Entusiasmo e Tópica
Entusiasmo e Tópica
Entusiasmo e Tópica
Seção V
O entusiasmo estético
§ 78.
Até aqui vimos que para ter belo espírito se requer disposição natural da
inteligência e do coração, exercício em ambos e algum conhecimento. Vimos que
disposição natural é o que mais contribui, exercício também muito e conhecimento um
tanto; todavia, se tudo isso não vai adiante, o belo espírito permanece sempre ainda na
possibilidade. Ali existem forças mortas, que não se tornam vivas se não se toma a
decisão de vivificá-las. Num soldado, pode haver coração por natureza e exercício nas
armas, mas tudo isso pode permanecer morto, se ele não entra efetivamente em
combate. Daí porque requeremos de um belo espírito o estado em que sua alma passa ao
propósito de tornar essas forças vivas, e se até agora elas estiveram apenas em quatro
graus, deve intensificá-las para crescerem, por exemplo, até dezesseis graus e voltarem
a cair de novo a quatro depois da ação. Chamamos esse estado de entusiasmo, e ele não
é próprio apenas dos poetas, mas há diferentes graus dele, e se pode, tanto em
demonstrações rigorosas como em cartas, cair numa certa espécie de entusiasmo que os
gregos chamam ὀρμή. Este é um grau baixo dele. Mas ele se eleva tanto que chega
àquele grau em que, por um menor conhecimento da natureza da alma de tais pessoas,
se acredita que algo não vai bem com o entendimento delas. As sensações internas se
tornam tão fortes num tal espírito, que às externas falta toda clareza. O belo espírito
pensa em seu tema com forças de atenção tão intensas, que ele não pode voltá-las nesse
momento para outras coisas externas. Este é o grau que se chama êxtase. Mais uma vez
ele não é próprio apenas dos poetas entusiasmados, mas ao atuar de modo espirituoso
em sociedade deve imperar uma espécie de êxtase, de modo, por exemplo, a se pensar
somente nas conversas e na amabilidade da companhia. Esse entusiasmo se intensifica
ainda mais quando se assemelha ao fenômeno que se observa nos enraivecidos. Por isso
também é chamado de furor. Manifesta-se aqui uma força particular, e a alma obtém
algo que não teria obtido sem esse furor. Porque os enraivecidos com frequência fazem
posições estranhas com o corpo, também isso foi observado, e tal postura é
frequentemente confundida com o furor. Também em pessoas que querem se expressar
de modo belo descobrimos por vezes movimentos singulares do corpo. O entusiasmo
[Enthusiasmus] é uma espécie de exaltação [Begeisterung] e não designa aqui, como na
filosofia, o erro, quando se acredita ter sensações divinas e se engana, mas a
denominação é tirada da mitologia dos pagãos antigos. Uma vez que tinham grande
quantidade de semidivindades, atribuía-se a uma dessas divindades se alguém era posto
num movimento particular e isso era chamado o entusiasmo ou o espírito de certo deus
(πνεύμα θεοῦ). Naturalmente, é preciso já ter disposição natural para esse entusiasmo.
Temos de observá-lo já numa criança enquanto criança: se ela esquece de si e de suas
coisas ao jogar, então há um fogo que é, por certo, ainda selvagem, mas que logo poderá
ser desviado. É então que tem de entrar a bela erudição, e esta tem de dar matéria ao
meu engenho e alimento ao meu fogo. Isso, porém, não pode acontecer graças a um
milagre, mas é obtido pela situação do corpo, pelas circunstâncias externas, pelo estado
atual e passado. E com isso se obtém a capacidade de alcançar uma coisa da qual se
observa, depois de realizado o ato, que não poderíamos alcançá-la agora, e da qual um
outro tem de admitir que ele não poderia alcançar da mesma maneira nessas
circunstâncias.
§ 79.
