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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Francine Alves Pinto

CASAIS E DINHEIRO:
Como os casais na fase de aquisição do ciclo vital da
família lidam com o dinheiro

TAUBATÉ - SP
2020
Francine Alves Pinto

CASAIS E DINHEIRO:
Como os casais na fase de aquisição do ciclo vital da
família lidam com o dinheiro

Trabalho de conclusão de curso


apresentado para obtenção do certificado
de bacharel pelo curso de Psicologia do
Departamento de Psicologia da
Universidade de Taubaté.
Área de concentração: Psicologia
Orientadora: Profa. Dra. Andreza Maria
Neves Manfredini

TAUBATÉ - SP
2020
Grupo Especial de Tratamento da Informação - GETI
Sistema Integrado de Bibliotecas - SIBi
Universidade de Taubaté - UNITAU

P659c Pinto, Francine Alves


Casais e dinheiro : como os casais na fase de aquisição do ciclo
vital da família lidam com o dinheiro / Francine Alves Pinto. -- 2020.
71 f.

Monografia (graduação) - Universidade de Taubaté,


Departamento de Psicologia, 2020.
Orientação: Profa. Dra. Andreza Maria Neves Manfredini,
Departamento de Psicologia.

1. Dinheiro. 2. Casais. 3. Psicologia econômica. I.


Universidade de Taubaté. Departamento de Psicologia. Curso de
Psicologia. II. Título.

CDD – 158.24

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Ana Beatriz Ramos – CRB-8/6318


FRANCINE ALVES PINTO

CASAIS E DINHEIRO:
COMO OS CASAIS NA FASE DE AQUISIÇÃO DO CICLO VITAL DA FAMÍLIA
LIDAM COM O DINHEIRO

Trabalho de conclusão de curso


apresentado para obtenção de certificado
de Graduação pelo Curso de Psicologia
do Departamento de Psicologia da
Universidade de Taubaté.

Data: _____________________________
Resultado: _________________________

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dra. Andreza Maria Neves Manfredini - Universidade de Taubaté


Assinatura: _______________________

Profa. Dra. Ana Cristina Araújo do Nascimento - Universidade de Taubaté


Assinatura: _______________________

Profa. Ma. Monique Marques da Costa Godoy - Universidade de Taubaté


Assinatura: _______________________
Dedico esse projeto aos meus familiares, aos meus colegas de classe, a
minha orientadora e Prof. Dra. Andreza Maria Neves Manfredini pela paciência na
orientação e incentivo para tornar esse trabalho possível, a professora e Psicanalista
Vera Rita de Mello Ferreira que foi minha inspiração no tema psicologia e dinheiro.
Obrigada a todos por tornarem possível essa grande realização.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por esse sonho realizado, aos meus pais por todo investimento e
paciência que tiveram todos esses anos, obrigada por vocês sempre me apoiarem
em todas as decisões. Agradeço também a minha orientadora Prof. Dra. Andreza
Maria Neves Manfredini por todo o incentivo, conhecimento e confiança para a
composição desta experiência acadêmica inesquecível, a todos os professores que
me acompanharam durante a graduação e em especial a Profa. Ma. Andreza
Cristina Both Koga Casagrande e a Profa. Dra. Ana Cristina Araújo do Nascimento,
que foram minhas fontes de inspiração durante esses cinco anos e me mostraram o
quanto a Psicologia pode contribuir para um mundo melhor quando bem empregada,
me orientando sempre da melhor maneira e confiando sempre no meu trabalho.
Muito obrigada a todos vocês por fazerem parte desta grande conquista.
“O dinheiro é uma felicidade humana abstrata: por isso aquele que já não é capaz de
apreciar a verdadeira felicidade humana, dedica-se completamente a ele.”

Arthur Schopenhauer
RESUMO

O dinheiro está e sempre esteve presente na história humana, vivemos em uma


sociedade consumista, sendo na família o início das primeiras relações, sejam elas
humanas ou de consumo. O objetivo desse estudo foi compreender como os casais
de classe média, com e sem filhos na fase de aquisição do ciclo vital da família, que
residem no Vale do Paraíba lidam com o dinheiro. Os objetivos específicos foram:
Identificar se os casais realizam planejamento financeiro e como é desenvolvido;
Identificar como se dá o diálogo do casal sobre dinheiro; Compreender como se dá o
uso do dinheiro no dia a dia do casal; Identificar e compreender as dificuldades do
casal frente ao uso do dinheiro; Identificar e compreender as influências do meio
social e da família de origem em relação ao dinheiro. Trata-se de um estudo de caso
com abordagem qualitativa, o instrumento utilizado foi à entrevista semiestruturada.
Para a composição da amostra foi utilizada a amostragem por conveniência e
análise de dados foi por meio da categorização. Foram entrevistados dez
participantes, sendo: cinco casais, com e sem filhos, de classe média e residentes
no Vale do Paraíba. O que se pode observar com os resultados obtidos foram que
na maioria dos casais só há diálogo e planejamento financeiro em momentos de
dificuldades financeiras. Referente ao planejamento financeiro, o que se pode
identificar é que ele existe apenas em curto prazo ou para situações de emergência,
seja para cobrir as despesas, gastos mensais. Entende-se que a preocupação maior
desses casais na fase de aquisição é na construção da vida a dois, na aquisição de
bens, e que o olhar para o planejamento financeiro futuro ainda está distante para
esses casais, visto que na fase de aquisição com casais de classe média, quase não
sobra dinheiro. Identificou-se também que os casais sofrem influências em relação
ao uso do dinheiro seja da família de origem ou do meio social que convivem. Pode-
se considerar que o dinheiro não é bom e nem mau, mas a forma como os casais
lidam com o dinheiro é que vai definir o seu papel na relação. Por isso faz-se
necessário que a educação financeira e o diálogo estejam presentes nas relações
conjugais e na vida das famílias.

Palavras-chave: Dinheiro. Casais. Psicologia econômica.


ABSTRACT

Money is and has always been present in human history, we live in a consumerist
society, with the family being the beginning of the first relationships, whether human
or consumer. The objective of this study was to understand how middle class
couples, with and without children in the acquisition phase of the family's life cycle,
who reside in Vale do Paraíba deal with money. The specific objectives were: To
identify whether couples carry out financial planning and how it is developed; Identify
how the couple talks about money; Understand how the money is used in the
couple's daily life; Identify and understand the couple's difficulties regarding the use
of money; Identify and understand the influences of the social environment and the
family of origin in relation to money. It is a case study with a qualitative approach, the
instrument used was the semi-structured interview. For data collection, convenience
sampling was used and data analysis was through categorization. Ten participants
were interviewed: five couples, with and without children, middle class and residents
in Vale do Paraíba. What can be observed with the results obtained was that in most
couples there is only dialogue and financial planning in times of financial difficulties.
Regarding financial planning, what can be identified is that it exists only in the short
term or for emergency situations, whether to cover expenses, monthly expenses. It is
understood that the biggest concern of these couples in the acquisition phase is in
the construction of life for two, in the acquisition of goods, and that the look at the
future financial planning is still distant for these couples, since in the acquisition
phase with couples middle class, there is almost no money left. It was also identified
that couples suffer influences in relation to the use of money, whether from the family
of origin or from the social environment they live with. It can be considered that
money is neither good nor bad, but the way couples deal with money is what will
define their role in the relationship. That is why it is necessary that financial education
and dialogue are present in conjugal relations and in the lives of families.

Keywords: Money; Couples; Economic psychology.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10
1.1 PROBLEMA..................................................................................................... 12
1.2 OBJETIVO........................................................................................................ 12
1.2.1 Objetivo Geral.............................................................................................. 12
1.2.2 Objetivos Específicos................................................................................. 12
1.3 RELEVÂNCIA.................................................................................................. 13
2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................. 14
2.1 A ORIGEM DO DINHEIRO NO BRASIL.......................................................... 14
2.2 A ORIGEM DA PSICOLOGIA ECONÔMICA NO BRASIL............................... 17
2.3 CICLO VITAL DA FAMÍLIA E A FASE DE AQUISIÇÃO.................................. 20
2.4 CASAIS NA FASE DE AQUISIÇÃO E DINHEIRO........................................... 23
2.5 O DINHEIRO E AS RELAÇÕES LÍQUIDAS.................................................... 29
3. MÉTODO ........................................................................................................... 33
3.1 DELINEAMENTO............................................................................................. 33
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA............................................................................. 34
3.3 TIPO DE AMOSTRA........................................................................................ 34
3.4 LOCAL............................................................................................................. 35
3.5 INSTRUMENTO............................................................................................... 35
3.6 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS................................................... 36
3.7 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS.................................................. 37
4 RESULTADOS.................................................................................................... 38
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA............................................................... 38
4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................................................. 39
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 57
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 59
ANEXO I - Comprovante de envio do projeto........................................................ 65
ANEXO II – Termo de consentimento livre esclarecido......................................... 66
ANEXO III – Termo de comp. do pesquisador responsável.................................. 68
APÊNDICE I – Roteiro de entrevista...................................................................... 69
10

1 INTRODUÇÃO

Com a evolução da espécie humana e com o desenvolvimento da inteligência


humana, o ser humano passou a sentir uma maior necessidade de conforto,
surgindo assim os primeiros interesses individuais e as primeiras trocas de produtos
da época (CASA DA MOEDA DO BRASIL, 1694/1984). Segundo Moreira (2000), a
essência do dinheiro existiu porque as pessoas acreditavam nele, cada vez que
acontecia esse movimento de troca, era dado a ele um novo valor.
O dinheiro como vemos, mantém-se presente há muitos anos na história
humana, como um objeto multidisciplinar que atravessa diversos fenômenos sociais
(MANFREDINI, 2019). Por esta razão, esta pesquisa está voltada a uma
investigação com os casais na fase de aquisição do ciclo vital da família e suas
relações com o dinheiro.
Segundo Serasa Experian (2019), houve um novo recorde histórico, o número
de brasileiros inadimplentes chegou a 63,2 milhões em abril de 2019. Isto significa
que 40,4% da população adulta do país estão inadimplentes. Comparando com o
mesmo mês de 2018 (61,2 milhões), são dois milhões a mais de pessoas
inadimplentes, além dos impactos gerados pela insuficiência da educação financeira
do brasileiro, principalmente em meio a pandemia do coronavírus 1, a inadimplência é
uma variável que segue as principais tendências do cenário econômico nacional.
Durante muitos anos, pode-se observar que, a relação indivíduo e dinheiro
era estudada somente por economistas, que visavam a obtenção de aumento de
capital. Já a Psicologia Econômica que é uma área de estudo recente, passou a
estudar o comportamento econômico dos indivíduos e sociedade (consumidores),
com intuito de compreender como a economia os influenciam e como os
consumidores influenciam a economia, considerando os pensamentos, sentimentos,
crenças, atitudes e expectativas (FERREIRA, 2008).
Segundo Cerveny e Berthoud (2002), as famílias brasileiras configuram-se em
uma diversidade de padrões econômicos, sociais e culturais, recebendo muitas
influências da vida pós-moderna. Para Madanes e Madanes (1997) embora o

1
Coronavírus são grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes de animais. COVID-
19 é uma doença causada pelo conronavírus, denominado SARS-Cov-2, que apresenta um espectro
clínico variando de infecções assintomáticas e quadros graves. No Brasil o número de mortes
causadas pelo COVID-19 até o mês de setembro de 2020 chegou a 144.680 mortos.
11

dinheiro seja um tabu universal na maior parte das relações sociais, eles acreditam
que o dinheiro é a força motriz da civilização.
Ao considerar o hábito de consumo das pessoas, é muito importante entender
como a educação financeira acontece nesse núcleo e onde esses buscam
informações para lidarem com o dinheiro.
Segundo Cerveny (1997), a caracterização do ciclo vital da família é
composta por quatro fases, família na fase de aquisição, família na fase
adolescente, família na fase madura e família na fase última, como mencionado
anteriormente, nesta pesquisa o foco está voltado, a primeira fase. A fase de
aquisição é a primeira fase, onde abrangem as famílias, heterossexuais,
homossexuais, monoparentais, ela é compreendida a partir da união do casal e se
estende com a vinda dos filhos pequenos, até atingir a adolescência. Vale ressaltar
que cada família formada, vivenciará de maneira diferente a Fase de Aquisição,
tendo em comum o objetivo de adquirir e construir juntos um futuro (BERTHOUD;
CEVERNY, 1997).
Segundo Manfredini (2019), para compreender os valores morais e éticos na
educação financeira das atuais famílias, é necessário entender o período pós-
moderno que essas estão inseridas. Este período tem causado muitos problemas
sociais, que desafiam as famílias na educação de filhos, nos relacionamentos
conjugais e, especificamente, no modo como as pessoas têm utilizado o dinheiro.
Manfredini (2019) questiona se o sentimento do amor tem se confundido com
o apreço ao dinheiro e se o que tem sido construído na sociedade consumista,
especificamente com casais, são relações influenciadas pelo dinheiro?
A atual era da modernidade líquida, tem tornado o mundo repleto de sinais
confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível, trazendo consigo
uma fragilidade dos laços humanos sendo assim fatal para nossa capacidade de
amar, seja esse amor direcionado ao próximo ou a nós mesmos, mantendo assim os
laços frouxos (BAUMAN, 2004).
É importante ressaltar que além da organização financeira, é preciso que haja
uma sintonia e cumplicidade entre o casal, sendo isto fundamental para uma vida
conjugal (BERTHOUD, 2002).
12

1.1 PROBLEMA

Considerando a escassez de educação financeira no país e a forma como as


pessoas lidam com o dinheiro, sobretudo os jovens casais, é possível identificar o
quanto a falta de planejamento financeiro pode abalar a estrutura de um casal?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Compreender como os casais de classe média, com e sem filhos na fase de


aquisição do ciclo vital da família, que residem no Vale do Paraíba, lidam com o
dinheiro.

