, droga”, o alvo substitui imagens relacionadas à droga em
& Jarvik, 1985; White, Pandina, & Chen, 2002). Pressupõe- todas ou na maioria das tentativas. Já nos grupos “evitar a
-se que o álcool seja um gatilho incentivo – motivacional droga”, o alvo substitui imagens neutras em todas ou na maior
para o uso do cigarro e, que após exposição a pistas asso- parte das tentativas. Como os participantes são orientados a
ciadas ao uso de álcool, por exemplo, há um aumento na detectar e responder o mais rapidamente possível o alvo, eles
magnitude do viés atencional para pistas associadas ao devem, ao longo da tarefa, focalizar sua atenção em direção
fumar (Field et al., 2005). às imagens relacionadas à droga ou afastar sua atenção dessa

10 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2013, Vol. 29 n. 1, pp. 7-14


Processamento Implícito e Dependência Química

classe de estímulos (Field et al., 2007; Field & Eastwood, monstrado, a meditação pode ser entendida, na perspectiva
2005; Schoenmakers et al., 2007). da ciência psicológica, em especial da psicologia cognitiva e
Em um estudo com fumantes, o viés na atenção para da neurociência cognitiva, como uma técnica autorregulatória
pistas relacionadas à droga foi manipulado experimental- e metacognitiva (Lutz, Dunne, & Davidson, 2007).
mente, sendo aumentado e diminuído (Attwood et al., 2008). Avaliações de meditadores através de tarefas que inves-
O grupo treinado a prestar atenção ao fumar teve maiores tigam a autorregulação demonstram que o praticante adquire
níveis de fissura do que o grupo treinado a evitar os estímu- uma maior capacidade de controlar de forma voluntária, ou
los associados à droga. Entretanto, os resultados na fissura seja, não automatizada, o direcionamento de seus recursos
foram limitados aos participantes homens. Além disso, não mentais e, consequentemente, o seu comportamento (Lutz et
houve efeito do retreinamento na topografia do ato de fumar al., 2008; Tang et al., 2007). Além disso, a meditação tem sido
(número de tragadas, volume da tragada, etc.). Embora haja associada a uma menor reatividade psicofisiológica (Tang &
evidência de correlação positiva entre o viés na atenção e a Posner, 2009), à redução de pensamentos ruminativos (Jain
fissura, ainda se faz necessário comparar o retreinamento et al., 2007) e a uma maior concordância entre a experiência
da atenção com uma condição controle na qual o viés não afetiva explícita e implícita (Brown & Ryan, 2003). Tomados
tivesse sido manipulado (Attwood et al., 2008). em conjunto, esses dados sugerem que a meditação de fato
Fumantes treinados para atender às pistas associadas parece influenciar a capacidade do praticante controlar seus
à droga apresentaram maior viés após o retreinamento, processos mentais e comportamentos e ampliar a consciência
enquanto os treinados a evitar tais estímulos em apenas dos mesmos.
uma sessão tiveram decréscimo no viés em relação à linha Com relação à cessação do uso de drogas, o efeito de
de base. Já no grupo controle, no qual o viés não foi mani- intervenções utilizando a meditação como uma de suas fer-
pulado, não foram observadas modificações. Os efeitos de ramentas tem sido testado empiricamente. Após utilizar um
uma sessão isolada foram considerados pelos autores como programa de intervenção com meditação de oito semanas – o
uma modificação específica no desempenho da tarefa, mais Programa de Redução de Estresse Baseado em Mindfulness
do que uma mudança global no viés atencional para pistas (Mindfulness-Based Stress Reduction Program -MBSR) –
relacionadas à droga, pois a modificação do viés atencional para fumantes, demonstrou-se que 56% dos participantes
não produziu efeitos generalizáveis (Field, Duka, Tyler, & atingiram a abstinência. Esse resultado se manteve após
Schoenmakers, 2009). Por isso, ainda é necessário elucidar avaliação de seguimento de seis semanas (Davis, Fleming,
