Nota Técnica 12 - Superendividamento TJDFT
Nota Técnica 12 - Superendividamento TJDFT
Nota Técnica 12 - Superendividamento TJDFT
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO..................................................................................................................... 5
4 MÍNIMO EXISTENCIAL..................................................................................................... 16
SUPERENDIVIDAMENTO .................................................................................................... 24
7.2 Fluxo pré-processual (fase conciliatória ou consensual – art. 104-A do CDC) .................. 32
7.2.1 Monitoramento dos resultados de autocomposição e celebração de termos
contratuais ......................................................................................................................... 47
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7.3.7 Competência para processar e julgar casos em que for parte a CEF ......... 61
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 68
DIRETRIZES ........................................................................................................................... 71
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 74
ANEXOS ................................................................................................................................. 78
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APRESENTAÇÃO
As diretrizes apontadas nesta nota técnica têm natureza de mera recomendação e cunho
informativo. Busca-se, de forma colaborativa, com a participação de diversos setores do
Tribunal, contribuir para uma prestação jurisdicional de excelência, com objetivos alinhados
àqueles definidos na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas – ONU, em particular
os relacionados ao desenvolvimento de instituições eficazes, responsáveis e transparentes em
todos os níveis – ODS 16.
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endividados e inadimplentes, 2023). É importante destacar que esse problema não é apenas
econômico, pois seus reflexos atingem também o Sistema de Justiça.
Com efeito, o Relatório Justiça em Números 2023, feito com dados referentes ao ano-
base 2022, demonstra que, entre os assuntos mais demandados em sede recursal, o tema direito
do consumidor (contratos de consumo/bancários) aparece em terceiro lugar (BRASIL.
Conselho Nacional de Justiça. Justiça em números 2023, 2023, p. 276-278). É inconteste que
demandas de consumo correspondem a expressivo percentual do acervo das varas cíveis do
Distrito Federal e, entre essas, encontram-se as ações judiciais sobre superendividamento.
Acrescente-se ainda que os dados supramencionados não refletem a totalidade das ações
sobre a temática, pois é notória a existência de considerável número de ações em que o processo
é cadastrado de forma equivocada (classe e assunto), de modo que, recentemente, a
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Diante das inovações trazidas pela novel legislação, surgiram desafios no âmbito do
direito material e procedimental que demandam urgência na busca de soluções para garantir
efetividade no tratamento desses litígios e consequente aplicação da lei. Isso porque, os arts.
104-A e 104-B, ambos do CDC, únicos que disciplinam o procedimento de repactuação de
dívidas, bem como o de revisão e integração dos contratos, respectivamente, não trazem o
detalhamento necessário para o desenvolvimento do processo.
1
Informação apresentada pelo NUPEMEC no Grupo de Trabalho para o estudo do fenômeno do
superendividamento, instituído por meio da Portaria Conjunta 70 de 9 de junho de 2023.
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Cumpre esclarecer que essa nota técnica não visa resolver, com pretensão de
definitividade ou hierarquia, questões polêmicas e ainda não sedimentadas pela doutrina e pela
jurisprudência sobre a lei que tratou do superendividamento e da repactuação de dívidas. Porém,
não é possível aguardar o tempo necessário para construção jurídica sólida, antes de aplicar a
lei que se encontra em vigor, mesmo porque ela versa sobre um dos aspectos do direito
fundamental da dignidade da pessoa humana, no caso, a preservação de seu mínimo existencial.
Desse modo, a presente nota técnica se apresenta como um dos produtos oriundos do
Grupo de Trabalho acima referido, mas também seu aprofundamento, principalmente em
questões envolvendo o direito material correspondente, por meio da qual serão divulgadas as
análises, levantamentos técnicos e estratégias de tratamento procedimental das demandas
relativas aos superendividados no âmbito do TJDFT.
É nesse contexto que se insere o presente estudo, em que, além de tratar de pontos
omissos da Lei 14.181/2021, com apresentação das principais posições adotadas e as
consequências de adoção de cada entendimento, se almeja:
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A nota técnica em epígrafe foi construída com base nos resultados de Grupo de
Trabalho, bem como na análise de dados obtidos por meio de pesquisa bibliográfica e empírica,
realizada com parte dos magistrados do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios;
pesquisa jurisprudencial; além das percepções colhidas em diálogos com estudiosos de renome
no cenário nacional, especialistas em direito do consumidor: os desembargadores do TJDFT
Hector Valverde Santanna, Leonardo Roscoe Bessa e Roberto Freitas Filho; as juízas de direito
Marília de Ávila e Silva Sampaio –TJDFT e Káren Rick Danilevicz Bertoncello –TJRS; e o
procurador do Estado do Espírito Santo, Leonardo Garcia, aos quais se agradece a contribuição.
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Os magistrados de primeiro grau não podem, muitas vezes, contar com legislação
completa e nem mesmo possuem tempo hábil para aguardar a consolidação de aplicação de
instituto novo pela jurisprudência. É dever do Poder Judiciário aplicar a lei em vigor,
independentemente do amadurecimento da aplicação dos institutos jurídicos. Nesse aspecto,
para a constatação mais fidedigna da realidade no âmbito do TJDFT, o CIJDF organizou
pesquisa nos juízos de primeira instância para compreender como tem sido aplicada a referida
lei, especialmente em relação aos seus pontos mais polêmicos ou de lacuna legislativa.
O endividamento não pode ser considerado, de forma abstrata, algo negativo. Tomar
crédito pode possibilitar investimentos para a pessoa natural ou jurídica e, se bem gerida a
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dívida, trazer resultados muito positivos2. Por outro lado, a vida financeira estável e saudável
pode transformar-se em superendividamento, principalmente quando o endividamento é
classificado como de risco.
2
“Consumo e crédito são duas faces da mesma moeda: enquanto a economia segue seu curso regular, com a
decorrente circulação monetária, o endividamento é saudável, mas, se ocorre um “acidente da vida”, a exemplo da
pandemia da COVID-19, com perda de emprego, redução dos ganhos, doença, morte na família etc., os fluxos
financeiros podem se interromper e eventualmente culminar no superendividamento, conduzindo a uma exclusão
do indivíduo e familiares do mercado de consumo.” (BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Cartilha sobre o
tratamento do superendividamento do consumidor. 2022, p. 11).
3
Arts. 54-A a 54-F do Código de Defesa do Consumidor.
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imprevistas em sua vida pessoal”. Em outras palavras, é “situação jurídica objetiva que não
decorre da vontade do consumidor, mas do reconhecimento jurídico da impossibilidade de
pagamento das dívidas de consumo, sem comprometimento do mínimo existencial”
(MIRAGEM, 2024, p. 769).
4
O art. 748 do CPC/1973 encontra-se em vigor por força do art. 1.052 do CPC/2015.
