Querelas Religiosas Entre Católicos E Espiritas Na Primeira REPÚBLICA PARAIBANA. (1890 / 1930)
Querelas Religiosas Entre Católicos E Espiritas Na Primeira REPÚBLICA PARAIBANA. (1890 / 1930)
Querelas Religiosas Entre Católicos E Espiritas Na Primeira REPÚBLICA PARAIBANA. (1890 / 1930)
A história do Espiritismo na Paraíba ainda está por ser pesquisada e estudada com
maior profundidade. As poucas publicações são esparsas e na maioria são específicas de cada
casa espírita, mas que não dão conta da totalidade de um processo que se iniciou antes do
surgimento da filosofia espírita, isto é, no século XIX. Condições históricas, culturais,
filosóficas e cientificas e psíquicas criaram um contexto propício ao pleno desenvolvimento
de uma corrente de pensamento de caráter científico e filosófico, surgida na França, mas que
no Brasil se constituiu num movimento religioso e, que fora bastante contestado pela igreja
católica, tida como uma grande calamidade que deveria ser combatida.
Os estudos existentes acerca dessa temática quase sempre ignoram o contexto
histórico do século XIX, fixando-se apenas na organicidade do movimento espírita, além de
privilegiarem um olhar que minimiza e, amiúde, exclui da historiografia espírita
personalidades e movimentos importantes para a compreensão do desenvolvimento do
Espiritismo brasileiro. Some-se a isso a dificuldade em se obter documentações, muitas vezes
sonegadas, quando não destruídas pelo tempo e pelas traças, em função da falta de zelo para
com a memória do Espiritismo.
No Brasil, apesar das inúmeras transformações ocorridas entre fins do século XIX e as
primeiras décadas do XX, entre elas o fim do regime de padroado e a institucionalização do
estado laico, não se pode negar a grande influência do fator religioso como um dos principais
componentes de mudanças vivenciadas pela sociedade brasileira e, em especial a paraibana na
primeira republica. E dentro deste contexto, temos o espiritismo. Mas, quando surgiu o
espiritismo? Onde? E que o criou? Quais são suas características? Quando chegou ao Brasil?
E na Paraíba? Porque a Igreja passou a combatê-lo? Nas paginas a seguir tentaremos
descortinar estas perguntas, sem fazer juízo de valor ou mesmo produzir um discurso
tendencioso.
O Espiritismo1 surgiu oficialmente na França, em 1857, com a publicação do “Livro
dos Espíritos” por Allan Kardec, pseudônimo do pedagogo Frances Hippolyte Léon Denizad
Doutor em História pela UFPE; Pós Doutorando pela UFCG – Universidade Federal de
Campina Grande. Professor da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Membro do
Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena da Paraíba – NEAB-Í. Email.
[email protected];
2
Rivail, (1804 – 1869) reconhecido por espíritas e não-espiritas como codificador 2 de um corpo
teórico filosófico, religioso e cientifico que parte de pressupostos científicos e religiosos, tais
como a imortalidade da alma, a pluralidade das vidas e a existência de Deus.
Kardec esta inserido dentro de um contexto social, político, filosófico e cientifico do
século XIX, convivendo com contemporâneos de alta intelectualidade na Europa como
Augusto Comte (idealizador do pensamento positivista que influenciou toda uma geração de
intelectuais europeus e também brasileiros) assim como Karl Marx (intelectual responsável
pela criação da corrente filosófica / ideológica socialista, causando grande repercussão e
influencia no pensamento social, político e econômico entre o século XIX e XX em vários
países do mundo).
E neste ambiente que devemos contextualizar Kardec, um intelectual oriundo do
famoso Instituto de Educação Pestalozzi, Yverdon, Cantão de Vaud, na Suíça, onde teria
adquirido o hábito da investigação e da liberdade de pensamento, qualidades que iriam ser
bastante úteis na sua vida intelectual. Afeito pelo ensino, revelou-se um dos discípulos mais
fervorosos do pedagogo suíço cujas inspirações partiram, sobretudo, das doutrinas de Jean-
Jacques Rosseau. Assim como seu mestre, Rivail (Kardec) também acreditava em uma
ciência da educação, fundamentada a partir da natureza humana e não a partir de crenças
sobrenaturais. A educação regeneraria o homem, livrando-o das misérias sociais e individuais.
