Boas Práticas em Contratos de Serviços Terceirizados

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 190

Boas Práticas em Contratos

de Serviços Terceirizados

Aposentadoria e Previdência
Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Desenvolvimento Profissional

Conteudista/s
Alessandra Andrade Medeiros Carneiro de Albuquerque (Conteudista, 2022).
Bruno Ribeiro Piana (Conteudista, 2022).
Carlos Henrique Benedito Nitão Loureiro (Conteudista, 2022).
Carlos José Macedo Maia (Conteudista, 2022).
Célio Rodrigues da Cruz (Conteudista, 2022).
Francisco Neves Siqueira (Conteudista, 2022).
Gabriel Santana Mônaco (Conteudista, 2022).
Kamila dos Santos Tabaquini (Conteudista, 2022).
Paulo Antonio Costa de Almeida Penido (Conteudista, 2022).
Pedro Augusto Martins Ribeiro (Conteudista, 2022).
Phelippe Alves Cizilio (Conteudista, 2022).
Vinicius Loureiro da Mota Silveira (Conteudista, 2022).

Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO

Enap, 2022
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
Módulo 1 – Definição da terceirização e a responsabilidade
subsidiária das entidades públicas
Unidade 1 – Abertura e apresentação do curso.................................................... 7
1.1. Terceirização x responsabilidade da Administração............................................. 8
1.2. Terceirização na Administração e os principais impactos na
legislação federal............................................................................................................. 18

Módulo 2 – Fase pré-contratual


Unidade 1 - Planejamento da contratação.......................................................... 33
1.1. Pesquisa de preços segundo a IN SEGES/ME nº 65/2021.................................... 33
1.2. Planilha de custos..................................................................................................... 38
1.3. Requisitos de habilitação social, trabalhista, segundo a Lei nº 14.133/2021, e
requisitos de habilitação, segundo o art. 4º da Lei nº 6.019/1974............................ 46
Unidade 2 - Gestão de Riscos................................................................................. 60
2.1. Legislação e normas........................................................................................ 60
2.2. Controle e resultados............................................................................................... 64

Módulo 3 – Instrumentos de gestão do contrato


Unidade 1 – Ferramentas de gestão do contrato................................................ 66
1.1. Conta-depósito vinculada – bloqueada para movimentação............................. 66
1.2. Pagamento direto..................................................................................................... 69
1.3. Empresas de terceirização e capital mínimo........................................................ 72
1.4. Boas relações entre a contratada e a Administração................................. 77
1.5. Responsabilidade do servidor quanto aos deveres éticos e legais.................... 81

Módulo 4 – Portaria Conjunta ICMBio/PFE nº 05/2022


Unidade 1 - Portaria Conjunta ICMBio/PFE.......................................................... 90
1.1. Manual de Aplicação de Sanções Administrativas .............................................. 90
1.2. Definição de fluxo para serem sanadas dúvidas dos fiscais............................... 91
1.3. Treinamentos anuais............................................................................................... 91
1.4. Divulgação de cursos e definição de espécies contratuais................................. 92

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3


1.5. Kit fiscal...................................................................................................................... 93
1.6. Instrumentos de gestão........................................................................................... 94
1.7. Comunicação dos pagamentos aos órgãos da administração tributária e
acompanhamento dos cinco maiores contratos......................................................... 95
1.8. Acesso a sistemas públicos de informação........................................................... 96
1.9. Registro cadastral unificado.................................................................................... 97
1.10. Solicitação e consolidação de informações........................................................ 98
1.11. Atuação em âmbito judicial................................................................................... 99
1.12. Cartilha de orientação a prepostos e certidão explicativa.............................. 100

Módulo 5 – Atuação judicial


Unidade 1 – Atuação proativa da Administração Pública................................ 103
1.1. Responsabilidade subsidiária da Administração pelos
encargos trabalhistas.................................................................................................... 103
1.2. A conta vinculada e o pagamento direto ............................................................ 106
1.3. Depósito de valores em conta vinculada ............................................................ 108
1.4. Pagamento direto .................................................................................................. 111
1.5. Depósito judicial de valores em caso de inadimplência ................................... 112
1.6. Atuação proativa da Administração .................................................................... 113

Módulo 6 – Certidão Explicativa


Unidade 1 - Certidão Explicativa......................................................................... 116
1.1. Certidão Explicativa: destinação, definição e funções....................................... 116
1.2. Preenchendo a Certidão Explicativa.................................................................... 120

Módulo 7 – Manual de Fiscalização e Sanções


Unidade 1 - Aspectos gerais referentes ao procedimento de fiscalização
contratual.............................................................................................................. 130
1.1. Fundamento legal do poder-dever de fiscalizar contratos administrativos .. 130
1.2. Segregação de funções.......................................................................................... 131
1.3. Diferenciação entre gestão e fiscalização .......................................................... 133
1.4. Regras gerais para a designação de gestor e fiscal de contrato...................... 134
1.5. Contratação de assistência à fiscalização............................................................ 136
1.6. Recusa e impedimentos........................................................................................ 137
1.7. Vedação a atos de ingerência na administração da contratada...................... 138
1.8. Preposto ................................................................................................................. 140
1.9. Rotinas básicas de fiscalização ............................................................................ 142

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 4


1.10. Procedimento inicial............................................................................................ 145
1.11. Fiscalização diária ................................................................................................ 148
Unidade 2 - Apuração e aplicação de sanções administrativas...................... 149
2.1. Da obrigatoriedade de instauração de processo administrativo
para aplicar sanção administrativa............................................................................. 149
2.2. Procedimentos de tentativa de saneamento...................................................... 152
2.3. Gestão documental................................................................................................ 154
2.4. Notificações, modalidades e diligências necessárias para a validade............. 155
2.5. Manifestação do contratado................................................................................. 160
2.6. Análise do recurso administrativo e recurso de reconsideração..................... 162
2.7. Prazos....................................................................................................................... 164
2.8. Execução da decisão de aplicação de sanção..................................................... 165

Módulo 8 – Medidas para cobrança de seguro-garantia às


seguradoras
Unidade 1 – Seguro-Garantia............................................................................... 167
1.1. Normas e legislação............................................................................................... 167
1.2. Formas de Cobrança.............................................................................................. 176
1.3. Fluxos....................................................................................................................... 178

Módulo 9 – Medidas para inscrição em dívida ativa das sanções


Unidade 1 – Apuração e aplicação de sanções pecuniárias:
Lei de Licitações e Contratos Administrativo................................................... 180
1.1. Introdução............................................................................................................... 180
1.2. Necessidade de processo administrativo para aplicar multa........................... 181
1.3. Direito de defesa e recurso no processo administrativo de
aplicação de multa......................................................................................................... 184
Referências..................................................................................................................... 187

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5


Olá!
Desejamos boas-vindas ao curso Boas Práticas em Contratos de serviços
terceirizados.
Este curso tem o objetivo capacitar o público-alvo em fiscalizar e gerir contratos e
atividades correlatas.
Antes de alcançar o objetivo geral, habilidades anteriores precisam ser adquiridas
gradativamente. Por esse motivo, os objetivos específicos descritos abaixo também
devem ser atingidos ao longo do curso!
Ao final deste curso, espera-se que você seja capaz de:
• Entender as definições e conceitos de terceirização na Administração
Pública, de outras espécies contratuais, e os posicionamentos dos
Tribunais Superiores acerca da matéria e a relação entre a terceirização
na Administração Pública e os principais impactos da nova Lei de
Licitações (Lei nº 14.133/2021) no direito e no processo do trabalho, com
breves incursões pelo Decreto nº 9.507/2018 e pela Instrução Normativa
SEGES/MP nº 05/2017;
• Compreender os aspectos práticos de tópicos relevantes de
procedimentos da fase pré-contratual que impactam diretamente a
execução de contratos com dedicação exclusiva de mão de obra;
• Compreender a operacionalização da Conta-Depósito Vinculada –
bloqueada para movimentação e o pagamento direto das obrigações
aos empregados da contratada, e os aspectos práticos na execução de
instrumentos de gestão de contratos com serviços continuados com
dedicação exclusiva de mão de obra;
• Conhecer as boas práticas registradas na Portaria Conjunta ICMBio nº
05, de 02 de agosto de 2022, que dispõe sobre a consolidação das boas
práticas relacionadas ao tema da terceirização de serviços contínuos
com dedicação exclusiva de mão de obra, no âmbito do ICMBio;
• Compreender a atuação judicial na Justiça do Trabalho;
• Conhecer a Certidão Explicativa e sua importância para a defesa dos
órgãos públicos nas reclamações trabalhistas, aprendendo como
preenchê-la corretamente;
• Conhecer os papeis do gestor e do fiscal de contrato e conhecer e aplicar
as rotinas de fiscalização de contratos;
• Apreender o fluxo de cobrança do seguro-garantia;
• Compreender os conceitos e requisitos básicos para apuração de
infrações e aplicação de multas motivadas pela inexecução total ou
parcial de contratos administrativos, e entender a importância dos
princípios e regras norteadores do processo administrativo sancionador,
nos termos da nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº
14.133/2021) e da Lei nº 9.784/1999, que estabelece normas gerais sobre
processo administrativo no âmbito da Administração Pública federal.

Desejamos um excelente estudo!

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 6


Módulo

1 Definição da terceirização e a
responsabilidade subsidiária das
entidades públicas

Unidade 1 – Abertura e apresentação do curso

Ao final desta unidade, você será capaz de entender as definições


e os conceitos de terceirização na Administração Pública, de
outras espécies contratuais, e os posicionamentos dos Tribunais
Superiores acerca da matéria. Ainda será capaz de entender a
relação entre a terceirização na Administração Pública e os
principais impactos da nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021)
no direito e no processo do trabalho, com breves incursões pelo
Decreto nº 9.507/2018 e pela Instrução Normativa SEGES/MP nº
05/2017.

Vídeo 1 – Terceirização x responsabilidade da Administração -


Parte 1

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 7


1.1. Terceirização x responsabilidade da
Administração
1.1.1. Introdução
Os contratos de terceirização das entidades públicas (vigilância e limpeza/conservação,
por exemplo), na tese de responsabilidade subsidiária da Administração Pública,
são os de maior predominância em relação aos processos nos quais as autarquias e
fundações federais são demandadas na Justiça do Trabalho.

Em relação à responsabilidade subsidiária em contratos administrativos, abaixo


segue o entendimento do Tribunal Superior do Trabalho (TST), cristalizado na
Súmula 331:

V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem


subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua
conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993,
especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e
legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade
não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas
pela empresa regularmente contratada.

1.1.2. Conceito legal de terceirização

A Lei nº 6.019/1974 assim dispõe:

Art. 4o-A. Considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita


pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive
sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de
serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução.
§ 1o A empresa prestadora de serviços contrata, remunera e dirige o trabalho
realizado por seus trabalhadores, ou subcontrata outras empresas para
realização desses serviços.
§ 2o Não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios das
empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a empresa
contratante.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 8


Quanto à previsão geral da responsabilidade subsidiária do contratante na
terceirização, assim prescreve a citada Lei:

Art. 5º-A. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com
empresa de prestação de serviços determinados e específicos.
[...]
§ 5º A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações
trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, e o
recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31
da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991.

Por sua vez, a responsabilidade da Administração Pública pelos encargos trabalhistas,


previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato encontra
amparo no art. 71 da Lei nº 8.666/1993:

Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários,


fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.
§ 1º A inadimplência do contratado, com referência aos encargos trabalhistas,
fiscais e comerciais não transfere à Administração Pública a responsabilidade
por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a
regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de
Imóveis.

Já na nova Lei de Licitações, Lei nº 14.133/2021, a responsabilidade da Administração


Pública pelas verbas encontra-se assim disposta no § 2º do art. 121:

§ 2º Exclusivamente nas contratações de serviços contínuos com regime de


dedicação exclusiva de mão de obra, a Administração responderá solidariamente
pelos encargos previdenciários e subsidiariamente pelos encargos trabalhistas se
comprovada falha na fiscalização do cumprimento das obrigações do contratado.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 9


Como se verifica, houve um deslocamento do enfoque da prova:

A Súmula do TST nº 331 foca na prova da conduta culposa (“caso evidenciada a


sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993,
especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da
prestadora de serviço como empregadora”).

A Lei nº 14.133/2021, por sua vez, focaliza a comprovação da falha na fiscalização


(“a Administração responderá solidariamente pelos encargos previdenciários e
subsidiariamente pelos encargos trabalhistas se comprovada falha na fiscalização do
cumprimento das obrigações do contratado”).

O que são serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva


de mão de obra na nova Lei de Licitações?

A Lei nº 14.133/2021, art. 6º, inciso XVI, assim dispõe:

XVI - serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva de mão de obra:


aqueles cujo modelo de execução contratual exige, entre outros requisitos, que:
a) os empregados do contratado fiquem à disposição nas dependências do
contratante para a prestação dos serviços;
b) o contratado não compartilhe os recursos humanos e materiais disponíveis
de uma contratação para execução simultânea de outros contratos;
c) o contratado possibilite a fiscalização pelo contratante quanto à distribuição,
controle e supervisão dos recursos humanos alocados aos seus contratos;

1.1.3. Espécies contratuais excluídas da aplicação do § 2º do art. 121


da Lei nº 14.133/2021

Vídeo 2 – Terceirização x responsabilidade da Administração –


Parte 2

Nos termos do art. 121, § 2º, da Lei nº 14.133/2021, a Administração responderá


solidariamente pelos encargos previdenciários e subsidiariamente pelos encargos
trabalhistas, se e quando comprovada falha na fiscalização do cumprimento das
obrigações do contratado, e exclusivamente nas contratações de serviços contínuos,
com regime de dedicação exclusiva de mão de obra.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 10


Ou seja, é importante a distinção entre os serviços contínuos, com regime de dedicação
exclusiva de mão de obra (terceirização que pode resultar na responsabilidade da
Administração Pública, nos termos da Lei nº 14.133/2021), e as demais espécies
contratuais, que não geram responsabilidade.

+ 1) Terceirização (responsabilidade subsidiária da Administração Pública):

Conceito legal:

De acordo com o art. 4º-A da Lei nº 6.019/1974, com redação dada pela Lei nº
13.467/2017, consiste na  transferência feita pela contratante da execução de
quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica
de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica
compatível com a sua execução.

Por sua vez, nos termos do art. 121 da Lei nº 14.133/2021, são os serviços
contínuos com regime de dedicação exclusiva de mão de obra.

+ 2) Contrato de empreitada (dono de obra/serviços de engenharia):

Contrato para realização de obras de engenharia civil. Figurando o ente público


como dono da obra, não é possível sua responsabilização pelas obrigações
de cunho trabalhista não adimplidas pela empresa contratada, uma vez que o
objeto do negócio jurídico celebrado foi a realização da obra (Recurso de Revista
repetitivo TST - SBDI-I, IRR – 190-53.2015.5.03.0090, Rel. Min. João Oreste Dalazen,
j. 11.05.2017).

Recentemente, assim decidiu o TST:

“(...) ao contratar empreiteiro sem idoneidade econômico-financeira, responderá


subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas, com esteio no já citado artigo e na
figura da culpa in eligendo, a menos que seja ente da administração pública direta
ou indireta (TST, E-ED-RR-106600-17.2007.5.17.0191, Subseção I Especializada
em Dissídios Individuais, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao, DEJT
25/06/2021).

Existem teses jurídicas fixadas pelo TST a respeito do tema:

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA - DONA DA OBRA - APLICAÇÃO DA OJ 191 DA


SbDI-1 LIMITADA À PESSOA FÍSICA OU MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
I) A exclusão de responsabilidade solidária ou subsidiária por obrigação
trabalhista a que se refere a Orientação Jurisprudencial 191 da SDI-1 do TST
não se restringe à pessoa física ou micro e pequenas empresas, compreende

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 11


igualmente empresas de médio e grande porte e entes públicos (decidido por
unanimidade);
II) A excepcional responsabilidade por obrigações trabalhistas prevista na parte
final da Orientação Jurisprudencial 191, por aplicação analógica do artigo 455 da
CLT, alcança os casos em que o dono da obra de construção civil é construtor
ou incorporador e, portanto, desenvolve a mesma atividade econômica do
empreiteiro (decidido por unanimidade);
III) Não é compatível com a diretriz sufragada na Orientação Jurisprudencial 191
da SDI-1 do TST jurisprudência de Tribunal Regional do Trabalho que amplia a
responsabilidade trabalhista do dono da obra, excepcionando apenas ‘a pessoa
física ou micro e pequenas empresas, na forma da lei, que não exerçam atividade
econômica vinculada ao objeto contratado’ (decidido por unanimidade);
IV) Exceto ente público da Administração Direta e Indireta, se houver
inadimplemento das obrigações trabalhistas contraídas por empreiteiro que
contratar, sem idoneidade econômico-financeira, o dono da obra responderá
subsidiariamente por tais obrigações, em face de aplicação analógica do artigo
455 da CLT e culpa in elegendo (decidido por maioria, vencido o Ministro Márcio
Eurico Vitral Amaro)
(TST, SBDI-I, IRR – 190-53.2015.5.03.0090, Rel. Min. João Oreste Dalazen, j.
11.05.2017). (Grifamos).

Assim sendo, figurando o ente público como dono da obra, não é possível sua
responsabilização pelas obrigações de cunho trabalhista não adimplidas pela
empresa contratada, uma vez que o objeto do negócio jurídico celebrado foi a
realização da obra.

+ 3) Serviços não contínuos ou contratados por escopo (Lei nº 14.133/2021,


art. 6º, XVII):

XVII - serviços não contínuos ou contratados por escopo: aqueles que impõem ao
contratado o dever de realizar a prestação de um serviço específico em período
predeterminado, podendo ser prorrogado, desde que justificadamente, pelo
prazo necessário à conclusão do objeto;

+ 4) Serviços técnicos especializados (Lei nº 14.133/2021, art. 6º, XVIII):

XVIII - serviços técnicos especializados de natureza predominantemente


intelectual: aqueles realizados em trabalhos relativos a:
a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos e projetos executivos;
b) pareceres, perícias e avaliações em geral;
c) assessorias e consultorias técnicas e auditorias financeiras e tributárias;
d) fiscalização, supervisão e gerenciamento de obras e serviços;
e) patrocínio ou defesa de causas judiciais e administrativas;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 12


f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico;
h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e ensaios de campo e
laboratoriais, instrumentação e monitoramento de parâmetros específicos de
obras e do meio ambiente e demais serviços de engenharia que se enquadrem
na definição deste inciso;

+ 5) Contrato de facção (SÚMULA Nº 331, IV, DO TST. INAPLICABILIDADE):

O contrato de facção é uma avença de natureza civil ou comercial em que o


contratante pactua, com terceiro, o fornecimento de produtos prontos e
acabados, sem interferir na produção. Como se pode notar, o contrato de facção
não tem como objetivo a prestação de serviços propriamente, nem muito menos
o fornecimento de mão de obra, mas sim a aquisição de um produto pronto e
acabado (refeições prontas, por exemplo). Vejamos a posição do TST:

“RECURSO DE REVISTA. RITO SUMARÍSSIMO. INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI


Nº 13.467/2017. TRANSCENDÊNCIA. Considerando a possibilidade de a decisão
recorrida contrariar entendimento consubstanciado na Súmula nº 331, IV,
verifica-se a transcendência política, nos termos do artigo 896-A, § 1º, II, da CLT.
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. EMPRESA PRIVADA. CONTRATO DE FACÇÃO.
SÚMULA Nº 331, IV. INAPLICABILIDADE. PROVIMENTO. O entendimento pacífico
no âmbito deste Tribunal Superior, por meio da Súmula nº 331, IV, é de que
o tomador de serviços é responsável subsidiário pela satisfação das verbas
trabalhistas devidas ao empregado, no caso de não pagamento pelo prestador
de serviços, o empregador. Na hipótese, contudo, não houve a prestação de
serviços do reclamante em favor da segunda reclamada, apta a caracterizar
a indevida intermediação de mão-de-obra, mas sim a celebração de contrato
de natureza nitidamente comercial (contrato de facção), por meio do qual a
empresa contratada se comprometia a fornecer para a empresa contratante
os produtos por ela fabricados, o que, a toda evidência, afasta a incidência da
referida súmula. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento”
(TST, 4ª Turma, RR-20509-71.2018.5.04.0781, Relator Ministro Guilherme Augusto
Caputo Bastos, DEJT 05/03/2021).

+ 6) Contrato de economato (SÚMULA Nº 331, IV, DO TST. INAPLICABILIDADE):

Contrato de economato é a cessão onerosa para uso de espaço público pela


empresa contratada, empregadora do reclamante, para exercício de suas
próprias atividades, nas dependências da entidade pública. Trata-se de concessão
temporária do direito de uso de espaço físico para exploração econômica
(cantina/restaurante, por exemplo), mediante pagamento de aluguel. Vejamos a
posição do TST:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 13


“RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014.
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. CONTRATO DE ECONOMATO. CESSÃO
ONEROSA DE ESPAÇO FÍSICO. SÚMULA 126/TST. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA
331/TST. O Tribunal Regional consignou que a segunda reclamada (SESC), por
meio de contrato de cessão onerosa, disponibilizou espaço físico em suas
dependências à primeira reclamada (Barra Café LTDA.), a fim de que explorasse
atividades de restaurante e lanchonete. Por se tratar de contrato de cessão
onerosa de espaço físico (e não contrato de prestação de serviços), o Tribunal a
quo avaliou se existia efetiva subordinação entre as reclamadas, com o intuito de
verificar se ocorreu terceirização de mão-de-obra nos moldes da Súmula 331/TST.
A Corte de origem concluiu que era mínima a ingerência da segunda reclamada
nas atividades desempenhadas pela primeira reclamada, de modo que a Súmula
331/TST seria inaplicável à controvérsia. Nesse sentido, há precedentes do TST.
À luz da jurisprudência desta Corte Superior, e com base nos registros fáticos
efetuados pelo TRT - insuscetíveis de revisão por esta instância extraordinária
(Súmula 126/TST) -, deve ser mantida a conclusão de que inexistiu terceirização e,
consequentemente, de que a Súmula 331/TST é inaplicável ao presente caso. Por
fim, ressalta-se que não se identifica a existência de dissenso jurisprudencial, visto
que os arestos apresentados são inespecíficos, nos termos da Súmula 296/TST.
Recurso de revista não conhecido” (TST, 2ª Turma RR- 10265-38.2016.5.03.0084,
Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT 18/08/2017).

1.1.4. Poder-dever de gestão por parte da empresa contratada

É da empresa contratada o poder-dever para a gestão,


contratação e remuneração dos terceirizados, sendo vedada à
entidade contratante as situações previstas no art. 48 da nova
Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021):

Art. 48. Poderão ser objeto de execução por terceiros as atividades materiais
acessórias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituam área
de competência legal do órgão ou da entidade, vedado à Administração ou a
seus agentes, na contratação do serviço terceirizado:
I - indicar pessoas expressamente nominadas para executar direta ou
indiretamente o objeto contratado;
II - fixar salário inferior ao definido em lei ou em ato normativo a ser
pago pelo contratado;
III - estabelecer vínculo de subordinação com funcionário de empresa
prestadora de serviço terceirizado;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 14


IV - definir forma de pagamento mediante exclusivo reembolso dos salários
pagos;
V - demandar a funcionário de empresa prestadora de serviço terceirizado
a execução de tarefas fora do escopo do objeto da contratação;
VI - prever em edital exigências que constituam intervenção indevida da
Administração na gestão interna do contratado.
Parágrafo único. Durante a vigência do contrato, é vedado ao contratado
contratar cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, de dirigente do órgão ou entidade contratante ou
de agente público que desempenhe função na licitação ou atue na fiscalização
ou na gestão do contrato, devendo essa proibição constar expressamente do
edital de licitação.

1.1.5. Posição do STF sobre responsabilidade subsidiária

Vídeo 3 – Terceirização x responsabilidade da Administração –


Parte 3

O Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento Ação Declaratória de


Constitucionalidade nº 16, afirmou a constitucionalidade do art. 71 da Lei nº
8.666/1993 e assentou a impossibilidade de se responsabilizar a Administração
Pública com fundamento no mero inadimplemento das obrigações trabalhistas
devidas pela empresa contratada.

Mais adiante, no julgamento do Recurso Extraordinário 760.931 (26/04/2017), o STF


fixou a seguinte tese:

“Tema 246 - Responsabilidade subsidiária da Administração Pública por encargos


trabalhistas gerados pelo inadimplemento de empresa prestadora de serviço.
O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não
transfere automaticamente ao Poder Público contratante a responsabilidade
pelo seu pagamento, seja em caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art.
71, § 1º, da Lei nº 8.666/93.”

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 15


1.1.6. Atual posição do TST sobre responsabilidade subsidiária

Em observância a tal julgamento de efeitos vinculantes e eficácia contra todos, o Eg.


Tribunal Superior do Trabalho alterou a redação da Súmula nº 331:

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE


I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se
o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho
temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).
II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não
gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta, indireta
ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de
vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como
a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que
inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,
implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas
obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também
do título executivo judicial.
V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem
subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua
conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993,
especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e
legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade
não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas
pela empresa regularmente contratada.
VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as
verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral.

1.1.7. Ônus da prova

DE QUEM SERIA O ÔNUS DE COMPROVAÇÃO DA FALTA DE FISCALIZAÇÃO?

Embora tenha sido objeto de intenso debate no julgamento do RE 760931 (Tema


246), o STF não fixou de quem seria o ônus da prova a respeito da comprovação da
falta/falha de fiscalização do contrato.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 16


Em face da ausência de fixação de tese acerca do ônus probatório, há oscilação
da jurisprudência acerca do tema.

TST

TST – SBDI – ônus da prova do Poder Público: “(...) é do Poder Público, tomador dos
serviços, o ônus de demonstrar que fiscalizou de forma adequada o contrato de prestação
de serviços (...)” (E-RR-925-07.2016.5.05.0281, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao, DEJT 22/05/2020).

4ª Turma do TST - Ônus da prova – Reclamante “(...) Tanto a 1ª quanto a 2ª Turmas do


STF têm reiteradamente cassado decisões do TST que reconhecem a responsabilidade
subsidiária da administração pública por inversão do ônus da prova em favor do
empregado quanto à fiscalização do cumprimento das obrigações trabalhistas pela
empresa terceirizada. 2. Em que pesem tais decisões, que deixam claro o teor dos
precedentes do STF sobre a matéria, emanados da ADC 16 e do RE 760.931, a SBDI-
1, em sua composição completa, reafirmou sua posição no sentido do ônus da prova
da administração pública (E-RR-925-07.2016.5.05.0281, Rel. Min. Cláudio Mascarenhas
Brandão, de 12/12/19; E-ED-RR 62-40.2017.5.20.0009, Rel. Min. Márcio Eurico Vitral
Amaro, de 10/09/20), em claro confronto com o decidido pelo Supremo Tribunal Federal.
(....) 6. Assim, merece provimento os recursos de revista dos 2º e 3º Reclamados, na medida
em que não cabe o reconhecimento da responsabilidade subsidiária de ente público com
lastro apenas na inadimplência da prestadora de serviços ou na culpa presumida, com
atribuição do onus probandi da fiscalização (ou da não culpa) à Administração Pública
(...)” (RR-100579-28.2017.5.01.0059, 4ª Turma, Relator Ministro Ives Gandra Martins
Filho, DEJT 04/06/2021).

STF

Agravo regimental na reclamação. 2. Direito do Trabalho. 3. Terceirização.


Responsabilidade subsidiária da Administração Pública. Art. 71, § 1º, da
Lei nº 8.666/93. 4. Violação ao decidido na ADC 16 e ao teor da Súmula
Vinculante 10. Configuração. Reclamação julgada procedente. 5. Impossibilidade
de responsabilização automática da Administração Pública pelo inadimplemento
das obrigações trabalhistas. Necessidade de comprovação inequívoca do seu
comportamento reiteradamente negligente. Ausência de fiscalização ou falta
de documentos que a comprovem não são suficientes para caracterizar
a responsabilização. 6. Inversão do ônus da prova em desfavor da
Administração Pública. Impossibilidade. Precedentes de ambas as Turmas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 17


7. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 8. Agravo
regimental não provido. (STF, 2ª Turma, AG. REG. NA RECLAMAÇÃO 40.505 SÃO
PAULO, relator: Ministro GILMAR MENDES, data do julgamento: 17/11/2020, data
da publicação: DJE nº 19, divulgado em 01/02/2021)

O Plenário do STF reconheceu a repercussão geral do tema tratado no Recurso


Extraordinário nº 1.298.647 (Tema 1118):

Ônus da prova acerca de eventual conduta culposa na fiscalização das obrigações


trabalhistas de prestadora de serviços, para fins de responsabilização subsidiária
da Administração Pública, em virtude da tese firmada no RE 760.931 (Tema 246).

Estará em julgamento se cabe ao empregado ou ao ente público


contratante comprovar eventual falha na fiscalização das
obrigações trabalhistas.

1.2. Terceirização na Administração e os principais


impactos na legislação federal

Vídeo 4 – Terceirização na Administração e os principais impactos


na legislação federal – parte 1

1.2.1. Nova Lei de Licitações – Lei nº 14.133, de 1º/04/2021


Aspectos gerais:

• em vigor desde 1º/04/2021;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 18


• o contrato cujo instrumento tenha sido assinado antes da entrada em
vigor desta Lei continuará a ser regido de acordo com as regras previstas
na legislação revogada (Lei nº 8.666/1993);
• até 1º/04/2023, a Administração poderá optar por licitar ou contratar
diretamente de acordo com a nova Lei de Licitações ou de acordo com
as Leis nº 8.666/1993 e nº 10.520/2002 e com os arts. 1º a 47-A da Lei nº
12.462/2011;
• a opção escolhida (nova Lei de Licitações ou leis anteriores) deverá ser
indicada expressamente no edital ou no aviso ou instrumento de
contratação direta, vedada a aplicação combinada desta Lei com as
anteriores;
• CPC - Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou
tribunal, os procedimentos judiciais: IV - em que se discuta a aplicação
do disposto nas normas gerais de licitação e contratação a que se refere
o inciso XXVII do caput do art. 22 da Constituição Federal.  (Incluído pela
Lei nº 14.133, de 2021)

Quanto aos seus principais dispositivos relacionados ao tema, o art. 50 prescreve o


dever do contratado em apresentar documentos que comprovem o cumprimento
das obrigações trabalhistas e com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) em relação aos empregados diretamente envolvidos na execução do contrato,
quando solicitado pela Administração:

Art. 50. Nas contratações de serviços com regime de dedicação exclusiva de


mão de obra, o contratado deverá apresentar, quando solicitado pela
Administração, sob pena de multa, comprovação do cumprimento das
obrigações trabalhistas e com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) em relação aos empregados diretamente envolvidos na execução do
contrato, em especial quanto ao:
I - registro de ponto;
II - recibo de pagamento de salários, adicionais, horas extras, repouso semanal
remunerado e décimo terceiro salário;
III - comprovante de depósito do FGTS;
IV - recibo de concessão e pagamento de férias e do respectivo adicional;
V - recibo de quitação de obrigações trabalhistas e previdenciárias dos empregados
dispensados até a data da extinção do contrato;
VI - recibo de pagamento de vale-transporte e vale-alimentação, na forma prevista
em norma coletiva.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 19


O devido e regular acompanhamento periódico da execução
contratual pode resultar na economia de milhões de reais, advinda
do afastamento de condenações em nível de responsabilidade
subsidiária das entidades públicas.

O acompanhamento e a fiscalização da execução contratual consistem na verificação


da conformidade da prestação dos serviços e da alocação dos recursos necessários,
de forma a assegurar o perfeito cumprimento do contrato, e deverão ser exercidos
pelo gestor do contrato, que poderá ser auxiliado pelo fiscal técnico e pelo fiscal
administrativo do contrato.

Obrigatoriedade, por parte do fiscal do contrato, das anotações


de todas as ocorrências durante a execução contratual.

Por sua vez, os arts. 117 e 118, ambos da Lei nº 14.133/2021, dispõem acerca das
normas direcionadas ao acompanhamento e à fiscalização da execução do contrato:

Art. 117. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada


por  1 (um) ou mais fiscais do contrato, representantes da Administração
especialmente designados conforme requisitos estabelecidos no art. 7º desta Lei,
ou pelos respectivos substitutos, permitida a contratação de terceiros para
assisti-los e subsidiá-los com informações pertinentes a essa atribuição.
§ 1º O fiscal do contrato anotará em registro próprio todas as ocorrências
relacionadas à execução do contrato, determinando o que for necessário
para a regularização das faltas ou dos defeitos observados.
§ 2º O fiscal do contrato informará a seus superiores, em tempo hábil para
a adoção das medidas convenientes, a situação que demandar decisão ou
providência que ultrapasse sua competência.
§ 3º O fiscal do contrato será auxiliado pelos órgãos de assessoramento jurídico
e de controle interno da Administração, que deverão dirimir dúvidas e subsidiá-lo
com informações relevantes para prevenir riscos na execução contratual.
§ 4º Na hipótese da contratação de terceiros prevista no  caput  deste
artigo, deverão ser observadas as seguintes regras:
I - a empresa ou o profissional contratado assumirá responsabilidade civil
objetiva pela veracidade e pela precisão das informações prestadas, firmará
termo de compromisso de confidencialidade e não poderá exercer atribuição
própria e exclusiva de fiscal de contrato;
II - a contratação de terceiros não eximirá de responsabilidade o fiscal do contrato,
nos limites das informações recebidas do terceiro contratado.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 20


Art. 118. O contratado deverá manter preposto aceito pela Administração
no local da obra ou do serviço para representá-lo na execução do
contrato.

Quantos aos requisitos de habilitação, como informações e documentos para


demonstrar a capacidade do licitante de realizar o objeto da licitação, temos: I -
jurídica; II - técnica; III - fiscal, social e trabalhista; e IV - econômico-financeira.

Destacam-se as seguintes obrigações:

+ a) na fase de habilitação, a exigência de cláusula no edital que exija dos licitantes


a declaração de que suas propostas econômicas compreendem a integralidade
dos custos para atendimento dos direitos trabalhistas assegurados na
Constituição Federal, nas leis trabalhistas, nas normas infralegais, nas convenções
coletivas de trabalho e nos termos de ajustamento de conduta vigentes na data
de entrega das propostas;
+
+ b) as habilitações fiscal, social e trabalhista serão aferidas mediante a verificação,
entre outros, dos seguintes requisitos: a regularidade relativa à Seguridade Social
e ao FGTS, que demonstre o cumprimento dos encargos sociais instituídos por
lei, e a regularidade perante a Justiça do Trabalho.

Vejamos:

Art. 63. Na fase de habilitação das licitações serão observadas as seguintes


disposições:
[...]
§ 1º Constará do edital de licitação cláusula que exija dos licitantes, sob pena
de desclassificação, declaração de que suas propostas econômicas
compreendem a integralidade dos custos para atendimento dos direitos
trabalhistas assegurados na Constituição Federal, nas leis trabalhistas,
nas normas infralegais, nas convenções coletivas de trabalho e nos
termos de ajustamento de conduta vigentes na data de entrega das
propostas.
[...]

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 21


Art. 68. As habilitações fiscal, social e trabalhista serão aferidas mediante a
verificação dos seguintes requisitos:
[...]
IV - a regularidade relativa à Seguridade Social e ao FGTS, que demonstre
cumprimento dos encargos sociais instituídos por lei;
V - a regularidade perante a Justiça do Trabalho;

Por sua vez, quanto às garantias, temos o seguinte:

Art. 96. A critério da autoridade competente, em cada caso, poderá ser exigida,
mediante previsão no edital, prestação de garantia nas contratações de obras,
serviços e fornecimentos.

Caberá ao contratado optar por uma das seguintes modalidades de garantia:

I - caução;
II - seguro-garantia;
III - fiança bancária.

A nova Lei estabelece que a Administração Pública poderá exigir


caução, fiança bancária ou contratação de seguro-garantia para
a cobertura das verbas rescisórias não pagas pela contratada.

Adiante, importante destacar que a norma do antigo artigo 71, § 1º, da Lei nº
8.666/1993 agora encontra assento no artigo 121, § 1º, da nova Lei, com a
seguinte redação:

Art. 121. Somente o contratado será responsável pelos encargos trabalhistas,


previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.
§ 1º A inadimplência do contratado em relação aos encargos trabalhistas,
fiscais e comerciais não transferirá à Administração a responsabilidade pelo
seu pagamento e não poderá onerar o objeto do contrato nem restringir a
regularização e o uso das obras e das edificações, inclusive perante o registro de
imóveis, ressalvada a hipótese prevista no § 2º deste artigo.
§ 2º Exclusivamente nas contratações de serviços contínuos com regime
de dedicação exclusiva de mão de obra, a Administração responderá

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 22


solidariamente pelos encargos previdenciários e subsidiariamente pelos
encargos trabalhistas se comprovada falha na fiscalização do
cumprimento das obrigações do contratado.
§ 3º Nas contratações de serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva
de mão de obra, para assegurar o cumprimento de obrigações trabalhistas pelo
contratado, a Administração, mediante disposição em edital ou em contrato,
poderá, entre outras medidas:
I - exigir caução, fiança bancária ou contratação de seguro-garantia com
cobertura para verbas rescisórias inadimplidas;
II - condicionar o pagamento à comprovação de quitação das obrigações
trabalhistas vencidas relativas ao contrato;
III - efetuar o depósito de valores em conta vinculada;
IV - em caso de inadimplemento, efetuar diretamente o pagamento
das verbas trabalhistas, que serão deduzidas do pagamento devido ao
contratado;
V - estabelecer que os valores destinados a férias, a décimo terceiro salário, a
ausências legais e a verbas rescisórias dos empregados do contratado que
participarem da execução dos serviços contratados serão pagos pelo contratante
ao contratado somente na ocorrência do fato gerador.

Já quanto ao recebimento do objeto do contrato, dentre outras disposições, os


serviços apenas poderão ser recebidos definitivamente, por servidor ou comissão
designada pela autoridade competente, mediante termo detalhado que comprove
o atendimento das exigências contratuais:

Art. 140. O objeto do contrato será recebido:


I - em se tratando de obras e serviços:
a) provisoriamente, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização,
mediante termo detalhado, quando verificado o cumprimento das exigências de
caráter técnico;
b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade
competente, mediante termo detalhado que comprove o atendimento das
exigências contratuais;

Nas hipóteses de extinção dos contratos, chama a atenção a possibilidade de sua


extinção quando verificado o desatendimento das determinações regulares

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 23


emitidas pela autoridade designada para acompanhar e fiscalizar sua execução
(fiscal do contrato):

Art. 137. Constituirão motivos para extinção do contrato:


I - não cumprimento ou cumprimento irregular de normas editalícias ou de
cláusulas contratuais, de especificações, de projetos ou de prazos;
II - desatendimento das determinações regulares emitidas pela autoridade
designada para acompanhar e fiscalizar sua execução ou por autoridade
superior;
[...]
§ 4º Os emitentes das garantias previstas no  art. 96 desta Lei  deverão ser
notificados pelo contratante quanto ao início de processo administrativo para
apuração de descumprimento de cláusulas contratuais.

Na parte das sanções a serem aplicadas, deve ser destacado que, aplicada a
multa, e se as indenizações cabíveis forem superiores ao valor de pagamento
eventualmente devido pela Administração ao contratado, além da perda
desse valor, a diferença será descontada da garantia prestada ou será cobrada
judicialmente:

Art. 156. Serão aplicadas ao responsável pelas infrações administrativas


previstas nesta Lei as seguintes sanções:
I - advertência;
II - multa;
III - impedimento de licitar e contratar;
IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar.
[...]
§ 8º Se a multa aplicada e as indenizações cabíveis forem superiores
ao valor de pagamento eventualmente devido pela Administração ao
contratado, além da perda desse valor, a diferença será descontada da
garantia prestada ou será cobrada judicialmente.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 24


1.2.2. Disposições do Decreto nº 9.507/2018

Vídeo 5 – Terceirização na Administração e os principais impactos


na legislação federal – Parte 2

O Decreto nº 9.507/2018 dispõe sobre a execução indireta, mediante contratação,


de serviços da administração pública federal direta, autárquica e fundacional.

Destacam-se as disposições que mencionam as cláusulas contratuais obrigatórias:

Art. 8º Os contratos de que trata este decreto conterão cláusulas que:


I - exijam da contratada declaração de responsabilidade exclusiva sobre a
quitação dos encargos trabalhistas e sociais decorrentes do contrato;
II - exijam a indicação de preposto da contratada para representá-la na
execução do contrato;
III - estabeleçam que o pagamento mensal pela contratante ocorrerá
após a comprovação do pagamento das obrigações trabalhistas,
previdenciárias e para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
- FGTS pela contratada relativas aos empregados que tenham participado da
execução dos serviços contratados;
IV - estabeleçam a possibilidade de rescisão do contrato por ato unilateral
e escrito do contratante e a aplicação das penalidades cabíveis, na
hipótese de não pagamento dos salários e das verbas trabalhistas, e
pelo não recolhimento das contribuições sociais, previdenciárias e para
com o FGTS;
[...]
VI - exijam a prestação de garantia, inclusive para pagamento de
obrigações de natureza trabalhista, previdenciária e para com o FGTS,
em valor correspondente a cinco por cento do valor do contrato, limitada ao
equivalente a dois meses do custo da folha de pagamento dos empregados da
contratada que venham a participar da execução dos serviços contratados, com
prazo de validade de até noventa dias, contado da data de encerramento do
contrato; e
VII - prevejam a verificação pela contratante, do cumprimento das
obrigações trabalhistas, previdenciárias e para com o FGTS, em relação
aos empregados da contratada que participarem da execução dos serviços

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 25


contratados, em especial, quanto:
a) ao pagamento de salários, adicionais, horas extras, repouso semanal
remunerado e décimo terceiro salário;
b) à concessão de férias remuneradas e ao pagamento do respectivo adicional;
c) à concessão do auxílio-transporte, auxílio-alimentação e auxílio-saúde, quando
for devido;
d) aos depósitos do FGTS; e
e) ao pagamento de obrigações trabalhistas e previdenciárias dos empregados
dispensados até a data da extinção do contrato.
§ 1º Na hipótese de não ser apresentada a documentação comprobatória
do cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e para
com o FGTS de que trata o inciso VII do caput deste artigo, a contratante
comunicará o fato à contratada e reterá o pagamento da fatura mensal,
em valor proporcional ao inadimplemento, até que a situação esteja
regularizada.
§ 2º Na hipótese prevista no § 1º e em não havendo quitação das
obrigações por parte da contratada, no prazo de até quinze dias, a
contratante poderá efetuar o pagamento das obrigações diretamente
aos empregados da contratada que tenham participado da execução dos
serviços contratados.
§ 3º O sindicato representante da categoria do trabalhador deve ser
notificado pela contratante para acompanhar o pagamento das verbas
referidas nos § 1º e § 2º.
§ 4º O pagamento das obrigações de que trata o § 2º, caso ocorra, não configura
vínculo empregatício ou implica a assunção de responsabilidade por quaisquer
obrigações dele decorrentes entre a contratante e os empregados da contratada.