1.2.2 Objetivo Específico

 Identificar se o casal realiza o planejamento financeiro, se sim como é


desenvolvido;
 Compreender como o casal conversa sobre dinheiro entre si;
 Compreender como o casal usa o dinheiro no seu cotidiano;
 Identificar e compreender as dificuldades do casal com o uso do dinheiro;
 Identificar e compreender a influência do meio social no uso do dinheiro do
casal;
 Compreender as influências das famílias de origem dos casais sobre o uso do
dinheiro;
13

1.3 RELEVÂNCIA

Considerando o mundo capitalista, onde as pessoas estão cada dia mais


reféns do dinheiro, tendo em vista à busca por manter em um padrão imposto
socialmente, e os relacionamentos que estão cada vez mais líquidos, esse estudo
visou focar sobre os efeitos que a falta do planejamento financeiro familiar pode
interferir na vida de um casal. O dinheiro como se vê, está e sempre esteve presente
na história humana, ele é tido como objeto multidisciplinar que atravessa diversos
fenômenos sociais, e é na família que se iniciam as primeiras relações de consumo.
A forma como os casais lidam com o dinheiro no início e durante a relação,
podem influenciar positivamente ou negativamente na construção e na manutenção
da conjugalidade (MANFREDINI, 2019). Essa pesquisa teve como pressuposto
identificar como são construídas as relações conjugais quando o dinheiro faz parte
dessa relação.
Segundo á Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
- CNC (2020), o Brasil atingiu um novo recorde de endividamento em 2020,
alcançando um percentual de 66,6% de pessoas endividadas, isso mostra a
importância do acesso a Educação Financeira, já que a falta da mesma pode
influenciar as famílias de forma negativa, chegando até o rompimento das relações.
Este trabalho teve como relevância social a ampliação sobre o tema da
Educação Financeira com casais, afim de que possa contribuir para aqueles que
estudam a temática da família/casais e dinheiro, como também para aqueles que
estudam profissionalmente nesse campo. Em especial para a Psicologia, fazendo
uma conexão não só entre a Psicologia Clínica e a Psicologia Econômica, mas
também contribuindo para a promoção de saúde e ações de educação financeira em
diferentes contextos. Visto que a psicologia econômica é uma área de estudo
recente no Brasil, esse trabalho também tem como intuito em ampliar o tema a fim
de que possa contribuir para que mais pessoas se interessem e possam ser
motivadas a realizar trabalhos nessa área.
14

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A ORIGEM DO DINHEIRO NO BRASIL

A história da civilização nos mostrou como o homem primitivo foi evoluindo ao


longo dos séculos para que pudesse sobreviver. Com o desenvolvimento humano o
indivíduo passou a sentir uma maior necessidade de conforto e buscar por bens
materiais para que pudessem suprir essas necessidades. A aquisição de bens se
deu no início pelas trocas de produtos e com o passar do tempo foram surgindo às
primeiras moedas (CASA DA MOEDA DO BRASIL, 1694/1984). Segundo Moreira
(2000), a essência do dinheiro existiu porque as pessoas acreditavam nele, cada vez
que acontecia esse movimento de troca, era dado a ele um novo valor.
As primeiras moedas como conhecemos hoje, surgiram na Lídia (atual
Turquia), no século VII A.C., onde os signos monetários eram valorizados pelas
nobrezas, e o valor dado a eles eram referentes aos metais utilizados para a
cunhagem, como por exemplo, o ouro e a prata. Em consequência disso
apareceram as primeiras necessidades de guardar esses metais, pois guardar seria
mais seguro. Em razão dessa necessidade, foram criados os primeiros bancos,
formados por negociantes de metais preciosos que possuíam cofres. Já os primeiros
bancos reconhecidos oficialmente foram na Suécia em 1956, na Inglaterra em 1964,
na França em 1700 e no Brasil em 1808 (CASA DA MOEDA DO BRASIL,
1694/1984).
Segundo o Banco Central do Brasil (2004), o pau-brasil foi a principal
mercadoria de troca do país, entre os Brasileiros e Europeus. Em seguida vieram
outros produtos, como o algodão, açúcar, fumo entre outros, estes produtos foram
utilizados por muito tempo, mesmo após o início do uso das moedas de metais. Com
a vinda dos Europeus para o país em 1580, começaram a circular as primeiras
moedas de pratas espanholas, que foram trazidas pelos Portugueses e piratas
invasores.
Em 1694, foi criado por Dom Pedro II, rei de Portugal, a primeira casa da
moeda no Brasil, localizada na Bahia, onde todas as moedas que estavam em
circulação, deveriam ser enviadas a este local para que pudessem ser
15

transformadas em moedas provinciais, conhecidas como patacas, que circularam no


país por 139 anos. Em 1834, surgiu o réis - cruzado, que veio para substituir as
patacas que eram usadas no período colonial (BANCO CENTRAL DO BRASIL
2004).
De acordo com o Banco Central do Brasil (2004), devido o aumento nos
custos dos metais preciosos utilizados na cunhagem da moeda, e o crescimento
populacional, surgiram às primeiras cédulas de papel no século XIX. Com esse
aumento na circulação do papel moeda, foi necessário que o governo autorizasse
bancos particulares a emitirem esse papel junto ao Tesouro Nacional, pois assim
conseguiriam atender todo território brasileiro.
Com o grande aumento na emissão de papel moeda, ocorreu à primeira crise
financeira no país, e a partir dessa crise o Tesouro Nacional voltou a ser o único
emissor. De 1942 até os dias de hoje foram utilizadas vários tipos de cédulas no
país, sendo elas: Cruzeiro - 1942 a 1967, Cruzeiro Novo - 19667 a 1970, Cruzeiro -
1970 a 1986, Cruzado - 1986 a 1989, Cruzado Novo – 1989 a 1990, Cruzeiro – 1990
a 1993, Cruzeiro Real – 1993 a 1994 e de 1994 até os dias de hoje permanece o
Real.
Para Weatherford (2006), assim como o mundo está em uma constante
evolução, o dinheiro também está. Hoje se vive a era do dinheiro eletrônico e
economia virtual, essa evolução causou grandes mudanças radicais na sociedade,
assim como as revoluções monetárias passadas causaram. A forma como
recebemos e empregamos o dinheiro também se modificou, existindo nos dias de
hoje uma nova versão de civilização, o dinheiro unificou a economia mundial,
definindo-se as relações entre as pessoas, colocando em sua volta, instituições
como, família, igreja e política.
A transformação do dinheiro em espécie para o dinheiro eletrônico se deu,
porque muitas empresas buscavam outros meios de obterem mais lucros, tornando
assim o uso do dinheiro uma forma mais fácil e segura para consumidores e
comerciantes, onde os detentores do dinheiro (bancos) precisavam encorajar as
pessoas a utilizarem os meios eletrônicos, como cartão de crédito, transferências
bancárias, moedas digitais, caixas eletrônicos, aplicativos de banco, entre outros
meios, estimulando o aumento do consumo (WEATHERFORD, 2006).
Conforme as estatísticas publicadas pelo Banco Central do Brasil (BCB),
entre 2005 e 2017, o número de transações de débito direto e transferências de
16

crédito cresceram de 5,6 bilhões para 15,9 bilhões. Enquanto isso, o número de
transações com cartões de débito e crédito que estavam em torno de 2,6 bilhões em
2005 passaram para cerca de 14,3 bilhões em 2017.
Segundo Serasa Experian (2019), um novo recorde histórico, o número de
brasileiros inadimplentes chegou a 63,2 milhões em abril de 2019. Isto significa que
40,4% da população adulta do país estão inadimplentes. Comparando com mesmo
mês de 2018 (61,2 milhões), são dois milhões a mais de pessoas inadimplentes,
além dos impactos gerados pela insuficiência da educação financeira do brasileiro, a
inadimplência é uma variável que segue as principais tendências do cenário
econômico nacional. Como podemos ver, o dinheiro está e sempre esteve presente
na história humana, ele é tido como um objeto multidisciplinar que atravessa
diversos fenômenos sociais, afetando a vida das pessoas de diversas maneiras, seja
positivo ou negativamente.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo - CNC (2020), o número de famílias endividadas que utilizam cheque pré-
datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal,
prestação de carro e seguro atingiu um novo recorde em abril de 2020, alcançando
66,6% – o maior percentual desde o início da realização da Pesquisa de
Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em janeiro de 2010.
Esta foi a primeira Peic realizada após o início da pandemia de coronavírus
no Brasil, a coleta dos dados ocorreu entre 20 de março e 5 de abril de 2020. Visto
que o número de famílias e casais endividados crescerá no país, fica claro a
necessidade de que os brasileiros tenham acesso a Educação Financeira, pois a
falta de planejamento financeiro causa danos as famílias podendo levar até o
rompimento das mesmas, ou seja, a relação de cuidado da família com o dinheiro
deve se dar o tempo todo e não só em momento de dificuldades.
O que se pode ver é que a falta de dinheiro pode acarretar problemas para as
pessoa, pois junto com o dinheiro vem também alguns significados, sendo eles
pessoais, culturais e familiares, atribuindo as esses significados como, status e
respeito, poder, liberdade e controle e conquista e reconhecimento (MITCHELL;
MICKEL, 1999 apud MEIRELLES; SOUZA, 2015).
Segundo Manfredini (2019), o poupar pode ser considerado como uma forma
saudável de usar o dinheiro. Para Nyhus (2017), o número de poupadores aumentou
depois do período pós guerra, para o autor o hábito de poupar tem implicações
17

valiosas para o individuo e para família, pois a falta de uma reserva ou uma
poupança no futuro pode causar prejuízos na qualidade de vida das pessoas, e pode
ser muito pior se estas dependerem de empréstimo com juros elevados.
De acordo com Nyhus (2017), pessoas que acreditem que poupar é
importante, tendem a economizar mais do que aquelas que acham que poupar não é
importante.
Quando Nyhus (2017), afirma que no momento em que houver um melhor
entendimento sobre educação financeira o número de poupadores irá crescer, e ao
passo que mais crianças e jovens aprenderem sobre educação financeira,
consequentemente as famílias passarão a utilizar o dinheiro de forma mais saudável
evitando o endividamento.
Para entender melhor a relação indivíduo e dinheiro, a próxima sessão vai
falar sobre a Psicologia Econômica, que é uma área de estudo recente, que estuda
o comportamento econômico dos indivíduos e sociedade.

2.2 A ORIGEM DA PSICOLOGIA ECONÔMICA NO BRASIL

A psicologia é uma ciência que estuda o comportamento humano e seus


processos mentais construídos ao longo da vida, com o intuito de promover posturas
de prevenção e relações mais saudáveis. A psicologia econômica, que é uma área
da Psicologia, trabalha com investigações científicas sobre o comportamento
econômico (MANFREDINI, 2019).
Durante muitos anos pode-se observar que a relação indivíduo e dinheiro era
estudada somente por economistas, que visavam o capital. Já a psicologia
econômica que é uma área de estudo recente, passou a estudar o comportamento
econômico dos indivíduos e sociedade (consumidores), com intuito de compreender
como a economia os influenciam e como os consumidores influenciam a economia,
considerando os pensamentos, sentimentos, crenças, atitudes e expectativas
(FERREIRA, 2008).
Segundo Ferreira (2007), apesar de a expressão “psicologia econômica”
pareça ter sido mencionada pela primeira vez em 1881, por Gabriel Tarde, essa
18

disciplina veio a se consolidar, efetivamente e em diversas esferas, a partir da


década de 1970.
A psicologia econômica está entre a psicologia e a economia é uma
ramificação da psicologia social com influência da psicologia comportamental,
cognitiva e psicologia organizacional, ela estuda o comportamento econômico de
indivíduos, grupos, população, com foco em suas tomadas de decisões e os
processos cognitivos e emocionais que influenciam (FERREIRA, 2014).

Psicologia Econômica como uma disciplina estuda, assim, os mecanismos e


processos psicológicos subjacentes ao consumo e outros comportamentos
econômicos. Ela lida com preferências, escolhas, decisões e fatores
relativos à satisfação de necessidades. Além disso, estuda o impacto de
fenômenos econômicos externos sobre o comportamento e o bem-estar
humano. Estes estudos podem relacionar-se com diferentes níveis de
agregação: do domicílio e do comportamento individual ao nível macro de
nações inteiras. (MacFayden e MacFadyen, 1990:2). Economia
comportamental dedica-se ao estudo do comportamento humano em
assuntos econômicos. Ela procura modelar o “homem real”, ao invés de
simplesmente o “homem econômico”, considerando os mecanismos
comportamentais, especialmente os sociopsicológicos, subjacentes ao
comportamento econômico. Seu objetivo é enriquecer a economia analítica,
oferecendo aos modelos econômicos um ponto de partida mais realista e,
assim, aumentar sua relevância. Tal abordagem é necessariamente
interdisciplinar, tomando emprestado insights das ciências comportamentais
e sociais, e aplicando-os à economia. (MACFADYEN; MACFADYEN 1990,
p.2-3).

No Brasil ainda há muito que ser estudado sobre psicologia econômica, o que
dificulta o encontro de materiais e publicações a respeito dessa área, já em outros
países como EUA, Nova Zelândia, Austrália, os estudos sobre está área estão bem
avançados (MANFREDINI, 2019).
Segundo Ferreira (2006), foi no Rio de Janeiro em 1935, na Escola de
Economia de Direito, no curso de Psicologia Social, que o professor Artur Ramos,
ministrou o curso pela primeira vez de Psicologia Econômica. A psicologia
econômica estava entre a psicologia e a sociologia, que estudava o comportamento
social e psicológico do indivíduo.
Em 1967, ocorreu à primeira tradução para português de um texto em francês
La Psychologie Economique sobre o tema, e também nos anos 60, na UNESP de
Assis interior de São Paulo, foi incluída a primeira disciplina de Política Econômica
no curso de psicologia na universidade (MANFREDINI, 2007).
Entre 1985 e 1994, devido à alta da inflação, começaram as primeiras
demonstrações de interesses pelo estudo da psicologia e economia. Reunindo no
19

Rio de Janeiro, na Universidade Federal Fluminense UFF, grupos de diferentes


áreas, para discutir sobre o fenômeno ocorrido (MANFREDINI, 2007).
Após alguns anos, ocorreu a defesa de Doutorado por Lima, no tema
“Psicanálise e Dinheiro”. E em 1999, a psicanalista Vera Rita Ferreira de Mello,
defendeu sua dissertação de mestrado em São Paulo no Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo – IPUSP, com o tema: “O Componente Emocional –
funcionamento mental e ilusão à luz das transformações econômicas no Brasil
desde 1985” (MANFREDINI, 2007).
Nos anos 2000, na Universidade Federal do Pará, em Belém, a professora
Alice Moreira, coordenou uma linha de pesquisa relacionada a esse tema, gerando
dissertações. Em 2002, o Psicólogo Daniel Kahneman e Amos Tversky, ganharam o
prêmio Nobel de Economia dando mais visibilidade ao tema (MANFREDINI, 2007).
Em 2006, teve um crescente aumento na produção desse tema, entre
psicólogos, administradores de empresa e economistas. Na PUC-SP no COGEAE,
a Psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira passa a coordenar o curso de extensão
sobre o tema “Psicanálise e Psicologia Econômica”. Em 2007, a mesma defendeu
sua tese de doutorado, com o tema: “Psicologia Econômica: origens, modelos,
propostas” (FERREIRA, 2006).
Em 2007, a psicóloga Andreza Maria Neves Manfredini, apresentou sua
dissertação de mestrado com o tema Pai e Filhos: um estudo de educação
financeira em famílias na fase de aquisição, pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo - PUC/SP (MANFREDINI, 2007).
Em 2012, a psicóloga Valéria Maria Meirelles, defendeu sua tese de
doutorado, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, com o
tema: Atitudes, crenças e comportamentos de homens e mulheres em relação ao
dinheiro na vida adulta (MEIRELLES, 2012).
Em 2019, Andreza Maria Neves Manfredini, defendeu sua tese de doutorado,
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, com o tema “As
Relações com o dinheiro: Construindo, Destruindo, Re e Co Construindo caminhos
possíveis com o dinheiro na família” (MANFREDINI, 2019).
Segundo Ferreira (2006), pode-se observar que o número de pessoas
interessadas no tema psicologia econômica e comportamento econômico vêm
crescendo, devido ao fácil acesso pela internet dos cursos relacionados a essa área,
e a maior visibilidade sobre esse tema após o prêmio Nobel, porém ainda com certa
20

lentidão, diferentes de outros países mais avançados. A autora afirma, que quando a
disciplina de psicologia econômica fizer parte da grade das faculdades de Psicologia
do país, ai sim ela terá se solidificado.
A família para psicologia tem uma grande importância, pois é nela que se
iniciam as primeiras relações psicossociais, e é nela que iniciam as primeiras
relações com o dinheiro, e na próxima subseção será abordado o ciclo vital da
família e a fase de aquisição, que é o foco desse estudo.