Oriundo da França, o Espiritismo, logo que chegou ao Brasil, angariou seus primeiros
adeptos entre imigrantes franceses e membros da classe média, habitualmente intelectuais,
médicos, jornalistas e comerciantes. Disseminando-se, a princípio, entre a classe média
urbana, teve a influência de suas práticas e visões de mundo, substancialmente aumentada ao
longo dos anos. Um aspecto relevante para o entendimento da história do Espiritismo foi a
tentativa, desde seu início, de inserir-se, simultaneamente, em dois campos: o científico e o
religioso. Desde Kardec, o Espiritismo tem buscado se apresentar como uma doutrina de
bases científicas e com implicações ético-religiosas.
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Espiritismo - é a doutrina revelada pelos Espíritos Superiores, através de médiuns, e organizada (codificada),
no século XIX, por um educador francês, conhecido por Allan Kardec. O Espiritismo é, ao mesmo tempo
filosofia, ciência e religião. Filosofia, porque dá uma interpretação da vida, respondendo questões como “de
onde eu vim”, “o que faço no mundo”, “para onde irei depois da morte”. Ciência, porque estuda, à luz da
razão e dentro de critérios científicos, os fenômenos mediúnicos, isto é, fenômenos provocados pelos espíritos e
que não passam de fatos naturais. Religião, porque tem por objetivo a transformação moral do homem,
revivendo os ensinamentos de Jesus Cristo, na sua verdadeira expressão de simplicidade, pureza e amor.
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O termo codificador significa: reunir normas em forma de código, compilar, coligir, transformar em sequência
de sinais adequados determinados códigos. É nesse sentido que os espíritas titulam Allan Kardec de o
“codificador do espiritismo”. Segundo os espíritas, foi Allan Kardec quem codificou as mensagens ditadas pelos
espíritos em cinco livros denominados “livros da codificação”.
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O jornalista Luís Olympio Telles de Menezes nasceu na Bahia na cidade de Salvador. Iniciou uma fracassada
carreira militar, depois se dedicou ao magistério e as letras. Em 1849, com um grupo de amigos funda um jornal
A época literária, preocupado com as discussões científicas, literárias e históricas. De 1861 a 1865 exerce a
função de tesoureiro do Instituto Histórico da Bahia. Foi também colaborador do Diário da Bahia. Em 1875
muda-se para o Rio de Janeiro e morre em 1893 numa situação de extrema pobreza.
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Sobre esse momento inicial da História do Espiritismo no Brasil, Cf. Os intelectuais e o espiritismo de
Ubiratan Machado; Da elite ao povo, de Sylvia Damazio; e As Religiões do Rio, de João do Rio.
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havia morrido), esta não deixa de fazer críticas a respeito da influência católica no jornal. Em
1869, num volume da Revista Espírita publicada pela sociedade, aparece o comentário sobre
o jornal brasileiro:
A introdução e a análise que o Sr. Luiz Olympio faz, da maneira geral pela qual os
Espíritos nos revelaram a sua existência, parecem-nos bastante satisfatórias.
Outras passagens, referindo-se especialmente à questão religiosa, dão-nos ocasião
para algumas reflexões críticas. Para nós, o Espiritismo não deve tender para
nenhuma forma religiosa determinada. Ele deve permanecer como uma filosofia
tolerante e progressiva (…)” (Revista Espírita, 1869 - http://www.febnet.org.br/ -
acessado em 02 de maio de 2017)
Com todo esse ambiente, o espiritismo brasileiro atraía cada vez mais as críticas da
Igreja, que propunha uma série de medidas para esclarecer os seus seguidores contra os erros
do espiritismo. Os católicos ficaram horrorizados com as primeiras mensagens espirituais
divulgadas pelos grupos espíritas que criticavam as injustiças, a escravidão e aceitavam todos
os meios para repelir a opressão e a injustiça. Diz uma das mensagens: “A revolução é o
sagrado direito de um povo oprimido…” (MACHADO, 1996, p.99)
Nesta época, o arcebispo baiano D. Manoel Joaquim da Silveira redigiu uma carta em
junho de 1867, criticando as mensagens e as traduções de Menezes. Para ele, só através das
duras críticas é que a Igreja poderia por termo à loucura espírita. Segundo a informação de
Vieira, os católicos consideravam o espiritismo uma ameaça, assim como viam a maçonaria e
o protestantismo. “Ademais, para cumular, a nação estava agora invadida pelos ‘adoradores
do demônio’, que se denominavam Espíritas. Esses seguidores de Allan Kardec encontravam-
se no país, e o Arcebispo fora forçado a emitir uma carta pastoral para acalmar o espírito
católico do Império” (VIEIRA,1980, p. 246).