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de consumo (dívidas de consumo), não abrangendo, portanto, as que têm outra natureza, como
é o caso, por exemplo, de dívidas tributárias, decorrentes de relações familiares (p. ex.,
obrigações alimentares decorrentes de parentesco), entre outras. Da mesma forma, o § 2º do art.
54-A refere que a essas dívidas de consumo “englobam quaisquer compromissos financeiros
assumidos decorrentes de relação de consumo, inclusive operações de crédito, compras a prazo
e serviços de prestação continuada”, o que permite avançar obrigações ainda por vencer,
antecipando-se aos efeitos patrimoniais que advêm da sua exigibilidade. No entanto, o fato de
dívidas tributárias ou obrigação alimentar – como as decorrentes das relações familiares (pensão
alimentícia) – estarem excluídas do processo de conciliação ou de revisão previsto no CDC não
significa que não sejam consideradas para avaliar a capacidade de pagamento do consumidor e
para a preservação de seu mínimo existencial, ou seja, são tomadas em conta, ainda que
indiretamente, para a caracterização do superendividamento.
Nessa perspectiva, foi realizado estudo para verificação de qual seria o perfil do
superendividado no Brasil. Os dados, apresentados em 2015, demonstraram que “a maioria dos
superendividados brasileiros são mulheres com renda média de um a dois salários-mínimos
mensais, idade entre 25 e 44 anos e nível de escolaridade correspondente ao ensino médio
completo”. Ademais, comprovou-se que, de fato, circunstâncias como doenças, nascimento de
filhos, casamento, divórcio e, sobretudo, desemprego estão associados ao superendividamento
(PORTO; SAMPAIO, 2016, p. 65). Tais circunstâncias afetam sobremaneira a condição
socioeconômica do consumidor, colocando-o em situação de vulnerabilidade.
Vale destacar também que historicamente a doutrina elenca dois modelos clássicos de
tratamento jurídico do fenômeno do superendividamento: o americano e o europeu.
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dívidas pretéritas” (LIMA, 2014, p. 104). Assim, “o objetivo principal do sistema americano
tem sido conceder ao devedor honesto o perdão imediato das dívidas remanescentes após a
liquidação do patrimônio disponível para o seu pagamento” (MARQUES; COSTA; VIAL,
2020, p. 116).
A par do aduzido, cumpre ressaltar que, no ano de 2015, o Projeto de Lei 3.515/2015,
fruto de uma comissão de juristas composta de Ada Pelegrini Grinover, Cláudia Lima Marques,
Leonardo Roscoe Bessa, Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer, liderados pelo ministro Antônio
Herman Benjamin, teve “forte inspiração no modelo francês e tinha como objetivo principal a
luta contra a pobreza e a exclusão social e como fundamento ideias de solidarismo social em
relação aos mais vulneráveis” (MARQUES; COSTA; VIAL, 2020, p. 116-117).
Nota-se que naquele mesmo ano o Banco Central noticiava que o endividamento das
famílias era de 46,3% (DI STASI; RIBEIRO, 2021). Posteriormente, constatou-se o
agravamento desse quadro em virtude do contexto pandêmico, de modo que o índice de
superendividamento das famílias brasileiras alcançou o percentual de 78,3%, conforme
anteriormente mencionado.
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No entanto, a aplicação prática dessa lei tem-se mostrado desafiadora aos magistrados,
notadamente porque não houve previsão pormenorizada de todos os atos processuais que
integram o procedimento de repactuação de dívidas do superendividado (arts. 104-A e 104-B
do CDC), fato que tem ensejado a prolação de decisões divergentes entre os membros do Poder
Judiciário, ainda não pacificadas. Da mesma forma, algumas questões tormentosas práticas não
apresentam soluções simplificadas, por ausência de previsão legal, como no caso de
ajuizamento direto da ação de repactuação de dívidas (art. 104-B do CDC) sem a prévia fase
conciliatória ou a previsão expressa de quais poderes são reservados ao magistrado para
elaboração do plano de pagamento, temas que serão abordados neste estudo.
4 MÍNIMO EXISTENCIAL
10; 26%
29; 74%
SIM NÃO
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Como visto acima, o conceito de superendividamento trazido pelo CDC, em seu art. 54-
A, § 1º, faz menção expressa à incapacidade de pagar dívidas de consumo sem o
comprometimento do mínimo existencial. Em outras palavras, se, apesar de inúmeras e vultosas
dívidas, o mínimo existencial da pessoa tida como superendividada estiver preservado, não há
que se falar em aplicação do processo de repactuação de dívidas (arts. 104-A e 104-B do CDC).
Dessa forma, a definição do que seria mínimo existencial e como pode ser encontrado no caso
concreto é crucial para a aplicação da Lei 14.181/2021.
A discussão acerca do mínimo existencial tem sua origem na doutrina alemã, com base
no texto “Conceito e essência dos Estados Sociais de Direito”, de OttoBachof. Conforme lição
de Sarlet (2007, p. 178), essa discussão em torno da garantia do mínimo indispensável para uma
existência digna ocupou posição destacada não apenas nos trabalhos preparatórios no âmbito
do processo constituinte, mas também após a entrada em vigor da Lei Fundamental de 1949.
No Brasil, o pioneirismo da contribuição para o debate sobre o tema é conferido a Torres (1989),
no ensaio “O mínimo existencial e os direitos fundamentais”, publicado em 1989, logo após a
promulgação da Constituição Federal de 1988, estabelecendo-se a lição de que o mínimo
necessário à existência constitui direito fundamental e a sua ausência implica a interrupção da
possibilidade de sobrevivência do homem e o desaparecimento das condições iniciais da
liberdade.
Desse modo, constata-se o quão difícil é traçar um conceito rígido, do que de fato
compreende o mínimo existencial, o que acaba por possibilitar vasto espaço para a subjetividade
do olhar do intérprete. Assim, ainda que tenha sobrevindo o Decreto 11.150/2022, com o seu
valor inicialmente fixado em 25% do salário-mínimo na data da publicação do ato normativo e,
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posteriormente, ampliado para R$ 600,005, isso não foi suficiente para dirimir as divergências.
Ao contrário, a imposição de valor tão baixo nutre ainda mais o debate e o surgimento de teses
que afastam a aplicação dessa norma.
O atual valor imposto de R$ 600,00 deve ser o produto entre “a renda total mensal do
consumidor e as parcelas das suas dívidas vencidas e a vencer no mesmo mês” (art. 3º, § 1º, do
Decreto 11.150/2022), mas não há menção se as parcelas mensais de dívidas seriam daquelas
sujeitas à repactuação ou à totalidade de dívidas da pessoa natural naquele mês. Nesse aspecto,
o Enunciado 650 das Jornadas de Direito Civil do CJF sugere que “o conceito de pessoa
5
O art. 3º do Decreto 11.150/2022 (com redação dada pelo Decreto 11.567/2023) dispõe que “no âmbito da
prevenção, do tratamento e da conciliação administrativa ou judicial das situações de superendividamento,
considera-se mínimo existencial a renda mensal do consumidor pessoa natural equivalente a R$ 600,00 (seiscentos
reais)”, não consideradas as rubricas indicadas pelo art. 4º, caput,e parágrafo único.