2.3 CICLO VITAL DA FAMÍLIA E A FASE DE AQUISIÇÃO

O conceito de família sofreu muitas alterações ao longo do tempo, a definição


de família nos dias de hoje é bastante subjetiva, pois depende de quem a define,
levando em consideração o contexto social, político e familiar em que está inserido
(SIMONTATO; OLIVEIRA, 2003). Para a psicologia a família tem uma grande
influência no desenvolvimento do indivíduo, pois é nela que se vivenciam as
primeiras relações psicossociais, é o primeiro ambiente no qual se desenvolve a
personalidade, ela se difere de outros grupos sociais, neste grupo existem laços de
afeição e lealdade, não sendo possível o desprendimento (MACEDO, 1994).
Segundo Carter e McGoldrick (1995), o ciclo vital da família norte-americana é
dividido em estágios, sendo eles: o primeiro estágio se inicia a partir dos vinte anos
de idade, que é quando se da o início da independência, e os indivíduos deixam de
morar com sua família de origem, dando início as primeiras relações, podendo viver
com parceiros, porem sem muito compromisso, nesse momento começa a
diferenciação entre o indivíduo e sua família, passando a ter mais responsabilidade
emocional e financeira.
O segundo estágio é quando acontece o casamento, a união da nova família
e as autoras afirmam que este momento é um dos mais difíceis e complexos, pois
começam as novas regras e os dois precisam se adaptar, podendo ocorrer brigas e
desentendimentos. O terceiro estágio é quando esse casal se tornam pais, a vinda
de um novo integrante na família, onde é preciso realinhar os papeis. No quarto
estágio, os filhos já estão adolescentes, e a família precisa se readaptar, rever
conceitos e tornar-se mais flexível, permitindo a independência e desenvolvimento
21

dos filhos. No quinto e estágio é quando os pais precisam deixar que seus filhos
construam suas famílias e sigam em frente, esse estágio vai até a aposentadoria. Já
o último estágio se da com a vinda da aposentaria, a viuvez, com as doenças que
requerem cuidados da família.
Baseado na teoria sistêmica e na realidade da família paulista, segundo
Ceverny e Berthoud (1997), a família é um sistema subdividido em fases, em que as
famílias vivenciam desde sua constituição até a morte dos indivíduos que a
constituiu, e segue alguns critérios como: idades dos pais, dos filhos, tempo de
união do casal entre outros. Segundo as autoras a caracterização do ciclo vital da
família é composta por quatro fases, sendo elas: família na fase de aquisição, família
na fase adolescente, família na fase madura e família na fase última. O ciclo vital da
família para Cerveny e Berthoud é diferente do modelo norte-americano proposto
por McGoldrick.
Nesta pesquisa será considerado o estudo do ciclo vital da família proposto
por Cerveny (2002) e a fase abordada nessa pesquisa é a fase de aquisição. De
acordo com Cerveny e Berthoud (1997), o nome de aquisição é dado à primeira fase
porque todos os integrantes da família estão passando por esse processo, inclusive
os filhos pequenos. Essa fase abrange as famílias, heterossexuais, homossexuais,
monoparentais, recasadas, sendo compreendida a partir da união do casal e se
estendendo com a vinda dos filhos pequenos até atingir a adolescência, ou para os
casais sem filhos até que os pais do casal façam a transição para a próxima fase do
ciclo vital, ela acontece em três processos, o primeiro é a união do casal, o segundo
a construção da vida a dois e o terceiro a vivência da parentalidade.
Segundo Cerveny e Berthoud (2010), o processo de união da fase de
aquisição se dá na constituição de uma nova família, podendo durar dias, meses ou
anos, o que os casais vivenciam nesse momento é o sentimento de atração e paixão
que faz com que sintam vontade de se unir, a fase inicial da união pode acontecer
de diferentes formas, desde o ficar até o namoro sério.
Passado por essa fase inicial, o casal se prepara para vivenciar a verdadeira
união, essa fase inicial da união compreende algumas subcategorias: Acontecendo
a união - quando o casal começa a pensar no casamento; Consolidando a união: o
casal começa a fazer planos para o casamento; Despedindo-se da família de
origem: esse processo pode levar meses, pois o casal precisa se despedir da família
de origem e se prepararem par uma vida a dois; Estar preparado pra vivenciar essa
22

união: cada um faz uma avaliação sobre si e sobre o que querem para o futuro a
dois; Mantendo a independência: esses momentos são vividos pelo casal um
processo de ambivalência, que é a despedida da vida de solteiro, e a preparação e o
planejamento para o casamento; Realizando um sonho: o casamento a união do
casal perante a sociedade e a família. Esse processo de união pode ser vivenciado
de uma maneira mais fácil, devido à maturidade do casal ou o contrário, dificultado
pelo excesso de autonomia de cada um.
O segundo processo da fase de aquisição do ciclo vital da família é da
construção da vida a dois, adaptação ao novo, que é um processo emocional
vivenciado pelo casal nos primeiros meses de união, esse processo compreende
algumas subcategorias: Vivenciando um tempo de adaptação - esse processo é
vivido nos primeiros meses que assumem a vida a dois, e existe muito sentimento de
ambivalência nesse momento; Iniciando a família - é o processo central dessa fase,
onde inclui negociar a administração financeira do casal, dividir o espaço físico e
emocional, elaboração de um novo padrão de relação entre o casal, eles se abrem
para a relação, constroem cumplicidades, vivenciam dificuldades, dividem tarefas e
constroem novos papeis; Relacionando-se com as famílias de origem - o casal
estabelece um padrão de relação com a família de origem, estabelecem fronteiras,
reproduzem papeis já vivenciados e avaliam os valores da família; Relacionando-se
socialmente - o casal estabelece padrões de relacionamentos com amigos e
conhecidos, formando uma rede ou mantendo-se isolados; E por último vivendo sem
filhos - essa fase pode durar anos, muitos casais podem postergar essa fase, pois
estão construindo suas carreiras profissionais, adquirindo bens como casas, carros,
estão vivenciando a liberdade e independência do casal e financeira, nesse
momento é plantando na cabeça do casal a ideia de serem pais, podendo o casal se
tornar bastante resistente com a chegada do primeiro filho ou não (CERVENY;
BERTHOUD 2010).
Para Cerveny e Berthoud (2010), o terceiro processo da Fase de Aquisição
que é a vivência da parentalidade é tido como o ápice de intensidade dessa fase,
gerando muito medo, tensões e demandas, pois ele se dá com a chegada do bebê,
ele é subdivido em categorias: Vinda do filho - esse filho pode ser planejado ou não;
Descobrindo novos sentimentos - o casal vivencia diversos sentimentos nesse
momento, como medo, insegurança, alegria, emoções controversas até o
nascimento do bebê, ora sentimento de proximidade um do outro ora de
23

distanciamento; Vivenciando dificuldades pessoais - sentimentos de ambivalência


provocados pela gestação e nascimento do filho; Sentindo as mudanças -
considerado o fenômeno emocional mais intenso vivenciado pelo casal neste
momento, a vida do casal é transformada com a chegada do bebê, e como tudo isso
será elaborado depende de como as outras fases foram vivenciadas; Sentindo
ciúmes do filho - nesse momento pode acorrer brigas no casal, pois se distanciam, e
as atenções são dividas. Vivendo com filhos pequenos - o casal precisa se
reorganizar, se adaptar com a fase de desenvolvimento do bebê e isso se torna
bastante desafiador para eles, e nesse momento o casal passa a assumir outros
papeis no sistema familiar.
Vale ressaltar que cada família formada, vivenciará de maneira diferente a
fase de aquisição, tendo em comum o objetivo de adquirir e construir juntos um
futuro (CERVENY; BERTHOUD 2010).
Segundo Macedo (1994), quando pensamos na família como um sistema,
qualquer mudança que ocorra em um dos membros, o sistema também terá que se
modificar, não importa de onde venha o impulso de modificação, e a fase de
aquisição faz parte desse sistema, é uma fase de muitas mudanças e
transformações. O casal com ou sem filhos precisa caminhar junto e enfrentar as
mudanças unidos, pois se um deles não acompanhar, essa família pode se abalar
estruturalmente.
Como mencionado anteriormente, o segundo processo da fase de aquisição é
o processo central da relação, o casal se torna mais próximo, e isso inclui negociar a
administração financeira, é nesse momento que começam a discutir as relações com
o dinheiro, podendo ser vivenciado de maneira saudável ou não. Na próxima sub-
seção será aprofundado como os casais se relacionam com o dinheiro na fase de
aquisição.

2.4 CASAIS NA FASE DE AQUISIÇÃO E DINHEIRO

A relação do casal com o dinheiro começa mesmo antes do casamento, ela


se inicia no namoro, por exemplo, quando o casal sai para jantar, ir ao cinema, na
24

compra de presentes, na compra das alianças, na festa de noivado, casamento e lua


de mel, ou seja, em todas as ações que envolvam custos (GONÇALVES, 2016).
Segundo Guimarães (2007), vivemos em uma sociedade capitalista, e viver a
dois é saber viver com todas as influências midiáticas tentadoras de produtos e
serviços que são oferecidos nos dias hoje, onde o consumo tem como função
principal satisfazer mais os desejos do que as necessidades. Uma das coisas que os
casais (sejam eles recém-casados ou não) precisam saber lidar é com o uso do
dinheiro e com as facilidades de crédito, que levam a um maior consumo. Essa
tarefa pode ser realizada de uma forma saudável com equilíbrio financeiro ou com
desequilíbrio financeiro, na forma de consumo desmedido.
Um estudo com base em uma pesquisa feita na Inglaterra por Pahl (1989) in
Burgoyne (1990), e Pahl (2005), definiu-se dois estilos como forma de administrar o
dinheiro pelos casais, sendo eles o individual, e/ou coletivamente usado. A
administração independente do dinheiro acontece de maneira individualizada, onde
cada um administra seu dinheiro e suas responsabilidades, as contas são
individuais, e os cônjuges não tem acesso à conta do outro parceiro, não precisam
de permissão para gastos e não se sentem na obrigação de dar satisfação ao outro
parceiro. Já o sistema parcialmente de administração do dinheiro, se dá quando
cada cônjuge paga sua conta de forma separada, porém eles mantem uma conta
conjunta onde ambos fazem depósitos iguais ou proporcionais para cobrir despesas
como compra de casa, carro, e os dois têm acesso.
De acordo com Cerbasi (2004), o casal pode fazer uso em conjuntos do
dinheiro, para isso é preciso construir um plano financeiro em conjunto, com metas e
objetivos que comprometam financeiramente ambos.
Para Manfredini (2019), o modo como esses casais lidam com o dinheiro no
início da relação, podem influenciar na construção e na manutenção da
conjugalidade. Segundo Guimarães (2007), o dinheiro tem uma forte ligação na
intimidade do casal, podendo essa relação ser de poder, controle e até questões de
sexualidade.
A forma como cada casal lida com o dinheiro tem fortes influências das
famílias de origem, pois as primeiras relações com o dinheiro se dá na infância e
perdura pela vida toda, ou seja, as experiências vivenciadas com o dinheiro e as
regras aprendidas sobre ele vão ser carregadas para a vida adulta e
consequentemente para a vida a dois, podendo ver nos casamentos repetições dos
25

modelos familiares em relação ao dinheiro (MANFREDINI, 2019). Meirelles (2017)


corrobora com Manfredini, ao afirmar que algumas famílias transmitem valores e
crenças por meio do comportamento e outras são transmitidas diretamente pela
educação financeira.
Segundo Manfredini e Meirelles (2020), olhar para a família é entender que
muitos comportamentos e atitudes são carregados de influências vindas de seus
ancestrais. A intergeracionalidade mostra o indivíduo como parte de um sistema,
que afeta e é afetado por ele.
Para Poletto, Manfredini e Grandesso (2015), mesmo quando os pais não
falam abertamente com os filhos sobre educação financeira, eles acabam ensinando
mesmo que seja por exemplos.
Manfredini e Ceverny (2012) afirmam que, quando o modelo causa algum
desconforto, o indivíduo que vivenciou aquilo tenta evitar sua repetição, partindo
para o antimodelo. De acordo com Ceverny (2011a), ela aponta o antimodelo
também como modelo, pois aquilo que a pessoa vivenciou de forma negativa ela
passa a agir de maneira contrária e passa a repetir pelo oposto, isso serve também
para a relação com o dinheiro.
Segundo Grandesso (2006), cada pessoa se desenvolve com base em suas
experiências, ou seja, a forma que ela significa e compreende aquilo que foi
aprendido na família. A relação com o dinheiro também é construída da mesma
maneira, baseado em nas experiências que se tem com ele.
Para Ferreira (2008), socialmente foram denominadas funções específicas
para homens e mulheres em relação ao dinheiro e em relação à sociedade. Ao
homem foi dado o direito de trabalhar e, este tinha como função e responsabilidade
prover as necessidades da família e, a mulher foi dada às funções domésticas,
cuidando da casa, dos filhos e do cônjuge.
Com as mudanças sociais e culturais que ocorreram e ainda ocorre, a forma
como as mulheres e os homens lidam com o dinheiro também mudaram, por
exemplo, hoje a renda familiar em alguns casais é a soma do trabalho do homem e
também do trabalho da mulher, que cada vez mais ocupa lugar no mercado de
trabalho aponta Guimarães (2007).
Segundo Ceverny e Bethoud (2010), é na fase de aquisição que a relação do
casal com o dinheiro começa a se intensificar, quando eles começam construir a
vida a dois. Nesse momento, os casais na fase de aquisição tendem-se a adquirir
26

bens e ter maiores despesas, como aquisição de carros, casa, fazem viagens,
cursos profissionalizantes, despesa com o nascimento do primeiro filho, escola,
alimentação, nessa fase, o dinheiro torna-se um instrumento importante para
conquista das metas e desenvolvimento material daquele sistema. As autoras
apontam que o momento de planejar a vida dois no sentido material é um grande
desafio ao novo casal, muitas vezes ficando com a mulher a responsabilidade por
administrar os gastos da casa, mesmo essa não sendo a provedora.
Segundo Manfredini (2019), na fase de aquisição o jovem casal vê o dinheiro
como parte da construção da família e como reconhecimento econômico, com base
na classe social a qual pertence e a profissão que seguem nesse momento. Para a
autora, o dinheiro movimenta as relações familiares, seja no diálogo entre os adultos
e educando os filhos, seja vivenciando as dificuldades, as limitações, o tabu, ou
estabelecendo uma melhor forma de se relacionar com o dinheiro.
De acordo com Guimarães (2007), com todas essas influencias que
estimulam o consumo, o jovem casal deveria fazer como tarefa a articulação entre
fatores externos sociais e culturais e manter certo equilíbrio do fluxo financeiro e
relacional, pois nem sempre isso é uma tarefa fácil, principalmente quando o casal
se vê no meio de ofertas de produtos e serviços tentadoras, facilidades de crédito e
de pagamentos, que conduzem ao casal a ideologia de felicidade, onde analisa e
observa o outro a partir daquilo que se compra e se mostra.
Para Cerbasi (2004), a relação que o casal tem com o dinheiro deve ser algo
planejado para longo prazo, para que o casal chegue ao futuro sem dificuldades
financeiras, porém isso se dá através de um compromisso financeiro, que deve ser
levado a sério, deve ser bem planejado, deve criar metas e haver comprometimento
de todos os envolvidos. Frankel (2006) aponta que é fundamental que entre o casal
haja conversa sobre como o dinheiro será gasto, investido, sobre dívidas, divisão de
contas, e essa conversa deve ocorrer antes de partirem para uma vida a dois, e
durante a relação.
Segundo Cardeal (2020), o ato de decidir é comum em todos os indivíduos e
isso faz parte da rotina das pessoas. Para a autora em toda ação houve uma
tomada de decisão, mesmo que seja a opção de não fazer nada, e essa decisão
impacta a vida do casal a curto, médio ou em longo prazo.
Já Madanes e Madanes (1997), aponta que poucos casais fazem
planejamento de como gastar o dinheiro, e muitas vezes, esses fazem uso do
27

dinheiro baseado no ciclo social do casal e com isso caem em armadilhas


econômicas, pois o uso do dinheiro foi aplicado de maneira incorreta, não
condizendo com a necessidade do casal e com suas possibilidades financeiras.
Manfredini (2019), corrobora com a ideia de Madanes e Madanes de que os casais
sofrem fortes influências do ciclo social e da família de origem quando se trata do
uso de dinheiro, podendo assim sofrer influências positivas ou negativas.
Kirchler (1995) se pautou em princípios para descrever um modelo de
interação do casal em relação ao dinheiro, sendo esses princípios o amor, câmbio,
crédito e o egoísmo.

