Apostila de Teologia de Umbanda

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APOSTILA 001

APRESENTAÇÃO
“Umbanda tem fundamento¹, é preciso estudar!!”

Olá, sejam todos muito bem vindos!!


Agradeço a Deus, aos Orixás e guias de Umbanda pela oportunidade e início deste
encontro.
Neste momento estamos compartilhando informações de Umbanda entre nós irmãos de
Fé e adeptos a esta religião.
Espero que seja mais que “um curso”, seja uma troca e encontro de pessoas que carregam
um mesmo ideal, Umbanda.
Costumo dizer que a Umbanda é linda de se ver e sentir, pois, é a Religião do Culto à
Natureza, que não possui nem dogmas² e nem tabus, portanto tudo é passível de ser
explicado, estudado e conhecido.
Falo de coração e alma, o estudo e a multiplicação do conhecimento sério e comprometido
é a única maneira de mudarmos a atual situação da Umbanda, na qual cada um fala e faz
o que quer da Religião, em que boa parte não sabe o que faz e nem o que diz.
Simplesmente porque não tiveram o interesse em estudar e se aprofundar no porquê de
cada elemento que forma um todo a que identificamos como Umbanda.
O que eu peço em primeiro lugar e de maior importância agora é que todos se permitam
“esvaziar o copo”, para receber novas informações. Antes de fazer comparações com
outros conhecimentos, permitam-se receber o que temos a oferecer, para depois
questionar se valeu ou não.
No final deste curso teremos um “Certificado Digital”, que será entrega para os alunos no
último dia.

¹ Fundamentos são os elementos ou conhecimentos básicos, fundamentais, que dão sustentação à religião. É o mínimo ao qual todos devem
conhecer sobre sua religião. Embora pratique-se a Umbanda de mil formas diferentes existe algo nela que iguala a todos e os tornam
praticantes de uma única e mesma religião, são os seus fundamentos colocados em pratica. Logo tudo o que não faz parte da Umbanda pode
ser definido como aquilo que não é seu fundamento, algo em que ela, a Umbanda, não crê.

² Dogma é uma verdade que deve ser aceita sem questionamento, “porque Deus quer” ou “porque foi revelado”. Por exemplo para ser
católico deve-se crer na virgindade de Maria porquê é um dogma da Igreja. Tabu é uma interdição, uma proibição pura e simples, em que na
maioria das vezes também não tem explicação.
Apostila 002

O que é Teologia?
Porque estudar Teologia de Umbanda Sagrada?
Teologia é a ciência que trata de Deus seus atributos e perfeições, bem como suas relações
com os homens.

Há duas formas de estudar religião, de dentro para fora e de fora para dentro.
De dentro, quem estuda é o religioso, fazendo e produzindo Teologia.
De fora, quem estuda é o cientista da religião, por meio das Ciências Humanas.

A Teologia tem por tarefa explicar a religião.

As Ciências da Religião (Humanas) procuram apenas entendê-la como um fenômeno


humano seja um fato social, psicológico, antropológico, histórico, filosófico ou outros.
Sem, no entanto estudar ou aprofundar em seus fundamentos, tarefa esta da Teologia.

Todo religioso quando passa a explicar sua religião produz Teologia.


Só quem pode explicar a religião é o religioso, os demais devem tentar compreende-la.

Um Cientista pode questionar seus aspectos humanos nas mais variadas áreas.
Apenas o religioso faz crer, ensinar, preparar e iniciar a outros religiosos, dentro de sua
ciência a Teologia.

Esta Ciência pode ser definida como um estudo racional de seu universo religioso, o que
envolve desde os fundamentos mais básicos de seu ritual – sua liturgia – até conceitos mais
elaborados de sua Gênese ou Cosmologia.

Estudar Teologia é Estudar Religião.


Estudar Teologia de Umbanda é estudar a Religião de Umbanda.

Teologia de Umbanda Sagrada é um estudo de todo o universo de Umbanda, desde os


Orixás passando pelos guias e vindo até nós. Aqui vamos abordar Umbanda de forma
teórica, sem a pretensão de mostrar a ninguém como deve ser o trabalho prático que as
entidades tão bem realizam em templo (terreiro/centro/tenda/abacá/núcleo e outros),
simplesmente com o objetivo de sanar aquelas dúvidas que muitas vezes não conseguimos
esclarecer no dia a dia dentro do templo.
Apostila 003

É tempo de estudarmos realmente a Teologia de Umbanda Sagrada?


Podemos dizer que sim, pois, o estudo e a multiplicação do conhecimento sério e
comprometido é a única maneira de mudarmos a atual situação da Umbanda, na qual cada
um fala e faz o que quer dentro e fora da Religião de Umbanda. Uma boa parte, destes,
não sabe o que faz, porque faz e nem sabe o que diz. Simplesmente porque não tiveram
interesse de estudar e se aprofundar no porquê de cada elemento que forma um todo,
que identificamos como Umbanda. É certo que muitos não tiveram a oportunidade de
estudar, principalmente no que diz respeito aos “antigos”, mas hoje em dia já não cabe
mais esta justificativa ou desculpa. Se Umbanda é a sua religião você deve estudá-la, seja
aqui ou por outro meio.

Sabemos das dificuldades em estudar a Umbanda de forma autodidata, pois já trilhamos


este caminho, em que cada literatura afirma o contrário da outra e em que cada
Mestre/Pai-de-santo/autor se torna o dono da verdade ultima de Umbanda.

Aqui não somos os donos da verdade ao estudar Umbanda, procuramos um caminho do


meio, entre nossas convicções e a compreensão do “outro” umbandista. Cremos nos
resultados de compreensão da religião por meio destes ensinamentos que permitiram a
nós mesmos entender e praticar Umbanda de uma forma mais aberta e tranquila. Sem
dogmas ou tabus, já que tudo pode e deve ser explicado à luz da razão.

Umbanda é Mais que o nosso terreiro.


Nosso terreiro é Umbanda, mas a Religião de Umbanda é mais que nosso terreiro. Nós
somos Umbanda, mas Umbanda é muito mais que todos nós juntos. A Religião de
Umbanda vai para além de conceitos e verdades locais ou limitadas a este ou aquele
terreiro. Fato importante este, pois muitos umbandistas ao se decepcionarem com o
terreiro em que frequentam acabam abandonando a religião, porque estavam limitados
ao templo físico e a seu orientador (sacerdote/dirigente/padrinho/pai-de-santo...).

Já foi comum na Umbanda, médiuns serem proibidos de ler livros de Umbanda, conhecer
outras casas ou fazer perguntas sobre a religião.

Não podiam ler “para não fazer confusão”, não podiam frequentar outras casas “para não
cruzar as linhas” e não podiam fazer perguntas “porque não estavam preparados, ainda,
para as respostas”.

Apostila 004
Quando surgiram alguns Cursos de Umbanda, muitos foram e ainda são proibidos de
frequentar, e mais justificativas surgem, como “estão mercantilizando a Umbanda”,
“Umbanda não se aprende em curso”, “vai pegar demanda” e outros.

Que outra forma existe para se organizar e passar o conhecimento de forma aberta e para
todos?

Assumindo o fato de que nem sempre conseguimos manter um grupo de estudos em nosso
próprio templo. Seja por falta de tempo ou desinteresse, fica a pergunta: Que outra forma
existe para se organizar e passar o conhecimento de forma aberta e para todos? Quantos
conseguem se dedicar ao estudo constante e ensino religioso organizado e
comprometido? Os resultados deste estudo (Teologia de Umbanda) são, afinal, positivos?
Merecem crédito? Há frutos que comprovem ou justifiquem sua permanência e
multiplicação?

A árvore se reconhece pelos frutos.

Já na década de 1950 as Federações e outros Órgãos de Umbanda organizavam cursos de


Casamento e Batizado, para orientar seus filiados. Algumas organizações e terreiros
preparavam apostilas de conteúdo doutrinário. Alguns seguiam mais por um modelo
“Kardecista”, outros por um modelo “Africanista” e terceiros como o Primado de Umbanda
por um modelo mais “indianista” e até esotérico.

O Primeiro curso de Umbanda aberto a todos, independente de serem ou não filiados, que
temos notícia foi criado por Ronaldo Linares na década de 1970. Teve início como um
“curso de médiuns” e com o tempo evoluiu para um Sacerdócio Umbandista. Rubens
Saraceni criou o primeiro Curso de Teologia de Umbanda, em 1996, um curso teórico sobre
a religião, no qual para estudar não é preciso ser médium e nem umbandista. Passados
alguns anos estamos aqui contando milhares e milhares de pessoas que já se beneficiaram
com este aprendizado.

Somos muitos que recebemos a missão de trabalhar na Umbanda e muitos a abandonam


por não conseguir entender sua riqueza de elementos e complexidade litúrgica. Que, no
entanto, podem ser explicados de uma forma simples, mas não simplista pois na Umbanda
há muito o que se estudar.

Nada mais tranquilizador que entender o que se pratica afinal como criar uma identidade
Umbandista, me reconhecer como tal, se não consigo ainda compreender o que vem a ser
Umbanda.

Apostila 005
Umbanda tem Fundamento...
É preciso preparar...

Existe a necessidade real do estudo que vá além da pratica, sem a pretensão de subestimá-
la, mas com o objetivo de criar uma consciência “religiosa” que vá além do “terreiro”. Por
falta dessa consciência a Umbanda já perdeu muito espaço e vem sendo criticada,
tornando-se alvo, entre outros, de seitas neopentecostais.

A falta de uma Teologia pensada, de uma doutrina e de um acompanhamento dos novos


dirigentes de Tendas de Umbanda, resultou em erros imensos e em condutas pessoais que
não tinham nada a ver com o que era pregado pela espiritualidade.

Muitas pessoas, ainda despreparadas, mal instruídas e até incapazes para a direção de um
Templo, abriram suas tendas, criando a sua própria Umbanda e deram vazão a seus
emocionais desequilibrados e seus vícios religiosos, pois não aceitavam a condição de
liderados e almejavam ser líderes, bajulados ou temidos.

Então muitos abandonaram a Umbanda, depurando-a. É uma questão de tempo, para que
os atuais e remanescentes dirigentes da Umbanda, realizem um trabalho de base, de
doutrinação de seus liderados, instruindo-os e ensinando-os a prepararem bons médiuns
e bons dirigentes de tendas. E então, a Umbanda conquistará seu verdadeiro espaço
religioso, pois o tipo de trabalho realizado por ela, só os verdadeiros umbandistas podem
realizar, porque são os herdeiros naturais dos sagrados Orixás.

Por isso, é necessário que todo sacerdote umbandista desenvolva uma consciência voltada
para o aprendizado permanente.

Conceitos filosóficos, teológicos e doutrinários mais profundos, só surgirão com o


amadurecimento da própria religião e quando todos os umbandistas desenvolverem uma
consciência religiosa verdadeiramente de Umbanda e totalmente calçada em conceitos
próprios, fundamentada na existência de um Deus único (Olorum) e na sua manifestação
por meio de suas divindades (os sagrados Orixás ou Tronos de Deus).

O curso de Teologia de Umbanda Sagrada é totalmente teórico. Para participar não é


necessário nenhum pré-requisito, apenas a vontade de aprender sobre os mistérios que
envolvem esta nossa amada religião.

Apostila 006
Teologia e Teologia de Umbanda
Pensar, Fazer e Produzir Teologia
“Não há religião sem teologia”
“A produção teológica não é propriedade de alguns profissionais,
ela não pode ser refém dos líderes e sua hierarquia.”
“Nós podemos e devemos fazer teologia”
“Temos quase que por obrigação, por missão, fazer teologia”
Prof. Dr. Antonio Boeing
Coordenador do Curso de Bacharelado em Ciências da Religião - UNICLAR
“Teólogos são arrogantes por pensar que estão mais perto de Deus.”
Clodóvis Boof
“Quando um religioso racionaliza, pensa, reflete e fala sobre a sua religião,
produz teologia, não importa qual seja a sua formação”
Alexandre Cumino

A palavra Teologia vem do grego (Théos + Logos) em que Théos = Deus ou Divindade,
Logos = Palavra ou Estudo. Logo literalmente Teologia é o Estudo de Deus, das Divindades
ou simplesmente o Estudo do Sagrado.

Quem primeiro se utilizou do termo foi Platão em A Republica para delimitar um campo
de compreensão racional da natureza divina, diferente das abordagens poéticas.
Aristóteles também empregou o termo para definir a filosofia primeira mais tarde
chamada de Metafísica.
Quando um religioso pensa sobre sua religião está pensando teologicamente, sua reflexão
é teológica e suas conclusões são de conteúdo teológico, desta forma se produz teologia.
Racionalizar, pensar, refletir e expressar a religião partindo de dentro da mesma é sempre
teologia. Cada religião tem a sua teologia e muito mais do que isso há formas diversas de
pensar teologias, ou seja, muitas teologias e múltiplas opções de pensar uma mesma
religião por exemplo.
Há a Teologia Cristã que engloba várias Teologias como Teologia Católica, Teologia
Luterana, Teologia Calvinista, Teologia Metodista, Teologia Adventista, Teologia
Evangélica, Teologia Pentecostal, Teologia Neopentecostal, etc.
Dentro da Teologia Católica podemos catalogar diferentes Teologias como a Teologia
Franciscana, Teologia Jesuíta, Teologia Dominicana, Teologia Mariana, etc. Pode-se
estudar Teologia Histórica buscando a Teologia Medieval, Teologia Moderna e Teologia
Contemporânea ou Teologia Pós-Moderna, buscando as tendências de acordo com a
época.
Assim como há Teologia da Libertação, Teologia da Esperança, Teologia da Prosperidade,
Teologia do Perdão, Teologia do Pecado que são formas de pensar algumas questões
especificas dentro de um campo social, cultural ou dogmático.

Apostila 007
Conforme se organiza e divide a Teologia em áreas de conhecimento surge a Teologia
Sistemática, dividida em sistemas que explicam temas e assuntos como Angeologia,
Cristologia, Mariologia, Escatologia, Pneumatologia...
Podemos tratar de todas estas várias teologias e outras ainda apenas dentro do
cristianismo, que engloba em si mesmo uma grande variedade de teologias. E da mesma
forma encontraremos diferentes Teologias e variações teológicas dentro de todas as
religiões; como Teologias Islãmicas, Teologias Judaicas, Teologias Hinduístas, Teologias
Afros, Teologias Indígenas e muitas outras.
Teologia é para todos e não para poucos, todos pensam sobre Deus e o sagrado, inclusive
os Ateus...
Teologia de Umbanda

Em 1996 Rubens Saraceni idealizou e concretizou um “Curso de Teologia de Umbanda”,


partindo de vasto material que vinha psicografando com o pensamento, reflexão e
conceitos passados a ele por seus guias, mentores e outros mensageiros de Umbanda. A
espiritualidade manifestava por ele a clara intenção de organizar e produzir material
teológico com uma visão de cima para baixo, do mundo espiritual para o mundo material.
Dentro desta proposta estava o objetivo inovador de ensinar a todos que tivessem o
interesse de aprender um pouco mais sobre Umbanda. Leigos, médiuns e sacerdotes
umbandistas (Pais e Mães de Santo, Madrinhas e Padrinhos, Babás e Babalaôs, Caciques e
Mestres), independente de serem ou não seus filhos espirituais, filhos de santo, discípulos
ou umbandistas. Embora na Umbanda já houvesse um pensar teológico variado que se
identifica como Umbanda Branca, Tradicional, Popular, Mista, Esotérica, Pura, Eclética e
etc, não houve uma produção teológica sistemática por boa parte destes seguimentos e o
umbandista em geral carecia de compreensão teórica para suas práticas e fundamentos.
Há sim uma literatura de umbanda que teve inicio em 1933 com a primeira publicação de
Leal de Souza e que se multiplicou desde a década de 1950, ainda assim, em sua maioria,
ou usavam (os autores umbandistas) uma linguagem muito popular, carecendo de
fundamentos e base racional, ou abusavam de pseudo-erudição ocultista-esotérica para
explicar confundindo e confundir explicando. Copiando o hermetismo europeu com seus
dogmas e tabus explicados à razão de fundamentos Atlantes, Lemurianos, Sanscritos,
Egipcios e outros. Tão distantes da Umbanda quanto a distância temporal e geográfica de
suas pseudo-origens e mitos fundantes de religiões primordiais e verdades absolutas.
Existem muitas Faculdades de Teologia, assim como há Faculdades de Filosofia, Sociologia,
Antropologia, História, Matemática... E assim como há faculdades para estas disciplinas
também há cursos livres, sem a pretensão acadêmica de graduação, mas com o único
objetivo de ensinar a quem queira aprender independente de sua formação. São muito
comuns os cursos de teologia ministrados em Igrejas e Templos Católicos, Luteranos,
Evangélicos, Pentecostais e Neopentecostais. Estes cursos se destinam a religiosos que
querem simplesmente aprender mais e conhecer os fundamentos de sua religião.
Apostila 008

Da mesma forma é com a Umbanda, se Rubens Saraceni idealizou o primeiro curso de


“Teologia de Umbanda” hoje surgiram muitos outros cursos de Umbanda, que levam
nomes variados como Curso de Doutrina Umbandista, Curso de Iniciação Umbandista,
Curso Básico Umbandista, Curso de Introdução a Umbanda ou simplesmente Curso de
Umbanda.
Multiplicam-se os Cursos dentro e fora dos terreiros com o único objetivo de organizar o
conhecimento e passar informação adiante. É fato que a obra de Rubens Saraceni
colaborou e muito como inspiração para o surgimento de novos cursos e também de uma
nova literatura umbandista, que vem ganhando o coração dos adeptos.

A Teologia de Umbanda
Por Rubens Saraceni

Escrever sobre Teologia de Umbanda não é tarefa fácil porque antes precisamos definir o
que é Teologia e o que é Doutrina de Umbanda.
• Teologia: tratado de Deus; doutrina que trata das coisas divinas; ciência que tem por
objeto o dogma e a moral.
• Doutrina: conjunto de princípios básicos em que se fundamenta um sistema religioso,
filosófico e político; opinião, em assuntos científicos; norma (do latim doctrina).

Pelas definições acima, teologia e doutrina acabam se entrecruzando e se misturando,


tornando difícil separar os aspectos doutrinários dos teológicos, principalmente em uma
religião nova como é a Umbanda que, para dificultar ainda mais esses campos distintos,
está compartimentada em várias correntes doutrinárias.
Panteões formados pelas mesmas divindades, mas com nomes diferentes confundem
quem deseja aprofundar-se no seu estudo.
Autores umbandistas temos muitos! Mas as linhas doutrinárias os separam e em um século
de Umbanda ainda não foi possível uma uniformização teogônica ou doutrinária. Então,
imaginem a dificuldade em tentar algo no campo teológico.

Quando iniciei um curso nomeado por mim “Curso de Teologia de Umbanda”, isto no ano
de 1996, foram tantas as reações contrárias que esse meu pioneirismo gerou até um certo
auto isolamento, que me impus para preservar-me e ao meu trabalho no campo da
mediunidade, da psicografia e do ensino doutrinário.
Ser pioneiro e iniciar algo até então não pensado por nenhum outro umbandista gerou
para mim uma certeza inabalável:
• Na Umbanda, tirando a parte prática ou os trabalhos espirituais, tudo mais ainda está
para ser uniformizado e normatizado.
• Batizados, casamentos, funerais, iniciações, etc., cada corrente doutrinária tem seus ritos
e ninguém abdica do seu modo e prática particular em benefício do geral ou coletivo.
Apostila 009

Eu mesmo, orientado pelos mentores espirituais, desenvolvi ritos de batismo, de


casamento, de funeral e de iniciação fundamentais e possíveis de serem ensinados em
aulas coletivas e de serem realizados com grande aceitação por quem a eles se
submetesse, já que são muito bem fundamentados.
Mas, não para surpresa minha, já que não esperava que fossem aceitos, foram recusados
por muitos e admitidos só por uma minoria. E mais uma vez os umbandistas desdenharam
ritos fundamentais em pé de igualdade com os das outras religiões e continuaram casando-
-se em outras religiões e batizando seus filhos fora da Umbanda.
Só uma minoria é fiel aos seus ritos! Com isso, perde a religião e perdem os umbandistas.
Lembro-me que, quando comecei o meu curso de Teologia, um grupo que pratica uma
Umbanda diferenciada (segundo eles) criticou-me violentamente e tudo fez para
desacreditar-me e aos meus livros, mostrando-me como um ignorante e a eles como
doutores nisto, naquilo e naquilo outro. Os leitores, que não desinformados, ainda que a
maioria não seja doutores, não deixariam de notar a falta de fundamentos ou de
fundamentação em tais críticas. Pressa e oportunismo não são bons companheiros de
quem deseja semear algo duradouro no tempo e na mente das pessoas, principalmente
entre os umbandistas, tão refratários a mudanças. Eu, com muitos livros teológicos e
doutrinários já escritos há muito tempo, não me animei em publicá-los antes de ter
iniciado o meu curso em 1996, e só anos após ministrá-lo a centenas de pessoas e ser
aprovado por elas ousei colocar ao público livros de Doutrina e Teologia de Umbanda
Sagrada. Mas antes, tomei a precaução de testar minha teoria de que havia criado um
novo campo de estudo para os umbandistas já que, sem a aprovação deles, de nada
adiantaria lançá-lo pois cairia no vazio e no esquecimento, tal como já está acontecendo
com os livros dos meus mais afoitos críticos, detratores e vilipendiadores.
Quem tenta se apropriar das ideias e das criações alheias e das criações alheias corre o
risco de ser tachado com a pecha de oportunista e deve tentar destruir a todo custo quem
teve a ideia primeiro e criou algo de bom. Caso contrário, este alguém sempre os acusará
e mostrará a todos que oportunismo e esperteza em religião têm vida curta porque não
prosperam no tempo, além de não contarem com a aprovação da espiritualidade e dos
sagrados Orixás, que não delegaram a ninguém o grau de reformador da Umbanda, pois
ela ainda não ultrapassou a sua fase de implantação no plano material.
Os meus livros também se inserem nessa fase e espero que este meu comentário sirva de
estímulo a outros umbandistas (não apressados e não oportunistas) e que venham a
contribuir para que seja criada uma verdadeira “literatura teológica umbandista”, tão
fundamental quanto indispensável à doutrina de Umbanda.
Eu sei que isso demorará muito tempo para acontecer, mas sou obstinado e continuarei a
contribuir com o calçamento do caminho que conduzirá as gerações futuras à
concentração dessa nossa necessidade.
Texto de Rubens Saraceni extraído do livro “Tratado Geral de Umbanda
- As chaves interpretativas teológicas” – Editora Madras.

Apostila 010

A Formação Teológica do Sacerdote de Umbanda Sagrada


Por Rubens Saraceni
Todo sacerdote precisa receber uma preparação muito boa para que possa exercer com
sabedoria todas as múltiplas funções que este cargo religioso exige.
É certo que toda as religiões, em seus inícios, não tenham toda uma teologia à disposição
daqueles que aderem a elas e assumem posições de destaque, comando ou liderança
sacerdotal. Com a religião Umbandista não seria diferente, pois além de nova, ainda está
na sua fase de implantação, fase esta que ainda é experimental, mas que permitirá que
uma linha de pensamento se delineie naturalmente e torne-se predominantemente em
sua doutrina religiosa.
Mas esse experimentalismo não desobriga o sacerdote umbandista de uma boa formação,
com a qual poderá exercer suas funções e discutir sua religião com sabedoria e com
conhecimentos fundamentais acerca do seu universo religioso.
Nós sabemos que a Umbanda é uma religião espírita na qual a voz de comendo e a última
palavra é dada pelos mentores espirituais e pelos guias-chefes dos médiuns. Fato este que
tem sido de grande valia para a manutenção dos seus templos e para que as sessões
ocorram de forma ordenada.
Mas, e por isto mesmo, é imperioso que todo sacerdote Umbandista desenvolva uma
consciência voltada para aprendizado permanente. Fato este que beneficiará a religião
como um todo, pois permitirá um aprimoramento ritualístico e uma renovação dos
conceitos subtraídos de fontes religiosas não umbandistas, mas incorporadas para suprir
as lacunas conceituais, filosóficas e teológicas ainda existentes.
Nós sabemos que toda religião, em seu início, ainda é difusa e padece de ritos unânimes
entre seus adeptos. Fato este que faz com que em certos casos ou situações seus
seguidores recorram aos sacerdotes de suas antigas religiões ou com alguma outra a qual
tenha identificação e tenha parentes ou amigos dentro dela.
Por isso é imperioso que envidemos todos os esforços necessários para, num curto tempo,
suprirmos as lacunas ainda existentes dentro da nossa religião.
Conceitos filosóficos, teológicos e doutrinários mais profundos, só surgirão com o
amadurecimento da própria religião. Mas isto não significa que devemos ficar de braços
cruzados e a espera de que alguém venha com tudo pronto porque isto não acontecerá.
Sim. Só quando todos os Umbandistas desenvolverem uma consciência religiosa
verdadeiramente de Umbanda e totalmente calçada em conceitos próprios é que um
pensamento filosófico, teológico e doutrinário muito bem delineado surgirá e se imporá
em todas as correntes mediúnicas que formam essa maravilhosa religião espírita
fundamentada na existência de um Deus único e na sua manifestação através de suas
divindades (os Sagrados Orixás ou Tronos de Deus). Devemos incorporar conceitos cujos
valores sejam universais e estejam presentes na vida e no dia a dia dos Umbandistas. Assim
como, devemos refutar conceitos parcialistas ou dogmáticos que tolham o

Apostila 011

aperfeiçoamento de nossas práticas e sobrecarreguem a vida e o dia a dia dos


Umbandistas, afastando-os dos templos ou impedindo-os de manifestarem livremente
suas religiosidades e suas preferências conceituais.
Saibam que os conceitos universais sempre foram incorporados pelas religiões nascentes,
que recorrem a ele até que elas mesmas desenvolvam seus conceitos religiosos
universalizadores de suas doutrinas, ritos e práticas.