Importante ainda transcrever os seguintes dispositivos:

Art. 9º Os contratos de prestação de serviços continuados que envolvam


disponibilização de pessoal da contratada de forma prolongada ou contínua
para consecução do objeto contratual exigirão:
I - apresentação pela contratada do quantitativo de empregados
vinculados à execução do objeto do contrato de prestação de serviços, a
lista de identificação destes empregados e respectivos salários;
II - o cumprimento das obrigações estabelecidas em acordo, convenção,
dissídio coletivo de trabalho ou equivalentes das categorias abrangidas
pelo contrato; e

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 26


III - a relação de benefícios a serem concedidos pela contratada a
seus empregados, que conterá, no mínimo, o auxílio-transporte e o auxílio-
alimentação, quando esses forem concedidos pela contratante.
[...]
Art. 11. A gestão e a fiscalização de que trata o art. 10 competem ao
gestor da execução dos contratos, auxiliado pela fiscalização técnica,
administrativa, setorial e pelo público usuário e, se necessário, poderá
ter o auxílio de terceiro ou de empresa especializada, desde que justificada a
necessidade de assistência especializada.

1.2.3. Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017

A Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017 dispõe sobre as regras e diretrizes


do procedimento de contratação de serviços sob o regime de execução indireta no
âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional.

Especialmente quanto aos documentos que deverão ser entregues aos fiscais (kit
fiscal), deve ser mencionado o art. 42, § 4º, da IN SEGES/MP nº 05/2017:

§ 4º Para o exercício da função, os fiscais deverão receber cópias dos documentos


essenciais da contratação pelo setor de contratos, a exemplo dos Estudos
Preliminares, do ato convocatório e seus anexos, do contrato, da proposta da
contratada, da garantia, quando houver, e demais documentos indispensáveis
à fiscalização.

Para o exercício da função, os fiscais receberão do setor de


contratos cópias dos documentos essenciais da contratação, tais
como:

1) Estudos Preliminares;

2) ato convocatório e seus anexos;

3) contrato;

4) proposta da contratada;

5) garantia, quando houver; e

6) demais documentos indispensáveis à fiscalização.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 27


Atenção: a diferença entre gestor e fiscal de contratos está prevista no art. 40
da IN SEGES/MP nº 05/2017:

Art. 40. O conjunto de atividades de que trata o artigo anterior compete


ao gestor da execução dos contratos, auxiliado pela fiscalização técnica,
administrativa, setorial e pelo público usuário, conforme o caso, de acordo
com as seguintes disposições:
I - Gestão da Execução do Contrato: é a coordenação das atividades
relacionadas à fiscalização técnica, administrativa, setorial e pelo
público usuário, bem como dos atos preparatórios à instrução processual
e ao encaminhamento da documentação pertinente ao setor de contratos
para formalização dos procedimentos quanto aos aspectos que envolvam a
prorrogação, alteração, reequilíbrio, pagamento, eventual aplicação de sanções,
extinção dos contratos, dentre outros;
II - Fiscalização Técnica: é o acompanhamento com o objetivo de avaliar
a execução do objeto nos moldes contratados e, se for o caso, aferir se
a quantidade, qualidade, tempo e modo da prestação dos serviços estão
compatíveis com os indicadores de níveis mínimos de desempenho estipulados
no ato convocatório, para efeito de pagamento conforme o resultado, podendo
ser auxiliado pela fiscalização de que trata o inciso V deste artigo;
III - Fiscalização Administrativa: é o acompanhamento dos aspectos
administrativos da execução dos serviços nos contratos com regime de
dedicação exclusiva de mão de obra quanto às obrigações previdenciárias,
fiscais e trabalhistas, bem como quanto às providências tempestivas nos casos
de inadimplemento;
IV - Fiscalização Setorial: é o acompanhamento da execução do contrato nos
aspectos técnicos ou administrativos quando a prestação dos serviços ocorrer
concomitantemente em setores distintos ou em unidades desconcentradas de
um mesmo órgão ou entidade;

As atividades de gestão e fiscalização da execução contratual


devem ser realizadas de forma preventiva, rotineira e sistemática,
podendo ser exercidas por servidores, por equipe de fiscalização
ou por apenas um servidor.  

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 28


O Anexo VIII contém normas direcionadas para a fiscalização
técnica e administrativa. https://www.in.gov.br/materia/-/asset_
publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/20239255/do1-2017-05-26-
instrucao-normativa-n-5-de-26-de-maio-de-2017-20237783

Para o exercício da função, o gestor e os fiscais deverão ser


cientificados, expressamente, da indicação e das respectivas
atribuições antes da formalização do ato de designação.

No art. 46, temos uma obrigação direcionada ao fiscal dos contratos, para registrar
todas as ocorrências verificadas na execução contratual:

Art. 46. As ocorrências acerca da execução contratual deverão ser


registradas durante toda a vigência da prestação dos serviços, cabendo
ao gestor e fiscais, observadas suas atribuições, a adoção das providências
necessárias ao fiel cumprimento das cláusulas contratuais, conforme o
disposto nos §§ 1º e 2º do art. 67 da Lei nº 8.666, de 1993.
§ 1º O registro das ocorrências, as comunicações entre as partes e demais
documentos relacionados à execução do objeto poderão ser organizados em
processo de fiscalização, instruído com os documentos de que trata o § 4º do art.
42.
§ 2º As situações que exigirem decisões e providências que ultrapassem a
competência do fiscal deverão ser registradas e encaminhadas ao gestor do
contrato que as enviará ao superior em tempo hábil para a adoção de medidas
saneadoras.

Quem pode ser fiscal do contrato?

Vídeo 6 – Terceirização na Administração e os principais impactos


na legislação federal – Parte 3

A indicação do fiscal do contrato deve recair sobre servidor público pertencente aos
quadros da Administração Pública contratante (terceirizado não pode ser fiscal de
contrato). O Tribunal de Contas da União assim já decidiu:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 29


É irregular a nomeação de terceiro estranho à Administração para exercer
a fiscalização de  contratos,  porquanto o art. 67 da Lei 8.666/1993 permite a
contratação de terceiros para auxiliar o fiscal, mas não para atuar como tal.
(TCU, Acórdão 124/2020-Plenário, Relator: WEDER DE OLIVEIRA)

Sobre o tema, temos as seguintes disposições na Lei nº 8.666/1993:

Art.  67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por


um representante da Administração especialmente designado, permitida a
contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes
a essa atribuição.

Já na Lei nº 14.133/2021, temos o seguinte:

Art. 7º Caberá à autoridade máxima do órgão ou da entidade, ou a quem as normas


de organização administrativa indicarem, promover gestão por competências e
designar agentes públicos para o desempenho das funções essenciais à execução
desta Lei que preencham os seguintes requisitos:
I - sejam, preferencialmente, servidor efetivo ou empregado público dos quadros
permanentes da Administração Pública;
II - tenham atribuições relacionadas a licitações e contratos ou possuam formação
compatível ou qualificação atestada por certificação profissional emitida por
escola de governo criada e mantida pelo poder público; e
III - não sejam cônjuge ou companheiro de licitantes ou contratados habituais
da Administração nem tenham com eles vínculo de parentesco, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, ou de natureza técnica, comercial, econômica,
financeira, trabalhista e civil.
§ 1º A autoridade referida no caput deste artigo deverá observar o princípio
da segregação de funções, vedada a designação do mesmo agente público para

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 30


atuação simultânea em funções mais suscetíveis a riscos, de modo a reduzir a
possibilidade de ocultação de erros e de ocorrência de fraudes na respectiva
contratação.
[...]
Art. 117. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada
por 1 (um) ou mais fiscais do contrato, representantes da Administração
especialmente designados conforme requisitos estabelecidos no art. 7º
desta Lei, ou pelos respectivos substitutos, permitida a contratação de terceiros
para assisti-los e subsidiá-los com informações pertinentes a essa atribuição.

O servidor pode recusar designações, a exemplo de ser fiscal do contrato ou


participar de comissão de Processo Administrativo Disciplinar (PAD)? Não, por
não ser uma ordem ilegal.

Vejamos o que diz a Lei nº 8.112/1990:

Art. 116. São deveres do servidor


[...]
III - observar as normas legais e regulamentares;
IV  -  cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente
ilegais;

Na Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017, temos a seguinte disposição:

Art. 43. O encargo de gestor ou fiscal não pode ser recusado pelo
servidor, por não se tratar de ordem ilegal, devendo expor ao superior
hierárquico as deficiências e limitações técnicas que possam impedir o
diligente cumprimento do exercício de suas atribuições, se for o caso.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 31


RECUSA À NOMEAÇÃO DE FISCAL – ENTENDIMENTO DO TCU:

TCU – Acórdão nº 2.917/2010 – Plenário


Relatório
5.7.7. O servidor designado para exercer o encargo de fiscal não pode
oferecer recusa, porquanto não se trata de ordem ilegal. Entretanto, tem a
opção de expor ao superior hierárquico as deficiências e limitações que possam
impedi-lo de cumprir diligentemente suas obrigações. A opção que não se aceita
é uma atuação a esmo (com imprudência, negligência, omissão, ausência de
cautela e de zelo profissional), sob pena de configurar grave infração à norma
legal (itens 31/3 do voto do Acórdão nº 468/2007-P). (Relator: Valmir Campelo;
Data do Julgamento: 03/11/2010)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 32


Módulo

2 Fase pré-contratual

Unidade 1 - Planejamento da contratação


1.1. Pesquisa de preços segundo a IN SEGES/ME nº
65/2021

Compreender os aspectos práticos de tópicos relevantes de


procedimentos da fase pré-contratual que impactam diretamente
a execução de contratos com dedicação exclusiva de mão de obra.

1.1.1. Introdução

Vídeo 7 – Pesquisa de Preços

Um problema crítico a ser superado na condução dos certames licitatórios públicos


é a pesquisa de preços, peça essencial que compõe o processo administrativo.

A nova Lei de Licitações e contratos estabelece procedimentos de formalização e


critérios para a pesquisa de preços, parâmetros e metodologia para determinação
do preço estimado em processo licitatório: 

O artigo 23 da citada Lei define que o valor previamente estimado da contratação


deverá ser compatível com os valores praticados pelo mercado, considerados
os preços constantes de bancos de dados públicos e as quantidades a serem
contratadas, observadas a potencial economia de escala e as peculiaridades do local
de execução do objeto.

O § 1º do mesmo artigo diz:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 33


§ 1º No processo licitatório para aquisição de bens e contratação de serviços
em geral, conforme regulamento, o valor estimado será definido com base no
melhor preço aferido por meio da utilização dos seguintes parâmetros, adotados
de forma combinada ou não:
I - composição de custos unitários menores ou iguais à mediana do item
correspondente no painel para consulta de preços ou no banco de preços em
saúde disponíveis no Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP);
II - contratações similares feitas pela Administração Pública, em execução ou
concluídas no período de 1 (um) ano anterior à data da pesquisa de preços,
inclusive mediante sistema de registro de preços, observado o índice de atualização
de preços correspondente;
III - utilização de dados de pesquisa publicada em mídia especializada, de tabela
de referência formalmente aprovada pelo Poder Executivo federal e de sítios
eletrônicos especializados ou de domínio amplo, desde que contenham a data e
hora de acesso;
IV - pesquisa direta com no mínimo 3 (três) fornecedores, mediante solicitação
formal de cotação, desde que seja apresentada justificativa da escolha desses
fornecedores e que não tenham sido obtidos os orçamentos com mais de 6 (seis)
meses de antecedência da data de divulgação do edital;
V - pesquisa na base nacional de notas fiscais eletrônicas, na forma de regulamento.

Em 8 de julho de 2021, o Ministério da Economia publicou no Diário Oficial da União


a Instrução Normativa SEGES nº 65, que regulamenta o procedimento administrativo
para realização de pesquisa de preços para aquisição de bens e contratação de
serviços em geral, no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e
fundacional, com base na nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021).

O disposto na IN SEGES/ME nº 65/2021 não se aplica às contratações de obras e


serviços de engenharia.

Os órgãos e entidades da administração pública estadual, distrital ou municipal, direta


ou indireta, quando executarem recursos da União decorrentes de transferências
voluntárias, deverão observar os procedimentos de que trata IN SEGES/ME nº
65/2021.

A pesquisa de preços não pode ser vista como mera formalidade no processo
de contratação, pois existem riscos muito grandes de sobrepreço, de proposta
inexequível, de licitação deserta, de licitação fracassada e de não atendimento da
demanda.
Destaca-se o Acórdão 2.463/2008 TCU: “A ampla pesquisa de mercado não pode

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 34


ser considerada mais um documento formal que comporá o processo, trata-se de
procedimento que visa orientar o gestor na redução e otimização das despesas
públicas, buscando a transparência e a efetividade na gerência da coisa pública”.

1.1.2. Funções da pesquisa de preços


A pesquisa de preços consiste em procedimento prévio e indispensável para a
verificação de existência de recursos suficientes para cobrir despesas decorrentes
de contratação pública. Serve de base, também, para confronto e exame de
propostas em licitação e estabelece o preço justo de referência que a Administração
está disposta a contratar, devendo constar no edital o critério de aceitabilidade dos
preços unitário e global. (Manual de Orientação de Pesquisa de Preços – STJ. 2014).
Destacam-se, ainda, outras funções, tais como:

• informar o preço estimado e justo que a Administração está disposta a


contratar;

• definir a modalidade licitatória;

• identificar jogo de planilhas;

• conferir maior segurança na análise da exequibilidade da proposta ou


de itens da proposta;

• impedir a contratação acima do preço praticado no mercado;

• servir de parâmetro objetivo para julgamento das ofertas apresentadas;

• garantir a seleção da proposta mais vantajosa para a Administração.

Lacerda (2012), avaliou alguns pregões eletrônicos, realizados em 2011, com o objeto
de aquisição de resmas de papel A4. O preço de referência, entre todos os certames
avaliados, foi de aproximadamente R$ 46,00, e os valores finais homologados
variaram entre R$ 6,80 e R$ 15,82, variação de 130% dos valores adjudicados,
porcentagem que é ainda maior em comparação com o valor estimado.

O que se pode concluir até agora é que: quanto maior o valor estimado, quanto
menos refletir o valor de mercado, maior será o preço adjudicado; quanto menor
for a variação de entre o valor estimado e o valor adjudicado, melhor refletido estárá
o valor de mercado (considerando uma pesquisa de mercado bem realizada).

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 35


1.1.3. Elementos da pesquisa de preços

A IN SEGES/ME nº 65/2021, no seu art. 3º, dispõe que a pesquisa de preços será
materializada em documento que conterá, no mínimo:

I - descrição do objeto a ser contratado;

II - identificação do(s) agente(s) responsável(is) pela pesquisa ou, se for o


caso, da equipe de planejamento;

III - caracterização das fontes consultadas;

IV - série de preços coletados;

V - método estatístico aplicado para a definição do valor estimado;

VI - justificativas para a metodologia utilizada, em especial para a


desconsideração de valores inconsistentes, inexequíveis ou
excessivamente elevados, se aplicável;

VII - memória de cálculo do valor estimado e documentos que lhe dão


suporte; e

VIII - justificativa da escolha dos fornecedores, no caso da pesquisa direta


de que dispõe o inciso IV do art. 5º.

1.1.4. Parâmetros da pesquisa de preços

A IN SEGES/ME nº 65/2021, art. 5º, elenca cinco parâmetros, a serem empregados de


forma combinada ou não:

I - composição de custos unitários menores ou iguais à mediana do


item correspondente nos sistemas oficiais de governo, como Painel
de Preços ou banco de preços em saúde, observado o índice de
atualização de preços correspondente;

II - contratações similares feitas pela Administração Pública, em execução


ou concluídas no período de 1 (um) ano anterior à data da pesquisa de
preços, inclusive mediante sistema de registro de preços, observado o
índice de atualização de preços correspondente;

III - dados de pesquisa publicada em mídia especializada, de tabela de


referência formalmente aprovada pelo Poder Executivo federal e de
sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo, desde que
atualizados no momento da pesquisa e compreendidos no intervalo

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 36


de até 6 (seis) meses de antecedência da data de divulgação do edital,
contendo a data e a hora de acesso;

IV - pesquisa direta com, no mínimo, 3 (três) fornecedores, mediante


solicitação formal de cotação, por meio de ofício ou e-mail, desde que
seja apresentada justificativa da escolha desses fornecedores e que
não tenham sido obtidos os orçamentos com mais de 6 (seis) meses
de antecedência da data de divulgação do edital;

V - pesquisa na base nacional de notas fiscais eletrônicas, desde que


a data das notas fiscais esteja compreendida no período de até 1
(um) ano anterior à data de divulgação do edital, conforme disposto
no Caderno de Logística, elaborado pela Secretaria de Gestão da
Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do
Ministério da Economia.

Aliás, é valido ressaltar o teor do art. 6º, § 6º, da IN SEGES/ME nº 65/2021, que
determina que, quando o preço estimado for obtido com base única no inciso I do
art. 5º, o valor não poderá ser superior à mediana do item nos sistemas consultados.

1.1.5. Conclusão
O Plenário do TCU, por meio do Acórdão 1108/2007, entendeu não ser admissível
que a pesquisa de preços feita pela entidade seja destituída de juízo crítico acerca
da consistência dos valores levantados.

É indispensável que a Administração avalie, de forma crítica, a pesquisa de preços


obtida junto ao mercado, em especial quando houver grande variação entre os
valores apresentados.

Quanto pior a descrição do que se pretende comprar, pior a coerência dos preços
de referência (Santos, 2015). A descrição do produto ou serviço inconsistente e
muito vaga compromete a realização de uma pesquisa bem-feita e está diretamente
relacionada com a realização de uma pesquisa de preços ruim e imprecisa.

Para adequada coleta de preços, é imprescindível a especificação adequada do objeto.


Isso inclui a correta avaliação do mercado fornecedor, as opções disponíveis, marcas
e modelos representativos, condições comuns de fornecimento, especialmente
quando houver diversos fabricantes. O desempenho da pesquisa de preços é uma
função direta da qualidade da especificação do objeto.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 37


1.2. Planilha de custos

Vídeo 8 – Planilha de Custos e Formação de Preço

1.2.1. Introdução

Para dar apoio ao administrador, a formação do preço a ser contratado deve


ser balizada por meio de planilhas de composição de custos, conforme a Lei nº
8.666/1993 e a Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017 e, mais recentemente,
a nova Lei de Licitações e Contratos, Lei nº 14.133/2021, e a Instrução Normativa
SEGES/ME nº 65/2021.

A Lei nº 8.666/1993 dispõe que:

Art. 7º As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços


obedecerão ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte sequência:
I - projeto básico;
II - projeto executivo;
III - execução das obras e serviços.
[...]
§ 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando:
[...]
II – existir orçamento detalhado em planilhas que expressem a composição de
todos os seus custos unitários;

A Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017, que dispõe sobre as regras e diretrizes


do procedimento de contratação de serviços sob o regime de execução indireta
no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional,
promoveu a inclusão do planejamento como fase obrigatória que antecede a
licitação, consistindo nas etapas de elaboração dos Estudos Técnicos Preliminares
(ETP), Gerenciamento de Riscos (GR) e Termo de Referência (TR).

A definição trazida pela IN SEGES/MP nº 05/2017, no Anexo I, de planilha de custos


e formação de preços é a seguinte:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 38


XV - PLANILHA DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS: documento a ser utilizado
para detalhar os componentes de custo que incidem na formação do preço dos
serviços, podendo ser adequado pela Administração em função das peculiaridades
dos serviços a que se destina, no caso de serviços continuados.

A SEGES esclarece que a planilha de custos e formação de preços constante na IN


SEGES/MP nº 05/2017 é um modelo referencial, construído com o intuito de auxiliar
os gestores com informações sobre a composição do preço a ser contratado,
bem como na análise regular dos preços ofertados pelos licitantes (preço global).
A referida IN traz também as diretrizes específicas a cada elemento do Termo de
Referência ou Projeto Básico:

2.9 Estimativa de preços e preços referenciais:


[...]
b) No caso de serviços com regime de dedicação exclusiva de mão de obra, o
custo estimado da contratação deve contemplar o valor máximo global e mensal
estabelecido em decorrência da identificação dos elementos que compõem o
preço dos serviços, definidos da seguinte forma:
b.1. por meio do preenchimento da planilha de custos e formação de
preços, observados os custos dos itens referentes ao serviço, podendo ser
motivadamente dispensada naquelas contratações em que a natureza
do seu objeto torne inviável ou desnecessário o detalhamento dos custos
para aferição da exequibilidade dos preços praticados; (grifo nosso)

Além das diretrizes gerais para elaboração do ato convocatório, a análise da


exequibilidade da proposta de preços nos serviços continuados com dedicação
exclusiva da mão de obra deverá ser realizada com o auxílio da planilha de custos e
formação de preços, a ser preenchida pelo licitante em relação à sua proposta final.
Observa-se que as planilhas de composição de custos e formação de preços são
imprescindíveis para uma contratação pública. Na fase de planejamento, é por
intermédio de cada planilha que a Administração estima quanto vai pagar.

A Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017 adota o seguinte modelo (estrutura) de


planilha de custo, previsto no Anexo VII-D, que pode ser adaptado às necessidades
do órgão e da contratação:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 39


• Módulo 1 - Composição da Remuneração

• Módulo 2 - Encargos e Benefícios Anuais, Mensais e Diários

• Módulo 3 - Provisão para Rescisão

• Módulo 4 - Custo de Reposição do Profissional Ausente

• Módulo 5 - Insumos Diversos

• Módulo 6 - Custos Indiretos, Tributos e Lucro

O modelo de planilha de custos e todas as previsões dizem respeito às condições


mínimas necessárias à realização de um contrato para prestação de serviços
terceirizados, com dedicação exclusiva de mão de obra, pelo período de um ano,
Caso o contrato venha a ser prorrogado, todas as rubricas deverão ser novamente
apreciadas, à luz da legislação trabalhista e previdenciária, bem como da ocorrência
ou não dos indicadores previstos, para definir se serão considerados custos
renováveis ou não renováveis.

1.2.2. Aspectos relevantes para o preenchimento da planilha de


custos

Para o correto preenchimento da planilha de custos e, consequentemente, a correta


estimativa dos custos de uma licitação, é necessário ficar atento aos normativos
legais, à Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) vigente à época da elaboração do
orçamento estimativo, ao valor da tarifa de transporte, à necessidade de realização
de horas extraordinárias, à necessidade de intrajornada, às especificações e aos
quantitativos dos insumos, aos tipos dos regimes tributários, entre outros aspectos.
Logo, temos o seguinte cenário a ser considerado:

Î Módulo 1 - Remuneração
• Piso salarial: CCT, remuneração do mercado ou salário mínimo

• Adicional de periculosidade: CLT (art. 193)

• Adicional de insalubridade: CCT ou CLT (art. 192)

• Adicional noturno: CCT ou CLT (art. 73)

• Adicional noturno de hora reduzida: CCT

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 40


1 Composição da Remuneração Percentual (%) Valor (R$)

A Salário-Base
B Adicional de Periculosidade
C Adicional de Insalubridade
D Adicional Noturno
E Adicional de Hora Noturna Reduzida
F Outros (especificar)
Total

Figura 1: Composição da remuneração.

Î Submódulo 2.1 – 13º Salário, Férias e Adicional de Férias


• Décimo terceiro: provisionamento contábil

• Férias: percentual conta vinculada ou provisionamento contábil

• Adicional de férias: percentual conta vinculada ou provisionamento


contábil

2.1 13º Salário, Férias e Adicional de Férias Percentual (%) Valor (R$)

A Décimo terceiro salário


B Férias e adicional de férias
Total

Figura 2: 13º salário, férias e adicional de férias.

Î Submódulo 2.2 - GPS, FGTS e outras contribuições


Todos os itens: previsão legal

2.2 GPS, FGTS e outras contribuições (%) Valor (R$)

A INSS 20,00%
B Salário Educação 2,50%
C SAT (RAT X FAP)
D SESC/SESI 1,50%
E SENAI/SENAC 1,00%
F SEBRAE 0,60%
G INCRA 0,20%
H FGTS 8,00%
Total
Figura 3: Encargos Previdenciários (GPS), Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) e outras contribuições.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 41


Î Submódulo 2.3 - Benefícios mensais e diários
• Transporte: tarifa municipal

• Auxílio alimentação: CCT

• Benefício social: CCT

• Seguro de vida: CCT ou valores da licitação

• Auxílio funeral: CCT ou valores da licitação

2.3 Benefícios Mensais e Diários Valor (R$)

A Transporte
B Auxílio Alimentação
C Plano de Saúde
D Seguro de Vida
E Auxílio Funeral
F Outros
Total

Figura 4: Benefícios Mensais e Diários.

Î Módulo 3 - Provisão para Rescisão


• API: estimativa da empresa (valores praticados na licitação)

• Incidência do FGTS sobre API: valor matemático

• APT: provisionamento contábil

• Incidência do Submódulo 2.2 sobre o APT: valor matemático

• Multa do FGTS sobre API e APT: percentual conta vinculada

3 Provisão para Rescisão Percentual (%) Valor (R$)

A Aviso Prévio Indenizado


Incidência do FGTS sobre o Aviso Prévio
B
Indenizado
C Aviso Prévio Trabalhado

D Incidência de GPS e FGTS e outras


contribuições sobre o Aviso Prévio Trabalhado

E Multa do FGTS e contribuição social


sobre o Aviso Prévio Trabalhado
Total

Figura 5: Provisão para Rescisão.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 42


Î Submódulo 4.1 - Substituto nas Ausências Legais
• Férias: nenhum percentual ou provisionamento contábil

• Ausências legais: estimativa da empresa (valores praticados na licitação)

• Licença-paternidade: estimativa da empresa (valores praticados na


licitação)

• Ausência por acidente de trabalho: estimativa da empresa (valores


praticados na licitação)

• Afastamento maternidade: estimativa da empresa (valores praticados


na licitação)

4.1 Substituto nas Ausências Legais Percentual (%) Valor (R$)

A Férias
B Ausências Legais
C Licença-Paternidade
D Ausência por acidente de trabalho
E Afastamento Maternidade
F Outros
Total

Figura 6: Substituto nas Ausências Legais.

+ Submódulo 4.2 - Substituto na Intrajornada


• Substituto na intrajornada: metodologia de cálculo

4.2 Substituto na Intrajornada Valor (R$)

A Substituto na Intrajornada
Total

Figura 7: Substituto na Intrajornada.

Î Módulo 5 – Insumos Diversos


• Uniforme: valores praticados na licitação e/ou consulta a fornecedores

• Materiais: valores praticados na licitação, consulta a fornecedores e/ou


internet

• Equipamentos: consulta a fornecedores e/ou internet

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 43


5 Insumos Diversos Valor (R$)

A Uniformes
B Materiais
C Equipamentos
Total

Figura 8: Insumos Diversos.

Î Módulo 6 – Custos Indiretos, Tributos e Lucro


• Custos indiretos: percentual definido pela Administração

• Lucro: percentual definido pela Administração

• Tributos federais:

• PIS: 0,65% (lucro presumido) ou 1,65% (lucro real)

• COFINS: 3,00% (lucro presumido) ou 7,60% (lucro real)

• Imposto local: ver legislação local

6 Custos Indiretos, Tributos e Lucro Percentual (%) Valor (R$)

A Custos Indiretos
B Lucro
C Tributos
C.1 Tributos Federais
PIS
Confins
CPRB
C.2 Tributos Federais
ISS
Total

Figura 9: Custos Indiretos, Tributos e Lucro.

O Portal de Compras do Governo Federal publicou orientações


gerais para planilha de custos e formação de preços. Lá está
disponível uma versão eletrônica em arquivo editável contendo
o modelo de planilha de custos e formação de preços constante
do Anexo VII-D da Instrução Normativa SEGES/MP nº 5, de 26

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 44


de maio de 2017: https://www.gov.br/compras/pt-br/agente-
publico/orientacoes-e-procedimentos/11-orientacoes-gerais-
para-planilha-de-custos-e-formacao-de-precos

O autopreenchimento do Módulo 1 e do Submódulo 2.3 somente é possível a partir


da identificação da CCT da categoria profissional a ser contratada pela Administração.
Para cada categoria profissional abrangida pela prestação de serviços deve ser
preenchida uma planilha de custos. Assim, é possível estimar o preço mensal de
cada profissional e, consequentemente, conhecer o preço global da contratação.

O conhecimento do correto instrumento coletivo que rege cada categoria


profissional a ser alocada na prestação dos serviços é de fundamental importância
para determinar o correto encargo da Administração. Um erro comum de gestores
de contratos é pensar que a Administração deve indicar o instrumento coletivo no
edital de contratação com base no enquadramento sindical do profissional a ser
alocado, quando, na verdade, o instrumento adequado depende do enquadramento
sindical individual da empresa que prestará os serviços.

Ainda pertinente ao tema, importante reproduzir o entendimento do TCU reproduzido


no Informativo de Licitações e Contratos nº 369:

1. Na elaboração de sua planilha de formação de preços, o licitante pode utilizar


norma coletiva de trabalho diversa daquela adotada pelo órgão ou entidade
como parâmetro para o orçamento estimado da contratação, tendo em vista
que o enquadramento sindical do empregador é definido por sua atividade
econômica preponderante, e não em função da atividade desenvolvida pela
categoria profissional que prestará os serviços mediante cessão de mão de obra
(art. 581, § 2º, da CLT e art. 8º, inciso II, da Constituição Federal).

1.2.3. Conclusão

Para a seleção do fornecedor, as planilhas são documentos obrigatórios, pois


serão preenchidas pela licitante para a composição de seus preços com base nos
parâmetros estabelecidos na fase de planejamento. As planilhas do vencedor da
licitação serão base para futuros pleitos de repactuação, reajuste ou revisão de
preços.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 45


Por fim, é importante que cada órgão ou entidade contratante regulamente
internamente o modelo da planilha de custos a ser adotado nas contratações de
serviços com dedicação exclusiva de mão de obra, assim como defina a metodologia
e a memória de cálculo a serem utilizadas na elaboração do orçamento estimativo e
estabeleça o respectivo acompanhamento da execução contratual.

1.3. Requisitos de habilitação social, trabalhista,


segundo a Lei nº 14.133/2021, e requisitos de
habilitação, segundo o art. 4º da Lei nº 6.019/1974
1.3.1. Introdução
A fase de habilitação encontra-se disciplinada nos artigos 27 a 33 da Lei nº 8.666/1993
e nos artigos 62 a 70 da Lei nº 14.133/2021 (nova Lei de Licitações).

Vamos nos ater ao que dispõem os artigos da Lei nº 14.133/2021 sobre a fase de
habilitação, principalmente o art. 68.

O art. 62 estabelece o conjunto de informações e documentos necessários para


demonstrar a capacidade do licitante de realizar o objeto da licitação:

Art. 62. A habilitação é a fase da licitação em que se verifica o conjunto de


informações e documentos necessários e suficientes para demonstrar a
capacidade do licitante de realizar o objeto da licitação, dividindo-se em:
I - jurídica;
II - técnica;
III - fiscal, social e trabalhista;
IV - econômico-financeira.

A nova Lei de Licitações, no art. 68, ao tratar do tema da habilitação fiscal, social
e trabalhista das empresas, não trouxe muitas mudanças em relação à Lei nº
8.666/1993, porém destacamos a inclusão do nome social ao tipo de habilitação. A
seguir, observaremos os aspectos mais importantes.

No art. 68 foram definidos limites para as condições de habilitação fiscal, social e


trabalhista. A documentação referente, conforme o caso, consistirá em:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 46


Art. 68. As habilitações fiscal, social e trabalhista serão aferidas mediante a
verificação dos seguintes requisitos:
I - a inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica (CNPJ);
II - a inscrição no cadastro de contribuintes estadual e/ou municipal, se houver,
relativo ao domicílio ou sede do licitante, pertinente ao seu ramo de atividade e
compatível com o objeto contratual;
III - a regularidade perante a Fazenda federal, estadual e/ou municipal do
domicílio ou sede do licitante, ou outra equivalente, na forma da lei;
IV - a regularidade relativa à Seguridade Social e ao FGTS, que demonstre
cumprimento dos encargos sociais instituídos por lei;
V - a regularidade perante a Justiça do Trabalho;
VI - o cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal.
§ 1º Os documentos referidos nos incisos do caput deste artigo poderão ser
substituídos ou supridos, no todo ou em parte, por outros meios hábeis a
comprovar a regularidade do licitante, inclusive por meio eletrônico.
§ 2º A comprovação de atendimento do disposto nos incisos III, IV e V do caput
deste artigo deverá ser feita na forma da legislação específica.

Podemos verificar a semelhança com o art. 29 da Lei nº 8.666/1993, porém houve a


incorporação da exigência da Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT) e da
declaração de cumprimento do disposto no inciso XXXIIII do art. 7º da Constituição
Federal.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social:
[...]
XXXIII  - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 20, de 1998)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 47


1.3.2. As certidões de regularidade e sua verificação por meio
eletrônico

Conforme estabelece o § 2º do art. 68 da Lei nº 14.133/2021, a comprovação das


exigências de regularidade fiscal, social e trabalhista deve ocorrer nos moldes legais.
Esse parágrafo faz referência aos incisos III (perante a Fazenda federal, estadual e/
ou municipal), IV (perante a Seguridade Social e ao FGTS) e V (perante a Justiça do
Trabalho) do caput.

Atualmente, quase todas as certidões de regularidade fiscal são obtidas pela internet.
Os licitantes poderão imprimir as respectivas documentações exigidas no art. 68 da
Lei nº 14.133/2021 pela internet e apresentá-las em processos licitatórios.

É dever jurídico e inarredável que a Administração verifique a autenticidade


dos documentos apresentados, inclusive os de origem eletrônica (internet). A
Administração também tem que observar o prazo de validade dos mesmos, em
estrita observância ao disposto no art. 7º da Lei nº 10.520/2002:

Art. 7º Quem, convocado dentro do prazo de validade da sua proposta, não


celebrar o contrato, deixar de entregar ou apresentar documentação falsa
exigida para o certame, ensejar o retardamento da execução de seu objeto, não
mantiver a proposta, falhar ou fraudar na execução do contrato, comportar-se
de modo inidôneo ou cometer fraude fiscal, ficará impedido de licitar e contratar
com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios e, será descredenciado no
SICAF, ou nos sistemas de cadastramento de fornecedores a que se refere o inciso
XIV do art. 4º desta Lei, pelo prazo de até 5 (cinco) anos, sem prejuízo das multas
previstas em edital e no contrato e das demais cominações legais. (Grifo e negrito
nosso).

Cabe ressaltar o que dita o § 1º do art. 68 da Lei nº 14.133/2021, o qual aduz que os
documentos referidos nos incisos do caput desse artigo poderão ser substituídos ou
supridos, no todo ou em parte, por outros meios hábeis a comprovar a regularidade
do licitante, inclusive por meio eletrônico.

Nesse diapasão, é legal e legítimo que o pregoeiro ou a comissão responsável pela


condução da licitação averigue se alguma certidão de regularidade fiscal, social
ou trabalhista tem impropriedade, diligencie de imediato o endereço eletrônico
da entidade responsável pela emissão e verifique a situação real do licitante,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 48


constatando, para fins de habilitação, a verdadeira condição fática/jurídica do
licitante.

1.3.3. Lei nº 14.133/2021, art. 68: regularidade e quitação

O art. 68 da Lei nº 14.133/2021 dispõe sobre a habilitação fiscal, social e trabalhista, e


não sobre a quitação, que é conceito diverso. O que deve ser verificado é se a licitante
está regular, e não se está quite perante o fisco. Um exemplo são as situações em
que o débito é parcelado e o licitante paga regularmente suas parcelas. Aqui ele está
regular, mas não quitou o débito. Outro exemplo é quando o licitante opta por um
dos Programas de Recuperação Fiscal (REFIS) e está em situação regular.

Da mesma forma, o § 2º do artigo 642-A da Consolidação das Leis do Trabalho preceitua


que, “verificada a existência de débitos garantidos por penhora suficiente ou com
exigibilidade suspensa, será expedida Certidão Positiva de Débitos Trabalhistas em
nome do interessado com os mesmos efeitos da CNDT”. A rigor, nessa mesma linha
de pensamento, o Tribunal de Contas da União (TCU) editou a seguinte Súmula nº
283:

Para fim de habilitação, a Administração Pública não deve exigir dos licitantes a
apresentação de certidão de quitação de obrigações fiscais e sim prova de sua
regularidade.

Ressaltamos que parte da doutrina entende que a prova da regularidade fiscal só


deveria incidir em relação aos tributos pertinentes ao objeto da licitação. Isto é, se a
Administração está contratando a prestação de serviço, as exigências habilitatórias
deveriam se limitar às certidões de regularidade municipal e às certidões federais,
não a estadual, visto que os impostos estaduais não incidem diretamente sobre
serviço.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) teve o seguinte entendimento sobre a questão


acima:

‘[...] a cláusula do Edital que, “in casu”, se afirma descumprida (5.5.1.), entremeada
da expressão “se for o caso”, só pode ser interpretada no sentido de que, a prova

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 49


da inscrição cadastral (perante as fazendas estadual e municipal) somente se
faz necessária se o proponente for destas (Fazendas) contribuintes, porquanto a
lei somente admite previsão de exigência se ela for qualificável, em juízo lógico,
como indispensável à consecução do fim.

No entanto, o STJ proferiu interpretação distinta em outro momento:

A Lei n. 8.666/93 exige prova de regularidade fiscal perante todas as fazendas,


Federal, estadual e Municipal, independentemente da atividade do licitante.

Cabe lembrar que o inciso II do art. 68 da Lei nº 14.133/2021 exige a prova de inscrição
no cadastro de contribuintes estadual e/ou municipal. O inciso III do mesmo artigo
requer a regularidade perante Fazenda federal, estadual e/ou municipal. Note-se
que o legislador utilizou as conjunções adicional e disjuntiva “e/ou”.

Diante do exposto, podemos concluir que a Administração deve tomar suas decisões
conforme o caso, o que significa que a regra não é exigir, em todas as situações,
ambas as inscrições e regularidades estadual e municipal.

Adicionalmente, o art. 193 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código


Tributário Nacional (CTN) estabelece o seguinte:

Art. 193. Salvo quando expressamente autorizado por lei, nenhum departamento
da administração pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, ou dos
Municípios, ou sua autarquia, celebrará contrato ou aceitará proposta em
concorrência pública sem que o contratante ou proponente faça prova da
quitação de todos os tributos devidos à Fazenda Pública interessada, relativos à
atividade em cujo exercício contrata ou concorre.

Por derradeiro, concluímos que as certidões de regularidade fiscal, também com


fulcro no CTN, devem ser referentes ao objeto da licitação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 50


Porém, em decisão recente o TCU editou o Acórdão nº 2.185/2020, do Plenário,
trazendo um novo critério:

[...] em licitação realizada por órgão federal e com recursos da União não se deve
exigir regularidade com a Fazenda municipal.

Como visto, o art. 68 da Lei nº 14.133/2021 trouxe novidades acerca do tema em


sua redação. Devemos ficar atentos às orientações do TCU, e que as mesmas sejam
consolidadas em prol da segurança jurídica.

1.3.4. Requisitos de habilitação, segundo o art. 4º da Lei nº 6.019/1974

Estas são as alterações que a Lei nº 13.467/2017 (reforma trabalhista) promoveu no


art. 4º da Lei nº 6.019/1974:

Art. 4º-A. Considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita pela


contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade
principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua
capacidade econômica compatível com a sua execução.
[…]
Art. 4º-C. São asseguradas aos empregados da empresa prestadora de serviços
a que se refere o art. 4º-A desta Lei, quando e enquanto os serviços, que podem
ser de qualquer uma das atividades da contratante, forem executados nas
dependências da tomadora, as mesmas condições:
I – relativas a:
a) alimentação garantida aos empregados da contratante, quando oferecida em
refeitórios;
b) direito de utilizar os serviços de transporte;
c) atendimento médico ou ambulatorial existente nas dependências da contratante
ou local por ela designado;
d) treinamento adequado, fornecido pela contratada, quando a atividade o exigir.
II – sanitárias, de medidas de proteção à saúde e de segurança no trabalho e de
instalações adequadas à prestação do serviço.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 51


§ 1º Contratante e contratada poderão estabelecer, se assim entenderem, que
os empregados da contratada farão jus a salário equivalente ao pago aos
empregados da contratante, além de outros direitos não previstos neste artigo.
§ 2º Nos contratos que impliquem mobilização de empregados da contratada em
número igual ou superior a 20% (vinte por cento) dos empregados da contratante,
esta poderá disponibilizar aos empregados da contratada os serviços de
alimentação e atendimento ambulatorial em outros locais apropriados e com
igual padrão de atendimento, com vistas a manter o pleno funcionamento dos
serviços existentes.

1.4. Cláusulas obrigatórias em contratos, segundo a Lei nº


14.133/2021 e o Decreto nº 9.507/2018
Os contratos administrativos de serviços contínuos com dedicação exclusiva de
mão de obra consistem na execução indireta de “atividades materiais acessórias,
instrumentais ou complementares aos assuntos que constituam área de competência
legal do órgão ou da entidade”, nos termos do art. 48 da Lei nº 14.133/2021 (nova Lei
de Licitações e Contratos Administrativos).

Nesse cenário, a Portaria nº 433, de 27 de dezembro de 2018, do Ministério da


Economia, elenca uma série de serviços cuja execução preferencial ocorrerá por
meio da execução indireta, isto é, mediante a atividade de terceirização.

São exemplos comuns, nos termos do art. 1º da referida Portaria:

I - alimentação;
[...]
VII - conservação e jardinagem;
VIII - copeiragem;
[...]
XIV - limpeza;
XV - manutenção de prédios e instalações, incluindo montagem, desmontagem,
manutenção, recuperação e pequenas produções de bens móveis;
[...]
XIX - reprografia, plotagem, digitalização e atividades afins;
XX - secretariado, incluindo o secretariado executivo;
XXI - segurança, vigilância patrimonial e brigada de incêndio;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 52


XXII - serviços de escritório e atividades auxiliares de apoio à gestão de
documentação, incluindo manuseio, digitação ou digitalização de documentos e
a tramitação de processos em meios físicos ou eletrônicos (sistemas de protocolo
eletrônico);
XXIII - serviços de tecnologia da informação e prestação de serviços de informação;

Assim, após a realização do procedimento licitatório, a Administração Pública


celebra contrato administrativo, cujas cláusulas obrigatórias estão previstas no art.
92 da Lei nº 14.133/2021. No entanto, em se tratando de contratos administrativos
de serviços contínuos com dedicação exclusiva de mão de obra, são necessárias as
regras previstas no Decreto nº 9.507/2018.

