Ecologia Do Fogo e Gestao de Áreas Ardidas
Ecologia Do Fogo e Gestao de Áreas Ardidas
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SILVA! DESIGNERS
IMPRESSO
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TIRAGEM
500 EXEMPLARES
ISBN
978-972-8669-48-5
DEPSITO LEGAL N
320215/10
DEZEMBRO 2010 FINANCIAMENTO
IFAP
ECOLOGIA
DO FOGO
E GESTO DE REAS ARDIDAS
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Antnio Dinis Ferreira, Celeste Coelho, Joaquim Sande Silva, Tanya Esteves
49 III. EFEITOS DO FOGO NA VEGETAO
Francisco Moreira, Paulo Fernandes, Joaquim Sande Silva, Joo Pinho, Miguel Bugalho
167 VII. PERIGO, INCIDNCIA E SEVERIDADE DO FOGO NAS FLORESTAS PORTUGUESAS
Joaquim Sande Silva, Paulo Fernandes, Filipe X. Catry, Francisco Moreira, Francisco Rego
Luisa Nunes
229 X. ESTRATGIAS E TCNICAS DE CONSERVAO DO SOLO E DA GUA APS INCNDIOS
Antnio Dinis Ferreira, Srgio Prats Alegre, Teresa Carvalho, Joaquim Sande Silva, Alexandra Queirs Pinheiro, Celeste Coelho
253 XI. A REGENERAO ARTIFICIAL EM ACES DE REABILITAOPS-INCNDIO
LISTA DE AUTORES
SRGIO PRATS ALEGRE
Departamento de Ambiente e Ordenamento, Campus Universitrio de Santiago Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal [email protected]
SUSANA BAUTISTA
Departamento de Ecologa, Universidad de Alicante Apdo 99, E-03080 Alicante, Espanha [email protected]
MIGUEL BUGALHO
Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia Universidade Tcnica de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal [email protected]
TERESA CARVALHO
Departamento de Ambiente e Ordenamento, Campus Universitrio de Santiago Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal [email protected]
FILIPE X. CATRY
Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia Universidade Tcnica de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal [email protected]
CELESTE COELHO
Departamento de Ambiente e Ordenamento, Campus Universitrio de Santiago Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal [email protected]
CARMEN CORREIA
Viveiros Aliana Empresa Produtora de Plantas, S.A. Herdade de Espirra, 2985-270 Peges, Portugal [email protected]
TANYA ESTEVES
Departamento de Ambiente, Escola Superior Agrria de Coimbra P-3040-316 Coimbra, Portugal [email protected]
PAULO FERNANDES
Centro de Investigao e de Tecnologias Agro-ambientais e Biolgicas e Departamento de Cincias Florestais e Arquitectura Paisagista, Escola de Cincias Agrrias e Veterinrias Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro Quinta de Prados, 5001-801 Vila Real, Portugal [email protected]
ANTNIO DINIS FERREIRA
Departamento de Ambiente, Escola Superior Agrria de Coimbra P-3040-316 Coimbra, Portugal [email protected]
FRANCISCO MOREIRA
Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia Universidade Tcnica de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal [email protected]
RUI MORGADO
Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Tcnica de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal & Erena, Ordenamento e Gesto de Recursos Naturais Rua Robalo Gouveia, 1-1A, 1900-392 Lisboa, Portugal [email protected]
LUISA FERREIRA NUNES
Escola Superior Agrria de Castelo Branco Quinta Senhora de Mercules, 6000 Castelo-Branco, Portugal [email protected]
VASCO PAIVA
Viveiros Aliana Empresa Produtora de Plantas, S.A. Herdade de Espirra, 2985-270 Peges, Portugal [email protected]
ALEXANDRA QUEIROZ PINHEIRO
Departamento de Ambiente e Ordenamento, Campus Universitrio de Santiago Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal [email protected]
JOO PINHO
Autoridade Florestal Nacional, Ministrio da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas Av. Joo Crisstomo, 26-28, 1069-040 Lisboa, Portugal [email protected]
FRANCISCO REGO
Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Tcnica de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal [email protected]
JOAQUIM SANDE SILVA
Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Tcnica de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal [email protected]
RAMON VALLEJO
Centro de Estudios Ambientales del Mediterrneo Parque Tecnolgico C/ Charles R. Darwin, 14, 46980 Paterna, Valencia, Espanha [email protected]
PREMBULO
Em 2003, e tambm em 2005, a rea ardida em Portugal ascendeu a mais de 300,000 hectares. Com reas ardidas desta dimenso, a ateno da sociedade e dos polticos deixou de estar exclusivamente concentrada na preveno e combate dos incndios, tpicos usuais das preocupaes, para se v irar para as questes da gesto ps-fogo . O que faz er com as rvores queimadas? Como evitar a eroso do solo nas reas ardidas? E a degradao da qualidade da gua? O que plantar ou semear? C omo gerir os milhar es de hec tares afec tados pelos incndios? C omo e vitar que tragdias com tal escala espacial se voltem a repetir? O que fazer no mbito das polticas de ordenamento do territrio? A verdade que, em Portugal, o nvel de c onhecimento tcnico e cientfic o sobre estas matr ias era (e ainda ) pouco desenvolvido, pelo que a realidade no terreno justificava um maior investimento na investigao e na t ransferncia de conhecimentos para tcnicos e gestores. Na sequncia d o ano desast roso de 2003, foram tomadas inmeras iniciativas polticas e leg islativas, das quais se destacam a cr iao d o Conselho Nacional de Reflorestao, a elaborao do Plano Nacional de Defesa da Flor esta C ontra I ncndios e a cr iao d o F undo Flor estal Permanente (FFP). No mbito do FFP, o Instituto Superior de Agronomia, atravs do Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves, candidatou o projecto Recuperao de reas ardidas (N 2004 09 002629 7). De 2005 a 2010, em parceria com as Universidades de Aveiro e de Trs-os-Montes e Alto Dour o, instituies que j tinham um r egisto de in vestigao cientfica com relevncia para este tpico, procurou-se desenvolver e divulgar as bases cientficas e tcnicas de int rveno na gesto de reas ardidas. e Para a prossecuo destes objectivos foi determinante a colaborao internacional, j que de facto, a situao que afecta P ortugal partilhada, embora em difer ente escala, por m uitos pases medit errnicos. Desta forma, j no mbito (e com financiamento) do projecto Recuperao de reas ardidas, foram apoiadas e c oordenadas duas iniciati vas paralelas fundamentais, o centro temtico PHOENIX Fire ecology and post-fire management, e a Aco COST FP0701 Post-fire forest management in southern Europe.
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O Cent ro P HOENIX um dos c entros t emticos do I nstituto Florestal Europeu (EFI), a rede de investigao florestal lder na Europa, com mais de 130 organizaes-membr o. Os centros temticos do EFI consistem em redes institucionais de membros do EFI e outros parceiros, que desenvolvem investigao no mbito da estratgia de investigao do EFI e sob o seu nome e apoio cientfico. Em Maio de 2005, o EFI aprovou a cr iao d o C entro R egional Temtico P HOENIX (2005-2012), que desenvolve investigao em ecologia do fogo e gesto ps-fogo. O consrcio inclui actualmente 21 membr os de P ortugal, Espanha, Itlia, Frana, Grcia, M arrocos, Tunsia e T urquia e c oordenado pelo C entro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves do Instituto Superior de Agronomia. A rede PHOENIX acabou por ser uma verso internacional do projecto Recuperao de reas ardidas, com linhas de trabalho semelhantes. Uma vez que o funcionamento desta rede no er a suportado financeiramente, foi submetida ao programa COST, que financia ac tividades de networking e partilha de infor mao entre diferentes pases, uma candidatur a que acabou por t er suc esso e or iginar a Aco COST FP0701, tambm coordenada pelo Instituto Superior de Agronomia. Com um programa de trabalhos para o perodo 2008-2012, este projecto conta actualmente com a par ticipao oficial de 19 pases e uropeus e instituies da T unsia, Marrocos e Nova Zelndia. Ainda a nvel internacional h que destacar o facto de a equipa do CEABN/ISA ter coordenado o maior projecto europeu de investigao em fogos florestais (FIRE PARADOX). Com o funcionament o da r ede P HOENIX, da Aco COST e d o projecto FIRE PARADOX, garantiu-se que a equipa do pr ojecto teria acesso privilegiado s instituies e in vestigadores com mais conhecimentos na rea da gesto ps-fogo. Para alm disso, foi possvel efectuar presso par a que os fogos flor estais c ontinuassem a faz er par te da investigao financiada a nv el europeu, e for am desenvolvidas outras aces de sensibilizao d os polticos e gestores florestais. Um exemplo marcante desta ltima ac tividade foi a publicao d o EFI Discussion Paper Living with wildfires: what science can tell us A contribution to the science policy dialogue, que j foi traduzido em vrias lnguas. Para alm da acti vidade a nvel internacional, durante estes 5 anos do projecto foram desenvolvidas diversas actividades a nvel nacional e das quais destacamos a criao de um website para divulgao de infor-
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mao vr ia sobr e r ecuperao de r eas ar didas, disponv el em www.phoenixefi.org/content/1/24/raa-homepage e a realizao de 3 Cursos de Formao Avanada em Gesto Ps-Fogo, que deram formao a 60 tcnicos e gestores. O presente livro a ltima aco d o projecto Recuperao de reas ardidas, sendo a sua produo integralmente financiada por ele. Est organizado em 3 seces principais: uma seco inicial sobre os efeitos do fogo, seguida de outra sobre princpios genricos de gesto ps-fogo, e finalizando com uma seco mais prtica sobre o que fazer a seguir aos incndios. A primeira seco (Efeitos do fogo) inclui quatro captulos, o primeiro dos quais aborda os princpios bsicos da ecologia do fogo (combustveis e combusto em meio flor estal) (Captulo I), seguido de t rs captulos onde so abordados os efeitos do fogo no solo (Captulo II), na vegetao (Captulo III) e na fauna (C aptulo IV). A segunda seco ( Princpios genricos de gesto) inclui trs captulos que abordam em primeiro lugar os conceitos de restauro ecolgico e planeamento da gesto florestal ps-fogo (Captulo V) e posteriormente os princpios de gesto para minimizar os impact os d os incndios, c om destaque par a a in vestigao realizada no pas (Captulos VI e VII). A ltima seco (o que fazer a seguir aos incndios) aborda um conjunto de temticas relevantes, comeando desde logo pela pr oblemtica da e xtraco das r vores queimadas (Captulo VIII), e focando outros tpicos essenciais tais como o problema das pragas (escolitdeos) (Captulo IX), as aces de proteco do solo e minimizao da escorrncia superficial aps os incndios (Captulo X), a regenerao artificial em aces de reabilitao ps-incndio (Captulo XI), e terminando com a gesto da vegetao ps-fogo (Captulo XII). Ao longo d o li vro t entmos, sempr e que possv el, dar nfase investigao e realidade florestal portuguesas. Para isso, foram utilizados resultados provenientes de projectos de investigao onde a equipa d o projecto esteve envolvida, desde logo o pr ojecto Recuperao de reas ardidas, mas tambm out ros 8 projectos de investigao, com financiamento nacional e eur opeu, que decorreram em par alelo. Os 19 aut ores deste livro so maioritariamente investigadores associados s instituies participantes no projecto. Mas foram ainda includos outros especialistas nacionais e est rangeiros cuja par ticipao se afigurou importante para uma abordagem fundamentada dos diferentes temas associados ecologia
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do fogo e r ecuperao das r eas ar didas. Agradecemos a t odos a colaborao na compilao desta obra. Agradecemos tambm ao Fundo Florestal Permanente o financiamento que tornou possvel este projecto. Mais do que um fim, espera-se que este livro sirva sobretudo como ponto de partida para um maior investimento na investigao e transferncia de conhecimentos na rea da ecologia do fogo e recuperao de reas ardidas.
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EFEITOS DO FOGO
I.
1. Intr oduo 2. O combustvel florestal 3. Comportamento do fogo 4. Interpretao do comportamento do fogo 5. Avaliao do comportamento do fogo
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1. Introduo Este breve captulo introdutrio tem como objectivo a familiarizao com conceitos bsicos que so nec essrios c orrecta compreenso dos captulos seguintes. As actividades de preveno e combate de incndios obrigam a que as espcies vegetais e a sua biomassa sejam caracterizadas em funo da sua aptido para arder, isto , como um combustvel. No difcil compreender a relevncia do combustvel florestal, pois a energ ia nele contido que sustenta a combusto e a propagao do fogo. O combustvel intermedeia os efeitos do fogo sobre o ecossistema e o impacte do Homem sobre o fogo , e at ravs da sua gesto que a e xtenso e se veridade dos incndios podem ser condicionadas. A definio de prescries de gesto da vegetao objectivas e slidas, com o objectivo de compreender os impactos do fogo e minimizar o risco de incndio, exige: a descrio quantitativa do combustvel e uma tipologia para a sua classificao; a existncia de modelos de predio das caractersticas do fogo; ferramentas que operacionalizem os modelos preditivos; a existncia de relaes causa-efeito entre as caractersticas do fogo e os seus impactes. O processo de combusto inclui trs fases, respectivamente pr-aquecimento, combusto com chama e combusto sem chama. O pr-aquecimento evapora a humidade do combustvel (a temperaturas superiores a 100o C) e volatiliza (a temperaturas superiores a 200o C) os compostos que resultam da decomposio trmica da c elulose. Estes gases inflamam-se a cerca de 300-400o C, combinando-se com o oxignio e dando origem chama. A combusto com chama sucede ignio, que por sua vez requer energia, em quantidade que depende do teor de humidade do combustvel. A combusto sem chama um processo de oxidao superficial que queima o carbono como um slido. A inflamabilidade descreve qualitativamente a maior ou menor dificuldade deste processo. A combusto e a t ransferncia do calor produzido, por conduo, radiao, conveco e t ransporte de falhas, gera o comportamento do fogo. O termo designa o que o fogo faz (Byram, 1959) e traduzido pelas
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caractersticas da frente de chamas rapidez de propagao, dimenses, energia libertada que so determinadas pelo piro-ambiente, isto , pelas influncias individuais e interaces do combustvel, meteorologia e topografia. O comportamento do fogo frequentemente referido em termos qualitativos como combustibilidade, que reflecte apenas o combustvel, ou perigo de incndio, que r eflecte todo o piro-ambiente. Da c ombinao do perigo de incndio c om a sua pr obabilidade de ocorrncia e valores ameaados resulta o risco de incndio. O contedo deste captulo essencialment e compilado a par tir de Cheney (1981), Chandler et al. (1983), Pyne et al. (1996), Tolhurst e Cheney (1999) e Beck et al. (2005). 2. O combustvel florestal As propriedades do combustvel com maior infl uncia no c omportamento do fogo so o tipo , arranjo (estrutura), carga, distribuio por classes de dimenso, continuidade e teor de humidade. Os combustveis apresentam-se no estado morto, ou seja sem actividade fisiolgica, ou vivo, ambos importantes em ecossistemas mediterrneos, e so classificv eis por estrato: manta morta, sub-bosque, combustveis de transio, copado das rvores. O combustvel de superfcie inclui a folhada superficial, no decomposta, e as ervas e arbustos. Um tipo de c ombustvel ou complexo combustvel constitui uma associao identificvel de elementos que arder de forma especfica por apresentar car actersticas distintas. A continuidade do c ombustvel descreve a sua dist ribuio e impor tante para a propagao do fogo, porque a limita ou facilita, respectivamente em caso de descontinuidade ou uniformidade. A carga de combustvel a sua quantidade por unidade de rea (em kg m-2 ou t ha-1 de peso seco). medida que aumenta a carga de c ombustvel disponvel para arder aumenta o pot encial de liber tao de calor. A rapidez da combusto aumenta em combustveis menos compactos, devido ao arejamento existente. A disponibilidade do combustvel para arder depende da sua dimenso e humidade. O teor de humidade exerce um papel cr ucial na c ombustibilidade de um det erminado complexo combustvel. Em combustveis verdes ou hmidos o fogo propaga-se com
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dificuldade, quando se pr opaga, ao passo que c ombustveis herbceos completamente secos suportam fogos extremamente rpidos. O combustvel morto absorve e liberta gua para a atmosfera circundante, a uma taxa que depende da sua dimenso, compactao e rea exposta. 3. Comportamento do fogo A frente activa de um fogo flor estal tem trs caractersticas bsicas: 1) desloca-se, 2) consome combustvel, e 3) produz calor na for ma de chama. Byram (1959) definiu a intensidade do fogo como a liber tao de energia por unidade de t empo e por unidade de c omprimento da frente do fogo (em kW m-1), resultando do produto do calor de combusto (kJ kg-1), quantidade de combustvel consumido por unidade de rea da zona de combusto com chama, e velocidade linear de pr opagao do fogo (m s-1). So t rs as car actersticas dimensionais bsicas de uma fr ente de chamas: profundidade (a largura da zona de combusto activa), altura (a extenso vertical) e o comprimento (a distncia da extremidade da chama ao ponto mdio da zona de combusto activa). A durao da combusto com chama dada pelo t empo de residncia, que se obtm di vidindo a profundidade da chama pela velocidade de propagao. A intensidade do fogo (I) e o c omprimento da c hama (L) esto r elacionados, constituindo a equao I = 300 L2 uma aproximao geral razovel. A partir do seu ponto de origem o fogo desenvolve-se em dimenso e envolver progressivamente os vrios estratos do combustvel, da folhada copa das rvores, dependendo da sua sobreposio e continuidade vertical. Aps uma fase inicial de ac elerao, a pr opagao d o fogo ent ra em equilbrio com o piro-ambiente. A expanso do fogo aproximadamente elptica, resultando em formas mais alongadas quando o vento e/ou o declive so mais fortes. As caractersticas do fogo variam acentuadamente ao longo do seu permetro, distinguindo-se trs seces com velocidade e intensidade crescentes: a cabea ou dianteira, os flancos e a cauda ou retaguarda. Um fogo de superfcie consome apenas a manta mor ta e vegetao do sub-bosque, enquanto um fogo de copas avana atravs do estrato arbreo, quase sempre em conjuno com o fogo de superfcie. Usualmente distinguem-se o fogo de copas intermitente (ou passivo), dependente da
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propagao do fogo de superfcie e associado a floresta aberta, e o fogo de copas activo, que avana como uma parede de chamas que se estende do solo at bastante acima do topo das rvores e possvel em floresta densa. Um fogo de c opas independente progride apenas na folhagem, o que muito raro, excepto em for maes arbustivas. O tipo de fogo de c opa expectvel em conferas depende de trs propriedades do estrato arbreo a altura da base da c opa viva e sua h umidade foliar e densidade (peso seco por unidade de volume) e de duas caractersticas do fogo, respectivamente a intensidade do fogo de superfcie e a v elocidade de propagao aps a transio para fogo de copas. 4. Interpretao do comportamento do fogo A interpretao das car actersticas de c omportamento do fogo de utilidade indiscutv el em situaes o peracionais ou de planeament o. A intensidade do fogo ou c omprimento da chama relaciona-se com a possibilidade de fogo de c opas (Van Wagner, 1977), a probabilidade do fogo superar uma descontinuidade (Wilson, 1988), a distncia de segurana frente de chamas (Butler e Cohen, 1998), problemas de controlo devidos a projeco de falhas (Alexander, 2000) e a produtividade e eficincia dos meios de combate (Hirsch e Martell, 1996). A intensidade do fogo tambm til para predizer os efeitos do fogo nas partes areas da vegetao, essencialmente porque condiciona a altura de copa dessecada (e.g., Van Wagner, 1973) e, consequentemente, a mortalidade de conferas. O consumo dos horizontes orgnicos que encimam o solo mineral, compactos e em decomposio, essencialmente independente da intensidade do fogo. Desta forma os efeitos do fogo no solo, incluindo nos rgos subterrneos e as respostas vegetativa e germinativa da vegetao, so relacionveis com variveis que exprimem a durao total da combusto, como a remoo da manta morta em carga ou em profundidade. Intensidade e severidade do fogo no so sinnimos.A severidade do fogo refere-se grandeza do impacto directo e imediato do fogo e reflecte o calor total libertado pela combusto da biomassa (Ryan e Noste, 1985). A intensidade do fogo contribui assim para a sua severidade mas apenas a explica parcialmente.
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5. Avaliao do comportamento do fogo A capacidade de avaliar consistentemente o comportamento do fogo indispensvel ao planeamento da proteco contra incndios. A utilidade das estimativas do comportamento do fogo redutvel a trs situaes gerais: 1. Fogo hipottico ou possvel: planeamento e avaliao da gesto de combustveis. 2. Fogo provvel: indexao do perigo de incndio; pr-planeamento da supresso de incndios; planeamento do fogo controlado. 3. Fogo a decorrer: uso no combate a incndios (avaliao da rea a atacar, predio da evoluo das frentes do fogo, definio dos meios necessrios e do seu posicionamento) ou na monitorizao de fogos controlados. H duas categorias opostas de modelos de pr edio do comportamento do fogo, respectivamente de natureza emprica e puramente fsica. Somente os primeiros tm capacidade operacional, integrando os vrios sistemas preditivos que so usados nas ac tividades da gesto do fogo . Em Portugal tm sido desen volvidos modelos simples que descr evem o comportamento do fogo em mat os (Fernandes, 2001) e em pinhal bravo (Fernandes et al., 2009), vocacionados para o planeamento do fogo controlado. Para avaliao do comportamento potencial do fogo escala regional, tal como determinado pelas condies meteorolgicas presentes e passadas, possvel recorrer aos ndices do Sistema Canadiano FWI (Van Wagner, 1987). Finalmente, a t ecnologia desenvolvida nos EUA e baseada no modelo semi-empr ico de Rothermel (1972) passv el de aplicao uni versal, desde que o c omplexo c ombustvel se ja descr ito quantitativamente como um modelo de combustvel.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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WILSON, A. G., 1988 Width of firebreak that is necessary to stop grass fires: some field experiments. Canadian Journal of Forest Research 18, 682-687.
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EFEITOS DO FOGO
II.
1. Intr oduo 2. Efeitos directos do calor sobre a matria orgnica 3. Implicaes ao nvel dos nutrientes do solo 4. A formao de uma camada hidrfoba por aco do calor 5. Implicaes no ciclo hidrolgico e nos processos erosivos 6. Sntese dos efeitos produzidos ao nvel do solo e da gua
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1. Introduo
Os efeitos do fogo ao nvel do solo revestem-se de uma complexidade considervel devido aos mltiplos mecanismos envolvidos e forma como esses mecanismos se encontram inter-relacionados. Deste modo, podemos considerar numa primeira abordagem a existncia de efeitos directos sobre o solo, essencialmente derivados da aco d o calor sobre a sua c omponente orgnica, e de efeitos indirectos, derivados do desaparecimento da proteco proporcionada pelo coberto vegetal e pela folhada. Quanto aos primeiros traduzem-se principalmente na mineralizao da matria orgnica existente no solo, que fica desta forma mais disponvel para poder ser exportada pelos processos hidrolgicos e erosivos. J o desaparecimento do coberto vegetal e da folhada leva a uma maior susceptibilidade do solo er oso e a uma alt erao c onsidervel d o r egime hidr olgico. Est es mecanismos de natureza fsica esto directamente relacionados com as alteraes de natureza qumica e biolgica, na medida em que os nutrientes podem ser mais facilment e exportados at ravs de fenmenos er osivos e, por sua vez, a eroso est directamente relacionada com as alteraes na est rutura do solo, de vido c ombusto da matr ia orgnica. A este respeito importante salientar que os efeitos do fogo no se fazem sentir apenas nas r eas percorridas pelo fogo mas, pelo c ontrrio, tm r epercusses, por v ezes muito importantes, a jusant e dessas r eas devido ao movimento da gua e dos sedimentos e solutos que transporta. Todos estes mecanismos podem assumir maior ou menor importncia em funo das condies especficas em que dec orrem. Os fogos pr oduzem todo um espectro de impactos mais ou menos severos sobre o solo, que dependem de mltiplos factores, incluindo: o regime de fogo, a meteorologia, a vegetao, o tipo de solo e o relevo (Neary et al., 1999). Devemos igualmente enquadrar a questo no contexto actual de alteraes climticas, dado existir o receio de uma maior frequncia e durao de perodos extremamente quentes e secos, o que poder vir a traduzir-se num aumento substancial do nmero de incndios e da rea queimada. Esse novo contexto poder desencadear importantes processos de degradao in situ e a jusante, resultando em fenmenos catastrficos, tais como aluimentos de terras e picos de cheia extremos, com destruio de bens e mesmo perda de vidas humanas. Os incndios florestais alteram signi-
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ficativamente a resposta hidrolgica e geomorfolgica das bacias hidrogrficas, pelo que episdios c huvosos que n unca produziriam picos de cheia assinalveis, podem vir a desencadear episdios catastrficos (Hyde et al., 2007; Ferreira et al., 2008b). Dest e mod o, r eveste-se de especial significado a compreenso dos processos de degradao a vrias escalas e a avaliao da frequncia e mag nitude que os pic os de cheia podem adquirir, bem como as taxas de mobilizao e deposio de sediment os e de exportao de nutrientes. No presente texto tentamos assim fazer uma descrio dos efeitos dos incndios ao nvel do solo e do regime hdrico, assim como dos mecanismos envolvidos, tendo em conta os conhecimentos mais recentes a este respeito. Apesar de t entarmos c ompartimentar os difer entes efeit os envolvidos de modo a facilitar a consulta e a leitura, na verdade a passagem do fogo d origem a uma teia de mecanismos intimamente relacionados entre si, que no devem ser encarados de forma isolada. Dadas as caractersticas particulares de Portugal em termos do regime de fogo, das condies edafo-climticas e d o tipo de r evestimento vegetal, dad o um r elevo particular informao disponvel para as condies do nosso pas.
2. Efeitos directos do calor sobre a matria orgnica
A matria orgnica do solo crucial para a formao da estrutura do horizonte A, que por sua vez determina em grande medida o funcionamento hidrolgico dos solos. Solos bem estruturados tm os macroporos necessrios movimentao da gua em profundidade e ao seu armazenamento, facilitando ainda o crescimento das razes (Porta et al., 1999). A gua que se infilt ra no solo fica disponv el par a as plantas e par a a utilizao das po pulaes micr obianas e de micr o e macr o-fauna. A matria orgnica abundante que condiciona a estrutura do solo e apresenta uma ele vada por osidade, pr ofundamente afectada pelo fogo . A degradao da estrutura superficial dos solos pode durar entre um ano at dcadas, dependendo da int ensidade do fogo e das c ondies dos ecossistemas aps o fogo (Neary et al., 1999). A volatilizao de nutrientes, e em particular do azoto, inicia-se com temperaturas entre os 200 e os 400 C. No entanto, perdas significativas de matria orgnica podem acontecer a temperaturas inferiores (DeBano
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et al., 1998). A combusto da manta morta e a destilao dos compostos orgnicos volteis associados acontecem entre os 180 C e os 200 C. No intervalo 180-300 C ocorre a destilao e combusto de cerca de 85% da manta morta. Para temperaturas superiores a 300 C todo o horizonte orgnico superficial do solo ger almente destrudo. Praticamente toda a matria orgnica consumida nas zonas do solo onde as temperaturas atingem os 450 C (Neary et al., 1999). Os perfis de temperatura nos horizontes orgnicos e no solo mineral dependem da intensidade do fogo, da quantidade de c ombustvel disponvel, da durao do fogo e das condies antecedentes de humidade do solo (Hartford e Frandsen, 1992). Com fogos de baixa intensidade, as temperaturas do solo mineral raramente excedem os 100 C superfcie e os 50 C a 5 cm de pr ofundidade (Agee, 1973). Fogos intensos podem elevar a temperatura superfcie do solo a 275 C em solos c horizontes om orgnicos espessos (Sackett e Haase, 1992). No entanto, pontualmente esses valores podem atingir os 700 C, em reas de acumulao de resduos florestais, ou no caso de fogos de pr ogresso lenta. Nestas condies, as temperaturas podem ating ir mais de 250 C a 10 cm de pr ofundidade e mais de 100 C a 22 cm abaix da superfcie do solo (Neary et al., 1999). o As temperaturas do solo podem manter-se elevadas durante apenas alguns minutos, no caso dos fogos controlados, at mais de cinco dias na sequncia de incndios particularmente intensos. Se a matria orgnica superficial for c ompletamente c onsumida pelo fogo , a t emperatura superficial do solo mineral pode permanecer elevada durante meses ou anos c omo r esultado d o aqueciment o pr ovocado pela incidncia da radiao solar directa sobre o solo n (Neary et al., 1999).
3. Implicaes ao nvel dos nutrientes do solo
Uma das c onsequncias mais impor tantes da passagem d o fogo a exportao de grandes quantidades de nutrientes, que poder desencadear problemas de poluio a jusante, em especial se existirem barragens e captaes de gua m uito prximas das r eas queimadas. A matria orgnica mineralizada, fazendo com que os nutrientes fiquem temporariamente disponveis para as plantas sobre a forma de sais dissolvidos na soluo do solo, que fica assim c om um pH m uito alcalino (frequen-
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temente > 8.5). Os nutrientes esto disponveis para as plantas dur ante pouco tempo j que os nutrientes em soluo so facilmente arrastados em profundidade e e ventualmente super fcie atravs de escorrncia. Este arrastamento para as linhas de gua causa a degradao da qualidade das guas a jusant e. O g rau e a g ravidade destes efeitos dependem da temperatura que atinge o solo a qual, por sua vez, depende das caractersticas dos combustveis, das c ondies meteorolgicas na altur a do incndio e da condutividade trmica do solo. O significado das perdas atravs da escorrncia pode ser comparado com a r eposio de n utrientes proveniente da at mosfera. Com efeito, dada a pobreza em nutrientes, da rocha-me e dos solos, em par ticular nas reas de xisto do pas, a reposio dos nutrientes no ecossistema est bastante dependente da deposio at mosfrica. A Tabela 1 apresenta os dados da deposio atmosfrica para trs situaes distintas: em campo aberto sem vegetao, sob pinhal e sob eucaliptal (Ferreira, 1996).
TABELA 1
DEPOSIO ATMOSFRICA ANUAL NA SERRA DO CARAMULO
PRECIPITAO INCIDENTE PRECIPITAO INTERNA + ESCORRNCIA PELO TRONCO EM EUCALIPTAL 12 ANOS
( KG . HA -1 . ANO -1 )
SOLUTOS
Para alm das quantidades de nutrientes removidas e arrastadas pelo processo de wash off, ocorrem nas copas das rvores processos de absoro e exsudao que contribuem para alterar significativamente a quantidade de solutos que atingem o solo sob povoamentos florestais quando comparados com a deposio t otal nas reas desprovidas de povoamentos arbreos (Tabela 1). Deste modo as reas queimadas perdem a capacidade
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de transferir quantidades adicionais de n utrientes da at mosfera para o solo em resultado do desaparecimento da parte area da vegetao. Esta diminuio particularmente sentida no caso dos nitratos e do potssio, que registam decrscimos significativos (trs vezes menos) quando comparados com os valores obtidos sob pinhal e e ucaliptal. De notar que o pinhal mais eficiente na reposio de solutos da atmosfera para o solo.
CAIXA 1
EXPORTAO DE NUTRIENTES EM DIFERENTES SITUAES NA REGIO CENTRO
A Tabela 2 mostra as perdas anuais de nutrientes para vrias situaes estudadas em parcelas com 16m2 (8x2 m), de rea, que drenavam para uma caixa de Gerlach modificada (Shakesby et al., 1991). O facto do fogo controlado ter dado origem a v alores semelhant es aos das par celas no ar didas de veu-se pequena quantidade de escorrncia produzida, e possibilidade da escorrncia produzida em locais hidrf obos se infiltr ar em locais hidrfilos a jusant e. A menor intensidade do fogo pode ajudar a explicar as perdas reduzidas de nutrientes e as baixas quantidades de esc orrncia. Por sua v ez as per das de nutrient es no incndio flor estal apr esentam v alores mais de 200 v ezes superior es s apresentadas nas restantes situaes.
PERDAS DE SOLUTOS POR ESCORRNCIA SUPERFICIAL ( KG . HA -1 . ANO -1 ) EM DIFERENTES SITUAES , MEDIDOS EM PARCELAS DE 16 M 2
TABELA 2
SOLUTOS
PINHAL ADULTO
MATO
FOGO CONTROLADO
INCNDIO FLORESTAL
No entanto, as perdas atravs da escorrncia e do escoamento no so o nico processo pelo qual os ecossistemas perdem nutrientes em resultado dos incndios florestais. A volatilizao tambm desempenha um papel relevante. A perda de nutrientes para a atmosfera por esta via, depende da temperatura atingida pela combusto. O azoto o element o sujeito a maiores perdas, dado que a sua v olatilizao comea aos 200 C. Para temperaturas superiores a 500 C, cerca de metade do azoto presente na
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matria orgnica sofreu volatilizao. So necessrias temperaturas mais elevadas para volatilizar outros nutrientes: o potssio v olatiliza-se com temperaturas superiores a 760 C, o fsforo a 774 C, o enxofre a 800 C, o sdio a 880 C, o magnsio a 1107 C e o clcio a 1240 C ( Weast, 1988). Embora uma grande parte do azoto total do solo se perca para a atmosfera sob a forma de N2, h uma parte importante que fica incorporada nas cinzas sob a forma de amonio (NH4+). Uma parte deste azoto acaba ao fim de algum tempo por ser transformada em nitrato (NO3-), atravs da aco de bactrias nitrificantes, as quais beneficiam das condies favorveis criadas pela diminuio da acidez. Apesar de se encontrar mais disponvel para as plantas, o azoto sob esta for ma fica tambm mais sujeit o a arrastamento, o que le va a uma pe rda adicional deste nutriente. Uma outra forma de exportao pode ocorrer quando existe arrastamento de partculas de solo at ravs de fenmenos er osivos, as quais podem t er nutrientes adsorvidos superfcie (Thomas et al., 1999, 2000a, b). De acordo com Soto e Diaz-Fierros (1993), a disponibilidade de nutrientes presentes nas cinzas infl uenciada pelas temperaturas atingidas durante a combusto e pelas caractersticas da vegetao e do elemento em questo. Os aut ores chegaram c oncluso que a taxa de disponibilizao dos diferentes nutrientes determinada pela intensidade do fogo, atravs do seu impacto sobre a volatilizao e mineralizao da matria orgnica no solo. Trabalhos recentes apresentam verses diferentes quanto ao impacto dos incndios flor estais sobre a e xportao de n utrientes dissolvidos. beda e Sala (2001) registaram perdas maiores em fogos com intensidade mdia quand o c omparados c om fogos c om int ensidade elevada, enquanto que C oelho et al. (2004) estabelecem uma r elao directa entre a int ensidade do fogo e a per da de n utrientes. De acordo com dados de Ferreira (1996), anualmente sero perdidas em mdia cerca de 268 t oneladas de nit ratos, 696 t oneladas de clcio, 931 t oneladas de magnsio e 332 toneladas de potssio, devido aos incndios em Portugal. De notar que as per das ocorrem predominantemente em solos m uito pobres, com fraca concentrao de nutrientes.
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4. A formao de uma camada hidrfoba por aco do calor Outro efeito dos incndios flor estais sobre os solos, com relevncia para os pr ocessos hidrolgicos e de deg radao, o apar ecimento ou fortalecimento da repelncia dos solos gua (DeBano, 1981). Este processo tem sido encontrado em locais queimad os por incndios flor estais de elevada intensidade, bem como sob alguns tipos de manta morta, como o caso da folhada produzida por povoamentos de Eucalyptus globulus. (Ferreira et al., 2000, 2005a, 2005b; Coelho et al., 2004). O calor gerado pelo fogo faz com que os compostos orgnicos hidrfobos resultantes da decomposio das plantas e micr oorganismos sejam vaporizados pelo calor, condensando seguidamente superfcie das partculas minerais do solo, mais frias situadas mais abaixo de acordo com o gradiente de temperatura (DeBano et al., 1970; Giovannini e Lucchesi, 1984; Giovannini 1994). Forma-se assim uma camada hidrfoba logo aps a camada mais supericial f hidrfila, composta por cinzas e partculas minerais, resultante da passagem do fogo. A camada hidrfoba for mada quando a t emperatura excede os 176 C e destruda a temperaturas superiores a 288 C (DeBano, 1981; DeBano et al., 1976) (Figura 1).
NO QUEIMADO FOGO QUEIMADO
CAMADA HIDRFOBA
DECRSCIMO DA TEMPERATURA
SOLO HIDRFILO
SOLO HIDRFILO
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Quando os solos possuem uma camada hidrfoba, a gua no c onsegue humedecer os agregados e a capacidade de infiltrao sofre uma forte quebra (Neary et al., 1999). Sevink et al. (1989) referem que a repelncia do solo gua pode originar uma distribuio preferencial da humidade do solo, com a camada ectorgnica a apresentar um elevado contedo de gua, seguida por uma camada de solo repelente gua, bastante seca, que por sua vez repousa sobre uma camada mais hmida e menos hidrfoba. Hendrickx et al. (1993) observaram frentes de humedecimento instveis em solos repelentes gua, contrastando com as frentes homogneas em solos no hidrfobos. A gua e os solutos atingem as toalhas freticas mais rapidamente em solos hidrfobos, dado que est es promovem os fluxos preferenciais da gua no solo (Ritsema et al., 1993). Este processo encontra-se directamente relacionado com a natureza e a dist ribuio dos combustveis, os quais, ao condicionar as car actersticas da c ombusto, infl uenciam dessa for ma as car actersticas da camada de solo r epelente gua (DeBano , 1968, 2000; L etey, 2001). A intensidade da repelncia dos solos gua induzida pelo fogo depende , de vrios factores, onde se incl ui: o contedo de gua no solo (r elao inversa), a textura (maior repelncia para solos arenosos), a severidade do fogo, a quantidade da matria orgnica e a sua composio (Botelho et al. 1994, Giovannini 1994). Estes aspectos fazem com que a dist ribuio espacial da repelncia seja muito heterognea, variando por exemplo de acordo com a proximidade ao tronco das rvores (Keizer et al., 2005). Consequentemente, as magnitudes da mudana nos processos hidrolgicos e erosivos podem depender em parte da intensidade e distribuio espacial da repelncia do solo gua (Jungerius e DeJong, 1989; Ritsema e Dekker, 1994; Coelho et al., 2004; Ferreira et al., 2005b). De acordo com Giovannini (1994), os incndios que atingem t emperaturas acima de 450 C tm um impacto significativo no aumento da escorrncia e das taxas de eroso, devido induo de repelncia gua. No entanto, de acordo com o referido atrs, h um fenmeno inverso de destruio da repelncia (Doerr et al., 2006) at uma profundidade varivel (0.5 a 5 cm) de acordo com a intensidade do fogo. Por baixo desta camada hidrfila e pouc o consistente, persiste a repelncia pr-existente, ou o se u fortalecimento devido c oalescncia das substncias hidr ofbicas super fcie das partculas dos solos. Assim, quanto mais intenso for um incndio, mais
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profundamente se forma a camada hidrfoba, e maior a quantidade de material desagregado hidrfilo entre a superfcie do solo e a camada hidrfoba. Esse material extremamente erodvel e grande parte perdido nos primeiros 4 meses aps o incndio (Ferreira et al., 2005a). importante salientar que no existe consenso sobre a real importncia da formao de uma camada hidrfoba no aparecimento de fenmenos de eroso aps o fogo. Shakesby et al. (2000) questionam se o risco de eroso est to intimamente ligado com a repelncia do solo gua e Benavides-Solorio e MacDonald (2001) no encontraram qualquer correlao entre a repelncia gua e a produo de sedimentos provenientes da eroso.
CAIXA 2
A REPELNCIA GUA APS FOGO EM SITUAES ESTUDADAS NA REGIO CENTRO
Na avaliao da repelncia do solo gua, f oram utilizados transeptos de 25 metros, com medies a cada metr o em seis locais da R egio Centro: Fogo florestal (incndio) em pinhal adult o (Carato); Fogo florestal (incndio) em pinhal adulto (Senhor da Serra ); Fogo experimental em mato (Gestosa); Fogo controlado em mat o (Cadafaz); Mato no ar dido (Aigra Nova); Pinhal adult o no ardido (Carato). A repelncia do solo gua f medida atravs do mtodo MED (Molarity of an oi Ethanol Droplet) (Letey, 1969). Seguindo a suges to de Doerr et al. (1998), foram usadas as seguintes concentraes de etanol: 0%, 1%, 3%, 5%, 8.5%, 13%, 18%, 24% e 36%, em que 0 c orresponde a situaes hidrfilas e 36% a casos extremos de solos hidrfobos. A cada metro eram colocadas 5 gotas de gua com etanol sobre o solo mineral, determinando-se a mdia das concentraes usadas no teste. O teste do etanol baseia-se no f acto de as gotas com solues mais concentradas apresentarem uma menor tenso superficial e desse modo terem maior f acilidade de infiltr ao no solo . Consequentemente, uma maior repelncia gua ir implicar a nec essidade de solues c om maior concentrao de etanol, para que a infiltrao se processe. A Figura 2 apresenta a distribuio espacial e a int ensidade da repelncia do solo gua. De notar que o pinhal adult apresenta as menores quantidades de o repelncia do solo gua, com uma mdia de 0,64 e um valor mximo de 5%. Na maior parte dos casos os pontos medidos eram hidrfilos. A repelncia do solo gua acontece naturalmente em alguns tipos de uso do solo, tais como os povoamentos de Eucalyptus globulus Labill. (ver Ferreira et al. , 2000), e tambm reas de matos.
31
36 30 24 18 12 6 0
% etanol
11
13
15
17
19
21
23
25 metros
Intensidade e distribuio espacial da repelncia do solo gua em seis locais de estudo na Regio Centro.
Neste sentido , as dif erenas entr e os mat os e os f ogos c ontrolados que a decorrem, no so importantes, apresentando os dois tipos de situao repelncia , mdia idntica, com locais apresentando repelncia mdia (na ordem dos 13-18%), encadeados com reas hidrfilas, estabelecendo padres em que a gua ger ada em locais hidrfobos se pode infiltrar em locais hidrfilos. O fogo experimental apresenta valores ligeiramente mais elevados, mas ainda assim c om alguns (pouc os) locais hidrfilos, enquant o as r eas queimadas apresentam uma gr ande homogeneidade de padres de r epelncia e xtremamente fortes, geralmente acima dos 18% de etanol, e sem locais hidrfilos onde a escorrncia se possa infiltrar.
5. Implicaes no ciclo hidr olgico e nos processos erosivos Os incndios florestais provocam alteraes significativas em vrios componentes do ciclo hidrolgico (Figura 3), nomeadamente ao nvel da intercepo pela copa das rvores, na evapo-transpirao para a atmosfera, na capacidade de infilt rao dos solos, e nos processos pelos quais a gua c hega aos cursos de gua e aos aqufer os, influenciando assim o caudal de base e os picos de cheia das bacias hidrogrficas.
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PRECIPITAO ATMOSFRICA
TRANSPIRAO DA FLORESTA
INFILTRAO NO SOLO
ESCORRNCIA SUPERFICIAL
PERCOLAO
GUA SUBTERRNEA
CAMADA IMPERMEVEL
FIGURA
3 Ciclo hidrolgico
Quando o incndio consome a vegetao e a manta morta subjacente, o solo fica exposto e a porosidade do solo pode diminuir devido ao impacto directo das gotas de chuva sobre o solo, resultando em quantidades de escorrncia muito maiores. Para alm de aumentar drasticamente a energia do impacto das gotas de chuva sobre o solo, a perda de vegetao e da manta morta na sequncia de um incndio r eduz ainda mais a capacidade de reteno e armazenamento da gua bem como a resistncia aos fluxos de gua nas vertentes, tambm em resultado da perda da matria orgnica do solo (Martin e Moody, 2001; Meyer, 2002). Assim, as propriedades do solo que contribuem para o bom funcionamento do sistema hidrolgico, nomeadamente a capacidade de infiltrao, a porosidade, a condutividade hidrulica e a capacidade de armazenamento e reteno de gua pelos solos, podem ser afectadas de forma muito negativa pelo fogo (Neary et al., 1999).
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Os pic os de c heia ac ontecem mais r apidamente e c om mag nitudes superiores, quando comparados com as respostas em bacias hidrogrficas com vegetao, o que resulta num aumento das foras tangenciais sobre a superfcie do solo, responsveis pelo transporte de sedimentos. O fogo tambm poder consumir uma par te dos sistemas radiculares, contribuindo para a perda de coeso do solo (Hyde et al., 2007). As Figuras 4A e 4B mostram as alteraes que se verificam em vertentes antes e depois da passagem de um incndio florestal.
H OC
AM
FIGURA
34
Na vertente florestada, a precipitao raramente excede a capacidade de infilt rao, pelo que a maior par te dos fluxos de gua em dir eco base da vertente se processa atravs do solo, o que diminui significativamente a velocidade de deslocamento da gua e per mite o ar mazenamento de parte importante da precipitao, que assim fica disponvel para as plantas. Ocasionalmente em termos de tempo e espao pode oc orrer a saturao do solo, com a formao de escorrncia. Aps o fogo, a camada hidrfoba e a camada hidroflica sobrejacente condicionam os processos hidrolgicos e er osivos. A camada hidrfoba dimin ui dr asticamente a capacidade de infilt rao, dand o or igem a esc orrncia, que mobiliza facilmente a camada de cinzas hidroflica, erodindo assim uma importante fonte de nutrientes. A existncia de macroporos no solo, muitas das vezes resultantes da queima de razes, permite a infiltrao pontual de alguma da escorrncia. A transio das vertentes para os cursos de gua tambm apresenta alteraes muito significativas, como se pode depr eender das figuras 5A e 5B.
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FIGURA
Os picos de cheia na bacia florestada acontecem porque a gua, no seu percurso descendente, satura o fundo da vertente, o que produz escorrncia que forma o pico de cheia. Quanto mais chover, maior a r ea saturada, logo maior a quantidade de rea produtora de escorrncia e maior o pico de cheia. No entanto, como parte da gua possui um tempo de deslocao lento nos solos em dir eco ao fundo da vertente, os picos de cheia so regra ger al r etardados e esbatid os. Na bacia hidr ogrfica queimada, a quantidade de gua que se infilt ra no solo r eduzida, pelo que h uma parte importante da precipitao que se escoa sob a forma de escorrncia superficial assim que a camada de cinzas hidr oflicas se satura, sendo depois mobilizadas por esse processo. Os picos de cheia, alimentados pela escorrncia de gua que no se infilt ra sequer no solo, so muito rpidos em resposta queda de precipitao, e regra geral de uma magnitude insuspeita. So muitos os casos de picos de cheia de dimenses muito superiores ao normal, que ocorrem em reas recentemente queimadas. Em alguns casos registaram-se mortes de pessoas e importantes perdas de bens em pequenas bacias hidrogrficas.
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CAIXA 3
A Figura 6 apresenta a distribuio temporal da escorrncia superficial em parcelas de 16m 2 e do escoamento global ao nvel de uma pequena bacia hidr ogrfica numa zona queimada e numa zona no queimada. De notar a rpida resposta inicial queda de precipitao na rea queimada. Nas primeiras semanas, a quantidade de precipitao no foi suficiente para saturar a camada de cinzas e pr ovocar respostas significativas ao nvel da parcela ou da bacia hidrogrfica. Os primeiros picos significativos acontecem quando a precipitao excede os 50 mm semanais. De notar ainda que cerca de 1 ano depois do incndio, a resposta da bacia hidrogrfica a semanas com cerca de 50 mm de pr ecipitao idntica r egistada logo aps o fogo, mas ao nvel da parcela nota-se uma quebra acentuada da escorrncia. Nota-se uma resposta pronta da bacia hidrogrfica quantidade de precipitao ao longo de todo o perodo. No entanto existe normalmente um decrscimo dos picos de cheia com o tempo, aps o incndio. De facto, os primeiros picos de cheia r epresentam c erca de 50% da pr ecipitao. Um ano aps o incndio , o limiar de pr oduo de picos de cheia aument ou, e apenas episdios chuv osos com mais de 25 mm produzem picos de cheia, que representam menos de 10% da precipitao, em mdia. A r esposta da rea no queimada (povoamentos florestais adultos) negligencivel ao nvel das par celas e da bacia hidr ogrfica, com pequenos picos de cheia a ocorrerem apenas em resposta aos episdios mais extremos, capazes de saturar os solos.
SEMANAS APS INCNDIO
49
43
45
39
59
29
47
33
55
35
53
23
25
37
27
57
41
19
13
31
15
51
21
17
11
0 50 100
(mm)
120
80
60
40
20
0
Escorrncia parcela queimada Escoamento bacia queimada
Escorrncia e escoamento semanal em parcelas e bacias hidrogrficas queimadas e em povoamentos adultos de controlo.
ESCORRNCIA E ESCOAMENTO
PRECIPITAO
(mm)
100
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Alguns aut ores r egistaram taxas de er oso baixas aps incndio (Emmerich e Cox, 1992; Kutiel e Inbar, 1993). J Coelho et al. (1995) encontraram taxas de eroso logo aps incndio na ordem das 2 ton.ha1 .ano-1, um valor muito mais elevado se comparado com os povoamentos florestais adultos (0.02 ton.ha-1.ano-1), mas sig nificativamente inferior aos registados para muitas das prticas incorrectas usadas habitualmente na gesto da floresta em Portugal, como por exemplo a mobilizao do solo ao longo da linha de maior decli ve. Nesses casos as taxas de er oso podem ating ir valor es da or dem das 50 t on.ha-1.ano-1. N o entant o podero e xistir localment e c ondies que per mitem a infilt rao da escorrncia aps fogo, dando origem a taxas ir relevantes de eroso, tal como reportado por Shakesby et al., (2007), para florestas queimadas do Sudeste da Austrlia. Deste modo os impactos podem ser muito diversos dependendo no s das c ondies locais mas em boa par te tambm da intensidade do fogo, a qual pode c ontribuir para diferenas ao nvel da escorrncia, do escoamento das bacias hidrogrficas e das taxas de eroso (Ferreira et al., 2005a,b). A importncia da relao entre as taxas de eroso e a int ensidade d o fogo est bem pat ente nas n umerosas r eferncias bibliogrficas que abordaram esta questo. (DeBano et al., 1996; MacDonald et al., 2000; Huffman et al., 2001; Wondzell, 2001, Coelho et al., 2004; Ferreira et al., 2005b, Hyde et al., 2007). Um outro factor que influencia a resposta das bacias e as taxas de er oso aps fogo, prende-se com o teor de gua no solo. Os poucos trabalhos publicados sobre o efeito do fogo neste factor apontam para concluses diversas. Na verdade, ao contrrio do que se possa pensar, a quantidade de gua no solo pode aumentar aps a passagem d o fogo (M artin e Moody, 2001; Silva et al., 2006) devido eliminao temporria da transpirao das plantas (Bond-Lamber ty et al., 2009). Est e efeit o poder atenuar, anular ou mesmo ultrapassar o efeito provocado pelo aumento da evaporao superficial devido perda do efeito de sombra pela vegetao e pela folhada e ao decrscimo d o albedo das cinzas, mais vulgarmente referidos pela lit eratura disponvel (e.g . Hyde et al. , 2007). Este aumento da humidade pode, por sua vez, fazer com que aumente a percolao para os lenis freticos (mais gua nas nascentes), mas pode tambm facilitar a satur ao do solo dur ante a poca das c huvas, contribuindo tambm para o aumento da escorrncia superficial e, consequentemente,
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da eroso laminar. No entanto, ao deixar a super fcie do solo exposta radiao solar, o fogo faz com que exista uma maior dessecao superfcie, devido maior evaporao. Se pensarmos ainda no que foi referido anteriormente, relativamente maior dificuldade de infiltrao da gua da chuva devido formao de uma camada repelente gua, percebemos que o resultado final em termos de humidade no solo disponvel para o crescimento das plantas pode ser di verso, dependendo da impor tncia relativa de cada um dos mecanismos referidos. Num estudo efectuado na Tapada Nacional de Mafra, durante trs anos aps um fogo experimental (Silva et al., 2006), verificou-se que o balano, em termos de gua no solo, era francamente positivo (havia mais gua disponvel) no primeiro ano e ao longo dos 180 cm de per fil de solo estudado. medida que a vegetao foi crescendo, esse saldo positivo foi diminuindo, mas manteve-se em geral positivo at ao final do terceiro ano de estudo. Muito embora vrios autores tenham chegado a resultados semelhantes aos descritos, quanto ao balano final do efeito do fogo no teor de gua do solos (Klock e Helvey, 1976; Campbell et al., 1977; Soto e Diaz-Fierros, 1997; Mullen et al., 2006) vrios outros chegaram a resultados diferentes (Litton e Santelices, 2003; Obrist et al., 2004; Redmann, 1978; Sakalauskas et al., 2001; Snyman, 2003), pelo que se torna necessrio investigar melhor este tema. A di versidade de r esultados obtid os nos estud os sobr e o balano de gua no solo aps fogo, ter seguramente a ver com a diversidade de situaes (vegetao, solo, clima, relevo) de cada estudo, mas poder estar igualmente associada diversidade de metodologias utilizadas. Em termos espaciais h a ter em conta o perfil de solo que estamos a c onsiderar e em termos temporais h a ter em conta o perodo aps fogo que analisado, assim como a sazonalidade do fogo. H que ter em conta que apenas podemos ter uma ideia segura sobre ganhos ou perdas, se existirem medies de humidade anteriores ao fogo, o que relativamente raro na bibliografia disponvel, e difcil por razes tcnicas. A questo da profundidade do solo que estamos a avaliar fundamental, na medida em que a aco das razes das plantas lenhosas medit errnicas pode faz er-se a vr ios met ros de profundidade (Silva e Rego, 2003) condicionando dessa forma a humidade do solo muito abaixo dos horizontes superficiais. Por sua vez estas alteraes do teor de humidade em profundidade podem ser determinantes em termos da resposta hidrolgica das bacias hidrogrficas, ao influenciar o
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escoamento para as toalhas freticas e a capacidade do solo para absorver quantidades adicionais de precipitao (Klock e Helvey, 1976). Um outro aspecto fundamental que influencia a taxa de escorrncia prende-se com a existncia de obstculos ao longo da encosta. Assim, no caso de no e xistir qualquer tipo de desc ontinuidade de uso do solo , geomorfolgica ou mesmo barreiras introduzidas pelo homem (mobilizao do solo, estradas, terraos), o transporte de gua e sedimentos entre as vertentes e os cursos de gua no enc ontra obstculos, o que implica uma elevada exportao para fora da bacia hidrogrfica. No caso de existirem descontinuidades, como por e xemplo uma r ea tampo ent re as vertentes e os cursos de gua, a transferncia de gua e sedimentos muito mais limitada (Ferreira et al., 2008a). Por outro lado, se a descontinuidade acontecer ao nv el das v ertentes, ento a infilt rao desempenhar um papel importante, e como tal a bacia hidrogrfica passar a ter uma resposta mais lenta, baseada na oc orrncia de esc orrncia satur ada, segund o o modelo de Hewlett (1961, 1969), o que promove a conservao do solo e da gua (Ferreira et al., 2008a). As implicaes em termos estratgicos para a conservao do solo e da gua, passam por aumentar a diversidade de usos do solo ao nvel de toda a bacia hidr ogrfica e de pr omover usos d o solo especficos para reas especficas de forma a estabelecer interrupes na transferncia da gua e dos sediment os das vertentes para os cursos de gua (Figur a 7). A manuteno de espcies mais r esistentes ao fogo , nomeadamente a faixa ripcola em redor dos cursos de gua pode ser uma opo , se bem que ainda no e xista infor mao suficient e sobr e a sua eficcia na mitigao d os impac tos d os incndios nos pr ocessos hidr olgicos e erosivos escala das bacias hidrogrficas.
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Elevada escorrncia e produo de sedimentos Baixa escorrncia e produo de sedimentos Zona tampo no alterada Escorrncia e sedimentos maior
menor
FOGO CONTROLADO
FIGURA
Modelo conceptual do escoamento em bacias hidrogrficas queimadas (adaptado de Ferreira et al., 2008a)
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As quebras da transferncia da gua e dos sedimentos decorrentes de infra-estruturas feitas pelo homem ou devidas a formas geomorfolgicas especficas tm em c omum o fact o de t erem forosamente de j e xistir antes do incndio. Locais onde e xistam caminhos, terraos ou for mas concavas na base das vertentes, produzem uma ruptura na transferncia da gua e dos sedimentos das vertentes para os cursos de gua. Estas reas sero menos prioritrias no que concerne a intervenes de conservao do solo e da gua aps a ocorrncia de um incndio.
CAIXA 4
O USO DE SIMULAES DE CHUVA PARA AVALIAR O POTENCIAL DE EROSO E ESCORRNCIA
De f orma a f azer uma a valiao c omparativa das tax as de er oso e de escorrncia, podem f azer-se simulaes de chuv a c orrespondendo a uma quantidade de precipitao fixa e igual para as situaes a comparar. Com este objectivo f oi utilizado um simulador de chuv a porttil, segundo o modelo descrito por Calv o et al. (1988) e C erd et al. (199 7) para aferir as tax as de eroso e de esc orrncia ao nv el de uma micr o-parcela c om 0 .24 m 2 nos seguintes locais de estudo: Fogo florestal (incndio) em pinhal adulto (Carato); Fogo flor estal (incndio ) em pinhal adult o (Senhor da Serr a ); F ogo experimental em mat o (Gestosa); Fogo controlado em mat o (Cadafaz); Mato no ardido (Aigra Nova); Pinhal adult o no ar dido (Carato). As simulaes consistiram em c olocar o aspersor de gua a 2 metr os de altur a, de modo a simular uma chuva homognea com uma intensidade de 50.5 mm.hora-1 numa rea de 1m 2, dur ante uma hor a. A esc orrncia e a humidade do solo er am medidas a cada minuto e a eroso dependia da quantidade de esc orrncia e da turbidez da gua. A T abela 3 apresenta os resultados das simulaes de chuva. Nota-se a esta escala um aumento significativo tanto da escorrncia como das taxas de eroso, na sequncia da destruio da vegetao e manta morta, que diminui a r esistncia pr ogresso da gua e dos sediment os. No entant o, parece existir uma diferena ntida na quantidade de esc orrncia e de er oso entre o fogo controlado e os incndios florestais, com os dois incndios a ger ar cerca de quatro vezes mais escorrncia e mais do dobro da eroso. O valor de eroso inferior no fogo experimental (que teve lugar em matos) pode decorrer de uma menor quantidade de cinzas disponveis nos locais amostrados.
42
TABELA 3
TAXAS DE EROSO E ESCORRNCIA EM REAS QUEIMADAS , E NO QUEIMADAS POR FOGOS COM DIFERENTES INTENSIDADES , OBTIDAS ATRAVS DE SIMULAES DE CHUVA
PINHAL ADULTO
(CARATO)
ESCORRNCIA
FOGO CONTROLADO
(CADAFAZ)
2.8 0.4
FOGO EXPERIMENTAL
7.3 6.5
INCNDIO
(mm)
EROSO
(g.m-2.h-1)
(GESTOSA)
ESCORRNCIA
(CARATO)
(SENHOR
DA SERRA)
11.7 3.8
32.9 15.6
27.7 16.6
(mm)
EROSO
(g.m-2.h-1)
6. Sntese dos efeitos produzidos ao nvel do solo e da gua As alt eraes pr oduzidas por um fogo passam pela c ombusto de grande parte da manta morta e da vegetao arbustiva e herbcea, e frequentemente pela morte da vegetao arbrea. Por sua vez estes efeitos do origem a uma sr ie de mecanismos ao nv el do ciclo hidr olgico e d os ciclos biogeoqumicos que podem traduzir-se em processos de degradao mais ou menos impor tantes. O nv el de impor tncia desses pr ocessos depende de vrios factores. Um dos factores mais importantes prende-se com a intensidade do fogo que, tal como para as plantas, pode dar origem a diferentes nveis de severidade ao nvel do solo. Uma maior severidade do fogo est associada a uma maior dest ruio da vegetao, da manta morta e da matria orgnica do solo. Por sua vez estes efeitos do origem a maiores perdas de nutrientes por diferentes vias e possvel formao de uma camada de solo repelente gua, que dificulta a infiltrao e possibilita a existncia de escorrncia superficial. No entanto, aps o fogo pode igualmente ocorrer um aumento relativo da gua no solo, devido menor transpirao das plantas, permitindo que se atinja mais r apidamente a situao de saturao e desse modo contribuindo igualmente para uma maior exportao da gua para jusante. Quer um quer outro fenmeno tm
43
como consequncia uma resposta mais rpida das bacias hidrogrficas no aumento do caudal dos rios, o que pode originar cheias a jusante. Os efeitos na hidrologia so acompanhados por efeitos ao nvel da exportao de nutrientes a qual pode assumir difer entes formas. Todos estes mecanismos podem ocorrer com diferente magnitude dependendo de factores locais nomeadamente: os combustveis, o relevo e o solo. Os combustveis influenciam a intensidade e por sua v ez a severidade do fogo. O declive do terreno e a existncia de obstculos, naturais ou artificiais influenciam os fenmenos de transporte superfcie e em profundidade. O tipo de solo influencia de mltiplas formas os mecanismos descritos j que condiciona tanto os processos hidrolgicos, como os processos biogeoqumicos. Deste modo, tal como na vegetao, a magnitude dos efeitos no solo muito varivel. Em algumas situaes os impac tos negativos no solo e nos processos hidrolgicos podem ser elevados e afectar no apenas os ecossistemas mas tambm as infr a-estruturas para uso das po pulaes como estradas, barragens ou aglomerados populacionais. Assim, necessrio ter em ateno a gesto do risco, sobretudo atravs do ordenamento do territrio, da diversificao dos usos do solo e da optimizao da localizao das infra-estruturas.
Agradecimentos Este t rabalho r epresenta o culminar de duas dcadas de in vestigao. Agradecemos aos projectos: Recuperao de reas ardidas (FFP-IFAP); PROJECTO RECOVER Immediate soil management st rategy for recovery after forest fires (PTDC/AGR-AAM/73350/2006), financiado pela FCT; e PROJECTO DESIRE DESertification mItigation and REmediation of land a global approach for local solutions (GOCE 037046 Integrated Project) no mbito do programa FP6 da Unio Europeia.
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49
EFEITOS DO FOGO
III.
50
1. Introduo Este captulo aborda as interaces entre as plantas e o fogo. So apresentados os pr incpios e os pr ocessos de base que det erminam a for ma como as plantas so afectadas pelo fogo e os fact res que controlam as suas o respostas aps o fogo. Os efeitos do fogo na vegetao so normalmente os impactes mais bvios que se podem observar aps um incndio. A capacidade de resposta das plantas ao fogo pode variar significativamente de fogo para fogo ou entre diferentes reas dentro de um mesmo incndio. O tipo de r esposta ser na maior par te dos casos var ivel em funo da interaco entre uma srie de factores como o regime de fogo (e.g., intensidade do fogo, durao da combusto, poca do ano), as caractersticas do local (e.g., solos, topografia, clima) e as caractersticas de cada planta (e.g., espcie, vigor vegetativo, idade). A capacidade de sobr evivncia e de regenerao das comunidades vegetais no perodo aps o fogo depende ainda da intensidade de ocorrncia de factores adicionais de perturbao (e.g., seca, pastoreio, mobilizaes de solo, pragas). A utilizao de tcnicas apropriadas para monitorizar os efeitos especficos do fogo sobr e a v egetao nec essria para detectar as alt eraes ocorridas na comunidade de plantas. O objectivo permitir que os gestores sejam capazes de prever os efeitos do fogo nas plantas, baseados no conhecimento sobre as c ondies do incndio e nas car actersticas das espcies e comunidades existentes antes do fogo, e interpretar as causas para a var iabilidade nas r espostas das plantas obser vada aps o fogo . O conhecimento sobre as caractersticas da vegetao e do fogo, bem como a compreenso dos mecanismos que influenciam a resposta das diferentes espcies de plantas aps um incndio, constituem factores-chave no planeamento florestal e na gesto de reas ardidas.