Apostila 012
Material de Apoio – Leitura Necessária e Obrigatória
Teologia de Umbanda Sagrada

O início do estudo teológico dentro da Umbanda


por Rubens Saraceni

No final do ano de 1994, quando eu estava me preparando para retornar a São Paulo, tinha
em uma caixa cerca de trinta livros de autoria de Pai Benedito de Aruanda já psicografados
por mim, além de três outros publicados, mas aos quais eu não dava a menor importância
porque o que eu gostava mesmo era de psicografar e aprender com os conhecimentos que
me chegavam, diferentes dos contidos em livros de autores umbandistas lidos até então.
Cada livro novo que eu recebia era motivo de estudo de um novo conhecimento colocado
de forma simples, objetiva e direta; descrevendo o lado espiritual da vida ou o plano divino
da Criação, ampliando meu entendimento para muito além do que eu imaginava que se
resumia a doutrina da Umbanda.
Após concluir cada um dos livros eu agradecia ao Pai Benedito e o guardava como um
tesouro muito valioso sem a preocupação do que fazer com ele, até o dia em que uma
ideia inspirada começou a latejar dentro da minha cabeça: levar ao conhecimento de
muitos todos aqueles imensos volumes de novas informações sobre a Umbanda.
Eu já estava sendo inspirado por Pai Benedito e não sabia por que, depois de mudar-me
de volta a São Paulo, ele manifestou-se e deu toda uma orientação: - Crie um curso inédito
e ainda inexistente na Umbanda para que amanhã ninguém diga que você copiou ou
plagiou algo de alguém, meu filho. Só você criando um curso inédito fundamentado nos
conhecimentos que estamos lhe transmitindo dará a ele a credibilidade que toda inovação
traz em si mesma e nunca, mas nunca mesmo, alguém poderá dizer que você copiou,
plagiou ou serviu-se da ideia ou da criação de outra pessoa sem dar-lhe o devido e merecido
crédito, fato muito comum dentro da Umbanda, meu filho!
- Como nomear este curso, Pai Benedito? Perguntei curioso.
- Vou dar-lhe alguns nomes e você escolhe o que achar melhor, está bem?
- Está sim, meu pai! Exclamei feliz. E ele deu-me esses: - Curso de Teologia Umbandista,
Curso de Teologia para a Umbanda e Curso de Teologia de Umbanda Sagrada.
- Qual o senhor sugere, Pai Benedito?
- O mais adequado é Curso de Teologia de Umbanda Sagrada, meu filho.
- Por que esse nome do curso é o mais adequado, meu pai?
- Ele é o mais adequado porque você irá fundamentá-lo nos livros que já lhe foram
transmitidos e que formam todo um conhecimento teológico sobre a Umbanda, os
sagrados Orixás e a Espiritualidade que atua nela.
- Como devo proceder para criar e divulgar esse novo e inédito curso dentro da Umbanda?
- Primeiro, pesquise se já não tem alguém dando algum curso com esse nome ou com o
mesmo propósito, certo?
- Sim senhor.
Apostila 013
Por vários meses pesquisei em jornais e revistas de Umbanda e junto às federações de São
Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia, etc. se havia algum curso de teologia dentro
da Umbanda ou voltado para o umbandista e nada encontrei. Inclusive, ouvi alguns
comentários que me desanimaram, tais com: - Você está maluco, isso é curso da igreja
católica, Rubens!... A Umbanda não tem e não precisa de curso de teologia, meu filho!...
Quem pôs essas ideias na sua cabeça, meu irmão?
E por aí a fora foram os resultados da minha pesquisa sobre a existência de algum curso
de Teologia dentro da Umbanda, fato esse que me desanimou muito, sabem?
E, desanimado, voltei a comunicar-me com Pai Benedito.
- Pois é, meu filho! Eu não lhe disse que esse será um curso inédito e ninguém poderá dizer
que você o copiou de quem quer que seja, ou que plagiou fulano ou beltrano ou que se
apossou da ideia ou criatividade alheia e não lhe deu o devido e merecido crédito, certo?
- Certo, Pai Benedito. Mas a coisa é mais difícil do que parecia, sabe?
- Não sei não, porque esse curso crescerá muito, atrairá muita gente e vai dar o que falar.
Como vai, meu filho!
Por orientação dele comecei a retirar capítulos e mais capítulos de livros ainda não
publicados e mandei digitá-los para apostilar meu novo e inédito curso para os
umbandistas: - Curso de Teologia de Umbanda Sagrada!
Em 1996, eu tinha 120 apostilas prontas para o curso e não sabia como fazer para iniciá-
lo, uma vez que não tinha um local adequado para ministrá-lo, ou seja: um centro aberto,
já que eu atendia as pessoas na ampla garagem da minha casa.
E foi na garagem de minha casa que em 1996 iniciei o primeiro grupo de estudo do inédito
e novíssimo Curso de Teologia de Umbanda Sagrada, reunindo semanalmente meus
amigos para estudarmos a nossa religião, sendo que todos os que vieram sabiam que era
um curso livre e sem nenhuma pretensão acadêmica.
O primeiro grupo foi pequeno, mas em 1998 a garagem ficou pequena para tantas pessoas
e tive que formar dois grupos de estudos do Curso de Teologia de Umbanda Sagrada, além
de ir todos os domingos até Santa Rita do Passa Quatro, onde o ministrava para duzentas
pessoas que, além de não pagarem nada para fazê-lo, ainda recebiam gratuitamente todas
as apostilas do curso, tudo custeado por mim.
Sim, eu estava aprendendo a ministrar aulas e não cobrava nada mesmo! O meu prazer
era reunir as pessoas e transmitir-lhes o que eu tivera o privilégio de aprender com as
obras de Pai Benedito. Isto de 1996 até 2000! E parte do que eu ensinava naquela época
hoje está disponível no site do Colégio de Umbanda, disponibilizado em preto e branco a
partir das gravações feitas pelos meus amigos e irmãos da Legião Branca de Jesus, da
cidade de Santa Rita, estre os quais cito o Pai Laerte Nogire, de São Carlos.
Está lá para quem quiser ver, certo?
No ano de 2000 os grupos de estudos do Curso de Teologia de Umbanda Sagrada
multiplicaram-se e eu já o ministrava em quatro centros diferentes, sendo que no do
meu irmão e amigo Paulo Rogerio, em São Caetano do Sul, reuniu mais de 200 pessoas.
Um sucesso!
Apostila 014

Então começaram ataques e mais ataques à minha pessoa e ao meu curso, provenientes
da parte dos seguidores de uma pessoa conhecida na época porque publicava livros e dava
alguns cursos e workshops, também semanais, cujos folhetos de divulgação guardo até
hoje para provar para quem quiser que ele também ministrava “cursinhos semanais”,
muito bem pagos, e não gosta de concorrência.
Não mesmo!
Como os ataques se tornavam cada vez mais frequentes, tanto contra o meu Curso de
Teologia de Umbanda Sagrada quanto contra o de Magia Divina, fui aconselhar-me com
Pai Benedito e ouvi isso dele:
Meu filho, esse aí é cobra criada, sabe?
- Não sei não Pai Benedito. Como ele é?
- Bom, ele é filho de santo de alguém que tudo fez para desacreditar o filho Zélio de Moraes
e o Pai Caboclo das 7 Encruzilhadas como os fundadores da Umbanda, sabe?
- Isso eu sei, meu pai.
- Pois é! Ele vai fazer de tudo para desacreditá-lo, só para poder se assenhorear do ensino
Teológico dentro da Umbanda, meu filho. Ele viu o sucesso que o seu curso está fazendo e
os olhos dele cresceu em cima do seu trabalho, certo?
- Este cidadão vai fazer isso, Pai Benedito?
- Vai sim, meu filho. Ô se vai! Cuide-se, está bem?
- Sim senhor. Obrigado pelo alerta!
Alguns dias depois, conversando com um amigo advogado e relatando-lhe o alerta de Pai
Benedito, ele aconselhou-me a registra o meu curso.
- Já o registrei na Biblioteca Nacional. Respondi-lhe.
- Não é esse registro que me refiro. Peça a patente do seu curso que ninguém o tomará de
você. Poucos dias depois entrei com um pedido de patente do meu Curso de Teologia de
Umbanda Sagrada, que 5 anos depois foi negado com a justificativa de que tanto o termo
Teologia quanto Umbanda são de domínio público. Mas isso eu já sabia desde 2002,
quando um advogado especialista no assunto me revelou que patente de um nome ou
marca só é concedida se não for de domínio público.
Se relatei tudo isso é porque, justo, dito e feito, tal como me alertava Pai Benedito, o tal
cidadão anunciou com estardalhaço que havia conseguido a autorização do MEC para abrir
a primeira faculdade de teologia umbandista. E começou a alardear, por meio de seus
discípulos, aos quatro ventos que apenas o seu curso tem valia, desmerecendo o Curso
Livre de Teologia de Umbanda. Como se a teologia, o pensar racional sobre a religião, fosse
exclusividade acadêmica, com seus seguidores atacando com ferocidade o já nosso
tradicional, e muito bem aceito pelos umbandistas, Curso de Teologia de Umbanda
Sagrada.
Mas o tiro saiu pela culatra porque quanto mais eles atacavam mais pessoas queriam (e
ainda querem) conhecer nosso trabalho e estudar conosco, irritando ainda mais os
nossos perseguidores, verdadeiros obsessores encarnados, revoltados porque lotamos os
Apostila 015

Centros onde o nosso curso é ministrado, por muitos médiuns que receberam autorização
de multiplicar este conhecimento organizado da Teologia de Umbanda Sagrada. Paciência,
certo?
O fato é que, tal como havia previsto por Pai Benedito, tudo aconteceu e até hoje vemos
ataques ao nosso já tradicional Curso Livre de Teologia de Umbanda Sagrada, que não dá
a ninguém o diploma de Teólogo, e sim apenas um certificado de conclusão do mesmo.
Afinal, as maiores forças e autoridades espirituais da Umbanda são os caboclos, os Pretos
Velhos, as Crianças, os Baianos, os Boiadeiros, os Marinheiros, os Exus, as Pombas-giras e
os Exus Mirins e, segundo eles mesmos, nenhum deles formado em uma academia ou
faculdade de teologia umbandista. Mas são todos formados e muito bem formados na
riquíssima Escola da Vida, regida por Deus e os Sagrados Orixás.
Eu também não sou formado em nenhuma universidade, faculdade ou academia, mas
assumi esta missão junto à espiritualidade à qual agradeço pela inspiração destes
mentores que me assistem e amam a Umbanda e os umbandistas, fazendo o possível para
transmitir-lhes através de livros e cursos um conhecimento que ajude na compreensão dos
reais fundamentos de nossa religião.

Rubens Saraceni.

Apostila 016

Tráfico de Escravos, Culto de Orixá e Candomblé Baiano


O texto abaixo é uma adaptação livre de parte editada do texto original de Pierre Verger,
a partir do título Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns. Pierre Verger. São Paulo: Edusp.
Recomendo a quem queira se aprofundar no assunto, tanto o título citado quanto Orixás,
do mesmo autor, pela Editora Corrupio.
Os primeiros escravos foram introduzidos no Novo Mundo em 1502, em virtude de um
edito real que permitiu o transporte de escravos negros da Espanha para Hispaniola (que,
mais tarde, se tornou República Dominicana e Haiti), pois a escravidão não existia na
Península Ibérica. O costume outrora estabelecido pelos mouros havia subsistido entre os
cristãos, e o tráfico implantou-se entre Sevilha, em particular, e o litoral norte e oeste da
África. Esses negros, importados para as Antilhas, eram destinados aos trabalhos nas
minas, e o Padre Bartolomé de las Casas tendo observado “os bons resultados” obtidos
com estes escravos africanos e penalizando-se com o destino dos índios, que não resistiam
aos trabalhos agrícolas, “imaginou um meio engenhoso de salvar a vida de seus
catecúmenos e, ao mesmo tempo, salvar a alma dos outros”: incitou a coroa da Espanha a
autorizar o Tráfico dos Negros.
No Novo Mundo, os conquistadores espanhóis e os Bandeirantes portugueses (aos quais,
mais tarde, se juntaram os colonos ingleses, franceses e holandeses) cristianizavam os
índios, “para a salvação de suas almas”, como era devido, e procuravam fazê-los trabalhar
em suas fazendas, engenhos e minas.
É difícil avaliar o número total de escravos assim transportados, após a “filantrópica”
iniciativa do Padre Bartolomé de las Casas. As cifras variam muito. A Enciclopédia Católica
fala de doze milhões, e outras fontes chegam a mencionar cinquenta milhões.
Abaixo um texto adaptado do original, Instituto Orumilá de Cultura, Dados levantados por
Julvan Moreira de Oliveira em seu projeto de pesquisa apresentado como parte dos
exames de seleção ao Programa de Mestrado em Educação, na Faculdade de Educação da
USP, em outubro de 1995.
Durante a escravidão todos os cativos deveriam ser batizados segundo determinação da
Coroa Portuguesa, o que atendia a relação entre o Governo Português e a Igreja Católica
Apostólica Romana. O Pe. Antônio Vieira, em seus Sermões (XI e XXVII) afirma que a África
é o inferno donde DEUS se digna retirar os condenados para, pelo purgatório da escravidão
nas Américas, finalmente alcançarem o paraíso. O mesmo Pe. Antônio Vieira, no Sermão
XIV do Rosário à Irmandade dos Pretos de um Engenho, elaborado em 1633, ao comentar
o texto de São Paulo I Cor 12,13 - o entende no sentido de que os africanos, sendo batizados
antes do embarque da África à América, deviam agradecer a DEUS por terem escapado da
terra natal, onde viviam como pagãos entregues ao poder do diabo. E diz: todos os de lá,
como vós credes e confessais, vão para o inferno onde queimam e queimarão durante toda
a eternidade (VIEIRA, Antônio, 1981). Em outro sermão ainda, Vieira diz que, para ele, o
cativeiro do africano na América não é senão um meio cativeiro, pois atinge só o corpo.
Apostila 017

A alma não está mais cativa, ela se libertou do poder do diabo que governa a África e o
escravo no Brasil deve tentar preservar essa liberdade da alma, para não cair de novo sob
o domínio dos poderes que reinam na África (Idem).
Em 1873, uma oração pela conversão dos povos da África Central para a Igreja Católica,
escrita pela Secretaria da Sagrada Congregação das Indulgências, dizia assim: Rezemos
pelos povos muito miseráveis da África Central que constituem a décima parte do gênero
humano, para que DEUS onipotente finalmente tire de seus corações a maldição de Caim e
lhes dê a benção que só podem conseguir em Jesus Cristo, nosso DEUS e Senhor: Senhor
Jesus Cristo, único Salvador de todo o gênero humano, que já reinas de mar a mar e do rio
até os confins da terra, abre com benevolência o teu sacratíssimo coração mesmo às almas
mui miseráveis da África que até agora se encontram nas trevas e nas sombras da morte,
para que pela intercessão da puríssima Virgem Maria, tua Mãe imaculada e de
São José, tendo abandonado os ídolos, se prostrem diante de ti e sejam agregados à tua
Santa Igreja.
O domingo foi dado como dia “livre” aos escravos para exercerem sua cultura de origem,
abaixo vejamos a justificativa desta atitude por parte da monarquia. É um texto do Conde
dos Arcos, séc. XIX:
Batuques olhados pelo Governo são uma cousa, e olhados pelos particulares da Bahia são
outra diferentíssima. Estes olham para os batuques como para um ato ofensivo dos direitos
dominicais, uns porque querem empregar seus escravos em serviço útil ao domingo
também, e outros porque os querem ter naqueles dias ociosos a sua porta, para assim fazer
parada de sua riqueza. O governo, porém, olha para os batuques como para um ato que
obriga os negros, insensível e maquinalmente, de oito em oito dias, a renovar as ideias de
aversão recíproca que lhes eram naturais desde que nasceram, e que, todavia se vão
apagando pouco a pouco com a desgraça comum; ideias que pode considerar-se como o
garante mais poderoso da segurança das grandes cidades do Brasil, pois que se uma vez
as diferentes nações da África se esqueceram totalmente da raiva com que a natureza as
desuniu, então os de Agomés, vierem a ser irmãos com os Nagôs, os Geges com os Haussas,
os Tapas com os Sentys, e assim os demais; grandíssimo e inevitável perigo desde então
assombrará e desolará o Brasil. E quem duvidará que a desgraça tem o poder de fraternizar
os desgraçados? Ora, pois, proibir o único ato de desunião entre os negros vem a ser o
mesmo que promover o governo indiretamente a união entre eles, do que não posso ver se
não terríveis consequências.
O rei do Daomé enviou, por volta de 1795, dois embaixadores à Bahia com a finalidade de
propor aos portugueses um tratado de comércio que garantisse ao porto de Ajuda
(Ouidah) a exclusividade de fornecimento de escravos.
Essa oferta não foi levada em consideração “porque não convinha que nesta Capitania
(Bahia) se reunisse um número por demais grande de escravos da mesma Nação do que
poderiam resultar consequências perniciosas”.

Apostila 018

Esses pressentimentos não eram vãos, pois houve, na Bahia, inúmeras revoltas: as
Haussas, em 1807 – 1813, seguida das revoltas dos Nagôs Malê, que se deram entre 1826
e 1835. Eram todos eles Muçulmanos.
As consequências destas sublevações foram limitadas, pois outras nações de Negros não
seguiram o movimento. Tratava-se, aliás, de uma guerra de religião, a “Guerra Santa”, pois
se dirigia não somente contra os Senhores Brancos, mas, também contra os negros
crioulos, convertidos ao catolicismo, e contra os negros “animistas”.
Amaury Talbot assinala que em “1846, devido à nova política de livre-escambo e a nova lei
sobre o açúcar, o mercado britânico estava inundado com o açúcar do Brasil e de Cuba,
produzido pela labuta dos escravos, e que, em consequência o tráfico dos escravos
recebeu grande estimulo”.
Este estímulo econômico trouxe cativos Yorubá em grande numero para o Brasil e para
Cuba, que, conforme vimos mantinham relações constantes com a Costa dos Escravos.
Era época das guerras insistentes que Guezo, Rei do Daomé, movia contra seu vizinho o
Rei dos Yorubá, outrora poderoso, mas agora enfraquecido pelas invasões dos fulani.
Guezo, neste período final de escravidão, fez cativa toda a nação de Keto, que entre os
Nagô-Yorubá era onde havia o culto ao Orixá Oxóssi. Foi o perfil desta nação que marcou
intensamente o perfil da religiosidade baiana, que recebeu boa parte de tal nação.
Além disso, Brasil e Cuba eram os únicos países para onde ainda era possível enviar
prisioneiros de guerra que se haviam tornado escravos. A escravidão fora abolida em toda
a América do Sul, com exceção do Brasil, e nas Antilhas, com exceção de Cuba, em Porto
Rico. Quase não havia comércio direto com Estados Unidos.
Uma distribuição dos negros por “Nação”, baseada no contrato de compra e venda de
escravos, entre 1838 e 1860, extraídos do arquivo municipal da cidade de Salvador (Bahia),
indica as seguintes cifras:
3060 escravos de origem Sudanesa:
Nagô (2049), Djedje(286), Mina(117), Calabar (39), Benim (27) e Cachéu (12).
460 escravos de origem Banto:
Angola (260), Cabinda (65), Congo (48), Benguela (29), Gabão (5), Cassange (4) e
Moçambique(42) (Os escravos das Nações que embarcavam no Porto da Costa do Ouro e
dos Escravos eram denominados Sudaneses e os que embarcavam no Porto da Costa de
Angola eram denominados Bantos.
Estes são os números do último período de tráfico negreiro, à Bahia. Desta forma fica
claramente explicada a predominância da Cultura Nagô, a língua Yorubá e
consequentemente o Culto de Orixá característico na região.

Apostila 019

Do Culto de Nação ao Candomblé


por Alexandre Cumino

O ritual cerimonial dos Nagô (e, em menor grau, o dos djedje) é aquele que, na Bahia,
melhor conservou seu caráter africano e influenciou fortemente o das outras “Nações”.
Voltando aos batuques aprovados pelo Conde dos Arcos, a constituição destas sociedades
de divertimentos teve como resultado mais claro manter o culto às Divindades Africanas.
Todos estes Negros haviam sido batizados, mas permaneciam ligados a suas antigas
diferenças. Essas associações lhe permitiam manifestá-las às claras. Suas cantigas e suas
danças, que aos olhos dos Senhores pareciam simples distrações de negros nostálgicos,
eram, na realidade reuniões nas quais eles evocavam os Deuses da África.
Quando o Senhor passava ao lado de um grupo no qual eram cantadas as forças e o poder
vingador de Xangô, o trovão, ou de Oyá, divindade das tempestades e do rio Níger, ou
Obatalá, divindade da criação, ele perguntava o significado daquelas cantigas, e imagina-
se a resposta dos escravos:
“Yoyo, adoramos a nossa maneira e em nossa língua São Gerônimo, Santa Barbara ou o
Senhor do Bom Fim”.
Cada Orixá havia sido sincretizado por um santo católico. Com o tempo houve uma
evolução e o sincretismo afro-católico que, originariamente, era apenas máscara, para
ocultar o Culto de Orixá, tornou-se mais sincero. As novas gerações “crioulas” já
consideram que “santo” e “orixá” são um só, que apenas o nome muda, mas que, de
acordo com o lugar ou momento, é bom dirigir-se a ele em latim ou em uma língua da
África. No entanto mais recentemente surgiu um movimento junto aos Candomblés
Baianos para retirar o sincretismo, desassociar e descristianizar o Culto de Matriz Africana.
Um dos “slogans” do movimento era: “Santa Bárbara não é Iansã”.
Candomblé é um nome dado na Bahia às cerimônias Africanas. Ele representa para seus
adeptos as tradições dos seus antepassados vindos de um País distante, fora de alcance e
quase fabuloso. Tratasse de tradições mantidas com tenacidade, e que lhes deram a força
de continuar sendo eles mesmos, apesar do preconceito e desprezo de que eram objeto
suas religiões, além da obrigação de adotar a religião de seus senhores.
O Candomblé torna-os membros de uma coletividade familiar, espiritual, para a qual são
atavicamente preparados.
Essa forma de organização social proporcionava-lhes uma segurança e uma estabilidade
que nem sempre encontraram em nossa civilização.
Existem poucos países onde os descendentes dos negros libertos da escravidão tenham
conservado, como na Bahia, o orgulho de origem Africana e não tenham procurado dar
uma impressão de ascensão social, renegando abertamente suas tradições adotando
aparentemente as da classe dominante.
Existe também um sincretismo, associação e relação entre Orixás (Nagôs-Yorubá), Voduns.
Apostila 020

(Dgedge) e Inquices (Angola-Quimbundo), podemos até dizer que sincretismo entre


divindades de diferentes culturas já era alço comum em algumas culturas africanas, como
a Bantu ou a Dgedge. Os Nagôs são mais fechados e reservados. Por isso talvez os outros
é que se “aculturaram” com seus valores. Na falta de culto as divindades Vodum ou
Inquice, logo os mesmos já identificavam os mesmos por meio de Orixás análogos, crendo
ser o mesmo com nomes diferentes. Vejamos abaixo uma tabela de comparação e
assimilação dos mesmos:
Djeje (Divindade = Vodum) Angolano (Divindade = Inquice) Nagôs (Divindade = Orixá)
Legbá Aluvaiá Exu
Gu Nkosi-Mukumbe Ogum
Sapata Kaviungo Omulu
Hoho Vunji Ibeji
Age Kabila Oxossi
Sobo Nzaze-Loango Xangö
Aziri Kisimbi Oxum
Lisa Lemba Oxala
Dan Angorö Oxumaré
Manú (Deus) Zambi (Deus) Olorum (Deus)

Bibliografia: Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns (Pierre Verger / Edusp), Orixás (Pierre
Verger/ Corrupio), O Candomblé da Bahia (Roger Bastide / Companhia das Letras), Os Nagô
e a Morte (Joana Elbein dos Santos / Editora Vozes)
Obs.: As cerimonias africanas são denominadas macumba no Rio de Janeiro, candomblé,
na Bahia, Xangô no Recife, tambor de mina em São Luiz do Maranhão. Consultar, sobre
estas questões, os trabalhos de Manuel Querino, Nina Rodrigues, Artur Ramos, Édison
Carneiro, Donald Pierson, Gonçalves Fernandes e Roger Bastide. Nota de Pierre Verger.

