Bipolaridade - David J. Miklowitz
Bipolaridade - David J. Miklowitz
Bipolaridade - David J. Miklowitz
Tradução publicada mediante acordo com The Guilford Press. Todos os direitos reservados.
Título original: The Bipolar Disorder Survival Guide: What You and Your Family Need to Know
Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora Ltda. Nenhuma parte desta publicação
poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográ ca, sem a
autorização prévia da Editora.
EDITOR
Diogo Droschi
CAPA
Alberto Bittencourt
(sobre imagem de
Igor Link/Shutterstock)
DIAGRAMAÇÃO
Guilherme Fagundes
PRODUÇÃO DO LIVRO DIGITAL
Booknando
Miklowitz, David J.
Bipolaridade [livro eletrônico] : transtorno bipolar / David J. Miklowitz ; [tradução Gil
Reyes]. -- 1. ed. -- Belo Horizonte, MG : Autêntica Editora, 2023. -- (Aprendendo a viver)
ePub
Título original: The Bipolar Disorder Survival Guide: What You and Your Family Need to
Know
Bibliogra a
ISBN 978-65-5928-357-6
23-181262 CDD-616.895
1 GRUPO AUTÊNTICA
Belo Horizonte
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Bipolaridade
SUMÁRIO
Capa
O que estão falando sobre Bipolaridade - transtorno bipolar
Título
Ficha catalográfica
Folha de rosto
Sumário
Prefácio
Introdução – Transtorno bipolar: em que pé estamos?
PARTE I
A EXPERIÊNCIA E O DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO
BIPOLAR
Capítulo 1 – Como este livro pode ajudar você a sobreviver – e a prosperar
Capítulo 2 – Compreender a experiência do transtorno bipolar
Capítulo 3 – No tribunal do médico: obter um diagnóstico preciso
Capítulo 4 – “É a doença ou sou eu?”: como lidar com o diagnóstico
PARTE II
CONSTRUIR OS ALICERCES DE UM TRATAMENTO EFICAZ
Capítulo 5 – De onde vem o transtorno bipolar: genética, biologia e estresse
Capítulo 6 – O que medicações e psicoterapia podem fazer por você
Capítulo 7 – Entrar em acordo com suas medicações
PARTE III
ESTRATÉGIAS PRÁTICAS PARA FICAR BEM
Capítulo 8 – Dicas para ajudar você a lidar com seus humores
Capítulo 9 – Evitar a progressão da mania
Capítulo 10 – Deter a espiral da depressão
Capítulo 11 – Superar pensamentos e sentimentos suicidas
Capítulo 12 – Para mulheres: o que você precisa saber sobre seu transtorno bipolar e
sua saúde
Capítulo 13 – Como funcionar bem em casa e no trabalho: comunicação, habilidades
para resolver problemas e como lidar de modo eficaz com o estigma
Capítulo 14 – “Será que meu filho tem transtorno bipolar?”: como você pode saber e o
que deve fazer
O transtorno bipolar pode ser um grande mestre. Ele é um desa o, mas pode torná-lo capaz de
fazer qualquer coisa na vida.
Carrie Fisher
Como defendi nas edições anteriores, é crucial medir o quanto você é capaz
de lidar com as coisas após um episódio do transtorno. Essa capacidade
varia consideravelmente conforme a pessoa. O nível de sintomas residuais
pode sugerir que você está melhorando, mas talvez mentalmente você não
se sinta à altura (veja a história de Martha no Capítulo 1). Além disso,
pessoas com transtorno bipolar nem sempre são capazes de dizer quando
seu funcionamento cognitivo está fora de prumo. Consequentemente,
membros da família podem ficar frustrados e culpá-las por não estarem se
esforçando o suficiente.
Prevenção eficaz: Ser capaz de colocar sua doença em um contexto informativo ajuda
a evitar ou pelo menos minimizar os danos associados a futuras recorrências e a
definir metas apropriadas para o seu futuro imediato e de longo prazo.
◼ Estratégias de autogestão
Além de tomar medicações e consultar um psiquiatra, existem boas e más
maneiras de lidar com seu transtorno. A autogestão requer que você aprenda a
reconhecer seus gatilhos individuais de episódios e ajuste sua vida de acordo
com eles. Este livro irá ensinar algumas ferramentas de autogestão que
provavelmente irão ampliar os períodos em que seus humores permanecem
estáveis. Por exemplo, Martha teria se bene ciado de monitorar seu padrão de
sono-vigília, ou de manter uma regularidade nas rotinas diurnas e noturnas,
por exemplo indo para a cama e acordando sempre na mesma hora, e essas
estratégias são descritas no Capítulo 8. Do mesmo modo, manter uma tabela
de humores (também descrita no Capítulo 8) teria fornecido a ela uma
estrutura para rastrear suas mudanças de humor no dia a dia, além de revelar
correspondências entre essas mudanças e utuações em seu sono, falhas em
tomar medicação e eventos estressantes. Vale lembrar que a piora no humor de
Martha foi precipitada por uma infecção respiratória e pela ocorrência de
barulhos na vizinhança, que causaram estresse e perturbaram seu padrão de
sono-vigília. Além de reconhecer esses eventos como gatilhos, Martha e seu
marido poderiam ter elaborado uma lista de sinais precoces de alerta, pois isso
os avisaria da possibilidade de ocorrer um novo episódio de mania. No caso de
Martha, esses sinais eram, entre outros, a irritabilidade e um interesse súbito e
não realista em desenvolver uma start-up de tecnologia. O Capítulo 9 oferece
uma visão abrangente de possíveis sinais de alerta precoces de mania.
Quando Martha cou deprimida pela primeira vez, certas estratégias
comportamentais poderiam ter evitado que ela mergulhasse mais na depressão
– como alguns exercícios de ativação de comportamentos e as técnicas de
reestruturação cognitiva, apresentados no Capítulo 10. Também teria sido útil
para ela saber que os pensamentos e sentimentos suicidas – um componente
comum da síndrome bipolar – podem ser combatidos por meio de estratégias
de prevenção que envolvem o apoio de amigos próximos e parentes, além de
aconselhamento e medicações, como descrito no Capítulo 11. Teria entendido
algumas das diferenças entre homens e mulheres durante a fase depressiva (por
exemplo, o papel do ciclo menstrual) e a lidar com algumas das complicações
de saúde sofridas pelas mulheres que tomam medicações estabilizadoras do
humor, como discutido no Capítulo 12.
Por m, muitas pessoas com transtorno bipolar preocupam-se que seus
lhos possam desenvolver o transtorno. Criar lhos nessas circunstâncias é
como viver com uma espada pairando sobre a cabeça. Martha se preocupava
muito com Kirsten, sua lha de 14 anos, que havia chegado à adolescência com
uma atitude vingativa, horários imprevisíveis, irritabilidade, isolamento,
problemas de sono e notas ruins na escola. Seria uma reação à doença da mãe
ou o início da sua própria doença? No Capítulo 14, você aprenderá a
identi car sinais precoces de alerta de bipolaridade em seus lhos, assim como
algumas estratégias úteis para obter um diagnóstico e, caso este se con rme,
como intervir o mais cedo possível.
◼ Lidar com eficácia no ambiente familiar e de trabalho
Martha passou mais cinco dias no hospital, mas, dessa vez, foi liberada com
um plano mais claro a seguir. Ela foi à consulta com o médico que passaria a
vê-la como paciente ambulatorial e a monitorar suas medicações e
correspondentes níveis séricos. A equipe de assistência social para pacientes
internados também a ajudou a marcar uma consulta ambulatorial com um
psicólogo especializado no tratamento de transtornos do humor. Dessa vez, ela
se sentiu melhor com a experiência de internação, mas estava muito
preocupada com o que poderia acontecer quando voltasse para casa.
Após a alta, Martha relatou aos amigos mais próximos o que havia
acontecido. Eles se mostraram acolhedores, mas diziam coisas como “Acho que
todo mundo é um pouco maníaco-depressivo” e “Talvez você estivesse apenas
trabalhando demais”. Quando revelou a uma amiga que estava tomando lítio,
esta disse: “Não vá car dependente, hein?”. Martha sentia que seus amigos
tentavam apoiá-la, mas essas mensagens a deixavam confusa. Será que estava
mesmo doente ou era apenas um momento difícil? Seus problemas eram de fato
uma doença ou só uma manifestação extrema de sua personalidade? A nal, o
médico já não a havia alertado de que as medicações estabilizadoras do humor
teriam que ser tomadas por muito tempo?
Eric, o marido de Martha, parecia não saber muito bem como se relacionar
com ela. Tinha uma preocupação genuína pela esposa e queria ajudá-la, mas
muitas vezes mostrava-se invasivo, como quando controlava se ela havia
tomado ou não a medicação. Ficava apontando pequenas variações nas reações
emocionais dela, em coisas que antes teriam passado despercebidas, mas que
agora ele rede nia como “suas rápidas ciclagens”. Martha, por sua vez, sentia
como se estivessem dizendo a ela que “não tinha mais permissão de expressar
reações emocionais normais”. Dizia ao marido: “Você não pode car me
passando o frasco de lítio toda vez que eu rio alto demais ou choro vendo um
lme”.
Outras vezes Eric cava irritado e a criticava por estar negligenciando os
cuidados com os lhos. De fato, ela não tinha mais energia su ciente para
levá-los às suas várias atividades ou pegá-los na escola pontualmente. Não se
sentia mais à altura das demandas sociais de ser mãe. “Você não está se
esforçando o su ciente”, Eric dizia. Ou: “Você precisa reagir e vencer essa
coisa”. Outras tantas, porém, dizia que ela não deveria assumir
responsabilidades demais por causa da doença. Martha cou confusa a respeito
do que seu marido esperava dela. O que nenhum dos dois entendia é que a
maioria das pessoas precisa de um período de convalescença mais tranquilo,
com poucas demandas, depois de uma hospitalização, para poder se recuperar
totalmente de um episódio de transtorno bipolar.
Os lhos olhavam para Martha com descon ança, já antevendo que ela
iria explodir em um de seus acessos de irritação, como vinha fazendo antes de
ser hospitalizada. Ela começou a sentir que a família se unia contra ela. Esse
estresse familiar após seu episódio contribuiu para agravar sua depressão e seu
desejo de se isolar.
Em razão da pressão econômica que a família sofria, Martha decidiu voltar
imediatamente ao seu emprego de meio período como programadora de
computação, mas não se sentiu capaz de lidar com o longo trajeto de ida e
volta ao trabalho. Quando chegava, cava parada olhando a tela do
computador. “Os programas que eu costumava dominar bem agora pareciam
ininteligíveis”, queixava-se. Por m, contou ao patrão que havia tido uma
hospitalização psiquiátrica. De início, ele pareceu entender, mas logo começou
a pressioná-la para que voltasse às tarefas mais simples que fazia antes. Ela se
sentia mal com os colegas de trabalho, que pareciam intimidados e esquivos, já
que “me tratavam com luvas de pelica”. As mudanças de turno de trabalho,
que já eram parte da rotina do emprego, passaram a ser vistas como algo que
agravava suas oscilações de humor.
MARTHA: EPÍLOGO
O primeiro ano de Martha após suas duas hospitalizações foi muito difícil,
mas agora, vários anos depois, ela está se saindo bem melhor. Encontrou um
psiquiatra com quem se sente à vontade. Está tomando lítio, lamotrigina e
suplemento para tiroide. Seu humor e comportamento ainda têm altos e baixos
– por exemplo, ela reage com muita intensidade nas divergências com o marido
e ainda tem períodos em que se sente em baixa e desmotivada –, mas seus
sintomas não são mais incapacitantes. Em parte, graças à sua disposição de se
comprometer com um programa de medicações estabilizadoras do humor, ela
não tem precisado mais do tratamento intensivo com internação que recebeu
no início.
Martha e Eric têm melhorado seu relacionamento. Vão regularmente a um
terapeuta de casais, e isso ajuda os dois a distinguir de que maneira o
transtorno afeta seu relacionamento, a ver como os con itos em seu
relacionamento afetam o transtorno e quais problemas em sua vida familiar
não têm qualquer relação com a doença dela. Juntos elaboraram uma lista de
sinais que indicam a iminência de episódios, com as medidas a tomar quando
esses sinais aparecem (por exemplo, ligar para o médico e marcar uma consulta
para ajustar as medicações dela e, se possível, evitar a hospitalização). Os lhos
passaram a aceitar melhor suas variações de humor, e ela cou mais motivada
a exercer seu papel de mãe. Para Kirsten, sua lha de 14 anos, Martha
conseguiu uma avaliação com um psiquiatra infantil no mesmo local em que
ela recebeu seu tratamento. O psiquiatra concluiu que Kirsten desenvolveu
uma depressão leve, talvez relacionada a eventos em sua vida familiar e a um
namorado com o qual as coisas não deram certo. Foi recomendada terapia
individual, que funcionou bem.
Martha teve frustrações em seu local de trabalho e nalmente chegou à
conclusão de que: “Eu simplesmente não fui feita para trabalhar das nove às
cinco”. Decidiu então pegar um trabalho como freelancer que, mesmo não
sendo tão compensador nanceiramente, reduziu seu estresse e lhe permitiu
organizar melhor seus horários.
Martha agora tem uma boa compreensão do transtorno e de como lidar
com ele. Por exemplo, ao manter uma tabela sobre seus humores, ela aprendeu
a distinguir – nela e em outras pessoas – quais são as oscilações cotidianas
normais e quais são as oscilações de humor mais dramáticas de sua doença
bipolar. Aprendeu a manter um ciclo regular de sono-vigília. Reconhece que
manter seu transtorno bem controlado é a chave para atender às suas
expectativas em relação a si mesma. Sente-se agora mais confortável em con ar
e em aceitar o apoio do marido e, especialmente, o de uma amiga próxima,
toda vez que se sente deprimida ou com inclinações suicidas.
Martha reconhece que seu transtorno é recorrente, mas também constata
que tem maior controle sobre seu destino. Ao resumir sua maior capacidade de
lidar com a bipolaridade, a rmou: “Aprendi a aceitar que tenho algo
bioquímico que ca caótico, mas isso não é a soma total de quem eu sou. Se eu
pudesse mudar uma coisa a meu respeito, seria os humores das outras pessoas e
como eles me afetam, mesmo sabendo que isso é problema delas e não meu”.
Lauren descreve a si mesma como uma “viciada em exercício”. Nas últimas três
semanas, seu dia típico foi assim: Depois de deixar os lhos na escola, ela corre
para a academia e pedala uma bicicleta ergométrica por até duas horas. Então
toma um pote de 170 gramas de iogurte e passa a maior parte da tarde
fazendo caminhadas. Pega os lhos na escola, dá janta para eles e passa a
maior parte da noite no aparelho simulador de escada. Ela só foi consultar seu
psiquiatra quando, no nal da segunda semana, constatou que estava exausta e
incapaz de funcionar. Então deixou os lhos com os avós e passou vários dias
dormindo. Ela admitiu ter cumprido ciclos como esse várias vezes.
Agora vejamos de que modo Lauren, a mãe dela e o médico descrevem seu
comportamento. Lauren diz que seus problemas têm a ver com o fato de ser
muito atarefada. “É incrivelmente difícil cuidar de três crianças, manter a casa e
tentar permanecer saudável”, argumenta. “Meu ex-marido ajuda pouco, e não
tenho muitos amigos que possam me dar uma força. Às vezes exijo demais de
mim, mas sempre me recupero.” A mãe de Lauren acha que ela é “irresponsável
e autocentrada”, que “prefere car malhando do que cuidar dos lhos”, e
duvida de que as crianças estejam tendo su ciente orientação e estrutura. O
médico de Lauren diagnosticou-a com transtorno bipolar II.
Quem tem razão? Lauren acha que seu comportamento é consequência de
seu ambiente. A mãe descreve os mesmos comportamentos como movidos
pelos atributos de personalidade da lha. E seu psiquiatra acha que ela tem um
transtorno de humor de base biológica. Esses diferentes pontos de vista criam
um problema para Lauren, porque levam a soluções diferentes para a situação.
Lauren sente que os outros – particularmente sua mãe – teriam que ser mais
solícitos e ajudá-la mais. A mãe acha que Lauren precisa ser mais responsável. E
o médico acha que Lauren deve tomar medicação estabilizadora do humor.
Quase todo paciente com que trabalhei descreve seu comportamento de
maneira diferente em comparação com o que fazem seu médico e seus
familiares. Vejamos o exemplo de Brent, que vem tendo di culdade em se
manter em seus empregos. Ele diz que está deprimido, e sente que isso se deve
à sua incapacidade de lidar com patrões excessivamente críticos. Portanto,
acredita que precisa ir mudando de emprego até encontrar um ambiente de
trabalho mais permissivo. Sua mulher, Alice, diz que ele é maníaco e irritável, e
não deprimido, e que precisa de uma psicoterapia de longo prazo para lidar
com seus problemas em relação a guras masculinas de autoridade. Ela
também acha que ele bebe demais e que teria que frequentar as reuniões da
Alcoólicos Anônimos. O médico de Brent a rma que ele está tendo um
episódio depressivo pós-maníaco e que seria bom ele adotar uma combinação
de medicações e fazer terapia de casal.
Psiquiatras e psicólogos veem o transtorno bipolar como um conjunto de
sintomas, que se apresentam em agregados (isto é, mais de um por vez) e
devem durar certa extensão de tempo, geralmente de nida como “episódio”,
que tem uma fase inicial, depois uma fase na qual os sintomas estão na sua pior
expressão e uma fase nal de recuperação (ver quadro “O que é um episódio de
humor bipolar?”, adiante). A abordagem tradicional ao diagnóstico psiquiátrico
descrita no Capítulo 3 segue essa linha de raciocínio. Já as pessoas com a
doença geralmente preferem encarar o transtorno bipolar como uma série de
experiências de vida, e conferem aos sintomas reais uma importância
secundária em relação aos fatores que os provocam. E os membros da família
ou demais pessoas relevantes podem ter um ponto de vista totalmente diverso,
talvez com ênfase na personalidade do paciente ou encarando o
comportamento desviante sob uma perspectiva histórica (por exemplo, “Ela
sempre foi instável”). Embora esses pontos de vista sejam muito diferentes,
todos têm certo grau de validade.
Neste capítulo, você terá uma noção das diferentes perspectivas que as
pessoas assumem na compreensão das oscilações de humor bipolares e de como
esses diferentes pontos de vista podem levar a crenças muito diversas a respeito
dos tratamentos a serem empreendidos. Essas perspectivas abrangem o ponto
de vista pessoal, conforme descrito pelos pacientes afetados pelo transtorno; o
ponto de vista dos observadores, geralmente os parentes, o cônjuge/parceiro(a)
ou amigos próximos; e o ponto de vista do médico. Claro que há também o
ponto de vista da sociedade como um todo, que pode se basear no estigma da
doença mental ou em noções parciais do que signi ca estar mentalmente
doente. Qualquer um desses pontos de vista pode in uenciar o seu. As
perguntas que você deve fazer a si mesmo ao ler este capítulo são:
“De que modo eu experimento as oscilações no meu humor?”
“Elas são similares às oscilações que outras pessoas com transtorno bipolar
experimentam?”
“De que maneira compreendo as causas do meu comportamento?”
“De que modo minha compreensão difere da maneira como os outros me
percebem?”
“De que maneira o modo em que me vejo difere do modo em que meu
médico me vê?”
“Essas diferentes compreensões implicam divergências em relação aos
tratamentos?”
“Será que minhas escolhas são movidas por expectativas do ambiente
social, fazendo-me sentir que não posso falar com ninguém a respeito?”
Compreender esses pontos de vista variados será muito útil, tanto se você
está no seu primeiro episódio como se já teve vários, pois dará alguma clareza a
respeito de como suas experiências diferem daquelas de pessoas que não têm
transtorno bipolar. Também podem fazer você entender por que sua família ou
seu ambiente de trabalho ou social parecem estar tão certos de que você irá se
bene ciar de medicações, mesmo que não concorde com isso.
Um conjunto de sintomas que aparecem ao mesmo tempo, com uma fase inicial
prodrômica, uma fase intermediária aguda, e uma fase final de recuperação.
A polaridade de um episódio de humor pode ser depressiva, maníaca,
hipomaníaca ou mista.
Episódios podem durar de poucos dias a vários meses.
Algumas pessoas mudam de polaridade no decorrer de um episódio (por
exemplo, de depressivo a maníaco ou de maníaco a misto).
A maioria das pessoas com transtorno bipolar descreve seus humores como
instáveis, imprevisíveis, “arbitrários” ou “como uma gangorra”. Estados de
humor podem ser irritáveis (tanto durante a depressão como na mania),
eufóricos, exaltados ou excessivamente frívolos (mania), ou extremamente
tristes ou mesmo apáticos (depressão).
Janelle: Eu
quero voltar e viver com você. Posso dar conta disso.
Mãe: Mas você ainda não está bem agora. Veja só o quanto cou com raiva.
Janelle: Mas
você disse que eu ainda não estava pronta para tomar conta de mim
mesma! É claro que eu explodi!
Mãe: E não está pronta mesmo. Sei disso porque você reage de um jeito
exagerado comigo, e isso me diz que talvez ainda não tenha melhorado.
Aceleração na energia
“Sinto como se tivesse um motor acoplado. Todo o resto se move devagar demais, e o que eu quero é ir, ir, ir.
Sinto-me como um daqueles brinquedos em que a gente dá corda e eles saem girando ou dando
cambalhotas ou o que for... e ter que parar me faz sentir como se estivesse enjaulada.”
– Mulher de 38 anos com transtorno bipolar I
Comportamentos grandiosos
Com muita frequência, o aumento de atividade é acompanhado por
pensamentos ou comportamentos grandiosos. É a grandiosidade daqueles
comportamentos que a maioria consideraria “exagerados”, perigosos, e não
realistas. Costumam estar associados a uma autoestima in ada (às vezes
delirante) ou a crenças exageradas a respeito dos próprios poderes ou aptidões.
“Entrei num restaurante superchique com minha mãe e comecei a saltar e correr por ali, e havia aqueles
lustres no teto. Eu me imaginei o Super-Homem ou algo assim, e dei um salto e me dependurei num dos
lustres e quei balançando.”
– Homem de 21 anos descrevendo seu comportamento
maníaco bipolar I
Desaceleração depressiva
Para cada exemplo que demos agora, você pode imaginar como seria uma
contrapartida dele na fase depressiva. Na depressão, você pode car muito
desacelerado, como se estivesse “movendo-se no melaço”. A mais prosaica das
tarefas parece exigir um esforço tremendo. Seu apetite ca anormalmente
diminuído, e tomar banho ou escovar os dentes parece algo muito trabalhoso.
Tipicamente, a última coisa que uma pessoa deprimida quer fazer é sexo, e
exercitar-se tem apelo ainda menor. Socializar parece uma obrigação
desagradável, que requer excessiva concentração e energia mental. E pode
também soar ameaçador, mesmo que aqueles com quem você tem contato
sejam amigos ou vizinhos. Na depressão, pode parecer quase impossível iniciar
essas coisas mesmo que você queira desesperadamente. Em outras palavras, a
depressão é muito diferente de ter preguiça.
Quando na hipomania e na mania há uma exacerbação dos estados
motivacionais, é possível realizar coisas importantes, e conceber planos
signi cativos para seu avanço pessoal. Infelizmente, a fase depressiva que se
segue a esses estados motivacionais exacerbados pode fazer com que esses
planos pareçam difíceis ou mesmo impossíveis de realizar. A incapacidade de
levar adiante planos que foram concebidos na fase maníaca podem se tornar
uma fonte de desespero na fase depressiva. Um rapaz de 19 anos com
transtorno bipolar descreveu a passagem da mania à depressão nos seguintes
termos: “Sou como um gol nho. Eu voo alto no ar e então grito, ‘Vou descer
de novo!’. E então mergulho fundo na água, e nessa hora todo o ar, o brilho do
sol e a brisa do oceano simplesmente desaparecem”.
“Ela se envolve nesses projetos criativos que todos nós apoiamos, como pintar
pratos à mão ou fazer esculturas em sabão e tentar vendê-las. Mas então ela
parece levar isso longe demais. Tenta vendê-los pelo Instagram e então ca
irritada e frenética e passa a noite inteira no computador – e então entra em
colapso e todos os projetos vão para o ralo.”
◼ Pensamentos suicidas
As ruminações costumam assumir a forma de preocupações suicidas –
pensamentos a respeito das várias maneiras em que alguém pode se matar.
Essas ruminações são mais comuns nos episódios depressivos ou mistos, mas
podem aparecer também durante a mania. Dependendo do grau de desespero
da pessoa, ela pode chegar a agir a partir desses pensamentos ou impulsos, com
consequências muitas vezes trágicas.
Amigos e familiares carão particularmente perturbados e assustados com
os seus pensamentos suicidas se você os verbalizar, e na maioria das vezes farão
o melhor possível para ajudá-lo a lidar com isso, mesmo que não saibam muito
bem o que dizer ou fazer. É provável que seu terapeuta ou médico também lhe
faça perguntas a respeito (por exemplo, “Tem tido algum pensamento de se
machucar ou de se matar, como acontece com muitas pessoas quando estão
deprimidas?”). Se você nunca teve pensamentos suicidas antes e está tendo
agora, pode car com medo de expressá-los. Talvez tenha receio de que se o
zer o médico mande interná-lo imediatamente. Claro que essa é uma das
opções de tratamento, mas não a única. Entre as outras, temos psicoterapia,
modi cações do seu regime de medicação e/ou várias formas de apoio da
comunidade ou da família.