1. Quanto mais interligados estiverem os sentimentos, pensamento e ações


dos dois parceiros; 2. Mais provável que os resultados da decisão sejam
otimizados para o bem mútuo, em vez de ser uma mera proposição
custo/benefício; 3. Mais recursos diversos os parceiros oferecerem um ao
outro; 4. Mais provável que os parceiros irão sentirem-se responsáveis por
satisfazerem as necessidades de cada um; 5. O casal menos (harmônico)
vai considerar e fazer exigências sobre o outro. Quanto mais fraco o laço
emocional entre os cônjuges e menos satisfação no relacionamento, mais a
mutação do princípio do amor em um ‘princípio de crédito’. Os parceiros
podem ainda esforçarem-se para fazerem favores uns aos outros e podem
mostrar consideração para com o outro, no entanto, eles sempre esperam
por uma resposta a seus esforços e favores, concedendo ao outro parceiro
um ‘crédito’ a longo prazo (KIRCHLER, 1995, p.396).

O fato de o dinheiro ocupar cada vez mais diversos significados nas relações
seja no ciclo vital individual ou no da família, faz se necessário que haja um bom
planejamento financeiro para que essa relação seja saudável, e para tal, é preciso
que o casal tenha uma educação financeira.
Um ponto muito importante no relacionamento, como já mencionado é o fator
econômico, pois este fator pode estar ligado a dificuldades dos casais e com isso
levar às futuras separações, quando a relação com o dinheiro caminha na
contramão dos sentimentos (GUIMARÃES, 2007). A educação financeira engloba a
administração do dinheiro em diversos aspectos e atitudes, sendo essas o planejar
dos gastos mensais e futuros, poupar, investir, fazer orçamento, e preparar-se para
velhice (FERREIRA, 2015).
Para Manfredini (2019), aprender a lidar com o dinheiro e ter hábitos
financeiros envolvem questões de ordem psicológica, que influenciam os
comportamentos econômicos e financeiros do indivíduo e do casal. Segundo
Ferreira (2015), programas de educação financeira tem importância para
compreender como funcionam os processos de tomada de decisão das pessoas, de
28

forma a buscar diminuir a distância entre intenção e ação, sendo esta uma tarefa da
Psicologia Econômica e de disciplinas afins.
Lidar com dinheiro não é uma tarefa fácil, visto que a educação financeira
deveria ser ensinada na infância, como não é na maioria das famílias, a forma de
lidar com dinheiro passa a ser uma reprodução da forma de consumir dos pais. O
planejamento financeiro não é algo habitual no Brasil, o que se vê é o incentivo ao
consumo, e não o incentivo ao poupar, planejar e controlar os gastos (MANFREDINI,
20119).
Algumas instituições tiveram a iniciativa de trabalhar o tema educação
financeira, como por exemplo, o Banco Central do Brasil – Bacen, em 2003 iniciou
um Programa de Educação Financeira (PEF-BC), que teve como objetivo aproximar
e ampliar a participação e envolvimento das pessoas nas questões que envolvam
temas econômicos, como forma de contribuir para o fortalecimento da cidadania
(BACEN, 2013).
A Febraban é atualmente uma das mantenedoras da Associação de
Educação Financeira do Brasil (AEF), entidade que implanta os projetos da ENEF.
Além disso, desenvolve outras ferramentas e iniciativas que orientam a uma
educação financeira. O Serasa dá orientação ao cidadão, disponibilizado pelo site da
empresa brasileira de análises e informações aos créditos e negócios
(MANFREDINI, 2019).
De acordo com Manfredini (2019), promover uma ligação entre organizações
governamentais e instituições financeiras com toda a sociedade, é um dos grandes
desafios para que as famílias de diferentes camadas socioeconômicas tenham
acesso à educação financeira. Uma das ações primordiais para o fomento desta
educação refere-se a incentivos para as tomadas de decisões econômicas mais
conscientes.
Visto que muitos casais não sabem lidar com o dinheiro na relação a dois e
que hoje as relações modernas se pautam nessa busca de felicidade constante, e
usam o dinheiro para obter prazer e realização, a próxima subseção abordará sobre
o dinheiro e as relações líquidas.
29

2.5 O DINHEIRO E AS RELAÇÕES LÍQUIDAS

Bauman (2001), classificou a sociedade pós moderna como líquida, onde o


que predomina é o individualismo, a fluidez e as relações efêmeras, essa liquidez
não se trata de uma escolha e sim de um estado social. Algumas marcas da
modernidade caracterizam o que Bauman (2001) aponta como “liquidez”, são elas:
incertezas, liberdade, felicidade, fluidez e consumo. Nesta perspectiva, entende-se
por liquidez, dificuldades em firmar laços profundos. Para o autor, a liquidez é
constitutiva, portanto o sujeito se constrói em diversas relações formadas por regras,
por formas de pensar, agir e sentir. Portanto toda fixidez e referências como,
vínculos afetivos, familiares e religiosos, chamados por ele como modernidade
sólida, dá lugar ao consumismo, gozo e artificialidade.
Todos esses referenciais sofreram influências por uma crescente tendência
ao consumo, transformando as relações sociais em objetos de troca e com isso
criando a ilusão da felicidade comprada. O objetivo de manter a busca da felicidade
vinculada ao consumo é tornar essa busca infindável e a felicidade sempre
inatingível (BAUMAN, 2009).
Manfredini (2019) levanta uma questão importante sobre a relação amor e
dinheiro, ao questionar se o sentimento do amor tem se confundido com o apreço ao
dinheiro. Alguns autores mostram pensamentos diferentes sobre essa questão.
Cortella (2008) defende que quando se trata de amor e dinheiro os casais resistem
fortemente a essa ligação. Já Russo (2011), enfatiza que, em nome do dinheiro, os
valores morais e os sentimentos são deixados de lado, o próprio amor que vem
romper com a indiferença que caracteriza as relações modernas, são todos
mudados.
Para Manfredini (2019), alguns casais fazem uso do dinheiro de forma
escondida, evitando que o outro saiba como esse dinheiro foi gasto, demostrando
uma infidelidade financeira por parte de um dos cônjuges ou às vezes até dos dois.
Muitas vezes agem assim porque tentam dominar o outro ou para evitar conflitos
devido ao gasto descontrolado que compromete o orçamento familiar. E quando isso
sai do controle, muitos casais optam pelo divórcio, acreditando esse ser um caminho
mais rápido para se livrar do consumismo desmedido que dominou a vida conjugal e
familiar.
30

Para Guimarães (2007) o dinheiro tem uma forte ligação sobre a intimidade
do casal, podendo essa relação ser de poder, controle e até questões de
sexualidade. Russo (2011) também afirma que o dinheiro e as relações estão
associados com o poder, uma vez que o amor e dinheiro criam e medeiam relações
que aguçam uma atmosfera de poder pessoal ou social.
Para Russo (2011), o amor e o dinheiro aparecem como pólos que giram em
torno de nossas vidas, de um lado em sentidos opostos, e por outro lado, eles
aparecem como desejos que se completam e, portanto, trazem a felicidade. Para a
autora, a ideia da vivência real do amor, mudam quando se aproximam das
questões relacionadas ao dinheiro, podendo ver fortes traços do individualismo
moderno nessas relações. O ser humano, como ser cultural, afeta o dinheiro com
seus sentimentos ambíguos, transformando em objeto, ora o ama e deseja, ora o
odeia, mas, acima de tudo, dando ao dinheiro significados que vão além da sua
presença material.
A atual Era da modernidade líquida, tem tornado o mundo repleto de sinais
confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível, trazendo consigo
uma misteriosa fragilidade dos laços humanos sendo assim fatal para nossa
capacidade de amar, seja esse amor direcionado ao próximo ou a nós mesmos,
mantendo assim os laços frouxos (BAUMAN, 2004).
O amor nos dias de hoje é vivido como uma experiência egoísta, e para que
se sustentem as pessoas precisam ter condições de sobrevivência, o que, na
atualidade, só parece possível se tivermos boas condições financeiras. A forma
como a sociedade lida com o dinheiro nos dias de hoje fez com que os interesses
individuais se sobrepusessem aos interesses coletivos, surgindo devido a isso uma
forma diferente de amor, exclusiva do indivíduo, onde o eu ama, sente, sofre, chora,
ri. E os sentimentos hoje, são remetidos à esfera pessoal e não estão mais ligados
ao coletivismo e sim ao individualismo, porém por outro lado eles também se
relacionam com o social, pois não se pode falar em indivíduo sem falar de sociedade
(RUSSO, 2011).
Vivemos em um mundo capitalista, que é pautado em dois extremos: o mundo
real e o ideal. O mundo real é um mundo frio, o mundo da produção e da
impessoalidade, e o mundo ideal, é um mundo mágico, onde não há lágrimas,
tristeza, nem dor, é o mundo idealizado pela publicidade, e as pessoas são
convencidas a adquirir coisas para que, assim, possam ser felizes (ROCHA, 1995).
31

As relações modernas se pautam nessa busca de felicidade constante, usam


o dinheiro para obter prazer e realização e, quando isso não é possível elas se
afrouxam. Russo (2011) afirma que, quando se diz respeito ao amor e dinheiro, a
relação ideal, onde um nasceu para o outro e ser felizes para sempre não é mais
suficiente. Pois, não basta só amar, é preciso ter condições de se sustentar e de
arcar com as necessidades do ser amado.
O consumismo revela situações onde o excesso do uso dinheiro ou a falta
dele, levam o indivíduo a uma situação de sofrimento existencial. No mundo
capitalista, o modo de existir não é estimulado, visto que, ser não causa consumo e
nem lucro, pois um indivíduo que está satisfeito consigo, com sua aparência, seus
afetos, seu compromisso familiar ou individual, com seus valores éticos não
necessita fazer uso do dinheiro de forma desmedida ou compulsiva, buscando
visibilidade social. Viver essa ambiguidade de sentimentos constante entre o ser e o
ter, mesmo que seja inconsciente, contrária a própria espécie humana, pois somos
seres totalmente dependentes das nossas relações interpessoais para evoluir como
indivíduos e como espécie (SILVA, 2014).
Para Frankl (2008), a motivação primária na vida do ser humano é a busca
por um sentido. Este sentido é diferente para cada pessoa, ele é dinâmico e mutável
e depende do momento de vida da pessoa, e quando o indivíduo deixa de decidir por
si mesmo, vivendo de uma forma que agrade os outros, assumindo o sentido da vida
de outras pessoas e não o seu, este sujeito então se depara com a frustração
existencial.
O mundo contemporâneo trouxe alguns impasses para o indivíduo que faz
uso do dinheiro de forma compulsiva ou descontrolada, tornando o imerso em uma
espécie de vício, em que ao consumir o indivíduo está em uma tentativa falha para
compensar existencialmente uma felicidade em seu trabalho e relacionamentos
afetivos (BITTENCOURT, 2011).
Para Bauman (2004), vivemos em um mundo onde as pessoas consomem
muito e são imediatistas, o prazer é passageiro, a satisfação é instantânea, e os
resultados não exijam esforços a longo prazo. Para o autor aprender a amar é uma
oferta falsa e enganosa, mas que se deseja de toda forma ser verdadeira, e esse
amor é comparado a outras mercadorias, que são sedutoras, e prometem desejo
sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem dedicação.
32

Segundo Bauman (2004), em todo amor há pelo menos duas pessoas


diferentes uma da outra, e isso faz o amor parecer um desejo do destino, onde há na
relação um futuro estranho e misterioso, impossível de ser adivinhado, que deve ser
realizado ou adiado, acelerado ou interrompido. Amar é a condição humana mais
sublime, e quem ama deve-se abrir ao novo, fazendo com que o medo se una a
alegria numa combinação irreversível. Abrir-se ao destino significa, admitir que o ser
é livre e essa liberdade se incorpora no Outro que se ama.
Desejo e amor encontram-se em polos opostos. O amor é uma rede lançada
sobre a eternidade, o desejo é uma artimanha para livrar-se do esforço de tecer
redes. Sem humildade e coragem não há amor (BAUMAN, 2004).
O que pode ver nessa sessão é que as relações modernas se pautam na
busca da felicidade constante e para isso consomem em busca da felicidade, o
relacionar-se está cada dia mais difícil, vivemos em um mundo individualista, e quem
está na relação são egos em buscas de prazeres constantes e não de pessoas com
objetivos em comum dispostas a enfrentar os desafios e dificuldades que aparecem
nas relações, podemos ver que as relações atuais são pautadas e sofrem influências
da vida pós-moderna e imediatista. Na próxima subseção será abordado o método
utilizado para realização desse trabalho.
33

3 MÉTODO

3.1 DELINEAMENTO

Foi realizado um estudo de caso, que segundo Gil (2017), é um estudo mais
aprofundado, de poucos casos, afim de que possa detalhar e explorar mais sobre o
tema abordado.
A pesquisa qualitativa é uma metodologia escolhida pelo pesquisador e
segundo Oliveira (2007) refere-se a como este irá conceber a realidade que o cerca
e como irá produzir um conhecimento cientifico, ela é um amplo campo de
investigação. Denzin e Lincoln (2006) definiram a pesquisa qualitativa como:

[...] a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador


no mundo. Consiste em conjunto de práticas materiais e interpretativas que
dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma
série de representações, as quais podem incluir as notas de campo, as
entrevistas, as fotografias, as gravações e os lembretes (p.187).