Geografia dos Orixás


autoria desconhecida

Não costumo me servir de nada que tenha autoria desconhecida, no entanto considero
este texto muito bom, e teria o maior prazer em reconhecer a autoria do mesmo:
Se na África o culto dos orixás está circunscrito a determinadas regiões ou cidades, no Brasil
a coisa foi totalmente diferente. Lá, existe uma localidade especificamente destinada ao
culto de determinada Divindade, contendo a mesma história, sua origem, seus mitos, e
seus ritos. Assim, Ifé, na Nigéria é o centro da criação para o mundo nagô-iorubá, é a capital
do mundo mítico e mágico negro, é o Iluaiye de que tanto falam os negros da diáspora. Em
Ile-Ife está o culto a Oduduwa, fundador dos povos iorubás, assim como Obatala ou Osala,
o Deus que criou o homem.
Apostila 021

Em Oyo está Sango, que foi seu quarto rei e é o deus do fogo e do trovão, sendo um dos
seus antecessores, o seu pai Oranyan, que foi o primeiro rei de Oyo.
Em Ire, Ogun, deus do ferro e da guerra, invadiu o dominou a cidade tornando-se rei com
o nome de Ogun Onire. Em Abeokuta corre a tradição de lá ter nascido Yemoja, bem como
a de que Oyo ou Iansã para os brasileiros, ter nascido em Ira. Er inlé, mais conhecido como
Inlé e Ibualama, tem o seu culto em Ilobu, além de ter o rio com seu nome. De Ilesa
recebemos grande herança. De lá veio o culto a Logun Edé, cujo sacerdote mais velho e
mais importante do Brasil é o babalorisa. Eduardo Mangabeira, popularmente conhecido
como Eduardo Ijesa, hoje com 99 anos de idade. De Ikija, perto de Ijebu surgiu Ososi, que
veio a ser o primeiro rei de Ketu, cidade que depois foi dominada, destruída e anexada ao
Dahomey, hoje República Popular de Benin.
De seu culto nada mais resta a não ser na diáspora, especificamente na Bahia. Osun tem o
seu culto principal em Osogbo, além das cidades de Oboto, Akpara, Ipetu, Ijimu, dentre
outras. Osala andou muito. Saiu de Ife peregrinando por diversas regiões, tomando nomes
diferentes, ao tempo em que se torna rei dos referidos locais. Em Ejigbo tomou o nome de
Osagiyan, em Ifon, Orisa Olofun e assim por diante. Também chegou até a Bahia o culto a
Iya Mapo, patrona da vagina, por ser através dela que todos os seres humanos vêm ao
mundo, daí a sua sacralização. Iya Mapo é muito venerada e cultuada em Igbeti. Existe um
itan Ifa (história de Ifa), pertencente ao odu Osa Meji (10), que conta como foi colocada a
vagina no devido lugar da mulher, até então colocada em vários lugares do corpo, menos
no que é hoje. Para isso estiveram envolvidos não só o Odu osa meji, mas também Esu e
Iyami Osoronga, num ebó feito com duas bananas e um pote, cabendo a Esu a sua
localização atual, bem como a do pênis do homem do qual Esu é o dono. Quem viaja pela
Nigéria, encontrará enormes pênis esculpidos em pedra pelas estradas, em reverência a
Esu. Na Bahia, o Esu da porteira do Ase Ile Opo Aganju é assentado com grande pênis
esculpido em madeira [...]
[...] Nos rios se fazem oferendas e ritos para Osun, divindade do rio Osun, com cerimônias
nas suas margens, em Osogbo. Yemoja, no rio Ogun, Yewa no rio Yewa, Erinle, no rio Erinle.
No mar, Iya Olokun, que é sua dona, tem o seu rito como na Nigéria, onde existem
esculpidas suas cabeças. Na Bahia se devota grande respeito a essa divindade. Não se entra
no mar sem lhe saudar e pedir licença, dizendo: Iya Olokun to to hun, Iya Olokun gba mi o,
Iya Olokun ago "Mãe Olokun extremamente respeitada, Mãe Olokun me valha, Mãe
Olokun licença", após o que se entrar no mar... As ruas, os caminhos, as encruzilhadas
pertencem a Esu. Nesses lugares se invoca a sua presença, fazem-se sacrifícios, arreiam-se
oferendas e se lhe fazem pedidos [...]

Apostila 022

“Sou zelador-de-santo”
Um dos mais respeitados pais-de-santo do Brasil, Agenor Miranda Rocha emite opiniões
corajosas sobre o candomblé por Gladys Pimentel.
A reabertura dos terreiros de candomblé no feriado religioso de Corpus Christi traz, todo
ano, à Bahia um dos mais queridos e respeitados sacerdotes do povo de santo, o oluwô
(dono dos segredos) Agenor Miranda Rocha, 93 anos. No último dia 13, ele se dividiu na
tríplice jornada de visitar o Gantois, a Casa Branca e o Ilê Axé Opô Afonjá.
Poeta, intelectual, escritor, cantor lírico e educador, ele é o responsável pelo jogo que
indica os representantes na sucessão para as grandes casas de candomblé da Bahia. Foi
seu jogo que nomeou mãe Stella, para o Opô Afonjá, e Tatá, para a Casa Branca. Pelo
apartamento de Pai Agenor, no Rio, passam, diariamente, dezenas de pessoas, incluindo
artistas globais e políticos, que confiam a vida ao seu jogo de búzios.
Natural de Angola, Pai Agenor veio para a Bahia com 5 anos de idade. Ainda criança,
recebeu, de Eugênia Ana dos Santos, mãe Aninha, a vocação para o candomblé. A vida do
oluwô já foi registrada em um livro, de Diógenes Rebouças Filho (Pai Agenor, editora
Corrupio, 1997), e, agora, será tema do documentário Um Vento Sagrado, com roteiro e
direção de Walter Pinto Lima e Carlos Vasconcelos Dominguez (este, morto no ano
passado). Nesta entrevista, concedida no último dia 16, antes de voltar para o Rio de
Janeiro, Pai Agenor fala sobre sua concepção de candomblé, critica o sacrifício de animais,
o jogo cobrado e a grande exposição que a religião ganhou atualmente.
P - Quando e como surgiu sua vocação para pai-de-santo?
R - Não sou pai-de-santo, sou zelador-do-santo. O santo é que é meu pai. Eu acho esta
nomenclatura (pai-de-santo) muito errada. Eu zelo.
P - Qual é a diferença?
R - Se eu sou pai-de-santo, o santo é propriedade. Para mim, os orixás são fragmentos da
natureza. Cada orixá tem encantado um fator natural: Iansã, no vento; Iemanjá, no mar;
Oxóssi, nas matas, caçando; Ogum, desbravando estradas. Então, como eu posso ser pai
deles? Quero que me chame de zelador. Pai, não. O zelador trata dos orixás, faz, todas as
semanas, uma obrigação, que se chama ossé. Fazer ossé aos orixás é limpá-los, cuidá-los.
Apostila 023

P - Como o senhor vê, então, a utilização da nomenclatura pai-de-santo pelo candomblé?


R - Eu já encontrei isso quando fiz santo. Eu é que não me sinto bem em dizer que sou pai-
de-santo.
Para eles (algumas pessoas do candomblé), é uma glória dizer isso.
P - Voltando à sua vocação para zelador-de-santo, quando e como ela surgiu?
R - Eu tinha 5 anos. Na verdade, não fui eu quem procurou o candomblé, o candomblé é
que me procurou. Minha família era toda católica, apostólica, romana, nunca “assistiu” a
um candomblé. Nasci em Ruanda, capital de Angola. Vim para a Bahia com 5 anos. A
vocação surgiu desde que eu nasci. Um africano disse isso para minha mãe antes do meu
nascimento. Ela não acreditou, mas ele acertou em tudo.
Ela me esperava para outubro, ele disse que era para setembro. Eu nasci no dia 8 de
setembro de 1907. Disse que eu ia trazer uma mancha vermelha na cabeça. Eu trouxe.
Quando chegamos aqui, na Bahia, eu fiquei para morrer. Os médicos desenganaram-me.
Minha mãe Aninha, a que fundou o Axé Opô Afonjá, fez o jogo e disse que eu não tinha
nada, que era o orixá que iria ser feito. Fez-se o orixá, em 1912, e eu estou aqui.
P - O senhor ocupa um dos mais altos postos no candomblé. Como atua um oluwô?
R - A mando dos orixás. Sem alarde e sem vaidade. Na realidade, o magistério é que foi
minha carreira. Trabalhei no magistério 47 anos, e saí com pena. Eu nunca vivi do santo.
Eu vivo para o santo.
Até meu jogo de búzios, nunca cobrei. Não cobro, porque eu duvido um pouco dessa
caridade cobrada.
Ela deixa de ser caridade quando é cobrada. Eu sou feliz, os orixás me deram essa missão,
mas me deram também uma profissão. Então, não há necessidade de eu cobrar.
P - Nesses seus 93 anos, houve algum fato, alguma experiência que o marcou? No
candomblé, por exemplo?
R - Diversos. Teve um episódio na minha casa, no Leme, no Rio, em 1947. Eu sonhei com
Xangô me dizendo que estava segurando a casa até eu me mudar, pois a casa iria desabar.
Eu mudei às 5 horas. Às 7 horas, a casa desabou. Então, eu tenho que ter amor aos orixás.
Não posso vendê-los, me aproveitar.
P - Na Bahia do Senhor do Bonfim, o sincretismo religioso está muito presente. Qual a sua
opinião sobre o sincretismo, considerando que o senhor é um zelador-de-santo, filho de
pais católicos?
R - Não há crime nenhum no sincretismo, porque, se não fosse o sincretismo, não haveria
candomblé hoje. Essa é que é a verdade. As mães-de-santo e os pais-de-santo não querem
o sincretismo. Mas tem que haver. Se não fosse o sincretismo, como é que o candomblé
iria sobreviver até hoje? Teria morrido. Agora, eles não gostam quando eu falo isso. Mas
eu falo o que sinto. Não falo pelos outros, falo por mim.
P - O senhor é devoto de Santo Antônio e de São Francisco de Assis e vai sempre à cidade
de Assis, na Itália, venerar São Francisco. Como é que o senhor lida com isso dentro do
candomblé? Existe preconceito?

Apostila 024
R - Se há preconceitos, é com eles. Eu sou eu. Nunca tive conflito. E, agora, tem mais uma
coisa: eu sou do santo, católico e espírita. Assim como na família: nem todos são iguais,
mas convivem bem. Não é isso? É uma questão de fé.
P - Qual a diferença do candomblé do passado para o candomblé atual?
R - Bom, eu costumo, numa frase, mostrar: eu sou do candomblé de morim (pano de
algodão muito fino e branco). Hoje, é candomblé de lamê (plumas, lantejoulas). Parece
uma escola de samba.
P - O sacrifício de animais, um dos ritos mais comuns e simbólicos do candomblé, é
contestado pelo senhor. Por quê?
R - Acho que é uma maldade. Os orixás, que são fragmentos da natureza, precisam de
sangue? Matar os animais que representam a natureza? Matar, além de tudo, com uma
faca, devagarinho, com cantiga, até chegar em uma palavra para tirar a cabeça do bicho.
Não dá! Sou contra a matança. Na vida, tudo evolui com o tempo. O candomblé podia ter
evoluído um pouquinho, ser mais moderado. O candomblé, hoje, é um luxo.

Obs.: O texto na íntegra se encontra no site:


www.corrupio.com.br/pai_agenor_entrevista.htm.
Nesta mesma época em que foi feita a entrevista para o “Jornal da Tarde - 24/06/2001”
realizou-se um documentário sobre a vida de Agenor Miranda, intitulado “Um Vento
Sagrado”. O filme traz depoimentos de personalidades, como o cantor Gilberto Gil e o
escritor Muniz Sodré.
Obs.: Fotografias cedidas por Maria Inez Couto de Almeida, amiga particular de Agenor
Miranda

Apostila 025
Biografia de Allan Kardec
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Allan_Kardec

Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 3 de outubro de 1804 — Paris, 31 de março de 1869)
teve formação acadêmica em matemática e pedagogia, interessando-se mais tarde pela
física, principalmente o magnetismo. Como escritor, dedicou-se à tradução e à elaboração
de obras de cunho educacional. Sob o pseudônimo de Allan Kardec, notabilizou-se como o
codificador do Espiritismo, também denominado de Doutrina Espírita. O pseudônimo
"Allan Kardec", segundo biografias, foi adotado pelo Prof. Rivail a fim de diferenciar a
Codificação Espírita dos seus trabalhos pedagógicos anteriores. Segundo algumas fontes,
o pseudônimo foi escolhido pois um espírito revelou-lhe que haviam vivido juntos entre os
druidas, na Gália, e que então o Codificador se chamava "Allan Kardec".

A juventude e a atividade pedagógica

Nascido numa antiga família de orientação católica com tradição na magistratura e na


advocacia, desde cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da filosofia.
Fez os seus estudos na Escola de Pestalozzi, no Castelo de Zahringenem, em Yverdon-les
Bains, na Suíça (país protestante), tornando-se um dos seus mais distintos discípulos e
ativo propagador de seu método, que tão grande influência teve na reforma do ensino na
França e na Alemanha. Aos quatorze anos de idade já ensinava aos seus colegas menos
adiantados.
Concluídos os seus estudos, o jovem Rivail retornou ao seu país natal. Profundo
conhecedor da língua alemã, traduzia para este idioma diferentes obras de educação e de
moral, com destaque para as obras de François Fénelon, pelas quais manifestava particular
atração.
Apostila 026
Era membro de diversas sociedades, entre as quais da Academia Real de Arras, que, em
concurso promovido em 1831, premiou-lhe uma memória com o tema "Qual o sistema de
estudos mais devharmonia com as necessidades da época?".
A 6 de fevereiro de 1832 desposou Amélie Gabrielle Boudet.
Como pedagogo, o jovem Rivail dedicou-se à luta para uma maior democratização do
ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência, à rua de Sèvres, cursos
gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia e outros. Nesse período,
preocupado com a didática, criou um engenhoso método de ensinar a contar e um quadro
mnemônico da História de França, visando facilitar ao estudante memorizar as datas dos
acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país.
Publicou diversas obras sobre educação.

Das mesas girantes à Codificação

Conforme o seu próprio depoimento, publicado em Obras Póstumas, foi em 1854 que o
Prof. Rivail ouviu falar pela primeira vez do fenômeno das "mesas girantes", bastante
difundido à época, através do seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data. Sem dar
muita atenção ao relato naquele momento, atribuindo-o somente ao chamado
magnetismo animal de que era estudioso, só em maio de 1855 sua curiosidade se voltou
efetivamente para as mesas, quando começou a frequentar reuniões em que tais
fenômenos se produziam.
Convencendo-se de que o movimento e as respostas complexas das mesas deviam-se à
intervenção de espíritos, Rivail dedicou-se à estruturação de uma proposta de
compreensão da realidade baseada na necessidade de integração entre os conhecimentos
científico, filosófico e moral, com o objetivo de lançar sobre o real um olhar que não
negligenciasse nem o imperativo da investigação empírica na construção do
conhecimento, nem a dimensão espiritual e interior do Homem. Adotou, nessa tarefa, o
pseudônimo que o tornaria conhecido: Allan Kardec.
Tendo iniciado a publicação das obras da Codificação em 18 de abril de 1857, quando veio
à luz O Livro dos Espíritos, considerado como o marco de fundação do Espiritismo, após o
lançamento da Revista Espírita (1 de janeiro de 1858), fundou, nesse mesmo ano, a
primeira sociedade espírita regularmente constituída, com o nome de Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas.

Os últimos anos

Kardec passou os anos finais da sua vida dedicado à divulgação do Espiritismo entre os
diversos simpatizantes, e a defendê-lo dos opositores. Faleceu em Paris, a 31 de março de
1869, aos 64 anos (65 anos incompletos) de idade, em decorrência da ruptura de um

Apostila 027
aneurisma, quando trabalhava numa obra sobre as relações entre o Magnetismo e o
Espiritismo, ao mesmo tempo em que se preparava para uma mudança de local de
trabalho. Está sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, uma célebre necrópole da capital
francesa. Junto ao túmulo, erguido como os dólmens druídicos, acima de sua tumba, seu
lema:

"Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei", em francês.

Allan Kardec.

O Espiritismo é uma religião?

Kardec foi muito indagado sobre essa questão, e deu sua resposta na Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas, em 1º de Novembro de 1868, conforme nos é apresentado no livro
Instruções de Allan Kardec ao Movimento Espírita da Editora FEB, p. 487-495. Abaixo coloco
apenas o cerne de sua exposição, onde fica clara a posição delicada de Kardec sobre o
assunto:

Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na
comunhão de pensamentos; com efeito, é aí que podem e devem exercer sua força,
porque o objetivo deve ser a libertação do pensamento das amarras da matéria.
Infelizmente, a maioria se afasta desse princípio à medida que a religião se torna uma
questão de forma. Disso resulta que cada um, fazendo seu dever consistir na realização da
forma, se julga quite com Deus e com os homens, desde que praticou uma fórmula. Resulta
ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por
sua própria conta e, na maioria das vezes, sem nenhum sentimento de confraternidade em
relação aos outros assistentes; fica isolado em meio à multidão e só pensa no céu para si
mesmo.
Por certo, não era assim que o entendia Jesus, ao dizer: “Quando duas ou mais pessoas
estiverem reunidas em meu nome, aí estarei entre elas”...
(...) Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão
de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua
acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunhão de
sentimentos, de princípios e de crenças; consecutivamente, esse nome foi dado a esses
mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé...
Apostila 028
(...) O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois,
essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações,
e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da
realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço
moral é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas
e de sentimentos, a fraternidade, a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas.
É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.
Se é assim, perguntarão então, o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida,
senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por
isso, porque é a doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de
pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as
próprias leis da Natureza.
Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não
haver senão uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a
palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta exclusivamente uma ideia de
forma, que o espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não
veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em
matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de
privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas
vezes a opinião se levantou.
Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da
palavra, não podia nem deveria enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente
se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: Doutrina filosófica e moral.
As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto é, com o recolhimento e
o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa; pode-se mesmo,
na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum,
sem que, por isso, sejam tomadas por assembleias religiosas. Não se pense que isso seja
um jogo de palavras; a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém
senão da falta de uma palavra para cada ideia...

Apostila 029

Espiritismo e Umbanda
por Alexandre Cumino
Kardec é cientista e pesquisador, um homem do mundo moderno-positivista, para quem a
magia representava algo atrasado com relação à religião, e está atrasada com relação à
ciência. ¹
É dessa forma que surgem alguns pontos de conflito entre Kardecismo e Umbanda, e que
alguns dos “Espíritas Ortodoxos” usam para recriminar a prática umbandista, ou
simplesmente para salientar sua condição oposta aos preceitos de Kardec.
Coloco abaixo algumas passagens da obra de Kardec que não se enquadram na prática da
religião de Umbanda, principalmente no que diz respeito à Magia, como bem ilustrou Leal
de Souza, começando pelo livro O que é o Espiritismo:

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica.


Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos;
como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas
relações.
Podemos defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência² que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem
como de suas relações com o mundo corporal. (p.55)
Todas as religiões são necessariamente fundadas sobre o espiritualismo. Aquele que crê
que em nós existe outra coisa, além da matéria, é espiritualista, o que não implica crença
nos Espíritos e nas suas manifestações...
Para novas coisas são necessários termos novos, quando se quer evitar equívocos. Se eu
tivesse dado à minha Revista a qualificação de espiritualista, não lhe teria especificado o
objeto, porque, sem desmentir-lhe o título, bem poderia nada dizer nela sobre os Espíritos,
e até combatê-los...
Se adotei os termos espírita, espiritismo, é porque eles exprimem, sem equívoco, as idéias
relativas aos Espíritos.
Todo espírita é necessariamente espiritualista, mas nem todos os espiritualistas são
espíritas. (p.74)
Longe de fazer reviver a feitiçaria, o Espiritismo a aniquila, despojando-a do seu pretenso
poder sobrenatural, de suas fórmulas, engrimanços, amuletos, e talismãs, e reduzindo a
seu justo valor os fenômenos possíveis, sem sair das leis naturais. ³(p.116)

¹ Veja o Anexo “O Espiritismo é uma Religião? ”


² É considerado ciência a aplicação de um método ao estudo de certo objeto.
³ O que é o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2006.

Apostila 030

Vejamos algumas considerações do O Livro dos Espíritos:


551. Pode um homem mau, com o auxílio de um mau Espírito que lhe seja dedicado, fazer
mal ao seu próximo?
“Não; Deus não o permitiria. ”

553. Que efeito podem produzir as fórmulas e prática mediante as quais pessoas há que
pretendem dispor do concurso dos Espíritos?
“O efeito de torná-las ridículas, se procedem de boa-fé. No caso contrário, são tratantes
que merecem castigo. Todas as fórmulas são mera charlatanaria. Não há palavra
sacramental nenhuma, nenhum sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação
sobre os Espíritos, porquanto estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas
materiais. ”
a) – Mas, não é exato que alguns Espíritos têm ditado, eles próprios, fórmulas cabalísticas?
“Efetivamente, Espíritos há que indicam sinais, palavras estranhas, ou prescrevem a prática
de atos, por meio dos quais se fazem chamados conjuros. Mas, ficai certos de que são
espíritos que de vós outros escarnecem e zombam da vossa credulidade. “4

Estas considerações são um contraponto, para que não se confunda Umbanda com
Espiritismo (“Kardecismo”), embora tenham muitas semelhanças e pontos em comum.
“Kardecismo” é origem para Umbanda de mesmo nível e respeito que suas outras origens.
Kardecismo é raiz para Umbanda, assim como Judaísmo para Cristianismo, no entanto
Umbanda não tem apenas esta raiz. Kardec, quando questionado, de forma direta, se
espiritismo é religião, afirma que “formalmente não” mas “ideologicamente sim”.5

Exu e Espiritismo

Faço esse adendo no Material de Apoio deste Curso apenas porque muito se questiona se
há Exus trabalhando nas lidas espíritas. É preciso que fique claro que o nome “Exu” é algo
empregado na Umbanda para definir os “Guardiões do Templo” e “Guardiões Pessoais”,
entidades que trabalham em todas as religiões. Embora haja Guardiões dedicados a esta
ou aquela religião, também há aqueles que militam em mais de uma religião, e também
guardiões pessoais que acompanham seus médiuns onde eles forem. Logo, o fato de
observarmos guardiões no espiritismo não nos dá o direito de chamá-los de “Exus”, pois
essa é nossa forma de identificá-los. Assim, vejamos a presença de alguns deles na
literatura espírita, e que se fosse em ambiente de Umbanda não restaria dúvida de sua
identidade.
Vou me limitar apenas a transcrever alguns trechos de livros da série "Nosso Lar" de André
Luiz, psicografado por Chico Xavier.
Apostila 031

Título Ação e Reação (pg. 62):


De súbito, um companheiro de alto porte e rude aspecto apareceu e saudou-nos da
diminuta cancela, que nos separava do limiar, abrindo-nos passagem. Silas nos apresentou,
alegremente. Era Orzil, um dos guardas da mansão, em serviço nas sombras. A breves
instantes, achávamo-nos na intimidade de pouso tépido.
Aos ralhos do guardião dois dos seis grandes cães acomodaram-se junto de nós, deitando-
se aos pés. Orzil era de constituição agigantada, figurando-se um urso em forma humana.
No espelho dos olhos límpidos mostrava sinceridade e devotamento.
Tive a nítida ideia de que éramos defrontados por um penitenciário confesso, a caminho da
segura regeneração.

Título Nos Domínios da Mediunidade (pg.53):

Três guardas espirituais entraram na sala, conduzindo infeliz irmão ao socorro do grupo.

Título Nos Domínios da Mediunidade (pg.251):

Apenas o irmão Cássio, um guardião simpático e amigo, de quem o assistente nos


aproximou, demonstrava superioridade moral.

Podemos encontrar muitas outras referências em outros títulos espíritas, para não nos
alongarmos na questão cito apenas um título do autor espiritual J.R.Rochester, que se é
polêmico no entanto tornou-se um clássico, Os Magos (Ed. Boa Nova). Nessa obra
encontramos um certo “Abin-ari”, espírito sem luz que vive de retirar de nosso meio os
espíritos rebeldes e "larvais" que se voltam contra a humanidade, e para tal ele usa como
ferramenta um tridente. O mais curioso é que esse livro foi psicografado na Rússia no final
do século XIX, pouco antes de surgir a Umbanda no Brasil.

4 O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2006.


5 Veja Espiritismo é religião?

Apostila 032

A Natureza do Ser
Através de um estudo profundo realizado no astral, é que nos chega a conclusão de que,
ao contrário do que muitos pensam, os espíritos trazem em si características intrínsecas,
de naturezas masculina ou feminina, podendo eventualmente encarnar em corpos que não
são afins com sua natureza, para reequilibro, em outras palavras “aprender o que é do
outro sexo”, ou encarnações missionárias programadas e previstas... E aí reside o fato de
homens terem como “Orixá Ancestral” (não é o Orixá de frente logo localizado dentre os
trabalhos de Umbanda) um Orixá masculino e mulheres um feminino... O que é verificado
e explicado nas obras de Rubens Saraceni e no texto de André Luiz (Evolução em Dois
mundos pg137 e 189) abaixo:

Pg.137 Origem do Instinto Sexual – Todas as nossas referências a semelhantes peças do


trabalho biológico, nos reinos da Natureza, objetivam simplesmente demonstrar que, além
da trama de recursos somáticos, a alma guarda sua individualidade sexual intrínseca, a
definir-se na feminilidade ou na masculinidade, conforme os característicos
acentuadamente passivos ou claramente ativos que lhe sejam próprios.
A sede real do sexo não se acha, dessa maneira, no veículo físico, mas sim na entidade
espiritual, em sua estrutura complexa.

Pg.189 Como se iniciou a diferenciação dos sexos?


Os princípios espirituais, nos primórdios da organização planetária, traziam, na
constituição que lhes era própria, a condição que podemos nomear por “teor de força”,
expressando qualidades predominantemente ativas ou passivas. E entendendo-se que a
evolução é sempre sustentada pelas inteligências superiores, em movimentação
ascendente, desde as primeiras horas que a reprodução sexuada começou, sob a direção
delas, a formação dos órgãos masculinos e femininos que culminaram morfologicamente
nas províncias genésicas do homem e da mulher da atualidade...

Agora, dentro do contexto Umbandista, nas obras “Gênese Divina de Umbanda Sagrada”,
“Orixás Ancestrais” e “Doutrina e Teologia de Umbanda” (p. 75 e 90) a origem do ser é
explicada de forma detalhada e racional, onde nos são apresentados os sete planos da
vida, e a evolução do ser, que desde sua origem, sua centelha original (a estrela da vida),
já apresenta natureza masculina ou feminina, passiva ou ativa. Onde aparece um “Orixá
Ancestral” dominante que pode ser Masculino ou Feminino, em concordância com a
natureza do ser, e outro “Orixá Ancestral” recessivo, que juntos formam o casal de Orixás
que sempre nos acompanharam e sempre acompanharão em todas as nossas
encarnações, pois são o “Pai” e a “Mãe” que nos qualificaram antes mesmo de
adentrarmos no ciclo reencarnacionista, quanto ao “Pai de cabeça” e “Mãe de cabeça”,

Apostila 033
“Orixá de Frente”, a cada encarnação é um que assume, dependendo do que mais
precisamos absorver da divindade naquela encarnação, o que denota um comportamento
passivo ou ativo por parte das entidades em evolução que estagiam nesses planos.
Com relação a esse assunto, peço leitura e paciência, teremos uma aula dedicada para tal,
assim como teremos uma aula para explicar Orixá de Frente, Ancestre e Juntó.