Aproveite a oportunidade para discutir pensamentos suicidas com seu
médico ou terapeuta – você talvez constate que alguns deles se dissipam depois
que você consegue compartilhá-los com alguém. Talvez aprenda também que
os pro ssionais de saúde mental são mais úteis nessas horas do que você
imaginava. Vou discutir sentimentos e ações suicidas com maior detalhe no
Capítulo 11.
◼ Perturbações do sono
Quase todo mundo que tem transtorno bipolar experimenta perturbações
do sono no período ascendente e durante seus episódios. Quando você está na
fase maníaca, pode não sentir necessidade de dormir. Dormir soa como um
desperdício de tempo, especialmente quando é possível realizar tantas coisas no
meio da noite! Se você está em hipomania, pode achar que consegue funcionar
bem com apenas 4 horas de sono e não se sentir cansado com isso. Já na
depressão, dormir pode ser a única coisa que você tem vontade de fazer.
Quando deprimido, você pode car com sonolência excessiva, dormindo
muito mais que o usual (por exemplo, 16 horas por dia) e também
improdutivo e incapaz de funcionar fora de sua casa. Ou então pode ter
insônia e achar que dormir é uma fuga. Talvez que acordado à noite revirando
na cama, ruminando os mesmos problemas sem parar, e então se sentir exausto
no dia seguinte. Dormir pode dar a impressão de ser algo frustrante, fora de
seu alcance.
Os problemas de sono são um sintoma de transtorno bipolar, ou são eles
que na realidade causam problemas de humor? Ao que parece, são ao mesmo
tempo sintoma e causa. A maioria das pessoas sofre alterações de humor
quando tem problemas para pegar no sono, mas pessoas com transtorno
bipolar se tornam particularmente vulneráveis a mudanças em seu ciclo de
sono-vigília (Harvey, 2011). Falarei mais sobre perturbações do sono e estados
de humor no Capítulo 5.
É provável que seu médico lhe pergunte a respeito de perturbações do sono,
e queira saber também se a ênfase do problema está em pegar no sono, em
acordar no meio da noite ou em despertar cedo demais. Uma pergunta-chave é
se você tem insônia (incapacidade de adormecer ou continuar dormindo, o que
costuma ser indício de depressão) ou diminuição da necessidade de sono, o que
signi ca que você não dorme muito porque acha que não precisa (sinal de
mania ou hipomania). Ele talvez peça para você manter um registro do seu
sono se tiver di culdades em de nir a natureza de suas perturbações. Seu
cônjuge ou parceiro pode ser afetado pelos seus padrões de sono – quando uma
pessoa não consegue dormir, a outra muitas vezes também tem di culdade. Sua
própria irritabilidade, assim como a dos membros da sua família, pode ter a ver
com a falta de sono ou com hábitos de sono inconsistentes.
Outra pessoa com transtorno bipolar, ad, 27 anos, foi menos claro a
respeito da razão de beber quando está em mania. No hospital, resumiu isso da
seguinte forma: “Não sei o que acontece comigo e com a bebida. Sei que não é
engraçado, mas toda vez que co assim [exaltado, maníaco], parece que
simplesmente preciso de um gole”.
Os membros da família podem car mais incomodados se você usar bebida
e drogas do que com suas oscilações de humor. Podem até de nir que seus
problemas estão relacionados ao uso de álcool e drogas e rejeitar o diagnóstico
bipolar, achando que é apenas uma maneira de você justi car o fato de
continuar bebendo. Talvez estejam equivocados a respeito disso, mas você
precisa passar por um meticuloso processo diagnóstico e de avaliação de seu
histórico de vida para saber ao certo se de fato as duas coisas estão envolvidas
(ver Capítulo 3).
Seu médico provavelmente será cético em relação ao diagnóstico bipolar a
não ser que haja evidência concreta de que suas oscilações de humor ocorrem
sem que você esteja usando drogas ou álcool. Jeff, por exemplo, havia tido
vários episódios maníacos antes de desenvolver problemas com álcool, e o
diagnóstico de bipolaridade parecia justi cado. Por outro lado, os problemas de
Kate com o álcool se desenvolveram bem antes que houvesse qualquer
evidência de oscilações de humor, e seus episódios de humor – apesar de
caracterizados por irritabilidade, perturbações do sono, letargia, inclinações
suicidas e impulsividade – acabaram sendo atribuídos aos efeitos do excesso de
álcool.
Aquele questionamento interminável finalmente foi concluído. Meu psiquiatra olhou para
mim, não havia hesitação em sua voz. “Doença maníaco-depressiva”, afirmou. Admirei sua
franqueza. Desejei que suas terras se enchessem de gafanhotos e sua casa se infestasse de
pragas. Uma raiva silenciosa, inacreditável. Sorri afavelmente. Ele sorriu de volta. A guerra
mal começara.
Prevenção eficaz: Um diagnóstico preciso – que diga se você tem de fato transtorno
bipolar, de que tipo, e se tem quaisquer transtornos comórbidos – leva a um
prognóstico mais claro (a capacidade de prever o provável curso que seu transtorno
irá seguir), o que pode ajudar a minimizar os problemas em sua vida associados aos
episódios de transtorno de humor.
◼ Transtorno bipolar I
O quadro a seguir descreve os principais subtipos de transtorno bipolar
listados no DSM-5. Para o diagnóstico de transtorno bipolar I, você precisa
ter tido pelo menos um episódio maníaco caracterizado por um período
sustentado de humor exaltado, eufórico ou irritável, aumento da atividade e
do nível de energia, e três outros sintomas maníacos associados
(pensamento grandioso; diminuição da necessidade de sono; fala acelerada;
frenesi de pensamentos ou ideias fluindo em rápida sucessão; aumento das
atividades, voltadas para alguma meta ou simplesmente agitadas ou sem
propósito; dispersão ou comportamento impulsivo), que durem uma semana
ou mais ou tenham sido interrompidos por tratamento emergencial. Os
sintomas têm que causar comprometimento no funcionamento, como
problemas no trabalho, na escola ou em casa. Se há ocorrência de sintomas
maníacos concomitante com três ou mais sintomas de depressão, o episódio
é referido como “misto”. Note que esses sintomas captam a essência das
experiências subjetivas de mania descritas no Capítulo 2: os estados de
humor tipo montanha-russa, aumento na atividade e na motivação,
alterações no pensamento e na percepção e comportamentos impulsivos ou
autodestrutivos.
Se essa é a primeira vez que você depara com esses critérios, talvez reaja
negativamente ao ver o quanto esses rótulos dos sintomas são reducionistas:
o que você vê como um vislumbre claro e como a energia que lhe permite
realizar coisas importantes pode ser rotulado pelo DSM-5, por exemplo,
como grandiosidade. Essas reações certamente são compreensíveis. Tais
rótulos dos sintomas são uma espécie de taquigrafia, uma síntese de
experiências de vida e estados de humor muito complexos, como os
próprios rótulos diagnósticos.
Na maioria dos casos, uma pessoa com transtorno bipolar I também terá
tido, em algum ponto da vida, um episódio depressivo maior: isto é, um
período de no mínimo 2 semanas com pelo menos cinco sintomas de uma
doença depressiva grave (ânimo em baixa, perda de interesse, perda de peso
ou alteração no apetite, falta de energia, fadiga, movimentos agitados ou
lentos, dificuldade de concentração, baixa autoestima, perturbações do
sono, pensamentos ou ações suicidas), com significativa dificuldade para
funcionar bem no dia a dia.
Transtorno bipolar I
Pelo menos um episódio de mania na vida.
Embora não exigido para o diagnóstico, pelo menos um episódio na vida de
transtorno depressivo grave.
Transtorno bipolar II
Pelo menos um episódio na vida de transtorno hipomaníaco.
Pelo menos um episódio na vida de transtorno depressivo grave.
Se você nunca teve um episódio depressivo maior, mas teve mania, seu
médico ainda irá diagnosticá-lo com transtorno bipolar I, com base na
suposição de que uma depressão acabará acontecendo se o seu transtorno
não for tratado adequadamente. Na realidade, há pessoas que tiveram
apenas episódios maníacos ou mistos (“mania unipolar”), mas é algo raro:
em um estudo de acompanhamento durante 20 anos, de 27 pessoas que
tiveram um episódio maníaco, mas sem períodos de depressão, 20
desenvolveram um episódio depressivo nesse ínterim, sugerindo que a
maioria das pessoas com mania unipolar simplesmente não teve ainda um
episódio depressivo (Solomon et al., 2003).
Ciclagem rápida
A ciclagem rápida é um “especificador de curso” no sistema do DSM-5,
significando que pode acompanhar o bipolar I, o II, ou os subtipos não
específicos. Na ciclagem rápida, as pessoas ficam indo e voltando da mania
ou hipomania para a depressão ou mania mista/depressão, com quatro ou
mais episódios distintos num único ano. Em outras palavras, você tem
vários episódios num curto período de tempo. Algumas pessoas chegam a
ter ciclagem ultrarrápida, quando têm pelo menos um episódio por mês, ou
ciclagem ultradiana, quando passam de um polo de humor a outro várias
vezes em 1 semana, ou mesmo em um único período de 24 horas.
Se você tem ciclagem rápida, pode ter sintomas que não se enquadram
claramente nos critérios de um transtorno de humor – por exemplo,
ansiedade grave ou enxaqueca (Gordon-Smith et al., 2015).
Consequentemente, talvez tenha que superar uma série de tentativas e erros
com seu médico até encontrar a combinação correta de medicações. Ele
deve ajudá-lo a excluir outros fatores que poderiam contribuir para suas
frequentes mudanças de humor, como anormalidades da tiroide. A boa
notícia é que a ciclagem rápida parece ser um fenômeno limitado no tempo,
isto é, as pessoas não ciclam rapidamente a vida inteira (Coryell, 2009;
Schneck et al., 2008). Vou falar mais sobre ciclagem frequente no Capítulo
6, a respeito de tratamentos com drogas.
Médico: E uma semana em que se sentiu com a corda toda, cheio de energia?
Rego: Sim.
Rego: Não dormia quase nada! Não sentia sono, e ficava chateado quando as
pessoas diziam que eu precisava dormir.
Médico: Chateado? Conte mais sobre isso.
Rego:Bem, é que ninguém dava valor para o que eu estava tentando fazer.
Tinha a impressão de que todo mundo se movia devagar demais. Uma
vez, dei a maior bronca num cara por ter me ligado quando eu estava no
meio de um projeto. E gritei com meus filhos um monte de vezes porque
ficavam me interrompendo.
◼ O que você pode fazer quando suspeita que foi mal diagnosticado?
São muitas as razões pelas quais o transtorno bipolar pode ser difícil de
distinguir de outros transtornos. Em primeiro lugar, os humores podem
variar por uma série de razões, entre elas hormônios, estresse pessoal,
problemas de sono, perturbações de personalidade, doenças do cérebro ou
ingestão de drogas ou álcool. Em segundo lugar, pessoas com o transtorno
muitas vezes têm dificuldade para descrever seus estados de humor aos
outros e relatar um histórico preciso de seu transtorno. Em terceiro lugar, os
profissionais de saúde mental nem sempre foram adequadamente treinados
para identificar formas sutis do transtorno (por exemplo, estados mistos,
ciclagem rápida, mania com ansiedade, hipomania).
Também pode ocorrer confusão na avaliação em razão dos próprios
critérios de diagnóstico. Certos sintomas são característicos de mais de um
transtorno. Experiências psicóticas (por exemplo, delírios de grandeza)
podem ocorrer em outros transtornos além do bipolar, como na
esquizofrenia. Problemas de dispersão ocorrem na mania e também no
TDAH. Perturbações do sono e irritabilidade podem ocorrer na depressão,
nos transtornos de ansiedade ou nos transtornos psicóticos. As variações de
humor – alterações do humor rápidas e de curta duração – são o aspecto-
chave do transtorno de personalidade borderline tanto quanto do transtorno
bipolar.
Tente ser o mais paciente possível em relação ao processo diagnóstico. O
uso disseminado do DSM-5 e a melhora no treinamento oferecido para
reconhecimento dos transtornos do humor tornam os diagnósticos mais
confiáveis do que costumavam ser. Mesmo assim, é inevitável que ocorram
erros. Seu médico pode precisar observar você durante um episódio e
também depois que você se recupera, para ter certeza do diagnóstico. Se
você tem dúvidas consistentes a respeito do diagnóstico que lhe foi dado, é
uma boa ideia procurar uma segunda opinião.
Se você não ficou convencido de que o diagnóstico está correto, aborde com seu
médico as seguintes questões:
Se você for procurar uma segunda opinião, esteja preparado para ouvir
de novo algumas das perguntas sobre seus sintomas que lhe foram feitas da
primeira vez. Conte ao seu novo psiquiatra por que você acha que tem outro
transtorno e não o bipolar e, especificamente, por que acha que os critérios
de diagnóstico para transtorno bipolar não estão se encaixando.
Alternativamente, se você acha que o diagnóstico bipolar está correto, mas
teve um diagnóstico diferente, diga ao novo médico por que acredita nisso.
Vá acompanhado por um membro da família, alguém relevante ou um
amigo de confiança. Essa pessoa pode ter outro ponto de vista sobre seus
sintomas e experiências de vida, e isso às vezes é útil para o profissional de
saúde mental que faz o diagnóstico.
Acima de tudo, é importante trabalhar de maneira cooperativa com seu
médico. Revele tudo o que for possível sobre seu histórico e relate os
eventos e sintomas da maneira mais exata possível, mesmo quando seja
algo embaraçoso ou doloroso de expor. Tente ver as coisas do ponto de vista
do médico, mesmo que as perguntas dele ou dela às vezes pareçam
despropositadas.
◼ Transtornos comórbidos
O termo comorbidade refere-se à ocorrência de dois ou mais transtornos
psiquiátricos no mesmo paciente (usualmente ao mesmo tempo). Muitas
pessoas têm mais de um transtorno psiquiátrico, daqueles que constam do
DSM-5. Na prática clínica, é comum receber diagnósticos múltiplos, às
vezes porque a pessoa tem mais de um transtorno e, outras vezes, porque o
clínico não está muito seguro a respeito de qual diagnóstico se aplica
melhor, e então diagnostica mais de um transtorno. Um grande
levantamento, cuidadosamente concebido, a respeito de transtornos
psiquiátricos na população em geral – o National Comorbidity Survey
Replication – concluiu que 45% das pessoas com transtorno psiquiátrico
reportam dois ou mais transtornos (Kessler et al. 2005). Pessoas com
transtorno bipolar muitas vezes reportaram TDAH comórbido, transtornos
de ansiedade ou transtornos por abuso de álcool e drogas.
Qual é o quadro de uma pessoa com dois ou mais transtornos
comórbidos? Vejamos o caso de Elena, uma mulher de 49 anos com
transtorno bipolar II e TDAH.
Carla, 27 anos, ligava para o namorado até 10 vezes por dia. Quando
fazia isso, muitas vezes reclamava que ele “não estava nem aí para
ela”, e, se não conseguisse falar com ele, acusava-o de estar com outra
mulher. Quando ficava sozinha, sentia como se estivesse
desaparecendo, e tinha um desejo incontrolável de fumar, comer sem
parar, beber, vomitar, ou se cortar com vidro. Ela tentou se ferir várias
vezes, mas não de maneiras muito graves que chegassem a ameaçar
sua vida. Esses problemas estenderam-se por vários anos, apesar de
ela estar em psicoterapia e ter tentado várias formas de medicação
antidepressiva.
Transtorno ciclotímico
Você tem...
Períodos curtos em que se sente ativo, irritável e excitado?
Períodos curtos em que se sente levemente deprimido?
Tendência a alternar esses dois estados?
Para complicar ainda mais as coisas, você pode ter uma forma flutuante
de transtorno do humor marcada por curtos períodos de hipomania
alternados com períodos curtos, leves ou moderados de depressão. Para ter
transtorno ciclotímico, você precisa alternar esses períodos de alta e baixa
por pelo menos dois anos consecutivos e nunca ter ficado livre de sintomas
de transtorno do humor por mais de dois meses a cada vez (American
Psychiatric Association, 2013). De que modo isso difere do transtorno
bipolar II ou do transtorno bipolar não específico? Vejamos a seguinte
descrição:
Esquizofrenia
Se você é uma pessoa com esquizofrenia, irá experimentar alguns dos
seguintes sintomas:
Delírios, como acreditar que está sendo seguido, que seus pensamentos
são controlados por uma força exterior, ou que estão sendo roubados
ou alterados de algum modo, ou que alguém (ou alguma organização)
quer agredi-lo.
Alucinações, nas quais você ouve vozes ou tem visões (ou, em casos
mais raros, tem sensações de gosto ou cheiro que os demais não têm).
Falta de motivação, apatia e desinteresse em ter contato com quem
quer que seja.
Perda ou “embotamento” das emoções.
Comunicação e pensamento atravancados ou confusos.
Pode ser muito difícil distinguir transtorno bipolar de esquizofrenia,
especialmente quando a pessoa procura tratamento pela primeira vez ou tem
uma primeira hospitalização. Pessoas com esquizofrenia não têm múltiplas
personalidades, como se costuma acreditar. Em vez disso, têm delírios
(crenças equivocadas, não realistas) ou alucinações (experiências sensoriais,
como ouvir vozes, sem que haja um estímulo real). Podem experimentar
depressões graves, mas, em geral, seu maior problema é perder o contato
com as próprias emoções (redução ou embotamento do afeto). Pessoas com
transtorno bipolar também têm às vezes delírios e alucinações, que são
típicos (mas não sempre) de um tipo maníaco, grandioso (por exemplo,
“Entrei em ótima sintonia com percepções extrassensoriais”) ou então
depressivo (por exemplo, “Mereço ser punido pelas minhas más ações”).
De acordo com os critérios do DSM-5, você tem transtorno bipolar em
vez de esquizofrenia se, durante seus episódios, sua experiência intensa de
oscilações de emoção e energia ou de níveis de atividade, e seus delírios e
alucinações (se é que chegam a ocorrer) só aparecem depois da
manifestação de suas oscilações de humor. Se seus delírios e alucinações se
desenvolvem antes que seu humor oscile e/ou persistem depois que seus
sintomas depressivos ou maníacos desaparecem, você mais provavelmente
será diagnosticado com esquizofrenia ou com transtorno esquizoafetivo,
uma combinação das categorias de esquizofrenia e transtorno do humor.
Essas distinções são importantes para o seu prognóstico. O desfecho de
longo prazo da esquizofrenia – em termos de gravidade dos sintomas,
número de hospitalizações, aptidão para o trabalho e outros indicadores de
qualidade de vida – é pior que o do transtorno esquizoafetivo ou do
transtorno bipolar (Goghari; Harrow, 2016; Harrow et al. 2000). Também
tem implicações no tratamento. Se o seu diagnóstico é de esquizofrenia ou
de transtorno esquizoafetivo, é provável que seu médico coloque você em
drogas como a ziprasidona ou risperidona antes de introduzir o lítio ou
outros estabilizadores do humor (ver também o Capítulo 6). Estes são ASGs
s com propriedades de estabilização do humor. Se o médico sente que seu
diagnóstico bipolar é exato, mas você tem sintomas psicóticos ou agitação
intensa, ele ou ela pode recomendar uma dessas drogas junto com um
agente estabilizador do humor. Vejamos a experiência de Kurt, 19 anos:
Kurt acreditava que havia uma “gangue de nove” que vagava pelo
planeta e que estava à sua procura. Descrevia o seu “eu” como uma
concha que estava aos poucos se deteriorando e que acabaria sendo
levada embora por essa gangue. Quando ele ficava preocupado com
essa gangue de nove, sentia-se acelerado, irritável, facilmente caía no
choro, falava a cem por hora e parava de dormir. Ele foi hospitalizado
porque seu pensamento tornou-se cada vez mais bizarro e os pais
ficaram com medo dele. Quando seu irmão mais velho foi visitá-lo no
hospital, Kurt correu até ele, abraçou-o, começou a chorar e gritou:
“Obrigado por me salvar!”. Após o tratamento no hospital com
risperidona, ele se acalmou bastante e voltou a dormir. Mas continuou
achando que uma gangue estava atrás dele e que seus membros só
estavam aguardando que tivesse alta do hospital.
Note que a principal perturbação de Kurt é em seus processos de
pensamento e não no seu humor. Ele continuou a se preocupar com suas
crenças mesmo depois que seu humor e sono melhoraram. Teve diagnóstico
de transtorno esquizoafetivo em vez de transtorno bipolar. Essas distinções
de diagnóstico estão entre as mais difíceis de tornar confiáveis. Com
frequência, pessoas com padrões pouco claros de sintomas precisam ser
observadas ao longo de vários episódios e experimentar medicações
diferentes até que seu diagnóstico fique claro.
Transtornos de ansiedade
Transtornos de ansiedade podem ocorrer em até 75% dos pacientes com
transtorno bipolar I ou II, e o que há de mais comum em seu histórico de
vida são os surtos de pânico (Merikangas et al., 2011). Transtornos de
ansiedade são uma categoria ampla, que inclui transtorno de estresse pós-
traumático (ansiedade, embotamento emocional e memórias invasivas
relacionadas a evento traumático), transtorno de ansiedade generalizado
(um estado constante de preocupação e apreensão, acompanhado por sinais
físicos de ansiedade), transtorno de pânico (surtos repentinos de ansiedade e
terror e sentimentos de uma catástrofe iminente, com forte desejo de fugir),
transtorno obsessivo-compulsivo (pensamentos invasivos que são
neutralizados ao desempenhar uma atividade ritualística, como limpar,
enxaguar ou checar alguma coisa repetidamente), transtorno de ansiedade
social (ansiedade grave quando a pessoa é foco da atenção dos outros), e
outras condições.
Pode parecer estranho que os médicos confundam mania ou depressão
com surtos de ansiedade, mas acontece o tempo todo.
“No começo, me senti ótima. Era capaz de focar em coisas como nunca
havia sido antes. Não precisava mais de cigarro para manter minha
mente no trabalho. Mas então meu humor começou a oscilar para cima
e para baixo, como uma gangorra. Meu sono piorava cada vez mais –
acordava praticamente de hora em hora. Sentia-me ligada, mas aí a
depressão voltou. Comecei a me sentir realmente irritável e
preocupada, e não conseguia deter minhas ruminações, que eram como
um DVD passando em velocidade rápida. Precisei tomar zolpidem
(medicação para o sono) quase toda noite. Era insuportável.”
Prevenção eficaz: Transtorno bipolar é algo que você tem, e não algo que você é. Saber
essa diferença pode evitar que rejeite o diagnóstico ou, no extremo oposto, que abra
mão de sua vida em favor da doença.
Mesmo que você já tenha tido muitos episódios de transtorno bipolar, ainda
é possível que faça essas perguntas. Isso é natural, e saudável – pois car às
voltas com essas questões ajuda você a clarear as emoções, as metas e a sua
noção do eu. Infelizmente, a ambivalência em relação ao diagnóstico e a
percepção de que os outros o discriminam podem levá-lo a querer rejeitar todos
os tratamentos. Algumas pessoas fazem isso para provar aos outros que não têm
necessidade de tratamento e que podem funcionar independentemente. Essas
escolhas podem levar à recorrência da doença e comprometer sua qualidade de
vida.
Se membros próximos da família (por exemplo, cônjuge ou os pais) cam a
par de seu diagnóstico ao mesmo tempo em que você, é provável que também
tenham questões, mesmo que não as verbalizem diretamente a você, achando
que comunicá-las poderia lhe causar mais sofrimento ou para não criar
con itos na família. Para os pais de Kyana, por exemplo, a preocupação era que
ela fosse tachada de doente mental e nunca pudesse ter uma vida normal.
Preocupavam-se também em ter que tomar conta dela pelo resto da vida e em
ter de abrir mão de suas expectativas e sonhos em relação a ela. A esposa de
Greg cou em dúvida se havia se casado com o homem certo e se devia ou não
encerrar o relacionamento. Os familiares de Kyana ou Greg só expressaram suas
preocupações quando começaram a falar abertamente sobre o transtorno. No
lado positivo, saber mais a respeito da bipolaridade foi reconfortante para
Kyana, Greg e seus familiares, pois aprenderam juntos que o prognóstico não
era tão ruim como temiam.
É provável que você se lembre da primeira vez que lhe disseram que tinha
transtorno bipolar. Será que algumas das “reações comuns” no quadro a seguir
descrevem como você se sentiu naquela hora ou como se sente agora?
Examine a primeira reação, de rejeitar totalmente o diagnóstico. Será que
naquele momento (ou mesmo agora) você achou que o diagnóstico era apenas
uma falta de compreensão a respeito do seu comportamento? Por acaso pensou
que os outros estavam só querendo controlar você, sem qualquer consideração
por suas experiências interiores? Ficou em dúvida se a medicação tratava de
suas oscilações de humor ou se era justamente a medicação que provocava sua
manifestação? Acabou se convencendo de que o diagnóstico estava equivocado
e que os tratamentos alternativos (por exemplo, acupuntura) eram a solução?
Rejeitar o diagnóstico:
“O diagnóstico está errado; é apenas uma maneira que as outras pessoas
arrumaram para explicar minhas experiências.”
Não se identificar totalmente com o diagnóstico:
“Sou uma pessoa temperamental, só isso.”
“Eles querem me colocar nessa camisa de força das drogas para me fazer parar
de ter experiências que ninguém mais compreende.”
Identificar-se demais com o diagnóstico:
“Minha doença e meus humores, é só isso o que eu sou, e não tenho controle
sobre isso.”