Se quisermos investigar se esse entusiasmo ocorreu num belo escritor,
deveremos lê-lo com cuidado. Com frequência nos sucederá de querer imitá-lo
igualmente bem; mas quando posteriormente o tentamos, falhamos em tudo, e sentimos
que não nos saímos tão bem. Ao percebemos esse fenômeno, podemos seguramente
concluir que o escritor esteve então numa espécie de entusiasmo, mediante a qual
realizou algo que agora não podemos alcançar de sangue frio. Não se deve pensar na
espuma que corre da boca quando aqui se fala de entusiasmo. Pois, por exemplo,
podemos tentá-lo já em companhia, quando se pode ser tão espirituoso quanto qualquer
outro, e sentiremos talvez que um outro se encontra numa espécie de entusiasmo em
que atualmente não estamos. Quando queremos julgar apropriadamente sobre nós
mesmos, podemos apreciar nossos próprios trabalhos por esse meio. Podemos deixá-los
de lado por algum tempo e se, revendo-os de novo, sentimos com algum espanto que ele
foi bem feito, então podemos concluir com segurança que estivemos então num
entusiasmo. A outra marca característica do entusiasmo é a velocidade. Não
entendemos aqui aquele dom de escrever rapidamente, quando se pode apostar sem
receio que sempre acabará, por exemplo, o seu poema antes de que qualquer um;
entendemos aqui o estado da alma em que ela se decide a elaborar algo e, ao elaborá-lo,
ela sente que está indo cada vez mais rápido e que jamais empaca. Primeiro nos
ocupamos somente dos pensamentos e depois nos lançamos principalmente na
ordenação deles, depois o passamos rapidamente ao papel e finalmente realizamos
sucessivamente o todo. Aqui sucede como nos trabalhos com o corpo. Quando se está
algum tempo no trabalho, ele vai muito mais rapidamente do que no início.
§ 80.
Nossa alma é de tal índole (isso não foi observado antes do aprimoramento da
psicologia) que uma quantidade espantosa de representações permanece obscura no seu
fundo, as quais, no entanto, com frequência alcançam um grau menor de obscuridade e
aderem, por assim dizer, ao reino da clareza. Elas jamais se tornarão rigorosamente
distintas, e tampouco devem tornar-se, mas todos os conceitos do belo espírito se
tornam mais vivos e lhe ocorrem com isso coisas que ele já havia esquecido ou nas
quais ao menos acreditou. O reino da clareza e esse campo das representações obscuras,
que avança para o reino da clareza, proporcionam juntos um vasto campo para o belo
espírito. Pensemos, por exemplo, inicialmente em apenas 10 notas características de
uma coisa e, depois, na mistura de claro e obscuro pensamos talvez a coisa em 150
notas características. Se na primeira representação não se pensou em nenhuma lágrima,
agora a quantidade de representações arranca lágrimas. Se no momento em que o fundo
da alma se eleva a uma obscuridade menor, e o belo espírito pode ver com muito êxito
no futuro, percebemos belezas particulares na execução.
§ 81.
Ainda que o belo espírito fosse dotado de disposição natural, exercício,
conhecimento e, finalmente, disposição para o entusiasmo, ainda assim são requeridas
também certas ocasiões que o colocam nesse entusiasmo. Os corpos de diferentes
espíritos estão numa constituição diferente. Alguns estão destinados a um modo de vida,
em que é preciso estar constantemente sentado, de onde provém um sangue estagnante.
Tal belo espírito em tal corpo não pode sempre chegar ao entusiasmo, um movimento
do corpo o erguerá, e ao sentir que hoje ele está totalmente diferente e mais animado,
esta é justamente a ocasião que ele não pode perder se quer executar algo belo. Isso
significa aut nun aut numquam. Quanto ao estudo, Plínio dá em geral o conselho de que
se medita bem depois de se ter movimentado na caça. Horácio diz em suas sátiras que
fez com frequência versos em viagem ou em estalagens. Lotichius produziu muito
estando de sentinela como soldado.
§ 82.