O arcebispo D. Manoel Joaquim da Silveira advertia os católicos contra os perigos da
doutrina da pré-existência da alma e da reencarnação, invocando a autoridade das escrituras.
Chegava a falar do espiritismo como a negação do cristianismo. Durante muito tempo o
arcebispo e Menezes discutiram sobre o espiritismo. Dentro deste contexto podemos perceber
como já ia se delineando o ambiente hostil entre católicos e espiritas que durariam décadas no
Brasil, influenciando outros bispos, como foi o caso da Paraíba na figura de Dom Adauto de
Miranda, como veremos nas paginas seguintes.
Por volta dos anos de 1870, as ideias emanadas da doutrina espírita começaram a
fervilhar na Corte. Um dos principais fatores para a aceitação do espiritismo no Rio de
Janeiro, no meio intelectualizado, foi a sua característica de caráter modernizador. A doutrina
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codificada por Allan Kardec trazia consigo características já inerentes ao universo religioso e
cultural do Brasil: a crença em espíritos e no sobrenatural. Porém, com uma leitura científica,
filosófica, moralizadora e, sobretudo, “civilizada” pela sua origem europeia. Esses
pressupostos iam de encontro com os anseios de uma sociedade que almejava a modernidade
no final do século XIX.
Por sua vez, a imprensa católica elaborava argumentos contra os espíritas e noticiava
as discussões dos intelectuais. A repercussão nos jornais católicos e não católicos sobre as
polêmicas eram grandes. Quando o Jornal Comércio em 1875 noticiou a primeira tradução
completa do Livro dos Espíritos de Allan Kardec para o português, feita por Joaquim Carlos
Travassos, a polêmica aumentou. A Igreja dizia que o Espiritismo era um desrespeito ao
Evangelho e ao espírito cristão, pois as ideais de revolução, de religiosidade natural, de fé
raciocinada teriam efeitos nefastos sobre a ordem pública, a família e as tradições, atingindo
toda a sociedade.
Para MALDONADO (2015), os espíritas se esforçavam em demonstrar que seus
princípios eram resultados de pesquisas sérias. Nessa luta, Bittencourt Sampaio procurava dar
forças aos argumentos de seriedade e defendia o respeito ao espiritismo. No entanto, a
observação de que o espiritismo era fábrica de loucos, reforçada por dois grandes intelectuais
brasileiros, Machado de Assis e José de Alencar, seria repetida por muitos católicos
empenhados em mostrar a origem demoníaca do espiritismo.
De acordo com dados de O Reformador, o mais antigo periódico de divulgação da
doutrina espirita no Brasil, em 02 de agosto de 1873 era fundada no Rio de Janeiro, a
Sociedade de Estudos Espiritas Grupo Confúcio, primeiro núcleo espírita da capital e que
posteriormente deu origem á Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade, em
1876.
O ano de 1875 foi especialmente importante para o movimento espirita, registrando
fatos significativos. Entre eles, a publicação da Revista Espirita, sob a direção de Antônio da
Silva Neto, além da primeira edição de O Livro dos Espíritos, traduzido por Joaquim Carlos
Travassos e editado pela editora Garnier. Ainda neste ano, são publicados pela mesma editora,
O Livro dos Médiuns e O Céu e o Inferno.
Em 1876, a Livraria Garnier também publicou o Evangelho segundo o Espiritismo,
igualmente traduzido por Travassos. Segundo Sylvia Damázio, (1994) os livros da
codificação foram reeditados inúmeras vezes pela editora. Essa atitude contribuiu para que a
propagação da doutrina espírita se intensificasse ainda nas ultimas décadas do século XIX.