Antes de avançar nessa análise, é preciso destacar a cláusula prevista no inciso V do


art. 92 da Lei nº 14.133/2021, em razão de sua importância prática no dia a dia da
atividade administrativa.

Art. 92. São necessárias em todo contrato cláusulas que estabeleçam:


[...]
V - o preço e as condições de pagamento, os critérios, a data-base e a
periodicidade do reajustamento de preços e os critérios de atualização
monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento;
[...]
X - o prazo para resposta ao pedido de repactuação de preços, quando for o
caso;

No nosso caso, em razão da natureza do contrato administrativo, isto é, com


dedicação exclusiva de mão de obra, a repactuação é o instrumento adequado
para as situações relacionadas com o equilíbrio econômico-financeiro do contrato
administrativo.

A Lei nº 14.133/2021, em seu art. 6º, LIX, apresenta o conceito de repactuação.


Vejamos:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 53


Repactuação: forma de manutenção do equilíbrio econômico-financeiro
de contrato utilizada para serviços contínuos com regime de dedicação
exclusiva de mão de obra ou predominância de mão de obra, por meio da
análise da variação dos custos contratuais, devendo estar prevista no edital com
data vinculada à apresentação das propostas, para os custos decorrentes do
mercado, e com data vinculada ao acordo, à convenção coletiva ou ao dissídio
coletivo ao qual o orçamento esteja vinculado, para os custos decorrentes da
mão de obra; (g.n.)

Importante reiterar que a repactuação somente será utilizada nos contratos


administrativos de serviços contínuos com dedicação exclusiva de mão de obra,
conforme se observa no conceito apresentado e na regra prevista no § 4º do art. 92
da Lei nº 14.133/2021.

Art. 92. São necessárias em todo contrato cláusulas que estabeleçam:


[...]
§ 4º Nos contratos de serviços contínuos, observado o interregno mínimo de 1
(um) ano, o critério de reajustamento de preços será por:
[...]
II - repactuação, quando houver regime de dedicação exclusiva de mão de obra ou
predominância de mão de obra, mediante demonstração analítica da variação
dos custos.
O instituto da repactuação de preços aplica-se apenas a contratos de serviços
continuados prestados com dedicação exclusiva da mão de obra.
(Acórdão 1488/2016-Plenário, Relator: VITAL DO RÊGO, ÁREA: Contrato
Administrativo, TEMA: Repactuação, SUBTEMA: Cabimento, Outros indexadores:
Serviços contínuos, Cessão de mão de obra, Publicado: - Informativo de
Licitações e Contratos nº 290 de 28/06/2016; - Boletim de Jurisprudência nº 130
de 27/06/2016)

A Lei nº 14.133/2021 dispõe que “Nos contratos para serviços contínuos com regime
de dedicação exclusiva de mão de obra ou com predominância de mão de obra, o prazo
para resposta ao pedido de repactuação de preços será preferencialmente de 1 (um) mês,
contado da data do fornecimento da documentação prevista no § 6º do art. 135 desta Lei”.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 54


Desse modo, há um dever legal imposto à Administração Pública consistente na
observância do prazo para resposta ao pedido de repactuação protocolado pela
contratada.

Nesse cenário, a lei apresenta um prazo regra de 1 (um) mês, posto que utiliza a
expressão preferencialmente. Isso quer dizer que, desde que devidamente motivado,
a Administração Pública poderá fixar, no contrato, prazo para resposta ao pedido de
repactuação da contratada, devendo observar o previsto no § 6º do artigo 135 da Lei
nº 14.133/2021:

Art. 135. Os preços dos contratos para serviços contínuos com regime de
dedicação exclusiva de mão de obra ou com predominância de mão de obra serão
repactuados para manutenção do equilíbrio econômico-financeiro, mediante
demonstração analítica da variação dos custos contratuais, com data vinculada:
[...]
§ 6º A repactuação será precedida de solicitação do contratado, acompanhada
de demonstração analítica da variação dos custos, por meio de apresentação
da planilha de custos e formação de preços, ou do novo acordo, convenção ou
sentença normativa que fundamenta a repactuação.

Numa outra perspectiva, tais contratos devem observar o disposto no art. 8º do


Decreto nº 9.507/2018:

Art. 8º Os contratos de que trata este decreto conterão cláusulas que:


I - exijam da contratada declaração de responsabilidade exclusiva sobre a
quitação dos encargos trabalhistas e sociais decorrentes do contrato;
II - exijam a indicação de preposto da contratada para representá-la na execução
do contrato;
III - estabeleçam que o pagamento mensal pela contratante ocorrerá após a
comprovação do pagamento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e para
com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS pela contratada relativas
aos empregados que tenham participado da execução dos serviços contratados;
IV - estabeleçam a possibilidade de rescisão do contrato por ato unilateral e
escrito do contratante e a aplicação das penalidades cabíveis, na hipótese de
não pagamento dos salários e das verbas trabalhistas, e pelo não recolhimento
das contribuições sociais, previdenciárias e para com o FGTS;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 55


V - prevejam, com vistas à garantia do cumprimento das obrigações trabalhistas
nas contratações de serviços continuados com dedicação exclusiva de mão de
obra:
a) que os valores destinados ao pagamento de férias, décimo terceiro salário,
ausências legais e verbas rescisórias dos empregados da contratada que
participarem da execução dos serviços contratados serão efetuados pela
contratante à contratada somente na ocorrência do fato gerador; ou
b) que os valores destinados ao pagamento das férias, décimo terceiro salário e
verbas rescisórias dos empregados da contratada que participarem da execução
dos serviços contratados serão depositados pela contratante em conta vinculada
específica, aberta em nome da contratada, e com movimentação autorizada pela
contratante;
VI - exijam a prestação de garantia, inclusive para pagamento de obrigações de
natureza trabalhista, previdenciária e para com o FGTS, em valor correspondente
a cinco por cento do valor do contrato, com prazo de validade de até noventa
dias, contado da data de encerramento do contrato; e
VII - prevejam a verificação pela contratante, do cumprimento das obrigações
trabalhistas, previdenciárias e para com o FGTS, em relação aos empregados da
contratada que participarem da execução dos serviços contratados, em especial,
quanto:
a) ao pagamento de salários, adicionais, horas extras, repouso semanal
remunerado e décimo terceiro salário;
b) à concessão de férias remuneradas e ao pagamento do respectivo adicional;
c) à concessão do auxílio-transporte, auxílio-alimentação e auxílio-saúde, quando
for devido;
d) aos depósitos do FGTS; e
e) ao pagamento de obrigações trabalhistas e previdenciárias dos empregados
dispensados até a data da extinção do contrato.
§ 1º Na hipótese de não ser apresentada a documentação comprobatória do
cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e para com o FGTS
de que trata o inciso VII do caput deste artigo, a contratante comunicará o fato
à contratada e reterá o pagamento da fatura mensal, em valor proporcional ao
inadimplemento, até que a situação esteja regularizada.
§ 2º Na hipótese prevista no § 1º e em não havendo quitação das obrigações por
parte da contratada, no prazo de até quinze dias, a contratante poderá efetuar
o pagamento das obrigações diretamente aos empregados da contratada que
tenham participado da execução dos serviços contratados.
§ 3º O sindicato representante da categoria do trabalhador deve ser notificado
pela contratante para acompanhar o pagamento das verbas referidas nos § 1º
e § 2º.
§ 4º O pagamento das obrigações de que trata o § 2º, caso ocorra, não configura
vínculo empregatício ou implica a assunção de responsabilidade por quaisquer
obrigações dele decorrentes entre a contratante e os empregados da contratada.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 56


Tais disposições podem ser resumidas utilizando-se os seguintes termos para
caracterizar cada uma das cláusulas contratuais obrigatórias:

A empresa assina documento no qual assume a


Declaração de
responsabilidade exclusiva pela quitação dos encargos
responsabilidade
trabalhistas e sociais decorrentes da execução do
exclusiva
contrato.

A empresa deve indicar preposto que a representará


formalmente junto à contratante. O preposto é o elo
Indicação de preposto entre a contratante e a contratada. É por meio dele que
a Administração demanda, por exemplo, providências
para correção de falhas e ajustes na execução contratual.

A empresa deverá comprovar, mês a mês, o cumprimento


Comprovação
das obrigações trabalhistas, previdenciárias e com o
do pagamento
FGTS, sob pena de não receber os pagamentos dos
de obrigações
valores referentes ao mês de execução dos serviços.

A empresa poderá ter o seu contrato rescindido


Rescisão unilateral unilateralmente pela Administração, caso não esteja
do contrato cumprindo com as suas obrigações trabalhistas,
previdenciárias, sociais e com o FGTS.

Mecanismo para gestão de riscos de descumprimento


Pagamento pelo de obrigações referentes ao pagamento de férias, 13º,
fato gerador ausências legais e verbas rescisórias dos empregados da
contratada.

Mecanismo para gestão de riscos de descumprimento


de obrigações referentes ao pagamento de férias, 13º,
Conta vinculada
ausências legais e verbas rescisórias dos empregados da
contratada.

O contrato deve exigir a prestação de garantias,


pela contratada, para pagamento de obrigações
trabalhistas, previdenciárias e com o FGTS, no caso de
Garantias
inadimplemento da contratada, no percentual de até 5%
sobre o valor do contrato, com validade de até 90 dias
após o encerramento da relação contratual.

A contratante deve verificar se a contratada está cumprindo


Aferição de as suas obrigações trabalhistas, previdenciárias e com
obrigações o FGTS: salários, adicionais, HE, DSR, 13º, férias e 1/3,
trabalhistas auxílio-transporte, auxílio-alimentação, auxílio-saúde e
depósitos do FGTS e verbas rescisórias.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 57


Além dessas cláusulas contratuais obrigatórias, o artigo 9º do Decreto nº 9.507/2018
prescreve algumas providências adicionais que precisam ser observadas, pela
Administração, na gestão e fiscalização dos contratos administrativos de serviços
contínuos com dedicação exclusiva de mão de obra.

Art. 9º Os contratos de prestação de serviços continuados que envolvam


disponibilização de pessoal da contratada de forma prolongada ou contínua
para consecução do objeto contratual exigirão:
I - apresentação pela contratada do quantitativo de empregados vinculados à
execução do objeto do contrato de prestação de serviços, a lista de identificação
destes empregados e respectivos salários;
II - o cumprimento das obrigações estabelecidas em acordo, convenção, dissídio
coletivo de trabalho ou equivalentes das categorias abrangidas pelo contrato; e
III - a relação de benefícios a serem concedidos pela contratada a seus empregados,
que conterá, no mínimo, o auxílio-transporte e o auxílio-alimentação, quando
esses forem concedidos pela contratante.
Parágrafo único. A administração pública não se vincula às disposições
estabelecidas em acordos, dissídios ou convenções coletivas de trabalho que
tratem de:
I - pagamento de participação dos trabalhadores nos lucros ou nos resultados da
empresa contratada;
II - matéria não trabalhista, ou que estabeleçam direitos não previstos em lei, tais
como valores ou índices obrigatórios de encargos sociais ou previdenciários; e
III - preços para os insumos relacionados ao exercício da atividade.

Trata-se de obrigações que precisam ser observadas pela contratada, a fim


de demonstrar que os contratos administrativos estão sendo executados em
observância às regras que buscam assegurar o cumprimento das obrigações
trabalhistas, previdenciárias e com o FGTS.

A contratada deve apresentar uma lista com a relação


Quantitativo de dos terceirizados, contendo a sua identificação, o salário
terceirizados e o quantitativo de empregados vinculado à execução
contratual.
Na execução do contrato devem ser cumpridas as
obrigações trabalhistas previstas no acordo coletivo de
ACT/CCT/Dissídio
trabalho, na convenção coletiva de trabalho ou no dissídio
Coletivo
coletivo vinculados às categorias econômicas responsáveis
pela execução do contrato.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 58


A contratada deve apresentar a relação dos benefícios
Relação dos
concedidos aos terceirizados, sendo, no mínimo, o auxílio-
benefícios
transporte e o auxílio-alimentação.

Por fim, é de bom tom ressaltar que a Administração não se vincula às disposições
estabelecidas em acordo coletivo de trabalho, convenção coletiva de trabalho ou
dissídio coletivo que tratem sobre: (i) “pagamento de participação dos trabalhadores
nos lucros ou nos resultados da empresa contratada”; (ii) “matéria não trabalhista, ou
que estabeleçam direitos não previstos em lei, tais como valores ou índices obrigatórios
de encargos sociais ou previdenciários”; e (iii) “preços para os insumos relacionados
ao exercício da atividade”, nos termos do parágrafo único do art. 9º do Decreto nº
9.507/2018.

Vídeo 9 – Cláusulas obrigatórias – Parte 1

Vídeo 10 – Cláusulas obrigatórias – Parte 2

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 59


Unidade 2 - Gestão de Riscos

Ao final desta unidade, você será capaz de compreender os


mecanismos que podem ser utilizados para a gestão de riscos nos
contratos contínuos com dedicação exclusiva de mão de obra.

2.1. Legislação e normas


A Lei nº 14.133/2021, que dispõe sobre normas gerais de licitações e contratações
públicas, passou a disciplinar mecanismos para a gestão de riscos nos contratos
administrativos contínuos com dedicação exclusiva de mão de obra. Importante
ressaltar que, no âmbito da União, tais instrumentos são utilizados com maior
evidência a partir da IN SEGES/MP nº 05/2017. Não obstante isso, tais práticas
podem consistir em novidades na gestão de contratos na esfera dos Estados e dos
Municípios.

Nesse cenário, a art. 121, § 3º, prevê os instrumentos que podem ser utilizados
pela Administração, nos contratos de serviços contínuos com dedicação exclusiva
de mão de obra, para assegurar o cumprimento das obrigações trabalhistas pela
contratada. Importante destacar que tais mecanismos devem estar previstos no
edital ou no contrato.

Sendo assim, a Administração poderá: (i) exigir caução, fiança bancária ou


contratação de seguro-garantia com cobertura para verbas rescisórias inadimplidas;
(ii) condicionar o pagamento à comprovação de quitação das obrigações trabalhistas
vencidas relativas ao contrato; (iii) efetuar o depósito de valores em conta
vinculada; (iv) em caso de inadimplemento, efetuar diretamente o pagamento das
verbas trabalhistas, que serão deduzidas do pagamento devido ao contratado; (v)
estabelecer que os valores destinados a férias, a décimo terceiro salário, a ausências
legais e a verbas rescisórias dos empregados do contratado que participarem da
execução dos serviços contratados serão pagos pelo contratante ao contratado
somente na ocorrência do fato gerador. É possível adotar outras providências,
desde que previstas no edital ou contrato.

Garantias – art. 96, § 1º, I, II e III


Pagamento condicionado à comprovação de quitação das verbas trabalhistas
Pagamento direto
Conta vinculada
Pagamento pelo fato gerador

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 60


No que diz respeito à utilização da conta vinculada, os valores recolhidos,
mensalmente, serão utilizados para pagamento das seguintes verbas:

13º
Férias
1/3 férias
Encargos Multa FGTS
sobre férias Contribuição
e 13º social

Conta
Vinculada

Figura 10: Conta vinculada

Nesse contexto, a Lei nº 14.133/2021 prescreve uma inovação legislativa relevante,


uma vez que assegura que os valores depositados na conta vinculada são
absolutamente impenhoráveis – art. 121, § 4º.

§ 4º Os valores depositados na conta vinculada a que se refere o inciso III do § 3º


deste artigo são absolutamente impenhoráveis.

Essa disposição é importante, uma vez que é prática comum o recebimento de


ordem judicial expedida pela Justiça do Trabalho para bloquear valores recolhidos
em conta vinculada. Um exemplo ajudará na compreensão.

Imagine que a sua instituição tem um contrato de serviços contínuos com dedicação
exclusiva de mão de obra com a empresa Zeta Licitações. O contrato está sendo
executado de modo regular, com cumprimento das obrigações trabalhistas e
recolhimento mensal dos valores para conta vinculada. Porém, a empresa Zeta
Licitações tem contrato de serviços contínuos com DE com outro ente público.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 61


No entanto, nessa relação contratual há inexecução e débitos trabalhistas não
cumpridos. Em razão disso, os terceirizados entram com reclamação trabalhista
e o juiz determina o bloqueio judicial de contas em nome de Zeta Licitações. No
BACENJUD foi identificada a conta vinculada ao seu contrato. Tais valores foram
bloqueados para pagamento dos débitos trabalhistas de contrato administrativo
com aquela outra instituição pública. Por fim, em razão disso, é possível que, caso
aconteça eventual inadimplemento de obrigações trabalhistas no seu contrato, não
haja recursos financeiros na conta vinculada para o pagamento de tais débitos,
criando um problema a ser gerido em razão da utilização dos recursos para
pagamento de verbas por conta de ordem judicial.

Atualmente, a utilização da conta vinculada segue as regras previstas na IN SEGES/


MP nº 05/2017 e respectivo caderno de logística, cuja leitura recomenda-se.

CONTA-DEPÓSITO VINCULADA - BLOQUEADA PARA MOVIMENTAÇÃO: conta aberta


pela Administração em nome da empresa contratada, destinada exclusivamente
ao pagamento de férias, 13º (décimo terceiro) salário e verbas rescisórias aos
trabalhadores da contratada, não se constituindo em um fundo de reserva,
utilizada na contratação de serviços com dedicação exclusiva de mão de obra.

No que diz respeito à utilização do pagamento pelo fato gerador, os valores


recolhidos, mensalmente, serão utilizados para pagamento das seguintes verbas:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 62


Ausências FATO
13º
Legais GERADOR

Verbas
Rescisórias

Figura 11: Fato Gerador

Atualmente, a utilização do pagamento pelo fato gerador segue as regras previstas


na IN SEGES/MP nº 05/2017 e no respectivo caderno de logística, cuja leitura
recomenda-se.

PAGAMENTO PELO FATO GERADOR: situação de fato ou conjunto de fatos,


prevista na lei ou contrato, necessária e suficiente a sua materialização, que gera
obrigação de pagamento do contratante à contratada.

Um exemplo ajudará a compreender a sistemática do pagamento pelo fato gerador.


Basta imaginar que o pagamento ocorrerá quando a situação efetivamente se
concretizar. Assim, não há recolhimento de valor mensalmente. O pagamento
ocorre à medida que o fato gerador do direito aconteça. Havendo, por exemplo, a
substituição de um terceirizado em virtude deste afastar-se do trabalho pelo prazo
de até 3 dias, em virtude de seu casamento, a empresa apresenta o comprovante
de afastamento e a Administração realiza o pagamento do custo decorrente da
substituição.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 63


2.2. Controle e resultados
Os mecanismos de controle interno podem ser utilizados quando constatado
inadimplemento de obrigação trabalhista, previdenciária e com o FGTS, ou no caso
de suspeita de descumprimento dessas obrigações, nos contratos administrativos
com regime de dedicação exclusiva de mão de obra.

Nessa situação, a Administração realizará o seguinte procedimento, nos termos do


art. 8º, § 1º a § 3º, do Decreto nº 9.507/2018:

Passo 1. Notificação para comprovação do cumprimento.

Passo 2. Retenção do valor proporcional ao inadimplemento.

Passo 3. A retenção será mantida até a regularização da situação.

Passo 4. Aguardar o prazo de 15 dias para comprovação do pagamento.

Passo 5. Certificação de que o prazo decorreu sem a comprovação.

Passo 6. Poderá ser realizado o pagamento direto.

Passo 7. Notificação do sindicato representativo da categoria.

Por fim, é importante destacar que o art. 50 da Lei nº 14.133/2021 determina


que a contratada, sempre que solicitada pela Administração, deverá comprovar o
cumprimento das obrigações trabalhistas e com o FGTS dos terceirizados envolvidos
na execução do contrato.

Desse modo, a Administração dispõe de poderes para o exercício regular da atividade


de fiscalização dos contratos de serviços contínuos com dedicação exclusiva de mão
de obra. É importante que, sempre que houver alguma dúvida a respeito de eventual
inadimplemento da contratada, a fiscalização do contrato faça uso de tais poderes
para demonstrar a efetividade da atuação da Administração, resguardando-se
contra eventual configuração de responsabilidade trabalhista subsidiária.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 64


Nesse cenário, a Administração poderá solicitar os seguintes documentos:

Registro de Ponto

Recibo de pagamento: salários, adicionais, HE, DSR e 13º

Depósitos do FGTS

Recibo de férias e adicional

Recibo de quitação de obrigações trabalhistas e previdenciárias


dos empregados dispensados até a data da extinção do contrato

Recibo de pagamento de vale-transporte e vale-alimentação

Vídeo 11 – Gestão de Riscos – Parte 1

Vídeo 12 – Gestão de Riscos – Parte 2

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 65


Módulo

3 Instrumentos de gestão do contrato

Unidade 1 – Ferramentas de gestão do contrato

Ao final desta unidade, você será capaz de compreender como


ocorre a operacionalização da conta-depósito vinculada –
bloqueada para movimentação e o pagamento direto das
obrigações aos empregados da contratada que tenham
participado da execução dos serviços objeto do contrato,
quando estes não forem adimplidos pela contratada, além de
compreender as exigências sobre a constituição de capital social
mínimo nas empresas de terceirização.

1.1. Conta-depósito vinculada – bloqueada para


movimentação

1.1.1. A importância da conta-depósito vinculada

A conta-depósito vinculada - bloqueada para movimentação é uma ferramenta


de gerenciamento de risco na celebração de contratos de serviços de dedicação
exclusiva de mão de obra.

Essa ferramenta surgiu como forma de assegurar o provimento dos recursos


necessários para o cumprimento das obrigações sociais e trabalhistas de terceirizados
em casos de inadimplemento da contratada.

Trata-se de uma conta bancária aberta em nome da empresa contratada, destinada


exclusivamente a receber depósitos decorrentes de provisionamentos mensais de
encargos trabalhistas.

Nessa conta bancária, serão provisionados, durante a execução do contrato, os valores


referentes às férias e 1/3 (um terço) constitucional de férias, 13º (décimo terceiro)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 66


salário e verbas rescisórias dos trabalhadores terceirizados da Administração,
cujos valores serão liberados à contratada apenas quando ocorrer cada fato e ela
comprovar à Administração a quitação dos valores a cada trabalhador.

1.1.2. A obrigatoriedade da conta-depósito vinculada

Com o início da terceirização na Administração Pública em 1967, a ampliação da


oferta de serviços pelo mercado e o aumento da necessidade de contratação de
serviços pela Administração em decorrência do aumento da máquina estatal, houve a
necessidade de se implementar um mecanismo de provisão dos direitos trabalhistas,
visto que o entendimento comum da Justiça do Trabalho é no sentido de que a
Administração poderá também ser responsabilizada nos casos de inadimplementos
trabalhistas.

A Administração editou a Instrução Normativa SLTI/MP nº 2, de 30 de abril de 2008,


que facultou regras e condições de pagamento de obrigações sociais e trabalhistas
às contratadas, visando mitigar fraudes e débitos trabalhistas que ocorriam com
frequência nas contratações de serviços com dedicação exclusiva de mão de obra.

O instrumento se tornou parte obrigatória do instrumento convocatório com a


edição da Instrução Normativa SLTI/MP nº 6, de 23 de dezembro de 2013. Entretanto,
seu uso passou a ser facultativo, devendo a Administração optar pelo uso da conta-
depósito vinculada ou do pagamento pelo fato gerador, instituído pela Instrução
Normativa SEGES/MP nº 5, de 26 de maio de 2017, e pelo Caderno de Logística.

Caso o órgão ou ente da Administração decida utilizar a ferramenta conta-depósito


vinculada, deverá fazer constar expressamente em seus editais as regras previstas
no Anexo XII da referida norma, assim como o documento de autorização para a
criação da conta-depósito vinculada - bloqueada para movimentação, que deverá
ser assinado pela contratada.

Recomenda-se que essa autorização já conste em anexo próprio ao termo de contrato


de prestação de serviços com dedicação exclusiva de mão de obra, evitando futuros
questionamentos por parte da contratada em se negar a abrir a conta-depósito
vinculada ou mesmo não autorizar a Administração a movimentá-la.

1.1.3. Provisionamento dos encargos trabalhistas

Os itens 2 e 14 do Anexo XII da Instrução Normativa SEGES/MP nº 5/2017 apresentam


quais serão os encargos que devem ser provisionados na conta-depósito vinculada -
bloqueada para movimentação:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 67


2. O montante dos depósitos da Conta-Depósito Vinculada ― bloqueada para
movimentação será igual ao somatório dos valores das seguintes provisões:
a) 13º (décimo terceiro) salário;
b) férias e 1/3 (um terço) constitucional de férias;
c) multa sobre o FGTS e contribuição social para as rescisões sem justa causa; e
d) encargos sobre férias e 13º (décimo terceiro) salário.
[...]
14. Os valores provisionados para atendimento do item 2 deste Anexo serão
discriminados conforme tabela a seguir:

ENCARGO TRABALHISTA PERCENTUAL (%)

13º (décimo Terceiro) Salário 8,33%

Férias e 1/3 (um terço) constitucional 12,10%

Multa sobre FGTS e contribuição social sobre


o aviso prévio indenizado e sobre o aviso 5%
prévio trabalhado

Subtotal 25,43%

Incidência do Submódulo 4.1 sobre


férias, um terço constitucional de férias 7,39% 7,60% 7,82%
e 13º (décimo terceiro) salário*

Total 32,82% 33,03% 33,25%

* Considerando as alíquotas de contribuição de 1% (um por cento), 2% (dois por


cento) ou 3% (três por cento) referentes ao grau de risco de acidente do trabalho,
previstas no art. 22, inciso II, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991.

1.1.4. Liberação dos recursos provisionados

A liberação de valores depositados na conta-depósito vinculada obedecerá ao


disposto nos itens 1.5 e 1.6 do Anexo VII-B da Instrução Normativa SEGES/MP nº
5/2017:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 68


1.5. Os valores provisionados na forma do item “a” do subitem 1.2 acima, somente
serão liberados nas seguintes condições:
a) parcial e anualmente, pelo valor correspondente ao 13º (décimo terceiro)
salário dos empregados vinculados ao contrato, quando devido;
b) parcialmente, pelo valor correspondente às férias e a 1/3 (um terço) de férias
previsto na Constituição, quando do gozo de férias pelos empregados vinculados
ao contrato;
c) parcialmente, pelo valor correspondente ao 13º (décimo terceiro) salário
proporcional, às férias proporcionais e à indenização compensatória porventura
devida sobre o FGTS, quando da dispensa de empregado vinculado ao contrato; e
d) ao final da vigência do contrato, para o pagamento das verbas rescisórias.
1.6. O saldo existente na Conta-Depósito Vinculada - bloqueada para
movimentação apenas será liberado com a execução completa do contrato, após
a comprovação, por parte da empresa, da quitação de todos os encargos
trabalhistas e previdenciários relativos ao serviço contratado.

Os exemplos práticos acerca da memória de cálculo sobre o


provisionamento e a liberação de recursos da conta-depósito
vinculada podem ser vistos detalhadamente no Caderno de
Logística disponível no sítio oficial do compras.gov.br.

1.2. Pagamento direto


1.2.1. A importância do pagamento direto
A Instrução Normativa SEGES/MP nº 5/2017 prevê que a Administração contratante
faça o desconto nas faturas da empresa contratada e realize os pagamentos dos
salários e demais verbas trabalhistas diretamente aos trabalhadores, bem como
das contribuições previdenciárias e do FGTS, quando estes não forem adimplidos
pela contratada.

O objetivo é resguardar a garantia do cumprimento das obrigações trabalhistas do


empregado contratado a partir da fiscalização e gestão dos contratos administrativos
com dedicação exclusiva de mão de obra.

Em razão da inadimplência de rubricas trabalhistas pela contratada, a regra é que


a Administração proceda ao pagamento direto dos valores retidos cautelarmente

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 69


empregados e, excepcionalmente, na forma do subitem 1.2, alínea “d”, do Anexo
VII-B da IN SEGES/MP nº 05/2017, deposite os valores retidos cautelarmente junto à
Justiça do Trabalho.

A retenção cautelar na fatura de valores devidos aos empregados objetiva, ainda,


garantir o melhor resultado à fiscalização do contrato e evitar a suspensão das
atividades por parte dos empregados terceirizados, que, ao saberem de que a
Administração reterá as faturas da empresa, inadimplente com eles, irão retomar
ou não interromper suas atividades, pois logo serão remunerados pelo trabalho
executado.

1.2.2. Procedimento para execução do pagamento direto


Durante a execução do procedimento de pagamento direto, recomenda-se que a
Administração Pública observe as normas do art. 2º da Lei nº 9.784/1999, como os
deveres de obedecer aos princípios da razoabilidade, da proporcionalidade e da
legalidade, dentre outros.

É importante que a Administração observe os seguintes procedimentos:

a1) O recebimento (ateste) dos serviços é o documento em que a Administração


reconhece a execução do serviço em conformidade com o contrato. Esse recebimento
(ateste) deverá ser realizado após a execução do serviço, sendo imprescindível para
o ato de liquidação de despesa e, consequentemente, para o pagamento direto dos
empregados.

a2) Todavia, não há necessidade de que esse recebimento (ateste) dos serviços seja
em caráter definitivo, emitido após o recebimento provisório, uma vez que o definitivo
só deve ser feito se houver a quitação integral das obrigações previdenciárias e
trabalhistas, não sendo este o caso, haja vista que se tratará de pagamento direto
justamente em razão do inadimplemento da contratada. O importante mesmo é
que haja o recebimento (ateste) dos serviços pela Administração, reconhecendo que
o serviço tenha sido executado pelos empregados.

b1) Em caso de inadimplemento contratual, o fiscal do contrato deverá notificar


a empresa formalmente, por meio do Aviso de Recebimento (AR). A empresa
terá o prazo de 5 (cinco) dias úteis, contados do recebimento da notificação, para
manifestação e regularização da situação. A notificação deverá conter a cláusula
contratual ou o dispositivo legal irregular, a descrição da falta contratual e o prazo
para correção da irregularidade.

b2) Caso a contratada não responda tempestivamente a notificação ou, ainda que
responda, tenha ultrapassado o prazo de 15 (quinze) dias, contados da data de
vencimento para o pagamento do salário, inexistindo a quitação das obrigações por

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 70


parte dela, a Administração poderá efetuar o pagamento das obrigações diretamente
aos empregados, mediante autorização da autoridade competente e abertura de
processo de apuração de descumprimento contratual.

b3) A Administração deve reter imediatamente o pagamento das faturas e  exigir


a emissão das guias de recolhimento de contribuições previdenciárias e FGTS por
parte da empresa, uma vez que esta é a única responsável legal com possibilidade
de realizar tal ação.

b4) A ciência da inadimplência da contratada pelo setor de fiscalização poderá


ocorrer por meio de queixa apresentada pelos funcionários da contratada, ou por
ausência de documentação, devendo os fiscais tomarem as devidas providências.

c1) A equipe de fiscalização do contrato deverá juntar, no processo de pagamento,


cópia do Aviso de Recebimento (AR), nota fiscal/fatura e a relação de empregados,
contendo os documentos e dados obtidos pela própria empresa, discriminando
cada uma das obrigações trabalhistas e previdenciárias inadimplidas.

c2) Em caso de  negativa expressa da empresa para emissão dos documentos,  a
contratante deverá  utilizar-se dos valores retidos cautelarmente para  realizar o
depósito judicial dos valores, a fim de garantir o direito dos trabalhadores alocados
na prestação do serviço, dispensando as etapas seguintes.

c3) Em qualquer das situações, recomenda-se que o sindicato representante da


categoria do trabalhador seja notificado para que acompanhe o procedimento de
pagamento das verbas.

d1) Após o recebimento do processo de pagamento, o setor financeiro deverá: lançar


a despesa; recolher os tributos sobre a nota fiscal/fatura; efetuar o pagamento
das guias de recolhimento dos encargos sociais e previdenciários; e realizar o
pagamento direto dos salários a partir do comprovante de pagamento do salário do
funcionário apresentado pela contratada ou, na ausência deste, utilizando o último
comprovante disponibilizado à Administração. O saldo remanescente deverá ser
creditado à contratada.

d2) Para o pagamento dos benefícios do trabalhador, a Administração deverá


confirmar, junto ao empregado, o recebimento ou não destes, por meio de documento
escrito e devidamente assinado pelo empregado. O instrumento tem a finalidade
de subsidiar a Administração com documento comprobatório do pagamento e dos
descontos efetuados.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 71


1.3. Empresas de terceirização e capital mínimo
A Lei nº 6.019/1974 dispõe sobre o trabalho temporário nas empresas urbanas. Em
2017, foi alterada pela Lei nº 13.429, que incluiu dispositivos para dispor sobre os
requisitos de funcionamento das empresas de prestação de serviços a terceiros.

Nesse ponto, interessa-nos o disposto no inciso III do art. 4-B, que prescreve os
requisitos relacionados com o capital social, instituindo, assim, um capital social
mínimo que é fixado em razão da proporcionalidade com o número de empregados
das empresas de terceirização.

Art. 4º-B. São requisitos para o funcionamento da empresa de prestação de


serviços a terceiros:
[...]
III - capital social compatível com o número de empregados, observando-se os
seguintes parâmetros:
a) empresas com até dez empregados - capital mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil
reais);
b) empresas com mais de dez e até vinte empregados - capital mínimo de R$
25.000,00 (vinte e cinco mil reais
c) empresas com mais de vinte e até cinquenta empregados - capital mínimo de
R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais);
d) empresas com mais de cinquenta e até cem empregados - capital mínimo de
R$ 100.000,00 (cem mil reais); e
e) empresas com mais de cem empregados - capital mínimo de R$ 250.000,00
(duzentos e cinquenta mil reais).

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 72


Vejamos a tabela a seguir:

Número de empregados Capital social mínimo

R$ 10.000,00
Até 10 empregados
(dez mil reais)

R$ 25.000,00
Mais de 10 e até 20 empregados
(vinte e cinco mil reais)

R$ 45.000,00
Mais de 20 e até 50 empregados
(quarenta e cinco mil reais)

Mais de 50 e até 100 empregados R$ 100.000,00 (cem mil reais)

R$ 250.000,00
Mais de 100 empregados
(duzentos e cinquenta mil reais)

Segundo o Código Civil, o contrato social deve mencionar o “capital da sociedade,


expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis
de avaliação pecuniária” – art. 997, III.

Nas palavras de Ramos (2020), “pode-se definir o capital social, grosso modo, como o
montante de contribuições dos sócios para a sociedade, a fim de que ela possa cumprir
seu objeto social”.

Nesse cenário, segundo o autor, uma vez definido o capital social da sociedade, “todos
os sócios têm o dever de adquirir quotas da sociedade e de pagar por essas respectivas
quotas, contribuindo para a formação do capital social, ainda que essa contribuição seja
ínfima”.

1.3.1. Garantias
A Lei nº 14.133/2021 manteve a racionalidade da Lei nº 8.666/1993 no que diz
respeito às garantias que podem ser exigidas no edital, nas contratações de obras,
serviços e fornecimentos, nos termos do art. 96.

Assim, a Administração tem discricionariedade no sentido de decidir pela viabilidade


da exigência de garantia, e ao contratado foi assegurado o direito de optar por uma
das modalidades previstas no art. 96, § 1º, I a III.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 73


Art. 96. A critério da autoridade competente, em cada caso, poderá ser exigida,
mediante previsão no edital, prestação de garantia nas contratações de obras,
serviços e fornecimentos.
§ 1º Caberá ao contratado optar por uma das seguintes modalidades de garantia:
I - caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública emitidos sob a forma
escritural, mediante registro em sistema centralizado de liquidação e de custódia
autorizado pelo Banco Central do Brasil, e avaliados por seus valores econômicos,
conforme definido pelo Ministério da Economia;
II - seguro-garantia;
III - fiança bancária emitida por banco ou instituição financeira devidamente
autorizada a operar no País pelo Banco Central do Brasil.

No que diz respeito à modalidade de caução em títulos da dívida pública, é preciso


destacar que os títulos da dívida pública são emitidos pela Secretaria do Tesouro
Nacional (STN), na forma escritural, isto é, eletrônica, com a identificação do credor
e do respectivo valor, que deve corresponder aos preços de mercado.

Em relação ao seguro-garantia, devem ser observadas as regras da Circular SUSEP


622/2022.

Sendo essa modalidade a escolha feita pela contratada, a garantia deverá ser
apresentada no prazo mínimo de 1 (um) mês, com termo inicial na data de
homologação da licitação e anterior à assinatura do contrato. Assim, não é possível
que o contrato seja assinado sem que a garantia seja prestada.

Art. 96. A critério da autoridade competente, em cada caso, poderá ser exigida,
mediante previsão no edital, prestação de garantia nas contratações de obras,
serviços e fornecimentos.
[...]
§ 3º O edital fixará prazo mínimo de 1 (um) mês, contado da data de homologação
da licitação e anterior à assinatura do contrato, para a prestação da garantia
pelo contratado quando optar pela modalidade prevista no inciso II do § 1º deste
artigo.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 74


Além disso, é importante destacar que a Lei nº 14.133/2021 dispõe que a
Administração Pública poderá fixar o prazo de duração de vigência da apólice do
seguro, podendo esse ser igual ou superior ao prazo estabelecido para vigência do
contrato administrativo.

Art. 97. O seguro-garantia tem por objetivo garantir o fiel cumprimento das
obrigações assumidas pelo contratado perante à Administração, inclusive
as multas, os prejuízos e as indenizações decorrentes de inadimplemento,
observadas as seguintes regras nas contratações regidas por esta Lei:
I - o prazo de vigência da apólice será igual ou superior ao prazo estabelecido no
contrato principal e deverá acompanhar as modificações referentes à vigência
deste mediante a emissão do respectivo endosso pela seguradora;

Uma observação a respeito do percentual que poderá ser definido para fixar o valor da
garantia: segundo a Lei nº 14.133/2021, há um limite regra de 5% sobre o valor inicial
do contrato, sendo possível a sua majoração para até 10%, devendo ser analisada a
complexidade técnica e os riscos envolvidos, desde que o faça de forma motivada.

Art. 98. Nas contratações de obras, serviços e fornecimentos, a garantia poderá ser
de até 5% (cinco por cento) do valor inicial do contrato, autorizada a majoração
desse percentual para até 10% (dez por cento), desde que justificada mediante
análise da complexidade técnica e dos riscos envolvidos.

Por fim, é importante atentar para o fato de que, no caso de contratações de obras
e serviços de grande vulto, poderá ser exigido seguro-garantia em percentual de até
30% sobre o valor inicial do contrato.

Art. 99. Nas contratações de obras e serviços de engenharia de grande vulto,


poderá ser exigida a prestação de garantia, na modalidade seguro-garantia, com
cláusula de retomada prevista no art. 102 desta Lei, em percentual equivalente a
até 30% (trinta por cento) do valor inicial do contrato.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 75


No que diz respeito à fiança bancária, uma observação é relevante no que toca
à necessidade de observar se, na fiança, há previsão de renúncia do benefício de
ordem previsto no art. 827 do Código Civil.

Art. 827. O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir, até
a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor.

O benefício de ordem é incompatível com o interesse público contratual, uma vez


que o fiador poderá exigir que a Administração Pública busque satisfazer seu crédito
por meio da execução dos bens do devedor, antes de executar a fiança dada como
garantia.

Assim, a sugestão é de que a Administração Pública deve dispor no edital que não
aceitará fiança bancária sem a previsão de renúncia do benefício de ordem.

Art. 828. Não aproveita este benefício ao fiador:


I - se ele o renunciou expressamente;

Vídeo 13 – Empresas de Terceirização e Capital Mínimo – Parte 1

Vídeo 14 – Empresas de Terceirização e Capital Mínimo – Parte 2

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 76


1.4. Boas relações entre a contratada e a
Administração
1.4.1. Introdução
A boa relação e comunicação entre as empresas contratadas e os órgãos, os quais
podem ser das Administrações Públicas diretas, autárquicas e fundacionais da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme o art. 1º da Lei nº
8.666/1993 e o art. 1º da Lei nº 14.133/2021, desde o início da contratação, é de vital
importância para a boa gestão e execução da prestação do serviço continuado com
dedicação exclusiva de mão de obra. Assim como ter um edital e um bom padrão de
contrato para esse tipo de contratação de serviço. Um edital ou contrato malfeito,
sem padrões e atualizações normativas, pode gerar problemas sérios futuramente,
tirando às vezes a possiblidade de a Administração se defender adequadamente
e exigir o devido cumprimento das cláusulas contratuais, ferramentas essas que
serão utilizadas em prol da Administração pelo fiscal e pelo gestor do contrato.

Para um melhor entendimento dessa matéria, é bom diferenciar as duas funções, de


fiscal e de gestor. A exigência legal fala de um representante legal da Administração
(Lei nº 8.666/1993) ou, pela nova Lei nº 14.133/2021, de um ou mais fiscais do
contrato. Não se destaca a função de gestor, porém fica a sugestão para que a
Administração também designe essa função, a qual desempenhará a função de
supervisor do fiscal e o auxiliará nas tomadas de decisão, não se confundindo com
a função da autoridade que será a julgadora nos processos sancionatórios, na
instância superior.

Atualmente, cada vez mais temos ferramentas administrativas e legais que nos
ajudam a fortalecer a fiscalização de um contrato dessa modalidade de prestação de
serviço, diferentemente de anos atrás, quando ainda não tínhamos uma legislação
eficiente, nem capacitação para os servidores que atuavam na área de gestão e
fiscalização de contratos.