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Cabe ressaltar que, segundo análise feita pela plataforma Cesta de Consumo Horus &
FGV IBRE, o valor de uma cesta de consumo básica, em Brasília, no mês de fevereiro de 2024,
era de R$ 820,67. Percebe-se, portanto, que o valor previsto pelo decreto sequer é suficiente
para se adquirir uma cesta básica.
6
Sobre o Decreto 11.150/2022 a nota técnica concluiu: “É ato normativo que deve ser considerado não escrito,
não só pela inconstitucionalidade e pela ilegalidade, senão pelo acinte aos valores fundamentais que subjazem à
promoção humana”. BRASIL. Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon). NT: O decreto
11.150/2022, que regulamenta o mínimo existencial. Brasília. 2022. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/arquivos/2022/7/70CCFD3DC27FB4_nota-tecnica.pdf> Acesso em 15 de mar.
2024.
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Enunciado 6.
Enunciado 7.
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Há doutrina que defendia desde antes da edição da lei que não seria viável que o
paradigma do mínimo existencial no tratamento do consumidor superendividado fosse
encapsulado em um modelo-padrão para todos os cidadãos ou um mínimo existencial
homogêneo e uniforme. Bertoncello asseverava que a fixação em lei de percentual fixo como
mínimo existencial deveria ser evitada (2015, p. 132).
Não obstante, ainda que se adote concepção aberta do conceito de mínimo existencial,
determinável no caso concreto e com foco na realidade socioeconômica do devedor e de seu
núcleo familiar, para Efing e Pinto (2022, p. 95), essa abordagem “traria problemas práticos de
aplicabilidade, já que na ausência de algo concreto, qualquer coisa que o juiz estabeleça como
mínimo necessário para vida digna é aceitável”, o que poderia representar problema sob o
prisma da isonomia, da previsibilidade e da segurança jurídica do sistema.
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Por outro lado, uma possível solução prática para quem defende a inconstitucionalidade
ou ilegalidade do decreto regulamentador, sem desconsiderar a legalidade estrita do
ordenamento jurídico, seria aplicar o disposto no art. 7º, inciso IV, da CF, ou seja: considerar
um salário-mínimo vigente como valor necessário, após o pagamento das dívidas, para a
preservação do mínimo existencial.
De qualquer forma, o mínimo existencial não se confunde com o valor mínimo para a
manutenção do padrão de vida da parte antes (ou durante) o superendividamento. Não há
qualquer direito subjetivo nesse sentido e, obviamente, esse não é o escopo da lei. A
sobrevivência, de forma digna, não pode ser traduzida com eventuais benesses ou privilégios
adquiridos em determinada época, com outras condições financeiras. O que se preserva, repita-
se, é a subsistência digna e não o padrão de vida anterior, que certamente deve ser diminuído
em decorrência da crise financeira acometida.
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503 346
Audiências designadas Audiências realizadas
Conciliação
79 R$ 3.817.614,65
Acordos Valores negociados
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Em seguida (Passo 2), tem-se a triagem, que consiste no exame da situação narrada, a
fim de verificar se ela se amolda à “definição legal de superendividamento (art. 54-A, § 1º, do
CDC)” e se os “contratos indicados pelo consumidor podem ou não ser objeto da solicitação.”
Por fim, chega-se à sessão de conciliação (Passo 6), etapa obrigatória por meio da qual
será realizada “a conciliação entre o consumidor e todos os credores arrolados no formulário-
padrão, com o objetivo de elaborar o plano de pagamento consensual das dívidas com as
medidas previstas no § 4º do art. 104-A”.
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✓ Cejusc
TJAP ✓ Superendividamento: Justiça se mobiliza para efetivar diretrizes da lei
✓ Criação do CEJUSC-SUPER
TJGO ✓ Projeto do NUPEMEC para promover iniciativas para a prevenção e tratamento de
situações de superendividamento do consumidor
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✓ CEJUSC endividados
✓ Projeto de tratamento de situações de superendividamento do consumidor
TJPR
✓ Curso Equilibrando as Contas
TJRO ✓ Procon
TJSC ✓ PJSC investe em conciliação e mediação de conflitos com os Cejuscs regional e estadual
✓ Cejusc Repactuar
TJTO
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Dessa forma, a realização da fase conciliatória diretamente no juízo, fora do âmbito dos
CEJUSCs, sempre se mostrou inadequada à finalidade da política judiciária. Destaque-se ainda
que as demandas de superendividamento têm perfil peculiar que exige atendimento
multidisciplinar a fim de gerar engajamento do consumidor superendividado na execução do
plano de pagamento, e evitar novas situações da mesma natureza em um verdadeiro círculo
vicioso.
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36; 92%
SIM NÃO
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A fase do tratamento desdobra-se em duas outras fases, sendo que a primeira encontra
previsão legal nos arts. 104-A e 104-C do CDC, podendo ser chamada de fase conciliatória ou
consensual, e concretizada na esfera extrajudicial (pré-judicial: CEJUSCs; ou parajudicial:
Procons) ou na esfera judicial (BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Cartilha sobre o
tratamento do superendividamento do consumidor, 2022, p. 26). A segunda fase se encontra
prevista no art. 104-B do CDC, tratando-se de fase contenciosa e necessariamente judicial.
Assim, partindo dessa anterior experiência do TJDFT e buscando aplicar melhor fluidez
ao fluxo proposto pelo CNJ, o Gabinete da Segunda-Vice-Presidência, o Núcleo Permanente
de Mediação e Conciliação –NUPEMEC e o 4º Núcleo Virtual de Mediação e Conciliação –4º
NUVIMEC elaboraram um plano de trabalho7 com sugestão de fluxo a ser aplicado na primeira
fase – ou seja, na fase consensual ou conciliatória (extrajudicial) – para os casos em que o
devedor superendividado requerer a deflagração da fase do art. 104-A do CDC no Núcleo de
Mediação e Conciliação do TJDFT com atribuição para esses casos8.
Desse modo, a fase conciliatória integrará um programa dividido em três partes: etapa
educativa, juízo de admissibilidade e sessão de mediação, e será executada no CEJUSC-
SUPER, conforme gráfico a seguir (Anexo I):
7
O referido plano de trabalho foi discutido no Grupo de Trabalho para o estudo do fenômeno do
superendividamento, instituído pela Portaria Conjunta 70 de 9 junho de 2023. As principais disposições daquele
plano, que se encontram aqui sintetizadas, foram incluídas no Relatório Final do Grupo de Trabalho (Processo SEI
21.125/2022).
8
CEJUSC-SUPER (Portaria Conjunta 22 de 28 de fevereiro de 2024).
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Nesse ponto, impende destacar que a admissão na fase conciliatória (realizada no âmbito
do CEJUSC especializado) não impede que o juízo com atuação na fase contenciosa faça nova
análise quanto ao enquadramento do requerente na condição de pessoa superendividada.
