Tudo Sobre Tod@s - Redes Digitais - Sergio Amadeu Da Silveira
Tudo Sobre Tod@s - Redes Digitais - Sergio Amadeu Da Silveira
Tudo Sobre Tod@s - Redes Digitais - Sergio Amadeu Da Silveira
Este livro nasceu de uma conversa com a equipe das Edições Sesc São Paulo.
Agradeço imensamente à equipe da editora pelo incentivo decisivo para a sua
realização. Também não poderia deixar de mencionar minha gratidão aos meus
orientandos Rodolfo Avelino, Matheus Cassina e à minha orientanda Joyce Souza
pela troca de ideias sobre a dinâmica do mercado de dados no Brasil. Apesar de
aqui não citar os diversos nomes, seria injusto não agradecer às pesquisadoras e
pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), que compõem um
ambiente propício à liberdade de pensamento e ao espírito crítico, essenciais à
investigação científica. Por fim, agradeço a minha companheira Bianca Santana
pelas inúmeras conversas sobre a abordagem de diversas questões presentes neste
texto.
... o que conta não é a barreira, mas o computador que detecta a posição de cada um, lícita ou ilícita, e
opera uma modulação universal.
Gilles Deleuze
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Danilo Santos de Miranda
INTRODUÇÃO
Economia informacional e a destruição de direitos
CAPÍTULO 1
Sociedades informacionais, capitalismo e controle
CAPÍTULO 2
Inversão no ecossistema comunicacional
CAPÍTULO 3
Opacidade das corporações e transparência da vida cotidiana
CAPÍTULO 4
Microeconomia da interceptação de dados
CAPÍTULO 5
Modulação e dispositivos de controle
BREVÍSSIMA CONCLUSÃO
Referências
SOBRE O AUTOR
Créditos
H Á CERCA DE CINCO DÉCADAS, a ideia de que vivemos a “era
da informação” acompanha a nossa busca em compreender o
conjunto de transformações que vêm marcando as sociedades. Os primeiros
anos da década de 1970, que veriam invenções como o microprocessador
de dados, o surgimento dos computadores pessoais e a propagação da
robótica, já conheciam de perto realidades como as transmissões via satélite,
o uso da fibra ótica e a troca de dados eletrônicos em rede.
Naquele ambiente de espaços urbanos que se reconfiguravam
velozmente incorporando tais tecnologias de informação e comunicação,
estudos como o do sociólogo norte-americano Daniel Bell, autor de O
advento da sociedade pós-industrial, de 1973, lançavam mão de termos como
“sociedades da informação” – uma ideia que autores como o economista
Fritz Machlup já haviam colocado em cena na década anterior.
Em seu livro, Daniel Bell (em contato com o pensamento de Alain
Touraine e seu pioneiro The Post-Industrial Society, de 1971) considerava que
a chamada sociedade pós-industrial caracterizaria-se pela gradual e
continua substituição da economia industrial por uma economia baseada
em serviços e, por extensão, pela presença da informação como um de seus
recursos centrais. No panorama que Bell projetava considerando os EUA
do início daquela década, as sociedades viveriam em função da inovação e
do desenvolvimento e os arquitetos daqueles tempos seriam encontrados
entre os matemáticos e engenheiros de novas tecnologias.
A expansão dos aparatos técnicos de informação e comunicação como
parte das transformações destas sociedades teria cruzado, assim, décadas
que somam desde a difusão acelerada da telefonia e do uso do computador
até a implementação de novas tecnologias pelo mercado financeiro no
câmbio de capitais, a automatização dos diferentes ramos da indústria e a
multiplicação dos chamados auto-serviços.
No entanto, seria na década de 90 que debates em torno de uma “era
da informação” viriam a ressurgir com força – em trabalhos como o do
sociólogo espanhol Manuel Castells – em função do avanço de um meio
que parecia envolver, transformar e potencializar todos os outros meios de
troca e circulação de informações: a internet.
