Aula 06 - ADOÇÃO E PODER FAMILIAR

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CURSO: DIREITO

DISCIPLINA: DIREITO DE FAMÍLIA


PROFESSOR: WESLEY C. DE ARAÚJO
AULA 06
TEMA: ADOÇÃO e PODER FAMILIAR
BIBLIOGRAFIA NESTA AULA: Gonçalves, Carlos Roberto Direito civil brasileiro, volume 6: direito de
família / Carlos Roberto Gonçalves. – 14. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2017. Antônio Alex Pinheiro.
Direito Civil: Direito de Família. Brasilia/DF. 2023. DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das
famílias de acordo com o novo CPC. 11. ed. São Paulo: RT, 2016.

I – ADOÇÃO:

A adoção é um ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais,


uma pessoa estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco
consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para a sua família, na
condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha.

A Lei n. 12.010/2009 revogou a grande maioria dos artigos do Código Civil que
tratavam da adoção. Dessa forma, o assunto agora é regulado pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).

No Código Civil, sobraram apenas os artigos a seguir:

Art. 1.618. A adoção de crianças e adolescentes será deferida na


forma prevista pela Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da
Criança e do Adolescente. (Redação dada pela Lei n. 12.010, de 2009)

Art. 1.619. A adoção no de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá


da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva,
aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei no 8.069, de 13
de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente. (Redação
dada pela Lei n. 12.010, de 2009)

Ou seja, o Código Civil, ao tratar da adoção, faz referência ao Estatuto da Criança


e do Adolescente.

II – PODER FAMILIAR:

O poder familiar consiste em um conjunto de direitos e obrigações quanto à


pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido em igualdade de condições por
ambos os pais, para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe,
tendo em vista o interesse e a proteção dos filhos.
O Código Civil trata do assunto nos artigos 1.630 a 1.638. Vejamos a análise dos
dispositivos:

Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto


menores.

A abrangência do poder familiar, segundo o art. 1.630 do CC, inclui todos os


filhos menores, sejam eles matrimoniais ou extramatrimoniais, legalmente reconhecidos ou
adotivos.

Art. 1.631. Durante o casamento e a união estável, compete o poder


familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o
exercerá com exclusividade.

Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder


familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução
do desacordo.

Na constância do casamento e da união estável, existe a simultaneidade do


poder familiar. Ou seja, se os cônjuges (casamento) ou conviventes (união estável) forem
plenamente capazes, o poder familiar será exercido, em igualdade de condições,
simultaneamente, por ambos os pais, que possuem poder decisório na direção da família,
devendo ser atendidos os interesses dos filhos.

Dessa forma, com o desenvolvimento da sociedade e pelo princípio da igualdade


entre o homem e a mulher, a expressão pátrio poder foi substituída pela expressão poder
familiar, tendo em vista que as obrigações familiares pertencem ao casal em igualdade de
condições e não apenas ao homem.

Ocorrendo a falta ou impedimento de um dos pais (Ex.: superveniência de


doença mental), o outro passará a exercer com exclusividade o poder familiar.

Sendo o poder familiar comum a ambos os cônjuges ou conviventes, se houver


divergência entre eles, poderá qualquer um dos dois recorrer à autoridade judiciária para
solucionar o conflito.

Uma pergunta bastante comum é sobre o divórcio. Se os pais se divorciarem o


poder familiar é exercido por aquele que fica com a guarda dos filhos?

Art. 1.632. A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união


estável não alteram as relações entre pais e filhos senão quanto ao
direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os
segundos.
A resposta da pergunta está no art. 1.632 do CC. Ou seja, A separação judicial, o
divórcio ou a dissolução da união estável, não alteram a titularidade do poder familiar que
continuará a ser exercido em simultaneidade. Entretanto, é obvio que, pela convivência,
aquele que não ficar com a guarda do menor exercerá o poder familiar em intensidade
menor que o cônjuge titular da guarda.

Ressalta-se que, mesmo sem ter a guarda, se o um dos cônjuges discordar de


alguma coisa, então ele poderá recorrer ao magistrado para solucionar o problema.

Art. 1.633. O filho, não reconhecido pelo pai, fica sob poder familiar
exclusivo da mãe; se a mãe não for conhecida ou capaz de exercê-lo,
dar-se-á tutor ao menor.

Se o menor for reconhecido por ambos os genitores, ficará sob o poder familiar
simultâneo de ambos; se for reconhecido exclusivamente pela mãe, então esta exercerá o
poder familiar com exclusividade; por fim, se não for reconhecido por nenhum dos pais ou
se a mãe for desconhecida ou incapaz de exercer o poder familiar por estar interditada,
então deverá ser nomeado um tutor para o menor.

Sobre o conteúdo do poder familiar, podemos separá-lo em duas partes: quanto


à pessoa dos filhos menores e quanto aos bens dos filhos. Quanto à pessoa dos filhos
menores, devemos analisar o art. 1.634 do CC.