Divindades e Espiritismo

O assunto Orixá é complexo, e como Divindades de Deus ainda no contexto kardecista


também encontraremos texto de André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos (Pg.21):

“CO-CRIAÇÃO EM PLANO MAIOR – Nessa substância original, ao influxo do próprio Senhor


Supremo, operam as inteligências Divinas a ele agregadas em processo de comunhão
indescritível, os grandes Devas da teologia hindu ou os arcanjos da interpretação de
variados templos religiosos, extraindo deste hálito espiritual os celeiros da energia com
que constroem os sistemas da imensidade, em serviço de Co criação em plano maior, em
conformidade com os desígnios do Todo Misericordioso, que faz deles agentes
orientadores da Criação Excelsa.
Essas Inteligências Gloriosas tomam o plasma Divino e convertem-no em habitações
Cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas,
obedecendo a Lei pré-determinada, quais moradias que perduram por milênios e milênios,
mas que se desgastam e se transformam, por fim de vez que o espírito criado pode formar
ou Co criar, mas só Deus é o Criador de toda a eternidade. ”

Creio que nesse texto Kardecista encontramos elementos que nos ajudam a entender as
“Divindades”, que em comunhão com o Criador resumem parte do que entendemos por
“Orixás”.

Um abraço e Axé a todos!!!

Apostila 034

Cuidado!
Você não deve ser umbandista!
por Alexandre Cumino

Ser Umbandista é amar a Deus acima de todas as coisas!


Ser Umbandista é amar a natureza e respeitá-la, pois Deus está lá!
Ser Umbandista é reconhecer que os Orixás são Potências de Deus, Divindades, que
manifestam as qualidades do Criador de Tudo e de Todos!
Ser Umbandista é ser amante da sabedoria, da virtude, da justiça e da humanidade!
Ser Umbandista é ser amigo dos pobres, desgraçados que sofrem, que choram, que têm
fome e chamam pelo direito de justiça!
Ser Umbandista é querer a harmonia das famílias, a concórdia dos povos, a paz do gênero
humano!
Ser Umbandista é levar para o terreno prático aquele formosíssimo preceito de todos os
lugares e todos os séculos, que diz com infinita ternura aos homens de todas as raças,
desde o alto de uma cruz e com os braços abertos ao mundo: “Amai-vos uns aos outros,
formai uma só família, sede irmãos!”
Ser Umbandista é pregar a tolerância; praticar a caridade sem distinção de raças, crenças
ou opiniões, é lutar contra a hipocrisia e o fanatismo!
Ser Umbandista é viver para a realização da Paz Universal, tendo pelos encarnados o
mesmo respeito que se dedica aos desencarnados!
Ser Umbandista é ter uma crença religiosa sem tabus ou preconceitos, fundamentada na
ética e no bom senso, sem ferir os valores dos bons costumes!
Ser Umbandista é respeitar a máxima que diz “somos imagem e semelhança de Deus”,
vendo Deus na presença do semelhante e em nós, através de nossas virtudes de Fé, Amor,
Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração!
Ser Umbandista é reconhecer que as religiões são as chaves de Deus para abrir os corações
dos homens e que são muitos corações, diferentes uns dos outros, assim como as religiões,
mas que é apenas um o Chaveiro Divino, que está em todas as religiões!
Ser Umbandista é dar de graça o que de graça recebemos!

SE VOCÊ NÃO REÚNE ESTAS CONDIÇÕES,


AFASTE-SE DA UMBANDA!

Texto adaptado do original: “Cuidado! O Senhor Não Deve Ser Maçom”, publicado em “A Voz do Vale do
Rio Grande”, Paulo de Faria, SP, em 04 de Janeiro de 1976 e de autor desconhecido.

Apostila 035

O que é UMBANDA?
por Alexandre Cumino
Umbanda é uma religião que prega as mesmas verdades e busca a mesma paz de espírito
que todas as outras religiões. Em suas práticas o bom senso, o respeito, a ética e a moral
são conceitos tão válidos e importantes quanto em qualquer outro segmento.
Mesmo sabendo de que a Umbanda é religião nos vemos cercados por práticas que nada
manifestam de religiosidade e outras que não fazem parte dos fundamentos de Umbanda.
Pessoas desavisadas e outras de má-fé, que não podem ser consideradas Umbandistas,
vivem de profanar aquilo que para nós é sagrado. Por isso colocamos abaixo alguns
elementos, práticas e comportamentos que em nada refletem a religião de Umbanda.

NÃO é UMBANDA!

Trabalhos espirituais financeiramente cobrados – NÃO É UMBANDA!


Assédio sexual e comportamento promíscuo – NÃO É UMBANDA!
Falta de moral e desrespeito aos que procuram ajuda espiritual – NÃO É UMBANDA!
Trabalhos de amarração e outros similares – NÃO É UMBANDA!
Promessas de milagres e soluções materiais mirabolantes – NÃO É UMBANDA!
Atalhos para evolução e iluminação, sem trabalho espiritual – NÃO É UMBANDA!
UMBANDA É...
“Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade”
“Umbanda é Amor e Caridade”
“Umbanda é aprender com os mais evoluídos e ensinar aos menos evoluídos”
“Umbanda é religião, como qualquer outra, mas com fundamentos próprios”
“Umbanda é acima de tudo trabalho espiritual”
“Umbanda é Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração”
“Umbanda é o UM, o Todo, com todos nós, a sua BANDA, suas partes”
“Umbanda é sinônimo de Curador, Sacerdote e Médium”
“Umbanda é o Templo onde habita Olorum e seus Orixás, junto de nós e nossos guias”

Apostila 036

Hino da Umbanda
por J.M.Alves
Refletiu a luz divina
Em todo seu esplendor
Vem do reino de Oxalá
Onde há paz e amor
Luz que refletiu na Terra
Luz que refletiu no mar
Luz que veio de Aruanda
Para Tudo Iluminar
Umbanda é paz e amor
Um mundo cheio de Luz
É a Força que nos dá vida
E a grandeza nos conduz
Avante filhos de fé
Como a nossa lei não há
Levando ao mundo inteiro
A Bandeira de Oxalá
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Ervas de Poder
Por Alexandre Cumino

Nas culturas primeiras, aborígines, também chamadas, pejorativamente, de primitivas,


encontramos largamente o uso de plantas alucinógenas. No entanto, para o aborígine (o
índio ou xamã), geralmente essas plantas, aqui identificadas como ervas, são consideradas
“enteógenas”, ou seja, ervas que propiciam um encontro com o sagrado.
O uso dessas ervas geralmente é feito dentro de uma esfera ritualística, envolta por seus
dogmas e tabus.
Geralmente há nas tribos indígenas uma espécie de sacerdote que cuida da parte espiritual
e medicinal da comunidade, que em nossas tradições é chamado de Pajé, também
considerado um xamã (palavra siberiana para identificar o indivíduo que adentra a
dimensão do sagrado por meio de técnicas de transe).
As ervas “enteógenas” são também chamadas ervas de poder, ou seja, aquelas que dão ao
xamã a condição de, em contato com o sagrado, ir além desta esfera material, palpável e
tangível; transcendendo o mundo material. Assim, entram em contato com as forças da
natureza, com os espíritos da natureza, com o espírito da erva, com os espíritos ancestrais,
com os deuses, ou simplesmente adquirem uma percepção mais aguçada e abrangente
desta realidade que nos cerca. Vendo o mundo de outra ótica, em que podem enxergar
melhor os males que afligem a tribo ou um doente na tribo.

Apostila 037

Buscam em outra esfera, do sagrado, respostas que possam auxiliar (curar) o grupo ou um
indivíduo. Saindo de si mesmo também se tornam grandes conselheiros, tendo a
oportunidade de vencer o egocentrismo para entender o outro em suas dores, angústias
e frustrações.
Estas ervas são consideradas sagradas pelos xamãs, costumam dizer que a profanação do
sagrado pode trazer dor à sociedade. Hoje essas ervas sagradas são comercializadas pelo
homem moderno e pós-moderno como drogas e entorpecentes, que causam, na maioria
das vezes, a dependência. Não se busca o sagrado, mas apenas fugir da realidade ou um
pequeno prazer momentâneo. Toda a cultura ancestral, dos que descobriram o uso
sagrado destas plantas, é descaracterizada, e mesmo eles que têm tanto respeito pela vida
e pela harmonia da estrutura social são mal vistos pelo homem dito civilizado, que
deturpou e profanou um dos elementos sagrados de sua cultura.
E foi assim que a folha da coca, sagrada nas culturas andinas, foi profanada e manufaturada
na produção de cocaína. A Canabis Ativa, vulgarmente conhecida como maconha, é erva
sagrada para a religião Rastafari da Jamaica. O Fumo, tabaco, era sagrado para os índios
das três Américas, o Europeu o descobriu, comercializou e fez dele um dos maiores males
que afligem a sociedade. Na Amazônia, a Ayauaska (Daime) é uma planta sagrada de poder,
assim como o Peiote na América Central e do Norte.
Ainda existem tribos onde a figura do xamã é presente, como na Cariri Choco, brasileira,
onde o Pajé faz uso da planta da Jurema como erva de poder. No entanto, há religiões que
sincretizaram as ervas de poder e xamanismo com outras culturas e religiões fazendo
nascer novas “igrejas”, onde, por exemplo, o cristianismo caminha lado a lado com as ervas
de poder. E este é o caso, por exemplo, do Santo Daime no Amazonas que faz uso da
Ayauaska, agora chamada de Daime, como erva de Poder ao lado de uma doutrina de
influência cristã. O Catimbó do Pernambuco usa a bebida da Jurema também num
contexto de sincretismo com o cristianismo. Da mesma forma, nos EUA existe o Peiotismo,
no qual a presença do peiote de uso ancestral indígena convive com valores cristãos.
O Peiotismo tem uma ligação forte com a Gost Dance, que é de fato uma religião de
oprimidos, dos índios Norte Americanos, destacando o Chefe Siux Touro Sentado, que
buscavam, através de um movimento profético, vencer os brancos conquistadores.

Apostila 038
Imagem do peiotismo tirada do site:
http://www.xamanismo.com.br/Universo/SubUniverso1187815981It006

Quanah Parquer, fundador da Religião Americana do Peiote.

Apostila 039
P.S.1: O Peiotismo surgiu em torno de 1880 em Oklahoma, com a presença das tribos
Comanche e Kiowas, numa condição de opressão dentro das reservas indígenas. Da mesma
forma, surgiu a Gost Dance. Seu fundador foi Quanah Parker, um Chefe Comanche. O
Peiotismo ainda sobrevive na “Igreja Americana Nativa”, “Religião "oficial" de pelo menos
70 tribos indígenas nos Estados Unidos. "A Igreja Nativa Americana é essencialmente uma
doutrina oral, não há livros sagrados", diz Pablo Alarcón-Cháires, pesquisador da
Universidade Autônoma do México e um dos cerca de 300 mil membros da igreja.

P.S.2: O Tabaco também é uma erva de poder usada largamente e que se faz presente na
Umbanda justamente por suas qualidades como tal. Logo, Charuto, cachimbo e cigarro têm
uso ritualístico e mágico, nada têm a ver com apego à matéria ou vício. As entidades não
a fumam, manipulam o fumo, seja para uma defumação direcionada, um descarrego,
limpeza ou oferenda.

Apostila 040

Bebidas e Fumo na Umbanda


por Rodrigo Queiroz
O fumo, Tabaco, é considerado uma "Erva de Poder", usada há milênios pelos povos
indígenas, considerado sagrado com larga utilização em seus trabalhos de cura, pajelança
e xamanismo.
"Tudo que é sagrado traz o divino e as virtudes para nossas vidas, sempre que profanamos
algo sagrado atraímos a dor e o vício."
Assim, o mesmo tabaco que cura em seu aspecto sagrado também vicia e traz a dor quando
utilizado de forma profana. Industrializado no formato de cigarro, o fumo traz além da
nicotina mais de 4.250 outros agentes tóxicos, prejudicial à saúde, sendo causador de
várias doenças, o câncer entre elas. Resultado do uso profano...
Algo muito parecido acontece com o Álcool que como "Bebida de Poder" atrai forças e
poderes das divindades, também utilizado para curas.
Dentro do conceito elemental, o fumo é o vegetal que traz os elementos terra e água,
quando utilizado no fumo e defumação traz os elementos ar e fogo. Resumindo, o fumo é
uma defumação direcionada, que traz além do vegetal os quatro elementos básicos (terra,
água, ar e fogo) para trabalhos de magia prática.
O Sopro por si só traz efeitos terapêuticos e espirituais muito valorosos e eficazes nos
trabalhos de cura e limpeza, que somado ao poder das ervas é potencializado muitas vezes
em resultados largamente vistos durante os trabalhos de Umbanda.
O Álcool é do elemento água, provindo de um vegetal (a cana), que se sustenta na terra,
altamente volátil no ar e considerado o "fogo líquido", de fácil combustão.
Tanto o Fumo quanto o álcool são utilizados para desagregar energia negativa, queimar
larvas e miasmas astrais e, no caso do álcool, para desinfetar e limpar no externo e no
interno já que pode ser ingerido. Logo, as entidades de Umbanda não têm vício e nem
apego a esses elementos, não bebem além de alguns poucos goles e nem tragam a fumaça
que é manipulada apenas.
Alguns guias chegam a cuspir em recipientes adequados, a famosa "caixinha", que fica ao
seu lado, para neste ato evitar ao máximo a ingestão da nicotina e de outros elementos
que não interessam para o trabalho e muito do que vem pela química industrial.
O Astral tem nos ensinado muitos recursos para evitarmos o uso de cigarros
industrializados no Templo. No reino vegetal, temos ervas de várias propriedades, que
quando combinadas e ativadas (queimadas) tornam-se grandes condutores energéticos,
descarregadores, energizadores e equilibradores.
Então, seguem algumas receitinhas:
Façam charutos para caboclos com as seguintes ervas piladas: sálvia, alfazema e calêndula,
pode ser enrolada na palha, o caboclo aceita esta receita que é muito boa e funciona tanto
quanto um charuto bom e natural, sem a química.
Para preto velho, faça o fumo de cachimbo com sálvia, alecrim, folha de café e urucum.

Apostila 041

Para Exu, troque o cigarro comum por charutos ou cigarrilhas. Para Pomba Gira, troque o
cigarro por cigarrilha. Temos a opção para Exu de pilar sálvia, cravo vermelho seco e
levante, e para Pomba Gira podemos usar sálvia, hibisco e rosa vermelha. Cabe a nós
facilitarmos o trabalho das entidades.
Erroneamente, algumas pessoas acreditam que Exu tem que beber garrafas de "marafo"
(álcool, água-ardente, pinga), assim como baianos e outras linhas, pensam que marinheiro
"enche a cara" e vem embriagado, quando sua "embriaguez" é a energia e a vibração do
mar que ele traz.
Os Guias manipulam estas bebidas onde temos para elas o nome de "curiador" (a bebida
correta para cada linha de trabalho), sendo assim:
. Caboclos bebem cerveja ou água de coco;
. Pretos-velhos bebem café e, em alguns casos, já presenciamos utilizarem vinho;
. Crianças bebem guaraná e suco de frutas, mas também presenciamos algumas que
tomam outros tipos de refrigerante;
. Baianos bebem água de coco ou batida de coco;
. Boiadeiros bebem cerveja escura;
. Marinheiros bebem rum, e alguns bebem cerveja clara;
. Exus bebem a "marafa" (pinga). Alguns bebem uísque ou vinho; embora não seja comum,
já vimos alguns que bebem cerveja;
. Pombas-Giras bebem champanhe ou sidra.
É imprescindível o "marafo" no trabalho de Exu, mas não para beber em demasia. A bebida
é usada para manipulação magística, é colocada no ponto, na tronqueira, lavam os
instrumentos etc. No caso de Exu, sua vibração é mais densa, por isso pode-se antes da
incorporação passar um pouco de pinga nas mãos, pés, testa e nuca, assim o médium
sentirá sua vibração baixar, facilitando a conexão da incorporação.
Se numa determinada situação é preciso derrubar mais a vibração orgânica é quando
possivelmente a entidade toma um golinho de "marafo". Dependendo do trabalho, pode
ser preciso ingerir mais, com a intenção de manipular e canalizar esta energia, nada além
disso.
Uma outra função da bebida, muito usada pelas linhas da direita, é usá-la como o
"contraste", usado pela medicina tradicional.
Quando algum problema de ordem física está ocorrendo, eles magnetizam a bebida, tal
como vinho, água de coco, água pura, batida etc., e pedem para o consulente ingerir uma
pequena quantidade, aí eles conseguem visualizar outras coisas no organismo, é como um
check-up mais apurado.
Mas atenção: se tiver preto-velho virando garrafas de vinho, baianos matando litros de
batida, então algo está fora da doutrina e da educação mediúnica.
Umbanda é Luz, e onde não houver bom senso e ética, não tem Umbanda.
Um forte abraço a todos e muita luz.

Axé!!
Apostila 042
Desautomatização
Por Osho
Um homem veio a mim. Ele sofria do vício de fumar há trinta anos; ele estava doente e os
médicos disseram:
"Você nunca ficará bom se não parar de fumar."
Ele era um fumante crônico e não conseguia parar. Mas ele tentou, tentou arduamente e
sofreu muito tentando. Conseguia por um ou dois dias, mas então a necessidade de fumar
vinha tão forte que simplesmente o vencia. Novamente ele caía no mesmo esquema.
Por causa disso, ele perdeu toda a autoconfiança; sabia que não podia fazer nem essa
pequena coisa: parar de fumar. Ele se desvalorizou diante de si mesmo; considerava-se a
pessoa mais sem valor do mundo. Não tinha mais respeito por si mesmo. E assim, ele veio
a mim.
Ele disse: "O que posso fazer? Como posso parar de fumar?"
Eu lhe disse: "Você tem que entender. Agora, fumar não é apenas uma questão de decisão.
É algo que já entrou no seu mundo de hábitos; já se enraizou. Trinta anos é um longo
tempo. Esse hábito tem raízes no seu corpo, na sua química, espalhou-se em você. Não é
mais apenas uma questão de decidir com a cabeça; sua cabeça não pode fazer nada. Ela é
impotente; pode começar coisas, mas não pode pará-las facilmente. Uma vez que você
começou e praticou por tanto tempo, você é um grande iogue - trinta anos de prática em
fumar! Já se tornou automático; você tem que desautomatizar isso."
Ele perguntou: "O que você quer dizer por desautomatizar?"
É nisto que consiste toda a meditação: na desautomatização.
Eu lhe disse: "Faça uma coisa: esqueça tudo sobre parar de fumar. Não há necessidade.
Por trinta anos você fumou e viveu; é claro que foi um sofrimento, mas você se acostumou
a ele também. E o que importa se você morrer algumas horas antes do que morreria sem
fumar? O que você vai fazer aqui? O que você fez?
Então, qual a importância em morrer na segunda, na terça ou no domingo, neste ou
naquele ano – que importa?"
Ele disse: "Sim, isso é verdade; não importa".
Então eu disse: "Esqueça tudo sobre parar de fumar; não vamos parar absolutamente. Ou
melhor, vamos compreender isso. Assim, da próxima vez, faça do fumar uma meditação".
Ele disse: "Do fumar uma meditação?"
Eu disse: "Sim. Se as pessoas zen podem fazer do beber chá uma meditação, uma
cerimônia, por que não com o cigarro? Fumar também pode ser uma bela meditação".
Ele ficou impressionado e disse: "O que você está dizendo? Meditação? Conte-me - nem
posso esperar!"
Então dei a meditação para ele:
"Faça uma coisa. Quando pegar o maço de cigarros do seu bolso, pegue-o bem lentamente.
Curta, não há pressa. Fique consciente, alerta, atento; pegue lentamente com atenção
Apostila 043

total. Então, tire um cigarro do maço com toda a atenção, lentamente, não da velha
maneira apressada, inconsciente, mecânica. Depois, comece a bater o cigarro no maço,
atentamente. Escute o som, como fazem as pessoas zen quando o samovar começa a
cantar e o chá começa a ferver... e o aroma... Então cheire o cigarro e sinta sua beleza..."
O homem disse: "O que você está dizendo? A beleza?"
"Sim, ele é belo. O tabaco é tão divino quanto qualquer outra coisa. Cheire-o; é o cheiro
de Deus".
O homem ficou um pouco surpreso: "O quê? Você está brincando?"
"Não, não estou brincando. Mesmo quando brinco, não brinco. Sou muito sério."
Então, ponha o cigarro na boca, com toda a atenção, e acenda-o. Curta cada ato, cada
pequeno ato, e divida-o em muitos pequenos atos para que você possa tornar-se o mais
alerta possível.

Dê a primeira tragada: Deus em forma de fumaça. Os hindus dizem, "Annam Brahm" -


"Comida é Deus". Por que não a fumaça? Tudo é Deus. Encha profundamente seus
pulmões - isto é pranayam. Estou lhe dando uma nova ioga para um novo tempo! Depois,
solte a fumaça, relaxe; dê outra tragada - e faça tudo bem devagar...
Se você puder fazer isso, ficará surpreso; logo verá toda a estupidez disso. Não porque os
outros estão lhe dizendo que é estúpido, que é ruim. Você o verá; e não apenas
intelectualmente, mas a partir de seu ser total; será uma visão da sua totalidade. E então,
um dia, se o vício desaparecer, desapareceu; se continuar, continuou. Você não tem que
se preocupar com isso."
Depois de três meses, o homem voltou e disse: "Ele desapareceu!"
"Agora, eu disse, tente isso com outras coisas também".
Este é o segredo, o segredo: desautomatizar. Andando, ande devagar, atentamente.
Olhando, olhe cuidadosamente e você verá que as árvores estão mais verdes do que nunca
e as rosas estão mais rosas do que nunca. Escute! Alguém está falando, sussurrando: ouça
atentamente. Quando você falar, fale atentamente.
Deixe que toda a sua atividade de despertar torne-se desautomatizada.

Apostila 044
Origem Indígena
por Alexandre Cumino

De sua raiz indígena a Umbanda recebe o amor à natureza e a influência do xamanismo


caboclo e pajelança, bem como o uso do fumo, que é considerado erva sagrada para os
índios. Um culto irmão da Umbanda, o Catimbó, Jurema ou Linha dos Mestres da Jurema,
também realiza trabalhos com entidades espirituais de forma muito parecida com esta,
sob influência direta do Toré, que é uma prática essencialmente indígena. A Umbanda e o
Catimbó trabalham com algumas entidades em comum como, por exemplo, Caboclo
Tupinambá na Umbanda e Mestre Tupinambá no Catimbó, Caboclo Tupã e Mestre Tupã,
Caboclo Gira-mundo e Mestre Gira Mundo, Pai Joaquim e Mestre Joaquim, e o tão
conhecido Mestre Zé Pelintra, juremeiro muito presente na Umbanda. Alguns chegam a
dizer que a Jurema é “Mãe da Umbanda”, de tanto que teria colaborado com esta. O Toré
e a Jurema são vivos ainda hoje nas tribos Kariri – Chocó, considerados os guardiões da
Jurema. Em conversa com um amigo desta tribo, o índio Tkainã, o mesmo me esclareceu
que Aruanda é a Terra da Luz para sua cultura, falada na língua Macrogeu,
“coincidentemente”, Aruanda é o Céu, correspondente ao Mundo Astral, para os
Umbandistas. Muitas vezes na Umbanda se usa o termo Jurema para identificar um local
do mundo espiritual de onde provêm os caboclos.
O uso de chás, banhos de ervas e defumações é algo em comum para indígenas, africanos
e europeus. Em muitas Tendas de Umbanda se vê o uso do Maracá (chocalho indígena) e
outros elementos como penachos e cocares, usados pelas entidades incorporadas, que dá
todo um ar indígena para Umbanda.
A primeira manifestação de Umbanda que se tem notícia é do Caboclo das Sete
Encruzilhadas, que justifica chamar-se “caboclo” por ter sido índio em uma encarnação
aqui no Brasil, esclarece ainda que em outra encarnação foi o Frei Católico Gabriel
Malagrida, queimado na Santa Inquisição.
São os Caboclos os verdadeiros mentores da Umbanda, se apresentando como linha de
frente e de comando dentro da religião, sendo na maioria das vezes quem responde pela
“chefia” e responsabilidade do que é realizado dentro de uma Tenda de Umbanda.
Dessa forma, vamos percebendo que existe uma cultura indígena forte dentro da
Umbanda, na qual destacamos três pontos que se ressaltam nessa raiz:

1. O Xamanismo é a prática realizada por aborígines do mundo inteiro, como


siberianos, australianos, indianos, africanos ou índios das três Américas. Consiste no
uso de poderes psíquicos para, em estado alterado de consciência, encontrar
respostas, realizar curas ou profecias. Muitas vezes para entrar nesse estado, de
transe, usam a ingestão de bebida ou fumo que lhes propicie ampliar sua
consciência, sair do corpo em busca de respostas ou receber, incorporar, a presença
de um animal de poder ou energia poderosa, para auxiliar sua tribo. Aqui no Brasil
os Pajés são considerados xamãs, e a pajelança um xamanismo;
Apostila 045
Da mesma forma, os rituais onde está presente a bebida de poder também é visto como
prática xamânica. Podemos lembrar aqui do Santo Daime, Ayuaska, Peiote, Jurema e até a
Canabis Ativa (Maconha) sagrada para a religião Rastafari, da Jamaica, onde tal erva é
fumada apenas em ritual, e não é compartilhada para não adeptos.