Hoje, não somente o processo de produção, edição e distribuição de
conhecimentos e informações tem se mostrado profundamente alterado por
uma rede distribuída como a internet. Mas, igualmente, as interações sociais
têm sido impactadas pelo volume de informações e conexões que o novo
meio passa a tornar algo cotidiano.
Refletir, assim, sobre uma rede como a internet nos coloca diante de
avanços tanto quanto de desafios próprios do trânsito desta “era”. Parte
importante destes desafios são o foco do livro do professor Sergio Amadeu
da Silveira, que temos a satisfação de apresentar agora ao público.
Convidando à reflexão ainda no calor do momento em que consequências
importantes do uso das redes se revelam, o trabalho do professor se debruça
sobre as implicações, por exemplo, entre privacidade e a mercantilização de
dados pessoais. Questões que o uso e o alcance crescente dos recursos
digitais trazem à ordem do dia, tornando essencial a reflexão proposta por
trabalhos como este.
Intimamente ligado ao conteúdo abordado, este livro ganha forma
abrindo um novo caminho na circulação de conhecimentos por parte das
Edições Sesc: a criação e edição de títulos exclusivamente digitais. Ao lado
das produções impressas da editora já convertidas para esse formato, esta
publicação reafirma o investimento da instituição no desenvolvimento do
chamado livro digital. Empenhado na construção de uma sociedade mais
justa e inclusiva, o Sesc reconhece no incentivo à leitura, potencializado
pelas novas tecnologias, ferramenta efetiva no desenvolvimento de um
espaço social crítico, criativo e renovador.
1 Charles Duhigg, “How Companies Learn Your Secrets”, The New York Times Magazine, 16 fev.
2012.
2 Fernanda Bruno, Máquinas de ver, modos de ser, Porto Alegre: Sulina, 2013, pp. 145-6.
3 Giorgio Agamben, Estado de exceção, São Paulo: Boitempo, 2015.
A S SOCIEDADES INFORMACIONAIS SE APRESENTAM como
uma ultrapassagem histórica das sociedades industriais. Já em 1962, o
economista Fritz Machlup trouxe o conceito de sociedade da informação
em seu livro The Production and Distribution of Knowledge in the United States.
Machlup foi um dos primeiros a perceber a importância do conhecimento
como um recurso econômico fundamental. Em 1973, o sociólogo Daniel
Bell lançou o livro The Coming of Post Industrial Society, no qual buscava
demonstrar que o setor de serviços e as atividades ligadas à informação
estavam gerando mais valor e mais postos de trabalho que as atividades
industriais.
Uma série de estudos e ensaios apontam, há algum tempo, que as
máquinas reprodutoras da força física e ampliadoras da velocidade estavam
perdendo espaço para tecnologias que armazenam, processam e distribuem
informações. A trilogia de Manuel Castells chamada A era da informação:
economia, sociedade e cultura, lançada em 1997 em língua inglesa, caracterizou
no seu primeiro volume a sociedade informacional como uma sociedade em
rede. Uma nova morfologia social estaria emergindo, com as redes digitais e
suas tecnologias de sustentação e expansão. Sem desconsiderar as diferenças
conceituais entre os autores que buscavam definir as bases das relações
sociais na economia pós-industrial, podemos perceber em quase todos o
esforço teórico para explicar as mudanças que se davam em torno das
transformações tecnológicas.
As sociedades informacionais são sociedades pós-industriais que têm a
economia fortemente baseada em tecnologias que tratam informações como
seu principal produto. Portanto, os grandes valores gerados nessa economia
não se originam principalmente na indústria de bens materiais, mas na
produção de bens imateriais, aqueles que podem ser transferidos por redes
digitais. Também é possível constatar que as sociedades informacionais se
estruturam a partir de tecnologias cibernéticas, ou seja, tecnologias de
comunicação e de controle, as quais apresentam consequências sociais bem
distintas das tecnologias analógicas, tipicamente industriais.