2. Resistncia das plantas ao fogo A r esistncia das plantas ao fogo depende em g rande medida da presena de caractersticas adaptativas que lhes permitam tolerar melhor o calor, da per centagem de t ecidos mortos e localizao desses t ecidos, dos mecanismos reprodutivos e da capacidade para recuperar dos danos sofridos. Existem duas formas de as plantas conseguirem tolerar a expo-
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sio ao fogo. Uma a de que as clulas que constituem os tecidos vitais consigam suportar temperaturas mais ele vadas, e a out ra at ravs da proteco desses t ecidos v itais e vitando que a t emperatura letal se ja atingida (Whelan, 1995). Por outro lado, as caractersticas que adicionam ou c onservam as r eservas n utritivas da planta so tambm m uito importantes uma vez que permitem a recuperao dos indivduos aps o fogo (e.g. Pyne et al., 1996). A morte dos tecidos das plantas devido ao fogo depende da quantidade de calor a que estes so expostos. O calor recebido pela planta depende simultaneamente da temperatura atingida e do tempo durante o qual os tecidos esto expostos a essa temperatura. A capacidade que as clulas tm para suportar temperaturas elevadas varia pouco entre espcies e entre tecidos de uma mesma planta. A maior parte das clulas vegetais morrem se a temperatura atingir aproximadamente 50-55 C (Hare, 1961; Wright e Bailey, 1982), embora alguns tecidos de plantas consigam suportar temperaturas mais elevadas por perodos de tempo muito curtos. Para uma dada temperatura aplicada a um tecido vegetal, a variao da mortalidade das clulas resulta tambm do seu estado de hidratao e se esto ou no metabolicamente activas. Tecidos de plantas em r epouso vegetativo e que se encontram num estado de desidratao podem tolerar um calor m uito mais intenso do que tecidos metabolicamente activos e completamente hidratados (Whelan, 1995). Por exemplo, os gomos so geralmente muito mais sensveis ao calor do fogo quando esto em fase de crescimento activo e o seu contedo em humidade elevado (aumentando a condutividade trmica), do que durante o perodo de dormncia ou aps terminar o crescimento anual (Dieterich, 1979; Wright e Baile y, 1982). Alguns estudos indicam que diversas espcies resistem melhor ao fogo durante o Inverno do que durante o Vero (Whelan, 1995). Para alm do estado metablico em que as plantas se encontram, o facto de as condies meteorolgicas no momento do fogo influenciarem a intensidade e o comportamento do fogo, bem como o tempo necessrio para que as clulas atinjam uma temperatura letal, so outros factores que podem explicar estas diferenas. Para alm d os aspectos j mencionad os, as r eservas nutritivas que permitem a recuperao dos indivduos aps o fogo tambm variam entre espcies e ao longo do ano. Em geral as plantas esto mais susceptveis aos danos provocados pelo fogo quando as reservas de hidratos de carbono
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se encontram num nvel relativamente baixo. Os padres saz onais das reservas nutritivas das plantas var iam muito entre espcies (Zwolinski, 1990), e deste modo, um fogo que ocorre num determinado momento do ano pode ser mais prejudicial para algumas espcies do que para outras. Algumas espcies de rvores so aparentemente mais susceptveis aps o perodo inicial de cr escimento anual do que no perod o final de cr escimento ou durante a dormncia (e.g. Regelbrugge e Conard, 1993), pois aps o crescimento inicial as plantas tm menos reservas disponveis. Algumas partes da planta so mais importantes para a sobrevivncia aps o fogo d o que out ras. O cmbio um t ecido vital para a sobr evivncia d o t ronco e da c opa. Os gomos so impor tantes por que a produo de novas folhas aps o fogo depende da sobr evivncia destes tecidos. As sement es tambm so v itais par a algumas espcies pois representam a nica oportunidade de a planta pe rpetuar o seu cdigo gentico. Os tecidos vegetais mais importantes e susceptveis tais como o cmbio e os gomos podem no estar dir ectamente expostos ao calor do fogo, sendo protegidos por outros tecidos como a casca, encontrando-se enterrados no solo, ou situados muito acima da superfcie, onde menos provvel que se jam submetidos a um calor letal. Da mesma for ma as sementes podem estar pr otegidas por fr utos que as isolam d o calor excessivo, enterradas no solo, ou na c opa a g rande altura. A resistncia das rvores ao fogo t ende geralmente a aumentar c om a idade, pois as copas tornam-se maiores, a espessura da casca e o dimetro dos troncos aumentam, e par a algumas espcies a altur a da base da c opa tambm aumenta (Miller, 2000). A morte das plantas resulta frequentemente de danos provocados em diferentes partes, tais como os danos na c opa associados a uma ele vada percentagem de mortalidade ao nvel do cmbio. Dependendo da extenso e severidade dos danos as plantas podem sobr eviver durante mais ou menos t empo aps o fogo . P orm, de vido ao seu estado fisiolg ico enfraquecido, as plantas afectadas pelo fogo podem ser subsequentemente atacadas por insectos ou infectadas por doenas e fungos conduzindo a um aumento da mortalidade nos anos seguintes (e.g. Littke e Gara, 1986). A ocorrncia de qualquer outro factor de stress anterior ou posterior ao fogo (e.g. condies meteorolgicas desfavorveis, feridas, herbvoria), torna tambm as plantas mais fracas e susceptveis de morrer.
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As localizaes e xpostas dos gomos apicais lat erais e t erminais de muitas espcies de r vores e ar bustos tornam-nas muito susceptveis morte da copa por aco d o fogo. A estrutura de uma planta lenhosa um dos factores que afecta a probabilidade de que a sua parte area seja letalmente afectada pelo fogo . Algumas caractersticas importantes da copa so a densidade e dimenso dos ramos, a proporo entre material vivo e morto, a localizao da base da copa em relao aos combustveis super fcie, e a dimenso t otal da c opa (B rown e Da vis, 1973). Por exemplo a altura aumenta a probabilidade de sobrevivncia da copa pois as partes areas de plantas de baixa estatura esto mais expostas ao calor e so frequentemente mortas. Devido diminuio da temperatura com a distncia aos combustveis de superfcie, certas plantas que crescem mais em altura (principalmente rvores), podem conseguir proteger tecidos vitais como gomos e sementes, apenas porque estes se encontram acima das chamas. A eficcia da altur a na pr oteco da c opa depender da continuidade vertical do combustvel, na prpria rvore e no sub-coberto. Nas espcies de r vores c om desr amao natur al (em que os r amos inferiores que vo mor rendo caem natur almente), a probabilidade do fogo entrar nas suas copas menor (Keeley e Zedler, 1998). Alguns autores sugerem que a arquitectura da copa de algumas espcies ajuda a deflectir o calor dos gomos apicais, permitindo uma maior tolerncia ao fogo (e.g. Kruger e Bigalke, 1984). Por outro lado, os gomos e ramos mais pequenos resistem menos ao calor d o que os maior es, devido sua menor massa (Byram, 1948; Wagener, 1961). Porm, para que estas car actersticas da copa sejam efectivas e contribuam para a sobrevivncia da par te area das plantas, tambm necessrio que os troncos estejam protegidos por uma casca suficientemente isoladora. O tipo de folhas tambm pode infl uenciar a resistncia das plantas. No caso das conferas, as agulhas compridas (e.g. P. pinea) proporcionam uma maior pr oteco inicial aos gomos que as agulhas cur tas (e.g. P. sylvestris) (Wagener, 1961). O facto de as folhas serem perenes ou caducas tambm pode influenciar a sobrevivncia da copa, sendo que as espcies de folha caduca so m uito menos susc eptveis dur ante a estao de
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dormncia (e.g. Miller, 2000). O contedo em h umidade das folhas e pequenos r amos var ia ao longo d o ano, sendo mais ele vado dur ante o perodo de maior actividade (formao das folhas e alongamento dos ramos na Primavera), diminuindo durante o restante perodo de crescimento (Vero), e dimin uindo ainda mais quand o o crescimento cessa (Outono e Inverno para a maioria das espcies excepto conferas que tm um perodo de crescimento adicional no fim do Vero/incio do Outono). O contedo em humidade tambm influencia a inflamabilidade das folhas e ramos, e quanto maior este for, maior a quantidade de calor nec essria para atingir a temperatura de ignio. Em geral as espcies folhosas tm folhas com maior contedo em humidade que as resinosas, sendo menos susceptveis a fogos de copas (Bond e van Wilgen, 1996). Porm existem espcies de folhosas, como os eucaliptos, que contm elevados nveis de compostos inflamveis nas folhas, que tornam a ignio e combusto da copa mais fcil que em espcies que no possuam esses compostos (Bond e van Wilgen, 1996; Miller, 2001). A dessecao da copa de uma rvore (crown scorch) provocada pelo calor libertado pelo fogo, e um indicador do impacte do fogo na rvore que pode ser quantificad o logo nos dias post eriores ao incndio pela observao da altura ou do volume de folhas/agulhas secas (no verdes). A altura acima do solo at qual a c opa foi dessecada pode ser medida directamente, ou estimada c om recurso a um sim ulador de fogos (e.g . BehavePlus) a partir do comprimento da chama, da temperatura do ar e da velocidade do vento (e.g. Albini, 1976). Porm a percentagem do volume da copa com folhagem dessecada nor malmente um melhor indicador do impacte do fogo do que a altur a da c opa dessecada, uma v ez que considera a proporo de folhagem que permanece viva (Peterson, 1985). A mortalidade de algumas espcies de rvores est mais relacionada com a proporo de copa dessecada do que com os danos no tronco (Ryan et al., 1988), enquanto que noutras espcies se verifica o contrrio (Peterson e Arbaugh, 1986). Para muitas espcies de c onferas e par a rvores ou arbustos com pequenos gomos, a dessecao da c opa frequentemente equivalente mor te da copa devido reduzida proteco dos gomos. Grande parte das espcies de conferas tm uma elevada probabilidade de morrer se o volume de copa dessecada for superior a 60-70%, quer como consequncia directa do fogo quer devido ao efeito associado incidncia
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de pragas e doenas durante os primeiros anos aps o incndio. Porm, para algumas espcies de conferas mais resistentes (e.g. Pinus ponderosa ou Larix occidentalis) o volume de copa consumida pode ser um melhor indicador de mortalidade da copa que o volume de copa dessecada. O consumo da copa resulta da ignio das folhas/agulhas e dos ramos finos.
Sobrevivncia do tronco
As rvores e ar bustos podem mor rer quando o cmbio (camada de crescimento activa situada entre o lenho e a casca) e xposto a temperaturas letais. Diversos estudos indicam que quando o tronco submetido a uma fonte de calor, o tempo necessrio para que as clulas do cmbio atinjam uma temperatura letal funo da espessura da casca e das suas pr opriedades trmicas (Whelan, 1995). A morte do cmbio, se ocorrer na base do tronco principal e em toda a sua circunferncia, corresponde morte da parte area da planta (copa e tronco), mesmo que a copa no seja directamente afectada. A resistncia dos troncos ao fogo est principalmente relacionada com a espessura da casca, a qual varia com a espcie, dimetro, idade, distncia acima do solo, sade e v igor das plantas (Gill, 1995). Por exemplo Hare (1961) levou a cabo vr ias experincias em que c onstatou que o t empo necessrio para que as clulas do cmbio atinjam uma temperatura letal est exponencialmente relacionado com a espessura da casca para todas as espcies de rvores estudadas, e que a c orrelao positiva existente entre o dimetro da rvore e a espessur a da casca or igina uma relao entre o DAP e o tempo necessrio para que o cmbio atinja uma t emperatura letal. Assim, as rvores pequenas de uma dada espcie so geralmente mais susceptveis do que as grandes, devido relao alomtrica entre a espessura da casca e o dimet ro. No entanto, para um dad o dimetro, existe uma variabilidade considervel na espessura da casca entre espcies. Em Portugal as espcies com casca mais g rossa so o sobr eiro, o pinheiro-bravo e o pinheiro-manso (Figura 1), embora no caso do sobreiro no exista qualquer relao entre a espessura da casca e o DAP a partir do momento em que as rvores entram em explorao devido prtica habitual de extraco peridica da cortia. Um estudo recente levado a cabo em Portugal (Catry et al., 2010) sugere que uma espessura de casca superior a 3-4 cm ser suficiente para proteger o cmbio de forma efectiva (ver Figura 2b na Caixa 1).
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4 (cm)
ESPESSURA DA CASCA
0 0 10 20 30 40
DAP
50
60
70
80
(cm)
Q. suber P. pinaster
FIGURA
Relao entre a espessura da casca e o dimetro altura do peito (DAP) para 14 espcies arbreas (baseado em equaes obtidas a partir de dados de campo recolhidos em Portugal; mnimo de 40 rv ores por espcie): destaque para as 3 espcies c om casca mais grossa, nomeadamente o sobreiro (cortia virgem), o pinheiro-bravo e o pinheiro-manso. As restantes espcies representadas so (no discriminadas): aroeira, azinheira, carrasco, castanheiro, carvalho-negral, carvalho-portugus, eucalipto, freixo, medronheiro, pilriteiro e zambujeiro.
Por outro lado, a qualidade do isolamento proporcionado pela casca depender tambm da sua est rutura, composio, densidade e d o seu contedo em humidade (Hare, 1965), factores estes que variam de espcie para espcie. A textura da superfcie da casca pode tambm afectar a sua probabilidade de ignio. Um dos indicadores dos danos no tronco mais utilizados a altura do tronco queimado expressa como proporo da altur a total da r vore. A altura do t ronco queimado pode ser um bom indicador dos danos sofridos e mesmo da mortalidade (e.g. Ryan, 1982), e est frequentemente correlacionado com o volume de copa afectado. Nas espcies de casca mais fina, quando a casca se apresenta carbonizada, o cmbio que se encontra
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por baixo est frequentemente morto. Nas espcies de casca grossa (e.g. pinheiro-bravo ou pinheiro-manso) mais frequente que a causa de morte esteja associada aos danos na copa ou razes que aos danos no tronco; a morte do cmbio normalmente s ocorre se o tronco estiver exposto ao calor do fogo durante um longo perodo de tempo, o que pode acontecer se por exemplo existir acumulao de material lenhoso no solo junto ao tronco. Por outro lado quando existem feridas no t ronco, provocadas por fogos anteriores ou por qualquer aco mecnica, o cmbio fica mais susceptvel a sofrer danos adicionais pelo fogo, pois a casca geralmente mais fina ou inexistente junto da ferida e a existncia de concavidades ou buracos pode favorecer um maior tempo de residncia da chama junto ao tronco (Miller e Findley, 2001). Por exemplo Rundel (1973) registou uma forte correlao entre a morte da copa em sequias gigantes e a presena de cicatrizes de fogo na base dos troncos. As feridas provocadas por um fogo (correspondendo aos locais onde o cmbio morreu) muitas vezes s so visveis quando a casca se desprende do tronco. Estas feridas podem ficar infectadas por micr oorganismos ou fungos, e a sobr evivncia das rvores pode depender da sua capacidade em c ompartimentar rpida e eficazmente as feridas de modo a formar uma barreira em redor do tecido afectado que r eduza o alast ramento da infeco (S mith e S utherland, 1999). A resinagem nos pinheiros pode tambm torn-los mais susceptveis ao fogo devido s feridas e cicatrizes que facilmente se incendeiam devido natureza inflamvel da resina. Por exemplo Whelan (1995) refere que no SE d os Estados Unidos os pinheiros (P. palustris) com antigas cicatrizes de r esinagem so mais se veramente afectad os ou mor rem, mesmo em fogos de superfcie e menos intensos. A espessura e a textura da casca ou a presena de feridas pode tambm afectar a pr obabilidade de mor te nos t roncos de espcies ar bustivas, embora, devido ao reduzido dimetro da maioria dos seus troncos, a maior parte seja letalmente afectada por qualquer fogo que atinja a folhagem no topo, excepto se o tempo de residncia for muito curto.
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CAIXA 1
EFEITOS DO FOGO NAS RVORES UM CASO DE ESTUDO EM PORTUGAL
Na sequncia de um grande incndio (~3000 ha) que oc orreu em Setembro de 2003 no concelho de Mafra, deu-se incio a um es tudo para avaliar os efeitos do fogo nas principais espcies arbreas. Foram seleccionados aleatoriamente 26 pontos e em cada um deles f oram estabelecidos trajectos para monitorizar o estado vegetativo de cada rvore e medir diversos parmetros relacionados com a intensidade do fogo, caractersticas do local, e caractersticas dos indivduos. Durante os primeir os 4 anos aps o incndio , um t otal de 7 55 indivduos de 11 espcies (9 de f olhosas e 2 de r esinosas) f oram monit orizadas regularmente. As espcies es tudadas f oram: Castanea sativa (castanheiro), Crataegus monogyna (pilriteiro), Eucalyptus globulus (eucalipto), Fraxinus angustifolia (freixo), Olea europaea var. sylvestris (zambujeiro), Pinus pinaster (pinheiro-bravo), P. pinea (pinheiro-manso), Pistacia lentiscus (aroeira), Quercus coccifera (carrasco), Q. faginea (carvalho-portugus) e Q. suber (sobreiro). Ao fim de 4 anos v erificou-se que a maioria (89%) das r esinosas (conferas) morreu, enquanto que a maior part e das f olhosas sobreviveu (92%). Porm, apesar da baixa mortalidade observada nos indivduos das espcies f olhosas, a maioria deles (7 4%) sofreu morte da parte area, regenerando apenas a partir da base do tr onco ou razes, o que significa um pr ocesso de recuperao muito mais lento que em caso de sobrevivncia da copa. Nas resinosas estudadas a morte da parte area corresponde sempre morte do indivduo. Entre as folhosas, apenas o cas tanheiro apresentou mortalidade ele vada, e o sobreiro (rvores no descortiadas) foi a espcie c om menor mortalidade da parte area. Foram utilizados mt odos de r egresso logstica para desenvolver modelos gerais relacionando a pr obabilidade de mortalidade ( do indivduo ou apenas da parte area), com indicadores de severidade do fogo e caractersticas dos indivduos (Figura 2). Entr e as v ariveis analisadas, par a alm das dif erenas entre os dois principais grupos funcionais ( conferas e f olhosas), a altur a do tronco queimado, o v olume de c opa afectada e a espes sura da casca, f oram aquelas que mais influenciar am o tipo de r esposta das rv ores. Os modelos seleccionados foram validados com dados independentes obtidos em 4 outros incndios (945 rvores), tendo sido obtidos bons resultados. Mais detalhes sobre este estudo podem ser consultados em Catry et al. (2007, 2010). Relativamente ao sobreiro, e devido s suas especificidades (ser a nica rvore europeia com capacidade de regenerar a copa quando esta destruda pelo fogo, e em que a casca regularmente extrada), sugere-se a consulta de bibliografia especfica para esta espcie (e.g. Catry et al., 2009; Mor eira et al., 2007, 2009; Silva e Catry, 2006).
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PROBABILIDADE DE MORTALIDADE
1.0 0.8 0.6 0.4 Espcies 0.2 0.0 0 20 40 60 80 100 Conferas Folhosas
PROBABILIDADE DE MORTE DA PARTE AREA
(%)
FIGURA
ESPESSURA DA CASCA
(cm)
Modelos preditivos das respostas das rvores 4 anos aps um incndio: ESQUERDA: Probabilidade de mortalidade dos indivduos (e intervalos de confiana) em funo da altur a mxima do tr onco queimado (% da altur a da rv ore) e do grupo de espcies (resinosas ou folhosas); DIREITA: Probabilidade de morte da parte area (copa e tronco) em folhosas em funo da espessura da casca (cm) e da altura mxima do queimado (%). (Adaptado de Catry et al., 2010).
Uma planta pode per der a par te area (copa e t ronco) mas ainda assim sobreviver. Isto acontece frequentemente com os indi vduos das espcies folhosas. Porm a morte das razes de uma planta corresponde sempre morte do indivduo. Tal como para as copas e troncos, existem caractersticas fsicas e estruturais que influenciam os danos ao nvel das razes nas espcies lenhosas. As r azes est ruturais de supor te que cr escem lateralmente prximo da superfcie so mais susc eptveis aos danos pr ovocados pelo fogo que as razes mais profundas. As razes que se encontram nas camadas orgnicas tm uma maior probabilidade de serem letalmente afectadas ou consumidas que as r azes localizadas nas camadas miner ais do solo. As razes finas que captam a maior parte da gua e nutrientes necessrios planta esto normalmente distribudas junto superfcie, e a perda destas razes pode constituir uma causa de mor te mais significativa do que os danos provocados nas razes estruturais (Wade, 1993). Embora a destruio de parte das razes de uma rvore ou arbusto possa no matar o indivduo, pode conduzi-lo a um estad o de st ress significativo que aumentar a probabilidade de morte no futuro.
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Os danos provocados pelo fogo nas razes ou em outras estruturas da planta situadas abaixo do solo no podem ser previstos pelo comportamento geral do fogo nem por outras caractersticas especficas tais como a intensidade da frente de fogo ou a altura das chamas, pois a maior parte do calor produzido direccionado para cima. A morte das estruturas enterradas no solo est muito mais relacionada com o tempo de residncia do fogo ou da fonte de calor (e.g. Wade, 1986), que por sua vez influenciado pela quantidade, tipo, compactao e teor de humidade dos combustveis presentes superfcie. A humidade do solo tambm retarda a penetrao de calor no solo (Frandsen e Ryan, 1986), protegendo as estruturas subterrneas das plantas. Pode existir alguma relao entre o calor libertado durante o fogo e os danos nas razes, particularmente se apenas existir uma fina camada de combustvel superfcie. Porm, se existir uma acumulao moderada ou elevada de combustvel superfcie, o tempo de residncia da fonte de calor ser pr ovavelmente bastante superior e poder causar danos considerveis nas est ruturas subterrneas, mesmo que na copa no se observem danos (Wade e Johansen, 1986).
2.2. Herbceas
O conhecimento existente sobre os factores que conferem tolerncia ao fogo s plantas herbceas bastante inferior relativamente s plantas lenhosas. Nas plantas her bceas existe uma difer ena fundamental ent re gramneas e dicotiledneas que tem a ver com a localizao dos meristemas. As g ramneas tm os se us mer istemas na base das folhas enquant o as dicotiledneas os tm expostos e constantemente elevados medida que a planta cresce. Esta caracterstica das gramneas protege muitas delas do fogo uma vez que muito do calor libertado por um fogo direccionado para cima. Adicionalmente, os caules e folhas das gramneas que formam uma massa densa e compacta ajudam tambm a proteger do calor os meristemas situad os no c entro, per mitindo fr equentemente uma m uito rpida recuperao ps-fogo (Bond e van Wilgen, 1996). Apesar de nas monocotiledneas arborescentes e nas dicotiledneas os mer istemas estar em ger almente mais e xpostos ao calor que nas gramneas, existem arranjos particulares de folhas que podem pr oteger os gomos do calor letal durante a passagem do fogo (Gill, 1981).
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Muitas espcies de gramneas e de outras herbceas so relativamente tolerantes ao fogo quando este ocorre no fim da poca de crescimento e quando as plantas se encontram dormentes, sendo mais vulnerveis aos danos se arderem durante os perodos de crescimento activo (Bond e van Wilgen, 1996; DeBano et al., 1998). Como nas regies Mediterrnicas a maior par te dos incndios ocorre durante o Vero, coincidindo com o perodo de d ormncia (ou fim de cr escimento) da maior par te das espcies her bceas sil vestres, o fogo acaba por no t er nor malmente consequncias to graves sobre este tipo de vegetao como tem sobre as espcies lenhosas.
3. Formas de regenerao ps-fogo A recuperao das comunidades vegetais aps um fogo varivel de acordo com a resposta das espcies indi viduais, e influenciada pelas caractersticas ambientais e perturbaes posteriores. A mortalidade aps um fogo pode ser diminuida, devido aos mecanismos de resistncia descritos anteriomente, ou compensada pela germinao de sementes pouco depois do fogo (Llor et, 2004). Existem apenas duas possibilidades de regenerao das plantas aps fogo, nomeadamente por resposta vegetativa ou reproduo sexual (seminal) (Figura 3).
FIGURA
Exemplos de tipos de resposta aps fogo em espcies arbreas: regenerao vegetativa (epicrmica no sobreiro e basal no medronheiro, esquerda e ao centro, respectivamente) e regenerao sexual (seminal no pinheiro-manso, direita). (Fotos: Filipe X. Catry)
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A r egenerao v egetativa, que se e xprime at ravs da emisso de rebentos, a for ma atravs da qual m uitas plantas perenes sobrevivem e recuperam aps o fogo, refazendo a sua componente area. A capacidade de regenerao vegetativa aps fogo favorecida pelo isolamento trmico e est m uito difundida ent re as Angiosprmicas, par ticularmente em vegetao esclerfila e flor esta caduciflia; usualment e apr esentada dicotomicamente mas na r ealidade varia num continuum de zero a 100 por cento (% de plantas que rebentam) (Vesk e Westoby, 2004). Consultando uma base de dad os das car actersticas das plantas d o Mediterrneo relacionadas com o fogo (Paula e Pausas, 2009) constatamos que a resposta vegetativa ps-fogo omnipresente nas espcies lenhosas Portuguesas. Praticamente todas as rvores, com excepo dos pinheiros, a apresentam, nomeadamente as espcies dos gneros Quercus, Betula, Ilex, Ceratonia, Ulmus, Fraxinus, Olea, Acer, Prunus e Sorbus. De entre os arbustos salientem-se os gner os Pistacia, Nerium, Buxus, Viburnum, Arbutus, Erica (a grande maioria das espcies), Pterospartum, Ruscus, Myrtus, Phillyrea, Daphne, Rhamnus e Crataegus. Prevalece nos gneros Cytisus e Genista e est representada nalguns tojos (Ulex europaeus, U. minor) e zimbros (Juniperus oxycedrus), sendo tambm relevante noutras plantas lenhosas ou sub-lenhosas (Hedera, Rubus, Lonicera, Pteridium, Chamaerops). Em contrapartida, a regenerao vegetativa rareia bastante nos Cistus (e restantes Cistceas) e nas Lamiceas, que incluem os gneros Rosmarinus e Lavandula. A sobrevivncia individual depende da sobr evivncia de gomos adventcios dormentes, os quais apenas produzem novos rebentos quando a folhagem sofre dano (Chandler et al., 1983; Trabaud, 1987). A resposta vegetativa provm de rgos localizados a diferentes alturas e profundidades, respectivamente acima e abaixo da superfcie do solo (Miller, 2000). As rvores capazes de reconstituio vegetativa podem rebentar do tronco ou da copa, mesmo quando esta arde, se a espessura da casca garantir que os gomos no so danificad os pelo fogo . C aso c ontrrio a acti vidade vegetativa manifestar-se- atravs das estruturas basais ou subterrneas, tal c omo nas plantas ar bustivas e her bceas. O t exto que se segue foi essencialmente compilado a par tir de Trabaud (1987), Miller (2000) e Lloret (2004).
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A Tabela 1 sumariza as estruturas das plantas que dispem de capacidade vegetativa, de acordo com Miller (2000). Os gomos dormentes de muitas plantas lenhosas esto localizados nos tecidos dos troncos, acima ou abaixo da superfcie do solo. O colo da raiz, zona de ligao da raiz ao caule e de onde as razes se difundem, um local comum de emisso de rebentos aps fogo. A rebentao epicrmica resulta de gomos localizados no seio do tecido lenhoso dos troncos das rvores ou nas axilas dos ramos, sendo comum no sobreiro e eucalipto.
TIPO E LOCALIZAO DOS GOMOS GERADORES DE REBENTAO PS - FOGO ( REGENERAO VEGETATIVA ). MODIFICADO DE MILLER (2000) TIPO DE GOMO LOCALIZAO GRUPO DE PLANTAS
TABELA 1
Epicrmico Estolho Colo da raz Tuberosidade lenhosa Cudice Raz Rizoma Bolbo, cormo ou bolbo slido
Area Acima do solo, manta morta Solo, acima do solo Solo, acima do solo Solo ou manta morta Solo ou manta morta Solo ou manta morta Solo
Folhosas sempre verdes* Herbceas Folhosas e arbustivas* Folhosas, arbustivas e herbceas* Herbceas Folhosas, arbustivas e herbceas Arbustos e herbceas Herbceas perenes
* invulgar em conferas
Muitas espcies de plantas, especialment e ar bustos e e ucaliptos, rebentam a partir de gomos localizados em tuberosidades lenhosas subterrneas (lignotuber), que constituem engrossamentos da base do caule bem protegidos de temperaturas letais por se encontrarem enterrados no solo. O solo um bom isolante e essa caracterstica particularmente bem explorada por plantas c om estas est ruturas r aiz-copa especializadas e que esto pr esentes em muitas espcies lenhosas das r egies Mediter-
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rnicas (Whelan, 1995). As tuberosidades lenhosas so no s uma fonte de gomos a utilizar em caso de destruio da parte area, como constituem uma estrutura de armazenamento de reservas de energia, necessria para a regenerao. A capacidade da planta regenerar a partir do lignotuber aps o fogo poder tambm depender da pr ofundidade a que est ent errado no solo e do seu tamanho (Whelan, 1995). Os gomos dormentes localizam-se tambm frequentemente em caules ou razes de crescimento lateral em plantas lenhosas. Os rizomas caules horizontais subterrneos tm uma r ede regular de gomos d ormentes que podem produzir novos rebentos e razes adventcias. Diversas plantas per enes, her bceas ou sub-lenhosas, possuem estruturas r egenerativas nicas, nomeadament e os est olhos, que so caules rastejantes que crescem superfcie do solo e desenvolvem razes a partir dos ns. Um cudice uma base caulinar subterrnea, persistente e fr equentemente lenhosa. Finalment e, r efiram-se out ras est ruturas subterrneas como os bolbos e os cormos, tpicos das Liliceas e Iridceas.
Processos de regenerao vegetativa ps-fogo
O processo da rebentao ps-fogo em plantas lenhosas um pr ocesso altamente regulado, e no qual intervm os mesmos factores que controlam a regenerao vegetativa subsequente a outras perturbaes. O crescimento da maioria dos gomos dormentes governado pela dominncia apical. Hormonas de cr escimento, c omo a auxina, so t ranslocadas par a os gomos dormentes, impedindo a emisso de rebentos. na extremidade dos caules e nas folhas que as hor monas so produzidas, o que implica que a sua pr oduo c essa quand o aqueles so eliminad os pelo fogo . Substncias de cr escimento localizadas nas r azes, particularmente as citoquininas, so ento t ranslocadas par a os gomos causand o o se u crescimento. Portanto a morte das partes das plantas expostas ao fogo que inicia a r egenerao a par tir dos gomos, cujo crescimento aquelas inibiam. Os gomos que se desen volvem em r ebentos so ger almente aqueles mais prximos dos tecidos mortos. A capacidade de rebentao depende de caractersticas morfolgicas e fisiolgicas da espcie, da condio dos indivduos antes do fogo, do comportamento do fogo e das condies do meio ambiente. A poca do fogo e o estado fisiolgico da planta interagem e influenciam a regenera-
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o aps fogo. A capacidade de regenerao vegetativa varia usualmente com a idade da planta, sendo tipicamente mais reduzida ou nula em plantas demasiado jovens ou mais envelhecidas. As plantas podem regenerar vegetativamente imediatamente aps o fogo ou apenas na P rimavera seguinte se o fogo tiver ocorrido durante o perodo de dormncia. Os aumentos de exposio solar e de temperatura do solo aps o fogo podem fa vorecer a magnitude da rebentao. At que os rebentos sejam fotossinteticamente auto-suficientes, a energia necessria para o seu crescimento procede dos hidratos de carbono e nutrientes armazenados nas estruturas regenerativas ou nas razes. Em espcies desprovidas de estruturas capazes de armazenamento significativo de hidratos de carbono (como lignotubers), fogos de Primavera podem ter um impacte maior na capacidade r egenerativa, j que ocorrem quando o armazenamento de reservas mnimo, mas em certas espcies o impac te maior quand o o fogo oc orre no final da estao de crescimento. Cremer (1973), por exemplo, verificou que diversas plantas em flor estas de e ucalipto australianas regeneravam pior aps perodos de rpido crescimento que aps perodos de quiescncia, o que relacionou com a acumulao de reservas, que menor aps terem sido direccionadas para o crescimento. A frequncia de fogo tambm importante devido ao tempo necessrio para que a planta reponha as reservas de energia gastas. A capacidade de regenerar repetidamente aps o fogo varia muito consoante as espcies.
Relao geral entre a regenerao vegetativa e a severidade do fogo
A energia libertada pelo fogo pode afectar a r egenerao vegetativa de vrias formas. Um fogo de severidade reduzida pode eliminar espcies cujos componentes reprodutivos se localizem mais superficialmente, por exemplo r azes e r izomas, ou est ejam pouco protegidos. No entanto, pouco afectar os rgos ent errados mais profundamente e estim ular significativamente a rebentao em caso de destruio da copa. Um fogo de se veridade moder ada consome as est ruturas vegetais situadas na folhada e topo da manta morta inferior, por exemplo rizomas superficiais, podend o matar gomos nas pores sub-super ficiais d os caules e na parte superior de tuberosidades subterrneas. As plantas com gomos na manta morta inferior ou solo mineral produziro rebentos.
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Um fogo de se veridade elevada elimina as plantas cujas est ruturas reprodutivas se localizam na manta mor ta e pode aquec er letalmente algumas partes includas nos nveis superiores do solo, especialmente quando h acum ulao de c ombustvel lenhoso ou quand o a manta morta espessa. A rebentao ocorrer apenas a partir de rgos localizados em reas adjacentes ou profundamente enterrados, mas, dependendo da espcie, pode ainda assim ser vigorosa.
3.2. Regenerao seminal
Independentemente da capacidade de cada espcie par regenerar vegea tativamente, a g rande maioria das espcies de plantas vascular es tm a possibilidade de produzir sementes. Em termos evolutivos, o aparecimento das primeiras plantas produtoras de semente durante o Perodo Devnico Superior h cerca de 365 milhes de anos (Raven et al., 2003), abriu um vasto leque de possibilidades de disperso das populaes de plantas em ambiente terrestre. Desde a disperso pelo vento at dispersopor animais ou pela c orrente dos rios, foi possv el desenvolver mecanismos muito eficazes de expanso das populaes de plantas. Para alm disso foi possvel obter outras vantagens evolutivas para as plantas produtoras de semente, tais como a pr oteco fsica d o embr io e uma r eserva de n utrientes disponvel para o seu desenvolvimento, aumentando assim as probabilidades de sucesso no processo de germinao e crescimento das plntulas. O processo evolutivo deu or igem aos inmer os tipos e for mas de sementes, que se podem encontrar actualmente na nossa flora. Desde as sementes minsculas das C istceas at s g landes pr oduzidas pelas Fagceas, apenas par a referir duas famlias m uito importantes da flor a nativa em Portugal, existe toda uma diversidade de sementes, cada uma delas r esultando de adaptaes e volutivas de natur eza di versa. Essas adaptaes tm a ver com o tipo de disperso, com a estratgia de colonizao ou com a int eraco com o meio ambient e, por e xemplo. Tendo em conta que as espcies evoluram em ambientes onde os recursos so inevitavelmente limitados, as sement es das plantas tambm e voluram na base de compromissos, dos quais um dos mais importantes tem a ver com a r elao entre o nmer o de sement es e o se u tamanho (Fenner e Thompson, 2005). Deste modo ser de esperar que espcies com sementes
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de grandes dimenses sejam produzidas em pequenas quantidades e que sementes de pequenas dimenses sejam produzidas em grandes quantidades. Este aspecto indissocivel do ciclo de vida das diferentes espcies, na medida em que as sementes de maiores dimenses esto normalmente associadas a espcies c om um ciclo de v ida mais longo. Por sua vez, a durao do ciclo de vida tem sido associada existncia de um maior ou menor nvel de perturbao nos ambientes onde as espcies e voluram. De um mod o geral associam-se ciclos de v ida mais cur tos a plantas de menores dimenses, com uma produo mais precoce de sementes e adaptadas a ambientes mais sujeitos a perturbaes no previsveis como fogos ou inundaes (Kozowski e Wiegert, 1987). Nestas espcies a colonizao dos locais perturbados faz-se de forma massiva e a mortalidade no est muito dependente da densidade, ocorrendo sobretudo na fase adulta. Pelo contrrio, as espcies associadas a menores nveis de perturbao tm partida uma maturao mais tardia, ocorrendo uma forte mortalidade na fase juvenil, muito dependente da densidade de plntulas estabelecidas (Fenner e Thompson, 2005). Como veremos mais fr ente, estas duas tendncias evolutivas podem ser relacionadas com a capacidade das espcies para regenerar vegetativamente ou seja, com a sua maior ou menor dependncia da produo e disseminao de sementes, para se propagarem.
Fornecimento e disperso das semente
Os mecanismos de disperso das sementes so muito diversos e esto estreitamente associados s car actersticas das prpr ias sementes e dos frutos. Para alm da simples aco da g ravidade (barocoria), a disperso das sement es pode faz er-se at ravs da aco d o v ento (anemoc oria), atravs do arrastamento pela gua (hidrocoria), ou atravs do transporte por animais (z oocoria). Est es mod os de disperso podem ainda ser bastante subdivididos e tm inmeras variantes. Por exemplo o transporte por animais pode ac ontecer externamente (epizoocoria) como o caso das sementes que ficam agarradas ao plo dos mamferos, ou internamente (endozoocoria) como o caso das sement es ingeridas e post eriormente expelidas pelas a ves. Difer entes for mas de disperso c orrespondem a distncias de t ransporte muito variveis. Normalmente associam-se os mecanismos com maior poder de transporte aos estdios mais avanados da sucesso ecolgica, ao passo que mecanismos c om fr aco poder de
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disperso, so normalmente associados aos estgios iniciais (Aparicio et al., 2008), existindo no entanto numerosas excepes a esta regra geral. No que t oca ao papel do fogo na disperso das sement es, podemos encontrar vrios exemplos em que a deiscncia das sementes facilitada atravs da aco do calor sobre os frutos. esse o caso de vrias espcies do gner o Pinus (e.g. Bo ydak, 2002; Goubitz et al., 2004; F ernandes e Rigolot, 2007) ou do gnero Eucalyptus (e.g. Potts, 1990; Lamont et al., 1991; Vivian et al., 2008). N o entant o, a aco d o fogo pode ainda favorecer a disperso de sement es de outras formas, nomeadamente ao permitir uma circulao facilitada do vento e da gua superfcie do solo, para alm de uma dimin uio dos obstculos fsicos ao t ransporte das sementes (Whelan, 1995).
Banco de sementes
A estimulao da deiscncia pelo fogo tem sido associada manuteno de um banco de sementes na copa, atravs de frutos que retardam a libertao das suas sementes durante perodos de vrios anos. O pinheiro-bravo referido como uma espcie que consegue manter um banco de sementes na copa atravs da produo de pinhas serdias (F ernandes e Rigolot, 2007), uma designao tambm referida como bradisporia, por alguns autores (Whelan, 1995). As pinhas abrem entre dois a trs dias aps o incndio, o que per mite sement e (penisco), provida de uma asa de grandes dimenses, percorrer distncias considerveis na horizontal at cair sobre o manto j arrefecido de cinzas, onde tem a possibilidade de germinar. Aparentemente o efeito inibidor das cinzas na germinao, verificado em laboratrio por alguns autores (e.g. Reyes e Casal, 2004), no suficiente para impedir o elevado recrutamento de plntulas que se verifica em algumas reas queimadas. Algumas das pinhas podem permanecer durante 40 anos na rvore espera do prximo fogo, e o penisco pode manter-se vivel durante 30 anos (Tapias et al., 2002). No entanto nem todos os autores interpretam a produo e a libertao de sementes em massa, simplesmente c omo uma adaptao ao fogo . Uma das t eorias mais c orrentes explica a deiscncia concentrada no tempo como uma forma de saciar os predadores, que dessa forma deixam uma grande quantidade de sementes disponveis para a germinao. Alis essa igualmente uma das explicaes apontadas par a a ir regularidade da pr oduo de sement e ao longo do
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tempo, em que anos quase sem pr oduo alternam com anos de safr a (Kelly, 1994; Fenner e Thompson, 2005) tal como se verifica em espcies do gnero Quercus por exemplo (Abrahamson e Layne, 2003). A manuteno de bancos de sementes ainda comum a vrias espcies de arbustos como o caso dos gneros Cistus e Lavandula. No entanto, no caso dos exemplos referidos o banco de sementes mantido ao nvel do solo e no na copa. O resultado em termos de colonizao da rea recentemente queimada semelhante, dando igualmente origem a uma grande densidade de plntulas, que aproveitam o espao criado pelo fogo, para crescer em aper tada competio entre si. Para que tal possa ac ontecer necessrio que o fogo exera um estmulo sobre as sementes depositadas no solo ao longo d os anos, quebrando a sua d ormncia e permitindo a germinao.
Relao entre a germinao e o fogo
Devido ao facto de serem estruturas com uma actividade essencialmente latente em t ermos fisiolgicos, as sement es apresentam naturalmente uma tolerncia elevada ao calor (Whelan, 1995). Mesmo sementes c om um t egumento pouc o espesso c omo as g landes de algumas Fagceas, podem suportar temperaturas de 150 C durante alguns minutos (Reyes e Casal, 2006). No entanto a resistncia das sementes ao calor muito varivel, dependendo no s das caractersticas do tegumento, com das caractersticas do prprio fruto. Para alm destas formas de isolamento h a contar com o isolamento proporcionado pelo solo, dado que muitas sementes so enterradas por animais. Neste caso uma maior profundidade de enterramento das sementes poder ser vantajosa, sobretudo se pensarmos que as sementes que permanecem na folhada dificilmente resistem passagem do fogo. No entanto, para todas as plantas, a partir de uma certa profundidade h um declnio acentuado nas taxas de germinao (Whelan, 1995) independentemente da oc orrncia ou no de fogo . A questo da sobrevivncia ao fogo t orna-se ainda mais c omplexa se adicionarmos a questo da dur ao do aquecimento. De fact o a sobr evivncia de uma semente ao fogo , tal como acontece com os tecidos vivos do tronco de uma rvore, o resultado de uma combinao temperatura/durao do aquecimento, ambas as variveis contribuindo directamente para o aumento da mortalidade das sementes (e.g. Bell e Williams, 1998). J no que diz
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respeito proteco proporcionada pelos frutos h que referir, de entre os grupos de espcies arbreas com maior relevncia, as espcies do gnero Pinus, atravs das brcteas das pinhas e as espcies do gnero Eucalyptus, atravs da proteco proporcionada pelas cpsulas que constituem o fruto destas espcies (Whelan, 1995). Um aspecto to ou mais bem mais estudado que o papel do calor na destruio das sementes, tem a ver com o papel do fogo como factor de estimulao da germinao. Esta estimulao pode fazer-se directamente atravs do calor que atinge as sement es, ou indirectamente atravs do calor que atinge os fr utos, permitindo ou facilitando a sua deiscncia (Gonzlez-Rabanal e Casal, 1995; Izhaki et al., 2000; Clarke e French, 2005). Para alm do calor , so apontados out ros factores que podero contribuir para estimular a ger minao, nomeadamente: o fumo (e.g . Reyes e Trabaud, 2009), a concentrao de nitratos (e.g. Bell et al., 1999) e a exposio luz (e.g. Luna e Moreno, 2009). Em todo o caso, importante ter em conta que os estmulos que permitem quebrar a dormncia das sementes de pouco servem se no esti verem reunidas as condies ambientais necessrias germinao. De referir que o estudo dos mecanismos que permitem o estimulo da germinao das sementes aps o fogo, tem sido das reas mais prolficas em t ermos de t rabalhos publicados, existindo uma enorme quantidade de artigos cientficos relativos a comunidades de plantas de diversas regies do Planeta.
Condies ambientais de germinao
As diferentes espcies esto adaptadas a diferentes condies ptimas de ger minao. Muitos aut ores tm estabelecid o uma r elao est reita entre a capacidade das diferentes espcies para regenerar vegetativamente e as condies ptimas de germinao. As espcies que no tm capacidade de regenerao vegetativa dependem exclusivamente da produo de sementes para assegurar a continuidade da espcie, pelo que so designadas como espcies de regenerao obrigatria por semente (obligate seeders). Nestas espcies tudo se passa de modo a que possam completar o seu ciclo de vida, incluindo a produo de sementes, antes da chegada do prximo fogo. Neste grupo incluem-se todas as espcies cujos indivduos geralmente morrem aps a ocorrncia do fogo e que, como tal, esto completamente dependentes da regenerao por via seminal para poder assegurar a sua
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continuidade. Deste modo, o in vestimento faz-se pr eferencialmente na parte area, em detrimento do desenvolvimento das razes, dando normalmente origem a relaes raz/parte area (biomassa) mais baixas (Figura 4). Dado apenas poderem aceder a camadas de solo sujeitas a uma int ensa secura durante os meses de Vero, estas plantas necessitam de adaptaes estruturais de defesa contra a secura, no sentido de evitar ao mximo as perdas de gua, de forma a manter o seu equilbrio hdrico. Deste modo, as espcies de r egenerao obr igatria por sement e exibem frequentemente indumento nas folhas, menor rea foliar, produo de leos volteis, cutcula e mesfilo mais espessos e um mais eficient controlo estomtico e (Keeley, 1986). Estas espcies tm t endncia a d ominar em z onas mais secas e menos fr teis e em fases pouc o evoludas da sucesso ecolgica, sendo frequentemente associadas a matos baixos e dispersos (Margaris, 1981). Dad o o int enso r ecrutamento que oc orre sempr e que est ejam reunidas as condies necessrias germinao, nomeadamente o calor proporcionado pelo fogo ou a simples abertura de clareiras, estas espcies so normalmente conotadas com a estratgia r (Reyes, 1996; Daz Barradas et al., 1999) no mbit o da classificao de M acArthur & Wilson (1967) para as estratgias populacionais. De entre as espcies que ocorrem no nosso pas so importantes representantes deste grupo, as plantas dos gneros Cistus, Lavandula, Rosmarinus e Halimium.
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FIGURA
Imagens incluindo a raiz e a parte area de uma espcie (a) de regenerao obrigatria por semente (Lavandula luisieri) e de (b) uma espcie de regenerao vegetativa (Erica scoparia). As escalas representam 0.5 m.
J as espcies com capacidade de regenerao vegetativa esto frequentemente associadas a etapas mais avanadas da sucesso, nomeadamente a matagais altos e apenas regeneram por semente quando esto reunidas condies ambientais mais favorveis germinao e ao crescimento das plntulas (Silva e Rego, 1998b). O recrutamento feito de forma gradual dando origem a baixas densidades de plntulas (Clement e et al., 1996; Silva e Rego, 1998a). Dadas estas car actersticas, nor mal referir estas espcies como estrategas k. Ao nvel das espcies existentes em Portugal so includas neste grupo quase todas as espcies normalmente apontadas como dominantes das formaes climcicas referidas para o nosso pas, nomeadamente os gneros Quercus, Arbutus, Pistacia, Rhamnus, Viburnum, Phyllirea e Laurus, entre outros.
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No entanto existem numerosas espcies que, muito embora estando obrigatoriamente incl udas n uma das duas cat egorias r eferidas, no correspondem minimamente ao padro de caractersticas descrito. Da a necessidade constatada por vrios autores de identificar sub-grupos que tivessem um nmero mnimo de semelhanas funcionais nomeadamente no que t oca s adaptaes ao fogo . De ent re as diferentes classificaes salientamos o modelo proposto por Pausas (1999) o qual simplesmente sub-divide os d ois grupos de ac ordo com a e xistncia ou no de um recrutamento de plntulas dir ectamente favorecido pelo fogo , dando assim origem a quatro categorias distintas. Nas condies do nosso pas impor ta ter em c onta vrias espcies exticas devido sua capacidade de regenerao por semente aps o fogo, nomeadamente as espcies do gner o Acacia e Eucalyptus (Marchante et al., 2009). Devido ausncia de pr agas, espcies consumidoras e de competidores natur ais, estas espcies quand o ger minam aps o fogo apresentam vantagens competitivas relativamente restante vegetao nativa. Estas car actersticas so c omplementadas por uma ele vada rusticidade, por uma ele vada taxa de cr escimento e por uma ele vada resilincia ao corte e ao fogo. No caso do gnero Acacia existem evidncias experimentais quanto estimulao da ger minao por aco d o calor proporcionado pelo fogo (Auld e Oconnell, 1991) o que faz com que possa existir um elevado recrutamento de plntulas nas reas queimadas. J no que t oca ao gner o Eucalyptus e em par ticular espcie Eucalyptus globulus, apesar das evidncias quanto ao aparecimento de plntulas em reas queimadas, no h e vidncias quant o e xistncia de um efeit o positivo do calor sobre a germinao das sementes (Reyes e Casal, 2001). H antes indcios de que a libertao das sementes poder ser facilitada por fogos de copas e que a sua disseminao poder ser pot nciada atravs do e transporte de ramos e cpsulas pelas correntes de conveco (Carr, 1974; Kirkpatrick, 1977). Os pouc os t rabalhos publicados sobr e o assunt o, apontam par a a ine xistncia de banc os de sement es no solo e par a a preferncia pela germinao em solos minerais, sem vegetao (Vivian et al., 2008). Deste modo possvel igualmente uma disperso a maior es distncias at ravs d o ar rastamento pela gua ao longo de r egos de escoamento superficial ou devido a fenmenos de fluxo laminar. Caso no existam estas formas de transporte, a regenerao dever circunscrever-se
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a alguns metros em volta das rvores me, e em funo da sua altura (Potts, 1990; Virtue e Melland, 2003). Em todo o caso de ve referir-se a g rande lacuna de conhecimento a este respeito para o nosso pas. De acordo com trabalhos actualmente em curso h observaes de regenerao de eucalipto em reas queimadas a mais de 150 m d o semento mais prximo, o que pode indiciar um potencial de disseminao de sementes superior ao referido pela literatura disponvel at agora. 4. Variabilidade e incerteza nos padres de sucesso ecolgica aps fogo O conceito clssico de sucesso ecolgica como um processo mais ou menos linear de evoluo da vegetao em direco a um estdio climcico estvel, tem vindo a ser substitudo pela ideia de que esse pr ocesso pode ser bastante mais complexo. Podem assim ocorrer mltiplas alternativas nunca se ating indo um estdio v erdadeiramente estvel devido oc orrncia de per turbaes de natur eza di versa (C hristensen, 1988) incluindo o fogo (Cattelino et al., 1979). Tambm o conceito de vegetao natural potencial para um dado local tem vindo a ser contestado igualmente devido instabilidade dos ecossistemas, que torna difcil conhecer o resultado da sucesso ecolgica, sobretudo em regies sujeitas a perturbaes recorrentes desde tempos remotos (Chiarucci et al., 2010), como o caso de Portugal. Deste modo, aps a passagem de um incndio o de, senvolvimento da v egetao nas nossas c ondies segue um per curso que depende de mltiplos factores e que, por esse motivo, no fcil de prever com exactido. De entre estes factores importa referir o regime de fogo, as caractersticas da vegetao antes do fogo e as caractersticas edafo-climticas do local. No que t oca ao r egime de fogo h sobr etudo a t er em c onta duas variveis com uma r elao sensivelmente inversa (Whelan, 1995; Bond e Keeley, 2005): a intensidade do fogo e a sua fr equncia. A intensidade do fogo determina, como vimos anteriormente neste captulo, a probabilidade de mor talidade de for ma diferenciada para diferentes espcies e para diferentes fases de desenvolvimento. Deste modo as caractersticas do fogo podem actuar c omo um mecanismo selecti vo que infl uencia a futura composio da comunidade nas reas queimadas (Bond e Keeley,
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2005). Em fogos de baixa int ensidade podemos t er uma muit o baixa mortalidade da vegetao arbrea, sendo apenas afectada a vegetao do sub-coberto. Pelo contrrio, em fogos de c opas de ele vada intensidade, podemos ter alteraes ao nvel de toda a comunidade de plantas, o que pode implicar a substituio d o tipo de floresta anterior por um out ro diferente (e.g. Broncano et al., 2005). Tal pode ac ontecer, quer por que surgem novas espcies dominantes, tpicas de estdios mais precoces do processo de suc esso ec olgica, quer por que o fogo t em um efeit o de seleco ao eliminar algumas espcies, permitindo a continuidade de outras. Dois exemplos tpicos do nosso Pas so o sobr eiro e o pinheir o-bravo, ambos apontados como exemplos de seleco pelo fogo (C arrin et al., 2000; Fernandes e Rigolot, 2007), devido s caractersticas do ritidoma que permitem a sobrevivncia a elevadas temperaturas e, no caso do pinheiro-bravo, devido facilidade de colonizao de reas queimadas atravs da disperso das sementes. No entanto, em regimes de fogo que combinam simultaneamente uma ele vada int ensidade, de vido ele vada carga de combustvel, e uma ele vada frequncia de or igem antropognica, o pinheiro-bravo perde a sua c ompetitividade devido impossibilidade de refazer o banco de sementes das copas (Fernandes e Rigolot, 2007) o que pode ditar o se u desapar ecimento d o pr ocesso de suc esso ec olgica. O desaparecimento mais provvel ainda para as espcies que no apresentam mecanismos evidentes de adaptao ao fogo, tais como as espcies do gnero Juniperus (Lloret e Vil, 2003). Por outro lado existem evidncias que apontam para uma perda da capacidade de resilincia da vegetao para regimes de fogo com elevada frequncia, sobretudo nas zonas com menor produtividade (e.g. Delitti et al., 2005). As car actersticas da v egetao ant es d o fogo assumem uma importncia fundamental na medida em que determinam o seu potencial regenerativo quer em termos de composio quer em termos de taxa de crescimento. No entanto em reas de vegetao com caractersticas distintas (diferentes usos do solo ou diferentes estdios de desenvolvimento) mas partilhando as mesmas caractersticas de solo e clima, o fogo pode provocar uma homogeneizao da paisagem dando origem ao reincio da sucesso a partir de fitocenoses arbustivas com caractersticas semelhantes (Lloret e Vil, 2003; Accio et al., 2009; Loepfe et al., 2010). Apesar de tud o diferentes autores tm reportado o papel fundamental das caractersticas
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da vegetao antes do fogo na suc esso ecolgica, na medida em que a composio da comunidade de plantas que surge aps o fogo depende da regenerao vegetativa e do banco de sementes associados s espcies previamente existentes (Trabaud e Lepart, 1980; Guo, 2001; Capitanio e Carcaillet, 2008). As caractersticas do solo e d o clima locais tm um papel igualment e importante no percurso da vegetao aps um fogo. Essa influncia faz-se sentir directamente no desenvolvimento da vegetao, na medida em que aquelas car actersticas det erminam o nv el d os fact ores limitant es d o crescimento vegetal, sobretudo a gua, a temperatura e os nutrientes para as regies de influncia mediterrnica. Deste modo o resultado da sucesso pode ser sig nificativamente diferente para diferentes condies de clima, quer no que diz respeito ao desenvolvimento global da vegetao aps fogo (Rder et al., 2008) quer no que diz respeito seleco de espcies devido influncia diferenciada que exercida sobre diferentes grupos de plantas (Prieto et al., 2009). Estas consideraes so igualmente vlidas par a as condies edficas. Factores inevitavelmente inter-relacionados como a profundidade do solo, o teor mdio de humidade ou o tipo de rocha-me, so determinantes no potencial de crescimento assim como no elenco de espcies e na diversidade da vegetao que surge aps um incndio (K eeley et al., 2005; Baeza et al., 2007; Capitanio e Carcaillet, 2008). Apesar da ele vada variabilidade associada ao per curso da vegetao aps o fogo, existem alguns padres mais ou menos comuns que importa referir. Um deles prende-se com a evoluo da diversidade vegetal. A este respeito vrios autores referem um aumento temporrio da diversidade, durante os 1-3 anos que se seguem imediatament e ao fogo (G uo, 2001; Keeley et al., 2005; Capitanio e Carcaillet, 2008) dada a reduzida competio entre as plantas na rea recentemente queimada. No entanto este padro fortemente influenciado por factores locais assim como pelo tipo de plantas previamente existentes, nomeadamente quanto s estratgias regenerativas aps o fogo (Keeley et al., 2005). Um outro padro sensivelmente comum prende-se com o crescimento da vegetao o qual, apesar de se processar a diferentes taxas dependendo da produtividade da estao e das estratgias regenerativas envolvidas, pode ser razoavelmente representado por uma curva exponencial tendencialmente assimpttica ( Viedma et al., 1997; Rder et al., 2008). No caso de o crescimento ser essencialmente o resultado
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da contribuio de plantas com regenerao vegetativa vigorosa como o caso do carrasco (Quercus coccifera), a taxa de recuperao da vegetao pode ser particularmente elevada nos primeiros anos aps fogo. (Clemente et al., 1996; Delitti et al., 2005). Podemos ainda referir a existncia de padres quanto sucesso de plantas, de acordo com o seu tipo fisionmico, taxonmico ou regenerativo. A este respeito tm sido estabelecidos modelos genricos de sucesso utilizando as estratgias regenerativas aps fogo (ver a seco 3 neste captulo). Notavelmente estes modelos apresentam caractersticas comuns s diferentes regies com clima mediterrnico do Planeta, apesar de en volverem espcies filogeneticamente distantes entre si (Keeley, 1986). Em Portugal so praticamente inexistentes os estudos de longa durao sobre a sucesso da vegetao aps fogo. Existem no entanto informaes razoavelmente consistentes sobre a evoluo da vegetao no curto prazo em que intervm espcies com e sem capacidade de regenerao vegetativa assim como espcies com e sem recrutamento estimulado pelo fogo. Num estudo na Ser ra da Arrbida, Clemente et al. (1996) v erificaram uma colonizao inicial de plantas her bceas e de plantas de r egenerao obrigatria por sement e (Cistus sp.) nos pr imeiros anos aps o fogo , simultaneamente com uma rebentao vigorosa de car rasco (Quercus coccifera). Aps esse perodo inicial o carrasco passou a dominar a estao o que implicou o desaparecimento dos outros dois grupos de plantas. Resultados semelhant es for am obtid os por S ilva e R ego (1997) em estudos realizados nas Serras da Malcata e de Candeeiros. Atravs de uma abordagem sincrnica foi possvel determinar a abundncia de regenerao seminal ao longo de trs etapas da sucesso ecolgica (Figura 5). Em ambos os locais de estud o, verificou-se um aument o d o estabelecimento de novos indivduos das espcies mais exigentes em termos de gua e de solo (medronheiro, gilbardeira, carrasco), todas elas com capacidade de regenerao vegetativa. Pelo contrrio as espcies c om elevada capacidade inicial de c olonizao (nomeadamente Cistceas e alecr im) foram perdendo essa capacidade nas etapas mais avanadas.
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MALCATA
FREQUNCIA RELATIVA
0.8
0.6
0.4
0.2
0
B1 Halimium lasianthum Halimium ocymoides Pinus pinaster B2
ESTDIOS DA SUCESSO
1 CANDEEIROS 0.8
FREQUNCIA RELATIVA
0.6
0.4
0.2
R
Ruscus aculeatus Quercus coccifera
FIGURA
Variao na frequncia relativa de plntulas (regenerao seminal) ao longo de 3 es tdios da sucesso. Espcies de regenerao exclusiva por semente so representadas por linhas a negrito. B1 vegetao com 1-3 anos; B2 v egetao com 3-10 anos; R v egetao com mais de 10 anos. A vegetao com 3 anos foi associada aos estdios B1 ou B2 em funo do grau de coberto e da altura mdia.
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No entanto depois de se atingir a fase de matagal poder existir o que podemos designar como um impasse ecolgico, devido a constrangimentos de ordem diversa relacionados com a dificuldade de passagem ao estdio de floresta. Este foi o r esultado encontrado por Accio et al. (2007) em estevais da Serra do Caldeiro no Algarve, onde se verificou a dificuldade de regenerao da floresta natural de sobreiro, devido a constrangimentos relacionados com: a disponibilidade de sementes, a disperso de sementes, a germinao de sementes e o recrutamento de plantas. Um outro factor de incerteza, j referido anteriormente prende-se com a presena de espcies lenhosas exticas. Dado o elevado potencial de regenerao e cr escimento de algumas destas espcies (nomeadament e os gneros Acacia, Eucalyptus e Ailanthus), a recuperao da vegetao nativa aps fogo pode encontrar dificuldades acrescidas e o padro de sucesso ser consideravelmente alterado. A elevada ocorrncia de fogo em algumas regies do nosso pas poder estar a contribuir para agravar esta situao na medida em que estas espcies podem tirar vantagens competitivas deste tipo de per turbaes tal como referido por diversos autores, relativamente a out ras regies. (e.g. Crawford et al., 2001; Brooks et al., 2004). Resta lembrar que os conhecimentos a este respeito em Portugal so ainda essencialmente de natureza emprica, pelo que urge conseguir um maior nvel de infor mao sobr e o papel das espcies e xticas na suc esso ecolgica aps o fogo, para as condies do nosso pas.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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EFEITOS DO FOGO
IV.
1. Introduo 2. A importncia do regime de fogo e das caractersticas biolgicas das espcies 3. Efeitos do fogo na fauna a curto-prazo
3.1. Mortalidade e ferimentos 3.2. Fuga 3.3. Atraco
5. Mtodos para avaliar o impacto do fogo sobre a fauna 6. Notas finais: implicaes para a gesto
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1. Introduo Na Regio Mediterrnica o fogo constitui uma perturbao ancestral associada s car actersticas climticas desta r egio e for te presena humana ao longo de milhares de anos. Est, por isso, intimamente ligado dinmica dos ecossistemas (e.g. Blondel e Aronson, 1998). A aco do fogo sobre as comunidades animais e vegetais durante milhes de anos constituiu assim, independentemente da sua origem (natural ou humana), no s um importante factor ecolgico mas tambm uma fora evolutiva que ter influenciado e moldado estas comunidades. No entanto, se em relao s plantas mediterrnicas existe j bastante informao sobre as suas adaptaes ao fogo, em relao aos animais so ainda escassos os e xemplos de tais adaptaes, existindo, inclusivamente, alguma controvrsia sobre a ideia de adaptao exclusivamente devida ao fogo (e.g. Whelan, 1995). Os efeitos do fogo sobr e a fauna so nor malmente agrupados relativamente sua dimenso temporal. A diviso mais comum separa os efeitos de curto-prazo, tambm denominados de efeitos directos, imediatos ou agudos, dos efeitos de mdio/longo-prazo, tambm denominados de efeitos indirectos ou crnicos (Figura 1).
FOGO
(curto prazo) EFEITOS DIRECTOS (mdio/longo prazo) EFEITOS INDIRECTOS
MORTALIDADE
-FERIMENTOS
MOVIMENTOS
FUGA
+
ATRACO
FIGURA
Quadro-resumo dos efeitos directos e indirectos do fogo sobre a fauna. Est igualmente assinalada a direco dos impactos sobre as populaes, positivos (+) ou negativos (-). A espessura das setas proporcional magnitude do impacto.
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Os efeit os de cur to-prazo oc orrem dur ante a fase de c ombusto propriamente dita e dur ante a fase de c hoque ps-fogo, podendo esta ltima durar at algumas semanas ou meses aps o fogo Por seu lado, os . efeitos de mdio-longo pr azo correspondem fase de r ecuperao e podem fazer-se sentir ao longo de vrios anos aps o fogo. 2. A importncia do regime de fogo e das caractersticas biolgicas das espcies O r egime d o fogo c onstitui, pr ovavelmente o fact or c om maior influncia no efeito do fogo sobre a fauna (Figura 2). Este regime pode ser caracterizado at ravs de uma sr ie de var iveis c omo se jam a sua intensidade, frequncia, poca do ano, forma, extenso, heterogeneidade, velocidade de propagao, etc., que se iro reflectir no grau de severidade sobre as populaes animais. A importncia da frequncia de incndios sobre a fauna b via; incndios frequentes podem alterar permanentemente a v egetao (e.g . de flor esta par a mat os) e assim t er efeit os permanentes nas comunidades animais originais.
POCA DO ANO
FREQUNCIA
VELOCIDADE PROPAGAO
INTENSIDADE
FIGURA
O regime de fogo, em particular a poca, frequncia, intensidade, velocidade de propagao e dimenso da r ardida, vo reflectir-se na severidade sobre as populaes animais. ea
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Relativamente intensidade, incndios de elevada intensidade podem destruir totalmente o habitat e aliment o de uma espcie, mas aps um incndio de baixa intensidade podem permanecer parcelas no ardidas de vegetao que servem de refgio para a fauna (Figura 3). Para alm disso, incndios de maior intensidade provocam maiores ndices de mortalidade nos indivduos abrigados ou enterrados no interior da rea ardida devido maior temperatura que atingem (e.g . Prodon, 2000). Bellido (1987), num estudo sobre a mortalidade de invertebrados do solo aps fogos de diferentes intensidades numa zona de mato, observou mortalidade nula com baixas intensidades, e mortalidade de todos os invertebrados at 1cm de profundidade no fogo mais intenso. A dimenso da rea ardida outro factor importante uma vez que det ermina a distncia que animais tm para dispersar quer antes do fogo, quer aps o fogo. A poca do ano em que ocorre o incndio pode tambm determinar o grau de afectao da fauna. Um incndio de pr imavera que ocorra durante a poca de nidificao de uma espcie de ave, em particular nas espcies que nidificam em arbustos ou no solo, ter muito maior impacto do que um incndio de outono, quando j no h ninhos, ovos ou crias no voadoras.
b
FIGURA
Importncia da se veridade do f ogo na f auna. C omparativamente c om uma r ea no ardida (a), um incndio de ele vada severidade destruir toda a vegetao presente (b), enquanto que um incndio de baix severidade permitir que manchas de v a egetao no ardidas permaneam no interior da rea queimada (c). Estas manchas constituem refgio e reas de alimentao da fauna.
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Este factor pode ser par ticularmente importante no actual contexto de alteraes climticas que podem ant ecipar a poca de oc orrncia de incndios para o incio da Primavera. Por exemplo, no caso da perdiz vermelha (Alectoris rufa), uma ave residente de elevado interesse cinegtico, verifica-se que a actual poca de incndios que se concentra entre os meses de Junho e Outubro coincide nalgumas reas com a poca de ocorrncia de crias no voadoras ou de jo vens voadores, o que c onduz, inevitavelmente, ao aumento da taxa de mortalidade sobre esta espcie. Alm disso, de acordo com os cenrios climticos futuros, a tendncia ser par a a poca de fogos se estender no tempo (por exemplo de Abril a Novembro) e agravar ainda mais a situao, ao sobrepor-se com o perodo de incubao da espcie. A poca do fogo pode tambm influenciar os nveis de mortalidade nos pequenos mamferos (sobretudo roedores); so de esperar maiores nveis de mortalidade se os fogos coincidirem com as suas estaes reprodutoras, devido destruio dos seus ninhos e crias. Outro tipo de fact ores que infl uenciam o efeit o do fogo na fauna dizem respeito s car actersticas biolgicas das espcies incl uindo os seus hbitos comportamentais, o seu grau de especializao em termos de habitat, a sua posio na cadeia t rfica, a sua capacidade de disperso , etc. por isso de esperar que existam diferenas no efeito do fogo sobre diferentes grupos de fauna (e.g . mamferos e a ves), ou at, dentro do mesmo grupo faunstico, entre espcies com diferentes caractersticas biolgicas ou que ocupam difer entes nichos ecolgicos (e.g . espcies arborcolas versus espcies fossor iais). Espcies c om carc ter mais especialista tendero tambm a sofrer mais impacto do fogo relativamente a espcies mais gener alistas, se o habitat ou aliment o no qual se especializaram se reduzir ou simplesmente desaparecer. Friend (1993) efectuou uma reviso sobre a resposta ao fogo de pequenos vertebrados (mamferos, rpteis e anfbios) em 2 habitats da Austrlia temperada e encontrou r espostas c oncordantes em espcies c om r equerimentos semelhantes em termos de abrigo, alimento e reproduo, sugerindo que o impacto do fogo nestas espcies podia pr ever-se a par tir destes seus requerimentos ecolgicos.
