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DOI: 10.

1590/S1413-41522017142481

Artigo Técnico

Tendências de mudanças climáticas na


precipitação pluviométrica nas bacias
hidrográficas do estado de Pernambuco
Trends of climate changes in the rainfall in river basins of the state of Pernambuco
Roberto Omena Barbosa da Silva1,
Suzana Maria Gico Lima Montenegro2, Weronica Meira de Souza3

RESUMO ABSTRACT
Diversos estudos têm demonstrado que o aumento da temperatura média do Several studies have shown that the increasing of planet’s average
planeta causa uma intensificação do ciclo hidrológico, o que poderá ocasionar temperature causes an intensification of the hydrological cycle, which may
mudanças nos regimes das chuvas, como o aumento da ocorrência de eventos lead to changes in rainfall regimes, such as increasing of the occurrence of
hidrológicos extremos, alterando fortemente a disponibilidade hídrica de uma extreme hydrological events, modifying the water availability of a region
região e a qualidade de vida da população. A análise da tendência de séries históricas and the quality of life of its population. The trend analysis of time series
de precipitação pluviométrica é uma das maneiras de se inferir a ocorrência de of rainfall is one of the ways to determine the occurrence of local climate
mudança climática local. Nesse contexto, este trabalho objetiva a estimativa da changes. In this context, this work aims to estimate the trend in rates of
tendência dos índices de detecção de mudanças climáticas elaborados pela climate change detection, referring to daily rainfall, defined by World
Organização Meteorológica Mundial (OMM), referentes à precipitação pluvial Meteorological Organization (WMO), using the software RClimDex, and
diária, utilizando o software RClimDex, e a avaliação dessas tendências nas bacias to evaluate the implications of these trends in river basins of the state of
hidrográficas do estado de Pernambuco. Para isso, foram utilizados 75 postos Pernambuco. For this, 75 rain gauge stations uniformly distributed along
pluviométricos distribuídos de forma uniforme pelo estado com séries históricas the state, varying from 1962 to 2011, with about 50 years of data, were
variando de 1962 a 2011, com cerca de 50 anos de dados. Foram observadas used. Several trends in detection rates of climate change in the basins of
tendências em vários índices de detecção de mudanças climáticas nas bacias dos Goiana, Capibaribe, Ipojuca, Sirinhaém, Una, Mundaú, Ipanema, Moxotó,
rios Goiana, Capibaribe, Ipojuca, Sirinhaém, Una, Mundaú, Ipanema, Moxotó, Terra Terra Nova, Brígida, Garças e Pontal were observed. It was concluded
Nova, Brígida, Garças e Pontal. Concluiu-se que existem evidências de mudanças that there is evidence of climate variability for some of its major river
no clima de algumas bacias hidrográficas principais, diagnosticando indícios de basins: it was verified evidence of acceleration in the process of dryness
aceleração no processo de aridez das bacias dos rios Ipanema, Brígida e Garças, of the river basins of Ipanema, Brígida and Garças, and it was observed a
e tendência de aumento dos eventos extremos máximos de precipitação para as higher tendency of occurrence of extreme rainfall events for the basins of
bacias dos rios Mundaú, Sirinhaém e Garças. Mundaú, Sirinhaém and Garças.

Palavras-chave: variabilidade climática; tendência climática; precipitação pluviométrica. Keywords: climate variability; climate tendency; rainfall.

INTRODUÇÃO humanas no globo terrestre, e, principalmente, aos efeitos dos extremos


Ultimamente, a sociedade tem discutido frequentemente sobre as mudanças climáticos que se tor nam mais frequentes, após divulgação dos relatórios
climáticas e suas consequências no meio em que vivemos. Segundo Souza do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2014).
e Azevedo (2009), toda essa preocupação está associada aos impactos Grande parte dos pesquisadores acredita que as alterações climá-
das mudanças climáticas sobre o meio ambiente e as diversas atividades ticas que vêm acontecendo são consequências da atividade antrópica,

1
Mestre em Recursos Hídricos (ênfase em Hidrologia) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE), Brasil. Engenheiro Civil na VALEC Engenharia,
Construções e Ferrovia – Brasília (DF), Brasil.
2
PhD in Civil Engineering pela Newcastle University, Inglaterra. Professora Associada da UFPE – Recife (PE), Brasil.
3
Doutora em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) – Campina Grande (PB), Brasil. Professora permanente da UFPE – Recife (PE), Brasil.
Endereço para correspondência: Roberto Omena Barbosa da Silva – QMSW 5, Lote 10, Bloco B, apto. 111 – Sudoeste – 70680-500, Brasília (DF) – Brasil - [email protected]
Recebido: 05/11/14 – Aceito: 19/07/16 – Reg. ABES: 142481

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Silva, R.O.B,; Montenegro, S.M.G.L.; Souza, W.M.