se efeitos similares podem ser observados em fumantes após Bonus, & Baker, 2007). Um dos efeitos da meditação na
múltiplas sessões de modificação e se há generalização para redução do uso de drogas é o decréscimo da tentativa de
outras medidas de viés atencional. evitar pensamentos indesejáveis com relação às mesmas.
Outra forma de treinamento da atenção que vem sendo Em outras palavras, a maneira com que o usuário reage a
crescentemente investigada é a meditação. Considerada uma seus conteúdos mentais parece ser mais importante do que
espécie de treinamento mental, essa prática pode ser dividida a supressão dos mesmos (Bowen, Witkiewitz, Dillworth,
em dois tipos principais, conforme o direcionamento da aten- & Marlatt, 2007). Esses resultados são relevantes no que
ção. Na meditação concentrativa, considerada treinamento concerne ao processamento implícito e a sua relação com
do foco fechado, o praticante focaliza sua atenção sobre um o abuso de drogas, uma vez que um maior controle sobre
único objeto – respiração, contagem, imagem, entre outros a atenção e sobre a reatividade aos processos mentais pode
– de forma sistemática e contínua. O objetivo dessa prática é ser crucial para que o usuário consiga interromper o fluxo
aumentar a capacidade de controle sobre a concentração e a de associações aprendidas que o impulsionam a buscar e a
capacidade de não deixar distrair-se com os diversos estímu- consumir a substância.
los que chegam à percepção durante o processo meditativo. Atualmente existe uma adaptação do MBSR, chamada de
Na meditação de atenção plena (mindfulness), considerada Programa de Prevenção de Recaída Baseado em Mindfulness
treinamento do monitoramento aberto, o praticante mantém (Mindfulness-Based Relapse Prevention Program -MBRP),
sua atenção alerta e vigilante, observando todos os estímulos que visa atender especificamente às necessidades e dificul-
que chegam à sua consciência, porém de forma desapegada dades dos usuários de substâncias (Bowen et al., 2009). Essa
(dettached mindfluness), isto é, não analítica, sem qualquer versão integra atividades do tratamento padrão de prevenção
tipo de julgamento ou elaboração a respeito dos mesmos de recaída, técnicas da terapia cognitivo-comportamental,
(Lutz, Slagter, Dunne, & Davidson, 2008). assim como práticas de meditação e relaxamento adaptadas a
Apesar de possuírem tipos de alocação atencional dis- esta população – p. ex., duração de 20 a 30 minutos, ao invés
tintos, a meditação concentrativa e a meditação de atenção de 45. A adaptação do programa foi testada com usuários
plena possuem objetivos e características comuns. Através de álcool (45.2%), cocaína/crack (36.2%), metaanfetamina
do exercício da auto-observação e do treinamento da con- (13.7%), opióide/heroína (7.1%), maconha (5.4%) e outros
centração, ambas visam à ampliação da autoconsciência e (1.9%). Em comparação ao tratamento usual, o MBRP pro-
da consciência do momento presente. Por meio dessa cons- duziu significativa redução no uso dessas substâncias e na
ciência e do controle atencional, busca-se reduzir a identi- fissura. Além disso, em uma escala de satisfação de 0 a 10,
ficação com processos mentais automatizados, os quais são a média da avaliação foi de 8.3, sendo que no seguimento
ou estão, muitas vezes, disfuncionais. Além disso, busca-se de dois meses, 86% relataram a continuidade da aplicação
diminuir a suscetibilidade a distrações oriundas de estímulos das técnicas. Um estudo subsequente (Witkiewitz, Bowen,
externos, sensoriais, e estímulos internos, como os próprios Douglas, & Hsu, 2012) apontou que a redução da fissura foi
pensamentos e emoções. Por isso, e conforme tem sido de- mediada pelo aumento dos escores de aceitação e não julga-

Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2013, Vol. 29 n. 1, pp. 7-14 11


AC Peuker et al.