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3. Efeitos do fogo na fauna a curto-prazo Os efeitos do fogo na fauna fazem-se sentir de forma directa e imediata (Figura 1) e so essencialmente observados ao nvel do indivduo. O efeito mais importante de curto-prazo a mortalidade. Para alm desta, o fogo pode tambm provocar ferimentos ou levar os animais a efectuar movimentaes, que podem variar de simples fugas s chamas, at movimentos de emigrao ou imigrao de maior amplitude. Estes efeitos so geralmente avaliados a partir de estudos/observaes efectuadas durante o fogo ou at algumas semanas ou meses aps o fogo.
3.1. Mortalidade e ferimentos
A mortalidade constitui o impacto negativo mais bvio sobre as populaes animais. A estimativa da mortalidade devida ao fogo , no entanto, uma tarefa complexa. Os trabalhos cientficos que envolvem a observao directa e contabilizao de cadveres carbonizados em reas ardidas so muito escassos, e no existem para a regio da Bacia Mediterrnica. Apesar disso, os resultados disponveis sugerem que, ao contrrio do que se poderia pensar, os efeitos de mortalidade e ferimentos atingem geralmente uma pequena proporo das po pulaes afectadas pelo fogo. A maioria dos animais parece resistir, quer fugindo, quer encontrando abrigos no interior da rea ardida. H no entanto excepes; Hemsley (1967) e Wegener (1984) encontraram milhares de cadveres de aves carbonizados, pertencentes a cerca de 60 espcies diferentes, em duas regies da Austrlia. Apesar dos nmeros envolvidos, a ausncia de out ros registos de mor talidade de adultos faz supor que estes fenmenos devero ser muito pouco frequentes e ocorrer apenas em circunstncias excepcionais. A morte de mamferos de grande porte ocorre normalmente associada a fogos de grande dimenso, de elevada velocidade de propagao e que produzem espessas cortinas de fumo. De facto a asfixia (por inalao de fumo) parece ser a principal causa de morte para estas espcies nestas circunstncias (Singer e Schullery, 1989). A morte por asfixia no , no entanto, exclusiva deste grupo, tendo sido igualmente registada em mamferos de pequena dimenso que se refugiaram em abrigos no interior da rea ardida. As caractersticas biolgicas das espcies, a disponibilidade de refgios, e o regime de fogo, particularmente a intensidade e poca do fogo, mas
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tambm a sua dimenso, uniformidade, velocidade de propagao e durao, parecem ser os factores determinantes nos nveis de mortalidade e ferimentos observados. Em relao ao regime de fogo pode dizer-se, genericamente, que fogos mais intensos, mais unifor mes, e com maior velocidade de propagao tendem a estar associados a nveis de mortalidade mais elevados. No que r espeita s car actersticas biolg icas, os efeit os negati vos tendem a ser de menor importncia em animais com maior capacidade de deslocao (e.g. aves, artrpodes alados, mamferos de grande porte) ou nos que vivem enterrados no solo ou em tocas (e.g. invertebrados do solo, algumas espcies de micr omamferos), sendo que os animais c om menor mobilidade e que vivem na superfcie do solo tendem a ser mais afectados (e.g. determinados invertebrados, rpteis, anfbios e micr omamferos). As aves apresentam em geral grande capacidade de deslocao e , nas fases de cria e de juvenil no voador que o risco de mortalidade pelo fogo mais ele vado. Os mamferos apresentam, relativamente s aves, uma menor capacidade de deslocao e assim as est atgias relativas r procura de abrigos assumem maior impor tncia. No caso dos micromamferos, h uma tendncia para evitarem o fogo usando refgios no interior da rea ardida, utilizando para isso os seus abrigos habituais (e.g. buracos, tocas, tneis subterrneos, etc.) ou outros que entretanto encontrem, ou utilizando manchas de vegetao no ardida ou onde o fogo foi menos intenso (e.g. zonas de vegetao mais hmida). Assim, de esperar que neste grupo o fogo possa ter mais impacto nas espcies que utilizam abrigos mais junto super fcie, relativamente s espcies que utilizam abrigos subterrneos, como constatou Simons (1991). Os mamferos de maiores dimenses procuram geralmente locais seguros em parcelas no ardidas no int erior da r ea ardida ou pr eferencialmente for a da r ea ardida, o que diminui consideravelmente o seu risco de morte. Os ar trpodes t errestres apr esentam uma g rande di versidade de caractersticas biolgicas que dificultam a definio de um padro tpic o nos seus nv eis de mor talidade. As difer entes espcies de ar trpodes terrestres diferem nos seus ciclos de vida e podem ocorrer em diferentes estdios (imaturos ou maturo) quando o fogo se inicia. Para alm disso tambm diferem na sua capacidade de locomoo (e.g. voadores vs. no-voadores) e na seleco de micr o-habitats (e.g . solo mais ou menos
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profundo, superfcie do solo, vegetao). Estes factores interagem ainda com o regime de fogo, o que faz com que os nveis de mortalidade neste grupo sejam muito variveis. Por exemplo, Bock e Bock (1991) obser varam uma r eduo de 60% na abundncia c ombinada de adult os e ninfas de gafanhotos aps um fogo int enso numa pradaria do Arizona. Em c ontrapartida, E vans (1988) r eporta valor es de mor talidade de gafanhotos m uito r eduzidos aps fogo c ontrolado pr imaveril n uma pradaria no K ansas (E.U .A.), por que a maior ia das espcies oc orria apenas no estad o de ovo (enterrado) durante a poca d o fogo. Para os artrpodes com menor capacidade de locomoo h uma tendncia para aqueles que vivem enterrados no solo sofrerem menos impactos do que aqueles que v ivem sua super fcie ou sobre a vegetao (Prodon et al., 1987). Durante as pocas mais secas (e.g . o Vero na regio mediterrnica) alguns g rupos e espcies de in vertebrados do solo tm t endncia para se refugiar em zonas mais profundas do solo onde existe maior teor de humidade, podendo mesmo estivar ou entrar em diapausa, sendo de esperar, por isso, que fogos nestas pocas possam causar menores nveis de mortalidade nestas espcies (Prodon et al., 1989). Em relao her petofauna, existem poucos registos de mor te ou ferimento induzidos pelo fogo, ainda que muitos destas espcies, particularmente os anfbios, apresentem uma mobilidade limitada (Russel et al., 1999). Em relao a estes possvel que o facto de ocuparem normalmente habitats ou micro-habitats aquticos ou com razovel grau de humidade, e que por tanto ar dem menos, possa c ontribuir par a est es r esultados (Russel et al., 1999). Para alm disso a principal poca de fogos na regio mediterrnica o Vero coincide com a poca em que vr ias espcies de anfbios se encontram em perodo de letargia (estivao) face reduzida humidade atmosfrica e temperaturas elevadas. Nesta poca os indivduos adultos refugiam-se normalmente perto de gua ou em cavidades no solo, debaixo de pedr as, etc., aumentando assim as suas hipt eses de sobrevivncia face ao fogo. Esse efeito estar dependente, no entanto, do grau de proteco do seu abrigo e da intensidade do fogo, sendo de esperar que abrigos mais profundos e hmidos, e fogos menos intensos aumentaro as suas probabilidades de sobrevivncia. Por outro lado, fogos controlados realizados a seguir s primeiras chuvas outonais, embora de baixa intensidade, podem, eventualmente, causar alguma mortalidade, por coincidirem
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com uma das pocas de maior actividade deste grupo (Bury et al., 2002). Os rpteis, ao contrrio dos anfbios, encontram-se normalmente activos nos meses de maior calor, que coincidem com o perodo de fogos. A utilizao de cavidades constitui a sua principal defesa em relao passagem do fogo, sendo tambm de prever que as espcies que utilizam abrigos com alguma profundidade sejam menos afectadas. Por outro lado, apresentam algumas vantagens em relao aos anfbios como uma capacidade de locomoo ligeiramente superior, que nalguns casos lhes permitir fugir frente da linha de fogo, e uma pele mais seca e escamosa,e portanto mais preparada para resistir dessecao.
3.2. Fuga
Outra das respostas mais frequentes dos animais ao fogo a fuga desses locais assim que o fogo detectado. Muitas espcies voltam rapidamente rea ardida depois do fogo, outras podem abandonar a rea durante perodos superiores (at 1 a 2 anos) e algumas podem mesmo no r gressar. e De um modo geral, pode dizer-se que os diferentes padres de comportamento de fuga ou emig rao observados dependem no imediat o da capacidade de locomoo dos vrios grupos e espcies, mas pr incipalmente da intensidade do fogo e, particularmente, do grau de alterao/ destruio do habitat e/ou recursos alimentares produzido e do perodo de t empo que est es le vam a r ecuperar. Est e perod o de r egenerao obviamente muito varivel, uma vez que depende das caractersticas do fogo, das condies locais, como sejam as condies edficas e de humidade, e tambm da variao climtica aps o fogo. A forma e uniformidade do fogo podem tambm infl uenciar estes comportamentos para algumas espcies, uma vez que dur ante o perod o de ausncia da r ea ardida, as manchas de vegetao no ardida quer no interior da rea ardida, quer fora, so fortemente seleccionadas como locais de refgio das chamas e muitas vezes como locais de permanncia at regenerao do seu habitat. A maioria das aves abandonam o seu habitat enquanto est a ar der para evitar ferimentos mas muitas regressam aps algumas horas ou dias. O seu regresso pode estar relacionado com as reduzidas alteraes estruturais no habitat (e.g . a ves flor estais r elativamente a fogo de baixa intensidade), com o aproveitamento da alt erao do habitat produzida pelo fogo, ou pur a e simplesmente devido sua fidelidade r ea (site
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fidelity). Este efeito comportamental de site fidelity, relacionado com a associao das aves sua rea vital e locais de alimentao familiares, tem sido evocado por vrios autores para justificar a per manncia de certas espcies de aves em r eas onde o se u habitat foi bastant e alterado pelo fogo e, nalguns casos, a sua adaptao a essas no vas circunstncias (e.g. Pons, 1998). Para outras espcies de aves, no entanto, o abandono pode ser mais alargado ou mesmo definitivo devido ao facto do habitat j no providenciar a estrutura ou o alimento que requerem para sobreviver e se reproduzirem. Izhaki e Adar (1997), por exemplo, estudando a sucesso da comunidade de aves no-reprodutoras num pinhal ardido em Israel, referem o abandono da r ea por par te de algumas espcies dur ante os primeiros dois anos aps o fogo e o seu progressivo regresso no perodo de 3 a 5 anos ps-fogo. Relativamente aos mamferos, os animais de grande porte e de grande mobilidade par ecem ser capaz es de se mo verem r apidamente par a manchas de habitat no queimado, preferencialmente fora da rea ardida. Existem tambm observaes de movimentaes de grandes mamferos atravs a linha de fogo par a reas j ar didas (e.g. Christensen, 1980). O c omportamento t erritorial ou a familiar idade c om as r eas que entretanto ar deram tm sid o apontad os c omo uma das possv eis explicaes para este fenmeno. Os micromamferos tendem a procurar refgio no interior da rea ardida, por exemplo em zonas de vegetao que no arderam, e a tentar sobreviver passagem fogo. Newsome et al. (1975), por exemplo, reportam a ocorrncia de micromamferos aps fogo em manchas de vegetao mais hmida associada a linhas de gua, e por tanto no ar dida, e La wrence (1966) r egistou tambm a sobr evivncia de micromamferos em arrifes rochosos no interior de uma zona de mato (chaparral) percorrida por um fogo . Logo aps o fogo m uitas espcies de micromamferos tambm podem abandonar as reas ardidas. As r azes apontadas par a esse fenmeno incl uem a dimin uio da proteco contra predadores, diminuio da disponibilidade de alimento e maior interaco entre indivduos (Vacanti e Geluso, 1985). O perodo de ausncia da rea ardida e de restabelecimento das densidades pr-fogo pode ser m uito varivel, dependendo principalmente da int ensidade e severidade do fogo.
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A importncia potencial da fuga ao fogo das po pulaes animais est bem ilustrada nos estudos de gafanhotos acriddeos na savana africana (Gillon, 1972), onde indivduos adultos foram observados a abandonar a rea frente da linha de fogo. Gandar (1982) verificou o mesmo padro de forma indirecta. Este autor observou que aps o fogo a densidade de gafanhotos aumentou fortemente nos blocos de vegetao no ardida, ao mesmo tempo que a espcie desapar eceu praticamente da rea ardida, evidenciando um movimento de indivduos da zona ardida para zonas no ardidas. Alguns dias aps o fogo c omeou a verificar-se um mo vimento gradual de indivduos no sentido in verso (isto , das reas no ardidas para a rea ardida), acompanhando o desenvolvimento da vegetao, e cerca de 4 meses aps o fogo as densidades nas duas reas eram de novo semelhantes.
3.3. Atraco
Os animais podem ser tambm atrados pelo calor, chamas ou fumo durante a fase de c ombusto, ou pelas r eas r ecentemente ar didas. Vrias espcies aumentam a sua abundncia dur ante alguns dias ou semanas nestas reas. O pr incipal motivo destas deslocaes par a reas queimadas est r elacionado com o aument o t emporrio da disponibilidade de recursos alimentares, quer em termos quantitativos, quer em termos qualitativos (Figura 4). de esperar que este comportamento seja mais frequente em espcies c om maior capacidade de disperso (e.g . artrpodes alados, aves, mamferos de grande porte), que podem assim rapidamente colonizar/explorar estas reas. A relao entre os padres de at raco e o r egime de fogo c omplexa, uma v ez que depende essencialmente do efeito do fogo no ecossistema, que por sua v ez pode influenciar os padres de at raco de difer entes g rupos ou espcies. Por exemplo, um fogo m uito severo, que provoca a dest ruio de t oda a vegetao existente, pode at rair menos insect os do que um fogo de severidade mdia, e consequentemente vai at rair tambm menos a ves insectvoras. P or out ro lad o est e tipo de incndios pode aumentar a disponibilidade alimentar (e.g . carcaas de animais queimad os) e a acessibilidade a esse alimento para predadores oportunistas ou necrfagos. Existem vrios casos de espcies de aves que so atrados para a frente de chamas ou para as reas recentemente ardidas, e que, em muitos casos,
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FOGO
AUMENTO DA DISPONIBILIDADE/ VALOR NUTRITIVO DE HERBCEAS E ARBUSTOS PEQUENOS AUMENTO DA DISPONIBILIDADE DE SEMENTES
(POR
REDUO
DE LOCAIS DE ABRIGO)
FIGURA
aumentam a sua abundncia durante os dias ou semanas que sucedem ao fogo. As aves de rapina e necrfagas so normalmente atradas para estas reas devido maior abundncia de alimento ou sua maior exposio. Parker (1974) r efere impor tantes concentraes de a ves de r apinas e necrfagas durante o fogo, e o seu uso de reas recm ardidas para caar, em duas regies dos Estados Unidos da Amrica. Gillon (1972) observou vrias espcies de a ves de r apina a alimentar em-se de insec tos (gafanhotos, grilos) que voavam frente da linha de fogo, na savana africana. Smallwood et al. (1982), dur ante um fogo em pastagens na Flr ida, observaram garas-boeir as ( Bubulcus ibis) e peneir eiros amer icanos (Falco sparverius) a alimentarem-se igualmente junto s chamas. Aparentemente a gara-boieira era atrada quer por pequenos vertebrados, quer por invertebrados, enquanto que o peneireiro predou quase exclusivamente insectos que surgiam da frente de fogo. As espcies de a ves tipicamente insectvoras tambm tir am partido da maior abundncia momentnea de in vertebrados nas r eas ardidas. o caso, por exemplo, dos pica-paus, que podem ocupar estas reas, quer
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imediatamente aps o fogo quer nas semanas seguintes (e.g. Schardien e Jackson, 1978). Este comportamento parece estar relacionado com a maior disponibilidade de invertebrados associados aos troncos das rvores queimadas (e.g. Schardien e Jackson, 1978). Para alm disso, tambm possvel que a maior detectabilidade de alguns insectos aps o fogo, devido perda das suas vantagens crpticas (e.g. insectos verdes num fundo negro), possa tambm conduzir atraco de aves insectvoras para estas reas. De forma anloga, algumas espcies de aves granvoras podem tambm utilizar as reas recm ardidas face maior abundncia de sement es no solo (e.g . sementes cadas durante e aps o fogo) e sua maior ac essibilidade. Izhaki e Adar (1997) por exemplo, referem que a maior acessibilidade s sementes, por remoo do coberto vegetal, parece ter sido o principal factor responsvel pela ocupao de uma r ea recm ardida por aves granvoras (e.g. tentilho Fringilla coelebs e pombo-das-rochas Columba livia) em Israel, enquanto que Thibault e Prodon (2006) reportam que o aparecimento de grande nmero de aves granvoras imediatamente aps o fogo , numa floresta de pinheiro na Crsega (Frana), esteve relacionada com a grande quantidade de sementes de pinheiro que passar am a estar disp onveis devido abertura dos cones por aco do calor. Tal como no caso das aves, tambm os mamferos predadores podem tirar partido da disponibilidade ou acessibilidade temporria de recursos alimentares no ps-fogo. Por exemplo, na Califrnia os pumas (Felis concolor) parecem ser at rados para os limit es das r eas ardidas onde os cervdeos tendem a concentrar-se (Quinn, 1990). Tambm as espcies de mamferos her bvoros, desde os micr omamferos at aos mamfer os herbvoros de grande porte, so atrados no curto-prazo para estas reas por razes alimentares, nomeadamente em resposta rpida regenerao da vegetao herbcea em locais anteriormente ocupados por outro tipo de vegetao. Este efeito est bem documentado em mamferos de grande mobilidade como o caso de marsupiais macrpodes naAustrlia ou dos ungulados em frica e na Amrica do Norte (e.g. Oliver et al., 1978; Shaw e Carter, 1990). Para alm disso, o valor nutritivo da vegetao herbcea em regenerao aps o fogo frequentemente superior ao de vegetao no queimada (Hobbs et al., 1991). Alguns dos fenmenos de imigrao ps-fogo mais interessantes so protagonizados pelos insec tos, que s o at rados par a estas r eas por
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diferentes estmulos, incluindo o calor, o fumo, nveis elevados de dixido de carbono. De entre estes, destacam-se algumas espcies de colepteros perfuradores do tronco de rvores das famlias Buprestidae ou Scolytidae, que seleccionam as rvores hospedeiras (neste caso rvores queimadas) mediante sinais visuais, tcteis e qumicos (Raffa e Berryman, 1983), onde depois depositam os seus ovos, de forma a garantir alimento para as suas larvas. O facto destas espcies terem frequentemente vrias geraes por ano, e de constituirem tambm vectores de fungos, muitos dos quais patognicos e agentes responsveis pelo aparecimento de doenas, torna-os num dos grupos de insec tos mais noci vos para as essncias flor estais e especialmente para as resinosas, onde podem nalgumas situaes tornar-se verdadeiras pragas. 4. Efeitos do fogo na fauna a mdio/longo prazo Os efeitos do fogo na fauna a mdio/longo-pr azo fazem-se sentir de forma indirecta, atravs de alt eraes na vegetao, nomeadamente na sua composio especfica, produtividade e estrutura, que por sua vez afectam, de for ma positiva ou negativa, a disponibilidade de aliment o e o habitat ou micr ohabitat das espcies pr esentes (e.g . qualidade de refgios ou de locais de nidificao) (Figura 1). Estes efeitos so geralmente observveis ao nvel populacional (isto , na populao de determinada espcie) ou ao nvel da estrutura das comunidades (e.g. riqueza especfica ou abundncia relativa das vr ias espcies) nos anos seguint es ao fogo. Os estudos que abordam esta temtica tipicamente requerem uma de duas estratgias metodolgicas: a) um programa de investigao de longo prazo (abordagem diacrnica), em que se faz um ac ompanhamento da situao atravs de monitorizao regular (por exemplo anual) ou, b) o uso de uma cr ono-sequncia uma sr ie de locais pr eferencialmente semelhantes em t odas as car actersticas e xcepto no t empo decorrido desde o fogo (abordagem sincrnica). Desta forma utiliza-se a variabilidade no espao como um substituto do factor tempo.Uma caracterstica comum maioria destes estudos consiste no facto de apenas caracterizarem as respostas das populaes ou comunidades de fauna ao fogo e no isolarem os mecanismos e xactos atravs dos quais o fogo e xerce essas respostas (e.g. mortalidade, movimento de indivduos, etc.).
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4.1. Alimento
Anteriormente foram j focados alguns exemplos de como o aumento da qualidade e quantidade de r ecursos alimentar es podem c onduzir atraco de animais r ea ardida no cur to-prazo (geralmente num perodo de tempo de horas a poucos meses). No presente subcaptulo o impacto da disponibilidade alimentar nos animais analisada a uma escala temporal mais alargada, e focando-se nos seus efeitos ao nvel das populaes e das comunidades. O efeito do fogo sobre o alimento provavelmente o aspecto mais estudado da relao entre o fogo e a fauna. Este efeito pode ser positi vo ou negativo conforme aumenta ou dimin ui a disponibilidade ou qualidade d o alimento para determinado grupo ou espcie a mdio/longo prazo. As caractersticas desse efeito vo depender principalmente do grupo faunstico ou espcies consideradas e respectivos hbitos alimentares. O regime de fogo, particularmente a poca e frequncia do fogo e a sua relao com o ecossistema em causa vo ter tambm enorme influncia na r esposta da v egetao e logo na quantidade ou qualidade de aliment o disponvel. A severidade do fogo e c onsequente heterogeneidade so outros factores que podem influenciar fortemente os efeitos do fogo no alimento. No que respeita s aves insectvoras, a abundncia de insectos imediatamente aps o fogo pode aumentar, diminuir ou manter-se. A subsequente regenerao da vegetao aps o fogo geralmente resulta num rpido incremento das po pulaes de insec tos, que beneficiam a mdio pr azo este grupo. Hutto (1995), por exemplo, num estudo realizado na regio norte das Montanhas Rochosas (Estados Unidos) observou que 15 espcies de aves maioritariamente insectvoras que se alimentam nos t roncos das rvores eram geralmente mais abundantes em reas de floresta recentemente ardidas (1 a 2 anos) comparativamente com qualquer outro tipo habitat existente na mesma regio, devido maior disponibilidade de alimento nesses locais. As aves granvoras, por seu lado, frequentemente tiram partido do aumento da produo de sementes no primeiro ano aps o fogo (e.g. Izhaki e Adar, 1997). No entanto a importncia de um recurso alimentar no depende apenas da suaabundncia mas tambm da sua acessibilidade ou detectabilidade. Isto diz respeito quer aos invertebrados (vivos ou mortos), quer s sementes, que podem estar mais ac essveis durante
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alguns meses aps o fogo. O fogo pode tambm favorecer vrias espcies de aves rapina atravs da maior acessibilidade e facilidade de deteco das presas (e.g. micromamferos), devido reduo de locais de refgio. Lawrence (1966), por exemplo, detectou um forte incremento na abundncia de aves predadoras aps o fogo no chaparral californiano, que durou vrios anos. No caso dos mamferos, um dos efeitos positivos mais conhecidos do fogo sobre o aliment o consiste na sua c ontribuio par a o aument o, a curto/mdio prazo, na produtividade, disponibilidade e valor nutritivo de herbceas e arbustos, que pode levar a um aumento das populaes de mamferos herbvoros (e.g. Hobbs et al., 1991). O aumento potencial deste grupo , no entanto, parcialmente controlado pela se veridade do fogo e estrutura espacial dos habitats na rea queimada. Ivey e Causey (1984), por exemplo, mostraram que as po pulaes de cervo-de-cauda-branca (Odocoileus virginianus) podem tirar partido da disponibilidade de zonas ardidas par a se alimentar em desde que e xista alguma v egetao no ardida que sirva de refgio. O fogo pode ainda favorecer as espcies de predadores (aves e mamferos) de forma indirecta atravs do aumento das populaes de herbvoros acima mencionada. Lehman e Allendorf (1989), num estudo conduzido no estado do Novo Mxico (E.U.A.), reportam um aumento do nmero de guias-reais (Aquila chrysaetos) numa rea ardida nos meses aps o fogo e associam-no ao aumento das populaes de micromamferos que acompanham o crescimento da vegetao herbcea. O incremento das populaes de grandes herbvoros nas reas ardidas tambm parece beneficiar algumas populaes de grandes mamferos carnvoros (e.g. lobos, ursos) e o uso do fogo t em sido, inclusivamente, recomendado nalguns casos como medida de gesto para melhoramento do habitat destas espcies. A falta de aliment o tambm m uitas vezes avanada para explicar o decrscimo observado nalgumas populaes logo aps o fogo. Prodon et al. (1984) referem que os recursos alimentares parecem ser um factor limitante para as a ves e mamfer os no pr imeiro Inverno aps o fogo , embora sublinhem que as variaes so complexas. Lawrence (1966), por exemplo, verificou que o roedor Peromyscus truei evidenciou uma reduo significativa da sua condio corporal durante o primeiro ano aps um fogo, como resultado da diminuio dos seus recursos alimentares, recuperando depois gradualmente a partir desse momento.
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Ainda neste contexto, de salientar o facto de algumas espcies terem a capacidade de alt erar a sua dieta, como resposta ao fogo , como foi verificado em espcies de mamferos marsupiais na Austrlia e nalgumas espcies de primatas na ilha do Bornu (Sudeste asitico), que deixaram de se alimentar de flor es e fr utos, inexistentes aps o fogo , e passar am a alimentar-se de material foliar e herbceo, e de larvas de borboletas e de insectos perfuradores da madeira.
4.2. Habitat
De uma for ma geral, o fogo , atravs da sua aco na est rutura da vegetao, pode criar ou destruir habitats favorveis a uma dada espcie ou grupo de espcies. O efeito do fogo no habitat vai depender das caractersticas do fogo (intensidade, heterogeneidade, frequncia, etc.), do grupo faunstico ou espcies consideradas e respectivos requerimentos ecolgicos, e tambm do ecossistema considerado. Este efeito pode variar tambm para um dado grupo ou espcie em funo do tempo decorrido aps o fogo. Em geral, o padro de alterao das comunidades aps um incndio de grande severidade reflecte-se num aumento das espcies associadas a zonas aber tas, depois d o fogo, e a sua pr ogressiva substituio por espcies tpicas de matos e depois floresta (Figura 5).
DIMENSO POPULACIONAL
Espcies florestais
PR FOGO
FOGO
FIGURA
Resposta das populaes de espcies florestais, de matos e de zonas abertas a um incndio em floresta.
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Em termos de abundncia e di versidade de espcies, ger almente numa primeira fase aps o fogo que estes parmetros atingem os valores mximos, devido ao aumento da abundncia de espcies tpicas de z onas abertas e de orlas. Numa segunda fase, que corresponde fase de transio para as espcies que oc orrem associadas ao est rato florestal, os valores desses parmetros so mnimos, voltando depois a aumentar para nveis prximos dos existentes antes da perturbao causada pelo fogo (Oliver et al., 1998). Frequentemente, diferentes espcies caractersticas de diferentes nichos ou habitats vo-se sucedendo de acordo com a transformao estrutural da floresta, evidenciando uma marcada variao inter-especfica na resposta das espcies ao fogo. O fogo normalmente afecta as comunidades de aves atravs de alteraes provocadas no seu habitat, durante vrios anos (e.g. White et al., 1999). Num estudo realizado em Frana, Prodon et al. (1989) analisaram a evoluo da comunidade de aves de sobreirais aps incndio ao longo de 10 anos e identificaram uma srie de padres, respeitantes sobretudo evoluo da composio da comunidade, que podem utilizar-se como indicadores para outras florestas do Mediterrneo: i) apesar de sempre difcil de quantificar a mortalidade esta foi, aparentemente, escassa; ii) logo aps o fogo (e sobr etudo durante o pr imeiro Inverno) verifica-se uma reduo da abundncia de aves; iii) as aves nidificantes no estrato arbustivo desaparecem mais ou menos completamente aps o primeiro ano e regressam no segundo associadas regenerao da vegetao. Aumentam depois progressivamente at atingirem abundncias iniciais (4 anos e seguintes); iv) um grupo de espcies associadas a meios abertos (e.g. Lullula arborea, Miliaria calandra, Alectoris rufa) pode instalar -se no sobr eiral ar dido num curto perodo de 1 a 3 anos, mas abandonam progressivamente a rea com o desenvolvimento da vegetao; v) do mesmo modo espcies tpicas de espaos semi-aber tos ou bosques desc ontnuos (e.g. Lanius senator, Oriolus oriolus, Carduelis chloris) podem ser mais ou menos comuns durante alguns perodos da sucesso; vi) um certo nmero de aves tipicamente florestais (chapins, pica-paus, trepadeiras, tentilhes) que ocorriam antes do fogo so sempre observadas nos anos seguintes. Capazes de se adaptar transformao brutal do seu meio, mostram tambm uma forte associao aos seus territrios de reproduo e vm instalar-se durante a primeira Primavera aps o fogo; vii) apenas um nmero muito reduzido de espcies
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desaparece como nidificante aps 10 anos (Regulus ignicapillus, Erithacus rubecula). Os aut ores salientam que a rpida r egenerao ps-fogo da folhagem do sobreiro pode influenciar alguns resultados e deve ser tida em conta quando comparada com outros povoamentos. Relativamente r iqueza especfica, Prodon et al. (1987), ainda em floresta de sobreiro, observaram uma marcada reduo neste parmetro imediatamente aps o fogo, mas o seu regresso a nveis semelhantes aos da rea no ardida, de controle, em cerca de 6 meses. No entanto, este padro de variao de diversidade aps o fogo pode ser muito varivel de regio para regio (Whelan, 1995). Na verdade, nalguns casos a riqueza especfica ps-incndio aumenta, noutros casos pode nem sequer se alt erar e as principais alteraes ocorrerem ao nvel das abundncias relativas. O regime de fogo out ro factor que influencia o padro de r esposta das diferentes populaes ou comunidades de aves ao fogo. Pons (2000) efectuou uma c omparao d os t rabalhos desen volvidos na r egio da Europa mediterrnica sobre a resposta das comunidades de aves ao fogo e mostra que fogos mais intensos produzem mais alteraes na estrutura das comunidades de aves do que fogos menos intensos (e.g. fogos controlados), facto que poder estar r elacionado com as maiores alteraes na estrutura e composio da vegetao produzidas pelos pr imeiros. Esta ideia reforada pelo trabalho de Moreira et al. (2003), que estudaram o efeito do fogo-controlado na estrutura da vegetao e na comunidade de aves nidificantes em povoamentos jovens de pinhal-bravo (Caixa 1).
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CAIXA 1
A SEVERIDADE DO FOGO DETERMINA O GRAU DE AFECTAO DAS COMUNIDADES
Moreira et al. (2003) estudaram o efeito do fogo controlado sobre as comunidades de a ves florestais em po voamentos de pinheir o-bravo (Pinus pinaster) do Minho. O efeito destas queimas na estrutura da vegetao foi visvel sobretudo ao nvel dos estratos herbceo e arbustivo (Figura 6). Devido baixa severidades des tes f ogos, es tes aut ores v erificaram que o f ogo c ontrolado afectou temporariamente a abundncia de aves (Figura 6) mas no de t odos os grupos. Apenas as espcies nidificantes no solo ou nos matos sofreram um impacto temporrio, devido reduo do estrato herbceo e arbustivo, mas no foi registado qualquer efeito do fogo controlado na abundncia de espcies nidificantes nas copas das rvores, ou na diversidade total de espcies. a) b)
BIOMASSA HERBCEAS
BIOMASSA ABUSIVA
CONTROLO
CONTROLO
c)
ABUNDNCIA DE AVES
CONTROLO
FIGURA
a) E b): Efeitos do fogo controlado na estrutura da vegetao (cobertura por arbustos e herbc eas). No caso dos arbut os, o gr au de desen volvimento 5 anos aps a queima semelhante ao de parcelas controlo (sem fogo). Nas herbceas, o pico de abundncia registado 3 anos aps a queima. c): Efeitos do fogo controlado na abundncia de aves. Cinco anos aps o fogo, a abundncia prxima da das par elas conc trolo. Adaptado de Moreira et al. (2003).
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O efeito do fogo sobre as comunidades de aves tambm depende de velocidade de regenerao do ecossistema considerado, e da sua taxa de regenerao. De um mod o geral pode dizer-se que em fogos em r eas dominadas por coberto herbceo as comunidades de aves tendem a restabelecer a estrutura e composio pr-fogo at 3 anos aps o fogo Em zonas . de mato as comunidades esto ger almente em mudana at se ating ir o coberto arbustivo original, o que pode levar at 20 anos. Em florestas, o fogo de superfcie usualment e altera as comunidades de aves apenas por 1 ano, enquanto que fogos de substituio podem alter-las por 30 anos ou mais. No entanto, existe uma grande variabilidade nestes padres. de salientar o facto de algumas espcies de aves poderem alterar os seus comportamentos face alterao do seu habitat, por exemplo atravs da alterao do comportamento de nidificao, ao seleccionarem diferentes substractos de nidificao e diferentes posies num substracto que foi alterado pelo fogo, ao longo da sucesso ps-fogo. Por ltimo , alguns t rabalhos suger em que o fogo pode fa vorecer algumas espcies de aves, em particular as que dependem de habitats abertos como os cr iados por ac tividades agrcolas (Caixa 2). Brotons et al. (2005) analisaram os padres de colonizao de reas ardidas na Catalunha (Espanha) por aves tpicas de zonas abertas e verificaram que a ocupao dessas reas pelas espcies estudadas se basea va em disperses de curta distncia a partir de reas-fonte prximas, evidenciando a importncia da het erogeneidade da paisagem e o se u papel na dinmica das populaes destas espcies.
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CAIXA 2
O FOGO PODE CONTRIBUIR PARA A BIODIVERSIDADE
Recentemente tm sido desen volvidos um nmer o cr escente de tr abalhos sobre a resposta das comunidades de fauna (principalmente aves) ao fogo considerando escalas espaciais mais alargadas. Ao contrrio dos trabalhos sobre a sucesso de espcies aps o f ogo num det erminado povoamento ou habitat (escala local), aqui a valiado o impacto do fogo na fauna atravs do seu impacto na paisagem. Com esta abordagem so introduzidos conceitos como heterogeneidade, corredores ecolgicos, fragmentao de habitats, etc., que so hoje r econhecidos c omo element os to det erminantes par a a oc orrncia e abundncia de espcies de fauna como os factores que operam a escalas mais reduzidas (e.g. factores de or dem local). P ara alm dis so alguns animais tm requerimentos ecolgicos em t ermos de habitat que incluem dif erentes elementos a diferentes escalas, necessitando, por exemplo, de diferentes habitats para abrigo/nidificao e alimentao ( e.g. algumas a ves de r apina). Como exemplo deste tipo de estudos pode citar-se o trabalho de Moreira et al. (2001), que teve como objectivo avaliar at que ponto a alterao da paisagem, o fogo e a sua int eraco, podero t er afectado as populaes de a ves nidificantes numa regio minhota, nos ltimos 40 anos. P ara tal f oi reunida informao sobre a evoluo do uso do solo dur ante o perodo 1958-1995 e, paralelamente, recolhida informao sobre a abundncia e diversidade de aves em 6 categorias de uso do solo nessa mesma rea. Como primeiro resultado, estes autores verificaram que a diversidade de aves era superior em reas agrcolas, mnima em zonas de matos e intermdia em zonas de floresta (Figura 7). Num contexto de abandono de prticas agrcolas tradicionais, seria de esperar uma reduo na diversidade avifaunstica. Por outr o lado, os f ogos florestais, ao pr omoverem a tr ansformao de flor estas em habitats c om caractersticas de mat os, tendero tambm a diminuir a diversidade de aves.
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NMERO DE ESPCIES
35 30 25 20 15 10
B A IX M O AT S O S A LT O S C O N F ER A S M IS TO S FO LH O SA S IC O A G R LA
M AT O S
FIGURA
EM CIMA:
Nmero de espcies de a ves associadas a dif erentes tipos de uso do solo numa regio do Minho. PGUINA SEGUINTE: Espcies de aves associadas a zonas florestais, agrcolas, matos altos e matos baixos (a partir de uma anlise de correspondncias). As espcies especializadas num dado tipo de uso do solo esto assinaladas a negro. (Adaptado de Moreira et al. 2001).
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AGRICULTURA
PPICA PMONT POCHR MALBA UEPOP CJUNC SUNIC ECIRL CCHLO CCORO MCINE CPALU SSERI HPOLY LARBO STORQ PDOME LCOLL
MATOS ALTOS
MATOS BAIXOS
FLORESTAS
No entanto, considerando o elenco de espcies associadas a cada tipo de uso do solo (Figura 7), verifica-se que existem espcies especialistas (assinaladas a negro) associadas a agricultura, florestas, mas tambm matos baixos. Sendo assim, se se considerar que s os incndios podem mant reas de matos baier xos, de um pont o de vis ta da div ersidade de a ves pr efervel ocorrerem incndios de pequena/mdia dimenso do que a sua ausncia. Como aces de gesto da paisagem para preservar a diversidade de aves sugerida a manuteno de r eas agrcolas e flor estas de f olhosas caduciflias. P aralelamente, sugerido o uso mais gener alizado do fogo controlado e do pastoreio, como actividades promotoras da existncia de matos baixos na paisagem, teis quer como habitat para algumas espcies, quer como faixas de gesto de combustvel para prevenir a ocorrncia de grandes incndios.
A composio da comunidade de mamferos ao longo do perodo ps fogo vai var iar, semelhana das a ves, em funo d os r equerimentos ecolgicos das diferentes espcies envolvidas. Relativamente regio da Europa mediterrnica e aprofundando o nvel de anlise, neste caso sobre os micromamferos o g rupo de mamfer os mais estudad o no mbit o destas questes, podem citar-se os trabalhos de Fons et al. (1993) que monitorizaram a dinmica populacional da comunidade de micromamferos de uma floresta de sobreiro da Catalunha (Espanha) nos primeiros 6 anos aps o fogo, de Arrizabala et al. (1993) que efectuaram investigao semelhante mas para florestas de pinheiro e azinheira por um perodo de 3 anos, tambm na Catalunha. Estes autores mostram que as espcies presentes
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responderam ao fogo de mod o diverso. A velocidade de r ecolonizao dependeu, de acordo com a espcie, da capacidade de disperso, reproduo, estratgias demogrficas e particularmente do nicho ecolgico. Tipicamente os principais padres observados na sucesso de micromamferos nos estudos realizados na Bacia M editerrnica envolvem: i) uma baixa densidade de micromamferos imediatamente aps o fogo devido possivelmente a mor talidade e limitaes alimentar es, ii) uma crescente expanso aps o fogo das populaes de roedores no florestais (e.g. Mus sp.), que normalmente no existem ou so relativamente raros em reas no ardidas e evidenciam assim um comportamento oportunstico; iii) o posterior decrscimo em abundncia das populaes de Mus sp., um ou vrios anos aps o fogo, acompanhando a expanso e o pico de abundncia de roedores florestais omnvoros (e.g. Apodemus sylvaticus), iv) o reaparecimento dos insectvoros (e.g. Crocidura russula). Os insectvoros so muitas vezes as espcies menos r esistentes, desaparecendo imediatamente aps o fogo e ausentando-se por vezes por perodos longos, at a camada de folhada e fauna insectvora associada regenerar. A ocupao por parte dos roedores par ece ser infl uenciada pr incipalmente pela e voluo da estrutura da vegetao ps-fogo e sua relao com os diferentes requisitos ecolgicos destas espcies (e.g. presena ou no de rvores, arbustos e herbceas; abundncia e tipo de plntulas e sementes; etc.), e tambm pelas suas estratgias de disperso. Em relao, por exemplo, a Apodemus sylvaticus, na fase de c olonizao a est rutura da populao encontra-se desequilibrada com mais machos que fmeas. A maior aptido dos machos para efectuar disperses sugere que a colonizao das reas ardidas se faz sobretudo a partir de zonas vizinhas no ardidas (e.g. Prodon et al., 1989). Em termos gerais, os resultados ao nvel da comunidade de mamferos obtidos em vr ios ecossistemas apontam par a um aumento da r iqueza especfica e das abundncias a curto-prazo (cerca de 2-3 anos aps o fogo), que pode estar associad o g rande produtividade da v egetao alguns meses a partir do fogo (rebentos, plntulas, plantas anuais), a substituio do material queimado por vegetao verde e fresca e possivelmente mais nutritiva, bem como a maior disponibilidade de insectos e sementes (e.g. Prodon, 2000). Posteriormente, h uma tendncia para esses parmetros diminurem com o aumento da complexidade estrutural da vegetao que ocorre ao longo da sucesso ps-fogo.
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Relativamente infl uncia do regime de fogo, e focand o ainda nos micromamferos, os estudos existentes sugerem que as alteraes ao nvel da comunidade ou ao nvel de determinadas espcies produzidas pelos fogos menos int ensos, desig nadamente fogos c ontrolados, so pouc o significativas (e.g. Ford et al., 1999). Existe tambm alguma evidncia de que a estratgia de recolonizao da rea ardida por parte destas espcies varie em funo da intensidade do fogo, com fogos menos intensos, que originam um mosaic o mais het erogneo de r eas queimadas e no queimadas, a proporcionarem uma estratgia de recolonizao a partir de refgios no interior da rea ardida (hiptese do refgio) e os fogos mais intensos a obr igarem a est ratgias de r ecolonizao sobr etudo por imigrao de reas adjacentes (Prodon et al., 1987; Fons et al., 1993). Em relao herpetofauna os estudos so mais escassos, embora haja algumas e vidncias de que a alt erao na est rutura d os habitats ou microhabitats possa infl uenciar est e g rupo. R elativamente a rpt eis, Simovich (1979), num trabalho realizado numa rea de c haparral na Amrica do Norte, mostrou que as po pulaes ps-fogo e voluram de acordo com a est rutura da vegetao. As espcies mais tpicas de r eas abertas aumentaram ligeiramente nos pr imeiros trs anos aps o fogo , enquanto que as espcies que usavam ou toleravam vegetao mais densa diminuram, mas no desapareceram. A abundncia de rpteis foi mais elevada nas reas recentemente ardidas, comparativamente com reas controle. Os anfb ios, por seu la do, esto muit o associados camada hmida de manta morta que se acumula sobre o solo e, logo, o efeito do fogo nas suas populaes ser tanto maior quanto maior for a intensidade e a fr equncia da dest ruio desse se u microhabitat. Outros possveis efeitos indirectos do fogo nas populaes ou c omunidades de anfbios esto relacionados com a alterao fsica (alterao do substracto) e/ou qumica (aumento das concentraes de nutrientes e.g. fsforo, nitratos) dos habitats aquticos de que dependem, devido aos fenmenos de eroso, lixiviao e sedimentao ps-fogo; a alterao do regime hdrico; ou alteraes nas populaes de invertebrados; sendo que nem todos so negativos (Pilliod et al., 2003). A intensidade do fogo parece constituir um factor determinante na dimenso dos efeitos do fogo sobre a herpetofauna, existindo vrios trabalhos que mostram que muitas populaes de herpetofauna no parecem afectadas por fogos de baixa intensidade (e.g. Ford
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et al., 1999; Russel et al., 1999). Existem tambm e vidncias de que em determinadas condies o fogo pode at contribuir para o aumento das populaes de her petofauna. Por exemplo o fogo em z onas hmidas isoladas, pode favorecer algumas das espcies de her petofauna aqutica ou semi-aqutica, ao aumentar a rea de gua aberta e melhorar a estrutura da sua vegetao (Russel et al., 1999). Os invertebrados constituem um grupo muito diverso. H desde logo uma grande diversidade de g rupos e espcies c om diferentes requerimentos ecolgicos. Depois, as populaes de invertebrados das diferentes espcies exibem tambm uma grande variabilidade quer no tempo, quer no espao, o que dificulta a sua amost ragem para efeitos comparativos. Para alm disso, frequentemente, as metodologias utilizadas para estimar as abundncias ou densidades deste grupo so tambm muito diversas e muitas vezes inadequadas. Face a todos estes constrangimentos, a variao nas populaes e c omunidades de invertebrados ao longo da suc esso ps-fogo resulta extremamente diversa e no facilment e uniformizvel. No entanto, em geral, pode dizer-se que as abundncias de muitas espcies de in vertebrados dimin uem depois d o fogo mas podem r ecuperar rapidamente. As caractersticas biolgicas das espcies, o seu habitat, e as caractersticas do fogo iro det erminar a natureza precisa do declnio e a subsequente recuperao da populao. A reduo da camada de manta-morta, que ocorre aps o fogo, tem efeitos marcados nos invertebrados do solo e manta-mor ta. possvel que os in vertebrados da manta-mor ta recuperem mais lentament e as abundncias iniciais, pois o fogo induz mais alteraes fsicas e qumicas neste micro-habitat, atravs da r emoo de pequenos r amos e folhas e respectiva simplificao do habitat, comparativamente com a camada inferior do solo (e.g. Prodon et al., 1987). Springett (1976), comparando as abundncias de invertebrados da manta-morta antes e aps um fogo-controlado em florestas de eucalipto na Austrlia, reporta o desaparecimento de cerca de 50% destas espcies e a reduo de at 25% na abundncia de algumas delas. Relativamente recuperao das po pulaes, alguns autores sugerem que a fauna invertebrada do solo e manta-morta no chega a atingir os nveis pr-fogo por um perodo de cerca de 5 anos, enquanto que out ros sugerem que o r egresso a esses nv eis se faz mais rapidamente (Whelan 1995). J Prodon et al. (1989), no mbito de um
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estudo sobre o impac to dos incndios nas c omunidades de fauna de sobreirais em Frana, estima numa vintena de anos o tempo necessrio para a fauna edfica (solo e manta-morta) se restabelecer completamente aps fogo na regio Mediterrnica. O regime de fogo tambm parece ter uma forte influncia na resposta das populaes e comunidades de invertebrados ao fogo. semelhana do que acontece com os restantes grupos de fauna, h uma t endncia para fogos mais intensos provocarem mais impacto que fogos de menor intensidade. Existem tambm evidncias de que as caractersticas espaciais do fogo tambm infl uenciam a r esposta deste grupo. Whelan e M ain (1979), por exemplo, compararam a recuperao das populaes de gafanhotos acriddeos no mesmo local aps fogos de difer entes caractersticas e verificaram que a r ecuperao foi m uito mais rpida fac e a um fogo espacialmente menos extenso e de contorno mais irregular, comparativamente com um fogo espacialment e extenso e uniforme. Na rea ardida mais extensa, os mesmos aut ores encontraram ainda diferenas significativas entre a recuperao da espcie junt o ao centro geogrfico dessa rea, onde a recuperao 6 meses aps o fogo foi quase n e as reas de ula, orla do fogo, onde a espcie recuperou cerca de 30% dos seus efectivos aps igual perodo.
5. Mtodos para avaliar impacto do fogo sobre a fauna
A avaliao do impacto do fogo sobr e a fauna pode ser efectuada atravs de mtodos directos ou indirectos, ambos apresentando vantagens e desvantagens. Frequentemente, a informao que ambos fornecem apresenta limitaes, nomeadamente em relao sua extrapolao a outras situaes. Isto deve-se no s grande especificidade associada a um fogo num local determinado, mas tambm deficiente descrio quer da metodologia utilizada, quer das circunstncias locais (e.g. existncia ou no de aces de gesto ps-fogo, data dessas aces, etc.) em alguns destes estudos.
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Mtodos directos
i) contagem de cadveres No temos conhecimento de nenhum trabalho na Bacia Mediterrnica que tenha tentado contabilizar o nmero de cadveres de animais em reas ardidas. O nmero elevado de cadveres contabilizados nos trabalhos publicados e a ausncia de descrio de uma metodologia concreta para essa quantificao, sugerem que esta apenas efectuada muito esporadicamente, em situaes excepcionais, onde so observadas grandes concentraes de cadveres e tm por isso apenas um valor indicati o, dificilmente compav rvel com outros trabalhos. Urge assim definir uma metodologia prtica e que seja facilmente repetvel em diferentes regies e habitats de modo a que os seus resultados possam ser mais facilmente comparveis e extrapolveis. As reas ardidas so frequentemente extensas demais para se poderem percorrer na totalidade. A utilizao de transectos ou de quadrados pode constituir uma boa estratgia de amostragem para este tipo de objecto de estudo. O seu nmero, o seu comprimento ou a sua rea, (conforme sejam transectos ou quadrados) e a sua localizao seriam definidos em funo do(s) grupo(s) de fauna a amost rar e da localizao e e xtenso da rea ardida. Esta met odologia ser ia mais indicada par a os v ertebrados, de maiores dimenses e logo mais visveis, do que para os invertebrados. Para este grupo as dimenses dos transectos ou quadrados teriam de ser fortemente reduzidas para se adaptar em sua escala espacial. A principal vantagem destes mtodos directos consiste na sua rpida execuo (nos primeiros dias ps-fogo). Por outro lado, exige disponibilidade imediata logo aps o fogo, uma vez que passado pouco tempo uma parte dos cadveres podem ser removidos por predadores e/ou necrfagos. De qualquer forma, os resultados obtidos referem-se apenas ao impacto do fogo a muito curto-prazo.
Mtodos indirectos
i) Comparao antes e aps o fogo Na maior ia d os estud os, a mor talidade ps-fogo d os animais no medida directamente, mas apenas inferida atravs de armadilhagem ou censos, pela diferena na dimenso da populao antes e depois do fogo, ou pela diferena entre uma parcela queimada e uma par cela no queimada (de controle). As principais vantagens desta metodologia consistem
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numa maior flexibilidade temporal do trabalho de campo, isto , no tem de ser efec tuado logo aps o fogo , e na possibilidade de obt eno de resultados a diversas escalas temporais (curto, mdio e longo-prazo), de acordo com os objectivos do trabalho, e para todos os grupos animais. Por outro lado, este trabalho de monitorizao mais dispendioso, uma vez que implica pelo menos 2 perod os de amost ragem, tornando-se tanto mais dispendioso quanto mais perodos de amostragem forem considerados. Para alm disso, os resultados obtidos deste modo no permitem distinguir entre animais mortos pelo fogo e animais que aband onaram o local devido deteriorao das condies no ps-fogo (falta de alimento, gua, abrigos). Adicionalmente, como difcil de prever a ocorrncia de incndios, a amost ragem de fauna pr-fogo nor malmente conduzida posteriori, em zonas no ardidas semelhantes zona ardida (zonas de controle), o que constitui uma fonte adicional de variabilidade. Os fogos-controlados, devido sua previsibilidade, constituem, no entanto, uma excepo a esta ltima limitao, adequando-se perfeitamente a este tipo de metodologia. ii) Relaes espcies-habitat Outras formas indirectas de avaliar o impacto do fogo podem incluir, numa primeira fase, o estudo das relaes espcies-habitat e, posteriormente, uma anlise indir ecta do efeito fogo nas espcies at ravs do seu efeito no habitat. Este tipo de abordagem ser particularmente indicado para espcies com elevado grau de associao a um determinado habitat (especialistas). Podem tambm fazer-se associaes entre determinadas espcies/grupos de espcies e habitats mais abr angentes, c omo mat os, zonas agrcolas, florestas caduciflias, etc. Moreira et al. (2001), num estudo sobre o impacto do fogo nas comunidades de aves escala da paisagem, usaram o c onhecimento das r elaes espcie-habitat a esse nv el, par a prever o impacto do fogo na comunidade de aves (Caixa 2). Como vantagens desta abor dagem, pode r ealar-se o fac to de, nos casos em que existe boa informao de base sobre relaes espcie-habitat, o esforo de campo poder r eduzir-se c onsideravelmente, r esumindo-se ao mapeamento dos habitats.
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6. Notas finais: implicaes para a gesto Podem resumir-se nos seguintes pontos os principais aspectos abordados neste captulo que tm implicaes para a gesto de reas ardidas: 1. As respostas das populaes animais ao fogo dependem sobretudo da interaco entre as caractersticas do regime de fogo (intensidade, dimenso, poca, etc.) e as caractersticas ecolgicas das espcies. 2. Frequentemente, o impacto do fogo na fauna menos g ravoso do que vulgarmente assumido. Espcies com nichos ecolgicos mais estreitos tendem a ser mais afectadas relativamente a espcies mais ubquas ou generalistas; 3. A alterao de habitats e d os recursos alimentares constituem o principal impacto do fogo sobre a fauna. Esse impac to pode ser negativo ou positivo consuante as espcies; 4. Em geral, fogos menos int ensos, mais het erogneos, de menor velocidade de propagao e menor dimenso geogrfica provocam alteraes menos pr ofundas nas c omunidades animais e estas recuperam mais rapidamente; 5. Fogos homogneos e de g randes dimenses podem ser muit o impactantes par a a fauna. N o entant o, fogos que cr iem um mosaico de reas queimadas e no queimadas ou um mosaico de reas queimadas em diferentes datas, podero permitir a co-existncia de espcies c om difer entes r equerimentos ec olgicos, contribuindo assim par a aumentar a di versidade escala da paisagem. De facto, em pequena escala (relativamente extenso da paisagem), o fogo pode ser uma font e de het erogeneidade paisagstica, aumentando a disp onibilidade de habitats que no estariam disponveis de outra forma e aumentando a diversidade biolgica (em comparao com uma paisagem sem fogo). 6. Relativamente gesto ps-fogo podem destacar-se dois aspectos: i) a importncia para a fauna da manuteno de algumas rvores em p ( snags) e de t roncos cados no solo (sobr etudo rvores e troncos de g randes dimenses), bem c omo de manc has no ardidas, devido sua importncia como refgio para a fauna no
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ps-fogo; ii) algumas espcies da fauna (sobretudo as de menor dimenso) podem beneficiar de aces de gesto ps-fogo como a utilizao de resduos orgnicos para evitar a eroso do solo. 7. O fogo controlado pode constituir uma importante ferramenta de gesto do habitat para a fauna, quer a nvel local, quer escala da paisagem contribuindo para a criao/manuteno da diversidade da paisagem (mosaic o paisagstico) e consequentemente para a diversidade faunstica. Possveis aplicaes desta tcnica entre ns incl uem a gesto de habitat par a espcies de int eresse cinegtico, incluindo grandes herbvoros (e.g. veados, coros) ou outras (e.g. coelho, perdiz) ou na gesto de habitat par a espcies protegidas, por exemplo mantendo ou criando reas abertas que abrigam muitas espcies de a ves de ele vado de estatut o de conservao. Por exemplo, na Esccia, desde h quase um sculo que matagais de urz e so ger idos de mod o a maximizar a dimenso das populaes de lagpode-esc ocs (Lagopus lagopus scotica), uma espcie de ave de elevado valor cinegtico, atravs da queima de pequenas par celas, par a que os animais beneficiem sim ultaneamente de zonas de mato desenvolvido para abrigo, e de reas recentemente ardidas onde obtm aliment o de qualidade. Por ltimo, de r eferir que a aplicao desta tcnica pode ser ainda integrada localmente com objectivos de gesto de c ombustveis ao nvel da paisagem, por exemplo combinada com o pastoreio, contribuindo assim para a reduo do risco de grandes incndios.
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V.
1. Introduo 2. O que fazer a seguir a um incndio? Prever a resposta dos ecossistemas e definir objectivos de gesto 3. Conceitos de restauro, reabilitao e substituio
3.1. Restauro (sensu strictu) 3.2. Reabilitao 3.3. Substituio 3.4. Restauro activo, passivo e de emergncia 3.5. Como planear o restauro
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1. Introduo A estratgia tradicional de restauro de reas degradadas na regio mediterrnica, durante muito tempo, foi baseada na florestao com conferas, havendo inmeros programas e incentivos financeiros a esta prtica, em Portugal e Espanha, desde meados do sculo XX. Estas arborizaes, para alm de pr ovidenciarem emprego nas r eas rurais, visavam sobretudo aumentar a produtividade florestal, mas tambm proteger os recursos hdricos e fixar dunas. Inerente a esta estratgia estava tambm o conceito de que a estratgia de restauro de reas degradadas passava pela introduo de uma espcie pioneira de crescimento rpido uma resinosa que facilitaria a introduo posterior de folhosas, mais caractersticas de fases avanadas da sucesso ecolgica (Pausas et al., 2004). Esta abordagem tradicional acabou por ter uma eficcia bastante pobre, devido ao regime de perturbao que uma maior frequncia de incndios imps, bem como excessiva simplificao na previso das trajectrias de sucesso ecolgica esperadas (basta pensar na ocorrncia crescente de espcies exticas invasoras, sobretudo nas reas ardidas) e na falta de capacidade tcnica e financ de as concretizar no terreno. eira Hoje em dia a panplia de possibilidades,quer relativamente aos objectivos de gesto para uma rea ardida, quer s tcnicas silvcolas disponveis para o gestor florestal, muito superior, obrigando a repensar as prticas histricas que for am dur ante m uito t empo ensinadas aos tcnic os florestais. A lgica do arderam 5000 hectares, mas ns vamos rearborizar 5000 ha, ainda hoje visvel na primeira reaco de muitos polticos aps um incndio, expressa um argumento simplista que no faz sentid o no contexto actual. Neste captulo so sintetizados alguns conceitos bsicos de restauro ecolgico e de planeamento da gesto florestal ps-incndio. 2. O que fazer a seguir a um incndio? Prever a resposta dos ecossistemas e definir os objectivos de gesto Aps um incndio, os gestores florestais e os polticos deparam-se com uma srie de questes que podem no t er uma resposta bvia: Devemos reflorestar? Toda a rea afectada? Apenas uma parte? Ou ser melhor no fazer nada? E caso se decida efectuar alguma int rveno, quando o fazer? e E utilizando que tcnicas? Mas, sobretudo, para qu? Com que objectivos queremos intervir numa rea ardida?
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A resposta a estas questes depende de duas variveis fundamentais: (a) a nossa capacidade de pr ever a resposta dos ecosistemas afectados pelos incndios e (b) os objectivos de gesto definidos para a rea ardida. Este segundo aspecto essencial, j que dele depende a panplia de aces de interveno que o gestor pode estar interessado em aplicar (Figura 1).
TIPO DE ECOSSISTEMA RESPOSTA DOS ECOSSISTEMAS SEVERIDADE DO FOGO
Regulao hidrolgica Fixao de dunas Aumentar produtividade florestal Melhorar a economia rural Biodiversidade Valores ecolgicos Combater a desertificao Mitigar alteraes climticas Valor cultural e de recreio Valor cnico Preveno de incndios etc
FIGURA
A definio da es tratgia de gesto ps-fogo depende da r esposta esperada dos ecossistemas, det erminada pelo tipo de v egetao e pela se veridade do f ogo, e dos objectivos definidos para a rea ardida. Estes so frequentemente definidos a uma escala local ou regional.
Os impactos dos incndios dependem das caractersticas do fogo e das caractersticas dos ecossistemas afectados (mais detalhes em 4.1). Desta forma, a capacidade de pr ever a resposta dos ecossistemas depende do grau de conhecimento cientfico que temos sobre o tipo de flor esta ou vegetao afectada pelos incndios, que podemos considerar ser bastante razovel para o contexto ibrico em que nos inserimos, em conjunto com uma anlise da intensidade e severidade do incndio. Os objectivos de gesto para uma rea ardida, por sua vez, podem ser bastante diversos conforme as situaes. De um ponto de vista genrico, os objectivos tradicionais eram a regulao hidrolgica, fixao de dunas, melhorar a produtividade florestal e, senso lato, melhorar a economia das populaes rurais. A estes objectivos juntam-se actualmente novos objectivos, tais como o combate desertificao, o aumento da biodiversidade, a mitigao das alteraes climticas, a fixao de carbono, a preveno de incndios ou o uso multifuncional da floresta (Figura 1 e Caixa 1). Os objectivos produtivos foram perdendo importncia, sobretudo em regies secas e com baixa produtividade madeireira.
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CAIXA 1
Num contexto nacional, as orientaes es tratgicas para a r ecuperao das reas ardidas definidas na sequncia dos gr andes incndios de 2003 e 2004 (OER, 2005) definir am que a int erveno dever identificar as funes dos espaos florestais e os modelos de silvicultura, de organizao territorial e de infraestruturao mais adaptados a cada caso , os quais devero ser definidos com base (1) na avaliao do efeito do fogo nos ecossistemas, (2) na avaliao da potencialidade das es taes, (3) na integrao das c ondicionantes socio-territoriais, incluindo as dec orrentes dos planos municipais, planos flor estais e planos especiais, para alm da legislao geral, e (4) no conhecimento da vontade e das expectativas dos proprietrios. Neste contexto, os objectivos de gesto ps-fogo podem ser enquadrados nas seguintes funes dominantes: Produo: t em c omo objectiv o a c ontribuio dos espaos flor estais par a o bem-estar material das sociedades rur ais e urbanas. Inclui funes c omo a produo de madeira (e.g. toros, rolaria, razes), frutos e sementes (e.g. pinho, castanha, medronho), biomassa para energia, cortia, outros materiais vegetais e orgnicos (e.g. resinas, folhagens, vimes, cogumelos). Proteco: tem como objectivo a contribuio dos espaos florestais para a manuteno das geocenoses e das infraestruturas antrpicas. Inclui funes como a proteco da rede hidrogrfica (proteco das margens, manuteno da qualidade da gua), proteco contra a eroso elica (e.g. fixao das areias mveis), proteco contra eroso hdrica e cheias (e.g. fixao de vertentes, correco torrencial, amortecimento de cheias), recuperao de solos degr adados, proteco microclimtica (e.g. compartimentao de campos agrcolas, intercepo de nevoeiros), proteco e segurana ambiental (e.g. filtragem de partculas e poluentes atmosfricos, fixao de CO2), proteco contra incndios. Conservao de habitats, de espcies da f auna e da flora e de geomonumentos: tem como objectivo a contribuio dos espaos florestais para a manuteno da diversidades biolgica e gentica e de geomonument Inclui funes como os. a conservao de espcies da fauna e flora, bem como de habitats,protegidos, a conservao de geomonumentos (e.g. jazidas paleontolgicas), conservao de recursos genticos. Silvopastorcia, caa e pesca nas guas interiores: tem como objectivo a contribuio dos espaos florestais para o desenvolvimento da caa, pesca e pastorcia. Inclui o suporte caa e conservao de espcies cinegticas, suporte pastorcia e apicultura, e o suporte pesca nas guas interiores. Recreio, enquadramento e esttica da paisagem: tem como objectivo a contribuio dos espaos florestais para o bem-estar fsico, psquico, espiritual e social dos cidados. Inclui o enquadramento de aglomerados urbanos, monumentos e equipamentos tursticos, o r ecreio, a c onservao de paisagens notv eis, o enquadramento de infraestruturas (vias de comunicao, zonas industriais, etc.) e usos especiais (e.g. campos militares, estabelecimentos prisionais).
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Esta difer ena de atitudes r eflecte-se tambm no sig nificado da terminologia utilizada. No passado uma aco de r estauro florestal confundia-se com uma florestao ou reflorestao, no caso de uma rea florestal ardida. Presentemente, o termo mais amplo, podendo incluir desde tcnicas de int roduo de espcies her bceas, ar bustivas ou arbreas, at ausncia de qualquer aco de r estauro activo, passando pela eliminao de espcies no desejadas. Os objec tivos ac tuais d os pr ogramas de r estauro em ec ossistemas mediterrnicos afec tados por incndios so di versos, mas possv el seleccionar alguns com ampla aplicao geogrfica (e.g. Vallejo et al., 2006): Conservar o solo e a gua, uma vez que o solo um recurso primrio no renovvel (ou renovvel mas a muito longo prazo), exposto aos riscos de degradao e eroso aps o fogo. Este objectivo prioritrio, e est na base da maioria das intervenes de emergncia aps o fogo. Melhorar a resistncia e resilincia dos ecossistemas ao fogo, considerando que a vegetao mediterrnica ser provavelmente afectada pelos incndios do mesmo modo que o foi no passado ou com maior intensidade ainda, a confirmarem-se os cenrios de mudana global. Para atingir este objectivo deve ser e xplorado o potencial das espcies nati vas, ecotipos e provenincias. Promover florestas e matorrais adultos (onde no houver condies para florestas) com capacidade de autoregenerao, sobretudo florestas de folhosas que escasseiam nas paisagens da bacia do mediterrneo. Promover a biodiversidade e a reintroduo de espcies-chave que desapareceram devido interveno humana nos ecossistemas. Para alm destes objectivos globais existem frequentemente objectivos locais mais especficos, e extremamente variveis conforme o nvel de degradao dos ecossistemas, o contexto geogrfico e climtico, e os constrangimentos socio-econmicos. No caso portugus, por exemplo, e em contraste com outras regies mediterrnicas onde o pr oblema nem se coloca, a c olonizao de r eas ardidas por espcies e xticas invasoras representa uma pr eocupao crescente para os gest ores florestais e um desafio para a comunidade cientfica.
126
3. Conceitos de restauro, reabilitao e substituio As est ratgias de r estauro de ec ossistemas tm c omo pr incpio genrico imitar a natureza e acelerar a sucesso ecolgica, apoiando a regenerao atravs de uma sequncia de etapas que pr imitivamente se designavam de sucesso secundria e se supunham lineares (Figura 2A). Estudos posteriores vieram mostrar que esta e voluo na est rutura e funo dos ecossistemas frequentemente no linear, sendo mais frequente uma situao em que existem relaes no lineares, com vrios estados e transies possveis (Figura 2B). Em t ermos gerais, o restauro permite estancar a degradao do ecossistema, promovendo ao mesmo tempo a sua regenerao, tendo em conta a sua estrutura e as funes. De acordo com a definio da Society for Ecological Restoration (www.ser.org) em 2004, o restauro ecolgico o processo de auxlio recuperao de ecossistemas que se encontram perturbados, deteriorados ou destrudos. Esta definio implica a recriao de um ecossistema predeterminado a partir do ecossistema degradado. Outras definies mais especficas tm, porm, sido desenvolvidas (Allen, 1988; Aronson et al., 1993; Bradshaw, 1995) no sentido de formalizar o conjunto de est ratgias existentes para a int erveno em ec ossistemas degradados. Aqui ser utilizada a terminologia de Bradshaw (1995) e Vallejo et al. (2006).