“Quero ir a festas, viajar e trabalhar, mas tenho medo de desencadear outro
episódio, por isso raramente saio de casa.”
Como vimos no Capítulo 3, você certamente vai querer explorar com seu
médico por que ele ou ela acha que o diagnóstico se aplica a você e por que
outros diagnósticos possíveis estão sendo descartados. Recorrer a segundas
opiniões costuma ser útil, e não há o que substitua conhecer o máximo possível
sobre os sintomas do transtorno, o propósito das várias medicações e as
estratégias e cazes de autogestão. Já rejeitar totalmente o diagnóstico é uma
posição perigosa, pois, como no caso de Carter, pode levar à recusa de
tratamentos que às vezes são o que salva sua vida. Pessoas que adotam essa
atitude costumam ter vários episódios e hospitalizações até admitirem que há
algo de errado, e mesmo então descon am do diagnóstico, dos médicos e das
medicações.
Vamos considerar agora a segunda reação, que eu chamo de não se
identi car totalmente com o diagnóstico. Trata-se de um estilo comum de
reação – para muitas pessoas, um estágio no processo de aceitar o fato de ter a
doença. É similar a negá-la, que não é bem a mesma coisa que rejeitar o
diagnóstico. Negação ou supressão do pensamento refere-se ao processo de evitar
emocionalmente problemas dolorosos os empurrando para fora do campo de
consciência. Ser informado de que você tem uma doença que é recorrente e
que requer que você repense as metas de sua vida é algo extraordinariamente
doloroso. Quem é que não gostaria de se livrar dessa reação emocional e tentar
continuar vivendo como se o diagnóstico não fosse correto?
Pessoas que recebem diagnósticos de outras condições médicas também
reagem com essa subidenti cação. Por exemplo, pessoas que tiveram um
infarto podem admitir para os outros que precisam fazer ajustes em seu estilo
de vida e mesmo assim continuar fumando, fazendo pouco exercício ou
nenhum, assumindo um monte de trabalho ou não se preocupando em ter um
sono regular. Pessoas com diabetes ou hipertensão às vezes admitem
super cialmente seu diagnóstico, mas continuam comendo coisas muito doces
ou muito salgadas.
Ellen Frank, professora de psiquiatria na Universidade de Pittsburgh,
nomeou essas questões emocionais subjacentes à negação do transtorno bipolar
como “estar de luto pelo eu saudável perdido” (Frank, 2007). Muitos com
transtorno bipolar eram energéticos, populares, brilhantes e criativos antes de
adoecer. Então, depois que a doença foi diagnosticada e seus familiares ou
amigos começaram a tratá-los como um “paciente mental”, caram ressentidos
e começaram a sentir nostalgia pela pessoa que eram antes. Talvez achem que se
continuarem agindo como se nada tivesse mudado seu velho eu irá voltar,
como se fosse um amigo que não viam há tempos – do jeito que a mulher que
mencionamos no início do capítulo sonhava em reencontrar seu velho eu em
Miami. O que está implícito nessas reações são profundos sentimentos de
perda pelas dramáticas mudanças de vida que a doença promove. Para alguns,
mesmo o rótulo “bipolar” pode trazer à mente memórias dolorosas de
esperanças perdidas, de decepções e de expectativas descartadas. É
compreensível que essas memórias dolorosas inclinem as pessoas a negar a
doença quando são confrontadas com as suas evidências.
Na minha experiência, quem tem transtorno bipolar têm sentimentos
muito fortes em relação à importância da realização e da independência
pessoais. O transtorno compromete de certo modo as conquistas, faz a pessoa
se sentir fracassada e traz à tona autoavaliações negativas. Em um período
sabático na Universidade de Oxford (2006-2007), conduzimos um
experimento no qual pedíamos a adultos com transtorno bipolar, depressão
maior ou sem histórico psiquiátrico que decifrassem conjuntos de seis palavras
(por exemplo: “estou arruinando eu vida minha melhorando”) e produzissem
sentenças com cinco palavras (Miklowitz et al., 2010). A tarefa requeria que
deixassem de fora uma palavra. As sentenças podiam ser completadas de
maneira negativa (“Eu estou arruinando minha vida”) ou positiva (“Eu estou
melhorando minha vida”). Em uma das situações do experimento, na qual os
participantes ouviam um sininho de recompensa para cada quatro sentenças
completadas, os que tinham transtorno bipolar concluíram mais sentenças na
direção negativa do que os participantes com depressão maior ou sem histórico
psiquiátrico. Interpretamos esses achados como indicando que, para pessoas
com transtorno bipolar, a recompensa traz à mente memórias de fracasso em
alcançar realizações e também sentimentos de baixa autoestima.
Às vezes as pessoas que negam ter o transtorno dizem que é porque não
sabem direito onde termina a variação normal de humor e onde começa a
doença bipolar. Lembremos da discussão no capítulo introdutório a respeito do
continuum da gravidade dos sintomas bipolares, que vai de oscilações leves, de
altos e baixos, a episódios depressivos e maníacos graves que exigem
hospitalização. Talvez você às vezes tenha cado em dúvida se suas reações
emocionais a eventos ou situações são de fato diferentes das de outras pessoas.
Você já se agrou pensando ou dizendo: “As outras pessoas que eu vejo
também têm transtorno, elas só ainda não sabem que têm”? É mais provável
que você pense assim quando seus parentes ou amigos cam bravos com você
ou controlando demais, ou o acusam de estar doente mesmo quando está indo
bem e tendo as oscilações de humor comuns a todo mundo. Essas diferentes
percepções são habituais no transtorno bipolar II, no qual os ciclos de
hipomania/depressão podem ser muito sutis: a pessoa pode não acreditar que
seu humor mudou o tanto que os outros parecem achar.
Talvez você esteja certo em avaliar que as pessoas à sua volta têm um humor
inconstante. De fato, sabemos que o transtorno bipolar corre pelas famílias (ver
Capítulo 5) e que as pessoas com o transtorno tendem a encontrar parceiros
que também têm transtornos do humor (o que é chamado de acasalamento
preferencial; Smoller; Finn, 2003). Portanto, não é impossível que membros da
sua família tenham o transtorno ou formas leves dele. Claro que se você ou eu
perguntarmos por que eles têm essas oscilações poderão dizer que estão apenas
reagindo ao seu comportamento. Por sua vez, você pode achar que seu
comportamento é que ocorre como reação aos humores variáveis deles.
Ter consciência da inconstância dos humores de parentes próximos ou
amigos não é necessariamente algo ruim. Você pode aprender a não fazer as
coisas que os provocam e, melhor ainda, sugerir fontes adequadas de ajuda (por
exemplo, um grupo de apoio). As utuações de humor deles talvez ocorram
por questões que nada têm a ver com você. O Capítulo 13, sobre comunicação
com os membros da família, pode ajudá-lo a lidar com algumas dessas
questões.
O simples fato de ter oscilações de humor não quer dizer que alguém seja
bipolar (lembre-se do papel do sintoma e dos limiares de comprometimento na
realização do diagnóstico, que vimos no Capítulo 3). Mas se você percebe que
vê transtorno bipolar em todo mundo, a razão pode ser que não queira se sentir
sozinho e isolado. Admitir que se está doente e que é diferente dos outros é
algo estigmatizante e doloroso. No entanto, como veremos adiante, reconhecer
seu transtorno também pode ser empoderador. Não signi ca que a vida como
você a conhece tem que parar.
Ter uma boa noção de como sua personalidade, seus hábitos e atitudes
diferem dos sintomas é uma parte importante de aprender a aceitar o
transtorno. É compreensível que a maioria das pessoas queira sentir que tem
um “self ” separado de seus sintomas e de suas vulnerabilidades psicológicas. É
comum que se sintam assim quando foram levadas a acreditar, pelo médico ou
outra pessoa, que sua doença é como uma “prisão perpétua”. De nir a si
mesmo em termos de um conjunto de traços de personalidade estáveis que o
vêm acompanhando a maior parte da vida pode fazê-lo sentir-se menos
vulnerável aos con itos do que as mulheres jovens que acabamos de citar.
Outra razão para diferenciar sua personalidade de seu transtorno é que isso
ajuda você a determinar quando está de fato começando um novo episódio,
isto é, que não se trata apenas de estar vivendo um momento difícil. Por
exemplo, se você é extrovertido por natureza, o fato de socializar muito num
m de semana pode ser menos signi cativo para determinar se você está
desenvolvendo um episódio maníaco ou hipomaníaco do que as alterações em
seu padrão de sono, a maior irritabilidade ou as oscilações em seus níveis de
energia. Ao contrário, se você costuma ser introvertido, um aumento repentino
de sua socialização pode ser muito útil como sinal de um episódio em curso.
“Eu fui deprimida a maior parte da vida, e então descobri que tinha bipolar II, e isso mudou tudo.
Explicou muita coisa, como o fato de não melhorar com antidepressivos, da terapia cognitiva parecer não
dar certo, de estar sempre em ciclagem rápida. Explica por que não tenho conseguido arrumar emprego e
por que os relacionamentos não estão dando certo. Agora que conheço meu diagnóstico, sei que não devo
fazer nada que possa disparar meus altos, incluindo novos relacionamentos! Quando repasso minhas metas,
tenho que aceitar que a depressão sempre vai fazer parte da minha vida.”
– Mulher de 38 anos com transtorno bipolar II
2 Muitas pessoas criativas e produtivas têm vivido com essa doença. O transtorno bipolar
é uma das doenças de um grupo muito pequeno que pode ter uma vantagem associada a
ela: as pessoas afetadas com frequência são altamente produtivas e criativas. Isso
ocorre, em parte, porque quando você não está ativamente ciclando, isto é, entrando e
saindo de episódios do transtorno, suas capacidades mentais inatas, como imaginação,
talento artístico e aspectos fortes de personalidade ficam em primeiro plano. Em seu
livro Touched with Fire [Tocado pelo fogo], Kay Jamison (1993) discute essa associação
entre o transtorno bipolar e a criatividade artística. Lendo o livro dela, você descobrirá
que não está sozinho em suas batalhas. Algumas das pessoas mais influentes na área
das artes, literatura, negócios e na política conviveram com o transtorno e produziram
trabalhos que tiveram efeitos duradouros na sociedade. Um exemplo recente é o do poeta
Robert Lowell, cuja vida e luta com o transtorno bipolar estão descritos no livro de
Jamison (2017) Setting the River on Fire [Tocando fogo no rio].
3 Tente manter uma noção saudável de quem você é e pense em como os pontos fortes de
sua personalidade podem ser usados ao lidar com a sua doença. Conforme você refletir
sobre quem você era antes de ser diagnosticado, e depois de completar a lista “O que sou
eu e o que é minha doença?” (disposta anteriormente) você provavelmente vai relembrar
muitos dos pontos fortes de sua personalidade. Digamos que você seja alguém assertivo,
sociável ou intelectual. De que modo você pode ser adequadamente assertivo em obter o
tratamento médico mais adequado? Você consegue usar sua sociabilidade natural para
ligar para os seus amigos, familiares e vizinhos e pedir que o ajudem quando estiver
passando por maus momentos? Pode usar suas inclinações intelectuais naturais para
continuar lendo e aprendendo também o máximo possível a respeito de sua doença?
Fazendo isso você pode gerar uma sensação de continuidade entre quem você costumava
ser e quem você é agora.
4 A maneira como você se sente agora não é necessariamente a maneira como vai se
sentir daqui a três meses, seis meses ou um ano. Talvez você esteja se sentindo mal a
respeito de seu diagnóstico e incapaz de funcionar no nível em que sabe que é capaz de
funcionar. Este período difícil pode fazer você se sentir como se tivesse que abrir mão do
controle e passá-lo à sua família, seu médico e, pior de tudo, à própria doença – uma
perspectiva que é sentida como altamente desagradável. Mas o mais provável é que, com
o tratamento adequado, você volte a um estado muito próximo daquele em que
costumava estar, ou pelo menos a um estado mais fácil de administrar. Do mesmo modo
que alguém que pegou uma gripe forte precisa ficar de cama por mais alguns dias depois
que os piores sintomas vão embora, talvez você precise de um período de convalescença
antes de voltar às suas rotinas normais.
5 Há coisas que você pode fazer além de tomar medicações para controlar a ciclagem de
seus estados de humor. Entrar em acordo com o diagnóstico de transtorno bipolar
também significa aprender certas estratégias para a regulação dos humores. Os
capítulos 8 a 11 descrevem essas estratégias com detalhes. Adquirir essas aptidões
práticas para se autogerir impedirá que você se sinta vitimado pelo transtorno.
Espero que esses capítulos iniciais tenham dado uma ideia dos desa os que
o transtorno pode trazer para a sua visão de si mesmo, e que mostrem que, ao
ser desa ado dessa maneira, é muito natural que você queira reinterpretar os
eventos ocorridos de maneiras que que mais fácil aceitá-los. Suas reações ao
rótulo da doença são compartilhadas por outras pessoas que têm o transtorno.
Você pode compreender melhor o transtorno bipolar se pensar nas mudanças
que ocorrem nos circuitos neurais do cérebro, associadas aos diferentes estados
de humor extremos, e em como certas circunstâncias estressantes em sua vida
podem disparar essas mudanças. Familiarizar-se com as causas do transtorno
bipolar irá ajudar a garantir que você solicite, e obtenha, os tratamentos
adequados.
CAPÍTULO 5
De onde vem o transtorno bipolar
Genética, biologia e estresse
Stacy, 38, tinha duas lhas e trabalhava meio período em uma empresa de
contabilidade. Havia sido diagnosticada com transtorno bipolar I há mais de
15 anos e tomava regularmente valproato e um suplemento para tiroide.
Embora reconhecesse que tinha oscilações de humor graves, suas interpretações
das suas causas tendiam para o psicológico, não para o biológico. Ela muitas
vezes duvidava de que tinha transtorno bipolar: possuía algum conhecimento
cientí co e sentia que a ausência de um teste biológico de nitivo signi cava
que o diagnóstico continuava duvidoso. Seu psiquiatra com frequência a
lembrava de seu histórico familiar: o tio dela havia sido diagnosticado com
doença bipolar e alcoolismo, e a mãe sofria de períodos de depressão maior.
Mas Stacy ainda não se convencia e continuava a questionar se de fato
precisava de medicação. A nal, fazia mais de um ano que se sentia bem. Ela
ertava com a ideia de parar de tomar valproato, mas foi persuadida seguidas
vezes a não fazê-lo por seu psiquiatra. Ao longo de um ano, Stacy passou por
uma série de mudanças em sua vida, incluindo o divórcio. Afora uma leve
depressão, superou relativamente bem o início da separação. Só começou a
apresentar sintomas de mania depois que ela e os lhos tiveram que passar por
uma avaliação referente à guarda dos lhos. Conforme a avaliação seguia
adiante, notou que as ligações do seu advogado faziam-na partir para ação: ela
corria até a biblioteca para copiar todos os precedentes legais relacionados,
mesmo que remotamente, com o caso dela, ligava para amigos de todo o país
pedindo que falassem com os advogados que conheciam, e passava fax de
muitos documentos para os consultórios do seu advogado e do seu médico.
Ligava também para o marido, que já não morava mais com ela, e fazia
ameaças por telefone aos berros. O advogado garantiu-lhe que o divórcio e o
acordo de guarda dos lhos seriam favoráveis a ela e aos lhos, mas, mesmo
quando a tranquilizava, isso pouco contribuía para que parasse de trabalhar
tanto e de dormir cada vez menos.
Quando o psiquiatra sugeriu que talvez estivesse cando maníaca, ela deu
de ombros e disse “é bem provável”, acrescentando que precisava gastar cada
minuto disponível preparando-se para a próxima sessão no tribunal. Conforme
sua mania escalou, o médico convenceu-a a acrescentar risperidona, um
antipsicótico atípico, ao tratamento. Ela relutou, mas aceitou essa medicação,
embora ainda insistisse que seus problemas eram relacionados ao estresse.
O divórcio e os arranjos sobre a guarda acabaram sendo decididos fora do
tribunal (e em favor de Stacy). Talvez em razão da medicação adicional e da
remoção do estressor de sua vida, sua mania aos poucos cedeu e uma grande
crise foi evitada.
VULNERABILIDADE E ESTRESSE
Deve-se evitar encarar o transtorno bipolar ou como “uma doença só do
cérebro” ou então como “um problema estritamente psicológico”. Pode ser
essas duas coisas, e cada uma pode in uenciar a outra. A maior parte dos
pro ssionais vê a ciclagem do transtorno bipolar – como as idas e vindas da
maioria das doenças – como o re exo de um complexo jogo entre:
Vulnerabilidades genéticas – herdar uma propensão para o transtorno de
um ou mais parentes consanguíneos.
Processos neurocognitivos – funcionamento anormal de circuitos cerebrais e
de neurotransmissores como a dopamina ou a serotonina.
Processos psicológicos – sua personalidade, suas crenças ou expectativas a
respeito de sua aptidão em controlar as coisas ou de fazer coisas positivas
acontecerem.
Agentes estressores – eventos que trazem mudanças, tanto positivas quanto
negativas (por exemplo, transições em seu emprego ou em sua situação de
vida, problemas nanceiros ou um novo relacionamento romântico), ou a
piora de problemas crônicos (como con itos habituais ou graves com
membros de sua família; viver em ambientes fechados, apertados; ou
cuidar de alguém gravemente doente).
Pense nisso da seguinte forma: você tem vulnerabilidades genéticas
subjacentes com as quais nasceu. Essencialmente, o vigor dos sinais
transmitidos através dos espaços entre as células nervosas de seu cérebro
(sinapses) é diferente do das pessoas sem transtorno bipolar. Essa desregulação
é chamada de plasticidade sináptica anormal (Schloesser et al., 2008), e pode se
mostrar de diferentes formas:
Seu cérebro talvez esteja produzindo maior ou menor cota de certos
neurotransmissores, como dopamina, serotonina, norepinefrina ou GABA
(ácido gama-aminobutírico).
Você pode ter mudanças na estrutura ou na função das células receptoras
de seus neurônios.
Talvez haja também mudanças no funcionamento ou no volume de certas
estruturas cerebrais, como o córtex pré-frontal subgenual ou a amígdala.
Essas mudanças só são detectáveis por exames de imagem cerebrais.
Se essas perturbações parecem alarmantes, saiba que a maior parte do tempo
elas estão adormecidas e têm pouco efeito no seu funcionamento do dia a dia,
embora ainda o tornem mais suscetível a experimentar episódios maníacos ou
depressivos. Quando os estressores alcançam certo nível, as vulnerabilidades ou
predisposições biológicas são expressas como aqueles sintomas com os quais
você já está familiarizado – humor irritável ou exaltado, pensamentos
acelerados, uma tristeza paralisante e perturbações do sono. Em outras palavras,
sua predisposição biológica afeta suas reações psicológicas e emocionais aos
eventos (e muito provavelmente vice-versa). Do mesmo modo, quando o
agente estressor é removido (por exemplo, se você resolve um relacionamento
problemático), suas desregulações biológicas podem voltar a car adormecidas
(como ocorreu com Stacy).
Alguns psiquiatras e psicólogos usam um modelo de vulnerabilidade ao
estresse para explicar os sintomas bipolares de uma pessoa. Esse modelo requer
pensar a respeito das interações entre diversos níveis:
Fatores moleculares – genes que tornam a pessoa suscetível ao transtorno
bipolar ou, alternativamente, genes que a protegem de ter graves
oscilações de humor.
Eventos celulares – por exemplo, a rapidez com que as células crescem ou
morrem.
Sistemas cerebrais – os circuitos ou caminhos neuronais envolvidos na
regulação do humor.
Comportamento – como você reage emocionalmente e o que faz quando se
depara com situações estressantes.
Estressores ambientais – eventos da vida, particularmente aqueles que
causam privação do sono; dispêndio excessivo de esforço para alcançar
metas (por exemplo, assumir muitas responsabilidades no trabalho),
con itos familiares, pobreza ou condições de vida adversas (Schloesser et
al., 2008).
Veja o grá co a seguir. Se você nasceu com uma alta vulnerabilidade
genética ou biológica – por exemplo, se o transtorno está presente em várias
gerações de sua família –, um estressor relativamente menor, como uma
mudança em seu horário de trabalho e a resultante perda de sono, pode bastar
para provocar sintomas de humor. Menor vulnerabilidade genética (apenas um
parente mais exterior, como um tio, com transtorno bipolar ou alguns poucos
parentes com depressão, mas nenhum deles bipolar) pode signi car que os
sintomas de humor só serão disparados por estressores mais graves, como a
morte de um parente ou um grande acidente de carro ou trauma.
Para tornar as coisas mais complexas, alguns genes podem predispor você a
preferir certos ambientes. Alguém que herdou um físico muito forte, por
exemplo, pode escolher trabalhos que desenvolvam os músculos, como na
construção civil. Uma pessoa socialmente reservada pode escolher atividades
que não exijam muita interação com os outros – silvicultura, por exemplo. Do
mesmo modo, se você tem vulnerabilidade genética a transtorno bipolar pode
sentir-se atraído a atividades altamente estimulantes, criativas e espontâneas ou
imprevisíveis, como escrever, pintar e tocar um instrumento musical, ou, para
outros, ser corretor da bolsa. Talvez tenha energia para ir bem nessas atividades
a maior parte do tempo, mas depois ca emocionalmente desregulado pelo
estresse constante e pelas mudanças de estímulo associadas a elas. Pode sentir-se
deprimido ao experimentar uma decepção relacionada a essas atividades (por
exemplo, se o mercado de ações sofre uma forte “baixa”), e então achar
impossível continuar dedicando-se a elas.
Genealogia de Stacy
Nova pesquisa: Pesquisa recente sugere que os genes que controlam nossos ritmos
circadianos (por exemplo, os “genes clock”) estão envolvidos no risco de transtorno
bipolar e em sua recorrência. Por exemplo, ratos de laboratório com mutações nos
genes clock comportam-se de maneiras que lembram as de pessoas com mania (por
exemplo, maior atividade, diminuição do sono, atitudes de busca de recompensa).
Essas mudanças são revertidas quando se dá lítio aos ratos (Roybal et al., 2007).
◼ Estudos quantitativos de traços
Um novo método para os estudos genéticos é determinar que mudanças no
pensamento, comportamento ou no cérebro são herdadas com o transtorno
bipolar. Um estudo inovador foi realizado em genealogias de pessoas de regiões
isoladas da Costa Rica e da Colômbia, onde famílias com altas taxas de
transtorno bipolar vivem há gerações. Investigadores descobriram uma
variedade de atributos cognitivos, de temperamento e neuroanatômicos
in uenciados por genes transmitidos por meio de familiares e também
associados ao transtorno bipolar, como a diminuição da espessura do córtex
pré-frontal e do córtex temporal (Fears et al., 2014). Em outras palavras, uma
pessoa que herda transtorno bipolar tem maior probabilidade de herdar com
ele mudanças no cérebro que podem ser importantes para regular as emoções.
Um achado particularmente interessante nessas famílias é que as medidas de
criatividade foram bem mais elevadas em indivíduos com o transtorno bipolar
e seus familiares do que em indivíduos das mesmas comunidades sem
transtorno bipolar (Fears et al., 2014). Ou seja, nem todos os genes que
contribuem para o transtorno bipolar são “ruins” ou indesejáveis. No entanto,
na combinação errada, genes que in uenciam traços positivos como a
criatividade podem se combinar com genes que in uenciam atributos menos
desejáveis da doença, como a extrema di culdade em regular as emoções ou
car excessivamente orientado por metas. É possível que tais combinações
levem ao trabalho compulsivo, a perturbações no sono ou a pensamentos
grandiloquentes.
O que podemos concluir de tudo isso? Nesse estágio, pode-se dizer com
convicção que o transtorno bipolar é altamente herdável, mas que ainda
desconhecemos muita coisa a respeito de como é herdado, dos genes
envolvidos, e do que esses genes fazem. Depois que os genes forem
identi cados (e serão vários, certamente), é provável que tenhamos
diagnósticos mais precisos e tratamentos melhores. A meta a longo prazo dessa
pesquisa é de personalizar nossas opções de tratamento, o que signi ca prever que
medicações ou terapias são mais adequadas a pessoas com formas
geneticamente distintas de transtorno bipolar.
“EU TENHO UMA VULNERABILIDADE GENÉTICA?”: EXAMINANDO SUA
GENEALOGIA
Antes de entrarmos na questão do que os dados genéticos podem signi car
para a sua vida, veri que se o transtorno bipolar está presente na sua família.
Você tem predisposição genética ao transtorno? Para iniciar esse exercício,
preencha o formulário a seguir de acordo com o conhecimento que tiver.
Limite-se aos lhos, irmãos (anote na tabela se a pessoa é seu irmão ou meio-
irmão), pais, avós, tios e tias. Deixe de lado primos, sobrinhos, a não ser que os
conheça muito bem – as informações que as pessoas têm sobre esses parentes
tendem a não ser muito con áveis. Consulte seus pais ou irmãos se quiser mais
informações. Preenchi as quatro primeiras linhas para a família de Stacy, como
exemplo.
A seguir, coloque um asterisco junto àqueles que você imagina que podem
ter tido (ou que ainda tenham):
1 Transtorno bipolar I ou II plenos, ou mesmo uma forma mais leve de transtorno
bipolar, como ciclotimia ou transtorno bipolar não específico.