Assim, a despeito do que ocorre nas demandas pré-processuais11, nas quais o único ato
de natureza jurisdicional seria a sentença homologatória do acordo eventualmente elaborado
pelas partes, na fase consensual (extrajudicial) do processo de repactuação de dívidas o juiz
9
Art. 3º da Recomendação CNJ nº 125/2021: O Núcleo de Conciliação e Mediação de Conflitos oriundos de
superendividamento terá 1 um(a) juiz(a) coordenador(a), que poderá ser o mesmo do CEJUSC, com competência
para homologar acordos, e aplicar as sanções previstas no § 2º, do art. 104-A, do Código de Defesa do Consumidor
(CDC).
10
Cabe ao juiz coordenador do CEJUSC a aplicação, por força de lei, das sanções previstas no art. 104-A, § 2º, do
Código de Defesa do Consumidor, em caso de ausência injustificada de qualquer credor ou de seu procurador com
poderes especiais e plenos para transigir à audiência conciliatória do superendividamento. Justificativa: A expressa
previsão legal contida no art.104-A, § 2º, do CDC autoriza o juiz coordenador do CEJUSC a aplicar as sanções
contempladas no diploma, porque incidentes ex vi lege. Além disso, a previsão legal, do ponto de vista topológico,
está situada na fase consensual e independe da existência de processo judicial ajuizado (art.104-B, caput) ou
capacidade postulatória do consumidor-devedor.
11
Conforme definição trazida no art. 2º da Portaria GSVP 33 de 29 de setembro de 2020, demanda pré-processual
é todo procedimento de solicitação de sessão de conciliação ou mediação realizado sem correlato processo judicial
em andamento.
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Assim, impende registrar que, ao contrário do que ocorre na hipótese do art. 104-C do
CDC, o procedimento do art. 104-A também congregaria características da conciliação judicial.
Os arts. 104-A e 104-B do CDC representariam, portanto, duas fases de um mesmo
procedimento: uma consensual e outra contenciosa.
Outra questão que surge da possibilidade de aplicação da sanção prevista no art. 104-A,
§ 2º, do CDC está relacionada ao prazo de suspensão da exigibilidade do débito e da interrupção
dos encargos da mora. Diante da omissão legislativa, a proposição apresentada no plano de
trabalho é no sentido de que o devedor superendividado requeira o início da fase contenciosa
(art. 104-B do CDC) no prazo de trinta dias, sob pena de perda da eficácia da medida (por
analogia ao art. 308 do CPC).
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Portanto, não há nenhuma restrição à possibilidade de que a primeira fase (art. 104-A)
seja iniciada diretamente nas varas cíveis. Não há que se confundir a obrigatoriedade da fase
36
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do art. 104-A com a obrigatoriedade de que o procedimento seja realizado integralmente pela
via extrajudicial.
Essa foi a opção do TJDFT, conforme se verifica no inciso I do art. 309-A do Anexo da
Portaria GPR 732 de 21 de abril de 2020 (artigo incluído pela Portaria Conjunta 21 de 28 de
fevereiro de 2024)12.
Nesses casos, a petição inicial será distribuída à vara cível competente com a Classe 7
– Procedimento comum cível (ou outra mais adequada ao rito) e com o Assunto 15048 –
Superendividamento (conforme informação extraída do Comunicado 1/2024, do Núcleo
Permanente das Tabelas Processuais Unificadas da Primeira Instância – NUTPU).
Note-se que, nesse caso, não haverá dispensa das custas processuais, o que ocorre
somente nos casos de procedimentos pré-processuais iniciados diretamente no CEJUSC (art.
8º, caput, da Portaria GSVP 33 de 29 de setembro de 2020.
Conforme já delineado por este Centro de Inteligência na Nota Técnica 11/2023, sugere-
se aos órgãos julgadores, no momento de análise do pedido de justiça gratuita, a adoção
combinada do critério objetivo de renda familiar, cujo patamar utilizado pela Defensoria
Pública do Distrito Federal (Resolução 271/2023 – DPDF) é adotado no TJDFT, com o critério
12
Art. 309-A. Ao Centro Judiciário de Solução de Conflitos e de Cidadania Superendividados-CEJUSC-SUPER,
além das atribuições previstas no art. 303 desta Portaria, compete:
I - realizar diariamente, nos processos ajuizados a partir da criação da unidade e encaminhados pelas varas cíveis
do Distrito Federal e nas reclamações pré-processuais quando a parte solicitante tiver domicílio no Distrito Federal,
a audiência conciliatória de que trata o art. 104-A da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do
Consumidor), prioritariamente por meio de videoconferência, bem como reduzir a termo o acordo;
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subjetivo, construído com base na análise dos atos normativos (inclusive projetos de lei); nos
estudos examinados na citada nota técnica; e na jurisprudência, consistente na análise dos
seguintes elementos: (i) patrimônio pessoal incompatível com o requerimento da gratuidade de
justiça; (ii) condições pessoais diferenciadas, como, por exemplo, doença, nível de
endividamento, idade, condição de vítima de violência doméstica etc.; (iii) sinais ostensivos de
riqueza.
A triagem não será realizada pelo CEJUSC-SUPER, mas pelo magistrado da vara cível
por ocasião da análise dos requisitos da petição inicial, oportunidade em que poderá verificar
se o autor se enquadra (pelo menos em cognição superficial) no conceito de consumidor
superendividado. Vale destacar que somente dívidas de consumo podem ser alvo de
repactuação, excluídas também aquelas com garantia real de financiamentos imobiliários e de
crédito rural (art. 104-A, § 1º, do CDC). Este também será o momento para análise de eventual
pedido de tutela de urgência.
Por outro lado, há também entendimento no sentido de ser possível a concessão de tutela
de urgência antes mesmo da audiência de conciliação global.
13
Nesse sentido, confira-se: Acórdão 1603384, 07037867320228070000 AGI, relator: desembargador Robson
Teixeira de Freitas, Oitava Turma Cível, julgado em 2/8/2022, DJe: 22/8/2022.
38
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Para os defensores dessa linha, o pedido liminar estaria amparado pela aplicação
subsidiária do Código de Processo Civil (arts. 300 e seguintes), que supriria a lacuna
apresentada na Lei 14.181/2021.
14
Nesse sentido, confira-se: Acórdão 1747158, 07200339520238070000 AGI, relator: desembargador Leonardo
Roscoe Bessa, Sexta Turma Cível, julgado em 16/8/2023, Je: 1º/9/2023.
15
Enunciado 41. Caso o consumidor ingresse diretamente em juízo, sem o cumprimento da fase obrigatória do
art. 104-A do Código de Defesa do Consumidor, após a análise de eventual tutela de urgência, o juiz poderá
suspender o andamento do feito e remeter os autos ao CEJUSC para a realização da audiência autocompositiva
prevista no referido dispositivo legal (sem grifos no original).