Oliveira (2007) destaca que a metodologia qualitativa torna possível ao


pesquisador analisar a forma como os indivíduos atuam e discutem sobre as
próprias realidades em seu contexto de relação com o outro.
Para complementar o entendimento de pesquisa qualitativa, Serapione (2000,
p. 191) entende método qualitativo como uma fenomenologia e compreensão que:

a) analisa o comportamento humano, do ponto de vista do ator,


utilizando a observação naturalista e não controlada;
b) é subjetivo e está perto dos dados (perspectiva de dentro, insider),
orientados ao descobrimento;
c) é exploratório, descritivo e indutivo;
d) é orientado ao processo e assume dinâmica;
e) é holístico e não generalizável.

Esse autor vem reforçar a ideia de que a investigação qualitativa trabalha


considerando valores, crenças, gênero, hábitos, atitudes, raças, etnias e culturas de
um fenômeno focalizado em um contexto, não em generalizações, mas em suas
peculiaridades e especificidades. Por esse motivo, entende-se que a abordagem
34

metodológica qualitativa é bastante útil e que vem ao encontro dos objetivos desta
pesquisa.

3.2 POPULAÇÃO/AMOSTRA

Participaram da pesquisa, casais que vivenciam a fase de aquisição do ciclo


vital da família, pertencentes à classe média, que residem em cidades no Vale do
Paraíba, no Estado de São Paulo. Foram considerados para a entrevista um total de
dez participantes, sendo cinco casais, organizados de tal forma:

a) Dois casais heterossexuais com filhos de até onze anos;


b) Três casais homossexuais sem filhos;

Os critérios de inclusão dos participantes para esta pesquisa foram:

a) Todos os participantes devem morar na mesma residência;


b) O casal deve estar constituído por pelo menos um ano de relação;
c) O casal deve estar na fase de aquisição;
d) Serem casais sem filhos e casais com filhos até onze anos;
e) Casais devem pertencer à classe média e residir no Vale do Paraíba;

Não houve critérios de exclusão. Para caracterizar a amostra os participantes


preencheram o perfil socioeconômico, que constava: idade, tempo de união, número
de filhos, idade dos filhos, nível de instrução e renda familiar. (Vide Apêndice 1)

3.3 TIPO DE AMOSTRA

Foi utilizada nessa pesquisa a amostra por conveniência e a técnica amostral


Bola de Neve. Segundo Gil (2008) este tipo de amostra é muito comum e consiste
em selecionar uma amostra da população que seja acessível. Ou seja, os indivíduos
empregados nessa pesquisa foram selecionados porque eles estavam prontamente
disponíveis, não porque eles foram selecionados por meio de um critério
35

estatístico. Já o tipo de técnica amostral bola de neve é uma forma de amostra não
probabilística, que utiliza cadeias de referência. Ou seja, não é possível determinar a
probabilidade de seleção de cada participante na pesquisa, mas utiliza-se para
estudar alguns grupos difíceis de serem acessados (VINUTO, 2014).

3.4 LOCAL

O local de aplicação do instrumento de coleta de dados se deu na residência


do casal, devido a uma melhor comodidade e facilidade aos participantes, seguindo
todos os procedimentos necessários e medidas de segurança referente ao
distanciamento social, desde o distanciamento dos participantes na hora da
entrevista, uso de máscara, higienização das mãos com álcool em gel e nenhum
contato físico.

3.5 INSTRUMENTO

Para coleta de dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com oito


questões que buscaram compreender as experiências vivenciadas pelos casais em
relação ao dinheiro. As entrevistas foram gravadas em áudio com autorização
registrada no termo de consentimento que foram entregues aos participantes. Após
as entrevistas foram transcritos na íntegra as informações obtidas e após isso foram
apagados os áudios. O roteiro de entrevista foi baseado nos objetivos desta
presente pesquisa. (Vide Apêndice 1)
Segundo Boni e Quaresma (2005), a entrevista semiestruturada é uma
técnica que apresenta um índice maior de participação do que as outras técnicas
existentes, devido ao contato direto com o colaborador da pesquisa. É pré-definido
um conjunto de questões a serem realizadas pelos entrevistadores, não
necessariamente com uma ordem definida que vão ocorrendo na medida em que a
entrevista vai acontecendo, podendo ser ajustado de acordo com o andamento da
pesquisa, possibilitando assim uma chance maior de correção de erros.
36

3.6 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

O projeto de pesquisa foi submetido para aprovação pelo Comitê de Ética de


Pesquisa da Universidade de Taubaté – Plataforma Brasil, aprovado sob número
CAEE 29524020.4.0000.5501 (Anexo I).
Mediante a aprovação do comitê de ética, os casais que colaboraram para esta
pesquisa foram recrutados a partir da técnica de composição amostral “bola de
neve” (snow ball sampling) que, segundo Oliveira (2005), consiste em localizar
pessoas por meio de indicações de pessoas conhecidas que continuadamente vão
indicando outras para participarem da pesquisa.
Para recrutar o primeiro casal, a pesquisadora contatou casais que faziam
parte da sua rede de contatos e que se enquadrassem nos critérios de inclusão.
Caso não encontrasse estes casais, iria solicitar da rede de contatos a indicação de
casais. Ao convidar o casal para participar da pesquisa, explicou o objetivo geral e
mediante o aceite do casal, foram combinados previamente, um dia e horário, para a
realização da entrevista bem como foram anotado o endereço da residência do
casal. A entrevista foi agendada na residência do casal e um dia anterior da
entrevista a pesquisadora enviou uma mensagem de lembrete, e então a
pesquisadora compareceu no dia e horário combinado.
Antes da realização da entrevista, foram explicados aos participantes: o tema
da pesquisa, os objetivos, o sigilo das informações fornecidas, a garantia do
anonimato, os riscos, a finalidade do uso das informações, bem como a
possibilidade de desistirem de participar da pesquisa a qualquer momento.
Após a explicação e o aceite do casal, foi entregue o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo II), o qual foi devidamente assinado pelo
casal em duas vias, sendo que uma das vias foi entregue aos mesmos. Neste termo
estavam relacionados os cuidados éticos da pesquisa e havia uma solicitação de
autorização para gravação e utilização dos dados coletados na entrevista (vide
apêndice I). Após a assinatura dos participantes, foi solicitado a um deles que
preenchessem o perfil socioeconômico que continham informações como: sexo,
idade, nível de instrução, número de filhos, renda familiar e após o preenchimento foi
iniciada a entrevista com o casal.
37

3.7 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS

Após as coletas de dados, as entrevistas foram transcritas e foram feitas as


análises do material obtido por meio da categorização.
Segundo Gil (2017) a categorização é um conceito que mostra padrões que
aparecem dos dados e são usados com o intuito de agrupá-los de acordo com a
similaridade que mostram. A organização de categorias se dá pela comparação
sucessiva dos dados obtidos, formando unidades de dados, onde estas são
segmentos aos quais pode se atribuir um significado, formando uma categoria
quando se identifica algo em comum entre esses dados levantados.
A partir da análise foram criadas seis categorias, que são elas: Como
acontece a organização financeira do casal; Como é utilizado o dinheiro do casal no
dia a dia; O diálogo sobre dinheiro entre o casal; Dificuldades do casal frente ao uso
do dinheiro; Influências do meio social frente ao uso do dinheiro; As heranças
familiares em relação ao uso do dinheiro.
38

4 RESULTADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

RENDA -
TEMPO Salário FILHOS/
CASAL IDADE SEXO CIDADE/ESTADO
UNIÃO Mínimo IDADE
(SM)
6 anos e São José dos
A.1 / F.1 35 / 37 mulher / mulher 9 meses até 5 SM não Campos/SP
de 5 a 9
J.2 / V.2 28 / 37 mulher / mulher 6 anos SM não Caçapava/ SP
T.3 / N.3 28 / 34 mulher / mulher 3 anos até 5 SM não Pindamonhangaba/SP
de 10 a 20
S.4 / D.4 37 / 37 mulher / homem 17 anos SM 4 anos Aparecida/SP
de 10 a 20 10 anos e
J. 5 / D. 5 43 / 37 mulher / homem 18 anos SM 5 anos Taubaté/SP
Figura 1: Quadro Sociodemográfico

O que se pode ver nesta pesquisa é que houve uma diversidade na


composição da amostra, sendo três casais homoafetivos e dois heterossexuais,
mostrando assim que essa variedade refere-se à família contemporânea, onde a
família tem uma pluralidade de arranjos em sua formação. Observou-se também que
o maior tempo de união está entre os casais heterossexuais, levando a um
questionamento se essa diferença se dá pelo fato da união homoafetiva ser
reconhecida judicialmente recentemente no país. Outra questão observada é que os
casais heterossexuais possuem a renda salarial maior, e os homens são
responsáveis por isso, pois são eles que recebem o salário mais alto, elevando
assim a renda salarial familiar, e com isso deixa uma reflexão se ainda existe um
preconceito em nossa sociedade em relação à diferença salarial entre homens e
mulheres ou se há um preconceito em relação aos casais homoafetivos.
39

4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

 Categoria 1: Organização financeira do casal

Nessa categoria foi observado se o casal realiza planejamento financeiro e


como acontece o planejamento e quais são os meios utilizados para se organizarem
financeiramente.

“T.3 a N.3 que faz essas coisas planilhada. N.3 é tem uma planilha com os
gatos mensais fixos e variáveis e com nosso salário, então a gente ganha tanto, vai
sobrar isso, geralmente não sobra, T. falta na maioria das vezes, ou dá na casaca...”

“F.1 sim (risos), vai A.1 como? A.1 planilha não, mas a gente sabe exatamente
qual é o valor das coisas que a gente vai pagar no final do mês, tudo certinho.

“J.2 nós realizamos, e geralmente a gente gosta de colocar na ponta do lápis


mesmo, papel e caneta com as projeções de gastos futuros e ganhos.”

“S.4 depende, eu acho que pra algumas questões sim, por exemplo a gente tá
com um projeto novo, né a gente tá com planos novos ai na nossa vida financeira,
então referente a isso o D.4 ele mexe bastante com planilha de excel, ele gosta de
colocar na planilha, jogar os gatos né, ai a gente consegue prever mais ou menos o
que vai gastar, dai pra isso sim, mas assim pra alguns projetos, algumas coisas a
gente faz, entendeu? D.4 a verdade é uma só, a gente só faz planejamento
financeiro quando o não tem dinheiro, quando tem dinheiro não faz planejamento
essa que é a verdade, quando a entrada é maior que a saída, não tem
planejamento, quando se faz planejamento? Quando há restrição financeira. S.4 eu
por exemplo, eu sou assalariada, então eu faço, eu ganho x, então eu recebo, então
assim, essa parte vai pra pagar a escola do JL., essa parte eu pago meu cartão de
crédito, essa parte eu pago isso, então eu faço um planejamento dentro daquilo que
eu ganho, entendeu? ...D.4 eu pago tudo atrasado, eu não tenho esse planejamento,
antes eu tinha quando eu era assalariado eu tinha também, hoje infelizmente não,
40

eu já tenho aplicativo no celular pra gestão, tenho planilha minha mas quando o calo
aperta, quando tá entrando dinheiro não tem planejamento não, vai que vai.”

“Hum.... D.5 só eu né (risos) J.5 não. D.5 a J.5 não, eu controlo as minhas, mas
eu coloco. J.5 eu não.
Segundo Cardeal (2020), o ato de decidir é comum em todos os indivíduos e
isso faz parte da rotina das pessoas. Para a autora, em toda ação há uma tomada
de decisão, mesmo que seja a opção de não fazer nada, e essa decisão impacta a
vida do casal a curto, médio ou em longo prazo.
Frankel (2006), aponta que é fundamental que entre o casal haja conversa
sobre como o dinheiro será gasto, investido, sobre dívidas, divisão de contas, e essa
conversa deve ocorrer antes de partirem para uma vida a dois e durante a relação,
pois a falta de planejamento pode influenciar na relação conjugal.
É possível observar na fala dos participantes, que todos os casais disseram
que realizavam planejamento financeiro, e também reconhecem que tem meios para
controlar os gastos seja pelo o uso de planilhas, aplicativos e papel. O que foi
observado é que o controle financeiro realizado nos casais são por diferentes
participações, seja por um dos parceiros(as), por ambos(as) ou em outros cada um
fazia o controle do seu próprio gasto, podendo haver organização pessoal das
finanças e não do casal. Segundo Pahl (1989 apud BURGOYNE, 1990), e Pahl
(2005), definiu-se dois estilos como forma de administrar o dinheiro pelos casais,
sendo eles o individual, e/ou coletivamente usado.
O que se pode observar no casal J.2 e V.2, é que o controle financeiro ficou
destinado a uma das parceiras, que utiliza de planilhas para anotar as entradas e
saídas, ela quem cuida da organização financeira do casal. Já em outro casal A.1 e
F.1, o planejamento se dá pelas duas pessoas, e como visto na fala das
participantes o controle se dá por anotações em papel ou controlam os gastos de
forma mental, sem nenhuma anotação.
Como observado nas entrevistas, no casal S.4 e D.4 há uma divisão das contas
entre eles, onde cada um se responsabiliza por um tipo de despesa. Para um dos
conjugues que é autônomo D.4, ele efetua o controle dos gastos por meio de
planilha e aplicativos, mas disse que faz esse controle somente quando percebe que
a entrada de dinheiro está menor que a saída, quando a entrada está maior ele não
tem controle disso. Observa-se que nesse casal o controle financeiro só acontece
41

quando o casal sente dificuldades de controlar os gastos e, portanto, o planejamento


financeiro não é algo recorrente na relação conjugal. O que de certa forma mostra
que o casal não se planeja apenas apaga incêndio e socorre as emergências.
Já a participante S.4 que é assalariada costuma anotar seus ganhos e
despesas para ter um maior controle financeiro. Neste caso, é somente um dos
conjugues que faz a anotação e mais uma vez mostra que não há uma participação
do casal nas finanças.
Já no casal J.5 e D.5 onde ambos participantes são assalariados, cada um
faz uso do seu dinheiro como quer somente um participante tem controle das
despesas relacionadas ao casal e a sua própria despesa, de acordo com a outra
participante ela utiliza seu dinheiro sem nenhum controle, isso demonstra que não
há planejamento financeiro entre eles somente por um dos cônjuges.
Segundo Pahl (1989 apud BURGOYNE, 1990), e Pahl (2005), o estilo de
administrar o dinheiro desse casal citado acima é o individual. A administração
independente do dinheiro acontece de maneira individualizada, onde cada cônjuge
como podemos ver, administra seu dinheiro e suas responsabilidades, as contas são
individuais, e um não tem acesso à conta do outro parceiro, não precisam de
permissão para gastos e não se sentem na obrigação de dar satisfação ao outro
parceiro.
Segundo Grandesso (2006), cada pessoa se desenvolve com base em suas
experiências, ou seja, a forma que ela significa e compreende e relaciona com o
dinheiro tem haver com aquilo que foi aprendido na família. Observa-se que cada
casal lida com o dinheiro de uma forma diferente, e mesmo dentro da relação
também há diferença na forma de lidar com o dinheiro entre os cônjuges.
Para Cerbasi (2004), o planejamento financeiro deveria ser realizado por
ambos, mas nem sempre acontece isso como podemos ver nos casais, o que é mais
habitual é que um deles tome a frente das questões financeira.
O que se pode observar é que entre os casais há uma preocupação com o
controle das despesas mensais, porém nenhum casal demonstrou em fazer
planejamento pensando no futuro ou longo prazo.
Para Cerbasi (2004), a relação que o casal tem com o dinheiro deve ser algo
planejado para longo prazo, para que o casal chegue ao futuro sem dificuldades
financeiras, porém isso se dá através de um compromisso financeiro, que deve ser
42

levado a sério, deve ser bem planejado, deve criar metas e haver comprometimento
de todos os envolvidos.