FUNES DO ECOSSISTEMA
Substituio
BIOMASSA E NUTRIENTES
ECOSSISTEMA ORIGINAL
Restauro
Reabilitao
ECOSSISTEMA DEGRADADO
ESPCIES E COMPLEXIDADE
FIGURA
2A
Modelo clssico da evoluo linear dos ecossistemas e dos conceitos de restauro, reabilitao e substituio. (Adaptado de Bradshaw, 1984).
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FUNO DO ECOSSISTEMA
ESTADO
3
ESTADO
ESTADO
ESTADO
ESTADO
ESTRUTURA DO ECOSSISTEMA
FIGURA
2B
Modelo mais actual, no linear, e em que existe mais do que uma possibilidade de chegar a um dado estado de desenvolvimento do ecossistema. (Adaptado de Cortina et al., 2006).
Visa a reconstruo do ecossistema original anterior per turbao. Podemos tambm design-la como o processo de assistncia recuperao de ecossistemas degradados (Figura 2A). A dificuldade bvia desta abordagem consiste em conhecer com exactido a situao ecolgica anterior perturbao, especialmente na bacia d o Mediterrneo onde os ec ossistemas sofreram transformaes profundas durante sculos. Na prtica, a caracterizao do ecossistema original feita a partir de ecossistemas de referncia que subsistem em pequenas reas no perturbadas.
3.2. Reabilitao
Em alternativa ao restauro, mais frequente pr em prtica aces de reabilitao que procuram alcanar um funcionamento ecolgico semelhante ao d o ecossistema pr-perturbao (Figura 2A). A plantao de pinheiros em zonas cuja espcie nativa a azinheira constitui um exemplo de reabilitao.
3.3. Substituio
Neste caso o objec tivo construir um novo ecossistema (Figura 2A), frequentemente mais simples que o or iginal e por v ezes mais produtivo, como o caso da substituio de charnecas por pastos agrcolas mais produtivos com baixa biodiversidade, por exticas de crescimento rpido, ou por outra espcie florestal.
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O restauro activo exige uma interveno mais exigente, e onerosa, do gestor florestal. Em aces de r estauro activo, num contexto florestal, recorre-se geralmente a sementeiras ou plantaes. Estas tcnicas apr esentam alguns inconvenientes, j que podem implicar a pr eparao do local, a utilizao de equipament o pesado, a aquisio e t ransporte de plantas ou sementes de viveiros ou outros locais, fertilizao, protectores individuais, e m uitos recursos humanos (e.g. Duryea, 2000; Lamb and Gilmour, 2003; Gardiner and Oliver, 2005; Mansourian et al., 2005). Para alm disso, os nveis de sobrevivncia das plntulas e plantas jovens so frequentemente bastante baixos, obrigando a operaes de retancha. O restauro passivo basead o no apr oveitamento da e xistncia de regenerao natural, proveniente de sementes ou rebentamento de toia, e consiste em proteger as reas em regenerao de out ras perturbaes, permitindo o desenvolvimento da vegetao atravs de processos sucessionais natur ais (Lamb and Gilmour , 2003; Vallejo et al., 2006). Esta abordagem frequentemente menos dispendiosa, apesar de poder implicar alguma interveno (o que se designa por vezes de restauro assistido), por exemplo para evitar uma quantidade excessiva de regenerao (efectuando desbastes), seleccionar as var as a manter e as que de vem ser eliminadas, evitar a presena de animais her bvoros, ou ainda c ontrolar a vegetao no desejada (matos, ou espcies e xticas invasoras) (ver Captulos VI e XII). A utilizao da rebentao de toia, em particular, particularmente eficaz, j que as plantas que esto a r egenerar tm um sist ema radicular bem desenvolvido e com reservas energticas armazenadas que lhes conferem uma grande probabilidade de sobrevivncia e potencial de crescimento. O restauro passivo no necessita de preparao de solo nem de equipamento pesado. Consequentemente, a mobilizao e r iscos de eroso do solo so menores. Se considerarmos que, para alm disso, proporciona taxas de sobrevivncia e crescimento geralmente superiores ao restauro activo (ver Captulo XII), torna-se bvia a maior relao esforo-benefcio desta estratgia ainda pouco utilizada em muitas regies. O restauro de emergncia justifica-se quando existe um risco elevado de oc orrer er oso do solo , nomeadament e em r eas c om decli ves acentuados, com um tipo de solo bastante erosionvel, e onde se espera
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uma baixa capacidade de r egenerao rpida da v egetao. As tcnicas normalmente utilizadas nestas int ervenes so as sement eiras ou a aplicao de mulching, ou seja, qualquer material que proteja a superfcie do solo (e.g . palha, r esduos lenhosos r esultantes de desbast es ou desramaes). Podem ser tambm usadas outras tcnicas como estruturas de obstruo (troncos deitados, pilhas de r esduos florestais, etc.) cujo objectivo reter a matria orgnica, nutrientes e propgulos, bem como diminuir a velocidade de escorrncia da gua (ver Captulo X).
3.5. Como planear o restauro?
Na discusso que se segue o t ermo r estauro ser usado par a nos referirmos tanto a reabilitao como a restauro (sensu stricto). Em ger al, perante um ecossistema que no atingiu um estado de degradao muito avanado e quando o objectivo do restauro re-estabelecer o ecossistema previamente existente, assume-se que possvel a regenerao espontnea do mesmo pela simples remoo dos factores antrpicos (incluindo o fogo) adversos (Aronson et al., 1993). Neste contexto, as aces de r estauro so necessrias quando a regenerao natural incerta ou demasiado lenta para os objectivos pretendidos e, particularmente, quando h a necessidade de evitar a progresso da degradao ou o r isco de desastres. H no entanto situaes em que o nv el de deg radao de tal for ma a vanado que o ecossistema no consegue regenerar sem uma interveno mais activa. Aps identificada a necessidade de restauro e definidos os objectivos para a rea a restaurar, necessrio projectar a interveno. Aronson et al. (1993) enumeraram alguns atributos fundamentais da estrutura e funo do ecossistema que devero ser restabelecidos por intermdio do restauro. Os ecossistemas degradados perderam alguns dos componentes-chave do ecossistema original. Alguns so evidentes (certas espcies estruturais: as espcies principais de r vores e ar bustos e a macr ofauna directamente associada), mas a maior par te desc onhecida ou inc erta (espcies de plantas pouco frequentes, microrganismos, etc). Alm disso, nos ecossistemas degradados algumas funes ou as respectivas taxas encontram-se alteradas. Alguns pr incpios bsic os no planeament o d o r estauro de ecossistemas degradados so de ampla aplicabilidade:
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1. A estratgia de restauro consiste em imitar a natureza (Jordan et al., 1987), isto , a sucesso secundria, e requer portanto o conhecimento dos parmetros crticos que governam o funcionamento do ecossistema. A abordagem genrica em tecnologias de recuperao resume-se a introduzir alguns componentes chave (keystone species) que ac eleram a suc esso, deixando depois a natur eza prosseguir. Esta estratgia assume a teoria da facilitao na sucesso, na qual se baseou uma d outrina de r estauro seguida dur ante muito tempo, em que se preconizava uma utilizao inicial de conferas pioneiras com a perspectiva de facilitar a entrada posterior, natural ou artificial, de folhosas assumidas como espcies tardias na sucesso. No entanto, a viso linear da evoluo dos ecossistemas, baseada no conceito clssico de sucesso secundria, no correcta (Cortina et al., 2006), uma vez que pode ha ver saltos e mais d o que um caminho possvel de sucesso (Figura 2B). Assim sendo, alguns passos intermdios no processo de restauro, podem ser dispensados das prticas de r ecuperao (Ashby, 1987) porque no so essenciais. 2. O resultado final da recuperao dever idealmente ser um ecossistema auto-sustentvel (Bradshaw, 1995). 3. A recuperao baseia-se essencialmente na introduo de uma ou mais espcies chave, cujo papel na estruturao do ecossistema considerado crtico. Em par ticular, espcies que ac tuam como engenheiros do ecossistema (Jones et al., 1994), ou seja, espcies que modificam o habitat, tipicamente rvores ou arbustos altos. Assume-se que estas espcies melhoram as propriedades do solo, desenvolvem o subc oberto, melhoram o micr oclima, facilitam indirectamente a importao de sementes atravs da fauna, etc. Um exemplo da abordagem destas questes de restauro, num contexto mediterrnico, pode ser visto na Caixa 2.
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CAIXA 2
A estratgia que se apresenta de seguida (Figura 3) foi desenvolvida para a regio de Valncia, tendo por base as orientaes acima pr opostas para o restauro de reas ardidas.
Sementeira + cobertura de material orgnico
SOLOS DEGRADADOS
PRADOS
VEGETAO DISPERSA, MATOS BAIXOS OU PLANTAES ARDIDAS DE PINHEIROS JOVENS MATOS ALTOS
/MAQUIS
MATOS
BOSQUE
FIGURA
132
CAIXA 2
Sementeira de emergncia Esta operao foi aplicada em solos com declives acentuados e com fraca capacidade r egenerativa de modo a mitigar a det eriorao do solo aps o incndio. Consiste em aplicar uma c obertura de r esduos orgnicos (mulch) e semear espcies herbc eas, de f orma a obter-se uma rpida pr oteco do solo (Bautista et al., 1996; Vallejo, 1996). Esta prtica reduz significativamente o escoamento e as taxas de eroso durante os primeiros dois anos aps o incndio. No decurso da r egenerao do ecossistema as espcies introduzidas foram progressivamente substitudas pelas nativas, o que mos tra que as primeiras no se comportaram como invasoras. Plantaes de rvores e arbustos de regenerao vegetativa Esta prtica pretendeu aumentar a resilincia e resistncia dos matos susceptveis ao fogo (frequentemente localizados em antigos campos agrcolas) dominados por espcies de r egenerao por sement e e que se c omportam normalmente como acumuladores de combustvel. Estas reas correm o risco de regredir para solos degradados na sequncia de f ogos recorrentes. As rvores e arbustos de r egenerao vegetativa so muit o resilientes ao f ogo (Keeley, 1986) e conferem ainda resilincia ao ecossistema (Ferran et al., 1991). A resistncia ao fogo, definida para cada espcie separadamente, dever relacionar-se com a inflamabilidade das espcies, det erminada pela es trutura da planta (densidade e quantidade de c ombustvel), a pr oporo de biomas sa morta, o t eor de humidade , e a pr esena de subs tncias que ac entuam ou diminuem a inflamibilidade ( compostos orgnicos volteis, resinas). Ao nvel da comunidade, a resistncia dever relacionar-se com a c ombustibilidade do ecossistema, mediante a c omposio em espcies, a es trutura da v egetao e as caractersticas da manta morta. A ttulo e xemplificativo, Ulex parviflorus considerada altamente inflamvel, sobretudo em po voamentos adultos onde se acumula muit o mat erial c ombustvel; Quercus coccifera, Erica multiflora, Rhamnus lycioides e Juniperus oxycedrus so consideradas medianamente inflamveis; e Pistacia lentiscus e Rhamnus alaternus mostram baixa inflamibilidade. Algumas espcies de arbustos altos consideradas resistentes e resilientes ao fogo foram introduzidas com sucesso, em condies sub-hmidas e semi-ridas onde essas espcies no es tavam presentes, com o objectivo de diminuir o risc o de incndio e melhorar a resilincia e estrutura do ecossistema. Plantao combinada de resinosas e folhosas Este procedimento foi usado para o restauro de florestas adultas. Pretendeu-se combinar as caractersticas de crescimento rpido dos pinheiros em reas degradadas com a elevada resilincia introduzida pelas azinheiras. Na tradio florestal esta operao executada sequencialmente (Montero e Alcanda, 199 3), introduzindo-se primeiro o pinheir o e s depois as f olhosas. No entant o, foi efectuada a plantao simultnea dos dois tipos de espcies, numa perspectiv a de reduo de custos e de aumento da viabilidade destas operaes.
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4. Decises no planeamento ps-fogo: da interveno de emergncia recuperao de longo prazo. Podemos distinguir diferentes fases, sequenciais, na definio de uma estratgia de interveno ps-incndio (Figura 4): a) a identificao de reas vulnerveis, b) a avaliao de impactos in situ, c) intervenes de emergncia, d) fase intermdia, e) fase de recuperao.
FASE
FASE
FASE
MONITORIZAO
INTERVENES DE EMERGNCIA
Com o objectivo de evitar eroso, riscos para bens e pessoas, pragas ou doenas
FASE
Recolha de salvados, anlise da resposta da vegetao ao fogo, anlise de ocorrncia de pragas, reflorestao, etc.
FASE INTERMDIA
FASE
FASE DE RECUPERAO
FIGURA
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Mesmo antes da ocorrncia de incndios, os gestores florestais possuem ferramentas que lhes per mitem cartografar a vulner abilidade das r eas sob sua gesto e identificar as reas prioritrias para interveno aps o fogo. Os dados necessrios para esse planeamento consistem em informao cartogrfica sobre a vegetao, tipo de solo e declives da rea, que permitem mapear a vulnerabilidade. Informao adicional sobre a severidade do fogo pode depois ser adicionada imediatamente a seguir ao fogo para determinar r eas pr ioritrias par a int ervenes de emergncia, c om objectivos de proteco do solo contra eroso. Para a regio de Valncia (Espanha), foi utilizada uma ferramenta SIG de identificao de reas vulnerveis ao fogo, baseada na combinao de cartografia que combinava a capacidade de regenerao da vegetao com factores de risco de degradao ambiental (Allosa e Vallejo, 2006). A capacidade de regenerao foi baseada em 2 variveis: o potencial de autosucesso (capacidade de regenerao da vegetao aps um incndio), que naquele contexto geogrfico foi considerada sempre alta com excepo dos povoamentos jovens de Pinus halepensis, e a taxa de r egenerao (velocidade com que se d a r egenerao), definida em funo da per centagem de espcies rebrotadoras e germinadoras de semente que ocorrem nos diferentes tipos de v egetao. Os factores de r isco de deg radao ambiental foram calculados como uma combinao do risco de eroso (a partir da USLE) e da intensidade do perodo seco na regio (3 categorias). A cartografia de vulnerabilidade dos ecossistemas ao fogo r esultou da combinao destas 4 camadas de informao e permitiu identificar as reas prioritrias para interveno de emergncia e recuperao a longo prazo, em caso de incndio. Estas reas correspondem a locais com, simultaneamente, uma baixa capacidade de regenerao e um elevado risco de degradao (Allosa e Vallejo, 2006). Ainda nesta fase, a cartografia dos valores em risco (infra-estruturas, reas particularmente sensveis, zonas com interesse cultural, etc.) deve ser integrada na identificao das reas vulnerveis.
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Mesmo se uma dada r ea foi identificada c omo muito vulnervel a incndios, um fogo com baixa intensidade e severidade pode implicar um risco muito baixo ou nulo de eroso e perda de solo. Obviamente, a severidade do fogo s pode ser avaliada aps este ocorrer. Desta forma, imediatamente aps os incndios deve ser feita uma avaliao expedita dos danos, em particular dos padres espaciais da severidade dentro da rea ardida. Esta informao, em conjunto com a da fase anterior (4.1), vai permitir definir as reas prioritrias para intervenes de emergncia. A informao sobre severidade pode ser r ecolhida atravs de det eco remota ou observao directa no campo. A primeira abordagem ainda apresenta vrios problemas metodolgicos, pelo que a observao directa pode ser mais expedita e eficaz. Na regio de Valncia, todos os incndios com uma rea superior a 100 hectares so visitados no espao de 2 semanas por uma equipa que faz um relatrio sumrio de avaliao de danos (em particular a severidade do fogo), tentando identificar as reas com elevado risco de eroso e fr aca capacidade de r egenerao, e recomendando desde logo intervenes urgentes em locais especficos, escala do projecto de restauro. Estes relatrios apresentam dados sobre a localizao e limit es da rea ardida, geologia, climatologia e condies meteorolgicas anteriores ao incndio, sinopse das condies meteorolgicas durante o incndio, ocorrncia de fogos ant eriores na mesma z ona, tipos de v egetao afectada, descrio genrica de nveis de severidade, identificao de reas sensveis de um pont o de v ista biolgico e de oc orrncia de infr aestuturas, breve descrio da resposta esperada de diferentes tipos de vegetao e do risco de eroso. Finalmente, so dadas recomendaes de aces a tomar, a curto e mdio prazo, tais como o seguimento de focos de escolitdeos, aces de proteco do solo, extraco da madeir a queimada e monit orizao da resposta da vegetao.
4.3. Interveno de emergncia
Estas intervenes, quando necessrias, devem ser efectuadas no prazo mximo de poucos meses aps o incndio, com o objectivo de minimizar os potenciais impactos negativos do fogo, em particular prevenir os processos de deg radao, particularmente do solo e da qualidade da gua,
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e prevenir riscos sanitrios (pragas e doenas). Outros critrios importantes para definir a localizao e tipos de interveno so os riscos para a segurana de pessoas e bens, questes paisagsticas (diminuio do impacto visual), e os objectivos preconizados para a rea ardida. Frequentemente, as intervenes de emergncia deveriam comear ainda na fase de combate ao incndio, ao definir est ratgias de pr oteco da r ede hidr ogrfica, infraestruturas e habitats com interesse de conservao mais sensveis.
4.4. Fase intermdia
Segue-se uma fase intermdia, nos dois anos seguintes ao incndio, em que se procede, entre outras aces, avaliao dos danos e monitorizao da reaco dos ecossistemas, recolha de salvados e, eventualmente, ao controlo fitossanitrio, aces de recuperao biofsica e mesmo j r eflorestao de zonas mais sensveis. Dependendo do grau de degradao dos ecossistemas e da aridez climtica, nalgumas regies a seleco da(s) espcie(s) para eventuais reflorestaes tem de sair do mbito restrito das espcies arbreas e incluir igualmente espcies arbustivas, apesar de, pelo menos no actual contexto climtico portugus, isso no ser previsvel. Pelo contrrio, devido elevada produtividade das estaes (nomeadamente no centro e norte do pas), os matos apresentam taxas de crescimento muito elevadas aps o fogo, repondo rapidamente a carga de combustvel. Com frequncia crescente, espcies exticas invasoras aumentam ainda mais a biomassa. Para alm disso, nalgumas situaes ocorre regenerao excessiva, como hoje visvel em muitas reas de pinhais adultos que arderam nos incndios de 2003 e 2005. Neste contexto, devem ser programadas e implementadas aces de gesto que permitam o aumento das espcies desejveis (nomeadamente folhosas) e impeam a dominncia das espcies indesejveis (invasoras, ou regenerao excessiva de espcies nativas, em particular em pinhais).
4.5. Fase de recuperao a longo prazo
Na terceira fase so planeados e implementados os projectos definitivos de recuperao/reflorestao, ou outras aces, em funo dos objectivos definidos para a rea ardida, normalmente a par tir dos trs anos aps a passagem do fogo. Exemplos incluem desbastes para controlar a regenerao excessiva ou aces para minimizar a invaso por espcies exticas.
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tambm nesta fase que se dever programar o planeamento escala da paisagem, de forma a reduzir a combustibilidade e aumentar a sua resistncia propagao do fogo (ver Captulo VI). Este planeamento pode implicar a promoo de polticas ec onmicas, agrcolas, ou florestais, escala local ou regional, com vista prossecuo dos objectivos pretendidos.
4.6. A importncia da monitorizao
O sucesso ou fracasso das aces de restauro esto sujeitos a um grande grau de incerteza, j que (1) os gestores no podem antecipar o contexto ambiental (incluindo o climtico) em que uma dada aco vai oc orrer; (2) o nvel de conhecimento cientfico sobre as espcies e ec ossistemas, e sobre as int eraces biolgicas entre os difer entes componentes do ecossistema, ainda incipient e. Neste contexto, impor tante aprender com os sucessos e os fracassos, pelo que o acompanhamento e avaliao cientficas das aces de r estauro pode ser m uito importante para que o nvel de c onhecimento v aumentand o. Para alm disso , o g rau de incerteza no sucesso das aces aconselha a que sejam seguidos princpios de gesto adaptativa, nos quais se ja possvel rectificar e re-orientar as aces tomadas em funo dos seus resultados. Uma vez mais, a monitorizao cientfica cr ucial, desde o c ontrolo da qualidade das medidas implementadas at a valiao da sua eficcia. Os cust os econmicos deste acompanhamento deveriam ser uma par te integrante de todas as aces de restauro (Vallejo et al., 2009). Dois aspectos-chave no podem ser esquecidos pelos gestores florestais, se desejarem que se possa avaliar a eficcia das aces que implementam no t rreno. O primeiro a carace terizao da situao de referncia. Esta caraterizao deve ser feita antes da implementao da aco. Por exemplo, de que forma podemos avaliar a eficcia de uma aco demulching na cobertura do solo se esta varivel no foi medida no incio? O segund o aspecto essencial a e xistncia de parcelas testemunha, com condies semelhantes s parcelas intervencionadas, mas onde no foi desenvolvida qualquer aco. Por exemplo, o significando de um aument o de 50% na c obertura d o solo, ou uma diminuio de 50% na taxa de er oso, ser muito diferente consoante a mesma variao nas parcelas testemunha tenha sido de 5% (a nossa aco foi muito eficaz) ou de 45% (o efeito da nossa aco foi marginal).
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VI.
1. Introduo 2. Princpios e estratgias de gesto 3. Princpios de gesto escala do povoamento florestal 4. Tcnicas de gesto de combustveis
4.1. Gesto do combustvel de superfcie 4.2. Gesto do combustvel de copas
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1. Introduo Este captulo aborda os princpios de gesto com o objectivo de minimizar os impactes dos incndios florestais. Estes princpios e estratgias dizem respeito a vrias escalas temporais e espaciais, sendo que na componente espacial devem ser consideradas duas escalas distintas: a escala dos povoamentos e a escala da paisagem. Num contexto de intervenes ps-fogo, estes princpios devero ser aplicados em fases distintas, e t endo desde logo em v ista uma melhor resistncia e r esilincia dos ecossistemas afectados pelos incndios fac e a novas ocorrncias nas mesmas r eas. A recuperao de r eas ardidas envolve gener icamente trs fases distintas: (i) a pr imeira, muitas vezes designada c omo de interveno ou estabilizao de emergncia , decorre logo aps (ou ainda mesmo dur ante) a fase de c ombate ao incndio e visa no s o controlo da eroso e a proteco da rede hidrogrfica, mas tambm a defesa das infra-estruturas e das estaes, habitats e espcies mais sensveis ou com especial valor de conservao; (ii) segue-se uma fase de reabilitao, nos d ois anos seguint es, em que se pr ocede, entre outras aces, avaliao dos danos e da reaco dos ecossistemas, recolha de salvados e, eventualmente, ao controlo fitossanitrio, a aces de recuperao biofsica e mesmo j r eflorestao de zonas mais sensveis onde esta seja aconselhvel; (iii) na terceira fase so planeados e implementados os projectos definitivos de recuperao/reflorestao, normalmente a partir dos t rs anos aps a passagem do fogo . Mais detalhes sobr e as diferentes fases da gesto ps-incndios podem ser vistos no Captulo V. 2. Prncipios e estratgias de gesto Os princpios genricos de gesto par a minimizar os impact es dos incndios podem resumir-se em d otar os espaos flor estais das car actersticas e infra-estruturas necessrias para a minimizao da rea ardida e consequentes danos ec olgicos e pat rimoniais, bem c omo ger ir as interfaces floresta/agricultura e floresta/zonas edificadas. Estes princpios devem ser baseados em 3 aspectos essenciais: Facilitar e controlar o acesso s zonas florestais, permitindo as aces de vigilncia, dissuaso, deteco e combate aos incndios;
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Limitar a expanso dos incndios compartimentando a paisagem e bloqueando os caminhos preferenciais do fogo, utilizando tcnicas de gesto estratgica de combustveis; Reduzir a severidade do fogo atravs das tcnicas mais adequadas de gesto de combustveis nos povoamentos e outras formaes vegetais. Pyne et al. (1996) distinguem trs estratgias possveis para a gesto de combustveis, respectivamente, reduo, converso e isolamento, que podem ser usadas escala da par cela ou do planeament o da paisagem. Os contextos biofsico e socioeconmico determinam a estratgia predominante e o balano entre estratgias. A reduo de combustveis, ou mais abr angentemente a sua modificao estrutural, altera a quantidade de c ombustvel disponvel para propagar o fogo e consequentemente reduz a intensidade do fogo. A reduo da disponibilidade de combustvel consegue-se removendo-o ou transformando-o. Para tal, podem utilizar-se tcnicas alternativas que se aplicam isoladamente ou em conjugao: intervenes moto-manuais ou mecnicas no sub-bosque ou no ar voredo, fogo controlado, tratamento qumico, e pastoreio dirigido. A est ratgia da converso consiste na alt erao da c omposio d o coberto florestal e uso do solo, substituindo ou diminuindo a representatividade da v egetao de ele vada c ombustibilidade. A mitigao d o potencial de comportamento do fogo alcana-se atravs das caractersticas das espcies a implantar ou a favorecer, por exemplo formao de folhada compacta ou r apidamente decomposta. Adicionalmente, pode v isar ou resultar em piro-ambientes mais hmidos e atenuadores da velocidade do vento. O critrio para a substituio pode e de ve incluir a resilincia da formao flor estal passagem d o fogo . As espcies disponv eis par a a converso e as alteraes ecolgicas resultantes restringem a aplicabilidade desta estratgia. Em Portugal, e a prazo, a tendncia natural de progresso da sucesso no sentido das quercneas (esclerfilas ou caduciflias) ou de formaes mistas resulta, num contexto florestal, na converso desejada. A uma escala da paisagem, esta converso pode ser conseguida atravs de polticas de planeamento e gesto do territrio. A estratgia de isolamento interrompe a continuidade da vegetao e compartimenta o espao florestal com o objectivo de confinar os incndios.
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Materializa-se atravs da instalao de faixas de largura varivel nas quais se exclui, modifica estruturalmente ou converte a vegetao (Figura 1). Estas faixas c orta-fogo, ou faixas de gesto de c ombustvel, constituem assim a implementao linear das duas est ratgias anteriores, preferencialmente acrescida de infra-estruturas de apoio supresso do fogo.
FIGURA
Faixa de gesto de combustveis efectuada com fogo controlado na serra do Maro. (Foto: Paulo Fernandes).
3. Prncipios de gesto escala do povoamento florestal escala do po voamento flor estal, as int ervenes de sil vicultura preventiva, incluindo a gesto do combustvel propriamente dita, visam a reduo da combustibilidade para nveis que aumentem as oportunidades e opes de controlo de um incndio e, ou, que minimizem o impacto do fogo, nomeadamente no est rato arbreo. Do pont o de v ista prtico, os tratamentos devem evitar fogos de copas ou transformar um fogo de copas num fogo de superfcie. Estas intervenes incluem a modificao do tipo de vegetao ou da quantidade e estrutura do combustvel. Os princpios gerais que de vem enquadrar as acti vidades de sil vicultura preventiva escala da formao florestal so os seguintes:
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1. Reduzir a disponibilidade de c ombustvel, por r emoo ou modificao estrutural. Este princpio adequa-se aos tipos florestais (resinosas ou folhosas esclerfila s) cuja c ombustibilidade se ja intrinsecamente mais elevada. 2. Favorecer estruturas florestais densas, que amenizem as condies ambientais favorveis propagao do fogo, isto que reduzam a velocidade d o v ento e aument em a h umidade no int erior da formao e que c ontrariam o desen volvimento de sub-bosque helifilo. Este princpio eficaz em folhosas de folha caduca e resinosas de montanha, actuando em sinergia com a sua tendencialmente reduzida combustibilidade. 3. Para a maior par te dos tipos florestais, fomentar o desen volvimento de car actersticas de matur idade, que reduz a vulner abilidade estrutural ao fogo e o dano infligido s rvores. Em certos casos, porm, h algumas e vidncias que suger em que as fases juvenis podero ser menos combustveis (e.g. Eucalyptus globulus). A defesa contra incndios em sistemas de silvicultura intensiva inicia-se na fase de desenho da plantao , a qual de ve considerar a for ma e dimenso dos talhes individuais, a densidade e caractersticas dos acessos, as faixas de interrupo e gesto do combustvel, e a distribuio de classes de idade (FFMG, 2007). Alm do controlo do combustvel do sub-bosque, as prticas recomendadas para gerir a acumulao de combustveis em plantaes so a remoo dos resduos lenhosos remanescentes da vegetao ou rotao anterior, o fomento do rpido crescimento das rvores e fecho de copas, a manuteno de densidade elevada (para evitar padres de vento adversos em caso de incndio), e a desramao precoce e frequente (FFMG, 2007). O adensamento consistente com a maximizao da produo lenhosa mas quando a composio do povoamento favorece combustibilidade elevada tem efeitos contraproducentes. Se o fogo de superfcie t ransitar para o copado o que em condies meteorolgicas severas pode suceder mesmo quando h descontinuidade vertical e tratamento do combustvel de superfcie a c onsequncia da densidade ele vada ser um fogo de copas extremamente violento, como o demonstram vrios casos de estudo compilados por Fernandes e Rigolot (2007). Modelos de comportamento
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do fogo e numerosa evidncia emprica obtida nos E.U.A. aps incndios tm permitido a formulao de orientaes para tratamento de combustveis em florestas secas de conferas. Em consonncia com as etapas de desenvolvimento do fogo, preconiza-se a adopo da seguinte sequncia de prioridades (Finney e Cohen, 2003; Graham et al., 2004): 1. Reduo ou modificao est rutural do combustvel superficial (manta morta e sub-bosque), para limitar a intensidade do fogo. 2. Desramao das r vores e eliminao de andar es de t ransio (regenerao arbrea, arbustos altos), minimizando a possibilidade de transmisso do fogo ao copado. 3. Desbaste do povoamento, com o objectivo de dificultar a transmisso do fogo entre rvores, evitando o fogo de copas activo. Pinhais resistentes a fogo frequente e de baixa severidade, inclusivamente na Pennsula Ibrica (e.g. Ful et al. 2008), apresentam-se abertos e v erticalmente desc ontnuos, validand o estas or ientaes (Figur a 2). Os povoamentos cuja est rutura assim modificada tm sido r eferidos como corta-fogos sombr eados (A gee et al., 2000) e zonas li vres de fogo de copas (FFMG, 2007) na literatura norte-americana e australiana, respectivamente.
FIGURA
Pinhal bravo resistente ao fogo, em Pegarinhos, Mura. O intervalo mdio entre fogos sucessivos nesta rea de 6 anos. (Foto: Paulo Fernandes).
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Existe uma grande diversidade de tcnicas de reduo ou remoo dos combustveis de superfcie, com custos e eficcia muito diferenciadas, sendo em seguida apresentadas as mais relevantes no contexto nacional. Os recursos disponveis e as condies locais de fisiografia, solo, clima e vegetao condicionam a escolha dos tratamentos de gesto do combustvel mais adequados. Quando as exigncias de manuteno so maiores, como nas faixas de gesto de combustvel, aconselhvel o uso de sequncias operacionais que combinem duas ou mais tcnicas, e.g. Rigolot e Etienne (1998).
Fogo controlado
O fogo controlado (ou prescrito) consiste no uso planeado do fogo em condies ambientais compatveis com a satisfao de objectivos de gesto especficos e formulados explicitamente. Das alternativas disponveis para o controlo do combustvel florestal, o fogo controlado a mais utilizada mundialmente, devido sua eficcia, versatilidade, possibilidade de uso em escala, e tambm por moti vos econmicos e ecolgicos (Graham et al., 2004). O fogo controlado a nica interveno de aplicao extensiva na paisagem, como sucede no sudeste e oeste dos EUA e na Austrlia (Fernandes e Botelho, 2003). Em povoamentos florestais o tratamento de eleio do combustvel superficial, desde que a casca das rvores seja suficientemente espessa para evitar o dano no tronco ou a utilizao econmica no seja prejudicada pela permanncia de material carbonizado (e.g. produo de pasta e papel) ou pelo calor/fogo (pinhais r esinados ou de pr oduo de fruto). Como principal limitao h a apontar a nec essidade de execuo dentro de uma janela meteorolgica relativamente restrita, frequentemente coincidente com os dias frios e secos do Outono e Inverno. O fogo controlado , de entre os tratamentos alternativos de gesto do combustvel superficial, aquele que assegura o mais completo impacte no complexo combustvel (Graham et al., 2004): 1. Reduz efectivamente o combustvel fino acum ulado, e por tanto diminui substancialmente a energia que um incndio subsequente pode libertar.
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2. Reduz a continuidade horizontal do combustvel, perturbando a expanso do fogo e diminuindo a probabilidade de focos secundrios. 3. O c ombustvel r emanescente c onstitudo por element os lenhosos grosseiros dispostos sobre manta morta compacta e por esqueletos de arbustos, com velocidade da combusto reduzida. 4. Dependendo da sua intensidade, o fogo controlado pode eliminar combustveis de transio entre o sub-bosque e o estrato arbreo (ramos mor tos, cascas suspensas, ar bustos alt os, r egenerao natural), subir a base da c opa por dessecao foliar , e causar mortalidade nos indivduos dominados. Estes efeitos concorrem para dificultar um fogo de copas e diminuir o potencial de focos secundrios.
Mtodos manuais e mecnicos
As alternativas ao fogo controlado mais bvias e mais usadas baseiam-se em meios mot o-manuais ou mecnicos. O corte da vegetao pode recorrer a motorroadoras, corta-matos de facas e de correntes acoplados a tractor, destroadores de mar telos e r oadores montados em br ao hidrulico. Comparativamente ao fogo controlado, as desvantagens mais bvias residem nas restries impostas pela topografia e tipo de solo, e na dificuldade, ou mesmo impossibilidade, de remover o combustvel, com implicaes econmicas e de eficcia. Quando o combustvel permanece no local, a efectividade das intervenes mecnicas na reduo do perigo de incndio est m uito dependente do grau de modificao est rutural conseguido, por e xemplo atravs de c ompactao ou estilhaament o. Em plantaes florestais m uito comum a g radagem com discos, que simultaneamente corta e enterra todo o combustvel. No entanto, semelhana dos restantes tratamentos mecnicos, no afecta o c ombustvel situado nas linhas de plantao, e por conseguinte dificilmente impede a progresso de um fogo impelid o pelo vento. A prtica, por vezes usada, de utilizao de lmina frontal associada a buldozer, pode acarretar efeitos negativos no solo, paisagem e patrimnio arqueolgico.
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Herbicidas
A aplicao de produtos fitocidas eficiente no controlo da vegetao do sub-bosque, pese embora o custo relativamente elevado e a possibilidade de contaminao ambiental. O impacte no contudo imediato, e a combustibilidade temporariamente elevada por converso de biomassa viva em morta (Brose e Wade, 2002).
Pastoreio
O pastoreio essencialmente um complemento a outras intervenes, prolongando o espao de t empo entre dois tratamentos consecutivos. O seu impacte selectivo e disperso e depende do encabeamento utilizado (e.g. Tsiouvaras et al., 1989), combinando o consumo de biomassa com um efeito de compactao. O fogo e o pastoreio so processos ecolgicos conceptualmente anlogos. Ambos induzem per turbaes da c omunidade vegetal nomeadamente mortalidade de indivduos e libertao de recursos e ambos so condicionados por car actersticas da vegetao comuns. Por exemplo, a quantidade de biomassa em p, a proporo de material verde ou seco, a presena de compostos volteis afectam tanto a probabilidade de ignio e propagao do fogo como a probabilidade de seleco de plantas pelos herbvoros (Bond e Keeley, 2005). Ambos os processos induzem efeitos nas comunidades tais como a alterao do balano competitivo entre espcies ou da estrutura da comunidade. No entanto, as caractersticas da vegetao que a tornam susceptvel ao fogo so tambm aquelas que tornam a vegetao menos apetecvel para os her bvoros. Estes normalmente evitam nas suas dietas plantas ricas em compostos volteis ou anti-nutricionais e preterem o material seco ao verde, caractersticas que, ao invs, o fogo selecciona. Este factor tem implicaes no c ontrolo da vegetao combustvel pelo pastoreio pois por vezes necessrio obrigar os animais a consumirem vegetao que normalmente no seleccionariam. Tal possvel utilizando-se suplementos alimentares ou cargas de pastoreio elevadas. O conhecimento da estratgia alimentar dos animais (se so predominantemente consumidores de plantas lenhosas ou herbceas) e o controlo da carga animal so factores essenciais na gesto da vegetao combustvel pelo pastoreio. Por exemplo, em Portugal, no Alto Alentejo, experincias
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de excluso de pastoreio com cervdeos evidenciaram redues de biomassa de herbceas de 2 t/ ha para 1.5 t/ ha a cargas animais apr oximadas de 0.4 indivduos/ha (Ramos, 2006) o que pode ter implicaes na propagao de fogos de superfcie pois existe uma correlaes forte e positiva entre a biomassa de herbceas, em especial gramneas, e a frequncia dos fogos de superfcie (Bond et el., 2001; Briggs et al., 2005). A utilizao de animais cujas dietas sejam preferencialmente de herbceas estar portanto mais vocacionada para o controlo do combustvel fino e dos fogos de superfcie que aquele origina (Hobbs, 2007). Os animais que c onsomem pr eferencialmente espcies lenhosas encontram-se mais vocacionados para o controlo da vegetao arbustiva e ar brea. Por e xemplo, em H uesca, Espanha, o c ontrolo de Genista scorpius, uma arbustiva nativa problemtica (devido ao se u potencial invasor e facilidade de ignio), foi efectivo atravs da utilizao de pastoreio com cabras domsticas no Outono (tendo-se reduzido a sobrevivncia da G. scorpius para 58% relativamente a reas no pastadas) (Valderrbano e Torrano, 2000). Ao nv el d o planeament o da paisagem, a utilizao int egrada d o pastoreio e a instalao de pastagens pode c ontribuir para o controlo dos matos e a dimin uio do risco de incndio . Em Portugal, o past oreio poder contribuir para manter as redes de gesto de combustveis. Caso a vegetao seja adequada em t ermos nutritivos, para alm da r eduo da carga c ombustvel, podero pot encialmente oc orrer ganhos de produo animal. Nos Estados Unidos da Amrica (e.g. GoatsRUs, Goats Unlimited), e tambm em P ortugal (Caprinos & C ompanhia) existem iniciativas empresariais cujos ser vios so o c ontrolo de vegetao ou eliminao de r esduos de cultur as agrcolas, atravs da utilizao de pastoreio por caprinos. Os rebanhos so transportados at s zonas alvo, confinados at ravs de v edaes elc tricas, c om quantidades de gua suficiente e deixados a pastar at que os objecti vos de reduo de carga combustvel sejam cumpridos. Em alguns casos nec essrio o for necimento de suplementos de alimentao, particularmente se os tipos de vegetao a consumir tiver valores nutritivos baixos. A inventariao do potencial de utilizao de herbvoros para controlo da carga combustvel nas redes primria e secundr ia pode ser feit o atravs da avaliao da disponibilidade e qualidade nutritiva da vegetao presente.
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As intervenes silvcolas no estrato arbreo recorrem desramao das rvores e ao desbaste do povoamento, usando meios de corte moto-manuais ou mecnic os. O fogo c ontrolado tambm uma o po a considerar, particularmente em formaes jovens ou de pouca estatura. O tipo e intensidade do desbaste e a evoluo posterior da vegetao determinam o impacte no complexo combustvel e no pir o-ambiente (Graham et al., 2004). A reduo significativa do potencial de fogo de copas activo em resinosas exige desbastes relativamente fortes que originam povoamentos sub-lotados (Reyes e OHara, 2002). Um compromisso entre produo lenhosa e reduo da combustibilidade atingido atravs de desbastes pelo baixo que removam algumas rvores codominantes e dominantes (Peterson et al., 2003), especialmente recomendado para florestas densas constitudas por indivduos pequenos (Weatherspoon e Skinner, 1996). Paradoxalmente, o efeito imediato das operaes silvcolas de tratamento do c ombustvel das c opas de ag ravamento das c ondies do piro-ambiente, de vido adio de c ombustvel ao sub-c oberto e abertura do povoamento ao vento e luz (Graham et al., 2004). Na verdade a remoo ou dest roamento do material produzido por um desbast e mais do que compensa o segundo efeito, sendo irrelevante um aumento da intensidade potencial do fogo de superfcie na presena de uma reduo drstica do possibilidade de fogo de copas (Weatherspoon, 1996). Intervenes c omplementares de t ratamento d os r esduos de desbast es e desramaes so por tanto indispensveis, tal como diversos estudos de caso demonstram (Graham et al., 2004). O custo envolvido ele vado, apesar de poder ser mitigado pelo valor comercial (inclusivamente para aproveitamento energtico) do material lenhoso extrado. 5. Gesto de combustveis no espao e no tempo O sucesso das ac tividades de pr eveno de incndios depende de adequado planeament o, o qual de ve c onsiderar questes espaciais e temporais. Onde intervir, como, quando e em que extenso? Nesta seco abordaremos sucintamente questes r elacionadas com o planeament o, desempenho e optimizao da gesto de combustveis.
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Do pont o de v ista espacial, a o peracionalizao d os pr incpios e estratgias de gesto de combustveis redutvel a duas opes, respectivamente interveno linear ou em rea. Em Portugal, as Redes Regionais de Defesa da Floresta contra Incndios (RDFCI) foram conceptualizadas em torno destas duas opes. Estas RDFCI, propostas pelo C onselho Nacional de Reflorestao na sequncia dos grandes incndios de 2003 e 2005, e traduzidas em lei pelo Decr eto-Lei n 124/2006 de 28 de J unho (posteriormente alterado pelo Decreto-Lei n 17/2009 de 14 Janeiro), tm como funo pr imordial concretizar territorialmente, de for ma coordenada, a estratgia regional de defesa da floresta contra incndios (DFCI), a qual tem por finalidade a reduo da taxa anual de incidncia de fogos florestais para nveis social e ec ologicamente aceitveis. Esta est ratgia aborda de forma integrada 3 reas fundamentais: 1. Preveno da ecloso d o fogo, v isando diminuir o nmer o de ocorrncias; 2. Planeamento do territrio, visando dotar os espaos florestais das caractersticas e infraestruturas necessrias para a minimizao da rea ardida e consequentes danos ecolgicos e patrimoniais, bem como gerir as interfaces floresta/agricultura e floresta/zonas edificadas; 3. Combate aos incndios, visando a reduo da rea de cada incndio e a salvaguarda de pessoas e bens, incluindo no s a primeira interveno como tambm toda a actividade de combate estendido. As RDFCI so constitudas por um conjunto de redes e aces sectoriais, designadamente, (i) Rede de faixas de gesto de combustvel; (ii) Mosaico de parcelas de gesto de combustvel; (iii) Rede viria; (iv) Rede de pontos de gua e de outros materiais retardantes; (v) Rede de vigilncia e deteco de fogos; (vi) Rede de infr aestruturas de c ombate. Neste subcaptulo concentramo-nos sobre faixas e parcelas de gesto dos combustveis. As faixas de gesto de combustvel (FGC) ser vem uma lg ica de conteno activa do fogo em bandas que definem compartimentos mais ou menos vastos. O tratamento extensivo em rea, atravs das designadas parcelas de gesto de combustvel, procura modificar o comportamento do fogo em reas dispersas de grande dimenso e reduzir a conectividade na paisagem das manchas de grande combustibilidade, permitindo a adopo de um mais variado leque de tcticas de supresso. Cada uma destas duas
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opes apresenta vantagens e inconvenientes e o peso relativo de cada uma nas RDFCI deve resultar das restries associadas ao regime de fogo que se pretenda manter, aos sistemas e funes flor estais prevalecentes na regio e aos diferentes aspectos scio-econmicos a respeitar.
5.1. Faixas de gesto de combustveis
Podemos definir uma faixa de gesto de combustvel (FGC) como uma parcela de t erritrio mais ou menos linear onde se gar ante a r emoo total ou parcial de biomassa florestal, atravs da afectao a usos no florestais (ag ricultura, infr aestruturas, et c.) e d o r ecurso a det erminadas actividades (silvopastorcia, etc.) ou a tratamentos silvcolas (desbastes, limpezas, fogo controlado, etc.), com o objectivo principal de reduzir o perigo de incndio. As FGC cumprem trs funes primordiais: Objectivo 1: diminuir a superfcie percorrida por grandes incndios, permitindo e facilitando uma interveno directa de combate na frente de fogo ou nos seus flancos; Objectivo 2: reduzir os efeit os da passagem de g randes incndios protegendo de forma passiva vias de comunicao, infra-estruturas e equipamentos sociais, zonas edificadas e povoamentos florestais de valor especial; Objectivo 3: isolar potenciais focos de ig nio de incndios, como sejam as faixas c ontguas s linhas elct ricas ou r ede viria, as faixas envolventes aos parques de recreio, etc. De forma mais geral, ao nvel da paisagem, as FGC tm por funes: (a) interromper efectivamente a continuidade de combustveis de risco na paisagem, com o objectivo de reduzir a ocorrncia de grandes incndios; (b) reduzir a intensidade do fogo e proporcionar zonas alargadas onde as operaes de supresso possam ser c onduzidas com maior eficincia e segurana; (c) providenciar faixas que facilit em posteriormente outros trabalhos de tratamento dos combustveis; (d) promover vrios benefcios no relacionados com o fogo (e.g . diversidade de habitats, valor cnico da paisagem) (e.g. Weatherspoon e Skinner, 1996; Agee et al., 2000; Cumming, 2001; Rigolot, 2002; CNR, 2005).
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Em Portugal, est a ser concebida uma rede de FGC a nvel regional, de acordo com a funcionalidade e responsabilidade de manuteno: (i) rede primria, de nvel sub-regional, delimitando compartimentos paisagsticos com determinada dimenso e sendo implementada nos espaos rurais; (ii) rede secundria, de nvel municipal ou local, desenvolvida sobre redes virias e ferrovirias, linhas elctricas, envolventes aos aglomerados populacionais e a todas as edificaes, aos parques de campismo, s infra-estruturas e parques de lazer e de recreio, aos parques e polgonos industriais, s platafor mas logsticas e aos at erros sanitrios; (iii) rede terciria, de nvel local e apoiada nas redes viria, ferroviria, elctrica e divisional das unidades de gesto florestal ou agro-florestal (vulgarmente designados como aceiros, arrifes ou aceiros perimetrais). As especificaes tcnicas e objectivos para cada uma destas redes esto sumarizadas nas Tabelas 1 e 2. importante salientar que a rede primria no desenhada para parar, por si s, um incndio, mas sim para conferir s foras responsveis pelo combate uma maior probabilidade de sucesso no ataque e conteno de um grande fogo florestal.
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TABELA 1
ESPECIFICAES TCNICAS DAS FAIXAS DE GESTO DE COMBUSTVEIS EM PORTUGAL
TIPO DE FGC
LARGURA FORMA
REDE PRIMRIA
>125-400m 1. rede 2. definindo blocos de 500-10,000 ha 1. facilitar a supresso e diminuir a dimenso dos incndios 2. promover a proteco passiva das reas urbanas, equipamentos sociais e florestas com valor de conservao 3. facilitar a supresso de ignies 1. eficcia esperada e segurana das foras de combate 2. topografia e uso do solo 3. ventos predominantes e historial anterior do fogo 4. custos de manuteno 5. ao longo de estradas 6. aproveitando estruturas lineares de grande dimenso (e.g. parques elicos) 1. f ogo controlado 2. pastoreio 3. actividades agrcolas 4. tratamentos mecnicos 5. cobertura arbrea < 30-50% 6. base das copas > 3 m 7. carga combustvel arbustiva < 2 ton/ ha
REDE SECUNDRIA
>7-100m Linhas ou buffers;
REDE TERCIRIA
6-10m Linhas ou buffers
OBJECTIVOS
1. promover a proteco passiva das reas urbanas, equipamentos sociais e florestas com valor de conservao 2. facilitar a supresso de ignies
na adjacncia das estruturas-alvo (estradas, reas urbanas, linhas elctricas, ferrovias, etc.)
na adjacncia de estradas florestais, limites de parcelas e linhas elctricas que atravessem povoamentos florestais
TCNICAS DE GESTO
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TABELA 2
ESPECIFICAES TCNICAS ADICIONAIS PARA AS FAIXAS DE GESTO DE COMBUSTVEIS NAS INTERFACES URBANO - RURAIS
TIPO DE REA ZONAS URBANAS LARGURA
> 50-100 m
ESPECIFICAES TCNICAS
1. distncia entre copa das rvores > 4 m 2. desramaes at 4m acima do solo ou 50% da altura das rvores 3. carga de combustvel < 2 ton/ha, com < 20% cobertura por vegetao no superior a 100 cm de altura 1. copas das rvores e arbustos a mais de 5 m dos edifcios 2. distncia entre copas das rvores > 4 m 3. desramaes at 4 m acima do solo ou 50% da altura das rvores 4. carga de combustvel arbustivo < 2 ton/ha, com < 20% cobertura por vegetao no superior a 100 cm de altura 5. sempre que possvel, faixas pavimentadas com 1-2 m em redor dos edifcios 6. uma faixa de 10m em redor do edifcio sem combustveis (excepto algumas rvores ou arbustos isolados)
EDIFCIOS ISOLADOS
> 50 m
FERROVIAS ESTRADAS LINHAS ELCTRICAS LOCAIS DE CAMPISMO, ZONAS DE RECREIO, REAS INDUSTRIAIS
> 100 m
1. copas das rvores e arbustos a mais de 5 m dos edifcios 2. distncia entre copas das rvores > 4 m 3. desramaes at 4 m acima do solo ou 50% da altura das rvores 4. carga de combustvel arbustivo < 2 ton/ha, com < 20% cobertura por vegetao no superior a 100 cm de altura 5. sempre que possvel, faixas pavimentadas com 1-2 m em redor dos edifcios
A rede primria deve apoiar-se sempre na rede viria existente, sem a qual no possui qualquer utilidade par a as oper aes de combate ao fogo. O desenho da r ede primria deve ter em considerao as particularidades da paisagem local e os padres histricos dos incndios na regio, designadamente no que r espeita s causas da ig nio e s c ondies meteorolgicas e de combustveis que propiciam o desenvolvimento de fogos de grande extenso e intensidade. No desenho e est ruturao das FGC devero ser utilizados, sempre que possvel, modelos de simulao de comportamento do fogo.
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Por outro lado, a concepo de uma FGC implica a ad opo simultnea de programa de manuteno (em intervalos de 2-5 anos), sem o qual se torna virtualmente ineficaz ou mesmo per igosa. A manuteno dever desejavelmente ser integrada com actividades geradoras de recursos financeiros como a silvopastorcia, a caa, a recolha de biomassa par a energia, a agricultura ou a produo de frutos silvestres. Igualmente dever ser optimizada a utilizao de sapadores florestais ou de outras estruturas locais que operem na gesto de combustveis. As FGC podem t omar for mas di versas, int egrando, apr oveitando e expandindo a diversidade de usos da terra na sua concepo. Esta estratgia abarca desde faixas nuas e estreitas, com origem nos programas de reflorestao e que ser vem tambm propsitos da gesto e e xplorao florestal, at corta-fogos arborizados, largos (100-400 m) e equipad os para o combate ao fogo (Pyne et al., 1996), passando pela utilizao de terrenos agrcolas ou reas sem combustvel (albufeiras, rios, afloramentos rochosos). Desta forma so criadas condies que dilatam a capacidade de interveno dos meios de c ombate terrestres ao aumentarem a sua segurana, eficincia e produtividade, e a eficcia das descargas efectuadas por aeronaves (Weatherspoon e Skinner, 1996). Estes autores assinalam porm que as FGC no modificam o c omportamento e efeitos do fogo na massa florestal, uma vez atingida, implicam um cust o de man uteno elevado e per ptuo (e que t endencialmente exclui a gesto de c ombustveis das manc has flor estais), e assenta em pr essupostos facilment e violados (ver 5.3).
5.2. Mosaico de parcelas de gesto de combustvel
Em conjunto com as FGC, a manuteno de um mosaico de parcelas onde se procede gesto dos vr ios estratos de combustvel e di versificao da estrutura e composio das formaes florestais e de matos, contribui decisivamente para mitigar a possibilidade de oc orrncia de fogos de dimenso e severidade catastrficas. Tal como no caso das faixas da r ede pr imria, a localizao , tipo e forma de instalao das parcelas deve ser determinada por uma anlise inicial dos caminhos preferenciais do fogo e das c ondicionantes ecolgicas, silvcolas, histricas e socioeconmicas na regio, complementada pela simulao do comportamento do fogo. O objectivo aqui garantir
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uma implementao territorial de reas tratadas que reduza a conectividade entre manchas de elevada combustibilidade e optimize os benefcios face s diferentes restries em jogo, sejam elas o custo da sua criao e manuteno, a facilidade de combate aos incndios, o impacte paisagstico, etc. Devero ser obser vadas as seguintes orientaes gerais para a sua implantao (no caso de formaes florestais ou matos): A descontinuidade deve ser mantida em par celas de 20 a 60 ha, com variao na composio, idade e estrutura dos povoamentos; devero ser identificadas an ualmente as localizaes est ratgicas para a realizao de aces de reduo de combustveis e alterao da est rutura dos po voamentos, bem c omo as super fcies que naturalmente cumprem as funes das par celas ou faixas: reas agrcolas, guas interiores, reas queimadas, afloramentos rochosos, infra-estruturas tursticas (campos de golfe), etc.; em igualdade de cir cunstncias, de ve ser dada pr ioridade ao tratamento de bloc os adjac entes s FGC, em especial no que respeita gesto do estrato arbustivo e eliminao dos factores que propiciam os saltos de fogo longos.
5.3. Expectativas, eficincia e optimizao
As expectativas em relao gesto de combustveis so frequentemente excessivas. Embora tal possa suceder, no expectvel que os tratamentos do combustvel detenham por si s a expanso dos incndios, particularmente em condies meteorolgicas severas. Assim, a prontido e desempenho do dispositivo de supresso do fogo condicionam geralmente a efectividade da gesto do combustvel. As opes de combate ao incndio e a efectividade da tctica de supresso utilizada aumentam na presena de t ratamentos r ecentes. A gesto de c ombustveis pode porm no resultar em reduo da rea ardida no pior dos cenrios meteorolgicos, muito embora o decrscimo da intensidade do fogo mitigue os impactes ambientais e socioeconmicos dos incndios nas reas tratadas. O sucesso da est ratgia de isolament o mede-se pelo g rau em que a expanso do incndio nas r eas tratadas limitada em r ea ou em permetro. As intervenes lineares de gesto do combustvel so as mais praticadas na E uropa, mas o se u desempenho fac e ao fogo inc erto.
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ponto assente que a c onteno por faixas est reitas de int errupo do combustvel se restringe aos flancos ou retaguarda do incndio (FFMG, 2007). FGC bem dimensionadas, isto com largura superior a 100 m, so frequentemente atravessadas ou t ranspostas por incndios de g rande intensidade, devido projeco de falhas com capacidade para iniciar focos secundr ios, or ientao desfa vorvel em r elao cabea d o incndio, ou inadequada manuteno ou guarnecimento com meios de combate. A rede de faixas de gesto do sul de Frana raras vezes deteve a progresso frontal dos incndios em 2003, apesar de t er atrasado o seu avano e ter restringido a sua expanso lateral (Perchat e Rigolot, 2005). A modificao estrutural do complexo combustvel, de acordo com os princpios atrs enunciados, altera inegavelmente o comportamento e a severidade do fogo em flor esta de c onferas (e.g., Pollet e Omi, 2002; Fernandes e Botelho, 2003; Finney et al., 2003; Fernandes e Rigolot, 2007; Safford et al., 2009). Estas e vidncias pr ocedem essencialment e de observaes em incndios ou de anlises c omparativas ps-fogo, o que restringe a generalizao dos resultados. Experimentao em eucaliptal (Gould et al., 2007) e pinhal br avo (Fernandes et al., 2004; Fernandes, 2009) pe em evidncia a importncia crtica do tempo decorrido desde o t ratamento (C aixa 1). C ondies est ruturais e de acum ulao de combustvel mais benig nas que na situao pr-t ratamento podem perdurar por 10-15 anos. N o entant o, d o pont o de v ista prtic o da supresso de um incndio, a persistncia do efeito ser substancialmente mais curta.
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CAIXA 1
LONGEVIDADE DO EFEITO DO FOGO CONTROLADO EM PINHAL BRAVO
A diminuio da combustibilidade geralmente evidente imediatamente aps o tratamento do c ombustvel, mas a c ompreenso das alt eraes temporais subsequentes limitada. Simulaes par a o pinhal br avo do noroeste de Portugal, sob condies meteorolgicas extremas, indicam que a reduo de combustvel que resulta da prtica do fogo controlado diminui em 96% a intensidade de um incndio, com uma variao de 59-100% (Fernandes e Botelho, 2004). A experimentao deve constituir a base das r ecomendaes sobre efectividade e periodicidade dos tratamentos do combustvel. Com este objectivo, Fernandes et al. (2004) efectuaram na serra da Padrela um fogo experimental no Vero, que percorreu um pinhal bravo com 28 anos de idade que inclua parcelas nunca intervencionadas e queimadas 13, 3 e 2 anos ant es, respectivamente designadas por U, RX13, RX3 e RX2. Nas par celas U e RX13 todas as rvores vieram a morrer e observou-se uma variao entre um fogo intenso de superfcie e um fogo de copas, cuja intensidade atingiu cerca de 11 000 kW /m; esta variao foi sobretudo explicada pela variao na velocidade do vento, mas a intensidade do f ogo tendeu a ser menor em RX13 par a ventos comparveis. Uma mudana drstica no c omportamento do f ogo foi observada em RX3 e RX2, onde o fogo se restringiu ao estrato superficial, respectivamente com intensidade reduzida e moderada e mortalidade arbrea de 55 e 41%. No mesmo povoamento, compararam-se as caractersticas de 36 fogos experimentais (no perodo de Novembro a Junho) distribudos por combustveis com 10 e 25 anos de acumulao, respectivamente T10 e T25 (Fernandes, 2009). As duas situaes dif eriram estatisticamente nas car gas do horiz onte de f olhada em decomposio e dos arbus tos, correspondendo em T10 r espectivamente a 64% e 80% dos valores de T25. Aps considerao do efeito de outras variveis ambientais, verificou-se em T10 uma reduo de 25% no comprimento da chama em relao a T25, no ha vendo distino entre as r espectivas velocidades de propagao do fogo. Os dois es tudos mostram como a persis tncia do ef eito do tr atamento com fogo controlado depende da dinmica do combustvel, isto do tempo necessrio para a sua reconstituio em carga e estrutura. No noroeste de Portugal o regresso s quantidades de manta morta e arbustos anteriores interveno faz-se respectivamente em 11 e 14 anos (F ernandes et al., 200 2). Contudo, o facto do sucesso do ataque directo cabea de um incndio ser c omprometido quando a carga de combustvel fino excede 8-10 t/ha sugere uma periodicidade ideal de 2-4 anos para o tratamento (Fernandes e Rigolot, 2007).
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Os benefcios que ad vm da modificao est rutural do complexo combustvel so menos v isveis em sist emas dominados por fogos de copas. Em matos mediterrneos, onde a intensidade do fogo atinge nveis extremos mesmo sob c ondies meteorolgicas relativamente suaves, a eficcia e per tinncia do fogo controlado tm sid o questionadas, e.g. Keeley e Zedler (2009). Em Portugal (dados de 1998-2008), a dimenso mxima dos incndios t ende a aumentar c om o en velhecimento dos matos, e em reas ocupadas por mosaicos de vegetao com idade mdia igual ou inferior a 4 anos a dimenso mxima dos incndios foi sempre inferior a 400 ha (Fernandes et al., 2010). O sucesso de qualquer est ratgia de gesto do c ombustvel inseparvel do seu padro espacial, ou seja a dimenso, forma, orientao e densidade das z onas de int erveno (Finne y e C ohen, 2003). c om facilidade que os grandes incndios contornam, atravessam ou transpem reas estreitas, pequenas ou isoladas. Tratamentos dispersos e com localizao aleatria, insuficientemente dimensionados ou com uma presena pouco significativa na paisagem r eduziro localmente a intensidade e severidade do fogo mas dificilmente serviro de obstculo sua expanso. A gesto de combustveis deve recair sobre reas estratgicas, em que as manchas t ratadas apr esentem um g rau r azovel de sobr eposio na direco de propagao do fogo. No SW da Austrlia o tratamento do eucaliptal com fogo controlado ao longo dos ltimos 50 anos r eduziu drasticamente a possibilidade de desenvolvimento de grandes incndios (Boer et al., 2009). Nessa regio, 71% da variao na rea anual ardida explicvel pela superfcie tratada com fogo controlado nos 6 anos anteriores, que aplicado em manchas individuais extensas com vista formao de mosaicos de combustvel de idade variada. Como regra geral, a man uteno estratgica de c erca de 20% do territrio num estado de combustibilidade reduzida satisfatria, permitindo reduzir para metade a r ea ardida num determinado intervalo de tempo (Finney, 2003). Este esforo de interveno corresponde ao tratamento anual de 5% da paisagem, admitindo um intervalo de 4 anos entre tratamentos; natur almente que a c onjugao das est ratgias de modificao estrutural e de c onverso permitiria reduzir aquela taxa anual de esforo.
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As decises sobre os nveis pretendidos de reduo do perigo e como os atingir devem ser ancoradas em infor mao espacialmente explcita sobre a probabilidade de incndio. O uso de simuladores do comportamento e expanso do fogo na paisagem torna o processo de deciso mais objectivo e permitem comparar alternativas de interveno. Aqui h que destacar o softwar e FlamMap que per mite o ptimizar o planeament o espacial da gesto de c ombustveis ao identificar os caminhos preferenciais d o fogo e as localizaes de t ratamento que maximizam os benefcios obtidos (Finney, 2007). Ao planeamento espacial dos tratamentos do combustvel sucede-se o planeamento escala da unidade de interveno, materializado numa prescrio explcita das modificaes no complexo combustvel. O desenvolvimento da prescrio exige a avaliao do comportamento do fogo, nica forma de r elacionar a pr etendida resistncia ao fogo c om a concretizao das operaes necessrias. A simulao do comportamento do fogo preenche a necessidade de seguir critrios objectivos e quantitativos, contribuindo par a super ar a actual incipincia das r ecomendaes quantitativa de silvicultura preventiva. Infelizmente os actuais modelos de comportamento do fogo so limitados na sua capacidade de predio (e.g. Cruz e Alexander, 2010), nomeadamente no que se refere ao efeito das alteraes estruturais nas caractersticas do fogo, o que naturalmente condiciona a capacidade de desenvolvimento de prescries slidas.
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167
VII.
1. Introduo 2. Perigo de incndio das florestas portuguesas: composio versus estrutura florestal 3. Incidncia do fogo
3.1. Padres de seleco pelo fogo por diferentes tipos de coberto do solo 3.2. O risco de incndio de vrios tipos de floresta em Portugal
4. Modificao da severidade do fogo em tipos florestais contguos a pinhal bravo 5. Implicaes para a gesto
168
1. Introduo Este captulo resume os resultados da investigao realizada durante os ltimos anos, no mbito do projecto Recuperao de reas ardidas e de outros projectos que foram desenvolvidos em paralelo pela equipa do projecto, com relevncia para a gesto d o fogo e das r eas ardidas. A infor mao enc ontra-se sumar izada em t rs seces, que abor dam, sequencialmente, o perigo de incndio, os padres de incidncia do fogo em diferentes tipos de coberto do solo, e as alteraes de nveis de severidade do fogo em funo do tipo de floresta. 2. Perigo de incndio das florestas portuguesas: composio versus estrutura florestal A descrio e classificao das caractersticas do combustvel florestal conduzem directamente a valiao da c ombustibilidade ou per igo de incndio, que no contexto da anlise do risco de incndio se refere ao comportamento potencial do fogo. O Inventrio Florestal Nacional (IFN) inclui variveis que descrevem a estrutura e composio da floresta Portuguesa. A anlise estatstica dos dados do IFN efectuada por Godinho-Ferreira et al. (2005) sintetizou em 22 tipos florestais a variabilidade existente. Cada tipo foi definido por uma conjugao da(s) espcie(s) dominante(s) com a estrutura do povoamento, a qual foi descrita simplesmente por uma de quatro combinaes entre os parmetros altura (baixa ou alta) e densidade (formaes abertas ou fechadas). Com o objectivo de analisar e classificar o per igo de incndio nestes tipos de floresta, Fernandes (2009) fez corresponder a cada tipo florestal um modelo de combustvel, considerando apenas os 19 tipos estritamente florestais. Para esse efeito, a descr io estrutural de cada tipo (c onsiderando a folhada e sub-bosque) foi traduzida nos parmetros que constituem um modelo de combustvel (ver Captulo I) e que so nec essrios para estimar as car actersticas de c omportamento d o fogo at ravs de software que implementa o modelo de Rothermel (1972). A combustibilidade de cada tipo florestal determinada pelas caractersticas do complexo combustvel mas tambm pelo piro-ambiente inerente formao vegetal, isto a forma como a sua estrutura afecta a velocidade do vento e humidade do combustvel morto, e como a sua composio determina
169
a humidade do combustvel v ivo. A simulao do comportamento do fogo, efectuada com o software Behave Plus (Andrews et al., 2005) para condies estivais severas, levou aqueles efeitos em considerao. A avaliao do perigo de incndio baseou-se em t rs parmetros, respectivamente a velocidade de propagao do fogo, a sua intensidade frontal e a probabilidade de fogo de copas, cujas estimativas se converteram em ndices relativos (escala 0-100). Uma anlise conjunta dos ndices permitiu agrupar os tipos florestais por nvel geral de perigo de incndio. Os resultados evidenciaram uma enorme variao no perigo de incndio (Figura 1), sugerindo que a estrutura dos povoamentos mais determinante que a sua composio em espcies. Por exemplo, a velocidade de propagao e int ensidade d o fogo variam r espectivamente dez e no ve vezes nos quatro tipos estruturais de eucaliptal. Pinheiro bravo, sobreiro e eucalipto incluem pelo menos uma var iante estrutural alto e aberto no caso d o pinheiro e e ucalipto, e alt o (fechado ou aber to) no caso d o sobreiro onde no expectvel a ocorrncia de fogo de copas.