Enunciado 42. Por analogia ao art. 20-B, § 1°, da Lei 11.101/2005, é possível que o consumidor requeira ao
juízo cível a concessão de tutela cautelar para suspensão da exigibilidade de suas dívidas, antes ou depois do
requerimento previsto no art. 104-A do Código de Defesa do Consumidor (sem grifos no original).
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Por fim, impende destacar que o juiz coordenador do Centro de Conciliação e Mediação
também terá competência para aplicar as sanções previstas no art. 104-A, § 2º, da Lei
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14.181/2021, durante a audiência, mesmo nos casos em que a fase conciliatória ocorrer pela via
processual.
Por outro lado, apenas 21% relataram a ocorrência de conciliações, todas oriundas de
acordos individuais (Gráfico 4):
0; 0%
8; 21%
O resultado acima indica que os credores não têm se esforçado para celebrarem
transação, seja por não confiarem na efetividade da lei, seja por se sentirem protegidos em razão
de garantias específicas para pagamentos de dívidas, como empréstimos consignados em contas
correntes nas quais há recebimento de salário do devedor. Tendo isso em conta, para
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proporcionar uma mudança de postura e o convite à reflexão dos credores, seria recomendável
a realização de convênios pelo TJDFT com a Federação Brasileira de Bancos –Febraban ou
diretamente com as instituições financeiras, a exemplo da experiência desenvolvida no âmbito
da Segunda Vice-Presidência. Cite-se, como exemplo, a possibilidade de treinamento de
representantes das empresas em técnicas de negociação, capacitação formatada pelo
NUPEMEC e nacionalmente reconhecida como modelo eficiente de parceria com grandes
demandantes.
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Dito isso, percebe-se que, depois de realizada a audiência de conciliação global (art.
104-A), com resultado parcial ou totalmente infrutífero, apenas o devedor/consumidor
superendividado terá legitimidade para deflagrar a fase seguinte. Ou seja, apenas o devedor
poderá requerer a instauração do processo por superendividamento (art. 104-B), devendo a
respectiva inicial ser juntada aos autos da reclamação pré-processual ou do procedimento cível
de repactuação de dívidas (na hipótese em que a fase consensual se deu pela via judicial).
Observe-se que, em qualquer dos casos, a autuação deverá ser retificada para a Classe
15217 – Procedimento de Repactuação de Dívidas (Superendividamento), com a manutenção
do Assunto 15048 – Superendividamento (conforme informação extraída do Comunicado
1/2024, do Núcleo Permanente das Tabelas Processuais Unificadas da Primeira Instância –
NUTPU).
O que precisa ser ressaltado é que o processo de repactuação de dívidas (art. 104-A) e o
processo por superendividamento (art. 104-B) não podem ser processados pelo procedimento
comum, já que é procedimento especial. É certo que o procedimento comum será aplicado de
forma subsidiária, conforme disposição do art. 318, parágrafo único, do CPC, com a ressalva
de compatibilidade, ou seja, só se aplica de forma subsidiária em caso de omissão do
procedimento especial e, principalmente, se o instituto a ser aplicado não descaracterizar por
completo o procedimento especial (DIDIER JR.; CABRAL; CUNHA, 2018, p. 67-69).
43
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Quando o autor ajuíza ação de revisão e integração dos contratos e repactuação das
dívidas remanescentes (art. 104-B), será necessário o preenchimento dos requisitos da petição
inicial, estabelecidos nos incisos I a VI do art. 319 do CPC16. Por outro lado, sob pena de
descaracterização do procedimento especial, dispensa-se o cumprimento do inciso VII, que trata
da opção pela participação na audiência de conciliação, já que o início do processo referido no
16
Sobre o valor da causa (art. 319, inciso V, do CPC) nas ações de repactuação de dívidas, podemos chegar a duas
conclusões razoáveis a partir da interpretação do art. 292, inciso II, do CPC: ou se aplica como valor da causa o
montante que se visa excluir da dívida (parte controvertida) ou a totalidade dos contratos em discussão. NEVES
(2023, p. 884) apresenta mais uma conclusão acerca do valor da causa, especificamente sobre a fase do art. 104-
A. Confira-se:
“Quanto ao pedido, tem-se mais uma singularidade, porque o pedido não terá nenhuma das tutelas tradicionais do
processo de conhecimento. Afinal, o autor não pedirá declaração, constituição e tampouco condenação, mas
somente a citação dos réus para que compareçam a uma audiência na qual se tentará uma autocomposição para o
equacionamento do pagamento de suas dívidas. É claro que, uma vez celebrada a autocomposição, a situação
jurídica das partes será alterada, seguida por uma sentença homologatória de natureza meramente declaratória.
Mas os pedidos não são nesse sentido e nem poderiam ser, porque nem mesmo o plano de pagamento será
apresentado nesse momento, mas somente na própria audiência. Num primeiro momento, pode haver a impressão
de o valor da causa ser a somatória de todo o débito do autor, mas, como a demanda não se presta a discutir a
dívida, e somente tentar equacionar o seu pagamento, não entendo ser aplicável a regra do art. 292, II, do CPC.
Não há, na realidade, um valor econômico estimável na pretensão do autor, de forma que o valor da causa deverá
ser meramente simbólico.”
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art. 104-B pressupõe a sua realização com resultado total ou parcialmente infrutífero.
Igualmente, inaplicável o disposto no art. 334 do CPC17, reservado ao procedimento comum.
Além dos requisitos ordinários para recebimento da inicial, o juízo deve verificar alguns
requisitos específicos referentes a esse procedimento especial. Para ser apta, a petição inicial
deve apresentar no polo passivo todos os credores das dívidas decorrentes das relações de
consumo contraídas pelo autor, à exceção dos credores que já tenham celebrado eventual acordo
na fase do art. 104-A do CDC e daqueles cujos contratos se enquadrem em alguma das hipóteses
mencionadas no art. 54-A, § 3º, ou no art. 104-A, § 1º, do CDC. Na causa de pedir, deve
informar toda a sua situação financeira de forma detalhada, principalmente o quanto deve (das
dívidas que pretende repactuar), quanto pode pagar e quais os gastos tidos como essenciais.
17
O próprio § 1º do art. 104-B do CDC se mostra incompatível com o art. 334 do CPC, ao estabelecer que serão
considerados no processo de superendividamento eventuais informações prestadas em audiência de conciliação,
que vai de encontro ao princípio da confidencialidade que rege a audiência de conciliação no procedimento
comum.
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De igual modo, quanto ao mínimo existencial, tem-se que o valor necessário (seja aquele
fixado no Decreto 11.150/2022, seja outro montante apontado pelo autor), deve ser especificado
na inicial, com a menção de todos os gastos que, na visão do autor, se referem a esse mínimo
existencial, além da comprovação de sua própria movimentação financeira dos últimos meses
ou anos.