Uma das principais diferenças sociais entre as tecnologias cibernéticas e
as tecnologias do mundo industrial pode ser facilmente percebida quando
comparamos uma robusta fechadura de metal e um dispositivo digital para
abertura de portas. Ao utilizarmos uma chave de metal que se encaixa
corretamente nas engrenagens da fechadura não deixamos registro sobre
quantas vezes a abrimos ou a fechamos. No ato de trancar a porta não
registramos o horário exato que isso ocorreu. Mas as tecnologias
cibernéticas possuem outra natureza. Uma fechadura digital aberta por um
cartão magnético ou por biometria não somente destrava a porta como
também registra o horário exato em que isso aconteceu. Também pode
registrar qual cartão magnético ou digital abriu a porta, no caso de existir
mais que um. A parte física do dispositivo é comandada por sua parte lógica
gerando um conjunto de informações que ficam armazenadas em um
software.
As tecnologias digitais produzem um conjunto de informações todas as
vezes que são utilizadas. Isso altera profundamente a capacidade dos
agentes econômicos de avaliar suas práticas e seus negócios. No século XIX,
Karl Marx argumentou que o sistema capitalista promovia a fluidez do
capital e o aumento de sua circulação no espaço-tempo mundial1. O capital
como mercadoria na esfera da circulação precisava reduzir o tempo da
conversão em dinheiro e de retorno ao capitalista para ser reempregado na
sua ampliação. Na atual fase da economia pós-industrial, a informação
sobre o consumo da mercadoria retorna ao capitalista como elemento
crucial do processo de reprodução do capital. Os dados sobre como o
produto foi consumido, o horário exato da compra e os metadados da
transação chegam antes ou junto com o dinheiro resultante do processo de
circulação. Assim, o crescimento das transações de compra e venda
realizadas pelas redes digitais gera cada vez mais dados sobre o perfil do
consumidor que adquiriu uma mercadoria.
O setor financeiro foi a grande vanguarda do uso intenso e massivo das
tecnologias digitais ampliando a velocidade imposta ao processo de
reprodução do capital. Investidores buscavam agigantar seus capitais com
base nas diferentes camadas da informação: o dinheiro como informação
numérica, as informações sobre as tendências dos investidores e sobre os
sinais dos mercados. O capital-dinheiro como dado, ou seja, os valores
numéricos convertidos em bits, ao ser transferido nas redes digitais trouxe
mais velocidade aos processos especulativos. A expansão das redes digitais
gerou rupturas nos modelos de propriedade e de distribuição de produtos
na indústria cultural, principalmente na música, no mercado da notícia nas
mídias, na área editorial, no audiovisual. No segmento financeiro, as redes
cibernéticas geraram avanços, uma modernização da contínua tentativa de
reproduzir o capital sem o desgaste da produção. Bancos e empresas de
crédito incorporaram as tecnologias cibernéticas sem dificuldade.
Utilizaram a velocidade de processamento dos computadores e das redes
digitais para aumentar a volatilidade dos investimentos e o potencial da
especulação financeira. As tecnologias da informação também reduziram
custos logísticos e trabalhistas das operações, aumentando os ganhos do
segmento. Entre outras constatações, as corporações financeiras foram
substituindo funcionários por máquinas, sensores e softwares.
A informação é o elemento crucial do mercado especulativo. Com as
tecnologias da informação, os especuladores buscavam diversas técnicas
para captar as tendências dos mercados, bem como para disseminar notícias
que pudessem alterar o comportamento dos investidores. Assim, o setor
financeiro apostou fortemente nas tecnologias cibernéticas. As redes digitais
permitiram transferir ativos, capital em bits e registrar o histórico de
transações. Pelo mesmo canal prestavam-se serviços, realizavam-se
transações financeiras e recebiam-se os dados e metadados dos processos e
conexões dos clientes. As tecnologias cibernéticas são claramente as
tecnologias constitutivas das sociedades informacionais. Por isso, quando
falamos das sociedades informacionais estamos falando de sociedades
operadas por softwares2 que organizam todo o processo de digitalização.