Se o corpo tem tal posição que o belo espírito pode ver facilmente no futuro,
logo seguirá um certo entusiasmo. As últimas palavras do moribundo são geralmente
comoventes e belas, porque agora ousam certamente o grande passo no futuro, perante o
qual veem muito diante de si. Se um corpo sereno e sadio ainda vem se juntar a tal
visão, com o que não adormecemos em nossa previsão, o entusiasmo se fortalece; com
o acréscimo de ter outros diante de si, aos quais a pessoa segue, dos quais ela pode se
tornar um louvável imitador, o entusiasmo se tornará ainda maior. Porque Apolo é o
deus dos médicos, do futuro e o condutor das musas, aquele que é assim entusiasmado é
chamado de φοιβόληπτος, o que é entusiasmado por Apolo.
§ 83.
A imitação constitui a maior parte das ocupações de nossa vida. Com a imitação
começamos a viver e, por isso, na juventude já nos dão o conselho de não nos
envolvermos com pessoas vis, porque formamos nossas ações pela imitação delas. Esta
é talvez a razão por que os antigos tinham nove musas, que evocavam em diferentes
circunstâncias. O que talvez não fosse outra coisa que diferentes maneiras de se
exprimir belamente a respeito de diferentes objetos. A cada maneira particular se davam
nomes convenientes, transformando-as em pessoas. Diferentes pensamentos, por
exemplo, eram expressos de maneira historicamente bela, o que era retomado quando se
queria escrever sobre história, exprimindo-se, portanto, pela imitação ou com ajuda da
musa Clio. A música da dança nos comove, e as representações de seu conteúdo ainda
nos estimulam quando ela mesma já passou; por isso, as musas de ambas foram
evocadas em reiterada imitação. Pinturas costumam estimular um poeta, e o poeta
despertará o pintor, ambos quando um imitar o outro. Pela imitação, sempre podem
surgir no coração móbiles para fazer algo. Esse impulso nem sempre precisa se tornar
realidade, se apenas se anuncia no coração. A astronomia e o conhecimento de todo o
universo contribuem muitíssimo para despertar esses impulsos. Observa-se também
que, onde há uma espécie de musas, as outras também geralmente se encontram, assim
como as graças estão constantemente umas em companhia das outras. Nos tempos de
Alexandre viam-se na Grécia oradores, poetas, pintores, escultores, conhecedores de
moedas. Entre os romanos, conhece-se esse período nos tempos de Augusto e, entre os
franceses, nos tempos de Luis XIV. Quando a academia francesa começou a aprimorar
a língua, então as belas ciências, todas as espécies delas, levantaram de vez a cabeça.
§ 84.
Outra ocasião para o belo espírito é o ócio, o tempo em que cessam os trabalhos
propriamente ditos. Na carta citada no parágrafo 81, Plínio se exprime de modo
extraordinariamente belo a esse respeito e conta esse tempo entre as ocasiões agradáveis
nas quais podemos pensar nas musas. Quando se censuram os alemães porque entre eles
o número de belos espíritos é menor do que em outras nações, não se pondera que eles,
mais do que todos os outros, estão soterrados em trabalhos constantes, e que a maioria
deles tem de praticar as ciências quase por ganha-pão. Ao se dar alguma vantagem nisso
aos franceses, deve-se ponderar também como está disposta aquela nação nesse
particular, já que ali grandes contingentes não têm mais o que fazer além de consumir
as suas prebendas.
§ 85.
Contamos certas bebidas fortes entre as ocasiões para o belo espírito. Quando
estamos em situações difíceis, o presente não nos proporciona muito contentamento, e
pensamos no passado com dissabor. Onde se pode aqui receber matéria para o belo
pensar? Temos, pois, de erguer o futuro e a imaginação, de modo que o presente se
obscureça. Por experiência, que, quando correta e frequentemente empreendida, produz
contentamento, sabe-se que o presente será esquecido quase por inteiro. A alma chega a
um estado em que a diferença entre o presente e o futuro é obscurecida. Mesmo quando
se bebeu com um superior se notará que a intimidade aumenta e que esquecemos da
diferença que há entre a sua situação e a nossa. Ali cessa o conhecimento matemático
que de resto nos é muito próprio. No belo espírito, as sensações atuais serão reprimidas,
e imaginação e sensação não mais diferirão de modo tão forte. Tal bebida não precisa
ser apenas vinho; certas fontes e quase todas (mas nessas fontes em que é tirada a água)
têm uma tal força. Mas porque nossa água comum não costuma produzir isso,
aconselha-se em geral o vinho.