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11; 28%
28; 72%
DEFERIDO O PROCESSAMENTO
INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL
Causas de Indeferimento
1; 9% 1; 9%
2; 18%
7; 64%
Parece intuitivo que, antes do indeferimento, deve ser aplicado o art. 321 do CPC, que
estabelece o prazo de quinze dias para emenda da inicial, com especificação do que necessita
ser emendado.
Outro ponto interessante que surgiu na pesquisa realizada com magistrados de primeiro
grau foi a possibilidade de discutir a validade e a aplicação de cláusulas contratuais, de forma
conjunta com a ação de repactuação de dívidas. Em regra, na demanda proposta com fulcro nos
arts. 104-A e 104-B do CDC não se discute a legitimidade do débito, já que o devedor
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simplesmente visa fazer uso de seu direito subjetivo de repactuar as dívidas, segundo os
critérios previstos no art. 104-A do CDC. Então surge a questão: é possível tal cumulação?
Com efeito, existem fortes argumentos contra e a favor da permissão de cumulação dos
pedidos de decretação de nulidade de cláusulas contratuais juntamente com a repactuação de
dívidas.
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Por outro lado, o próprio direito à repactuação de dívida, como se vê pelo procedimento
especial dos arts. 104-A e 104-B do CDC, não parece permitir a discussão de outros assuntos
além da adequação do plano compulsório a critérios legais ou manutenção do mínimo
existencial, e o objetivo da demanda é elaborar um plano de pagamento, e não discutir os
aspectos jurídicos atinentes ao contrato.
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4; 10% 7; 20%
28; 80%
35; 90%
ANTES DA CONCILIAÇÃO
SIM NÃO APÓS A AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
Com isso, alguns magistrados exigem a apresentação dessa proposta de plano, pelo
devedor, antes da audiência de conciliação (art. 104-A), para que naquele ato os credores
possam eventualmente fazer ponderações, contrapropostas ou até apresentar resposta certa
quanto a aceitação ou não da proposta do autor.
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SIM NÃO
Essa exigência pode ser facilmente compreendida justamente porque, apesar de ser um
direito subjetivo do devedor superendividado a repactuação das dívidas, essa se dá, a princípio,
nos limites da lei, com exigência de pagamento do valor principal (sem desconto) em até
sessenta parcelas (art. 104-A do CDC). Ora, se o devedor não consegue formular proposta que
se encaixe nessas condicionantes, parece inexistir probabilidade do direito, um dos requisitos
para a concessão da tutela provisória (art. 300 do CPC).
Na pesquisa realizada, 92% dos magistrados afirmaram abrir prazo para contestação ou
impugnação pelos credores (Gráfico 11):
36; 92%
SIM NÃO
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adequado para que o credor pudesse arguir, por exemplo, eventual “dolo” contratual do
consumidor (art. 104-A, § 1º) ou outra defesa que demonstre o não enquadramento à
repactuação prevista na lei (BRASIL, Cartilha sobre o tratamento do superendividamento do
consumidor, 2022, p. 24).
Buzzi, Buzzi e Mello (2024, p. 632) também defendem que a manifestação prevista no
art. 104-B, § 2º, é o momento processual adequado para arguir a má-fé do consumidor ou
alguma outra defesa, inclusive processual.
Neves (2023, p. 856) chama a atenção para o fato de a lei ter limitado a extensão das
matérias que poderão ser arguidas pelo credor, criando uma “contestação de fundamentação
vinculada”:
(...)
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partes prazo para manifestação, nos termos dos arts. 9º, caput, e 10, ambos do CPC18. Assim, a
limitação das matérias passíveis de arguição pelo credor, no momento da contestação, não
acarretará violação ao seu direito de defesa ou ao contraditório, já que, posteriormente, poderá
discutir eventual matéria a ser decidida de ofício.
Também merece destaque o fato de que, caso seja admitida pelo magistrado a cumulação
entre os pedidos de repactuação de dívidas e de revisão de cláusulas contratuais, o procedimento
a ser seguido será o comum, por força do art. 327, § 2º, do CPC19. Desse modo, a contestação
a ser apresentada pelo credor não sofrerá as limitações previstas no § 2º do art. 104-B.
18
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se
tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de
ofício.
19
§ 2º Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor
empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos
procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as
disposições sobre o procedimento comum.
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SIM NÃO
Realmente não parece existir momento autônomo de produção de novas provas, já que,
em se tratando de situação de superendividamento, em regra, as provas necessárias são
documentais, que devem ser juntadas com a petição inicial (art. 434 do CPC). Da mesma forma,
os réus poderão juntar documentos caso não alcançado acordo na audiência de conciliação,
como expressamente determinado pelo art. 104-B, § 2º, do CDC. Em contraditório, o autor deve
ser intimado para se manifestar sobre eventuais documentos juntados pelos réus no momento
anterior e até pode juntar novos documentos para rebater aqueles juntados pelo réu (art. 435 do
CPC).
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econômicas do devedor, o que poderia ser mais bem desenhado, em conjunto, sendo uma nova
oportunidade de celebração de acordo e, caso contrário, fixação de plano de pagamento mais
condizente com a realidade do devedor.
Referido ponto também foi objeto de análise na pesquisa realizada com os magistrados
de primeira instância, indagando-se qual o procedimento adotado nas situações em que o plano
de pagamento não é apresentado. Nesses casos, 74% dos magistrados respondentes informaram
que não encaminham os autos à Contadoria Judicial e tampouco à perícia para elaboração do
plano de pagamento:
10; 26%
29; 74%
SIM NÃO
Convém mencionar que pouco mais de um quarto dos magistrados que responderam à
pesquisa declararam remeter os autos à Contadoria quando o devedor não apresenta plano de
pagamento.
Com efeito, após o recebimento pela Contadoria do TJDFT de demandas nas quais os
magistrados exigiam a elaboração de plano de pagamento; depois da verificação da
possibilidade da liquidação de dívida em cinco anos, tendo por base as dívidas apresentadas;
bem como após o cálculo total do débito, com exclusão dos juros e das parcelas adimplidas e
inclusão da correção monetária etc., iniciou-se discussão na Secretaria de Contas Judiciais sobre
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o cabimento desse tipo de atuação por parte da Contadoria. No bojo do Processo SEI
0020523/2023, há clara sinalização de que tais demandas não devem ser direcionadas às
Contadorias Judiciais.
Sendo assim, a solução de encaminhamento dos autos à Contadoria para exercício das
atividades de administrador ou perito judicial carece de sustentação legal, bem como de
regramento interno deste Tribunal. A aplicação do que disciplina a lei quanto ao ponto em
debate perpassa por solução que guarde consonância com o previsto pela cartilha do CNJ e com
o delineado pelos fluxos pré-processual e processual estruturados pelo Grupo de Trabalho deste
TJDFT.