2. O Toré, que é ainda praticado no Brasil pela tribo dos Kariri-xocó, consiste de uma dança
realizada com a infusão da bebida feita à base de Jurema, que pode ser mais ou menos
enteógena (alucinógena para os psicólogos e leigos), palavra que significa “Encontro com
Deus”. Os índios reverenciam uma divindade como um gênio que é o Espírito da Jurema,
diferente de Cabocla Jurema. Da árvore de Jurema os índios usam as folhas, sementes e o
tronco, para fazerem bebidas, maracás (chocalho) e cachimbos, onde o fumo também é
misturado com folhas de jurema.

3. O Catimbó ou Linha da Jurema é muito praticado no Nordeste, principalmente


Pernambuco, consiste em um culto que combina as tradições do Toré com a Magia
Europeia, onde a presença afro se percebe menos. A palavra Catimbó pode ser derivada
ou deturpada de Caximbo, não se sabe ao certo sua origem, no entanto, tornou-se
sinônimo de Magia de uma forma pejorativa, às vezes confundida com Magia Negra, o
mesmo caso do que aconteceu com a palavra Macumba. Por isso, muitos “catimbozeiros”
preferem ser chamados de “Juremeiros” ou simplesmente de Mestre, que é como se
identificam os espíritos guias e também os dirigentes do culto.
Seu ritual lembra um pouco a Umbanda, no entanto cada médium costuma trabalhar
apenas com um ou dois Mestres Espirituais, que pode ser índio, preto-velho, baiano,
marinheiro e outros. Todo o trabalho é feito com o uso da Marca (Caximbo) por parte dos
espíritos, e sempre com o uso da bebida de Jurema, antes e durante as incorporações. Para
fazer parte desse culto, o neófito passa por uma iniciação chamada “Tombo da Jurema”
onde sob um preparo especial de bebida de jurema esse médium sai em espírito e vai
encontrar seus mestres no astral, onde em espírito vão aprender sobre a arte da Jurema.
Muitas entidades da Jurema vêm na Umbanda e vice versa, o mestre de Jurema mais
conhecido por aqui é “Seu Zé Pelintra”, que por sua origem externa à Umbanda vem em
qualquer linha, caboclo, preto-velho, baiano ou exu.

 Luiz da Câmara Cascudo, que foi o maior folclorista brasileiro, publicou em 1951 o título
Meleagro, que é um estudo de mais de 20 anos sobre o Catimbó, ainda hoje é a obra mais
completa sobre o assunto, na segunda edição da obra ele apresenta comentários
interessantes para este nosso estudo:

Apostila 046
Creio que antes de 1928 estaria eu dando campo ao Catimbó em Natal, contagiado pelas
reportagens de João do Rio às religiões suplementares na Capital Federal. Em 1928,
dezembro, Mário de Andrade (1893-1945), meu hóspede, “fechou o corpo” com um Mestre
frequentador de nossa chácara. Pagou vinte mil réis e narrou a proeza em crônica que não
consegui reconquistar. Denunciaria a técnica catimbozeira natalense há 49 anos, fase das
anciãs perquiridoras. Terminado em dezembro de 1949, a Editora AGIR publicou em 1951
MELEAGRO, nome pedante para justificar feitiço da Grécia em mão africana. Não se falava
ainda em Umbanda, mesmo na cidade de Salvador onde fui garboso “calouro” de medicina
em 1918, residindo na Baixa do Sapateiro. Édison Carneiro, baiano investigador devoto,
não registra o vocábulo no Candomblé da Bahia, 1948 e em A Linguagem Popular da Bahia,
1951. Redigiu o verbete “Umbanda” para o meu Dicionário do Folclore Brasileiro. Depois
de 1960 é que a Umbanda abordou Natal [...]
Neste MELEAGRO verifica-se minha familiaridade com os “Mestres”. Dizê-los
“Catimbozeiros” era agressão. Reinava o amável sincretismo acolhedor entre os “Mestres
do Além”, africanos, indígenas e mestiços nacionais [...]
No Dicionário do Folclore Brasileiro, 1954, Câmara Cascudo nos apresenta a definição do
verbete Catimbó, da onde retiro os fragmentos abaixo, que é a parte do texto que nos
interessa aqui:
Feitiço, coisa-feita, bruxedo, muamba, canjerê e também o conjunto de regras e cerimônias
a que se obedece durante a feitura do encanto. Reunião de pessoas, presidida pelo
“mestre”, procedendo à prática do catimbó [...]

“Catimbó quer dizer cachimbo, usado pelo mestre. O catimbó não é religião. Não tem ritos
maiores, como o candomblé baiano, o xangô pernambucano, sergipano ou alagoano, ou a
macumba carioca. Com breve liturgia, o mestre defuma os assistentes com o fumo de seu
cachimbo e recebe o espírito de um mestre defunto, Mestre Carlos, Xaramundi,
Pinavaruçu, Faustina, Anabar, indígenas, negros feiticeiros, como Pai Joaquim, bons e
maus. Todos acostam, receitam e aconselham. Cada um deles é precedido pelo canto da
linha, melodia privativa que anuncia a vinda do Mestre ou da Mestra. Não há indumentária
especial, escolas de filhas de santo, comidas votivas, decoração, bailado, instrumentos
musicais. O mestre é o curandeiro, o bruxo. Há, naturalmente, a presença de elementos
negros e ameríndios, nomes de tuxauas e de orixás, rezas católicas, num sincretismo
inevitável e lógico. O catimbó é prestigioso nos arredores das grandes cidades, consultório
infalível para pobres e ricos, embora sem a espetaculosidade sonora do candomblé, da
macumba e dos xangôs nordestinos. Na Pajelança amazônica intervêm animais
conselheiros, mutuns, boiúnas, cavalos-marinhos, cobras, jacarés, ao lado de mestres e
mestras. O catimbó aproxima-se velozmente do baixo-espiritismo, perdendo a ciência dos
remédios vegetais e a técnica de São Cipriano e da Bruxa de Évora. Representa, como
nenhuma outra entidade, o elemento da bruxaria europeia, da magia branca, clássica,
vinda da Europa, herdeira dos bruxos que o Santo Ofício queimou e sacudiu as cinzas no
mar.
Apostila 047
O mestre é uma sobrevivência do feiticeiro europeu, e não um colega do babalorixá,
babalawô ou pai-de-terreiro banto ou sudanês. Catimbó não é sinônimo de Candomblé,
macumba, xangô, grupo de Umbanda, casa de mina, tambor de crioulo, etc. É uma
presença da velha feitiçaria deturpada, diluída, misturada, bastarda, mas reconhecível e
perfeitamente identificável. Foi motivo de quase vinte anos de observação pessoal para o
Meleagro, ed. Agir, Rio de Janeiro, 1951 [...]1”

Texto do Livro História da Umbanda, de Alexandre Cumino, Editora Madras.


1 CASCUDO,

Apostila 048
Oração de São Francisco

Senhor, fazei-me instrumento da Vossa paz


Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz
Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado
Compreender do que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois, é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado
E morrendo que se vive
Para a vida eterna.

Prece de Cáritas

Deus, nosso Pai, que sois todo poder e bondade,


dai força àqueles que passam pela provação;
dai a luz àqueles que procuram a verdade;
ponde no coração do homem a compaixão e a caridade.
Deus! Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação,
ao doente o repouso.
Pai! Dai ao culpado o arrependimento, e ao espírito a verdade, à criança o guia, ao órfão o
pai.
Senhor! Que a Vossa bondade se estenda sobre tudo o que criastes.
Piedade, Meu Deus, para aquele que Vos não conhece, esperança para aquele que sofre.
Que a Vossa bondade permitida aos Espíritos Consoladores espalharem por toda a parte a
paz, a esperança e a fé.
Deus, um raio de luz, uma centelha do Vosso amor pode abrasar a Terra; deixai-nos beber
nas fontes dessa bondade fecunda e infinita e todas as lágrimas secarão, todas as dores se
acalmarão.
Um só coração, um só pensamento subirá até Vós, como um grito de reconhecimento e de
amor.

Apostila 049
Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperaremos com os braços abertos. Oh! Poder,
Oh! Bondade, Oh! Beleza, Oh! Perfeição; e queremos de algum modo alcançar a Vossa
misericórdia.
Deus! dai-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até Vós; dai-nos a caridade
pura, dai-nos a fé e a razão, dai-nos a simplicidade que fará das nossas almas o espelho
onde se deve refletir o Vosso iluminado espirito.

A Prece de Cáritas foi retirada da obra “Fulgurações da vida espiritual”, publicada na


Bélgica, psicografada pelo espirito Cáritas, isto é Caridade, em 25/12/1837.

Carta de Paulo aos Coríntios


"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o
bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência:
ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor,
nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue meu
próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso se aproveitará.
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se
ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura seus interesses, não se
exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a
verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba. Mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, passará. Porque em parte conhecemos e em parte profetizamos. Quando
porém vier o que é perfeito, o que então é em parte, será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como um menino, sentia como menino. Quando cheguei a
ser homem, desisti das coisas próprias de menino.
Porque agora vemos como um espelho, obscuramente, e então veremos face a face; agora
conheço em parte, e então conhecerei como sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a Fé, a Esperança e o Amor. Estes três. Porém o maior deles é o
Amor".

O Amor é um dos mistérios maiores do criador, logo sua presença é a presença do Criador
em nossas vidas.

Apostila 050

“Oração dos Caminhos”


Eu caminho o caminho que me traçou o Senhor dos meus caminhos. Se eu caminho pelo
seu caminho, então estou no meu caminho.
O meu caminho é o caminho dos que caminham em busca do Caminho sem se desviarem
por outros caminhos.
No meu caminho eu tenho a trilha que me conduz ao Senhor do meu caminho.
Todos os caminhos conduzem o Senhor dos Caminhos, mas eu tenho o meu caminho e não
busco outro caminho para chegar ao senhor do meu caminho.
No meu caminho muitos buscam o Senhor dos Caminhos. E muitos encontram os seus
caminhos guiando-se pelo senhor dos caminhos.
Mas muitos se perdem pelos caminhos, ao quererem encontrar no meio deles o senhor
dos caminhos.
O senhor dos caminhos é o próprio caminho por onde eu caminho.
Eu não busco o Senhor do meu caminho no seu final, pois ele se acha no lado direito do
meu caminho.
O meu caminho tem dois caminhos: um caminho que sobe e outro que desce. Mas às vezes
ao descer no meu caminho, estou subindo na minha caminhada e noutras vezes, ao subir
no meu caminho, estou descendo na minha caminhada, pois o caminho pertence ao
Senhor dos Caminhos e ninguém passa pelos caminhos sem ser visto por Ele.
Se cada um fizer o seu caminho sem olhar os outros caminhos e nem desviar ninguém do
seu caminho, então ele já é um caminho do qual se serve o Senhor dos Caminhos.
Muitos vão e muitos vêm. Muitos sobem e muitos descem. Quem muito subiu no seu
caminho, às vezes volta pelos diversos caminhos que possui o senhor dos caminhos para
que possa ver que existem muitos outros caminhos!
Quem pouco subiu no seu caminho, às vezes volta ao início e recomeça em outro caminho
a sua caminhada rumo ao senhor dos caminhos, que a todos observa.
Se encontro muitos espinhos, deles não posso me desviar, pois foi Ele quem os pôs no meu
caminho só para que, ao me ferir, eu saiba e aprenda que o meu caminho não é melhor do
que qualquer outro, apenas é o meu caminho!
Se o meu caminho está ressecado, eu tenho que aguá-lo com minhas lágrimas, pois este é
o meu caminho, e ele não pode estar seco. Mas se o meu caminho se encharcar com o
meu pranto, eu tenho de enxugá-lo, pois ele não pode ser muito úmido senão irei me
afundar no lodo que criará no meu caminho.
O meu caminho não é o melhor dos caminhos, mas é o meu caminho. Se eu fizer uma boa
caminhada, estarei fazendo um bom caminho por onde outros, ainda sem um caminho,
poderão iniciar suas caminhadas rumo ao Senhor dos Caminhos.
Eu olho para todos os caminhos e vejo somente caminhos.
Todos pertencem e nos conduzem ao Senhor dos Caminhos.

Apostila 051
No meu caminho, eu tenho, no momento de sede, a fonte de água fresca; no momento de
fome, o pão sagrado; no momento de dor, o bálsamo que alivia; no momento de tristezas,
tenho o sorriso amigo que alegra minha alma; nos momentos de angústia, a paz que
tranquiliza meu espírito; nos momentos de aflições, a palavra que me consola; nos
momentos de desespero, a calma que pacifica o meu coração; nos momentos de alegria,
a palavra de agradecimento a quem a propicia.
Pois este é o meu caminho e, nele, de tudo há um pouco.
Mas no meu caminho não há lugar para outro que não seja a trilha única que conduz ao
Senhor dos meus caminhos.
Que cada um caminhe o seu caminho consciente de que todos os que caminham os muitos
caminhos do Senhor de todos os caminhos por Ele foram abençoados ao iniciarem suas
caminhadas. Que eu não olhe com desprezo para os que estão parados no meio do
caminho, pois eles podem estar apenas descansando e reiniciarão suas caminhadas assim
que conseguirem forças para isso.
Mas se, ao caminhar no meu caminho, eu tiver de diminuir um pouco a minha jornada só
para ajudar alguém que caminha com dificuldade, muito terei avançado.
Se eu repartir o meu pão com alguém que tem fome, não precisarei de muitos pães para
aplacar a minha fome, se eu repartir minha água com quem tem sede, terei saciado a
minha própria sede.
Se no meu caminho eu ajudar alguém a encontrar o seu próprio caminho, então eu sou
parte de um caminho por onde muitos podem caminhar.
No meu caminho, eu caminho com o Senhor dos Caminhos que sempre guia àqueles que
com ele querem caminhar, pois assim diz o senhor dos meus caminhos: "Se tu caminhas
os Meus caminhos, contigo eu sempre caminharei nos Vossos muitos caminhos, que são
todos caminhos Meus".

Amém

“Oração dos Caminhos”, extraída do Livro “A Longa Capa Negra” / Ed. Madras / Rubens
Saraceni

Culto Familiar a Olorum


Orixás - Teogonia de Umbanda – Rubens Saraceni / Madras Editora

Agora mostraremos como cultuar nosso amado Pai Olorum dentro das famílias
umbandistas.
Estender sobre uma mesa uma toalha branca com franja rendada de cor dourada; no
centro dela deve-se colocar um prato de louça totalmente branca, no centro do prato
deve-se firmar uma vela branca; à volta da vela devem “polvilhar” farinha de trigo ou grãos
de trigo; por cima dos grãos ou da farinha deve polvilhar açúcar; por cima do açúcar deve
Apostila 052
derramar mel; e a seguir acender 7 velas em volta do prato central nestas cores: azul,
verde, rosa, lilás, amarela, vermelha e violeta cada uma em um pires branco também
cobertos com trigo, açúcar e mel. Após isso feito, todos devem se sentar à volta da mesa
e um dos presentes fará esta oração evocatória.

Oração a Olorum

Olorum, senhor nosso deus e nosso divino criador, nós te saudamos e te louvamos neste
momento de nossa vida e de nosso destino.
Envolva-nos com teu poder e ilumine-nos com tua luz viva.
Tu, que a tudo geras e que estás em tudo o que gerou e está em nós, gerações tuas,
fortaleça a nossa alma imortal e resplandeça nosso espírito humano, livrando o nosso
íntimo, nossa mente e nossa consciência das vibrações nocivas e contrárias ao destino que
reservastes para cada um de nós, teus filhos e razão da tua existência exterior. Afastes do
nosso destino os maus pensamentos, os desvirtuados sentimentos e as ações contrárias
aos teus desígnios para nossa vida.
Amado Olorum, que os teus sete mistérios vivos se manifestem nestas sete velas firmadas
ao redor da tua vela branca e que eles, teus manifestadores divinos e teus exteriorizadores,
se assentem à nossa volta e nos cubram com suas luzes vivas e divinas, nos envolvam em
suas vibrações originais e afastem da nossa vida e de nosso destino tudo o que for contrário
aos teus desígnios para conosco e inunde-nos com teus eflúvios de amor e de fé, de
sabedoria e de tolerância, de resignação e de compreensão, pois, só assim, amorosos e
reverentes, sábios e tolerantes, resignados e compreensivos quanto a nossa vida e ao
nosso destino, cumpriremos os teus desígnios para conosco e os manifestaremos através
da nossa consciência, da nossa mente, dos nossos pensamentos, dos nossos atos e das
nossas palavras.
Que esta minha casa seja tua casa e que nesta tua casa os teus 7 mistérios se assentem e
façam dela a sua morada humana, pois só assim, abençoado pela tua presença viva e
sagrada e a presença viva e divina dos teus 7 mistérios vivos aqui nesta casa, não haverá
doenças incuráveis, fomes insaciáveis e discórdias insolúveis.
Só assim os maus e os males não encontrarão abrigo na minha morada, que é a tua morada
e a morada dos teus mistérios vivos e divinos, os sagrados senhores orixás.
Bênçãos!, bênçãos!, bênçãos!, senhor da nossa vida e do nosso destino!
Salve!, salve!, salve!, senhor da nossa vida e do nosso destino!
Paz e luz, amado Olorum!

Após essa oração evocatória, todos devem permanecer em absoluto silêncio por algum
tempo, só mentalizando luzes e vibrando bons sentimentos.
Neste momento, devem mentalizar suas dificuldades e clamar pela dissolução delas;
devem mentalizar seus inimigos ou seus perseguidores e opressores e clamar pela

Apostila 053
transmutação dos seus sentimentos negativos (ódios, inveja, etc.), dissolvendo e diluindo
da vida e do destino deles e dos seus todas as coisas contrárias aos desígnios divinos para
com todos nós.
Após isso feito, todos devem agradecer a Olorum e a seus 7 mistérios vivos e ajoelhar e
cruzar o solo com respeito e com reverência, deixando as cadeiras postas à volta da mesa
até que todas as velas se queimem.
No dia seguinte devem recolher o resto das velas e os elementos no prato e nos pires e
despachá-los na terra ou em água corrente, pedindo à natureza que reabsorva os restos
do que ela, generosamente, nos havia dado.

Apostila 054
Umbandas
por Alexandre Cumino

Este texto é parte do livro História da Umbanda, é uma versão editada e adaptada para
servir de nota de aula ou parte da apostila neste Curso Virtual de Teologia de Umbanda.
Sabemos que existem várias correntes de pensamento dentro da Umbanda, e também há
muitas formas de praticá-la, ainda que todas se mantenham fiéis à participação dos
espíritos nos seus trabalhos ou em giras. Não consideramos nenhuma das correntes
melhor ou pior e nem mais ou menos importante para a consolidação da Umbanda. Todas
foram, são e sempre serão boas e importantes, pois só assim não se estabelecerá um
domínio e uma paralisia geral na assimilação e incorporação de novas práticas ou conceitos
renovadores.
(Rubens Saraceni, Formulário de Consagrações Umbandistas, Ed. Madras, 2005. p.19)

Há quem defenda um “tipo ideal” de Umbanda, descartando outras formas de praticá-la.


Assim uns reconhecem e outros negam as várias Umbandas, creio que podemos trilhar um
caminho do meio, no qual a Umbanda é uma na essência e diversa nas formas de praticá -
-la. O UM da Unidade e a BANDA a Diversidade. O Uno e o Verso deste Universo
Umbandista.
A liberdade litúrgica permite certas variantes, desde que estas não desvirtuem seus
fundamentos básicos. A pluralidade deve existir enquanto não coloca em risco a unidade.
Por unidade podemos entender seus fundamentos básicos, o que deve estar presente em
todas as formas ou pelo menos na maioria delas. Portanto, é pela unidade que definimos
Umbanda e não pela diversidade, que são as diversas maneiras de praticar esta unidade.
Por exemplo, podemos ter como fundamento básico de sua unidade a definição de
Umbanda dada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, por meio de seu médium Zélio de
Moraes, em 15 de Novembro de 1908:
Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade.
Esta definição está em sua unidade, faz parte de seus fundamentos básicos, não cobrar
pelos trabalhos, logo ela pode ter variantes, mas nenhuma das tais deve apresentar-se
cobrando para realizar trabalhos espirituais. Pois neste ponto a “diversidade” colocaria em
risco a “unidade”. Desta forma, falar de Umbanda é falar de sua unidade assim como falar
de Umbandas é falar de sua pluralidade.
Abaixo apresento algo desta pluralidade ou se preferir Diversidade, para nossa reflexão:

•Umbanda Branca: O termo pode ter surgido da definição de Linha Branca de Umbanda
usada por Leal de Souza e adotada por tantos outros. A ideia era de que a Umbanda era
uma “Linha” do Espiritismo ou uma forma de praticar Espiritismo, na qual a Linha Branca
se divide em outras Sete Linhas. Ao afirmar a Umbanda como Branca subentende-se

Apostila 055
muitas coisas, entre elas que possa haver outras umbandas, de outras cores e “sabores”.
Mas a questão de ser branca está muito mais ligada ao fato de associar ao que é “claro”,
“limpo”, “leve” ou simplesmente ausente do “preto”, “escuro” ou “negro” – há um
preconceito subentendido – afinal é uma Umbanda mais “branca” que “negra”, mais
europeia que afro e, porque não, mais Espírita. Geralmente usa-se esta qualificação,
“Umbanda Branca”, para definir trabalhos de Umbanda com a ausência do que chamamos
de “Linha da Esquerda”, para Leal de Souza uma “Linha Negra”. Ainda hoje muitos se
identificam desta forma e geralmente o usam como um “recurso” para “livrar-se” do
preconceito de outros... como a dizer: Sou Umbandista, mas da Umbanda Branca – como
quem afirma pertencer à “Umbanda boa”. Não há uma “Umbanda Negra” ou uma
“Umbanda Ruim”, toda Umbanda é Boa.

•Umbanda Pura: Ao propor o Primeiro Congresso de Umbanda em 1941 o grupo que


assumiu esta responsabilidade esperava apresentar uma “Umbanda Pura”
(“desafricanizada” e “orientalizada”), praticada pela classe média no Rio de Janeiro. É a
Umbanda praticada pelo “grupo fundador da Umbanda” ou simplesmente o grupo
intelectual carioca que lutou pela legitimação da Umbanda, criando a Primeira Federação
Espírita de Umbanda do Brasil, Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda
e o Primeiro Jornal de Umbanda. Este grupo pretendia uma “codificação” da Umbanda em
seu estado mais puro de ser. Embora a ideia de uma “Religião Pura” sempre será algo a ser
questionado, independente de qual tradição lhe tenha dado origem. Do ponto de vista
Histórico, Sociológico, Antropológico e até Filosófico, não há “Religião Pura”. Por trás de
uma cultura sempre há outras culturas que lhe deram origem, sucessivamente desde que
o Homem é homo sapiens também é homo religiosus. O Antropólogo Arthur Ramos afirma
que: “As formas mais adiantadas de religião, mesmo entre os povos mais cultos, não
existem em estado puro. Ao lado da religião oficial, há outras atividades subterrâneas...”.
E o já citado Historiador das Religiões, Mircea Eliade, afirma: “Mas nunca será demais
repetir que não há a menor probabilidade de se encontrar, em parte alguma do mundo ou
da história, um fenômeno religioso ‘puro’ e perfeitamente ‘original’.” “Nenhuma religião
é inteiramente ‘nova’, nenhuma mensagem religiosa elimina completamente o passado;
trata-se, antes, de reorganização, renovação, revalorização, integração de elementos – e
dos mais essenciais! – de uma tradição religiosa imemorial.”

•Umbanda Popular: É a prática da religião de Umbanda sem muito conhecimento de causa,


sem estudo ou interesse em entender seus fundamentos. É uma forma de religiosidade na
qual vale apenas o que é dito e ensinado de forma direta pelos espíritos. O único
conhecimento válido é o que veio de forma direta em seu próprio ambiente ritualístico.
Não se costuma fazer referências a outras filosofias ou justificar suas práticas de forma
“intelectualizada”. Eximindo-se de autoexplicar-se reforçam a característica mística da
religião, em que, independente de “racionalizações” a prática se sustenta devido à
quantidade de resultados positivos alcançados.
Apostila 056
Podemos dizer que os adeptos muitas vezes não sabem ou têm certeza de como as coisas
funcionam, mas sabem que funcionam. É aqui que muitas vezes nos deparamos com
médiuns que afirmam, sobre a Umbanda, que não sabem de nada o que estão fazendo,
mas que seus guias espirituais (caboclo e outros) sabem e isto lhes basta. Outrora, alguns,
afirmam que médium não pode saber de nada de Umbanda para não mistificar. Muitos
caem na armadilha do tempo, em que jovem de outrora agora já sabe de muita coisa que
finge não saber para manter esta ideia de que nada deve saber. Enfim para nós que
acreditamos no estudo dentro da religião é muito difícil abordar um seguimento que não
se interesse pela leitura, embora se deva reconhecer, para não incorrer ao erro, que muitos
estudam e conhecem muito das realidades espirituais que nos cercam e ainda assim
preferem manter-se junto a uma forma pura de contato espiritual.