 Categoria 2: O dinheiro do casal no dia a dia

Na categoria dois, a análise de dados se deu com o objetivo de compreender


como o casal utiliza o dinheiro no seu cotidiano.

“N.3 mais cartão né, T.3 a gente usa bastante cartão, hum a gente não usa
cheque, a gente evita ficar fazendo compra que não seja no cartão senão a gente
acaba se atrapalhando também... N.3 carnezinhos essas coisas em loja a gente não
tem nada, é mais cartão de crédito e muito de débito, a gente dificilmente tira
dinheiro pra ir pagando as coisas no dinheiro é tudo débito, paga direto na internet
bank essas coisas.”

“N.3 a gente adotou agora, que vai guardar um dinheiro na poupança


independente se ficar negativo ou não no banco, pra aquilo servir como uma
emergência como aconteceu agora, a gente vê que isso é importante a gente não
tinha nada... T. sim planejamento maior que a gente tem é uma reserva ou outra
mais pra viagens mesmo, porque planejamento pra gente comprar uma casa por
exemplo a gente não tem.”
“T.3 eu acho que a gente gasta muito... N.3 a gente gasta porque a gente
gosta muito de viver bem, vamos supor assim, se ela quer uma cerveja boa e eu
quero uma comida boa hoje a gente pode por que não? Entendeu... ah hoje eu
queria comprar isso, ah tá bom você recebeu uma grana porque não comprar, as
contas estão em dia tá tudo certinho, mas hoje principalmente por conta de tudo que
tá acontecendo a gente tá gastando bastante com comida, bebida, e... T.3 aumentou
o consumo alcóolico (risos T.3 e N.3).... N a gente diminuiu a gasolina, então a gente
manteve com comida o que não tá gastando com gasolina...”
43

“J.2 a gente costuma utilizar cartão... V.2 crédito, só cartão... J.2 crédito,
débito... J.2 gastamos muito. V.2 gastamos com alimentação... J.2 moradia, é
alimentação e moradia são os nossos principais gastos.”

“A.1 a maioria débito... F.1 cartão de débito. F.1 hoje em dia a gente tá
gastando menos, pra guardar pra viagem, pra aquisição de algum bem... A.1 pra
comprar uma casa... F.1 gastamos com comida, bebida e viagem mesmo... A.1
coisas pra casa.”

“S.4 eu uso mais o cartão, hoje em dia eu uso o cartão porque eu recebo meu
dinheiro, meu dinheiro cai na minha conta, então eu prefiro usar o cartão que assim
eu acho que gasto menos, entendeu, não é qualquer lugar que aceita e tal, então eu
fico com o cartão, dificilmente eu tenho dinheiro na carteira. D.4 eu dificilmente uso o
cartão porque eu recebo em dinheiro (risos).”

“D.4 o gasto é com futilidade... S.4 sim. D.4 gasta na futilidade, em coisas que
não necessariamente você precisa pra viver... mas o custo de vida em si, se você for
colocar, no nosso caso é barato o que é caro é a futilidade, é os passeios é a janta,
os jantares, é doce, é bolacha, é carro, é roupa, é futilidade. S.4 eu acho que a
pandemia agora veio pra ensinar um pouco, a gente viu que a gente consegue viver
sem gastar muito entendeu, então assim durante a pandemia, deixei de comprar
roupa, deixamos de ficar saindo até mesmo porque não podia, deixamos de fazer
varias coisas, eu como sou assalariada, continuei recebendo ainda consegui guardar
um pouquinho, porque a gente deixou de sair, e antes a gente ia no shopping três,
quatro vezes por semana... D.4 ia cem reais no mínimo... S.4 então ia assim, tá a
toa então vamos dar um pulinho lá no shopping e sempre gastando. D.4 jantar no
japonês....”

“D.5 a J.5 gasta e eu pago. J.5 débito D.5 ah eu não acho que a gente gasta
muito, acho que o que mais gasta é com lazer, acho que o dia a dia, lazer, bagunça
e tal acaba gastando mais. J.5 e tem os gastos fixos, tipo assim, as contas de água,
luz, internet, televisão, a casa. D.5 é essas coisas é meio fixo. J.5 o resto é lazer e
comida.”
44

O que se pode observar é que a forma unânime escolhida pelos casais para
uso do dinheiro foi o cartão de crédito e débito. Segundo Weatherford (2006), a
transformação do dinheiro em espécie para o dinheiro eletrônico se deu, porque
muitas empresas buscavam outros meios de obterem mais lucros, tornando assim o
uso do dinheiro uma forma mais fácil e segura para consumidores e comerciantes,
onde os detentores do dinheiro (bancos) precisavam encorajar as pessoas a
utilizarem os meios eletrônicos, como cartão de crédito, transferências bancárias,
moedas digitais, caixas eletrônicos, aplicativos de banco, entre outros meios,
estimulando o aumento do consumo.
Observa-se que o uso do cartão de crédito é frequente entre os casais, isso
facilita o consumo do casal, podendo perder o controle na hora do uso devido à
facilidade de crédito.
Dentre os casais a alimentação foi o maior gasto que apareceu, isso inclui a
compra mensal e alimentação fora de casa, especialmente durante a quarentena da
pandemia do coronavírus2. Outras despesas que também aparecem foram com
moradia, gastos com a casa, viagens, roupas e bebidas. Referente à reserva de
emergência ou investimento à longo prazo, o que se pode ver é que nenhum dos
casais disse ter esse hábito de guardar dinheiro pensando no futuro ou em uma
emergência.
Para Nyhus (2017), o hábito de poupar tem implicações valiosas para o
individuo e para família, pois a falta de uma reserva ou uma poupança no futuro
pode causar prejuízos na qualidade de vida das pessoas, e pode ser muito pior se
estas dependerem de empréstimo com juros elevados.
Considerando a atual situação que estamos vivendo da pandemia, os casais
T.3 e N.3 e S.4 e D.4 disseram que depois dessa crise repensariam sobre a
importância de ter uma reserva financeira e que iriam começar a guardar dinheiro ou
que pelo menos diminuiriam os gastos supérfluos. Segundo Manfredini (2019), o
poupar pode ser considerado como uma forma saudável de usar o dinheiro. Desse
modo, somente depois desta pandemia do coronavírus¹ é que as famílias tem a
intenção de poupar e talvez conseguir desenvolver hábitos de uma educação
financeira.

2
Coronavírus são grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes de animais. COVID-
19 é uma doença causada pelo conronavírus, denominado SARS-Cov-2, que apresenta um espectro
clínico variando de infecções assintomáticas e quadros graves. No Brasil o número de mortes
causadas pelo COVID-19 até o mês de setembro de 2020 chegou a 144.680 mortos.
45

De acordo com Nyhus (2017), pessoas que acreditam que poupar é


importante, tendem a economizar mais, do que aquelas que acham que poupar não
é importante. Conforme a fala de um dos casais, que ao vivenciarem a pandemia
perceberam que poderiam controlar mais os gastos, que conseguem viver sem os
gastos supérfluos, já outro casal que vivenciou essa pandemia de uma forma
diferente, que passou por mais dificuldades financeiras por não terem uma reserva
de emergência, disseram que a partir dessa vivencia passariam a poupar.

 Categoria 3 - O diálogo sobre dinheiro entre o casal:

Na categoria 3 foi analisado se entre o casal há diálogo sobre dinheiro e como


se dá essa conversava.

“T.3 bastante, N.3 bastante, T.3 dá “pau” até, N.3 diariamente (risos)... N.3
geralmente da mais “pau” quando tá faltando né, agora quando as coisas tão
certinha... N.3 o importante é sempre conversar, porque se você guarda isso,
acumula, acumula, acho que você foge do controle... T. e eu acho que a gente tem
muita honestidade com as coisas, com os nossos gastos né?... “N.3 desde o
começo a gente sempre combinou assim, independente se eu ganhasse mais ou
menos, ela mais aquele dinheiro total era nosso, então a gente vê a melhor forma de
gastar.... T.3 é a gente administra bem até nossas finanças (risos)...

“J.2 sim bastante..... V.2 direto (risos).”

“F.1 (risos)...sempre.”

“D.4 quando tá faltando sim. S.4 não mas quando tá sobrando também sim,
você já me chamou e falou olha aqui S.4 quanto que têm, quanto eu guardei,
entendeu. D.4 sim mas não... é.... conversa, a tipo assim pra sabe se o dinheiro é do
casal, sim com certeza, o que eu tenho ela sabe que eu tenho, isso ai é fato, isso ai
ninguém esconde nada não, isso é certo.”
46

“J.5 não. D.5 não. D.5 a J.5 gasta e eu pago”

Nesta categoria foi questionado aos casais se eles conversavam entre si


sobre dinheiro. Entre os casais entrevistados a maioria afirma ter diálogo a respeito
de dinheiro, mas o que se pode ver é que geralmente essa conversa só acontece
quando há dificuldade financeira.
Entre os casais entrevistados, somente o casal T.3 e N.3 demonstrou que
houve diálogo sobre dinheiro no início da relação, antes de efetivarem o casamento.
Para Gonçalves (2016) a relação do casal com o dinheiro começa mesmo antes do
casamento, ela se inicia no namoro, por exemplo, quando o casal sai para jantar, ir
ao cinema, na compra de presentes, na compra das alianças, na festa de noivado,
casamento e lua de mel, ou seja, em todas as ações que envolvam custos.
Mesmo havendo diálogo o que se pode ver é que quando o assunto é
dinheiro ainda há dificuldades em conversar sobre, podendo haver desentendimento
quando se fala disso. A situação do casal T.3 e N.3, nos remeter ao que Manfredini
(2019) coloca que, o modo como os casais lidam com o dinheiro no início da
relação, podem influenciar na construção e na manutenção da conjugalidade.
Já em outros casais podemos observar que há conversas sobre dinheiro,
porém ao responder riram e olharam uma para a outra e não mais falaram sobre a
pergunta. Ao fazer uma análise desta forma de se comunicar do casal, supomos que
não quiseram aprofundaram nas respostas. Isso nos remete ao que Manfredini
(2019) afirma que, falar sobre dinheiro nas famílias, casais ou sociedade ainda é um
tabu e esse tabu precisa ser desconstruído, afinal a falta de diálogo sobre o uso de
dinheiro numa relação pode acarretar problemas futuros entre o casal.
Nosos casais heterossexuais S.4 e D.4 e J.5 e D.5 o que se pode observar é
que somente há diálogo sobre dinheiro, quando o parceiro acha necessário como
mostra na fala da participante S.4 que diz que conversa sobre o dinheiro quando o
marido chama e quando há uma dificuldade financeira, quando não há dificuldade,
não há diálogo. O que nos mostra é que ainda existe um movimento do controle do
dinheiro pelo sexo masculino. Como se pode ver na fala do participante D.5, dizendo
que a esposa gasta e ele paga.
Para Ferreira (2008), socialmente foram denominadas funções específicas
para homens e mulheres em relação ao dinheiro e em relação à sociedade. Ao
homem foi dado o direito de trabalhar e, este tinha como função e responsabilidade
47

prover as necessidades da família e, a mulher foi dada às funções domésticas,


cuidando da casa, dos filhos e do cônjuge.
Com as mudanças sociais e culturais que ocorreram e ainda ocorre, a forma
como as mulheres e os homens lidam com o dinheiro também mudaram, por
exemplo, hoje a renda familiar em alguns casais é a soma do trabalho do homem e
também do trabalho da mulher, que cada vez mais ocupa lugar no mercado de
trabalho aponta Guimarães (2007). Mesmo a mulher contribuindo financeiramente
que é esse caso, o que podemos ver é que o controle financeiro maior está nas
mãos do homem.
Já no casal J.5 e D.5 o que se pode verificar é que não há conversa sobre
dinheiro. Diante da resposta pontual e objetiva do casal, percebe-se que falar sobre
dinheiro ainda é um tabu.

 Categoria 4 - Dificuldades do casal frente ao uso do dinheiro

Nesta categoria foram abordadas as maiores dificuldades que os casais


apresentaram frente ao uso do dinheiro e se conversavam entre si frente as
dificuldades.

“T.3 conversa bastante... N.3 geralmente a T.3 que chega nosso amor to tanto
negativo, eu tá bom amor, quando eu tava fazendo faculdade, que eu tranquei, tá
bom a gente tá mil negativo a gente vai fazer o quê? A gente vai ficar nervosa vai
brigar, se estressar, não vai ficar positiva a conta, então a gente tenta né manter
positivo, mais não se estressar mais.... T.3 eu me estressava mais por que assim a
N.3 ela gosta muito de pedir comidas assim, ela sempre quer pedir alguma coisa,
quando a gente tá meio que no vermelho assim, eu fico irritada dela fazer isso (risos)
sabendo que a gente já tá devendo né amor..... N.3 vamos mete o louco se morrer
amanhã morre de barriga cheia.... T.3 ela é bem assim.... (risos).”

“J.2 conversamos bastante, geralmente se a gente tiver alguma dificuldade à


gente senta, se programa, faz cálculos é bem conversado sim.”
48

“D.5 faz bastante tempo que não tem, mas normalmente quando tem
conversa. J.5 conversa e vê como pode solucionar. D.5 e resolve, acha uma forma
de resolver.”

“F.1 Sim (risos), F.1 Conversamos, discutimos e a gente esclarece, põe nos
pratos limpos, faz conta... F.1 eu acho que graças a Deus financeiramente hoje em
dia a gente tá bem estabilizada, já passamos uns perrengues, bem no começo da
nossa relação, por conta de tudo né, mudança de casa, construir, comprar móveis e
ir adaptando, mas hoje em dia graças a Deus tudo que a gente almeja a gente
consegue comprar.”

“D.4 sim converso, mas tipo eu nunca tive dificuldade financeira depois que
casei com você, você teve dificuldade financeira S.4? S. não, mas quando eu
preciso por exemplo, o tempo que eu fiquei sem trabalhar, que eu sai do posto,
fiquei sem trabalhar, o D.4 me ajudou, então o que eu precisava ele dava, ele
pagava pra mim, eu não gosto dessa situação, entendeu, mas foi porque eu precisei
mas foi só nesse tempo fora isso não. D.4 mas dificuldade é complicado, eu graças
a Deus eu nunca sofri com isso, por enquanto não e pretendo não sofrer, mas eu
não sei explicar melhor como tipo assim, dificuldade, tipo assim, ou a gente almoça
ou a gente janta, ou a gente paga a escola ou a gente paga o médico, graças a
Deus por enquanto não, espero que não (risos).”