Bem, mas o que você faz com a informação quando conclui que o
transtorno bipolar, ou pelo menos a depressão, está presente em sua família? A
evidência genética tem implicações práticas para a sua vida. Primeiro, o fato de
o transtorno ser hereditário deve fazê-lo se sentir menos constrangido por ter a
doença. Nenhum de nós pode controlar os genes com os quais viemos ao
mundo. Também não sabemos como ajustar o ambiente de modo a evitar a
doença. Como você verá em capítulos posteriores, há coisas que você de fato
pode fazer para controlar a ciclagem de sua doença. Mas manifestar o
transtorno é algo que antes de mais nada é fortemente in uenciado por sua
constituição genética. Em outras palavras, não é culpa sua – fato este que
seus familiares também podem precisar aceitar (ver Capítulo 13). Como o
pai de um jovem com transtorno bipolar comentou comigo: “Por muito tempo
pensamos que ele fosse apenas baderneiro. Parecia capaz de bagunçar tudo.
Mas acabamos percebendo que se tratava de uma doença e que de fato havia
algo errado com o cérebro dele. Ele tinha um problema real que era de base
química, provavelmente algo que havia pego de mim ou do meu lado da
família. Não estava fazendo tudo aquilo para nos agredir. Foi só então que
chegamos a alguma compreensão como família”.
Ter um histórico familiar de transtorno bipolar também pode ajudar a
con rmar seu diagnóstico se você ainda tem dúvidas (ver também Capítulo 3).
Se o transtorno bipolar claramente percorre sua família, esse fato deve inclinar
seu médico em direção à validade de seu diagnóstico de bipolar, mais do que ao
de TDAH ou esquizofrenia, por exemplo.
Um histórico familiar de transtorno bipolar não é uma evidência
conclusiva; constitui apenas uma peça do quebra-cabeça do diagnóstico.
Mesmo que seu transtorno bipolar seja hereditário, você provavelmente sente
que suas oscilações de humor são fruto de mais do que apenas seus genes clock
ou de seus circuitos cerebrais que saíram dos trilhos. Stacy com certeza se sentia
assim. Por isso, é importante pensar na genética como algo que é apenas um
pano de fundo para problemas que você pode estar enfrentando para regular
suas emoções, seu pensamento ou seus níveis de atividade. É igual ao que
ocorre com o risco de doença cardiovascular (doença cardíaca): ele certamente
percorre as famílias, mas nem todo mundo em uma família geneticamente
suscetível acaba sofrendo de pressão alta, e com certeza nem todo aquele que
tem um histórico familiar de doença cardíaca acaba morrendo de infarto. O
que a pessoa come, se ela fuma ou não, seu peso, o quanto se exercita, seus
níveis de estresse e toda uma série de outros fatores também entram em jogo.
◼ Mudanças na vida
Mudanças fazem parte da vida, e às vezes são muito bem-vindas. Exemplos
de mudanças de vida positivas são casar, ter lhos, comprar uma casa, ganhar
um bom dinheiro com algum investimento ou ser promovido no emprego.
Mudanças de vida negativas são, entre outras, a morte de um ente querido, o
m de um relacionamento, a perda do emprego, um acidente de carro ou o
surgimento de uma doença, em você ou em um membro da família. O estresse
pode vir na forma de con itos ou de interações desagradáveis com pessoas que
você conhece bem, particularmente seus familiares.
Episódios maníacos e depressivos costumam acompanhar grandes mudanças
de vida, tanto positivas quanto negativas. Sheri Johnson, professora de
psicologia na Universidade da Califórnia, Berkeley, escreveu extensamente a
respeito do papel dos eventos da vida no transtorno bipolar. Ela destaca que
nem sempre ca claro se os eventos da vida são a causa ou o efeito dos
episódios de humor. Patrick, 36 anos, ilustra isso. Quando estava ciclando para
a mania, cava supercon ante e muitas vezes discutia com seus chefes. O
resultado é que costumava perder os empregos. Ao relatar seu histórico,
argumentava que o seu padrão consistia em perder o emprego e então car
maníaco – quando talvez a realidade fosse o oposto. Mas, mesmo quando
consideramos apenas eventos que não poderiam ser provocados pela doença
(por exemplo, a morte do pai ou da mãe, perder o emprego porque a empresa
fechou, ou um evento signi cativo em escala nacional), os pesquisadores ainda
acham que os eventos da vida têm um papel na manifestação de episódios
maníacos e depressivos.
Todos somos afetados emocionalmente pelo estresse, mas nem todos temos
oscilações de humor tão graves quanto as pessoas com transtorno bipolar. Será
que elas de algum modo são mais sensíveis aos eventos da vida? Johnson et al.
(2008) apontam que os tipos de eventos que precedem episódios maníacos
costumam ser os orientados para metas ou realizações – por exemplo, eventos
como uma promoção no emprego, um novo relacionamento romântico, bons
investimentos nanceiros e sucesso no esporte. Os mesmos autores têm
defendido essa hipótese em pesquisas mostrando que, entre pessoas com
transtorno bipolar I, episódios maníacos costumam ser precedidos por eventos
que estimularam essa orientação para metas.
Defenderam que eventos relacionados a alcançar metas ativam um circuito
no cérebro conhecido como sistema de ativação comportamental, que regula a
atividade do cérebro quando estão presentes estímulos que indicam
recompensas (por exemplo, investimentos que indicam a possibilidade de
grandes ganhos nanceiros). Uma teoria é que o córtex pré-frontal, que é
importante na previsão, planejamento e controle das emoções e impulsos, ca
menos ativo e falha em “atenuar” a atividade da amígdala, do corpo estriado
ventral, do núcleo accumbens e de outras estruturas cerebrais quando essas
estruturas são ativadas por alguma oportunidade de recompensa, incentivando
então humores e comportamentos maníacos (Nusslock et al., 2012; Townsend;
Altshuler, 2012).
Já outros tipos de eventos fazem as pessoas se fecharem e se isolarem, como
quando se sentem deprimidas. Esses eventos, que em geral envolvem perda,
luto ou rejeição, podem ativar um conjunto diferente de circuitos neurais,
chamado de sistema de inibição comportamental. Esse sistema motiva a pessoa a
evitar circunstâncias que, para o indivíduo, sinalizam punição. Por exemplo, o
m de um relacionamento pode fazer a pessoa se isolar dos outros como uma
maneira de evitar outra rejeição.
Debra, 36 anos, com transtorno bipolar II, vivia com o marido, Barry. Em
uma sessão de terapia de casal, Debra queixou-se de que Barry havia mudado
os horários de alimentar seus dois gatos. Havia começado a alimentá-los de
manhã, não mais à noite, e com isso um dos gatos ou ambos estavam indo até
o quarto deles no meio da noite, miando para pedir comida. Debra queria
alimentar os gatos antes que ela e Barry fossem para a cama, mas ele se
recusava a aceitar, dizendo que isso deixaria os gatos gordos. Depois de três
noites seguidas de pouco sono, ela cou irritável, sentiu confusão mental no
trabalho e começou a car com os pensamentos acelerados. Foi a primeira vez
que me deparei com um episódio hipomaníaco induzido por miados de gato.
Barry nalmente concordou em passar para o regime de alimentação
noturno, o que aliviou o problema com os gatos. Assim que Debra voltou a um
ciclo regular de sono-vigília e conseguiu ter várias noites de sono reparador, sua
hipomania voltou a se estabilizar. No caso de Debra, foi possível evitar um
episódio maior ao restabelecer as rotinas que haviam sido perturbadas por um
evento relativamente menor.
Miriam, 47 anos, com transtorno bipolar I, apresentou sintomas hipomaníacos
no dia seguinte à ingestão de bebida alcoólica, mesmo tendo tomado pequena
quantidade. Não cou muito claro para mim porque tão pouco álcool iria
torná-la hipomaníaca, até que levei em conta seu ciclo de sono: o álcool agia
como um zeitstorer, uma perturbação. Ela tinha muito mais di culdade para
pegar no sono depois de beber. Assim que parou de beber (ou limitar-se a um
chope apenas, e geralmente bem no início da noite), teve menos di culdades
para dormir e menos oscilações de humor.
No Capítulo 8, “Dicas para ajudar você a lidar com seus humores”, vou lhe
apresentar um método para manter suas rotinas sociais reguladas mesmo
quando os eventos conspiram para mudá-las (o método da estabilidade do
ritmo social). Essa técnica de automonitoramento pode ajudar a manter
estáveis seu humor e seus ciclos de sono-vigília.
Se você teve apenas um episódio maníaco ou misto, seu médico pode lhe
recomendar que tome remédios por 1 ano, e então irá reavaliar sua necessidade
de prosseguir com eles. Mas essa recomendação varia conforme o médico e
depende do quanto seu humor permanece estável ao longo do ano.
Desnecessário dizer que aceitar um regime de medicação de longo prazo é
uma decisão pessoal muito importante. Por ora, vamos focar na mecânica das
medicações: quais delas serão prescritas mais provavelmente no seu caso, em
qual dosagem, qual sua e cácia (segundo os estudos de pesquisa), seus
prováveis efeitos colaterais, e quanto tempo levam para começar a fazer efeito.
Vou falar mais sobre o aspecto emocional de tomar medicações no Capítulo 7.
As medicações têm pelo menos dois nomes: um genérico, para especi car
sua química, e um nome de marca, criado pela companhia farmacêutica para
comercializá-las. Os principais estabilizadores do humor usados hoje são o
carbonato de lítio e anticonvulsivantes, como o valproato e a lamotrigina. Certos
ASGs – quetiapina, aripiprazol e olanzapina – também são considerados
estabilizadores do humor.
A DESCOBERTA DO LÍTIO
Sabe-se das propriedades do lítio como calmante do humor desde 200 d.C., quando
o médico grego Galeno utilizava-o em banhos para pessoas com doenças mentais.
Compostos de brometo de lítio eram vendidos ao público na década de 1800, apesar de
altamente tóxicos. O refrigerante 7UP, antes de 1948, tinha lítio na composição.
John Cade, médico australiano, deparou-se com o lítio por acidente (Cade, 1949).
Ele experimentou injetar ácido úrico misturado ao lítio em cobaias e viu que isso
acalmava os animais. Testou então o lítio em uma cobaia humana, um de seus
pacientes maníacos mais graves, de 51 anos – ele reagiu bem e pela primeira vez foi
capaz de viver fora do hospital. Essa história de descoberta científica feita por acaso é
contrabalançada pelo fato de o paciente ter cessado a medicação seis meses mais
tarde, contra o conselho médico, prenunciando o grande problema atual da
interrupção do lítio entre alguns pacientes. De toda forma, o lítio passou a ter uso
geral na década de 1960, e é usado regularmente nos EUA desde 1970, para grande
benefício de inúmeras pessoas.
Algumas pessoas tomam lítio em doses fracionadas, várias vezes ao dia, e outras
tomam apenas uma vez. Essa é uma das decisões que você e seu médico podem tomar
ao tentar achar a melhor maneira de controlar seus efeitos colaterais. Existe, também,
uma forma de lítio de liberação prolongada, que você pode adotar se sentir muitas
náuseas.
A dosagem correta é a que alcança a faixa terapêutica em seu nível no sangue. A
faixa terapêutica que seu médico visa a alcançar no tratamento de um episódio agudo
fica geralmente entre 0,8 e 1,2 miligrama por mililitro (mg/ml), uma medida química
da concentração de lítio no sangue, e pode ser mais alta que ministrada em seu
tratamento de manutenção (em geral, entre 0,6 e 1,0 mg/ml), quando a dosagem tem
que ser mais baixa. Crianças com transtorno bipolar costumam precisar de doses
maiores de lítio do que adultos para que este alcance a faixa terapêutica no sangue,
enquanto pessoas com mais de 65, talvez mais sensíveis aos efeitos colaterais do lítio,
recebem doses mais baixas.
Tratamento eficaz: Não desista do lítio só porque não sente seus efeitos na hora. É
provável que demore pelo menos uma semana e às vezes várias até você sentir
melhora em seus sintomas maníacos ou depressivos. Ao tomar lítio pela primeira vez,
você pode sentir uma pequena elevação de seu humor na primeira semana. Se não
reagir a ele em 3 semanas, seu médico poderá aumentar a dosagem ou recomendar
outra medicação.
A micção frequente pode ser reduzida tomando lítio uma vez ao dia, em vez de
várias; converse com seu médico sobre essa opção.
A sede pode ser controlada tomando mais água, mascando pedaços de gelo ou
usando drops para tosse, sem açúcar.
A irritação do estômago pode ser aliviada tomando lítio apenas depois de uma
refeição completa ou mesmo passando para uma formulação de liberação
prolongada para reduzir os sintomas gastrintestinais.
Acrescentar suplementos para tiroide (por exemplo, levotiroxina) ou
betabloqueadores para tremores nas mãos (por exemplo, propranolol) pode
reduzir o impacto desses efeitos colaterais.
Um efeito colateral do lítio é um “embotamento cognitivo”, que faz você sentir como
se tivesse perdido a clareza ou o foco mental ou como se suas emoções estivessem
amortecidas. É um problema mais grave para quem se dedica às artes. Se você
compõe música ou poesia, pinta ou tem outras aptidões artísticas, talvez sinta sua
criatividade diminuída ao tomar lítio. Pode ansiar pelos dias hipomaníacos, quando
ideias, imagens ou soluções para as questões do trabalho artístico fluíam melhor. Para
o embotamento cognitivo, a solução é conversar com seu médico sobre reduzir a dose
de lítio ou adotar outro plano de dosagem. Se você está na fase de manutenção, sua
dosagem já deve ser mais baixa que a do tratamento agudo, mas seu médico pode
recomendar que diminua um pouco mais, até achar o “ponto certo”, que permita a
expressão artística e ao mesmo tempo proteja das oscilações de humor mais intensas.
Como alternativa, você pode tentar outro estabilizador do humor (por exemplo,
valproato ou lamotrigina), que tenha menor probabilidade de causar esse efeito
colateral.
Exames de sangue para o lítio e toxicidade
Pessoas que tomam lítio devem fazer exame de sangue regularmente
para certi car-se de que estão tomando a dosagem correta. Se você está
tomando lítio pela primeira vez e sendo estabilizado de um episódio maníaco
ou depressivo, provavelmente terá que fazer um exame de sangue a cada 2-3
semanas nos primeiros 1-2 meses do tratamento, e depois a cada mês, pelos 3
meses seguintes. Se tudo correr bem até esse ponto, é provável que seu médico
peça para você ser testado a cada 3 meses, mais ou menos. O propósito é se
certi car de que está com um nível terapêutico de lítio na sua corrente
sanguínea. Em geral, os médicos pedem para checar o nível de lítio no sangue
10-14 horas após sua última dose.
Prevenção eficaz: A hipomania deve ser tratada tão agressivamente quanto a mania?
Por definição, a hipomania não incapacita no mesmo nível que a mania. Mas pode
prenunciar episódios depressivos mais graves, ou ser o primeiro de uma série de
estados de humor de ciclagem rápida – ou ainda, para quem tem transtorno bipolar I,
o primeiro estágio de um episódio maníaco pleno. Por isso, tratar a hipomania pode
ser uma boa ação preventiva. As opções de medicação costumam envolver o aumento
da dosagem de um estabilizador do humor ou o acréscimo de uma dose baixa de ASG
ao seu regime. Se você tem transtorno bipolar II e nunca ficou plenamente maníaco,
pode decidir que uma “espera atenta” seja a melhor opção. Se tem episódios
hipomaníacos de bipolar II e não toma medicação, é importante monitorar seus
humores com uma tabela de humores autogerida (ver Capítulo 8) e prestar atenção ao
seu padrão de sono-vigília.
É útil que você se familiarize com a escala de nível de lítio no sangue para
participar de forma ativa em seu tratamento. Como dissemos, a faixa-alvo
durante um episódio agudo é de 0,8-1.2 mg/ml, e durante o tratamento de
manutenção é de 0,6-1.0 mg/ml. Pergunte ao seu médico que nível sanguíneo
a que ele ou ela está visando, para que você consiga saber quando seus níveis
estão baixos ou altos demais. Se decidir procurar outro médico, ele vai querer
saber que níveis terapêuticos você vem mantendo e que níveis se mostraram
problemáticos para você no passado.
Fazer exame de sangue regularmente também ajuda a prevenir toxicidade por
lítio, que é quando seu corpo acumula lítio em níveis muito altos. Entre os
sinais de toxicidade estão problemas com equilíbrio e coordenação, diarreia
grave, desconforto abdominal, visão borrada, fala arrastada, tremor extremo das
mãos, náusea grave ou vômito, e confusão mental ou desorientação. Esses sinais
têm maior probabilidade de ocorrer quando você muda sua dieta, ca
desidratado em razão de uma doença ou de exercício excessivo, ou está
tomando drogas diuréticas (por exemplo, para a pressão sanguínea) ou
medicação anti-in amatória como ibuprofeno (para dor ou febre). Como esse
estado tóxico é extremamente perigoso e até potencialmente mortal, é
importante conhecer os sinais (e também informar os parentes próximos),
de modo que você possa consultar seu médico o quanto antes, checar seu
nível de sangue e, na maioria dos casos, ter seu lítio ajustado ou
interrompido.
Talvez você ache difícil fazer esses exames de sangue: ninguém gosta de ser
picado com uma agulha, e isso pode também fazer você se lembrar de que está
doente. Mas os exames de sangue são uma parte muito importante de seus
cuidados. Se você acha que são particularmente desagradáveis, discuta isso com
seu médico, que pode sugerir outro estabilizador do humor que exija exames de
sangue menos frequentes. Seguir ou não por esse caminho, é claro, deve ser
também uma decisão sua.
O tratamento com lítio pode ser um ato de equilibrismo no qual você e seu médico
colaboram para encontrar o nível sanguíneo que estabiliza melhor seu humor, mas que
também lhe permite funcionar com o mínimo de efeitos colaterais incômodos (por
exemplo, não ter o pensamento desacelerado). Seus níveis podem estar altos demais
(com risco de toxicidade) ou muito baixos (não terapêuticos). Há consideráveis
diferenças entre as pessoas quanto à dosagem de lítio, dependendo de idade, peso e
outros fatores. Se você não tem encontrado um nível de lítio aceitável, veja com seu
médico as vantagens e desvantagens de outro estabilizador do humor e as opções de
ASGs, até encontrar um plano de tratamento mais adequado.
◼ Valproato
O valproato, também chamado de ácido valproico ou divalproato de sódio,
é um anticonvulsivante usado há décadas para tratar epilepsia e outros
transtornos que envolvam convulsão. Muitas drogas anticonvulsivantes têm
propriedades de estabilização do humor. O valproato é um ácido graxo similar
a compostos encontrados em gordura animal e óleos vegetais. Atua de diversas
maneiras, como na redução da atividade dos caminhos da proteína quinase C e
aumentando a ação do neurotransmissor inibidor GABA (Manji et al., 2003).
O valproato tem ampla utilização como agente agudo e como preventivo de
longo prazo. Como o lítio, o valproato parece ser e caz como tratamento para
episódios maníacos. Uma metanálise de testes randômicos concluiu que o
valproato tinha 151% de vantagem sobre placebos na melhora da mania; o lítio
teve uma vantagem de 189% (Smith et al., 2007). O valproato também pode
ajudar a aliviar depressão, embora, assim como o lítio, tenha efeitos
antimaníacos mais marcantes (Reinares et al., 2013). Alguns estudos indicam
que o valproato tem maior efeito antimaníaco que o lítio em pessoas com
episódios mistos ou estados de ciclagem rápida (Rosa et al., 2011). Mas não é
tão e caz quanto o lítio para tratar ou prevenir pensamentos ou ações suicidas.
Evidência do teste Oxford BALANCE sugere que, diante da escolha entre lítio ou
valproato, você estará melhor (na média) se escolher o lítio, especialmente se tiver
alguns dos aspectos que fazem prever uma boa resposta ao lítio (ver o quadro
“Preditores de reação ao lítio”, disposto anteriormente no capítulo). Se você já toma
valproato, pode se beneficiar do acréscimo de lítio. O valproato pode também ser eficaz
combinado com um ASG.
Se você não reagiu ao lítio em termos de redução de seus sintomas, talvez reaja
melhor ao valproato (e vice-versa). O valproato é mais sedante do que o lítio, portanto
se você sente muita agitação e tem dificuldade para pegar no sono, o valproato pode
ser recomendável. Ele age um pouco mais rapidamente do que o lítio, até em apenas
3-5 dias após a manifestação de um episódio maníaco importante. Em contraste com o
lítio, a dosagem de valproato quase sempre pode ser aumentada rapidamente sem
graves efeitos colaterais. Essas vantagens devem ser ponderadas em relação à maior
abundância de pesquisa que apoia o lítio, particularmente como agente preventivo para
episódios maníacos e no tratamento de pessoas com tendências suicidas.
Solução eficaz: Seu médico pode receitar drogas adjuvantes com o valproato para
evitar efeitos colaterais: para náuseas, ranitidina; para ganho de peso, metformina; ou
vitaminas com selênio e zinco para evitar a queda de cabelo.
É sempre uma boa ideia fornecer ao seu médico uma lista de outras
medicações que você tome regularmente, mesmo que não tenham relação com
o seu transtorno do humor. Anticonvulsivantes como o valproato e a
carbamazepina costumam interagir com outras medicações, o que signi ca que
podem ocorrer efeitos colaterais ou complicações médicas quando essas drogas
são usadas junto com outras.
◼ Lamotrigina
“Minha parceira, Beth, tem a maior fé na lamotrigina. Ela ca realmente deprimida e não consegue se
reerguer, e é a única coisa que a ajuda. Mas a mim não ajuda, então parei de tomar. Minhas depressões são
mais como aqueles períodos em que você ca sem ânimo para nada e pensando “coitadinha de mim”, esse
tipo de coisa, mas mesmo assim ainda consigo trabalhar, dar comida aos gatos, e uma vez ou outra me
arrasto até a academia. Acho que co melhor quando me mantenho ativa.”
– Mulher de 29 anos com transtorno bipolar II
◼ Carbamazepina e oxcarbazepina
A carbamazepina, um anticonvulsivante, foi muito popular como
tratamento nos anos 1980, especialmente quando usada em combinação com o
lítio. Parece ser tão e caz quanto o lítio em controlar a mania, mas há menos
evidência do seu papel em tratar a depressão (Shim et al., 2017). Pode ser
desa ador achar a dose apropriada com a carbamazepina, pois tem um per l
difícil de efeitos colaterais; por isso, as doses devem ser aumentadas aos poucos,
e está sendo cada vez menos recomendada.
As doses típicas de carbamazepina cam entre 400 mg e 1.600 mg por dia.
Os efeitos colaterais mais comuns são sedação e um leve comprometimento da
memória. Algumas pessoas sentem a visão borrada, constipação ou perda de
coordenação muscular. O ganho de peso não é problema com a carbamazepina,
e é por isso que algumas pessoas a preferem. Quem toma carbamazepina pode
também ter uma leve elevação das enzimas do fígado. Seu médico talvez
interrompa a carbamazepina se você apresentar sinais de hepatite – sentir-se
abatido e experimentando dor de estômago ou outros problemas
gastrintestinais. Entre 10 e 15% das pessoas desenvolvem erupções cutâneas.
Assim como com a lamotrigina, as erupções devem ser reportadas
imediatamente ao médico. Uma pequena porcentagem de pessoas que tomam
carbamazepina desenvolve a síndrome de Stevens-Johnson (ver descrição da
lamotrigina, disposto anteriormente).
Seu médico pode prescrever carbamazepina (sozinha ou com outras drogas) se você
tiver tido problemas com os efeitos colaterais de outros anticonvulsivantes ou não tiver
reagido bem ao lítio e ao valproato. Assim como o valproato, a carbamazepina parece
agir melhor em pessoas com episódios mistos, ciclagem rápida ou manias com
psicose (delírios ou alucinações).
NÍVEL
DROGA DOSAGEM EFEITOS COLATERAIS COMUNS
SANGUÍNEO
Ganho de peso
Fadiga, sedação
Irritação estomacal, diarreia
Sede e micção frequente
Gosto metálico na boca
300-2.400 0,8-1,2
Lítio Tremores nas mãos
mg por dia mEq/L*
Disfunção da tiroide
Acne ou psoríase
Lentidão mental, problemas de
memória
Problemas na eliminação renal
Erupções cutâneas
Boca seca
Náusea, vômito
200-400 mg Tontura
Lamotrigina –
por dia Dor de cabeça
Sonolência ou insônia
Síndrome de Stevens-Johnson
(risco baixo)
Fadiga, sedação
Náusea, dor de estômago
Leve comprometimento da
memória
Constipação
Tontura, dispersão
400-1.600 mg 4-12 Visão borrada
Carbamazepina
por dia mcg/ml* Erupções cutâneas
Problemas de coordenação física,
desequilíbrio
Elevação das enzimas do fígado
Queda na contagem de glóbulos
brancos
Síndrome de Stevens-Johnson
(risco baixo)
Prevenção eficaz: Para evitar efeitos colaterais de um ASG, seu médico deve
monitorar regularmente o ganho de peso ou perturbações do metabolismo (checando
seus níveis de glicose, triglicérides e lipídios), ainda mais se você já tinha esses
problemas antes. Relate a ele também se começar a ter movimentos físicos inusuais,
como contrações, tiques, rigidez ou estalar lábios e língua. Tais movimentos podem
ser detectados facilmente por quem convive com você.
Solução eficaz: Cerca de 50% das pessoas têm significativo ganho de peso nas
primeiras 6-8 semanas em que tomam um ASG. Se decidir continuar com um ASG, há
várias coisas que você pode fazer para manter a saúde, ao consultar seu médico: (1)
implemente intervenções de “estilo de vida saudável” (por exemplo, exercício e sono
regular) e reconheça que suas metas de saúde ficarão mais difíceis de alcançar
quando estiver deprimido (ver Capítulo 10); (2) tome uma medicação adjuvante para
perda de peso que altere os níveis de triglicérides, lipídios ou glicose (por exemplo,
metformina); e (3) consulte um dietista e reveja seus hábitos alimentares (Correll et
al., 2013).