•Umbanda Tradicional: Esta qualificação serve tanto para identificar a “Umbanda Branca”,
“Umbanda Pura” ou “Umbanda Popular”. Que são as formas mais antigas, mais conhecidas
e mais populares de praticar Umbanda, muito embora este perfil esteja mudando. Creio
que hoje os terreiros que se adaptaram para uma linguagem mais jovem, mais
intelectualizada e racional estão em franco crescimento, na medida em que no local de
desinformação e/ou bagunça a Umbanda ainda vai secar. E neste mesmo solo vai ressurgir,
nas novas gerações, que quando crianças, em algum momento, visitaram um terreiro.
Estas crianças de ontem, adultos de hoje, podem nos dizer o quanto foi importante o
trabalho da linha das crianças para a multiplicação da religião. Tantos se perguntam como
criar cursos para as crianças na Umbanda, como um “catecismo” de Umbanda, ou
umbanda para crianças, preocupados em como preparar e ensinar religião a nossos filhos.
Se os terreiros mantivessem um trabalho periódico com a incorporação das crianças,
bastava que este se torne o dia de nossos filhos na Umbanda, e que nesse dia nossos filhos
aprenderiam sobre Umbanda direto com estas entidades. A curiosidade levaria nossos
filhos a questionar e querer aprender mais sobre a Religião... Portanto, a ideia de estudar
Umbanda está na base de crescimento e multiplicação da mesma.

•Umbanda Esotérica ou Iniciática: É uma forma de praticar a Umbanda estudando os


fundamentos ocultos, conhecidos apenas dos antigos sacerdotes egípcios, hindus, maias,
incas, astecas etc. O conhecimento esotérico, ou seja, fechado e oculto dos arcanos
sagrados, é desvelado por meio de iniciações. Foi idealizada com inspiração na obra de
Blavatski, Ane Bessant, Saint-Yves D’Alveydre, Leterre, Domingos Magarinos (Epiaga),
Eliphas Levi, Papus etc. Os fundamentos esotéricos da Umbanda foram organizados pela
Tenda Espírita Mirim e apresentados, alguns deles, no Primeiro Congresso Brasileiro do
Espiritismo de Umbanda. O primeiro autor que trouxe este tema para a literatura
umbandista foi Oliveira Magno, 1951, com o título A Umbanda Esotérica e Iniciática. Como
vimos no capítulo anterior e veremos nos capítulos posteriores, recebeu contribuições de
Tata Tancredo e Aluízio Fontenelle.
Apostila 057
A Primeira Escola Iniciática Umbandista, que se tem notícia, foi o Primado de Umbanda,
mais uma iniciativa do Caboclo Mirim. Já na segunda e terceira geração de autores
Umbandistas surgirão outros autores dentro deste seguimento. Costumam citar a origem
da Umbanda na Atlântida ou Lemúria, no mito do AUMBANDÃ, que seria a forma mais
“pura” de Umbanda.

•Umbanda Trançada, Mista e Omolocô: São nomes usados para identificar uma Umbanda
praticada com influência maior dos Cultos de Nação ou do Candomblé Brasileiro onde se
combina os fundamentos e preceitos oriundos das culturas africanas com as entidades de
Umbanda. Podem-se ter os tradicionais rituais de Camarinha, Bori, Ebós e oferenda
animais com seus respectivos sacrifícios. Muitos chamam esta variação de Umbandomblé.
O autor, médium, sacerdote e presidente de Federação que mais defendeu a origem
africana da Umbanda foi o conhecido Tata Tancredo. Autor de inúmeros títulos de
Umbanda, publicou seu primeiro livro Doutrina e Ritual de Umbanda, 1951, em parceria
com Byron Torres de Freitas e é defensor da variação chamada de Omolocô, da qual é seu
idealizador no Brasil.

• Umbanda de Caboclo: É uma variação de Umbanda onde prevalece a presença do


caboclo, muitas vezes acreditando que a Umbanda é antes de tudo a prática dos índios
brasileiros revista pela cultura moderna e doutrinada com conceitos que foram sendo
absorvidos com o tempo. Decelso escreveu o título Umbanda de Caboclo para explicar esta
variação de Umbanda.

•Umbanda de Jurema: No Nordeste existe um culto popular chamado Catimbó ou Linha


dos Mestres da Jurema, que combina a cultura indígena com a cultura católica, somando
valores da magia europeia e de quando em vez algo da cultura afro. O principal
fundamento é o uso da Jurema Sagrada, como bebida e também misturada no fumo, que
vai ao fornilho do tradicional cachimbo, também chamado de “marca”, feito de Jurema ou
Angico. As entidades que se manifestam são chamadas de Mestres e da Jurema. Umbanda
herdou a manifestação do Mestre Zé Pelintra, que pode vir como Exu, Baiano, Preto-Velho
ou Malandro. Quando se combinam os fundamentos de Umbanda e Catimbó temos esta
modalidade, que pode ser uma Umbanda regional de Pernambuco ou praticada de forma
intencional pelo umbandista que se interessou pela Jurema e descobriu a Linha de Mestres
dentro de sua Umbanda.

•Umbandaime: O Santo Daime é uma religião nativa do Amazonas, é uma variação da


Ayuasca, que é um chá preparado com duas ervas de poder, o cipó Mariri e a folha da
Chacrona. De tanto ter visões de entidades de Umbanda e Orixás em rituais do Daime é
que alguns grupos de umbandistas passaram a praticar Umbandaime, ou seja, trabalhos
de Umbanda ingerindo o Daime ou rituais de Ayuasca, para se comunicar com as entidades
de Umbanda.
Apostila 058
A Umbanda em si não tem em seus fundamentos o uso de bebidas enteógenas, além dos
tradicionais cafés, cerveja, vinho, “pinga”, batida de coco e outros que servem apenas
como “curiador” (elemento usado para potencializar alguma ação espiritual ou magística),
cada linha de trabalho tem sua “bebida-curiadora”, no entanto nem a bebida nem o fumo
são carregados de erva que induza o estado de transe. A própria bebida deve ser
controlada. Podem, no entanto ser consideradas bebidas de poder como o “vinho da
jurema”, no entanto a bebida não é o centro do ritual, apenas um elemento auxiliar. No
caso do Daime, este está no centro do culto, o poder que se manifesta por meio do chá é
que conduz o adepto. Na Umbanda quem conduz o trabalho são os espíritos guias, com
daime ou sem daime.

•Umbanda Eclética: Chama-se de Eclética a Umbanda que mistura de tudo um pouco


fazendo uma bricolagem de Orixás com Mestres Ascensionados e divindades hindus por
exemplo. Recorrem à conhecida Linha do Oriente para justificar a presença de tantos
elementos diferentes do Oriente e Ocidente junto ao esoterismo, ocultismo e misticismo.

•Umbanda Sagrada ou Umbanda Natural: Quando começou a psicografar e dar palestras,


Rubens Saraceni sempre fazia questão de se referir à Umbanda como Sagrada. Não havia
intenção de criar uma nova Umbanda, apenas ressaltar uma qualidade inerente à mesma.
Na apresentação de seu primeiro título doutrinário Umbanda – O Ritual do Culto à
Natureza, publicado em 1995, afirma que o livro em questão guarda uma coerência
bastante grande, o de trilhar num meio termo entre o popular e o iniciático, ou entre o
exotérico e o esotérico. Já no Código de Umbanda, no capítulo Umbanda Natural, cita:
Umbanda Astrológica, Filosófica, Analógica, Numerológica, Oculta, Aberta, Popular,
Branca, Iniciática, Teosófica, Exotérica e Esotérica. Para então afirmar que: Natural é a
Umbanda regida pelos Orixás, que são senhores dos mistérios naturais, os quais regem
todos os polos umbandistas aqui descritos. Muitos optam por substituir a designação de
“Ritual de Umbanda Sagrada”, dada à Umbanda Natural. Fica claro que para o autor a
Umbanda é algo natural e sagrado, adjetivos que se aplicam ao todo da Umbanda, e não a
um segmento em particular. No livro As Sete Linhas de Umbanda volta a citar as várias
“umbandas” e comenta que na verdade, e a bem da verdade, tudo são segmentações
dentro da religião Umbandista [...]. Ainda assim, sem a intenção de criar uma nova
segmentação dentro do todo, trouxe muitos temas novos e novas abordagens para outros
tantos, criando toda uma Teologia de Umbanda. Seus conceitos se expandiram muito
rapidamente assim como a popularidade de títulos como O Guardião da Meia Noite e
Cavaleiro da Estrela da Guia. Sua forma de apresentar, entender e explicar a Umbanda
ficou identificada ou rotulada de Umbanda Sagrada. Palavra que para este autor engloba
toda a Umbanda, como um Todo também chamado de Umbanda Natural.

Apostila 059
•Umbanda Cristã: A Umbanda, fundada no dia 15 de Novembro de 1908, tem no Caboclo
das Sete Encruzilhadas a entidade que lançou seus fundamentos básicos, logo na primeira
manifestação esta entidade já esclareceu que havia sido, em uma de suas encarnações, o
Frei Gabriel de Malagrida, um sacerdote cristão queimado na “Santa Inquisição”, por ter
previsto o terremoto de Lisboa, e que posteriormente nasceu como índio no Brasil.
Ao dizer qual seria o nome do primeiro templo da religião, Tenda Espírita Nossa Senhora
da Piedade, porque “assim como Maria acolheu Jesus da mesma forma a Umbanda
acolheria seus filhos”, já dava uma diretriz cristã à nova religião. Há um conto sobre o
Caboclo das Sete Encruzilhadas que diz ter sido chamado por Maria, Mãe de Jesus, para
semear a nova religião. Todo trabalho e doutrina de Zélio de Moraes têm este perfil cristão,
subentendendo Umbanda Cristã, antes de ser “Umbanda Branca” ou “Umbanda Pura”,
outros adjetivos que já foram associados a sua forma de praticá-la.
Jota Alves de Oliveira escreveu um título chamado Umbanda Cristã e Brasileira, no qual
encontrarmos a citação abaixo:
“A Orientação Doutrinária do evangelizado Espírito do Caboclo das Sete Encruzilhadas nos
levou a considerar e historiar seu trabalho enriquecido das lições do evangelho de Jesus,
com a legenda Umbanda Cristã e Brasileira.”
Outro elemento que endossa a qualidade cristã da Umbanda é o arquétipo dos Pretos e
Pretas velhas, são ex escravos batizados com nomes católicos e que trazem muita fé em
Cristo, nos Santos e Orixás.
As qualidades cristãs e a presença dos santos católicos confortam e tranquilizam quem
entra pela primeira vez em um templo umbandista, muito embora não se limite a adornos
e sim a uma presença espiritual dos mesmos.

Qualificar ou não qualificar?

Quase todos os assuntos doutrinários e teológicos da Umbanda, quando aprofundados,


criam polêmicas pelo fato de nos encontrarmos em uma religião nascente, ainda em
formação, que em muito lembra o cristianismo primitivo com suas divergências internas.
Vejamos a questão de Cristo na Umbanda, na qual para um ex-católico Cristo é Deus, para
um exespírita Cristo é um mestre ou irmão mais velho da humanidade, já um ex-
muçulmano vê em Cristo um profeta. Este é um dos exemplos pelos quais surgem as
Umbandas, outro seria o fato de sua constante evolução e transformação. A Umbanda
ainda possui esta flexibilidade, não impõe, antes aceita as diferentes formas de interpretar
os mistérios de Deus.
Ali está uma boa parte dos fundamentos da Umbanda, seu ritual é aberto ao
aperfeiçoamento constante... E por que isso? Simples: tudo o que as grandes religiões
castram nos seus fiéis o ritual umbandista incentiva nas pessoas que dele se aproximam
[...].
Apostila 060
Fica fácil entender que as formações religiosas anteriores influenciam o ponto de vista do
umbandista gerando seguimentos, assim como suas áreas de maior interesse cria todo um
campo a ser explorado dentro da própria Umbanda, como ferramenta para alcançar certos
mistérios da criação. No entanto, a Umbanda não pode ser contida, ou apreendida no seu
todo por quem quer que seja. O mais que alguém poderá conseguir será captar partes
desse todo.
Por mais válidas que sejam as segmentações, por mais que se autoafirmem ser “a
verdadeira” Umbanda ou a “Umbanda Pura”, nenhuma destas “umbandas” dá conta do
TODO que é Umbanda. Particularizar, segmentar, é reduzir, para entender o todo há de se
buscar um “mirante” privilegiado, no qual se possa vislumbrar todas as umbandas e “A”
Umbanda ao mesmo tempo. Pela “parte” não se define o “todo”, mas pela “unidade” se
busca uma “essência”, um fundamento e base.
No fundo é possível praticar Umbanda, simplesmente, livre de qualificações, adjetivos,
atributos ou atribuições. Basta dizer-se umbandista, e quando perguntarem:
“- De que Umbanda você é?”
É mais do que suficiente responder apenas:
“- Umbanda.”
Da mesma forma é possível a alguém ser cristão independente de Catolicismo,
Protestantismo, Luteranismo, Metodismo, Calvinismo, Pentecostalismo, mas não é
possível negar que existam diferentes vertentes dentro do Cristianismo, e da mesma forma
com a Umbanda.

Apostila 061
Ciência de Umbanda – Uma Religião Brasileira
por Alexandre Cumino

Este texto abaixo é parte integrante do livro História da Umbanda. São fragmentos
editados livremente a partir do original para dar sentido num texto simples, curto e direto.
Os primeiros estudiosos a se dedicarem à Umbanda se deram no campo da Sociologia e
Antropologia partiu, a princípio, da cultura negra para a Umbanda. Pioneiros, como Arthur
Ramos, Edison Carneiro e Roger Bastide, já estudavam as expressões religiosas afro-
brasileiras e passaram a estudar a Umbanda por meio das semelhanças entre elas.
Roger Bastide chegou a entender como uma traição a Umbanda enquanto
“embranquecimento” da cultura negra, afinal ele vai caracterizá-la mais como uma
“revalorização” da macumba carioca.
Embora tivessem uma “visão de fora” para a religião de Umbanda traziam uma “visão de
dentro” dos próprios estudos sobre os Cultos de Matriz Africana. Roger Bastide muda sua
opinião de forma tardia reconhecendo a Umbanda como religião Brasileira. Digo tardia,
pois suas teses e obras principais já haviam sido publicadas, no entanto passa a um de seus
continuadores, Renato Ortiz, as novas considerações do reconhecimento da Umbanda
enquanto Religião Brasileira, retirando o peso da suposta traição, do “negro que quer ser
branco” ou da apropriação, por parte do branco, de uma cultura negra. Neste ínterim,
aparece Candido Procópio Ferreira de Camargo que vinha estudando o Espiritismo e fez o
mesmo procedimento com outro ponto de vista, agora ele veria a umbanda a partir do
kardecismo englobando ambas as vertentes como Religiões Mediúnicas e parte de um
único “continuum mediúnico”.
Mais recentemente veremos Maria Vilas Boas Concone reconhecendo a Umbanda como
Religião Brasileira, e a partir dela e de Renato Ortiz fica clara a identidade nacional da
Umbanda, o que se soma às contribuições únicas de Diana Brow, Lísias Nogueira Negrão,
Patrícia Birman e Zélia Seiblitz, principais estudiosos da Umbanda no contexto
antropológico e sociológico.
São anos de estudo e aplicação do método científico para chegar a estas conclusões, onde
cada um dos cientistas leu e releu, estudou e se aprofundou nas obras de seus
antecessores. Além de todo o aporte teórico e de base para cada uma de suas ciências
vamos encontrar pesquisas de campo e estatísticas que revelam fatos interessantes
quando observados sob o olhar de fora.
Renato Ortiz, sociólogo, iniciou suas pesquisas sobre Umbanda em 1972, concluindo-as
com sua tese de doutorado em 1975, Paris, com orientação do Mestre Roger Bastide. Desta
tese resultou o livro A Morte Branca do Feiticeiro Negro. O trabalho foi realizado em duas
partes, uma de seminários e outra em campo, fazendo um período de um ano de pesquisas
no Rio e em São Paulo. E justifica a escolha destes dois Estados, onde escolheu “o Rio
porque é o lugar histórico de nascimento da religião umbandista;

Apostila 062

São Paulo por ser a região onde o movimento religioso se desenvolve hoje mais
intensamente”.
Ortiz dedica este trabalho única e exclusivamente à Umbanda, não parte do Afro para a
Umbanda, nem do Kardecismo para Umbanda. Em sua obra a Umbanda vai além de um
sincretismo para se autoafirmar como uma síntese do povo brasileiro. A Umbanda é
Brasileira e esta é uma conclusão construída com o rigor do método cientifico, ou seja, o
seu trabalho é a continuidade e a conclusão de todos que o antecederam, pois assim se
constrói o conhecimento científico. Vejamos sentimentos, pensamentos e palavras de
Renato Ortiz que calam fundo na alma que busca a neutralidade do trabalho científico sem
perder o amor pelo objeto do estudo:
“O objetivo de nosso trabalho é mostrar como se efetua a integração e a legitimação da
religião umbandista no seio da sociedade brasileira [...]
[...] Constataremos assim que o nascimento da religião umbandista coincide justamente
com a consolidação de uma sociedade urbano-industrial e de classes...
[...] A sociedade global aparece então como modelo de valores, e modelo da própria
estrutura religiosa umbandista...
[...] Visto que nossa tese coloca o problema da integração da religião umbandista na
sociedade brasileira, pareceu-nos interessante comparar a Umbanda com as práticas do
Candomblé... Com efeito, pode-se opor Umbanda e Candomblé como se fossem dois
polos: um representando o Brasil, o outro a África. A Umbanda corresponde à integração
das práticas afro-brasileiras na moderna sociedade brasileira; o Candomblé significaria
justamente o contrário, isto é, a conservação da memória coletiva africana no solo
brasileiro... O que nos parece importante é sublinhar que para o Candomblé a África
conota a ideia de terra-Mãe, significando um retorno nostálgico a um passado negro. Sob
este ponto de vista a Umbanda difere radicalmente dos cultos afro-brasileiros; ela tem
consciência de sua brasilidade, ela se quer brasileira. A Umbanda aparece desta forma
como uma religião nacional que se opõe às religiões de importação: protestantismo,
catolicismo, e kardecismo.
Não nos encontramos mais na presença de um sincretismo afro-brasileiro, mas diante de
uma síntese brasileira, de uma religião endógena.
Neste sentido divergimos da análise feita por Roger Bastide em seu livro As Religiões
Africanas no Brasil, onde ele considera a Umbanda como uma religião negra, resultante da
integração do homem de cor na sociedade brasileira. É necessário, porém, assinalar que o
pensamento de Roger Bastide havia consideravelmente evoluído nestes últimos anos. Já
em 1972 ele insiste sobre o caráter nacional da Umbanda... Entretanto, depois de sua
última viagem ao Brasil, seu julgamento torna-se mais claro; opondo Umbanda, macumba
e Candomblé, ele dirá: ‘o Candomblé e a Macumba são considerados e se consideram
como religiões africanas. Já o espiritismo de Umbanda se considera uma religião nacional
do Brasil. A grande maioria dos chefes das tendas são mulatos ou brancos de classe
média...’. O caráter de síntese e de brasilidade da Umbanda é desta forma confirmado e
reforçado.”

Apostila 063

Com este trabalho de Renato Ortiz, o olhar sociológico sobre a Umbanda fecha um ciclo
que começa com sua gestação, passando por seu desenvolvimento e identificação como
uma Religião Brasileira. O fato de Ortiz ter trabalhado em conjunto com Bastide nos passa
um valor real de continuidade e capacidade em rever “velhos” paradigmas.
Definir Umbanda é definir algo vivo e em movimento, é como querer definir o que é o “ser”
em toda a sua complexidade.
Segundo Roger Bastide, nos encontramos em presença de uma religião a pique de nascer,
mas que ainda não descobriu suas formas.”1 É certo que Bastide faz esta afirmação no final
da década de 50, sob uma perspectiva dos Cultos Afro-Brasileiros.
Lísias Nogueira Negrão afirma que:
“...a identidade umbandista faz-se e refaz-se em função das demandas de diferenciação e
legitimação, apresentando-se de forma eminentemente dinâmica e compósita.”2
Hoje a Umbanda se encontra melhor estruturada, no entanto, podemos dizer que ela
mantém as características de: Religião ainda em formação (Roger Bastide), heterodoxa
(Diane Brown), dinâmica e, sobretudo multiforme, um sistema religioso estruturalmente
aberto (Lísias Nogueira Negrão) e diverso, no qual se encontra uma certa unidade na
diversidade3 (Patrícia Birman).
Em tempo, um fenômeno isolado não é Umbanda; Umbanda é Religião, portanto existe
dentro de um contexto histórico, geográfico, social e antropológico.
Podemos dizer, num ponto de vista teológico, que Umbanda pertence a Deus e aos Orixás,
quando pudermos definir Deus então, só neste dia, definiremos com precisão o que é
Umbanda.

A Filha de Olorum
por Fernando Sepe

E sua majestosa voz ecoou pelo alto, pelo embaixo, pela esquerda e a direita, pelo a frente
e o atrás, pelo envolta. Por determinação do pai - mãe de Todos, uma nova religião nasceria
sob solo brasileiro. Era sua filha mais nova, a Umbanda.
E um verdadeiro rebuliço começou no Orum, pois logo o mais respeitado dos Orixás se
ergueu de seu Trono e disse que ele seria o responsável e sustentador maior da religião.
Oxalá abençoava o nascer da mais nova filha de Olorum, e a assumia dos Seus Divinos
Braços. Nela a espiritualidade e a fé estariam presentes, como aceleradora da evolução de
todos. Não existiriam dogmas, e apenas um grande fundamento: Amor e Caridade.
E logo começaram a chegar os Orixás, todos também abençoando e apadrinhando a nova
filha de Olorum. Ogum e Iansã, os mais emocionados de todos, diziam que protegeriam a
nova religião com as armas da Lei.
E então a voz trovão de Xangô ecoou, pelos quatro cantos do Orum, dizendo que ele seria
a Justiça a favor de todos. Sua palavra seria Lei, e todos os filhos de Umbanda nada
temeriam, pois todos são filhos de Rei, o Rei Xangô.
Apostila 064

Também apresentou a todos sua mais nova esposa, Egunitá a quente irmã mais nova de
Iansã. Ela que era “fogo puro” encantou a todos, e disse que protegeria a Umbanda.
E assim a filha mais nova de Olorum ganhou seus dois padrinhos: a Lei Maior e a Justiça
Divina.
Mas algo engraçado aconteceu. Muitos espíritos vindos de um dos muitos bairros do
Orum, Aruanda, disseram que eles seriam os trabalhadores e a linha de frente da religião,
além de assumirem a condução dos médiuns umbandistas.
Oxalá que é o senhor das formas, e pai da Umbanda, consentiu e determinou que por
homenagem ao povo negro e indígena todos assumissem a forma de Caboclos e Pretos-
Velhos.
E logo chegou Oxóssi de uma de suas muitas caçadas, e assumiu toda a linha de Caboclos,
tornando-se o Rei dos Caçadores. Distribuiu um diadema a todos consagrando-os como
caboclos. Todos os caboclos trazem até hoje o diadema ganho do Rei das Matas.
E o velho Obaluayê junto de Nanã abençoou todos os espíritos anciões que se consagravam
ao trabalho da linha de pretos-velhos. Concedeu a eles a sabedoria que só o passar do
tempo pode conceder. E todos se transformaram em ótimos conselheiros e curadores,
principalmente das chagas da alma.
E por falar em tempo, ele também estaria presente. Oyá-Tempo (xará de Iansã – Oyá), seria
responsável pelas forças do tempo dentro da nova religião. E como ela é muito
observadora e, vamos dizer, bastante desconfiada, seria a guardiã da fé e dos processos
da religiosidade. E "ai" de quem pisasse na bola da religiosidade. Lá estaria Oyá com seu
olhar congelante...
Iemanjá que é uma “mãezona" queria que todos os espíritos que se manifestassem para a
caridade pudessem ser aceitos no ritual, sabe como é, "em coração de mãe sempre cabe
mais um". E assim ficou decidido, pois ninguém tem coragem de negar um pedido da
encantadora Rainha do Mar. E a Umbanda acolheria a todos, caso viessem para prestar a
caridade. Surgiam então as muitas linhas de trabalho, como baianos, marinheiros,
boiadeiros e os muitas vezes renegados pelo próprio povo de origem, os ciganos...
E de repente apareceu Oxum, perguntando que festa era aquela. Quando ficou sabendo
que era o nascimento da mais nova filha de Olorum, começou a chorar e a abençoou com
suas lágrimas que caíam de seus olhos como duas enormes cachoeiras. (Ela é muito
chorona, mas não gosta que a gente fale sobre isso...)
E de presente a ela, chamou Oxumaré, que transformou tudo em cores e disse que
renovaria e embelezaria tudo com seu axé colorido.
E junto do seu arco–íris vieram os encantados da natureza, as crianças que seriam a alegria
da Umbanda.
O “time” estava quase completo, quando da terra surgiram o amado Tata Omulu e Obá.
Não muito sorridentes, para falar a verdade bem sérios e um pouco secos, disseram que
também fariam parte da nova religião. Que queriam ver seus cultos renovados, e que seria
a força do elemento terra. Obá que depois de muitas desilusões nada mais queria com
Xangô, resolveu unir–se a Oxóssi, e ajudá-lo a disseminar o conhecimento.
Apostila 065

Omulu que é muito calado colocou-se ao lado de Iemanjá, dizendo que a guardaria por
todo o sempre. Na verdade, até umas lágrimas foram vistas cair de seus olhos, negros
como a noite. Ele é meio incompreendido, mas quem o conhece sabe que é o mais
amoroso dos Orixás.
Todos estavam comemorando, quando não se sabe direito porque uma confusão
começou, e ninguém mais sabia o que iria fazer. Oxalá que muitas vezes já tinha sido
enganado por “ele”, não seria novamente. Logo disse:
- Laroiê Exu! Você também é convidado a participar da nova religião. Será responsável pela
esquerda de todos. Mas vai ter que seguir as Leis de Xangô, e será acompanhado de perto
por seu querido irmão Ogum!
Uma gargalhada soou por todo Orum, e Exu apareceu. Junto dele a mais bela moça,
Pomba-gira. Exu ficou feliz, disse que agora teria Pomba-gira para dividir seu trabalho, mas
que não abriria mão de ser sempre o primeiro a ser firmado. Não porque ele era aparecido,
mas sim porque era ele quem guardaria os templos e casas de Umbanda.
E muito esperto que era, disse:
- Olha, eu vou supervisionar o trabalho junto com Pomba-gira. Mas vou deixar uns espíritos
trabalhando com a minha força fazer o trabalho. Afinal, o que o homem faz o homem que
desfaça. E também o meu irmão Oxóssi é senhor da linha de Caboclos, porque eu não posso
ser senhor da Linha de Exu?
Bom, começaram umas discussões, mas acabou acertado que o Orixá Exu atuaria na
Umbanda, a partir de sua linha de trabalho. Seria a linha que faria o trabalho pesado, além
de serem os guardiões dos médiuns, e dos templos de Umbanda.
E assim todos os Orixás muito emocionados deram as mãos e começaram a orar pelo
sucesso da mais nova filha de Olorum.
E então o Pai e Mãe de Todos se manifestou:
“Meus amados filhos Orixás, a Vós eu consagro minha filha nova e dileta, a Umbanda. Que
ela transforme–se em uma religião semeadora de luz, amor e caridade. Que seja
espiritualista e universalista, que esteja aberta a todos de bom coração. E que em sua
pedra fundamental esteja escrito o seu único dogma: Amor e Caridade!”
E de Si Sete intensas irradiações partiram, e envolveram sua filha querida. Todos se
emocionaram e agradeceram a Olorum por essa bênção à humanidade.
Quase cem anos se passaram, e a Umbanda cresceu um bocado.
Transformou–se um uma linda jovem, amorosa e alegre. Amparada por seu Pai Oxalá, e
seus padrinhos, a Lei Maior e a Justiça Divina, ela vai vencendo todos os obstáculos.
Os seus trabalhadores conquistaram o coração das pessoas.
Todos correm para escutar a palavra de sabedoria do preto–velho, ou a conversa pura e
alegre da criança.
Os Caboclos transformaram-se na linha de frente da Umbanda, trazendo as qualidades dos
nossos amados pais e mães Orixás. Onde existe um Pena Branca, lá está a paz e serenidade
de Oxalá. Onde trabalha um Sete Espadas, estão os olhos da Lei.