If electricity and the combustion engine made industrial society possible, software similarly
enables global information society. The “knowledge workers,” the “symbol analysts,” the
“creative industries,” and the “service industries” – none of these key economic players of the
information society can exist without software.3
El valor de cambio del conocimiento está entonces enteramente ligado a la capacidad práctica
de limitar su difusión libre, es decir, de limitar con medios jurídicos – patentes, derechos de autor,
licencias, contratos – o monopolistas la posibilidad de copiar, de imitar, de “reinventar”, de
aprender conocimientos de otros. En otros términos: el valor del conocimiento no es el fruto de su
escasez – natural –, sino que se desprende únicamente de limitaciones estables, institucionalmente
o de hecho, del acceso al conocimiento. Sin embargo, estas limitaciones no llegan a frenar más que
temporalmente la imitación, la “reinvención” o el aprendizaje sustitutivo por parte de otros
productores potenciales. La escasez del conocimiento, eso que le da valor, tiene, de esta suerte, una
naturaleza artificial: deriva de la capacidad de un “poder”, cualquiera que sea su género, para
limitar temporalmente su difusión y para reglamentar el acceso.10
Fonte: Alexa. The top 500 on the web. 2016 . Disponível em: <http://www.alexa.com/topsites>.
Acesso em 23 Jan. 2016.
Duas grandes corporações se destacam na concentração dos acessos da
internet, o Google e o Facebook. Com trajetórias diferentes, os dois gigantes
da era informacional tratam de engolir outros empreendimentos criativos
na rede para ampliar suas opções de entretenimento e serviços a seus
clientes. O Google comprou empresas como YouTube e DoubleClick. O
Facebook adquiriu o Instagram e o WhatsApp. O Google dependia
claramente da web aberta e universal, pois seu carro-chefe era o mecanismo
de busca. A web, uma das aplicações mais populares da internet, começou a
enfrentar uma grande competição dos aplicativos acessados diretamente
pelos telefones celulares e aparelhos móveis. Diante disso, o Google se
reposicionou lançando o sistema operacional para aparelhos móveis,
baseado no software livre GNU/Linux, chamado Android. Já o Facebook,
em fevereiro de 2014, anunciou que entregou 16 bilhões de dólares pelo
aplicativo WhatsApp. Sua estratégia também mirava o mundo da
mobilidade. Ambos os conglomerados têm sua principal fonte de
rendimento advinda da compra e venda de dados pessoais às empresas e
demais clientes que buscam perfis de consumidores.
O fato de grandes empresas tentarem engolir a própria web para dentro
de seu empreendimento não implica afirmar que não existam milhões de
outros sites e plataformas e de aplicações na rede com graus diferenciados
de acesso. A maioria deles concentra uma baixa atenção. O fenômeno das
redes P2P (peer-to-peer), a TV sobre IP, os blogs, os sites de música, a
Wikipedia, entre outros, mostram que a diversidade da internet é crescente
e nem tudo que se faz na rede tem a finalidade de lucro ou está voltado ao
mercado. A internet como reunião de diversas redes tem em sua abertura a
possibilidade de experimentação tecnológica que é a maior fonte de
surpresas e reorganização dos fluxos de atenção.
A arquitetura aberta, distribuída, com protocolos não patenteados, sem
um dono ou proprietário, fez da internet uma rede cuja dinâmica seguiu a
lógica da liberdade e não a lógica da permissão. A lógica da liberdade,
segundo o jurista Lawrence Lessig, assegura que um conteúdo possa ser
criado e ser imediatamente colocado na rede para acesso amplo10. Se as
pessoas gostarem, esse conteúdo será acessado por milhões de outros
usuários. Os efeitos virais são um bom exemplo de mobilizações da atenção.