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Porém, foi o aspecto religioso do espiritismo que mais floresceu nesta época, e dois
motivos. Em primeiro lugar, o lado religioso funcionava melhor para uma população ligada a
um cristianismo que, em geral, convivia tranquilamente com curandeiros, benzedeiros e
cartomantes. Em segundo lugar, o mais importante líder entre os espíritas depois de Allan
Kardec e antes de Chico Xavier, o ex-deputado Adolfo Bezerra de Menezes 5, concordava
com os místicos. Mas teve também o talento de não dispensar os científicos. A Federação
Espírita do Brasil, criada em 1884 pelo fotógrafo português Augusto Elias da Silva, seria
presidida duas vezes pelo doutor Bezerra de Menezes, que também fora deputado federal e
estimulou a publicação de livros e textos de cunho acadêmico. (FERNANDES, 2008, p. 79)
Percebemos então, que a hierarquia católica começa a ficar preocupada com o
movimento de pessoas entre a Igreja e os Centros Espiritas, o que para o clero era
inconcebível um católico frequentar um centro espirita, sob tudo porque este trânsito poderia
ameaçar a perca de fieis para o espiritismo, ameaçando a hegemonia da Igreja Católica. Desse
modo, era necessário combatê-lo e, assim a Igreja passou a fazer. Sobre esta reação comenta
França (2010), o combate ao espiritismo havia se tornado uma questão de patriotismo aos
olhos da Igreja, combater o espiritismo era equivalente a ser um bom patriota, afinal, o que
estava em jogo era a constituição do Brasil como nação, desse modo, não poderia permitir a
religião oficial que o nefasto espiritismo continuasse a enganar pessoas ingênuas e a produzir
loucos pelo país (FRANÇA, 2010, p. 104).
Assim como nas províncias da Bahia, Ceará e Rio de Janeiro, na Paraíba as primeiras
noticias do movimento espírita remontam a década de 80 do século XIX tanto na capital a
Parahyba do Norte (atual João Pessoa) como na cidade de Areia, localizada no Brejo
paraibano. Isto se deve no nosso entendimento, a maior divulgação do espiritismo,
impulsionado, também, pela publicação dos livros da codificação kardequiana para o
português, o que facilitou o acesso de um numero cada vez maior de pessoas as leituras
espíritas.
Tudo começou nos idos de 1916. A Parahyba do Norte era a capital da então
Parahyba. Uma época em que poucas se “atreveriam” a falar, frequentar e praticar o
Espiritismo. Eram os destemidos e audaciosos, de raciocínio largo, que liam, dialogavam,
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Adolfo Bezerra de Menezes nasceu no Ceará em 1831 e morreu no Rio de Janeiro em 1900, iniciou a carreira
como médico-cirurgião do Exército. Em 1861 foi eleito vereador municipal pelo partido liberal, afasta-se do
exército para servir à política. Seis anos depois é eleito deputado geral. Em 1880 é eleito presidente da Câmara e
deputado pelo Rio de Janeiro. Em 1883, levanta vários problemas referentes a cidade do Rio de Janeiro: a
poluição da Guanabara, o favelamento da cidade, a falta de rigor na fiscalização para a melhoria da qualidade da
carne (defesa do consumidor) e outras. Foi um abolicionista que apontou graves questões sociais da emancipação
dos escravos, do comércio e da indústria. Em 1886 afasta-se da política e vai dedicar-se ao espiritismo. De 1886
a 1893, com o pseudônimo de Maxwell, escreve no jornal O Paiz, dirigido por Quintino Bocaiúva.
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conheciam a Doutrina Espírita. Não havia ainda um núcleo ou centro espírita, mas o livro
Espírita estava ali, garantindo a ousadia para se ultrapassar as fronteiras do preconceito. As
dificuldades foram inúmeras para os desbravadores, mas o desafio era maior.
O que existiam eram apenas “Sessões de Caridade”, que aconteciam em residências
onde eram atendidos os necessitados. Naquelas sessões a mediunidade aflorava em pessoas
simples e sinceras, produzindo os mais extraordinários fenômenos de cura, vidência,
clarividência, psicografia, psicofonia que maravilhavam e assombravam de estupefação a
todos os presentes. Foi na residência do cidadão Manoel Alves de Oliveira que se realizavam
uma dessas “Sessões de Caridade”, onde eram atendidas pessoas de todas as condições
sociais, com a doutrinação de espíritos enfermos, o passe, a água fluidificada e o consolo da
Doutrina dos Espíritos. Mas foi ali, naquele lar, que um reduzido número de pessoas resolveu
fundar um grupo de estudos espiritas.