mento, os quais foram medidos pela Escala de Competência técnicas que podem ser empregadas na modificação direta
e Adesão ao MBRP (Chawla et al., 2010). Esse dado apoia a desses processos, como os treinos de reorientação da atenção
eficácia do MBRP, já que essas são justamente as qualidades e meditação. A dependência de substâncias psicoativas é um
que o mesmo visa desenvolver. transtorno que provoca uma variedade de efeitos e fenômenos
Portanto, parece que a meditação e o relaxamento podem que decorrem da interação de fatores farmacológicos, psicoló-
ser uma alternativa para o tratamento complementar de gicos e ambientais. Como consequência disso, são produzidas
dependentes químicos, sem transtorno psicótico ou risco de alterações em áreas cerebrais relacionadas à motivação e às
suicídio, já que estes foram excluídos do estudo. É importante emoções que levam a padrões compulsivos e estereotipados
destacar que nesse programa solicita-se que os participantes de consumo. Além disso, a adição pode ser mediada por
incorporem as qualidades cultivadas pelas práticas, tal como processos cognitivos implícitos, que ocorrem independente-
maior atenção e consciência, nas suas atividades diárias, o mente do conhecimento dos efeitos prejudiciais da substância
que poderia facilitar a adesão e eficácia das mesmas. Além (Chiamulera, 2005; Rooke et al., 2008; Wiers & Stacy, 2006).
disso, ressalta-se que essas intervenções são coordenadas e A área de pesquisa sobre novas intervenções que modifi-
conduzidas por profissionais da área da saúde com treina- quem processos cognitivos implícitos e auxiliem os usuários
mento tanto no tratamento usual, como no uso das técnicas de drogas a exercer maior controle executivo sobre tais
complementares. processos parece promissora. No que concerne à sua inves-
Em suma, o treino em meditação parece ser uma com- tigação e identificação, comparadas às medidas explícitas,
plementação para o tratamento do uso de drogas, uma vez as avaliações da cognição implícita são menos sensíveis aos
que estimula habilidades como maior consciência das ações, efeitos de desejabilidade social e podem auxiliar no enten-
menor reatividade aos estímulos e o uso de estratégias dimento das circunstâncias nas quais o comportamento de
autorregulatórias mais eficazes, tais como o controle da um indivíduo é incongruente com metas explícitas mantidas
alocação da atenção e inibitório. No que tange ao duplo- por ele. Contudo, os instrumentos de mensuração ainda estão
-processamento, essas habilidades podem ser especialmente sendo elaborados. Por isso, tais medidas ainda precisam ser
úteis para que o usuário consiga modular as respostas impul- testadas, melhoradas e outras ferramentas devem ser de-
sivas, facilitando a expressão de comportamentos guiados senvolvidas. Também são necessários estudos de validade
pelo sistema reflexivo. e confiabilidade de tarefas que avaliam o processamento
implícito, como o viés atencional e a reatividade a pistas.
Além disso, essas medidas precisam ser relacionadas a outros
Discussão indicadores de severidade clínica, pois poucos estudos mos-
traram relações entre elas e avaliações de resultados clínicos
No contexto da dependência química, as teorias de duplo- (Lopes et al., 2008; Wiers & Stacy, 2006).
-processamento auxiliam na compreensão de como os estí- Através destas avaliações deve-se buscar compreender o
mulos relacionados à droga são processados e de que forma quanto os sistemas de processamento implícito (automático) e
o desequilíbrio entre os processos automáticos e controlados explícito (reflexivo) interagem um com outro para influenciar
desencadeia sua utilização compulsiva. Reações fisiológicas, a tomada de decisão e o comportamento, tanto na condição de
emocionais e comportamentais provocadas automaticamente adição à droga como após intervenções. Da mesma forma, é
pela droga ou pista associada decorrem de uma rede asso- necessário investigar sob que circunstâncias, especialmente
ciativa que se auto-regula. Essa atividade, também descrita considerando diferenças individuais, grupais e culturais, um
como ascendente, é mediada por estruturas sub-corticais tipo de processamento se sobrepõe mais facilmente ao outro
mais primitivas que favorecem a ação impulsiva. Além de e de que maneira os conflitos entre esses sistemas podem ser
apresentar esse tipo de processamento, sua relevância para solucionados. No entanto, essas proposições ainda necessitam
a investigação no campo dos transtornos aditivos e algumas maior confirmação empírica. Se validadas, a lacuna existente
formas de avaliá-lo, discutiu-se como se pode intervir na entre os modelos neurobiológicos da adição, amplamente
inter-relação entre os sistemas controlados e automáticos atra- baseados na pesquisa experimental com animais, e a pesquisa
vés de estratégias regulatórias oriundas do sistema reflexivo, sobre a psicologia dos comportamentos aditivos em humanos
ou descendente. As atividades desse tipo de processamento poderá ser preenchida.
são mediadas por estruturas corticais superiores e envolvem
habilidades de atenção executiva, tais como controle da alo-
cação de recursos mentais, auto-monitoramento, resolução Referências
de conflitos e controle inibitório.
Em termos neurais, esses dois tipos de processamento Araujo, R. B., & Zeni, T. C. (2011). Relação entre o craving por
dependem tanto de estruturas comuns, como de redes neurais tabaco e o craving por crack em pacientes internados para
distintas. Ou seja, embora possuam mecanismos separados, desintoxicação. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 60, 28-33.
esses sistemas se relacionam (Ochsner et al., 2009). Dessa Attwood , A. S., O’Sullivan , H., Leonards, U., Mackintosh, B.,
forma, devido às suas interações, é possível modular o & Munafo , M. R. (2008). Attentional bias training and cue
processamento automático (ascendente) e aumentar o con- reactivity in cigarette smokers. Addiction 103, 1875–1882.
trole da resposta impulsiva através de habilidades superiores Bowen, S., Chawla, N., Collins, S. E., Witkiewitz, K., Hsu, S., Grow,
(descendente). J., ...Marlatt, A. (2009). Mindfulness-based relapse prevention
Discutiu-se neste estudo a influência dos processos for substance use disorders: A pilot efficacy trial. Substance
automáticos no uso de drogas, suas formas de avaliação e Abuse, 30, 295-305.