especificamente do aumento na emissão de Gases do Efeito Estufa (2008), Insaf et al. (2012) e O.Rusz (2012), vêm estimando os índices
(GEE) na atmosfera; outros acreditam que essas alterações climáticas de detecção de mudanças climáticas, também chamados de índices
devem-se à variabilidade climática natural do planeta, colocando em de extremos climáticos, com base em dados de precipitação e tempe-
dúvida as afirmações dos Relatórios de Avaliação do IPCC. Apesar dessas ratura elaborados pela OMM, com o objetivo de avaliar as tendências
incertezas referentes à influência do homem no clima, a grande maio- de variabilidade climáticas em escalas locais.
ria dos pesquisadores tem demonstrado em estudos que nas últimas No Brasil, diversos estudos também têm se baseado na estima-
décadas a atmosfera tem, de fato, sofrido um processo de variabilidade tiva dos índices de detecção de mudanças climáticas da OMM para
climática, com maior tendência de aquecimento. avaliação das mudanças climáticas locais (SANTOS et al., 2006;
O Quinto Relatório Científico do IPCC (IPCC, 2014) apresenta SILVA;DERECZYNSKY, 2010; ALMEIDA et al., 2010). Porém, a maior
evidências de que mudanças do clima podem afetar significativa- parte destes se concentra na região Sul e Sudeste do país, já que essas
mente o planeta, especificamente quanto aos extremos climáticos, regiões apresentam maior quantidade de estações e séries com melhor
e informa que os riscos relacionados aos eventos climáticos extre- qualidade e intervalo de dados.
mos, tais como ondas de calor, precipitação extrema e inundações As análises em escalas locais das tendências de índices de extre-
costeiras, já são de moderado (alta confiança) a alto, com 1ºC de mos climáticos começaram a ser desenvolvidas com mais intensidade
aquecimento adicional. no Nordeste brasileiro, a partir dos estudos de Santos (2006) e Silva
Outros fatores que podem afetar o clima de uma região são o des- et al. (2006). Poucos estudos referentes a índices de extremos climá-
florestamento e o mau uso dos ecossistemas. Esses fatores alteram o ticos foram desenvolvidos para alguns postos ou regiões específicas
clima regional e, assim, contribuem para as alterações no sistema global. do estado de Pernambuco (SOUZA; AZEVEDO, 2009; LACERDA
Em áreas de ecossistemas frágeis e vulneráveis, como o semiárido, as et al., 2009; LACERDA et al., 2010; ASSIS et al., 2011; SOUZA et al.,
mudanças climáticas mais drásticas podem ocorrer por meio da soma 2012; SOUZA & AZEVEDO, 2012; ASSIS et al., 2012). Estima-se que
das ações produzidas pelos GEE com o mau uso e desflorestamento aproximadamente 64% dos municípios do estado e 3,2 milhões de
dos ecossistemas locais (SANTOS, 2006). pessoas residam no semiárido pernambucano (IBGE, 2000, 2010),
A análise da tendência de séries históricas de precipitação é uma onde grande parte da população sofre com problemas de acesso à
das maneiras de se determinar a ocorrência de mudança climática água, e as atividades agrícolas são altamente dependentes da preci-
local, possibilitando a avaliação de suas consequências sobre as bacias pitação, sendo o conhecimento de sua variabilidade de fundamen-
hidrográficas e, consequentemente, sobre a sociedade. Em regiões como tal importância para o planejamento do uso dos recursos hídricos.
o Nordeste do Brasil, principalmente no semiárido, a precipitação é Além disso, cerca de 80% dos habitantes do estado moram em zonas
uma variável determinante das condições do clima local, bem como da urbanas (POPULAÇÃO, 2013). Essas zonas poderão sofrer bastante,
sua variabilidade e mudança em longo prazo (SANTOS et al., 2009). principalmente, com a intensificação de eventos extremos de preci-
Desde o surgimento da questão “mudança climática”, diversos pitação, gerando diversos danos sobre as infraestruturas de drena-
autores vinham propondo diferentes índices e metodologias para a gem urbana das cidades.
detecção e um melhor entendimento das variações climáticas, a fim de Na maioria dos estudos de tendências dos índices de detecção de
que esses índices, padrões, pudessem ser utilizados para identificar as mudanças climáticas desenvolvidos para o estado, as análises das ten-
tendências de mudanças climáticas em regiões com qualquer tipo de dências são baseadas na determinação de um ou poucos índices de
clima. Além disso, a maioria dos estudos de extremos e variabilidades extremos climáticos e utilizam pequenos intervalos de dados das séries
climáticas era desenvolvida para escalas globais. Poucos estudos de históricas. Nota-se, portanto, a necessidade de um estudo para a aná-
clima eram realizados em escala regional ou local. Segundo Sant’anna lise de evidências de variabilidade climática mais abrangente e com
Neto (2010), as escalas globais permitem apenas a generalização dos maior confiabilidade para o estado de Pernambuco, utilizando maior
elementos e processos, as regionais possibilitam a compreensão das quantidade de dados, maiores intervalos das séries históricas, dados
suas formas de organização, que podem ser verificadas de maneira mais atuais, além de uma melhor regionalização das áreas de estudo,
especializada, e mais complexa, nas escalas locais. semelhante aos trabalhos de Souza et al. (2012) e Assis et al. (2012), que
Para melhor definir essa questão, a Organização Meteorológica estimaram e avaliaram índices de detecção de mudanças climáticas nas
Mundial (OMM) criou um grupo de trabalho que elaborou índices de bacias do rios Sirinhaém e Capibaribe, respectivamente, apresentando
detecção de mudanças climáticas. Ao todo, foram definidos 27 índi- estudos de variabilidade climática bastante criteriosos para o estado.
ces de detecção de mudanças climáticas, dos quais 11 são decorren- Ambos apresentam uma bacia hidrográfica como região de estudo,
tes da precipitação e 16 da temperatura do ar (SANTOS et al., 2006). embora tenham contemplado apenas 2 das 29 bacias (Unidades de
Desde então, pesquisadores de diversos países, como Toreti & Desiato Planejamento - UP) do estado. Segundo o Plano Estadual de Recursos

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Mudanças climáticas na precipitação pluviométrica em Pernambuco

Hídricos do Estado de Pernambuco (PERH/PE, 1998), a divisão hidro- Seleção dos dados
gráfica através de bacias ou Unidades de Planejamento é a que oferece Para a realização deste estudo, foram selecionados 75 postos com dados
melhores condições para a avaliação das potencialidades, disponibili- diários de precipitação pluviométrica, referentes ao período de 1962
dades e o aproveitamento dos recursos hídricos de uma região. Além a 2001, distribuídos ao longo das bacias hidrográficas de Pernambuco
disso, as duas pesquisas utilizaram intervalo de dados consideráveis (Figura 2). Dentre as 29 UP, 8 não apresentaram postos de acordo com
(aproximadamente 45 anos de dados até o ano de 2008) e estimaram o intervalo de dados considerado (1962 a 2011), sendo elas: Pontal,
diversos índices climáticos em suas análises. GI2, GI7, GI9, GL2, GL5, GL6 e uma bacia de pequenos rios que com-
Nesse contexto, este estudo teve a finalidade de analisar as ten- põem a rede de drenagem do arquipélago de Fernando de Noronha.
dências climáticas de índices de precipitação pluviométrica nas prin- Dentre essas, apenas a bacia do riacho do Pontal faz parte do grupo
cipais bacias hidrográficas do estado de Pernambuco, possibilitando das 13 principais bacias hidrográficas do estado; o restante compõe
mais conhecimento climático da área em escala local e estimulando o o grupo de bacias de pequenos rios litorâneos e interioranos. Com o
desenvolvimento de pesquisas e políticas de mitigação das consequên- objetivo de que todas as bacias principais fossem abarcadas no estudo,
cias das mudanças climáticas para o estado, suas principais bacias, e, o intervalo de dados foi considerado reduzido apenas para a UP Pontal.
consequentemente, para sua população. Assim, todas as bacias principais do estado foram representadas por
no mínimo um posto pluviométrico.
Esses dados foram obtidos com o Instituto de Tecnologia de
METODOLOGIA Pernambuco (ITEP), o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e
a Agência Nacional de Águas (ANA), de um total de cerca de 560 pos-
Área de estudo tos pluviométricos distribuídos pelo estado de Pernambuco.
O Estado divide-se em 29 UP (Figura 1), sendo 13 correspondentes a Ressalta-se que o intervalo de dados pluviométricos utilizado con-
bacias hidrográficas importantes: Goiana, Capibaribe, Ipojuca, Sirinhaém, templa 50 anos, com informações entre os anos de 1962 e 2011, já que,
Una, Mundaú, Ipanema, Moxotó, Pajeú, Terra Nova, Brígida, Garças e de acordo com OMM, o clima de uma região deve ser caracterizado
Pontal, e 16 constituídas por grupos de bacias, 6 das quais de pequenos com base no período mínimo de 30 anos de dados e apresentar o maior
rios litorâneos (GL1 a GL6), 9 de pequenos rios interiores (GI1 a GI9) período de dados das séries, pois quanto maior for esse período, maior
e 1 de pequenos rios que compõem a rede de drenagem do arquipélago será a confiabilidade da caracterização climática delas. Isso resultou
de Fernando de Noronha (PERH-PE, 1998). na seleção de 75 postos pluviométricos espalhados pelo estado. Esses