O modo como a internet foi sendo construída não exigia a permissão
para se divulgar um site, um texto, uma música ou uma imagem. Nem
mesmo é preciso autorização de algum escritório ou organismo para se criar
uma nova tecnologia que seja agregada à internet. Se a criação tiver
adeptos, ela será utilizada e poderá até criar um efeito disruptivo em alguns
serviços e plataformas existentes ou simplesmente será agregado as soluções
de rede já existentes. Isso quer dizer que a internet é generativa, segundo
Jonathan Zittrain11.
O ambiente da internet é extremamente propício à criatividade. Sua
montagem tecnológica foi baseada na abertura e não na opacidade. A
internet possui camadas de protocolos técnicos que se articulam, mas são
independentes. Isso permitiu que fossem criadas novas aplicações e novos
serviços sem a necessidade de intervenção nas demais camadas. Como
todos os protocolos são abertos, as pessoas podem acessá-los e lê-los. Assim,
qualquer agente com habilidade técnica pode criar uma nova tecnologia
que funcione e obtenha milhões de adeptos – como aconteceu com as redes
P2P, com o YouTube, com o fenômeno dos nanobloggings. A abertura da
rede tem sido inspiradora de milhões de criações digitais. Por isso, enquanto
for aberta e não proprietária, a internet continuará a exercer sua
característica generativa.
Um dos pioneiros e articulador da internet no Brasil, Demi Getschko
afirmou em mais de uma ocasião que a internet também possui uma
propriedade denominada resiliência. Em física, segundo o dicionário
Houaiss, resiliência é a “propriedade que alguns corpos apresentam de
retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação
elástica”. Tal característica estaria relacionada à capacidade de a internet
recompor o equilíbrio de seu ecossistema após uma grande mudança ou
uma importante deformação de sua formação original – isto é, a capacidade
de sobreviver ao avanço não coordenado das tecnologias que a compõem.
Mais do que isso, em nenhum momento a internet aparenta estar ameaçada
pelo avanço tecnológico. Todavia, sua robustez tecnológica convive com
sua grande fragilidade diante do poder econômico.
Um dos segmentos mais agressivos da economia contemporânea e que
até os anos de 1990, na maioria dos países do mundo, estava sob a
propriedade estatal, é o setor de telecomunicações – privatizado em quase
todo o planeta a partir da onda neoliberal. As empresas que compõem esse
segmento se entrelaçaram mundialmente em um diminuto e poderoso
oligopólio. Esses conjuntos empresariais gigantescos são os proprietários da
infraestrutura necessária à comunicação digital.
Como já afirmado, a internet funciona em camadas. A alteração da sua
camada de infraestrutura pode mudar completamente o modo como as
redes se comunicam e pode desorganizar o atual ecossistema
comunicacional. Transferindo bits pelos cabos das velhas redes de telefonia,
a internet trouxe a explosão da comunicação mediada por computador,
uma situação não prevista e não pretendida pelas empresas de
telecomunicações. A telefonia foi perdendo importância diante do fluxo de
dados. Com o avanço do uso da internet, as estradas dos bits se tornaram de
grande importância econômica, cultural e política. As gigantes de
telecomunicação perceberam que em suas redes de fibras ópticas passavam
toda a comunicação digital do planeta. Assim, quiseram submeter a internet
ao seu controle. Como? Quebrando o princípio da neutralidade da rede.
Antes da internet, a voz era o que passava pelos cabos dessas empresas.