12 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2013, Vol. 29 n. 1, pp. 7-14


Processamento Implícito e Dependência Química

Bowen, S., Witkiewitz, K., Dillworth, T. M., & Marlatt, G. A. Field, M., & Eastwood, B. (2005). Experimental manipulation
(2007). The role of thought suppression in the relationship of attentional bias increases the motivation to drink alcohol.
between mindfulness meditation and alcohol use. Addictive Psychopharmacology, 183, 350-357.
Behaviors, 32, 2324-2328. Field, M., Mogg, K., & Bradley, B. (2005). Alcohol increases cognitive
Brown, K. W., & Ryan, R. M. (2003). The benefits of being present: biases for smoking cues in smokers. Psychopharmacology,
mindfulness and Its role in psychological well-being. Journal 180, 63-72.
of Personality and Social Psychology, 84, 822-848. Field, M., Mogg, K., Zatteler, J., & Bradley, B. (2004). Attentional
Bradley, B. P., Mogg, K., Wright, T., & Field, M. (2003). biases for alcohol cues in heavy and light social drinkers:
Attentional bias in drug dependence: vigilance for cigarette- The roles of initial orienting and maintained attention.
related cues in smokers. Psychology of Addictive Behaviors, Psychopharmacology, 176, 88-93.
17, 66-72. Field, M., Duka, T., Eastwood, B., Child, R., Santarcangelo,
Carter, B. L., & Tiffany, S. T. (1999). Meta-analysis of cue reactivity M., & Gayton, M. (2007). Experimental manipulation of
in addiction research. Addiction, 94, 327-340. attentional bias in heavy drinkers: do the effects generalize?
Chawla, N., Collins, S., Bowen, S., Hsu, S., Grow, J., Douglas, Psychopharmacology, 192, 593-608.
A., & Marlatt, G. A. (2010). The Mindfulness-Based Relapse Goldstein, R. Z., & Volkow, N. D. (2002). Drug addiction and its
Prevention Adherence and Competence Scale: Development, underlying neurobiological basis: neuroimaging evidence for
Interrater Reliability and Validity. Psychotherapy Research, the involvement of the frontal cortex. American Journal of
20(4), 388-397. Psychiatric, 159, 1643-1652.
Chiamulera, C. (2005). Cue reactivity in nicotine and tobacco Hoffman, J., Welte, J., & Barnes, G. (2001). Co-occurrence of
dependence: a “multiple-action” model of nicotine as a alcohol and cigarette use among adolescents. Addictive
primary reinforcement and as an enhancer of effects of Behaviors, 26, 63-78.
smoking-associated stimuli. Brain Research Reviews, 48, Kahler, C., Strong, D., Papandonatos, G., Colby, S., Clark, M.,
74-97. Boerges, J., …Buka, S. (2008). Cigarette smoking and the
Cooney, N., Litt, M., Cooney, J., Pilkey, D., Steinberg, H., & lifetime alcohol involvement continuum. Drug and Alcohol
Oncken, C. A. (2007). Alcohol and Tobacco Cessation in Dependence, 93, 111-120.
Alcohol-Dependent Smokers: Analysis of Real-Time-Reports. Jain, S., Shapiro, S. L., Swanick, S., Roesch, S. C., Mills, P. J., Bell,
Psychology of Addictive Behaviors, 21, 277-286. I., & Schwartz, G. E. (2007). A randomized controlled trial of
Cox, W. M., Fadardi, J. S., & Pothos, E. M. (2006). The addiction- mindfulness meditation versus relaxation training: effects on
stroop test: Theoretical considerations and procedural distress, positive states of mind, rumination and distraction.
recommendations. Psychological Bulletin, 132, 443-76. Annals of Behavioral Medicine, 33, 11-21.