FERNANDO DE NORONHA

CEARÁ
GL-9 GL-6
PARAÍBA
PARAÍBA

PIAUÍ

BAHIA O
CISC BAHIA GL-5
AN GI-2 ALAGOAS
FR
O BARRAGEM DE ALAGOAS

ITAPARICA
RIO BARRAGEM DE
PAULO AFONSO 1 – Goiana 6 – Mundaú 10 – Terra Nova
BARRAGEM DE 2 – Capibaribe 7 – Ipanema 11 – Brigída
SOBRADINHO 3 – Ipojuca 8- Moxotó 12 – Garça
4 – Sirinhaém 9 – Pajeú 13 – Pontal
5 – Una
GL – Grupo de Bacias de pequenos rios litorâneos
GI – Grupo de Bacias de pequenos rios interiores

Figura 1 – Unidades de planejamento hídrico do estado de Pernambuco. Fonte: Adaptado da Série Bacias Hidrográficas de Pernambuco: Rio Ipojuca
(AGÊNCIA CONDEPE/FIDEM, 2005).

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Silva, R.O.B,; Montenegro, S.M.G.L.; Souza, W.M.

postos, além de apresentarem séries históricas longas suficientes para Climáticas (ETCCDMI) do Programa Internacional de Pesquisa em
serem classificados quanto à variabilidade climática, são distribuídos Previsão da Variabilidade Climática (CCI/CLIVAR). Porém, como o
de forma uniforme pelo Estado. estudo baseia-se na variável meteorológica “precipitação pluvial”, foram
calculados apenas os índices que dependem dessa variável. Na Tabela 1,
Determinação das tendências dos índices de detecção estão apresentados os índices climáticos derivados da precipitação plu-
de mudanças climáticas referentes à precipitação vial, gerados pelo software, que foram utilizados para o presente trabalho.
Para a determinação dos índices de detecção de mudanças climáticas Para o cálculo dos índices supramencionados, o Manual do Usuário
referentes à precipitação pluvial dos postos selecionados no estado de do RClimDex (1.0) (ZHANG;YANG, 2004) estabelece alguns critérios:
Pernambuco, foi utilizado o software RClimdex. 1. os índices mensais são calculados se em um mês não existirem
O RClimdex calcula 27 índices climáticos básicos derivados da preci- mais de três dias faltosos,
pitação (11 índices) e temperatura (16 índices) recomendados pela Equipe 2. os valores anuais são calculados se em um ano não existirem mais
de Especialistas em Detecção, Monitoramento e Índices de Mudanças de 15 dias faltosos,

41°W 40°W 39°W 38°W 37°W 36°W 35°W

7°S 7°S

8°S 8°S

9°S 9°S

41°W 40°W 39°W 38°W 37°W 36°W 35°W

Figura 2 – Distribuição espacial dos 75 postos selecionados no mapa da divisão hidrográfica do estado de Pernambuco.

Tabela 1 – Índices climáticos dependentes da precipitação pluviométrica diária, temperaturas máxima e mínima com suas definições e unidades.
ID Nome do indicador Definição Unidade
PRCPTOT Precipitação total anual nos dias úmidos Precipitação total anual nos dias úmidos (RR≥1 mm) mm
SDII Índice simples de intensidade diária Precipitação total anual dividida pelo número de dias úmidos mm/dia
DCS Dias consecutivos secos Número máximo de dias consecutivos com RR<1 mm dias
DCU Dias consecutivos úmidos Número máximo de dias consecutivos com RR≥1 mm dias
Rx1day Quantidade máxima de precipitação em um dia Máximo anual de precipitação em um dia mm
Rx5day Quantidade máxima de precipitação em cinco dias Máximo anual de precipitação em cinco dias consecutivos mm
R10 Precipitação de um dia superior a 10 mm Número de dias no ano com precipitação>=10 mm dias
R20 Precipitação de um dia superior a 20 mm Número de dias no ano com precipitação >=20 mm dias
Número de dias com precipitação acima de Número de dias em um ano em que a precipitação foi
Rnn dias
nnmm, definido pelo usuário ≥nnmm, definido pelo usuário
R95p Dias muito úmidos Precipitação anual total em que RR>95 percentil mm
R99p Dias extremamente úmidos Precipitação anual total em que RR>99 percentil mm

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Mudanças climáticas na precipitação pluviométrica em Pernambuco