Apostila 066
Exu e Pomba-gira se fizeram presentes tornando-se sinônimos de proteção e cumprimento
da Lei, seja na seriedade do Tranca-Ruas, no olhar penetrante do seu Capa Preta, ou na
força da Rainha Maria Padilha.
Todos os espíritos podem se manifestar para a caridade, como um dia pediu a “mãezona”
Iemanjá, surgindo assim a alegria dos muitos “Zés” que trabalham na Umbanda.
E principalmente a Umbanda tornou-se sinônimo de amor e caridade, de luz e evolução
espiritual.
Esse texto é apenas uma fábula, uma lenda ou um Itan, que presta também sua
homenagem à filha mais nova de Olorum. É um pedido para que enfim as pessoas
entendam que existe algo maior que a “minha” ou “a sua” Umbanda. Simplesmente existe
A UMBANDA, filha querida de Olorum, que encanta a todos os Orixás, e enche os olhos do
velhinho e amoroso Oxalá de lágrimas de felicidade e amor...
(Sepe, em homenagem a Umbanda, essa linda religião universalista, doada a todos nós
pelos amados Pais e Mães Orixás).

Kimbanda e Quimbanda
por Edmundo Pellizari (Ras Adeagbo)

Kimbanda significa algo como "curandeiro" em kimbundu, um idioma bantu falado em


Angola.
O kimbanda é uma espécie de xamã africano.
O ofício do kimbanda é chamado de "umbanda"...Todos já ouvimos essa palavra por aqui.
Quimbanda é um culto afro-brasileiro com forte influência bantu e muito influenciado pela
magia negra europeia.
Kimbanda e Quimbanda se confundem, mas são cultos distintos e com objetivos
diferentes.
O kimbandeiro é um membro ativo de sua comunidade, um doutor dos pobres e intérprete
dos espíritos da Natureza. Ético, ele sempre trabalha para o bem, a paz e a harmonia.
O quimbandeiro é um feiticeiro. Normalmente vive afastado, não se envolve socialmente.
Na África, o kimbandeiro faz a ponte entre os Makungu (ancestrais divinizados), os
Minkizes (espíritos sagrados da Natureza) e os seres humanos.
Ele entra em transe profundo, incorpora os seres invisíveis que consultam os necessitados
e os aconselham na resolução dos problemas. Os espíritos no corpo do kimbanda falam,
fumam e bebem.
Como autêntico xamã, ele sabe que a mata é um ser vivo que respira, come e sente.
Ela é densamente habitada por diversos tipos de entidades, que transmitem seu
conhecimento aos sacerdotes eleitos.
Alguns destes seres se parecem a "duendes".
Apostila 067

Eles têm uma perna só, um olho só ou falta algum braço.


Moram dentro da mata e podem cruzar o caminho de algum caçador.
Um Ponto Cantado para os exus na Umbanda, diz:
"Eu fui no mato, oh ganga!
Cortar cipó, oh ganga!
Eu vi um bicho, oh ganga!
De um olho só, oh ganga!"
Ganga vem de Nganga, um dos nomes pelo qual o kimbanda é conhecido.
Nosso querido Saci Pererê é um deles.
Ele usa o filá (gorro) vermelho dos kimbandas, o cachimbo dos pretos velhos e o tabaco
dos caboclos!
O quimbandeiro centra seu trabalho na figura de Exu, que é um Orixá yoruba e não um
Nkizi bantu.
A entidade que se assemelha a Exu entre os bantu é chamada de Aluvaiá, Nkuvu-Unana,
Jini, Chiruwi, Mangabagabana e Kitunusi dependendo do dialeto e da região.
Aluvaiá pode ser "homem" ou "mulher" e sua energia permeia tudo e todas as coisas.
Ele se adapta muito bem à noção umbandista de exu (entidade masculina) e pomba-gira
(entidade feminina).
O quimbandeiro também invoca e incorpora as entidades associadas ao culto do magnífico
Orixá Exu, os exus e pombas-giras.
Pode haver sincretismo com nomes como Lúcifer, Asmodeus, Behemoth, Belzebu e
Astaroth da Cultura Europeia.
A visão das entidades também pode mudar... O kimbandeiro invoca as almas dos antigos
Tatas (pais espirituais ou sacerdotes curandeiros) e Yayas (mães espirituais ou sacerdotisas
curandeiras).
Estas almas transcenderam o limite da materialidade e da ignorância.
Elas possuem bondade, conhecimento e luminosidade.
Algumas não precisam mais encarnar, pois já evoluíram o suficiente neste mundo.
O quimbandeiro invoca almas de entidades que em vida foram feiticeiros, malandros,
mercadores, homens ou mulheres comuns, etc...
Na África o sangue é um elemento sacrificial.
O kimbandeiro oferece um animal a uma entidade, prepara a carne e entrega a primeira
porção ao espírito.
O resto do animal, que se tornou agora alimento, é compartilhado com a comunidade se
isto acontece em data festiva.
O quimbandeiro não está interessado em "sacrificar" (tornar sagrado), ele está
preocupado com os poderes mágicos do sangue, vísceras e couro do animal. Portanto,
teologicamente falando, ele não sacrifica.
As imagens utilizadas no culto do kimbandeiro são feitas de pedra, madeira e barro.
Os artesãos procuram modelar as entidades da Natureza de forma natural e simples.

Apostila 068
A imagem é consagrada cerimonialmente, e uma porção do espírito da entidade passa a
habitar a efígie.
Na Quimbanda, na maioria das vezes, são utilizadas imagens de gesso que representam os
espíritos aliados.
Comumente estas imagens têm aspecto avermelhado, podendo ter chifres ou não.
O kimbandeiro é um agente social.
Ele depende da comunidade e a comunidade depende dele.
Quando aceita um pagamento para seu trabalho, ele retira do mesmo a sua
sustentabilidade.
Todo mundo sabe e pactua com isso.
Não existe abuso.
Trocas de mercadorias e favores podem substituir o dinheiro como pagamento.
As pessoas empobrecidas são atendidas sem nada precisar dar em troca.
As vestes do xamã bantu são normais e naturais.
Quando está trabalhando usa filá, guias de sementes, cinturão com amuletos e roupas
sóbrias.
Três são os pilares do kimbandeiro: amor, honra e caridade.
O universo da Kimbanda é composto por três mundos que se interpenetram:
O mundo celeste onde moram os espíritos celestiais e originais (alguns Minkizis e
ancestrais divinizados), o mundo natural habitado pelos homens e pelos espíritos da
natureza (elementais) e o mundo subterrâneo da morte e dos ancestrais.
O médium na Kimbanda é um canal entre os espíritos e os que precisam dos espíritos.
Ele é um instrumento mágico, um servidor da humanidade que pratica um transe
profundo, pois, somente adormecendo o ego o divino pode fluir.
Os espíritos utilizam o médium com gentileza e cuidado, sem esgotar suas reservas de
energia psíquica.
A Umbanda, certamente, bebeu das águas tradicionais da Kimbanda.
Os negros bantus trouxeram sua herança espiritual, legítima, luminosa, ecológica e
antiquíssima.
Oramos para que as antigas almas dos Tatas e Yayas nos ajudem a separar o trigo do joio.
Nzambi primeiro!
Nsala Malekun!

Apostila 069
O que é Religião?
por Alexandre Cumino

Uma das formas de definir religião é ir direto ao significado da palavra, do latim, religare,
que tem o sentido de religar-se a DEUS. Logo um entendimento teológico da mesma é
propiciar um encontro ou reencontro com DEUS.
Mas, o que pode parecer simples é, no entanto, complexo, afinal há formas muito variadas
de religião e até algumas, como o budismo e jainismo, em que nada se refere a DEUS, são
praticamente religiões ateístas.
Partindo desse ponto de vista, a definição de religar-se, embora seja muito interessante,
não expressa todas as dimensões que as diversas religiões encerram em si mesmas. Por se
tratar de algo indissociável ao ser humano, como produto cultural e social, recorremos às
ciências humanas para melhor compreender o fenômeno em suas múltiplas formas de
expressão.
Desde que o homem habita este mundo há religião, o próprio homo sapiens é considerado
um homo religiosos; apesar de reconhecermos o quanto a religião faz parte de nossas
vidas, ela já passou por um período de “trevas”, justamente no período em que surge o
iluminismo. É quando surge o mundo moderno, pós-revolução francesa, que o homem se
voltará a um racionalismo cientificista que nega o valor da religião. No séc. XIX, Augusto
Conte torna-se o precursor do positivismo declarando que a religião seria substituída pela
ciência, pois no futuro esta teria as repostas para as inquietações humanas buscadas no
mundo teológico. E assim como os períodos mitológicos e mágicos já haviam sido
superados pelo religioso, este também seria ultrapassado, declarando sua inutilidade.
Religião tal qual se conhece seria uma pseudossolução para pseudoproblemas.
Nos passos de Conte viriam Nietzsche, declarando a morte de Deus, Freud, considerando
religião uma ilusão, algo infantil, e Marx que afirmaria ser o suspiro dos oprimidos, ópio do
povo. Cientistas promoveram uma nova inquisição na qual só tem valor o que pode ser
observado, experimentado e mensurado dentro do método científico.
Em meio a tanto ceticismo, Jung oferece um contraponto às ideias de Freud,
demonstrando a importância das questões religiosas na vida do ser, apresentando o erro
da aplicação do método científico para negar o valor que possui a religião na vida e na
psique humana:
“O conflito surgido entre ciência e religião no fundo não passa de um mal-entendido entre
as duas. O materialismo científico introduziu apenas uma nova hipótese, e isso constitui
um pecado intelectual. Ele deu um nome novo ao princípio supremo da realidade,
pensando, com isso, haver criado algo de novo e destruído algo de antigo. Designar o
princípio do ser como Deus, matéria, energia, ou o quer que seja, nada cria de novo. Troca-
se apenas de símbolo."1

cit1 Jung. Psicologia e Religião Oriental. Petrópolis: Ed. Vozes, 1991. 5 edição. P. 03

Apostila 070
Religião faz parte de uma realidade subjetiva do ser, o que não pode ser mensurado, já
que as ciências naturais se ocupam da realidade objetiva. Buscamos no método científico
respostas de como funciona a realidade física, no entanto, o mesmo é insuficiente para dar
sentido a esta realidade. Para entender melhor essa dinâmica humana do ente que busca
respostas além de si mesmo é que se abriu campo nas ciências humanas, com o fim de
entender a experiência religiosa em suas diversas dimensões.
O pai da sociologia, Émile Durkheim, em sua obra clássica, As Formas Elementares de Vida
Religiosa, faz considerações importantes sobre o que vem a ser religião:
Não há, pois, no fundo, religiões que sejam falsas. Todas são verdadeiras à sua maneira:
todas respondem, ainda que de maneiras diferentes, a determinadas condições da vida
humana [...].2
A conclusão geral deste livro é que a religião é coisa eminentemente social [...]. 3
Para aquele que vê na religião apenas manifestação natural da atividade humana, todas
as religiões são instrutivas, sem nenhuma espécie de exceção, pois todas exprimem o
homem à sua maneira e podem assim ajudar a melhor compreender esse aspecto da nossa
natureza. [...] Uma noção que geralmente é considerada como característica de tudo aquilo
que é religioso é a de sobrenatural.
Com esse termo entende-se toda ordem de coisas que vai além do alcance no nosso
entendimento; o sobrenatural é o mundo do mistério, do incognoscível, do incompreensível
[...].4
Max Muller via em toda religião “um esforço para conceber o inconcebível, para exprimir
o inexprimível, uma aspiração ao infinito”. [...].5
Todas as crenças religiosas conhecidas, sejam elas simples ou complexas, apresentam um
mesmo caráter comum: supõem uma classificação das coisas... pelas palavras “profano “e
“sagrado”. [...] Eis como o budismo é uma religião: na falta de deuses, admite a existência
de coisas sagradas, a saber, das quatro verdades santas e das práticas que delas derivam.
[...].6
Uma religião é um sistema solidário de crenças seguintes e de práticas relativas a coisas
sagradas, ou seja, separadas, proibidas; crenças e práticas que unem na mesma
comunidade moral, chamada igreja, todos os que a ela aderem. [...].7
Edênio Valle, em sua obra Psicologia e Experiência Religiosa afirma que “W. H. Clark reuniu,
em 1958, nada menos que 48 definições psicológicas de religião”. Entre estas, ele
transcreveu algumas, e destas nós destacamos as seguintes para concluir o que vem a ser
religião: Rudolf Otto, “A religião é o empreendimento humano pelo qual se estabelece um
cosmo sagrado.

2 Op. cit. P. 31
3 Op. cit. P. 38
4 Op. Cit. P. 54
5 Op. cit. p. 55
6 Op. cit. P. 68
7 Op. cit. P. 79

Apostila 071
Ou é a cosmificação feita de maneira sagrada. Por sagrado entende-se aqui uma qualidade
de poder misterioso e tremendo, distinto do ser humano e, contudo, com ele
relacionado, pois se acredita em sua presença em certos objetos de experiência... é o que
faz tremer e é o fascinante”.
B. Grom, “Religioso é tudo o que para os seres humanos encerra uma relação a algo sobre-
humano e sobremundano, prescindindo-se dos modos concretos pelos quais o religioso
pode ser concebido e experimentado.”
W. James - “São os sentimentos, atos e experiências do indivíduo humano, em sua solidão,
enquanto se situa em uma relação com seja o que for por ele considerado divino.”
M. F. Verbit - “A religião é a relação do ser humano com qualquer coisa que ele conceba
como sendo a realidade última dotada de significado.”
M. W. Calkin - “Religião é a relação consciente do self humano como self divino, isto é, com
um self visto como maior que o self humano.”
Tomás de Aquino - “A religião é a virtude pela qual os homens rendem a Deus o devido
culto e reverência.”
Ernest Renan - “A Religião é a mais alta e atraente das manifestações da natureza
humana.”8
Definir o que vem a ser religião não é tarefa fácil, resumir em poucas palavras pode nos
levar a um reducionismo de seu valor, estender-se na explicação pode tornar vago o
conceito e, da mesma forma, um religioso falando sobre religião costuma antes definir o
que é sua religião correndo o risco de excluir as outras.
Antes de tudo, pode ser algo tão universal e ao mesmo tempo diverso, é preciso certa
neutralidade para apreender seu significado. Quando se trata de religião, nossa postura
deveria ser antes de entender que explicar, principalmente a religião do outro.
E para fechar fica a definição do Mestre e Místico Hindu Vivekananda:
“A religião não consiste em doutrinas e dogmas. Ela não é o que você lê nem os dogmas
que você acredita serem importantes, mas o que você percebe... A finalidade de todas as
religiões é a percepção de Deus na alma. Essa é a única religião universal.”9

8 Ernest Renan, Études d`Histoire Religieuse. In Félicien Challaye, As Grandes Religiões. São Paulo: Ed. Ibrasa, 1998. p. 13
9 Vivekananda: O Professor Mundial. Ed. Madras

Apostila 072
Esvaziar e encher o seu copo

Esteja ou não buscando mudanças ou um novo estágio de evolução na sua vida, desejando
alcançar novas conquistas, sair de uma dificuldade e ser mais feliz, existe algo
extremamente importante neste sentido, algo que a maioria das pessoas ignora na hora
de obter as transformações que deseja. Então, é sobre isso que gostaria que você refletisse
neste momento, sobre “esvaziar seu copo”. Muita gente se apega ao que já sabe como se
fosse uma verdade absoluta e, por isso, não abre espaço para o novo. Você já ouviu a
história do copo cheio e do copo vazio? É uma metáfora e é exatamente sobre isso que
estou falando. Quando você não está disposto a absorver novos conhecimentos, novos
olhares, perspectivas, pontos de vista, significa que seu copo está cheio e, portanto, não
cabem mais informações diferentes, um jeito novo de pensar ou de fazer. Daí as
possibilidades de mudanças se tornam limitadas ou praticamente não acontecem. Antes
de iniciar esse curso, é necessário esvaziar o copo, isso é fundamental para abrir espaço
dentro de si. Caso contrário, você tende a ser mais um preso numa bolha de ego. E isso
acontece essencialmente por você estar limitado a verdades absolutas ou, muitas vezes,
por continuar tentando as mudanças pelo mesmo caminho. Há pessoas que fazem um
curso e dizem que o conteúdo não apresentou novidade, que é ultrapassado, que não
valeu a pena. Independentemente do todo o conhecimento que você possui, o que quero
dizer é que é fundamental reconhecer que nenhum deles é ‘absoluto’. “Esvaziar o copo”
não significa jogar fora tudo o que você aprendeu na vida, e sim que todo aprendizado
deve ser colocado em prática para que haja espaço no copo. É por isso que renomados
cientistas e pesquisadores buscam aprimorar conhecimentos, não param nunca de
estudar. A mensagem principal é que você SEMPRE pode aprender algo novo. Mesmo que
o resultado final seja aquele previsível, o caminho até ele pode ser diferente. As pessoas
ao seu redor também lhe acrescentam. Você pode aprender se simplesmente parar para
ouvir e prestar atenção ao outro. No entanto, se estiver com o copo cheio, perde essa
oportunidade. Não se contente com pouco, independentemente da transformação que já
passou.

Apostila 073
Não existe verdade absoluta

"Não existe verdade absoluta".

(Platão)

Esse seria o primeiro item que ninguém deveria esquecer. Não existe verdade absoluta,
assim como não existe certo e errado. O que existe é o ser humano, sua consciência e seu
enorme leque de escolhas. Portanto a questão do respeito, na religião de Umbanda, é
extremamente importante termos em nosso coração, para nossa própria evolução. Não
adianta cobrarmos respeito, como umbandistas, e não fazermos nossa parte. Não existe
verdade absoluta, acreditamos em nossa verdade. E hoje, em nossa vida, a Umbanda é a
nossa verdade. Pode ser que amanhã, essa verdade se modifique e a Umbanda deixe de
ser uma realidade, através de novos caminhos e novas verdades, conforme a necessidade
evolutiva de cada um. Desta maneira, não há necessidade de discussão, brigas, da tentativa
de colocar essa verdade, que é só nossa, na cabeça de outras pessoas, pois não resolverá
nada. Discussões e brigas atrapalham a vida em contexto geral, não só dentro da religião.
A vida é o que acontece a cada segundo, a cada respiração, a cada sentimento. E nós somos
essa experiência diária. Somos a liberdade do vento que nos corta, a imensidão do céu e a
grandeza do amor. Nós somos a parte mais complexa e mais intensa do Universo. E que
universo! Escolha como verdade as palavras que escutar nas entrelinhas e no silêncio.
Escolha que o certo é o que o coração fala e a cabeça pondera.

De Umbandista para Umbandista


Esse curso é feito de Umbandista para você, que neste momento, escolheu a Umbanda sua
verdade e se tornou, também, um umbandista, para sua necessidade evolutiva. Hoje a
Umbanda me define como pessoa, é muito mais do que religião ou cultura. Para mim
Tatiane, Umbanda é simplesmente a vida, o estilo, a forma de olhar o mundo através dos
olhos dos Guias e Orixás. Espero que a Umbanda defina cada um de vocês, neste momento
e que escolheu-se como verdade para vivenciar, aprender, estudar, evoluir. Esse curso é
feito com muito carinho e amor, e acima de tudo, de umbandista para umbandista, para
que vejam o mundo com os olhos da Umbanda. Umbanda é uma religião que foi feita para
leões. Apesar de chegarmos como carneirinhos, em busca de um carinho, um auxílio, um
abraço, o intuito da religião é que você se transforme em um leão, para que tenha seu
próprio conhecimento, suas próprias atitudes e deixar de ser dependente de o que quer
que seja.
Apostila 074

A porta de entrada do Terreiro


Como entrar no Templo:
O que diferencia um templo de um salão ou uma casa comum é o fato de que o Templo é
um local consagrado, que passou por um ritual de consagração, destinado aos rituais
religiosos coletivos e no qual se encontra o altar.
Para se entrar em um templo o mais importante a se saber é o respeito que se deve ter.
No entanto para um umbandista não basta ter respeito, é preciso demonstrar este respeito
por meio de um ritual de gestos e posturas.
O objetivo desta ritualística gestual é despertar no íntimo de cada um a postura de
humildade e respeito.
Dentro deste contexto, estes gestos e posturas abrem o universo sagrado ao umbandista
evitando que ele esteja profanando o que é sagrado.
Diante das Entidades e Divindades este comportamento de respeito, humildade e
reverência demostra que tal pessoa é digna de estar ali e compartilhar dos mistérios
Sagrados e Divinos que são ofertados para compartilhar entre todos.
Quando os filhos chegam ao terreiro, antes de entrar, tocam o solo algumas vezes, outros
se ajoelham e outros, ainda, fazem uma cruz no chão.
Qual o significado desse gestual?
Na maioria das vezes, as pessoas fazem, sem saber qual o fundamento. No caso do meu
terreiro, ensino o Sinal da Cruz no solo e no nosso corpo, não confundindo com o
catolicismo.
Ao tocar o solo e fazer o Sinal da Cruz, estou saudando, agradecendo à todas as forças que
acredito, ou seja, as forças do Alto, do Embaixo, da Esquerda e da Direita, pedindo
permissão para que naquele momento eu me torne sagrado, saindo do profano.
Assim, meu corpo se tornará um Templo vivo.
É importante destacar que tudo na Umbanda é simples.
A forma de se relacionar com o Templo Sagrado, os Guias Espirituais, os Orixás e Olorum,
é simples.
Algo básico, objetivo e simples, sem mistérios.
Diferente de outras religiões.
Na Umbanda, tudo tem explicação, significado, motivo de ser.
Existem explicações para todos os fundamentos, todos os gestuais.

Apostila 075

A Tronqueira
A Troqueira, logo após a entrada que é o marco divisório entre o profano e o Sagrado, é a
força absorvente ou neutralizadora do Terreiro.
Temos em um Terreiro, uma força ativa ou irradiante que é o Congá.
A tronqueira é um recurso da Umbanda que funciona como anteparo a seres com energias
negativas.
É um ponto de firmeza ou assentamento de ferramentas, velas, minerais, elementos
naturais.
O nome vem do passado, de uma simbologia do tronco que segura o cavalo.
Antigamente era a segurança do cavaleiro.
Para descansar ou parar, o mesmo firmava ou amarrava o cavalo no tronco.
No Terreiro, funciona como um ponto de força onde está firmado (ativado) o poder dos
guardiões que atuam em dimensões à nossa Esquerda (Exu, Pomba Gira, Exu Mirim e
Pomba Gira Mirim).
O ponto de força funciona como um para-raios: é um portal que impede as forças hostis
de se servirem do ambiente religioso.
É o Exu guardião do terreiro que passa a instrução de assentamento e montagem da
tronqueira.
Fica na entrada do lado esquerdo de quem entra no terreiro e devemos total respeito.
Existem gestuais ritualísticos para saudar a Esquerda.
Após entrar no terreiro e fazer o Sinal de Consagração às forças do Alto, do Embaixo, da
Direita e da Esquerda, deve-se saudar as forças da Esquerda, batendo três vezes na porta
da tronqueira, assim, estará chamando a força da Esquerda para se unir à ela, para sua
proteção, para seu amparo, para sua vitalização e estímulo, para seus bons interesses, que
seja neutralizada toda ação negativa externa, para que possa ser realizado uma gira de
maneira tranquila e bem protegida pelos guardiões.
Também pode-se fazer o gestual de cumprimento à Exu, bater os dois punhos, um no
outro, que significa a união do polo positivo com o negativo, saudando e reverenciando
essa força.