“S.4 agora depois da pandemia eu pretendo mudar, eu vi que dá pra gente


ficar mais em casa, entendeu, e assim a gente consegue economizar mais. D.4 mas
eu acredito que voltando a vida ao normal a desgraça volta ao normal, volta a sem
vergonhice, volta os gastos, inteligente vai ser aquele que consegue se manter
focado igual tá agora, mas eu D.4 acho que voltando ao normal tudo volta ao
normal, você volta a ser tranquilo, você volta a não se preocupar com dinheiro, mas
eu quero ter a noção de melhorar, mas eu acho que voltando ao normal, literalmente
o próprio nome diz volta ao normal, volta tudo como era antes, os gastos, as saídas,
mas inteligente vai ser quem conseguir não fazer isso entendeu.”

“D.4 Eu acho que é muito fundamental ter dinheiro e isso tem que ter da
educação familiar, se a minha educação familiar fosse voltada pra isso hoje eu
49

estaria melhor, não ter dinheiro deles, mas educação... eu deveria ter comprado
terreno antes de ter comprado moto, mas eu falei eu vou comprar terreno pra que,
se eu não tenho dinheiro pra construir, mas não precisava construir, era só pra
comprar o terreno, entendeu, então isso é educação familiar, isso se tiver é muito
importante, isso tinha que ter na escola, começar na família e ter na escola... mas eu
sou muito a favor dessa educação financeira, total, eu acho que faz muita diferença
na vida, não ganhar, mas se você for educado pra isso entendeu, eu acho que isso é
muito válido, por exemplo o caso do irmão da S.4, ele comprou dois terrenos, tipo
não tinha dinheiro pra construir, mas comprou dois terrenos entendeu, eu vou
comprar terreno com trinta e seis anos de idade, já to velho, mas é aquilo lá, eu
muito importante ter essa educação, muito, muito, muito, eu não tive.”

Ao analisar essa categoria o que se pode observar é que todos os casais


relataram conversar quando percebem alguma dificuldade financeira. O fato é que o
dinheiro ocupa cada vez mais diversos significados nas relações seja no ciclo vital
individual ou no da família, faz se necessário que haja um bom planejamento
financeiro e diálogo para que essa relação seja saudável, e para isso, é preciso que
o casal tenha uma educação financeira (GUIMARÃES, 2007).
Um ponto muito importante no relacionamento é o fator econômico, pois ele
pode estar ligado a dificuldades dos casais e com isso levar às futuras separações,
quando a relação com o dinheiro caminha na contramão dos sentimentos
(GUIMARÃES, 2007).
Uma das dificuldades apresentadas pelo casal T.3 e N.3, é que uma das
cônjuges teve que optar por parar os estudos para conseguir controlar o orçamento
do casal, já que os gastos estavam altos, mas mesmo com a situação financeira
comprometida observou-se que uma das cônjuges ainda mantem o hábito de pedir
comidas em restaurantes, comprometendo ainda mais o orçamento do casal, o que
leva o outro conjugue, ao estresse.
Para Bauman (2004), vivemos em um mundo onde as pessoas consomem
muito e são imediatistas, o prazer é passageiro, a satisfação é instantânea, e os
resultados não exijam esforços a longo prazo. Podemos ver nesse casal que há uma
busca por satisfação imediata, quando uma das participantes afirma que mesmo
tendo consciência de estar negativada, há uma preferencia de consumir e justifica
seu consumo ao prazer imediato.
50

Observa-se que há casais que procuram conversar sobre as dificuldades


quando aparece, e tentam encontrar uma melhor forma de resolver em conjunto. O
que se pode ver no casal A.1 e F.1 é que no momento elas estão com a vida
financeira estabilizada, porém tiveram muitas dificuldades no início da relação,
quando estavam iniciando a vida a duas, utilizando o dinheiro para aquisição de
bens, como na compra de móveis e despesas para a nova casa.
Segundo Ceverny e Bethoud (2010), é na fase de aquisição que a relação
do casal com o dinheiro começa a se intensificar, quando eles começam construir a
vida a dois. Nesse momento, os casais na fase de aquisição tende-se a adquirir
bens e ter maiores despesas, como aquisição de carros, casa, fazem viagens,
cursos profissionalizantes, despesa com o nascimento do primeiro filho, escola,
alimentação, nessa fase, o dinheiro torna-se um instrumento importante para a
conquista das metas e desenvolvimento material daquele sistema.
As autoras apontam que o momento de planejar a vida dois no sentido
material é um grande desafio ao novo casal, como podemos ver no exemplo do
casal mencionado acima.
Observa-se que os casais T.3 e N.3 e S.4 e D.4, após vivenciarem a
pandemia eles repensaram a forma de usar o dinheiro, tentando tomar decisões
mais consciente e econômica. Porem um o participante D.4 acredita que quando a
vida financeira do casal estabilizar os gastos voltará a ser como eram antes, sem
controle. De acordo com Nyhus (2017), pessoas que acreditam que poupar é
importante, tendem a economizar mais do que aquelas que acham que poupar não é
importante.
Outro ponto que apareceu entre os casais como dificuldade foi à questão do
desemprego quando uma a participante S.4 disse que quando estava
desempregada, o cônjuge teve que assumir todos os gastos da família, o que pode
observar é que ela não gosta dessa situação, de depender financeiramente do
marido. O que se pode ver é que a falta de dinheiro pode acarretar problemas para
as pessoas, pois junto com o dinheiro vem também alguns significados, sendo eles
pessoais, culturais e familiares, atribuindo a esses significados como: status e
respeito, poder, liberdade e controle e conquista e reconhecimento (MITCHELL;
MITCHELL, 1999 apud MEIRELLES; SOUZA, 2015). No caso deste casal, a falta do
dinheiro trouxe a falta de liberdade.
51

Outra dificuldade apontada pelo participante D.4 é que por não ter tido uma
educação financeira quando criança, pode ter dificuldades em tomar decisões mais
prósperas com o dinheiro. Para Ferreira (2015), a educação financeira engloba a
administração do dinheiro em diversos aspectos e atitudes, sendo o planejar dos
gastos mensais e futuros, o poupar, o investir, fazer orçamento, e preparar-se para
velhice, e quando não há planejamento o indivíduo pode tomar decisões
inconscientes no presente que afetará o futuro.
Para Manfredini (2019), aprender a lidar com o dinheiro e ter hábitos
financeiros envolvem questões de ordem psicológica, que influenciam os
comportamentos econômicos e financeiros do indivíduo e do casal. Essa
aprendizagem deveria ser desde a infância passada de pais para filhos, mas o que
podemos ver é que isso não aconteceu nas famílias de origem de alguns casais
participantes desta pesquisa.

 Categoria 5 - Influências do meio social em relação ao uso do dinheiro

Nesta categoria são analisadas se os casais sofrem influências do meio social


em relação ao uso do dinheiro do casal

“N.3 sim... T.3 muito... N.3 bastante... T.3 os lugares que a gente frequenta,
as coisas que a gente compra sei lá pra estar com eles em algum momento né... N.3
é, a gente tem amigos de todas as classes, pode se dizer assim, quando a gente vai
na casa de um amigo com a classe parecida com a nossa ou um pouco menos, a
gente não é que a gente não leva coisas assim, vou dar um exemplo de churrasco...
Tem aquelas carnes que são gourmet, caras e as que são do dia a dia, a gente vai
lá, a pobrinho, não é que a gente não vai levar uma carne gourmet pra lá, mas a
gente vai de acordo com que, pra não chegar lá tipo, a gente tipo quer se aparecer,
mas tem amigos que tem mais que a gente, que gostam disso, a gente também
gosta, é quando a gente aproveita pra levar, então influencia eu acho.... T.3 eu acho
que influencia também porque a pessoa tem, por exemplo o exemplo do churrasco,
a gente não vai num churrasco só de pão e vai levar uma carne mais ou menos e
chegar com uma carne muito boa, a gente nem vai ver nossa carne ali né, é mais ou
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menos isso... Com a família também é a mesma coisa né, a gente tem coisas que a
gente faz com minha família que são diferente das coisas que a gente faz com a sua
família, tudo isso tem influencia diferente também... N.3 sim.”

“S4. sim. D.4 sim, cem por cento. S.4 influência, com certeza. D.4 cem por
cento, e eu tenho uma máxima comigo que uma amiga me disse, a gente tem que
sair com quem ganha menos, sempre o passeio vai ser adequado financeiramente
pra você, nunca acompanhe quem ganha mais, que os passeios deles vão ser mais
caro e vai faltar pra você. S.4 é e a gente na realidade a gente não sai com quem
ganha mais, mas também não sai com quem ganha menos, eu acho que a gente sai
mais ou menos com quem tá no mesmo nível que a gente entendeu, a gente
consegue fazer as mesmas coisas. D.4 claro que tem vez que a gente sai com quem
ganha mais. S. e claro que as vezes a gente sai com quem ganha menos também
(risos).. D.4 na maioria das vezes com quem ganha menos... S.4 mas não é uma
regra...D.4 não, mas isso pra mim é fundamental, “galinha que acompanha pato,
morre afogada”.”

“V.1 não porque se você for pegar coisas de... como a gente era antes a
gente continua a mesma coisa, com família e amigos... J.1 nos mesmos ciclos de
amigos e família, não foi o ciclo de amigos que fez a gente mudar não.”
J.5 inclusive do ciclo social, eu acho assim entre todos que convivem e vivem
com a gente, é... não tem ninguém assim da mesma faixa salarial, sempre a menos,
a gente não tem assim frescuras né, de esbanjar alguma coisa do tipo, não. D.5
frescurada não. J.5 ou que tá igual no mesmo nível, por conta de amizade de
trabalho, mas a gente vê menos e são menos pessoas assim, mas é o povo mais,
da minha parte.”

Observou-se que somente alguns casais disseram sofrer influencias do meio


social que convivem, quando apontam que a forma de como utilizam o dinheiro está
relacionado com o grupo social que frequentam naquele momento, podendo gastar
mais quando está com pessoas com maiores poder aquisitivo, e ser mais econômico
quando estão com pessoas com menor poder aquisitivo, já os casais que não
sofrem influências sociais, disseram manter o mesmo padrão de consumo
independente do grupo que frequentam.
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Manfredini (2019), aponta que os casais sofrem fortes influências do ciclo


social e da família de origem quando se trata do uso de dinheiro, podendo assim
sofrer influências positivas ou negativas
Para Madanes e Madanes (1997), poucos casais fazem planejamento de
como gastar o dinheiro, e muitas vezes, esses fazem uso do dinheiro baseado no
ciclo social do casal e com isso se caem em armadilhas econômicas, pois o uso do
dinheiro foi aplicado de maneira incorreta, não condizendo com a necessidade do
casal e com suas possibilidades financeiras como vemos nas fala dos casais quando
dizem que ao frequentar um ciclo social com pessoas com mais poderes aquisitivos,
tendem a consumir mais.

 Categoria 6 - As heranças familiares em relação ao uso do dinheiro

Na ultima categoria foi analisado se os casais sofrem influências da família de


origem ao fazerem uso do dinheiro no dia a dia.

“N.3 noventa e oito por cento sim... T.3 a sua, a minha não, a minha já por
causa do exemplo que eu tive de muito gasto eu acho que sou mais controlada...
N.3 o meu caso eu tive mau exemplos de gastos e mesmo assim eu ainda...não
muito né? T.3 não.... N.3 mas eu não sou tão... T.3 você não é tão gastadeira por
exemplo como exemplo da sua mãe, você tem esse exemplo da sua mãe, seu pai é
assim controlado com ele, mas ele deixa a esposa fazer o que quer com o dinheiro,
então ela sempre foi de gastar com bastante coisa, tudo mais....”

“N.3, mas acho que a família influencia bastante sim ou por uma forma
positiva tipo, nossa eles gastaram tanto que hoje você é controlada porque sofreu
um trauma ou se for igual meu pai... vou gastar mesmo não tô nem ai, acho que eu
tenho um e tenho o outro... T.3 no meu caso foi ao contrário a minha mãe sempre foi
um exemplo assim, ai gasta muito e eu já tirei ela do sufoco tipo umas duas vezes
sabe...”

“T.3 fiz ao contrário, eu controlo muito mais os gastos”


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“V.2 não vixe, minha mãe e meu pai... J.2 nossas famílias são bem
descontroladas ambas, V.2 isso que eu ia falar, meu pai Jesus amado, todos os
dinheiros que meu pai pegava assim, quando era alguma ação de advogado da
empresa onde trabalhava, ele gasta assim sem tipo... J.2 pensar no amanhã.... V.2
pensar, era pra minha mãe e meu pai ter uma casa, mas não eles, ela gasta de uma
maneira assim descontrolada, mas não é com bobeira não sabe, tipo coisas assim
fúteis... J.2 é eu acho que a gente pega isso tipo como não fazer, acho que o nosso
exemplo é fazer o contrário de tudo que a gente vivia na nossa família, hoje a gente
tenta fazer o contrário.”

“F.1 eu sim, A.1 a parte da minha família não, eles são completamente
desorganizados... F.1 eu sim, minha mãe sempre foi organizada financeiramente,
meu pai não, meu pai era descontrolado... A.1 quando eu era criança e adolescente
meus pais eram descontrolados com relação a grana, mas hoje em dia, eles tem
hoje a peixaria deles eles estão super organizadinhos....

“F.1 não influenciada acho que não, eu pelo menos tive uma base né, minha
mãe “rala” pra sustentar duas filhas sozinhas e ai eu... Conversando com a A.1 a
gente vê uma... A. talvez eu em alguma época eu tenha desenvolvido algum
descontrole de grana, talvez até por conta dos meus pais, mas isso já faz muito
tempo, hoje não é mais assim não.... F.1 no começo do nosso relacionamento
também né.”
“D.4 a minha de jeito nenhum, até mesmo porque a minha não tinha. S.4 ah
eu de certa forma meu pai ele sempre falava, principalmente em relação a cartão de
crédito, ele sempre batia na mesma tecla pra mim, que nunca, você nunca pague o
mínimo, entendeu, você sempre tem que pagar a fatura inteira pra não virar uma
bola de neve, então assim algumas questões eu não me recordo agora de cabeça,
mas ele sempre falava sim. D.4 depois que grande eu que falo pro meu pai isso ai
que seu pai falava pra você, nunca paga o mínimo, mas ele só paga o mínimo.

“S.4 isso era uma coisa que meu pai frisava muito e eu morria de medo, no
entanto que graças a Deus eu nunca paguei e tenho medo, não gasto muito, vejo
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que o limite já tá alto, opa já não posso mais gastar no cartão eu já vou parando pra
não ultrapassar muito o limite que a gente pode pagar entendeu.”