Essa preocupação é devida, pois, infelizmente, temos algumas empresas que só


cumprem as exigências contratuais quando são fiscalizadas de perto e notificadas
pelos descumprimentos contratuais ocorridos no transcorrer da prestação do
serviço. Por isso a necessidade de deixar bem clara, desde a primeira reunião,
a postura que será adotada pela Administração em relação às empresas que
cometerem irregularidades, má gestão e não cumprirem principalmente com os
seus deveres para com os funcionários que foram contratados (como atraso de
pagamentos e demais direitos trabalhistas). Isso porque, além de todo o transtorno
e a desmotivação que é causada no trabalhador, muitas vezes a Administração arca
solidariamente com os ônus de ações trabalhistas e, dependendo do valor ou da
quantidade de ações, isso pode refletir negativamente e impactar no seu orçamento,
prejudicando diretamente o desempenho do órgão.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 77


1.4.2. Como se relacionar com segurança e transparência
Não adianta dispormos de várias ferramentas de controle e fiscalização, se não
tivermos a real compreensão e capacitação para aplicá-las no devido momento
e fazer com que a contratada se redima de sua falta ou omissão, arcando com
todas as consequências. O servidor no papel de fiscal ou gestor deve se qualificar
constantemente e se atualizar sempre, para que possa desempenhar bem sua
importante função, a qual traz reflexos diretos para seu órgão público (federal,
estadual ou municipal), economia processual e, muitas vezes, economia financeira,
pois haverá menos indenizações trabalhistas a serem pagas pelo órgão. Além disso,
o trabalhador contratado receberá todos os seus direitos e o devido pagamento a
que faz jus na data correta. Pois, qual a motivação que um trabalhador tem quando
o seu salário está atrasado? Como se pode cobrar a produtividade de quem não
recebe seus direitos? Com certeza isso influencia diretamente a qualidade do serviço
que o órgão presta para a sociedade.

O fiscal do contrato tem o dever de acompanhar toda a execução contratual junto


com o preposto da empresa, inclusive contra qualquer assédio moral ou sexual
que o trabalhador contratado possa estar sofrendo, além de verificar a situação de
segurança do trabalho, dependendo do caso, quanto à utilização dos equipamentos
de proteção individual (EPI), evitando acidentes que trazem diversas implicações para
o órgão e a empresa e, mesmo sendo somente de responsabilidade da empresa,
podem refletir negativamente na imagem do órgão.

Desde o processo de licitação, com um edital bem-feito, é possível barrar algumas


empresas com histórico de má gestão e que possuem registro de irregularidades
cometidas contra outros órgãos. Mas nem sempre isso é suficiente, pois elas podem
mudar de CNPJ, de nome e podem voltar a concorrer nas licitações. Sendo assim,
nem sempre temos como evitar essa contratação indesejada. Logo, é importante
sempre fazer uma pesquisa detalhada em todos os meios eletrônicos, para verificar
o histórico da empresa que está sendo contratada e, se possível, verificar onde ela
presta ou já prestou serviço. É interessante, ainda, o fiscal do contrato entrar em
contato com outro órgão que tenha contrato com ela, pedindo as suas referências,
assim poderemos diminuir ainda mais os riscos de sermos pegos por uma surpresa
desagradável no transcorrer da execução do contrato.

Caso seja identificada qualquer irregularidade já cometida pela empresa, o fiscal do


contrato já deve ficar alerta, pois isso pode se repetir novamente com o seu órgão.
Esse é mais um motivo para que seja feita uma reunião preliminar, logo após a
assinatura do contrato, com o preposto e, se possível, com um gerente ou diretor
da empresa, para que se registre toda preocupação da Administração em relação ao
contrato que foi assinado, sobre os diretos, deveres e pontos duvidosos, que devem
ser colocados de forma bem clara e técnica. Se preciso, ainda nesse dia solicite o
apoio de setor de contratos de seu órgão para acompanhar a reunião e de seu

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 78


gestor de contratos, e faça constar tudo em ATA, assinada por todos os participantes.
Oriento também que seja aberto um processo aparte no Sistema Eletrônico de
Informações (SEI) ou outro sistema do órgão, para que todos os registros e ATAS
sejam colocados nele. Além de dar mais transparência, isso dá subsídios para uma
tomada de decisão, caso seja necessário partir para um processo de penalidade da
empresa contratada.

É importante termos um bom modelo de ATA, em que constem data, local, nomes
de todos os participantes e layout do órgão. De preferência, que seja construída
usando o verbo no presente, registrando com detalhes o que foi acordado ou não,
discorrendo também sobre as sugestões e manifestações da empresa. Deve ser
assinada fisicamente ou por meio digital, para que se tenha a devida validade e
transparência do ato. É interessante abrir um processo específico para cada empresa
contratada, desde o início da primeira reunião, físico ou por meio eletrônico (exemplo:
SEI), e inserir todos os documentos, informações, e-mails etc. que façam parte desse
processo administrativo. Tudo isso dará à Administração do órgão transparência e
motivação para a abertura de um processo sancionatório, uma rescisão contratual
ou qualquer outra decisão que seja necessário ser tomada, pelo gestor do contrato
ou pela autoridade superior.

Outro ponto importante que também merece atenção por parte do fiscal do contrato
diz respeito aos prepostos e gerentes de empresas que são inexperientes em gerir
contratos com órgãos públicos, desconhecem as regras, normas e legislações,
principalmente empresas recém-criadas ou que vêm de outro ramo de prestação
de serviço. Nós sabemos bem sobre a grande diferença de prestar serviço a uma
empresa privada ou a um órgão público. Por isso, o fiscal do contrato sempre deve
convocar uma reunião preliminar, antes do início da execução do contrato, para
deixar bem esclarecidas todas as regras impostas pelo edital, pelo contrato e seus
anexos e quantas outras forem necessárias. Não significa que o fiscal do contrato
vai prestar assessoria técnica ou jurídica, mas sim orientar e prestar esclarecimentos
técnicos nos pontos críticos da prestação do serviço que foi contratado e seus
devidos ajustes. Isso pode evitar complicações e possíveis inexecuções contratuais.
Logo, é dever do fiscal do contrato passar todas as orientações para empresa
novata quanto às complicações e punições que pode sofrer caso não execute o
contrato o qual assinou, quais implicações ela irá sofrer caso não pague em dia
os direitos dos trabalhadores, tudo isso registrado em ATA. Sempre que for
necessário, no transcorrer da execução do contrato, que seja feita nova reunião
de orientação e alinhamento. Adotando essa postura muitas vezes, evita-se uma
demanda administrativa de penalidade ou até judicial. É bem mais saudável para
a Administração, com menos desgaste, menos tempo perdido e, inclusive, com um
melhor resultado de prestação de serviço à sociedade.

A utilização do conhecimento de técnicas de negociação ou mediação de conflitos,


por parte do fiscal do contrato, pode ajudar muito na condução desse contrato

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 79


nos momentos de impasse com o preposto da empresa. Uma boa relação, que
começa, desde o início, de forma transparente e respeitosa entre as partes, tende
a dar certo até o último dia da execução do contrato, ganhando a Administração,
a contratada e, mais ainda, o trabalhador que foi contratado e teve todos os seus
direitos respeitados e concedidos, principalmente seu salário pago em dia.

Caso a empresa já venha de uma contração antiga e não esteja indo bem, mesmo
após as reuniões que foram feitas e registradas em ATAS, solicite uma reunião
presencial com um representante acima do preposto, da diretoria da empresa ou,
se possível, com o próprio dono, como última tentativa para se evitar um processo
administrativo sancionatório. Evidencie bem nessa reunião todos os pontos e as
dificuldades enfrentadas até aquele momento e quais serão as consequências
que a empresa sofrerá pelo não cumprimento dos deveres contratuais. Esgotadas
todas as tentativas de conciliação e solução para o problema, e caso não tenha
conseguido o êxito, o fiscal deverá adotar todas as providências administrativas
e comunicar o setor de penalidades do órgão, para que se inicie o processo
sancionatório e, nos casos mais graves, em que o gestor do contrato verifique que
não há mais condições de manter contrato com a empresa, que seja rescindido o
contrato e providenciada uma nova licitação, para uma nova contração que atenda
à Administração. Lembrando que o Interesse Público sempre tem que prevalecer
em relação ao interesse da empresa contratada.

O gestor do contrato, autoridade acima do fiscal de contrato, tem o importante


papel de sempre acompanhar os contratos mais críticos e problemáticos, dando
apoio e suporte ao fiscal, e participar das reuniões mais importantes, principalmente
daquela em que o diretor ou dono da empresa esteja presente, antes da abertura
de um processo administrativo sancionatório. Cabe a ele, também, manter essa boa
relação com as empresas que prestam um serviço de qualidade para a Administração,
sempre que possível registrando a qualidade do serviço que está sendo prestado
pela empresa e pelos trabalhadores que foram contratados e, se o órgão tiver como
programa gestão de qualidade, realizar a premiação da empresa e o fornecimento
do selo de qualidade. No próprio atestado de capacidade técnica, que muitas vezes
pode ser solicitado pela empresa, isso já pode ser evidenciado. É muito importante
que a Administração, por intermédio do fiscal e do gestor do contrato, reconheça e
enalteça as boas empresas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 80


1.5. Responsabilidade do servidor quanto aos
deveres éticos e legais
1.5.1. Conceito
Ao abordarmos, nessa seara administrativa, a responsabilidade e o dever do servidor
em relação a sua função de gestor ou fiscal do contrato, não podemos nos esquecer
de que nem sempre o servidor pode escolher a função que deve exercer no seu órgão
público e de que, quando ele é designado para exercer essa função, nem sempre está
preparado para ela. Nesse momento, cabe à direção da Administração proporcionar
a capacitação e especialização do servidor, para que possa desempenhar bem essa
importante missão. A qualidade de vida dos trabalhadores terceirizados depende
de uma boa atuação por parte desse servidor, para que seus direitos trabalhistas
sejam respeitados e a Administração não venha a sofrer uma punição, pela qual
tenha que arcar com uma dívida por causa da empresa que foi contratada e que,
por exemplo, não pagou o salário ou os direitos do colaborador. Dependendo da
quantidade de ações trabalhistas, como já foi dito, isso poderá impactar diretamente
o orçamento do órgão, o que, nos tempos difíceis que estamos vivendo, de restrição
orçamentária em todos os órgãos, trará sérios prejuízos. Ou seja, um recurso que
poderia ser investido para qualquer tipo de melhoria para o órgão, será utilizado
para pagamentos de ações judiciais trabalhistas.

O órgão administrativo também deve achar uma forma de incentivar e motivar


seus servidores que são designados para exercer esse tipo de função. Se não puder
ser um bônus salarial, que seja qualquer outra forma de incentivo, no mínimo um
reconhecimento público da atuação desse servidor. Assim, ficará mais fácil exigir um
resultado melhor da atuação do servidor nessa área tão importante para qualquer
órgão público.

Por outro prisma, temos que entender que o servidor público tem o dever de bem
cumprir com a sua missão e entregar um trabalho de qualidade, o qual a sociedade
cobra constantemente. Um assunto que pode ser delicado, mas necessário de ser
abordado: para se reivindicar um melhor salário, uma melhor condição ou até uma
promoção, primeiro se tem que fazer por merecer, mostrar-se capaz e interessado
em colaborar com a melhoria e eficiência do seu órgão. Como já foi falado, em
contraparte, a direção desse órgão também tem que dar o devido reconhecimento
a esse servidor e dar-lhe condições de capacitação técnica, para que cumpra bem
com a sua missão.

1.5.2. Considerações, legislação e comparação


Cada órgão público, seja ele federal, estadual, distrital ou municipal, tem suas normas
internas, seus regulamentos e pode até possuir seu próprio código de ética, em que

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 81


são previstos os tipos de comportamentos que o órgão espera do seu servidor e
as punições que podem ser aplicadas ao servidor, caso não cumpra com os seus
deveres. Essas punições podem variar desde uma advertência até um decréscimo
do seu salário mensal, por baixa produtividade, e, nos casos mais graves, até mesmo
sua expulsão, exoneração ou demissão. Não é possível fazer justiça com todos se
também não temos ferramentas para aplicar uma punição ao mal servidor, sendo
que a pena sempre deve ter como função primeira a correição de comportamentos
e atitudes indesejadas. Lógico que sempre deve haver um trabalho interno de
conscientização e motivação por parte da Administração, para que o servidor
execute sua função com a qualidade que é desejada pelo órgão e pela própria
sociedade como cliente. Mas, quando isso não for suficiente, será necessário que
ele seja responsabilizado pela má gestão daquilo que lhe foi designado. A própria
Lei de Licitações e Contratos prevê essa situação, tanto a Lei nº 8.666/1993 quanto
a nova Lei nº 14.133/2021.

É necessário fazer a abordagem dessas duas Leis de Licitações e Contratos


Administrativos, dentro deste tema, pois, mesmo considerando que a Lei nº
8.666/1993 terá o seu prazo extinto em 1º de abril de 2023 para novas licitações
e contratações, muitos contratos ainda serão geridos com base nessa Lei por
muitos anos, uma vez que, como sabemos, as prorrogações podem ser feitas por
até 60 meses, com prorrogações contratuais anuais. Sendo assim, iremos abordar,
comparar e comentar os seguintes artigos que interessam para o nosso assunto,
primeiramente da Lei nº 8.666/1993:

Art. 66. O contrato deverá ser executado fielmente pelas partes, de acordo com
as cláusulas avençadas e as normas desta Lei, respondendo cada uma pelas
consequências de sua inexecução total ou parcial.

Veja a situação do dever que cabe a ambas as partes e cujo descumprimento não
pode ficar impune pela inexecução, mesmo que parcial. Logo, o fiscal e o gestor do
contrato, ambos, têm o dever de exercer suas funções e não podem ser omissos
quanto às suas responsabilidades funcionais.

Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por


um representante da Administração especialmente designado, permitida a

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 82


contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes
a essa atribuição.

Aqui fica clara a importância e a necessidade da designação de um fiscal para


acompanhar a gestão do contrato. Mesmo antes da nova Lei nº 14.133/2021,
muitos órgãos já adotavam a designação também de substitutos para os fiscais de
contratos e de um gestor. Sendo assim, todos esses atores respondem pelo sucesso
da execução do contrato e podem “sim” ter uma equipe técnica e jurídica do próprio
órgão ou contratada especificamente para assisti-los e subsidiá-los de informações
técnicas, porém a responsabilidade e decisão sempre será inteiramente do servidor.

§ 1º O representante da Administração anotará em registo próprio todas as


ocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando o que for
necessário à regularização das faltas ou defeitos observados.

O fiscal deverá registrar todas as ocorrências, conforme aqui sugerido, em ATA ou


qualquer outro meio de que o órgão disponha, constando todas as falhas ou faltas
que estejam ocorrendo na execução do contrato. Nesse momento ainda não se fala
em abertura de um processo sancionatório, e sim de um esforço preliminar para
tentar resolver o problema sem um ato mais rigoroso.

§ 2º As decisões e providências que ultrapassarem a competência do representante


deverão ser solicitadas a seus superiores em tempo hábil para a adoção das
medidas convenientes.

Nesse dispositivo, é possível identificar a presença da autoridade superior ao fiscal


do contrato, a qual deve intervir, quando não for mais da competência do fiscal
uma tomada de decisão, por exemplo: a execução do pagamento direto feito ao
trabalhador que não recebeu seu salário da empresa contratada. É importante
ressaltar que o fiscal sempre deverá ter um gestor ou administrador que lhe dê
suporte e ratifique seus principais atos administrativos, sempre que for necessário,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 83


pois isso dá mais força e legitimidade nas tomadas de decisões. Lembrando que
todos os atos administrativos devem sempre ser muito bem motivados, para sua
perfeita eficiência e eficácia. Daí a importância dos documentos, ATAS, despachos
e registros bem confeccionados e embasados técnica e juridicamente, para que o
caso não fique apenas no plano da informalidade.

Art. 68. O contratado deve manter preposto, aceito pela Administração, no local
da obra ou serviço, para representá-lo na execução do contrato.

Aqui entra o dever que tem a contratada em disponibilizar um responsável, o qual


deverá representar a empresa em todas as reuniões e acertos necessários para a
devida execução do contrato, mantendo contato direto com o fiscal do contrato.
É importante, ainda, verificar nessa designação se o preposto ou ponto focal tem
realmente capacitação para ocupar essa importante função e disponibilidade de
tempo para acompanhar toda a execução do contrato. Caso seja observado que ele
não tem, o fiscal ou o gestor poderá determinar que ele seja substituído, desde que
seja dada a devida motivação e justificativas ao ato administrativo – essa obrigação
pode fazer parte das exigências contratuais. Outro alerta se faz necessário, o de
ressaltar a importância de que seja utilizada como modelo, pela Administração, uma
Minuta de Contrato que já tenha suas cláusulas atualizadas e, se possível, revisadas
por um procurador de justiça ou assessor jurídico especializado nessa área. Essa
condição é vital para o sucesso de uma contratação do tipo que estamos abordando
nesta unidade.

Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários,


fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.
§ 2º A Administração Pública responde solidariamente com o contratado pelos
encargos previdenciários resultantes da execução do contrato, nos termos do art.
31 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991.

A Administração é responsável solidariamente pelos encargos previdenciários. Logo,


é dever do gestor e do fiscal do contrato não deixar que esses encargos não sejam
devidamente pagos pela contratada, atuando de forma proativa junto ao preposto
da empresa e, quando necessário, adotando também a providência de abertura
de processo sancionatório, quando já tiver se esgotado o campo de negociação e
orientação por parte da Administração.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 84


Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:
b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade
competente, mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes...

O dever de atestar o recebimento dos serviços é do fiscal do contrato ou seu


substituto eventual, salientando-se que não há recebimento provisório nesse tipo de
contratação de serviço, conforme disposto no art. 74, inciso II. Por isso, o fiscal deve
ter muita atenção quando for atestar o recebimento dos serviços, se eles realmente
foram executados, conforme exigências contratuais. Pode-se rejeitar a prestação de
serviço, no todo ou em parte, que esteja em desacordo com o contrato, conforme
disposto no art. 76.

Na sequência faremos o estudo comparando e comentando sobre os artigos da


nova Lei nº 14.133/2021:

Art. 117. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por 1


(um) ou mais fiscais do contrato, representantes da Administração especialmente
designados conforme requisitos estabelecidos no art. 7º desta Lei, ou pelos
respectivos substitutos, permitida a contratação de terceiros para assisti-los e
subsidiá-los com informações pertinentes a essa atribuição.

Pouco mudou em relação à Lei nº 8.666/1993, porém se explicitou a necessidade


de ter substitutos para os fiscais do contrato, inclusive podendo ser mais que um
atuando ao mesmo tempo. Essa situação vai depender da dimensão desse contrato
e de sua amplitude dentro do órgão – a Administração verificará a necessidade
para cada caso. Quanto à necessidade de se ter substituto, não resta dúvidas no
campo operacional, mesmo em relação à Lei nº 8.666/1993, que não citava essa
situação, pois na cobertura das férias ou afastamentos do servidor alguém deve
assumir essa função; ou seja, é imprudente deixar uma função como essa vaga,
independentemente do período.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 85


§ 1º O fiscal do contrato anotará em registro próprio todas as ocorrências
relacionadas à execução do contrato, determinando o que for necessário para a
regularização das faltas ou dos defeitos observados.
§ 2º O fiscal do contrato informará a seus superiores, em tempo hábil para
a adoção das medidas convenientes, a situação que demandar decisão ou
providência que ultrapasse sua competência.
§ 3º O fiscal do contrato será auxiliado pelos órgãos de assessoramento jurídico
e de controle interno da Administração, que deverão dirimir dúvidas e subsidiá-lo
com informações relevantes para prevenir riscos na execução contratual.

Esses parágrafos do art. 117 da nova Lei trouxeram um entendimento mais completo
e exato sobre o assunto, no que diz respeito aos deveres dos fiscais do contrato e
ao assessoramento necessário para a atuação dos fiscais. Como já foi dito, nem
sempre o fiscal que foi designado tem conhecimento necessário e está devidamente
capacitado para tomar as decisões, sem ouvir antes a equipe técnica e até o apoio
jurídico, inclusive para defender a Administração e responder aos questionamentos
da empresa que foi contratada. Também ressalta-se a importância da prevenção de
riscos na execução contratual.

§ 4º Na hipótese da contração de terceiros prevista no caput deste artigo, deverão


ser observadas as seguintes regras:
I - a empresa ou profissional contratado assumirá responsabilidade civil objetiva
pela veracidade e pela precisão das informações prestadas, firmará termos de
compromisso de confidencialidade e não poderá exercer atribuição própria e
exclusiva de fiscal de contrato;
II - a contração de terceiros não eximirá de responsabilidade o fiscal do contrato,
nos limites das informações recebidas do terceiro contratado.

Nesse parágrafo e seus incisos, de forma mais específica, esclarece-se a possibilidade


da contratação de um profissional pela Administração, para ajudar na gestão do
contrato de terceirizados. No entanto, fica bem claro que o dever e a responsabilidade
ainda recaem sobre o fiscal do contrato (servidor público) que foi designado pela
Administração. Não há que se falar em delegação dessa função para servidores
terceirizados.

Do art. 118 ao art. 120, praticamente repete-se o que consta na Lei nº 8.666/1993:
permanecem a exigência de apresentação de preposto, que seja aceito pela

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 86


Administração, situação já comentada, e os demais deveres da contratada, os quais
devem ser cobrados pelo fiscal do contrato.

Art. 121. Somente o contratado será responsável pelos encargos trabalhistas,


previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.
§ 2º Exclusivamente nas contratações de serviços contínuos com regime de
dedicação exclusiva de mão de obra, a Administração responderá solidariamente
pelos encargos previdenciários e subsidiariamente pelos encargos trabalhistas
se comprovada falha na fiscalização do cumprimento das obrigações do
contrato.

Novamente a legislação deixa bem claro que a Administração responderá


solidariamente pelos encargos previdenciários e, ainda, subsidiariamente pelos
encargos trabalhistas, quando comprovada a falha na fiscalização do cumprimento
das obrigações do contrato. Daí a importância da boa gestão do fiscal em relação
ao contrato desse tipo de serviço e do seu real dever e obrigação. Quando um juiz
for analisar a ação que foi judicializada, com certeza irá verificar se a atuação da
fiscalização do contrato, por parte da Administração, foi eficiente, eficaz e esgotou
todos os meios para que a empresa cumprisse com seu dever contratual. Caso isso
tenha ficado evidente, o juiz não condenará o órgão, recaindo a responsabilidade
inteiramente sobre a empresa contratada.

Quanto à dispensa do recebimento provisório desse tipo específico de fornecimento


de serviços que estamos abordando por esta nova Lei, só podemos dispensar o
recebimento provisório caso seja especificado no edital e/ou no contrato, conforme
disposto no art. 140, § 3º Os prazos e os métodos para a realização dos recebimentos
provisório e definitivo serão definidos em regulamento ou no contrato. No entanto, o
dever de fazer o recebimento dos serviços permanece de responsabilidade do fiscal,
mediante termo detalhado.

1.5.3. Responsabilização do servidor


O Capítulo IV da Lei nº 8.666/1993 previa um tratamento específico aos agentes
administrativos que praticassem atos em desacordo com a referida Lei, inclusive
com penas específicas para cada ato que fosse praticado pelo servidor público,
lembrando que os art. 89 a art. 108 da Lei nº 8.666/1993 já foram revogados pelo
inciso I do art. 193 da nova Lei nº 14.133/2021, assim que esta Lei entrou em vigor.
Já a nova Lei nº 14.133/2021, no Capítulo III, aborda esse tema de forma diferente,
não especificando os crimes e as penas, como podemos observar no art. 169, §
3º, incisos I e II. Resumindo, quando for constatada simples impropriedade formal

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 87


praticada pela Administração, será feito o devido saneamento para que não ocorra
novamente o erro ou falha por parte de quem provocou o ato. Cita-se especificamente
a necessidade de capacitação dos agentes públicos responsáveis, no nosso
caso o fiscal e o gestor do contrato. Agora, caso a irregularidade configure dano
à Administração, será apurada a infração administrativa, de forma individualizada
da conduta que foi praticada, bem como tudo deve ser encaminhado ao Ministério
Público para apuração do ilícito. Em alguns casos, poderá ainda ser aplicada a Lei
nº 12.846/2013 (Anticorrupção) aos atos lesivos praticados pelos contratados e
demais servidores, de que trata o art. 155, inciso XII, da Lei nº 14.133/2021.

Importante chamar a atenção de todos os servidores que forem assumir a função


de gestor ou de fiscal do contrato, nesse tipo de contatação de serviço, que eles
também poderão responder, nas esferas cível, administrativa e criminal, pelos seus
atos, principalmente os dolosos, arcando com todas as consequências que isso
possa trazer, inclusive, nos casos mais graves (tipo de corrupção), até a sua prisão
em regime fechado, demissão, exoneração ou expulsão do órgão a que pertence.

Outro tema sensível, porém necessário de ser abordado, é a corrupção, que, tanto
quanto a má gestão, causa danos ao órgão, além de manchar a sua imagem (marca)
perante a sociedade. Nesse ponto, temos hoje mecanismos de prevenção e controle
para que isso nunca aconteça. Um trabalho que foi feito recentemente sobre esse
tema está detalhado no Programa Radar Anticorrupção, que foi conduzido pela
Subsecretaria de Conformidade e Integridade do Ministério da Infraestrutura –
SCI/MInfra, com o objetivo de aprimorar a gestão pública e dificultar os desvios de
conduta, a qual recomenda a adoção de ações voltadas ao enfrentamento de riscos
de fraudes e à supervisão de ações nos órgãos que aderirem a esse projeto.

O Programa foi dividido em 8 (oito) pilares com as iniciativas


prioritárias, relacionadas com a prevenção, a detecção e o combate
à corrupção: Conexão Integridade; Profissionais do Progresso; Canal
Transparência; Guia Rápido de Conduta Ética; Supervisão Ministerial;
Guia Rápido de Interação com o Setor Privado; Selo Fomento Infra +
Integridade; e Circuito Radar Anticorrupção.

Fica a sugestão para que todos se sensibilizem e implantem nos seus órgãos esse
tipo de programa. Com certeza isso elevará o grau de confiança da sociedade em
relação à prestação de serviço que o órgão entrega, sendo ainda que as empresas
contratadas saberão da preocupação e do tratamento que é dado a esse tema, o
que também afastará os maus intencionados.

Por fim, mesmo diante de todos os desafios e dificuldades que cada órgão enfrenta,
o servidor deve: colocar-se como peça-chave para que a gestão seja de excelência;
procurar se motivar pelo fato de ser um diferencial, para seu órgão e para a

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 88


sociedade; ter um ideal e objetivo maior, que vai além do salário que recebe, o
qual nem sempre faz jus a sua produtividade e dedicação. Faça a diferença, pois
trabalhar descontente não vai resolver o problema, somente vai tornar o fardo mais
pesado. Enxergue o seu trabalho como uma missão importante para seu órgão, sua
cidade, seu estado e seu país. As oportunidades e o reconhecimento, pela própria
lei natural, irão acontecer gradativamente, acredite! Só depende de você!

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 89


Módulo

4 Portaria Conjunta ICMBio/PFE nº


05/2022

Unidade 1 - Portaria Conjunta ICMBio/PFE

Ao final desta unidade, você será capaz de conhecer as boas


práticas registradas na Portaria Conjunta ICMBio nº 05, de 02 de
agosto de 2022, que dispõe sobre a consolidação das boas práticas
relacionadas ao tema da terceirização de serviços contínuos com
dedicação exclusiva de mão de obra, no âmbito do ICMBio.

Vídeo 15 – Portaria Conjunta ICMBio nº 05/2022 – Parte 1

A seguir, será feita uma síntese da Portaria Conjunta nº 5, de 02 de agosto de 2022


(disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-conjunta-n-5-de-02-de-
agosto-de-2022-420312620), editada pelo ICMBio, que dispõe sobre a consolidação
das medidas e das boas práticas relacionadas ao tema da terceirização de serviços
contínuos com dedicação exclusiva de mão de obra.

Para tanto, serão feitos breves comentários, artigo por artigo, das medidas que
foram previstas na citada Portaria.

1.1. Manual de Aplicação de Sanções


Administrativas
No art. 2º, consta a aprovação do Manual de Aplicação de Sanções Administrativas
em Contratações de Serviços Contínuos com Regime de Dedicação Exclusiva de Mão
de Obra (terceirização).

Anexo I - Manual de Aplicação de Sanções Administrativas em Contratações


de Serviços Contínuos com Regime de Dedicação Exclusiva de Mão de Obra
(terceirização) no Âmbito do ICMBio (disponível em: https://www.in.gov.br/web/
dou/-/portaria-conjunta-n-5-de-02-de-agosto-de-2022-420312620).

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 90


1.2. Definição de fluxo para serem sanadas dúvidas
dos fiscais
Está sendo definido um fluxo contínuo para dirimir dúvidas dos fiscais e gestores
de contratos de serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva de mão de
obra, consolidando as respostas no formato sequencial de perguntas e respostas, a
ser disponibilizado na intranet do ICMBio:

Art. 3º Art. 3º  Estabelecer um fluxo contínuo para dirimir dúvidas dos fiscais e
gestores de contratos de serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva
de mão de obra, nos seguintes termos:
I - o coordenador de licitações e contratos do ICMBio deverá proceder,
preferencialmente na 1ª semana de cada mês,  abertura de expediente para
todos os gerentes regionais do ICMBio, para que os mesmos notifiquem todos os
fiscais e gestores de contratos em serviços contínuos com dedicação exclusiva de
mão de obra, dentro das respectivas áreas territoriais, para envio de dúvidas e
questionamentos relacionados na atuação dos referidos encargos;
II - os gerentes regionais do ICMBio deverão consolidar, preferencialmente na
última semana de cada mês, todas as dúvidas encaminhadas pelos  fiscais e
gestores de contratos  serviços contínuos com dedicação exclusiva de mão de
obra, para encaminhamento à PFE/ICMBio;
III - as respostas elaboradas pelos procuradores atuantes da  PFE/ICMBio, por
meio de manifestações consultivas, deverão ser encaminhadas ao Coordenador
da COMAD da PFE/ICMBio, para consolidação em forma de perguntas e respostas,
e posterior encaminhamento ao coordenador de licitações e contratos do ICMBIo;
IV - recebidas, da PFE/ICMBIo, as perguntas e respostas, o coordenador de licitações
e contratos do ICMBio deverá proceder à consolidação e atualizações periódicas,
em formato sequencial, disponibilizando o material  na intranet do Instituto,
e divulgando o acesso para todos os  fiscais e gestores de contratos  serviços
contínuos com dedicação exclusiva de mão de obra do ICMBio.

1.3. Treinamentos anuais


Está sendo estabelecida a necessidade de treinamentos anuais envolvendo todos os
fiscais e gestores de contratos:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 91


Art. 4º Estabelecer a necessidade do  coordenador de licitações e contratos do
ICMBio promover, em conjunto com a ACADEBio e demais servidores e órgãos do
Instituto, treinamentos anuais, preferencialmente no 2º semestre de cada ano,
envolvendo todos os fiscais e gestores de contratos, acerca dos seguintes temas:
I -  fiscalização de contratos em serviços contínuos com regime de dedicação
exclusiva de mão de obra (terceirização); 
II - aplicação de sanções administrativas em contratações de serviços contínuos
com regime de dedicação exclusiva de mão de obra (terceirização); 
III - formas de se afastar práticas caracterizadoras de assédio moral e sexual nas
relações envolvendo os terceirizados no âmbito do ICMBio;
IV - capacitação sobre saúde e segurança dos terceirizados, e respectivas Normas
Regulamentadoras (NRs) para fins de gestão contratual;

1.4. Divulgação de cursos e definição de espécies


contratuais
Está sendo estabelecida a necessidade de que sejam divulgadas as apresentações
e cursos organizados pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) e pela
Escola da Advocacia Geral da União (EAGU):

Art. 5º Determinar  ao coordenador de licitações e contratos do ICMBio


que sejam divulgadas as apresentações e cursos organizados pela Escola
Nacional de Administração Pública (ENAP) e pela Escola da Advocacia
Geral da União (EAGU) sobre o tema  contratações de serviços contínuos
com regime de dedicação exclusiva de mão de obra (terceirização) aos
fiscais e gestores de contratos, disponibilizados periodicamente no site
da ENAP (https://suap.enap.gov.br/portaldoaluno/search_results/?texto_
curso=&distancia=A+dist%C3%A2ncia&todas_inscricoes=Todas&todas_
categoria=Todas&datepicker=&todas_tema=Todas&todas_uf=Todas) e no canal
do Youtube da EAGU (https://www.youtube.com/c/EscoladaAGU).

Considerando que apenas nos contratos de terceirização pode ser gerada a


responsabilidade subsidiária do ICMBio, está sendo estabelecida a necessidade de
definição dos contratos em:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 92


Art. 6º Determinar que a Procuradoria Federal Especializada junto ao ICMBio,
quando do envio de subsídios aos órgãos de atuação contenciosa da Procuradoria
Geral Federal, em processos envolvendo a prestação de serviços e contratações de
obras na Justiça do Trabalho, possa definir, na medida do possível, os contratos
em:
I - terceirização, como prestação de serviços contínuos com dedicação exclusiva
de mão de obra;
II - empreitada, como contrato  para realização de obras de engenharia civil,
figurando o Instituto como dono da obra;
III - serviços não continuados ou contratados por escopo, como  aqueles que
impõem ao contratado o dever de realizar a prestação de um serviço específico
em período predeterminado;
IV - serviços técnicos especializados, de natureza predominantemente intelectual,
como aqueles realizados em trabalhos relativos a:
[...]
V -  facção, como sendo a  avença de natureza civil ou comercial, em que o
contratante pactua, com terceiro, o fornecimento de produtos prontos e acabados,
sem interferir na produção; 
VI -  economato, como sendo  a cessão onerosa para uso de espaço público
pela empresa contratada, empregadora do reclamante, para exercício de suas
próprias atividades, nas dependências da entidade pública, ou seja, a concessão
temporária do direito de uso de espaço físico para exploração econômica,
mediante pagamento de aluguel.

1.5. Kit fiscal


Está sendo estabelecida a necessidade, tão logo aconteçam as designações, de que a
autoridade designante encaminhe aos fiscais e gestores de contratos os documentos
discriminados (kit fiscal), para melhor desempenho do encargo:

Art. 7º  Determinar  que, tão logo aconteçam as designações, a autoridade


designante encaminhe aos fiscais e gestores de contratos os seguintes documentos,
dentre outros relacionados à fiscalização que deverá ser empreendida:
I - estudos preliminares, termos básicos e executivos, ato convocatório e seus
anexos, contrato, proposta da contratada e da garantia, manuais de fiscalização
e de aplicação de sanções, documentos relacionados à conta vinculada;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 93


II -  Lei  8.666/1993, Lei nº  14.133/2021,  Decreto nº 9.507/2018, e  Instrução
Normativa MPOG nº 05/2017;
III - caderno de logística relacionado ao tema conta vinculada, publicado pelo
então Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (https://repositorio.
cgu.gov.br/bitstream/1/38795/8/caderno_logistica_conta_vinculada_2018.pdf);
IV -  as apresentações organizadas pela Escola da Advocacia Geral da União
(EAGU) sobre o tema contratações de serviços contínuos com regime de dedicação
exclusiva de mão de obra (terceirização), em especial:
a) fiscalização de contratos em terceirização: análise normativa e boas práticas
(https://www.youtube.com/watch?v=t04z7GRkkKU&t=87s);
b) fiscalização: aspectos práticos, provas e jurisprudência (https://www.youtube.
com/watch?v=kivu-c6Ca9s&t=367s);
c) atuação do Preposto na Justiça do Trabalho: aspectos práticos e processuais
(https://www.youtube.com/watch?v=-F6FoSpQM8g&t=6574s).

1.6. Instrumentos de gestão


Está sendo estabelecida a necessidade, seja com a inserção nos atos convocatórios,
seus anexos, e minutas de contrato a ser firmado, seja com a utilização pelos fiscais
e gestores de contratos, dos seguintes instrumentos:
I - conta vinculada;
II - pagamento direto;
III - termo de quitação geral anual, previsto no art. 507-B da CLT.

Vejamos:

Art. 8º Recomendar, seja com a inserção nos atos convocatórios, seus anexos, e


minutas de contrato a ser firmado, seja com a utilização pelos fiscais e gestores
de contratos, dos seguintes instrumentos:
I - conta vinculada, prevista no art. 18, IN MPOG nº 05/2017, e no art. 8º, V, b, e
inciso VII, ambos do Decreto 9.507/2018;
II - pagamento  direto,  previsto no art. 121, §3º, IV, da  Lei nº  14.133/2021, no
art. 18, IN MPOG nº 5/2017, e no art. 8º, III, c/c §1º e §2º, ambos do Decreto
9.507/2018,  caso tenham sido constatadas falhas ou atrasos no cumprimento
das obrigações trabalhistas pela empresa contratada perante seus empregados,
podendo o ICMBio  realizar  a retenção da garantia prestada e das faturas
respectivas, proceder ao desconto dos valores nas faturas e ao pagamento direto

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 94


dos salários e demais verbas trabalhistas dos trabalhadores terceirizados, como
forma de proteção em razão da inadimplência da empregadora/contratada e de
eventual condenação subsidiária;
III - termo de quitação geral anual, previsto no art. 507-B da CLT, solicitando das
empresas contratadas pelo ICMBio que apresentem periodicamente, ao menos
uma vez ao ano, referido instrumento firmado por escrito, entre terceirizados e
empresas contratadas, com a participação (assistência) do sindicato da categoria
dos trabalhadores, destinado à quitação anual de obrigações trabalhistas,
devendo conter a discriminação da natureza das parcelas quitadas e valores,
bem como as eventuais obrigações de dar e fazer cumpridas mensalmente.

1.7. Comunicação dos pagamentos aos órgãos da


administração tributária e acompanhamento dos
cinco maiores contratos

Vídeo 16 – Portaria Conjunta ICMBio nº05/2022 – Parte 2

Está sendo estabelecida a necessidade de que, no ato de liquidação da despesa,


o serviço de contabilidade do ICMBio comunique aos órgãos da administração
tributária as características da despesa e os valores pagos, conforme o disposto
no art. 63 da Lei nº 4.320/1964, a fim de evitar fraudes no pagamento de tributos,
informando à Receita Federal para que possa ter melhores condições de fiscalização
das receitas auferidas pelas empresas contratadas, e os valores declarados à Receita
Federal do Brasil). In verbis:

Art. 9º Recomendar que, no ato de liquidação da despesa, o serviço de contabilidade


do ICMBio comunique aos órgãos da administração tributária as características
da despesa e os valores pagos, conforme o disposto no art. 63, da Lei 4.320/1964.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 95


Está sendo estabelecida a necessidade de o ICMBio proceder, a cada ano, ao
acompanhamento prioritário, especialmente quanto aos atrasos nos pagamentos
de verbas trabalhistas, fundiárias e de contribuições previdenciárias, ao menos dos
5 (cinco) contratos firmados pelo ICMBio: I - com maior quantidade de terceirizados
contratados; II - com maiores volumes de recursos financeiros. Vejamos:

Art. 10 Determinar  ao coordenador de licitações e contratos do ICMBio para


proceder,  a cada ano, ao  acompanhamento prioritário, especialmente quanto
aos atrasos nos pagamentos de verbas trabalhistas, fundiárias e de contribuições
previdenciárias, ao menos dos 5 (cinco) contratos firmados pelo ICMBio:
I - com maior quantidade de terceirizados contratados;
II - com maiores volumes de recursos financeiros.

1.8. Acesso a sistemas públicos de informação


Está sendo estabelecida a necessidade de os fiscais e gestores de contratos
acessarem seis sistemas públicos de informações, pesquisando a inserção das
empresas contratadas, a serem fiscalizadas, para fins de adoção de maiores cautelas
e providências administrativas:

Art. 11 Determinar aos fiscais e gestores de contratos o acesso aos sistemas


públicos de informações, pesquisando a inserção das empresas contratadas, a
serem fiscalizadas, nos seguintes bancos de informações, para fins de adoção de
maiores cautelas e providências administrativas: 
I - ranking das empresas mais demandadas na Justiça do Trabalho (http://www.
tst.jus.br/web/estatistica/tst/ranking-das-partes);
II - certidão negativa de débitos trabalhistas (CNDT), obtida junto ao banco
nacional de devedores trabalhistas (BNDT), por meio de acesso aos links “https://
www.tst.jus.br/certidao1” e “https://www.tst.jus.br/web/guest/estatistica-do-
cndt”.
III - cadastro nacional de empresas inidôneas e suspensas (CEIS), disponível no
link “https://ceiscadastro.cgu.gov.br/index.aspx?ReturnUrl=%2f ”;
IV - cadastro nacional de empresas punidas (CNEP), disponível no link “https://
portaldatransparencia.gov.br/pagina-interna/603244-cnep”;
V - portal nacional de contratações públicas, disponível no link “https://www.gov.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 96


br/pncp/pt-br”;
VI - certidão eletrônica de ações trabalhistas (CEAT), existente nos sites de todos
os Tribunais Regionais do Trabalho, possibilitando  consultas e informações
sobre ações ajuizadas contra as empresas contratadas, por meio da inserção
apenas do CNPJ da empresa.

1.9. Registro cadastral unificado


Está sendo estabelecida a necessidade de o ICMBio utilizar o sistema de registro
cadastral unificado disponível no Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP),
para efeito de cadastro unificado de licitantes, cujo registro será público e deverá
ser amplamente divulgado e estar permanentemente aberto aos interessados, com
obrigatória realização de chamamento público pela internet, no mínimo anualmente,
para atualização dos registros existentes e para ingresso de novos interessados.
Vejamos:

Art. 12 Determinar que o ICMBio utilize, nos termos dos arts. 87 e 88, ambos da
Lei 14.133/2021, o sistema de registro cadastral unificado disponível no Portal
Nacional de Contratações Públicas (PNCP),  para efeito de cadastro unificado
de licitantes, cujo registro será público e deverá ser amplamente divulgado e
estar permanentemente aberto aos interessados, com obrigatória realização de
chamamento público pela internet, no mínimo anualmente, para atualização
dos registros existentes e para ingresso de novos interessados.

Está sendo estabelecida a necessidade de que a atuação das empresas contratadas,


quanto ao cumprimento de obrigações assumidas, seja avaliada pelos gestores e
fiscais de contratos, que emitirão documento comprobatório da avaliação realizada,
com menção ao seu desempenho na execução contratual, baseado em indicadores
objetivamente definidos e aferidos, e a eventuais penalidades aplicadas, o que
constará do registro cadastral em que a inscrição for realizada, nos termos do item
antecedente:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 97


Art. 13  Determinar  que a  atuação das empresas contratadas, quanto  ao
cumprimento de obrigações assumidas, seja avaliada pelos gestores e fiscais de
contratos, que emitirão documento comprobatório da avaliação realizada, com
menção ao seu desempenho na execução contratual, baseado em indicadores
objetivamente definidos e aferidos, e a eventuais penalidades aplicadas, o que
constará do registro cadastral em que a inscrição for realizada, nos termos do
artigo antecedente.
Parágrafo único - A anotação do cumprimento de obrigações pelo contratado,
de que este artigo, será condicionada à implantação e à regulamentação do
cadastro de atesto de cumprimento de obrigações, apto à realização do registro
de forma objetiva, em atendimento aos princípios da  impessoalidade, da
igualdade, da isonomia, da publicidade e da transparência, de modo a possibilitar
a implementação de medidas de incentivo aos licitantes que possuírem ótimo
desempenho anotado em seu registro cadastral.