VELOCIDADE DE PROPAGAO INTENSIDADE
SOBREIRO, CL SOBREIRO, CT SOBREIRO, OL SOBREIRO, OT PINHEIRO BRAVO, CL PINHEIRO BRAVO, CT PINHEIRO BRAVO, OL PINHEIRO BRAVO, OT CARVALHOS CADUCIFLIOS, CL CARVALHO NEGRAL, CL EUCALIPTO, CL EUCALIPTO, CT EUCALIPTO, OL EUCALIPTO, OT DIVERSA, CL DIVERSA, CT DIVERSA, OL DIVERSA, OT ACACIA
FOGO DE COPAS
25
50
75
100 0
25
50
75
100 0
25
50
75
100
NDICE DE PERIGO
FIGURA
Componentes do perigo de incndio dos dif erentes tipos de floresta em Portugal. Tipos estruturais: CL = fechada e baixa, CT = fechada e alta, OL = aberta e baix OT = aberta e alta. a, Adaptado de Fernandes (2009).
170
Nos povoamentos abertos e baixos a humidade do combustvel morto menor e a exposio ao vento maior, contribuindo decisivamente para o maior potencial de expanso do fogo. No entanto, as estruturas abertas tendem a registar menores cargas de combustvel e revestimento arbustivo, provavelmente reflectindo a dinmica do combustvel associada a plantaes jovens e povoamentos maduros, bem como o tipo de gesto prevalecente no montado. Os carvalhais tendem a apresentar o sub-bosque mais expressivo e mais hmido, com efeitos contraditrios no comportamento do fogo. A base da copa apresenta-se por sua vez mais elevada nos povoamentos de maior estatura, o que diminui a probabilidade do fogo de copas. Os extremos superior e inferior da intensidade do fogo e potencial de fogo de copas so compreensivelmente ocupados for formaes baixas e densas e por florestas altas e abertas, as primeiras apresentando desenvolvimento do sub-bosque e acumulao de combustvel mais elevados. A classificao e dist ribuio dos tipos de flor esta por classe de per igo podem ser vistas na Tabela 1.
TABELA 1
CLASSES DE PERIGO DE INCNDIO PARA OS VRIOS TIPOS DE FLORESTA PORTUGUESA . BASEADO EM FERNANDES ( 2009 ) PERIGO BAIXO Velocidade de propagao varivel. Intensidade reduzida. Risco nulo de fogo de copas. MODERADO Fogo de superfcie com potencial moderado. Risco elevado de fogo de copas, mas apenas moderado em pinhal bravo e eucaliptal. ALTO Intensidade moderada a elevada. Velocidade de propagao e susceptibilidade a fogo de copas so muito elevadas. MUITO ALTO Velocidade de propagao moderada. Intensidade elevada a muito elevada. Risco extremo de fogo de copas. Florestas fechadas e baixas de P. pinaster, eucaliptos e accias Florestas abertas e altas; Florestas fechadas e altas de (i) Quercus suber ou (ii) outras florestas diversas (maioritariamente Pinus pinea, P. sylvestris, Castanea sativa e carvalhos de folha caduca) Florestas fechadas e baixas de (i) carvalhos de folha caduca, (ii) sobreiros e (iii) floresta diversa (e.g. Quercus rotundifolia, P. pinea, P. sylvestris, C. sativa, entre outros); Florestas fechadas e altas de P. pinaster; Florestas altas (abertas ou fechadas) de eucalipto Florestas abertas e baixas TIPOS DE FLORESTA
171
Os resultados no so inesperados, j que coincidem com observaes dos efeitos da composio e estrutura florestal na incidncia e severidade do fogo (ver as restantes seces deste captulo), e vo de enc ontro aos princpios de silvicultura preventiva e gesto de combustveis enunciados no Captulo VI. A metodologia adoptada permitiu avaliar de forma consistente e objectiva a combustibilidade associada a cada tipo florestal. Os resultados indicam que devem ser evitadas as generalizaes sobre o perigo de incndio efectuadas apenas com base na composio especfica dos povoamentos. Pelo contrrio, a estrutura florestal que afecta o piro-ambiente meteorolgico e tem alguma correlao com as caractersticas do complexo combustvel influencia sobremaneira a vulnerabilidade ao fogo. Desta forma torna-se evidente a relevncia das actividades de gesto, pelo impacto que tm na dinmica do combustvel e do povoamento: o perigo de incndio associado a tipos florestais de combustibilidade intrinsecamente elevada, como o pinhal bravo, o eucaliptal e as quercneas esclerfilas, varia decisivamente com o tipo e intensidade da gesto a que so submetidos. 3. Incidncia do fogo
3.1. Padres de seleco do fogo por diferentes tipos de coberto do solo
O incio dos incndios e a sua propagao resulta da complexa interaco entre fontes de ignio, condies meteorolgicas, topografia e coberto vegetal (associado estrutura da vegetao e distribuio de combustvel) (e.g. Rothermel, 1983; Mermoz et al., 2005). O coberto vegetal uma varivel chave, e escala da paisagem o incndio desen volve-se, a partir de um epicentro local (ponto de ignio) com uma velocidade de propagao que acentuada ou retardada pelo grau de heterogeneidade da paisagem (Turner e Dale, 1990). Certos tipos de coberto vegetal (e.g. matos ou plantaes de conferas) de uma paisagem so mais susceptveis aos incndios que outros (e.g. zonas hmidas, reas agrcolas ou parcelas recentemente ardidas) (e.g. Forman, 1997; Moreira et al.,2001; Mermoz et al.,2005), devido a diferenas na estrutura, humidade e composio da carga c ombustvel (Rothermel, 1983). Tais factores originam diferentes padres de comportamento do fogo nos diferentes tipos de coberto vegetal (ver seco anterior).
172
A configurao final das parcelas ardidas pode fornecer-nos informao til sobre o consumo diferenciado das classes de coberto vegetal previamente existentes. Numa dada paisagem, se os diferentes tipos de coberto vegetal apresentarem a mesma susc eptibilidade ao fogo, pode-se ento presumir que o incndio se desenvolver aleatoriamente, consumindo as diferentes classes de coberto proporcionalmente sua abundncia relativa antes do fogo. Alternativamente, se o fogo c onsumir preferencialmente certas classes em detrimento de outras, a gesto da paisagem poder usar este conhecimento em aplicaes prticas de minimizao d o risco de incndio pela pr omoo de c oberturas de solo menos susc eptveis ao fogo, por exemplo nas faixas de gesto de combustvel. Utilizando uma abordagem que se baseia na estimativa de um ndice de seleco dos incndios por diferentes tipos de coberto do solo, Moreira et al. (2009) utilizaram a cartografia de ocupao do solo de 1990 (COS90) e as reas ardidas (com dimenso superior a 5 ha) no perodo de 1990 a 1994 (5590 reas ardidas), para caracterizar o padro de seleco dos incndios, quer a nvel nacional, quer em cada uma de 12 r egies ecolgicas de Portugal continental.
Estimativa dos ndices de seleco pelo fogo
A abor dagem utilizada c onsistiu em c omparar a c omposio d o coberto vegetal existente antes do fogo num buffer circular que envolve (e incl ui) cada par cela ar dida (c oberto v egetal disponvel), c om a composio do coberto vegetal no interior dessa parcela ardida (coberto vegetal consumido). Assim, se o incndio se desenvolveu na paisagem de modo indiferente ao tipo de coberto, de esperar que a composio do coberto vegetal na parcela ardida e no buffer (parcela ardida + envolvncia) sejam semelhantes. Pelo contrrio, se uma ou mais classes de c oberto vegetal arderam mais (ou menos) que a sua disponibilidade r lativa, de e esperar que a composio do coberto na parcela ardida e no buffer sejam diferentes e, neste caso, o fogo seria considerado selectivo. Os padres de seleco do coberto vegetal pelo fogo foram caracterizados atravs de coeficientes de seleco (Manly et al., 1993; Moreira et al., 2001). O coeficiente de seleco (wi) para uma determinada classe de coberto vegetal i um ndice de seleco estimado por wi = oi/i (Manly et al. 1993), onde oi a proporo ocupada pelo coberto vegetal i na parcela consumida pelo
173
fogo e i a proporo ocupada pelo coberto vegetal i no respectivo buffer. Se um determinado tipo de coberto arde proporcionalmente sua disponibilidade, ento w = 1. Se w > 1, o coberto foi consumido em maior proporo (preferido) do que ser ia de esper ar n um evento aleatrio. Por ltimo, se w < 1, o coberto foi consumido em menor proporo (evitado). Como ant es r eferido, o c oberto v egetal c onsumido foi obtid o, par a cada parcela ardida, atravs da estimativa da proporo da sua r ea total coberta pelos diferentes tipos de coberto (antes do fogo). Para determinar o coberto vegetal disponvel, criou-se em torno das parcelas ardidas um buffer circular, centrado nas coordenadas do centride da parcela, com rea igual extenso do maior incndio na respectiva regio ecolgica. Esta dimenso mxima foi utilizada como um indicador da extenso potencial de um incndio em cada regio. Determinaram-se mdias e intervalos de confiana (95%) para cada tipo de coberto vegetal ao nvel do pas e separadamente em cada r egio. I ntervalos de c onfiana que no incl uram w=1 representaram classes de coberto que foram significativamente preferidas (se o intervalo acima de 1) ou evitadas (se o intervalo abaixo de 1) pelo fogo.
Padres gerais de seleco pelo fogo por diferentes tipos de coberto do solo
escala nacional os mat os constituram a nica classe de c oberto vegetal que ar deu mais d o que ser ia de esper ado relativamente sua disponibilidade, o que indica uma clara preferncia do fogo por este tipo de coberto (Figura 2).
FIGURA
Coeficientes de seleco mdios (w) (com intervalos de confiana de 95%) para os tipos de coberto vegetal ardidos no perodo 1990-1994 em Portugal. O coberto vegetal inclui culturas anuais (ac), culturas permanentes (pc), sistemas agro-florestais (agf), matos (srb), floresta de conferas (con), floresta de eucaliptos (euc), floresta de folhosas (brl), floresta mista de conferas e eucaliptos (mx), e floresta mista de folhosas e conferas ou folhosas e eucaliptos (mxb). Adaptado de Moreira et al. (2009).
174
Um r esultado semelhant e foi obtid o por N unes et al. (2005) que caracterizaram os padres de seleco do fogo em Portugal durante 1991, utilizando outro tipo de abor dagem. Esta ele vada susceptibilidade dos matos para arder poder ser e xplicada por vr ias razes, incluindo: (a) a baixa prioridade dada ao combate a incndios em zonas de matos ( o coberto vegetal ao qual nor malmente se at ribui um menor valor); (b) a ocorrncia de fogos associados actividade pastoril, com o objectivo de criar pastagens para o gado (os fogos de origem pastoril representam em mdia 20% do total de ocorrncias com causa determinada); (c) o facto de os matos poderem ser um coberto vegetal muito comum nas zonas mais declivosas, que favorecem a propagao do fogo; (d) a velocidade e intensidade de propagao devero ser elevadas neste tipo de coberto fechado e baixo (ver seco 2). As florestas ocuparam o segundo lugar nas preferncias do fogo, com os povoamentos de c onferas, mistos ou pur os, a most rarem-se mais susceptveis ao fogo do que as florestas de eucalipto e de outras folhosas. As culturas agrcolas (tanto anuais como permanentes) e os sist emas agro-florestais foram os cobertos vegetais menos preferidos pelo fogo. Uma anlise multivariada de classificao com base nas variaes regionais dos padres de seleco do fogo nas diferentes regies do pas permitiu a identificao de t rs g rupos geog raficamente distint os (Figur a 3). O primeiro grupo incluiu 4 regies no noroeste de Portugal onde o fogo mostrou uma pr eferncia m uito baixa por cultur as an uais, cultur as permanentes, sist emas ag ro-florestais e flor esta de folhosas, e uma preferncia elevada por matos. Em contraste, num segundo grupo de 3 regies no sul de Portugal, o fogo apresentou a preferncia mais elevada para culturas anuais, culturas permanentes, sistemas agro-florestais e florestas de folhosas, e mais baixa par a matos. O ltimo g rupo inclui 5 regies no c entro e nor deste de P ortugal e apr esenta pr incipalmente padres de fogo int ermdios ent re os dois g rupos ant eriores, mas tambm maior preferncia por conferas e menor por eucaliptos.
175
FIGURA
Regies ecolgicas utilizadas neste estudo, definidas por Albuquerque (1985), e agrupamentos de regies com base nas semelhanas entre padres de seleco do fogo. Cada um dos grupos est representado por uma cor. Numerao das regies: 1 Noroeste 2 Alto Portugal 3 Nordeste Transmontano 4 Beira Douro 5 Beira Litoral 6 Beira Alta 7 Beira Serra 8 Estremadura 9 Beira Baixa 10 Sado e Ribatejo 11 Alentejo 12 Algarve Adaptado de Moreira et al. (2009).
2 4 6 7
10
11
12
Os resultados obtidos para cada classe de coberto vegetal encontram-se na Figura 4. Em todas as regies as culturas anuais foram evitadas pelo fogo, excepo da regio do Sado e Ribatejo e do Alentejo, onde arderam proporcionalmente sua disponibilidade na r egio (i.e. os int ervalos de confiana para os coeficientes de seleco incluram o valor 1). Estas culturas foram particularmente evitadas nas regies a noroeste. As culturas permanentes foram evitadas igualmente em todas as regies, apesar de no sul terem sido comparativamente mais susceptveis ao fogo (Estremadura, Sado e Ribatejo, Alentejo e Algarve). Os sistemas agro-florestais arderam proporcionalmente disponibilidade no Sado e Ribatejo, e Alentejo. Nas outras r egies for am e vitados pelo fogo , em par ticular nas r egies a noroeste.
176
4.0
NOROESTE
2.0
ALTO PORTUGAL
3.0
1.5
2.0
1.0
1.0
0.5
0.0
AC PC AGF SHR CON EUC BRL MX MXB
0.0
AC PC AGF SHR CON EUC BRL MX MXB
2.0
NORDESTE
6.0 5.0
BEIRA LITORAL
0.0
AC PC AGF SHR CON EUC BRL MX MXB
BEIRA ALTA
2.0
BEIRA DOURO
1.5
0.5
0.0
AC PC AGF SHR CON EUC BRL MX MXB
2.0
2.0
ESTREMADURA
1.5 1.5
BEIRA SERRA
1.0
1.0
0.5
0.5
0.0
AC PC AGF SHR CON EUC BRL MX MXB
0.0
AC PC AGF SHR CON EUC BRL MX MXB
177
BEIRA BAIXA
SADO E RIBATEJO
EUC
BRL
MX
MXB
AC
PC
AGF
SHR
CON
EUC
BRL
MX
MXB
1.5
ALENTEJO
2.5 2.0
ALGARVE
0.5
0.0
AC PC AGF SHR CON EUC BRL MX MXB
FIGURA
Coeficientes de seleco mdios ( e intervalos de confiana a 95%) par a os tipos de c oberto vegetal ardidos em 12 regies de Portugal. O coberto vegetal inclui culturas anuais (ac), culturas permanentes (pc), agro-florestais (agf ), matos (srb), floresta de c onferas (con), floresta de eucaliptos (euc), floresta de folhosas (brl), floresta mista de conferas e eucaliptos (mx), e floresta mista de folhosas e conferas ou folhosas e eucaliptos (mxb). Adaptado de Moreira et al. (2009).
Os coeficientes de seleco mostraram uma clara preferncia do fogo pelos matos, excepo das regies do Sado e Ribatejo e do Alentejo, onde os intervalos de confiana sugerem que os matos arderam proporcionalmente sua disponibilidade. No que respeita s florestas de conferas, os resultados sugerem que este coberto ligeiramente evitado em todas as regies, com excepo do c entro de Portugal (Beira Litoral, Beira Alta, Beira Serra, Beira Baixa e Estremadura), onde as conferas arderam proporcionalmente sua disponibilidade. As florestas de eucaliptos arderam proporcionalmente sua abundncia relativa no Algarve, Beira Litoral e Estremadura, enquant o que nas r estantes r egies, ar deram menos d o que o esperado. A maior preferncia por este tipo de coberto vegetal foi observada nas regies costeiras, tendo-se reduzido em direco ao interior.
178
As florestas de folhosas ar deram menos do que o esper ado, excepto na regio Sado e Ribatejo, onde arderam de acordo com a sua disponibilidade. As florestas mistas de eucaliptos e conferas arderam de acordo com as disponibilidades na Beira Litoral e Estremadura, enquanto que nas restantes regies arderam menos do que o esperado. As florestas mistas de folhosas e conferas ou eucaliptos arderam proporcionalmente sua disponibilidade na Beira Serra, Beira Alta, Beira Litoral, Nordeste e Estremadura, e foram evitadas nas restantes regies.
O que explica as variaes regionais na susceptibilidade do coberto vegetal?
As variaes regionais na susceptibilidade ao fogo de um determinado tipo de coberto podem ser explicadas por vrios factores: (a) os padres de ignio podem variar de regio para regio; (b) diferenas climticas, que podem fazer com que um determinado coberto vegetal possa ser mais susceptvel ao fogo nas regies mais ridas; (c) diferenas na gesto agrcola e florestal; (d) diferenas na estratgia e eficincia do combate aos incndios; (e) diferenas na disponibilidade, uma vez que nas regies onde um tipo de coberto escasseia, ainda que este seja altamente combustvel, a preferncia do fogo poder ser baixa. As difer enas r egionais obser vadas nas cultur as per manentes, nas culturas anuais e nos sistemas agro-florestais, podem ser explicadas por diferenas nas prticas agrcolas, claramente ligadas s condies climticas. Por exemplo, as culturas anuais no noroeste de Portugal so na sua maioria ir rigadas, o que r eduz sig nificativamente a c ombustibilidade. No sul e no interior nordeste o clima mais rido, a proporo de campos irrigados m uito menor e a pr oporo de t errenos em pousio e past os secos aumenta bastant e, o que c ontribui par a o aument o d o r isco de incndio. As diferenas regionais na susceptibilidade dos matos ao fogo so mais difceis de compreender. O padro de oc orrncia das ig nies pode explicar estes resultados, na medida em que nas regies a noroeste o uso tradicional do fogo ainda comum na gesto dos campos. Para alm disso, dada a precipitao elevada nestas regies, a consequente elevada produtividade permite gerar maiores cargas de c ombustvel nos matos. Como foi mencionado anteriormente, uma das hipteses para explicar as diferenas regionais de preferncia do fogo por um dado tipo de coberto
179
do solo a sua disponibilidade r egional. De facto, em regies onde um tipo de coberto vegetal escasseia, ainda que este seja altamente combustvel, a preferncia estatstica do fogo poder ser baixa pelo simples facto de que a probabilidade de arder ser tambm baixa. De facto, verificou-se que em relao s florestas de folhosas, conferas, eucaliptos, e s flor estas mistas de c onferas e e ucaliptos, entre 40-85% das diferenas na susceptibilidade regional ao fogo pode explicar-se pelas diferenas na abundncia relativa destes povoamentos. Tal significa que a susceptibilidade ao fogo cresce proporcionalmente rea ocupada. No caso dos out ros tipos de c oberto vegetal no for am encontradas correlaes significativas.
Anlise comparada do risco dos diferentes tipos de floresta
Nos tipos de floresta em que se comprovou existir uma influncia da disponibilidade regional nos ndices de seleco, foi modelada esta relao e e xtrapolada a pr oporo de c oberto que c orresponderia a um valor de coeficiente de seleco igual a 1 (r ardida proporcional rea ea disponvel). O btiveram-se valor es de 10% par a as flor estas mistas de conferas e eucaliptos, 30-35% para as florestas de conferas e 40-45% para os eucaliptos. Para as florestas de folhosas a estimativa mxima do coeficiente de seleco foi infer ior a 1 (0.87 par a 100% de c obertura). Estes valores indicam o risco relativo de incndio nos diferentes tipos de povoamentos, que independente da sua disponibilidade actual nas diferentes regies e sugerem uma progressiva diminuio da susceptibilidade ao fogo ao longo do gradiente: floresta mista de conferas e eucaliptos > conferas > eucaliptos > folhosas. Vrias interpretaes podem desenvolver-se no sentido de explicar estas diferenas. Em primeiro lugar, diferenas na estrutura dos povoamentos associadas a cada tipo de flor esta, sobretudo ao nvel da continuidade horizontal e vertical dos combustveis, afectam a combustibilidade e consequentemente fazem variar a capacidade de controlo de um incndio (ver seco 2). Em segundo lugar, o nvel de gesto e preveno de incndios pode explicar as diferenas. Uma parte significativa das reas de eucalipto so geridas de forma intensiva, incluindo uma gesto mais cuidada d os combustveis e sistemas de vigilncia e combate privados. Para alm disso, os povoamentos de eucalipto tm geralmente ciclos de rotao mais curtos
180
do que as c onferas, o que r esulta numa maior pr oporo relativa de plantaes recentes e de reas cortadas, que podem ser menos susceptveis ao fogo. Em contraste, uma maior pr oporo de conferas so ger idas extensivamente (em termos de silvicultura e preveno de incndios), com uma menor frequncia de aces de gesto. A situao nos povoamentos mistos pode ser ainda pior , na medida em que so car actersticos de parcelas de pequena dimenso , onde os pr oprietrios no efectuam qualquer tipo de gesto da floresta. Todos estes factores podero contribuir para o fraco incremento na susceptibilidade das florestas de eucalipto ao fogo medida que a sua r ea aumenta, em comparao com os povoamentos mistos ou puros de conferas. Nas folhosas det ectou-se igualment e que uma par te sig nificativa (40%) da variao regional na susceptibilidade ao fogo pode ser explicada pela disponibilidade regional deste coberto. No obstante, existem tambm variaes regionais nas espcies de r vores envolvidas, com as espcies de folha caduca mais c omuns no nor te (e.g. Castanea sativa, Quercus robur e Q. pyrenaica) e as de folha perene (Quercus rotundifolia e Q. suber) mais comuns no sul e nordeste. As ltimas so provavelmente mais susceptveis ao fogo porque constituem piro-ambientes mais secos e expostos ao vento (ver seco 2).
3.3. O risco de incndio de vrios tipos de flor esta em Portugal
Silva et al. (2009), utilizando dados do Inventrio Florestal Nacional (IFN) de 1997/8, analisar am os padres de selec tividade d o fogo por oito tipos difer entes de flor esta (povoamentos puros e d ominantes de Castanea sativa, Quercus suber, Quercus rotundifolia, Eucaliptus globulus, Pinus pinaster, Pinus pinea, folhosas no especificadas e r esinosas no especificadas), utilizando 3 abordagens diferentes: (a) ndices de seleco, (b) a proporo de parcelas dos vrios tipos (baseadas no mapa de coberto do solo) queimadas, e (c) proporo de parcelas do IFN dos vrios tipos queimadas. Para alm disso, exploraram a relao entre a probabilidade de fogo (no perodo 1998-2005) e a composio e estrutura (baseada em 3 ndices estruturais e na percentagem de cobertura em vrios estratos de altura) dos povoamentos.
181
A anlise integrada das 3 abordagens utilizadas mostrou que os povoamentos de pinheir o br avo, e ucalipto e de folhosas no especificadas (maioritariamente Quercus robur e Q. pyrenaica) apresentavam um maior risco de incndio quand o c omparados c om os de pinheir o manso , sobreiro, azinheira e castanheiro. A aparente contradio com os estudos de Fernandes (2009) e M oreira et al. (2009), em que as folhosas so menos susceptveis do que out ros tipos de floresta, pode ser e xplicada pelo facto de, nas parcelas do IFN, uma parte substancial destes pontos corresponderem a reas que apresentam uma fisionomia mais prxima de matos do que de floresta (ver abaixo). As variveis mais importantes na determinao da probabilidade de arder foram o tipo de floresta e o ndice de cobertura (um indicador da cobertura acumulada nos estratos verticais considerados). De uma forma geral, a pr obabilidade de ar der aumentou com o ndic e de c obertura (Figura 5), sendo o aumento mais notrio no caso do pinheiro-bravo. No entanto, no caso das folhosas no especificadas, o risco de incndio diminuiu com o aumento do ndice de cobertura (Figura 5). Este facto pode ser
2.0
PROBABILIDADE DE OCORRNCIA
1.5
1.0
0.5
NDICE DE COBERTURA
Azinheira
Probabilidade de ocorrncia de fogo, durante o perodo 1998-2005, em funo do ndic de e cobertura de 5 tipos de flor esta. Sobreiro; Azinheira; Pinheiro bravo; Eucalipto; Folhosas no especificadas (maioritariamente Q. robur e Q. pyrenaica). Adaptado de Silva et al. (2009).
182
explicado pela ocorrncia de temperaturas mais baixos, menos vento e maior humidade, no interior dos povoamentos adultos de folhosas. No caso dos eucaliptos, o risco era mximo para nveis intermdios de cobertura. As diferenas verificadas para os diferentes tipos de floresta podiam ser explicadas um funo da sua estrutura e do tipo de gesto. Por exemplo, os povoamentos de pinheiro bravo apresentavam os maiores valores de cobertura para as classes de vegetao at 1 m de altura, o que contribua para a sua combustibilidade. Os povoamentos classificados como folhosas no especificadas correspondiam frequentemente a reas no geridas em regenerao, com uma fisionomia semelhante a matos. Uma parte significativa dos povoamentos de sobreiro, azinheira e castanheiro, so geridos em sistemas agro-florestais com baixa densidade de rvores, o que explicar o seu baixo risco comparado. 4. Modificao da severidade do fogo em tipos florestais contguos a pinhal bravo expectvel que a se veridade do fogo var ie substancialmente entre tipos de vegetao. Fogos severos podem ter consequncias nefastas nos atributos e processos dos ecossistemas, nomeadamente na eroso do solo, fragmentao e disponibilidade de habitats, padres de resposta e recuperao da vegetao, invaso por espcies exticas e dinmica do carbono (Miller et al., 2009). Consequentemente, a gesto florestal beneficia granmente do conhecimento e capacidade de pr edizer os padres de se veridade do fogo. Num determinado incndio a interaco entre a vegetao, a topografia e a oscilao das condies meteorolgicas condiciona o comportamento do fogo e por tanto os respectivos efeitos. O processo de expanso dos grandes incndios, impelidos por situaes met eorolgicas extremas, pode ser independente do tipo de vegetao, e.g. Podur e Martell (2009). No entanto, mesmo nas c ondies mais ad versas, de esper ar que os padres espaciais da se veridade do fogo respondam int eraco entre a composio e est rutura florestal, o piro-ambiente meteorolgico e a posio topogrfica (Lentile et al., 2006; Oliveras et al., 2009). Em muitas circunstncias os impactes ambientais e sociais dos incndios so melhor avaliados pela rea ardida por fogo de ele vada severidade do que pela
183
superfcie total afectada (Reinhardt et al., 2008), o que d pertinncia aos estudos comparados de severidade do fogo. A nvel europeu muito escasso o conhecimento sobre a variao da severidade do fogo relativamente composio florestal. Fernandes et al. (2010) estudaram escala local a alterao da severidade do fogo na interface entre pinhal bravo (PS) e outros tipos de floresta (OF) nas montanhas do noroeste do pas. Para tal, seleccionaram 10 incndios ocorridos nos veres de 2005 e 2006, que na r egio foram marcados por c ondies invulgares de secura e incndios excepcionalmente grandes. A seleco d os pont os de amost ragem obedec eu aos seguint es requisitos: 1) ausncia de evidncias de combate ao fogo, 2) deslocao do fogo no sentido de PS para OF, e 3) existncia de diferenas entre PS e OF nos efeitos do fogo nas c opas. Consequentemente, o estudo c onfundiu propositadamente a severidade do fogo e o tipo florestal, j que o objectivo principal era descrever a variao na severidade do fogo na presena de impactos do fogo c omprovadamente distint os ent re os dois tipos de floresta. Os par es PS-OF er am fisiograficamente similares sempre que possvel. A vegetao contgua ao pinhal br avo incluiu for maes de Quercus pyrenaica, puras ou mistas (com Betula alba, Castanea sativa ou Quercus robur), bosques de Betula alba (puros ou com Castanea sativa), bosques de Arbutus unedo (puros ou em consociao com Quercus suber), e c onferas de montanha ( Pinus sylvestris; Pseudotsuga menziesii; P. sylvestris Chamaecyparis lawsoniana). Avaliou-se a variao na severidade do fogo em par celas circulares com trs metros de r aio localizadas consecutivamente sobre transectos perpendiculares orla PS-OF. Adoptou-se um nmero fixo de par celas (trs, cobrindo 18 m) no seg mento PS do transecto, e um nmero varivel de parcelas no segmento OF a fim de descrever todo o gradiente de severidade do fogo. No total amostraram-se 200 parcelas distribudas por 56 segmentos de transecto em 13 locais. As avaliaes e clculos ps-fogo efec tuaram-se escala da par cela. Mediram-se os dimetros altura do peito (DAP) e alturas de todas as rvores ou caules de espcies arbreas. Calculou-se o DAP mdio, densidade de indivduos, rea basal e altur a dominante. O fogo foi descr ito como sendo de superfcie ou de c opas. A classificao da se veridade do fogo distinguiu os estratos arbreo, arbustivo e da manta morta e seguiu Ryan e Noste (1985). A severidade do fogo nas rvores baseou-se em mtricas
184
(altura de copa dessecada, altura de tronco carbonizado, grau de carbonizao da casca) colhidas nas rvores dominantes e codominantes. Um ndice global de severidade do fogo resultou da mdia das avaliaes por estrato, sendo exprimido numa de quatro classes (reduzida, moderada, elevada ou muito elevada). As anlises focaram-se nas diferenas entre PS e OF ou ent re tipos ger ais de c oberto florestal, respectivamente pinhal bravo, folhosas pereniflias, folhosas caduciflias e conferas de montanha.
Severidade do fogo e tipo de floresta
A severidade do fogo decresceu significativamente do pinhal br avo para as florestas adjacentes na maioria dos locais amostrados, e a transio observada foi fr equentemente br usca, nomeadament e aquand o da propagao encosta abaixo em folhosas caduciflias. A percentagem de parcelas afectada por fogo de superfcie d uma primeira impresso das diferenas de severidade do fogo entre tipos florestais: 53, 79, 90 e 97%, respectivamente em pinhal br avo, folhosas pereniflias (EB), conferas de montanha (SNC) e folhosas caduciflias (DB). A modelao das alturas de c opa dessecada de t ronco carbonizado, que e xplicou respectivamente 61% e 70% da variao existente, revelou diferenas de comportamento do fogo de vidas ao tipo de c oberto florestal. A altura de copa dessecada foi significativamente inferior em DB relativamente a PS aps considerao dos efeitos das restantes variveis com influncia (altura dominante e exposio), quedando-se em valores intermdios nos outros tipos florestais. No entanto, a altur a de copa dessecada no r eflectiu a variao completa no comportamento do fogo, uma vez que as parcelas sem copa dessecada no entraram na anlise. A altura de tronco carbonizado seguiu a tendncia PS > DB > SNC, aps neutralizao dos efeitos da altura de base da c opa, DAP e distncia orla PS-OF; as for maes EB no se distinguiram estatisticamente de nenhum dos restantes tipos. As resinosas de montanha de accula fina, que formam bosquetes densos sem sub-bosque e c om folhada muit o compacta, revelaram-se assim como o tipo de floresta menos favorvel propagao do fogo. A Figura 6 exibe a dist ribuio por tipo flor estal da se veridade do fogo, incluindo os seus componentes individuais. As maiores e menores severidades do fogo correspondem respectivamente ao pinhal bravo e s folhosas de folha caduca, situando-se os dois tipos restantes em posio
185
(a) 100
80 60
(b) 100
80 60
%
40 20 0
PS SNC EB DB
40 20 0
PS SNC EB DB
(c) 100
80 60
(d) 100
80 60
%
40 20 0
PS SNC EB DB
40 20 0
PS SNC EB DB
FIGURA
Distribuio das parcelas por nvel de severidade do fogo na manta morta (a), sub-bosque (b), rvores (c) e globalmente (d). O gr adiente de se veridade do f ogo aumenta do cinzento claro (reduzida) para o preto (muito elevada). PS = pinhal bravo; SNC = conferas de montanha; EB = folhosas pereniflias; DB = folhosas caduciflias. Adaptado de Fernandes et al. (2010).
intermdia. interessante constatar que o maior contraste de severidade entre PS e os tipos OF se regista nos estratos inferiores, apesar da maior incidncia do fogo de copas em pinhal bravo. A distncia (a partir da fronteira PS-OF) correspondente severidade do fogo mnima no foi afectada pelo tipo de floresta (p=0.229, mediana = 21 m), mas mostrou alguma associao crescente (p=0.069) com a severidade registada na poro PS do transecto. Da mesma forma, verificou-se correlao entre a severidade do fogo (componentes individuais e global, p<0,01) nos dois segmentos do transecto.
186
Uma anlise de classificao em r vore (Figura 7) e xplicou 44% da variao obser vada na se veridade g lobal do fogo. Este desempenho s aparentemente modest o, uma v ez que a a valiao da se veridade d o fogo escala da parcela reflecte a micro-variao no complexo combustvel e nos factores de ndole meteorolgica. O tipo de coberto, em consonncia com a anlise anterior, foi a varivel mais importante. A primeira partio das parcelas correspondeu exactamente aos tipos PS e OF Na ra.
(a)
7.0 < 15.6
PS
G
15.6 N-W > 7.0
SH
Exposio
S-E
Exposio
ME = 0.06 E = 0.72 M = 0.22 S-E N-W dnsl
FSP
upsl ME = 0.92 E = 0.08
ME = 0.60 E = 0.4O
ME = 0.33 E = 0.67
ME = 1
(b)
9 < 1389
OF
Dist
1389 DB >9
rvores/ ha
Tipo Florestal
SNC, EB
< 15
Dist
SH
< 1111
rv./ha
1111
Exposio
S-E ME = 0.40 E = 0.60 N-W E = 0.88 M = 0.12
E = 0.48 M = 0.52
M = 1.0
E = 0.63 M = 0.37
FIGURA
rvore classificativa do ndice global de severidade. (a) Sub-rvore do pinhal bravo (PS) e (b) sub-rvore dos restantes tipos florestais (OF). Os nmeros no final dos ns t erminais indicam a proporo de parcelas por classe de severidade (ME = muito elevada; E = elevada; M = moderada; R = reduzida). G = rea basal (m2 ha-1); SH = altura dominante (m); FSP = padro de propagao do fogo (dnsl = encosta abaixo; upsl = encosta acima ou perpendicular orientao do declive); Dist. = distncia orla PS-OF (m). Adaptado de Fernandes et al. (2010).
187
mificao PS da r vore prevalecem largamente as severidades elevada e muito elevada, enquanto que no tipo OF esto r epresentados todos os nveis de severidade. Por ordem decrescente de importncia, os factores responsveis pela variao da severidade do fogo no pinhal bravo foram a rea basal, a altura dominante e a exposio do terreno, e o sentido da propagao d o fogo r elativamente ao decli ve. A var ivel c om maior capacidade de explicar a variabilidade da severidade do fogo nas formaes OF foi a distncia orla PS-OF seguida da densidade e tipo de flor , esta, e da altura dominante e exposio. Globalmente, a composio dos povoamentos, as suas car actersticas, a e xposio, a distncia orla PS-OF e o padro de pr opagao d o fogo e xplicaram r espectivamente 51.3%, 28.3%, 9.3%, 9.1% e 4.5% da severidade compsita do fogo. Para alm de uma maior reduo inicial em caduciflias, o tipo de OF no influenciou a severidade do fogo, apesar das diferenas detectadas no comportamento do fogo. A aquisio de matur idade estrutural contribui para reduzir o impacto do fogo, uma vez que a severidade do fogo diminuiu em povoamentos com rvores maiores ou maior rea basal, em PS como em OF. Note-se que o aumento da densidade mitigou a severidade do fogo em formaes OF maduras mas agravou-a no carvalhal jovem. Finalmente, refira-se o papel da exposio do terreno, com aumentos da severidade do fogo em pinhal bravo e nas formaes SNC e EB nas encostas viradas a sul e este. Os resultados so consonantes com a literatura (e.g., Hly et al., 2003; Epting e Verbyla, 2005; Lee et al., 2009) e suportam os resultados obtidos por Fernandes (2009) (Seco 2). Para o efeito de mitigao da severidade do fogo concorreram no s as difer enas entre PS e OF iner entes ao complexo combustvel (folhada menos inflamvel e mais compacta e/ou mais escassa, sub-bosque hig rfilo) e ao pir o-ambiente meteorolgico (reduo do vento, maior humidade do combustvel morto e vivo), como tambm as modificaes no microclima associadas deslocao do fogo para situaes topogrficas mais hmidas e abrigadas, situao predominante em 10 dos locais amostrados. 5. Implicaes para a gesto Algumas concluses resultantes destes estudos podem ser sumarizadas nos seguintes pontos:
188
1. A estrutura dos povoamentos pelo menos to importante como a sua c omposio, na det erminao do perigo de incndio. Este no pode ser dissociad o da estrutura e distribuio horizontal e vertical dos combustveis. A elevada combustibilidade inerente a certos tipos florestais pode ser contrariada ou at mesmo anulada pelo tipo e intensidade da gesto do povoamento. 2. Em termos de gesto flor estal, as folhosas de folha caduca, em povoamentos puros os mistos, podem reduzir o risco de incndio. Povoamentos adultos e densos destas espcies so mais r esistentes ao fogo e apresentam menor risco de incndio. 3. Povoamentos de folhosas de folha persistente ou caduciflia e de conferas de montanha podem sofrer menos com a passagem do fogo que o pinhal bravo, e podem eventualmente originar a auto-extino do fogo, mesmo em c ondies meteorolgicas muito adversas. Modificam o comportamento e a severidade do fogo, e podem contribuir para uma menor incidncia do fogo e para uma maior resilincia sua ocorrncia. 4. difcil implementar tratamentos de gesto do combustvel numa escala espacial que se reflicta em alteraes no regime de fogo, sendo evidentes os benefcios que poder iam advir de um maior esforo de fomento ou converso em tipos florestais de menor combustibilidade. Assiste-se recuperao das quercneas, mas muitas formaes apresentam acentuada continuidade vertical e baixa estatura correspondentes a um elevado perigo de incndio. O desenvolvimento de maturidade conducente a maior r esistncia ao fogo e xige que se combinem tcnicas silvcolas com a reduo da incidncia do fogo. 5. Estes estudos confirmaram que, quando est a causa o desenho de faixas de gesto de c ombustvel escala da paisagem, as cultur as anuais (incl uindo as pastagens), as cultur as per manentes e os sistemas agro-florestais so os usos mais eficient es na reduo do risco de incndio . Dest e mod o, as r eas c om est e tipo de uso devero, sempre que possvel, ser integradas nas faixas de gesto de combustvel e, se necessrio, ser promovidas em locais especficos.
189
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VIII.
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1. Introduo Aps um incndio, a deciso de r etirar ou no as r vores afectadas deve depender de diferentes factores. O nvel de se veridade do fogo e a mortalidade provocada nas rvores (ver Captulo III) so cruciais. Se um fogo for de baixa int ensidade, ou se a espcie ou o po voamento forem resilientes, a taxa de sobr evivncia dos indivduos poder ser razovel a elevada, condies em que no se justifica o abat de rvores. Mas mesmo e quando a mor talidade ele vada, h outros factores que podero faz er com que o gestor decida no remover o material lenhoso (por exemplo, o risco de eroso do solo, ou a promoo da biodiversidade associada madeira morta). No entanto, a retirada dos troncos queimados aps os incndios florestais uma prtica r elativamente comum que obedece geralmente a critrios econmicos, fitossanitrios ou relacionados com a facilitao dos trabalhos posteriores de gesto florestal, e tambm, ainda que em menor escala, a razes estticas (Mciver e Starr, 2000; Beschta et al., 2004). No obstante, tem sido argumentado que a recolha de salvados tem efeit os negati vos e que a r emoo das r vores queimadas causa alteraes estruturais e funcionais nos ecossistemas. Os efeitos ambientais da extraco de rvores aps um incndio dependem das caractersticas dos povoamentos afectados, da severidade do fogo, do declive, do tipo de solo, das condies meteorolgicas ps-incndio, e da tcnica de extraco utilizada, bem como do momento da sua aplicao. O tipo de gesto que se aplica madeir a queimada e os moti vos concretos que o justificam t em mostrado uma certa variao no tempo e no espao. Nas florestas de portuguesas, e particularmente nos pinhais, uma prtica c omum nas ltimas dcadas c onsistiu em e xtrair o mais rapidamente possvel os troncos queimados com o objectivo de minimizar a pot encial per da de valor ec onmico da madeir a e os ataques de escolitdeos. Em c ontraste, nas r egies mediterrnicas mais r idas as florestas produtivas escasseiam e o valor comercial da madeira queimada reduzido, prevalecendo outros critrios de gesto florestal, pelo menos nas florestas pblicas. A ttulo exemplificativo, no caso da Administrao Florestal da Comunidade Valenciana (Espanha) recomenda-se retardar a extraco da madeira queimada at um ou dois anos aps o incndio, com o objectivo de garantir uma cobertura vegetal mnima para a proteco
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do solo face eroso. Tradicionalmente, a extraco de madeira aps os incndios flor estais er a efectuada sem t er em c onsiderao cr itrios ecolgicos (Beschta et al., 2004). Todavia, nos ltimos anos tem-se gerado um intenso debate no qual as questes ec olgicas e ambientais desempenham um papel central na controvrsia sobre esta actividade. Normalmente, os responsveis pela gesto florestal tendem a efectuar algum tipo de gesto ac tiva da flor esta aps os incndios. Em m uitos casos, a e xtraco da madeir a queimada destaca-se num conjunto de medidas direccionadas recuperao da zona queimada e em Portugal, foi produzida legislao diversa para facilitar a c omercializao desta madeira, particularmente em anos com grandes incndios. A facilitao dos futuros trabalhos de gesto ou r ecuperao da flor esta um d os argumentos apontados a favor deste procedimento. A reduo da carga de combustvel para futuros incndios (e.g. Barker, 1989) ou a preveno da propagao de pragas de insectos perfuradores da madeira (e.g. Aman e Ryan, 1991) so tambm argument os habituais a fa vor desta for ma de gesto. Em sentido contrrio, argumenta-se que as actividades de corte e extraco de madeira danificam a vegetao e o solo das zonas queimadas, exacerbando o efeit o do fogo, e que a r emoo dos t roncos queimados induz importantes alteraes estruturais e funcionais no sistema. Na realidade, e tal como assinalaram diversos investigadores e gestores florestais (Beschta et al., 1995; Mclver e Starr, 2000), conhece-se muito pouco sobre as consequncias ecolgicas desta actividade e so poucas as e vidncias cientficas que sustentam uma e outra posio. A maior par te da infor mao deste captulo diz r espeito a po voamentos de resinosas. 2. Prs e contras da extraco da madeira queimada As c onsequncias ec olgicas que podem associar -se gesto da madeira queimada aps os incndios florestais constituem uma intrincada rede de efeitos potenciais, muitos deles relacionados entre si, que afectam uma larga sr ie de var iveis estruturais e funcionais d os ecossistemas. O balano ecolgico deste tipo de ac tividade , portanto, uma questo complexa e aberta a discusso, no apenas no contexto da gesto florestal mas tambm no da in vestigao. Os dados disponveis na bibliog rafia
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apontam para certos padres genricos em relao a alguns aspectos da extraco da madeir a queimada, embora sejam ainda escassos e m uito heterogneos. So pouc os os t rabalhos de in vestigao r elativos aos diferentes elementos afectados e praticamente inexistentes os que analisam de forma global todo o elenco de consequncias potenciais (Bautista et al., 2004). Num trabalho de reviso, Mclver e Starr (2000) apenas encontraram 21 trabalhos publicados nos quais se avaliou algum dos efeitos potenciais deste tipo de gesto . Destes, apenas 14 incl uram a avaliao de zonas testemunha sem extraco e, entre estes, apenas 7 apresentaram resultados de experincias adequadamente replicadas que per mitiram inferncia estatstica. Somente um destes trabalhos, sobre os efeit os na vegetao, avaliou as c onsequncias da e xtraco de madeir a queimada a longo prazo (11 anos). Os resultados no so sempre consistentes e, em geral, indicam um for te efeito do local e das cir cunstncias particulares, pelo que os efeitos descritos em zonas muito especficas no podem entender-se como genricos e extrapolar-se a outros territrios. A Tabela 1 resume os principais argumentos utilizados contra ou a favor da extraco da madeir a queimada, os quais por v ezes no so basead os
TABELA 1
PRS E CONTRAS DO CORTE E EXTRACO DA MADEIRA QUEIMADA
PRS
CONTRAS
Aumento da eroso e compactao do solo provocada pela maquinaria e arraste de troncos Impacte negativo na biodiversidade e fauna florestal
Impacte negativo na regenerao natural do povoamento Impacte negativo na regenerao da vegetao Perda de matria orgnica do sistema, que pode afectar negativamente a reciclagem de nutrientes
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em critrios estritamente cientficos. Caber ao gestor tomar essa deciso (extrair ou no) em funo do seu conhecimento da rea e do balano dos impactes (positivos e negativos) expectveis. Algumas das questes mais polmicas so analisadas em seguida.
2.1. A degradao do solo
A perturbao do solo associada aos trabalhos de corte e extraco das rvores pode r esultar n um pr ocesso mais ou menos pr olongado de degradao do solo. Os incndios florestais provocam uma alterao brusca das condies da super fcie do terreno que conduzem a um aument o do risco de degradao (DeBano et al.,1998). Pode colocar-se a hiptese de que a per turbao conjunta que se associa r etirada da madeir a queimada potencia a degradao do solo em r eas queimadas. Os estudos existentes sugerem que as prticas de e xtraco de madeira podem alterar de forma severa a super fcie d o solo , ac elerar os pr ocessos de er oso, aumentar a compactao superficial e a produo de escorrncias, assim como a degradao da qualidade das guas da r egio (Gayoso e Iroum, 1991; Rab, 1994; Edeso et al., 1999; Silins et al., 2009). Os efeitos aumentam em funo do nmero de trilhos de extraco que se construam e da intensidade do seu uso (Beschta, 1978). No obstante, nos casos em que se c onservaram os horizontes orgnicos e os resduos da extraco de madeira na superfcie, as alteraes fsico-qumicas e os efeit os sobre a er oso do solo podem ser substancialmente reduzidos (Fernndez et al., 2004). Em terrenos muito susceptveis eroso e compactao, a extraco por via area (ex. suspenso em cabos) permite reduzir ao mnimo os efeitos negativos destas operaes. Nalguns estudos realizados em Portugal detectaram-se incrementos notveis nas taxas de eroso depois da extraco de madeira queimada em zonas de Pinus pinaster e de Eucalyptus globulus (Walsh et al., 1992; Shakesby et al., 1994; Terry, 1994). Tambm fora da rea mediterrnica se mediram taxas mais altas de pr oduo de escorrncia e sedimentos em reas de extraco de madeira em comparao com as zonas testemunha, ainda que, em alguns casos, os efeit os s t enham sid o r egistados em condies de elevado declive. A degradao e eroso do solo que se relaciona com a gesto da madeir a queimada parece ser altamente dependente do tipo de t ratamento que se aplique (ar rasto dos toros com animais ou
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tractor, suspenso em cabos, helicptero, etc.), assim como das condies da superfcie. A cobertura de folhada ou de r esduos da ac tividade de corte e e xtraco que ficam na su perfcie desempenham um papel determinante (Shakesby et al., 1994), pelo que se r ecomenda que os trilhos de extraco sejam coberto de ramos e bicadas para minimizar a compactao do solo e os riscos de eroso. Apesar dos impactes negativos da extraco das r vores queimadas, nas z onas em que se deixam os troncos queimados em p, a sua post erior queda e o le vantamento da coroa de razes pode provocar o incio de processos de eroso de tal forma que, nalgumas ocasies, se c onsiderou a e xtraco c omo uma aco preventiva face a este risco (Poff, 1989). No entanto, quando se d a queda natural dos troncos queimados, esta ocorre geralmente vrios anos depois do incndio, quando a cobertura do solo devida recuperao do coberto vegetal j dever ser suficiente para minimizar estes impactes, que no se encontram documentados de um ponto de vista cientfico. A rechega de t roncos e/ou a c ompactao do solo por maquinar ia associam-se ao aparecimento de sulcos de eroso linear (Gayoso e Iroum, 1991; Rab, 1994). Na Comunidade Valenciana, um estudo a longo prazo realizado em 13 r eas de pinhal (Bautista et al., 2004) avaliou o efeito potencial sobr e a deg radao d o solo por pr ocessos de esc orrncia superficial e a per da de solo por er oso linear associada aos t rilhos de extraco. Estes trabalhos mostraram que sempre que se efec tue uma actividade de arrasto de madeira de certa magnitude, a probabilidade de formao de sulc os linear es m uito alta, sobr etudo em solos mais erosionveis. A severidade dos efeitos est relacionada directamente com o comprimento das encostas e muito mais marcada em reas com substratos desagregveis. Em geral, nos casos em que se produziram sulcos de eroso linear, os valores estimados de perda de solo podem considerar-se moderadamente altos. H que destacar que estas per das se concentram nos primeiros anos aps o tratamento j que, em geral, os sulcos vo sendo colonizados parcialmente pela vegetao e vo perdendo o seu potencial erosivo com o t empo. No entanto, em z onas particularmente sensveis, ainda eram visveis sulcos activos 9 anos depois do fogo e previsvel que o processo de degradao e formao de sulcos continue no futuro. O nmer o de z onas em que se pr oduziu estilha e se efec tuou a aplicao de resduos sobre a superfcie foi muito escasso e no permite
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extrair c oncluses sobr e esta medida de c onservao de solos. No obstante, os resultados obtidos apontam-na como uma prtica eficaz na preveno de possveis danos associados extraco de madeira, coincidindo com outros trabalhos prvios que evidenciaram o importante papel protector que desempenham os resduos do corte (Shakesby et al., 1994). Os resultados acima descritos justificam algumas recomendaes aos gestores florestais, no que diz respeito s actividades de extraco (DGRF, 2005): 1. Sempre que o terreno apresente elementos que possam contrariar a eroso armaes do terreno em vala e cmoro, muros ou muretes de suporte de terras, cordes de pedra, etc. as operaes de explorao, devem ser executadas de modo a garantir a sua conservao; 2. A extraco potencia o risco de eroso do solo pela movimentao de mquinas pesadas e arrastamento dos toros cortados. O uso de mquinas, mesmo as que utilizam sistemas de locomoo de baixa presso, tambm provoca danos no terreno que importa prevenir. Os movimentos das mquinas sobre o terreno devem ser restritos ao essencial, e de modo a evitar configuraes de sulcos que promovam um maior escoamento da gua. O padro espacial da rede de t rilhos de e xtraco de ve ser organizad o na perspecti va da mesma ser feita para a cota superior, de modo a que a convergncia em carregadouro no concentre eroso. sempre prefervel passar pelo mesmo t rilho de extraco em vez de danificar t oda a rea, pelo que a mo vimentao de t oros para carregadouro deve ser planeada de mod o a utilizar um menor nmer o de t rilhos de extraco. A deposio de ramos e bicadas nesses trilhos minimiza a compactao do solo e riscos de eroso; 3. prefervel a utilizao de tcnicas que mo vimentem o material lenhoso sem que este entre em contacto com o solo (sistemas de cabos areos ou tractor transportador); 4. Para e vitar a c ompactao d o solo , de ve ser e vitado o uso de mquinas de explorao pesadas em perod os em que o solo se encontre saturado, aps longos perodos de precipitao. Em resumo, as tcnicas de gesto adequadas podem minimizar os impactes da extraco na eroso do solo. No entanto, as taxas de eroso provocadas pela extraco podem ser mais importantes que as causadas
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pelo prprio incndio. Em particular, h um risco elevado de ocorrncia de fenmenos importantes de eroso em sulcos associados aos trilhos de extraco. A tcnica de extraco dos troncos queimados influencia fortemente o impacto sobre o solo. Em geral, a remoo de troncos por arrasto a que causa maior impac to, seguida pelos t ractores transportadores, cabos areos e pela utilizao de helicpteros.
2.2. A regenerao da vegetao
A perturbao directa da superfcie do solo ou da cobertura vegetal pelo abate e ar raste (rechega) de t roncos um efeit o directo da r etirada da madeira queimada da floresta. Este procedimento pode, por exemplo, causar uma reduo relevante dos indivduos de certas espcies ou alterar o regime de ger minao e instalao de plntulas. Por out ro lad o, as alt eraes ambientais produzidas pela e xtraco das r vores mortas fundamentalmente na quantidade de radiao que incide sobre a superfcie do solo podem afectar de algum modo a taxa de mortalidade das plntulas. No h m uitos estudos sobr e o efeit o da e xtraco de madeir a queimada na regenerao do coberto vegetal. Alguns trabalhos desenvolvidos nos Estad os U nidos da Amrica most ram uma r eduo significativa na biomassa d o sobcoberto, na r iqueza de espcies e no crescimento das plntulas de pinheir o, assim c omo um aument o na colonizao por espcies e xticas, c omo c onsequncia da e xtraco da madeir a queimada (e.g . Se xton, 1994; Greenberg et al., 1994). No entanto, em regies mediterrnicas, os resultados so mais diversos. Assim, num pinhal de Pinus halepensis do norte de Israel, 4 anos aps o fogo e 3 aps a e xtraco da madeir a, no se det ectaram alteraes significativas na c omposio especfica nem no desenvolvimento da cobertura vegetal (Neman et al., 1993, 1995). Em povoamentos de Pinus pinaster e Pinus halepensis do lest e espanhol, Bautista et al. (2004) observaram uma r eduo da c oberto v egetal em z onas de e xtraco 3 anos depois desta se t er realizado, mas as difer enas desapareceram 9 anos aps o fogo. Similarmente, num pinhal de Pinus pinaster no centro de Espanha, Prez e Moreno (1998) no registaram um efeito duradouro da extraco das r vores na biomassa e est rutura da vegetao. Viegas et al. (1994) compararam duas z onas queimadas, com e sem e xtraco
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de madeir a, de um pinhal de Pinus pinaster do c entro de P ortugal e obser varam menor di versidade de espcies na z ona afec tada pela extraco, mas tambm no observaram diferenas no desenvolvimento do coberto vegetal. Martnez-Snchez et al. (1999) mostraram que a extraco de madeira queimada num pinhal de P. halepensis localizado no sudeste da provncia de Albacete, sob um clima semirido, produziu um incremento na mortalidade das plntulas desta espcie geradas ps-fogo e uma r eduo moder ada d o cr escimento das mesmas. Os aut ores atriburam o efeito remoo dos resduos queimados e c onsequente reduo na proteco face insolao e altas temperaturas. Prez (1997) observou uma evoluo mais lenta d o c oberto vegetal em r eas sem extraco, o que at ribuiu sensibilidade de algumas espcies sombr a produzida pelas rvores queimadas que ficaram no solo. Por vezes, o impacto a curto prazo da extraco da madeira queimada pode t er vantagens de um pont o de v ista de gesto . C omo e xemplo, refiram-se estudos desenvolvidos por Fernndez et al. (2008) e Vega et al. (2008, 2010) aps os incndios de 2000 a 2003 na Galiza. Estes autores monitorizaram a germinao e sobrevivncia das plntulas de pinheirobravo (Pinus pinaster) em povoamentos com idades ent re 17 e 53 anos e densidade entre 650 e 1450 rvores/ha que sofreram 3 tipos diferentes de gesto ps-fogo: (1) ausncia de int erveno, (2) corte de r vores e acumulao de resduos em linhas (slash windrowing), e (3) corte de rvores e estilhaamento de resduos. Os autores chegaram concluso de que a e xtraco das r vores queimadas causa va um aument o de mortalidade de plntulas e debilitao das sobr eviventes, com a consequente reduo na densidade e cr escimento das plantas e xistentes, mas este impacto no comprometia o estabelecimento dos pinheiros novos, podendo at reduzir a necessidade de desbastes futuros. No caso dos po voamentos de folhosas, em que c omum a sobr evivncia dos indivduos atravs de regenerao vegetativa (por exemplo de toia ou de r aiz; ver Captulo III), o abat e e ar rastamento dos toros pode pr ovocar bastant es danos na r egenerao. Atrasar o c orte das rvores cuja copa morreu em resultado do fogo, poder ser benfico para o desenvolvimento da vegetao espontnea e c ontrolo da eroso, mas quanto mais tarde se cortar, maior ser o risco de danificar a regenerao que entretanto cresceu, e a presena do prprio tronco junto aos rebentos
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em crescimento poder dificultar o desenvolvimento da r egenerao. Por exemplo no caso de sobreiros queimados e com morte da parte area, Barberies et al. (2003) sugerem que uma antecipao do corte do tronco ser mais vantajosa par a o cr escimento dos rebentos de t oia. Porm a informao disponvel sobre o impacte do corte e extraco de troncos em povoamentos de folhosas no Mediterrneo ainda muito escasso.
2.3. A biodiversidade e conservao de nutrientes
Um segundo g rupo de efeit os potenciais da e xtraco de madeir a queimada deriva do papel estrutural e funcional da madeira morta aps os incndios. A presena de rvores queimadas determina condies fsicas espaos, enclaves, poleiros, condies microclimticas que podem desempenhar um papel impor tante na suc esso vegetal e animal aps o fogo. A madeira morta , para alm disso, uma fonte de alimento que sustenta numerosas espcies de microorganismos, fungos e insectos, um elemento chave na ecologia dos sistemas fluviais adjacentes e, por ltimo, fonte de nutrientes minerais (Harmon et al., 1986; Sammuelsson et al., 1994; Lofroth, 1998). O papel ecolgico dos resduos de maiores dimenses troncos e ramos maiores de madeira morta no foi reconhecido at aos anos setenta do sculo passado (Maser et al.,1979). Antes disso, a retirada de madeira morta das florestas e rios era uma prtica c omum na gesto e explorao florestal. Para uma r egio do centro da S ucia, Linder e stlund (1992, citado em Kruys et al., 1999) estimaram uma reduo da madeira morta de grandes dimenses em bosquesde 13 m3 ha-1 para menos de 1 m 3 ha-1 desde finais do sculo XIX at ac tualidade. Actualmente, o reconhecimento do dito papel possibilit ou uma alt erao de poltica na gesto e e xplorao de muitas florestas do norte da Europa, Estados Unidos da Amrica e Canad no sentido da manuteno, e at aumento, do volume de madeira morta nas florestas. Grande parte dos efeitos positivos que se associam madeir a morta nas florestas no per turbadas por fogo aplicv el aos t roncos e out ros resduos de grandes dimenses em reas queimadas. O fogo uma perturbao natural do ecossistema e h espcies de insec tos, particularmente escaravelhos, e seus c orrespondentes predadores, que v ivem dos seus efeitos (Moretti e Barbalot, 2003), de tal forma que a retirada sistemtica
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da madeira queimada aps os g randes incndios aumenta a pr obabilidade de extines locais. A maior par te dos estudos relativos aos efeitos dos tratamentos de extraco de madeir a aps o fogo sobr e os v ertebrados, fundamentalmente aves e pequenos mamferos, concluem que as rvores queimadas desempenham um papel fundamental na recuperao da fauna das zonas afectadas (Haim, 1993; Llimona et al., 1993). medida que as r vores queimadas vo caind o e o desen volvimento de plntulas e r ebentos se vai inc orporando na no va c obertura aos r esduos queimados, as diferenas entre as zonas tratadas e no tratadas desaparecem progressivamente. A extraco dos troncos queimados pode reduzir o habitat de diversas comunidades de aves que os utilizam par a nidificar ou c omo poiso (Saab e Dudle y, 1998; Kotliar et al., 2002). Izhaki e Adar (1997) estudaram o efeit o da remoo da madeir a queimada na e voluo da comunidade de aves florestais no reprodutoras num pinhal em I srael e verificaram que o impacto do fogo na composio da comunidade de aves foi mais sig nificativo onde e xistiu remoo de madeir a queimada relativamente aos locais onde esta no ocorreu. Assim, no que respeita biodiversidade de aves, estes aut ores sugerem uma est ratgia de gesto que inclua reas com e sem r emoo da madeir a queimada, criando-se assim um mosaico de diferentes habitats e respectivos nichos que aumentariam o nmero de espcies de aves presentes escala da paisagem.Castro et al. (2010) verificaram que um dos impactos da extraco total de rvores numa r egio da Ser ra N evada (Espanha) er a que a abundncia das principais espcies de aves dispersoras de sementes de vores e arbustos (tordos e gaios), e que, portanto, podiam facilitar a posterior regenerao da rea, era reduzida drasticamente. Em geral, a e xtraco da madeir a queimada tende a provocar uma alterao na c omposio especfica da fauna, empobr ecendo-a em espcies caractersticas de reas florestais e enriquecendo-a em espcies prprias de habitats aber tos ou secos. A magnitude e durao do efeito depende da int ensidade e e xtenso do tratamento, podendo comprometer a per manncia de algumas espcies nos casos mais e xtremos (Lindenmayer e Possingham, 1996). Para mais detalhes sobre esta temtica, ver o C aptulo IV. A longo pr azo, prev-se um efeit o sig nificativo da extraco de madeir a queimada sobr e os ciclos biogeoqumic os e o
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balano de nutrientes (Brais et al., 2000). Este efeito ocorre devido perda de parte dos horizontes orgnicos do solo, mas tambm devido remoo de ramos e troncos que constituem, a longo prazo, reservas de nutrientes para microrganismos, plantas e animais.
2.4. As pragas florestais
Um d os argument os utilizad os a fa vor da r emoo da madeir a queimada que se lhe at ribui um papel facilitad or da at raco e proliferao de insectos, particularmente escolitdeos, que podem constituir pragas par a os po voamentos v izinhos (v er Captulo IX). Este papel facilitador da madeira queimada apoia-se no facto conhecido de que as rvores debilitadas pelo fogo most ram menos defesas fac e ao ataque destes insectos, que acabam por colonizar os troncos com certa facilidade e incrementar as suas populaes. Os indivduos maduros destas espcies perfuram a casca e alcanam os t ecidos subcorticais onde depositam os ovos. As larvas alimentam-se do cmbio medida que escavam galerias que acabam por interromper a circulao no floema e provocar a morte da rvore. Uma das r azes utilizadas par a defender a e xtraco da madeir a queimada , consequentemente, a de que a at raco e colonizao por escolitdeos das r vores parcial ou totalmente queimadas pode ser vir de foco de proliferao e facilitar a infeco dos povoamentos de pinhal mais prximos (Salman, 1934; Ryan e Amman, 1994). Wallin et al. (2003) estudaram a relao entre severidade do fogo e ocorrncia de escolitdeos aps um fogo c ontrolado num pinhal de Pinus ponderosa e observaram um maior nmero de entradas de escolitdeos nas rvores mais danificadas pelo fogo. Todavia, as quat ro categorias de dano analisadas no citad o trabalho var iavam desde r vores c om a c opa c ompletamente intacta (verde) at rvores com 76-90% do volume de copa dessacada, sem que se registassem nv eis de se veridade maior es. N o entant o, n um estud o efectuado em Alicante (Espanha), os resultados sugerem que as r vores totalmente queimadas so menos atacadas que as que apresentam nveis de dano moderados (Caixa 1).
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CAIXA 1
OS ESCOLITDEOS APS O FOGO NOS PINHAIS DA REGIO DE VALNCIA
Num estudo realizado no Parque de la Font Roja (Alicante, Espanha), no qual se quantificou o nmero de entradas de escolitdeos em Pinus halepensis para quatro categorias de dano das rvores, desde copas completamente verdes a copas completamente consumidas pelo fogo, foi observada a preferncia dos escolitdeos por rvores que conservavam parte da copa verde (Figura 1).
140 sem infeco < 10 entradas 10-25 entradas > 25 entradas
120
NMERO DE PINHEIROS
100
80
60
40
20
0
1 2 3 4
CATEGORIA DE SEVERIDADE DO FOGO
FIGURA
Nmero de pinheiros afectados por diferentes nveis de colonizao por escolitdeos, em funo da categoria de severidade do fogo: 1. rvores parcialmente afectadas no tronco mas c om a c opa verde; 2. tronco parcialmente queimado, copa com parte verde e part e dessecada; 3. copa dessecada; 4. copa consumida. Dados r ecolhidos 6 meses depois do incndio. Extrado de Bautista et al. (2004).
Aps um incndio, os gestores frequentemente mantm as rvores com a copa parcialmente afectada pelo fogo, na esperana que possam sobreviver, e abatem os exemplares com a copa consumida ou totalmente dessecada. Estes resultados sugerem que, de um pont o de vis ta dos esc olitdeos, as rv ores parcialmente danificadas so um foco potencial mais perigoso que rvores totalmente consumidas.