“D.5 hum... não. J.5 eu não, nem um pouco, bem diferente, meu pai era tipo
guardando, guardando, guardando pra ter, eu sou gastando pra viver

Para a teoria sistêmica, a família é vista como um sistema complexo, ativo


que está em constante mudança a fim de assegurar a continuidade e o crescimento
dos seus membros que a compõe (ANDOLFI, 1984 apud CEVERNY; BERTHOUD,
2010). Nesta categoria, os casais mostram o que aprenderam com a família de
origem em relação com o dinheiro e se a forma como eles faziam uso do dinheiro
era influenciado pela família de origem. É possível de se notar que, todos os casais
concordaram que sofreram influências, sejam elas para repetir o mesmo padrão ou
por alguma forma de trauma fazer o contrário. Os casais também disseram que não
tiveram uma aprendizagem efetiva sobre o uso do dinheiro e que a aprendizagem se
deu somente pela observação e a experiência vivida na família de origem.
A partir das falas dos participantes, pode-se observar que a família de origem
tem grande influência na vida do casal e de cada indivíduo, sendo influências
positivas ou negativas. Segundo Manfredini e Meirelles (2020), olhar para a família é
entender que muitos comportamentos e atitudes são carregados de influências
vindas de seus ancestrais. A intergeracionalidade mostra o indivíduo como parte de
um sistema, que afeta e é afetado por ele.
Segundo Grandesso (2006), cada pessoa se desenvolve com base em suas
experiências, ou seja, a forma que ela significa e compreende aquilo que foi
aprendido e vivido na família, e isso serve também para a relação com o dinheiro.
Se pode ver nas falas das participantes A.1 e F.1 que, mesmo quando ambas
tiveram experiências ruins em relação à família com uso do dinheiro, a participante
F.1 optou por fazer diferente da sua família de origem devido às experiências
negativa que vivenciou e a A.1 acabou por um momento da vida repetir o mesmo
padrão da família, acabou herdando traços de consumismo mesmo que seja mais
leve, ou seja, cada uma deu um significado para a experiência que teve em relação
a vivência familiar com o dinheiro.
Pode-se observar no outro casal T.3 e N.3, que a forma como os pais de
ambas lidaram com o dinheiro foi traumatizante para elas, quando falam que
56

poderiam ter melhores condições de vida se os pais tivessem usado o dinheiro de


forma mais saudável e tivessem mais controle do dinheiro. Observou-se que as
participantes quebraram paradigmas do uso do dinheiro e passaram a estabelecer
um novo padrão de relacionamento com o dinheiro e não repetiram o padrão de
suas famílias de origem. Pode-se notar que, nesse casal, ambas as parceiras
passaram a utilizar o dinheiro de forma mais controlada, e com medo de não repetir
os mesmos comportamentos dos pais.
Segundo Poletto, Manfredini e Grandesso (2015), mesmo quando os pais não
falam abertamente com os filhos sobre educação financeira, eles acabam ensinando
mesmo que seja por exemplos. Podemos ver que a participante F.1, embora não
tenha tido uma aprendizagem direta de educação financeira, ao observar os
comportamentos da mãe, aprendeu a ser organizada financeiramente, repetindo um
padrão de controle dos gastos financeiros que a mãe tinha. Já a participante A.1
disse que por muito tempo foi descontrolada financeiramente, por repetir o mesmo
comportamento dos pais, mas que hoje o casal tem uma vida mais controlada.
Segundo Meirelles (2017), algumas famílias transmitem valores e crenças por
meio do comportamento e outras são transmitidas mais diretamente, como no caso
da uma da participante S.4 que teve uma aprendizagem mais direta, o pai sempre
falou para ela que deveria ter cuidado ao fazer uso do cartão de crédito, pois esse
produto possui juros elevados. Até hoje ela procura utilizar o cartão de crédito de
forma consciente, quando percebe que está usando além do seu orçamento, ela
lembra da fala do pai e sente medo de perder o controle de usar mais do que pode,
ou seja, a aprendizagem foi muito significativa para ela.
Manfredini e Cerveny (2012), afirmam que quando o modelo causa algum
desconforto, o indivíduo que vivenciou tenta evitar sua repetição partindo para o
antimodelo. Nesse caso de uma da participante J.5 a forma como os pais utilizavam
o dinheiro foi uma experiência traumática para ela, havia um controle excessivo dos
gastos da família, e a mesma quando passou a ter seu próprio dinheiro resolveu
fazer o oposto, tudo que ganha gasta. Desse modo, o padrão de relacionamento
com o dinheiro nesta família é de extremos, tanto para guardar quanto para gastar.
57

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência em elaborar uma pesquisa científica de estudo de caso


relacionando dinheiro e casais foi muito instigante, proporcionou a pesquisadora um
olhar interdisciplinar do fenômeno estudado. Diante do objetivo geral de
compreender como os casais de classe média, com e sem filhos na fase de
aquisição do ciclo vital da família, que residem no Vale do Paraíba lidam com o
dinheiro, foi possível entender como se dá a relação casal e dinheiro, suas
experiências e as influências sofridas pela família de origem e pelo grupo social.
Partindo do pressuposto que vivemos em um mundo capitalista, onde o
dinheiro é um objeto multidisciplinar que está presente em nossa vida desde o
nascimento até nossa morte, pode-se considerar que o dinheiro não é bom e nem
mau, mas a forma como os casais lidam com ele é que vai definir o seu papel na
relação conjugal. Por isso faz-se necessário que a educação financeira esteja
presente nas relações conjugais e na vida das famílias.
Em termos gerais os objetivos desta pesquisa foram alcançados, ao verificar
que entre os casais há diálogo e pouco planejamento financeiro, mas que falar de
dinheiro entre o eles e com terceiros ainda é tabu. O que se pode observar é que na
maioria dos casais só há diálogo e planejamento financeiro em momentos de
dificuldades financeiras. Referente à administração e planejamento do dinheiro, o
que se pode identificar é que o planejamento financeiro existe apenas em curto
prazo ou para situações de emergência, seja para cobrir as despesas, gastos
mensais. Entende-se que a preocupação maior desses casais na fase de aquisição
é na construção da vida a dois, na aquisição de bens, gastos com alimentação,
diversão, estudo, filhos entre outros, e que o olhar para o planejamento financeiro
futuro ainda está distante deste casal, visto que na fase de aquisição com casais de
classe média, quase não sobra dinheiro.
Outro fator importante que apareceu é que os casais ao construírem um novo
modelo financeiro familiar sofrem muitas influências positivas e negativas da família
de origem e do meio social que estão inseridos, pois ao tomarem decisões
financeiras podem se desentender, já que cada um teve uma aprendizagem
diferente do outro quanto ao uso do dinheiro.
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Para os terapeutas clínicos e de casais, é importante observar como se dá


essa relação dinheiro e casal. Visto que falar sobre dinheiro pode causar
desconforto e brigas entre o casal, principalmente quando estes estão com
dificuldades financeiras e esse assunto pode ser tratado nos atendimentos clínicos.
A pesquisa mostrou a importância de uma educação financeira entre o casal,
para que assim possam ter hábitos mais saudáveis em relação ao uso do dinheiro e
um melhor planejamento futuro, podendo ter uma velhice mais tranquila
financeiramente. O terapeuta tendo como papel mediador e orientador, pode
trabalhar em conjunto com o casal para ajuda-los a estabelecer metas, objetivos, de
uma maneira colaborativa, atribuindo novos significados e experiências ao dinheiro.
No Brasil o que se pode ver é a escassez da educação financeira, o índice de
pessoas endividadas é muito alto, para que isso mude são necessários
investimentos em educação financeira, políticas públicas e ações governamentais
para que possa ser revertido esse quadro, disponibilizando terapeutas capacitados
para darem orientação financeira e psicológica a casais, para que estes tenham
melhor qualidade de vida, criando assim novos hábitos de poupar e usar o dinheiro
de forma mais saudável. A falta de planejamento financeiro pode acarretar
problemas de saúde, psíquicos e conjugais. O casal precisa aprender a usar o
dinheiro à dois, para que o mesmo se torne seu aliado e não seu inimigo.
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Acesso em: 15 fevereiro 2020.
64

WEATHERFORD, Jack. A História do Dinheiro. Rio de Janeiro: Campus Elsevier,


2006.
65

ANEXO I
66

ANEXO II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O Sr. (a) está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “CASAIS E DINHEIRO:
Como os casais na fase de aquisição do ciclo vital da família lidam com o dinheiro”.
Nesta pesquisa pretendemos conhecer a realidade das famílias em fase de aquisição e
como elas lidam com dinheiro e com a falta dele, a partir das experiências de relatos de vida
relacionados a uso do dinheiro.
Para esta pesquisa adotaremos os seguintes procedimentos: será realizado um estudo
de caso, por meio de um estudo mais aprofundado sobre o tema, para entender o fenômeno
em sua integralidade, a forma de seleção será de acordo com a disponibilidade dos
convidados a participar do estudo. O instrumento será a entrevista semiestruturada, por
meio de um diálogo informal e flexível para exploração das informações. Será utilizado a
gravação de áudio, para que a entrevista seja transcrita na íntegra e somente depois será
apagado o áudio. A sua participação no projeto terá como benefício, uma maior clareza do
uso do dinheiro que viveu no seu passado e de como vivem no seu presente, como também
pode favorecer a um autoconhecimento a respeito da sua historia com o dinheiro e um
conhecimento da relação conjugal com o dinheiro. As entrevistas não possuem finalidade
terapêutica, no entanto ao realizar a discussão sobre o assunto, poderá colaborar com a
elaboração e interpretação do fenômeno. Salienta-se também que os resultados da
pesquisa serão divulgados e discutidos em espaços institucionais, podendo haver
aprofundamento e discussões sobre os dados obtidos, assim como desenvolvimento de
estratégias e intervenções. Esse projeto respeita pressupostos de autonomia, não
maleficência, beneficência e justiça, agindo de acordo com a resolução 196/96, garantindo
os direitos e deveres da comunidade científica, aos participantes da pesquisa e ao Estado.
A pesquisa apresenta risco mínimo, porem o possível risco que a pesquisa poderá
causar, será caso o participante se sinta desconfortável emocionalmente, inseguro ou tenha
o desejo de não fornecer alguma informação solicitada pela pesquisadora. Com vistas a
prevenir possíveis riscos, fica garantido o direito de deixar de responder qualquer pergunta
que julgue por bem assim proceder ou, solicitar que, os dados fornecidos durante a coleta,
não sejam utilizados.
Para participar deste estudo o Sr (a) não terá nenhum custo, nem receberá qualquer
vantagem financeira. Terá o esclarecimento sobre o estudo em qualquer aspecto que
desejar e estará livre para recusar-se a participar. A sua participação é voluntária, e as
entrevistas serão gravadas e arquivadas por um período de 5 (cinco) anos, e a recusa em
participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que é atendido
67

pelo pesquisador, que tratará a sua identidade com padrões profissionais de sigilo, caso isso
não ocorra, é previsto o direito a indenização.
Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu nome ou o
material que indique sua participação não será liberado sem a sua permissão.
O (A) Sr (a) não será identificado em nenhuma publicação que possa resultar.
Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados com o pesquisador
responsável por um período de 5 (cinco) anos, e após esse tempo serão destruídos. Este
termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será
arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra será fornecida ao senhor.

Pesquisador responsável: Prof. Dra. Andreza Maria Neves Manfredini Tobias


Assinatura: ________________________________________
Tel: (12) 99141-3334 – (Em casos de dúvidas ou necessidade poderá entrar em
contato com ligações a cobrar)
E mail: [email protected]

Pesquisador Assistente: Francine Alves Pinto


Assinatura: ___________________________________________
Tel: (12) 98114-2254 (Em casos de dúvidas ou necessidade poderá entrar em contato
com ligações a cobrar)
E-mail: [email protected]

Eu,_____________________________________________________________ portador do
documento de Identidade ______________________________________ fui informado (a)
dos objetivos da pesquisa “CASAIS E DINHEIRO: Como os casais na fase de aquisição
do ciclo vital da família lidam com o dinheiro”, de maneira clara e detalhada e esclareci
minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e
modificar minha decisão de participar se assim o desejar.
Declaro que concordo em participar. Recebi uma cópia deste termo de
consentimento livre e esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer as
minhas dúvidas.

________________, _____ de _____________ de 2020.

_____________________________________________
Assinatura do(a) Participante
68

Anexo III – Termo de Compromisso do Pesquisador Responsável


69

APÊNDICE I
ROTEIRO DE ENTREVISTA

Parte 1:
Participante 1: _______________________________________________________
sexo/genêro:______________ Idade:_______
Participante 2:________________________________________________________
sexo/genêro: _____________ Idade:_______

1- Cidade onde residem?____________________________________

2- Estado?
Estado de origem do casal: Part 1_________________________
Part 2_________________________

3- Tipo de moradia?
( ) Moradia própria ( ) Moradia cedida
( ) Moradia alugada ( ) Moradia com parentes

4- Religião adotada pela família?


( ) Católica ( ) Judaica
( ) Espírita ( ) Sem religião
( ) Evangélica ( ) Outra:_________

5- Tempo de união?_________________________

6- Quem reside na casa atualmente? ____________________________________

7- Tem filhos na relação atual?


( ) Sim ( ) Não Quantos:________________________
Idade dos filhos: _________________________________
70

8- Tem filhos de outra relação?


Part 1 ( ) Sim ( ) Não Quantos:________________________
Part 2 ( ) Sim ( ) Não Quantos:________________________
Idade dos filhos?_____________________________________________

9- Escolaridade do(a) part 1?


( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Médio Completo
( ) Formação técnica ( ) Ensino Superior Incompleto
( ) Ensino Superior Completo ( ) Pós Graduação
( ) Mestrado ( ) Doutorado
( ) Pós Doutorado

10- Escolaridade do(a) part 2?

( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Fundamental Completo


( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Médio Completo
( ) Formação técnica ( ) Ensino Superior Incompleto
( ) Ensino Superior Completo ( ) Pós Graduação
( ) Mestrado ( ) Doutorado
( ) Pós Doutorado

11- Profissão do(a) part 1?


( ) Profissional liberal ( ) Assalariado
( ) Autônomo ( ) Aposentado
( ) Não trabalha
12- Profissão do(a) part 2?
( ) Profissional liberal ( ) Assalariado
( ) Autônomo ( ) Aposentado
( ) Não trabalha

13- Renda familiar?


( ) Até 5 salários ( ) 5 a 9 salários
( ) 10 a 20 salários ( ) 21 a 30 salários ( ) Mais que 31 salários
71

14- Esta renda é mantida por quem?


( ) Somente pelo(a) part 1
( ) Somente pelo(a) part 2
( ) Pelo participante 1 e complementado pela participante 2
( ) Pelo participante 2 e complementado pela participante 1
( ) Por ambos igualmente
( ) complementado pelos filhos
( ) Outro:_______________________________

Parte 2:
ENTREVISTA

1. Vocês realizam planejamento financeiro familiar? Se sim, como é


desenvolvido?
2. Vocês conversam sobre dinheiro entre o casal?
3. Como vocês utilizam o dinheiro no dia a dia?
4. Vocês acham que a família gasta muito e porque? Quais são os principais
gastos hoje?
5. Como vocês lidam com a as dificuldades em relação ao dinheiro? Vocês
conversam entre si quando aparece uma dificuldade financeira?
6. Vocês aprenderam com a família de origem como deve ser a relação com o
dinheiro? Vocês acham que a forma como fazem uso do dinheiro hoje é
influenciada pela família de origem?
7. Vocês acham que o ciclo social que vocês convivem (amigos/familiares)
influencia na forma como vocês usam o dinheiro?
8. Mais alguma questão que gostariam de comentar?

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