Apostila 076

Porta e Tronqueira na prática


Cruzar o solo Sagrado:
Ao adentrar ao templo o umbandista deve se ajoelhar e fazer o sinal da cruz no chão com
as costas das mãos.
Faz com as costas das mãos por ser a parte mais limpa da mão e faz no chão para ser
obrigado a ajoelhar-se ou curvar-se ao sagrado.
No momento em que faz este gesto o Umbandista deve dizer: “eu saúdo a Olorum (Deus),
o Alto, Embaixo, Direita e Esquerda de todos que guardam e regem este Templo. E peço
licença para entrar neste Templo por seu lado sagrado”.
Isto pode ser dito mentalmente.
Ao sair do Templo deve se postar de frente ao altar e cruzar o chão mais uma vez.

Como saudar a esquerda:


Toque o chão três vezes ou bata as costas de suas mãos três vezes em sentido a tronqueira
dizendo mentalmente “salve todos os Exus e PombaGiras deste Templo, peço força,
proteção e licença para entrar neste Templo pelo seu lado Sagrado”.
A esquerda representa todos os Guardiões e Guardiãs que trabalham nas forças e mistérios
de vibração à esquerda dos Orixás.
Na Umbanda os chamamos de Exu e PombaGira.
Estes gestos devem ser feitos tanto ao chegar quanto ao sair do templo.

Apostila 077

Ritos de abertura e fechamento de gira


O Ritual Umbandista varia muito de acordo com a direção da casa, pois cada uma tem sua
característica própria, adotando o ritual que mais se adequa ao seu tipo e ritmo de
trabalho.
De forma alguma, tenho aqui a pretensão de indicar o certo ou errado, mas, tão somente
apresentar as características básicas dos rituais, conforme são realizados em nosso
terreiro.
O sinete é badalado no início do trabalho, não apenas como forma de chamar a atenção
para o começo, mas também porque tem a função de reativas as firmezas e assentamentos
do terreiro, quando o Sacerdote lança seus pensamentos ativadores para o decorrer do
trabalho.
Preleção é uma pequena palestra, um ensinamento, uma lição, no início do trabalho, em
relação à gira do dia.
Desta maneira, as pessoas se sentem mais acolhidas, mais instruídas.
Depois é o momento de abertura da cortina.
Boa parte dos terreiros e, muitas vezes por falta de espaço físico para alojar os médiuns
antes dos trabalhos, os acomoda no próprio terreiro e para haver uma separação de
consulentes com os médiuns se cria uma cortina entre o terreiro e a assistência para tal
finalidade.
Então os terreiros com curimba tocam um ponto especifico para a abertura desta cortina
e logo em seguida canta-se para a abertura dos trabalhos.
Na abertura dos trabalhos de Umbanda, reverenciamos as forças à esquerda dos Orixás.
Então saudamos todas as linhas até então conhecidas da Umbanda e também pedimos a
limpeza pessoal e do templo e, logicamente, proteção para os trabalhos daquele dia.
O ritual de abertura é o momento em que você concentra toda a energia que vai utilizar
durante o trabalho.
O Fechamento ou Encerramento da Gira de Umbanda é um momento muito especial onde,
nós umbandistas, agradecemos pelos trabalhos realizados naquele dia através dos pontos
cantados e também é, e deve ser, um momento de alegria e descontração, pois muitas
vezes os trabalhos são cansativos e muitas histórias negativas circulam pelo ambiente.
Então, nada melhor do que se alegrar, agradecer, dançar e cantar para espantar toda
negatividade para que os trabalhadores do bem voltem para os seus lares positivos e
alegres.

Apostila 078

GIRAS DE UMBANDA
Proteção:
Todo médium umbandista deve ter suas proteções espirituais firmadas em sua casa e, o
mínimo que se deve ter, é uma vela branca de sete dias para seu anjo da guarda e uma
vela vermelha/preta (bicolor) para sua esquerda. Além disso, o médium pode
eventualmente firmar velas aos seus Orixás ou aos Orixás que queira um maior amparo.

Vela para o Anjo de Guarda:


A vela acesa ao anjo da guarda é a proteção mais simples e mais eficiente ao umbandista.
É apenas uma vela branca de sete dias acesa e oferecida à Deus e à seu anjo da guarda
pedindo força e proteção. Eventualmente pode se oferecer um copo de água, flores, mel
ou uma quartinha junto da vela

Vela para sua esquerda:


A vela para a sua esquerda também é simples e pode ser acesa por todos os umbandistas.
É apenas uma vela de sete dias vermelha/preta (bicolor), oferecida em nome de Deus à
seu Exu e PombaGira. Junto desta vela pode-se oferecer bebida, fumo e flores.

Triângulo de proteção:
Para reforçar a proteção do anjo da guarda, para momentos de dificuldade com demandas
negativas ou antes de sair com objetivo de fazer trabalhos espirituais para ajudar terceiros,
se firma um triângulo de proteção para os Orixás com a vela do anjo da guarda no centro.
Ofereça a vela do alto do triangulo a seu Orixá ancestral, a da direita a seu Orixá de frente
e a da esquerda a seu Orixá de Juntó, firmando a vela de seu anjo da guarda no centro que
ao mesmo tempo, também, representa você no centro de proteção do triângulo. Caso não
saiba quais são seus Orixás ancestres, frente e juntó pode escolher três Orixás de sua
preferência ou que tenha a ver com o contexto.

Apostila 079

Triângulo da esquerda:
Além da vela bicolor vermelha/preta pode-se firmar um triângulo com três velas de sete
dias (branca, vermelha e preta), colocando a branca no vértice de cima do triângulo, a
vermelha no vértice da direita e a preta no vértice da esquerda. Oferecendo para Deus,
Orixá Exu, Orixá Pomba Gira e a todos Exus e Pomba giras. Oferecendo bebida e fumo a
todos eles. Bata paô e faça as saudações de forma adequada. Este triângulo forma um
espaço mágico poderoso capaz de descarregar com facilidade as cargas negativas que
podem estar com o Umbandista. Ofereça à seus guias e peça à eles força, proteção e o que
mais de bom e para o bem que precisar. As firmezas de esquerda são feitas fora de casa,
na varanda ou em uma lavanderia.

Bater Paô:
A palavra paô vem do yorubá e quer dizer união. Assim bater paô é um pedido de união ou
de encontro com a divindade ou as entidades. Este gesto é feito por meio do bater palmas.

Se chegar carregado:
Se você chegar ao terreiro se sentindo mal, carregado de energias negativas, com dor de
cabeça, pense antes se fez seu banho de ervas e se deixou suas velas do anjo da guarda e
da esquerda acesas. Caso contrário fica o alerta da importância destas proteções. Pense se
durante o dia encontrou alguém que estava com está energia ruim e possa tê-la passado à
você ou alguém que você sente estar lhe desejando ou enviando esta carga negativa. Isto
é apenas para você se tornar consciente de onde vem estas energias para poder evitar. No
templo vá até a tronqueira toque o chão três vezes como de costume faça a saudação e
pata paô 3x3 para Exu e Pomba Gira, repetindo mentalmente a saudação de chamada
deles: “Laroyê Exu, Exu Mojubá, Laroyê Pomba Gira, Pomba Gira Mojubá”. E vai pedindo
mentalmente para eles te limpar e descarregar de toda energia negativa. Fique ali
ajoelhado por uns minutos sentindo esta limpeza. Após isso vá bater cabeça e faça
novamente seus pedidos no altar. Geralmente, para cargas negativas isso costuma resolver
imediatamente. Caso não dê resultado procure seu sacerdote e explique que não está
bem.

Apostila 080

Liturgia e Ritualística de Umbanda


Bater Cabeça:
Este nome é dado ao ato de prostrar-se no chão e tocá-lo (o chão) com a cabeça em
reverência e saudação ao que está diante de você. Geralmente na Umbanda para este
gesto o umbandista se deita no chão, coloca as mãos para frente espalmadas para cima e
então toca o chão três vezes com a cabeça. Deve-se bater a cabeça diante do altar para
demonstrar a todos (entidades, encarnados, Deus e divindades) e a si mesmo, seu respeito,
reverência, humildade e saudação.
Neste momento deve-se pedir a Deus que o faça instrumento de sua vontade, de sua lei
maior e de sua justiça divina. Em muitos templos também se bate cabeça diante do
sacerdote para demonstrar respeito, humildade e reverência diante dele e que esta ali para
somar, ajudar e servi-lo junto das divindades. Pode existir um momento certo para bater
cabeça ao altar e para o sacerdote dentro do ritual de abertura dos trabalhos espirituais
ou pode-se bater cabeça logo que chega ao templo. Cada casa tem sua forma de lidar com
isso, na Casa Luz do Amanhã tem o momento correto para este ritual na abertura dos
trabalhos.

Pedir a bênção ao sacerdote:


Para tal deve-se tomar a mão do sacerdote e dizer “peço a sua benção meu pai e/ou mãe
no caso de sacerdotisa”. Em seguida, é necessário beijar as costas das mãos, trazê-la até a
testa e em seguida beijar outra vez. Não é necessário abraços, beijos no rosto etc., apenas
o rito conforme descrito em sinal de respeito. O sacerdote lhe abençoa dizendo “Deus lhe
abençoe”, “Olorum lhe abençoe”, “Oxalá lhe abençoe” ou algo mais. Este gesto pode
mudar de templo para templo.

Defumação:
A defumação é um ato de limpeza e purificação do templo e das pessoas, é feita com
carvão em brasa e ervas ou resinas aromáticas de boa qualidade, queimadas dentro de um
turíbulo (incensório). Geralmente é feito durante o ritual de abertura dos trabalhos
passando o turíbulo esfumaçado diante de cada um dos umbandistas que devem tomar a
fumaça com as mãos e trazer até sua cabeça e então dar um giro sobre si mesmo no sentido
anti-horário, simbolizando o descarrego e a ideia de que ali o tempo profano não conta
mais.

Apostila 081

Consagração na Umbanda
“Consagrar significa dar direção, direcionar 'o que for' ao seu uso, tornando um objeto sagrado"

(Sereia de Aruanda)
Consagrar é, além de respeito, devoção e um ritual energizante. Para acender uma vela,
ou oferecer agrados à um guia, é sempre bom consagrar, ou seja, destinar, o objeto ou até
mesmos as oferendas como comidas, padês, flores para àquele mentor espiritual.
No caso das velas, você estará elevando o 'objeto' como algo sagrado, direcionando a
energia daquela chama para o Anjo ou Ser Superior à quem você quer fazer um pedido
e/ou agradecer.
Quando compramos uma vela, em uma loja, esta vela é apenas um objeto comum, de
parafina, que pode ser utilizadas de diferentes formas. Para que esta vela torne-se um
instrumento ritualístico, é necessário consagra-la, tornando um objeto que antes era
mundano, em um instrumento sagrado.
Existem inúmeras formas de consagrar um objeto, desde as mais simples, às mais
elaboradas com ervas, óleos, água benta etc. Mas não se preocupe que o que vai importar,
na hora de dedicar algo à planos Astrais, é sua fé e a energia depositada naquele ritual.
Sempre segurando o objeto, ou com as mãos estendidas sobre ele, emanando e
depositando sua energia ali, com concentração, fazendo seus pedidos e agradecendo
sempre suas bênçãos.
Segure-a na palma das mãos, coloque ao alto da coroa, e como uma prece, invoque à Deus,
Anjo da Guarda, Guias ou Orixás, que consagre para seu uso ritualístico e qual será sua
função.
Lógico que fica a critério de cada um, intuitivamente, se haverá a utilização de outros
materiais para a consagração. Mas como já mencionado, o que mais vale é sua intenção.
Lembre-se que “o que lançamos ao Universo, a nós retornará”.

Apostila 082

Elementos Ritualísticos na Umbanda


Defumação:
Ato de purificar o ser, o objeto e o ambiente, através da fumaça. É o ato de anular e
neutralizar as energias negativas através de aromas, ou seja, das essências de ervas. No
ritual das Giras umbandistas a defumação é feita com a mistura de alecrim, benjoim,
incenso, alfazema e mirra. Em outros tipos de defumações são usadas ervas de acordo com
a necessidade da utilização.
A defumação é uma prática antiquíssima de todas as religiões e de todos os povos. Ttem
sempre caráter de limpeza ambiental e psico-espiritual. O emprego sistemático da fumaça
deve ser reminiscência indígena. Entre todas as tribos da raça Tupi, o Tabaco é considerado
como planta sagrada.
O segredo e a utilização desses elementos por parte de nossas entidades, do uso do
cachimbo, do charuto e do cigarro nos trabalhos, é uma forma de defumação, não se trata
de uso como vício, por isso eles sopram a fumaça.

Atuação do Defumador:
1) A essência do defumador, desfazendo-se no ambiente, isto é, misturando-se com o éter
atmosférico, vai ser sentido e usado pelos espíritos, neutralizando e desfazendo as
energias pesadas;
2) Seu aroma desperta alguns centros nervosos dos médiuns, fazendo esses centros
vibrarem de acordo com as irradiações fluídas espirituais.

Fogo:
Utilizado para acender defumadores, charuto, cachimbo, cigarro e pólvora. O fogo da
pólvora (tuia) produz o estouro e a fumaça para que expulse a negatividade, rompendo o
campo magnético. Associado nos ritos de magia religiosa age como afastador de espíritos
inferiores e destruidor (queima) as energias pesadas, estourando as bolsas miásmicas do
ambiente, sempre fruto dos pensamentos dos seres que nele estão ou habitam.
Velas:
Vieram para a Umbanda por influência do Catolicismo. Iluminadas, são pontos de
convergência para que o umbandista fixe sua atenção e possa assim fazer sua rogação ou
agradecimento a Deus, aos Orixás e Guias.
Apostila 083

Na vela encontramos a vibração dos 4 elementos naturais: água, terra, fogo e ar. É a
atuação da magia dos elementos. Ao acendê-la de forma religiosa através da prece,
produz-se a indução ao movimento magístico com as Forças Sutis Eólicas, Igneas, Hídricas
e Telúricas. Ao iluminá-las, também, homenageia-se, como símbolo de fé, a Deus, Jesus, a
Mãe Santíssima, aos Orixás e Guias, reforçando uma energia que liga, de certa forma, o
corpo ao espírito.
Água:
Sua utilidade é imensa. Serve para os banhos, amacis, para cozinhar, para lavar as guias,
para descarregar os maus fluídos pela captação, para o batismo, para fluidificação.
Dependendo de sua procedência (mares, rios, chuvas e poços), terá um emprego diferente
nos rituais. A água poderá concentrar uma vibração positiva ou negativa, dependendo do
seu emprego.
Ponto Riscado:
São sinais gráficos que refletem uma energia, atraem espíritos, fornecem ordens e
comandos de atuação espiritual, identificam os Guias em trabalho. Cada ponto, seja de
Caboclo, do Preto Velho ou do Exu, tem uma interpretação, podendo identificar aquele
que o risca, podendo caracterizar a natureza do trabalho.
Concentração:
É ter a mente fixada sobre um objeto. Trata-se do movimento Tântrico.
Meditação:
É uma corrente contínua de pensamentos a respeito desses objetos.
Bater Cabeça:
O médium da Casa, num ato de humildade e em respeito às firmezas do Congá, deitasse
de barriga pra baixo em frente a ele (Gongá) a fim de pedir proteção. Tem, também, o
significado ritual de entrega ao serviço de Deus no trabalho mediúnico espiritual do
Templo a que pertence.
Congá:
Altar Ritualístico, onde ficam os símbolos, elementos de irradiação, imagens, etc... É o
ponto de atração e irradiação no Abaçá.

Apostila 084

Sineta Litúrgica:
Deve ser utilizada e consagrada em momentos apropriados somente por pessoas
capacitadas para tal, devendo ser guardada no Congá. Tem o significado litúrgico de
chamar a atenção para o sagrado e evocar os bons espíritos trabalhadores.
Otá:
Pedra (de rio, cachoeira ou praia), axé do Orixá (onde se fixa a força mágica da Vibração).
O otá tem vida energética quando ativado; somente assim é um otá. Sua forma,
dependendo do Orixá, poderá ser redonda, arredondada (ovalada) ou comprida. É um
condensador e funciona como um transformador energético.

Preceito:
Normas, proibições e recomendações relativas ao culto.

Bebidas:
Na Umbanda, bebem os médiuns irmanados com seus Guias espirituais, na certeza de que
confraternizam bridando com seus coetés (cuias), invocando os poderes do Deus
Onipotente na sua Corte Celestial com os Ministros (Orixás). Ao mesmo tempo o teor
alcoólico é utilizado pelos Guias, através da emanação pelo corpo do médium. -E usado
para defesa e para trabalhar ajudando aos aconselhados.

Indumentárias Litúrgicas (Roupas e Apetrechos):


Os guias não precisam deles. Entretanto, para melhor expressarem a mensagem simbólica
que visam transmitir, assumindo as formas perispirituais que assumem. Assim como o
Sacerdote, o Rabino, o Marçom usam indumentárias simbólicas/litúrgicas em seus cultos
e reuniões, na Umbanda os Guias usam certas indumentárias, de acordo com sua Linha e
Falange, como símbolo vibratório e místico.

Charutos, Cachimbos e Cigarros:


O segredo e a utilização desses elementos por parte de nossas entidades, o modo como a
fumaça é dirigida (magia) tem o seu fundamento em várias culturas religiosas. A fumaça
tem o valor defumatório.

Pemba:
A força esotérica da Escrita astral, na Umbanda, é feita pela Pemba (giz oval - forma
cônica), que tem o poder de abrir e fechar trabalhos de magia, e de purificar, quando em
forma de pó é lançada ao ar no ambiente em que se utiliza.

Apostila 085

Prece:
É uma evocação por meio da qual colocamos nossos pensamentos em relação a Deus,
Jesus, Maria, Orixás ou às Entidades. Pode ser pensada ou mentalizada, falada ou cantada.
Iniciações:
É um dever, um compromisso com a função sacerdotal do médium. Implica na presença
do Sacerdote, que com sua força espiritual, com o conhecimento do ritual e do material a
ser aplicado na Iniciação, estabelece o elo, o canal entre o filho e as forças espirituais da
egrégora.
Oferenda:
É um ato livre através do qual se oferece aos Orixás e Guias elementos materiais,
principalmente relativas à alimentação, elementos extraídos da natureza, com o fim de
homenagear aos Orixás e Guias e realizar a magia pelo trabalho, por parte dos espíritos,
da contraparte etérica das oferendas.
Curimbas ou Pontos Cantados:
São cânticos homenageando e invocando as Entidades, marcando o início de sua
incorporação ou desincorporação, para criar formas mágicas para determinados trabalhos,
para abrir e fechar sessões no Terreiro, parar pedir forças espirituais, para afastar espíritos
maus, etc...
Atabaques:
Eles servem para manter o ambiente sob uma vibração homogênea e fazer com que todos
os médiuns permaneçam em vibração (danças, aceleração do médium).
Bater com as pontas dos dedos, no chão:
Saudando, homenageando e pedindo licença ao local.
Guias (fios de contas):
É um colar ritual de miçangas, contas de cristal, de louça, de frutos pequenos, de pedras,
construídos de acordo com a Entidade, que designa também a cor de sua preferência.
Podem ter pequenos objetos presos a eles.
Vestimenta - Roupa Branca:
É a vestimenta para a qual devemos dispensar muito carinho e cuidado, idênticos ao que
temos para com nossos Orixás e Guias. As roupas devem ser conservadas limpas, bem
cuidadas, assim como as guias (fios de contas), não se admitindo que um médium, após
seus trabalhos, deixe suas roupas e guias no Terreiro, esquecidas. Quando a roupa fica
velha, estragada, jamais o médium deverá dar ou jogar fora. Ela deverá ser despachada no
mar pois trata-se de um instrumento de trabalho do médium.
Apostila 086

Toalha Branca:
Trata-se de um pano branco em formato de toalha (retangular), podendo ser contornado
ou não com renda, fino ou grosso, de tamanho aproximado de 0,50 x 0,76 m. É utilizado
para o médium bater cabeça. É símbolo do trabalho espiritual.
Trabalhar descalço:
O médium, sempre que possível, ao incorporar, deve trabalhar descalço por uma questão
de humildade e para facilitar a incorporação, bem como para haver melhor descarga dos
fluídos nocivos, diretamente para a terra. Estando o médium calçado, estará isolado da
terra, o que dificultará a eliminação dos fluídos nocivos (negativos).
Banhos de Descarga:
São coisas sérias, requerendo atenção de quem os toma. Pode ser um banho de flores,
ervas ou essências. Cada um deles traz o seu magnetismo e a pessoa vai absorvê-lo de
modo que ao tomá-lo, elimina toda a influência negativa agregada a sua vibratória humana
(corpo etérico). As ervas, de preferência, devem ser colhidas por pessoas capacitadas para
tal, em horas e condições exigidas, entretanto, podem ser usadas também as adquiridas
no comércio (frescas), desde que quem vá usá-las, as conheça. As essências também
devem ser utilizadas com cuidado, pois contêm muita vibração, como os outros banhos,
somente devem ser tomados por indicação do pai do Templo a que pertence.
Preparo:
O melhor modo pelo qual obtemos uma maior imantação, seja ele com flores, ervas ou
essências, é através do calor, da infusão, isto no ritual da Umbanda. Colocamos numa
panela a água e a deixamos ferver. Quando estiver fervendo, apagamos o fogo. Então,
colocamos as pétalas das flores, ervas, abafando e deixando em fusão para o devido
cozimento por evaporação. No caso das flores e ervas, após o cozimento, coamos o mesmo
num pano branco e guardamos os resíduos para serem despachados oportunamente.
Uso:
O chacra mediúnico (frontal) e glândula (nuca) são os dois pontos que fecham a faixa
vibratória mediúnica. Com elas, para o cérebro convergem as vibrações captadas, sendo
razão indispensável para que o banho seja derramado sobre a cabeça, pois daí parte todo
comando do corpo, o que por outro lado acarretará prejuízo, quando mal aplicado (no caso
das ervas e essências), caso este em que o magnetismo do banho não estiver em harmonia
com a vibratória mediúnica da pessoa (Orixá de Coroa). Por isso se deve ter conhecimento
das ervas a serem utilizadas, pois o banho de defesa ou desimpregnação não deve ser
colocado na cabeça, mas tomado dos ombros para baixo.

Apostila 087

Passe:
Os passes fazem parte do corpo doutrinário do Espiritismo. Eles remontam aos mais
remotos tempos e constituem recursos naturais, postos à disposição dos homens para as
tarefas de socorro ao próximo. O Novo Testamento demonstra que Jesus e os Apóstolos
utilizavam-se dos passes como recursos magnéticos curadores aliados a recursos
espirituais, curando pela imposição das mãos ou pelo influxo das palavras de fé. Graças à
sua feição, o Espiritismo conserva e difunde essa modalidade de auxílio, a fim de atender
uma infinita quantidade de pessoas que batem às portas dos Centros Espíritas, na
esperança de cura ou de alívio.
O Passe é uma "transfusão de energias psicofísicas, operação de boa vontade, dentro da
qual o companheiro do bem cede de si mesmo em benefício de outrem" (Emmanuel).
Para o êxito dessa operação, cabe ao médium passista buscar na prece o fio de ligação com
os planos mais elevados da vida. Mágoas excessivas, paixões, desequilíbrio nervoso e
inquietude, bem como alimentos inadequados e alcoólicos, são fatores que reduzem as
possibilidades do passista e que, portanto, devem ser evitados. Aqueles que se consagram
aos trabalhos de assistência aos enfermos através de passes, devem cultivar, além da
humildade, boa vontade, pureza de fé, elevação de sentimentos e amor fraternal.
Nos processos patológicos orgânicos, os "passes" não dispensam os recursos da Medicina,
devendo ser utilizados como complemento.
Entidades Espirituais:
São espíritos em ascensão evolutiva, que se unem aos seus médiuns para promoverem o
crescimento espiritual, seu e daqueles que os procuram.
Guia (Entidade):
É o espírito de luz que procura guiar os homens, afastando-os do mau caminho. Poderá ser
um Caboclo, Preto Velho, Criança ou Exu.
Falanges:
São grupamentos de espíritos, dentro de uma mesma Linha, que atuam no Plano Espiritual,
recebendo toda a falange, o nome de seu chefe.
Linhas:
O mesmo que Legião, é o conjunto de falanges que agregam espíritos que atuam, na
Umbanda, com vestimenta Fluídica própria, como a Linha dos Caboclos, a dos Pretos-
Velhos, a das Crianças e a dos Exus.

Apostila 088

Encruzilhada:
Local onde se cruzam dois caminhos. É o símbolo energético do entrecruzamento das
Sagradas Vibrações, nos quais estão os Guardiões, como defensores.
Cumprimento Ombro-a-Ombro:
Quando um Guia cumprimenta um consulente ou um assistente com o bater de ombro,
isto é sinal de igualdade, de fraternidade e grande amizade.
Macaia – Mata:
Local onde os médiuns podem descansar, refazendo suas forças psíquicas, no contato
direto com a natureza. Local nativo onde se pode sentir com mais intensidade a vibração
dos Orixás.
Pontos de Segurança:
São locais onde estão plantados condensadores energéticos magísticos necessários ao
ritual umbandista. Podemos citar como pontos de segurança de um Templo a Tronqueira,
o Cruzeiro das Almas, o Centro do Abacá, etc.
Sessão - Gira:
Reunião dos adeptos da Umbanda para seus rituais, ajuda ao próximo, homenagem aos
Orixás e Guias ou desenvolvimento mediúnico.
Eledá - Coroa tríplice do médium:
São as Sagradas Vibrações e seus Orixás que comandam, energeticamente, a vida pessoal
do médium. No Eledá vamos encontrar o Olori o Otum e o Ossi.
Batismo:
É realizado através da água, do fogo (vela), do sal, das ervas, da pemba e óleos
sacramentais.
Amaci:
São ervas frescas maceradas na água limpa (de cachoeiras, nascentes, etc...) que tem por
finalidade a lavagem de cabeça. Pode ser amaci iniciático ou amaci geral.
Cambone:
Tem por obrigação atender as entidades quando incorporadas e interpretar sua fala para
os consulentes. É um aspirante ou médium em desenvolvimento designado para tal
função.

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