Não fazia sentido vender planos diferenciados para uma conversa
telefônica. Voz mais nítida ou menos nítida, mais alta ou baixa não faziam
parte dos planos vendidos ao público. A operadora de telefonia era neutra
em relação ao que passava por sua rede. Com a comunicação de dados e
com o avanço da internet, as operadoras tentam não somente vender a
quantidade e a velocidade de dados que passam por seus cabos, mas
também querem poder filtrar o que passa e vender planos diferenciados
para alguns tipos de aplicação. Por exemplo, as operadoras pensam em
cobrar mais caro para quem acessa vídeos pela internet, cobrar um pouco
mais barato para aqueles que acessam música e mais barato ainda para
quem só acessa textos e imagens fixas. Tal como em uma rede de TV a
cabo, as pessoas pagariam por diferentes planos conforme a finalidade de
acesso. Esse modelo de negócios fere a ideia de acesso universal e
desconhece o fato que um mero sites de notícias hoje expõe texto, som e
imagem.
A neutralidade da rede12 é o princípio pelo qual aquele que controla a
infraestrutura da comunicação não pode interferir no que está sendo
comunicado. Os donos das fibras ópticas e cabos de conexão devem ser
neutros em relação ao conteúdo e as aplicações que estão por elas passando.
Esse princípio de não interferência nos pacotes de dados que passam pelas
redes de telecomunicação permitiu que fossem criados inúmeros protocolos,
aplicações e serviços sem a necessidade de negociação com os donos dos
cabos que transportam os bits convertidos em sinais luminosos.
O princípio da neutralidade de rede impede que certos modelos de
negócio baseados no tipo de aplicação e conteúdo sejam criados pelas
empresas de telecomunicação. Em vários países está ocorrendo uma batalha
legislativa e judicial sobre a consolidação do princípio da neutralidade em
uma legislação. No Brasil, o Marco Civil, lei aprovada em 2014, assegura a
neutralidade. A completa livre iniciativa do setor de telecomunicação, que
controla a camada de infraestrutura da internet, representaria o
aprisionamento e a submissão de toda a sociedade e demais segmentos da
economia a essas corporações.
As “teles” possuem a concessão estatal dos cabos por onde passa a
comunicação em rede. Caso possam filtrar o tráfego e cobrar
diferenciadamente pelos diferentes tipos de uso da internet, as operadoras
obteriam o poder sobre o futuro da criatividade, uma vez que os protocolos
e tecnologias que ainda não foram criadas não estariam previstos em seus
pacotes de uso. Desse modo, alguém que criasse uma nova tecnologia na
rede teria que necessariamente pedir passagem para as operadoras de
telecomunicação. Se isso ocorresse, teríamos o fim da predominância da
lógica da liberdade na rede com a sua substituição pela lógica da permissão.
A alegada resiliência da internet conseguiria manter a criatividade e o
elevado grau de compartilhamento e interatividade que tivemos até os
primeiros quinze anos do século XXI com a quebra da neutralidade?
1 Manuel Castells, Communication Power, Nova York: Oxford University Press, 2009, p. 42.
2 Pierre Lévy, Cibercultura, São Paulo: Editora 34, 1999, p. 111.
3 Alexander Galloway a rma: “A Internet é uma rede de computadores distribuídos globalmente.
Tem suas raízes na cultura acadêmica e militar americana das décadas de 1950 e 1960. No
nal da década de 1950, em resposta ao lançamento do Sputnik soviético e a outros medos
ligados à Guerra Fria, Paul Baran, na Rand Corporation, decidiu criar uma rede de
computadores que fosse independente de comando e controle centralizados e, assim, seria
capaz de resistir a um ataque nuclear que atingisse tais centros de comando.” (Alexander R.
Galloway, op. cit., pp. 4-5).
4 Yochai Benkler, The Wealth of Networks, New Haven: Yale University Press, 2006, p. 3.
5 Chris Anderson, A cauda longa, Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
6 Ibidem.
7 Carl Shapiro e Hal R. Varian, A economia da informação, Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, pp. 204-5.