Cunha, S. M. (2010). Viés atencional para o cigarro em bebedores Lopes, F. M. (2009). Viés atencional em jovens fumantes.
jovens fumantes após exposição a imagens relacionadas ao Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em
álcool. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Psicologia, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do
Grande do Sul. Porto Alegre. Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Brasil.
Cunha, S. M., & Bizarro, L. (2011). Reatividade cruzada a pistas Lopes, F. M., Peuker, A. C., & Bizarro, L. A. (2008). Viés atencional
no consumo de álcool e cigarro: Revisão crítica da literatura. em fumantes. Psico, 39, 280-288.
Interação em Psicologia, 15, 121-128. Lutz, A., Dunne, J. D., & Davidson, R. J. (2007). Meditation and the
Davis, J. M., Fleming, M. F., Bonus, K. A., & Baker, T. B. (2007). A neuroscience of consciousness: An introduction. In P. Zelazo,
pilot study on mindfulness based stress reduction for smokers. M. Moscovitch & E. Thompson (Eds.), Cambridge Handbook
BMC Complementary and Alternative Medicine, 7, 1-7. of Consciousness (pp. 499-554). New York: Cambridge
Dawson, D. (2000). Drinkink as a risk factor for sustained smoking. University Press.
Drug and Alcohol Dependence, 59, 235-249. Lutz, A., Slagter, H. A., Dunne, J. D., & Davidson, R. J. (2008).
Drobes, D. J. (2002). Cue reactivity in alcohol and tobacco Attention regulation and monitoring in meditation. Trends in
dependence. Alcoholism: Clinical and Experimental Research, Cognitive Sciences, 12, 163-169.
26(12), 1928-1929. Mintz, J., Boyd, G., Rose, J., Charuvastra, V., & Jarvik, M.
Ehrman, R. N., Robbins, S. J., Bromwell, M. A., Lankford, M. (1985). Alcohol increases cigarette smoking: A laboratory
E., Monterosso, J. R., & O’Brien, C. P. (2002). Comparing demonstration. Addictive Behaviors, 10, 203-207.
attentional bias to smoking cues in current smokers, former Ochsner, K. N., Ray, R. R., Hughes, B., McRae, K., Cooper, J.
smokers, and non-smokers using a dot-probe task. Drug and C., Weber, J., ...Gross, J. (2009). Bottom-up and top-down
Alcohol Dependence, 67, 185-191. processes in emotion generation: Common and distinct neural
Erblich, J, Montgomery, G. H., & Bovbjerg, D. H. (2009). Script- mechanisms. Psychological Science, 20, 1322-1331.
guided imagery of social drinking induces both alcohol and Palfai, T. P., Monti, P. M., Ostafin, B., & Hutchison, K. (2000).
cigarette fissura in a sample of nicotine-dependent smokers. Effects of nicotine deprivation on alcohol related information
Addictive Behaviors, 34,164-70. processing and drinking behavior. Journal of Abnormal
Field, M., & Cox, W. M. (2008). Attentional bias in addictive Psychology, 109, 96-105.
behaviors: a review of its development, causes, and Peuker, A. C., Lopes, F. M., & Bizarro, L. (2009). Viés atencional
consequences. Drug and Alcohol Dependence, 1, 1-20. no abuso de drogas: teoria e método. Psicologia: Teoria e
Field, M., Duka, T., Tyler, E., & Schoenmakers, T. (2009). Pesquisa, 25, 505-512.
Attentional bias modification in tobacco smokers. Nicotine Polich, J. (2003). Event-related potentials and everyday drugs. Brain
Tobacco Research, 11, 812-22 and Cognition, 53, 45.

Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2013, Vol. 29 n. 1, pp. 7-14 13


AC Peuker et al.

Robinson, T. E., & Berridge, K. C. (1993). The neural basis of drug Vollstädt-Klein, S., Loeber, S., von der Goltz, C., Mann, K.,
fissura: An incentive-sensitization theory of addiction. Brain & Kiefer, F. (2009). Avoidance of alcohol-related stimuli
Research Reviews, 18, 247-291. increases during the early stage of abstinence in alcohol-
Rooke, S. E., Hine, D. W., & Thorsteinsson, E. B. (2008). Implicit dependent patients. Alcohol and Alcoholism, 44, 458-63.
cognition and substance use: a meta-analysis. Addictive Wiers, R. W., Bartholow, B. D., van der Wildenberg, E., Trush, C.,
Behaviors, 33, 1314-28. Engels, R. C., Sher, K. J., …Stacy, A. W. (2007). Automatic
Schoenmakers, T., Bruin, M., Lux, I., Goertz, A., Van Kerkhof, D., and controlled process and the development of addictive
& Wiers, R. (2010). Clinical effectiveness of attentional bias behaviors in adolescents: a review and a model. Pharmacology
modification training in abstinent alcoholic patients. Drug and Biochemistry and Behaviors, 86, 263-283.
Alcohol Dependence, 109, 30-36. White, H., Pandina, R., & Chen, P. (2002). Developmental
Schoenmakers, T., Wiers, R., Jones, B., Bruce, G., & Jansen, A. trajectories of cigarette use from early adolescence into young
(2007). Attentional re-training decreases attentional bias in adulthood. Drug and Alcohol Dependence, 65, 167-178.
heavy drinkers without generalization. Addiction, 102, 399- Wiers, R., & Stacy, A. (2006). Implicit cognition and addiction.
405. Current Directions in Psychological Science, 15, 292-296.
Tang, Y., Ma, Y., Wang, J., Fan, Y., Feng, S., Lu, Q., ...Posner, M. Witkiewitz, K., Bowen, S., Douglas, H., & Hsu, S.H. (2012).
(2007). Short-term meditation training improves attention Mindfulness-based relapse prevention for substance craving.
and self-regulation. Proceedings of the National Academy of Addictive Behaviors, 38(2), 1563-1571. doi: 10.1016/j.
Sciences, 104, 17152-17156. addbeh.2012.04.001.
Tang, Y., & Posner, M. I. (2009). Attention training and attention Yalachkov,Y., Kaiser, J., & Naumer, M. (2011). Functional
state training. Trends in Cognitive Sciences, 13, 222-227. neuroimaging studies in addiction multisensory drug stimuli
Tiffany, S. (1990). A cognitive model of drug urges and drug-use and neural cue reactivity. Neuroscience & Behavioral Reviews,
behavior: Role of automatic and non-automatic processes. 36, 825-835.
Psychological Review, 97, 147-168. Yin, H. H., & Knowlton, B. J. (2006). Addiction and learning in
Traylor, A., Parrish, D., Copp, H., & Bordnick, P. (2011). Using the brain. In R. Wiers & A. W. Stacy (Eds.), Handbook of
virtual reality to investigate complex and contextual cue Implicit Cognition and Addiction (pp. 185-199). Thousand
reactivity in nicotine dependent problem drinking. Addictive Oaks, CA: Sage.
Behaviors, 36, 1068-1075.
Verdejo-García, A., & Bechara A. (2009). A somatic marker theory
of addiction. Neuropharmacology, 56, 48-62. Recebido em 23.12.2010
Verdejo-García A., Pérez-García, M., & Bechara, A. (2006). Emotion, Primeira decisão editorial em 22.05.2012
decision-making and substance dependence: a somatic-marker Versão final em 06.07.2012
model of addiction. Current Neuropharmacology, 4, 17-31. Aceito em 09.07.2012 n

14 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2013, Vol. 29 n. 1, pp. 7-14

Você também pode gostar