3. não será calculado um valor anual se qualquer mês de dados esti- se tenha maior confiabilidade na obtenção dos índices e consequente-
ver faltando, e mente melhor interpretação dos resultados. Além disso, as bacias dos
4. para os indicadores de duração de temporada, uma temporada rios Ipojuca e Pontal, que apresentaram uma pequena quantidade de
pode continuar no ano seguinte e esta é contada no ano em que a postos selecionados (2), foram analisadas no estudo, porém o ideal é
temporada termina. que se tenha uma grande quantidade de postos e que estes se encon-
trem bem distribuídos na bacia, com séries históricas longas que tragam
Os dados de precipitação pluvial diária dos postos selecionados maior representatividade e confiabilidade à caracterização climática dela.
para o estudo tiveram que ser organizados de acordo com o formato A Tabela 3 apresenta um resumo do percentual das quantidades de
de entrada de dados-padrão do software. O RClimDex inclui somente postos cujas tendências dos índices de detecção de mudanças climáticas
um procedimento simples de controle de qualidade dos dados que foi derivados de precipitação pluviométrica diária apresentaram alguma
proporcionado pelo ClimDex: significância estatística por unidade de planejamento. De acordo com
1. substitui todos os dados faltosos (codificados como -99.9) em um esses resultados, foram elaboradas algumas análises sobre o compor-
formato interno reconhecido pelo R e tamento climático e suas consequências sobre as bacias hidrográficas
2. substitui todos os valores não aceitáveis por -99.9, por exemplo, principais do estado de Pernambuco. Nas análises apresentadas na
precipitações diárias menores que zero. continuação, foram consideradas relevantes as tendências dos índices
em que pelo menos 25% dos postos apresentaram alguma tendência
Esse procedimento busca oferecer maior qualidade aos índices gera- significativa na bacia.
dos. Para que isso ocorra, é necessário que os dados de precipitação Os resultados mostraram uma tendência na diminuição da preci-
pluvial diária dos postos selecionados sejam homogêneos, ou seja, que pitação total anual nas bacias hidrográficas dos rios Brígida, Garças,
apresentem somente variações nos seus valores devido às mudanças do Goiana, Ipanema e Sirinhaém, nas quais 40,0, 25,0, 25,0, 33,3 e 50,0%
clima (precipitação), estando livre de variações não relacionadas com o dos índices apresentaram alguma tendência significativa, respecti-
clima. A verificação dessa homogeneização foi realizada através de uma vamente. Assis et al. (2012) e Souza et al. (2012) também encontra-
análise visual dos dados de todos os postos pluviométricos utilizados ram tendências negativas de precipitação total anual nos dias úmidos
no estudo, na qual se verificou a ausência de discrepâncias nos dados. (PRCPTOT) para bacias dos rios Brígida e Sirinhaém, respectivamente.
Neste trabalho, foram consideradas como possíveis alterações Em contrapartida, considerando a variabilidade espacial do NEB,
climáticas as situações em que o índice apresentou tendência linear Silva et al. (2006) observaram uma sensível tendência de aumento na
(positiva ou negativa) com boa significância estatística (p≤0,1) e PRCPTOT para os municípios de Irecê e Feira de Santana, localizados
alta significância estatística (p≤0,05), sendo ele obtido pelo próprio na Bahia. Da mesma forma, os estudos de Santos et al. (2009) eviden-
­software através do teste t de Student. A última versão da plataforma ciaram aumento do mesmo índice no estado do Ceará.
“R” (2.14.1) pode ser obtida através do website http://www.r-project.org As bacias dos rios Garças (25,0%), Goiana (50,0%), Ipanema
e o pacote “RClimDex”, que também é gratuito, pode ser obtido pelo (50,0%), Ipojuca (50,0%) e Mundaú (33,3%) apresentaram tendên-
website http://cccma.seos.uvic.ca/ETCCDMI/RClimDex/rclimdex.r. cia de aumento do índice “dias consecutivos secos” (CDD). As bacias
Nesse último também pode se adquirir o tutorial do software, o qual dos rios Moxotó (50,0%), Mundaú (33,3%), Sirinhaém (50,0%) e Una
apresenta informações referentes ao formato de entrada dos dados, (28,6%) apresentaram tendência positiva do índice “dias consecutivos
controle de qualidade, entre outras. úmidos” (CWD), enquanto as bacias dos rios Garças (50,0%), Ipojuca
(50,0%) e Pontal (50,0%) apresentaram tendência negativa. Tendências
positivas de CWD também foram verificadas por Souza et al. (2012)
RESULTADOS E DISCUSSÃO para a bacia do rio Sirinhaém. Os índices de CDD e CWD das bacias
Os valores das tendências dos índices de detecção de mudanças cli- dos rios Garças e Ipojuca apresentam tendências coerentes: enquanto
máticas para os 75 postos selecionados e distribuídos no estado de há um aumento no número de dias consecutivos secos, há uma dimi-
Pernambuco estão listados na Tabela 2. nuição no número de dias consecutivos úmidos, evidenciando-se nes-
É importante ressaltar que, mesmo com a distribuição espacial tas um aumento no número de dias secos.
uniforme de postos pluviométricos no estado de Pernambuco e com Observou-se tendência de diminuição do índice “simples de inten-
a utilização das séries mais recentes, verificou-se que diversos postos sidade diária” (SDII) nas bacias dos rios Brígida (40,0%), Capibaribe
apresentavam períodos de ausência de dados diários, consequência da (36,4%), Goiana (25,0%), Ipojuca (50,0%), Moxotó (50,0%), Sirinhaém
inutilização dos pluviômetros e perca de dados, por exemplo. O ideal é (75,0%) e Una (42,9%). Observa-se que as bacias dos rios Brígida,
que as séries apresentem a maior quantidade de dados possível, para que Goiana e Sirinhaém apresentaram configuração semelhante no tocante

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Silva, R.O.B,; Montenegro, S.M.G.L.; Souza, W.M.

Tabela 2 – Tendências dos índices climáticos extremos dependentes da precipitação pluviométrica para o estado de Pernambuco. Os índices
negritados apresentam boa significância estatística (p<0,1) e os índices negritados e realçados apresentam ótima significância estatística (p<0,05).

Bacia Código Nome do posto LAT LON Rx1day Rx5day SDII R10mm R20mm R50mm R100mm CDD CWD R95p R99p PRCPTOT

2 Araripina (IPA) -7,46 -40,42 0,177 -0,355 -0,122 -0,112 -0,074 -0,017 -0,006 -0,151 0,027 -1,038 -0,691 -2,308

50 Bodocó -7,78 -39,94 0,126 0,917 0,091 0,029 0,024 0,009 0,004 0,764 -0,011 0,543 0,546 1,401
Brígida

81 Moreilândia -7,61 -39,55 -0,378 -0,433 0,051 -0,096 0,016 -0,017 -0,004 0,524 -0,024 -1,189 -1,087 -3,675

84 Ipubi -7,65 -40,15 -0,342 -0,676 -0,140 -0,281 -0,108 -0,080 -0,014 -0,274 0,091 -3,603 -0,355 -6,551

172 Parnamirim -8,09 -39,58 -0,358 -0,708 -0,159 -0,187 -0,098 -0,034 -0,002 -0,738 0,037 -2,496 -0,249 -4,158

26 Vitória de Santo Antão(IPA) -8,13 -35,30 -0,116 -0,102 -0,016 -0,094 -0,006 0,000 -0,005 -0,172 -0,014 0,344 0,301 -0,931

70 Toritama -8,01 -36,06 -0,295 -0,657 -0,179 -0,051 -0,075 -0,032 -0,004 -0,012 0,024 -1,403 0,307 -1,242

72 Taquaritinga do Norte -7,90 -36,04 0,198 0,006 -0,073 -0,390 -0,104 0,017 0,003 -0,169 -0,011 2,898 0,332 -3,387

86 Santa Cruz do Capibaribe -7,95 -36,20 0,008 0,032 -0,175 -0,211 -0,117 -0,012 -0,001 -0,853 0,046 -1,892 -0,596 -3,787

Carpina (Est. Exp. de}


95 -7,85 -35,24 0,162 0,240 -0,063 -0,099 -0,006 0,026 0,003 -0,069 0,043 1,481 -0,001 0,815
Cana-de-Açúcar)
Capibaribe