DOSE
FAIXA DA DOSE DE
DROGA INICIAL EFEITOS COLATERAIS COMUNS
MANUTENÇÃO (MG)
(MG)
Olanzapina 5 10-15 Sedação, ganho de peso
Aripiprazol 5 10-30 Agitação/ansiedade, sedação
ANTIDEPRESSIVOS
“Quando estou deprimida, qualquer coisa ruim que aconteça, por menor que seja, consegue de fato acabar
comigo. Com antidepressivos, é como se eu vestisse uma armadura, algo assim. Não é que eu não me
importe mais, ou que eu saia por aí dizendo ‘Ah, agora estou feliz’. É que não me incomodo tanto com as
coisas que acontecem. Eu sinto que posso dar conta delas.”
– Mulher de 23 anos com transtorno bipolar II
Se você pretende tomar um antidepressivo, mas tem histórico de ficar muito ativado
por antidepressivos, ou histórico de ciclagem rápida, fale com seu médico sobre esse
histórico – ele ou ela provavelmente irá recomendar que você combine o antidepressivo
com um estabilizador do humor ou ASG de fundo, ou tente a lamotrigina antes de um
antidepressivo. Essa informação talvez não tenha sido colocada no seu processo inicial
de diagnóstico.
◼ Cetamina
Houve muito alarde na imprensa popular a respeito da droga cetamina para
o tratamento de depressão. A cetamina é um sedativo usado em procedimentos
cirúrgicos como anestesia, e produz rápidos efeitos antidepressivos em pessoas
com DRT (depressão resistente a tratamento, tanto o tipo unipolar como o
bipolar), com melhoras no humor que ocorrem entre 4 e 72 horas após sua
infusão (Katalinic et al., 2013; Zarate et al., 2012). A cetamina inibe a
sinalização glutamatérgica no cérebro, que se acredita estar desregulada na
depressão. Ela também aumenta os níveis de BDNF, que já vimos que
melhoram a força das células e a plasticidade sináptica (ver Capítulo 5).
Uma metanálise concluiu que a cetamina reduzia as ideias suicidas em
pessoas deprimidas no prazo de 1 dia após uma única dose intravenosa, com os
efeitos sobre a ideação suicida durando até uma semana (Wilkinson et al.,
2018). Seus efeitos são mais rápidos e consistentes no alívio da anedonia – a
perda do prazer em atividades. A cetamina só foi estudada como tratamento
para depressão bipolar quando acrescentada a um estabilizador do humor. Não
obstante, vários testes randomizados têm mostrado que ela melhora a depressão
e a ideação suicida na depressão bipolar em apenas 40 minutos, com poucos
efeitos colaterais (Zarate et al., 2012). Ela tem efeitos bené cos na regulação
dos ritmos circadianos, que, como vimos no Capítulo 5, são cruciais para a
siologia do transtorno bipolar (Duncan; Ballard; Zarate, 2017).
Uma das principais preocupações em relação à cetamina tem sido seu modo
de liberação – por meio de um tubo intravenoso, o que limita sua
aceitabilidade para muitos receptores. Existem agora sprays nasais que liberam
“escetamina” diretamente no cérebro, mas não sabemos ainda se essa forma de
administração demonstrará ser igualmente potente. Em segundo lugar, embora
até 70% das pessoas com depressão mostrem uma rápida melhora com a
cetamina, ao que parece seus efeitos são de curta duração (de 1 semana a 10
dias), e as recaídas depressivas são comuns depois disso. Terceiro, há alguns
efeitos colaterais relacionados à dosagem, como distorções da percepção,
elevação temporária da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco, e problemas
cognitivos de breve duração (Abbasi, 2017). Finalmente, há a questão de se ela
pode causar dependência: a cetamina é uma substância controlada categoria B1
por ser alucinógena e às vezes é vendida como droga ilícita (conhecida nesse
contexto como “special K”). No momento, não sabemos por quanto tempo
uma pessoa pode ser tratada com cetamina.
Vem sendo realizada pesquisa para encontrar alternativas e cazes à cetamina
que não tenham efeitos colaterais nem propriedades de alteração da percepção
ou alucinógenas. Por enquanto, se você tem depressões bipolares que não
reagem a antidepressivos, a cetamina com certeza é uma opção a ser
considerada.
Muitos médicos vão recomendar que você combine seu tratamento médico
com alguma forma de psicoterapia. Ethan, um rapaz de 19 anos de idade que
havia sido hospitalizado durante um episódio maníaco (ver detalhes no
Capítulo 7), chegou a várias decisões importantes a respeito de sua doença e
sua necessidade de medicações como resultado da psicoterapia. Ele de início
recusou qualquer medicação, mas com apoio de seu terapeuta acabou
concordando em testar o lítio. Então, a combinação de psicoterapia e lítio o
ajudou a se recuperar da doença depressiva que se mostrava relativamente
intratável.
Aprender a aceitar medicação é apenas uma das razões para procurar
psicoterapia. Como Kay Jamison, muitas pessoas com transtorno bipolar dizem
que a terapia foi parte essencial de sua recuperação de episódios de humor, ao
lado das medicações. A psicoterapia não conseguirá curá-lo do transtorno
bipolar, e tampouco é um substituto das medicações. Não obstante, a
psicoterapia pode ajudá-lo a aprender a reconhecer os gatilhos de suas
oscilações de humor e o que fazer a respeito. Se você tem como bancar (ou seu
plano de saúde cobre parte disso) e se conseguir encontrar um bom terapeuta
em sua comunidade, que tenha conhecimento do transtorno bipolar,
recomendo fortemente que faça psicoterapia pelo tempo que julgar útil. Na
minha experiência, a maioria das pessoas ca satisfeita com consultas semanais
de uma hora de duração a um terapeuta, seja individual, de casais ou familiar,
ou com uma sessão semanal de 90 minutos de terapia em grupo. Sessões mais
frequentes podem ser necessárias nos intervalos que se seguem a um episódio
agudo da doença.
Você pode também procurar terapia para lidar com velhos problemas
pessoais que podem não ter relação com o seu transtorno ou que parecem
continuar independentemente de seu humor estar estável ou não. Essas
questões provavelmente não são tratadas em suas consultas sobre medicação
com seu psiquiatra. Por exemplo, muitas pessoas com transtorno bipolar
tiveram experiências muito traumáticas de abuso físico ou sexual e
regularmente têm ashbacks desses eventos (Palmier-Claus et al., 2016).
Algumas pessoas com transtorno bipolar sentem que nunca tiveram um
relacionamento romântico bem-sucedido ou boas experiências com empregos.
Algumas sentem-se cronicamente inclinadas ao suicídio, mesmo quando não
estão em um episódio de depressão. Outras experimentaram perdas na infância
(por exemplo, o suicídio de um dos pais) e precisam ter melhor noção de seus
sentimentos de abandono e rejeição. Mesmo que essas questões psicológicas
não sejam uma causa primária de seu transtorno bipolar, podem se tornar mais
presentes quando seu humor muda. Obter uma visão melhor da natureza
desses con itos e desenvolver aptidões para lidar com eles tem o potencial de
tornar você menos vulnerável aos estressores do momento, e menos suscetível a
novos episódios da doença.
◼ Psicoterapia individual
A terapia individual é recomendada com maior frequência depois que você
começa a se recuperar de um episódio de mania ou depressão, portanto é mais
um tratamento de manutenção do que um tratamento para um episódio
agudo. Quando você está em processo de recuperação, pode ter ainda sintomas
de humor signi cativos, pensamentos negativos ou excessivamente pessimistas,
ou padrões de comportamento que interferem com a estabilidade de longo
prazo (por exemplo, beber demais); esses são os “alvos” da terapia individual.
Considere procurar um psicoterapeuta que possa trabalhar com você nos
moldes de uma terapia cognitivo-comportamental (TCC) ou terapia interpessoal
(TIP). Estes são os tipos de terapia individual que têm apoio de pesquisa em
termos de melhorar o curso do transtorno bipolar quando acompanhadas de
medicações (Salcedo et al., 2016).
Um terapeuta que tenha se especializado em TCC irá incentivá-lo a
identi car e avaliar padrões de pensamento negativos a respeito de si mesmo,
do seu mundo e do seu futuro. Se você mantiver um registro diário de seus
pensamentos (ver Capítulo 10), poderá aprender a identi car seus pressupostos
a respeito de determinados eventos cruciais (por exemplo, “Perdi meu emprego
porque simplesmente não sou capaz de manter emprego nenhum”). Seu
terapeuta da linha TCC irá encorajá-lo a reconhecer o impacto desse tipo de
crença em seus estados de humor e conduzirá “experimentos” em sua vida
cotidiana para determinar se essas suposições são válidas. À medida que a
terapia evolui, o terapeuta irá encorajá-lo a considerar interpretações dos
eventos que sejam mais adaptativas e equilibradas, e ensaiará com você novas
cognições (por exemplo, “Talvez eu tenha perdido esse emprego porque estava
ainda me recuperando da minha depressão e não fui capaz de funcionar no
nível que sei que sou capaz de funcionar”). Quando usada para tratar depressão
(e é para isso que a TCC foi desenvolvida), ela usualmente inclui um plano
para estruturar seu dia de modo que você que mais dedicado a atividades que
achava grati cantes no passado.
Pessoas com transtorno bipolar que recebem TCC junto com medicações
têm sintomas depressivos menos graves e menos dias com depressão durante os
cuidados de manutenção em relação àquelas que tomam medicação apenas,
embora nem todos os estudos concordem (Goodwin et al., 2016). A TCC
pode ser especialmente útil se você tem um transtorno de ansiedade
comórbido, como transtorno de pânico, fobia social ou transtorno obsessivo
compulsivo (Deckersbach et al., 2014). Em numerosos estudos, tratamentos na
linha da TCC, como uma exposição prolongada a estímulos que despertem
temor, reaprender a respirar, a relaxar e a fazer meditação mindfulness, têm
demonstrado e cácia para transtornos de ansiedade. O Capítulo 10 oferece
uma discussão mais aprofundada da abordagem da TCC e uma seleção de
exercícios de reestruturação cognitiva que você pode tentar realizar por sua
conta.
A terapia interpessoal (TIP) é voltada a ajudar você a compreender o papel
que sua doença está tendo em seus relacionamentos íntimos ou em sua vida
pro ssional e, inversamente, como seus relacionamentos e sua vida pro ssional
estão afetando a estabilidade de seus humores. Terapeutas interpessoais
incentivam você a se concentrar em um problema interpessoal e examinar
como ele está relacionado com seu transtorno do humor. Por exemplo, algumas
pessoas desenvolvem episódios maníacos ou depressivos depois de experiências
de perda ou luto, como a morte de um dos pais; outras, após uma transição da
vida, como perder um emprego ou romper um relacionamento; e algumas
depois de terem discussões exaltadas com familiares ou parceiros. Para outras,
ainda, os estados de humor estão relacionados a problemas habituais nos
relacionamentos amorosos, ou com amigos ou no ambiente de trabalho. A TIP
foca em seus hábitos de relacionamento e em como alterá-los para ajudar a
estabilizar seu humor.
Uma modalidade de TIP chamada terapia interpessoal e de ritmo social
[interpersonal and social rhythm therapy – IPSRT, conhecida por essa sigla
também em português; Frank, 2007] é mais voltada para o transtorno bipolar e
agrega um elemento: monitorar seus ritmos de sono-vigília, padrões de
atividade diária e níveis de estímulo social diário. Esse método, chamado de
rastreamento do ritmo social, é discutido no Capítulo 8. Trabalhar com um
terapeuta que tenha se especializado em IPSRT pode ser muito útil para você
implementar estratégias de sono-vigília e outras, voltadas a estabilizar rotinas
diurnas e noturnas. Em um estudo cuidadosamente projetado, a IPSRT, junto
com medicações, mostrou retardar as recorrências do transtorno bipolar,
melhorar o funcionamento vocacional e aumentar a estabilidade das rotinas
diurnas e dos ciclos de sono-vigília, em comparação com terapia de apoio e
medicações (Frank et al., 2005).
SEGUINDO EM FRENTE
Como você pode ver, há numerosos tratamentos disponíveis a pessoas com
transtorno bipolar. Eles estão longe de ser perfeitos, mas muitos podem tratar
com e cácia seus sintomas agudos e, com toda probabilidade, também as fases
de sua doença mais estáveis. Complementar seu regime de medicação com
psicoterapia ou grupos de apoio ajuda a garantir que você, a pessoa, seja
tratado, e não apenas os seus sintomas; que desenvolva estratégias para lidar
com o estresse; e que se sinta menos isolado ou mal-compreendido.
Você e seu médico podem ter que experimentar diferentes opções de
medicação antes de encontrar a combinação mais e caz e com menos efeitos
colaterais. Do mesmo modo, talvez o primeiro terapeuta que você consulte não
seja aquele com o qual irá car. Esse processo de tentativa e erro certamente
pode ser frustrante às vezes, mas há todas as razões para que você se mantenha
esperançoso de que acabará encontrando o tratamento que for melhor para
você.
Comprometer-se com um programa de longo prazo de medicações ou de
terapia envolve importantes decisões pessoais. Você talvez tenha dúvidas
importantes a respeito de tomar quaisquer dessas medicações, mesmo que
esteja sofrendo com oscilações de humor debilitantes e que inter ram com o
seu funcionamento. Essas dúvidas são compreensíveis. Mas quando as pessoas
com transtorno bipolar param de tomar medicação, particularmente quando
fazem isso de uma hora para outra e não têm um terapeuta disponível para
ajudá-las, acabam tendo recaídas e cando pior do que quando pararam. Para
saber mais sobre como as pessoas resolveram esse dilema, continue lendo: o
Capítulo 7 é dedicado a questões que você irá enfrentar ao aceitar um regime
de medicações e precisar lidar com sua administração diária.
CAPÍTULO 7
Entrar em acordo
com suas medicações
Quando minha irmã mais velha me acusa de maníaca, a voz dela tem um estranho tom maníaco.
“Você está lembrando de tomar seu remédio?” Uma mania controlada, aquele controle das
perguntas feitas com raiva, dirigidas a crianças, do tipo “Você vai descer daí ou não?”...
Como se parando de tomar lítio eu pudesse apagar o passado, fosse capaz de provar que ele nunca
aconteceu, pudesse triunfar sobre meu diagnóstico e contradizê-lo; isso me faria sentir que estou
certa e todos eles errados. Sempre me vi do jeito oposto, isto é, achando que eles estão certos e eu
errada. Claro que bastava tomar o lítio para que fosse aceita de volta... se tomasse lítio estaria
“bem”... Mas eu nunca estou bem, apenas melhorando. Ah, se eu pudesse vencer essa aposta...
É
parar com as medicações, porque não vê necessidade delas. É uma reação
compreensível.
Infelizmente, parar com as medicações contra as indicações médicas – e às
vezes também ao tomar doses inadequadas ou não manter a regularidade –
coloca você em um risco mais elevado de ter recorrências de seu transtorno. Na
minha experiência, as pessoas têm maior probabilidade de querer parar de
tomar suas medicações depois que se recuperam parcialmente de um episódio
maníaco ou depressivo. Nessa fase de recuperação, podem se sentir bem ou
mesmo hipomaníacas, mas estão mais no controle de seus humores do que
durante o auge da doença. Tomar medicação dá a sensação de que você está
estragando uma festa que estava muito boa. Essas reações são especialmente
verdadeiras em pessoas jovens que tiveram apenas um ou dois episódios – a
inconsistência em relação à medicação pode decorrer dos sentimentos de
invulnerabilidade típicos da juventude. Mas também trabalhei com pessoas de
meia-idade e adultos mais velhos que reconhecem ter tido inúmeros episódios
depressivos ou maníacos ao longo da vida e ainda assim acham que não
precisam de medicação. É compreensível, pois querem saber como seria a vida
sem os comprimidos. Podem também estar preocupados com os possíveis
efeitos de longo prazo das medicações para seus rins ou sistemas metabólicos.
No capítulo anterior, comentei os diversos tratamentos com drogas
disponíveis às pessoas com transtorno bipolar. Neste capítulo, vamos examinar
as várias razões alegadas por quem tem transtorno bipolar para interromper
seus regimes de medicamentos. Muitas dessas razões me foram apresentadas
por meus pacientes, inclusive aqueles que vinham estáveis há um bom tempo,
mas que acabaram duvidando de que as medicações estivessem de fato agindo.
Também examinei a literatura de pesquisas sobre as razões pelas quais
pessoas com transtorno bipolar param de tomar medicação, que são bem
variadas. Às vezes, as questões envolvidas nessa inconsistência ou discordância
estão relacionadas a sentimentos ou crenças a respeito do transtorno – como
não concordar com o diagnóstico ou achar que se está perdendo o prazer
oferecido pelos períodos de alta. A inconsistência pode também ser uma reação
a efeitos colaterais desagradáveis (por exemplo, ganho de peso), a di culdades
relacionadas a um médico em particular ou ao fato de detestar ter que fazer
coletas de sangue. Às vezes as pessoas simplesmente se esquecem de tomar
medicação. Elas também param com as medicações por questões práticas,
como o vencimento do prazo das receitas (e a di culdade de obter uma nova)
ou seu alto custo. Não é surpresa ver pessoas com transtorno bipolar seguindo à
risca as medicações porque seu médico é alguém que demonstra empatia, é
colaborativo e acessível; certamente, o nível de experiência do médico ou suas
credenciais são menos importantes para determinar a adesão (Sylvia et al.,
2013).
Neste capítulo, dou dicas para tornar as medicações mais aceitáveis para
você (caso tenha dúvidas a esse respeito), assim como ideias para discutir efeitos
colaterais com seu médico, de modo que você possa obter o máximo possível
de ganho (e o mínimo possível de dor) com seu tratamento. Talvez você
reconheça suas experiências nas histórias de pessoas que estão lutando para
aceitar um tratamento de longo prazo com medicações. Também vou abordar
os fatores que afetam a disposição das pessoas em aceitar psicoterapia de longo
prazo.
Ê Â
QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DA NÃO CONCORDÂNCIA?
Pessoas que têm transtorno bipolar muitas vezes recebem prescrição para
tomar medicações sem que lhes sejam explicadas razões convincentes para isso
ou sem que tenham boa compreensão do que pode acontecer se não tomarem.
A principal razão de não ser aconselhável que você pare de tomar
medicação é que isso está associado a alto risco de recorrência. Não tomar as
medicações como prescrito é o maior fator isolado a determinar quando e com
que frequência as pessoas com transtorno bipolar terão recorrências. A não
concordância também aumenta muito o risco de suicídio. Como Jamison
(1995) explica: “Que a minha vida dependia dos comprimidos é algo que por
muito tempo não cou óbvio para mim; e a minha falta de noção sobre a
necessidade de tomar lítio mostrou-se extremamente onerosa” (p. 89, tradução
nossa).
Quando alguém interrompe as medicações de modo muito abrupto (que é
o mais comum), a probabilidade de recaída – ou de cometer suicídio – é mais
elevada do que quando os estabilizadores do humor ou antidepressivos são
descontinuados de maneira mais gradual (Suppes; Dennehy; Gibbons, 2000;
BaldessarinI et al., 2010). Se você toma lítio e de repente para de tomar, e em
seguida começa a tomar de novo, leva um tempo até que ele alcance um nível
estável em seu sangue e você volte a contar com sua total proteção contra
recorrências. Se você toma remédios de maneira inconsistente, também acabará
com níveis sanguíneos da droga inadequados, que podem levar aos mesmos
resultados negativos.
Muitas pessoas querem tirar “férias das drogas”, imaginando que se
piorarem poderão voltar a tomá-las e então recuperarão a normalidade – como
se fosse simples assim. É como quando alguém tem que tomar antibiótico
durante dez dias para tratar uma infecção nos seios nasais. Pode até se sentir
melhor depois de cinco dias e então simplesmente parar de tomar o
antibiótico; então cará em um estado em que não tem mais sintomas ativos,
mas o episódio de infecção ainda está subjacente e prossegue. Nesse estado,
existe alto risco de uma recaída nos sintomas.
O fato de as consequências de interromper as medicações estabilizadoras do
humor não serem sempre imediatas (isto é, você pode se sentir melhor por um
tempo depois que para), pode fazer você achar que está tudo em ordem e que
pode tocar a vida em frente sem a medicação. Infelizmente, sua sensação de
bem-estar talvez tenha a ver com a hipomania que muitas vezes se instala assim
que os estabilizadores do humor são interrompidos. Essa hipomania costuma
ser o primeiro estágio da evolução de um episódio maníaco mais grave. Se você
para de tomar uma droga como o lítio e então tem uma recaída da doença, é
bem provável que não reaja tão bem ao voltar a tomar. Na realidade, tomar e
parar medicações pode levar a um padrão de ciclagem contínua, em que os
próprios episódios da doença geram outros episódios, e os períodos de bem-
estar entre eles cam mais curtos (o chamado “efeito kindling”; Post, 2007). No
lado positivo, receber tratamento médico precocemente no curso de seu
transtorno (isto é, quando você recebe o primeiro diagnóstico) e conseguir
mantê-lo pode prevenir esses padrões de ciclagem contínua do humor.
POR QUE AS PESSOAS PARAM DE TOMAR MEDICAÇÕES – E POR QUE VOCÊ DEVE
EVITAR FAZER ISSO
Tratamento eficaz: Para a maioria dos médicos, quem tem transtorno bipolar
funciona melhor em arte, música ou escrita quando em remissão do transtorno, ou
quando com hipomania leve, e não quando plenamente maníaco ou depressivo.
◼ “Como devo lidar com meu médico em relação aos efeitos colaterais?”
O ideal é que administrar seus efeitos colaterais seja um processo
colaborativo entre você e seu médico, e que vocês discutam a e cácia de cada
medicação e seus efeitos adversos. Para melhorar esse processo, mantenha um
registro dos efeitos colaterais que você experimenta dia a dia, e relate isso ao seu
médico. O formulário a seguir irá ajudá-lo a organizar seus pensamentos a
respeito. Copie o registro completo, leve-o à sua próxima consulta sobre
medicação e converse sobre isso com seu médico.
DICA DE CUIDADOS PERSONALIZADOS
REPORTAR EFEITOS COLATERAIS
Efeitos colaterais podem ter outras soluções que não impliquem parar de tomar as
medicações. Informar o médico a cada visita sobre os efeitos colaterais que você
experimenta irá ajudá-lo a avaliar, junto com você, as alternativas ao seu atual plano
de tratamento. Se você sente efeitos colaterais incomuns que não estão na lista dos
que costumam ser associados a cada medicação, reporte-os assim mesmo.
Você pode se irritar com seu médico porque ele não o alertou sobre os efeitos
colaterais que está experimentando. É uma irritação compreensível, mas tenha em
mente que o médico pode não ter sido capaz de prever seu perfil individual de efeitos
adversos. Revele como se sente a respeito disso; ele ou ela precisa saber o quanto
essas questões são importantes para você.
Como essa mulher diz, e como Kate Millet a rma na citação do início deste
capítulo, tomar medicações pode fazer você se sentir como quem está cedendo
às exigências da sua família. Se você é um adulto jovem e vive com os pais,
pode car logo farto de ser importunado por eles para tomar os comprimidos,
ou de interpretarem suas reações emocionais às coisas do dia a dia como sinais
de que precisa tomar mais medicação, ou de o lembrarem de que você é a
pessoa doente da casa. Talvez ache que os outros membros da sua família
também têm o transtorno e que eles é que deveriam tomar medicação, não
você.
A maioria dos adultos jovens quer independência dos pais, e ter um
transtorno psiquiátrico às vezes faz parecer que o relógio do tempo foi atrasado
alguns anos. Do mesmo modo, ingerir comprimidos, comparecer às consultas
médicas e ter seus níveis de sangue testados pode dar-lhe a sensação de que está
totalmente dominado por seus pais. A realidade é que tomar medicações,
embora talvez de início re ita sua concordância com os planos de seus pais, é
algo que aumenta suas chances de ser independente mais tarde. Com seu
humor estável, é muito mais provável que você seja capaz de funcionar, bem,
longe de casa. Mas é difícil ter essa visão de longo prazo quando tomar
comprimidos faz você se sentir de novo como uma criança.
Se você é casado ou mora com um parceiro, pode ter os mesmos
sentimentos em relação a ele ou ela, que talvez esteja assumindo uma linha
dura com você. Alguns cônjuges de clientes meus chegaram a ameaçar largar o
parceiro se ele parasse de tomar medicações. A insistência de seu companheiro
ou companheira para que você tome seus remédios pode fazer você sentir essa
opção como algo menos atraente ainda.
Como as pessoas resolvem esse dilema? Muitos dos meus pacientes acabam
reconhecendo o papel dos estabilizadores do humor em manter a saúde deles e
em preservar o relacionamento com seus familiares. Mas é importante você
sentir que a decisão de tomar medicação é, em grande medida, sua. O Capítulo
13 dá algumas dicas sobre como se comunicar com os membros da família nas
questões relacionadas com a doença, entre elas, como negociar os problemas às
vezes voláteis de tomar medicação.