§ 89.
[...]
Os parágrafos seguintes mostram ainda mais que com frequência situações
tristes são ocasiões e, mesmo, ocasiões melhores para o belo do que as cômicas; que a
juventude, mas não a infância, tem vantagem sobre a velhice, e que do 35º ao 40º ano é
o ápice de idade para o belo espírito. Todas essas sugestões, no entanto, padecem de
exceções, se ocorrem regras mais sérias para nossa felicidade; elas se comportam como
moedas ruins em relação ao ouro. O belo espírito nem sempre tem de esperar por essas
ocasiões; as forças já estão ali, as circunstâncias externas fazem apenas com que se
mostrem na realidade. Os pensamentos e a ordem são o mais difícil nas maiores obras
do belo espírito. A expressão é mais fácil, mas frequentemente também o mais maçante.
Não devemos nos deter tanto tempo no fácil quanto no difícil, do contrário nos
assemelhamos àquele escultor em Horácio que poliu a unha numa estátua e se esqueceu
da beleza do resto da imagem. Devemos, por certo, pensar na beleza das pequenas
partes, mas subordiná-las a uma lei maior.
Seção X
A tópica
§ 130
Em outros tempos se fez muito caso dessa doutrina, tendo sido considerada
como o único meio de descobrir argumentos e de falar sobre as coisas. Em nossos dias,
temos outros meios auxiliares, e quando aprendemos muito, podemos pensar muito
sobre as coisas sem que precisemos seguir todos esses míseros tópicos e percorrer todos
os seus compartimentos; de todo modo, vamos examiná-los aqui para saber se contêm
efetivamente algo de bom em si para os iniciantes.
§ 132
Se fixo para mim uma ideia geral e então coloco sob ela séries inteiras de ideias,
e as comparo entre si e vejo se posso pensar sobre elas a partir dessa ideia geral sob a
qual as coloquei, essa ideia geral é um locus. Se coloco todos os temas sob ela e penso
acerca de todos, este é um locus universalis. Mas se me dou aqueles locos que me
mostram como devo proceder com proposições particulares, estes são particulares loci.
Nosso juízo a respeito desses últimos é melhor do que a respeito dos primeiros.
§ 133.
Tinha-se de resto como meio auxiliar geral o versinho quis, quid, ubi etc. Mas
quando, como homens, pensamos e temos realmente muita coisa na cabeça sobre nossa
proposição, agimos muito mal se queremos pensar segundo esse verso. Entretanto, se o
modificamos de algum modo, ele talvez possa ser em alguma medida útil aos iniciantes
no pensar, a saber, quando ordenamos os predicados: quis? quibus auxiliis? quid?
quomodo? cur? ubi? Quando?
Se alguém, por exemplo, quisesse pensar sobre as vitórias de um grande herói,
ele pensaria primeiro “quem?” e descreveria seu herói segundo suas grandes qualidades.