129 São Lourenço da Mata -8,00 -35,04 0,257 0,422 -0,008 -0,042 0,120 0,061 -0,015 0,274 -0,037 4,201 0,225 3,432

203 Surubim -7,84 -35,76 -0,441 -0,561 0,048 -0,003 -0,015 -0,015 -0,004 1,033 -0,035 -1,142 -1,191 -3,261

Frei Miguelinho (Algodão do


218 -7,93 -35,85 -0,325 -0,450 -0,007 -0,045 0,011 -0,002 -0,002 0,033 0,007 -0,222 -0,298 -1,078
Manso)

São Lourenço da Mata


267 -8,04 -35,17 0,402 1,717 -0,015 0,194 0,130 -0,008 -0,002 -0,405 0,016 -0,140 0,049 7,643
(Bar.Tapacurá)

82797 Surubim (INMET) -7,83 -35,71 -0,876 -1,338 -0,089 -0,127 -0,107 -0,026 -0,005 -0,281 0,017 -3,716 -2,199 -3,860

834007 Recife (Curado) -8,05 -34,92 -0,365 -0,376 -0,032 -0,078 -0,065 -0,014 0,005 -0,141 0,002 -1,155 -0,209 -2,863

88 Santa Filomena -8,16 -40,61 -0,198 0,309 -0,047 0,042 0,029 -0,011 -0,008 -0,692 0,021 -1,342 -1,412 0,117

164 Santa Cruz da Venerada -8,24 -40,34 0,658 0,931 -0,137 -0,223 -0,187 0,024 0,006 0,450 0,083 2,346 0,918 -3,269
Garças

167 Dormentes (Lagoas) -8,51 -40,41 0,591 0,999 0,389 -0,086 -0,009 0,042 0,008 1,108 -0,027 1,953 0,742 -1,498

Santa Filomena
260 -8,34 -40,57 -0,023 0,065 0,332 -0,159 -0,056 0,017 -0,004 2,086 -0,091 0,807 -0,086 -5,124
(Campo Santo)

GI-1 17 Bom Conselho -9,17 -36,69 -0,126 -0,118 -0,048 -0,050 -0,023 0,010 -0,003 0,666 -0,012 0,930 0,336 0,350

GI-3 49 Petrolândia -8,97 -38,22 -0,456 -0,311 -0,079 -0,204 -0,103 -0,024 -0,002 1,287 0,012 -2,451 -0,847 -6,758

GI-4 9 Belém de São Francisco (IPA) -8,76 -38,98 -0,083 0,066 -0,006 -0,081 -0,073 -0,019 -0,002 -0,198 -0,003 -0,836 -0,244 -3,279

GI-5 82886 Cabrobo (INMET) -8,51 -39,33 -0,735 -0,052 -0,029 -0,033 -0,071 -0,026 -0,021 0,728 0,090 -2,034 -2,562 -4,378

Santa Maria da Boa Vista


GI-6 242 -8,42 -39,95 0,082 -0,457 -0,063 -0,153 -0,109 0,005 0,001 -0,651 0,012 0,462 0,418 -3,233
(Urimamã)

GI-8 4 Petrolina -9,39 -40,48 -0,698 -0,639 -0,086 -0,117 -0,066 -0,030 -0,010 -0,248 -0,009 -2,947 -1,342 -5,008

GL-1 100 Igarassu -7,83 -34,92 -0,087 -1,519 -0,066 -0,494 -0,207 -0,032 -0,019 0,207 0,072 -4,407 -2,684 -14,173

Ipojuca
GL-3 29 -8,51 -35,01 -0,441 -0,366 -0,055 -0,200 -0,140 -0,091 -0,042 0,022 0,010 -6,961 -4,729 -9,560
(Porto de Galinhas_IPA)

GL-4 510 Tamandaré -8,77 -35,31 0,957 2,306 -0,173 0,058 -0,116 0,000 0,031 -0,309 0,236 4,128 4,310 5,964

27 Itambé (IPA) -7,41 -35,18 0,098 -0,050 -0,052 -0,112 -0,076 -0,011 0,009 0,013 0,051 -1,315 -0,438 -2,574

97 Nazaré da Mata -7,74 -35,22 0,453 0,221 -0,056 -0,439 -0,144 0,032 0,004 0,058 -0,037 2,914 1,128 -5,987
Goiana

99 Timbaúba -7,51 -35,31 -0,211 0,238 0,031 -0,104 -0,013 -0,030 -0,002 0,701 -0,028 -0,679 -0,421 -4,960

139 Bom Jardim -7,80 -35,57 -0,347 0,074 0,006 -0,271 -0,079 0,001 -0,002 0,612 -0,023 -0,579 -0,339 -6,895

18 Pesqueira -8,35 -36,70 0,433 1,075 -0,028 -0,247 -0,079 0,020 0,012 0,664 0,005 2,218 0,523 -3,778

78 Aguas Belas -9,11 -37,12 0,043 0,399 0,019 -0,084 -0,015 -0,006 0,008 0,917 -0,024 0,564 0,154 -1,916
Ipanema

150 Pedra -8,50 -36,95 -0,309 -0,303 0,030 -0,132 -0,024 -0,015 -0,009 0,327 -0,052 -1,719 -0,994 -4,621

207 Iati -9,04 -36,84 -0,215 -0,212 -0,125 -0,135 -0,059 -0,004 -0,003 0,037 0,051 0,546 -0,221 -0,562

208 Pedra (São Pedro do Cordeiro) -8,86 -36,94 0,642 0,923 -0,029 0,062 0,004 0,001 0,008 -0,307 0,037 0,883 2,221 2,464

82892 Pesqueira (INMET) -8,40 -36,76 -0,721 -0,421 -0,024 -0,175 -0,091 -0,011 -0,005 0,625 -0,069 -1,662 -1,001 -5,323

Continua...

584 Eng Sanit Ambient | v.22 n.3 | maio/jun 2017 | 579-589


Mudanças climáticas na precipitação pluviométrica em Pernambuco

Tabela 2 – Continuação.

Bacia Código Nome do posto LAT LON Rx1day Rx5day SDII R10mm R20mm R50mm R100mm CDD CWD R95p R99p PRCPTOT

20 Belo Jardim -8,34 -36,43 -0,086 -0,866 -0,026 -0,147 -0,030 -0,015 -0,001 0,432 -0,050 -1,164 -0,734 -4,170
Ipojuca

24 Caruaru (IPA) -8,24 -35,92 -0,282 -0,003 -0,034 -0,093 0,007 -0,003 -0,001 -0,238 -0,004 0,017 -0,207 -0,602

16 Arcoverde (IPA) -8,43 -37,06 0,144 0,165 -0,023 0,025 -0,002 0,008 0,003 0,005 0,000 -0,133 0,234 1,239

33 Inajá(CHESF) -8,90 -37,82 -0,251 -0,504 -0,056 -0,012 -0,053 -0,002 -0,001 0,337 0,046 -0,187 -0,339 -0,532

77 Tacaratu (Sítio Gameleira) -9,11 -38,15 -0,256 0,042 -0,092 -0,080 -0,103 -0,015 -0,004 0,446 0,070 -1,423 0,313 -2,511
Moxotó