Muitos de meus pacientes reportam sentir-se melhor em relação a tomar
medicação depois que começaram a encarar o tratamento com psicofármacos
como algo importante para promover suas metas pessoais. Alguns têm feito
essa transição, ou seja, pararam de se envolver em disputas de poder com seus
pais ou parceiros e assumiram maior responsabilidade pela gestão do próprio
tratamento com medicamentos (por exemplo, mantendo a regularidade dos
horários, para que os outros não precisem car cobrando, monitorando efeitos
colaterais, lembrando de solicitar novas receitas, marcando as próprias
consultas ao médico). Essa transição ajudou-os a encarar as medicações menos
como uma ameaça à sua autonomia e identidade.
Proteção eficaz: Aprenda a se conhecer. Se você conhecer bem seus pontos fortes
e suas limitações, será capaz de decidir quais os fatores de risco que consegue evitar
de fato ou não, e que estratégias de autogestão podem ser implementadas dentro do
seu atual estilo de vida.
DESCRITORES DE HUMOR
(0) “DLN” (Dentro de Limites Normais). Essa é sua linha basal: seu humor não está
nem elevado nem depressivo, seu nível de energia está dentro dos seus padrões,
você não está irritável, tem sono normal e é capaz de levar em frente seu dia de
trabalho e outras tarefas com pouca ou sem nenhuma dificuldade. Você não tem
outros sintomas óbvios de transtorno do humor.
Humor elevado
(+1) Elevação leve. Você se sente animado, alegre ou energizado, ou um pouco
mais irritável ou ansioso ou nervoso que o normal, mas não chega a ficar
incapacitado; tem mais energia, mais ideias, sente-se mais confiante, mas consegue
trabalhar bem e se relacionar normalmente com os outros. Pessoas nessa categoria
podem fazer qualquer das seguintes afirmações ou todas: “Estou mais
inquieto/animado/falante hoje do que o habitual”; “Estou fazendo mais ligações no
celular”; “Estou me saindo bem com um pouco menos de sono” (por exemplo, 1 ou 2
horas menos que o usual); “Estou me dispersando mais facilmente hoje”; “Estou
implicando mais com os outros”; “Sinto mais frustração com pequenas coisas”; “Estou
um pouco acelerado ou ligado”; “Minha mente está captando as coisas mais rápido”;
“Estou mais a fim de sexo”; “Estou mais otimista”; “Estou hipomaníaco”.
(+2) Elevação moderada. Meio “ligado” ou moderadamente maníaco; seu humor
está elevado, pilhado, eufórico ou muito irritável e ansioso, e as pessoas têm
comentado que você tem se mostrado inadequado. Você tem vontade de quebrar
coisas, sente-se muito motivado por metas e está hipersexual, e seus pensamentos
andam muito rápido; tem bastante dificuldade em se concentrar no trabalho; vive
tendo atritos com pessoas (elas parecem se mexer e falar devagar demais); as
pessoas reclamam de que você parece irritado ou mal-humorado, parece um tonto, ri
alto demais ou ri à toa, ou faz as coisas a mil por hora. Tem gritado com os outros por
nada. Dorme apenas 4 horas por noite e não sente cansaço. Falas comuns suas
podem ser: “Estou sem a menor paciência hoje”; “Acho que posso dar conta das
coisas dormindo bem menos”; “Não paro de pensar em sexo”; “Minha mente está
funcionando mais rápido do que nunca”; “Tenho muita coisa pra dizer e odeio ser
interrompido”; “Estou me sentindo irritado, tudo me deixa com raiva”.
(+3) Elevação intensa/maníaco. Nesta categoria estão a euforia descontrolada ou a
agressividade; você ri constantemente ou sua irritabilidade foge ao controle; você
anda brigando verbal ou fisicamente com as pessoas; sente-se como uma pessoa de
talento excepcional ou que tem poderes especiais (por exemplo, a capacidade de ler
os pensamentos dos outros, de mudar o tempo); não para de andar pra cá e pra lá e
não consegue ficar sentado, quieto; não está a fim de trabalhar nem de se relacionar
com os outros; arrumou confusão em público, foi detido pela polícia ou foi levado até
o hospital; está dormindo pouco ou quase nada.
Humor depressivo
(-1) Depressão leve. Você se sente um pouco desacelerado ou triste; acha difícil
tirar certos pensamentos pessimistas da mente; sente-se mais crítico de si mesmo;
gostaria de dormir mais ou está tendo dificuldades para pegar no sono ou mantê-lo, e
sente um pouco mais de fadiga; as coisas não parecem tão interessantes como de
costume. No entanto, você ainda consegue trabalhar e está se relacionando
normalmente com os outros, embora possa se sentir menos eficiente; sua depressão
não está óbvia para as outras pessoas.
(-2) Depressão moderada. Você se sente muito triste, deprimido, sem esperança,
moderadamente desacelerado, ou sem interesse pelas coisas durante a maior parte
do dia; está dormindo mais ou tendo problemas para cair no sono ou mantê-lo (por
exemplo, acorda a toda hora no meio da noite e não é capaz de pegar no sono de
novo); cada vez menos coisas despertam seu interesse; fica horas ruminando suas
falhas atuais ou de situações passadas; sente-se mal-humorado, tudo perturba ou
irrita; tem bastante dificuldade para realizar seu trabalho (falta na empresa ou na
escola ou se mostra menos produtivo); sua concentração está comprometida; os
outros comentam que você está devagar ou desacelerado ou que fala meio arrastado.
Tem ideais suicidas e pode até já ter pensado em vários métodos para tirar a própria
vida.
(-3) Depressão grave. Você sente profunda tristeza ou torpor; tudo parece sem
graça, e você perdeu o interesse por quase tudo; experimenta fortes impulsos
suicidas; desejaria morrer ou até já tentou tirar a própria vida; está totalmente sem
esperança; acredita ter cometido terríveis pecados e acha que deveria ser punido;
não consegue trabalhar nem se concentrar ou interagir com os outros, ou concluir as
tarefas de autocuidados (como tomar banho, lavar suas roupas); fica na cama a maior
parte do dia, mas não consegue dormir, e tem graves problemas de falta de energia.
Mapear o humor requer um pouco de prática. Você pode ser uma pessoa
naturalmente capaz de avaliar se está se sentindo maníaco ou depressivo, e
talvez ache fácil descrever sua experiência aos outros. Mas pode ser que os
rótulos descritivos de maníaco ou deprimido não captem a maneira como se
sente. Se for este o caso, dê-se um tempo para aprender em que consiste
essa tabela do humor e as escalas numéricas e tente ver se consegue fazer
corresponder os termos usados na tabela com a sua maneira particular de
descrever seu humor. Por exemplo, deprimido pode significar a mesma
coisa que “arrasado”; elevado pode significar o mesmo que “ligado”,
“pilhado” ou “a mil por hora”.
Solução eficaz: Se você não tem certeza se sua avaliação da tabela do humor é
razoável, pergunte a alguém que o conheça bem (um membro da família ou seu
parceiro) se ele ou ela concordam com sua avaliação de algum determinado dia.
Você vai notar que a tabela do humor também pede para você dar nota
aos seus níveis de ansiedade e irritabilidade em uma escala de 0 a 3. Há
duas razões para isso. Primeiro, a ansiedade e a irritabilidade podem ser os
primeiros sinais de um novo episódio maníaco, misto ou depressivo. Em
segundo lugar, algumas medicações podem produzir esses sintomas como
efeitos colaterais (por exemplo, os antidepressivos inibidores de recaptação
de serotonina ou ISRSs). Portanto, é uma boa ideia rastrear esses sintomas,
mesmo que você não tenha certeza do quanto eles estão relacionados com a
ciclagem de seu transtorno bipolar.
Exemplos de níveis “1” de irritabilidade são sentir-se, por exemplo, meio
de “pavio curto” ou rabugento, mas não a ponto de não conseguir se
relacionar com os outros. Um “2” equivaleria a uma irritabilidade
moderada, que causa problemas no trabalho ou em casa. Um “3” seria
quando você está num tal grau de irritação e raiva que enfrenta sérios
problemas para funcionar. Pessoas em um nível “3” acabam tendo
altercações fortes, verbais ou mesmo físicas com os outros, arrebentam
coisas, ou se deparam com a ameaça de serem presas. De modo similar, um
nível “1” de ansiedade significaria que você se sente um pouco tenso,
apreensivo e talvez assustado, mas capaz de levar a vida sem fazer muito
esforço adicional. Um “2” seria uma ansiedade moderada que torna difícil
trabalhar, ler, socializar ou realizar as tarefas do dia a dia; no entanto, é uma
situação em que você ainda funciona, fazendo um esforço extra. Um “3”
significaria que você está em pânico explícito e com uma ansiedade grave,
incapacitante.
Se você sente que seu humor foi influenciado por um ou mais eventos ou
interações com pessoas, registre isso em sua tabela no campo “Anotações
diárias”. Algumas dessas anotações podem ser importantes (por exemplo,
um rompimento com seu parceiro, sair do emprego), e outras podem
parecer sem importância (mudança no horário do trabalho; precisar correr
até o aeroporto para não perder um voo; ficar preso no trânsito). Registre
todos os eventos que você sente que podem ter influência, mesmo que
pareçam não ter maiores consequências. Por exemplo, Amy descobriu que
até as brigas com o pai, que eram relativamente frequentes, estavam
associadas a uma leve baixa em seu humor (para -1). O propósito aqui é
observar as conexões entre eventos específicos e certas mudanças de humor.
Quando estiver revendo o dia e preenchendo sua tabela, leve em conta
questões como as seguintes:
“O que aconteceu pouco antes de eu começar a me sentir irritável ou
hipomaníaco?”
“O que aconteceu logo depois que meu humor irritável se instalou?”
“O que aconteceu pouco antes de meu humor sofrer uma tremenda
baixa?”
Quando for registrar os estressores, lembre-se de uma questão que foi
levantada no Capítulo 5: às vezes é difícil dizer se um estresse foi a causa
ou o efeito de seu humor. Com o tempo, a avaliação do humor pode ajudá-
lo a determinar o timing dos eventos em relação a mudanças em seu humor.
Por exemplo, você precisou correr até o aeroporto e então sentiu uma
elevação em sua energia e em seu humor, ou será que você já estava se
sentindo acelerado antes de precisar correr até o aeroporto? Você começou a
discutir com seu pai e então ficou deprimida, ou já estava deprimida e
irritada antes de entrar na discussão? Não se preocupe por enquanto se não
tiver certeza do que causou o quê. Em vez disso, simplesmente tente
identificar os fatores que coincidem: eventos estressantes, estados de humor
e padrões de sono.
A seção “Anotações diárias” também é um lugar para registrar seu uso
de álcool e drogas. Se você bebeu ou fumou maconha em um dia específico,
registre essa informação como um evento, mesmo que o seu consumo tenha
parecido trivial (por exemplo, “tomei uma cerveja” ou “fumei meio
baseado”). Então poderá observar por si mesmo se o álcool ou a maconha
afetam seu humor no dia seguinte e em que medida. Você pode também
perceber melhor se está usando substâncias como uma maneira de aliviar
um humor negativo dos dias anteriores ou da semana.
“Eu realmente sinto que a psicanálise me fez bem. Eram quatro sessões por semana. Mas não
acho que tinha algo a ver com falar da minha infância. Havia algo de muito terapêutico em
pegar o metrô e ter um lugar para ir de manhã, vendo o mesmo terapeuta todas as vezes, a
mesma atendente no estacionamento, voltando no meu carro no mesmo horário... Achei toda essa
estrutura muito reconfortante.”
– Mulher de 40 anos com transtorno bipolar II
No Capítulo 5, discuti os efeitos benéficos sobre o seu humor
proporcionado pelas “referências de tempo” externas e pelos potenciais
efeitos negativos de eventos ou de exigências sociais que perturbavam suas
rotinas diárias e seus ciclos de sono-vigília. Manter ativamente rotinas
diurnas e noturnas é uma das mudanças comportamentais mais
importantes que você pode empreender – além de tomar regularmente
suas medicações – para ajudar a manter você no assento do motorista ao
lidar com seu transtorno. Nesta seção, discuto a abordagem da estabilidade
do ritmo social para manter o bem-estar.
◼ “Certo, agora que já me deitei na hora, como faço para pegar no sono?”
“Eu me reviro na cama, olho o relógio, fico fungando e bufando, ando pela casa... faço um pouco
de ioga, medito, ligo a TV... o caso é que não consigo dormir. Fico louco da vida quando vejo
minha mulher se deitar e, pronto, já está dormindo. Quase me dá vontade de acordá-la pra que
ela sofra como eu, mas não faço isso. É assim toda noite, e aí, claro, no dia seguinte no trabalho
eu estou feito um bagaço.”
– Homem de 51 anos, com ciclagem rápida de transtorno
bipolar II
Spencer, 45 anos, lutou por muito tempo com seu desejo de beber. Por
meio de terapia de casal relativa ao seu transtorno e de mapeamento
do humor, aprendeu a reconhecer seus sinais prodrômicos de episódios
de humor: sutis aumentos da irritabilidade e da raiva, letargia e
insônia. Durante esses intervalos de ciclagem, aprendeu a tomar
cerveja sem álcool quando estava com a esposa e amigos e todos
estivessem bebendo. Ele conseguiu parar de beber. Eis como resumiu
sua experiência:
“Eu costumava ser uma pessoa que tomava dois drinques por noite,
toda noite, isso por vários anos. Finalmente cheguei à conclusão de
que simplesmente não podia continuar assim. Não foi uma coisa
moralista; na verdade foi uma decisão simples, concluí que a bebida
criava em mim um estado que me deixava infeliz. Por dois dias depois
de beber, mesmo que fosse pequena quantidade, eu me sentia irritado
com todo mundo, emocionalmente exaurido, e tinha vontade de dormir
o dia inteiro. O preço que pagava era alto demais. Mas antes de
conseguir parar, precisei ter uma prova convincente de que o álcool
estava piorando a minha vida, de que era algo que eu não precisava
fazer comigo. Finalmente vi que o álcool era uma grande contribuição
para a minha raiva e para meus problemas com as pessoas. Sem
álcool, posso decidir se quero trabalhar melhor minha raiva; fica ao
meu alcance fazer isso. Com o álcool, eu simplesmente sou tomado
pela raiva.”
No primeiro passo, identi car seus sintomas prodrômicos, você faz uma lista
(em geral com a ajuda de um membro da família ou amigo) dos primeiros
sinais que indicam o início de um período maníaco ou hipomaníaco.
Identi car sinais de alerta pode também envolver identi car as circunstâncias
que despertam esses sintomas (por exemplo, beber muito ou usar drogas, falhar
na dosagem das medicações, enfrentar situações de trabalho ou familiares
estressantes).
No segundo passo, listar medidas preventivas, você faz força para se lembrar
das ações que deve tomar caso um ou mais sinais prodrômicos apareçam (por
exemplo, marcar uma consulta psiquiátrica de urgência ou providenciar para
que outras pessoas tomem conta de seus lhos). Essas ações envolvem você, seu
médico e membros de seu círculo mais próximo (ver também os exemplos nas
seções que se seguem).
Na terceira fase, você, as pessoas relevantes em sua vida e seus médicos
juntam os primeiros dois passos e elaboram um plano escrito, que é uma espécie
de contrato a respeito do que fazer quando você sentir que um episódio maníaco,
misto ou hipomaníaco se aproxima. É importante que todas as pessoas-chave
tenham pronto acesso ao contrato, de modo que possam ajudar a implantá-lo
quando seu humor começar a escalar, já que é quando você terá menos
condições de pedir ajuda.
Este capítulo põe foco apenas na prevenção de episódios maníacos ou
mistos. Mas este material também é relevante para prevenir episódios
hipomaníacos, que, embora causem menos danos, muitas vezes têm um
conjunto de sinais de alerta que podem ser detidos com algumas dessas mesmas
estratégias preventivas. Os dois capítulos que vêm a seguir discutem maneiras
de prevenir ou minimizar a espiral descendente da depressão. Mas antes de
entrar na mecânica concreta para desenvolver um contrato, permita-me dizer
algo a respeito da delicada questão que já pode ter lhe ocorrido: trata-se do
desconforto de ter que se apoiar nos outros quando você está cando doente.
“Ela é tímida 95% do tempo, mas, quando começa a car ligada, se abre com todo mundo, conta a vida
dela inteira a um caixa de banco, por exemplo; ca impositiva, emotiva e efusiva demais, meio boba ou
então chora por nada... Vejo que as outras pessoas se intimidam um pouco e olham pra mim como quem
diz ‘Por que você não faz nada?’ Ela não se dá conta de que é desse jeito que está sendo vista pelos outros.”
– Marido de mulher de 37 anos com transtorno bipolar I
Prevenção eficaz: É na fase prodrômica que você tem maior controle sobre seu
destino. Por isso, é importante se preparar para reconhecer até mesmo os mais sutis
sintomas de mania. Fique atento especialmente nas horas em que seu humor oscilar
muito e você sentir seu nível de energia aumentar ou que as pessoas reagem à sua
irritabilidade ou excentricidades.
Se você tem transtorno bipolar II, talvez se pergunte se suas hipomanias de fato têm
um início e um fim definidos. Episódios hipomaníacos podem ser muito sutis, e como
não interferem muito no seu funcionamento no dia a dia podem ser difíceis de
distinguir de seu estado usual. Mas até a hipomania envolve mudanças observáveis,
físicas, cognitivas e emocionais em relação ao seu estado corriqueiro. Ao montar seu
plano de prevenção de recaídas, dê aos primeiros sinais de alerta de hipomania a
mesma importância que dá aos alertas para fases maníacas ou mistas.
Sintomas prodrômicos típicos de hipomania são perda de sono (às vezes uma
mudança de apenas uma hora ou duas), aumento nos níveis de energia, sentir-se mais
orientado a metas, aceleração dos pensamentos ou da fala, sensação de maior
criatividade ou de ser capaz de “pensar fora da caixa” e de maior irritabilidade ou
impaciência. Talvez você se lembre das mudanças que ocorreram da última vez e
fizeram você saber que havia algo diferente. Lembre-se que um pródromo precisa ser
uma mudança de seu self usual: se você costuma ser energético, consegue se virar
bem com apenas 6 horas de sono e tem o hábito de falar rápido, talvez tenha apenas
um temperamento de “alta voltagem” ou “hipertímico”. Para algumas pessoas, o
aumento da ansiedade é um sinal crucial de hipomania, geralmente combinado com
pensamentos acelerados, irritabilidade e maior atividade.
Robert, o homem da situação discutida no início deste capítulo, reportou
sentir-se muito sexual e com pensamentos acelerados antes de passar às
oscilações de humor. Sua namorada, Jessie, viu isso de outro modo: achou que
ele primeiro cou irritável, e depois espalhafatoso e sicamente invasivo. Outra
pessoa com transtorno bipolar, Tom, disse que suas manias quase sempre
envolviam preocupações religiosas e paranoia. Seus pais o descreveram como
“assumindo um certo jeito de olhar” e “sussurrando coisas quase inaudíveis”. O
médico que tratou Alan, o técnico de geladeiras de 60 anos de idade que
acreditava que os outros podiam ouvir o que ele estava pensando, achava que a
primeiro sinal prodrômico de Alan era seu “jeito saltitante, animado”.
Caracterizações como essas são úteis para esclarecer qual é o aspecto de suas
fases prodrômicas, a partir de seu ponto de vista privilegiado para enxergá-las e
também do ponto de vista privilegiado das outras pessoas.
O que você e as pessoas relevantes em sua vida devem fazer quando você
tem um ou mais sinais precoces de alerta? Separei esta seção da seguinte (Parte
B), que trata de negociar ajuda com seu médico e o sistema de saúde mental.
Mais adiante, colocaremos os Passos 1 e 2 juntos em um contrato escrito (Passo
3).
Nem todos os passos preventivos a seguir se aplicarão a você. Por exemplo,
talvez você tenha problemas com dinheiro, mas não com inconveniências
sexuais. Pode ter um histórico de tomar decisões por impulso na vida, mas
nunca ter dirigido de modo imprudente. Seu padrão individual de sintomas
prodrômicos pode ditar quais das medidas preventivas a seguir são mais
urgentes e quais podem esperar. Assim, por exemplo, se você tem sintomas
prodrômicos como irritabilidade e diminuição da necessidade de sono, talvez
queira consultar seu médico, mas pode não ser essencial pedir que alguém
guarde seus cartões de crédito (a não ser que a irritabilidade e perturbações do
sono tenham, no passado, anunciado um impulso de fazer investimentos
arriscados).
◼ Administrar dinheiro
“Uma vez peguei um taxi até o centro, dei 50% do valor da corrida de gorjeta ao taxista, e então comprei
dois vestidos muito caros numa loja de departamentos que imaginei que estivesse fazendo uma grande
liquidação. Depois soube que não. Mas comprei os vestidos assim mesmo, sem saber nada a respeito do que
estava levando ou se os preços eram bons, e sem estar acompanhada por alguém, algo que normalmente eu
teria feito. Gastei mais de mil dólares, que nós não tínhamos. Acabei devolvendo um dos vestidos, mas
[quando quei maníaca] estraguei o outro, pois esqueci o ferro quente de passar em cima.”
– Mulher de 55 anos com transtorno bipolar I descrevendo
seu último episódio maníaco
Prevenção eficaz: Se você acha que está na fase prodrômica da mania ou hipomania,
adote a regra das 48 horas: espere 48 horas e tenha pelo menos duas boas noites de
sono antes de fazer qualquer compra que exceda certo limite (Newman et al. 2001).
Nessas 48 horas, discuta essa compra com pelo menos três pessoas de confiança (um
familiar, um amigo e o terapeuta ou médico). Enquanto aguarda, pergunte-se:
Se outra pessoa quisesse fazer o que eu pretendo fazer, que conselho eu lhe daria?
Qual a pior coisa que poderia acontecer se eu não fosse capaz de levar adiante
meus planos?
Qual a pior coisa que poderia acontecer se eu realmente fosse capaz?
A passagem do tempo, sua própria avaliação crítica da situação e a ajuda dos outros
podem ajudá-lo a considerar o quanto é provável que suas decisões financeiras
tenham sucesso.
Como ocorre com muitas coisas que ofereçam compensações, o sexo exerce
uma atração particular quando você está cando maníaco. Isso pode ocorrer
mesmo que você em suas fases estáveis seja uma pessoa sexualmente
conservadora. Quando as pessoas estão em progressão de sintomas, envolvem-
se em situações sexuais de risco, e às vezes os resultados emocionais – que
podem gerar sentimentos de vergonha, humilhação e raiva – fazem piorar as
oscilações de seus estados de humor. Como você sabe, encontros por impulso
têm alto risco de disseminar doenças sexualmente transmissíveis.
Como discutido no Capítulo 2, a mania é mais caracterizada por ser movida
por metas do que por ser uma coisa feliz. Quando você se sente fortemente
atraído por recompensas, é difícil controlar-se e questionar se está tomando
decisões saudáveis. Algumas pessoas se bene ciam de já saber que têm
inclinação a “aprontar” sexualmente quando estão em suas fases prodrômicas
ou ativas de mania ou hipomania. Saber que você tem essa característica é o
primeiro passo para poder se controlar.
Pessoas com transtorno bipolar, especialmente mulheres, têm maior
probabilidade de sofrer abuso sexual quando jovens do que outras da mesma
idade sem o transtorno (Palmier-Claus et al., 2016). Experiências de abuso, seja
de um pai, amigo da família ou estranho, podem agravar suas di culdades para
regular os estados de humor – ou impor limites aos outros – quando adulto.
Ter um histórico de abuso sexual faz certas pessoas encararem encontros sexuais
como potencialmente adversos ou mesmo não bem-vindos. Se você sente que
memórias de abuso sexual começam a aparecer quando seu humor está
escalando, liste essas memórias como um sinal precoce de alerta de mania.
Claro que nada disso signi ca que você deva evitar totalmente encontros
sexuais. Algumas pessoas reportam que seus relacionamentos românticos
básicos melhoram quando estão maníacas ou hipomaníacas, pois elas cam
mais bem dispostas sexualmente em relação a seus parceiros. Já outras sentem
que a maior frequência de sexo com o parceiro contribui para escalar seus
estados de humor. Seja como for, estar maníaco não quer dizer que você tenha
que evitar sexo com seu parceiro regular.
Solução eficaz: O fato de a mania poder aumentar seu desejo sexual não significa que
você deva evitar a atividade sexual. Na verdade, o sexo pode dar vazão à sua energia
se for com a pessoa certa na hora certa. A chave é não deixar que sua mania o leve a
ter sexo irresponsável ou arriscado com pessoas que você não conhece bem ou nas
quais não confia.
Chad: Pois é, doutora, acho que estou saindo dos trilhos de novo.
Dra. Eastwood: O que está acontecendo?
Chad: Estoutomando a medicação, mas ando tendo todo tipo de pensamentos e
aquelas outras coisas todas.
Dra. Eastwood: Pensamentos a respeito do quê?
Chad: Ah, a respeito do passado. Do meu pai e da morte dele, essas coisas.
Dra. Eastwood: Como está seu humor, Chad? Algumas mudanças?
Chad: É,
estou mais chateado, cando rabugento, gritando com as crianças. Eu
simplesmente não sei se quero continuar com isso de família.
Dra. Eastwood: Como foi o seu sono essas últimas noites?
Chad: Tudobem, quer dizer, não exatamente; não consigo dormir muito tempo.
Levanto e co andando pra lá e pra cá, esse tipo de coisa. Os pensamentos a
mil por hora. Ficar na cama não me parece confortável.
Ao que tudo indica está acontecendo bastante coisa nesse
Dra. Eastwood:
momento. Algo mais que eu precise saber, Chad? Está tendo algum
pensamento de se ferir, algo nessa linha? Você acha que seria bom car um
tempo internado?