Porém, o movimento espirita surgiu na segunda metade do século XIX, como vimos
anteriormente, e a FEB surge em 1884 no Rio de Janeiro, a partir daí vai se tornar a grande
incentivadora dos centros espiritas e como consequências deste incentivo vão ter a abertura da
Federação Espírita Paraibana (FEPB) em 17 de janeiro de 1916. O objetivo do federalismo
levou a uma rápida expansão no Movimento Espírita brasileiro com as Federações Estaduais e
a consequente multiplicação dos Centros Espíritas.
Em agosto de 1922 foi fundada a primeira revista Espírita na Paraíba, o que renovou
os conceitos sobre o Espiritismo na então província Parahyba do Norte. Era editada pela
FEPB e intitulava-se O Além. Para o Movimento Espírita da Paraíba, era uma novidade
editorial. O primeiro diretor da revista foi o bel. Diógenes Caldas; redator secretário José
Pereira da Silva (Sr. Zuza); redatores professores: Eduardo Medeiros, Francisca Moura,
Sizenando Costa, João Coelho, Floripes Pessoa e Eugênio Ribas Neiva. Gerente – Manoel
Rabelo.
Não existe comprovação de até quando foi editada a revista, mas se presume que a
partir de 1924 foi suspensa a sua circulação porque o então governador Sólon de Lucena,
deixou a presidência da Província, sendo o mesmo um simpatizante e financiador da revista.
Foram poucos anos de divulgação da Doutrina Espírita pela revista O Além, mas, com certeza
plantou a sementeira para a divulgação das ideias espiritas e incentivo para outros centos que
aos poucos foram espalhando-se pela Paraíba.
Neste interim, Silva (2006) nos informa sobre a criação de outro espaço espirita
conhecido inicialmente como União Espírita Deus, Amor e Caridade fundada em 1931, e a
partir de 1959, como Casa da Vovozinha, funcionando até os dias de hoje na capital
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paraibana. Este centro foi fundado num momento de grave crise social, política e econômica
da sociedade brasileira e paraibana, viviam-se a pós-revolução de 1930, os ânimos políticos
ainda se encontravam exaltados e o país atravessava crises de âmbito politico e econômico,
começava o que ficou conhecido na história como período Vargas (1930 – 1945).
Portanto, as pessoas precisavam de ajuda material, como também de superar os
obstáculos políticos, sociais e financeiros deste período, assim como continuar a divulgação
da doutrina espirita e agregar mais adeptos da causa religiosa, social e filosófica. Silva (2006)
afirma que todas as atividades desenvolvidas pela Casa da Vovozinha foram consideradas
educativas, compreendendo essa educação como um processo de desabrochar das virtudes
morais, inatas no ser humano, o qual pode ocorrer em qualquer instância da vida humana e
não apenas nos ambientes formais de ensino, ou seja, este centro espirita torna-se também um
espaço de aprendizado educacional voltado para o ensino leigo, onde se aprendia não só
religião, como também a ser cidadão.
Em Campina Grande, segundo Câmara (1988), o movimento espirita teve inicio em
maio de 1926, com a fundação da Sociedade Espirita Sólon de Lucena, no mesmo ano foi
fundada outra com o nome de Centro Santo Agostinho. Em Fevereiro de 1933 ocorreu a fusão
dos dois centros espiritas, dando origem a União Espirita Cristã. Em outubro de 1943 temos a
fundação da Liga Espirita Campinense, composta pelos centros José de Alencar e Luz, Amor
e Caridade e dirigido por João Miguel de Morais.
O movimento espirita na Paraíba não teve vida fácil, seja no aspecto material ou
religioso. Vejamos por que. Com a ascensão de D. Adauto a Diocese da Paraíba em 1892,
iniciou-se uma ação constante do clero contra o movimento espírita paraibano, criando
dificuldades a sua expansão, divulgação e prática. De acordo com Luiz Gonzaga e Souza
Lima (1979), os núcleos espíritas eram bastante numerosos na Paraíba, contanto com muitos
bacharéis, professores, jornalistas e funcionários públicos, inclusive com a presença de
familiares de D. Adauto. Ainda segundo Lima, D. Adauto em visita a cidade de Areia no ano
de 1887 na condição de professor seminarista (em Olinda- PE), aproveitou-se de sua estada
para realizar discursos contra a prática espírita, asseverando ser o espiritismo uma nefasta
superstição, marcada pelo fanatismo e pela ignorância religiosa.