143 Sertânia (Moderna) -8,43 -37,42 0,140 -0,140 -0,201 -0,056 0,009 -0,021 0,007 -0,180 0,058 -0,435 -0,026 1,275

256 Sertânia (Rio da Barra) -8,13 -37,47 -0,744 0,384 -0,004 -0,006 -0,033 -0,020 -0,035 0,686 0,039 -3,078 -4,641 -3,287

468 Ibimirim (Poço da Cruz) -8,51 -37,71 -0,303 -0,036 -0,021 0,036 0,053 -0,008 0,001 0,177 0,032 -0,995 -1,059 0,439

22 Correntes -9,13 -36,33 -0,447 -0,921 -0,043 -0,041 -0,071 -0,019 -0,005 0,364 0,082 -1,670 0,087 -1,405
Mundaú

53 Canhotinho -8,88 -36,19 0,444 1,209 0,024 0,118 0,065 0,028 0,005 0,768 0,099 3,923 2,030 4,805

19 Garanhuns -8,88 -36,49 0,180 -0,319 0,023 0,108 0,043 0,008 0,005 0,035 -0,049 1,897 1,244 3,357

12 Serra Talhada (IPA) -7,93 -38,29 -0,039 -0,320 0,000 -0,145 -0,093 -0,016 -0,002 0,190 0,015 -1,228 -0,152 -5,328

13 Serra Talhada -7,99 -38,29 -0,126 0,188 -0,031 -0,090 -0,022 -0,031 -0,001 0,178 0,088 -1,384 0,139 -2,138

São José do Egito (Faz.


92 -7,44 -37,28 0,302 0,184 0,081 -0,036 -0,020 0,021 0,000 0,022 0,016 1,181 0,159 0,314
Muquém)
Pajeú

93 Betânia -8,27 -38,03 -0,335 -1,059 0,024 -0,101 -0,034 -0,004 -0,005 0,889 -0,004 -0,530 -0,512 -3,496

155 Itapetim -7,38 -37,20 0,061 0,265 0,036 -0,124 -0,030 0,026 -0,005 0,570 0,008 0,702 -0,485 -1,550

182 Triunfo -7,84 -38,11 -0,407 -0,442 0,046 -0,078 -0,025 -0,013 -0,009 0,775 -0,041 -1,343 -0,848 -3,226

82789 Triunfo (INMET) -7,81 -38,11 -0,259 -0,243 -0,050 -0,210 -0,152 -0,036 -0,006 0,026 0,024 -1,731 -1,571 -5,739

103 Cortês -8,50 -35,51 -0,127 0,135 -0,300 -0,477 -0,375 -0,061 -0,005 -0,383 0,142 -4,095 -1,385 -8,632
Sirinhaém

109 Ribeirão (Fazenda Capri) -8,51 -35,38 1,081 1,702 0,084 -0,189 -0,099 0,081 0,023 0,281 -0,041 6,833 5,401 -0,315

111 Sirinhaém -8,62 -35,12 -0,675 -2,220 -0,416 -0,903 -0,981 -0,296 -0,117 0,402 -0,017 -23,206 -5,495 -43,286

393 Gameleira -8,58 -35,39 0,177 0,552 -0,183 -0,240 -0,196 -0,047 0,009 -0,261 0,193 -1,321 0,232 -3,222

8 Salgueiro -8,07 -39,13 -0,068 -0,593 -0,056 -0,179 -0,054 0,000 0,000 -0,010 -0,012 -0,277 0,116 -3,261

82 Cedro -7,72 -39,24 -0,150 -0,323 0,116 -0,175 -0,014 -0,001 0,004 1,502 -0,026 -0,380 -0,230 -4,729
Terra Nova

180 Serrita -7,94 -39,29 0,255 -0,072 -0,040 -0,089 -0,067 0,008 0,000 0,831 0,015 0,827 1,203 -1,912

190 Serrita (Santa Rosa) -7,82 -39,15 -0,241 -1,028 -0,315 -0,033 -0,073 -0,040 -0,005 -2,317 0,022 -2,187 0,003 -1,104

226 Salgueiro (Açude Boa Vista) -8,10 -39,09 0,376 -0,197 0,021 -0,112 -0,038 0,005 0,004 0,271 -0,014 0,268 0,002 -2,477

21 São Bento do Una (IPA) -8,53 -36,46 -0,182 0,011 -0,015 0,022 -0,009 0,012 -0,004 0,042 -0,017 1,568 0,455 1,693

25 Palmares -8,68 -35,58 -0,104 0,600 -0,058 -0,246 -0,119 -0,007 0,001 0,354 0,005 -1,497 -1,116 -5,639

106 Barreiros -8,81 -35,19 1,499 2,975 0,013 -0,536 -0,307 0,083 0,018 0,332 -0,102 8,380 3,576 -5,327
Una

114 Sanharó -8,36 -36,57 0,059 0,280 0,002 -0,018 -0,002 0,010 0,002 0,302 0,036 1,082 0,118 -0,406

125 Cachoeirinha -8,48 -36,24 0,211 0,557 -0,132 0,012 0,038 0,011 0,011 -0,347 0,086 1,142 1,629 4,491

157 Jucati -8,71 -36,49 -0,428 -0,582 -0,161 -0,244 -0,100 -0,021 -0,002 -0,034 0,169 -1,279 -0,029 -3,578

284 Catende (Usina Catende) -8,67 -35,58 -0,271 -0,253 0,013 -0,102 0,004 0,019 0,003 -0,062 0,022 1,369 1,677 -1,453

159 Dormentes -8,45 -40,77 0,348 0,058 -0,040 -0,226 -0,173 -0,033 0,004 0,735 -0,007 -1,456 0,614 -5,255
Pontal

161 Petrolina (Rajada) -8,81 -40,83 -0,167 -0,493 0,191 -0,191 -0,058 -0,030 0,006 1,381 -0,058 0,377 0,605 -5,952

LAT: latitude, LON: longitude; PRCPOT: precipitação total anual nos dias úmidos, CDD: dias consecutivos secos, CWD: dias consecutivos úmidos, SDII: índice simples de
intensidade diária, R10: número de dias com precipitação intensa,
R20: número de dias com precipitação muito intensa, R50: número de dias com precipitação acima de 50 mm, R100: número de dias com precipitação acima de
100 mm, Rx1day: quantidade máxima de precipitação em um dia, Rx5day: quantidade máxima de precipitação em cinco dias, R95p: dias muito úmidos, R99p: dias
extremamente úmidos.