Chad: Não,internado ainda não. Só estou perturbado, é isso. Eu me sinto meio
doido, e não consigo dormir.
Dra. Eastwood: Como é que andam as suas medicações?
Chad: Esqueci de tomar o lítio hoje cedo, mas tomei agora à noite.
Nesse diálogo, a Dra. Eastwood fez uma avaliação rápida e concluiu que
Chad talvez estivesse na fase prodrômica de um episódio maníaco ou misto.
Nesse estágio, a progressão de Chad ainda podia ser tratada em esquema
ambulatorial, o que a Dra. Eastwood fez marcando uma consulta de
emergência, para aumentar a dosagem de lítio de Chad e acrescentar uma
pequena dose de medicação antipsicótica. Um exame de sangue revelou que o
nível de lítio de Chad estava baixo, embora Chad a rmasse estar tomando a
medicação com relativa regularidade. As mudanças que ela fez no seu regime de
medicação deram certo e não produziram novos efeitos colaterais. Em uma
semana, a mania de Chad havia parado de escalar e sua depressão foi aliviada, e
ele começou a voltar ao seu estado basal.
Chad fez uma descrição de seus sintomas prodrômicos. A Dra. Eastwood
guiou-o para que descrevesse seus sintomas e como estava usando a medicação.
Ela seguiu um esquema orientado por tarefa e conseguiu evitar que Chad saísse
dos trilhos. Note que a Dra. Eastwood não tratou de nenhuma questão
psicoterápica ao telefone, não tentou checar os sentimentos de Chad em
relação ao pai ou à sua situação familiar atual. A expectativa é que se você ligar
nessas circunstâncias de emergência seu médico na maioria das vezes não realize
uma sessão de psicoterapia com você. Isso pode ser frustrante porque talvez
você sinta que certas questões pessoais ajudam a explicar seus sintomas. Muitas
pessoas acreditam, como no caso de Chad, que seus sintomas maníacos são
disparados pelo sentimento de perda. Mas a ligação de emergência ao seu
médico tem o intuito principal de avaliar se é preciso fazer uma mudança na
medicação ou, em circunstâncias mais extremas, se você precisa ser
hospitalizado. Depois que seus sintomas se aliviarem, o médico (ou seu
terapeuta) poderão ajudá-lo a compreender de que modo seus estressores atuais
ou passados ou suas perdas estão contribuindo para a escalada de seu humor.
◼ “E se eu não me sentir à vontade com meu médico?”
Robert, que descrevemos no início deste capítulo, não gostava muito de sua
médica e era raro se consultar com ela. Talvez por isso essa médica não foi tão
útil como poderia ter sido para impedir seu episódio maníaco. Se ele estivesse
em contato com um médico com o qual tivesse bom relacionamento, teria
conseguido marcar logo uma consulta, que talvez produzisse bons resultados.
Nem todo mundo se sente à vontade de ligar para o médico numa
emergência, e durante uma progressão maníaca seu desconforto pode ser maior
ainda (muitas emoções cam intensi cadas na mania). Uma das minhas
clientes, Holly, já vinha há tempos frustrada com seu médico. Ela ligou para o
Dr. Nelson em várias ocasiões quando sentia estar ciclando rapidamente. O
mais comum era que ele não ligasse de volta. Ela pensou em trocar de médico,
mas não tinha certeza se de fato havia tentado o su ciente com ele.
Eu incentivei Holly a conversar sobre isso com o Dr. Nelson, um homem
que eu sabia ser bastante acessível. Mas Holly se sentiu desconfortável em
abordar esse assunto, pois tinha receio de que ele “me dispensasse como
paciente”. Eu nalmente intercedi e liguei para o Dr. Nelson quando Holly
desenvolveu sintomas afetivos mistos e pensamentos suicidas. Ele me contou
que já havia tentado várias vezes conversar com Holly, mas que ela não
retornara suas ligações. Ele também constatou que quando dava orientações a
Holly sobre como controlar os sintomas, ela cava irritada e não cooperava.
Portanto, havia frustrações de ambos os lados.
No nal, marcamos uma reunião, Holly, Dr. Nelson e eu. Insistimos em
estabelecer vários acordos quanto aos passos a dar se ela desenvolvesse sintomas
mistos ou maníacos no futuro. O Dr. Nelson forneceu um número de telefone
adicional a Holly e reiterou as instruções para casos de emergências ou quando
fosse preciso recorrer ao substituto dele nas férias. O tratamento de Holly foi
mais bem-sucedido com esse contato direto com o psiquiatra (ver também
Capítulo 6).
A melhor opção que você tem é expor suas preocupações ao médico até que
se sinta razoavelmente confortável para entrar em contato com ele em uma
emergência. Explique seus receios a respeito de novas medicações, dos efeitos
colaterais ou sobre a necessidade de hospitalização (há uma discussão adicional
a respeito na seção “Quando a hospitalização é necessária?”, adiante). Se você
chegar à conclusão irredutível de que nunca ligará para ele caso se sinta mal,
então é melhor procurar outro médico
◼ “Será que outra pessoa deveria ligar em meu lugar?”
Quando você se sente exaltado, animado e orientado por metas, pode não
ver motivo em abrir mão desse estado e aceitar as orientações que seu médico
oferece – em geral, para tomar mais medicação. Por isso, talvez faça sentido que
alguém próximo a você ligue para o seu psiquiatra ou clínico geral. Dê algum
espaço aos membros de seu círculo íntimo para que decidam quando fazer essa
ligação, ao verem que você precisa da ajuda de seu médico. Minha forte
impressão – tanto em minha prática clínica como em nossos estudos de
pesquisa – é de que aqueles que deixaram os membros de seu círculo íntimo
ligarem para seus médicos em emergências tiveram evolução melhor. Por
exemplo, Paul, o marido de Lorraine, uma mulher de 64 anos com transtorno
bipolar I, costumava ligar para o médico da esposa toda vez que ela cava
perturbada, delirante ou agitada. O médico de Lorraine geralmente era capaz
de lidar com a escalada pelo telefone, ajustando a medicação em vez de
hospitalizá-la.
O contato entre seus parentes e seu médico exige uma compreensão mútua
a respeito das políticas de tratamento. Seu médico deve esclarecer a você e a
seus parentes sobre as circunstâncias em que eles deverão ligar (por exemplo,
quando você estiver obviamente escalando ou se sentir deprimido; quando
recusar todos os seus tratamentos). Seus parentes podem ter algumas
expectativas pouco realistas, como as seguintes: que seu médico ligue para eles
quando você perder uma consulta ou quando você tiver relatado quaisquer
sintomas; ou que ele irá discutir com eles previamente qualquer intenção de
ajustar a medicação; que eles podem ligar sempre que houver uma discussão
familiar ou quando quiserem tirar alguma dúvida sobre o transtorno bipolar.
São coisas que nenhum médico costuma fazer.
Prevenção eficaz: Passos que seu médico irá seguir para deter a escalada da mania:
Avaliar a intensidade de seus sintomas;
Checar o nível das medicações no seu sangue (lítio, valproato);
Fazer mudanças no seu regime, como acrescentar ou subtrair medicações ou
aumentar a dosagem dos atuais agentes;
Ter contato mais frequente com você e seus familiares;
Providenciar uma hospitalização, caso se mostre necessária.
Vamos agora juntar tudo o que foi discutido até aqui neste capítulo em um
contrato escrito para prevenção da recaída. O formulário a seguir pede que
você resuma o que tiver concluído a respeito de sua fase prodrômica, os passos
que você e as pessoas relevantes em sua vida podem tomar para evitar uma
recaída completa, e os procedimentos de emergência envolvendo seus médicos.
Troque ideias com seus familiares, cônjuge, médico e outras pessoas de sua
con ança para ter certeza de que todos entenderam o que está sendo pedido
que façam.
Geralmente é melhor criar esse contrato quando você está se sentindo
estável e tem uma boa visão retrospectiva para relembrar seu episódio anterior e
como ele se desenvolveu. De início, você pode sentir que está sendo
pressionado por seus familiares, que lembram das coisas em uma sequência
diferente da sua ou o culpam por coisas que não tiveram a ver com você. Tente
levar a discussão sem car na defensiva – seus familiares podem estar ansiosos
em relação ao que se espera deles ou inseguros se serão capazes de fazer o que é
pedido.
Ao preencher esse contrato, inclua o máximo possível de opções. Algumas
delas provavelmente parecerão mais confortáveis que outras, mas é melhor
anotar todas, mesmo que você acabe não utilizando-as. Incentive as pessoas
relevantes em sua vida para que sejam sinceras em relação às coisas que elas se
sentem à vontade ou não de fazer quando você está ciclando para a mania.
Anote no contrato apenas aquelas responsabilidades que você e eles estão
dispostos a aceitar de bom grado. Uma alternativa é listar todas as possíveis
opções e classi cá-las de cima para baixo, por ordem de preferência. Peça que
cada um assine o contrato.
As coisas melhoraram para Robert depois que saiu do hospital. Ele arrumou
outra psiquiatra, a Dra. Barnard, que esteve com ele várias vezes nas semanas
posteriores à sua alta para ajudá-lo a otimizar seu regime de medicação.
Robert e Jessie também consultaram juntos um psicólogo, que ajudou a criar
um contrato de prevenção de recaídas. Juntos elaboraram uma lista dos
sintomas prodrômicos dele, que iam desde uma leve irritação, descon ança das
pessoas, car perto demais dos outros e falar alto demais, um repentino
desinteresse por seu trabalho, aumento do desejo sexual, e uma sensação
subjetiva de clareza mental. Fizeram uma distinção entre esses sinais precoces e
os sinais de suas manias plenamente desenvolvidas, como sentir-se eufórico ou
expansivo, ter surtos socialmente inadequados de raiva, gastar demais ou por
impulso, ter crenças grandiloquentes a respeito de seu talento musical, perda
grave de sono, e uma negação rme de que houvesse algo de errado com ele.
Também concordaram com as circunstâncias ambientais associadas às suas
escaladas: excessiva carga de trabalho, discussões na família e problemas
nanceiros.
Robert e Jessie negociaram uma série de medidas preventivas. Uma delas
envolvia dar a Jessie liberdade para ligar para a psiquiatra dele se Robert
parecesse estar escalando. Também concordaram que quando os sintomas dele
fossem ainda leves, Jessie iria ajudá-lo a se distanciar de seus estressores
imediatos (por exemplo, incentivá-lo a tirar uns dias de folga do trabalho com
ela). Concordaram, como casal, em tentar manter rotinas regulares de sono-
vigília, especialmente quando um ou mais de seus sinais prodrômicos fosse
observável. Finalmente, Robert consentiu que Jessie o acompanhasse até o
pronto-socorro do hospital, se fosse necessário.
Robert, no entanto, não cou livre de episódios. Seu episódio seguinte
começou cerca de dois meses mais tarde, mas dessa vez ele e Jessie o detectaram
mais cedo. De novo, ele se recusou a marcar consulta com o médico. Admitiu
que talvez estivesse em progressão, mas não quis continuar tomando medicação.
Ele e Jessie começaram a discutir. Como Robert mais tarde descreveu, Jessie
cou “rígida, séria, parou de se mostrar amorosa”. Jessie se desesperou quando
descobriu que a Dra. Barnard estava fora da cidade. Ligou para o substituto
da médica, que prescreveu aumentar a dosagem do remédio antipsicótico de
Robert, a risperidona. Robert concordou com o ajuste da medicação, o que
impediu que tivesse que voltar ao hospital. Mesmo assim, o relacionamento dos
dois sofreu dano adicional, e Jessie pensou em se separar. Robert também
continuou tendo con itos com seus colegas de trabalho e com outros familiares
durante esse período.
Uma consulta com seu psicólogo, marcada para uma semana depois que
Robert havia mudado sua medicação, teve foco em detectar os problemas com o
plano de prevenção de recaídas. Robert, que ainda estava hipomaníaco,
queixou-se de que o plano não havia funcionado por causa da atitude
emocional de Jessie. Disse precisar que ela se mostrasse “mais bondosa e gentil”
no jeito de abordar as situações. O psicólogo pediu que ele fosse mais especí co,
e ele disse: “Eu quero que ela me diga que me ama, e me comunique de uma
maneira mais delicada que está achando que eu preciso de ajuda e por quais
razões, mesmo que eu não seja receptivo”. Acrescentou que desejava que ela não
levasse a irritabilidade dele tão para o lado pessoal, e que a encarasse como
parte do transtorno dele. Jessie, por sua vez, expressou sua frustração por ver
que ele havia faltado às consultas para ajustar a medicação quando a Dra.
Barnard estava na cidade: “Eu quero que ele faça isso por mim ou por nosso
relacionamento, já que ele não quer fazer por ele”. Jessie não tinha certeza se
seria capaz de assumir uma postura emocional mais gentil ao lidar com a
progressão do humor dele. “É difícil sorrir para um ônibus que está prestes a
atropelar você”, declarou.
O psicólogo encorajou Robert e Jessie a praticarem uma comunicação nos
moldes daquilo que o outro queria: isto é, com Jessie tentando ser mais afetuosa
ao lidar com ele e Robert cedendo um pouco do controle a ela. Os dois também
discutiram o potencial envolvimento de outros membros da família, como o
lho de Robert, na hora das emergências. Mas Robert decidiu que achava
melhor blindar Brian o quanto possível de sua doença e não queria que o lho
interagisse com seus médicos. Jessie concordou.
Quando voltou de sua viagem, a Dra. Barnard reuniu-se com Robert e
Jessie e apresentou-lhes de um plano de medicação a ser empreendido caso
Robert tivesse um ou mais sinais prodrômicos e não conseguisse entrar logo em
contato com ela: aumentar a dosagem de risperidona e acrescentar
benzodiazepínicos para dormir. Ela deixou escrita uma prescrição com um
plano de aumentar a dosagem, e combinaram que Robert viria consultá-la
assim que possível após iniciar a nova programação de dosagem. Essas
modi cações foram anotadas no seu contrato modi cado (por exemplo, “Robert
aumentou a dose de risperidona; Robert vai ligar para a médica ou vai aceitar
que Jessie ligue se ele não o zer; Jessie vai tentar identi car a irritabilidade de
Robert como parte da síndrome maníaca”). O casal concordou em voltar a ler
o contrato a cada três meses e revisá-lo quando necessário.
Robert continuou tendo ciclagens do humor, mas seus episódios cada vez
mais parecem hipomanias em vez de manias plenas. Ele sente ter um bom
relacionamento com a Dra. Barnard e com seu psicólogo, e ele e Jessie ainda
estão juntos e trabalhando seus problemas. Ele explicou seu transtorno bipolar
ao lho, que, com o tempo, foi cando mais compreensivo.
Solução eficaz: Se você tem um episódio maníaco apesar de cumprir seu contrato de
prevenção, reserve um tempo para examiná-lo com seu médico e terapeuta para ver o
que deu errado e como pode ser revisto.
Um dia você conclui que sua vida inteira é simplesmente horrível, que não vale a pena viver, que você é
um horror e uma mancha no terreno da existência humana. Uma manhã você acorda com medo de ter que
viver... Essa é a coisa que quero deixar clara a respeito da depressão: ela não tem absolutamente nada a ver
com a vida. Ao longo da vida, há tristeza e dor e sofrimento, e tudo isso, na hora e no tempo certo, é algo
normal – desagradável, mas normal. A depressão é uma região totalmente diferente, envolve uma ausência
completa: ausência de afeto, ausência de sentimento, ausência de reação, ausência de interesse. A dor que
você sente no curso de uma grande depressão clínica é uma tentativa da parte da natureza (a natureza,
a nal, abomina o vácuo) de preencher o espaço vazio.
Alexis, uma mulher de 37 anos com transtorno bipolar II, vem lidando há anos com
um estado depressivo – uma condição que às vezes piora e a deixa incapacitada. Ela
tem tentado aliviar sua depressão por meio de vários antidepressivos, ervas
medicinais, terapia cognitiva, terapia em grupo e, às vezes, “me exercitando até o
limite... tentando me animar constantemente até que meu corpo desiste”. Suas
depressões costumavam ser acompanhadas por autoacusações a respeito de ela ser
fraca, não ter coragem de enfrentar seus problemas e não ser capaz de cumprir suas
metas. Ela já havia ouvido falar que a depressão tinha uma forte base biológica,
especialmente no transtorno bipolar, mas nunca havia realmente ligado esse fato à
sua situação.
Uma ruptura em relação a isso ocorreu na terapia, quando sua médica lhe disse:
“Se você tivesse diabetes, por acaso iria se culpar por não ser capaz de controlar os
níveis de açúcar no seu sangue?”. Ela começou a alimentar a ideia de que precisava
“driblar a depressão” em vez de tentar livrar-se dela e então se sentir uma fracassada
por não ser capaz. Quando começou a encarar a depressão como uma doença física,
causada por fatores sobre os quais não tinha total controle – e que era algo com o
qual ela precisava aprender a conviver –, seu humor começou a melhorar, embora
aos poucos. Ela aprendeu que aceitar a realidade de sua depressão não signi cava
que estava desistindo de combatê-la ou que cedia e mergulhava nela de vez.
Acabou entendendo que, quando cava deprimida, tinha que desacelerar, cuidar
de si (dormir regularmente e equilibrar as atividades prazerosas com as de trabalho),
“me dar um tempo” em vez de car se esforçando tanto para afastar a depressão por
meio de uma atividade frenética. Ela não se livrou totalmente da depressão, mas
agora tem um enfoque diferente: “Agora consigo ignorar aquelas velhas tas que
cavam tocando na minha mente dizendo que eu sou uma pessoa ruim. Agora sei
que isso é a depressão falando”.
Distração
Ativação comportamental
Foco nas emoções/mindfulness
Lidar com o cognitivo
Depressão não é apenas tristeza. Como você deve saber se já teve uma depressão
grave, ela faz você se sentir num estado embotado, vazio ou inibido, caracterizado
por perda de interesse pela maioria das coisas, pela di culdade ou mesmo
incapacidade de sentir prazer (anedonia), e por um afastamento de todo mundo e de
tudo (ver a citação de Elizabeth Wurtzel que abre este capítulo). Algumas pessoas
sequer sentem tristeza quando deprimidas. Em vez disso, sentem entorpecimento ou
tédio. Se você teve episódios mistos, já deve estar familiarizado com a sensação de
fadiga e exaurimento, mas também de estar pilhado, irritável e ansioso (“cansado,
mas ligado”). Do mesmo modo que a mania nem sempre é um estado feliz, a
depressão não é experimentada apenas como um estado triste; pode ser caracterizada
por raiva e apreensão. Diferentemente da mania, a depressão quase nunca é prazerosa
ou inebriante.
Tente preencher a “Breve lista de sintomas depressivos: autorrelatório” (Rush et
al., 2003) a seguir. Essa escala tem o propósito de medir a gravidade de sua depressão
do jeito que você a experimentou na semana anterior. Preencha-a conforme você
tenha se sentido a maior parte do tempo (mesmo que a semana anterior não tenha
sido característica) e compute sua pontuação total, que pode variar de 0 (nem um
pouco deprimido) a mais de 21 (muito deprimido). As quatro respostas a cada item
são ponderadas de 0 a 3; você chega à pontuação total do teste somando da seguinte
maneira:
O maior número (de 0 a 3) registrado para as questões de 1 a 4;
O número para a questão 5;
O número mais alto das questões 6 a 9;
A soma das suas pontuações para as questões 10 a 14;
O número mais alto (de 0 a 3) para as questões 15 e 16.
Em geral, as pessoas que têm pontuações entre 0 e 5 provavelmente não estão
deprimidas. As que cam na faixa de 6 a 10 estão levemente deprimidas; de 11 a 15,
moderadamente deprimidas; de 16 a 20, com depressão grave; e 21 ou mais,
extremamente deprimidas. Se você está na faixa grave ou extremamente deprimida,
com certeza precisará de atenção de seu médico ou terapeuta; algumas pessoas nessa
faixa requerem hospitalização. Pontuação abaixo de 20 também costuma exigir
tratamento, tanto médico quanto psicológico. Além disso, sua pontuação pode
mudar de uma semana para outra. É assim a natureza da depressão, particularmente
a de tipo bipolar. Sua pontuação não deve ser in uenciada pelo fato de você ter
transtorno bipolar I ou II.
Se sua pontuação está na faixa leve a moderada, as técnicas de autogestão deste
capítulo serão relevantes para você agora. Podem também ser úteis se você não se
sente deprimido (isto é, abaixo de 6), mas quer desenvolver aptidões para prevenir
ou aliviar episódios de depressão no futuro. Se sua pontuação está na faixa grave
(acima de 15), você pode querer tentar primeiro com medicações; técnicas de
autogestão serão mais difíceis de implementar nesse estado.
COMO VOCÊ SABE QUE ESTÁ FICANDO MAIS DEPRIMIDO? A ESPIRAL DO HUMOR
Um sintoma de depressão parece nutrir-se de outros: humores negativos como
tristeza e ansiedade, aliados a sintomas físicos de depressão como letargia ou insônia,
induzem pensamentos negativos (como autodeclarações negativas, ou seja, aquela
voz muito crítica e acusatória que ca dentro da cabeça), e esse pensamento negativo
alimenta, por sua vez, humores depressivos. A combinação de humores negativos,
padrões de pensamento e mudanças físicas pode desmotivá-lo a tentar se empenhar
mais, fazendo com que se isole e, com isso, piore seu pensamento negativo e seu
humor, e entre em um padrão chamado de espiral do humor. Considere as
experiências, a seguir, de duas pessoas com depressões bipolares.
Denise, uma mulher de 27 anos com transtorno bipolar II, convivia com uma
depressão leve e um humor pessimista no dia a dia, apesar de ser el ao seu regime
com lamotrigina e paroxetina (um antidepressivo). Suas depressões mais graves
tinham um curso gradual, mas previsível. Seu primeiro sinal de uma recorrência
depressiva era ruminar a respeito de coisas que eram reais, mas que ganhavam
proporção exagerada. Nas semanas que levaram ao seu episódio mais recente, sentiu-
se menosprezada por um colega de trabalho (na frente dos outros, ele levantou a voz e
assumiu um tom que a fez sentir como se ele estivesse falando com uma criança). Ela
tinha cado com raiva de si mesma por não ter reagido à altura àquela ofensa.
Ampli cou o sentido desse evento relativamente menor e começou a achar que
ninguém no trabalho gostava dela e que seus colegas a julgavam incompetente. Ficou
muito autocrítica, a rmando que era a falta de traquejo social dela que a impedia
de ser apreciada pelos outros. Seu humor depressivo piorou, e ela passou a ter cada
vez mais di culdade para ir trabalhar. Seu desempenho deteriorou-se e ela começou
a ter insônia. Seguiram-se dias piores e acabou pedindo licença do trabalho, para
car em casa, inativa e isolada. A essa altura começou a pensar em suicídio.
Denise conseguiu sair da depressão com uma mudança na dose de uma das
medicações (uma dose maior de lamotrigina) e psicoterapia regular. Além de
identi car e mudar suas autodeclarações negativas quanto ao desempenho dela no
trabalho e a como os outros a viam, o terapeuta dela passou-lhe exercícios de ativação
comportamental, como passar mais tempo com amigos e vizinhos, dedicar-se a várias
formas de exercício físico leve e a atividades que envolviam sua sobrinha mais nova,
de quem ela era próxima.
Carlos, 35 anos, tinha transtorno bipolar I com depressões clássicas recorrentes. Ele já
havia tido numerosos episódios de depressão e aprendera a identi car os sintomas que
sinalizavam a manifestação de um episódio depressivo com aspectos mistos. Seus
sinais prodrômicos assumiam a forma de uma leve fadiga, sonolência e pouca
concentração. Esses sinais costumavam surgir misturados a sentimentos de ansiedade,
receio e uma inquietação, com constantes sobressaltos.
Felizmente, quando cou um pouco melhor, Carlos e seu terapeuta colocaram em
ação um plano de prevenção para enfrentar seus piores sintomas. O plano incluía
adotar uma rotina regular para dormir/acordar, comer mais proteína e menos
carboidratos, evitar álcool e maconha, combinar de ter pelo menos um contato por
dia com uma pessoa que lhe trouxesse algo de positivo, e fazer pausas no trabalho
sempre que precisasse. Ele também manteve um “registro de pensamentos” (ver o
quadro “Registro de pensamentos”, adiante), anotando exemplos de declarações em
que se culpava por algo ou fazia generalizações exageradas sobre sua situação (por
exemplo, “Minha vida nunca teve nenhuma alegria ou satisfação”). Ele aprendeu a
confrontar esses pensamentos com outros mais adaptativos (“Estou passando por um
momento difícil... Já lidei com isso antes e consegui sair... A depressão, por enquanto,
irá dar uma cor à minha maneira de sentir as coisas”).
Prevenção eficaz: Envolver-se com seu ambiente social e físico – planejar ativação
comportamental – pode ajudar a deter a espiral descendente da depressão. Quando você
implementar novas atividades gratificantes, é bom se esforçar, mas também levar em conta
que talvez ainda não consiga fazer uma nova atividade todo dia. Dê a você mesmo bastante
tempo para se ajustar ao plano.
Em seguida, marque a hora do dia em que realizou cada atividade. Registre seu
humor na escala de -3 (depressão grave) a +3 (gravemente maníaco) que você usou
para sua tabela do humor. Classi que seu humor antes de começar a atividade e, de
novo, assim que terminar. Por exemplo, se a atividade é jardinagem, registre como
você se sentiu antes de ir até o jardim e, em seguida, dê a você outra nota pelo seu
estado no período de mais ou menos uma hora depois de terminar a atividade. Faça
cópias desse formulário antes de preenchê-lo, para poder usar as cópias em branco
nas semanas seguintes.