Pensaria, além disso, por qual auxílio ele obteve aquela vitória e quando estivesse
atento apenas aos tempos, aqui não lhe faltariam ideias. Assim ele percorre todas as
rubricas, observa todas as relações de tempo e de lugar, e quando pensa de algum modo
como um homem [maduro], ele produrará ocultar seu artifício [Kunststück] para que
não se perceba que ele lança mão dessa tópica geral. Antigamente se tinha ainda um
outro meio: havia então as 10 categorias, segundo as quais se tinha de pensar; eram elas:
subiectum, quantitas, qualitas, relatio, actio, passio, ubi, quando, habitus1. Esse meio
de auxílio é bastante incompleto e não esgota tudo, no entanto também se vê que aquele
que quisesse pensar os predicados segundo essas rubricas poderia dizer algo. Raimundo
Lúlio quis aprimorar isso e descobriu a sua ars lullistica, um artifício que o indivíduo
sensato logo põe de lado. Ele também colocava seus sujeitos e predicados sob etiquetas
gerais. Nos sujeitos ele estabeleceu 9 classes ou círculos e em torno destes giravam
novamente 9 outros círculos. Então surgiam certamente relações a partir das quais se
podia tagarelar. Os nove sujeitos eram Deus, angelus, caelum, homo, imaginativum,
sensitivum, elementativum, instrumentativum. Sua divisão se elevava apenas até o 9,
mas talvez seja possível uma 10ª ou 11ª. Os predicados eram por ele divididos em
naturalia e moralia, cada um dos quais eram de 9, como antes. Entre os morais, ele
tinha 9 virtudes e 9 vícios, mas que eram novamente incompletos no mais alto grau.
Essa ars lullistica foi censurada e não merece ser enaltecida.
§ 134.
1
Faltou situs.
No parágrafo anterior, elogiamos de algum modo o versinho habitual como uma
boa tópica, que não é sem utilidade para os iniciantes. Se quiséssemos ainda ter uma
outra, poderíamos nos dar três rubricas: gênero, espécie, indivíduo, e observar em cada
uma delas sua essência, suas qualidades e relações, e então se teria novamente uma
topologia de acordo com a qual se poderia pensar muita coisa. Se quiséssemos pensar
também uma outra topologia geral, nós percorreríamos os capítulos principais da
ontologia, começando pelo possibile e progredindo ao unum, bonum, verum, perfectum,
obtendo assim uma espécie de tópica geral, onde sempre se encontrará algo que dizer.
§ 138.
Quanto adentramos os belos exercícios mesmos, devemos observar a regra de
Horácio, segundo a qual não deve tratar de coisas antigas e banais segundo uma regra
tópica antiga e banal, nem ficar nos locis universalibus, pois senão as coisas jamais se
ajustarão umas às outras. Quando se quer pensar sobre as coisas unicamente a partir
daquilo que o ontólogo pensa, elas se assemelharão a roupas modeladas num corpo para
todos os homens. No belo, a tópica geral fica de fora, e nele a tópica particular presta
seu serviço. Aqui, o belo espírito pensa melhor por si mesmo e vê o que é de notar nesta
ou naquela proposição.
§ 139.
Se quiséssemos produzir para nós uma tópica particular, nada seria mais
aconselhável do que considerar as seis partes do conhecimento estético (§ 22) como
rubricas sob as quais possamos colocar os predicados. Logo se vê que desse modo
muita coisa de deixa dizer. Se eu, por exemplo, quisesse redigir o meu currículo, mesmo
que apenas para meu próprio divertimento, eu perguntaria primeiro: quão rico ele é,
quanto grande é o parentesco, que mudanças nele ocorreram e, além disso, quão
importantes elas são, que verdade, que verossimilhança, que vivacidade há nele? Onde
devo lançar toda a luz? Onde devo emocionar? Esta é a tópica particular que
aconselhamos nos primeiros exercícios.
§ 140.
Uma outra proposta para uma tópica particular é a de que nos representemos a
razão, que conhece vivamente, mas confusamente, o nexo das coisas. Vejamos se
nossas faculdades inferiores de conhecer estão bastante entretidas, se nossos sentidos
perceberam muita coisa do objeto; se se avançou até representações imaginárias;
observemos se o engenho percebe similia e congruentia; observemos a perspicácia, a
memória e a faculdade de julgar, e se, ao pensarmos assim, os conhecedores não rirão.
Se todas as disposições estão presentes e se ocorre o entusiasmo, então não nos
detenhamos, e então também se deveria pensar segundo essa tópica no início. Façamos
como Catulo diz no desfecho dessa seção: Quando Jupiter nos inflama, aproveitemos a
ocasião.