1.10. Solicitação e consolidação de informações


Está sendo estabelecida a necessidade de a PFE/ICMBio solicitar a todos os órgãos
de atuação contenciosa da Procuradoria-Geral Federal, com atuação junto à Justiça
do Trabalho, a cada 06 (seis) meses, informações relativas ao semestre anterior:

Art. 14 Determinar que o Coordenador da Coordenação de Matéria Administrativa


(COMAD) da Procuradoria Federal Especializada junto ao ICMBio (PFE/ICMBio)
solicite a todos os órgãos de atuação contenciosa da Procuradoria Geral
Federal,  com atuação junto à Justiça do Trabalho, a cada 06 (seis) meses,
informações relativas ao semestre anterior quanto:
I - às empresas com maior número de processos em que se discutem condenações
do ICMBio na tese «terceirização/responsabilidade subsidiária», para aumento
de medidas de fiscalização nos contratos administrativos celebrados, bem como
a adoção de providências administrativas prévias às contratações;
II - informações, por Estado,  nos quais o ICMBio possua  maiores  valores
processuais, de condenações judiciais e quantidade de processos ajuizados
contra si,  demandados em face do ajuizamento de reclamações trabalhistas
envolvendo a tese “responsabilidade subsidiária”.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 98


Está sendo estabelecida a necessidade de a PFE/ICMBio consolidar os dados
encaminhados pelos órgãos de atuação contenciosa da PGF, ao instante do
pedido de subsídios para atuação em processos judiciais na tese “terceirização/
responsabilidade subsidiária”, consolidando em planilhas e painéis informações:

Art. 15 Determinar à Coordenação de Gerenciamento de Subsídios e Cumprimentos


Judiciais (CGSCJ)  da Procuradoria Federal Especializada junto ao ICMBio a
consolidação dos dados encaminhados pelos órgãos de atuação contenciosa da
PGF, ao instante do pedido de subsídios para atuação em processos judiciais na
tese “terceirização/responsabilidade subsidiária”, consolidando em planilhas e
painéis as seguintes informações:
I - nomes das empresas contratadas pelo ICMBio, e que foram demandadas pelos
reclamantes pelo não pagamento de verbas trabalhistas;
II -  discriminação por Estado, por número de processo judicial, de valores
envolvidos e do juízo, relacionados ao ajuizamento de reclamações trabalhistas
contra a empresa referenciada no inciso anterior;
III -  discriminação por período  relacionado ao ajuizamento da reclamação
trabalhista contra a empresa  contratadas pelo ICMBio,  seja em relação à
contratação, à observância de descumprimentos contratuais ou ao ajuizamento
das ações.

1.11. Atuação em âmbito judicial


Está sendo estabelecido que, na hipótese de faltarem documentos essenciais
à realização de pagamentos diretos, em âmbito administrativo, pelo ICMBio, tais
como folha de pagamento, rescisões dos contratos e guias de recolhimento, dentre
outros, o gestor ou fiscal do contrato relatará o caso à PFE/ICMBio, para que seja
analisado, junto ao órgão de atuação contenciosa da PGF, o ajuizamento de ação ao
órgão competente da Justiça do Trabalho. Vejamos:

Art. 16  Determinar  que, na hipótese de  faltarem documentos essenciais à


realização de pagamentos diretos, em âmbito administrativo, pelo ICMBio, tais
como folha de pagamento, rescisões dos contratos e guias de recolhimento,
dentre outros, o gestor ou fiscal do  contrato relatará o caso  à Procuradoria
Federal Especializada junto ao ICMBio, para que seja analisado, junto ao órgão

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 99


de atuação contenciosa da PGF, o ajuizamento de ação ao órgão competente da
Justiça do Trabalho.
§1º Os valores retidos cautelarmente pelo ICMBio, acaso observada a hipótese
descrita no caput,  serão  informados ao órgão de atuação contenciosa
da PGF, para análise quanto ao depósito  junto à Justiça do Trabalho, com
o objetivo de serem utilizados exclusivamente no pagamento de salários e das
demais verbas trabalhistas, bem como das contribuições sociais e FGTS, quando
não for possível a realização desses pagamentos pelo próprio ICMBio.
§2º Na hipótese prevista no caput, o gestor ou fiscal do contrato encaminhará,
na medida do possível, à Procuradoria Federal Especializada junto ao ICMBio, a
seguinte documentação, para posterior envio ao órgão de atuação contenciosa
da PGF:
I - cópia do contrato administrativo e aditivos;
II - relação dos empregados terceirizados;
III - valores que o ICMBio pretende pagar a cada empregado terceirizado;
IV - valor líquido das faturas pendentes de pagamento para serem bloqueadas;
V - relatório com o histórico detalhado dos fatos, e das dificuldades para o
pagamento direto pelo próprio ICMBio, em âmbito administrativo;
VI - documentos que atestem o que falta a ser bloqueado de créditos da empresa,
especificando o valor para indicar ao juízo;
VII -discriminação das verbas trabalhistas, fundiárias e previdenciárias  dos
terceirizados em atraso;
VIII - documentação completa que comprove as diligências do órgão quanto à
efetiva fiscalização do contrato de terceirização.

1.12. Cartilha de orientação a prepostos e certidão


explicativa
Está sendo estabelecida a necessidade de que os servidores do ICMBio, ao serem
demandados por subsídios e informações para defesa em âmbito judicial, na tese
“terceirização/responsabilidade subsidiária”, utilizem como parâmetro mínimo de
informações a serem prestadas a certidão explicativa:

Art. 17  Determinar  que os servidores do ICMBio, ao serem demandados por


subsídios e informações para defesa em âmbito judicial, na tese “terceirização/
responsabilidade subsidiária”, utilizem como parâmetro mínimo de informações

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 100


a serem prestadas a certidão explicativa, elaborada pelo  Núcleo de Matéria
Trabalhista da ER-ADM/PRF4, nos termos do anexo II.

Anexo II - Certidão explicativa, elaborada pelo Núcleo de Matéria Trabalhista da ER-


ADM/PRF4 (disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-conjunta-n-5-
de-02-de-agosto-de-2022-420312620).

Está sendo estabelecida a necessidade de que, tão logo aconteçam as designações


de servidores para participação em audiências trabalhistas, a autoridade designante
encaminhe aos prepostos designados a cartilha de orientação aos prepostos
trabalhistas:

Art. 18 Determinar que, tão logo aconteçam as designações de servidores para


participação em audiências trabalhistas, a autoridade designante encaminhe aos
prepostos designados a  cartilha de orientação aos prepostos trabalhistas,
elaborada pela ER-TRAB/PRF 1, nos termos do anexo III.

Anexo III - Cartilha de orientação aos prepostos trabalhistas, elaborada pela ER-
TRAB/PRF 1 (disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-conjunta-n-
5-de-02-de-agosto-de-2022-420312620).

Por ainda não estarem previstos na Portaria Conjunta nº 05/2022, como


instrumentos que estão em estudo e gestação no âmbito do ICMBio, para
serem absorvidos futuramente em nova e posterior publicação de normativo,
temos:

a) Elaboração de Manual Fiscalização

b) art.4º-B da Lei nº 6.019/1974:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 101


Art. 4º-B. São requisitos para o funcionamento da empresa de prestação de
serviços a terceiros: (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
I - prova de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ); (Incluído
pela Lei nº 13.429, de 2017)
II - registro na Junta Comercial; (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
III - capital social compatível com o número de empregados, observando-se os
seguintes parâmetros: (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
a) empresas com até dez empregados - capital mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil
reais); (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
b) empresas com mais de dez e até vinte empregados - capital mínimo de R$
25.000,00 (vinte e cinco mil reais); (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
c) empresas com mais de vinte e até cinquenta empregados - capital mínimo de
R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais); (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
d) empresas com mais de cinquenta e até cem empregados - capital mínimo de
R$ 100.000,00 (cem mil reais); e (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)
e) empresas com mais de cem empregados - capital mínimo de R$ 250.000,00
(duzentos e cinquenta mil reais). (Incluído pela Lei nº 13.429, de 2017)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 102


Módulo

5 Atuação judicial

Unidade 1 – Atuação proativa da Administração


Pública

Ao final desta unidade, você será capaz de identificar situações


em que os órgãos e as entidades públicas poderão se utilizar
da estratégia de atuação proativa da realização do depósito de
valores em juízo para afastar a responsabilidade subsidiária em
relação a encargos trabalhistas nas contratações de serviços
contínuos com regime de dedicação exclusiva de mão de obra.

1.1. Responsabilidade subsidiária da


Administração pelos encargos trabalhistas
A nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) tem como regra geral a previsão
de que somente o contratado será responsável pelos encargos trabalhistas,
previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato, de modo
que a responsabilidade pelo seu pagamento não é transferida para a Administração
em caso de inadimplência (art. 121).

Nova Lei de Licitações


Art. 121. Somente o contratado será responsável pelos encargos
trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da
execução do contrato.
§ 1º A inadimplência do contratado em relação aos encargos
trabalhistas, fiscais e comerciais não transferirá à Administração
a responsabilidade pelo seu pagamento e não poderá onerar o
objeto do contrato nem restringir a regularização e o uso das
obras e das edificações, inclusive perante o registro de imóveis,
ressalvada a hipótese prevista no § 2º deste artigo.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 103


A ressalva a essa regra geral é justamente a existência de regra específica para
as contratações de serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva
de mão de obra (serviços terceirizados), em que há a previsão da possibilidade
de a Administração responder subsidiariamente pelos encargos trabalhistas, se
comprovada a falha na fiscalização do cumprimento das obrigações do contrato (§
2º do art. 121).

Nova Lei de Licitações


Art. 121. [...]
§ 2º Exclusivamente nas contratações de serviços contínuos com
regime de dedicação exclusiva de mão de obra, a Administração
responderá solidariamente pelos encargos previdenciários e
subsidiariamente pelos encargos trabalhistas se comprovada
falha na fiscalização do cumprimento das obrigações do
contratado.

Com o advento da nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021), a previsão da


responsabilidade subsidiária dos entes integrantes da Administração Pública,
que tinha amparo na jurisprudência dos tribunais trabalhistas, representada pela
Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), passa a ter fundamento
legal, superando a discussão até então existente em que se defendia a inexistência
da responsabilidade subsidiária da Administração pelos encargos trabalhistas com
base no art. 71 da Lei nº 8.666/1993:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 104


Conflito entre a Lei nº 8.666/1993 e a Súmula nº 331 TST
Elemento Fomentador de Discussão Judicial no Âmbito Trabalhista Acerca
da Possibilidade de Reconhecimento da Responsabilidade da
Administração por Encargos Trabalhistas em Caso de Inadimplência do
Contratado

Lei nº 8.666/1993
Súmula nº 331 do TST
(revogada pela Lei nº 14.133/2021)

Art. 71. O contratado é responsável CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE


pelos encargos trabalhistas, SERVIÇOS. LEGALIDADE
previdenciários, fiscais e comerciais [...]
resultantes da execução do IV - O inadimplemento das
contrato. obrigações trabalhistas, por parte
§ 1º A inadimplência do do empregador, implica a
contratado, com referência aos responsabilidade subsidiária do
encargos trabalhistas, fiscais e tomador dos serviços quanto
comerciais não transfere à àquelas obrigações, desde que haja
Administração Pública a participado da relação processual e
responsabilidade por seu conste também do título executivo
pagamento, nem poderá onerar o judicial.
objeto do contrato ou restringir a V - Os entes integrantes da
regularização e o uso das obras e Administração Pública direta e
edificações, inclusive perante o indireta respondem
Registro de Imóveis. subsidiariamente, nas mesmas
§ 2º A Administração Pública condições do item IV, caso
responde solidariamente com o evidenciada a sua conduta culposa
contratado pelos encargos no cumprimento das obrigações da
previdenciários resultantes da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993,
execução do contrato, nos termos especialmente na fiscalização do
do art. 31 da Lei nº 8.212, de 24 de cumprimento das obrigações
julho de 1991. contratuais e legais da prestadora
de serviço como empregadora. A
aludida responsabilidade não
decorre de mero inadimplemento
das obrigações trabalhistas
assumidas pela empresa
regularmente contratada.

Figura 12: Conflito entre a Lei nº 8.666/1993 e a Súmula 331 TST 

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 105


O Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento da Ação Declaratória de
Constitucionalidade nº 16, afirmou a constitucionalidade de tal dispositivo e assentou
a impossibilidade de se responsabilizar a Administração Pública com fundamento no
mero inadimplemento das obrigações trabalhistas devidas pela empresa contratada,
embora deixando em aberto a possibilidade de reconhecimento da responsabilidade
subsidiária pelos encargos trabalhistas com fundamento na Súmula nº 331 do TST.

A nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) veio para pôr um ponto final na questão,
na medida em que incluiu em seu texto a possibilidade de reconhecimento da
responsabilidade subsidiária da Administração em relação aos encargos trabalhistas,
incorporando a jurisprudência consolidada sobre tal matéria, condicionando tal
responsabilidade à comprovação da falha na fiscalização do cumprimento das
obrigações do contratado.

Portanto, com a entrada em vigor da Lei nº 14.133/2021, o foco da discussão deixa


de ser a existência ou não da responsabilidade subsidiária da Administração pelos
encargos trabalhistas em caso de inadimplência por parte do contratado, passando
a se concentrar na efetividade da fiscalização pelo cumprimento dessas obrigações.

Além da fiscalização do contrato, a Administração poderá adotar medidas


assecuratórias do cumprimento das obrigações trabalhistas pelo contratado.

1.2. A conta vinculada e o pagamento direto


A nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) prevê a realização de depósito em
conta vinculada e o pagamento direto em caso de inadimplência entre as medidas
que podem ser adotadas pela Administração para assegurar o cumprimento das
obrigações trabalhistas pelo contratado (§ 3º do art. 121).

Art. 121. [...]


§ 3º Nas contratações de serviços contínuos com regime
de dedicação exclusiva de mão de obra, para assegurar o
cumprimento de obrigações trabalhistas pelo contratado, a
Administração, mediante disposição em edital ou em contrato,
poderá, entre outras medidas:
I - exigir caução, fiança bancária ou contratação de seguro-
garantia com cobertura para verbas rescisórias inadimplidas;
II - condicionar o pagamento à comprovação de quitação das
obrigações trabalhistas vencidas relativas ao contrato;
III - efetuar o depósito de valores em conta vinculada;
IV - em caso de inadimplemento, efetuar diretamente o

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 106


pagamento das verbas trabalhistas, que serão deduzidas do
pagamento devido ao contratado;
V - estabelecer que os valores destinados a férias, a décimo
terceiro salário, a ausências legais e a verbas rescisórias dos
empregados do contratado que participarem da execução dos
serviços contratados serão pagos pelo contratante ao contratado
somente na ocorrência do fato gerador.

Portanto, além da possibilidade da exigência de garantia, como a caução, a fiança


ou o seguro, bem como de condicionar o pagamento à comprovação de quitação
das obrigações trabalhistas vencidas relativas ao contrato e de que o pagamento
de valores destinados a determinados encargos trabalhistas (ex. férias, 13º salário,
verbas rescisórias) seja realizado somente na ocorrência do fato gerador, a nova Lei
de Licitações (Lei nº 14.133/2021) permite que a Administração promova a realização
de depósito em conta vinculada e o pagamento direto de verbas trabalhistas, em
caso de inadimplência do contratado.

Nos termos do Decreto nº 9.507/2018, tais cláusulas são obrigatórias na contratação


para execução indireta de serviços pela Administração Pública federal direta,
autárquica e fundacional e pelas empresas públicas e sociedades de economia
mista controladas pela União.

Disposições contratuais obrigatórias


Art. 8º Os contratos de que trata este decreto conterão cláusulas
que:
[...]
V - prevejam, com vistas à garantia do cumprimento das
obrigações trabalhistas nas contratações de serviços continuados
com dedicação exclusiva de mão de obra:
a) que os valores destinados ao pagamento de férias, décimo
terceiro salário, ausências legais e verbas rescisórias dos
empregados da contratada que participarem da execução
dos serviços contratados serão efetuados pela contratante à
contratada somente na ocorrência do fato gerador; ou
b) que os valores destinados ao pagamento das férias, décimo
terceiro salário e verbas rescisórias dos empregados da contratada
que participarem da execução dos serviços contratados serão
depositados pela contratante em conta vinculada específica,
aberta em nome da contratada, e com movimentação autorizada
pela contratante;
[...]
VII - prevejam a verificação pela contratante, do cumprimento

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 107


das obrigações trabalhistas, previdenciárias e para com o FGTS,
em relação aos empregados da contratada que participarem da
execução dos serviços contratados, em especial, quanto:
a) ao pagamento de salários, adicionais, horas extras, repouso
semanal remunerado e décimo terceiro salário;
b) à concessão de férias remuneradas e ao pagamento do
respectivo adicional;
c) à concessão do auxílio-transporte, auxílio-alimentação e
auxílio-saúde, quando for devido;
d) aos depósitos do FGTS; e
e) ao pagamento de obrigações trabalhistas e previdenciárias
dos empregados dispensados até a data da extinção do contrato.
§ 1º Na hipótese de não ser apresentada a documentação
comprobatória do cumprimento das obrigações trabalhistas,
previdenciárias e para com o FGTS de que trata o inciso VII
do  caput  deste artigo, a contratante comunicará o fato à
contratada e reterá o pagamento da fatura mensal, em valor
proporcional ao inadimplemento, até que a situação esteja
regularizada.
§ 2º Na hipótese prevista no § 1º e em não havendo quitação
das obrigações por parte da contratada, no prazo de até quinze
dias, a contratante poderá efetuar o pagamento das obrigações
diretamente aos empregados da contratada que tenham
participado da execução dos serviços contratados.
§ 3º O sindicato representante da categoria do trabalhador deve
ser notificado pela contratante para acompanhar o pagamento
das verbas referidas nos § 1º e § 2º.
§ 4º O pagamento das obrigações de que trata o § 2º, caso ocorra,
não configura vínculo empregatício ou implica a assunção de
responsabilidade por quaisquer obrigações dele decorrentes
entre a contratante e os empregados da contratada.

1.3. Depósito de valores em conta vinculada


A nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) permite a existência de disposição
editalícia ou contratual que preveja a possibilidade de pagamento mediante a
utilização de conta vinculada.

Art. 142. Disposição expressa no edital ou no contrato poderá


prever pagamento em conta vinculada ou pagamento pela efetiva
comprovação do fato gerador.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 108


A Instrução Normativa nº 05/2017, da Secretaria de Gestão do Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, ao dispor sobre as regras e diretrizes
do procedimento de contratação de serviços sob o regime de execução indireta
no âmbito da Administração Pública federal, disciplinou a conta vinculada como
mecanismo de mitigação de riscos de descumprimento de obrigações trabalhistas.

Art. 18. Para as contratações de que trata o art. 17, o procedimento


sobre Gerenciamento de Riscos, conforme especificado nos arts.
25 e 26, obrigatoriamente contemplará o risco de descumprimento
das obrigações trabalhistas, previdenciárias e com FGTS da
contratada.

§ 1º Para o tratamento dos riscos previstos no caput, poderão ser


adotados os seguintes controles internos:

I - Conta-Depósito Vinculada ― bloqueada para movimentação,


conforme disposto em Caderno de Logística, elaborado
pela Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão; ou

Portanto, a conta-depósito vinculada (bloqueada para movimentação) é um


instrumento de gestão e gerenciamento de riscos para as contratações de serviços
continuados com dedicação exclusiva de mão de obra, tendo como objetivo a
garantia de existência de saldo financeiro para fazer frente aos encargos trabalhistas
devidos aos funcionários contratados pelas empresas terceirizadas para a prestação
de serviços em órgãos e entidades.

A Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017, em seu Anexo I, define a conta vinculada


como uma conta aberta pela Administração em nome da empresa contratada, a
qual fica bloqueada para movimentação, destinada exclusivamente ao pagamento
de férias, 13º salários e verbas rescisórias aos trabalhadores vinculados à execução
do contrato.

III - CONTA-DEPÓSITO VINCULADA - BLOQUEADA PARA


MOVIMENTAÇÃO: conta aberta pela Administração em nome da
empresa contratada, destinada exclusivamente ao pagamento
de férias, 13º (décimo terceiro) salário e verbas rescisórias aos
trabalhadores da contratada, não se constituindo em um fundo
de reserva, utilizada na contratação de serviços com dedicação
exclusiva de mão de obra.

Trata-se de uma conta aberta em nome da empresa contratada, em que são


depositadas mensalmente provisões para pagamento de férias, 13º (décimo terceiro)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 109


salário e verbas rescisórias dos trabalhadores que prestam serviços à entidade
pública contratante, sendo que o saldo somente pode ser liberado à empresa após
a comprovação de que quitou todos os encargos trabalhistas e previdenciários
relativos ao serviço contratado.

De acordo com a Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017, os percentuais


de reserva mensal para pagamento de encargos trabalhista incidirão sobre a
remuneração da seguinte forma:

Reserva mensal para o pagamento de encargos trabalhistas


Percentual incidente sobre a remuneração

ITEM Percentual (%)


13º (décimo terceiro) salário 8,33%
Férias e 1/3 Constitucional 12,10%

5,00%

Subtotal 25,43%
Incidência do Submódulo 2.2 sobre o pagamento de férias, 1/3
(um terço) constitucional de férias e 13º (décimo terceiro) salário*
7,39% 7,60% 7,82%

Total 32,82% 33,03% 33,25%


*Considerando as aliquotas de contribuição de 1% , 2% ou 3% referentes ao grau de risco de acidente do
trabalho, previstas no inciso II do art. 22 da Lei nº 8.212/1991

Figura 13: Reserva Mensal para o pagamento de encargos trabalhistas

Para a liberação dos recursos em conta-depósito vinculada - bloqueada para


movimentação para o pagamento dos encargos trabalhistas ou de eventuais
indenizações trabalhistas aos empregados, decorrentes de situações ocorridas
durante a vigência do contrato, a empresa deverá apresentar ao órgão ou entidade
contratante os documentos comprobatórios da ocorrência das obrigações
trabalhistas e seus respectivos prazos de vencimento.

Após a confirmação da ocorrência da situação que ensejou o pagamento dos encargos


trabalhistas ou de eventual indenização trabalhista e a conferência dos cálculos, o
órgão ou a entidade contratante expedirá a autorização para a movimentação dos
recursos creditados em conta-depósito vinculada - bloqueada para movimentação
e a encaminhará à instituição financeira depositária.

O valor contingenciado na conta vinculada junto ao banco depositário (depósito em


garantia) só pode ser movimentado em favor da pessoa jurídica contratada, conforme
previsto no instrumento contratual, em caso de comprovação do cumprimento das
respectivas obrigações trabalhistas. Na hipótese de não haver tal comprovação,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 110


o saldo ficará mantido na conta, podendo ser utilizado pela Administração para a
regularização da situação dos trabalhadores vinculados ao contrato.

1.4. Pagamento direto


A nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) permite expressamente que, em caso
de inadimplemento, a Administração efetue diretamente o pagamento das verbas
trabalhistas aos trabalhadores vinculados ao contrato, cujos valores deverão ser
deduzidos do pagamento devido ao contratado.

§ 3º Nas contratações de serviços contínuos com regime


de dedicação exclusiva de mão de obra, para assegurar o
cumprimento de obrigações trabalhistas pelo contratado, a
Administração, mediante disposição em edital ou em contrato,
poderá, entre outras medidas:
[...]
IV - em caso de inadimplemento, efetuar diretamente o
pagamento das verbas trabalhistas, que serão deduzidas do
pagamento devido ao contratado;

Para a operacionalização desse pagamento direto, o Decreto nº 9.507/2018 prevê


a possibilidade de a Administração proceder à retenção do pagamento da fatura
mensal, em caso de ausência de comprovação do adimplemento das obrigações
trabalhistas, para fins de realização do pagamento das obrigações diretamente
aos empregados da contratada que tenham participado da execução dos serviços
contratados, caso a situação não seja oportunamente regularizada pelo contratado.

Art. 8º [...]
§ 1º Na hipótese de não ser apresentada a documentação
comprobatória do cumprimento das obrigações trabalhistas,
previdenciárias e para com o FGTS de que trata o inciso VII do
caput deste artigo, a contratante comunicará o fato à contratada
e reterá o pagamento da fatura mensal, em valor proporcional
ao inadimplemento, até que a situação esteja regularizada.
§ 2º Na hipótese prevista no § 1º e em não havendo quitação
das obrigações por parte da contratada, no prazo de até quinze
dias, a contratante poderá efetuar o pagamento das obrigações
diretamente aos empregados da contratada que tenham
participado da execução dos serviços contratados.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111


A Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017 estabelece que a Administração poderá
proceder à retenção da garantia contratual e dos créditos do contratado, em caso
de rescisão do contrato de prestação de serviços com regime de dedicação exclusiva
de mão de obra, até que haja a comprovação do pagamento das verbas rescisórias
devidas aos trabalhadores vinculados à execução do contrato.

Das Hipóteses de Retenção da Garantia e de Créditos da


Contratada

Art. 64. Quando da rescisão dos contratos de serviços com regime


de dedicação exclusiva de mão de obra, o fiscal administrativo
deve verificar o pagamento pela contratada das verbas rescisórias
ou dos documentos que comprovem que os empregados serão
realocados em outra atividade de prestação de serviços, sem que
ocorra a interrupção do contrato de trabalho.

Art. 65. Até que a contratada comprove o disposto no artigo


anterior, o órgão ou entidade contratante deverá reter:

I - a garantia contratual, conforme art. 56 da Lei nº 8.666, de


1993, prestada com cobertura para os casos de descumprimento
das obrigações de natureza trabalhista e previdenciária pela
contratada, que será executada para reembolso dos prejuízos
sofridos pela Administração, nos termos da legislação que rege
a matéria; e

II - os valores das Notas fiscais ou Faturas correspondentes em


valor proporcional ao inadimplemento, até que a situação seja
regularizada.

Parágrafo único. Na hipótese prevista no inciso II do caput, não


havendo quitação das obrigações por parte da contratada no
prazo de quinze dias, a contratante poderá efetuar o pagamento
das obrigações diretamente aos empregados da contratada que
tenham participado da execução dos serviços objeto do contrato.

1.5. Depósito judicial de valores em caso de


inadimplência
Constada a situação de inadimplência por parte da empresa contratada, o que ocorre
após o decurso de prazo sem a apresentação da documentação comprobatória
da regularidade quanto ao pagamento desses encargos, a Administração poderá

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 112


lançar mão do ingresso de ação judicial requerendo o depósito em juízo de valores
devidos ao contratado, inclusive de eventual conta vinculada, a fim de que sejam
utilizados para a regularização da situação em relação aos trabalhadores vinculados
ao contrato.

Para tanto, a Administração deverá encaminhar para a respectiva Procuradoria,


via Sistema Sapiens, a documentação pertinente (por exemplo, contrato de
prestação de serviço, notificação acerca do inadimplemento, etc.), acompanhada
das informações necessárias (como valores devidos aos trabalhadores e créditos da
empresa contratada), a fim de que seja avaliada a possibilidade de ajuizamento de
ação judicial requerendo o depósito em juízo, para ser empregado no pagamento
dos valores devidos aos trabalhadores vinculados ao contrato.

Em linhas gerais, podem ser propostas duas espécies de ações judiciais:


(i) ação civil pública com pedido de antecipação de tutela; ou
(ii) ação de consignação em pagamento.

Na ação civil pública, são pedidos o bloqueio de créditos da empresa contratada


decorrentes da prestação de serviços terceirizados e a autorização de utilização
desses valores, pela Administração, para o pagamento dos trabalhadores
terceirizados que lhe prestaram serviços, de modo a garantir o pagamento das
verbas trabalhistas devidas, resguardando a entidade pública quanto a eventuais
reclamações trabalhistas com pedido de reconhecimento de responsabilidade
subsidiária.

Na ação de consignação em pagamento, o juízo trabalhista é informado de que a


fiscalização do contrato de prestação de serviços terceirizados identificou valores a
serem pagos aos trabalhadores vinculados à execução do contrato, sendo requerido
o depósito em juízo de eventuais créditos da empresa contratada, bem como a
intimação para que a empresa informe o valor devido a cada um dos trabalhadores,
a fim de que os valores bloqueados sejam utilizados para efetuar o pagamento das
quantias devidas a cada trabalhador, com o consequente afastamento de eventual
responsabilidade subsidiária quanto a tais encargos trabalhistas e rescisórios.

1.6. Atuação proativa da Administração


Em face da constatação da situação de inadimplência por parte da empresa
contratada para a prestação de serviços terceirizados, a Administração pode ter
duas formas de atuação: a reativa ou a proativa.

Na atuação meramente reativa, a Administração aguardará eventuais ações


trabalhistas dos empregados da empresa terceirizada, buscando afastar a
responsabilidade subsidiária com base no argumento da existência de efetiva

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 113


fiscalização do contrato. Porém, a não adoção de medidas para o bloqueio de créditos
e de garantias contratuais para fazer face ao pagamento das verbas trabalhistas
pode vir a ser interpretada como omissão por parte da Administração, ante o
reconhecimento da inércia face ao descumprimento de obrigações trabalhistas,
resultando, daí, o reconhecimento de sua responsabilidade subsidiária em relação
a tais encargos trabalhistas.

Por outro lado, a Administração pode se antecipar, atuando de forma preventiva e


proativa, com a realização de depósito em juízo de eventuais créditos da empresa
terceirizada para ser empregado no pagamento aos trabalhadores vinculados
ao contrato de prestação de serviços, de modo a afastar a alegação de omissão
administrativa e, por consequência, o reconhecimento da responsabilidade subsidiária,
conforme reconhecido em decisões do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Tribunal Superior do Trabalho - TST

“I) AGRAVO DE INTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA - VIOLAÇÃO DO ART. 71,


§ 1º, DA CLT - PROVIMENTO . Diante da constatação de possível violação do art.
71, § 1º, da CLT, dá-se provimento ao agravo de instrumento para determinar o
processamento do recurso de revista. Agravo de instrumento provido. II) RECURSO
DE REVISTA - RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA OBJETIVA - ENTE PÚBLICO – ADC
16 – JULGAMENTO PELO STF – CULPA IN VIGILANDO - NÃO-CONFIGURAÇÃO -
PROVIMENTO . 1. Consoante a Súmula 331, IV, do TST, o inadimplemento das
obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade
subsidiária do tomador dos serviços, mesmo em se tratando de órgãos da
administração pública direta, das autarquias, das fundações públicas, das
empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam
participado da relação processual e constem também do título executivo judicial
(art. 71 da Lei 8.666/93). 2. De outra parte, a propósito do julgamento da ADC
16 pelo STF em 24/11/10, o posicionamento sedimentado nesta Corte segue no
sentido de que, para que seja autorizada a responsabilidade subsidiária da
Administração Pública pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte
da empresa contratada conforme o disposto na Lei 8.666/93 deve ser demonstrada
a sua conduta omissiva no que se refere à fiscalização do cumprimento das
obrigações relativas aos encargos trabalhistas. 3. In casu, o Regional, apesar
de registrar que a União, após ter conhecimento do descumprimento de
cláusulas contratuais e do inadimplemento das obrigações trabalhistas
pela Empresa contratada, ajuizou ação civil pública visando ao bloqueio
judicial das faturas pendentes em nome da empresa contratada, a fim
de que os valores fossem utilizados para o pagamento dos créditos dos

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 114


empregados da Empresa, manteve a responsabilização subsidiária da
Entidade Pública, adotando como o fundamento a responsabilidade objetiva
da Administração. 4. Nesse contexto, não tendo havido omissão culposa
da Entidade Pública em relação à fiscalização quanto ao cumprimento das
obrigações trabalhistas, a decisão recorrida merece reforma, a fim de se
adequar a atual jurisprudência desta Corte Superior. Recurso de revista provido”
(TST, RR-4554-28.2010.5.10.0000, 7ª Turma, Relatora Juíza Convocada Maria
Doralice Novaes, DEJT 17/06/2011).

No caso acima, verifica-se que o fundamento para reformar a decisão que


reconheceu a responsabilidade subsidiária da Administração pelo inadimplemento
de encargos trabalhistas pelo contratado foi a ausência de omissão da entidade
pública na fiscalização das obrigações trabalhistas, em razão da atuação diligente
da Administração, que ajuizou ação judicial visando ao bloqueio de faturas da
empresa contratada para que os recursos fossem utilizados na quitação das verbas
trabalhistas inadimplidas junto aos seus empregados.

A diferença entre autor e réu não é necessariamente uma distinção entre quem tem
direito e quem não tem, entre o bem e o mal, entre o justo e o injusto, muitas vezes
é uma questão de quem ingressou primeiro na Justiça...

Esperar que o trabalhador cujos direitos trabalhistas foram descumpridos pela


empresa contratada ingresse na Justiça do Trabalho, de forma meramente reativa,
não parece ser a melhor estratégia. A Administração, ao tomar conhecimento da
existência de descumprimento das obrigações contratuais por parte da empresa
terceirizada, pode – e deve – ter uma atuação mais diligente, mais proativa,
antecipando-se ao problema, ingressando em juízo para depositar os valores
devidos à empresa em favor dos trabalhadores prejudicados, a fim de que evitar
eventual condenação subsidiária.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 115


Módulo

6 Certidão Explicativa

Unidade 1 - Certidão Explicativa

O objetivo desta unidade é que aluno conheça a Certidão


Explicativa, compreenda a sua importância para a defesa dos
órgãos públicos nas reclamações trabalhistas e aprenda como
preenchê-la corretamente.

1.1. Certidão Explicativa: destinação, definição e


funções
Antes de definir o que vem a ser a Certidão Explicativa, vamos compreender a que
tipo de processo ela se destina e também, ainda que singelamente, as principais
características desse processo. Isso facilitará a sua definição.

A Certidão Explicativa é destinada à instrução de processos judiciais, ou seja, ela é


um documento que será produzido para acompanhar a defesa do ente público em
ações reclamatórias trabalhistas em que é demandado como tomador de serviços
do reclamante, que é o autor da ação no processo do trabalho, normalmente um
terceirizado.

Quando um terceirizado entende que seus direitos trabalhistas foram ou estão


sendo violados por sua empregadora, ele pode se socorrer da Justiça do Trabalho,
ajuizando uma ação reclamatória trabalhista.

Nos casos em que sua força de trabalho foi direcionada a um terceiro – o tomador
de serviços – é comum que este seja reclamado (réu) na ação de modo subsidiário
ao empregador. Isso ocorre em face da atual redação da Súmula 331 do TST,
especialmente os itens IV, V e VI.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 116


Súmula nº 331 do TST
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
[...]
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte
do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do
tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja
participado da relação processual e conste também do título
executivo judicial.
V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e
indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do
item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento
das obrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993, especialmente
na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e
legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida
responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das
obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente
contratada.
VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços
abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes
ao período da prestação laboral.

O objetivo é que, havendo a condenação do empregador e também do tomador


de serviços, este último possa ser chamado a pagar pela condenação quando
aquele não a quitar e não possuir bens suficientes para tanto. Restará, então, o
redirecionamento da execução em face daquele que foi condenado de modo
subsidiário.

Para que a defesa do ente público, enquanto provável tomador dos serviços do
autor da ação, seja adequada, é necessário que o órgão de execução contenciosa
tenha conhecimento de características do contrato administrativo, do trabalho
do reclamante, das atividades de fiscalização, entre outros elementos, de modo a
demonstrar em juízo a ausência de culpa do ente público, afastando o pedido de
condenação subsidiária.

Todavia, a maioria dos órgãos de execução contenciosa não possuem um banco


de acesso a todos os contratos que são entabulados pelos entes assessorados,
bem como às informações necessárias de cada trabalhador terceirizado que presta
serviços aos entes públicos representados, fazendo com que seja necessário,
quando do ingresso de uma nova ação, que solicitem informações e documentos ao
ente público demandado. Na esfera de atuação da Advocacia-Geral da União (AGU),
essas informações e documentos são denominados “subsídios”.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 117


A Procuradoria-Geral Federal (PGF) hoje é responsável pela
representação judicial de mais de 170 autarquias e fundações
públicas federais.

Os subsídios são os elementos de fato e de direito e outros necessários à


representação judicial e extrajudicial da entidade pública demandada em juízo.
Em suma, são as informações e os documentos que devem ser prestados pelas
entidades públicas para os órgãos de contencioso, a fim de que estes produzam as
defesas e manifestações dos entes representados.

A previsão do fornecimento de subsídios pelas Procuradorias Federais junto às


autarquias e fundações encontra-se no art.30, inciso VII, da Portaria nº 172/2016 da
PGF.

Art. 30 Compete às Procuradorias Federais junto às autarquias e


fundações públicas federais:
[...]
VII - disponibilizar os elementos de fato, de direito e outros
necessários à representação judicial e extrajudicial da entidade,
incluindo a designação de prepostos e assistentes técnicos,
quando for o caso.

Há ainda, no campo normativo da AGU, a Portaria nº 1.547/2008 do Advogado-Geral


da União, que dispõe sobre a requisição de elementos de fato e de direito necessários
à atuação dos membros da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral
Federal na defesa dos direitos e interesses da União, suas autarquias e fundações e
dá outras providências.

Compreendida a destinação da Certidão Explicativa, podemos defini-la como um


documento que traz elementos de fato (informações) necessários à defesa judicial
do ente público, integrando os subsídios que devem ser encaminhados para as
Procuradorias jurídicas.

A função da Certidão Explicativa é fornecer ao órgão de execução


contencioso informações essenciais para a correta elaboração da
defesa do ente público, especialmente em relação às práticas de
fiscalização administrativa adotadas e aos aspectos relevantes
do trabalho do terceirizado reclamante que podem contrapor-se
aos pedidos formulados na ação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 118


Existem ações em que os reclamantes, na intenção de receber diferenças ou
adicionais, postulam o reconhecimento de jornadas de trabalho maior ou diversa
daquela que habitualmente realizavam, ou ainda, alegam desenvolver trabalho em
condições insalubres e perigosas, mas na realidade nunca realizaram a jornada ou
as atividades alegadas. Essas informações ou esses esclarecimentos, por sua vez,
devem ser prestados na Certidão Explicativa.

É o fiscal do contrato, ou ainda o gestor do contrato, quem tem condições de


informar ao contencioso esses fatos, colaborando para a completa defesa do ente
demandado.

Convém mencionar que a Certidão Explicativa, uma vez produzida para os


subsídios de determinada ação, poderá ser replicada em outras ações ajuizadas por
reclamantes vinculados ao mesmo contrato, havendo a necessidade de alteração
apenas do tópico referente ao trabalho específico do terceirizado.

Na prática, a Certidão Explicativa, além de contribuir para a coerente defesa do ente


público, possui alta receptividade pelo Poder Judiciário como prova dotada de fé
pública, uma vez que produzida por servidor público no exercício da sua função.

Em muitos casos analisados, não resta dúvida de que o teor da Certidão


Explicativa, acompanhado dos documentos que demonstravam a tese de defesa
do ente, embasou decisões favoráveis que julgaram improcedente o pedido de
responsabilidade subsidiária do tomador de serviços.

Citem-se os fundamentos extraídos do acórdão proferido pela 6ª Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da 9ª Região no julgamento da ação 0001115-92.2019.5.09.0041
(ROT), em que ficou reconhecida a fiscalização promovida pela Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e afastada a sua condenação subsidiária:

RECURSO ORDINÁRIO DE UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANA


A. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA
[...]
No caso dos autos, a segunda Reclamada apresentou uma certidão
explicativa sobre a fiscalização do contrato de prestação de serviços
firmado com a primeira Reclamada (fls. 281/283); contrato de prestação
de serviços (fls. 284/288); notas fiscais de prestação de serviços de reembolso
de diárias de viagens e respectivos relatórios emitidos pela primeira Reclamada
(fls. 290/295); notificação à primeira Reclamada a respeito do não pagamento
de adicional noturno e de diárias dos meses de dezembro de 2018 e janeiro de

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 119


2019, sob pena de retenção da nota fiscal (fls. 296/298); portaria de designação
de servidores para as atribuições de gestor e fiscal do contrato de prestação
de serviços com a primeira Reclamada (fls. 299/300); documentos relativos ao
contrato de trabalho da Reclamante, como renúncia ao vale-transporte, ficha de
registro de empregados, ASO, holerites, cartões-ponto, TRCT, extrato de FGTS (fls.
301/330).
[...]
Não há como condenar a UTFPR simplesmente porque se beneficiou do trabalho
do Reclamante, já que não participou diretamente da relação de trabalho
travada entre as partes. O contrato de trabalho, em seus termos e execução, não
ficou ao alvedrio da primeira Reclamada, pois, consoante lista de documentos
acima listados, houve a fiscalização da empresa prestadora de serviços. Posto
isso,  reforma-se  a r. sentença para afastar a responsabilidade subsidiária da
UTFPR pelas verbas deferidas na presente demanda.

No material de apoio deste curso você encontrará um modelo


sugerido de Certidão Explicativa que contempla as principais
informações necessárias para a defesa das reclamatórias
trabalhistas.

Vídeo 17 – CERTIDÃO EXPLICATIVA: Destinação, definição e


funções

1.2. Preenchendo a Certidão Explicativa


O modelo de Certidão Explicativa sugerido possui três informações obrigatórias
a serem prestadas pelo ente público demandado na ação e uma quarta, que é
facultativa.

Obrigatoriamente, devem constar na Certidão Explicativa


informações referentes:
1) ao contrato administrativo;
2) ao trabalho do reclamante; e
3) à fiscalização administrativa das obrigações trabalhistas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 120


O quarto item da certidão é facultativo e refere-se a outras informações relevantes
que o responsável por sua elaboração julgar conveniente informar.

O primeiro campo da Certidão Explicativa denomina-se “Do contrato


administrativo”.

Nessa primeira parte, o responsável pela elaboração da Certidão deve informar os


dados da contratação de forma textual ou por tópicos, como preferir.

São elementos essenciais da informação a ser prestada:

1. A lei de regência da contratação (Lei nº 8.666/1993 ou Lei nº 14.133/2021);

2. O número do processo licitatório, inclusive no caso de dispensa de


licitação, bem como o número do contrato e o regime de execução;

3. O período de vigência do contrato administrativo (prazo inicial e final),


bem como a natureza da rescisão (unilateral, amigável ou decurso do
prazo), ou ainda, se houve suspensão do contrato, a razão e o período;

4. O objeto do contrato e o regime de execução;

5. Se houve alteração da razão social da empresa.

Indica-se, como exemplo, as informações prestadas pela equipe de fiscalização do


Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em uma de suas
Certidões Explicativas:

EXEMPLO DO CORRETO PREENCHIMENTO DO ITEM

Figura 14: Exemplo do correto preenchimento do item. 