Quando D. Adauto torna-se Bispo da Paraíba, a rejeição e perseguição ao espiritismo e
seus adeptos fica mais ostensiva. Neste embate contra o movimento espírita, a Igreja vai
utilizar o jornal semanal A Imprensa Catholica, criado em 1893 pela Diocese paraibana. Além
de ser utilizado para a divulgação das crenças católicas, reafirmar o poder e a importância da
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igreja na vida dos cidadãos paraibanos, este jornal também foi utilizado ao longo de sua
existência jornalística para combater de forma contundente o espiritismo.
Em 26 de novembro de 1900, o jornal vai transcrever uma nota que fora divulgado no
jornal Mensageiro do Coração de Jesus, em Itú – SP, informando que o Papa Leão XIII
reformara o índex dos livros proibidos e lançara outros decretos, entre eles, um que
condenava quem publicasse, lesse ou conversasse sobre o espiritismo, correndo o risco de ser
lançado ao fogo do inferno. Isso demonstra o clima de medo que a igreja despertava na sua
população, ameaçando lançar no fogo do inferno aqueles que teimassem em divulgar e
praticar o espiritismo.
O editorial da Imprensa Catholica datado de 24 de agosto de 1902, firmava a posição
da igreja no que diz respeito a prática espírita, na qual condenava não só o espiritismo, como
também seus adeptos, pois a igreja entendia que o espiritismo representava um perigo a saúde
mental humana, e que poderia levar o individuo a praticar distúrbios sociais, provocados pela
mediunidade ou espíritos trevosos, daí a recomendação da igreja para que seus adeptos se
afastassem da “seita” espírita, sob a alegação de irem para o inferno.
Os confrontos entre católicos e espíritas entre as décadas finais do século XIX e as
primeiras do XX, denotam a luta constante dos espíritas em busca de espaço numa sociedade
em que o catolicismo era a religião hegemônica e as teorias evolucionistas eram dominantes
nas esferas científicas e intelectuais. As práticas espíritas, nesse contexto, se situavam na
interseção das vertentes religiosas e científico.
Esse entendimento fundamenta-se nos escritos de Pierre Bourdieu. Nosso interlocutor
defendeu a existência de campos científicos, religiosos, políticos, intelectuais e artísticos.
Nesses campos existem, interiormente, uma “[...] luta pela imposição de uma definição do
jogo e dos trunfos necessários para dominar nesse jogo.” (BOURDIEU, 2004, p. 122). No
campo se enfatiza a dimensão dos conflitos, no qual os jogadores fazem usos de estratégias,
buscando definir regras que determinam o que é legítimo.
Neste sentido, os embates entre católicos e espíritas tornam-se campos antagônicos de
poder, em que ambos vão fazer uso das estratégias que dispõem para legitimar seu espaço.
Sob a influência desse pressuposto teórico, compreende-se, então, que os espíritas assumiram
a posição de um novo jogador em busca de reconhecimento na sociedade brasileira. Eram
embates para a obtenção da legitimidade no espaço público e social das práticas espíritas.
Como os espíritas defendiam uma doutrina que se definia como um sistema científico,
filosófico e moral (religioso), seus embates foram nos campos científico, intelectual e
religioso.
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O Código Penal de 1890 estabelecia nos artigos 156, 157 e 158 punições ás práticas mágicas, ao curandeirismo,
ao charlatanismo e ao espiritismo.
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FEB – Federação Espírita Brasileira. Criada em 1884, cujo objetivo era preservar a unidade doutrinária e reunir
de modo institucional os adeptos da pratica espírita dispersos por inúmeros centros espíritas.
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religiosa, era incoerente a sua criminalização, com a garantia do livre exercício religioso
contido no Decreto 119-A de 1890.
No intuído de fazer uma contraofensiva e ao mesmo tempo uma defesa do espiritismo
no Brasil, a FEB vai utilizar-se do Jornal O Reformador, situado no Rio de Janeiro para
defender-se dos ataques que sofria e das punições previstas no Código Penal de 1890. Para a
FEB, os artigos 157 e 158 que se acham no capítulo – Dos crimes contra a saúde pública –
eram sinais evidentes de que seu autor desconhecia por completo o assunto sobre o qual
legislou, ou seja, o espiritismo.