8 Ibidem, p. 207.
9 Ibidem.
10 Lawrence Lessig, Code version 2.0, Nova York: Basic Books, 2006, p. 236.
11 Jonathan L. Zittrain, “The Generative Internet”, 2006, p. 1987.
12 Tim Wu, “Network Neutrality, Broadband Discrimination”, 2003, pp. 141-80.
13 Jeremy Rifkin, A era do acesso, São Paulo: Makron Books, 2001, p. 151.
14 IPOQUE, “Internet Study 2008/2009”, 2009.
15 Disponível em: <http://cetic.br/tics/usuarios/2014/total-brasil/C7/>.
16 Disponível em: <https://ustr.gov/trade-agreements/free-trade-agreements/trans-paci c-
partnership/tpp-full-text>.
A INTERNET SE TORNOU O GRANDE ambiente comunicacional,
diversificado, planetário, uma plataforma de metacomunicação. O
conjunto das mídias audiovisuais, sonoras, textuais caminhou em direção às
redes digitais. O fluxo de dados cresceu vertiginosamente. Empreendedores
correram e correm para criar novos modos de entretenimento ligados às
redes, para inventar novas aplicações e dispositivos de otimização de
informações enquanto grandes plataformas lutam para se tornarem a porta
de entrada e o destino do uso da internet.
O Cisco Visual Networking Index1 consolidou as informações sobre o
tráfego global de dados na internet. Em 2014, o tráfego atingiu 42,4
exabytes por mês, acima dos 32,8 exabytes mensais, em 2013. Esse volume
de dados é equivalente a 127 bilhões de DVDs, 11 bilhões de DVDs por
mês ou 15 milhões de DVDs por hora. Isso significa 1,4 exabytes por dia,
acima dos 1,1 exabytes diários obtidos em 2013. Para compreender melhor
a dimensão do fluxo de dados nas redes, a Cisco afirma que, em 2014, “o
equivalente em gigabytes a todos os filmes já realizados cruzou a internet a
cada 8 minutos”.
Ainda segundo a Cisco, em 2014, o tráfego foi equivalente a 21 vezes o
volume de toda a internet em 2005. O crescimento foi notável. O volume
de dados trocados na rede chegou a 5,9 gigabytes per capita, em 2014,
acima dos 4,6 gigabytes per capita em 2013. A tendência de uso das redes
digitais indica que estamos longe de uma estabilização dos fluxos
informacionais. O surgimento de novas tecnologias, a presença de aparelhos
e sensores pelas cidades, a digitalização intensa dos produtos e bens
culturais e a adesão de camadas mais pobres vão elevar ainda mais o fluxo
de dados na internet. Simultaneamente, cresce a compra e venda dos
rastros digitais, de dados pessoais e de dispositivos variados para acesso às
redes. O mercado de dados pessoais caminha para ser um dos maiores
mercados da economia informacional.
A hipótese que trago aqui é a de que para o mercado de dados pessoais
crescer precisa enfrentar e derrotar o seu maior adversário, a ideia de
privacidade. Formulado como um direito liberal, a reivindicação do
indivíduo poder controlar as informações sobre sua vida e intimidade, de
poder recusar aos outros membros da sociedade a observação plena de seus
comportamentos e da totalidade de suas opções era considerada pouco
importante no contexto econômico nacional e global. No cenário político
do século XX, as críticas ao totalitarismo, ao socialismo de Estado, ao
stalinismo e a absolutização das decisões do coletivo sobre os indivíduos
levaram as forças políticas liberais a se preocuparem muito com a questão
da privacidade. Com a expansão das redes digitais e das tecnologias
cibernéticas, a defesa da privacidade começou a abalar e a remexer as
posições no terreno político muito além do velho liberalismo. No século
XXI, os discursos contra a privacidade vêm principalmente do grande
capital informacional e dos aparatos de repressão estatais.
Neste capítulo, serão expostos os discursos e as relações de quem
discursa, bem como os efeitos que tais discursos geram. Por discurso, utilizo
uma das definições de Foucault, em A arqueologia do saber, sendo o “conjunto
de enunciados que se apoia em um mesmo sistema de formação”2. O
enunciado para Foucault não é uma frase ou sentença isolada. O enunciado
possui condições de existência. Ele se relaciona com outros enunciados e
essas relações definem a posição e o sentido de cada um deles.