Observe que os dados essenciais estão bem informados, podendo-se extrair da


Certidão que a empresa prestava serviços de mão de obra continuada e teve dois
contratos com a autarquia, um sem maiores problemas em relação às obrigações

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 121


trabalhistas e outro que foi rescindido unilateralmente em face de irregularidades
constatadas pela equipe de fiscalização.

Atenção!
Se a demanda judicial for originária de contrato de empreitada de
obra, o fiscal deve deixar isso bem explícito no item 1 da Certidão.
Do mesmo modo deve ocorrer se o contrato não tiver dedicação
exclusiva de mão de obra, indicando-se também a cláusula do
termo de referência que faz menção ao fato. Se o contrato em
discussão foi cedido à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
(EBSERH) por força de contrato de gestão, esse fato também deve
ser mencionado nesta parte da Certidão.

Neste ponto, cabe fazer alguns apontamentos muito relevantes em relação aos
contratos diversos da prestação de serviços com mão de obra exclusiva (aqueles
em que a entidade pública contrata a mão de obra e a aloca em suas dependências,
como os contratos de vigilância e limpeza), especialmente o contrato de empreitada
de obra, contratos sem dedicação exclusiva de mão de obra e contrato de cessão
de espaço público, uma vez que normalmente são tratados pelos reclamantes como
se fossem prestação de serviços com mão de obra exclusiva, o que pode induzir o
julgador ao erro.

Se o contrato que dá origem à ação for de empreitada de obra, a Certidão deve


deixar isso bem claro, indicando, se possível, a obra contratada, a fim de que o órgão
de contencioso adeque sua defesa à tese prevista para essa espécie de contratação,
a saber, a OJ 191 da SDI-TST.

191. CONTRATO DE EMPREITADA. DONO DA OBRA DE CONSTRUÇÃO


CIVIL. RESPONSABILIDADE. Diante da inexistência de previsão
legal específica, o contrato de empreitada de construção civil
entre o dono da obra e o empreiteiro não enseja responsabilidade
solidária ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas
pelo empreiteiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa
construtora ou incorporadora.

Vejamos um exemplo da correta prestação dessa informação, em que a Instituição


Federal de Ensino indicou corretamente a espécie do contrato e a sua finalidade.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 122


EXEMPLO DO CORRETO PREENCHIMENTO DA CERTIDÃO EM
CONTRATOS DE EMPREITADA DE OBRA

Paraná
INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ
Rua Emilio Bertolini, nº 54,- Bairro Cajuru,Curitiba/PR, CEP 82920-030
Telefone: e Fax: @fax_unidade@ - http://www.ifpr.edu.br

CERTIDÃO

Processo nº 23411.002958/2021-31
Interessado: @interessados_virgula_espaco@

Figura 15: Exemplo do correto preenchimento da certidão em contratos de empreitada de obra. 

Caso quem está prestando os subsídios observe que o contrato pelo qual o reclamante
alega ter prestado serviços ao ente for da espécie sem dedicação exclusiva de mão
de obra, isso também deve ficar evidente na Certidão, indicando a cláusula do termo
de referência que faz menção ao fato. São espécies destes contratos aqueles de
manutenção de equipamentos, como ar condicionado, elevadores, etc.

Neste contrato, não há alocação de mão de obra exclusiva no ente público, de modo
que a prestação dos serviços ocorre por demanda e o empregado da empresa
contratada presta serviços a mais de um tomador concomitantemente.

Por disposição da Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017 (https://www.gov.br/


compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/instrucoes-normativas/instrucao-
normativa-no-5-de-26-de-maio-de-2017-atualizada) e da Lei nº 14.133/2021 (http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14133.htm), estes contratos
não se submetem à fiscalização trabalhista.

Recomenda-se a leitura atenta dos art. 39 e art. 40, inciso III, da IN SEGES/MP nº
05/2017 e também do art.121, § 2º, da Lei nº 14.133/2021, cuja correta interpretação
é a de que apenas é exigida a fiscalização administrativa das obrigações trabalhistas
dos trabalhadores nos contratos com dedicação exclusiva de mão de obra.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 123


Por sua vez, o conceito de serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva
de mão de obra é dado pelo art. 6º, inciso XVI, da Lei nº 14.133/2021, cuja leitura
também recomendamos.

Art.6º da Lei nº 14.133/2021


[...]
XVI - serviços contínuos com regime de dedicação exclusiva de
mão de obra: aqueles cujo modelo de execução contratual
exige, entre outros requisitos, que:
a) os empregados do contratado fiquem à disposição nas
dependências do contratante para a prestação dos serviços;
b) o contratado não compartilhe os recursos humanos e
materiais disponíveis de uma contratação para execução
simultânea de outros contratos;
c) o contratado possibilite a fiscalização pelo contratante quanto
à distribuição, controle e supervisão dos recursos humanos
alocados aos seus contratos;

Por fim, em caso de a demanda relacionar-se com contrato de cessão de espaço


público, como ocorre com frequência nas cantinas de restaurantes universitários,
igualmente deve o responsável pelo preenchimento da certidão explicativa apontar
essa situação nesta parte da certidão.

Tal como ocorre nos serviços sem dedicação exclusiva de mão de obra, não há
responsabilidade do entre público concedente por eventuais irregularidades
trabalhistas cometidas pelo concessionário.

Nestes casos que não se enquadram como contratação com


regime de dedicação exclusiva de mão de obra e também na
empreitada de obra, permite-se que nos itens 2 (DO LABOR DA
RECLAMANTE) e 3 (DA FISCALIZAÇÃO TRABALHISTA) da Certidão
seja apenas indicada a seguinte expressão “não se aplica à
espécie contratual”.

Vídeo 18 – Preenchendo a Certidão Explicativa - Parte 1

O segundo campo a ser preenchido da Certidão Explicativa pede informações


acerca do trabalho do reclamante, devendo o servidor ficar atendo àquelas que são
consideradas essenciais e complementares.
Para preencher este item, recomendamos que se tenha em mão, ou à vista, a petição

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 124


inicial que é encaminhada pelo órgão de contencioso juntamente com a solicitação
de subsídios, fazendo-se uma leitura dos pedidos do reclamante, normalmente
intitulados da seguinte forma: “Do desvio de função”; “Da realização de horas extras”;
“Do direito ao adicional de insalubridade”, etc.

São essenciais as seguintes informações sobre o trabalho do reclamante:

1. a função ocupada e o local da prestação de serviços (Campus X, cidade


X).
2. as atribuições do cargo;
3. o período em que o reclamante trabalhou com exclusividade na
instituição;
4. a jornada de trabalho (por exemplo, de segunda a sexta-feira, das 8h às
18h com uma hora de intervalo); e
5. se houve qualquer interrupção ou suspensão do contrato de trabalho da
parte reclamante no curso da prestação de serviços (licenças,
afastamentos, faltas, etc.).

As informações solicitadas são aquelas que demonstram quem é o terceirizado


no contrato, ou seja, suas funções, local de prestação dos serviços, atribuições de
seu cargo, período de início e fim de trabalho na instituição, jornada de trabalho e
qualquer causa interruptiva do contrato.

Frequentemente observamos ações ajuizadas por terceirizados que prestaram


serviços ao ente público por tempo menor ou em funções diversas do alegado,
sendo de extrema importância para a defesa o preenchimento correto deste campo.

Consideram-se complementares aquelas informações que só devem ser prestadas


se forem necessárias para a contraposição de pedidos específicos feitos na petição
inicial, como:

1. Hora-extra/feriados em dobro/supressão de intervalos;


2. Adicional/Diferenças de insalubridade/periculosidade;
3. Danos morais/assédios;
4. Acidente do trabalho/Doença do Trabalho.

Por exemplo, se o autor alega ter trabalhado todos os dias realizando horas- extras,
ou ter trabalhado aos sábados, em domingos e feriados, deve a fiscalização informar
a jornada de trabalho, se havia previsão contratual ou necessidade de extrapolação
da jornada contratada.

Também são comuns pedidos de adicional de insalubridade em que o terceirizado


alega ter trabalhado exposto a condições biológicas e químicas que lhe dariam

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 125


direito a algum adicional ou a sua majoração (quando já pago). É importante que a
fiscalização, nesse caso, indique se o trabalho prestado pelo terceirizado o expunha
às situações alegadas de modo habitual e permanente, se havia fornecimento de
Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), etc.

No mais, havendo alegação de danos morais e assédios (moral e/ou sexual), deve ser
esclarecida a ocorrência, indicando se houve denúncia dos atos e ofensas à equipe
de fiscalização e os procedimentos adotados.

Em caso de pedido originário de alegação de acidente de trabalho ou doença do


trabalho, cumpre ao responsável pelo preenchimento da certidão esclarecer se
houve o acidente e quais medidas foram adotadas, bem como as condições em que
o trabalho é desempenhado.

A seguir, traremos alguns exemplos de preenchimento adequado desta parte da


Certidão Explicativa, extraídos de casos reais.

EXEMPLO 1- trabalhador em jornada 12x36 e em trabalho tido


como perigoso:

2. DO LABOR DO RECLAMANTE
O Reclamante exerceu a função d e vigilante armado, n a maior parte do t empo noturno, na
SR/DNIT-PR n a cidade d e Curitiba-PR, recebendo adicional d e periculosidade, conforme constante na
CCT da categoria. O Reclamante laborou para o DNIT-PR d o período d e 01/04/2017 a 20/05/2019, no
sistema de trabalho de 12x36 das 19:00 às 07:00, sem previsão de horas extras.

Figura 16: Exemplo 1 

EXEMPLO 2: trabalhador em regime 12x36 que trabalhou como


“reserva técnica” e “posto fixo” em períodos distintos:

2. DO LABOR DO RECLAMANTE:

O Sr. _____________________________ ocupou o posto de vigilante diurno como reserva técnica na


UFPR, com escala - 12X36, das 07h:00min às 19h:00min durante o período de 09/06/2018 a 15/06/2018 no Campus
Botânico. A partir do dia 13/05/2019, retornou a UFPR atuando como reserva técnica até 31/05/2019. A partir de
06/06/2019, passou a ocupar o posto fixo de vigilante diurno, com escala - 12X36, das 07h:00min às 19h:00min, no
Campus Rebouças. O reclamante laborou até o dia 15/09/2019 na UFPR como posto fixo, data na qual o posto foi
suprimido e o reclamante recolhido da Universidade, passando a atuar novamente como reserva técnica na empresa.

Figura 17: Exemplo 2

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 126


EXEMPLO 3: trabalhadora sem realização de horas extras e não
pertencente a equipe de limpeza sanitária:

Figura 18: Exemplo 3

Vídeo 19 – Preenchendo a Certidão Explicativa - Parte 2

O terceiro campo da Certidão Explicativa destina-se a trazer informações sobre a


rotina de fiscalização das obrigações trabalhistas, o nome dos fiscais designados
e eventuais medidas preventivas e tempestivas adotadas para a proteção dos
trabalhadores, como pagamentos diretos, aberturas de processos de apuração de
responsabilidade, penalidades aplicadas, entre outras.

Essa é a parte mais importante da Certidão para a tese de defesa do ente público
quando estiver em análise um contrato de prestação de serviços com dedicação
exclusiva de mão de obra, uma vez que resume os principais atos de fiscalização.

Ela não precisará ser preenchida naqueles contratos em que não há exigência de
fiscalização trabalhista ou cedidos a outros (como para a EBSERH), devendo apenas
constar no item: “não se aplica ao contrato em questão”.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 127


Vejamos exemplos reais do correto preenchimento deste campo pelo DNIT, pela
UFPR e pela UTFPR, demonstrando de modo objetivo a realização de fiscalização e a
atuação no sentido de resguardar os trabalhadores.

Exemplo 4

Figura 19: Exemplo 4

Exemplo 5:

3. DA FISCALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Destacamos que a f iscalização d o contrato i nstaurou o Processo de Apuração d e Responsabilidade (SEI


___________________), em decorrência do absenteísmo no período de 31/07/2016 a 31/08/2017. Ressaltamos que o
processo administrativo em questão encontra-se e m tramitação i nterna n a UFPR, t endo s ido emitida a Portaria Nº
___________ em 18/02/2021, pelo qual aplicou-se a multa de R$ 960,84 (novecentos e sessenta reais, oitenta e quatro
centavos), correspondente a 2% sobre o valor mensal do posto multiplicado pelos dias de falta - Parágrafo Terceiro da
Cláusula Décima Segunda do Contrato n.º 033/2016.

Anexamos ao presente processo os Relatórios de Fiscalização Administrativa, realizado pela UFPR durante a execução
contratual.

Foram apresentados ao faturamento da UFPR: cópia de folha analítica, cartão ponto e demais documentos anexos a esta
certidão.

O fiscal do contrato é o servidor _________________________, o qual fiscalizou o contrato subsidiado pela Equipe de
Apoio da CAAST/CLOG/PRA (Analistas de contratos).

Figura 20: Exemplo 5

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 128


Exemplo 6:

Figura 21: Exemplo 6

Por fim, a quarta e última parte da Certidão Explicativa a ser preenchida refere-se
a outras informações relevantes que o servidor repute necessárias e que não foram
abarcadas nos campos anteriores.

Caso a entidade pública detenha informações sobre ações cautelares/coletivas e


mandados de bloqueios de créditos da empresa contratada, deve indicar nesta
parte da Certidão, para que o órgão de execução contenciosa possa atuar para
evitar condenações em duplicidade ou medidas que prejudiquem a maioria dos
trabalhadores em detrimento de um ou poucos.

Também, em caso de o ente público ter participado de audiências ou procedimentos


do Ministério Público do Trabalho relativos a esse contrato, pede-se que seja
informado, indicando o número do procedimento e juntando eventuais atas das
audiências com os subsídios.

Para finalizar, a Certidão Explicativa deve conter a data e o nome daquele que presta
as informações.

Vídeo 20 – Preenchendo a Certidão Explicativa - Parte 3

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 129


Módulo

7 Manual de Fiscalização e Sanções

Unidade 1 - Aspectos gerais referentes ao


procedimento de fiscalização contratual

Ao final desta unidade, você será capaz de entender os papéis do


gestor e do fiscal de contrato, conhecer e aplicar as rotinas de
fiscalização dos contratos.

1.1. Fundamento legal do poder-dever de fiscalizar


contratos administrativos

A fiscalização do contrato administrativo constitui uma prerrogativa da Administração


Pública para assegurar o cumprimento do objeto contratado na quantidade, na
qualidade e no tempo devidos, com previsão legal no art. 58, III, c/c art. 67 da Lei nº
8.666/1993 e no art. 104, III, c/c art. 117 da Lei nº 14.133/2021.

Regulando a matéria, o art. 19 do Decreto nº 11.246/2022, que regulamenta o


disposto no § 3º do art. 8º da Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021 (em vigor a partir
de 1º de novembro de 2022), conceitua as atividades de gestão e fiscalização como:

I - gestão de contrato - a coordenação das atividades relacionadas à fiscalização


técnica, administrativa e setorial e dos atos preparatórios à instrução processual
e ao encaminhamento da documentação pertinente ao setor de contratos para
a formalização dos procedimentos relativos à prorrogação, à alteração, ao
reequilíbrio, ao pagamento, à eventual aplicação de sanções e à extinção dos
contratos, entre outros; Ver tópico
II - fiscalização técnica - o acompanhamento do contrato com o objetivo de
avaliar a execução do objeto nos moldes contratados e, se for o caso, aferir se
a quantidade, a qualidade, o tempo e o modo da prestação ou da execução

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 130


do objeto estão compatíveis com os indicadores estabelecidos no edital, para
fins de pagamento, conforme o resultado pretendido pela administração, com o
eventual auxílio da fiscalização administrativa; Ver tópico
III - fiscalização administrativa - o acompanhamento dos aspectos administrativos
contratuais quanto às obrigações previdenciárias, fiscais e trabalhistas e quanto
ao controle do contrato administrativo no que se refere a revisões, a reajustes, a
repactuações e a providências tempestivas nas hipóteses de inadimplemento; e
Ver tópico
IV - fiscalização setorial - o acompanhamento da execução do contrato nos
aspectos técnicos ou administrativos quando a prestação do objeto ocorrer
concomitantemente em setores distintos ou em unidades desconcentradas de
um órgão ou uma entidade. Ver tópico

Da mesma forma, o art. 10 do Decreto nº 9.507/2018 prevê que a gestão e a


fiscalização da execução dos contratos compreendem o conjunto de ações que
objetivam:

I - aferir o cumprimento dos resultados estabelecidos pela contratada;


II - verificar a regularidade das obrigações previdenciárias, fiscais e trabalhistas;
e
III - prestar apoio à instrução processual e ao encaminhamento da documentação
pertinente para a formalização dos procedimentos relativos à repactuação,
reajuste, alteração, reequilíbrio, prorrogação, pagamento, aplicação de sanções,
extinção dos contratos, entre outras, com vistas a assegurar o cumprimento das
cláusulas do contrato a solução de problemas relacionados ao objeto.

Então, o objetivo da fiscalização é verificar a regularidade do cumprimento das


obrigações contratuais, ou seja, se a quantidade, o tempo, o modo e a qualidade
da prestação dos serviços estão compatíveis com os parâmetros e indicadores de
níveis mínimos de desempenho estipulados no ato convocatório, com o registro
respectivo, bem como verificar a regularidade das obrigações previdenciárias, fiscais
e trabalhistas das contratadas e de seus empregados.

1.2. Segregação de funções


Há dois núcleos de atuação da atividade de fiscalização que devem se distinguir,
a saber, a gestão contratual e a fiscalização propriamente dita. A primeira diz
respeito à condução integral do processo de contratação, desde a identificação

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 131


das necessidades da Administração até o fim da execução do contrato, com o seu
devido encerramento. E a fiscalização auxiliar focaliza a exigência do cumprimento
contratual por parte das contratadas.

A distinção de papéis para o exercício dessas duas facetas do dever de fiscalização


contratual materializa o preceito da segregação de funções, explicitado como
princípio no art. 5º e no art. 7º, § 1º, da Lei nº 14.133/2021 e regulamentado no art.
12 do Decreto nº 11.246/2022:

Art. 7º Caberá à autoridade máxima do órgão ou da entidade, ou a quem as normas


de organização administrativa indicarem, promover gestão por competências e
designar agentes públicos para o desempenho das funções essenciais à execução
desta Lei que preencham os seguintes requisitos:
I - sejam, preferencialmente, servidor efetivo ou empregado público dos quadros
permanentes da Administração Pública;
II - tenham atribuições relacionadas a licitações e contratos ou possuam formação
compatível ou qualificação atestada por certificação profissional emitida por
escola de governo criada e mantida pelo poder público; e
III - não sejam cônjuge ou companheiro de licitantes ou contratados habituais
da Administração nem tenham com eles vínculo de parentesco, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, ou de natureza técnica, comercial, econômica,
financeira, trabalhista e civil.
§ 1º A autoridade referida no caput deste artigo deverá observar o princípio
da segregação de funções, vedada a designação do mesmo agente público
para atuação simultânea em funções mais suscetíveis a riscos, de modo a reduzir
a possibilidade de ocultação de erros e de ocorrência de fraudes na respectiva
contratação.
....................
Decreto nº 11.246/2022:
Art. 12. O princípio da segregação das funções veda a designação do mesmo
agente público para atuação simultânea em funções mais suscetíveis a riscos, de
modo a reduzir a possibilidade de ocultação de erros e de ocorrência de fraudes
na contratação. Ver tópico
Parágrafo único. A aplicação do princípio da segregação de funções de que trata
o caput:
I - será avaliada na situação fática processual; e
II - poderá ser ajustada, no caso concreto, em razão:
a) da consolidação das linhas de defesa; e
b) de características do caso concreto tais como o valor e a complexidade do
objeto da contratação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 132


O princípio da segregação de funções refere-se à ideia de que nenhum agente deve
acumular todos os encargos de uma determinada operação. A divisão de funções
possibilita o controle cruzado entre os agentes envolvidos e garante mais segurança
nos procedimentos de acompanhamento e fiscalização contratual e de liquidação
da despesa.

Esse conceito foi contemplado com clareza na Lei nº 14.133/2021 e replicada no


recente Decreto nº 11.246/2022, mas já era empregado pela Administração Pública,
a exemplo da definição presente no Manual do Sistema Integrado de Administração
Financeira do Governo Federal (SIAFI), item 8.1.1 – A segregação de funções consiste
em princípio básico de controle interno administrativo que separa, por servidores
distintos, as funções de autorização, aprovação, execução, controle e contabilidade.

Ademais, era reconhecido em diversos julgados do Tribunal de Contas da União,


como o Acórdão nº 5.615/2008, em que a 2ª Câmara do Tribunal de Contas da União
salientou que o princípio da segregação de funções “consiste na separação de funções
de autorização, aprovação, execução, controle e contabilização das operações, evitando
o acúmulo de funções por parte de um mesmo servidor”.

1.3. Diferenciação entre gestão e fiscalização

O conjunto de atividades envolvidas na fiscalização contratual foi dividida entre


as figuras do gestor de contrato, auxiliado pelos fiscais técnico, administrativo e
setorial e pelo público usuário, conforme prevê o art. 40 da IN SEGES/MP nº 05/2017.

De modo comum, todos devem, durante o processo de fiscalização contratual,


realizar a instrução processual, isto é, fazer registros próprios dos atos de
fiscalização, e encaminhar a documentação pertinente aos setores responsáveis
para a formalização dos procedimentos relativos a, por exemplo, pagamento,
eventual apuração de falta contratual e aplicação de sanções, extinção dos contratos,
repactuação, alteração, reequilíbrio e prorrogação, para assegurar o cumprimento
das cláusulas contratuais e a solução de problemas relativos ao objeto, de acordo
com as atribuições de competência de cada unidade gestora (art. 117 da Lei nº
14.133/2021).

+ O GESTOR DO CONTRATO
É o responsável pelo gerenciamento do processo de fiscalização da execução
contratual. Cabe a ele: o acompanhamento das atividades exercidas pelos fiscais;
a instrução processual dos requerimentos da contratada e dos procedimentos
de alteração e prorrogação contratual; a adoção de providências, nos casos
de inadimplemento contratual, inclusive para instauração de procedimento
de apuração de falta contratual e de extinção dos contratos; a obediência das

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 133


normas; e o recebimento definitivo do objeto, observadas as competências
definidas em cada unidade gestora.

+ O FISCAL TÉCNICO DO CONTRATO


É servidor designado para auxiliar o gestor do contrato na fiscalização dos
aspectos técnicos do produto ou serviço contratado, sendo responsável por
acompanhar a execução dos serviços e o cumprimento das demais obrigações
contratuais. Tem como objetivo: verificar se a quantidade, a qualidade, o tempo
e o modo da entrega do produto ou da prestação dos serviços estão compatíveis
com os parâmetros e níveis de qualidade previstos no instrumento contratual.

+ O FISCAL ADMINISTRATIVO
É o servidor ou a unidade responsável por auxiliar o gestor do contrato na
fiscalização quanto aos aspectos administrativos da execução contratual.

Quando se trata de contratos com regime de dedicação exclusiva de mão de


obra, relaciona-se à administração da conta-depósito vinculada e à verificação
do cumprimento das obrigações fiscais, trabalhistas e previdenciárias, bem como
à adoção de providências tempestivas nos casos de inadimplemento destas
obrigações.

+ O FISCAL SETORIAL
É aquele designado para acompanhar e fiscalizar “in loco” a execução do contrato
quanto aos aspectos técnicos e administrativos, quando a prestação dos serviços
ocorre, ao mesmo tempo, em setores distintos ou em unidades desconcentradas
do órgão.

+ A FISCALIZAÇÃO PELO PÚBLICO USUÁRIO


É o acompanhamento da execução contratual por pesquisa de satisfação junto
ao usuário, com o objetivo de aferir os resultados da prestação dos serviços, os
recursos materiais e os procedimentos utilizados pela contratada, quando for o
caso, ou outro fator determinante para a avaliação dos aspectos qualitativos do
objeto.

1.4. Regras gerais para a designação de gestor e


fiscal de contrato

A designação dos responsáveis pela fiscalização, por expressa disposição legal


constante no caput do art. 67 da Lei nº 8.666/1993 e no caput do art. 117 da Lei nº
14.133/2021, deve revestir-se de formalidade essencial à validade do ato.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 134


O art. 8º do Decreto nº 11.246/2022 prevê que o gestor, o fiscal e os substitutos
devem ser designados por ato formal, o que atrai a necessidade de edição de uma
portaria pela autoridade competente do setor de gestão responsável, conforme
regimento do órgão, com a respectiva publicação em Boletim de Serviço. A portaria
deve ser específica para cada contrato de terceirização.

Como condição prévia à formalização do ato de designação, os servidores devem


ser expressamente cientificados da indicação para o exercício do encargo, a teor do
art. 8º, § 1º:

Art. 8º [...]
§ 1º Para o exercício da função, o gestor e fiscais deverão ser cientificados,
expressamente, da indicação e respectivas atribuições antes da formalização do
ato de designação.

A formalização da designação do fiscal deve ser feita em momento prévio à licitação,


ainda na fase de planejamento, sendo recomendável que os agentes de fiscalização,
gestor e fiscais auxiliares participem dessa fase interna de planejamento. Se o fiscal
não for designado nesse momento, a designação deverá ocorrer, no máximo, de
modo contemporâneo ao início da vigência contratual.

A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por ao menos 1


(um) fiscal do contrato, sendo permitida a contratação de terceiros para assisti-lo
e subsidiá-lo com informações pertinentes a essa atribuição, conforme prevê o art.
117 da Lei nº 14.133/2021. Da mesma forma, deve ser designado fiscal substituto,
que atuará como tal nas ausências e nos impedimentos eventuais e regulamentares
do titular.

A divisão das atribuições técnica e administrativa em servidores distintos ou a


reunião das atribuições em um único fiscal auxiliar depende da complexidade e das
peculiaridades do contrato, bem como da capacidade organizacional do órgão. As
atribuições podem ser concentradas em apenas um servidor, conforme admite a Lei
de Licitações, tornando dispensável, por exemplo, a designação de Fiscal Técnico e
de Fiscal Administrativo nos contratos destinados ao atendimento de somente uma
unidade, quando houver a designação de um Fiscal Setorial.

Nesse sentido, o Decreto nº 11.246/2022 prescreve:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 135


Art. 19. [...]
§ 1º As atividades de gestão e de fiscalização dos contratos deverão ser realizadas
de forma preventiva, rotineira e sistemática e exercidas por agentes públicos, por
equipe de fiscalização ou por agente público único, assegurada a distinção das
atividades. Ver tópico
§ 2º A distinção das atividades de que trata o § 1º não poderá comprometer o
desempenho das ações relacionadas à gestão do contrato.
[...]
Art. 24. Caberá ao fiscal setorial do contrato e, nos seus afastamentos e seus
impedimentos legais, ao seu substituto exercer as atribuições de que tratam o
art. 22 e o art. 23. [fiscal técnico e administrativo]

1.5. Contratação de assistência à fiscalização

É permitida a contratação de terceiros para atividades de assistência e prestação


de subsídios para o exercício das atribuições de fiscalização, desde que justificada a
necessidade da assistência especializada, conforme o art. 117 da Lei nº 14.133/2021
e os art. 9º e art. 26 do Decreto nº 11.246/2022. No entanto, o apoio à fiscalização
não exime as responsabilidades dos agentes de fiscalização, que continuam com
as atribuições quanto aos atos inerentes à fiscalização, como decisões, atesto,
aplicação de penalidade, recebimento de serviços, que não podem ser executados
por contratado para apoio à fiscalização. No entanto, a empresa ou o profissional
contratado responde civilmente pela veracidade e precisão das informações
prestados e assume compromisso de confidencialidade.

Nesse sentido, menciona-se o Acórdão nº 1930/2006-TCU-P:

O art. 67 da Lei 8.666/1993 exige a designação, pela Administração, de


representante para acompanhar e fiscalizar a execução, facultando-se a
contratação de empresa supervisora para assisti-lo. Assim, [...] o contrato de
supervisão tem natureza eminentemente assistencial ou subsidiária, no sentido
de que a responsabilidade última pela fiscalização da execução não se altera
com sua presença, permanecendo com a Administração Pública.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 136


1.6. Recusa e impedimentos
O exercício da fiscalização de contratos consiste em obrigação dos servidores
públicos, conforme caput dos art. 2º e art. 3º e incisos I e IV do art. 116 da Lei nº
8.112/1990 e suas alterações, e art. 11 do Decreto nº 11.246/2022, de modo que não
cabe a recusa imotivada, por não se tratar de ordem manifestamente ilegal.

De outro lado, é dever da autoridade competente para a designação fazer a análise


quanto à compatibilidade com as atribuições do cargo, a complexidade da fiscalização,
o quantitativo de contratos por servidor e a sua capacidade para o desempenho das
atividades, para adotar a medida que melhor se adeque à realidade do órgão e seu
quadro de pessoal (art. 8º, § 2º, do Decreto nº 11.246/2022).

Ademais, o servidor pode expor ao superior hierárquico as deficiências e limitações


técnicas que possam impedir o diligente cumprimento do exercício de suas
atribuições, cabendo à Administração providenciar a qualificação do servidor para
o adequado desempenho das atribuições, mediante estudo técnico preliminar, ou
designar outro servidor com qualificação, se viável, a teor do art. 8º, § 3º, do Decreto
nº 11.246/2022 e do Acórdão nº 2.917/2010 – TCU:

5.7.7. O servidor designado para exercer o encargo de fiscal não pode oferecer
recusa, porquanto não se trata de ordem ilegal. Entretanto, tem a opção de
expor ao superior hierárquico as deficiências e limitações que possam impedi-
lo de cumprir diligentemente suas obrigações. A opção que não se aceita é uma
atuação a esmo (com imprudência, negligência, omissão, ausência de cautela e
de zelo profissional), sob pena de configurar grave infração à norma legal (itens
31/3 do voto do Acórdão nº 468/2007-P).

As funções de gestor e de fiscal devem ser conferidas, preferencialmente, a servidor


efetivo ou empregado público dos quadros permanentes da Administração Pública
que tenham atribuições relacionadas a licitações e contratos ou formação compatível
ou qualificação atestada por certificação profissional emitida por escola de governo
criada e mantida pelo Poder Público.

Não é permitida a indicação de servidores que sejam cônjuges ou companheiros de


licitantes ou contratados habituais da Administração ou tenham com eles vínculo
de parentesco, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, ou de natureza
técnica, comercial, econômica, financeira, trabalhista e civil. Para a aferição da

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 137


incompatibilidade, deve-se considerar como contratados habituais as pessoas físicas
e jurídicas cujo histórico recorrente de contratação com o órgão ou com a entidade
evidencie significativa probabilidade de novas contratações (art 10 do Decreto nº
11.246/2022).

Bem ainda, a vedação diz respeito à situação em que o agente público atua na
contratação cujo objeto seja do mesmo ramo de atividade do licitante/contratado
habitual, para configurar o conflito de interesse.

Ademais, o agente de fiscalização não pode ter atuado como pregoeiro ou membro
da comissão de licitação; e situações que caracterizem conflito de interesses.

Nessa linha, a recusa ao encargo de fiscalizar o contrato poderá ocorrer quando o


agente público for impedido ou suspeito por ter relação de débito ou crédito com
o contratado, ou qualquer outro tipo de interesse, direto ou indireto, plenamente
justificado; quando exercer função na Administração incompatível com a fiscalização,
como na execução orçamentária e financeira, ou na contratação dos serviços,
observado o princípio da segregação de funções, entre outros.

O servidor em situação de impedimento ou suspeição é obrigado a comunicá-la aos


seus superiores em tempo hábil, a fim de que seja providenciada a designação de
outro servidor.

1.7. Vedação a atos de ingerência na administração


da contratada

A formação de vínculo de subordinação entre o órgão ou a entidade pública e o


empregado terceirizado constitui-se em um dos mais graves problemas que podem
surgir quando da terceirização de serviços. A subordinação é típica da relação laboral
com vínculo empregatício, sendo terminantemente vedada no caso de terceirização.
Caracteriza-se pelo exercício de poder por parte do contratante diretamente sobre
o empregado terceirizado.

A sujeição indireta é a que caracteriza a relação terceirizada, e é admitida pela


Justiça do Trabalho, sem configurar vínculo empregatício. Na terceirização, a relação
empregado-Administração dá-se na figura do preposto (VIEIRA, 2006).

Assim, a IN SEGES/MP nº 05/2017, art. 5º, prevê exemplos de situações que


configuram ingerência indevida na administração da contratada e não devem ser
praticadas pelo gestor e fiscais, tais como:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 138


a) possibilitar ou dar causa a atos de subordinação, vinculação hierárquica,
prestação de contas, aplicação de sanção e supervisão direta sobre os empregados
da contratada;
b) exercer o poder de mando sobre os funcionários da contratada, devendo
reportar-se somente ao preposto por ela indicado, exceto quando o objeto da
contratação previr o atendimento direto, tais como nos serviços de recepção
e apoio ao usuário. Da mesma forma, eventuais reclamações ou cobranças
relacionadas aos empregados devem ser dirigidas ao preposto;
c) direcionar a contratação de pessoas para trabalhar nas empresas contratadas;
d) promover ou aceitar o desvio de funções dos trabalhadores da contratada;
e) negociar folgas ou compensação de jornada com os funcionários da contratada;
f) considerar os trabalhadores da contratada como colaboradores eventuais do
próprio órgão ou entidade responsável pela contratação, especialmente para
efeito de concessão de diárias e passagens;
g) manter contato com o contratado, visando obter benefício ou vantagem direta
ou indireta, inclusive para terceiros.

A Lei nº 14.133/2021 reforça a premissa de que a relação de subordinação se


estabelece entre o contratado e seus empregados, dada a responsabilidade pela
remuneração e a sujeição ao seu poder de mando, vedando à Administração ações
como:

Art. 48. Poderão ser objeto de execução por terceiros as atividades materiais
acessórias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituam área
de competência legal do órgão ou da entidade, vedado à Administração ou a
seus agentes, na contratação do serviço terceirizado:
I - indicar pessoas expressamente nominadas para executar direta ou
indiretamente o objeto contratado;
II - fixar salário inferior ao definido em lei ou em ato normativo a ser pago pelo
contratado;
III - estabelecer vínculo de subordinação com funcionário de empresa prestadora
de serviço terceirizado;
IV - definir forma de pagamento mediante exclusivo reembolso dos salários
pagos;
V - demandar a funcionário de empresa prestadora de serviço terceirizado a
execução de tarefas fora do escopo do objeto da contratação;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 139


VI - prever em edital exigências que constituam intervenção indevida da
Administração na gestão interna do contratado.

1.8. Preposto
A boa execução dos contratos depende da fiscalização eficiente e da rapidez
na comunicação entre órgão contratante e empresa contratada. Para isso, é
indispensável a existência de duas figuras, a do Fiscal de contrato, por parte do órgão,
e a do Preposto, por parte da empresa, previsto no art. 69 da Lei nº 8.666/1993, no
art. 118 da Lei nº 14.133/2021 e no art. 44 da IN SEGES/MP nº 05/2017.

A indicação ou a manutenção do preposto da empresa poderá ser recusada pelo


órgão ou entidade, desde que devidamente justificada, devendo a empresa designar
outro para o exercício da atividade, a teor do art. 44, § 1º, da IN SEGES/MP nº 05/2017.

O preposto é o responsável pela orientação da conduta do pessoal terceirizado,


devendo os integrantes do órgão ou entidade contratante absterem-se de fazê-lo,
sob pena de configurar relação de subordinação vedada na terceirização. A não
ser quando o funcionário da empresa contratada está cometendo falta realmente
grave, que justifique a interferência direta e imediata do fiscal ou de outro servidor
para inibir a conduta, todo contato com o pessoal terceirizado deve ser feito por
intermédio do preposto.

Todas as falhas verificadas no cumprimento do contrato e as reclamações recebidas,


tanto de outros servidores como dos próprios empregados, devem ser reportadas
ao preposto para esclarecimentos e correções, por comunicação escrita e mediante
notificação formal. As comunicações devem ser realizadas por escrito, admitindo-
se, excepcionalmente, o uso de mensagem eletrônica para esse fim.

Portanto, cabe ao preposto:

• Representar a contratada para fins de regularidade da prestação dos


serviços;

• Atender às solicitações do fiscal;

• Substituir empregado faltoso e aquele que não atende aos critérios de


adequação do serviço, por solicitação do fiscal;

• Controlar a frequência dos empregados;

• Controlar a escala de férias e folgas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 140


+ Regras gerais para a designação de gestor e fiscal
• Não é obrigatória a designação de servidores públicos distintos para
execução de cada tipo de fiscalização auxiliar. A complexidade do
contrato e recursos humanos disponíveis será considerado pela
administração para a escolha.
• Não quero ser fiscal. Posso terceirizar? Permitida a contratação de
terceiros para assisti-los e subsidiá-los com informações pertinentes a
essa atribuição (art. 117 da Lei 14133/2021).
• A contratação de terceiros não exime a responsabilidade da Administração
Pública pela fiscalização.
• Os atos que são inerentes à fiscalização, como decisões, atesto, aplicação
de penalidade, recebimento de serviços, não podem ser executados por
contratado para apoio à fiscalização, devendo ser efetuado pelo fiscal ou
gestor do contrato.

+ Regras gerais para a designação de gestor e fiscal


• Há limite de contratos para que um servidor seja designado fiscal ??
• Não existe um número máximo de contratos para cada servidor.
Avaliação deve ser feita em cada situação específica, evitando a carga
demasiada de trabalho capaz de comprometer a eficiência na execução
da tarefa.
• Não há relação de subordinação dos fiscais em relação ao gestor de
contrato, cabendo a cada um atuar de acordo com as atribuições que lhe
foram designadas, conforme regulamento do órgão.
• O fiscal do contrato não pode ser responsabilizado, caso não possua
condições apropriadas para o desempenho de suas atribuições (Info 57/
TCU).

+ Vedações
• A função de gestor e fiscal deve ser conferida, preferencialmente, a
servidor efetivo ou empregado público dos quadros permanentes da
Administração Pública.
• Não é permitida a indicação de servidores que sejam cônjuge ou
companheiro de licitantes ou contratados habituais da Administração;
• Não é permitida a indicação de servidores com vinculo de parentesco,
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, ou de natureza técnica,
comercial, econômica, financeira, trabalhista e civil.
• É vedada a designação de servidor que tenha atuado como pregoeiro ou
membros da comissão de licitação; e outras situações que caracterizem
conflito de interesses.

+ Preposto fiscal do contratado


• Representar a contratada para fins de regularidade da prestação dos
serviços;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 141


• Atender as solicitações do fiscal;
• Substituir empregado faltoso e aquele que não atende aos critérios de
adequação do serviço, por solicitação do fiscal;
• Controlar frequência dos empregados
• Controlar escala de férias e folgas.

1.9. Rotinas básicas de fiscalização

Para que se alcance um resultado eficiente da execução contratual, a atuação


fiscalizatória deve ser preventiva, rotineira e sistemática, conforme prevê o art. 19, §
1º, do Decreto nº 11.246/2022:

§ 1º As atividades de gestão e de fiscalização dos contratos deverão ser realizadas


de forma preventiva, rotineira e sistemática e exercidas por agentes públicos, por
equipe de fiscalização ou por agente público único, assegurada a distinção das
atividades.

A Administração deve promover o planejamento prévio, definidor de diretrizes,


rotinas e procedimentos que orientem a atuação fiscal à luz dos termos do contrato
e de seus anexos, com adoção de rotina diária, mensal e episódica, por amostragem,
para aferir o atendimento das condições contratuais, na quantidade, na qualidade
e no tempo estabelecidos, bem como das obrigações trabalhistas, previdenciárias
e FGTS.

Para desempenhar essas atividades, os responsáveis pela gestão e fiscalização do


contrato deverão conhecer as cláusulas contratuais, os prazos e a forma de execução
dos serviços, os cronogramas, as obrigações das partes, as hipóteses de rescisão,
aditamento e demais condições estabelecidas no contrato firmado, levando ao
conhecimento da autoridade superior eventuais dúvidas, para que seja alcançada
não apenas a conformidade formal, mas sim o resultado material esperado daquela
contratação.

Por isso, os fiscais deverão instruir processo de fiscalização com cópias dos
documentos essenciais da contratação, Estudos Preliminares, termos básicos e
executivos, ato convocatório e seus anexos, contrato, proposta da contratada,
garantia, quando houver, para que se apropriem de todos os aspectos que devem
orientar sua atuação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 142


Com efeito, os serviços prestados só podem ser pagos em sua totalidade mediante
evidência documental de sua realização, de acordo com o previsto no edital e no
contrato e após o efetivo controle dos fiscais, para evitar prejuízos ao Erário com o
pagamento de algo que não se recebeu.

Portanto, incumbe ao fiscal anotar em livro próprio a ocorrência de todos os fatos


relevantes e ajustes que forem necessários relacionados à execução do contrato.
Os registros realizados no livro devem ser feitos tempestivamente e de forma
detalhada, conforme dispõem os art. 67, § 1º, e art. 68 da Lei nº 8.666/1993, o art.
117, §§ 1º e 2º, da Lei nº 14.133/2021 e o art. 22, II e IV, da IN SEGES/MP nº 05/2017.

Nesse sentido, manifesta-se o Tribunal de Contas da União: “Na execução de


contrato deve haver documento específico para controle dos serviços prestados,
para o fim de pagamento à contratada, que deverá conter a definição e especificação
dos serviços a serem realizados e as métricas utilizadas para avaliar o volume de
serviços solicitados e realizados” (AC-1545/08-Plenário).

Os gestores devem ficar atentos para decidir sobre solicitações


e reclamações, nos limites de suas competências, que não
contribuem para a boa execução do contrato ou se caracterizam
como impertinentes ou protelatórias, de modo célere, no prazo
de um mês, com possibilidade de prorrogação motivada, por
igual período, exceto se houver disposição legal ou cláusula
contratual que estabeleça prazo específico (art. 28 do Decreto nº
11.246/2022).