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua


situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste
em, quanto aos filhos:
I – dirigir-lhes a criação e a educação;
II – exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art.
1.584;
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao
exterior;
V – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua
residência permanente para outro Município;
VI – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o
outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer
o poder familiar;
VII – representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis)
anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em
que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VIII – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
IX – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços
próprios de sua idade e condição.
Vejamos cada item separadamente:

• criação e educação dos filhos: os pais deverão dirigir a criação e a educação dos filhos
menores, proporcionando-lhes meios materiais para sua subsistência e instrução, de acordo
com suas posses econômicas e condição social, amoldando sua personalidade e dando-lhes
boa formação moral e intelectual;

• direito de guarda: os pais têm o poder-dever de ter os filhos menores em sua companhia e
guardar para poder dirigir-lhes a formação, regendo seu comportamento, vigiando-os, uma
vez que são civilmente responsáveis pelos atos lesivos por eles praticados;

• consentimento para casamento: compete aos pais conceder ou negar o consentimento


para matrimônio de filho menor;

• nomeação de tutor: um dos pais, quando o outro já tiver falecido ou for incapaz de exercer
o poder familiar, poderá nomear um tutor para o filho menor, por meio de testamento ou de
documento público;

• busca e apreensão: os pais poderão reclamar o filho menor de quem ilegalmente o


detenha, privando-os de tê-lo em sua guarda e companhia, por meio da ação de busca e
apreensão; e

• exigência de obediência, respeito e serviço por parte do menor: o filho menor deverá não
só obedecer e respeitar os pais, como também prestar serviços compatíveis com a sua idade
e condição, participando na mantença da família.

Quanto aos bens dos filhos, devemos analisar o art. 1.689 do CC.

Art. 1.689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar:


I – são usufrutuários dos bens dos filhos;
II – têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua
autoridade.

Percebe-se que os pais terão o usufruto dos bens do filho menor, por ser esse
direito inerente ao exercício do poder familiar, cessando apenas com a inibição desse poder,
com a maioridade, com a emancipação ou com a morte do filho. Dessa forma, os detentores
do poder familiar poderão reter as rendas decorrentes da administração dos bens do filho
menor sem ter, em regra, de prestar contas, podendo até mesmo consumi-las ou reinvesti-
las em proveito do filho, para atender, por exemplo, a gastos com a sua instrução ou
alimentação.

Os pais também possuem o direito de administração dos bens do filho menor e,


para tal, pode praticar atos de mera administração e de conservação, como por exemplo
celebrar contratos de locação dos bens, pagar impostos, receber juros e rendas, etc.
Os casos de extinção do poder familiar são citados no art. 1.635 do CC.

Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:


I – pela morte dos pais ou do filho;
II – pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único;
III – pela maioridade;
IV – pela adoção;
V – por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.

Vejamos cada caso separadamente:

• morte de ambos os pais ou do filho menor: trata-se de fatos naturais que fazem
desaparecer os titulares dos direitos (morte dos pais) ou a razão para o instituto do poder
familiar (morte dos filhos);

• emancipação do menor: a emancipação faz com que o menor seja equiparado à maior por
causa da aquisição antecipada da capacidade de fato ou de exercício. Tal equiparação
também faz desaparecer a razão para a continuação do instituto do poder familiar;

• maioridade: a aquisição da maioridade faz com a pessoa se torne plenamente capaz e, com
isso, não há mais a necessidade do exercício do poder familiar;

• adoção: através da adoção o poder familiar dos pais naturais se transfere para o adotante
e, mesmo que ele venha a falecer, o poder familiar não irá retornar aos pais biológicos;

• decisão judicial que decretar a perda do poder familiar: a perda do poder familiar pode ser
decretada por uma das hipóteses arroladas no art. 1.638 do CC:

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe
que: I – castigar imoderadamente o filho;
II – deixar o filho em abandono;
III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo
antecedente.

As faltas anteriores previstas no inciso IV são as citadas no art. 1.637 do CC:

Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos


deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao
juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a
medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus
haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha.

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13010.htm
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder
familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em
virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.

Listando as faltas dos pais que, pela incidência reiterada podem acarretar a
perda do poder familiar, temos:

• abusar da autoridade;

• faltar com os deveres inerentes ao poder familiar;

• arruinar os bens dos filhos; e

• condenação criminal cuja pena (reclusão ou detenção) exceda a dois anos de prisão.

Art 1.636. O pai ou a mãe que contrai novas núpcias, ou estabelece


união estável, não perde, quanto aos filhos do relacionamento
anterior, os direitos ao poder familiar, exercendo-os sem qualquer
interferência do novo cônjuge ou companheiro.

Parágrafo único. Igual preceito ao estabelecido neste artigo aplica-se


ao pai ou à mãe solteiros que casarem ou estabelecerem união
estável.

Por fim, temos que se uma pessoa vier a contrair novas núpcias, o novo
casamento não acarreta a perda do poder familiar referente a um filho fruto do casamento
anterior.

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