Eng Sanit Ambient | v.22 n.3 | maio/jun 2017 | 579-589 585


Silva, R.O.B,; Montenegro, S.M.G.L.; Souza, W.M.

ao índice PRCPTOT, confirmando a informação de diminuição da pre- et al. (2012) e Souza et al. (2012) para as bacias dos rios Capibaribe e
cipitação total anual nos dias de chuva nessas unidades (quanto menor Sirinhaém, respectivamente.
a precipitação total anual menor o índice SDII). Apenas a bacia do rio As bacias dos rios Garças (50,0%) e Mundaú (33,3%) apresen-
Garças apresentou tendência de aumento do SDII (50,0%). taram tendência de aumento do índice “número de dias com preci-
Foi verificada uma diminuição no número de dias com precipita- pitação acima de 50 mm” (R50), enquanto as bacias do rio Brígida
ção superior a 10 mm nas bacias dos rios Brígida (40,0%), Capibaribe (40,0%) e Sirinhaém (50,0%) apresentaram tendência de diminuição.
(27,3%), Garças (50,0%), Goiana (50,0%), Ipanema (33,3%), Sirinhaém Quanto ao índice “número de dias com precipitação acima de 100 mm”
(50,0%), Terra Nova (40,0%), Una (28,6%) e Pontal (50,0%). (R100), foi verificada uma tendência de aumento apenas na bacia do
Também foi verificada a diminuição de eventos de chuva no ano rio Ipanema (50%).
com precipitação superior a 20 mm nas bacias dos rios Garças (25,0%), A bacia do rio Garças apresentou tendência positiva para os índices
Moxotó (33,3%), Sirinhaém (50,0%), Una (28,6%) e Pontal (50,0%). “quantidade máxima de precipitação em um dia” (Rx1day) (50,0%) e
As tendências de diminuição dos índices SDII e “número de dias “quantidade máxima de precipitação em cinco dias” (Rx5day) (50,0%),
com precipitação intensa” (R10) concordam com os estudos de Assis e as bacias dos rios Mundaú (33,3%) e Sirinhaém (25,0%) apenas para

Tabela 3 – Percentual (%) das quantidades de postos cujas tendências dos índices de detecção de mudanças climáticas de precipitação apresentam
a tendência da significância estatística por bacia hidrográfica. ↓ indica tendência de diminuição e ↑ indica tendência de aumento.
Bacia Principal

Capibaribe

Terra Nova
Sirinhaém

Ipanema
Mundaú

Moxotó
Ipojuca

Brígida
Goiana

Garças

Pontal
Pajeú
Una

Índice

Tend. ↓ – – ↓ – – ↓ – – – ↓ ↓ –
PRCPTOT
% 25,0 – – 50,0 – – 33,3 – – – 40,0 25,0 –
Tend. ↑ – ↑ – – ↑ ↑ – – – – ↑ –
CDD
% 50,0 – 50,0 – – 33,3 50,0 – – – – 25,0 –
Tend. – – ↓ ↑ ↑ ↑ – ↑ – – – ↓ ↓
CWD
% – – 50,0 50,0 28,6 33,3 – 50,0 – – – 50,0 50,0
Tend. ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ – – ↓ – – ↓ ↑ –
SDII
% 25,0 36,4 50,0 75,0 42,9 – – 50,0 – – 40,0 50,0 –
Tend. ↓ ↓ – ↓ ↓ – ↓ – – ↓ ↓ ↓ ↓
R10mm
% 50,0 27,3 – 50,0 28,6 – 33,3 – – 40,0 40,0 50,0 50,0
Tend. – – – ↓ ↓ – – ↓ – – – ↓ ↓
R20mm
% – – – 50,0 28,6 – – 33,3 – – – 25,0 50,0
Tend. – – – ↓ – ↑ – – – – ↓ ↑ –
R50mm
% – – – 50,0 – 33,3 – – – – 40,0 50,0 –
Tend. – – – – – – ↑ – – – – – –
R100mm
% – – – – – – 50,0 – – – – – –
Tend. – – – ↑ – ↑ – – – – – ↑ –
Rx1day
% – – – 25,0 – 33,3 – – – – – 50,0 –
Tend. – – – – – – – – – – – ↑ –
Rx5day
% – – – – – – – – – – – 50,0 –
Tend. – – – – – ↑ – – – – ↓ ↑ –
R95p
% – – – – – 33,3 – – – – 40,0 50,0 –
Tend. – – – ↑ – ↑ – – – – – – –
R99p
% – – – 25,0 – 33,3 – – – – – – –
PRCPOT: precipitação total anual nos dias úmidos, CDD: dias consecutivos secos, CWD: dias consecutivos úmidos, SDII: índice simples de intensidade diária, R10: número de
dias com precipitação intensa, R20: número de dias com precipitação muito intensa, R50: número de dias com precipitação acima de 50 mm, R100: número de dias com
precipitação acima de 100 mm, Rx1day: quantidade máxima de precipitação em um dia, Rx5day: quantidade máxima de precipitação em cinco dias, R95p: dias muito úmidos,
R99p: dias extremamente úmidos.

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Mudanças climáticas na precipitação pluviométrica em Pernambuco