De modo geral, pode-se reunir as atribuições dos agentes de fiscalização nas seguintes
ações: planejar, conhecer, organizar, acompanhar, intervir, refletidas, de modo
exemplificativo, nas seguintes providências a serem adotadas na periodicidade que
será tratada:

+ Conhecer suas atribuições e responsabilidades para o exercício das


atividades de fiscalização;

+ Observar rigorosamente os princípios legais e éticos em todos os atos


inerentes às suas atribuições, agindo com transparência no desempenho
das suas atividades;

+ Conhecer o inteiro teor do Contrato, bem como os instrumentos que lhe


deram origem, como o Edital e seus anexos;

+ Zelar pelo bom relacionamento com a contratada, mantendo um


comportamento ético, probo e cortês, na qualidade de representante da
Administração;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 143


+ Apresentar, periodicamente ou quando solicitado, relatório
circunstanciado de acompanhamento da execução do serviço, da entrega
do material ou do bem, que deverá ser instruído com registros e
documentos probatórios, quando for o caso;

+ Acompanhar rotineiramente a execução dos serviços contratados, assim


como conferir se os materiais ou bens requisitados foram entregues em
perfeito estado e nas mesmas condições e características pactuadas;

+ Assegurar-se do cumprimento integral das obrigações contratuais


assumidas pela contratada;

+ Atuar em tempo hábil na solução dos problemas que venham a ocorrer


ao longo da execução contratual, desde que não ultrapassem suas
competências;

+ Solicitar a substituição dos serviços que se apresentarem inadequados


ou com vícios;

+ Encaminhar as questões que ultrapassarem suas atribuições ao Gestor


do Contrato;

+ Providenciar a obtenção de esclarecimentos, auxílio ou suporte técnico


para aqueles casos em que tiver dúvidas sobre a providência a ser
adotada;

+ Controlar a efetividade e eficácia na execução dos serviços em estrita


observância ao estabelecido no contrato (especificações e normas
técnicas, por exemplo), solicitando a correção de eventuais vícios,
imperfeições, deficiências e/ou omissões que constatar;

+ Observar os prazos contratuais para a regularização de eventuais falhas


e, em casos não regulamentados, estabelecer, juntamente com o Gestor,
prazo razoável;

+ Reportar-se sempre ao representante da contratada, não devendo, em


hipótese alguma, dar ordens diretamente aos seus empregados;

+ Registrar todas as ocorrências durante o período de execução do


contrato em documento próprio;

+ Formalizar, sempre, os entendimentos com a Contratada ou seu


Preposto, adotando todas as medidas que permitam compatibilizar as
obrigações bilaterais;

+ Conhecer a responsabilidade do contratado pelas obrigações tributárias,


encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais resultantes
da execução do contrato;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 144


+ Conferir os dados da Nota Fiscal antes de atestá-la, promovendo as
correções devidas, quando for o caso;

+ Acompanhar e controlar as entregas e o estoque de materiais de


reposição, quando for o caso, destinados à execução do objeto
contratado, principalmente quanto à sua quantidade e qualidade;

+ Controlar a medição do serviço executado, aprovando somente a


medição dos efetivamente realizados;

+ Glosar as medições quando houver má execução do contrato ou mesmo


a sua não execução e, com isso, sugerir a aplicação de penalidades ao
contratado em face do inadimplemento de suas obrigações;

+ Acompanhar o cumprimento do cronograma físico-financeiro;

+ Atestar o documento fiscal;

+ Comunicar à unidade requisitante eventuais atrasos nos prazos de


entrega e/ou execução do objeto, bem como os pedidos de prorrogação,
se for o caso, com as devidas justificativas;

+ Avaliar a qualidade dos serviços executados;

+ Representar, levando ao conhecimento das autoridades a execução de


ato ilícito de que tenha tido conhecimento em razão de seu ofício.
Exemplos: uso de documento falso por parte da contratada, ilícito contra
a Administração Pública, ilícito contra o meio ambiente etc.

1.10. Procedimento inicial

Após a assinatura do contrato, o gestor do contrato deve promover a reunião inicial,


devidamente registrada em ata, com o representante da Contratada, a fim de definir
procedimentos para o perfeito desenvolvimento dos trabalhos e dirimir as dúvidas
porventura existentes, com a participação dos membros da fiscalização, se possível,
da equipe de planejamento e do preposto, como boa prática que contribui para a
qualidade da gestão contratual.

O conteúdo da reunião deve incluir os esclarecimentos de todos os detalhes, a


metodologia e os objetivos da contratação e execução, tais como: forma de execução
e controle; modo de recebimento e pagamento do objeto; e situações que podem
implicar atraso no pagamento, tudo registrado em ata.

Nessa reunião, a contratada deverá indicar formalmente o seu preposto,


informando todos os seus dados pessoais e funcionais, o qual deverá ser aceito pela

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 145


Aadministração. Se a contratada não indicar o preposto nesse momento, deverá
fazê-lo antes do início da prestação dos serviços.

Ainda, como procedimento inicial, em se tratando de contrato com dedicação


exclusiva de mão-de-obra, incumbe ao gestor solicitar ao contratado a apresentação
da documentação referente aos empregados e todas os consectários trabalhistas,
a saber:

a) a relação dos empregados terceirizados de todo o contrato administrativo,


com nome completo, número de CPF, função exercida, salário, adicionais,
gratificações, benefícios recebidos (quantidade e valor: vale-transporte,
auxílio-alimentação, dentre outros) e horário do posto de trabalho,
devendo ser atualizada em caso de novas admissões/demissões;

b) cópia das CTPS;

c) exame médico admissional;

d) termo de recebimento dos equipamentos;

e) recibos de fornecimento dos uniformes;

f) Declaração de Nepotismo,

g) a indicação de preposto, com todos os dados pessoais, se não apresentada


na reunião inicial;

h) a escala e programação de férias e a indicação do terceirizado que irá


substituir o afastado temporariamente, conferindo prazo para eventual
entrega posterior;

i) todas as convenções e acordos coletivos de trabalho que possuam


obrigações e direitos dos trabalhadores terceirizados que forem prestar
serviços ao ICMBio;

Ainda, como medidas preliminares, o Gestor deve adotar as seguintes providências:

a) formalização processual, cuidando para que a juntada de documentos


respeite a ordem cronológica dos fatos, numeração de páginas e devidas
assinaturas; da assinatura do contrato e de outros instrumentos hábeis;

b) certificar-se da existência prévia da nota de empenho;

c) certificar-se da publicação do extrato do contrato;

d) verificar o atendimento das exigências contratuais e legais para início da


execução do objeto, como a correta prestação de garantia.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 146


A seu turno, o fiscal administrativo/setorial deve receber toda a documentação do
gestor e realizar a primeira conferência:

a) Instruir processo com todos os documentos contratuais e da relação


trabalhista apresentadas pelo contratado;

b) Conferir as anotações nas Carteiras de Trabalho e Previdência Social


(CTPS) dos empregados e verificar se elas coincidem com o informado
pela empresa e pelo empregado, observando a data do início do contrato
de trabalho, a função exercida, a remuneração (importante que esteja
corretamente discriminada em salário-base, adicionais e gratificações) e
todas as eventuais alterações dos contratos de trabalho;

c) Verificar se os salários conferem com o previsto no contrato administrativo


e na Convenção Coletiva de Trabalho da Categoria (CCT);

d) Consultar eventuais obrigações adicionais constantes da CCT para as


empresas terceirizadas (por exemplo, se os empregados têm direito a
auxílio-alimentação).

No mesmo passo, o fiscal técnico ou setorial designado deverá adotar as seguintes


medidas iniciais:

a) Instruir processo com o termo contratual (e no decorrer da vigência


contratual, todos os seus aditivos e apostilamentos), proposta de preços
com a planilha de custos e formação de preços atualizada, a relação dos
empregados terceirizados e as respectivas funções, juntamente com
outros documentos capazes de dirimir dúvidas a respeito do cumprimento
das obrigações assumidas pelas partes e que o auxiliem no
acompanhamento da execução técnica dos serviços contratados;

b) Conhecer a proposta comercial da contratada e todo o contrato,


principalmente quanto: ao objeto da contratação; à forma de execução;
à forma da prestação dos serviços; à relação de materiais ou
equipamentos; ao quantitativo e funções dos funcionários que prestarão
o serviço; ao cronograma de serviços; às obrigações da contratante e da
contratada, especialmente no que se refere aos aspectos técnicos/
qualitativos empregados na execução dos serviços contratados;

c) Certificar-se da prestação de garantia, se houver,

d) Certificar-se da abertura de conta-vinculada;

e) Iniciar acompanhamento “in loco” periódico da execução do objeto do


contrato.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 147


1.11. Fiscalização diária

Os fiscais administrativo ou setorial, devem verificar diariamente, com o respectivo


registro das atividades de fiscalização e a cientificação do preposto das ocorrências:

a) o cumprimento da jornada de trabalho pelos empregados terceirizados;

b) a utilização de EPI;

c) a observância das funções para as quais foram contratados;

d) a devida substituição de empregados em gozo de férias ou licença;

e) acompanhar e controlar as entregas e o estoque de materiais de


reposição, quando for o caso, destinados à execução do objeto
contratado.

Vídeo 21 – Aspectos gerais referentes ao procedimento de


fiscalização contratual

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 148


Unidade 2 - Apuração e aplicação de sanções
administrativas

Ao final desta unidade, você será capaz de entender os atos e


procedimentos para a regular apuração de descumprimentos de
edital e contrato, bem como distinguir as fases para a aplicação
da sanção administrativa.

2.1. Da obrigatoriedade de instauração de processo


administrativo para aplicar sanção administrativa

Por força do princípio da supremacia do interesse público que se espraia nos


contratos administrativos sob a forma de “cláusulas exorbitantes”, a legislação
conferiu à Administração Pública ferramentas eficazes para inibir o inadimplemento
contratual, dentre as quais se destaca a aplicação unilateral de sanções e penalidades,
conforme dispõem os art. 86 e art. 87 da Lei nº 8.666/1993, o art. 7º da Lei nº
10.520/2020 (ainda em vigor), a Lei nº 14.133/2021, bem como na forma prevista
nos instrumentos convocatórios e nos contratos administrativos.

As infrações administrativas são o comportamento voluntário, violador da norma


de conduta que o contempla, que enseja a aplicação, no exercício da função
administrativa, de uma direta e imediata consequência jurídica, restritiva de direitos,
de caráter repressivo. (FERREIRA, Daniel. Sanções Administrativas. São Paulo:
Malheiros, 2001. p. 63.)

A finalidade das sanções administrativas em licitações e contratos é reprovar a


conduta praticada pelo sancionado, desestimular a sua reincidência e prevenir
sua prática futura pelos demais licitantes e contratados. As sanções podem ter,
portanto, caráter preventivo, educativo, repressivo ou visar à reparação de danos
pelos responsáveis que causem prejuízos ao erário público.

A obrigação de instaurar processo conducente à aplicação de sanção administrativa


a licitante/contratado que descumprir regras editalícias e contratuais se constitui
em dever funcional (poder-dever), do qual o servidor não pode se furtar. A prévia
definição normativa dos ilícitos puníveis vincula o administrador e retira a margem de
liberdade sobre a conduta futura a adotar. Nesse sentido, há diversos precedentes
do Tribunal de Contas da União:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 149


Acórdão: 2077/2017 – Plenário Enunciado: 20 A apuração das condutas faltosas
praticadas por licitantes não consiste em faculdade do gestor público com tal
atribuição, mas em dever legal. A aplicação de penalidades não se restringe
ao Poder Judiciário, mas, nos termos das Leis 8.666/1993 e 10.520/2002, cabe
também aos entes públicos que exercem a função administrativa. Jurisprudência
do TCU Acórdão: 754/2015 – Plenário

Então, sempre que a Administração constatar a existência de infração às licitações ou


contratos, nasce para ela a obrigação de agir no sentido de instaurar procedimento
específico visando à apuração dos fatos. A doutrina é unânime em afirmar que se
trata de um poder, ou “deveres-poderes”, decorrente de uma prerrogativa inerente
ao Poder Disciplinar da Administração.

De acordo com a jurisprudência do Tribunal de Contas da União, trata-se de


instrumento de controle da execução contratual, de aprimoramento da atividade
administrativa e do comportamento dos gestores, sempre visando preservar o
interesse público. Considerando-se os pressupostos que regem os procedimentos de
aplicação das sanções, é proibido ao gestor abster-se de aplicar as medidas previstas
em Lei e no contrato, devendo sopesar a gravidade dos fatos e as justificativas da
contratada quanto à não execução ou execução irregular, para decidir quanto à
proporcionalidade das penas exigidas nos arts.86 e 87 da Lei nº 8.666, de 1993,
as quais devem estar previstas no instrumento convocatório, observado o devido
processo legal (Manual de Sanções do TCU).

Nesse sentido, o recente Acórdão nº 675/2022-Plenário reafirma a jurisprudência da


Corte de que:

O atraso injustificado na execução de obras públicas é ocorrência grave, de


maneira que o órgão ou a entidade contratante tem o dever de adotar as medidas
cabíveis para aplicar as multas contratuais e demais penalidades previstas em
lei, não se tratando de decisão discricionária da Administração.

Cabe o registro, de outro lado, de que o TCU já se manifestou orientando que, caso o
gestor decida pela não apuração, tal situação deve ser devidamente justificada nos
autos do processo:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 150


Acórdão: 1793/2011 – Plenário 9.2. determinar à [...] que: 9.2.1. oriente os gestores
dos órgãos integrantes do Sisg: 9.2.1.1. a autuarem processos administrativos
contra as empresas que praticarem atos ilegais previstos no art. 7º da Lei nº
10.520/2002, alertando-os de que a não autuação sem justificativa dos referidos
processos poderá ensejar a aplicação de sanções, conforme previsão do art. 82
da Lei nº 8.666/1993, bem como representação por parte do Tribunal de Contas
da União, com fulcro no art. 71, inciso XI, da Constituição Federal c/c o art. 1º,
inciso VIII, da Lei nº 8.443/1992; (Destacamos)

A legislação em vigor cuidou de estabelecer as condutas ilícitas e o rol de penalidades,


detalhadas nos instrumentos licitatórios, sem, contudo, disciplinar por completo
o iter procedimental do processo sancionatório, prescrevendo, como direção, a
observância do princípio da ampla defesa e do contraditório, garantidos pelo art. 5º,
LIV e LV, da Constituição Federal, a fim de instaurar a dialética que legitima a tomada
do julgamento administrativo.

A lacuna normativa é então resolvida mediante a colmatação de regras gerais que


cuidam do processo administrativo, previstas na Lei nº 9.784/1999, conforme o
seguinte entendimento doutrinário:

“Por oportuno, faz-se imperioso observar que a aplicação de qualquer sanção,


ainda que a mais branda de todas, exige a observância do devido processo legal,
impondo-se, pois, a instauração de denominado processo sancionatório, por
força do art. 5º, inciso LV, de nossa Lei Fundamental.
Verifique-se, por pertinente, que, embora o devido processo seja de natureza
obrigatória, infelizmente as Leis nº 8.666/93 e 10.520/02 foram silentes quanto
à observância de um procedimento, que garantisse a efetividade do princípio
do contraditório e da ampla defesa. A Lei de Licitações limita-se a dizer, em seu
art. 87, §2º, que está facultada a defesa prévia, no prazo de cinco dias úteis.
Quanto à Lei do Pregão, inexiste qualquer disposição quanto à observância de
rito específico para a aplicação de sanção.
Nesse passo, e considerando que a legislação específica não traz em seu bojo
maiores exigências, certo é asseverar que devemos lançar mão da Lei Geral
do Processo Administrativo Federal – Lei nº 9.784/99. Anote-se que o art. 69 do
diploma legal em comento determina que os processos administrativos específicos

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 151


serão regidos pela lei específica e subsidiariamente pela Lei Geral do Processo
Administrativo Federal” [PIRES, Antônio Cecílio Moreira. Breves Considerações
acerca das Sanções Restritivas do Direto de Licitar e Contratar. Boletim de
Licitações e Contratos-BLC. São Paulo: NDJ. 2010, Ano XXIII nº 1, p. 31].

A Lei nº 9.784/1999 não estipula uma dada forma (solene e rígida) do processo
administrativo, determinando apenas que sejam adotadas “formas simples,
suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos
dos administrados” (art. 2º, parágrafo único, IX).

Portanto, a regra que inspira o procedimento é a do formalismo moderado, na medida


em que “os atos do processo administrativo não dependem de forma determinada senão
quando a lei expressamente a exigir” (art. 22), desde que sejam “produzidos por escrito,
em vernáculo, com a data e o local de sua assinatura da autoridade responsável” (art.
22, § 1º).

Nessa linha, a norma infralegal contida na IN SEGES/MP nº 05/2017 indica em seu


art. 68:

Art. 68. Identificada a infração ao contrato, inclusive quanto à inobservância


do prazo fixado para apresentação da garantia, o órgão ou entidade deverá
providenciar a autuação de procedimento administrativo específico para
aplicação de sanções à contratada e a consequente rescisão contratual, se for
o caso, de acordo com as regras previstas no ato convocatório, na legislação
correlata e nas orientações estabelecidas em normativo interno do órgão ou
entidade,  quando houver, podendo utilizar como referência os Cadernos de
Logística disponibilizados pela Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão.

2.2. Procedimentos de tentativa de saneamento


Na atividade de fiscalização, os agentes de fiscalização têm o dever de conferir se
os serviços estão sendo executados em conformidade com as exigências contidas
no instrumento contratual. O servidor ou a comissão responsável pelo recebimento
do objeto têm o dever de conferir se o objeto entregue corresponde fielmente ao
que foi licitado e contratado, no que toca às especificações técnicas e aos aspectos
quantitativos.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 152


Feita a conferência da entrega ou execução do objeto, deve-se rejeitar, no todo
ou em parte, a execução dos serviços ou o fornecimento em desacordo com as
condições preestabelecidas.

O caso de verificação de desconformidades na execução/entrega do objeto, é


sucedido por procedimento de tentativa de saneamento, a cargo dos fiscais ou
do gestor, conforme o caso, com a notificação da contratado, cujo recebimento
possa ser atestado, fixando o prazo para que este promova a reparação, correção,
substituição ou a entrega imediata do objeto contratado, conforme o caso,
atendendo ao disposto no art. 67, § 1º, e no art. 69 da Lei nº 8.666/1993 e no art.
117, § 1º, da Lei nº 14.133/2021.

Nesse sentido, prevê o Decreto nº 11.246/2022:

Art. 22. Caberá ao fiscal técnico do contrato e, nos seus afastamentos e seus
impedimentos legais, ao seu substituto, em especial:
[...]
emitir notificações para a correção de rotinas ou de qualquer inexatidão ou
irregularidade constatada, com a definição de prazo para a correção;

A notificação feita no bojo do procedimento de saneamento deve especificar:

a) as inconsistências verificadas;

b) as cláusulas contratuais relacionadas;

c) as sanções correspondentes com a informação da possibilidade de


instauração de processo administrativo sancionador; e

d) o prazo para demonstrar a conformidade.

A partir disso, se as correções não forem feitas ou as justificativas não forem acatadas
pelos agentes da fiscalização, tem lugar a instauração do processo administrativo
sancionador. Todos aos argumentos e documentos apresentados pelo contratado
devem ser analisados pelos fiscais, em relatório circunstanciado a ser encaminhado
ao gestor e autoridade competente para a instaurado do processo administrativo
com finalidade apuratória do descumprimento.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 153


2.3. Gestão documental

O processo deve ser instruído com os seguintes documentos:

• identificação dos autos do processo administrativo da licitação ou do


processo de dispensa ou inexigibilidade, quando for o caso;

• cópia de edital, termo de referência, projeto básico, contrato ou outro


instrumento de ajuste;

• cópia de nota de empenho e da confirmação de entrega à contratada,


quando o prazo para cumprimento da obrigação contar do seu
recebimento;

• manifestações expedidas pela unidade responsável pelo


acompanhamento e fiscalização do objeto, nas quais conste data de
entrega, recebimento e laudo técnico de avaliação, quando for o caso;

• eventuais pedidos de prorrogação de prazo solicitados pela contratada


e dos respectivos despachos de deferimento ou de indeferimento dos
pedidos formulados;

• comunicado emitido pelo fiscal do contrato;

• informações sobre a realização de glosas nos pagamentos efetuados,


quando for o caso;

• documentos comprobatórios das irregularidades supostamente


cometidas pela contratada;

• ofícios/notificações de comunicação à contratada quanto ao


descumprimento contratual registrado, às cláusulas contratuais
infringidas e à abertura de prazo para apresentação de defesa prévia e
recurso; e

• outros documentos considerados pertinentes para a instrução do


processo.

• O processo de apuração de infração contratual não deverá ser conduzido


no âmbito do processo principal de contratação, devendo ser objeto de
processo administrativo próprio (autos apartados), certificando-se sobre
tal fato no processo principal.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 154


2.4. Notificações, modalidades e diligências
necessárias para a validade

O Estado Democrático de Direito caracteriza-se, dentre outros elementos, por


garantias processuais destinadas a resguardar o devido processo legal e o direito
ao contraditório. Uma dessas garantias é a comunicação efetiva aos interessados
sobre a prática dos atos processuais.

Processo sem a efetiva e regular comunicação dos autos processuais é nulo,


justamente por macular valores supremos insculpidos na Constituição Federal,
caros ao sistema democrático vigente. Uma preocupação dos agentes públicos
responsáveis pela condução de relações jurídicas processuais deve ser, portanto,
zelar para que as notificações cheguem ao conhecimento dos destinatários, com
total obediência às regras jurídicas pertinentes.

No âmbito do processo administrativo, essa garantia está regulamentada no art.


26 da Lei nº 9.784/1999, segundo o qual a intimação deve ser efetuada pelos
mecanismos previstos na legislação ou ainda por outro meio que assegure a certeza
de ciência do interessado.

Nos termos do referido excerto legal:

Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo administrativo


determinará a intimação do interessado para ciência de decisão ou a efetivação
de diligências.
§ 1o A intimação deverá conter:
I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade administrativa;
II - finalidade da intimação;
III - data, hora e local em que deve comparecer;
IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se representar;
V - informação da continuidade do processo independentemente do seu
comparecimento;
VI - Indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.
§ 2o A intimação observará a antecedência mínima de três dias úteis quanto à
data de comparecimento.
§ 3o A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal com
aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da
ciência do interessado.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 155


§ 4o No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com domicílio
indefinido, a intimação deve ser efetuada por meio de publicação oficial.
§ 5o As intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições
legais, mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidade.

A Lei nº 9.784/1999 acolheu a necessidade de efetiva comunicação, ainda que permita


ao agente público recorrer a meios atípicos de comunicação, não elencados na lei,
se resguardada a certeza de ciência do interessado. Assim, o art. 26, § 3º, incluiu uma
cláusula de extensão, facultando à Administração Pública a atualização constante dos
instrumentos de comunicação processual, adequando-os às constantes inovações
tecnológicas.

Portanto, instaurado o Processo Administrativo de Apuração de Responsabilidade, a


unidade responsável deve notificar a empresa por meio de Ofício com, no mínimo,
o seguinte conteúdo:

• A identificação completa da licitante/adjudicatária/fornecedora/


contratada, com razão social e CNPJ;

• A finalidade da notificação;

• A exposição resumida dos fatos;

• Cláusulas infringidas e referência legal;

• Sanções correlatas;

• O prazo, contado do recebimento da notificação, para apresentação da


defesa prévia;

• Informação da continuidade do processo independentemente da


manifestação da contratada; e

• Outras informações julgadas necessárias pela Administração.

Salienta-se que o não atendimento à notificação não implica reconhecimento da


veracidade dos fatos, nem a perda ou a renúncia ao direito de ampla defesa.

As notificações na fase de defesa prévia e demais atos do processo serão


encaminhadas por uma das seguintes formas:

• pessoalmente;

• por seu representante legal;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 156


• por via postal com aviso de recebimento;

• por mensagem eletrônica em caso de expressa anuência do autuado e


existência de meio que comprove o recebimento; ou

• por edital, se estiver o interessado em lugar incerto, não sabido ou se


não for localizado no endereço cadastrado, após a busca de outros
endereços nas bases de dados disponíveis, devendo constar do processo
a comprovação das tentativas frustradas.

A intimação pessoal deve ser entregue preferencialmente ao próprio interessado, seu


representante legal ou procurador, no local de sua residência ou sede empresarial
cadastrados, podendo ser validamente recebida por terceiro ou preposto, desde que
comprovado que o local e as circunstâncias da entrega estão vinculados à residência
ou sede empresarial cadastrados, do interessado ou de seu representante legal.

A recusa do interessado ou preposto em assinar ou receber a notificação deverá


ser certificada no verso do documento, pelo servidor público encarregado do ato,
e corroborada por duas outras testemunhas, se possível, que poderão ser ou não
servidores da entidade. A certidão de recusa caracteriza a ciência do interessado
quanto à notificação e dá início à contagem do prazo objeto da notificação.

A notificação/intimação poderá ser enviada por via postal com aviso de recebimento
no endereço constante nos autos da constituição do crédito, bem como nos cadastros
disponíveis pela entidade.

É de responsabilidade do cadastrado conferir a exatidão dos seus dados cadastrais no


Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (Sicaf) e mantê-los atualizados
junto aos órgãos responsáveis pela informação, devendo proceder, imediatamente,
à correção ou à alteração dos registros tão logo identifique incorreção ou aqueles se
tornem desatualizados, conforme art. 7º da IN SEGES/MP nº 03/2018.

É recomendável que, quando do cadastro do licitante, seja solicitado um


endereço eletrônico alternativo para ampliar as opções de comunicação.

Caso a intimação por via postal seja devolvida com a indicação “ausente”, deverá
ser feita mais uma tentativa de envio no mesmo endereço. Caso a intimação por via
postal seja devolvida com a indicação de que a entrega não foi possível ou devolvida
pela segunda vez com a informação “ausente”, o setor responsável, nesta ordem,
deverá adotar as seguintes medidas de cautela:

• buscar atualizar o endereço nos sistemas disponíveis e, constatando sua


alteração, promover nova intimação; e

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 157


• caso novamente frustrada a intimação por via postal e, após esgotadas
todas as tentativas de localização do interessado, bem como do
representante legal ou do advogado, eventualmente, identificados nos
autos, será realizada a intimação do autuado por meio de edital.

Para efeito da fundamentação da intimação por meio de edital, todas as diligências


com o objetivo de localizar o devedor (endereços, telefones ou e-mail) devem
ser documentadas e juntadas aos autos, mediante a comprovação das datas de
sua realização, a fim de que seja demonstrado o esgotamento de todos os meios
disponíveis para a localização do interessado, do representante legal ou do advogado,
eventualmente, identificados nos autos.

As buscas mínimas de outros endereços para notificação, obrigatoriamente, deverão


ser feitas no próprio processo administrativo, nos cadastros da entidade credora
e nas informações disponibilizadas pela Receita Federal do Brasil (ou no Sapiens),
podendo ser, facultativamente, realizadas buscas em outros sistemas disponíveis.
Quando o serviço postal indicar a recusa no recebimento, o autuado será considerado
intimado na data da recusa. Caso o interessado seja pessoa jurídica e as diligências
para notificação no endereço da sede cadastrada na entidade credora ou na Receita
Federal do Brasil, obrigatoriamente deverá ser feita busca de endereço do sócio
administrador, para notificação da empresa através dele.

Devem ser certificadas nos autos, por meio de despacho


dos responsáveis pela condução da instrução, as datas de
recebimento da notificação e de recebimento da defesa/recurso
ou exaurimento do prazo para sua apresentação/interposição,
incluindo no processo os documentos comprobatórios.

Destaca-se que é lícita a utilização de e-mail e de outras ferramentas tecnológicas


nas notificações das empresas contratadas para a prática de atos, apresentação de
documentos ou realização de diligências, ainda que sejam emitidas em processos
administrativos dos quais possam resultar a aplicação de sanções ou a  rescisão
contratual.

A recente Lei nº 14.133/2021 também prevê o uso das comunicações eletrônicas,


consoante verifica-se nas disposições abaixo transcritas:

Art. 12. No processo licitatório, observar-se-á o seguinte:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 158


[...]
VI - os atos serão preferencialmente digitais, de forma a permitir que sejam
produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio eletrônico;

Art. 183. Os prazos previstos nesta Lei serão contados com exclusão do dia do
começo e inclusão do dia do vencimento e observarão as seguintes disposições:
[...]
§ 2º Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte se o
vencimento cair em dia em que não houver expediente, se o expediente for
encerrado antes da hora normal ou se houver indisponibilidade da comunicação
eletrônica.

Mesmo nos processos judiciais, caracterizados por um formalismo mais vigoroso


do que o do processo administrativo, o uso dessas ferramentas tecnológicas para
a intimação dos sujeitos processuais está amplamente difundido entre os tribunais
pátrios, até porque possuem previsão legislativa expressa (art. 246, art. 254 e art.
270 do Código de Processo Civil).

O Tribunal de Contas da União recorrentemente admite as comunicações por e-mail


(vide os acórdãos 7.362/2021/TCU/Segunda Câmara e  7.253/2021/TCU/Primeira
Câmara, por exemplo) em processos de sua competência, razão pela qual inexistem
razões jurídicas para a objeção categórica do uso dessas novidades tecnológicas no
bojo dos processos administrativos.

Contudo, o uso da comunicação eletrônica só será válido


se assegurada a certeza de ciência do interessado. Nesse
contexto, com escopo de atender à exigência legal, são cautelas
indispensáveis: que haja a confirmação de recebimento do e-mail
pelo provedor ou por resposta do próprio destinatário; com
certificação de que foi utilizado o endereço de e-mail informado
pelo interessado ou obtido por meio idôneo, que não deixe dúvida
razoável sobre o recebimento do e-mail pelo interessado.

Quando não for possível confirmar o recebimento da mensagem eletrônica pelo


destinatário, a Administração Pública deverá recorrer a outros meios de comunicação,
como a notificação pessoal por intermédio de servidor público, pelos correios e, em
último caso, a notificação por edital.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 159


2.5. Manifestação do contratado

2.5.1. Direito de defesa


É cediço que nos processos administrativos de caráter sancionatório, que podem
resultar na imposição de sanções, recobrem-se de especial relevo os princípios da
ampla defesa e do contraditório, os quais devem ser prestigiados durante a instrução
do feito.

Nesse sentido, o artigo 5º, inciso LI, da Constituição Federal assegura aos litigantes,
em processo judicial ou administrativo, “o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”. Isso porque, em um Estado Democrático de Direito,
consubstanciado no art. 1º da Constituição Federal, não basta a autorização para a
atuação estatal, mas esta deve ocorrer dentro - apenas - dos limites legais. 

Nesse contexto, é inafastável o direito do interessado a um processo administrativo


justo, que lhe proporcione o exercício do direito de defesa, o qual deve ser
entendido não apenas como a possibilidade de o acusado trazer ao processo todos
os elementos de prova para a obtenção da verdade, mas também, e principalmente,
de ver seus argumentos considerados por ocasião da decisão.

Assim, prescreve a Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo no


âmbito da Administração Pública federal:
 

Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros,
os critérios de:
[...]
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à
produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam
resultar sanções e nas situações de litígio;

Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade competente, terão natureza
pecuniária ou consistirão em obrigação de fazer ou de não fazer, assegurado
sempre o direito de defesa.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 160


Sendo assim, a aplicação de sanções pela Administração deve observar
obrigatoriamente o direito ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla
defesa.

O prazo para a apresentação de defesa prévia, a contar da data do recebimento, é


de 5 (cinco) dias úteis, a teor do art. 87, § 2º, da Lei nº 8.666/1993.

Para uniformizar a atuação administrativa, o prazo para a apresentação de defesa


prévia, independentemente da lei de licitação incidente, pode ser de 15 (quinze) dias
úteis, a contar do recebimento da notificação, conforme arts. 157 e 158 da Lei nº
14.133/2021. Não se trata de combinação das legislações, vedada pelo art. 191 da
Lei nº 14.133/2021, mas de padronização de conduta administrativa que, ademais,
amplia os princípios do contraditório e da ampla defesa.

Após o recebimento da defesa prévia, o responsável pela instauração do processo


deverá realizar a sua análise, adentrando em todos os argumentos apresentados na
defesa, de modo específico.

Na hipótese de não acolhimento das razões de defesa apresentadas, deve ser emitido
relatório de conclusão da instrução favorável à aplicação de sanção administrativa,
contendo, no mínimo, a exposição resumida dos fatos alegados pela licitante/
adjudicatária/fornecedora/contratada, a análise da argumentação da defesa,
abrangendo cada ponto levantado, acatando-o ou não, a subsunção do fato à sanção
editalícia ou contratual e os dispositivos legais que fundamentam a conclusão.

A sanção administrativa sugerida no relatório fundamentado e a correspondente


dosimetria serão definidas conforme estabelecido no instrumento convocatório
que deu origem à contratação, no Contrato/Ata de Registro de Preços, nesta
respectiva ordem.

2.5.2. Produção de provas e alegações finais


As atividades de instrução destinadas a averiguar e comprovar os dados necessários
à tomada de decisão realizam-se de ofício ou mediante impulsão do órgão
responsável pelo processo, sem prejuízo do direito dos interessados de propor
atuações probatórias, a teor do art. 29 da Lei nº 9.784/1999.

Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo do dever
atribuído ao órgão para a instrução. Quando o interessado declarar que fatos e
dados estão registrados em documentos existentes no próprio órgão, este proverá,
de ofício, a obtenção dos documentos ou das respectivas cópias.

O interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada da decisão, juntar


documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir alegações

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 161


referentes à matéria objeto do processo, conforme garante o art. 2º, X, e o art. 38, §
2º, da Lei nº 9.784/1999.

Caso não tenham sido anexados quaisquer elementos de prova


novos após a notificação para defesa, fica dispensada a notificação
para apresentação de alegações finais.

Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provas


propostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias
ou protelatórias, conforme prescreve o art. 38, § 2º, da Lei nº 9.784/1999. Encerrada
a instrução, o interessado terá o direito de manifestar-se no prazo máximo de 15
(quinze) dias úteis, contado da data da intimação.

Os elementos probatórios deverão ser considerados na


motivação do relatório e da decisão, podendo esta motivação
consistir em declaração de concordância com o parecer do órgão
jurídico consultivo, se houver, e com o relatório de conclusão da
instrução, que, neste caso, serão parte integrante do ato.

2.6. Análise do recurso administrativo e recurso de


reconsideração

Da decisão que aplica as sanções administrativas, cabe recurso administrativo, no


prazo de 15 (quinze) dias úteis, a contar da intimação, conforme previsto na Lei
nº 14.133/2021, art. 166. Cabe ainda pedido de reconsideração contra decisão do
Presidente do órgão, no caso de aplicação da pena de declaração de inidoneidade
para licitar ou contratar com a Administração, que deverá ser apresentado no prazo
de 15 (quinze) dias úteis, contado da data da intimação, nos casos de licitações e
contratos que tiverem por base a referida Lei.

Art. 166. Da aplicação das sanções previstas nos incisos I, II e III do caput do art.
156 desta Lei caberá recurso no prazo de 15 (quinze) dias úteis, contado da data
da intimação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 162


Parágrafo único. O recurso de que trata o caput deste artigo será dirigido à
autoridade que tiver proferido a decisão recorrida, que, se não a reconsiderar
no prazo de 5 (cinco) dias úteis, encaminhará o recurso com sua motivação à
autoridade superior, a qual deverá proferir sua decisão no prazo máximo de 20
(vinte) dias úteis, contado do recebimento dos autos.
Art. 167. Da aplicação da sanção prevista no inciso IV do caput do art. 156 desta
Lei caberá apenas pedido de reconsideração, que deverá ser apresentado no
prazo de 15 (quinze) dias úteis, contado da data da intimação, e decidido no
prazo máximo de 20 (vinte) dias úteis, contado do seu recebimento.
Art. 168. O recurso e o pedido de reconsideração terão efeito suspensivo do ato ou
da decisão recorrida até que sobrevenha decisão final da autoridade competente.

Os prazos para recurso sob a égide da Lei nº 8.666/1993 são menores e distintos,
a depender da sanção aplicada, de modo que se recomenda, a exemplo do prazo
para a defesa, a unificação em prazo único de 15 (quinze) dias, independentemente
da lei de regência, para padronizar a atuação administrativa, ampliando, ao mesmo
tempo, o direito de defesa, sem colidência, portanto, com a ordem legal incidente.
O recurso será dirigido à autoridade superior, por intermédio da que praticou o ato
recorrido, a qual poderá reconsiderar sua decisão, no prazo de 5 (cinco) dias úteis,
ou, nesse mesmo prazo, encaminhá-lo à autoridade competente.

A notificação para ciência sobre a decisão proferida e oportunidade para interposição


de recurso deverá ser acompanhada de cópia da decisão e de informações sobre a
forma de obtenção de guia para pagamento, em caso de aplicação de multa.

Não havendo recurso ou na hipótese de recurso sem efeito suspensivo, a decisão


pode ser imediatamente executada.

Veja-se que, para os processos de apuração de responsabilidade que serão regidos,


no futuro, pela Lei nº 14.133/2021, o recurso e o pedido de reconsideração terão
efeito suspensivo do ato ou da decisão recorrida, até que sobrevenha decisão final
da autoridade competente.

De modo distinto, os recursos contra decisão em processo administrativo regido


pela Lei nº 8.666/1993 não terão efeito suspensivo automático como regra. Isto é, o
ato questionado produzirá normalmente os seus efeitos até a decisão administrativa
final, conforme prevê o art. 61 da Lei nº 9.784/1999: “salvo disposição legal em
contrário, o recurso não tem efeito suspensivo”. Assim, por se tratar de uma exceção,
o efeito suspensivo automático ao recurso administrativo deve estar previsto em
norma.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 163


Nos termos do parágrafo único do art. 61 da Lei nº 9.784/1999, “havendo justo receio
de prejuízo de difícil ou incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida
ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao
recurso”. Assim, o princípio da segurança jurídica orienta a atuação do gestor em
caso de decisão ainda sob questionamento que possa causar prejuízo de difícil ou
incerta reparação ao interessado.

Preceitua o art. 109, § 2º, da Lei nº 8.666/1993 que os recursos contra decisão de
habilitação ou inabilitação do licitante e de julgamento das propostas terão efeito
suspensivo, podendo a autoridade competente, motivadamente e presentes razões de
interesse público, atribuir ao recurso interposto eficácia suspensiva aos demais recursos.

Fique sabendo: Há dois casos previstos na lei de suspensão automática. E, para


as demais situações recursais, caberá ao gestor a ponderação para conferir ou
não tal efeito, a partir destes elementos: interesse público e risco de prejuízo
de difícil ou incerta reparação ao interessado.

O processo administrativo deve ser instruído com a manifestação do gestor da área


demandante ou do servidor responsável pelo acompanhamento e fiscalização da
execução do objeto do contrato.

A autoridade competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar, anular


ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida.
O prazo para pagamento da multa é aquele estabelecido no edital ou, caso não haja
previsão nesse instrumento, o prazo indicado na notificação para a interposição do
recurso ou, ainda, o prazo fixado pela autoridade que proferiu a decisão.

2.7. Prazos

Conforme dispõem os arts. 66 e 67 da Lei nº 9.784/1999:

+ Na contagem dos prazos, excluir-se-á o dia do início e incluir-se-á o do


vencimento. Os prazos fluirão a partir do primeiro dia útil após o
recebimento da notificação.

+ O prazo considerar-se-á prorrogado até o primeiro dia útil seguinte se o


vencimento ocorrer no sábado, domingo ou feriado, quando não houver
expediente no órgão ou, ainda, quando o expediente for encerrado
antes do horário normal de funcionamento.

+ A contagem do período de atraso na execução dos ajustes será realizada


a partir do primeiro dia útil subsequente ao do encerramento do prazo
estabelecido para o cumprimento da obrigação.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 164


+ Nos casos de descumprimento de obrigações trabalhistas, a contagem
do período de atraso será iniciada imediatamente após o exaurimento
do prazo para cumprimento, ainda que o vencimento recaia em dias não
úteis.

+ Nenhum prazo de defesa, recurso, representação ou pedido de


reconsideração se inicia ou corre sem que os autos do processo estejam
com vista franqueada ao interessado.

2.8. Execução da decisão de aplicação de sanção

A fase final do processo administrativo de apuração de descumprimento contratual,


quando verificada materialidade de violação contratual e aplicada penalidade, diz
respeito à execução das sanções. Mantida a decisão que aplica a sanção, o processo
será encaminhado à área responsável para:

• Registro da penalidade no Sistema de Cadastramento Unificado de


Fornecedores (SICAF), observado o disposto na Instrução Normativa
SEGES/MP nº 03/2018, quando aplicável;

• Recolhimento do valor da multa aos cofres públicos, quando for o caso;

• Cobrança dos valores devidos através de inscrição na dívida ativa;

• Outros encaminhamentos que se fizerem necessários.

Certificado o trânsito em julgado administrativo, seja pela não interposição de


recurso, seja pela ciência do julgamento do recurso, o interessado será notificado
para pagamento.

Em caso de aplicação de multa, quando interessado é notificado sobre o julgamento


do recurso, isto é, da decisão final, tem-se na data desta ciência a constituição
definitiva do crédito. A notificação deverá conter o valor atualizado da multa, com
a concessão de prazo para pagamento e orientações sobre o procedimento para
emissão de guia para pagamento.

O valor da multa deve ser atualizado durante o procedimento administrativo de


constituição do crédito, mediante a utilização da taxa SELIC, contada da data da
ciência da decisão que fixou o valor da multa. Os juros e a multa de mora incidirão
sobre o respectivo crédito após o vencimento sem o devido pagamento da dívida.

Na hipótese de não satisfação integral da dívida, espontaneamente, por meio da


execução de garantia ou por retenção de créditos, o processo deve ser enviado

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 165


à Equipe Nacional de Cobrança da Procuradoria-Geral Federal (ENAC/PGF) para a
inscrição em dívida ativa e a cobrança regida pela Lei de Execuções Fiscais.

Anote-se que a garantia contratual, prevista no art. 56, § 1º, da Lei nº 8.666/1993,
e no art. 96, § 1º, da Lei nº 14.133/2021, visa ao cumprimento das obrigações
assumidas durante a execução dos contratos de obras, serviços e compras, podendo
ser prestada sob as modalidades de seguro-garantia e fiança bancária emitida por
banco ou instituição financeira devidamente autorizada a operar no País pelo Banco
Central do Brasil, caução em dinheiro ou títulos da dívida pública.

Quando se tratar de pagamento de multa aplicada nos termos da Lei nº 8.666/1993,


não se permite a infringência da ordem de preferência estabelecida nos §§ 2º e 3º
do art. 86 e no § 1º do art. 87 desta Lei, devendo ser primeiro executada a garantia e,
caso não haja êxito nessa operação, por qualquer razão, ou se a multa for superior
ao valor da garantia, será possível a retenção, com o desconto dos valores devidos
de qualquer fatura ou crédito existente em favor da contratada.

No caso de ressarcimento de prejuízos causados à Administração, apurados quando


da rescisão contratual (art. 80, inciso IV), é possível ser feita a retenção dos créditos
decorrentes do contrato, como medida acautelatória, para fins de compensação
após regular processo administrativo para definição do valor devido, em que sejam
assegurados a ampla defesa, o contraditório e a razoável duração do processo.
Nesse caso, em sendo insuficiente o valor dos créditos retidos, deverá ser executada
a garantia no valor remanescente do débito.