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5; 14%
30; 86%
SIM NÃO
Esses números acima podem ser explicados sobretudo pelo fato de não existir banco de
administradores judiciais previamente cadastrados e com expertise na realização de planos de
pagamento para devedores superendividados. É complicado para os magistrados, sabidamente
não especializados em questões financeiras complexas, elaborarem o referido plano de
pagamento. Note-se que as causas podem exigir cálculos muito elaborados, como no caso de
muitos credores, necessidade de diferenciação de valores principais e aqueles somados a
encargos moratórios acumulativos, sendo desejável o auxílio de profissionais técnicos e
especializados, desde que sem ônus para as partes (art. 104-B, § 3º, do CDC).
20
Art. 104-A, § 4º - “Constarão do plano de pagamento referido no § 3º deste artigo:
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que estabelece que “constarão do plano”, mas não aponta exclusão de outras medidas. Por
exemplo, poderia o magistrado determinar a alienação, pelo devedor, de imóvel com grande
valor de mercado para determinar, como parte do plano, que o devedor resida mediante contrato
de locação? Ou determinar a venda de veículo próprio, alvo de financiamento, para que passe
a se valer de transporte público?
I - medidas de dilação dos prazos de pagamento e de redução dos encargos da dívida ou da remuneração do
fornecedor, entre outras destinadas a facilitar o pagamento da dívida;
II - referência à suspensão ou à extinção das ações judiciais em curso;
III - data a partir da qual será providenciada a exclusão do consumidor de bancos de dados e de cadastros de
inadimplentes;
IV - condicionamento de seus efeitos à abstenção, pelo consumidor, de condutas que importem no agravamento
de sua situação de superendividamento.
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quando estabelece que caso não haja acordo, o juiz “procederá à citação de todos os credores
cujos créditos não tenham integrado o acordo porventura celebrado” (art. 104-B do CDC).
Ocorre que tal disposição deve ser interpretada a partir de todo o sistema processual
civil, seja a partir do art. 104-A do CDC, que estabelece o requerimento do consumidor e que
por isso listará os credores alvo da repactuação, seja pelo próprio princípio dispositivo, que
estabelece que cabe ao autor começar com o processo e delimitar os pedidos e causa de pedir
(art. 2º do CPC) ou ainda pela vedação do juiz em proferir sentença diversa do pedido (art. 492
do CPC).
É o mesmo entendimento que pode ser aplicado a teses vinculantes, fixadas por tribunais
superiores ou pelo próprio TJDFT, referente a contratos, como o pedido de limitação de
descontos de pagamentos de empréstimos a 30% do rendimento do devedor, que pode ser
renovado em pedido de tutela provisória ou como parte do plano de pagamento. Essa questão
jurídica, de forma abstrata, foi levada ao STJ (Tema 1.085) mas, no âmbito de direito específico
de repactuação de dívidas, não parece ter sido julgada, sendo caso de distingishing e, portanto,
a questão poderia ser trazida no âmbito de ação de repactuação de dívidas sem violação da tese
vinculante.
De toda forma, o plano de pagamento não pode ser tratado como análogo ou equivalente
ao plano de recuperação judicial de sociedades empresárias. É instituto totalmente autônomo e,
apesar de algumas semelhanças, a própria lei deixa claro que não implicará insolvência civil
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(art. 104-A, § 5º, do CDC) e nem exige participação direta dos credores, por exemplo, votando
o plano21.
Feita a apresentação do plano pelo administrador, as partes serão intimadas para ciência,
podendo requerer esclarecimentos. Tratando-se de esclarecimentos técnicos, o administrador
será intimado para manifestar-se. Tratando-se de esclarecimentos puramente jurídicos, o juiz
poderá resolver na sentença.
7.3.7 Competência para processar e julgar casos em que for parte a CEF
Impende fazer importante registro sobre os casos em que a Caixa Econômica Federal
figurar no polo passivo.
21
Lei 11.101/2005:
Art. 35. A assembleia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre:
I – na recuperação judicial:
a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor. (...)
Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores referidas no art. 41
desta lei deverão aprovar a proposta.(...)
Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação judicial no prazo de trinta
dias contado da publicação da relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta lei. (...)
Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará a assembleia-geral
de credores para deliberar sobre o plano de recuperação.
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8 MEDIDAS ADMINISTRATIVAS
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Referida situação, constatada não apenas pelo Centro de Inteligência no decorrer dos
estudos, mas também pelo NUPEMEC, é corroborada pela pesquisa realizada com os
magistrados, na qual, do total de 39 juízes respondentes, 44% relataram que os processos que
versam sobre superendividamento, em regra, não chegam cadastrados corretamente em suas
varas.
3; 18%
7; 41%
7; 41%
CLÁUSULAS ABUSIVAS
INTERPRETAÇÃO/REVISÃO DE CONTRATO
OUTRO
Gráfico 15. Fonte: COCIJDF/TJDFT. Elaboração: NUGICI/TJDFT
Esse erro sistematizado de cadastramento é grave no que se refere ao estudo amplo por
parte da comunidade acadêmica e de diagnóstico por parte do próprio Poder Judiciário, sem
mencionar a gestão da própria unidade judiciária, como na realização de mutirões de audiências
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ou julgamentos. Vale lembrar que as demandas são protocoladas no PJe pelo advogado da parte
autora, que não tem nenhum interesse em esconder ou mal nomear o assunto do processo, já
que, independentemente do assunto cadastrado, o tema será amplamente visualizado pelos
atores processuais, processado e julgado pelo juízo. Dessa forma, a conclusão mais óbvia seria
desconhecimento do correto cadastramento.
Para remediar esse ponto, poderia ser realizada uma campanha junto à Ordem dos
Advogados do Brasil – OAB, buscando a conscientização dos profissionais sobre a importância
do tema. Concomitantemente, poderia haver uma campanha, no âmbito do TJDFT, destinada a
orientar os servidores sobre a importância do correto cadastramento e de suas consequências,
especialmente para os estudos que são realizados pelo Tribunal. Além disso, uma alternativa
no âmbito de cada unidade jurisdicional seria a retificação da autuação pela própria secretaria
do juízo no momento do recebimento dos processos, medida interna que poderia ser adotada
por meio de orientação da Corregedoria às respectivas unidades judiciárias.
22
A título de exemplificação o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul - nos autos 8.2020.0010/00911-5 aprovou,
por meio do Conselho da Magistratura (COMAG), a alteração do Projeto denominado PROGRAM I para Projeto
de Gestão do Superendividamento e determinou: “a) remessa de todos os processos eletrônicos de
superendividamento do Estado, independentemente de análise, nos termos da Lei n.º 14.181/21, que alterou os
artigos 104-A e 104-B do Código de Defesa do Consumidor, para o Projeto de Gestão de Superendividamento;
e b) o cumprimento de todos os processos eletrônicos de superendividamento do Estado pela Central de
Atendimento Multicomarcas - Multicom."”. Logo, no âmbito do TJRS a opção foi pela concentração dessas ações
a um magistrado coordenador designado para atuar nesse Projeto.