o índice Rx1day. Verificou-se tendência do aumento do índice “dias estão associados a eventos extremos de chuva e maior quantidade de
muito úmidos” (R95p) para as bacias dos rios Garças (50,0%) e Mundaú chuva acumulada em um dia (ou cinco dias).
(33,3%), já para a bacia do rio Brígida (40,0%) foi observada uma ten- Em junho de 2010, as bacias dos rios Sirinhaém, Una e Mundaú, as
dência de diminuição no índice. Quanto ao índice “dias extremamente quais apresentam um histórico de cheias, sofreram com fortes enchen-
úmidos” (R99), observou-se tendência positiva para as bacias dos rios tes, provocando mortes, inundações e destruição de grandes propor-
Mundaú (33,3%) e Sirinhaém (25,0%). ções (JÚNIOR et al., 2010). Estima-se que, no estado de Pernambuco,
Santos et al. (2009) evidenciaram tendência de aumento dos 68 municípios foram atingidos, ficando 9 deles em estado de calami-
índices R50, R95p e Rx5day em postos do estado do Ceará. Já Silva dade pública e 33 em situação de emergência, com 4.136 casas destruí-
e Dereczynsky (2010) observaram tendência positiva para o índice das ou danificadas, 20 indivíduos mortos, quase 27 mil desabrigados
Rx1day para o município de Rio de Janeiro. e 56 mil desalojados (ITEP/OS, 2011).
De acordo com esses resultados, foram observadas algumas evi- Eventos como os ocorridos em junho de 2010 nas bacias dos rios
dências de mudanças locais no comportamento da precipitação plu- Sirinhaém, Una e Mundaú poderão tornar-se mais frequentes e rigo-
viométrica nas bacias hidrográficas do estado de Pernambuco: rosos – gerando, assim, mais danos sociais e econômicos ao estado –,
A bacia do rio Goiana (UP 01) apresenta tendência de diminuição segundo as tendências supracitadas de aumento no número de dias
da precipitação total anual, da intensidade diária média de precipita- consecutivos úmidos (verificado nas três bacias), dentre outras, asso-
ção e de eventos moderados, e tendência de aumento do número de ciadas às características dessas bacias, como solo raso e de baixa capa-
dias consecutivos secos. cidade de armazenamento, altas declividades, ocupação irregular das
Foram observadas tendências de diminuição da intensidade diá- planícies de inundação (JÚNIOR et al., 2010).
ria média de precipitação e de chuvas moderadas na bacia do rio Foi verificada uma diminuição da precipitação total anual, com
Capibaribe (UP 02). aumento do número de dias secos consecutivos na bacia do rio Ipanema
A bacia do rio Ipojuca (UP 03) apresentou aumento no número de (UP 07). Embora tenha sido constatada uma diminuição dos eventos
dias consecutivos secos e diminuição no número de dias consecutivos moderados, observou-se uma tendência positiva para o aumento de
úmidos e da intensidade diária média de precipitação. eventos com chuvas diárias maiores que 100 mm. Essa bacia, inserida
A bacia do rio Sirinhaém (UP 04) apresenta evidências da dimi- no agreste pernambucano, apresenta clima semiárido e poderá ter
nuição da precipitação total anual, da intensidade diária média de seu processo de aridez acelerado, segundo os resultados encontrados.
precipitação e dos eventos de chuvas maiores que 10, 20 e 50 mm; em Além disso, apresenta maior vulnerabilidade a alagamentos e com-
contrapartida, apresenta tendência de aumento no número de dias prometimento de obras de drenagem, principalmente nas áreas urba-
consecutivos úmidos, com aumento da precipitação máxima em um nas das cidades inseridas nessa bacia, devido à ocorrência de chuvas
dia e de dias extremamente úmidos. Observa-se que, mesmo com as intensas maiores que 100 mm/dia.
tendências de diminuição de precipitação e eventos extremos, essa Já a bacia do rio Moxotó (UP 08) apresentou aumento dos dias
bacia, que está inserida na Zona da Mata, região de maiores índices consecutivos com chuva e diminuição do índice simples de intensidade
pluviométricos do estado, apresenta evidência da ocorrência de dias diária, ou seja, é muito provável que tenha ocorrido um aumento no
mais úmidos e consecutivos, o que gera maior escoamento superficial número de dias úmidos na bacia. Também se observou tendência de
e erosão do solo, tornando essa região mais vulnerável à ocorrência de diminuição de eventos fortes.
inundações e cheias, por exemplo. A bacia do rio Pajeú (UP 09) não apresentou tendências significa-
Verificou-se tendência de aumento dos dias consecutivos úmidos tivas, e na bacia do rio Terra Nova (UP 10) foram observadas tendên-
e de diminuição da intensidade diária média de precipitação, chuvas cias de diminuição de chuvas moderadas.
de 10 e 20 mm na bacia do rio Una (UP 05). Na bacia do rio Brígida (UP 11), observou-se tendência da dimi-
A bacia do rio Mundaú (UP 06) apresenta evidências do aumento nuição da precipitação total anual, da intensidade diária média de
no número de dias consecutivos com chuva, com aumento da preci- precipitação e redução de eventos com chuvas diárias maiores que 10
pitação máxima em um dia, dias mais úmidos e número de dias com e 50 mm na bacia. De acordo com os resultados, a bacia do Brígida,
precipitação acima de 50 mm, apontando para maior ocorrência de que se encontra totalmente inserida no semiárido pernambucano e
chuvas intensas. Observou-se ainda que a bacia apresentou aumento apresenta clima semiárido, associada às tendências de menor precipi-
no número de dias consecutivos secos, demonstrando uma má distri- tação e rios intermitentes, pode ter seu processo de aridez acelerado
buição temporal da precipitação na bacia. Esses resultados evidenciam e maior escassez de água. Essas evidências podem contribuir para a
tendência de aumento da ocorrência de inundações, cheias, alagamen- intensificação do processo de desertificação de parte da bacia do Brígida
tos e danificação de obras de drenagem, visto que esses acontecimentos (municípios de Cabrobó, Orocó e Santa Maria da Boa Vista), que está

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Silva, R.O.B,; Montenegro, S.M.G.L.; Souza, W.M.

inserida no Núcleo de Cabrobó, um dos núcleos de desertificação já Verificou-se tendência de diminuição no número de dias consecu-
identificados no semiárido brasileiro (SÁ et al., 2010). tivos com chuva e também na ocorrência de chuvas diárias menores
A bacia do rio Garças (UP 12) apresenta tendência de diminuição que 10 e 20 mm na bacia do rio Pontal (UP 13).
da precipitação total anual, de aumento no número de dias secos con-
secutivos e de diminuição de eventos consecutivos úmidos. Também há
uma tendência de diminuição das chuvas moderadas e fortes na bacia, CONCLUSÕES
porém observa-se que, mesmo com a diminuição dos dias consecuti- Do presente estudo, pode-se concluir que a estimativa e a avaliação
vos com chuva, houve um aumento dos eventos máximos de precipi- das tendências dos índices de detecção de mudanças climáticas dos 75
tação em um e em cinco dias, além de aumento da quantidade de dias postos selecionados no estado de Pernambuco possibilitaram a consta-
mais úmidos e da ocorrência de eventos com chuvas diárias maiores tação de algumas tendências climáticas para algumas das bacias hidro-
que 50 mm, apontando para maior ocorrência de eventos extremos gráficas principais do estado. Não se pode afirmar que essas tendên-
de chuva. Logo, essa bacia poderá apresentar maior vulnerabilidade a cias observadas são consequências das mudanças climáticas globais.
problemas de drenagem, como alagamentos e comprometimentos de Observou-se que as bacias dos rios Goiana, Capibaribe, Ipojuca,
obras hidráulicas, principalmente nas áreas urbanas. Em contrapar- Sirinhaém, Una, Mundaú, Ipanema, Moxotó, Terra Nova, Brígida,
tida, a bacia do Garças também pode apresentar problemas referentes Garças e Pontal apresentaram tendências de variações climáticas locais.
ao aumento de aridez e escassez de água, e, assim como a bacia do rio De acordo com as tendências, verificou-se evidência de aceleração no
Brígida, parte de sua área (município de Santa Maria da Boa Vista) processo de aridez das bacias dos rios Ipanema, Brígida e Garças. Além
está inserida no Núcleo de Desertificação de Cabrobó, o que poderá disso, observou-se maior tendência do acontecimento de eventos extre-
intensificar esse processo na região. mos de chuva para as bacias dos rios Mundaú, Sirinhaém e Garças.

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