1 Ciencia Direito
1 Ciencia Direito
1 Ciencia Direito
Reis Friede*
RESUMO: O presente artigo analisa a posição majoritária da doutrina que entende o Di-
reito como autêntica e genuína ciência autônoma, abordando, principalmente, o conceito
de ciência, a classificação binária das ciências e a classificação da Ciência do Direito, dentre
outros conceitos jurídicos relativos ao tema em questão.
Palavras-chave: Direito. Ciência Autônoma. Conceito. Classificação.
ABSTRACT: This article examines the majority’s position of the doctrine that believes the
law as an authentic and genuine autonomous science, addressing mainly the concept of
science, the binary classification of the sciences and the classification of the Science of Law,
among other legal concepts relating to the subject in question.
Keywords: Law. Autonomous Science. Concept. Classification.
∗
Doutor em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Mestre em Direito pela Faculdade
de Direito Cândido Mendes – FDCM. Professor da Faculdade Nacional de Direito – UFRJ. Desembargador
Federal. Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil.
1 INTRODUÇÃO
2 CONCEITO DE CIÊNCIA
Num quadro analítico mais amplo, a ciência do direito tem sido corre-
tamente classificada como efetiva ciência social hermenêutica, considerando,
especialmente, não só possuir foco de observação em fenômenos sociais,
mas, sobretudo, por desenvolver um sistema peculiar de interpretação de
fatos sociais que não se limita, de nenhuma maneira, a simples valoração in-
trínseca dos mesmos, concebendo norma (fase legislativa), mas, ao contrá-
rio, permite ultrapassar a concepção fundamental interpretativa, reproces-
sando a conclusão (ou, em outras palavras, a própria norma) e concebendo,
desta feita, uma segunda norma (de aplicação) no contexto de um sinérgico
processo hermenêutico (fase judicial).7
Todavia, não obstante a inerente complexidade do assim concebido
processo hermenêutico, o Direito, sob o prisma classificatório, não pode se
restringir (e de fato não se restringe) a simples designação de ciência social
hermenêutica, posto que a denominada ciência jurídica também se caracte-
riza, de forma diversa das demais ciências, por ser uma ciência particular
de projeção comportamental (ou, como preferem alguns autores, ciência de
projeção de um mundo ideal (meta do dever-ser)) e por ser uma ciência
inexoravelmente axiológica (valorativa).8
7 A verdade é que o Direito, como ciência, possui, numa aproximação para fins didáticos, dois diferentes mo-
mentos interpretativos. O primeiro, - comum a todos as ciências e que se processa através da tríade fato/valor/
norma -, caracteriza um processo tipicamente legislativo de criação da própria norma abstrata. O segundo,
- peculiar à chamada ciência jurídica -, desenvolve um processo genuinamente judicial de aplicação efetiva da
norma abstrata por meio da caracterização (através de um complexo hermenêutico de mecanismos de inter-
pretação da norma jurídica) da norma concreta (ou efetiva).
8 Sob a ótica axiológica, em particular, cumpre esclarecer que o Direito se exterioriza, no âmbito científico,
através de um específico e complexo processo de valoração factual que inclui parcelas intrínsecas (nota-
damente a segurança das relações sócio-político-jurídicas e a busca da justiça (ou da decisão justa)), cuja
7 CIÊNCIA DO MACROCOSMO
8 CIÊNCIA DO MICROCOSMO
9 GRAU, Eros Roberto. Direito, Conceitos e Normas Jurídicas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
9 CIÊNCIAS SOCIAIS
10 CIÊNCIA NÃO-HERMENÊUTICA
11 CIÊNCIA HERMENÊUTICA
10 DINIZ, Maria Helena. A Ciência Jurídica. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
dizer que ela a palavra final sobre matéria tão rica de implicações teóricas”
[Machado Neto, Teoria da ciência jurídica, cit., p.137].
Com base nas descobertas kelsianas surgiu, na Argentina, nos me-
ados deste século, um movimento filosófico com o escopo epistemológi-
co de proporcionar ao cientista do Direito a utilização de instrumentos
mentais que tornem possível conhecer melhor o Direito; tais instrumentos
constituem o egologismo existencial. O fundador dessa escola, Carlos Cossio,
concebeu uma problemática jurídico-filosófica inteiramente voltada para a
investigação jurídíco-científica e baseada no instrumental teórico da filo-
sofia contemporânea - a fenomenologia, a filosofia dos valores e o existen-
cialismo. A escola egológica colocou, assim, a ciência jurídica à altura dos
tempos atuais e das mais recentes descobertas da moderna epistemologia
[Machado Neto, Teoria da ciência jurídica, cit., p.146 e 176; Cossio, El dere-
cho en el derecho judicial, Buenos Aires, Kraft, 1945, cap. 1, p.10-63], daí a
sua grande valia para o nosso estudo.
Feitas as considerações históricas, é bom esclarecer que procurare-
mos estudar os pressupostos, condições de possibilidade e tipo de ciência
jurídica, analisando os fundamentos em que repousam os princípios que
informam sua atividade, bem como a delimitação de seu objeto temático,
e verificando quais os métodos que dão garantia de validade aos resultados
teóricos alcançados. Mas, devido à densa problemática envolvida pelo tema
e à impossibilidade de esgotar todo o assunto numa só obra, limitaremos
deliberadamente, como já tivemos oportunidade de dizer, a nossa discussão
aos ensinamentos de Hans Kelsen e Carlos Cossio, autênticos pensadores da
mais alta hierarquia intelectual, que trouxeram uma contribuição inestimá-
vel para a formação do conhecimento científico do Direito.
A ciência jurídica tem sido qualificada, por alguns juristas, como ci-
ência normativa na acepção de que seria um saber ou ciência que estabelece
normas com a finalidade de dirigir a conduta humana na sociedade no
sentido da justiça.
Essa expressão foi empregada pela primeira vez por Wundt. Seus pro-
sélitos chegaram a afirmar que era o caráter científico da jurisprudência que
garantia verdadeiramente a prescrição de normas. Era o jurista, segundo
esses autores, que notava quais eram as necessidades sociais e antecipava
com suas fórmulas o que, no povir, seria estabelecido pelo poder político e
11 DINIZ, Maria Helena. A Ciência Jurídica. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
18 CIÊNCIA AXIOLÓGICA
REFERÊNCIAS
Correspondência | Correspondence:
Reis Friede
Faculdade Nacional de Direito – UFRJ, Rua Afonso Cavalcante, 275,
Cidade Nova, CEP 20.211-110. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Email: [email protected]
Recebido: 04/05/2010.
Aprovado: 30/05/2011.