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frequentemente afirmado que a permanncia dos troncos queimados implica uma per igosa carga de c ombustvel na z ona, que aumenta a probabilidade e severidade potenciais de um incndio futuro. Ainda que este argument o c onstitua um lugar c omum ent re os que defendem a e xtraco de madeir a queimada, as difer entes r evises que for am efectuadas sobre o t ema concordam que no h nenh um trabalho na literatura que most re essa relao (Beschta et al., 1995; Mclver e Star r, 2000). Normalmente, a extraco de madeir a queimada limita-se aos grandes troncos, os quais acr escentam pouco carga de c ombustvel presente, devido sua baixa relao superfcie/volume e ao seu contedo de gua (Amaranthus et al.,1989). Os materiais de menor dimetro so os que mais c ontribuem par a a c ombustibilidade do local e est e tipo de material c ostuma deixar -se no solo aps as ac tividades de e xtraco. Curiosamente, nos escassos t rabalhos em que se quantific ou a carga de combustvel em zonas com e sem extraco de madeira, verificou-se que, a curto-prazo, a combustibilidade local aumentava nas zonas de extraco, devido quantidade de r esduos de menor dimet ro que ficam no solo aps os t rabalhos de e xtraco (Stephens, 1998; Donato et al., 2006). De acordo com Donato et al. (2006), a est ratgia de menor r isco seria deixar as r vores queimadas em p o maior perod o de tempo possvel, por forma a minimizar a quantidade de c ombustvel fino em c ontacto com a superfcie do solo, e permitindo que a queda dos troncos e ramos se processe de forma mais lenta e repartida no tempo. Modelos de simulao mostram que a longo prazo, assim que os troncos queimados caem no solo, a combustibilidade das zonas sem extraco aumenta, mas apenas ligeiramente e dur ante um perod o de tempo limitado, dependendo da taxa de decomposio prpria das condies do local.
3. Balano ecolgico da gesto da madeira queimada
Ainda que no se possa descartar que em algumas condies particulares a extraco da madeira queimada possa ter um efeito positivo sobre o ecossistema, o balano lquido das consequncias ecolgicas deste tipo de actividades parece oscilar ent re a neut ralidade e o pr ejuzo. Logo, a recomendao genrica que decorre dos resultados obtidos a precauo.
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Em geral, a curto e mdio prazo e para as condies habituais em que se aplica esta medida nas florestas mediterrnicas, a extraco de madeira queimada no parece modificar significativamente a recuperao ps-fogo do coberto vegetal ou a regenerao dos pinhais, nem afecta o desenvolvimento das plntulas de pinheiro num ou noutro sentido. No obstante, em solos c onsiderados sensv eis, c omo os solos desen volvidos sobr e margas, arenitos ou alguns tipos de argilas h um risco moderado-alto de eroso linear associada ao t ratamento de e xtraco. Parte d os efeit os negativos potenciais podem mitigar-se com medidas correctoras oportunas ou aplicand o mtodos de e xtraco que minimiz em o impact o sobre o solo. Nos casos em que a e xtraco de madeir a se realize com uma forte participao de maquinaria e sobre ecossistemas menos resilientes, os efeitos negativos podem ganhar peso no balano ecolgico. Os escolitdeos perfuradores parecem mostrar uma clara preferncia por r vores afectadas de for ma moder adamente severa pelo fogo . A confirmar-se este padro, a eficcia da extraco de madeira queimada como medida preventiva contra a colonizao por escolitdeos limitar-se-, por isso, s rvores afectadas parcialmente, e a um perodo no superior ao pr imeiro ano aps o incndio , uma v ez posteriormente os t ecidos subcorticais das rvores mortas esto demasiado degradados para permitir o desen volvimento das espcies de esc olitdeos c onsideradas pr oblemticas. No obstante, deve ter-se em conta que este perodo de mximo risco de degradao e eroso do solo pelo que devem ponderar-se adequadamente as condies ambientais e as prioridades em cada zona. A e xtraco d os t roncos queimad os no par ece r eduzir a carga efectiva de combustvel nas zonas queimadas. Para que isso acontecesse, os restos de copas e ramos deveriam eliminar-se tambm. Alm disso, se os resduos forem eliminados atravs da queima, o dano pot encial no solo muito alto, com zonas que no recuperam durante dezenas de anos. Uma soluo prometedora a t ransformao dos resduos em estilha e sua distribuio pela superfcie do solo. Deste modo, ao mesmo tempo que se aplica uma medida de c onservao de solos, g rande par te da matria orgnica fica na floresta. Uma estratgia que apontada pelas ideias mais r ecentes em gesto florestal a da e xtraco selectiva. Segundo esta perspectiva, as actividades de e xtraco de madeir a queimada int ensivas e de larga-escala
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devem ser substitudas por ac tividades selectivas, que e vitem as r eas mais sensveis e de maior r isco de deg radao, que apliquem medidas correctoras nos casos de risco (e.g. medidas de conservao de solo), que evitem a queima d os resduos de c orte, que c oncedam pr ioridade s rvores parcialmente afectadas pelo fo go em caso de r isco de pr aga de escolitdeos e que se e xecutem de for ma het erognea, deixand o um mosaico de manchas com e sem tratamento para manter o papel estrutural e funcional de ramos e troncos. Evidentemente, as consideraes ecolgicas anteriores devem ponderar-se tambm face aos aspectos econmicos e sociais afectados em cada caso. necessria mais investigao cientfica sobre este tema, e a colaborao dos gestores ser a nica forma de se atingir o design experimental necessrio para o esclarecimento destas importantes questes.
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IX.
OS ESCOLITDEOS E O FOGO
LUISA NUNES
1. Introduo 2. Ecologia dos escolitdeos 3. Primeiros sinais e sintomas de colonizao de escolitdeos 4. Utilizao da madeira de rvores mortas por escolitdeos 5. Gesto das populaes de escolitdeos
5.1. Os inimigos naturais 5.2. Detritos de explorao florestal
6. Escolitdeos e fogo
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1. Introduo Uma grande abundncia de insectos conduz ideia de praga, sobretudo quando esta int erfere com os int eresses econmicos associados floresta ou agricultura, mas o conceito de praga no assim to simplista quanto possa parecer. Na luta contra os insectos nocivos nas plantaes florestais importante estimar a magnitude das suas populaes, a tendncia do seu crescimento e flutuaes, e preciso conhecer os efeitos dos diversos fac tores de or igem ambiental ou ant rpica que so e xercidos sobre os mesmos. Simplificando, pode-se reduzir o estudo das populaes de insectos a dois factores: o potencial bitico e a r esistncia do meio. O potencial bitico de um insecto consiste na sua maior ou menor capacidade par se a expandir. Pode definir-se igualmente como forma de quantificar a populao que se pode desen volver de u ma fmea adulta no perod o de um ano quando as condies ambientais so fa vorveis espcie. Quanto resistncia do meio esta definida por t odos os fact ores que n um determinado ecossistema podem limitar a m ultiplicao dos insectos, como a temperatura, a precipitao, algumas intervenes culturais ou a prpria fisiologia da rvore. A maior parte dos problemas fitossanitrios nas florestas resultam de repentinas e impr evisveis alteraes nas po pulaes de insec tos mas pode-se encontrar nocividade em alguns cujas populaes apr esentam nveis relativamente baixos sendo estes, por exemplo, os que transmitem microrganismos patognicos (como o fungo denominad o por azulad o da madeira). Alguns insectos alimentam-se das partes lenhosas da rvore e entre estes os colepteros da famlia Scolytidae so frequentemente os mais destrutivos. Os escolitdeos, como mais comummente so designados, podem atacar resinosas e folhosas mas os seus surtos tm tido maior expresso em povoamentos de pinheiro bravo e, preferencialmente, aps a passagem do fogo. Podem, no entant o, ocasionalmente atacar out ras espcies de pinheir o em Portugal, mas com um menor grau de nocividade.
213
2. Ecologia dos escolitdeos Os escolitdeos so, fundamentalmente, insectos de plantas lenhosas hospedeiras e constituem um dos poucos grupos que pode ser c onsiderado como autnticos insectos da flor esta. Ainda que alguns se jam especficos de det erminados ar bustos, a maior ia das espcies ataca rvores. De for ma mais ou menos semelhant e, todos eles t endem a ser considerados ameaas potenciais devido sua suposta capacidade de se aproveitarem da floresta quando esta est a passar por situaes mais debilitantes depois de um incndio, na sequncia de quedas de rvores por aco do vento, seca ou aps ataques de desfolhad ores. Existe sobre esta famlia de insect os uma m fama gener alizada que no de t odo justificada. Apesar de apresentarem uma caracterstica que todos eles tm em comum, o facto de ser em organismos secundr ios de algum fac tor primrio debilitante, a verdade que as diferentes espcies diferem significativamente entre si em termos de grau de agressividade, comportamento e escolha de nicho ambiental. A situao actual de mortalidade de povoamentos causada por escolitdeos resulta de uma combinao de factores naturais incluindo, designadamente: a seca, monoculturas extensas, incndios, solos pouco profundos/ rochosos e populaes relativamente significativas de escolitdeos. Todos estes factores influenciam a quantidade de gua, luz e nutrientes disponveis para cada rvore. As rvores que no dispem desses recursos em quantidade suficiente entram em processos de enfraquecimento e portanto de maior susceptibilidade. Os escolitdeos tm a capacidade de detectarem os hospedeiros mais susceptveis e a sua resposta consiste em coloniz-los, eliminando naturalmente algumas rvores do povoamento. Inadvertidamente, este processo vai contribuir para disponibilizar uma quantidade bastante maior de recursos para as rvores que sobrevivem. Este processo de compensao pode ser tambm observado com outras pragas como a processionria do pinheiro (Thaumeothopoea pityocampa) cujos dejectos produzidos pelas lar vas em g randes quantidades so mais facilment e disponibilizados para consumo da planta permitindo assim que os hospedeiros possam ter condies de sobrevivncia aps a desfolha (Cabral, 1995; Ferreira e Cabral, 1999). Embora os escolitdeos sejam na sua maioria pragas secundrias que
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se desenvolvem em condies naturais em rvores debilitadas, quando o ataque elevado tambm se pode estender a rvores em melhor condio fitossanitria. As rvores atacadas por estes insectos apresentam amarelecimento da copa, perfurao da casca com sada de resina, serrim e galerias entre a casca e o lenho. Cada espcie de escolitdeo apresenta comportamentos especficos e isto que determina o impacte de cada umana produo florestal e no seu significado ecolgico. Este assunto pode ser convenientemente discutido no mbito do contexto de um ciclo de vida generalizado de um escolitdeo. Os primeiros adultos a atacarem uma rvore so, habitualmente, denominados de pioneiros. Existem estudos divergentes quanto ao mecanismo envolvido que leva estes pioneiros at uma rvore susceptvel. Pode dar-se o caso de a populao endmica da espcie, na fase de reproduo, procurar continuamente rvores susceptveis ao acaso, testando de alguma forma possveis hospedeiros num estado mais receptivo. Pode ainda acontecer que hospedeiros susceptveis e em estado precrio emitam sinais qumicos, algo como um engodo primrio, que atrai o adulto directamente ao alvo. Talvez ambos os mecanismos funcionem nesta famlia. Os esc olitdeos pioneiros podem ser machos ou fmeas, dependendo da espcie envolvida. Os pinheiros susceptveis emitem determinadas substncias, qumicos que no so mais que c ompostos volteis (monoterpenos e etanol) que funcionam como um forte chamamento para insectos xilfagos. Numa evoluo mtua ent re hospedeiro e pr aga, os insec tos desenvolveram formas de detectar estes compostos e utiliz-los para identificar rvores hospedeiras adequadas. Depois de localizar e c olonizar uma r vore hospedeira susceptvel, o escolitdeo emite uma feromona de agregao que atrai outros insectos xilfagos. Um nmero suficiente de escolitdeos , ento, atrado para determinada rvore. Aps o processo de colonizao, inicia-se ento a emisso de uma fer omona anti-agregao/disperso, que lhes indica a nec essidade de localizar uma out ra rvore hospedeira (Sullivan et al., 2003; Campbel et al., 2008). O orifcio de entrada inicial realizado pelo escolitdeo e a passagem do material vegetal do hospedeiro pelo sistema digestivo do insecto geram um atractivo para outros indivduos que no mais que um c onjunto de qumicos denominados por feromonas de ag regao, estes constituem como que um sinal devenham at aqui para ambos os sexos da mesma
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espcie. A fer omona uma mistur a de qumic os, alguns d os quais produtos inalt erados da planta hospedeir a c omo t erpenos e out ras substncias modificadas por pr ocessos digestivos do prpr io insecto. Com a chegada dos insec tos pioneiros e o enc ontro dos sexos d-se o incio da construo das galerias (Figura 1). Normalmente a colonizao do hospedeiro inicia-se com uma cmar a nupcial alargada e de for ma caracterstica, onde ocorre o acasalamento.
FIGURA
Galerias de escolitdeos (T. piniperda, Hilsina). A forma e distribuio das galerias facilitam a identificao da espcie. (Foto: Luisa Nunes).
A partir desta cmara estende-se uma ou mais galerias onde a fmea coloca os ovos. A postura pode ser feita isoladament e ou em ambos os lados de cada galeria. Nas espcies monogmicas, como Tomicus piniperda L. (Hilsina) existe uma nica galer ia de ovos; as espcies poligmicas, como Ips sexdentatus (Bstrico grande), apresentam uma galer ia por fmea, atingindo casos mais extremos nas espcies como o Orthotomicus erosus (Bstrico pequeno) e Pityogenes bidentatus (Bstrico Bidentado) que, sob det erminadas circunstncias, pode c hegar a t er entre 8 a 12 galerias de ovos (Ferreira, 1998). Quando os ovos eclodem, cada larva estende o sistema para l da galeria materna. So muitas as variaes existentes sobre este tema e cada uma
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caracterstica de uma espcie c oncreta: as galer ias larvares diferem em termos de for mato, comprimento e direco e tambm em t ermos de localizao nos tecidos do tronco do hospedeiro. Cada tnel larvar aumenta em largura medida que a larva cresce, terminando numa cmara pupal onde o insecto se torna adulto atravs do processo de metamorfose. O ponto de emergncia (sada da fase de pupa) outra caracterstica varivel. Quand o alcanam a matur idade, os adult os podem sair d o hospedeiro perfurando a casca da cmara pupal, o que gera o tpico efeito de broca. Out ros podem utilizar um pont o de emergncia c omum e outros ainda podem sair em qualquer ponto por onde se proporciona o colapso da galeria. Existem variaes importantes entre espcies na chamada fase de pasto de maturao (Figura 2) (outra das fases do ciclo que provoca estragos) de adultos recentemente emergidos e que ocorre antes de estes comearem a estarem aptos a reproduzirem-se. Este fenmeno pode ver-se como uma extenso do sistema de galeria larvar, em que os escolitdeos deixam a cmara pupal para realizarem perfuraes adicionais onde se vo alimentar antes de se tornarem sexualmente activos e iniciarem o perodo de voo.
FIGURA
Danos causados pelos escolitdeos durante o pasto de maturao. (Fonte: Gyorgy Csoka, Hungary Forest Research Institute, www.forestryimages.org).
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No Sul de Europa, o pasto de maturao d-se geralmente na copa de rvores saudveis enquanto que em espcies mais difundidas nout ras zonas o pasto de matur ao pode ocorrer em qualquer par te da r vore como o colo radicular de plantaes ou regenerao natural e ainda nas razes de r vores de maior dimenso ou no lad o oculto de t roncos de casca mais fina e acabadas de abater (Ferreira e Cabral, 1999). Em algumas espcies, este comportamento parece ser obrigatrio mas noutras parece ser mer amente facultativo na medida em que os esc olitdeos par ecem alimentar -se aleat oriamente em di versos t ecidos da rvore. Existe outro tipo de alimentao facultati va que pode ser denominado de comportamento alimentar durante condies adversas, no qual nmeros significativos de escolitdeos de ambos os sexos se renem em espaos limitados da sua galeria. Este comportamento parece ocorrer depois de os adultos emergirem e de estarem prontos para o voo e para a reproduo, mas ser em subitamente assolados por condies meteorolgicas adversas. Estas ag regaes de insec tos parecem, pelo menos aparentemente, ter algo em comum com as mais pequenas agregaes na hibernao de T. piniperda encontradas em galer ias irregulares na base dos pinheiros. Existem duas outras caractersticas dos escolitdeos que so frequentemente associadas e que no podem ser esquecidas. A pr imeira a agressividade inerente de uma determinada espcie e a segunda o tipo de associaes fngicas que possa t er. Como e vidente, algumas espcies so mais agressivas na fase de reproduo do que outras e atacam rvores debilitadas mas ainda vivas como, por exemplo, a Hilsina (T. piniperda) (Ferreira e C abral, 1994; Ferreira, 1998). As associaes ent re fungos e escolitdeos podem assumir inmer as formas diferentes, do simples transporte de esporos, tal como sucede no esclito do ulmeiro, relao altamente especializada dos escolitdeos da madeira. Neste ltimo caso, os fungos so transportados pela fmea em estruturas especiais (micngios) para cultura no sistema de galerias e para servirem de alimento s larvas. Existe tambm uma di versidade de relaes extremamente complexas e pouco compreendidas entre determinadas espcies de esc olitdeos e fungos onde se inclui o azulado da madeira. As espcies Tomicus minor (espcie no enc ontrada em P ortugal) e Ips sexdentatus, por exemplo, alimentam as suas larvas quase s, se no
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mesmo totalmente, com fungos cultivados nas galerias larvares. Acredita-se que o patognio envolvido pertence ao gnero Ophiostoma, um grupo de fungos bastante conhecidos por serem agressivos e causarem murchido (Mathew et al., 1999). Contudo, no de vidamente compreendida a relao entre o insect o e o fungo . Do mesmo mod o, tambm no foi adequadamente demonstrado que uma nica espcie de fungo que tanto alimenta as larvas dos escolitdeos como ataca as prprias rvores (Mathew et al., 2004). Em vr ias espcies dest es insec tos fr equente enc ontrar ataques (quando os nveis populacionais so baixos e ainda no c onsiderados como praga) a r vores recentemente mortas ou em declnio. Qualquer tentativa par a invadir uma r vore saudvel com esses nv eis populacionais significa que os insectos acabam por ser bloqueados pela resina dos orifcios abertos e so assim internamente eliminados pelo hospedeiro que acciona uma barreira natural contra escolitdeos e fungos. Os fact ores de declnio , dec orrentes de incndios, seca, fer idas mecnicas ou c ompetio entre indivduos em po voamentos densos, reduzem a capacidade dir ecta da r vore para suportar o ataque dest es perfuradores. A reaco do hospedeiro entrada dos insectos constitui um pr ocesso que e xige um ele vado dispndio de energ ia, podendo tornar-se ineficiente se os nmeros e os ataques dos escolitdeos aumentarem ao longo de um qualquer ponto crtico do ciclo de vida da rvore (Bradley et al., 2004; Lombardero et al., 2006). Os esc olitdeos d o pinheir o alimentam-se sobr etudo de floema e exercem um efeito de inciso anelar na rvore. O dano causado por este tipo de alimentao funciona c omo um t orniquete interno que c orta o fluxo de n utrientes produzidos na c opa, para as r estantes partes da rvore. medida que os danos pr ogridem, os acar es e out ros compostos complexos no podem ser t ranslocados para as zonas mais baixas da rvore isto desde as agulhas at s r no-fotossntticas da eas rvore. O escolitdeo pode tambm introduzir o fungo j anteriormente mencionado Azulado da madeira que se desenvolve no xilema. Este fungo impede igualment e que a gua se ja transportada para as z onas superiores da r vore, em dir eco s agulhas. Deste modo, ambos os factores contribuem para o declnio e mor te das r vores colonizadas (Breece et al., 2008).
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3. Primeiros sinais e sintomas de colonizao de escolitdeos A descolorao das agulhas o primeiro sintoma de colonizao por escolitdeos. As agulhas passam de v erde-escuro par a v erde-claro e, posteriormente, de um amar elo palha par a um vermelho ferruginoso. A progresso do v erde par a o v ermelho acontece ao longo de vr ios meses. Outros sintomas e sinais incluem as exsudaes de resina, o serrim resultante das perfuraes e as prprias galerias. A resina a nica defesa natur al da r vore contra os esc olitdeos. Os insec tos que c olonizam r vores r elativamente saudv eis acabam, geralmente, por cr iar tubos de r esina por onde ent ram na r vore. O ser rim fino das per furaes , por v ezes, v isvel e xteriormente e causado pelo facto dos insectos triturarem o lenho durante a construo das galer ias. Dur ante a c olonizao inicial, o ser rim das per furaes vermelho v ivo. Para se obser varem as galer ias, pode-se r etirar uma poro da casca c om um mac hado. Isto s de ve ser feit o em r vores declaradas mortas. As galerias podem ser v isveis no interior da casca e podem conter larvas e pupas e/ou esc olitdeos adultos. Um ou t odos estes sinais/ sintomas podem estar presentes em simultneo.
4. Utilizao da madeira de rvores mortas por escolitdeos O xilema na maior par te d os casos no se apr esentar m uito danificado pela presena de fungos no pr imeiro ano de ataque. Mesmo que os escolitdeos transportem os fungos do azulado da madeira, estes no chegam a dec ompor a madeir a, isto , invade as cl ulas mas no provoca qualquer alterao na estrutura da madeira. Apesar de os escolitdeos poder em t ransportar out ros fungos que causem podr ido, o mais fr equente que est es provoquem o apodr ecimento do alburno, zona e xterna da r vore. A maior ia d os micr organismos que causam podrides da madeir a surge em ger al aps a mor te da r vore independentemente da razo que a le vou morte. Para que haja decomposio significativa do lenho preciso esperar no mnimo um ano. A velocidade de deteriorao das rvores mortas por escolitdeos no , pr ovavelmente, sig nificativamente difer ente da que se v erifica nas rvores mortas por um relmpago ou um incndio. Parece que indepen-
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dentemente da forma como uma rvore secou, a espcie, a sua dimenso e a localizao que determinam a velocidade de deteriorao da mesma. Nos EUA e para a espcie Pinus ponderosa estudou-se a velocidade de decomposio aps o ataque de insec tos xilfagos e v erificou-se que para rvores com DAP entre os 25 a 30 centmetros, estas comeavam a cair no final do 2. ano mas a maioria do povoamento tomba por volta do 4 e 5 anos. No caso das rvores com um DAP superior a 45 centmetros, observou-se grande fragilidade ao nvel das copas mesmo antes da rvore tombar por inteiro (Hanula et al., 2002; McHugh et al., 2003; Elkin et al., 2004). 5. Gesto das populaes de escolitdeos
5.1. Os inimigos naturais
Os escolitdeos tm uma g rande diversidade de inimigos natur ais. Em particular, pica-paus e outras aves podem limitar as suas populaes. Alguns insectos so conhecidos por controlarem as populaes de escolitdeos em condies de po pulao endmica (sem sur to). Os insec tos predadores, como o Rhizophagus depressus, o Thanasimus formicarus e o Aulonium ruficorne e v espas par asitides como Pteromalus azureus e Dendrosoter hartigi, so inimigos naturais destes xilfagos do pinheiro, sendo conhecidos por terem algum efeito nas populaes de escolitdeos, mas a maior parte dos estudos consideram que os parasitides e predadores dos escolitdeos so um fac tor menor no c ontrolo dos mesmos (Ferreira e Cabral, 1999).
5.2. Detritos de explorao florestal
O corte dos povoamentos atacados acaba por produzir grande quantidade de despojos lenhosos com casca. O material recentemente processado emite os mesmos compostos volteis que as rvores hospedeiras susceptveis. Algumas observaes preliminares indicaram que est es despojos atraem escolitdeos durante os seus perodos activos de voo, e que estes insectos colonizam rvores hospedeiras adjacentes aos locais onde os detritos de explorao florestal so mais abundantes (DeGomez et al., 2005). As rvores infestadas devem ser removidas do local. O material morto e abatido constitui estao de refgio para os escolitdeos, permitindo a
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sua reproduo e a possibilidade de c olonizao das r vores saudveis adjacentes. Contudo, o desbaste no recomendado em condies de surto, uma vez que a perturbao causada pela remoo das rvores pode tornar as restantes em hospedeiros alternativos para colonizao de escolitdeos. 6. Escolitdeos e fogo A ocorrncia de fogo, ou a realizao de fogo controlado, durante a fase de actividade vegetativa das rvores parece aumentar a mortalidade das mesmas devido a danos radiculares ou a actividade de insectos xilfagos como os escolitdeos (Bradley e Tueller, 2001; Sullivan et al. 2003; Elkin et al., 2004; Schwilk, 2006; Schwilk et al., 2006; Breece, 2008). As rvores enfraquecidas pelo fogo t ornam-se assim mais susc eptveis ao ataque destes insectos. Os problemas fisiolgicos nas rvores ocorrem quando as reservas de hidratos de carbono se encontram baixas permitindo a instalao de insectos xilfagos por falta de defesas ou c omo resultado de determinadas caractersticas fsicas e estruturais dos povoamentos de pinheiro (Charles et al., 2003). Contudo, individualmente os hospedeiros podem ter diferentes respostas dentro da mesma estao. Na verdade, quer rvores vigorosas, quer r vores muito enfraquecidas (por e xemplo, totalmente queimadas), ambas fornecem fracas condies de instalao para escolitdeos, as primeiras porque as defesas fazem frente ao agente colonizador e as segundas porque devido ao seu grau de declnio no providenciam recursos suficientes para expanso dos insectos (Leatherman, 2002). Diferenas no comportamento do fogo devidas a factores ambientais podem provocar efeitos distintos na susceptibilidade dos hospedeiros e na sua maior ou menor capacidade de reagirem colonizao dos xilfagos (Nunes, 2007; West et al., 2007). A poca do fogo pode igualmente afectar a mor talidade das rvores influenciando a sua susceptibilidade (Santoro et al., 2001) e influenciando a acti vidade d os esc olitdeos at ravs de efeit os dir ectos nas suas populaes e fenologia: fogos tardios realizados depois da actividade dos insectos ter cessado (Novembro/Dezembro, com excepo das espcies que podem voar todo o ano c omo o Ips sexdentatus), vo providenciar que as r vores possam recuperar aps o fogo n um perodo em que os escolitdeos no se encontram em fase de voo e por isso em que no h
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infestao (Hanula et al., 2002). A vulnerabilidade dos povoamentos aps o fogo parece tambm estar relacionada com a topografia das vertentes. Segundo as directrizes do servio de extenso da Universidade do Arizona, nos EUA (AFH, 2004) sugere-se as seguintes recomendaes para minimizar o impac to de xilfagos ant es e aps a aplicao de fogo controlado: 1. Evitar fogos de elevada intensidade. 2. Aumentar o mais possvel a durao entre fogos consecutivos (4a 5 anos). 3. Evitar implementar os t ratamentos de reduo de combustveis no perodo de voo dos escolitdeos. 4. Remover detritos lenhosos sem valor comercial do povoamento, ou destroar esse material para dimenses o mais reduzidas possvel. 5. Remover ou queimar o material lenhoso colonizado por escolitdeos. 6. Limitar os dimetros das rvores. Os dimetros maiores apresentam floema mais espesso e por isso mais apr opriado para expanso das galerias dos escolitdeos. Geralmente estes insectos s atacam rvores com os dimetros mais reduzidos durante estaes epidmicas. 7. Evitar desbastes em povoamentos com susceptibilidade radicular a podrides. Aps incndios, fr equentemente r ecomendada a r emoo de material de r isco (rvores queimadas, afogueadas e mat erial resultante de e xplorao flor estal) em pinhais queimad os (Sousa et al., 2008). Para os pinheiros que no esto t otalmente queimados sugere-se quase sempre o seu corte pois como so rvores debilitadas tornam-se nos alvos preferenciais dos escolitdeos (ver Captulo VIII). As rvores totalmente queimadas no so c olonizadas. No entanto, e logo aps o fogo , estas podem contribuir para a sua atraco uma vez que continuam, por algum tempo, a propagar substncias resultantes da volatilizao da resina. Este aspecto relacionado com a gesto do arvoredo queimado controverso, contudo as possibilidades de expanso de um ataque de escolitdeos aps o fogo estar sempre relacionado com a existncia anterior de pragas. A pr esena destas fr equentemente r esultado de uma sil vicultura incorrecta. A sua ocorrncia antes do fogo aconselha a uma intensificao de operaes de monitorizao/interveno de forma mais cuidada.
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Em geral menos bvio o facto de que o fogo pode pr ovocar danos nas rvores e torna-las susceptveis ao ataque d os escolitdeos que por sua vez vo contribuir para o aumento das condies que as predispem a ar der. Antes de se implementar em quaisquer medida cur ativas necessrio saber quais as r vores que vo mor rer por danos causados directamente pelo fogo e quais as que, sobrevivendo, podem posteriormente ser atacadas por insect os. Uma terceira categoria tem a ver com aquelas que se podem t ornar mais susc eptveis infeco por fungos e consequente degradao (sobretudo onde j e xistam nas pr oximidades patognios radiculares) (Nunes, 2007). As complexas interaces existentes entre as condies fisiolgicas do hospedeiro antes e aps o fogo, a poca do fogo, a intensidade dos danos, as espcies de escolitdeos e as condies climticas acabam por t ornar mais difcil pr ever os nveis de mortalidade em resultado de um fogo controlado ou incndio. Assim, as populaes de escolitdeos podem aumentar aps a aplicao de fogo controlado ou incndio, dependendo de (Crawford e Peterson, 1998): a) A intensidade dos danos causados pelo fogo. b) Os nveis populacionais das espcies de escolitdeos antes do fogo. c) Condies climticas aps o fogo. Baseado nestes pressupostos, os gestores florestais podem determinar/ avaliar a e xtenso de reas que nec essitam de int erveno, desenvolver alternativas de tratamento em mtodos de gesto integrada e decidir como e quando esses tratamentos podem ser mais eficazes. Frequentemente a gesto das diferentes situaes exige definio de prioridades e os gestores florestais no devem considerar que todas as estaes com infestao de escolitdeos tm de ser t ratadas de imediat o. Para hierarquizar as pr ioridades sugere-se que se d especial ateno s plantaes localizadas em zonas de topografia menos elevada e/ou sujeitas a maior secura. Algumas rvores que sobrevivem aos incndios acabam por mor rer nos 3-5 anos seguintes em consequncia dos danos fisiolgicos causados pelo fogo. Decidir sobre quais as r vores a retirar depende no apenas dos danos provocados no lenho e raiz como ainda do seu estado fitossanitrio antes de o fogo ocorrer (Crawford at al., 1998). Os insectos no infestaro r vores severamente afectadas pelo fogo , no havendo assim nec essidade urgente de r etirar rvores cujo cmbio no apresente uma colorao esbranquiada e hmida (M athew et al.,
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2004). As rvores susceptveis so aquelas que ainda oferecem condies de expanso para as populaes de escolitdeos. Na remoo de pinheiros aps o fogo deve-se realizar o corte o mais prximo possvel do solo, deixando a menor rea de toia. Este procedimento reduz a colonizao de xilfagos e patognios das toias (Nunes, 2007). No armazenamento das rvores atacadas e cortadas importante que sejam descascadas ou c obertas com plstico, para que os insec tos permanecendo no seu interior se encontrem confinados. Uma vez que os escolitdeos conseguem voar distncias considerveis, as recomendaes preconizadas pelas medidas fit ossanitrias suger em que se c oloque o material lenhoso distncia mnima de 400 m de po voamentos no infestados (AFH, 2004). Esta medida pode ser dificultada sempre que as parcelas so de dimenses reduzidas e se encontram rodeadas por pinhais que sofreram a passagem do fogo. importante que as rvores consideradas como aptas a ficar em na parcela depois do fogo no passem por perodos de seca e no sejam desramadas ou resinadas nos meses seguintes para evitar a atraco dos escolitdeos. A melhor for ma de e vitar ataques de esc olitdeos at ravs da preveno antes e aps fogo, com a monitorizao sanitria das rvores de forma a detectar prematuramente os primeiros sinais de susceptibilidade por par te d os hospedeir os. As pr incipais medidas pr eventivas so sugeridas na Tabela 1. Um t ema igualment e r elevante o de a valiar at que pont o os escolitdeos podem potenciar o risco de fogo. De facto, as agulhas vermelhas e secas em consequncia dos ataques de escolitdeos constituem um risco grave de incndio. As agulhas secas acabaro , eventualmente, por cair para o solo e o r isco inicial de fogo sofr er uma reduo. Contudo, as rvores comearo a desfazer-se, aumentando a carga de c ombustvel disponvel no solo florestal. Isto pode criar uma escada de combustvel, levando ao aument o d o r isco de um incndio d o solo s c opas das rvores. No caso de um incndio alcanar as c opas de um c onjunto contnuo de r vores mortas, este conseguir espalhar-se com rapidez. Os incndios das c opas alastram com muita rapidez e so m uito mais difceis de controlar do que os incndios ao nvel do solo (Nunes, 2007). A madeira morta pelos escolitdeos um combustvel pesado e, uma vez em fogo, queima com um calor extremo.
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TABELA 1
RESUMO DAS PRINCIPAIS MEDIDAS A IMPLANTAR NA PREVENO DE ATAQUES DE ESCOLITDEOS ANTES E PS FOGO MEDIDAS DE PREVENO CONTRA ATAQUE DE ESCOLITDEOS
DEPOIS DO INCNDIO
FOGO CONTROLADO
Suprimir as rvores Evitar a linha de fogo parcialmente queimadas perto do colo das rvores Monitorizar os povoamentos vizinhos com mais regularidade a seguir ao incndio Evitar linha de fogo sobre razes expostas
Evitar causar feridas no tronco durante as operaes florestais Suprimir rvores infectadas com patognios e pragas se o ataque for intenso Evitar detritos de explorao florestal
Evitar realizar fogo controlado durante os perodos de voo dos escolitdeos No executar fogo controlado em povoamentos j infestados ou enfraquecidos/ susceptveis
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X.
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1. Introduo Como foi referido no Captulo II, os incndios florestais so, provavelmente, o fenmeno de maior impacte ambiental em Portugal. Os processos hidrolgicos e erosivos delapidam um recurso j por si bastante degradado que so os nossos solos sem aptido ag rcola, geralmente ocupados por povoamentos florestais e matos. Os conhecimentos adquiridos sobre os processos erosivos e os ciclos biogeoqumicos permitem-nos desenvolver e avaliar as est ratgias mais eficazes de conservao do solo e da gua. A degradao das reas queimadas apresenta vrios problemas especficos. Desde logo, as extensas reas queimadas tornam proibitivas intervenes a larga escala. Depois, a extrema rapidez com que ocorrem os processos de de gradao, sendo que a maior parte dos nutrientes so perdidos nos primeiros quatro meses aps o incndio, exigem uma resposta a muito curto prazo. A conectividade dos processos, ao nvel da encosta, e a sua transmisso para os cursos de gua, desempenham um papel impor tantssimo na degradao das reas queimadas. Essa continuidade fruto da ausncia de heterogeneidade, pelo que este um aspecto fundamental para a interveno antes e depois de um incndio , tendo em vista a reduo dos impactes sobre a conservao da gua e d o solo. Assim, as est ratgias e tcnicas capazes de promover a diversidade da paisagem, a ruptura dos processos de degradao do solo e da gua, passam pela criao de descontinuidades s micro e meso escalas. Surpreendentemente, a quantidade de t rabalhos tcnico-cientficos publicados internacionalmente, sobre o que fazer aps os incndios, bem menor do que a importncia do tema e os seus impactes para a sustentabilidade dos ecossistemas florestais faria supor. Robichaud et al. (2000) fornecem uma descrio e avaliao qualitativa de vrias tcnicas usadas para mitigar os impactes dos incndios florestais, baseadas simplesmente em inquritos efectuados a gestores florestais. Todos os trabalhos que procuram quantificar a eficcia das tcnicas de mitigao ou monitorizam um , nmero muito restrito de tcnicas,para permitirem uma avaliao comparativa, ou no medem os pr ocessos de deg radao (ver por e xemplo Montoro et al., 2000; De Luis et al., 2003; Wagenbrenner et al., 2006; Robichaud, 2005; Robichaud et al., 2006; Robichaud et al., 2008; Fox et al., 2006).
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2. Estratgias de conservao do solo e da gua Embora seja urgente, e extremamente importante, o estudo e desenvolvimento de tcnicas e estratgias para reduzir a degradao do solo e da gua, aps incndios florestais, as solues encontradas devem ter uma relao custo/benefcio aceitvel, e ser aplicveis a locais chave, especificamente seleccionados para permitirem os maiores impactes possveis, em termos de conservao. Dado que alguns incndios flor estais queimam g randes r eas de floresta e matos, e totalmente impossvel intervir sobre toda a rea em tempo til, conveniente desenvolver ferramentas que permitam indicar quais as reas onde as intervenes se devero realizar de forma a produzir os maiores efeitos, mitigadores, ao mais baixo custo possvel (ver Captulo V). De facto, a rapidez com que se processa a degradao aps o incndio (Ferreira, 1996; Ferreira et al., 2005a), limita muito as opes disponveis para mitigar a degradao resultante do incremento na escorrncia, nas taxas de eroso e nutrientes dissolvidos exportados logo aps os incndios. Ferreira et al. (2005a) demonstraram que a maior parte das perdas ocorrem nos primeiros 4 meses aps o incndio . Este facto limita as o pes de gesto a dois grupos de solues: a) Ordenar o espao florestal antes dos incndios, para minimizar os riscos; b) Intervir, imediatamente aps o incndio, de forma a criar rupturas na conectividade que potencia a transmisso da gua, sedimentos e solutos em direco aos cursos de gua e para fora das bacias hidrogrficas.
Ordenamento do espao florestal
A diversidade da paisagem adquire uma enorme relevncia na gesto antes do fogo, j que pode ser planeada de for ma a cr iar obstculos progresso do fogo, diminuindo assim a rea queimada. Essas descontinuidades e infra-estruturas tambm deveriam ser projectadas de forma a constiturem barreiras progresso dos processos hidrolgicos e erosivos, criando condies para a infiltrao e sedimentao. Esta filosofia encontra-se j patente no Decreto-Lei n 124/2006 de 28 de J nho, que tm por objecu tivo a implementao de uma est ratgia de planeamento de defesa da floresta contra incndios, composta entre outros, por i) redes de faixas de gesto de c ombustvel, ii) mosaicos de par celas de gesto de c ombustvel, iii)
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rede viria florestal e iv) rede de pontos de gua, a implementar nos espaos rurais. Os primeiros dois pontos so focados em mais detalhe no Captulo VI. Dentro da gesto escala da paisagem, a promoo de uma floresta mais resistente e resiliente ao fogo trar vantagens de um ponto de vista da conservao do solo, uma v ez que pr oteger de for ma mais eficaz o substrato onde se desenvolve. Por isso, o processo de florestao deve assumir uma filosofia de pr eveno de incndios que se t raduza em diferentes sol ues e met odologias aplicv eis s difer entes unidades geomorfolgicas da paisagem, aos difer entes est ratos e associaes vegetais, escolha da espcie arbrea mais adequada s diferentes regies climticas e unidades geomorfolgicas da paisagem. Ainda no contexto do ordenamento florestal, o fogo controlado uma tcnica passv el de ser utilizada ao nv el d o or denamento d o espao florestal, de forma a criar uma maior diversidade da paisagem e diminuir a conectividade e transmisso dos processos hidrolgicos e erosivos entre diferentes compartimentos da paisagem. Esse incremento na conectividade e logo , na t ransmisso de flux os par a jusante ent re diferentes componentes da paisagem, resulta muitas vezes no ultrapassar de limiares de produo de fenmenos catastrficos em reas mais latas (Ferreira et al., 2008a), com avultadas perdas de bens e mesmo de v idas humanas. Os fogos controlados apresentam padres heterogneos de repelncia do solo gua. Lado a lado com reas hidrfobas, ocorrem reas hidrfilas onde a gua gerada nas reas repelentes se pode infiltrar, constituindo-se assim, como uma rea de acum ulao de sediment os, fornecendo uma quebra na conectividade ao longo da encosta (Fryirs et al., 2007). O carcter de conservao dos fogos c ontrolados est pat ente na quantidade de solutos perdidos que no apresenta diferenas significativas quando comparados com as parcelas de controlo (Ferreira et al., 2005b). Todas estas sol ues esto or ientadas par a a pr eveno de fogos florestais, uma vez que a conservao dos solos e da gua resulta da reduo da frequncia e intensidade da combusto. As aces descritas neste ponto promovem a conservao do solo e da gua, no apenas pela r eduo da frequncia e int ensidade dos incndios flor estais, mas tambm por que promovem desc ontinuidades que podem ser r elevantes na quebr a da conectividade dos processos hidrolgicos e erosivos, nas encostas e a quebra da transferncia desses processos das encostas para os cursos de gua.
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As estratgias aps o fogo podem ser divididas entre (i) a criao de oportunidades de infilt rao da gua e sedimentao , par a r eduzir a magnitude dos processos hidrolgicos e erosivos, e (ii) evitar a actuao desses processos, em primeiro lugar, adicionando detritos orgnicos ou sementes, para a estabilizao da camada de cinzas, de forma a impedir a saturao e dificultar o ating ir do limiar de pr oduo de escorrncia. sobr e as tcnicas disponv eis par a aplicar estas est ratgias que se debrua o remanescente deste captulo. 3. Tcnicas de conservao do solo e gua
3.1. Sementeiras
A sement eira c onsiste em espalhar sement es n um t erreno pr eviamente pr eparado at ravs de uma simples la vragem ou de uma escarificao. Podem utilizar-se diferentes combinaes de sementes, com por exemplo, misturar sementes de her bceas vivazes (aplicao mais comum, at 6 sementes, (Rey, 2003)) com sementes de arbustos e rvores. A sementeira pode ser feita de forma manual, mecnica ou area, no caso de grandes superfcies (Rey, 2003). A hidrosementeira feita de for ma mecnica, sendo geralmente aplicada a pequenas superfcies. Na sementeira pretende-se obter um coberto vegetal para controlar a eroso do solo e para diminuir a perda de sedimentos (Llovet e Vallejo, 2004). Um e xemplo tpic o de uma mistur a de sement es inclui her bceas como Agrostis stolonifera, Lotus corniculatus, Medicago trunculata, Trifolium fragiferum, Carex humilis, Trifolium subterraneum, Lolium multiflorum ou lenhosas e arbustivas de rpido crescimento (Artemisia herba-alba, Salvia lavandulifolia, Thymus vulgaris, Santolina rosmarinifolia), em conjunto com espcies nati vas. A sementeira pode r ealizar-se em t oda a r ea queimada, ou ento , de for ma localizada em sulc os ou fileir as. A sementeira directa ou de transmisso consiste em distribuir as sementes directamente sobre a superfcie do solo. um mtodo simples de se utilizar, barato e muito adequado a terrenos difceis. A sementeira manual para encostas de declive acentuado ou mecanizada, utilizando-se semeadores pne umticos, em t errenos de inclinao moder ada a sua ve.
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A sementeira em faixas consiste na deposio das sement es em sulc os previamente aber tos c om um ar ado, mac hado ou ancinho . Uma v ez colocadas as sementes no sulco, estas so tapadas com o cuidado de compactar depois o solo . Para z onas de t opografia sua ve e solos li vres de pedras, utilizam-se mquinas agrcolas na abertura dos sulcos. A sementeira com aplicao de mulch (ver mais frente) permite melhorar a germinao das sementes dado que aumenta a infiltrao e a humidade do solo (Robichaud et al., 2000). A proteco conferida pelo mulch contra o impacto das gotas de chuva, melhora a germinao (Montoro et al., 2000). A aplicao de mulch com sementes pode realizar-se a seco, com ar comprimido, usando uma semeadora ou ento, manualmente. Em terrenos de textura fina conveniente cobrir as sementes com mulch, ou ento, enterr-las. Para solos de t extura grosseira, as sement es podem int roduzir-se entre as pequenas fissuras do terreno, o que favorece a germinao. Na hidro-sementeira, as sementes de herbceas (gramneas e leguminosas) so misturadas com gua, bioestimulantes, adubo e aglutinadores tal como no hidromulch. Os componentes so misturados numa cisterna com agitador e expulsos por um canho hidrulico. A hidro-sementeira indicada par a superfcies com fortes declives, terrenos pouco consolidados e inacessveis maquinaria convencional. Montoro et al. (2000) demonstraram que 3 tratamentos diferentes de hidro-sementeira levaram r eduo da esc orrncia e dimin uio da pr oduo de sediment os. A hidro-sementeira area feita com recurso a helicptero e as sementes tm de ser bem espalhadas sobre a superfcie. Para se obterem os melhores resultados, o local e a poca de sementeira tero de ser os mais adequados; o solo ter de estar previamente preparado, a semente ter sido submetida a um tratamento adequado, ter qualidade, e ser usada na quantidade certa. A utilizao de sementeiras de vegetao herbcea no acompanhada por outras tcnicas, revela-se geralmente ineficaz. Primeiro, porque dada a velocidade a que os pr ocessos de deg radao ocorrem logo aps o incndio, as sement es que se mantm na camada de cinzas so la vadas para jusant e, ant es mesmo q ue c onsigam ger minar e desempenhar qualquer papel na c onservao d os solos. Por out ro lad o, logo aps o incndio, difcil s plantas ultrapassarem a camada hidrfoba.
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Pretende-se c om esta tcnica aumentar a c obertura d o solo par a reduzir o impacto das gotas de chuva e a consequente eroso (Robichaud e Brown, 2005). conveniente, por uma questo de cust os, que o efeito de cobertura se ja conseguido com materiais locais bar atos, de mod o a t ornar est e tipo de o peraes ec onmica e socialment e v iveis. Uma font e b via de c obertura ( mulch) so os r esduos do abat e das rvores queimadas, que podem ser deixad os por for ma a c onstituir micro-armadilhas de reteno das cinzas. Para tal, devem ser dispostos perpendicularmente ao sentido do maior declive da encosta. Uma outra forma de c obertura, que podemos desig nar de mulch natural, acontece quando, em situaes de baixa a moderada intensidade do fogo, as folhas (dessecadas) permanecem nas copas das rvores aps o incndio. Depois de carem no solo, providenciam uma proteco natural contra a erosividade da chuva, aumentando a erodibilidade do solo, tambm devido proteco que for necem c ontra o ar rastamento de par tculas pela escorrncia. Diversos autores recomendam mesmo que se esper e pela queda das folhas ou agulhas para abater as rvores. Estas folhas que caem para o c ho vo pr ovidenciar um mulch natural como co bertura (Robichaud et al., 2000). Coelho et al. (1995) verificaram que a simples presena de agulhas pr ovenientes de pinheir os queimados sobre o solo tinha um impac te positivo sobre os processos hidrolgicos, as taxas de eroso e a e xportao de n utrientes. Isto significa que quand o a int ensidade do fogo no chega a consumir as agulhas dos pinheiros, a queda destas sobre o solo pode providenciar um mecanismo eficaz de proteco que deve ser tido em considerao.
Aplicao de Resduos Vegetais
A aplicao de resduos (i) aumenta a rugosidade superficial do solo logo, a r eteno de sediment os (Shakesby et al., 1996), (ii) mantm a humidade do solo , (iii) reduz a e vaporao, (iv) aumenta o t eor de matria orgnica no solo e (v) conserva a est rutura superficial do solo. uma tcnica que apr esenta muitas variaes, consoante os materiais utilizados, o clima, os autores. Podem ainda, ser combinados um ou vrios elementos. No mulch de palha, cascas e ramos triturados (Figura 1),
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o material espalhad o manualmente na super fcie do terreno. um mtodo adequado a terrenos difceis ou de g rande inclinao. H que repartir o material sobre a rea de risco pr-seleccionada de modo a criar uma camada homognea sobr e o solo. No mulch de ramos de rvores e de arbustos, os ramos devem ser esmagados ou colocados em contacto com a superfcie do solo, para assim reter maior quantidade de sedimentos. Uma soluo de recurso pode consistir na aplicao de pedras sobre a superfcie, sendo semelhante aplicao anterior e sendo necessrio um camio para o t ransporte das mesmas. possvel o uso de maquinar ia para aplicar os diferentes tipos de mulch em terrenos de topografia suave. Infelizmente, a prtica enraizada habitual contrria tcnica de mulch, pois os restos vegetais so retirados das encostas e das reas queimadas, em operaes de limpeza ou de roa.
FIGURA
Mulch de cascas de eucalipto trituradas numa parcela. (Fonte: Prats, S., 2008).
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Hidromulch
Este tratamento de reduo da eroso aplicado em taludes de aterro e corte dos caminhos, bermas de estradas, parques florestais e em encostas queimadas com inclinao. Pode tambm r ecorrer-se ao uso de hel icpteros, no caso de grandes extenses (Figura 2). O hidromulch consiste numa mistura de palha, ou cascas t rituradas qual se junta um b ioestimulante (dulzee), substrato, adubo ecolgico, sementes e cola ecolgicas ou aglutinador (no ecolgico), que forma uma camada protectora consistente que, alm de fixar as sement es, a palha ou cascas t rituradas, protege contra as intempries at fixao do material, pois forma uma matriz sobre o terreno (Rey, 2003). No hidromulch o material expelido por uma mangueira aspersora sob presso e a mistura est dentro de um reservatrio ou moto-bomba sem palhetas, para no entupir a passagem desde o reservatrio. A aplicao do hidromulch est limitada a um raio de 70 m em redor do local onde se situa o equipamento.
FIGURA
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As bandas ou c ordes de mulch so bar reiras formadas por faixas sucessivas de mulc h, separadas por alguns met ros nas encostas, com o efeito de (i) reduzir a velocidade da gua de esc orrncia e a er oso; (ii) aumentar a taxa de infilt rao e (iii) permitir a r eteno das cinzas. Os cordes de mulch podem ser precedidos de um pequeno sulc o que aumenta a taxa de infiltrao de gua no solo e permite a acumulao de cinzas (Ferreira, 2005c). As bandas ou c ordes de mulch, p odem ser compostas de restos de troncos e r amos de r vores, queimadas ou no . Estas devem ser agrupadas em cordes perpendiculares ao maior declive da encosta, em faixas r egulares (Ferreira, 2005c). Com fio ou c orda e estacas unem-se os ramos e restos de troncos e compactam-se bem junto ao solo, par a aumentar o c ontacto com este, e pr omover uma maior deposio dos sedimentos. O espaament o dos cordes de mulch em funo do declive da encosta, assim, a colocao de cordes separados em 5-6-10-15 m correspondero a declives de 30-16-10-5%, respectivamente (WOCAT, 2007). Os sulcos, que precedem as bandas de mulch, so abertos de for ma manual com um ancinho, ou em r eas extensas, com mquinas agrcolas que abrem sulcos mais profundos. Devem ser feitos perpendicularmente ao maior declive da encosta (Ferreira, 2005c).
3.3. Barreiras temporrias para controlo da eroso
As barreiras de troncos, tubos de nylon, e outras estruturas naturais ou de engenhar ia, tm sid o usadas como barreiras para a escorrncia, para (i) promover a infilt rao; (ii) armazenar os sediment os e (iii) reduzir o mo vimento de sediment os nas encostas queimadas. A forma de aplicao das bar reiras, no que r espeita escorao, per pendicularidade em relao ao fl uxo de escorrncia, e superfcie de c ontacto com o solo, vai influenciar o volume potencial de ar mazenamento de sedimentos. A colocao de barreiras de troncos pode ser feita de forma manual ou com recurso a mquinas.
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Barreiras de troncos
No caso de as r eas queimadas serem muito extensas e, existir um elevado excedente de madeira queimada, de difcil escoamento, ou ainda, se os troncos das rvores se encontrarem irremediavelmente queimados, podem utilizar-se esses t roncos como barreiras (Figura 3). O objec tivo desta tcnica cr iar pequenas bar reiras mecnicas nas enc ostas onde o fluxo de esc orrncia e os sediment os possam ficar r etidos, reduzindo o seu transporte, e assim, promover a infilt rao da gua (R obichaud e Brown, 2005). A instalao consiste em der rubar rvores queimadas, colocando-as em c ontacto com o solo segund o as cur vas de nv el da encosta (R obichaud et al., 2008a). Os t roncos imobilizados no solo amparados por estacas ou pelos cepos (parte que fica no solo depois de cortada a r vore). Esta ltima sol uo s possv el se os po voamentos florestais possurem compassos que permitam a sua aplicao e em que seja possvel colocar os troncos perpendicularmente ao sentido do maior declive da encosta. Nos casos em que no se ja possvel tal disposio, devem usar-se estacas. Na aplicao da tcnica devem ser abertos sulcos no solo, para melhorar o contacto dos troncos com este e assim tornar a tcnica mais eficaz. Estes podem ser feitos com enxadas, ps ou picaretas. Os sulcos escavados com p de tractor permitem um maior contacto entre os troncos e o solo, no entanto, o emprego de maquinaria ir perturbar o solo. O espao livre entre os troncos e a superfcie deve ser preenchida com solo para evitar o transbordo de gua e sedimentos entre barreiras, pois contribuem para formar pequenas bacias de reteno. (Robichaud et al., 2008a). Podem tambm plantar-se arbustos ou rvores, frente das barreiras, que recolhem a gua e sedimentos. O comprimento dos troncos pode ir de 4 a 9 m, com dimetro mdio de 17 a 23 cm (R obichaud et al., 2008a). A distncia entre as barreiras de troncos depende do declive da encosta. O espaament o regular destes t roncos deitados sobre o solo impede uma acumulao excessiva das cinzas, e constitui uma bar reira que vai limitar a c ontinuidade da escorrncia nas encostas e, como tal, contribuir para reduzir as perdas de cinzas/nutrientes.
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FIGURA
Colocao de troncos em encostas aps incndio. (Fonte: P. R. Robichaud, U. S. Forest Service, Rocky Mountain Research Station).
O objectivo das barreiras diminuir a distncia percorrida pelo fluxo de escorrncia ao longo da encosta (Robichaud et al., 2000). So normalmente colocadas em reas com fluxos de baixa int ensidade ou na par te lateral das enc ostas, par a r eter pequenas quantidades de sediment os suspensos (Robichaud et al., 2000). Substituem as bar reiras de t roncos quando estes no e xistem ou so escassos (R obichaud e B rown, 2005). As malhas de ar ame ou n ylon preenchidas com palha so est ruturas permeveis que retm a escorrncia superficial e reduzem a velocidade do fluxo. A forma de aplicao semelhante colocao de troncos, mas neste caso, so substitudos por tubos de ar ame e n ylon pr eenchidos c om material filtrante, normalmente palha (Figura 4). As barreiras tm 0.25 m de dimetro e podem ser dobradas cerca de 0.6 m nas extremidades do tubo, no sentido ascendente, para aumentar a capacidade de reteno dos sedimentos (Robichaud e Brown, 2005). Tal como as barreiras de troncos, os tubos de nylon e palha so colocados de acordo com as curvas de nvel, ao longo da encosta, e imobilizados com estacas. A durao destas barreiras depende de parmetros como a pluviosidade aps a instalao (intensidade da chuva), da densidade da instalao, da topografia e das taxas de eroso do solo.
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FIGURA
Barreira de arame e nylon com palha. (Fonte: P. R. Robichaud, U. S. Forest Service, Rocky Mountain Research Station).
O principal problema, no que concerne aos processos de degradao do solo e da gua em reas queimadas, diz respeito ausncia de obstculos desagregao e remoo dos agregados do solo pelo splash (salpicos causados pelo impacto das gotas da chuva na superfcie do solo), progresso da escorrncia e falta de oportunidades de infiltrao. Assim, qualquer tcnica aplicvel micro escala, ou escala das encostas, para aumentar a rugosidade, criar obstculos que vo promover a infiltrao da gua. O aumento da capacidade de infiltrao pode ser conseguido atravs da ruptura da camada do solo repelente gua. Esta camada encontrase imediatamente por baixo da camada de cinzas (com a remoo destas acaba por aparecer superfcie) e raramente possui uma espessura superior a 10 cm. Como tal, pode ser dest ruda com relativa facilidade, usando uma ferramenta manual, ou atravs da utilizao de mtodos mecnicos, de lavragem ou gradagem. De notar que no existem dados experimentais sobre a eficcia desta sol uo. Uma alternativa consiste na utilizao de maquinaria pesada par a abrir sulcos, perpendiculares linha de maior declive (tcnica de vala-e-c omro), com maior profundidade e espaamento. Tal permite destruir a camada hidrfoba e, consequentemente, acumular a gua e cinzas na vala horizontal formada. A colmatao dos sulcos com as cinzas no impede a continuao do processo j que estas so hidrfilas. Como medida de segur ana, que e vite o galgament o do
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cmoro e a aber tura de uma r avina, a vala dever ter um declive muito ligeiro, entre 1 e 2% para conduzir lentamente a gua, excedente, para uma linha de gua secundria, onde podero ser efectuados pequenos audes de reteno de for ma a retardar e reter, quanto possvel, os sedimentos e nutrientes residuais (Silva et al., 2007). No entanto, a cir culao de mquinas pelas encostas ardidas remover e perturbar o solo, com o qual a eroso poder ser promovida mais do que evitada. Para mais informaes tcnicas sobre o dimensionamento deste sistema, o leitor remetido para o trabalho de Silva et al. (2007). Em alguns incndios intensos, os sistemas radiculares da vegetao tambm podem ar der. Este fenmeno ocorre sobretudo em pinhais sujeitos a desbaste, onde os sistemas radiculares das rvores abatidas, que se encontram apodrecidos, produzem macroporos que podem funcionar como armadilhas para a progresso da escorrncia, transporte de sediment os e de sol utos, diminuindo assim a per da de nutrientes e sedimentos e reduzindo o risco de picos de cheia catastrficos a jusante (Doerr et al., 2003; Ferreira et al., 2000, 2003, 2005a). A lavragem consiste na aco mecnica de r evolver o solo, com um arado ou uma charrua ligada a um tractor, que rasga a superfcie do solo levando for mao de sulcos. Os sulcos acumulam gua e sediment os, podendo ser pr evistos pequenos depsit os par a acum ulao d os sedimentos transportados, nos locais mais baixos (Robichaud et al., 2008). O objectivo cr iar rugosidade superficial par a permitir a infilt rao da gua no solo e quebrar a camada repelente gua, para controlar a eroso do solo. Aps a lavragem pode realizar-se uma sementeira ou transplante de pequenas r vores. Na escarificao quebrada a camada super ior do solo, aumentand o a r ugosidade super ficial. A escarificao pode ser efectuada man ualmente, usand o ancinho ou gadanho , ou de for ma mecnica usando um escarificador. As tcnicas de lavragem e escarificao podem efectuar-se de forma manual ou mecnica, segundo as curvas de nvel. Do ponto de vista florestal, no se devem realizar apenas lavragens e escar ificaes do solo. Estes tipos de pr eparao do solo, de vem ser seguidos de tcnicas c omo o mulch e ou a sement eira (Shakesby et al., 1996; Cassol e Lima, 2003; MacDonald e Robichaud, 2007) para um uso florestal ou agrcola do solo, de modo a melhorar a infiltrao da gua e a reteno de sedimentos e de acelerar a recuperao.
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As barreiras em canais, ou check dams, so estruturas feitas de palha, paus, pedras ou sacos de areia, instaladas para estabilizar o gradiente do canal e reter sedimentos. So usadas para alterar o movimento dos sedimentos e da gua, reduzindo o fluxo de gua, evitando cheias e retendo os detritos conduzidos na corrente, em canais de p equena ordem e valas, durante a primeira poca de chuvas a seguir aos incndios (Robichaud et al. 2000; Robichaud e Brown, 2005). So tratamentos adicionais, que so instalados aps, ou em simultneo, com o tratamento nas encostas. De notar que estes tratamentos devem ficar bem fixos no canal, sem que corram o risco de ruptura, que a acontecer, poder ter impactos catastrficos a jusante. Pela mesma razo, devem ser removidos quaisquer barreiras formadas por materiais mobilizados pelo caudal, que por serem instveis, podem romper, causando graves problemas a jusante, resultantes da libertao instantnea de grandes quantidades de gua e sedimentos. Por esta razo, as barreiras dentro dos canais nunca podero ser de grandes dimenses, o que reduz o risco de ruptura, e em caso de ruptura, as quantidades de gua e sedimentos libertados nunca sero suficientes para causar problemas de maior.
Barreiras de fardos de palha
O objectivo principal desta tcnica (Figura 5) reduzir a velocidade do fluxo de escorrncia e aumentar a deposio e r eteno de sedimentos arrastados. As barreiras permitem ainda controlar a eroso nas encostas, aps o corte de plantaes. Esta tcnica tem uma durao de 1 a 3 anos. Os sediment os so depois liber tados, g radualmente, medida que o material se degrada. Este um tipo de tcnica usado para tratamento de canais em reas pouco queimadas, ou aps um fogo de intensidade baixa. Uma barreira de far dos de palha for ma-se com 4 a 5 far dos, que so colocados perpendicularmente a um curso de gua pequeno (ou linha de dr enagem natur al), par a captur ar os sediment os ar rastados pelo caudal do curso de gua. A rea de drenagem deve ser restrita e a barreira colocada para que a profundidade da gua no exceda cerca de 30 cm em nenhum local. So mais adequadas para zonas de topografia suave. Devem ser monitorizadas aps eventos chuvosos significativos, com o cuidado de remover os sedimentos e efectuar as reparaes necessrias.
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FIGURA
Barreiras de Troncos
As barreiras de troncos so estruturas estabilizadoras, ancoradas desde o topo do canal ou ravina at base, com troncos queimados disponveis no local. Os t roncos podem ser c olocados na vertical (Figura 6) ou na horizontal, amarrados por cordas. Tm de se escavar pequenas covas cuja profundidade metade da altura dos troncos. As covas podem ser abertas manualmente ou com recurso a tractor. Colocam-se os troncos na vertical com os mais grossos no meio da barreira onde a corrente da gua mais forte. P reenchem-se as c ovas c om t erra de for ma a fixar os t roncos. Os troncos colocados transversalmente devem ser ancorados por estacas. Nos t rabalhos citad os por WOCAT (2007), as bar reiras c onstrudas tinham um comprimento de 8m, largura de 15 a 20 cm e 1 m de altur a. Podem tambm colocar-se pedras ou ramagem, de forma a estabilizar as barreiras, ou plantar r vores junto destas par a estabilizar a r avina ou sulco, aps sedimentao. Deve ser feito o nivelamento das barreiras.
FIGURA
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Barreiras de Pedras
Estas estruturas estabilizam a est rutura do canal do topo at base, permitindo manter a forma e a capacidade do canal e preservar as condutas de gua. Provocam a reduo da velocidade do caudal com reteno dos sedimentos grosseiros. O primeiro objectivo prevenir o ravinamento e o aprofundar do canal para prevenir a gerao de sedimentos nos canais queimados. Para construir barreiras de pedr as devem escavar-se valas perpendiculares ao fl uxo de gua d o canal, durante a poca seca, aps o incndio, para criar uma depresso. As pedras so ento c olocadas a uma profundidade de 15 cm, ao longo de um c omprimento de 2 a 3 m, com uma largura de 0.8 a 1 m e uma altur de 0.5 m. O centro da barreira a deve ser 23 cm mais baix o que os bordos laterais. O espaamento entre barreiras, numa sequncia, deve ser planeado e executado para que a base de uma barreira esteja alinhada com o topo da seguinte. As pedras podem ser colocadas manualmente ou por mt odo mecnico. Aps episdios chuvosos, os sedimentos devem ser removidos antes que atinjam metade da altura da barreira, de forma a manter a sua eficcia e evitar o seu colapso. Nos trabalhos de WOCAT (2007), as bar reiras de pedr as foram usadas em conjunto com barreiras de troncos para estabilizar ravinas, mais largas, tendo sido tambm plantadas r vores, em frente e at rs das bar reiras, aps sedimentao da base. So usadas para reas de drenagem at 5 ha.
Bacias de sedimentao (Debris basins)
Estas bacias retm sedimentos, dissipam a energia do caudal, criando habitats para organismos aquticos e impedem a deteriorao da qualidade da gua em reas a jusante (Robichaud et al., 2000). Previnem perdas do solo e da gua e danos nas bases das enc ostas, fruto da eroso das margens. Esta tcnica aplicada em ltimo r ecurso, quando os t ratamentos de encostas e canais so inadequados. A bacia de sedimentos um pequeno reservatrio de gua, para onde drenado o caudal de pequenos cursos de gua e a escorrncia das reas adjacentes. medida que o fluxo entra na bacia, a velocidade da gua diminui e perde a capacidade de transportar grandes destroos, que a ficam depositados. As bacias devem ser projectadas, c om capacidade par a r eter os sediment os da enc osta, por um perodo de 10 anos. O tempo menor, no caso da remoo de destroos ser
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fcil, mas nunca inferior a 2 anos. A bacia deve ter descarregadores adequados par a esc oar o e xcesso do flux o de gua, par a no e xceder a capacidade mxima de armazenamento. As bacias de sedimentao devem ser limpas an ualmente. Podem tambm esca var-se sulc os nos canais efmeros, para funcionarem como bacia de reteno, de forma a reter 50 a 90% do fluxo de gua. Estas devem ser limpas todos os anos e localizarem-se numa seco do canal principal onde se possam remover os sedimentos. Ao serem abandonadas, no produzem grandes prejuzos. Existem vrias hipteses de construo das bacias de sedimentao, sendo possvel aproveitar infra-estruturas j existentes. Podem ser construdas com duas barreiras alinhadas, perpendicularmente ao curso de gua, feitas de pedra ou cimento, alinhadas de forma a criarem bacias de reteno fechadas, dentro dos canais. Pode tambm c onstruir-se um alic erce com troncos cruzados sobre o solo onde depois so c olocadas pedras. As estruturas podem tambm ser de ciment o. O projecto e construo destas bacias de sedimentao exige conhecimentos avanados de engenharia civil, e no caso das maiores, convm monitorizar assiduamente o estado da infra-estrutura.
Limpeza dos canais e bacias de reteno
Um aspecto importante da gesto das bacias de r eteno e canais que devem ser r emovidos destroos acumulados que for am arrastados na corrente de gua, por for ma a pr evenir o aument o da altur a do caudal e consequentes inundaes sbitas das bacias de escoamento dos canais, podendo causar o c olapso das est ruturas e a ger ao de picos de c heia catastrficos (Robichaud et al., 2000). Por isso, devem ser removidos os detritos orgnicos, sedimentos ou toros, para impedir que sejam mobilizados em c orrentes ou c heias, e que alt erem assim a hidr ologia e geomorfologia do flux o (Robichaud et al., 2000). Os det ritos podem bloquear tubagens em caminhos, reduzir a capacidade do fluxo nos canais, e afectar o funcionamento das bacias de escoamento e aumentar a eroso dos caminho e est radas. A remoo de sediment os dos canais de ve ser efectuada antes do Inverno, quando se produzem os fluxos mais significativos. A limpeza deve ser feita por tcnicos, de forma a reconhecerem os destroos lenhosos flutuantes, os que so estabilizadores naturais e os que esto firmemente ancorados. As intervenes podem ser manuais, usando ps, picaretas ou enxadas ou, mecnicas, usando uma retroescavadora.