Essa ordem de prioridade não foi mantida pela Lei nº 14.133/2021,


de modo que a retenção de crédito é medida primeira a ser
adotada, em caso de não pagamento da Guia de Recolhimento
da União (GRU). Depois, e de modo complementar, aciona-
se a garantia contratual para satisfação do valor devido pelo
contratado a título de multa, a teor do art. 157, § 8º, da nova Lei.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 166


Módulo

8 Medidas para cobrança de seguro-


garantia às seguradoras

Unidade 1 – Seguro-Garantia

Ao final desta unidade, você será capaz de entender o conceito, a


finalidade e as principais modalidades de seguro-garantia e sua
aplicação no âmbito da terceirização.

1.1. Normas e legislação

1.1.1. Introdução
O Seguro-Garantia é o seguro que garante o fiel cumprimento das obrigações
contraídas pelo tomador junto ao segurado em contratos privados ou públicos, bem
como em licitações. O Seguro-Garantia deve evitar as obrigações simplesmente de
pagamento. Estas são conhecidas como garantias financeiras e dificilmente obtêm
cobertura no mercado de seguros.

A outorga de Seguro-Garantia está mais vinculada aos negócios financeiros do que


às operações tradicionais de seguro, uma vez que a seguradora estará expondo
seu patrimônio, de forma análoga à operação de um banco de crédito, aos riscos
de perda de liquidez, quebra dos tomadores ou riscos de insolvência em tempos de
recessão ou depressão econômica.

Tradicionalmente, em todo o mundo, as companhias que operam esta modalidade


de seguro são seguradoras especializadas, já que este negócio, por definição, é
muito diferente das operações de seguro tradicional.

São partes integrantes das operações do Seguro-Garantia:

+ Tomador
Pessoa jurídica ou pessoa física (pouco usual) que assume com o segurado a
tarefa de construir, fornecer bens ou prestar serviços, por meio de um contrato
contendo as obrigações estabelecidas. Ao mesmo tempo, torna-se cliente

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 167


e parceiro da seguradora, que passa a garantir seus serviços. É ele o risco, o
interessado em cumprir o contrato e quem paga o prêmio da apólice.

+ Segurado
Pessoa física ou jurídica contratante da operação.

+ Segurador
Quem garante o contrato ou o edital de concorrência.

As relações entre o tomador e o segurador regem-se pelo estabelecido na proposta


de seguro e no contrato de contragarantia, cujas disposições não interferem no
direito de segurado.

1.1.2. Modalidades
Î Seguro-Garantia do Concorrente (SG-C)

O objetivo é garantir a indenização, até o valor fixado na apólice, se o tomador, após


vencer a concorrência prevista em edital, deixar de assinar o contrato de execução
ou de fornecimento previsto no edital ou convite.

Exemplo 1:

Edital de concorrência pública para construção de escola. Para participar


desta concorrência, o tomador deverá apresentar uma apólice de garantia
que cubra a sua obrigação na assinatura do contrato, conforme a proposta
apresentada, se este sair vencedor.

Figura 22: Exemplo 1

Î Seguro-Garantia do Executante Construtor (SG-EC), Executante Fornecedor


(SG-EF) e Executante Prestador de Serviços (SG-EPS)

O objetivo é garantir a indenização, até o valor fixado na apólice, dos prejuízos


decorrentes do inadimplemento do tomador em relação às obrigações assumidas
em contratos de construção, fornecimento ou prestação de serviços, firmado entre
ele e o segurado e coberto pela apólice.

Exemplo 2:

Uma vez vencida a concorrência pública para a construção da escola, o


tomador, no ato de assinatura do contrato, apresenta uma garantia de
execução do contrato, garantindo que a escola ficará pronta.

Figura 23: Exemplo 2

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 168


Î Seguro-Garantia de Adiantamento de Pagamento (SG-AP)

O objetivo é garantir a indenização, até o valor fixado na apólice, dos prejuízos


decorrentes do inadimplemento do tomador, em relação aos adiantamentos de
pagamentos concedidos contratualmente pelo segurado e que não tenham sido
liquidados na forma prevista, conforme o contrato de execução.

Exemplo 3:

O segurado acordou contratualmente que, para início das obras, seria


adiantada uma parcela de pagamento para fins de aquisição de materiais
para a obra. Dessa forma, o dinheiro só será liberado antecipadamente
mediante a apresentação de uma apólice de Seguro-Garantia.

Figura 24: Exemplo 3

Î Seguro-Garantia de Perfeito Funcionamento (SG-PF)

O objetivo é garantir a indenização, até o valor fixado na apólice, dos prejuízos


decorrentes da inadequação de qualidade da construção, dos bens fornecidos ou
dos serviços prestados, conforme contrato assinado entre as partes. Muitas vezes, a
garantia de perfeito funcionamento está inserida na própria garantia de execução.

Exemplo 4:

Uma empresa contrata a instalação de um sistema de ar-condicionado.


Conforme contrato assinado, a temperatura dentro de todos os
departamentos da empresa deve atingir, no máximo, 22ºC, sendo
permitida uma oscilação máxima de apenas ºC. ara estar segura de que a
empresa contratada atenderá à especificação de temperatura, a empresa
solicita uma garantia que cobre o risco de não atingimento de faixa de
temperatura acordada, ou seja, o perfeito funcionamento do sistema de
ar-condicionado.

Figura 25: Exemplo 4

Î Seguro-Garantia Imobiliário (SG-I)

O objetivo é assegurar que o construtor executará a obra nas condições fixadas no


memorial de incorporação, garantindo a entrega do imóvel naquelas condições ou,
eventualmente, após acordo, a devolução das importâncias recebidas. Vale ressaltar

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 169


que o principal objetivo desta modalidade é garantir a conclusão da obra, e não a
devolução de recursos.

Pode ser utilizado em:

• Vendas de unidades na planta;

• Permutas de terreno por unidades.

O segurado é o adquirente do imóvel e o tomador é o incorporador.

A circular SUSEP nº 66, de 19.10.98, e o Decreto Municipal nº 16.712, de


04.06.98, instituíram a modalidade de Seguro-Garantia Imobiliário.

Este seguro também é conhecido como Seguro-Garantia de Conclusão de


Obra ou Seguro-Garantia para licenciamento das construções de prédios
residenciais multifamiliares e comerciais.

Ampara, ainda, o ressarcimento dos prejuízos verificados pelo acréscimo


ao custo de construção de obra projetada, seja ele fixo ou reajustável, no
caso de regime de empreitada, ou integral, em se tratando de regime de
administração.

Dispensa-se da obrigatoriedade de apresentar o Seguro-Garantia


Imobiliário as edificações com até 5 (cinco) pavimentos, no mesmo lote,
com área total de até 2.000 metros quadrados.

Esta modalidade de Seguro Garantia só se aplica no município do Rio


de Janeiro, porém, é muito contestada pelos construtores e
incorporadores de imóveis, pois os obriga a adquirir um seguro onde
o beneficiário não é o construtor e sim, o adquirente da unidade.

Figura 26: Circular SUSEP

Modalidades de garantia não previstas acima podem ser seguradas não


excedam seu limite de retenção. As condições e taxas estabelecidas para
essas operações deverão ser encaminhadas à SUSEP, para
regulamentação da matéria.

Figura 27: Modalidades

+ Seguro-Garantia Aduaneiro

O objetivo é garantir a indenização à Receita Federal, em suas diversas Secretarias,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 170


correspondente ao pagamento de tributos suspensos por regulamento aduaneiro
específico, nas situações em que o tomador não cumpra suas obrigações. O seguro
é utilizado como garantia para viabilizar a obtenção de regimes aduaneiros, como,
por exemplo, o regime de admissão temporária.

Exemplo 5:

Uma empresa petroleira necessita trazer para a Petrobrás, durante um


ano, equipamentos para prospecção de petróleo em águas profundas.
Para que esses equipamentos possam entrar no Brasil sem pagamento de
tributos, a empresa petroleira solicita à Receita Federal um regime
especial de importação (admissão temporária) com suspensão de tributos,
mediante a apresentação de um Seguro Adueiro. O risco envolvido é que,
ao final do contrato, os equipamentos devem retornar ao exterior ou que
seja comprovada sua destruição; caso contrário, os tributos são devidos e
se o tomador não, o seguro será acionado.

Outros tipos de garantias aduaneiras podem ser: drawback, trânsito


temporário e valoração aduaneira.

Figura 28: Exemplo 5

Î Seguro-Garantia para Concessões

O objetivo é garantir a indenização ao órgão do governo que está realizando a


concessão de um serviço ou de um bem público, quando ocorrer o descumprimento
das obrigações relativas ao contrato de concessão.

A concessão é um instrumento utilizado pelo governo a fim de transferir para


iniciativa privada um serviço ou um bem do próprio governo. Essa transferência é
feita por um período de aproximadamente 20 (vinte) anos, podendo ser estendido
ou reduzido conforme o caso. A iniciativa privada assume os investimentos em
manutenção e melhorias, remunerando-se mediante a cobrança de um pedágio, no
caso de rodovias, ou por tarifas, no caso de serviços.

O Seguro-Garantia para Concessões é feito mediante apólices anuais renováveis,


uma vez que a seguradora não poderia assumir um risco por todo o prazo de
concessão.

Exemplos: concessão de rodovias, concessão de água e esgoto, telefonia etc.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 171


1.1.3. Isenção de Responsabilidade
A seguradora ficará isenta de responsabilidade em relação à apólice nas seguintes
hipóteses:

• Caso fortuito ou força maior;

• Descumprimento das obrigações do tomador, decorrente de atos ou


fatos de responsabilidade do segurado;

• Alteração ou modificação das obrigações contratuais, garantidas pela


apólice, acordadas entre segurado e tomador, sem prévia anuência da
seguradora.

No caso de existirem duas ou mais garantias, cobrindo cada uma delas, de


forma parcial, o objeto exigido pelo segurado, a seguradora responderá
proporcionalmente, com os demais participantes, de acordo com as
responsabilidades assumidas. Ex: Um tomador poderá oferecer a garantia
requerida pelo contrato através de 50% via Seguro-Garantia e 50% via
carta de fiança bancária. Cabe à seguradora responder por 50% das

Figura 29: Isenção de Responsabilidade

1.1.4. Novo Marco Regulatório


A nova norma da Superintendência de seguros privados tem as principais
características a seguir descritas:

O Seguro-Garantia é um contrato vinculado ao objeto principal, ou seja:

• O contrato de seguro deve respeitar as características, os dispositivos e


a legislação específica do objeto principal; e

• As modalidades do Seguro-Garantia devem ser desenhadas e escritas


contendo cláusulas e definições específicas, em acordo com as
características e a legislação específica do objeto principal.

O Seguro-Garantia poderá garantir todas as obrigações do objeto principal ou


apenas determinada(s) obrigação(ões), de acordo com o solicitado pelo segurado.

• Quando o seguro não garantir a totalidade das obrigações do objeto


principal, esta informação deverá constar em destaque na apólice,
garantindo informação transparente ao segurado (lembrando que a
contratação deste seguro é feita pelo tomador).

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 172


• A obrigação garantida pode ser uma fase/etapa/entrega parcial do
objeto principal.

O valor da garantia é o valor máximo garantido pela apólice (LMG). Este valor é
definido pelo segurado.

• Exemplo 1: O art. 98 da Lei nº 14.133/2021 (nova Lei de Licitações e


Contratos Administrativos) define que o valor da garantia, para
contratações de obras, serviços e fornecimentos, poderá ser de até 5%
do valor inicial do contrato, autorizada a majoração desse percentual
para até 10%, em casos específicos.

• Exemplo 2: O art. 3º da Portaria PGFN nº 164/2014 (regulamenta o


seguro-garantia judicial para processos de execução fiscal) define que o
valor da garantia, para processos judiciais de execução fiscal, deverá ser
igual ao montante original do débito executado com encargos e
acréscimos legais.

O valor da garantia deve ser atualizado pelo índice e na periodicidade definidos no


objeto principal ou em sua legislação específica (vinculação entre os contratos).

• O art. 3º da Portaria PGFN nº 164/2014 define que o valor da garantia


deve ser atualizado pelos índices legais aplicáveis aos débitos inscritos
em Dívida Ativa da União (DAU).

O prazo de vigência da apólice deve ser igual ao prazo de vigência da obrigação


garantida.

O prazo de vigência da apólice poderá ser distinto do prazo de vigência da obrigação


garantida, caso o objeto principal ou sua legislação específica dispuser dessa forma.

• Nesse caso, a seguradora deverá assegurar a manutenção da cobertura


enquanto houver risco a ser coberto.

• O segurado poderá se opor a essa manutenção, enquanto o tomador


não tem a mesma liberalidade.

• Essas regras visam à proteção do segurado e à efetiva cobertura do risco.

A apólice somente pode ser alterada mediante pedido ou concordância do segurado.

• A apólice deve acompanhar as alterações previamente estipuladas no


objeto principal, em sua legislação específica ou no documento que

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 173


serviu de base para aceitação do risco. Risco previamente analisado pela
seguradora.

• As alterações do objeto principal, as quais não foram previamente


pactuadas, passarão pela análise de risco da seguradora e serão
incorporadas na apólice, casa haja o respectivo aceite.

O pagamento do prêmio é responsabilidade do tomador. A garantia é exigida pelo


credor (potencial segurado) e contratada pelo devedor (potencial tomador) para
assegurar o cumprimento das obrigações.

• A apólice permanece em vigor mesmo em caso de não pagamento do


prêmio por parte do tomador. Atitudes do tomador não podem interferir
no direito do segurado na apólice.

O sinistro se caracteriza quando for comprovada a inadimplência.

• Essa comprovação pode se dar de forma imediata, pela simples


inadimplência, ou pode requerer a realização de trâmites e/ou verificação
de critérios.

• A forma dessa comprovação dependerá dos termos do objeto principal


ou de sua legislação específica.

• Uma vez caracterizado, considera-se data do sinistro aquela relativa à


inadimplência do tomador.

• A caracterização e a comunicação do sinistro podem perfeitamente


ocorrer fora da vigência da apólice.

Quando for necessária a realização de trâmites e/ou verificação de critérios para


comprovação da inadimplência, tem-se a figura da expectativa do sinistro.

• A expectativa de sinistro é definida como o fato ou ato que indique a


possibilidade de caracterização do sinistro e o início da realização de
trâmites e/ou verificação de critérios para comprovação da inadimplência,
a qual caracterizará o sinistro.

• Ou seja, caso não haja necessidade de tal verificação e a comprovação


da inadimplência se der de forma imediata, não há que se falar em
expectativa de sinistro.

• Exemplo 1: Contrato administrativo de obra. Inadimplência pode gerar


abertura de processo administrativo que pode resultar em sua
confirmação, penalidade do tomador e execução da garantia. Nesse

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 174


caso, a expectativa de sinistro pode ser a própria inadimplência ou a
abertura do processo administrativo e a caracterização do sinistro ocorre
quando finalizado o processo se definido pela comprovação da
inadimplência e execução da garantia

• Exemplo 2: Contrato de financiamento. Inadimplência pode gerar a


execução imediata da garantia ou pode prever o decurso de determinado
tempo para a comprovação da inadimplência. No primeiro caso, não há
expectativa de sinistro e o sinistro é caracterizado quando a primeira
inadimplência. No segundo caso, a expectativa de sinistro pode ser a
primeira inadimplência e a caracterização do sinistro ocorre quando
decorrido o tempo estipulado, de acordo com os termos do objeto
principal e sua legislação específica.

A indenização pode ocorrer mediante:

• pagamento em dinheiro dos prejuízos, multas e/ou demais valores


devidos pelo tomador e garantidos pela apólice; ou

• execução da obrigação garantida, de forma a dar continuidade e concluí-


la sob a sua integral responsabilidade, nos mesmos termos e condições
estabelecidos no objeto principal ou conforme acordado entre segurado
e seguradora.

Î A escolha da empresa a dar continuidade ao objeto principal será feita


mediante acordo entre segurado e seguradora, respeitando os termos
do objeto principal ou de sua legislação específica.

Î A forma de pagamento da indenização deve ser definida de acordo com


os termos do objeto principal ou de sua legislação específica e, apenas,
em caso de ausência de dispositivo tratando do assunto, mediante
acordo entre segurado e seguradora.

São riscos excluídos:

• a inadimplência de obrigações garantidas decorrente de atos ou fatos


de responsabilidade do segurado que tenham contribuído de forma
determinante para a ocorrência do sinistro.

Exemplo: não pagamento do segurado ao tomador dos valores por ele devidos, de
acordo com o cronograma financeiro pactuado no objeto principal.

• a inadimplência de obrigações do objeto principal que não sejam de


responsabilidade do tomador.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 175


Exemplo: obtenção e emissão de licenças ambientais, as quais, de acordo com o
objeto principal, são de responsabilidade do segurado.

Î Atos exclusivos do tomador, da seguradora ou de ambos não podem


gerar perdas ou prejuízos ao segurado.

Î O Seguro-Garantia será extinto quando:


• as obrigações garantidas forem definitivamente concluídas e houver
manifestação expressa do segurado neste sentido;

• o segurado e a seguradora expressamente acordarem;

• o pagamento da indenização ao segurado ou beneficiário atingir o valor


da garantia;

• o objeto principal for extinto; ou

• no término de vigência da apólice.

Î Visando à mitigação do risco, o Seguro-Garantia pode prever a


possibilidade ou a obrigação de a seguradora:

• realizar o acompanhamento e/ou monitoramento do objeto principal -


importante para enquadramento nos termos da nova Lei de Licitações;

• atuar como mediadora da inadimplência ou de eventual conflito entre


segurado e tomador; e/ou

• prestar apoio e assistência ao tomador.

1.2. Formas de Cobrança


1.2.1. Pagamento do Prêmio

Cabe ao tomador o pagamento do prêmio do seguro enquanto houver risco, não


sendo permitido, contudo, o cancelamento da apólice por falta de pagamento do
prêmio total ou parcial.

Poderá ser o prêmio fracionado conforme definido nos critérios da IRB Brasil Re.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 176


1.2.2. Valor da Garantia
O valor da garantia pela apólice deverá ser como valor máximo de indenização.
Deverá equivaler à perda máxima fixada ou provável a que o segurado estará
sujeito, não podendo ser superior ao valor do contrato segurado. Normalmente,
em contratos públicos, este valor equivale a 1% do valor do contrato, para garantias
de ocorrência, e 5% do valor do contrato, no caso de garantias de execução.

1.2.3. Taxa e Prêmio

Com uma análise cadastral sobre a situação econômico-financeira, os tomadores são


classificados em classes A, B, C e D, sendo A e B conceitos considerados seguráveis de
imediato, e C e D dependentes de uma análise mais profunda, até com exigência de
garantias adicionais, que podem variar de uma nota promissória até uma hipoteca.

Regulação e Liquidação de Sinistro

Confirmado o descumprimento, pelo tomador, das obrigações do contrato afiançado


pela apólice, o segurado terá direito de exigir da seguradora a indenização devida,
quando resultar infrutífera a intimação extrajudicial de pagamento feita ao
tomador, não sendo necessária qualquer outra interpelação.

Tomada pelo segurado a medida extrajudicial (aquela formalizada sem


que se utilize procedimentos legais de juízo, como por exemplo, uma
notificação por escrito) de intimação do tomador, comprovando que este
descumpriu sua obrigação contratual, e este não a atendendo, a
seguradora assume a responsabilidade total pela execução do contrato ou
paga a indenização ao segurado.

Figura 30: Regulação e Liquidação de Sinistro

Caracterizado o sinistro e paga a indenização, a seguradora sub-rogar-se-á nos


direitos e ações do segurado contra o tomador ou terceiros, cujo atos ou fatos
tenham dado causa ao pagamento. Esta sub-rogação inclui o direito à execução das
contragarantias oferecidas pelo tomador quando da contratação do seguro.

É normalmente conhecida no Seguro-Garantia a possibilidade de a seguradora, ao


invés de simplesmente pagar uma perda financeira, substituir o tomador por outra
empresa que tenha capacidade de concluir o contrato objeto do seguro. Porém,
todos estes trâmites de liquidação dependem da concordância do segurado.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 177


1.3. Fluxos
1.3.1. Dados de Arrecadação de Prêmio e Pagamento de Indenização

Prêmio: Seguro Garantia por Ramo

3,50
Bilhões

3,00

2,50

2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
2016 2017 2018 2019 2020 2021

S e tor P úbli c o S e tor P riv ado Total

Figura 31: Prêmio: Seguro-garantia por ramo

Sinistro: Seguro Garantia por Ramo

500
M ilhões

400

300

200

100

0
2016 2017 2018 2019 2020 2021

S e tor P úbli c o S e tor P riv ado Total

Figura 32: Sinistro: Seguro-garantia por ramo

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 178


Ordem Cronológica – Sem Expectativa de Sinistro

Inadimplência Caracterização Reclamação Regulação Pagamento


de Sinistro do Sinistro de Sinistro ou Recusa

Ordem Cronológica – Com Expectativa de Sinistro

Inadimplência Expectativa Comprovação da Caracterização Reclamação Regulação Pagamento


de Sinistro Inadimplência de Sinistro do Sinistro de Sinistro ou Recusa

Figura 33: Ordem Cronológica

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 179


Módulo

9 Medidas para inscrição em dívida


ativa das sanções

Unidade 1 – Apuração e aplicação de sanções


pecuniárias: Lei de Licitações e Contratos
Administrativo

Ao final desta unidade, você será capaz de compreender os


conceitos e requisitos básicos para a apuração de infrações
e a aplicação de multas motivadas pela inexecução total ou
parcial de contratos administrativos, e entender a importância
dos princípios e regras norteadores do processo administrativo
sancionador, nos termos da Nova Lei de Licitações e Contratos
Administrativos (Lei nº 14.133/2021) e da Lei nº 9.784/1999, que
estabelece normas gerais sobre processo administrativo no
âmbito da Administração Pública federal.

1.1. Introdução

A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/2021), publicada


no Diário Oficial da União de 1º de abril de 2021, confere à Administração as
prerrogativas de fiscalizar a execução dos contratos administrativos e aplicar
sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste (art. 104). As infrações
administrativas estão tipificadas no art. 155 e as sanções no art. 156 da citada Lei.
No campo das infrações administrativas, talvez a multa seja a sanção mais adotada,
em virtude de seu caráter menos restritivo de liberdade ou de propriedade, bem
como de sua eficácia pedagógica, em comparação com as demais modalidades.
Isso porque o objetivo das sanções não é castigar, e sim incentivar a realização de
atitudes favoráveis ao bem-estar da coletividade geral, bem como desestimular a
prática de atos nocivos ao interesse público.

E quando a situação envolve exploração de atividades econômicas, uma punição


de cunho pecuniário pode cumprir com maior eficácia o seu caráter pedagógico de

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 180


desestimular a reincidência ou a prática de atitudes não desejáveis pela sociedade,
uma vez que o sistema econômico observa muito a relação custo-benefício.

Para o nosso estudo, merece destaque a multa, que é uma sanção administrativa de
natureza pecuniária, e sua aplicação se dará na gradação prevista no instrumento
convocatório ou no contrato, quando houver atraso injustificado no cumprimento
da obrigação contratual, ou em decorrência da inexecução parcial ou total do objeto
da contratação.

Um exemplo típico de infração administrativa que enseja a sanção pecuniária é o


atraso injustificado na execução do contrato, que sujeita o contratado a multa de
mora, na forma prevista em edital ou em contrato, sem prejuízo de a Administração
convertê-la em compensatória e promover a extinção unilateral do contrato,
com a aplicação cumulada de outras sanções previstas na Lei nº 14.133/2021, em
conformidade com o seu art. 162.

1.2. Necessidade de processo administrativo para


aplicar multa

A atividade administrativa sancionadora se submete ao regime jurídico de direito


administrativo, visto que quem apura as infrações e aplica as sanções é a própria
Administração Pública, no exercício da função administrativa, mediante processo
administrativo, com as garantias do devido processo legal.

Consequentemente, além de princípios específicos que condicionam o poder


punitivo do Estado (devido processo legal, contraditório, ampla defesa, presunção
de inocência, etc.), incidem sobre a atividade administrativa punitiva os postulados
constitucionais que regem a Administração Pública (legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência).

No aspecto formal ou processual, o princípio do devido processo legal se volta para


a ideia de segurança jurídica, como forma de assegurar garantias processualísticas,
sobretudo quando a situação afeta valores fundamentais relacionados à liberdade e
à propriedade. No campo do direito administrativo sancionador, significa dizer que
ninguém pode ser punido, senão após decisão prolatada em processo administrativo
regular, que assegure ao administrado o contraditório e a ampla defesa.

No âmbito da Administração Pública Federal, as normas gerais sobre processo


administrativo estão dispostas na Lei nº 9.784/1999, e o art. 68 estabelece que: “As
sanções, a serem aplicadas por autoridade competente, terão natureza pecuniária
ou consistirão em obrigação de fazer ou de não fazer, assegurado sempre o direito
de defesa.”

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 181


Outro aspecto importante é que, conforme disposição expressa contida no art.
69 dessa Lei, os processos administrativos específicos poderão ser regidos por lei
própria, aplicando-lhes apenas subsidiariamente os preceitos da Lei nº 9.784/1999.
A Lei nº 9.784/1999 estabelece diversos enunciados normativos que asseguram os
direitos à informação, motivação e defesa no âmbito do processo administrativo,
aplicável também na apuração e aplicação de multas contratuais.

A nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei nº 14.133/2021) estabelece


algumas regras sobre a apuração e a aplicação de sanções motivadas pela inexecução
total ou parcial do contrato, principalmente no tocante à defesa e ao recurso.

Portanto, a apuração e aplicação de multa, em razão de inexecução do contrato, deve


ser feita pela própria Administração Pública, mediante processo administrativo, nos
termos da Lei nº 14.133/2021, com aplicação subsidiária da Lei nº 9.784/1999. Na
prática, significa dizer que o crédito é constituído pela autoridade administrativa,
sem a necessidade de uma ação judicial de conhecimento.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 182


AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO - NORMAS GERAIS ESTABELECIDAS
NA LEI Nº 9.784/1999 - PROCESSO ADMINISTRATIVO FEDERAL:

A Administração tem o dever de divulgar oficialmente os atos


administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na
Constituição (art. 2º, parágrafo único, inciso V).
É assegurado ao administrado o direito à comunicação, nos
processos de que possam resultar sanções e nas situações de
litígio (art. 2º, parágrafo único, inciso X).
O administrado tem direito a ter ciência da tramitação dos
processos administrativos em que tenha a condição de
interessado, ter vista dos autos, obter cópias de Documentos
neles contidos e conhecer as decisões proferidas (art. 3º, inciso II).
DIREITO À
O órgão competente perante o qual tramita o processo
INFORMAÇÃO administrativo determinará a intimação do interessado para
ciência de decisão ou a efetivação de diligências (Art. 26).
Devem ser objeto de intimação os atos do processo que resultem
para o interessado em imposição de deveres, ônus, sanções ou
restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos de outra
natureza, de seu interesse (Art. 28).
Os interessados têm direito à vista do processo e a obter certidões
ou cópias reprográficas dos dados e documentos que o integram,
ressalvados os dados e documentos de terceiros protegidos por
sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem (Art. 46).

O julgador deve indicar os pressupostos de fato e de direito que


determinarem a decisão (art. 2º, parágrafo único, inciso VII).
Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação
MOTIVAÇÃO dos fatos e dos fundamentos jurídicos, principalmente quando: a)
DAS DECISÕES neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; b) imponham
ou agravem deveres, encargos ou sanções; c) decidam recursos
administrativos; d) importem anulação, revogação, suspensão ou
convalidação de ato administrativo (Art. 50).

Garantia dos direitos à apresentação de alegações finais, à


produção de provas e à interposição de recursos, nos processos
de que possam resultar sanções e nas situações de litígio (art. 2º,
parágrafo único, inciso X).
Formular alegações e apresentar documentos antes da decisão,
DIREITO À os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente
(art. 3º, inciso III).
DEFESA
Fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando
obrigatória a representação, por força de lei (art. 3º, inciso IV).
Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de
manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo
for legalmente fixado (Art. 44).

Figura 34: Ampla Defesa e Contraditório

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 183


1.3. Direito de defesa e recurso no processo
administrativo de aplicação de multa
Em decorrência dos princípios do contraditório e da ampla defesa, o acusado em
processo administrativo sancionador, além de ter o direito de receber as informações
sobre os atos processuais, pode contestar todas as acusações, produzir provas e se
defender.

A Administração Pública poderia aplicar uma


sanção administrativa antes de ouvir o acusado,
assegurando a defesa posteriormente?

Em outras palavras, seria possível a imposição de


uma multa por infração administrativa antes da
apresentação da defesa por parte do acusado?

Figura 35: Administração Pública

Diversas leis condicionam a aplicação de qualquer sanção administrativa ao prévio


contraditório. Apenas para exemplificar, a Lei nº 9.472/1997, que cria a Agência
Nacional de Telecomunicações e dispõe sobre a organização dos serviços de
telecomunicações, no seu art. 175, diz expressamente que: “Nenhuma sanção será
aplicada sem a oportunidade de prévia e ampla defesa.”

O art. 157 da Lei nº 14.133/2021 estabelece a prévia defesa do administrado


interessado, licitante ou contratado, no prazo de 15 (quinze) dias úteis, contado da
data de sua intimação.

Segundo o magistério de Odete Medauar (2008, p. 123): “A anterioridade da defesa


recebe forte matiz nos processos administrativos sancionadores (que envolvem
servidores ou particulares), pois os mesmos podem culminar em punições aos
implicados”.

Ao defender a necessidade de prévio contraditório no processo administrativo


sancionador, Augustin Gordillo afirma que “em cada um dos aspectos dessa garantia,
desde o ter acesso às autuações, apresentar alegações, produzir provas etc., insiste-
se em que devam ser respeitados antes de se tomar a decisão que possa afetar
direitos do indivíduo” (Apud MEDAUAR, 2008, p. 122).

Na concepção de Sérgio Ferraz e Adilson Abreu Dallari, o princípio da ampla defesa


assegura ao acusado e a qualquer pessoa que esteja sujeita a alguma punição ou

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 184


restrição de direitos a possibilidade de apresentação de defesa prévia à decisão
administrativa. Segundo esses autores:

Sempre que o patrimônio jurídico e moral de alguém


puder ser afetado por uma decisão administrativa,
deve a ele ser proporcionada a possibilidade de
exercitar a ampla defesa, que só tem sentido em sua
plenitude se for produzida previamente à decisão, para
que possa ser conhecida e efetivamente considerada
pela autoridade competente para decidir. (2007, p. 90-
91)

Portanto, antes mesmo de aplicar uma multa, a Administração deve instaurar o


processo administrativo e ouvir o indiciado.

Diferentemente de uma sanção administrativa, que somente pode ser aplicada


após a Administração Pública ouvir o acusado, a medida cautelar pode ser aplicada
de imediato, sem necessidade de prévio contraditório, uma vez que sua finalidade é
manter a segurança ou a ordem pública em situações de muita urgência.

A existência de um perigo ou o risco de danos maiores à sociedade justifica a


necessidade de aplicação de uma medida administrativa preventiva ou cautelar,
sem prévio contraditório. E isso não significa inobservância do princípio do devido
processo legal, visto que, nessas circunstâncias, a Administração Pública tem o poder-
dever de adotar as providências necessárias para proteger o interesse público, com
a urgência que o caso requer.

Na concepção de Odete Medauar (2008, p. 124): “Em casos excepcionais, envolvendo


risco de vida e segurança da população, pode-se admitir a defesa posterior, como
na hipótese de embargo de obra com risco de desabamento e de interdição de
atividades perigosas”.

Nesse sentido, a própria Lei nº 9.784/1999 diz que: “Art. 45. Em caso de risco iminente,
a Administração Pública poderá motivadamente adotar providências acauteladoras
sem a prévia manifestação do interessado”.

É importante frisar que uma medida acautelatória ou preventiva somente poderá ser
convertida em sanção administrativa se ficar comprovado que o acusado cometeu
a infração administrativa, mediante apuração regular em processo administrativo,
com as garantias do contraditório e da ampla defesa.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 185


Além da defesa prévia, no processo administrativo sancionador, o interessado,
licitante ou contratado tem direito a recorrer da decisão que aplicar multa, no prazo
de 15 (quinze) dias úteis, contado da data da intimação, com efeito suspensivo, nos
termos dos artigos 166 e 168 da Lei nº 14.133/2021:

Art. 166. Da aplicação das sanções previstas nos incisos I, II e III do caput do art.
156 desta Lei caberá recurso no prazo de 15 (quinze) dias úteis, contado da data
da intimação.
Parágrafo único. O recurso de que trata o  caput  deste artigo será dirigido à
autoridade que tiver proferido a decisão recorrida, que, se não a reconsiderar
no prazo de 5 (cinco) dias úteis, encaminhará o recurso com sua motivação à
autoridade superior, a qual deverá proferir sua decisão no prazo máximo de 20
(vinte) dias úteis, contado do recebimento dos autos.
[...]
Art. 168. O recurso e o pedido de reconsideração terão efeito suspensivo do ato ou
da decisão recorrida até que sobrevenha decisão final da autoridade competente.
Parágrafo único. Na elaboração de suas decisões, a autoridade competente será
auxiliada pelo órgão de assessoramento jurídico, que deverá dirimir dúvidas e
subsidiá-la com as informações necessárias.

O recurso interposto fora do prazo ou após o exaurimento da esfera administrativa


não será conhecido. Mas isso não impede a Administração de rever de ofício o ato
ilegal, desde que não ocorrida preclusão administrativa, em razão da autotutela (art.
63 da Lei nº 9.784/1999). por ODA a partir daqui

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 186


Referências

BRASIL. Acórdão nº 1930/2006-Plenário. Disponível em: https://www.lexml.gov.br/


urn/urn:lex:br:tribunal.contas.uniao;plenario:acordao:2006-10-18;1930.

BRASIL. Acórdão nº 5.615/2008, da 2º Câmara do Tribunal de Contas da União.


Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tcu/759740495/inteiro-
teor-759740509. Acesso em: 24 out. 2022.

BRASIL. Circular SUSEP 662/2022. Disponível em: https://www2.susep.gov.br/safe/


scripts/bnweb/bnmapi.exe?router=upload/25882. Acesso em: 24 out. 2022.

BRASIL. Decreto nº 9.507/2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_


ato2015-2018/2018/decreto/d9507.htm. Acesso em: 3 dez. 2022.

Brasil. Instituto Federal de São Paulo. Instrução Normativa Conjunta DLA/DOF nº


1/2017. Disponível em: https://www.ifsp.edu.br/images/pra/comunicados/2017_
Instruo-Normativa-DLA-DOF-N-001-2017---Pagamento-Direito.pdf.

BRASIL. Instrução Normativa SEGES/ME nº 65/2021, de 7 de julho de 2021. Disponível


em: https://www.gov.br/plataformamaisbrasil/pt-br/legislacao-geral/instrucoes-
normativas/instrucao-normativa-seges-me-no-65-de-7-de-julho-de-2021. Acesso
em: 26 out. 2022.

BRASIL. Instrução Normativa SEGES/MP nº 05/2017. Disponível em: https://www.


gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/instrucoes-normativas/
instrucao-normativa-no-5-de-26-de-maio-de-2017-atualizada. Acesso em: 24 out.
2022.

BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/


leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 3 dez. 2022.

BRASIL. Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos


Administrativos. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2021/lei/l14133.htm. Acesso em: 7 dez. 2022.

BRASIL. Lei nº 6.019/1974. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/


L6019compilado.htm. Acesso em: 3 dez. 2022.

BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Disponível em: http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm . Acesso em: 21 out. 2022.

BRASIL. Lei nº 9.472/1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/


l9472.htm. Acesso em: 4 nov. 2022.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 187


BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Instrução
Normativa nº 5, de 26 de maio de 2017. Dispõe sobre as regras e diretrizes do
procedimento de contratação de serviços sob o regime de execução indireta
no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional.
Disponível em: https://www.gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/
instrucoes-normativas/instrucao-normativa-no-5-de-26-de-maio-de-2017-
atualizada#:~:text=DE%202017%20(Atualizada)-,INSTRU%C3%87%C3%83O%20
NORMATIVA%20N%C2%BA%205%2C%20DE%2026%20DE%20MAIO%20DE%20
2017,federal%20direta%2C%20aut%C3%A1rquica%20e%20fundacional. Acesso em:
7 dez. 2022.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Secretaria de Gestão.


Cartilha sobre Conta-Depósito Vinculada ― bloqueada para movimentação,
2018. p.: il. Disponível em: https://www.gov.br/compras/pt-br/agente-publico/
cadernos-de-logistica/midia/caderno_logistica_conta_vinculada.pdf.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Secretaria de


Gestão. Instrução Normativa nº 2, de 30 de abril de 2008. Disponível em: https://
www.gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/instrucoes-normativas-
revogadas/instrucao-normativa-no-02-de-30-de-abril-de-2008-revogada-pela-in-no-
5-de-26-de-maio-de-2017.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Secretaria de


Gestão. Instrução Normativa nº 6, de 23 de dezembro de 2013. Disponível em:
https://www.gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/instrucoes-
normativas-revogadas/instrucao-normativa-no-6-de-23-de-dezembro-de-2013-
revogada-pela-in-no-12-de-2020.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Secretaria de


Gestão. Instrução Normativa nº 5, de 25 de maio de 2017. Disponível em:
https://www.gov.br/compras/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/instrucoes-
normativas/midias/INn05de26demaiode2017Hiperlink.pdf.

BRASIL. PARECER nº 00539/2020/COMAD/PFE-ICMBIO/PGF/AGU (NUP:


02070.004595/2020-26).

BRASIL. Portal de Compras do Governo Federal. Orientações gerais para planilha


de custos e formação de preços. Brasília, 2020. Disponível em: https://www.gov.
br/compras/pt-br/agente-publico/orientacoes-e-procedimentos/11-orientacoes-
gerais-para-planilha-de-custos-e-formacao-de-precos. Acesso em: 26 out. 2022.

BRASIL. Portal de Compras do Governo Federal. Orientações sobre o pagamento


direto de Contribuições Previdenciárias e de FGTS, quando do inadimplemento
por parte das empresas contratadas para a prestação de serviços continuados,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 188


com dedicação exclusiva de mão de obra. Disponível em: https://www.gov.
br/compras/pt-br/agente-publico/orientacoes-e-procedimentos/33-orientacoes-
sobre-o-pagamento-direto-de-contribuicoes-previdenciarias-e-de-fgts-quando-
do-inadimplemento-por-parte-das-empresas-contratadas-para-a-prestacao-de-
servicos-continuados-com-dedicacao-exclusiva-de-mao-de-obra

BRASIL. PORTARIA CONJUNTA Nº 5, DE 02 DE AGOSTO DE 2022. Disponível


em: http://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-conjunta-n-5-de-02-de-agosto-
de-2022-420312620 . Acesso em: 21 out. 2022.

BRASIL. Portaria nº 1.547/2008 da Advocacia-Geral da União

BRASIL. Portaria nº 172/2016 da Procuradoria-Geral Federal.

BRASIL. Programa Radar Anticorrupção do SCI/MInfra. Disponível em: http://www.


gov.br/infraestrutura/pt-br/acesso-a-informação/transparencia-e-prestacao-de-
contas/pagina-inicial-radar-anticorrupcao. Acesso em 27/10/2022.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade 16


Distrito Federal. 2010. Ministro Cezar Peluso. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/
paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=627165. Acesso em: 7 dez. 2022.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 1.108/2007. Plenário. Relator: Ministro


Raimundo Carreiro. Sessão de 6/6/2007. Disponível em: https://pesquisa.apps.tcu.
gov.br/#/redireciona/acordao-completo/%22ACORDAO-COMPLETO-31961%22.
Acesso em: 24 out. 2022.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 2.463/2008. Plenário. Relator:


Ministro Guilherme Palmeira. Sessão de 05/11/2008. Disponível em: https://
pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/redireciona/acordao-completo/%22ACORDAO-
COMPLETO-35645%22. Acesso em: 26 out. 2022

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 331. Disponível em: https://www3.


tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_301_350.html. Acesso
em: 7 dez. 2022.

Caderno de Logística - Sanções Administrativas em Licitações e Contratos.


https://www.gov.br/compras/pt-br/agente-publico/cadernos-de logistica/midia/
caderno-de-logistica-de-sancao-2.pdf. Acesso em: 25 out. 2022.

FERRAZ, Sérgio; DALLARI, Adilson Abreu. Processo administrativo. 2. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2007. p. 90-91.

FERREIRA, Daniel. Sanções Administrativas. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 63.

LACERDA, Luiz C. N. Uma análise da variabilidade dos preços adjudicados em


pregões eletrônicos na Administração Pública Federal. Dissertação (Mestrado em
Administração). Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, 2012.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 189


Manual de Sanções do Tribunal de Contas da União-TCU. https://portal.tcu.gov.br/
data/files/1D/D4/FA/F1/B5AD4710D614BB47E18818A8/Manual%20de%20sancoes.
pdf. Acesso em: 25 out. 2022.

Manual do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal-


SIAF http://manualsiafi.tesouro.gov.br/manual_completo.pdf/view. Acesso em
24/10/2022.

MEDAUAR, Odete. A processualidade no direito administrativo. 2. ed. ver., atual.


e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 123.

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único. 10. ed. Rio de
Janeiro: Forense: 2020. p. 563 e 564.

SALES, P. K. B. Secretaria de Estado de Fazenda, Planejamento, Orçamento e


Gestão. Escola de Governo do Distrito Federal. Gestão e Controle da Conta
Vinculada aos Contratos de Terceirização. Disponível em: https://egov.df.gov.br/
wp-content/uploads/2019/10/Apostila-%E2%80%93-Conta-Vinculada-%E2%80%93-
Outubro-2019.pdf

SANTOS, Franklin Brasil (2015). Preço de referência em compras públicas: ênfase


em medicamentos. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/preco-
de-referencia-em-compras-publicas-enfase-em-medicamentos.htm. Acesso em: 24
out. 2022.

STJ, Manual de Orientação – pesquisa de preços, 2021. Disponível em: https://www.


stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/MOP/issue/view/2096/showToc. Acesso
em: 26 out. 2022.

VIEIRA, Antonieta Pereira e outros. Gestão de contratos de terceirização na


administração pública: teoria e prática. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2006. ISBN
85-7700-003-6

ZÊNITE. Equipe Técnica. Qual a diferença entre conta vinculada e pagamento


pelo fato gerador? Disponível em: https://zenite.blog.br/qual-a-diferenca-entre-
conta-vinculada-e-pagamento-pelo-fato-gerador/.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 190

Você também pode gostar