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Registre-se, que, por vezes, a formação em ciências contábeis ou áreas afins não é
suficiente para a realização do planejamento financeiro/plano de pagamento, pois, mais do que
um encontro de contas, muitas vezes é necessário que a pessoa superendividada adote mudança
postural.
Assim, uma vez definidos os requisitos mínimos para atuação como administrador
judicial nas ações de superendividamento, é necessário que referidos profissionais sejam
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destacados no Cadastro de Peritos gerido pela Corregedoria a fim de facilitar sua identificação
pelos magistrados no momento da nomeação.
Com os levantamentos realizados para a elaboração da presente nota técnica, fator que
merece destaque é a concentração da distribuição das demandas na Circunscrição Judiciária de
Brasília, que durante o período de janeiro de 2023 a fevereiro de 2024 recebeu 34,87% do total
de demandas sobre superendividamento, seguida pelas Circunscrições Judiciárias de
Taguatinga, com 12,02%; Águas Claras, com 9,36%; e Ceilândia, com 8,27%, conforme
Gráfico 16 abaixo:
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Taguatinga 122
Sobradinho 73
São Sebastião 9
Santa Maria 23
Samambaia 33
Riacho Fundo 19
Recanto das Emas 16
Planaltina 44
Paranoá 3
Núcleo Bandeirante 10
Itapoã 9
Guará 54
Gama 41
Ceilândia 84
Brazlândia 26
Brasília 354
Águas Claras 95
0 50 100 150 200 250 300 350 400
Quantidade de Média de
Cirscunscrição Quantidade de
Processos - Processos por Ranking
Judiciária Varas Cíveis
2023/fev. 2024 Vara
Guará 54 1 54 1º
Planaltina 44 1 44 3º
Sobradinho 73 2 36,5 4º
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Ceilândia 84 3 28 6º
Brazlândia 26 1 26 7º
Gama 41 2 20,5 8º
Riacho Fundo 19 1 19 9º
Núcleo
10 1 10 14º
Bandeirante
Itapoã 9 1 9 15º
Paranoá 3 1 3 17º
CONCLUSÃO
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Diante desse cenário, a necessidade de tratamento adequado dos processos judiciais que
envolvem o superendividamento se torna evidente. O Judiciário desempenha papel crucial na
resolução desses casos, devendo adotar abordagem que vá além da simples execução de dívidas,
reconhecendo a vulnerabilidade dos consumidores superendividados e buscando soluções que
promovam a recuperação financeira e a manutenção da dignidade. Isso implica processos
judiciais que considerem a realidade socioeconômica dos devedores, estimulem a conciliação e
a renegociação de dívidas de maneira justa e viável, e promovam a educação financeira como
parte da solução.
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A pesquisa realizada com magistrados atuantes nas varas cíveis do TJDFT demonstrou
a necessidade de mais debate e aprofundamento dos estudos sobre a temática a fim de garantir
a aplicação da norma e principalmente tratar adequadamente os conflitos envolvendo a delicada
temática do superendividamento, impondo-se a necessidade premente de definir fluxos para as
referidas demandas e repensar a prestação jurisdicional trazendo-se à luz a ideia de atuação em
rede com os diversos atores do Sistema de Justiça, órgãos públicos, entidades atuantes na área
de defesa do consumidor, sistema financeiro e a sociedade.
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A presente nota técnica combinou diversos instrumentos de pesquisa para dar o primeiro
passo rumo à uniformização do tratamento das demandas de superendividamento. Decerto,
consoante destacado, este documento não tem caráter vinculante, mas apenas sugestivo, e,
diante da complexidade do superendividamento, serão necessárias adaptações procedimentais
testadas ao longo do tempo, sempre com o objetivo de garantir a eficiência na prestação
jurisdicional e a construção das melhores soluções dentro dos cenários possíveis.
DIRETRIZES
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superendividamento do consumidor. In: BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi et al. (coord.).
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https://www.fundarfenix.com.br/_files/ugd/9b34d5_fce4881103004178aa4a0992c1bf8bb7.pd
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FARIAS, Cristiano Chaves de. [et al.]. Manual de direito civil – Volume único. 4. ed. rev, ampl. e atual. Salvador:
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MARQUES, Claudia Lima; COSTA, Clarissa Costa de; VIAL, Sophia. Superendividamento
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Consumidor. In Direito do Consumidor: reflexões quanto aos impactos da pandemia de
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Seiji Shimura, v. 1, p. 107 — 144, São Paulo: Escola Paulista da Magistratura, 2020. Disponível
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PEREIRA, Caio Mário da Silva. In: PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito
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proteger-consumidores-de-superendividamento-e-no-comercio-eletronico. Acesso em: 28 ago.
2023.
77
ANEXO I
FLUXO PRÉ-PROCESSUAL (FASE CONCILIATÓRIA OU CONSENSUAL – ART. 104-A DO CDC)
72
ANEXO II
FLUXO PROCESSUAL (FASE CONTENCIOSA – ART. 104-B DO CDC)
72
ANEXO III
MINUTA DE DECISÃO INTERLOCUTÓRIA – EMENDA À INICIAL
Para tanto, os fatos narrados na inicial indiciam a subsunção no referido texto legal,
oportunizando, primordialmente, a revisão e a repactuação da(s) dívida(s) discriminada(s) na
peça inicial, amparada no art. 104-B, incluído pela Lei 14.181, de 2021.
a) gênero;
b) idade;
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Por essas razões, intime-se a parte autora para emendar a inicial, forte no art. 321,
parágrafo único, do CPC, atendendo, pontuadamente, todos os requisitos acima listados.
1
ANEXO IV
MINUTA DE DECISÃO INTERLOCUTÓRIA – EMENDA À INICIAL
1) apresentação de plano de pagamento: 1.1) com prazo máximo de 5 anos; 1.2) com
as garantias previstas do contrato; 1.3) com a forma de pagamento previstas do contrato;
2) não pode se referir a crédito: 2.1) com garantia real; 2.2) financiamento imobiliário;
2.3) crédito rural.
No caso, XXXX a parte autora apenas apresentou seus contracheques, um extrato das
consignações inespecífico, mas não juntou os contratos firmados nem o extrato de pagamento
de cada um dos contratos.
Assim, para aferição da presença dos requisitos legais, é necessário que a parte
autora emende a inicial para:
Sugere-se que seja utilizada uma tabela que contenha, no mínimo, os seguintes itens:
Nome e Valor Valor e Encargos Garantia Forma de Valor total Encargos Valor da
número total do parcelas previstos prevista pagamento da sugeridos parcela
do contrato já pagas no no original proposta para a proposta
contrato do contrato contrato prevista de proposta para
contrato no pagamento de pagamento
contrato pagamento parcelado
(máximo
de 5 anos)
Prazo, 20 (vinte) dias, sob pena de indeferimento da inicial por inépcia e falta dos
pressupostos processuais.
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CIJDF
Grupo Decisório
Grupos Temáticos
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Equipes Técnicas