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Na Tabela 1 so resumidos os aspectos mais relevantes de cada uma das tcnicas mencionadas.
LISTAGEM DAS TCNICAS MENCIONADAS DE CONSERVAO DO SOLO E DA GUA, REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS A CONSULTAR PARA INFORMAES SOBRE A TCNICA, CUSTO RELATIVO (NMERO DE SMBOLOS PROPORCIONAL AO CUSTO), MEIOS HUMANOS E MATERIAIS NECESSRIOS, FACILIDADE DE APLICAO, VANTAGENS E DESVANTAGENS, E BENEFCIOS E DESVANTAGENS ECOLGICAS
MEIOS HUMANOS MATERIAIS DE APLICAO DESVANTAGENS ECOLGICO ECOLGICAS MEIOS FACILIDADE VANTAGENS/ BENEFCIO DESVANTAGENS
TABELA 1
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TCNICA
REFERNCIA
CUSTO
SEMENTEIRAS
Indiferenciados, Pouco mdios. relevantes Fcil Fcil mas pouco Promove maior eficaz se no associado infiltrao se associada a outra tcnica. a outras tcnicas. Sementes so lavadas nas primeiras chuvadas, indo florescer a jusante. Introduo de novas espcies.
SEMENTEIRA MANUAL
HIDROSEMENTEIRA
Especializados, poucos. Reduo de taxa de eroso. Equipamento especial Mdia Algumas das formas de aplicao (area) podem ser muito caras.
COBERTURAS
Indiferenciados, Pouco muitos. relevantes Fcil Material disponvel, baixo custo. Aumenta matria orgnica do solo. Bom controlo da eroso. O uso de pedras no tem impactes na estrutura do solo, na humidade ou em nutrientes.
HIDROMULCH
Especializados, poucos. Equipamento especial Mdia Reduz taxas de eroso e aumenta crescimento das plantas. Eficaz na reduo de taxas de eroso e crescimento das plantas.
Robichaud e Brown, 2005; Rey, 2003. Indiferenciados, Pouco muitos. relevantes Mdia
Aumenta fertilidade do solo e contedo de humidade. Bom controlo da eroso. Aumenta fertilidade do solo e contedo de humidade.
BARREIRAS DE TRONCOS
Robichaud et al., 2000; Ferreira et al., 2005; Wohlgemuth et al., 2001. Indiferenciados, Pouco poucos. relevantes Fcil
Melhoria da fertilidade.
MEIOS
FACILIDADE
TCNICA
REFERNCIA
CUSTO
Shakesby et al., LAVRAGEM E ESCARIFICAO 1996; Robichaud et al., 2000; Cassol e Lima, 2003; Robichaud et al., 2008
TRATAMENTOS DE CANAIS
Indiferenciados, Pouco relevantes mdios Fcil Fcil de implementar, durao limitada. Cria reas de acumulao de sedimentos e nutrientes. Rpida decomposio, efeito apenas a curto prazo, possibilidade de colapso, se mal dimensionado. Possibilidade de colapso, se mal dimensionado.
BARREIRAS DE TRONCOS
Robichaud et al., 2000; Robichaud e Brown, 2005 Especializados, mdios Equipamento especial Mdia Grande investimento em infra-estruturas.
BARREIRAS DE PEDRAS
Robichaud et al., 2000; WOCAT, 2007 Especializados, muitos Equipamento especial Difcil Grande investimento em infra-estruturas.
Obstculo disperso de algumas espcies aquticas. Cria reas de acumulao de sedimentos e nutrientes. Necessidade de intervenes para continuar activa. Fluidez do caudal. Durao limitada.
LIMPEZA Robichaud et al., 2000; BAER, DOS CANAIS 2004 E BACIAS DE RETENO
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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XI.
5. A instalao no terreno
5.1. Introduo 5.2. Mobilizao do solo 5.3. A operao de plantao 5.4. Fertilizao 5.5. Factores crticos para o sucesso das plantaes experincias post-transplante
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1. Introduo A r egenerao ar tificial das r eas queimadas a alt ernativa mais frequentemente referida como forma de mitigar os efeitos dos incndios florestais. Muito embora a mitigao desses efeitos inclua vrios outros aspectos e alt ernativas, tal c omo e videnciado ao longo de out ros captulos do pr esente livro, a nec essidade de r ecorrer a oper aes de regenerao artificial pode de fac to ser uma necessidade incontornvel, dependendo d os objecti vos a ating ir e das c ondicionantes de cada situao. Na verdade, o processo de sucesso ecolgica secundria que se segue a um incndio poder no ser minimament e c ompatvel c om a evoluo que se pr etende para a rea recentemente ardida. Frequentemente essa incompatibilidade prende-se com o tipo de utilizao que se pretende fazer da rea queimada, implicando a instalao de espcies que nunca iro surgir espontaneamente. Noutros casos mesmo quando se pretende um coberto constitudo por espcies nati vas do local, essa regenerao pode no surg ir c om a abundncia ou c om a r apidez pretendidas. No caso especfico das reas de clima mais t emperado do continente portugus, h ainda a ter em conta a frequente regenerao de espcies exticas cujo controlo poder ter que passar pela instalao de outras espcies que possam c ompetir vantajosamente pela l uz. Existe ainda a situao menos c omum de poder ser nec essrio assegur ar o revestimento vegetal de solos m uito degradados, onde o pot encial de regenerao da vegetao seja reduzido. No entanto esse tipo de situaes normalmente no resultante da ocorrncia de incndios, dada a baixa carga de combustveis que estes locais normalmente apresentam, pois coincidem com as zonas mais ridas e com menor produtividade. Apesar de tudo no podemos deixar de lembrar os trabalhos de arborizao que se r ealizaram nas Ser ras do Cent ro e N orte do P as pelos Ser vios Florestais do Estado sobretudo durante a primeira metade do Sculo XX (Radich e Alves, 2000). Estes trabalhos tiveram tambm como motivo a recuperao de solos deg radados por prticas anc estrais de queima, pastoreio e roa de matos. Esse tipo de situaes poder voltar a ocorrer em reas frequentemente percorridas por incndios, onde os pr ocessos erosivos se podero revestir de particular gravidade, impedindo a instalao natural da vegetao.
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Deste modo, dada a importncia que podero potencialmente desempenhar em estratgias de longo prazo na reabilitao ps-incndio, importa referir e descrever as alternativas a ter em conta ao nvel da regenerao artificial de r eas queimadas. Apesar dessa impor tncia, no e xistem muitos t rabalhos cientificament e validad os que per mitam a valiar as condies especficas da arborizao destas reas relativamente s reas no ardidas. Questes c omo o efeit o da difer ente disponibilidade de nutrientes ou a influncia da fauna nas plantas ou sementes recentemente instaladas, no tm sido devidamente estudadas para as reas queimadas. Por esse motivo, muitas das consideraes que se seguem so uma recolha do conhecimento disponvel para a r egenerao artificial de um mod o geral, normalmente sem uma referncia especfica s reas recentemente percorridas por incndios. 2. Sementeira versus plantao A regenerao artificial com espcies lenhosas pode fazer-se essencialmente de duas for mas: atravs da utilizao dir ecta de semente ou pela utilizao de plantas normalmente produzidas em viveiro e posteriormente transplantadas para um local definitivo. A sementeira apresenta como principais vantagens: a maior facilidade de execuo e o menor investimento associado. No entanto uma alternativa que exigir mais intervenes e maiores custos nos primeiros anos de crescimento (Forestry Commission, 1991). Quando bem suc edida, permite um desenvolvimento natural das r azes e assegur a um melhor desenvolvimento da planta, que no entanto ter um crescimento inicial mais lento relativamente ao de uma planta t ransplantada a partir de um viveiro (Alves, 1982; Argillier et al., 1991). A necessidade de ele vadas quantidades de sement e por unidade de superfcie, com o consequente desperdcio associado, um dos inconvenientes mais significativos da sementeira (Forestry Commission, 1991). Outros inc onvenientes so a oc orrncia de g randes per das ant es da germinao e durante o primeiro ano de crescimento devido a factores como a humidade excessiva, o gelo, a secura, a competio inter e intraespecfica, a aco de gado ou da fauna selvagem. Por exemplo quanto a este ltimo factor Pausas et al. (2004) referem uma predao de sementes
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nos seis pr imeiros meses super ior a 80%, n uma sement eira de Pinus halepensis em reas queimadas da r egio de Valncia. Por outro lado o nascedio ir regular em t ermos de est rutura e de dist ribuio espacial (clareiras versus elevada densidade) implica, com frequncia, a necessidade de novas sementeiras e/ou limpezas. No entanto e apesar destas limitaes, a sementeira particularmente recomendada em locais de difcil instalao de povoamentos, tais como zonas de escarpa, zonas de elevada pedregosidade e zonas dunares, recorrendo a sementes localmente bem adaptadas (Alves, 1982; Ribeiro et al., 1999; Burkhart, 2008; Vander Mijnsbrugge e Bischoff, 2010). Devido a est es condicionalismos h algumas indicaes que de vem ser seguidas. As sement es de vem ser c olocadas no t erreno a uma profundidade adequada e pr oporcional ao se u tamanho de mod o a facilitar a emergncia da plntula (F orestry Commission, 1991). Esta profundidade pode var iar entre 0.5-1.5 cm par a as sement es pequenas das resinosas at 3-6 cm par a as sement es das Fagceas e Juglandceas (Louro et al., 2003). Por outro lado, quanto mais se revolver o solo, maior o r isco da aco nefasta de a ves, de r oedores ou out ros animais. A sementeira deve ser realizada quando o solo ti ver humidade e oc orrer temperatura suficiente para se iniciar a ger minao e permitir o rpido desenvolvimento das jovens plantas (Fenner e Thompson, 2005). A poca para a realizao das sementeiras, depende das c ondies do clima da regio (Louro et al., 2002). Em regies de I nvernos suaves, Primaveras frescas e Vero quente e seco (clima mediterrnico) prefervel a sementeira outonal para permitir que as plantas j tenham o sistema de razes bem desenvolvido para melhor tolerarem a poca quente e seca (Correia e Oliveira, 2002). Em z onas de oc orrncia de ne ve, a sement eira deve ocorrer antes do Inverno para reduzir o risco da aco de aves e roedores. Em regies de clima atlntic o deve-se realizar a sementeira no fim d o Inverno e/ou incio da Primavera (Correia e Oliveira, 2003). Existem vrias modalidades de sementeira que podero ser escolhidas em funo dos objectivos e das car actersticas da estao. A sementeira pode abr anger t oda a superfcie a r egenerar, desig nando-se c omo sementeira total, ou incluir apenas uma parte da superfcie a r egenerar, designando-se como sementeira parcial (Forestry Commission, 1991). A sementeira total obriga a uma maior quantidade de semente, podendo
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ser realizada a lano ou por meios areos dando origem a uma disposio irregular no terreno. A sementeira parcial em situaes de declive pode ser realizada em faixas, linhas ou regos segundo as curvas de nvel. A utilizao de semeadores possvel em zonas planas ou de pouc o declive, podendo assim obter-se uma disposio regular das plantas no terreno. Em terrenos pedregosos ou de ele vado declive s possv el a sementeira manual, em manchas, a lano ou em covachos ou furos. As dificuldades da r ealizao das sement eiras e a inc erteza do seu sucesso tm levado a que o recurso plantao seja a forma de regenerao artificial mais utilizada. A plantao est nor malmente associada a uma melhor seleco, a uma adequada pr eparao do terreno e a um maior e melhor aproveitamento das sementes disponveis, assegurando melhores condies para garantir a qualidade das plantas e a r ecuperao da rea ardida (Landis et al., 2010). No desenvolvimento da silvicultura, a sementeira correspondeu a uma fase inicial das tcnicas de r egenerao artificial. O recurso plantao foi introduzido posteriormente sendo actualmente a tcnica pr edominante de vido ao insuc esso de m uitas sement eiras e necessidade de utilizar tcnicas c om resultados mais seguros e rpidos (Correia e Oli veira, 2002, 2003; Landis et al., 2010). A utilizao de semente da mesma pr ovenincia, plantas de qualidade e tcnicas de preparao do solo e plantao adequadas per mitem ganhar tempo no processo de r ecuperao de r eas ardidas (Landis et al., 2010; Vander Mijnsbrugge e Bischoff, 2010). Tal no invalida no entanto que existam situaes especficas que favoream a opo pela sementeira, tal como se ilustra (ver Caixa 1) com o exemplo dos trabalhos de ar borizao das dunas do litoral realizados entre o final do sc. XIX e o incio d o sculo XX (Vieira, 2007).
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CAIXA 1
A ARBORIZAO DAS DUNAS
Diversas tentativas de instalar povoamentos com recurso plantao em zonas arenosas ou dunar es tm-se r evelado de maior insuc esso que o r ecurso sementeira. A instalao de povoamentos de Pinus pinaster por sementeira na orla costeira litoral teve sempre uma prvia preparao do terreno com a adio de matria or gnica (mat os e/ou algas) para c ompensar a pobr eza de nutrientes e reduzida capacidade de reteno de humidade das areias. Assim, era criada uma manta, ou espcie de cama c om mat os, molios, algas, consoante os materiais disponveis na regio (ver a este respeito a interessante descrio feita por Vieira (2007).
3. A seleco de espcies A seleco das espcies um factor determinante numa aco de reabilitao aps incndio, sendo que a utilizao de plantas autctones ecologicamente adaptadas garante partida maiores taxas de sucesso. Assim, o uso de flora nativa prioritria em aces de conservao e reflorestao (Vander Mijnsbrugge e Bischoff, 2010). A deciso quanto seleco das espcies para um dad o local ou r egio resulta da conjugao de vr ios factores, nomeadamente: a ocupao desse solo antes do fogo, as condies edafo-climticas e o int eresse do proprietrio, nomeadamente se v isa objectivos de proteco ou de produo e dentro deste ltimo se pretende obter receitas a curto ou mdio/longo prazo (Forestry Commission, 1991).
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Se na ocupao ant erior do solo predominavam espcies invasoras, como por e xemplo espcies do gner o Accia sp., conveniente que se privilegie uma espcie que r apidamente ocupe a estao minimizand o assim o r isco da r egenerao da in vasora. Tambm em situaes de degradao dos solos poder no se r adequado arborizar apenas com espcies nativas tpicas de estdios avanados da sucesso ecolgica, pois com frequncia verificam-se elevadas taxas de insuc esso. Nesses casos pode ser recomendvel a instalao de po voamentos mistos (Forestry Commission, 1991; Pausas et al., 2004; Burkhart, 2008) incluindo espcies mais tolerantes secura, insolao e pobr eza de nutrientes como as resinosas. Esta est ratgia obriga a uma eficaz gesto d o povoamento, nomeadamente na definio d o momento em que se de ve remover a espcie pioneira. As experincias realizadas com a instalao de po voamentos mist os, nomeadament e Pinus pinaster ou Pinus pinea e c om Quercus suber tm apresentado bons resultados em algumas z onas do Alentejo em que a espcie pioneira, o pinheiro, protege as jovens plantas de sobreiro permitindo ainda um rendimento intercalar para o proprietrio (Louro et al., 2002; Barros e Sousa, 2006). Num outro exemplo, neste caso no stio c onhecido como Hortas no Permetro Florestal da Lous, a presena de um po voamento de Pinus pinaster possibilitou um bom desenvolvimento dos castanheiros no seu interior. Seguindo as indicaes de C orreia e Oliveira (2002, 2003) onde se identificam as Principais Espcies Florestais com interesse para Portugal, apresentam-se duas tabelas ( Tabelas 1 e 2) c om indicao das espcies mais adaptadas a cada uma das z onas de Influncia Mediterrnica e de Influncia Atlntica. Normalmente, a utilizao da espcie ou espcies d ominantes presentes na proximidade da rea a recuperar e em ec ossistemas semelhantes, um bom cr itrio de esc olha. No obstant e, em t erritrios profundamente transformados o conhecimento da flora potencial pode no ser evidente. Para os projectos de recuperao ecolgica, a utilizao de espcies e pr ovenincias autctones em pr incpio o cr itrio mais seguro, garantindo a mxima adaptao s c ondies locais e minimizando o risco que podem representar algumas espcies alctones devido ao seu comportamento invasor (Vallejo et al., 2003).
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TABELA 1
ESPCIES ADAPTADAS S ZONAS DE INFLUNCIA MEDITERRNICA DE ACORDO COM CORREIA E OLIVEIRA (2002, 2003) ZONA ECOLGICA
SUBMEDITERRNICA
CARACTERIZAO Pma: 550-900 mm (>1000 nas cotas mais elevadas) Tma: 15-18 C
ESPCIES Quercus suber Pinus pinaster Pinus pinea Eucalyptus globulus Cupressus lusitanica Quercus suber Quercus rotundifolia Pinus pinea Cupressus sempervirens Cupressus macrocarpa Casuarina equisetifolia Quercus rotundifolia Pinus pinea Pinus halepensis Cupressus sempervirens Cupressus macrocarpa Casuarina equisetifolia Quercus rotundifolia Ceratonia siliqua Pinus pinea Pinus halepensis Cupressus sempervirens Cupressus macrocarpa
SUBIBEROMEDITERRNICA
IBEROMEDITERRNICA
MEDITERRNICA
TABELA 2
ESPCIES ADAPTADAS S ZONAS DE INFLUNCIA ATLNTICA DE ACORDO COM CORREIA E OLIVEIRA (2002, 2003) ZONA ECOLGICA
BASAL ATLNTICA
ESPCIES Quercus robur Castanea sativa Eucalyptus globulus Cupressus lusitanica Pinus pinaster Pinus radiata Cedrus atlantica
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ZONA ECOLGICA
BASAL MEDITERRNEO ATLNTICA
ESPCIES Quercus faginea Quercus robur Quercus suber Castanea sativa Eucalyptus globulus Cupressus lusitanica Pinus pinaster Pinus radiata Cedrus atlantica Quercus faginea Quercus robur Quercus suber Castanea sativa Eucalyptus globulus Cupressus lusitanica Pinus pinaster Pinus radiata Cedrus atlantica Quercus faginea Quercus robur Quercus pyrenaica Quercus rubra Castanea sativa Prunus avium Pinus pinaster Pinus radiata Pinus nigra Quercus robur Quercus pyrenaica Quercus rubra Castanea sativa Betula celtiberica Pinus sylvestris Pinus radiata Pinus nigra Cedrus atlantica Quercus pyrenaica Quercus rotundifolia Castanea sativa Pinus nigra Quercus robur Quercus pyrenaica Quercus rubra Betula celtiberica Pinus sylvestris Pinus radiata
SUBMONTANA SUBATLNTICA
MONTANA SUBATLNTICA
MONTANA IBRICA
ALTIMONTANA
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Nas ltimas dcadas, com a evoluo das prticas silvcolas, tambm todo o processo de produo de plantas e voluiu, garantindo-se actualmente maiores taxas de sobrevivncia e sucesso nas plantaes (Landis et al., 2010). Sendo inmeras as vantagens em utilizar plantas pr oduzidas em viveiro, destacam-se sobretudo as seguint es referidas por di versos autores (Argillier et al., 1991; Landis et al., 2010): 1. Obteno de plantas com adequado volume de substrato (torro consolidado com as razes da planta) capaz de permitir ultrapassar as dificuldades iniciais de abast ecimento em gua e n utrientes, sobretudo quando instaladas em solos esquelticos e pobres; 2. Obteno de plantas equilibradas, com bom desenvolvimento da parte area e devidamente atempadas, facilitando a sua adaptao mesmo quando plantadas em condies de clima agressivo; 3. Viabilizao e maior r apidez na pr oduo de det erminadas espcies, com o adequado tratamento das sementes (ex: Arbutus unedo) ou o ptando por out ros processos de produo, nomeadamente a propagao vegetativa (ex: Ilex aquifolium); Esta tcnica de pr oduo per mite igualment e assegur ar as car actersticas genticas das plantas produzidas, sendo amplamente utilizada em muitos planos de produo de espcies com gentipos seleccionados; 4. Tambm no caso em que se v erificam, c omo ac ontece c om frequncia em algumas espcies, situaes de fr aca produo de semente (anos de c ontra-safra; ver captulo III) a pr oduo de plantas consegue ser rentabilizada atravs de um eficaz pr ocesso produtivo em viveiro (ex: Quercus faginea). De igual modo, a qualidade das plantas produzidas, avaliada desde h mais de uma dcada at ravs de det erminados padres previamente estabelecidos para cada espcie. O respeito por estes padres de qualidade permite a certificao das plantas de ac ordo com as disposies legais, tendo em conta os seguintes aspectos (Ribeiro et al., 2001):
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1. Tempo de permanncia no viveiro A idade com que a planta sai do viveiro pode condicionar o seu comportamento no local definitivo, dependendo das condies edafo-climticas onde utilizada, assim como do seu desen volvimento morfolgico e fisiolg ico nesse momento; 2. Caractersticas morfolgicas Dentro destas, os principais critrios utilizados so a altura da parte area, o dimetro do colo, a conformao do sistema radicular e a r elao entre o sistema radicular e a parte area; 3. Condies fisiolgicas O estado fisiolgico da planta, juntamente com as duas c ondies anteriores, um fac tor determinante de sucesso quando a planta c olocada no local definiti vo. Caractersticas da planta produzida em viveiro, tais como o teor de hidratos de carbono de reserva, o seu estado nutricional e hdrico, a superfcie foliar, a relao caule/raiz, a biomassa total, etc., tm sido correlacionados em diversos estudos de sobrevivncia em plantao (e.g. Hartman et al., 1997 Ooro et al., 2001) (Tabela 3).
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TABELA 3
CRITRIOS UTILIZADOS NO CONTROLO DE QUALIDADE EM PLANTAS FLORESTAIS ( ADAPTADO DE VILLAR - SALVADOR , 2003 ) CRITRIOS QUALITATIVOS
MORFOLOGIA
Plantas com feridas no cicatrizadas Plantas parcialmente ou totalmente secas Caules com fortes curvaturas Caules mltiplos Caules com vrias bifurcaes Caules e folhas com fraco vigor vegetativo Caules desprovidos de gomo apical intacto Concentrao de nutrientes Concentrao de aucares de reserva Atraso nas gemas terminais Teste de fluorescncia dos pigmentos fotossintticos Condutividade estomtica Termografia foliar atravs de sensores de infravermelhos Emisso de compostos volteis induzidos por stress Potencial de formao de novas razes Resistncia s geadas Resistncia dessecao (teste de vigor da OSU) * CRITRIOS QUANTITATIVOS Altura da parte area Dimetro do colo da raiz Massa area e radicular Calibre do caule (altura/dimetro) Proporo entre a massa area e a massa radicular ndice de Dickson ** Desenvolvimento dos gomos
FISIOLOGIA
* Oregon State University ** ndice de Dickson: biomassa total/ [(altura/dimetro) + (biomassa area/biomassa radicular)]
A produo de plantas em viveiro depende de vrios factores crticos, que condicionam a qualidade e a quantidade de pr oduo. Os fact ores mais importantes no processo de produo de plantas em v iveiro so: a seleco da sement e, o subst rato, os contentores e posteriormente o transporte das plantas (Argillier et al., 1991; Ribeiro et al., 2001). A utilizao de plantas de c ontentor aconselhvel para as reas de influncia medit errnica e/ou par a c ondies de st ress (e.g . solos delgados, baixa disponibilidade de gua). A utilizao de plantas de raiz nua recomendada para reas de infl uncia atlntica e em solos mais profundos e frescos (Argillier et al., 1991).
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A origem e qualidade do material gentico utilizado vo naturalmente reflectir-se no r esultado das aces sil vcolas futur as (Menzies et al., 2001). A semente ou os propgulos vegetais usados no processo produtivo em viveiro determinam fortemente a qualidade das plantas pr oduzidas (D.G.F., 2003). Em Set embro de 2003 foi publicado o Decr eto-lei 205, que legisla uma diversidade de parmetros que regulamentam a produo das espcies em viveiro, bem como os povoamentos ou indivduos onde recolhido o material florestal de reproduo (sementes, propgulos ou plantas jovens). Atravs deste decreto-lei determinam-se quatro diferentes categorias de acordo com a origem do material base: a) b) c) d) Identificada (etiqueta amarela); Seleccionada (etiqueta verde); Qualificada (etiqueta cor de rosa); Testada (etiqueta azul)
tambm a partir desta data que se constitui o Catlogo Nacional de Materiais de Base, registando os po voamentos ou indi vduos avaliados de ac ordo c om as nor mas decr etadas que do or igem aos mat eriais florestais de r eproduo (MFR) par a todas as espcies identificadas no anexo I, parte A e B, do referido decreto-lei. Igualmente fica obr igada a produo de plantas das espcies: Eucalyptus globulus, Pinus pinaster, Pinus pinea e Quercus suber, atravs de MFR da categoria Seleccionada ou superior (D.G.F., 2003). A seleco das r vores para recolha de semente tem como critrio geral a esc olha dos indivduos de maior valor ec onmico, em po voamentos com elevada percentagem de bons fentipos, isto : indivduos bem conformados (forma de tronco e copa), com boa taxa de crescimento e com boa qualidade d o lenho. Pela legislao actual, os povoamentos onde se recolhe semente devem estar aprovados pela Autoridade Florestal Nacional (AFN) e inscr itos no Catlogo Nacional de Materiais de Base. Estes povoamentos devem ser conduzidos atravs de desbastes que retirem os indivduos mal conformados e/ou de crescimento lento (D.G.F., 2003). Diversos factores afectam a produo seminal: a idade, o vigor, a exposio da copa, o clima e os fact ores genticos. A idade madura a mais
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favorvel para a colheita de sementes (Ribeiro et al., 2001). As rvores mais vigorosas so os melhor es sementes e os solos fr teis proporcionam tambm mais sement e, pelo que os po voamentos destinados a este objectivo devem ser adequadamente fertilizados. Em rvores isoladas devem ser preferidas as que tm copa mais expandida e sistema radicular no afectado pela concorrncia, o que vai permitir uma maior produo fotossinttica e uma maior produo seminal. Em povoamento as rvores dominantes so as que pr oduzem maior flor ao e consequentemente mais frutificao (D.G.F., 2003). As rvores de bordadura tm uma localizao mais favorvel. Nestas rvores a parte da copa mais exposta proporciona mais e melhor semente, sobretudo na parte virada a Sul e a Oeste. A met eorologia t em infl uncia det erminante na for mao de gomos florais e no sucesso das floraes. A conjugao de temperaturas elevadas, conveniente iluminao e adequada humidade do solo estimula a fotossntese e a acumulao de hidratos de carbono o que proporciona mais e melhores sementes. Pelo contrrio, extensos perodos de chuva actuam negativamente sobre a polinizao anemfila (r ealizada pelo vento) e reduzem a acti vidade dos insectos (polinizao ent omfila). De igual forma as situaes c huvosas e de cu ene voado reduzem a fot ossntese provocando menor produo seminal e queda de frutos. As geadas tardias de Primavera so tambm outro elemento negativo na florao (Vander Mijnsbrugge et al., 2010). Se por um lad o se pretende com a legislao em v igor (Decreto-Lei 205/2003) obt er indi vduos c om melhor es car actersticas genticas, muitas vezes a obt eno da sement e dificultada e limitada, nomeadamente em anos de fr aca colheita. Este um fac tor de peso r elevante, podendo condicionar seriamente a produo de determinadas espcies. por isso m uito importante o conhecimento das melhores prticas de processamento, de conservao da semente e do tipo de tratamentos pr-germinativos ( Tabela 4), par a a obt eno de boas taxas de suc esso, considerando as exigncias relativas a cada espcie.
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TABELA 4
EXEMPLOS DE PROCEDIMENTOS E CRITRIOS PARA SELECO E DE TRATAMENTOS PR - GERMINATIVOS PARA SEMENTES DE ALGUMAS ESPCIES ESPCIE CRITRIOS QUALITATIVOS A primeira semente que cai em finais de Outubro incio de Novembro, denominada basto, nunca dever ser utilizada para produo por ter fraca viabilidade. Colocar a semente em recipientes com gua e eliminar toda a que ficar superfcie.
Quercus suber
Quercus spp., Pinus spp., Juglans spp., Fraxinus spp., Prunus spp.
ESPCIE
TRATAMENTO PR-GERMINATIVO Macerao da polpa (frutos maduros) com estrume de vaca. Aps limpeza do fruto para extraco da semente, imerso em gua, durante 48 horas; eliminar os frutos de baga vermelha devido inviabilidade da semente. Escaldar a semente em gua a ferver e manter, at arrefecer, durante 12 horas.
Ceratonia siliqua
No planeament o da pr oduo de v iveiro, ser ia dese jvel que os organismos oficiais disponibilizassem a infor mao d o nmer o de projectos florestais aprovados por regio e respectivas reas, o que possibilitaria estimar a nec essidade de plantas e espcies. O c onhecimento antecipado das futur as reas de interveno permitiria a aquisio de semente de melhor qualidade e das pr ovenincias adequadas, possibilitando deste modo a obteno de maiores taxas de sucesso nas aces de regenerao artificial. O tempo que decorre entre a colheita da semente e a sementeira tem igualmente peso relevante no xito do processo produtivo, essencialmente para sementes recalcitrantes com maiores dimenses, tanto no que diz respeito obt eno de boas taxas de ger minao como aos cust os que lhe so inerentes (Ribeiro et al., 2001). Nas Quercneas, este um aspecto particularmente relevante, pois as sementes mantm a viabilidade durante pouco tempo, pelo que as taxas de suc esso esto c ondicionadas pelo
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perodo que medeia entre a colheita da semente (meados de Novembro) e a respectiva sementeira em viveiro. Quanto mais curto for este perodo, preferencialmente com a emergncia da r adcula em fase inicial (< 10 mm), melhor ser a germinao (Ribeiro et al., 1999). No entanto, nem sempre vivel fazer a sementeira num curto prazo de tempo para grandes quantidades de semente. Como regra, quantidades acima de 10 t oneladas obr igam ao pr olongamento d o pr ocesso, que poder ir at 4 a 5 meses aps c olheita da bolota ou lande. Nesta situao e para todas as sementes recalcitrantes, torna-se indispensvel planear convenientemente o r itmo de c olheita, t ransporte, pr ocessamento e conservao da sement e em condies que no ac elerem a ger minao e assegurem uma taxa de v iabilidade elevada. por isso r ecomendvel a manuteno em condies de temperatura baixa (5-6 C) e de alguma humidade, mas com arejamento para evitar problemas de fitossanidade (fungos).
4.3. Substrato e fertilizao em viveiro
Entre os variados factores que influenciam determinantemente a produo de plantas, destacam-se alm da semente, o substrato e o contentor utilizado, os quais se vo reflectir directamente na qualidade do produto final. Tem havido desde h muito tempo, um trabalho de estudo e experimentao sobre os variados substratos que se podem utilizar, adequando-os produo de plantas com qualidade desejvel, garantindo que as exigncias das plantas relativamente capacidade de reteno de gua, arejamento e disponibilidade de nutrientes possam ser satisfeitas (Hartman et al., 1997). O subst rato c ontribui pr ofundamente par a as car actersticas morfolgicas e fisiolgicas da planta e posteriormente para o sucesso da instalao (H artman et al., 1997). A sua seleco fundamental na medida em que est e exerce uma influncia significativa na arquitectura do sistema radicular, no estad o nutritivo das plantas, assim c omo na translocao de gua no sistema solo planta atmosfera, sendo por isso um factor chave no sucesso da plantao (Peuelas e Ocaa, 1996). Na seleco de um substrato, devem ser consideradas as caractersticas fsicas e qumicas adequadas espcie que se pr etende produzir, assim como os aspectos econmicos associados a essa seleco. O substrato ideal deve apresentar homogeneidade, baixa densidade, boa porosidade (relao
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arejamento/reteno de gua), boa estrutura (agregao entre as partculas), boa capacidade de campo, boa capacidade de troca catinica e deve estar isento de pr agas, organismos pat ognicos e sement es (Argillier et al., 1991; Hartman et al., 1997; Ribeiro et al., 2001). Para que a sua utilizao seja economicamente vivel, o substrato deve apresentar diversas caractersticas: a) ser abundante; b) ser estvel (no estar ainda em processo de compostagem) c) com manuteno ou reprodutibilidade das suas propriedades fsicas e qumicas; d) com boa capacidade para transporte, manuseamento e ar mazenamento; e) com resistncia ao desenvolvimento de pragas e doenas (meios miner ais versus orgnicos); e f) ser preferencialmente um meio estril (Argillier et al., 1991; Hartman et al., 1997). Os solos minerais, inicialmente utilizados na produo de plantas em viveiro, foram gradualmente substitudos por out ros materiais, predominantemente de natureza orgnica, cujas car actersticas satisfazem de forma mais adequada as exigncias das plantas em contentor (Ribeiro et al., 2001). m uitas vezes difcil enc ontrar um mat erial que por si s isolado rena todas as caractersticas desejadas (Santos et al., 2000). Em geral so incorporados aos substratos materiais substncias melhoradoras das suas car actersticas fsicas e/ou qumicas, denominadas c ondicionadores e que integram a mistura em propores menores do que 50% (Santos et al., 2000). De modo ger al, pode diz er-se que pr efervel a mistura de d ois ou mais mat eriais para a obteno de um subst rato adequado e de boa qualidade (Ribeiro et al., 2001). A escolha dos materiais utilizados deve considerar a espcie produzida, as condies de produo (sistema de rega, fertilizao e dimenso do contentor), a disponibilidade e o preo do material, alm dos aspectos tcnicos relacionados com a sua utilizao (Argillier et al., 1991; Burkhart, 2008). So diversos os mat eriais utilizados par a, individualmente ou em mistura, constiturem um substrato, desde a turfa, a casca de pinheiro (que deve ser compostada), a fibra de coco, lamas e resduos tratados, a perlite e vermiculite (minerais de argila), a casca de arroz e a esteva compostada, entre outros. A turfa sem dv ida o substrato com maior utilizao na produo de plantas, sendo que no entant o um r ecurso natural no renovvel e por isso a sua disponibilidade ir estar condicionada a mdio prazo. Tambm a casca de pinheiro compostada foi muito utilizada durante largos anos (Figura 1) por ser ec onomicamente mais acessvel e por t er
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caractersticas fsicas interessantes (Argillier et al., 1991). No entanto a sua utilizao est actualmente fortemente condicionada devido aos problemas de fitossanidade que tm sido detectados no gnero Pinus, nomeadamente o fungo Fusarium circinatum e o nemtodo Bursaphelencus xylophilus.
FIGURA
Produo de planta em contentor com recurso a uma mistura com predominncia de turfa, evidenciando um bom desenvolvimento do sistema radicular. (Foto: Vasco Paiva)
A fertilizao em viveiro e nomeadamente a do substrato tem tambm forte influncia na morfologia e fisiologia da planta e na sua performance quando plantada no terreno (Villar-Salvador et al., 2008). Para que as fertilizaes administradas possam causar o efeito desejado e para que os aspectos qualitativos, quantitativos, frequncia e modo de aplicao sejam os mais adequados a cada caso concreto, necessrio ter um bom conhecimento dos seguintes aspectos (Ribeiro et al., 2001; Villar-Salvador et al., 2008): Caractersticas qumicas, fsicas, hdricas e mesmo biolg icas do substrato, sendo importante a anlise laboratorial dos materiais que constituem o substrato para proceder fertilizao mais adequada; Necessidades especficas em elementos minerais das diferentes espcies ao longo do seu ciclo vegetativo e dinmica dos nutrientes entre o substrato e a planta. Estas necessidades podem ser determinadas, numa pr imeira fase por obser vao v isual das plantas e, numa segunda etapa, atravs de anlises laboratoriais ao material vegetal;
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Processo de produo utilizado: propagao vegetativa ou sexuada; no processo rizognico det erminante a presena de n utrientes que vo estimular as fases de diviso e crescimento celular; Caractersticas dos diferentes adubos existentes no mercado, bem como do seu comportamento para cada caso de aplicao especfico. As caractersticas qumicas do substrato, nomeadamente o seu valor mdio de pH, tm peso determinante na escolha da fertilizao a utilizar e c onsequentemente no equilbr io dese jado; os valor es podem ser bastante variveis dependendo do material utilizado, de acordo com o expresso na Tabela 5.
TABELA 5
VALORES MDIOS DE PH EM GUA DE VRIOS MATERIAIS NORMALMENTE UTILIZADOS COMO SUBSTRATO . ADAPTADO DE LEMAIRE ET AL . ( 1989 ) SUBSTRATO
PRODUTOS ORGNICOS
PH
(H2O)
5.0 7.5 4.5 6.5 5.1 4.5
Turfa negra Casca de folhosas compostada Turfa loura Resduos compostados Casca de pinheiro fresca Fibras vegetais
PRODUTOS MINERAIS
Terra argilo-limosa Vermiculite grau 3 Perlite Vermiculite grau 1 L de rocha Areia Argila expandida
Na produo de plantas florestais em contentores, os macro-nutrientes (azoto, fsforo, potssio, clcio, magnsio e enxofre) devero ser sempre fornecidos s plantas. No entanto, nunca se dever excluir a possibilidade de oc orrerem deficincias de micr o-nutrientes, nomeadament e fer ro, cobre, zinco, boro e mangans (Hartman et al., 1997). O azoto (N) considerado o mais importante nutriente e a sua utilizao em fertilizaes aumenta de forma expressiva o crescimento da planta, a sua taxa fotossinttica e o crescimento das razes (Villar-Salvador et al., 2008).
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Contrariamente ao que defendid o por m uitos tcnic os flor estais e produ-tores de plantas, uma pobr e fertilizao em az oto em espcies mediterrnicas nor malmente r eduz a taxa de sobr evivncia e de crescimento na plantao (Oliet et al. 1997, Villar-Salvador et al. 2004, Oliet et al. 2005). Boas taxas de suc esso aps a plantao so obtidas quando o t eor de az oto na planta super ior a 70 mg . Nem todas as espcies exigem as mesmas quantidades e equilbr io de nutrientes nem to pouco reagem de maneira semelhante fertilizao. Por exemplo as espcies do gnero Quercus apresentam uma resposta menos evidente s fertilizaes que as c onferas, pelo que er radamente muitos viveiristas no fertilizam as Quercneas (Villar-Salvador et al., 2004). O equilbr io ent re os difer entes n utrientes tambm impor tante porque o excesso de alguns pode afectar a absoro e a utilizao de outros, e porque este equilbrio afecta tambm o pH da soluo , de acordo com o expresso na Tabela 6 (Ribeiro et al., 2001).
O EXCESSO OU DEFICINCIA DE DETERMINADOS NUTRIENTES , ASSIM COMO DIFERENTES VALORES DE PH PODEM AFECTAR A DISPONIBILIDADE DE CERTOS NUTRIENTES . ADAPTADO DE LANDIS ET AL ( 1989 ) DEFICINCIAS OBSERVADAS CAUSA DAS DEFICINCIAS
TABELA 6
Ca
Mg
Mn
Fe
Cu
Zn
Mo
excesso de azoto
excesso de fsforo pouco potssio excesso de clcio excesso de magnsio excesso de mangans excesso de ferro excesso de cobre pouco zinco excesso de zinco baixo pH alto pH excesso de enxofre excesso de sdio excesso de bicarbonatos
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4.4. Contentores
Sendo o contentor o supor te fsico para a produo de plantas em viveiro, fundamental a seleco dos contentores adequados em funo das espcies a produzir, do perodo de permanncia em viveiro e do local de plantao (Argillier et al., 1991; Landis et al., 2010). A matria-prima utilizada no se u fabrico limita a sua dur abilidade e reutilizao. P or out ro lad o a sua for ma det ermina as car actersticas morfolgicas e funcionais, reflectindo-se na qualidade da planta produzida (Landis, 1990). A seleco d o contentor de ve estar de ac ordo com as caractersticas morfolgicas exigidas por cada espcie (Landis et al.,2010). As caractersticas que um contentor deve reunir para a produo de plantas de qualidade, visam proporcionar melhores condies quando a planta instalada no campo . Entre estas r efira-se a sobr evivncia e o crescimento, as quais esto r elacionadas com a capacidade d o sistema radicular regenerar rapidamente novas razes (Argillier et al., 1991; Landis et al., 2010). A parte area da planta est est reitamente dependente do desenvolvimento do sist ema r adicular e v ice-versa, pelo que e xiste a preocupao em mant er um adequad o equilbr io r aiz/parte ar ea (Ribeiro et al., 2001). J h bastant e t empo que os sac os de plstic o deixaram de ser utilizad os par a a pr oduo de plantas, pelo fact o de induzirem deformaes acentuadas no sist ema radicular (enrolamento das razes). Por outro lado era difcil a sua o peracionalidade em viveiro assim como o seu t ransporte e dist ribuio das plantas (Ribeir o et al., 2001), dado que usualmente o substrato utilizado neste tipo de contentor era simplesmente terra (pura ou misturada com outros materiais). Um contentor condiciona diferentes variveis associadas produo, nomeadamente a densidade de plantas, a facilidade de manipulao , o volume, a estrutura e o desenvolvimento do sistema radicular. Muitas destas variveis tm sido estudadas em diferentes pocas, com diferentes modelos de contentores e com diferentes espcies (Ooro et al., 2001). O volume do contentor parece ser a varivel que mostra maior correlao com a altura da planta e a sobrevivncia no campo (Dominguez, 1997; Dominguez et al., 1997). Os mesmos autores no obtiveram resultados conclusivos sobre a influncia da profundidade do contentor a qual poder no entanto ter importncia na produo de espcies do gnero Quercus que desenvolvem
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uma forte raiz pivotante (Dominguez et al., 1997). Deste modo, a profundidade do contentor poder determinar o comprimento da raiz principal das plantas em viveiro, influenciando positivamente a profundidade de enraizamento das plantas quando colocadas no campo (Peuelas e Ocaa, 1996). A legislao (Decreto-Lei 205/2003) obriga a que as plantas de Pinus pinaster e de Eucalyptus globulus tenham um volume mnimo de vaso de 120 cm e que esse volume seja de 200 cm para as restantes espcies, sujeitas a certificao. Geralmente so utilizados contentores com volume de 300 a 400 cm para a produo de folhosas mais exigentes. Para as plantas de eucalipto utilizado normalmente o volume de 150 a 200 cm; e para as resinosas o volume de 200 cm considerado suficiente (Ribeiro et al., 2001). A arquitectura do sistema radicular antes e depois da plantao tambm fortemente influenciada pelo contentor utilizado, j que est e pode induzir o enrolamento das razes, o que pode reduzir a performance e a futura estabilidade da rvore, devido fraca presena de razes laterais (Lindstrm e Rune, 1999; Argillier et al., 1991). O enrolamento fortemente contrariado pela pr esena interna de est rias longitudinais que induzem um maior desen volvimento de r azes laterais (Argillier et al., 1991; Landis et al., 2010). P or out ro lad o, a r eduo da capacidade (volume) do contentor, at ao limite mnimo permitido, pode provocar uma maior diferenciao do sistema radicular originando uma maior quantidade de razes secundrias e de razes finas, o que aumenta a capacidade de absoro de gua e n utrientes (Lindstrm e Rune, 1999). No entanto, este objectivo dever ser compatibilizado com a necessidade de se criar um volume de torro capaz de enfrentar o impacte do transplante com maior sucesso (Argillier et al., 1991; Landis et al., 2010). Independentemente de todas as consideraes atrs referidas, importante sublinhar que a esc olha de um c ontentor no de ve ser feita sem ponderar seriamente que a sua aquisio representa um grande investimento para o viveiro, tanto pelo seu custo como por toda a logstica associada, incluindo as mquinas de sementeira ou de enchimento de tabuleiros, os meios mecnicos (quando existem) associados respectiva movimentao, e as estruturas de suporte necessrias para a suspenso dos tabuleiros (bancadas mveis, fixas ou out ro tipo de est rutura). uma opo de g rande responsabilidade cujos efeitos se repercutem no mnimo durante uma dcada, tendo em conta a necessria amortizao do investimento realizado.
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O transporte de plantas entre o viveiro e o local de plantao merece especiais cuidados para evitar danos devido aco do vento e do calor (Argillier et al., 1991; Ribeiro et al., 2001). Com frequncia as plantas sofrem danos dur ante o seu t ransporte, que c omprometem a prpr ia viabilidade da plantao. Os riscos maiores esto associados: a) ao stress hdrico devido s perdas de gua sobretudo atravs das folhas; b) perda do gomo apical por deficient e acondicionamento e c) ao aquecimento, favorvel ao desenvolvimento de agentes patognicos (Ribeiro et al, 2001). Os cuidados devem ser tanto maiores quanto maior for a distncia de transporte e os r iscos so par ticularmente g raves quand o se t rata de espcies folhosas menos resistentes (Argillier et al., 1991). Se forem plantas de raiz nua, as suas razes devem ser envolvidas de forma a manterem-se protegidas e hmidas mas tambm a per mitir a sua r espirao, por exemplo em sac os de ser apilheira, pelcula t ransparente e per furada (Ribeiro et al, 2001). As razes das plantas de torro, em contentor, esto mais protegidas contra danos de natureza fsica e contra a aco do vento (Ribeiro et al, 2001). Assim, no caso de grandes distncias necessrio que os transportes sejam realizados, numa viatura com toldo. No caso de distncias menores recomendvel a utilizao de r ede ou out ro material que at enue os efeitos dos agentes climatricos. Em situaes em que esse t ransporte demore vr ios dias, por e xemplo ent re vr ios pases, ac onselhvel a utilizao de contentores refrigerados (Argillier et al., 1991; Louro et al. 2003). Antes de sarem do viveiro as plantas devem ser regadas, se possvel com uma soluo fosfatada para estimular o desenvolvimento das razes. de todo desaconselhvel que permaneam demasiado tempo dentro da viatura. A carga deve ser feita o mais prximo possv el do momento do transporte e deve ser correctamente estabilizada para um bom acondicionamento das plantas. A descarga das plantas tambm dever ser realizada imediatamente aps a chegada ao local de plantao ou armazenamento das plantas (Ribeiro et al., 2001). No momento de recepo das plantas no campo dever ser escolhido o local onde de vem per manecer, dad o que c om fr equncia no so plantadas de imediato, permanecendo muitas vezes em estaleiro dias ou
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semanas. C onvm que se ja um local limpo (sem pr oblemas de fitossanidade), arejado, protegido da aco d o vento e da geada e c om relativa proximidade de gua para poderem ser regadas durante o perodo de tempo de armazenamento (Argillier et al., 1991; Burkhart, 2008). Deve evitar-se que estejam expostas ao vento, por exemplo em planaltos, o que pode fazer aumentar a evapo-transpirao e o risco de emurchecimento (Burkhart, 2008). No se recomendam zonas baixas, sobretudo em tempo frio, porque a maior o r isco de ocorrncia de geada, caso em que se devem proteger as plantas durante a noite com recurso a uma rede sobrelevada (Argillier et al., 1991). Em caso de temperaturas demasiado elevadas ser necessrio regar as plantas com maior frequncia e devem permanecer numa zona de sombra. Em caso de t empo frio devem-se evitar os locais com exposio Norte ou Este (Hartman et al., 1997). Em caso de ocorrncia de problemas fitossanitrios (fungos) deve-se proceder desinfeco com um produto anti-fungico. As plantas de raiz nua devem ser abaceladas em locais frescos e hmidos (Ribeiro et al., 2001). 5. A instalao no terreno
5.1. Introduo
O sucesso de uma plantao ou de uma sement eira depende, numa primeira fase, de diversos factores tais como a seleco das espcies, a qualidade da planta ou da semente, a preparao da estao (mobilizao do solo), o mt odo de plantao ou sement eira e o tipo de fer tilizao adoptados (Forestry Commission, 1991). A qualidade das plantas florestais pode det eriorar-se r apidamente. Uma planta pode t er qualidade sada do viveiro e um mau transporte, acondicionamento ou um deficiente manuseamento podem causar danos ir reversveis (e.g. perda do gomo apical). Por outro lado, a mobilizao do solo e o momento/poca de instalao no t erreno so decises impor tantes a c onsiderar no planeamento da arborizao (Peuelas, 2001). Em diversos captulos dest e livro foram j abordadas questes que devem nortear a preocupao de preservao do solo e de minimizao dos r iscos de er oso ps-fogo, assim c omo as linhas or ientadoras de restauro, de constituio de unidades de paisagem e de uma silvicultura
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preventiva que minimiz e os r iscos que proporcionaram a ocorrncia e propagao do fogo. Nas seces seguintes abordam-se alguns fac tores crticos associados instalao das plantas ou sementes no terreno, com particular destaque para a primeira opo, dada a sua muito maior importncia enquanto forma de regenerao artificial das reas queimadas.
5.2. Mobilizao do solo
A mobilizao do solo influencia o desen volvimento inicial das jovens plantas e pode melhorar as condies edficas da zona repovoada (Simn et al, 2004). O mesmo aut or sublinha que, em z onas mediterrneas, a preparao do solo est sempre relacionada com a gua e todos os procedimentos de mobilizao devem aumentar a quantidade de gua utilizv el pelas plantas, nos primeiros anos. Serrada (1993) destaca como objectivos imediatos de preparao do solo: (i) aumentar a profundidade til do solo, desagregando camadas profundas por aco mecnica; (ii) aumentar a capacidade de reteno de gua; (iii) aumentar a capacidade de infiltrao para a gua; (iv) facilitar a penetrao mecnica das razes e o seu desenvolvimento; (v) reduzir as possibilidades de invaso da vegetao espontnea depois da plantao ou sementeira. De acordo com Gomes et al (2005) na preparao da estao h que encontrar solues e equipamentos que minimizem a superfcie afectada e a intensidade da mobilizao com o objectivo de reduzir os custos de instalao, minimizar o impacte ambiental no solo, na fauna e na flora e de, simultaneamente, favorecer o crescimento inicial, sobretudo das razes, garantindo assim uma boa taxa de sobr evivncia. A tomada de deciso deve ser funo: a) da qualidade da estao, b) da relao custo/benefcio numa perspectiva de valorizao do investimento, dependendo portanto do valor scio-econmico do povoamento e c) das restries ambientais, nomeadamente as que dizem respeito conservao do solo e proteco das linhas de gua. Deste modo, pretende-se reduzir o nmero de operaes, utilizando solues apropriadas que per mitam uma mobilizao mnima, t endo como objecti vo gar antir boas taxas de sobr evivncia, favorecer o desenvolvimento do sistema radicular, valorizar o investimento do custo de instalao no produto final e manter a capacidade de produzir bens e servios numa base sustentvel (Gomes et al., 2005). As caractersticas do solo interferem de for ma relevante nas solues
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especficas a preconizar, na medida em que condicionam o crescimento, sendo de r eferir as seguint es: profundidade do solo, rocha-me, pedregosidade, horizontes impermeveis, textura, densidade aparente, teor em matria orgnica, capacidade de r eteno de gua, dinmica e disponibilidade de nutrientes (Morris e Miller, 1994). Em solos pouco profundos com rocha-me pouco desagregvel, uma o perao de r ipagem pode conduzir a consequncias indesejveis, como o transporte de blocos de pedra para nveis superiores, ou mesmo par a a superfcie d o terreno, originando um aument o sig nificativo da pedr egosidade, limitand o intervenes mecanizadas no futur o (Louro et al., 2003). No entanto, a ripagem com o objectivo de rompimento de um horizonte impermevel (horizonte rgico, relativamente prximo da superfcie) pode per mitir um aumento do volume de solo explorado pelas razes e aumentar a taxa de sobrevivncia e a produtividade do povoamento (Gomes et al., 2005). Nilsson et al. (1995) referem que para a assimilao de gua e nutrientes cr ucial a eficincia das r azes finas. Estas de vem desen volver-se em maiores volumes de solo (sem r estries), sendo a superfcie de absoro funo d o c omprimento das r azes, d o se u dimet ro e da facilidade de penetrao da coifa. A eficincia das razes depende em boa parte das condies de penet rao, nomeadament e d o solo e d o se u g rau de suberizao e da infeco simbitica por micorrizas. Na proximidade das linhas de gua no se de ve realizar qualquer mobilizao mecnica d o solo, respeitando uma faixa mnima de 30 metros nas linhas de gua permanentes e de 10 metros nas linhas de gua temporrias. So reas de maior infilt rao, e em que qualquer mobilizao do solo pode afectar a estabilidade desses solos e gerar fenmenos erosivos. Nestas faixas a mobilizao de ver limitar-se aber tura de covachos sem qualquer tipo de int erveno mecnica, sendo sempre as espcies ripcolas as mais indicadas para estas situaes (Louro et al. 2003; Carneiro et al., 2007).
5.3. A operao de plantao
A plantao deve realizar-se sempre com o solo hmido, no Outono (aps as primeiras chuvas), ou no final do Inverno, incio da Primavera. aconselhvel a poca outonal, para as regies mais secas, o que permitir que as jovens plantas possam beneficiar das chuvas de Inverno para
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que as suas r azes se desen volvam dur ante esse perod o e as plantas possam suportar o tempo seco no Vero seguinte (Correia e Oliveira, 2002). O final do Inverno at meados da Primavera, apenas recomendado para as regies de influncia atlntica, mais chuvosas, mais frias e/ou com maior probabilidade de ocorrncia de geadas (C orreia e Oli veira, 2003). A dimenso das covas ou covachos est directamente relacionada com a dimenso do torro ou do sistema radicular, nos casos de plantas de raiz nua (Louro et al., 2004). O manuseamento das plantas e a o perao de plantao pr opriamente dita devem merecer cuidados especiais sob pena de se danificar em as plantas comprometendo irremediavelmente o seu sucesso, pelo que se enumeram algumas recomendaes. A extraco da planta do contentor deve ser realizada com cuidado de forma a evitar que sejam danificadas as suas razes e/ou desagregado o torro que as envolve. Assim prefervel sempre bater no c ontentor de for ma a desc olar o t orro, do que puxar pela parte area da planta. A planta dever ser colocada no fundo do sulco da faixa mobilizada, consoante a o perao previamente realizada, para beneficiar da maior disponibilidade de gua e pr oteger de e xcessos de radiao solar, com excepo das zonas baixas ou com risco de encharcamento, em que a planta dever ser colocada no tero superior do sulco. O substrato que envolve o sistema radicular deve ser bem humedecido antes de se proceder instalao da planta no terreno. A distribuio das plantas deve ser efectuada de forma simultnea com a plantao evitando a sua e xposio ao sol por t empo pr olongado, bem c omo quaisquer outros danos fsicos. O t orro deve ficar na v ertical, coberto com uma camada de solo no mnimo de 2 cm de altur a e, aps plantada, deve ser calcada a t erra envolvente par a permitir uma melhor ligao ent re o torro e o solo , para que a e xpanso das r azes se faa de uma for ma natural evitando tambm assim o seu enrolamento ou efeito de envasamento (Louro et al. 2003). A importncia e os cuidados que devem ser observados na plantao associados aos seus ele vados custos, nomeadamente mo-de-obra, tem estimulado a procura de solues alternativas mecanizadas. Em Portugal as solues mecanizadas de plantao esto limitadas pela natur eza dos solos, em par ticular nas reas queimadas, com frequncia com textura pesada, com declive acentuado e com elevada pedregosidade. No entanto
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este tipo de solues extensivamente utilizado noutros pases (Figura 2), em solos com caractersticas mais favorveis o que per mite aumentar o rendimento da operao. Em Portugal tm vindo a utilizar-se com sucesso, plantadores man uais que assegur am uma impor tante melhor ia na colocao da planta e um maior r endimento da o perao (Figur a 3) relativamente simples plantao manual.
FIGURA
Plantao mecanizada em reas de reduzido declive e com prvia mobilizao do solo. (Foto: Vasco Paiva).
FIGURA
Plantao manual com recurso a plantadores que permitem um maior rendimento da operao. (Foto: Vasco Paiva).
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5.4. Fertilizao
De modo a garantir maiores taxas de sucesso e um crescimento inicial mais vigoroso, poder ser de c onsiderar a possibilidade de aumentar a disponibilidade de nutrientes no solo atravs de prticas de fertilizao. De acordo com Gomes et al. (2005) a t omada de deciso quant o realizao de fer tilizaes de ve ser funo: a) da qualidade da estao (profundidade do solo e caractersticas da rocha-me); b) dos teores em argila e matria orgnica, na medida em que condicionam a capacidade de t roca catinica e, c onsequentemente, as per das de n utrientes por lixiviao; c) da dinmica e disponibilidade de nutrientes pelo processo de miner alizao da matr ia orgnica; d) da gesto de r esduos de explorao e e) do tipo de fer tilizantes disponv eis (nomeadament e quanto taxa de libertao dos nutrientes, mais lenta ou mais rpida). As quantidades de n utrientes a aplicar so definidas em funo das caractersticas do solo e das nec essidades especficas das plantas. Para viabilizar economicamente a fertilizao, h que identificar as necessidades em nutrientes, estudando e avaliando o balano solo/espcie/nutrientes para identificao dos valores aconselhados, e os valores disponveis no solo a partir dos quais o investimento em fertilizao no compensado em crescimento/produtividade (ou seja, no h uma valorizao significativa do investimento). Tamm (1995) refere que o sucesso da florestao de novas reas (solos agrcolas abandonados, incultos, reas com restries solo/clima) por vezes depende da aplicao de fertilizantes, observando-se que uma var iedade de macr o e micr o elementos podem limitar o crescimento. Assim, a fer tilidade do solo pode ser melhor ada por diferentes formas como a fertilizao directa ou outros meios (utilizao de culturas leguminosas, introduo de micorrizas, utilizao de r esduos, etc.) sendo a avaliao do efeito dos tratamentos baseada no crescimento do povoamento, na dinmica e na disponibilidade dos nutrientes e noutras caractersticas indicadoras da qualidade da estao. importante estudar e avaliar prticas cultur ais, como a utilizao de plantas mic orrizadas versus fer tilizao, c omo pr ocesso par a aument o da taxa de sobr evivncia, adaptao e posterior crescimento (Corkidi et al., 2008). Os solos florestais em Portugal apresentam geralmente carncias em azoto e fsforo o que, combinado com o volume restrito de solo explorado
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pelas razes na fase inicial de cr escimento, recomenda que sejam fornecidos s plantas n utrientes atravs de fer tilizaes adequadas, tirando partido da descompactao do solo originada pela mobilizao. O azoto beneficia em particular o desenvolvimento do sistema foliar, enquanto o fsforo contribui notoriamente para o aument o do sistema radicular (Santos, 1991). A prvia anlise de solos permite identificar quais as principais carncias, calcular as necessidades de nutrientes, tipo de fertilizantes e r espectivas d oses. C omo r ecomendao ger al aponta-se par a uma fertilizao de fund o fosfatada, com menor d ose de az oto e potssio e, dependendo das situaes, c om alguns micr onutrientes (e.g . Clcio , Magnsio, Boro). A colocao do adubo de ver ser realizada no fund o da cova e separada das razes por uma camada de terra ou em 2 covachos laterais. A utilizao de um adubo de libertao lenta (com custo unitrio superior), ser sempre em menor quantidade, podendo ser colocado no fundo da cova junto das razes, reduzindo-se assim o custo da operao e o custo de transporte de adubo (Louro et al., 2003).
5.5. Factores crticos para o sucesso das plantaes experincias post-transplante
Numa fase inicial, o sucesso de uma aco de flor estao, depende essencialmente da qualidade da plantao (seleco da espcie, preparao da estao, qualidade da planta e processo de plantao) das caractersticas da estao e da evoluo da meteorologia. Uma limitao significativa das plantaes a pequena janela met eorolgica em que podem decorrer em Portugal. As incertezas da meteorologia associadas s alteraes climticas tm c om frequncia atrasado a possibilidade de plantao no Outono, pelo prolongamento do tempo seco, e comprometido as plantaes de P rimavera pelo sbito aparecimento de tempo quente e seco. Com o objectivo de alargar o perodo de plantao e/ou de fazer face s inconstncias meteorolgicas durante a poca da plantao, tm vindo a ser estudadas tcnicas auxiliares na instalao de povoamentos, entre as quais a rega, a aplicao de gel e o uso de pr tectores individuais. o Os produtos designados como gel ou hidrogel so polmeros retentores de gua que tm c omo objectivo manter o armazenamento da gua no solo por mais t empo, tornando-a disponvel para as plantas dur ante a primeira fase d o seu crescimento. Os polmeros de ligao cr uzada so
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caractersticos por absorverem gua e nutrientes solveis, contrariamente aos polmeros de cadeia linear que se dissolvem na gua. Em Portugal so escassas ainda as experincias de adio de gel nas plantaes.O processo consiste no essencial em mergulhar as razes, ou o torro da planta, numa soluo de gel no moment o da plantao . Algumas e xperincias de utilizao isoladas no revelaram sucesso. As empresas de celulose (grupo Portucel-Soporcel/Raiz e grupo Altri) tm ensaiado a sua aplicao no sendo ainda conhecidos os seus resultados. No Brasil diversas empresas de celulose, (International Paper e Votorantin Celulose e Papel) adoptaram a aplicao do gel em larga escala associada rega das plantaes, sendo o seu objectivo principal a reduo do nmero de regas (Silva, 2007). Apesar de ainda no existirem resultados conhecidos da sua experimentao em Portugal, de assinalar o acrscimo de cust os quer pela sua aplicao quer pela rega. A utilizao de tubos pr otectores nas plantas no moment o da sua instalao foi uma tcnica que t eve uma grande expanso na dcada de 90. Por um lado procurava-se defender a planta da aco d herbvoros, os assunto que t ratado noutro captulo (Captulo XII) e desen volveramse diversos tubos adequados a essa funo. Por outro lado admitiu-se e difundiu-se que podiam induzir um melhor e maior cr escimento das plantas pelo que se desen volveram tubos c ompactos. As experincias revelaram-se em geral desencorajadoras. Em zonas hmidas criava-se um ambiente propcio proliferao de moluscos (caracis, lesmas) que se alimentavam das folhas e dest ruam as plantas. Em climas mais sec os, gerava-se no seu interior um microclima extremo no Vero, em ambientes mediterrnicos, alcanando-se temperaturas superiores a 50 C e valores de humidade relativa inferiores a 20% (Peuelas, 2001). Posteriormente desenvolveu-se um sist ema de perfur ao nos tubos t endo em v ista provocar alguma v entilao, mas os efeit os nefast os manti veram-se gerando um movimento de ar por conveco que dessecava as folhas. Por essa razo, nas di versas experincias em Portugal e na maior par te das espcies verificou-se uma maior mortalidade nas plantas protegidas com tubos, facto que tambm r eferido por Peuelas (2001) em Espanha. Na espcie Quercus ilex verificou-se uma maior sobrevivncia nas plantas protegidas com os r eferidos tubos (v er tambm N icols et al., 1997). No entant o c onstatou-se um estiolament o das plantas, c om caules
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demasiado finos no interior dos tubos. Quando emergiam fora dos tubos as plantas ficavam com um desenvolvimento prostrado. No momento em que os tubos eram retirados ou se deterioravam pela aco do tempo, as plantas t ombavam pela aco d o mais le ve vento. Peuelas (2001) refere os estudos r ealizados pelo Cent ro Nacional de M ejora Forestal El Ser ranillo que tambm c oncluram que o desen volvimento das plantas em tubos produz distores no padro de crescimento, alterando e desequilibrando as relaes morfolgicas e de massa entre a parte area e radicular. Vrios autores coincidem na confirmao da e xistncia de condies menos favorveis dentro dos tubos do ponto de vista da micrometeorologia dado verificar-se durante o Vero uma maior temperatura e uma menor humidade relativa (Nicols et al., 1997; Ooro et al., 2001). Por estes motivos o entusiasmo inicial sobre a aplicao desta tcnica foi diminuindo. Em todo o caso existem resultados contraditrios sendo de referir o t rabalho de P ausas et al. (2004) que r efere um aument o da sobrevivncia de bolotas pr-ger minadas de Quercus ilex na r egio espanhola de Valncia e um aument o do crescimento. Por outro lado existe algum consenso quanto ao papel que este tipo de estruturas podem desempenhar na proteco contra os animais. Em par ticular os tubos protectores em rede mantiveram a sua aplicabilidade, neste caso no para o crescimento da planta, mas para proteco contra a aco dos herbvoros.
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XII.
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1. Introduo A gesto da vegetao que surge naturalmente aps um incndio, seja ela de origem vegetativa ou seminal, um factor muito importante a considerar na recuperao de uma rea ardida. Tambm nos casos em que o repovoamento da r ea ar dida se ja feit o at ravs de plantao ou sement eira, normalmente fundamental proceder a uma gesto adequada da vegetao de forma a garantir o seu sucesso de acordo com os objectivos estabelecidos. No Captulo III abordaram-se diversas caractersticas adaptativas que permitem s plantas persistir aps um incndio Caractersticas tais como . a presena de uma casca grossa ou folhagem resistente permitem que as plantas sobrevivam a fogos de intensidade reduzida ou moderada, enquanto que caractersticas como a germinao estimulada pelo fogo, a presena de pinhas serdias ou de gomos subt errneos, permitem que as plantas persistam mesmo aps fogos de intensidade elevada (e.g. Brown, 2000). A int ensidade e a se veridade d o fogo tm uma g rande infl uncia n a composio e est rutura da comunidade vegetal que surg ir inicialmente aps o fogo. Porm, e embora fogos muito severos criem oportunidades para o estabelecimento de novas espcies de plantas, em geral nas reas ardidas a vegetao natural tende a retornar composio florstica pr-incndio (e.g. Bond and van Wilgen, 1996). Neste captulo abordam-se vrios aspectos relacionados com a gesto da vegetao aps um incndio. Dependendo das caractersticas do local a recuperar e dos objec tivos estabelecidos, poder ser nec essria uma gesto mais ou menos acti va da r ea ar dida. Exist em ainda di versos factores, tais como as prticas silvcolas utilizadas, o perigo de incndio, a presena de her bvoros, ou a pr esena de espcies v egetais invasoras, que podem interferir seriamente com os esforos para restabelecimento da vegetao aps um incndio. Qualquer aco de gesto bem-intencionada pode falhar por c ompleto se aqueles fac tores no forem antecipados e geridos correctamente (e.g. Brown, 2000). 2. Aproveitamento da regenerao natural A recuperao da vegetao numa rea ardida poder ser feita atravs de diferentes mtodos, nomeadamente a plantao e/ou sementeira, ou atravs do aproveitamento da regenerao natural (e mais r aramente atravs de
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tcnicas mistas). O C aptulo XI abor dou diversos aspectos relativos plantao e sementeira, pelo que nesta seco ser dado maior nfase ao aproveitamento da regenerao natural de espcies arbreas. Na bacia do Mediterrneo a regenerao natural da floresta aps um incndio ocorre predominantemente por via vegetativa no caso das espcies folhosas (rebentao de toia, de raiz ou a partir da copa), e por via seminal no caso das conferas (e.g. Silva e Pscoa, 2002; Catry et al., 2007a). No caso das espcies arbustivas e herbceas ambas as formas de regenerao so frequentes.