For society, the hope is that we can use this new in-depth understanding of individual
behavior to increase the efficiency and responsiveness of industries and governments. For
individuals, the attraction is the possibility of a world where everything is arranged for your
convenience – your health checkup is magically scheduled just as you begin to get sick, the bus
comes just as you get to the bus stop, and there is never a line of waiting people at city hall.14
The age of big data calls for a reconceptualization of the notion of privacy. Previous models
of privacy limit their focus on collection and gathering of data as the central mechanism of the
privacy concern. Accordingly, privacy is seen as the ability to restrict access to information or the
ability to control the flow of personal information. In the age of big data, a significant concern is
how new personal information is produced by businesses and organizations through predictive
analytics.17
Proliferation of pervasive devices capturing sensible data streams, e.g. mobility records, raise
concerns on individual privacy. Even if the data is aggregated at a central server, location data
may identify a particular person. Thus, the transmitted data must be guarded against
reidentification and an un-trusted server.5
Figura 1
Receitas por registros de usuários
Receitas por usuário/registro do Facebook e Experian em 2011
Fonte: “Exploring the Economics of Personal Data: A Survey of Methodologies for Measuring
Monetary Value”, OECD Digital Economy Papers, n. 220, p. 24.
Figura 2
Rendimentos Google (2004-2014)9
Em bilhões de dólares
Fonte: “The economic value of personal data for online platforms, rms and consumers”, Bruegel.
These networks are supported by specialist advertising and data exchanges. An “ad
exchange” is an auction-based marketplace where advertisers can bid to place advertisements in the
space offered by websites. A “data exchange” is a marketplace where advertisers bid for access to
data about customers. The data can be that collected through the tracking and tracing of users’
online activities and/or from offline sources (e.g. national statistics, census data, etc.).
Increasingly, data are analysed and combined, and a user’s profile developed by specialist data
analysers.14
For example, an email sent to the address [email protected] can contain the embedded
image of URL <http://example.com/[email protected]>. Whenever the user
reads the email, the image at this URL is requested. [...] Using this system, a spammer or email
marketer can send similar emails to a large number of addresses to check which ones are valid and
read by the users.16
1 Jon Schwarz, “‘Capitalism Is a Lot More Important Than Democracy,’ Says Donald Trump’s
Economic Adviser”, The Intercept, 09 ago. 2016.
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Trad. Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo,
2015.
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Society, 10 n.2, 1994, pp. 101-27.
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http://exame.abril.com.br/tecnologia/seu-nome-cpf-e-endereco-completos-
podem-estar-disponiveis-neste-site-sem-que-voce-saiba-disso >. Acesso em: 11 abr.
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S ERGIO AMADEU DA SILVEIRA é professor da Universidade
Federal do ABC, sociólogo e doutor em Ciência Política pela
Universidade de São Paulo. Pesquisa as relações entre tecnologia, cultura e
poder. Já realizou investigações sobre a sociedade de controle, o ativismo
em rede, a cultura hacker e as mobilizações colaborativas em defesa do
comum. Foi membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil. É ativista do
software livre e defensor da privacidade e liberdades na internet.
SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO
Administração Regional no Estado de São Paulo
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Conselho Editorial
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Si391t Silveira, Sergio Amadeu da Tudo sobre tod@s: redes digitais, privacidade e
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Sergio Amadeu da Silveira. – São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017. – 7.300 Kb ;
e-PUB.
ISBN 978-85-9493-028-6 (e-book) 1. Tecnologias da comunicação e informação. 2.
Redes digitais. 3. Internet. 4. Sociedades informacionais. 5. Economia informacional. 6.
Segurança de dados. 7. Privacidade. I. Título.
CDD 303.483