No período de 1881 a 1910 houve diversas perseguições policiais ao espiritismo,
sendo proibidas as sessões de muitos grupos espíritas. A Federação Espírita publicou em seu
jornal O Reformador e reuniu artigos de jornais da imprensa não espírita acerca das
perseguições promovidas contra os espíritas que militavam no interior do país. Os locais onde
se realizavam as sessões espíritas eram apedrejados e às vezes os perseguidores colocavam até
bombas e dinamites para destruir os lugares de reuniões.
Além da agressividade do código, a reação do clero era mais intensa, à medida que o
espiritismo se difundia na sociedade. Não eram apenas as elites intelectuais e as classes baixas
que aderiam ao espiritismo, as classes médias também. O fenômeno desencadeou uma contra
ofensiva da Igreja, com os mesmos argumentos de sempre, tratando o espiritismo como obra
do demônio. Sem duvida, com o advento da República, o embate entre os espíritas e a Igreja
se acentua, revelando por parte da Igreja segundo Miceli um esforço “de revidar aos
argumentos e às versões anticlericais, de resistir ao proselitismo dos concorrentes maçons,
protestantes e espíritas.” (MICELI, 1988, p. 53)
Em de janeiro de 1891, foi publicada no Jornal do Comércio uma coluna intitulada “O
novo código e o espiritismo”, assinada pela FEB. A intenção da Federação ao publicar esse
artigo, era rebater as acusações de charlatanismo e exploração da boa fé alheia que o
espiritismo acabou sofrendo com as proposições de do advogado João Baptista Pereira, que
simplificou as práticas espíritas à arte de curar e afirmou serem os espíritas especuladores e
expropriadores. Procuraram, também, reafirmar princípios da doutrina espírita, procurando
não limitá-la à arte de curar, mas, também a compreensão de mundo, orientação de vida,
conduta moral e princípios de amor, bondade e caridade para como próximo, ou seja,
princípios estes, contidos também na religião católica.
Mesmo com o Código Penal de 1890 e as perseguições realizadas a espíritas e aos
centros por estes frequentados, o espiritismo não arrefeceu, continuou a crescer e espalhar-se
por dezenas de cidades brasileiras. Sobre isso, o historiador/pesquisador da Igreja Scott
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Sim, afinal que é o espírita – catholico? Não, porque catholico é só o que acceita
integralmente os ensinamentos da Egreja Catholica, e Ella condemna o espiritismo
como seita e diabolica. Mas o espirita será christão? Tambem, não; porque christão
significa discípulo de christo, e Jesus Christo prohibe e reprova formalmente o
diabolismo, que nada mais é do que o espiritismo. Então o espírita será judeu?
Ainda, não; mas, peior que judeu; porque ao judeu, como se ver na Biblia, era
prohibido severamente evocar as almas dos mortos, e o espirita faz o que nenhum
judeu podia fazer. (...) Eis o que é espirita, um hereje, um apostata, um
excommungado, indigno de ter ingresso no lugar santo durante a vida; indigno da
sepultura sagrada após a morte; indigno dos sufrágios da Egreja por toda a
eternidade. (AEPB – Arquivo Eclesiástico da Paraíba. Serie Jornais. JORNAL A
IMPRENSA BI-SEMANARIO CATHOLICO – Parahyba - Quarta-feira, 19 de
outubro de 1921 - ANNO XIX N.19)
Como vemos a reação do clero é agressiva e mais intensa, à medida que o espiritismo
difundia-se na sociedade. O fenômeno desencadeou uma contra ofensiva da Igreja e, usando
os mesmos argumentos de sempre, tratava o espiritismo como obra do demônio. No discurso
católico presenciamos uma aspereza do tratamento dado ao espiritismo sem maior diálogo e
tolerância.
Considerações finais.
Referencias.
ALMEIDA, Angélica Aparecida Silva de. Uma fábrica de loucos: psiquiatria x espiritismo
no Brasil (1900-1950) - Campinas, São Paulo, Tese (doutorado) - Universidade Estadual de
Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2007.
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