Unidade IV - Revitalização Das Virtudes Cristãs

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REVITALIZAÇÃO DAS VIRTUDES CRISTÃS EXARADAS NAS CARTAS

PAULINAS

A maior das virtudes segundo Aristóteles é a justiça. “A justiça” é a


virtude completa no mais próprio e pleno sentido do termo, porque é o exercício
atual da virtude completa. Ela é completa porque a pessoa que a possui pode
exercer sua virtude não só em relação a si mesmo como também em relação
ao próximo, uma vez que muitos homens exercem sua virtude nos assuntos
privados.

Porém, como somos uma sociedade ocidental, e em sua grande maioria


Cristã, somos levados a buscar nos ensinamentos de Jesus Cristo e de seu
Apóstolo Paulo as virtudes cristãs, encontradas principalmente no Evangelho
de Mateus capítulos 5, 6 e 7, no famoso Sermão da Montanha onde Cristo
define toda ética cristã, e principalmente na Primeira Carta do Apóstolo Paulo
aos Coríntios Capítulo 13 onde trata do amor como a maior das virtudes, sendo
as outras parte deste.

É célebre a dissertação do Apóstolo Paulo sobre o amor. Em resumo,


diz ele: “Se eu falar a língua dos anjos; se tiver o dom da profecia e penetrar
todos os mistérios; se tiver toda a fé possível, a ponto de transportar
montanhas, mas não tiver amor, nada sou; ainda que eu distribua toda a minha
fortuna para sustento dos pobres, se não tiver amor, nada disso me
aproveitará. Entre estas três virtudes: a fé, a esperança e o amor, a mais
excelente é o amor.”

Sem vacilar, Paulo põe o amor acima da própria fé. E o faz porque, na
verdade, o amor está ao alcance de qualquer pessoa: do sábio, do ignorante,
do pobre, do rico, e porque independe de toda crença particular. Faz mais
ainda: distingue-a da simples esmola. Embora inclua a beneficência, o auxílio
material ao próximo, o verdadeiro amor resume todas as qualidades do
coração, na bondade e benevolência para com o próximo.

A benevolência define-se como o “desejo de fazer bem aos outros”. A


bondade leva-nos à realização desse bem. Já ouvimos falar da “lei de ação e
reação” ou “lei de causa e efeito”. Ninguém é benévolo, ninguém é bondoso
sem que isso resulte em extraordinários benefícios para si mesmo. Dando,
recebemos, e mais ainda do que demos. No sentido moral, é claro. Quando
damos do tesouro do nosso coração.

Virtude não menos excelente, que decorre do amor, é a tolerância, que


não se traduz por necessidade de mudar de opinião, mas por reconhecimento
do direito que têm os outros de terem opiniões próprias. Mesmo em política, é
qualidade essencial para uma perfeita democracia. Todos conhecem as
célebres palavras de Voltaire: “Não concordo com uma só palavra do que
dizeis; mas defenderei até a morte o vosso direito de dize-lo”.

Por que decorre a tolerância do amor ? Porque quem ama respeita e


valoriza o próximo, aceita-o como ele é. Faz mais: nele distingue as boas
qualidades. “Nunca encontrei uma pessoa de quem eu não gostasse”, afirmou
um autor norte-americano. Isso não quer dizer que ele sempre gostou de tudo
em todos, mas que buscou, invariavelmente, a parte boa das pessoas. Em
todos nós alternam-se boas e más qualidades. Basta-nos um olhar mais ou
menos interessado sobre a população da Terra para constatar este fato muito
simples: aqui não é a morada da perfeição. O homem é “obra inacabada”. Não
é perfeito, mas perfectível.

Se do amor decorre a tolerância, desta decorre o perdão. Quem ama


perdoa, perdoa sempre. Contam os escritores bíblicos que um dia o Apóstolo
Pedro perguntou ao Mestre: “Senhor, quando o meu próximo pecar contra mim,
quantas vezes deverei perdoá-lo? Sete vezes?” E o mestre respondendo,
disse: “Sete vezes, não; setenta vezes sete”. O que significa: sempre,
invariavelmente.

O perdão é o esquecimento das ofensas. Há, contudo, criaturas de tal


sorte amorosas que nunca precisam perdoar, simplesmente porque nunca se
ofendem. É provável que não sejamos ainda assim perfeitos, devido a
necessidade da observação constante de nós próprios. Por que somos tão
suscetíveis, por que nos ofendemos com tanta facilidade? A suscetibilidade é a
manifestação aguda do amor-próprio. Somos psicologicamente condicionados,
nossos conceitos de honra e respeitabilidade quase sempre se opõem ao
perdão. “Educaram-nos” para sermos honrados e respeitáveis. Quem não se
lembra de um pai inadvertido dizendo: “Seja homem! Homem não leva
desaforo pra casa!” A “honra” da família, do grupo social, da pátria, tudo leva à
ofensa, à mágoa, à ausência do perdão. Quando não há essa honra, não
exitiriam os nossos famosos “direitos”.

Ouvimos falar com muita freqüência em direitos e deveres, em


responsabilidade. As pessoas muito respeitáveis adoram esses termos. Não
diremos que inexistem direitos, deveres, responsabilidades. O senso de justiça
é inato no espírito humano, serviu, até, para uma das célebres bem-
aventuranças do Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que têm sede de
justiça”. Mas em seu nome muitas iniqüidades se têm cometido.