2.1. Vantagens e desvantagens da regenerao natural
Em Portugal frequente a ideia de que a recuperao de reas florestais ardidas deve ser feita at ravs de plantaes ou sementeiras, sendo estas opes fr equentemente pr eferidas independent emente de ser ou no possvel o aproveitamento da regenerao natural. Na verdade no existe uma tradio em Portugal de aproveitamento da regenerao natural, nem mesmo ao nvel dos servios tcnicos do Estado. Basta para tal atentar no pouco relevo que tem sido dado a este assunto em muita da literatura tcnica de base pr oduzida no nosso pas (e.g . Alves, 1982; Louro et al., 2003). Ressalve-se porm o trabalho de conduo da regenerao natural de pinhal bravo efectuado no passado pelos servios florestais, e que Silva (1988) descreve com detalhe. Para um aproveitamento efectivo e v ivel da regenerao natural evidentemente necessrio que ela esteja presente, em densidade suficiente e com as espcies dese jadas, na r ea a r ecuperar. Uma vistoria da r ea ardida nos pr imeiros meses aps o incndio per mitir avaliar a exequibilidade desta o po. N o caso de r eas que ant es d o incndio er am ocupadas por povoamentos florestais de espcies folhosas, no existem normalmente limitaes pois a grande maioria dos indivduos tender a regenerar por v ia v egetativa (e.g . Cat ry et al., 2010). P orm e xistem excepes e essa r egenerao nem sempre gar antida (por exemplo em povoamentos de sobreiro recentemente descortiados onde a mortalidade poder ser elevada). J a maior parte das conferas (resinosas) regeneram apenas por semente, sendo necessrio um nmero suficiente de r vores produtoras de semente na rea ardida ou nas suas imediaes. Em pinhais jovens (com idade inferior a 15-20 anos) a regenerao natural poder ser reduzida ou ine xistente, sendo e ventualmente nec essrio r earborizar
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atravs de sement eira ou plantao . Essa nec essidade poder tambm existir no caso de se v erificarem c ondies ambientais ad versas que impeam o regular estabelecimento das jovens plntulas. Por outro lado, a potencial utilizao da regenerao natural depender tambm dos objec tivos de gesto (e.g . pr oduo ou c onservao). A plantao ou a sementeira podero ser as nicas opes viveis quando na recuperao da rea ardida se pretende por exemplo introduzir espcies anteriormente ausentes ou presentes em baixas densidades (nesse caso dever ter-se em ateno a legislao que limita a substituio de espcies florestais em reas ardidas). Estas opes permitem geralmente um melhor controlo sobre a densidade,compasso, estrutura e composio dos futuros povoamentos, e permitem tambm a utilizao de plantas e sement s selece cionadas ou melhoradas, o que nalguns casos poder ser det rminante na e escolha da tcnica a utilizar . No entanto, em m uitos casos o apr oveitamento da regenerao natural que surge aps um incndio pode ser uma opo bastante mais vantajosa, quer do ponto de vista econmico, quer do ponto de vista ecolgico e social (e.g. Vallejo et al., 2006; Catry et al., 2007a). O investimento associado a uma nova plantao (ou sementeira) , em geral, mais elevado do que o aproveitamento da regenerao natural (e.g. Vallejo et al., 2006). Entre as despesas de curto prazo normalmente associadas a uma plantao esto o custo da maquinaria e mo-de-obra para preparao do terreno (podendo incluir a mobilizao do solo, o corte das rvores queimadas e o arranque de cepos), o custo das plantas e do adubo, da mo-de-obra necessria para o transporte das plantas e para a abertura da cova de plantao, bem como as retanchas necessrias para substituio das plantas que mor rem durante os primeiros anos. Considerando que numa plantao frequentemente necessrio substituir entre 10% e 20% dos indivduos dur ante os pr imeiros anos, esta o perao pode ainda representar um acrscimo sig nificativo dos cust os totais associados reflorestao de uma rea ardida. No caso de uma sementeira as despesas associadas podero ser inferiores s de uma plantao, dependendo das tcnicas utilizadas. Em contraste, no caso de se optar pelo aproveitamento da regenerao natural, os custos sero nulos ou muito inferiores, pelo facto de no ser necessrio proceder s diversas operaes anteriormente mencionadas, excepo de um eventual corte das rvores queimadas.
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Entre as principais aces de gesto dos povoamentos a mdio ou longo prazo, incluem-se os desbastes, as podas, e o controlo dos matos (ver seco 2.2). Estas aces so fr equentemente necessrias independentemente da tcnica utilizada (plantao, sementeira ou aproveitamento da regenerao natural), embor a os desbast es possam ser mais e xigentes no caso da regenerao vegetativa das espcies folhosas, devido possvel necessidade de seleccionar os mltiplos rebentos basais em cada indi vduo (operao normalmente designada como monda), ou no caso da regenerao seminal de conferas (resinosas), devido elevada densidade de plntulas que frequentemente surge aps um incndio. Para alm dos cust os ec onmicos, e xistem out ros fac tores muit o importantes a ter em considerao quando se equacionam as vantagens e desvantagens dos diferentes mtodos na recuperao da vegetao de uma rea ardida. Tendo em conta que na maior par te dos casos o pr incipal objectivo aps um incndio r estabelecer o mais depr essa possvel o coberto vegetal existente antes do fogo, uma das principais vantagens do aproveitamento da regenerao natural a maior r apidez do processo de recuperao da rea ardida. Enquanto a plantao ou sementeira geralmente s se inicia vr ios meses ou anos aps o incndio, a regenerao natural, quer seja vegetativa ou seminal, inicia-se normalmente no espao de poucas semanas. Por outro lado, no caso da regenerao vegetativa de espcies folhosas, a velocidade de crescimento dos indivduos normalmente muito superior das plantas semeadas ou plantadas (e.g Moreira . et al., 2009). Este maior crescimento deve-se ao fac to de os indi vduos possurem um sistema radicular j bem desenvolvido e reservas energticas acumuladas (e.g. Bond and van Wilgen, 1996), o que constitui tambm uma grande vantagem ao nvel da sua capacidade de sobrevivncia (ver Caixa 1). Deste modo, a regenerao natural assegura muito mais rapidamente a cobertura e proteco do solo contra a eroso, sem a necessidade de proceder a mobilizaes, o que fr equentemente se desaconselha em terrenos declivosos por potenciar os processos erosivos. Outra possvel desvantagem da plantao ou sementeira o facto de frequentemente se utilizarem plantas e sementes provenientes de outras regies e que podero estar menos adaptadas s c ondies climticas e edficas do local a r ecuperar, e poderem ser tambm (tal c omo a t erra dos contentores) um v ector de disseminao de agent es patognicos,
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nomeadamente fungos. Uma desvantagem no menos importante tem a ver com o fac to de a int roduo de plantas de out ras regies induzir poluio gentica que se poder t raduzir na dimin uio ou mesmo extino das r aas locais. Estas pot enciais desvantagens podero ser eliminadas ou substancialment e r eduzidas atravs da utilizao de plantas, sementes e terra provenientes da regio onde se pretende intervir.
REGENERAO NATURAL DE TOIA VERSUS PLANTAO : SOBREVIVNCIA E CRESCIMENTOS
CAIXA 1
Na sequncia de um incndio na T apada Nacional de Mafr a, foi monitorizada a sobrevivncia e r egenerao vegetativa de fr eixos ( Fraxinus angustifolia) e carvalhos (Quercus faginea) cuja copa foi destruda pelo fogo. Paralelamente, os ges tores da T apada ef ectuaram plantaes c om es tas espcies, o que constituiu uma oportunidade para comparar a eficcia destas duas formas de restauro ps-fogo (passivo e activo). A sobr evivncia das rv ores plantadas, aps quase dois anos, f oi bas tante razovel, mas inf erior das rv ores queimadas pr-e xistentes, em particular no caso dos carv alhos (Figura 1). O dado mais significativ o foi que entr e as rvores sobreviventes, o crescimento em altura foi duas a cinco vezes superior na regenerao de toia, relativamente ao crescimento das rvores plantadas (Figura 1). Es tes resultados sugerem que, no caso de espcies arbr eas que regenerem aps o fogo de forma vegetativa, a regenerao natural possibilita maiores taxas de sobrevivncia e maiores crescimentos do que plantaes. Mais detalhes sobre este trabalho podem ser consultados em Moreira et al. (2009).
PROPORO DE RVORES VIVAS
FIGURA
ESQUERDA:
Sobrevivncia de rv ores (freixo e carv alho-portugus) plantadas em 2003 e 2004 (barras brancas e cinzentas, respectivamente) versus o aproveitamento da regenerao natural (barras negras) para freixos e carvalhos, aps 20-22 meses. DIREITA: Altura mediana (e distncia interquartis) dos freixos e carvalhos plantados em 2004 e 2005 (crculos negros e crculos brancos, respectivamente) versus a altura dos rebentos de toia das rvores em regenerao (quadrados negros). (Grficos adaptados de Moreira et al., 2009).
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A conduo da regenerao natural de n uma rea queimada de ver reger-se por um objecti vo de base, que por sua v ez dever condicionar todas as operaes a realizar. Esse objectivo consiste em favorecer o crescimento da regenerao no sentido de obter, o mais cedo possvel, povoamentos de r vores adultas menos susc eptveis ao fogo. rvores maiores tm em geral uma casca mais espessa e uma base das c opas mais alta, o que faz aumentar a sobr evivncia em po voamentos percorridos pelo fogo. Vrios autores apontam o estad o de matur ao das florestas como um factor fundamental de r esistncia ao fogo. Em florestas mais madur as a incidncia e se veridade do fogo tendem a ser menor es (Ordez et al., 2005; Gonzlez et al., 2006; Romn-Cuesta et al., 2009). Para alm dest e objectivo geral, h no entant o que definir o tipo de utilizao florestal que se pretende para a rea queimada. De entre as espcies com porte arbreo que regeneram naturalmente, poder existir um interesse exclusivo apenas n uma delas, c om v ista ao estabeleciment o de um povoamento puro para produo de lenho, por exemplo. Um dos casos mais comuns o aproveitamento da regenerao natural de pinheiro-bravo, que aparece frequentemente em grande profuso nas reas ardidas anteriormente ocupadas por pinhal adult o. Neste caso particular apontada uma outra estratgia que passa pela abertura do povoamento, acompanhada pela gesto do combustvel de superfcie, como forma de gar antir uma maior resistncia ao fogo e uma menor c ombustibilidade (Fernandes e Rigolot, 2007). Por vezes ter-se- que aguardar algum tempo para decidir que espcie aproveitar, pois a obser vao da rea queimada pouco tempo aps o fogo poder no dar indicaes suficient es sobre as espcies que iro r egenerar por sement e nos anos seguint es. H igualment e que t er em c onta a velocidade de cr escimento das difer entes espcies, o por te final que conseguiro atingir e o fact o de a r egenerao ser de or igem seminal ou vegetativa. A regenerao vegetativa tem normalmente uma taxa inicial de crescimento muito superior (Moreira et al., 2009). A partir do momento em que se define a espcie ou espcies a pr ivilegiar, dever favorecer-se o crescimento da r egenerao natur al at ravs de aces que passam pela seleco das plantas, pela int erveno em r edor de cada planta e pela interveno sobre as prprias plantas.
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Seleco
A seleco de plantas uma questo fundamental no apr veitamento o da regenerao natural dado que as decises iniciais iro influenciar todo o restante processo de recuperao da vegetao. Antes da seleco de indivduos convm identificar as r eas a int ervir. Esta questo m uito importante porque o investimento s deve ser efectuado se a densidade de plantas e o pot encial de cr escimento o justificar em. Dest e mod o a densidade de plantas de ve ser a valiada pr imeiro para determinar o potencial par a a c onstituio de um po voamento flor estal. P ara tal podero utilizar -se difer entes mt odos. P ara alm da utilizao de parcelas de amostragem, existem mtodos mais expeditos com medio de distncias, que per mitem um maior r endimento d o t rabalho no campo. Silva e R ego (1998) utilizar am um mt odo de amost ragem distncia (distance sampling), inicialmente desenvolvido para a realizao de censos de animais (B uckland, 2001), par a estimar a densidade de plntulas de espcies lenhosas em reas queimadas. Este mtodo pode ser utilizado par a avaliar densidades de plntulas em situaes de difcil deteco, com um coberto arbustivo j estabelecid o, alguns anos aps o fogo. Existem ainda outros mtodos baseados na medio de distncias que podero ser vantajosamente utilizados, pois dispensam a delimitao de par celas no campo e post erior c ontagem int egral d os indi vduos (Cottam e Curtis, 1956; Zhu e Zhang, 2009). A escolha das reas onde intervir deve tambm considerar o potencial de crescimento da regenerao natural. Esse potencial completamente diferente se a rea seleccionada se situar junto a uma linha de gua ou na cumeada de uma z ona montanhosa. Devem ser pr ivilegiadas situaes de maior fer tilidade e que c onsequentemente correspondam a maior es taxas de crescimento da vegetao, como sejam os vales e os so ps das encostas em geral. O aproveitamento da regenerao natural em linhas de gua dever ser uma prioridade, quer pelo motivo apontado, quer porque a reconstituio de galerias ripcolas de espcies folhosas com descontinuidade vertical poder ser uma est ratgia vantajosa par a contrariar a propagao e dimin uir a se veridade do fogo (F ernandes et al., 2010). Existem no entanto situaes de deg radao da vegetao ripcola em que o restauro activo a nica abordagem capaz de garantir o sucesso da interveno.
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Aps escolhida a rea a intervir devero ser seleccionadas as plantas dentro do leque de espcies a aproveitar. partida devero ser escolhidas as plantas de maior porte, e dever conduzir-se o povoamento para uma estrutura regular o que aumenta descontinuidade vertical de combustveis e reduz a combustibilidade (Gonzlez et al., 2006). As plantas escolhidas devero idealmente ser sinalizadas. Trata-se de uma prtica c om uma justificao acr escida sempr e que se o pte por c ontrolar a v egetao arbustiva concorrente. No entanto existem frequentemente dificuldades fsicas concretas em aceder s plantas. Na verdade a vegetao arbustiva poder ser de tal forma impenetrvel (presena de plantas espinhosas por exemplo) que poder impedir o acesso dos operadores encarregados de fazer essa marcao em toda a rea a tratar.
Interveno em redor das plantas seleccionadas
Uma das maior es preocupaes dimin uir a c ombustibilidade da formao vegetal de modo a que o fogo no venha a destruir a regenerao natural e dessa for ma a comprometer os objec tivos em v ista. Simultaneamente conseguem-se libertar as plantas da concorrncia pela luz, gua e nutrientes, se bem que as e vidncias sobre os r eais benefcios a est e respeito sejam contraditrias (Vil e Sardans, 1999; Gmez-Aparicio et al., 2004). Em todo o caso trata-se sempre de uma interveno onerosa e difcil de pr em prtica tendo em conta as condicionantes mais comuns neste tipo de situaes. A interveno mecanizada pode ser difcil dada a irregularidade da distribuio das plantas no terreno, pelo que em muitos casos apenas so possveis intervenes com o uso de motoroadora, mais onerosas mas tambm mais selectivas. No caso de uma grande abundncia de regenerao como acontece frequentemente em pinhais queimados, aconselhvel a remoo mecnica de linhas contnuas de plantas intercaladas com linhas mais est reitas sem int erveno ou c om interveno moto-manual (Louro et al., 2002). Os elevados custos destas operaes levaram Fernandes et al. (2005) a examinar a viabilidade do fogo controlado como tcnica alternativa de limpeza e desbaste da regenerao natural de pinheiro bravo, com excelentes resultados (Caixa 2).
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CAIXA 2
EFEITO DE UM DESBASTE TRMICO EM REGENERAO NATURAL DE PINHAL BRAVO
Um pinhal bravo na serra do Alvo com 14 anos de idade e estrutura irregular foi sujeito a fogo controlado. Quatro anos e meio depois, os pinheir na zona tratada os (D) distribuam-se normalmente pelas clas ses de dimetr o, enquanto na z ona adjacente no intervencionada (T) 45% dos indivduos apr esentavam DAP inferior a 2,5 cm (Figur a 2). O nmer o de indivduos por hectar e e altura dominante cifravam-se na zona D respectivamente em 2800 ha-1 e 10.9 m, representando 58% e 108% dos valores observados em T. Note-se tambm o substancial aumento da rea basal (44%) na classe de DAP dos 20 cm em D relativamente a T. Um incndio percorreu o pinhal pos teriormente, com um decrscimo par a metade da intensidade do f ogo em D , onde no se r egistou qualquer mortalidade; pelo contrrio, o dano foi generalizado em T tendo as rvores sido cortadas (Figura 2). , Um desbaste trmico (atravs de fogo controlado) s ser efectivo em formaes com uma v ariao razovel de dimetr os e dimenses, caso c ontrrio a grande maioria dos indivduos sucumbir ou sobr eviver. As des vantagens do fogo controlado face a uma limpeza convencional so evidentes, nomeadamente a pouca preciso na seleco dos indivduos a eliminar e na definio da densidade residual, e a quase ausncia de c ontrolo sobre o espaamento das rvores. Informao adicional sobre este trabalho pode ser consultada em Fernandes et al. (2005).
16
D
12 m2 ha -1 8 4 0
RVORES MORTAS
G,
< 2.5
10
15
20
CLASSE DE DAP
(cm)
1000 500 0
INFERIOR INTERMDIO SUPERIOR
(cm)
FIGURA
ANDAR
Repartio da densidade (G, N) por classe de DAP e da densidade (N) por andar arbreo nas parcelas de desbaste (D) e testemunha (T).
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Numa fase mais avanada de desenvolvimento haver que ponderar a necessidade de efectuar desbastes, de modo a favorecer as plantas com melhor c onformao e melhor pot encial de cr escimento, r eduzir o potencial de fogo de c opas e aumentar a r esistncia individual ao fogo. Em formaes de menor combustibilidade poder ser vantajosa a manuteno de um coberto denso (Colin et al., 2001; Fernandes, 2006; Silva et al., 2009), de modo a reduzir a velocidade do vento, aumentar a humidade e reduzir a l uminosidade no int erior do povoamento para dificultar o crescimento do sub-bosque. A manuteno destas condies consegue-se, como j referimos, em povoamentos mais maduros os quais tm sid o associados a uma menor se veridade d o fogo c om menores danos na vegetao arbrea dominante (Romn-Cuesta et al., 2009; Fernandes et al., 2010). Estas condies so mais rapidamente atingidas quanto mais favorveis forem as condies para o crescimento da regenerao natural e no nosso pas c orrespondem sobretudo a exposies norte e oeste e base das enc ostas, onde o t eor de h umidade do solo maior dur ante o perodo ptimo de crescimento vegetativo. Quanto aos critrios de regulao dos desbastes a aplicar, dependem da espcie em questo. Para o pinheiro-bravo existem tabelas para a regulao dos desbastes de acordo com as classes de qualidade da estao (Al ves, 1982). Para outras espcies, nomeadamente as folhosas, a infor mao a este respeito muito mais escassa e igualment e vocacionada para uma optimizao do ponto de vista da produo de lenho (e.g. Oliveira et al., 2001; Carvalho, 2005) a qual no coincide forosamente com os critrios relacionados com a pr eveno de incndios. O uso de sim uladores do comportamento do fogo per mite desenhar intervenes de desr amao e desbaste que minimizam a probabilidade de fogo de copas em resinosas.
Interveno sobre as plantas seleccionadas
Trata-se aqui de cumpr ir dois objectivos: por um lad o melhorar a conformao da planta de modo a favorecer o seu crescimento em altura; por outro criar descontinuidades verticais de modo a diminuir os danos causados por um eventual fogo. A interveno ser obviamente diferente consoante se trate de plantas de regenerao vegetativa ou quando se trate de plantas pr ovenientes de r egenerao seminal. N o pr imeiro caso , dependendo dos objectivos de gesto, poder ser feita uma seleco dos
300
rebentos de toia de modo a favorecer os mais vigorosos. Seguidamente devero ser removidos os ramos dos andares inferiores de modo a atingir os objectivos atrs referidos. No caso de plantas de regenerao seminal apenas se ter que intervir ao nv el d os r amos d os andar es infer iores at ravs da r ealizao de desramaes. Se existirem dois lanamentos terminais a competirem pela dominncia apical, de ver ser mantid o apenas um deles de mod o a acelerar o cr escimento em altur a. Est e cr escimento poder ser ainda estimulado atravs da manuteno de densidades elevadas de vegetao, nomeadamente com indivduos da mesma espcie. No entanto este tipo de medidas implicam a manuteno de uma continuidade horizontal nos combustveis prolongando assim o perodo em que risco de fogo severo elevado. A interveno nas plantas poder revestir-se de alguma complexidade tcnica no caso de ser necessrio conformar a copa, nomeadamente tendo em vista o aproveitamento econmico da cortia ou da produo de fr uto. Est e tipo de int ervenes t em a desig nao de podas de formao muito embora alguns autores utilizem a designao de forma abrangente, mesmo quand o se t rate de mer a interveno ao longo d o fuste. Algumas normas tcnicas a seguir quanto execuo de desramaes e podas de formao podem ser encontradas em literatura tcnica diversa produzida de for ma mais genr ica (Montoya, 1996; Louro et al., 2002; Louro et al., 2003) ou mais dirigida para as espcies de interesse florestal (Natividade, 1950; Montoya, 1988, 1993; Oliveira et al., 2000; Oliveira et al., 2001; Carvalho, 2005).
Os custos associados
Os custos associados conduo da regenerao natural podero ser elevados. H no entant o que ponder ar a impor tncia dest es in vestimentos na medida em que podero faz er a difer ena entre a possibilidade de voltar a t er um c oberto florestal ou o simples r etornar ao incio da suc esso ec olgica de vido aco d o fogo . P or e xemplo, Fernandes et al. (2010) mostram como vulnervel ao fogo a regenerao natural de carvalho negral (Quercus pyrenaica) e o interesse em acelerar a aquisio de r esistncia ao fogo e r eduzir a c ombustibilidade das formaes. Os custos associados s vrias operaes para aproveitamento da regenerao natural constam na Tabela 1 (preos propostos para 2008-
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-2009 pela C omisso de Acompanhamento das Oper aes Florestais CAOF, www.anefa.pt/site/pdf/matrizes0809.zip). Para alm das operaes descritas na presente seco, incluram-se por convenincia as operaes especificamente associadas ao c ontrolo de plantas e xticas. O planeamento das operaes a realizar no aproveitamento da regenerao natural poder incluir todas ou apenas algumas das operaes referidas.
TABELA 1
CUSTOS POR HECTARE REFERENTES A 2008/09 PROPOSTOS PELA COMISSO DE ACOMPANHAMENTO DAS OPERAES FLORESTAIS , RELATIVOS A OPERAES ASSOCIADAS AO APROVEITAMENTO DA REGENERAO NATURAL TIPO DE OPERAO Sinalizao da regenerao natural Controlo da vegetao espontnea total Controlo das plantas lenhosas invasoras (pincelagem) Controlo das plantas lenhosas invasoras (corte) Controlo de densidade excessiva Desramao * MNIMO MXIMO
Aps um incndio as r vores sobreviventes encontram-se em ger al mais debilitadas, sendo mais susceptveis a factores adicionais de st ress que podem c onduzir sua mor te. Alguns desses fac tores, tais c omo a ocorrncia de condies meteorolgicas desfavorveis, so imprevisveis e no podero ser c ontrolados. Porm o stress adicional provocado por determinadas prticas silvcolas ou pela her bivoria podem ser minimizados ou evitados.
A poda e o descortiamento
As prticas silvcolas aqui mencionadas aplicam-se essencialmente a povoamentos florestais de folhosas e aos casos em que pelo menos parte da copa sobrevive ao fogo. As consideraes apresentadas referem-se gesto dos povoamentos de sobreiro por ser uma folhosa espcie particularmente representativa em Portugal, embora no caso das podas estas possam ser generalizveis a outras espcies.
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Aps um incndio, as rvores dispem de reservas energticas, principalmente na forma de amido, para restaurar os tecidos danificados (e.g. as folhas da copa) e para cicatrizar as feridas. Porm determinadas prticas silvcolas como a poda e o descortiamento, quando realizadas nos anos imediatamente aps o fogo, podero criar novas exigncias e originar situaes de grande debilidade. Adicionalmente muitas pragas e doenas oportunistas aproveitam esta debilidade e as feridas abertas para progredir onde em circunstncias normais no o poderiam fazer (Cardillo et al., 2007). Uma das questes mais controversas em relao aos sobreirais afectados pelo fogo relaciona-se com o momento do primeiro descortiamento aps o incndio. Para decidir qual o moment o mais adequad o par a extrair a cortia, devem considerar-se no s os aspect os econmicos de cur to prazo mas tambm, e pr incipalmente, os aspectos silvcolas associados manuteno do vigor e potencial produtivo das r vores no futuro, bem como das restantes funes associadas. Em geral, os factores determinantes para essa deciso de vero ser a se veridade do fogo, a idade da c ortia no momento do fogo, e o vigor das rvores (Cardillo et al., 2007). Em Portugal no permitido extrair cortia com menos de nove anos de idade, salvo raras excepes sujeitas a aut orizao, entre as quais se incluiu recentemente o descortiamento de sobr eiros queimados aps verificao da sua recuperao (DL n 155/2004). Porm no existe na lei qualquer referncia ao que se ent ende por r ecuperao d os sobreiros afectados, podendo assim a deciso ser bastant e subjectiva. Apesar desta lacuna, uma publicao tcnica r ecente (DGRF, 2006) recomenda que o descortiamento s deve ser efectuado em rvores que tenham pelo menos 75% da copa revestida com folhagem, mas ainda assim podero surg ir dvidas na aplicao desta r ecomendao. Em Espanha o IPR OCOR (Instituto del Corcho, la Madera y el C arbn Vegetal) mais explcito e recomenda que se deve esperar at que a copa tenha recuperado cerca de 75% do volume existente antes do fogo, e que a cortia tenha um calibre de pelo menos 2 a 3 cm de espessura. Quando a cortia tem menos de 2 cm de espessura, as probabilidades de produzir feridas no entrecasco durante o descortiamento aumentam significativamente (Amo e Chacn, 2003). Segundo estes autores, o descortiamento deve fazer-se no incio da poca e de for ma c onservadora, r eduzindo a altur a de desc ortiamento e deixando as r vores em que a c ortia no ceda facilmente. tambm
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possvel reduzir os danos por c orte do entrecasco se o desc ortiamento for efectuado por trabalhadores experientes ou atravs da utilizao de mquinas de descortiamento automtico. De facto, mesmo em condies normais (i.e. sem fogo), a extraco da cortia constitui um factor de debilidade para as r vores, tornando-as mais susc eptveis aos agent es biticos e abiticos (Natividade, 1950). Natividade (1950) refere ainda que a prtica do descortiamento constitui um forte estmulo para a produo suberosa, mas que este obtido custa da vitalidade da rvore e conduz ao seu envelhecimento prematuro. Em Portugal no permitido extrair cortia nos dois anos aps uma poda (nos sobr eiros e xplorados em pau batid o), no send o tambm permitido efectuar podas nos d ois anos aps o desc ortiamento (DL n 169/2001). Em Espanha (Extremadura), este perodo de t empo de espera entre as duas operaes de trs anos. A Lei estabelece assim um perodo mnimo de separ ao entre duas o peraes que r econhecidamente causam stress s rvores, para que estas possam recuperar (Cardillo et al., 2007). Tendo em conta que os incndios causam frequentemente nas rvores uma desfoliao da copa e feridas to ou mais severas do que as provocadas por uma poda, seria prudente definir objecti vamente as condies a observar antes de proceder extraco da cortia ou, tal como acontece no caso das podas, estabelecer um perodo mnimo de intervalo entre o fogo e o descortiamento seguinte. Relativamente r ealizao de podas em r vores afectadas por incndios a situao semelhante, pelo que no aconselhvel proceder a este tipo de intervenes nos primeiros anos aps o fogo. Num estudo realizado na Sardenha (Itlia) sobre a recuperao ps-fogo de sobreiros em explorao (Barberies et al., 2003), registou-se uma percentagem de plantas inviveis de 72% a 80% (r vores mais jovens e menos jo vens, respectivamente) em sobreiros cuja copa foi podada alguns meses aps o incndio, enquant o em sobr eiros no int ervencionados (g rupo de controlo) a percentagem de plantas inviveis foi entre quatro e duas vezes inferior (cerca de 18% a 38%, respectivamente).
Outros factores
As mobilizaes d o solo aps um incndio de vero ser e vitadas sempre que possvel ou reduzidas ao mnimo, quer porque aumentam
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frequentemente o r isco de er oso, quer por que e xiste o per igo de aumentar ainda mais os danos nas plantas que r esistiram ao fogo . Os potenciais danos directos provocados pela mobilizao de solo sobre as plantas sobreviventes incluem tanto a destruio das razes superficiais, como a dest ruio da r egenerao de t oia ou r aiz que ent retanto se comeou a desenvolver. A regenerao de semente que muitas vezes surge aps um incndio tambm pode ser destruda por estas mobilizaes. A herbivoria pode ser um importante factor limitante da regenerao natural em reas ardidas (e.g. Catry et al., 2007a). No caso de existirem densidades de animais incompatveis com o sucesso da regenerao numa rea ar dida, poder o ptar-se pela r eduo da carga animal, ou pela proteco de reas de regenerao ou proteco individual das plantas. As questes relacionadas com a herbivoria so abordadas em mais detalhe na seco seguinte. 3. A herbivoria como factor limitante na recuperao de reas ardidas Os grandes herbvoros ruminantes, domsticos (e.g. cabras, ovelhas, vacas, cavalos), ou silvestres (e.g. veados, coros, gamos, mufles), podem ter um impacte muito significativo sobre a vegetao, nomeadamente em situaes de ps-incndio altur a em que as plantas se enc ontram muito susceptveis ao pastoreio. Se o past oreio ocorrer demasiado cedo aps o incndio pode reduzir ou mesmo eliminar a v egetao que se pr etende estabelecer (Brown, 2000). Embora existam inmeras espcies de her bvoros mais pequenos que tambm podem afectar o desen volvimento da vegetao (e.g. coelhos, ratos, insectos), nesta seco c oncentramo-nos apenas sobre os g randes herbvoros ruminantes, por serem aqueles que frequentemente tm um maior impacte na vegetao aps um incndio. Quando existem populaes abundantes de g randes herbvoros nas imediaes das reas ardidas, normalmente necessrio intervir, sob pena de comprometer todo o processo de recuperao da vegetao. A reduo das cargas animais (i.e. densidade de animais n um dad o perod o de tempo) para nveis compatveis com o desenvolvimento das espcies de plantas existentes, poder constituir a soluo ideal do ponto de vista da recuperao da vegetao durante os pr imeiros anos aps o incndio .
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Porm isso pode no ser possv el ou compatvel com os objectivos de gesto da rea em causa, sendo nesses casos nec essrio adoptar outras medidas, tais como a proteco das plantas.
3.1 Efeitos dos herbvoros nas comunidades vegetais
Os herbvoros podem alterar a composio florstica, estrutura, produtividade e ciclo de nutrientes das comunidades vegetais (Huntly, 1991; Catry et al. 2007b). Estes efeitos manifestam-se sobr etudo atravs da seleco alimentar que depende da disponibilidade de plantas existente em dado momento. Os grandes herbvoros preferem as folhas aos caules, as partes verdes das plantas relativamente s partes secas, e as espcies de porte alto relativamente a espcies de porte mais rasteiro. A seleco de determinadas espcies provoca a diminuio da frequncia destas na comunidade vegetal (e.g. Bugalho et al., 2006). Caso as espcies seleccionadas preferencialmente sejam dominantes, ento a sua diminuio na comunidade poder induzir o aparecimento de espcies anteriormente dominadas e at aumentar a diversidade florstica da comunidade. Por outro lado, o consumo das plantas pelos herbvoros vai tambm alterar a estrutura da comunidade (e.g. altura mdia e densidade de plantas) e c onsequentemente alterar o habitat de outras espcies, desde insec tos a aves e mamfer os, podendo est e efeito estender-se at ao topo da cadeia alimentar (Bugalho, 1994; Fuller, 2001). Espcies de her bvoros diferentes tm c omportamento e est ratgias alimentares (isto o modo como seleccionam plantas) tambm diferentes (Hoffman, 1989; Bugalho, 1995). O conhecimento das estratgias alimentares dos herbvoros ocorrentes na rea e o controlo da carga animal pois essencial na gesto da vegetao ps-fogo e na recuperao de reas ardidas. No grupo dos herbvoros ruminantes a pr incipal diviso ent re espcies que tm dietas predominantemente de tipo lenhoso(e.g. coro, ou a cabra) e ruminantes que consomem sobretudo herbceas (e.g. ovelhas). Existem ainda espcies, como o veado, cuja dieta dominante varia entre herbceas e lenhosas em funo da var iao da disponibilidade saz onal. Na Bacia do Mediterrneo a dieta d o veado constituda por propores elevadas de lenhosas durante o vero, enquanto que na Primavera predominantemente constituda por herbceas (Bugalho e Milne, 2003). Aps o fogo as principais espcies vegetais a regenerar so inicialmente muito deficitrias em defesas fsicas e qumicas, sendo particularmente
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susceptveis ao pastoreio. Adicionalmente, o fogo provoca libertao de nutrientes (antes imobilizados na vegetao) que so devolvidos ao solo sob a forma de cinzas (e.g. potssio, fsforo, clcio). As primeiras espcies vegetais a despontar, com disponibilidade de nutrientes elevada e competio reduzida, tm nor malmente va lores de digestibilidade ele vados e so muito atractivas para os grandes herbvoros que as incluem preferencialmente na dieta (Hobbs, 2007; Figura 3). por esta razo que a densidade de her bvoros aumenta fr equentemente em r eas r ecentemente ardidas (Figura 4).
4 CONTEDO EM AZOTO 3
1 % DE MATRIA SECA
JUNHO
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
60
DIGESTIBILIDADE IN VITRO
40
20
0
JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO
DATA DE AMOSTRAGEM
No ardido, verde
Ardido, verde
No ardido, seco
FIGURA
Valores de concentrao mdia de azoto e digestibilidade in vitro de biomassa vegetal de pastagens com e sem fogo controlado. Adaptado de Hobbs et al. (1991).
307
100 (%) 80 60 40
a)
b)
BOVINOS EM PASTOREIO
QUEIMADA
QUEIMADA
NO QUEIMADA
20
NO QUEIMADA
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 0 1 2 3 4 5 6 7 8
FIGURA
Percentagem mdia de animais em pastoreio em parcelas com e sem fogo controlado em a) 74 dias aps o fogo e b) 83 dias aps o fogo. Adaptado de Laterra et al., (2003).
A utilizao int ensa de plantas per enes por par te de her bvoros domsticos ou silvestres, sobretudo durante a primeira estao de crescimento aps o fogo, poder causar danos graves s plantas. Por exemplo as espcies lenhosas mais c onsumidas dimin uem ou podem mesmo desaparecer em zonas com cargas elevadas de cervdeos, em benefcio de outras menos pr eferidas ou mais r esistentes (Bonnet e Klein, 1966). Dependendo da comunidade de plantas em causa, da severidade do fogo e da intensidade do pastoreio, poder ser necessrio esperar entre um e mais de sete anos aps o fogo par a que a vegetao recupere suficientemente para poder ser no vamente submetida a uma utilizao past oril (Brown, 2000). Os efeitos, provocados pelos her bvoros, sobre a vegetao lenhosa so di versos. As ac tividades que tm maior impac te so aquelas que implicam c onsumo dir ecto (int egral ou no) das plantas e d os se us orgos reprodutores ou propgulos. Os herbvoros podem ainda afectar indirectamente determinadas espcies ao alterarem o balano competitivo entre espcies. Os efeit os d o c onsumo fr equente de difer entes par tes de plantas traduzem-se n uma alt erao da est rutura da v egetao. Em sist emas mediterrnicos, e em espcies c omo a azinheir a, o sobr eiro ou out ros carvalhos, os efeitos vo desde o achaparramento das rvores mais baixas,
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at formao de uma linha de desramao na parte inferior da copa das rvores mais altas que mar ca o alcanc e dos her bvoros (Orueta et al., 1993). Relativamente ao consumo de rebentos, muitas espcies de plantas suportam bem um c onsumo ligeiro, mas as r vores reagem mal a um consumo repetido do rebento terminal, imprescindvel ao seu crescimento em altur a. Quando t odos os r ebentos so afec tados, a r vore fica totalmente deformada e em certos casos acaba por secar e morrer (Bonnet e Klein, 1966). Hannan e Whelan (1989) referem que em plantaes de conferas se detectaram danos em 50% dos indivduos, estando 15% das rvores afectadas no rebento terminal. Os prejuzos econmicos que da advm podem, em certos casos, ser considerveis. Bonnet e Klein (1966) referem que o c onsumo de plantas jo vens ou r ebentos de r vores o principal estrago provocado pelos cervdeos na floresta. No que se r efere ao consumo massivo de sementes e plantas jo vens, exceptuando as espcies que desen volveram um sistema de disseminao endozocora (atravs do sistema digestivo de certos animais), este pode traduzir-se numa acentuada reduo ou mesmo na ausncia de r egenerao, c om o c onsequente en velhecimento das c omunidades v egetais (Catry, 1999; Orueta et al., 1993). Algumas das espcies mais afectadas no Mediterrneo so as d o gnero Quercus, sobretudo a azinheir a devido qualidade da sua bolota e pelo facto de existir frequentemente em zonas com cargas elevadas de herbvoros (Orueta et al., 1993).
3.2 Gesto das populaes de herbvoros
Devido aos impactes que os herbvoros podem ter sobre a vegetao, desejvel que se faa uma gesto adequada das suas po pulaes de modo a garantir um equilbrio entre plantas e animais.
Indicadores de pastoreio excessivo
impor tante a valiar se det erminada r ea est ou no sujeita a pastoreio excessivo quer no pr-fogo quer no ps-fogo. Existem diversos indicadores que podero auxiliar o gest or nessa a valiao. C omo indicadores observveis na vegetao, o excesso de utilizao das espcies mais apetecveis, ou o consumo crescente de espcies que se sabe ser em de valor nutritivo baixo ou at txicas (Garcia-Gonzalez e Cuartas, 1992) podem indicar uma situao de pastoreio excessivo. O excesso de pastoreio
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sobre determinadas espcies lenhosas pr ovoca o seu achaparramento, sendo este facilmente detectvel no terreno (Orueta et al., 1993). Ao mesmo tempo a planta reage produzindo folhas de menor tamanho, aumentando a quantidade de espinhos, encurtando a distncia ent re ns e pr ovavelmente aumentando a sua esclerofilia (Garcia-Gonzalez e Cuartas, 1992). No caso dos animais, principalmente silvestres, a ocorrncia em zonas sobre-pastoreadas reflecte-se na sua condio corporal. Existem indicadores anatmicos que per mitem v erificar se se enc ontram ou no em st ress nutricional. As reservas de gordura, podem ser estimadas qualitativamente de modo visual, ou, no caso de c ervdeos, a diminuio dos crescimentos anuais das ar maes ou a pr esena de malfor maes (Fandos, 1991) do indicaes sobre se os animais em determinada rea se encontram ou no em stress nutricional e portanto em situao de pastoreio excessivo. No caso de herbvoros domsticos e silvestres existem ainda indicadores populacionais importantes. Por exemplo, o decrscimo da fertilidade e o incremento da mortalidade juvenil, o atraso no incio da puberdade, ou as alteraes provocadas na relao de idades da populao (Fandos, 1991) podem dar indicaes sobre o estado nutritivo da populao em causa.
Controle das cargas animais
A gesto das populaes de herbvoros domsticos mais fcil do que a gesto das populaes de herbvoros silvestres. Relativamente a espcies domsticas, podero considerar-se tcnicas como o pastoreio rotacional. Neste caso os animais pastam det erminadas r eas dur ante perod os determinados enquanto em outras reas a vegetao recupera. A durao destes perodos depender de factores tais como a rapidez de recuperao da vegetao ou a espcie animal em causa (e.g . superior para cabras do que para ovelhas). Embora possvel, este um mtodo que muito dificilmente se aplica a populaes de animais silvestres como o veado ou o gamo. Nestes casos a gesto das populaes, e nomeadamente a reduo da carga animal, geralmente efectuada atravs da caa. Em reas que no permitam o pastoreio rotacional ou a caa, dever optar-se por outros mtodos de proteco da vegetao.
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Em reas onde existam cargas animais elevadas que comprometam a recuperao da vegetao aps o fogo, ser necessrio tomar medidas de proteco das plantas. Dependendo da rea e dos objectivos de gesto, essa proteco poder passar pela utilizao de pr otectores individuais ou pela vedao de reas de maior dimenso durante perodos temporais que permitam a regenerao e o re-estabelecimento da vegetao.
Proteco individual das rvores
A proteco individual das rvores utilizada em diversos pases, nos casos em que os animais tm ac esso a z onas em r egenerao ou a plantaes. Existem vrios tipos de protectores, com preos e eficincias de proteco variveis. O mtodo mais utilizad o consiste em proteger cada rvore com um protector de rede metlica cilndrico ou em forma de paraleleppedo. Para cumprir adequadamente o seu objectivo, a rede dever ser suficient emente forte e no elstica. Em r eas onde e xistam cervdeos, gado bovino ou equino, a rede dever ter no mnimo 2 metros de altura, mas ser prefervel optar por rede mais alta (2.5 m),sobretudo se o terreno no for plano e se existirem veados na rea a proteger (Figura 5). Para herbvoros de menor porte a altura pode ser reduzida (em funo da altura que o animal consegue atingir). Na Figur a 6 apr esenta-se um esquema de um tipo de pr oteco individual, contra cervdeos ou outros herbvoros de grande porte, que poder ser utilizada par a pr oteger a r egenerao natur al ou r vores plantadas, Est e tipo de pr oteco per mite, por um lad o, poupar na quantidade de rede necessria e, por out ro, permite retirar facilmente a rede para aumentar a altura da proteco, ou para proceder ao desbaste selectivo dos rebentos de toia no caso da regenerao natural. Para cada proteco so necessrios dois postes de madeir a (com cerca de 2 m), rede de malha fina, e grampos metlicos. No momento da instalao das proteces deve colocar-se a rede rente ao solo, de for ma a no deixar aberturas. Quando a r vore atingir a par te superior da proteco, deve subir-se a rede 50 cm acima do solo, permitindo que a planta cresa em altura com a parte superior fora do alcance dos herbvoros, e permitindo simultaneamente que a sua base fique parcialmente acessvel aos animais, o que poder beneficiar a r vore por r eduzir a c ompetio c om a
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vegetao arbustiva ou her bcea que cr esce em se u redor. Para evitar a operao de ter de subir a rede ao fim de alguns anos, pode optar-se logo de incio por uma rede com 2.5 m de altura.
FIGURA
ESQUERDA E AO CENTRO:
Proteces individuais contra cervdeos, feitas com rede metlica com 250 cm de altura (regenerao vegetativa de carvalho e de pilriteiro trs anos aps o incndio); DIREITA: regenerao vegetativa de carvalho, no protegida (trs anos aps o mesmo incndio). (Fotos: Filipe X. Catry).
80 cm
200 cm
250 cm
OU
50 cm
FIGURA
Sistema de proteco contra grandes herbvoros ajustvel a dois nveis, com uma rede metlica com 200 cm de altura. (figura reproduzida de Catry et al. 2007a).
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Outro mtodo possvel a utilizao de repelentes qumicos. A proteco qumica c onsiste na aplicao de pr odutos repulsivos sobre os rebentos das jovens rvores, porm na maior parte dos casos a sua eficcia de curta durao ou est ainda por comprovar.
Proteco de parcelas
Vedar totalmente uma parcela que se pr etende regenerar, natural ou artificialmente, pode constituir uma boa soluo para recuperar a floresta em r eas ar didas onde e xistam g randes her bvoros. Dependend o d os objectivos de gesto, da dimenso da r ea a proteger e da densidade de rvores no povoamento, esta opo poder ser mais ou menos vantajosa. Em geral para reas maiores e densidades de rvores elevadas, esta tcnica tender a ser mais econmica do que a proteco individual das plantas. Esta opo tem ainda a vantagem de permitir uma regenerao mais densa na rea ardida, e uma melhor cobertura do solo, sendo a opo mais eficaz em termos de preveno dos riscos de eroso aps um incndio. Uma desvantagem deste mtodo que ao impedir o ac esso dos animais a determinadas reas, reduz-se a disponibilidade alimentar, aumentando simultaneamente a pr esso que est es iro ex ercer sobre as r eas no protegidas. Outra possvel desvantagem que alguns anos aps o fogo a vegetao na rea se torne muito densa (dependendo da produtividade do local), aumentando o perigo de incndio. Porm, se a rea vedada no for muito extensa e se as reas circundantes tiverem pouca acumulao de combustvel, o perigo de incndio muito limitado, e estas reas podero representar uma mais valia impor tante, funcionando simultaneamente como locais de abrigo para diversas espcies. No caso de se optar por este tipo de proteco, pode tambm pr oceder-se a limpezas de mat os e a desbastes (ao fim de alguns anos e em intervalos regulares) para reduzir a carga combustvel e para favorecer as espcies mais interessantes. Estas operaes de limpeza e desbast e podem ser bastant e vantajosas ou mesmo necessrias, dependendo dos objectivos de gesto, mas constituem tambm um acrscimo d o custo financeiro associado a est e mtodo. ainda de referir que nas reas onde existam grandes herbvoros silvestres, no se devero vedar reas contnuas de grande dimenso, uma vez que quanto maior for a r ea, mais difcil se t orna r etirar os animais que eventualmente tenham ficado no seu interior aps a instalao da vedao.
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Por outro lado, ao abrigo da vedao, a vegetao espontnea regenera rapidamente, constituindo um suplemento substancial de alimento nos anos que se seguem aber tura da parcela, devendo esta ocorrer o mais precocemente possv el, desde que os r ebentos t erminais das r vores estejam fora do alcance dos herbvoros (Bonnet e Klein, 1966). Uma vedao mecnica de r ede um bom mt odo para proteger a vegetao dos grandes herbvoros. Para impedir o ac esso de cervdeos como o veado, pode utilizar-se uma r ede metlica que de ver ter entre 2.0 m e 2.5 m de altur a (Bonnet e Klein, 1966). Geralmente a rede fica assente em postes colocados em cada 3 ou 4 m, podendo ser fixada solidamente por meio de grampos, ou atravs de um sistema desmontvel, que permite r etirar par te da v edao par a e vacuar animais que ficar am fechados, retirar rvores e outros materiais, ou retir-la definitivamente (Klein e Saint-Andrieux, 1989). A pr oteco t emporria at ravs da c olocao de uma v edao elctrica mais indicada par a as espcies d omsticas, send o pouc o adaptada ao meio florestal, onde a presena de vegetao torna difcil a sua utilizao. Nos casos em que se o pte por esta sol uo, necessrio utilizar pelo menos t rs fios (estendidos respectivamente a 40, 90 e 130 cm do solo) para impedir eficazmente a passagem dos cervdeos (Bonnet e Klein, 1966). A manuteno deste sistema em boas condies implica verificaes frequentes e uma limpeza t otal da vegetao circundante. A sua eficcia pode ser aumentada at ravs da colocao de bandeirolas coloridas, suficientemente visveis. Tal como no caso anterior, as vedaes devero ser retiradas depois de atingidos os objectivos.
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CAIXA 3
IMPACTE DOS CERVDEOS SOBRE A REGENERAO VEGETATIVA APS UM INCNDIO
Durante os primeir os anos aps um incndio que af ectou gr ande part e da Tapada Nacional de Mafra, monitorizou-se anualmente o estado vegetativo de vrias espcies de folhosas a existentes. Devido presena de uma populao de cervdeos, constituda por gamos e veados (densidade de 0.4 animais/ha), parte das rvores na rea ardida foram protegidas com protectores individuais de modo a permitir uma avaliao dos efeitos dos herbvoros sobre a mortalidade e crescimento da regenerao de toia. Trs anos aps o f ogo registou-se uma elevada sobrevivncia, independentemente do consumo por parte dos herbvoros. Porm no caso do carr asco, do carvalho-portugus e do pilrit eiro, r egistou-se uma maior mortalidade nas rvores que foram consumidas, apesar de s o carrasco apresentar diferenas significativas entre indivduos protegidos e no protegidos (Figura 7). No caso do pilriteiro e do carrasco s no terceiro ano se comearam a observar rvores mortas, e a gr ande maioria os indivduos que morr eram (90%) no se enc ontravam protegidos. O consumo repetido das plantas por parte dos animais pode levar ao esgotament o das r eservas acumuladas ant es do f ogo. Assim, se as plantas no c onseguirem repor essas reservas, ser de esper ar um aument o da mortalidade com o passar do tempo.
20 No protegidas
(%)
15
Protegidas
MORTALIDADE
10
0
PILRITEIRO CARRASCO
CARVALHO-PORTUGUS
FIGURA
Mortalidade observada ao fim do terceiro ano aps o incndio em trs espcies de folhosas: comparao entre rvores protegidas e no protegidas da aco dos herbv oros.
Relativamente ao crescimento da regenerao natural de toia, verificou-se que este foi muito afectado pelos cervdeos na maior parte das espcies estudadas (Figura 8). As nicas e xcepes foram a ar oeira e o eucalipt o que, devido s suas caractersticas (elevada concentrao de taninos, leos e baixa digestibilidade) so e vitadas pelos herbv oros. Ao fim de trs anos, os indivduos no protegidos de todas as outras espcies apresentavam uma altura mdia inferior a 40 cm, evidenciando o impacte negativo que os herbvoros podem ter na recuperao da floresta aps um incndio. Informao adicional sobre este trabalho pode ser consultada em Catry et al. (2007a).
315
300
Protegidas No protegidas
(cm)
ALTURA
200
100
0
FREIXO PILRITEIRO ZAMBUJEIRO CARVALHO CARRASCO AROEIRA CASTANHEIRO
FIGURA
Mdia da altura mxima (cm) da regenerao natural de toia de 7 espcies de f olhosas 3 anos aps o f ogo: rvores protegidas e rvores no protegidas da aco dos herbvoros (o eucalipto foi a espcie c om maior cr escimento mas no se enc ontra representado porque no foi protegido) (Adaptado de Catry et al. 2007a).
4. Gesto de espcies exticas invasoras Um dos maiores problemas da recuperao da vegetao num cenrio ps-fogo o apar ecimento de espcies e xticas com carcter invasor. Trata-se de um problema com uma importncia particular na gesto das reas ardidas, na medida em que a e xpanso de muitas espcies invasoras facilitada ou estimulada pela ocorrncia de perturbaes como o fogo. Por sua vez a expanso destas espcies pode alterar de forma significativa o regime de fogo (B rooks et al., 2004). Cria-se desta forma um ciclo de fogo associado s espcies invasoras em que a sua expanso est associada a uma elevada combustibilidade e em que a ocorrncia de fogo facilita a sua expanso. Neste tipo de condies e mesmo nas reas no queimadas as espcies nativas tm frequentemente muito poucas oportunidades para se voltarem a estabelecer e o r estauro ecolgico destas reas poder ser particularmente difcil (Brooks et al., 2004). Muito embora no seja um problema generalizvel a todo o territrio portugus, a ocorrncia de espcies e xticas invasoras assume frequentemente car actersticas de g rande g ravidade dadas as c onsequncias negativas no funcionamento dos ecossistemas, na perda de biodiversidade, nas alteraes da paisagem e no aumento do risco de incndio (Marchante e Marchante, 2007). Essa g ravidade decorre ainda da g rande dificuldade
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tcnica e d os g randes cust os financ eiros associad os s o peraes de controlo das espcies in vasoras. Tais constrangimentos assumem em algumas situaes quase um carc ter de ir reversibilidade em t ermos prticos, tal a e xtrema dificuldade de er radicao de algumas espcies. De acordo com Marchante e Marchante (2007) as aces de c ontrolo devero necessariamente passar por t rs fases: um controlo inicial com carcter massivo, um controlo de seguimento para complementar o tratamento inicial e um c ontrolo de manuteno para eliminar possveis focos espordicos da espcie invasora. O reconhecimento da importncia e da complexidade tcnica do problema apenas recentemente tm merecido o devido relevo, dado que at h relativamente poucos anos a questo se encontrava ausente dos manuais tcnicos de boas prticas editados pelos servios florestais do Estado (e.g. Louro et al., 2002; Silva e Pscoa, 2002; Louro et al., 2003). Aparentemente o ag ravamento do pr oblema dos incndios durante a ltima dcada c ontribuiu para chamar a ateno relativamente questo das in vasoras lenhosas na gesto das r eas queimadas (Conselho Nacional de Reflorestao, 2005). A invaso ps-fogo por espcies e xticas sobretudo mais grave na faixa Cent ro e N orte lit oral, se nos r estringirmos apenas s espcies lenhosas. No entanto as situaes so m uito diversas e esto bastant e relacionadas com o historial de introdues deliberadas no local ou nas imediaes, de plantas ou propgulos destas espcies. Em 2006 encontravam-se listadas par a Portugal 564 taxa de plantas vascular es exticas naturalizadas, estando esta listagem em c onstante evoluo (Almeida e Freitas, 2006). De ent re estas espcies, so sobretudo preocupantes as espcies lenhosas, dado terem maior capacidade par a dominar os ecossistemas onde se desenvolvem. O efeito sobre as espcies nativas pode ir muito para alm da competio directa pela luz, gua e nutrientes. Alguns destes efeitos no funcionament o dos ecossistemas podero ser pouc o evidentes, como a ruptura de associaes mutualistas presentes nas razes das espcies nati vas (Stinson et al., 2006) ou o efeit o depr essivo na restante vegetao causado por substncias alelo pticas (Carballeira e Reigosa, 1999). De ent re as espcies pr esentes no nosso pas de vemos salientar pela sua impor tncia em P ortugal C ontinental os gner os Acacia, Hakea, Ailanthus e Eucalyptus. Estes quatro gneros de plantas com porte arbreo ou ar bustivo tm car actersticas muito diversas em
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termos da capacidade de disseminao de sementes e de germinao em situaes ps-fogo. Por outro lado a utilizao que tem sido feita destas plantas m uito diversa, dando origem a problemas especficos dada a sua diferente expanso no pas. A este respeito a Eucalyptus globulus, vulgarmente c onhecida simplesment e por eucalipt o, a espcie que apresenta maior potencial de regenerao em termos absolutos dado ser utilizada em plantaes indust riais em g rande escala, sendo provavelmente a espcie ar brea c om maior r ea de e xpanso no t erritrio nacional (Silva et al., 2007b). No entanto o reconhecimento do carcter invasor da espcie c ontroverso, em g rande parte devido sua impor tncia econmica. N a v erdade no esto estabelecidos em P ortugal mtodos objectivos de avaliao e classificao d o carcter invasor das espcies exticas. Tal poder e xplicar o fac to da espcie no c onstar na lista oficial de espcies invasoras (Dec.Lei 565/99). A este respeito poder vir a ser til a adopo de um sistema objectivo de classificao tal como os propostos para pases como o Canad (Murphy et al., 2006) ou a Nova Zelndia (Pheloung et al., 1999). Apesar da dimenso d o problema e das ele vadas consequncias em termos econmicos e ec olgicos, sabe-se ainda m uito pouco sobre a dinmica da regenerao natural das espcies invasoras em reas queimadas e da sua int eraco com as plantas nati vas locais, para as c ondies do nosso pas. Muito do conhecimento existente ao nvel do territrio de Portugal Continental encontra-se compilado em Marchante et al., (2005) e em Marchante et al., (2009), mas poucos trabalhos especficos de natureza cientfica tm sid o publicados de mod o a validar par a o nosso pas o conhecimento emprico existente. Importa assim descrever cada um dos gneros de plantas r eferidos, tentando perceber o impact e que causam ao nvel da gesto das reas queimadas.
O gnero Acacia
Trata-se sem dv ida do gnero de plantas lenhosas mais r ecorrentemente associado a pr ocessos de in vaso biolgica em P ortugal. Em Marchante et al. (2005) so descritas oito espcies de accias com carcter invasor, com particular destaque para as espcies A. dealbata e A. melanoxylon devido sua importncia. Godinho-Ferreira et al. (2005) fez pela primeira vez um levantamento dos povoamentos onde plantas d o gnero
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Acacia se t ornaram d ominantes, c orrespondendo a c erca de 18500 ha (dados relativos ao in ventrio florestal de 1995-98). Estes povoamentos foram identificados sobretudo no Centro e Norte Litoral e no incluem as muitas outras situaes onde estas plantas se encontram de forma dispersa ou no sub-bosque constituindo igualmente um obstculo recuperao da regenerao natural das espcies nativas. Uma das situaes-tipo com maior gravidade a substituio das galerias ripcolas de espcies nativas junto s linhas de gua por indi duos de A. dealbata. Muito embora no v existam estudos conhecidos a este respeito, aparentemente parece existir uma expanso da espcie atravs do transporte das vagens pela corrente dos rios e ribeiras fazendo com que surjam novas colonizaes a jusante. A relao com o fogo razoavelmente conhecida, sabendo-se que existe de facto uma estimulao da germinao em muitas espcies do gnero Acacia (Hill, 1982; Auld e Oconnell, 1991; Marchante e Marchante, 2007). No entanto as vantagens competitivas relativamente restante vegetao derivam tambm do facto de serem espcies que regeneram vigorosamente aps o corte (Yongqi e Fuwen, 2006), tornando as operaes de controlo particularmente difceis. De acordo com Marchante et al. (2005) os mtodos de c ontrolo da A. dealbata e A. melanoxylon incluem o arranque de plntulas, o descasque e o corte seguido de aplicao de her bicida. ainda referida a utilizao de controlo biolgico com a libertao de insectos do gnero Melanterius, mtodo ainda no aplicad o em P ortugal. No entanto a oc orrncia de incndios dificulta bastante o processo de controlo, na medida em que o calor e a criao de espaos abertos estimula a germinao do banco de sementes no solo (Marchante et al., 2005). No caso de A. dealbata Gilbert (1959) sugere uma grande longevidade (300 a 400 anos) para as sementes no solo das flor estas da Tasmnia. Dever assim pr ivilegiar-se a manuteno de um c oberto denso sempre que possvel dado que poder ser uma soluo para tentar controlar a germinao das sementes. Por outro lado fundamental eliminar as plantas de maior dimenses mesmo que es muitas vezes seja sugerida a conduo em alto-fuste de povoamentos de accia, particularmente A. melanoxylon, devido s grandes dimenses que podem atingir (Santos et al., 2004). Na verdade a manuteno de exemplares de grandes dimenses apenas poder agravar o problema devido grande quantidade de sement es que sero libertadas destes sementes, aumentando a rea colonizada por novas plantas.
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O gnero Hakea
As duas espcies do gner o Hakea, referenciadas para Portugal so a H. sericea e H. salicifolia. (Marchante et al., 2005; Almeida e Freitas, 2006; Marchante et al., 2009). Em par ticular a pr imeira tem sido relacionada com a ocorrncia de reas queimadas. Trata-se de uma espcie espinhosa com frutos termo-deiscentes (folculos lenhosos) contendo duas sementes aladas, que se libertam quando a planta queimada ou morre (Marchante et al., 2009). A invaso por plantas desta espcie or igina problemas no apenas de competio com a vegetao nativa devido densa copa, mas tambm de ac esso de pessoas e animais de vido pr esena de folhas aciculares muito desenvolvidas. Os mtodos de controlo propostos passam pelo corte mecnico e permanncia no solo durante 1 a 1.5 anos, aps o que se aconselha a queima do material, incluindo as sementes que entretanto foram libertadas (Marchante et al., 2005). Quaisquer aces de controlo manual esto fortemente limitadas devido presena de espinhos. O fogo c ontrolado, que c omeou a ser utilizad o r ecentemente c omo tcnica de controlo no Alto Minho, muito eficaz se um segundo fogo for efectuado antes que a regenerao produza sementes.
O gnero Ailanthus
No nosso pas enc ontra-se representado pela espcie A. altssima. Trata-se de uma rvore diica com um grande potencial de disperso dos propgulos alados (smaras) e com uma grande capacidade para regenerar vegetativamente a partir da raiz. Devido sua utilizao como ornamental e s suas caractersticas helifilas sobretudo frequente junto a estradas, bordadura de campos agrcolas e outros locais sujeitos a perturbao. Dada a facilidade em emitir rebentos a partir das razes, fortemente desaconselhado o corte. O nico processo aparentemente eficaz consiste na aplicao de herbicida em feridas profundas abertas no tronco (Marchante et al., 2005).
O gnero Eucalyptus
Em termos de utilizao flor estal, o gner o Eucalytpus encontra-se representado em Portugal quase e xclusivamente pela espcie Eucalyptus globulus. Apesar de a espcie ter sido introduzida em Portugal h mais de cento e cinquenta anos e de ter comeado a ser utilizada em grande escala desde o incio do sculo X X (Goes, 1977; Radich, 2007), a e xistncia de regenerao natural de or igem seminal s r ecentemente comeou a ser
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mais amplamente documentada (Machado et al., 2001; Silva et al., 2007a; Silva et al., 2007b; Marchante et al., 2009). Alguns autores referem-se explicitamente ao carc ter invasor da espcie (M archante e Marchante, 2007; Silva et al., 2007b; Marchante et al., 2009) embora no existam ainda estudos e critrios objectivos que permitam estabelecer inequivocamente essa classificao, tal como alis acontece com a generalidade das restantes espcies apontadas como invasoras. Apesar de s recentemente ter ganho visibilidade, a questo da r egenerao seminal do eucalipto j descr ita por Goes (1977) numa propriedade no Ribatejo em 1954, o que indicia que o facto de no e xistirem referncias mais antigas, pouco diz sobre a real evoluo do processo de regenerao natural por semente no nosso pas. Muito embora no seja aparentemente to eficiente na colonizao de novas reas como as espcies anteriores, a enorme rea de expanso da espcie e a ocorrncia generalizada de regenerao por semente nas reas de melhor adaptao ec olgica, fazem com que e xistam preocupaes quanto competio com a vegetao nativa, nomeadamente em reas queimadas. No caso de c olonizao de r eas onde se pr etenda fazer o aproveitamento da regenerao natural de outras espcies, o aparecimento de regenerao seminal de eucalipto poder dificultar bastante esta tarefa dado o muito maior potencial de crescimento das plantas desta espcie. Por outro lado a espcie apr esenta uma g rande resilincia ao corte e ao fogo, atravs da regenerao vegetativa a par tir das toias e ao longo d o fuste, apresentando tambm aqui vantagens competitivas com as espcies nativas (Catry et al., 2007a). Devido a estas caractersticas existe a necessidade de estabelecer medidas no sentido de minimizar os impactes negativos causados pela regenerao natural de eucalipto em reas queimadas (Silva et al., 2007a). Num estudo realizado com base em cartografia de ocupao do solo da Tapada Nacional de Mafra, Catry (2000) reportou um aumento da rea de eucalipt o, de 4 ha em 1974 par a 64 ha em 1999, apesar de no terem sid o efec tuadas plantaes ou sement eiras nesse perod o. Posteriormente, Heathfield et al. (2001) conseguiram simular de forma aproximada o aparecimento de manchas de eucaliptal nesta Tapada, com base num modelo de disperso linear difusa c um alcance mximo de om 200 m. Os autores atriburam as diferenas entre as manchas modeladas e as manc has r eais oc orrncia de d ois incndios que podero t er
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favorecido o aparecimento da regenerao natural, proveniente sobretudo de povoamentos exteriores Tapada. Existem no entanto muitos aspectos que no se encontram devidamente esclarecidos cientificamente. Um deles prende-se com a explicao para o aparecimento de uma aparentemente maior quantidade de r egenerao natural em r eas queimadas, como resultado do efeito do fogo. Na verdade segundo alguns autores, a espcie parece no formar um banco de sementes no solo (Vivian et al., 2008) e parece igualmente devidamente afastada a hiptese de existir um estmulo de germinao por aco do fogo (Reyes e Casal, 2001) (ver igualmente o Captulo III). No entanto no e xistem ainda estud os conhecidos em Portugal que permitam explicar o aparecimento de regenerao natural de eucalipto em reas queimadas. A nvel de controlo da espcie, vrias tcnicas tm sido utilizadas, incluindo a destruio mecnica das toias, e o corte com tratamento qumico ou a simples pulverizao da regenerao por semente.
Agradecimentos Fundao para a Cincia e a Tecnologia (projecto POCI/AGR/61407/2004 e bolsa de doutoramento SFRH/BD/65991/2009). Tapada Nacional de Mafra, e em particular ao Ricardo Paiva, Pedro Carrilho e Tito Lopes.
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