As pessoas verdadeiramente amorosas não são propriamente


respeitáveis; serão, isto sim, respeitadoras. Não vivem a clamar por direitos,
embora os reconheça sempre no seu próximo. Nada fazem por
responsabilidade; fazem muito, mas por amor. Bem considerado, nada mais é
o amor-próprio senão uma das faces do egoísmo. Por isso são duros e
irascíveis os que o têm. O homem simplesmente respeitável, que por amor-
próprio preza e defende o próprio eu vive em circuito fechado. Por que
esquenta o ferro de passar roupa, ou a água do chuveiro? Porque esses
objetos têm uma resistência em circuito fechado. Se em tempo hábil não forem
desligados, estouram.

O amor “é um sair de si mesmo”, um doar-se, um comunicar-se natural e


espontaneamente. O homem de tenso amor-próprio, de intenso egoísmo, não
se comunica. Ensimesmado, fechado em si mesmo, zeloso dos conceitos e
opiniões que lhe dão uma aparente segurança, vive e morre só, ainda que
cercado de muita gente. Daí a necessidade premente de bem examinarmos o
nosso peculiar condicionamento psicológico. Pela tradição, vieram-nos
inumeráveis conceitos e preconceitos, opiniões as mais diversas, uma
infinidade de deveres e não-deveres, de feios e bonitos, muitas idéias, muitos
imperativos, e a tudo isso nos agarramos porque precisamos de estar seguros.
Mas a verdade é que a segurança psicológica não existe. Tudo é mutável, e dá
mostra de inteligência e desenvolvimento mental aquele que o percebe. Nem é
outra a definição de inteligência pela maioria dos psicólogos: capacidade de
ajustamento a situações novas.

Ora, a transformação moral de que temos falado refere-se a um


constante ajustamento. Aquele que se fecha em seu pequenino ego nunca se
transforma, nunca é uma nova criatura, nunca “desveste o homem velho para
se revestir do homem novo”. O mundo atual precisa de homens novos, de
criaturas renovadas, capazes de romper com o passado, de perceberem
claramente os malefícios provenientes desse condicionamento psicológico e
por esse percebimento libertarem-se. “Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará”.
À medida que nos transformamos, alimpa-se esse tesouro, e revela-se
em toda a sua plenitude. E dele tiramos o conteúdo inesgotável: o amor , a
benevolência, a bondade, a tolerância, as boas qualidades que em todos nós
estão em potencial e chamam-se, por isso, potencialidades. Desse tesouro
tiramos a coragem. De que coragem grande precisa o homem para ser ele
mesmo e não o eco ou a sombra dos outros. Viver corajosamente é encarar de
frente o próprio eu. Nunca deseperar-se com o que nele encontra, mas
examiná-lo criteriosamente, sem condenações nem racionalizações
apressadas.
Tiramos a cortesia, sentimento de bondade, de fundo interesse pelos
nossos semelhantes e que se manifesta em maneiras agradáveis, não por
deveres de etiqueta, mas pelo desenvolvimento de uma absoluta excelência
moral, É naturalmente cortês, afável, a pessoa, comunica-se facilmente com o
ascesorista, a garçonete, o lixeiro, tanto quanto o faz com os chamados
“importantes” do mundo.

Também o caráter tiramos desse tesouro. Que é o caráter? Aquilo que o


homem realmente é. Difere, portanto, da reputação, da respeitabilidade, ou
seja, daquilo que ele aparenta ser. Também uma disposição alegre e otimista,
também uma grande decisão, uma determinação constante em tudo o que
empreendemos e sobretudo na funda transformação moral que é a nossa
meta.
Desse tesouro tiramos a modéstia, e a humildade que não se traduz por
uma pobreza exterior (há ricos humildes e pobres orgulhosos), mas
precisamente pela ausência do orgulho, da soberba, da vaidade, da arrogância.
São palavras do Mestre Nazareno: “Aquele que se exalta, que a si mesmo se
engrandece, será humilhado; o que se humilha, será exaltado”.
Dele tiramos a paciência, virtude das virtudes quando eclosão autêntica
do nosso desenvolvimento mental. “Na vossa paciência possuireis as vossas
almas.” A paciência confere integridade. O homem impaciente, que se
desespera, que deblatera e grita, que se revolta e amaldiçoa, esse não tem
integridade, é “uma cidade dividida contra si mesma”. Nem é a esquizofrenia
senão uma quebra da individualidade. Possuir a própria alma é ser dono de si
mesmo; é ter uma grande serenidade mental; é manifestar-se
harmoniosamente em todos os instantes, em toda e qualquer circunstância; é
viver numa profundíssima paz interior, que propicia a compreensão de todos os
problemas.
Portanto, o amor é a essência das virtudes. No verdadeiro amor estão
incluídas todas as virtudes que necessitamos para um viver em sabedoria, paz,
tranqüilidade, respeito, honradez e dignidade. Desse tesouro inesgotável
tiramos, sobre todas as coisas, o amor, que às mais virtudes engloba; porque
dele todas derivam, e para ele todas convergem; “o amor que move o Sol e as
demais estrelas”; o amor, que é o próprio Deus. “O amor é paciente, é benigno.
O amor não inveja, não se vangloria, não se ensoberbece; Não se porta
inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não
suspeita mal; O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a
verdade” (1 Cor. 13).

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