Note que pedi para registrar tanto seus humores exaltados quanto os depressivos.
Como você já sabe pelo que vimos em capítulos anteriores, algumas atividades
podem favorecer sintomas maníacos. Por exemplo, o exercício costuma melhorar o
humor da pessoa, mas alguns exageram no exercício e cam hipomaníacos. É
importante registrar dados a seu respeito para poder de nir se certas atividades
melhoram seu humor ou se o “corrigem em excesso”.
No meio de um episódio depressivo, talvez fique muito difícil iniciar uma atividade social
(por exemplo, ir ao cinema com um amigo). Evite se pressionar demais. Comece com um par
de atividades não sociais que você ache fáceis de fazer e vá progredindo a partir daí. Ou seja,
você pode trocar “ir a uma vernissage” por “ir até uma cafeteria e trabalhar no meu
notebook”, quer você decida ou não interagir com os outros. Se começar a se sentir
sobrecarregado por sua programação semanal, ajuste seu nível de atividade para baixo: se
precisar, aproveite os momentos normalmente não programados, distribua as tarefas ao
longo da semana e cancele planos de atividades sociais. Use o que você conhece de seu
estado interior (que deve ter melhorado com o seu mapeamento de humor e de sono) para
implementar um plano que funcione para você (Suto et al., 2010).
Se as coisas correram bem para você até agora, e notou que o seu humor tem
melhorado (ou, no mínimo, os seus sintomas prodrômicos depressivos não se
agravaram), comece a introduzir mais atividades prazerosas em várias partes do seu
dia. Você pode descobrir, por exemplo, que se sente melhor se tiver algo agradável
para fazer durante o horário do almoço (por exemplo, sentar-se em uma mesa ao ar
livre), bem como algo goste de fazer quando chegar em casa do trabalho, da escola
ou de outras atividades (por exemplo, tocar um instrumento musical, dar um
passeio). Se não estiver trabalhando ou frequentando a escola, é especialmente
importante ter atividades grati cantes no início e no nal do dia para que alguma
estrutura seja introduzida na sua rotina.
O método de ativação comportamental pode parecer um pouco super cial ou
óbvio demais. Algumas pessoas pensam: “Bem, é claro que eu deveria estar fazendo
essas coisas – o problema é justamente que eu não consigo!”. Quando sua depressão
piora gradualmente, é muito importante voltar a se envolver com seu ambiente e
fazer as coisas que lhe dão uma experiência diferente de suas emoções. A chave é não
se exigir demais com essas atividades. Não tente fazer muitas coisas de uma vez. De
início, escolha algumas que sejam fáceis (por exemplo, uma caminhada, ouvir
música, tomar um banho prolongado, desenhar, observar passarinhos, jogar cartas).
Depois, trabalhe para chegar a um número razoável de atividades por dia, até notar
que está com vontade de que chegue o dia seguinte para poder se dedicar às
atividades agradáveis que programou. Faça uma revisão do plano ao nal de cada
semana para determinar o que não funcionou e por quê. Nas primeiras tentativas,
talvez você não seja capaz de completar certos aspectos do plano. Procure fazer com
que isso não cause desânimo; pode levar algumas semanas até conseguir formular um
plano que realmente funcione para você.
Mesmo que o plano soe simples, você talvez se surpreenda ao ver o quanto ele
ajuda a evitar que sua depressão entre numa espiral. Com toda a probabilidade, você
conseguirá ter uma sensação de domínio sobre si mesmo ao fazer seu plano
funcionar, e isso o motivará a querer estendê-lo mais.
TABELA DO HUMOR
4. Evidência a 5. Evidência 6.
3. Pensamentos 7. Agora
1. favor do contra o Pensamentos
2. Humores automáticos pontue os
Situação “pensamento “pensamento alternativos/
(imagens) humores
quente” quente” equilibrados
Adaptado com permissão de Greenberger e Padesky (2015). Copyright © 2015 The Guilford Press.
TABELA DO HUMOR
Com Descreva Responda Circule o Faça Faça Copie as
quem cada algumas ou todas “pensamento perguntas a perguntas a emoções
você humor com as questões a quente” na si mesmo si mesmo da Coluna
estava? uma seguir: coluna para ajudar a para gerar 2.
O que palavra. O que se anterior para descobrir pensamentos Avalie de
estavam Classifique passava na o qual evidência alternativos novo a
fazendo? a minha mente procura que não ou intensidade
intensidade logo antes de evidência. sustente seu equilibrados de cada
Quando
do humor começar a me Escreva “pensamento (p. ex., “Há sentimento
foi isso ?
(0-100%). sentir assim? evidência quente” (p. uma maneira de 0 a
Onde ex., “Quando alternativa
O que isso diz a factual que 100%.
vocês não estou de pensar ou
sustente
estavam? meu respeito? deprimido, de entender
essa
O que isso conclusão. eu penso essa
significa para nesse tipo de situação? Se
(Tente evitar
mim? Para situação de outra pessoa
ler a mente e
minha vida? algum modo estivesse na
reinterpretar
Meu futuro? diferente?”). mesma
fatos.).
situação,
O que temo que
como eu
aconteça? sugeriria que
Qual a pior ela a
coisa que pode encarasse?”)
acontecer se Anote
isso for pensamentos
verdade? alternativos
O que isso ou mais
equilibrados.
significa para
Avalie o
aquilo que os
quanto você
outros
acredita em
sentem/pensam
cada um (0-
a meu respeito?
100%).
O que isso
significa a
respeito da(s)
outra(s)
pessoa(s) ou
dos outros em
geral?
Que imagens ou
memórias eu
tenho a respeito
dessa situação?
Adaptado com permissão de Greenberger e Padesky (2015). Copyright © 2015 The Guilford Press.
Algumas pessoas são mais visuais, e seus pensamentos quentes vêm na forma de
imagens perturbadoras (por exemplo, uma imagem de você criança sendo provocado
por outras no parquinho; sua memória da expressão facial de alguém). Para outras
pessoas, palavras especí cas são pensamentos quentes. Para Jake, era a palavra caráter.
Para Suzanna, era a palavra doida. Se palavras ou imagens isoladas são associadas a
suas mudanças de humor, registre-as na coluna “pensamentos automáticos”, e veja se
consegue expandi-las em uma frase completa (por exemplo, “se eu agir dessa
maneira, as pessoas vão sempre achar que eu sou doida”).
Vamos imaginar que você teve uma conversa desagradável com seu pai na semana
passada e que desde então cou ruminando isso, que ia e voltava. Registre o evento
como “conversa com meu pai que não foi boa” na coluna “situação”. Vamos supor
também que o humor depressivo resultante foi avaliado em 70% (muito deprimido)
dos possíveis 100% (extremamente deprimido). Na coluna “pensamentos
automáticos”, você registra as autodeclarações ou imagens que vieram durante a
conversa ou imediatamente após ela. Exemplos podem ser: “Eu nunca serei capaz de
preencher as expectativas dele” ou “Eu o decepcionei de novo”, ambas com potencial
de alimentar seu humor depressivo.
Tratamento eficaz: Encare seus pensamentos como hipóteses a serem comprovadas ou não
diante das informações do mundo real que você colher a respeito deles. Tente projetar
pequenos “experimentos” para ver se consegue avaliar essas hipóteses. Assim, se você acha
que sua chefe tem atitudes muito críticas a seu respeito, pergunte a uma colega se ela
também acha sua chefe rude ou crítica demais com você. Pergunte se ela viu a chefe agindo
assim com outros funcionários. Conte à sua chefe algo a seu respeito sem relação com o
trabalho (por exemplo, “Ontem vi um filme genial”) e veja como ela reage.
◼ O exemplo de Katrina
Outra pessoa com transtorno bipolar, Katrina, 41 anos, havia trabalhado como
professora primária na Hungria, quando decidiu emigrar sozinha para os Estados
Unidos. Um ano após sua chegada, conseguiu emprego em uma escola de periferia
para ensinar adolescentes que estavam com desenvolvimento atrasado. Durante um
dia particularmente difícil, três dos meninos da classe a xingaram e disseram que ela
era a pior professora que já haviam tido. Diziam que ela não sabia falar inglês
direito e que devia voltar para a terra dela. Ao nal do dia, ela se sentiu muito
deprimida e ansiosa e não queria mais voltar a trabalhar. Pegou dois dias de licença,
alegando “exaustão mental”. Ela relatou os pensamentos que teve como reação ao
evento, tais como: “Talvez eu não devesse mesmo ser professora... Não sei se tenho
forças ou disposição su ciente... Não sou competente; Não consigo lidar sozinha com
isso... Não faço parte desse lugar, não sou capaz de fazer isso”. Ela identi cou “Não
sou competente” como o pensamento quente mais poderoso, que despertava mais
emoção, junto com a previsão “Não vou dar certo aqui, vou ter que voltar para a
Hungria”.
Ao examinar a evidência a favor e contra esse pensamento, Katrina citou o fato
de ter precisado chamar a orientadora da escola para ajudá-la a mediar o con ito,
que os garotos só gostavam dela quando se mostrava amistosa e informal, mas não
quando de fato tentava ensinar, e que ela havia sido mais intensamente afetada por
esse incidente do que os outros professores teriam sido. Também foi capaz de gerar
evidência contra seu pensamento quente, como o fato de ter recebido avaliações
positivas sobre seu jeito de ensinar por parte da administração da escola e que suas
experiências anteriores como professora na Hungria haviam sido muito boas.
Admitiu que “as crianças são problemáticas e agressivas com todo mundo” e que “já
vi os alunos xingando outros professores”. Também relembrou que o incidente havia
começado depois que um dos meninos havia ofendido verbalmente um colega.
Ela acabou adotando visões mais equilibradas, que não excluíam o próprio papel
que havia tido em causar o incidente, mas que incorporavam evidências em
contrário: “Sou uma boa professora, mas tenho que lidar com uma classe de alunos
difíceis, com a qual qualquer um teria problemas... Às vezes, tenho que lidar com
meus próprios limites e descobrir um modo de estabelecer limites às outras pessoas...
Ainda estou aprendendo a falar inglês de um jeito mais coloquial... É uma coisa
nova para mim, e é normal que peguem no meu pé por causa disso... Eu, de toda
forma, estou fazendo diferença na vida deles, e eles estão me ensinando muito a
respeito de mim mesma, embora às vezes magoem meus sentimentos”. O humor dela
em relação à confrontação melhorou signi cativamente depois que levou em conta
esses pensamentos equilibrados. Ao longo do tempo, à medida que sua depressão foi
atenuando, ela focou em questões mais amplas, a respeito de querer ensinar ou não,
que haviam cado confusas em sua mente, ocupada com a questão de se ela era
realmente boa nisso.
Eu estava cada vez mais deprimida e pensando em me matar, e uma hora decidi nalmente fazer
isso. Uma noite voltei do trabalho para o meu apartamento e cumpri todo um ritual. Havia
decidido que faria isso com uma overdose do meu lítio, já que era a droga que eu tinha em maior
quantidade em casa. Tomei, bem aos poucos, ao longo da noite, um comprimido atrás do outro, e
então entrei no chuveiro, mas nessa hora comecei a vomitar e a ter uma forte diarreia... Acho que
uma hora perdi a consciência, mas tive a presença de espírito de ligar para o Dylan [namorado
dela], que acionou o resgate, e eles me levaram ao hospital. Acabei ali, com cateter e máscara de
oxigênio e tudo mais. Eu estava com um aspecto horrível, e me sentia horrível. Todo mundo me
dizia que eu havia tido muita sorte de continuar viva, mas isso me fazia sentir pior ainda. Com
certeza, não me sentia com sorte.
Mulher de 28 anos com transtorno bipolar I, relatando sua primeira tentativa de suicídio
O DESEJO DE FUGA
Pessoas com transtorno bipolar e outros transtornos depressivos costumam
se sentir desesperançadas, como se achassem que nada nunca irá mudar para
melhor. Sentem forte necessidade de alívio da “dor psíquica, colorida pelo
medo e pela antecipação de uma dor crescente, incontrolável, in ndável”
(Fawcett; Golden; Rosenfeld, 2000, p. 147). Muitas querem sinceramente
morrer. Mas, pela minha experiência, a maioria das pessoas com transtorno
bipolar quer encontrar alívio para as circunstâncias de vida intoleráveis e para o
sofrimento emocional, mental e físico que acompanha a depressão e a
ansiedade. Quando sua depressão entra numa espiral descendente e você tem
uma sensação de pavor e apreensão, pode querer desesperadamente viver, mas o
suicídio pode ser sentido como a única maneira de sair daqueles sentimentos
insuportáveis.
No entanto, por mais intensos que sejam, os pensamentos suicidas podem
ser administrados e controlados medicamente. Há forte evidência a partir de
meta-análises de que um tratamento de longo prazo com lítio diminui as
tentativas de suicídio e sua consecução nas pessoas com transtorno bipolar
(Cipriani et al., 2013). Antidepressivos, anticonvulsivantes e antipsicóticos
parecem diminuir a agitação e a agressividade que favorecem ações suicidas.
O desa o de lidar com o desespero suicida é encontrar outras maneiras de
fugir de seus sentimentos intoleráveis. Como discuto neste capítulo, suas
opções podem consistir em várias combinações entre medicações, psicoterapia,
ajuda de amigos ou familiares que deem apoio, e técnicas de autogestão. Sua
desesperança, sofrimento e vazio são temporários, não são estados permanentes,
mesmo que possam não parecer assim na hora.
Prevenção eficaz: Há tempos sabe-se que quando as armas são guardadas travadas,
descarregadas e em local que exija chave, e a munição é mantida em local separado
também trancado, a probabilidade de a arma ser usada contra si ou contra familiares
diminui muito (Grossman et al., 2005). Um estudo sobre comprimidos vendidos sem
receita demonstrou fenômeno similar. Na década de 1990, farmácias do Reino Unido
mudaram a maneira de vender paracetamol; em vez de vendê-lo em frascos com
grande quantidade de drágeas, vendiam a droga em cartelas de plástico que exigiam
que o usuário destacasse os comprimidos um por um. O uso dessas cartelas foi
associado a uma redução de 64% em overdoses graves (Turvill; Burroughs; Moore,
2000). Em outras palavras, a maior dificuldade de acesso aos comprimidos diminuiu a
probabilidade de serem usados em tentativas de suicídio.
Como você já sabe, um dos temas deste livro é o valor de seu círculo íntimo
ou dos seus familiares, cônjuge/parceiro(a), e amigos, em ajudar a mantê-lo
bem. No Capítulo 9, falei sobre como os membros de seu círculo íntimo
podem ajudar a impedir que você escale para um episódio maníaco pleno. Tais
pessoas também podem ser úteis quando você tem ideação suicida. Para o
homem citado acima, o contato com outras pessoas era como um
antidepressivo, dando-lhe sensações temporárias de alívio das emoções penosas.
Quando você tem pensamentos suicidas, o contato e o apoio dos outros é
absolutamente crucial para impedir que afunde mais.
Saiba que você tem maior chance de rejeitar ajuda quando está mais
deprimido e com ideação suicida. Nessas horas, irá se sentir vulnerável,
achando que os outros podem rejeitá-lo. Talvez pense que “Eu não tenho como
ser ajudado, vou me decepcionar, talvez que pior ainda”, o que acentua seu
desânimo. É comum achar que “Estou totalmente sozinho nisso – não há
quem possa me ajudar de fato”. É importante questionar tais pensamentos
negativos e se forçar a procurar o apoio dos outros, mesmo que de início você
ache que será inútil. Avalie se de fato estar com os outros irá fazê-lo se sentir
pior. O mais provável é que suas tentativas de buscar ajuda gerem
compaixão nos outros, e isso ajudará a aliviar sua dor. No mínimo, eles
podem proporcionar uma distração de seu sofrimento.
Comece revendo o formulário “Identi que seu círculo íntimo”, que você
preencheu no Capítulo 8. Quem na sua lista pode ajudar quando você começar
a ter pensamentos de suicídio? Se você anda deprimido ou ansioso há algum
tempo, a quem recorreu quando precisou “desabafar”? Essa pessoa (ou essas
pessoas) conseguiram ajudar a esclarecer pontos importantes e oferecer
possíveis soluções, sem fazer você se sentir mais deprimido? Você conseguiu se
sentir mais perto dessa pessoa depois de ter se aberto com ela? Esse
relacionamento é de mão dupla, ou seja, essa pessoa também o procura em
busca de ajuda? Uma das coisas positivas em relação à depressão é que ela pode
permitir fazer conexões com os outros de maneiras que você normalmente não
faria.
Ao avaliar sua lista, tente pensar em quem você acha que tem maior chance
de lhe oferecer apoio de maneiras que você possa achar genuinamente úteis. Há
alguém que seja capaz de ouvi-lo falar que quer morrer sem entrar em pânico
por causa disso? Algumas pessoas acham que não podem discutir essas questões
com membros da família, mas podem fazê-lo com um amigo, parceiro(a) ou
cônjuge. Para outras, a opção é um rabino, padre ou outro líder religioso. A
questão importante é se você con a que essa pessoa será capaz de ouvi-lo com
calma e atenção e reconhecendo seu desespero, sem julgamento. Também é útil
escolher alguém cujo estilo seja otimista e positivo, mas que também tenha um
bom senso de realidade (ou seja, alguém ciente das limitações impostas por seu
transtorno e seu ambiente). Não escolha alguém do tipo “Poliana”. Por m, se
você é próximo de alguma pessoa que tenha boa compreensão do transtorno
bipolar (ver “Breve lista de fatos sobre o transtorno bipolar para membros da
família” no Capítulo 13), ou de alguém que tenha atravessado pessoalmente
períodos de depressão, essa pessoa pode ser capaz de oferecer uma visão única
sobre as maneiras de lidar com seu desespero.
Se não houver ninguém na sua lista que se encaixe nessas descrições, tente
escolher a pessoa (ou pessoas) que mais se aproxime disso. É melhor incluir um
bom número de pessoas, em vez de con ar demais em uma só. Inclua pessoas
de seu círculo que geralmente melhoram seu humor (por exemplo, alguém
com quem você compartilhe uma atividade prazerosa), mesmo que você não
tenha intenção de revelar nada a ela. Registre os nomes no seu “Plano de
prevenção ao suicídio” no nal deste capítulo.
Agora pense em como você pode ajudar os membros de seu círculo íntimo a
lhe prestarem ajuda. Lembre-se dos três estilos de lidar que mencionei no início
do Capítulo 10 (foco nas emoções, lidar com o cognitivo e lidar com
distrações). Primeiro, estimule as pessoas relevantes em sua vida a ouvirem você
falar a respeito de seus pensamentos e sentimentos. Diga-lhes que você não espera
que elas tentem resolver todos os seus problemas ou que venham com lugares-
comuns achando que isso vai eliminar todo o sofrimento, mas que você
precisa, isso sim, de ajuda para se concentrar no que está causando sua dor e
nas razões disso. Terapeutas costumam ser os melhores nisso, mas se você tem
um amigo ou familiar que é um bom ouvinte, pense nessa possibilidade.
Em segundo lugar, peça ao seu amigo ou familiar que o ajude a encontrar
uma maneira de impedir o perigo imediato que você representa para si mesmo. O
objetivo é manter você em segurança. Se não tem sido capaz de ter a iniciativa
de ligar para o seu médico ou terapeuta, peça que seu amigo o faça. Peça
também que ele ou ela tire as armas ou comprimidos de perto de você. Se
precisar ir para o hospital, peça que seu amigo o acompanhe. Se ele não quiser
ou não puder ir ao hospital, será que não se disporia a car com você algum
dia, até mesmo a pernoitar se necessário, até você se sentir fora de perigo? Se
você não se sente capaz de tomar conta de seus lhos, será que essa pessoa pode
cuidar deles temporariamente ou ajudá-lo a fazer arranjos com alguém que
tenha condições?
Em terceiro lugar, use a distração. Muitas pessoas cam preocupadas
achando que falar de suas emoções dolorosas possa ser um fardo para os outros.
Se você tem essa preocupação, então tente aumentar o tempo que dedica a
conviver com pessoas relevantes ou amigos em atividades sociais não
estressantes, que exijam pouco esforço. Essas atividades não precisam envolver
falar a respeito de suas batalhas pessoais. Convide as pessoas a assistir um lme
com você, a fazer uma caminhada, passear de carro, jantar com você, ler junto
alguma coisa ou fazer um pouco de ioga. Atividades físicas ou sociais com
algum grau de estrutura e que envolvam outras pessoas, como aquelas da sua
lista de atividades prazerosas (Capítulo 10), são especialmente importantes
nessas horas para tirar sua mente dos pensamentos suicidas.
Para muitos, o exercício físico ajuda muito. A maioria das pessoas reporta
que seu humor melhora bastante e os pensamentos suicidas diminuem depois
que se exercitam. Claro, é difícil ter disposição para malhar quando você está
com a energia em baixa, apático ou desanimado. Tente algum exercício leve se
você se sentir especialmente letárgico, como andar, alongar-se ou andar de
bicicleta ergométrica por alguns minutos. Ao se exercitar, foque a atenção em
seu corpo e nas sensações físicas que acompanham o movimento.
Se a experiência de qualquer dessas tarefas para “melhorar o momento” for
positiva, procure acrescentá-la à sua lista de ativação comportamental (Capítulo
10). É importante tentar essas sugestões mais de uma vez e incorporá-las à sua
rotina regular.
Sempre tive problemas com a minha menstruação, com o tipo de anticoncepcional que deveria
tomar, e a respeito de como sentia meu corpo quando tomava estabilizadores do humor que me
faziam engordar e me sentir estúpida. Mas quando rememoro minha doença, minha maior batalha
era quando precisava decidir se manteria ou não as medicações durante a gravidez. Achei que isso
seria resolvido, mas então meu psiquiatra disse que se eu engravidasse ele não saberia como lidar
com minha medicação, e que eu então teria que procurar outro médico. Além disso, meu obstetra
e ginecologista disse que se eu pretendia tomar medicações enquanto estivesse grávida ele não iria
mais me tratar! Meu marido insistiu para que eu parasse de tomá-las. Eu não sabia sequer o que eu
mesma pensava. Então parei com a medicação e engravidei, e então tive outro episódio e fui parar
no hospital. Felizmente, meu bebê nasceu saudável. Mas com certeza eu poderia ter contado com
um pouco mais de ajuda.
Meu namorado acha que eu tenho apenas tensão pré-menstrual. Isso não chega nem perto do que
ocorre na verdade. O que eu tenho é algo muito, mas muito pior. É como se a bipolaridade e a
TPM se multiplicassem várias vezes, e o resultado é um estado realmente irritado, intenso, de
pânico, combinado com uma profunda tristeza que até eu mesma acho estranha.
Minhas medicações, que supostamente deveriam ter me ajudado a conter a depressão quando
entrei na menopausa, me zeram engordar uma tonelada e bagunçaram meus hormônios. Então
mudei o nome delas: depa-gorda, olanza-porca e desesper-idona.
GRAVIDEZ
“[Meu médico] perguntou se eu planejava ter lhos... eu disse que queria muito ter lhos, o que o levou
prontamente a me perguntar o que pretendia fazer a respeito do lítio na gravidez. Comecei dizendo que
achava óbvio que os perigos da minha doença superavam muito quaisquer problemas possíveis que o lítio
pudesse causar a um feto em desenvolvimento e que eu, portanto, escolheria manter meu lítio. Mas antes
mesmo que concluísse ele me interrompeu para perguntar se eu sabia que a doença maníaco-depressiva era
uma doença genética... Eu não sou uma estúpida, então disse: ‘Sim, claro que sei’. A essa altura, com uma
voz gélida e autoritária que eu consigo ouvir até hoje, declarou – como se ele sentisse aquilo como uma
verdade divina, e não tenho dúvidas de que ele via isso assim – ‘Você não deveria ter lhos’.
Fiquei mal, muito mal, achei inacreditável, e me senti muito humilhada. Perguntei se as preocupações
dele a respeito de eu ter lhos vinham do fato de eu, em razão da minha doença, ser uma mãe inadequada
ou se ele achava simplesmente que era melhor evitar trazer ao mundo outro maníaco-depressivo. Ignorando,
ou talvez não percebendo meu sarcasmo, respondeu: ‘As duas coisas’.”
– Jamison (1995, p. 191, tradução nossa)
1 A gravidez é um período de alto risco para recaídas de transtorno bipolar. Não acredite
no mito de que estar grávida irá protegê-la de recorrências de mania ou depressão. Na
realidade, você reduzirá bastante seu risco de recaídas durante a gravidez se mantiver
seus estabilizadores do humor ou ASGs. Whitfield e colegas na Escola de Medicina de
Harvard (Whitfield et al., 2007) concluíram que 71% das grávidas com transtorno bipolar
tinham recorrência da doença na gravidez. A maior parte das recorrências era depressiva
ou mista, e cerca de metade ocorria no primeiro trimestre. A taxa foi duas vezes mais alta
entre as que haviam parado de tomar medicação, em relação às que a haviam mantido na
gravidez. As que interromperam a medicação também tiveram cinco vezes mais estados
de depressão ou mania que as que mantiveram o tratamento. Se você decidir parar, faça
isso aos poucos.
2 A maior parte das medicações psiquiátricas impõe ao menos alguns riscos ao bebê em
desenvolvimento, mas o mesmo ocorre para quem não toma medicações. Algumas
mulheres com transtorno bipolar têm episódios maníacos na gravidez, com várias formas
de comportamento de alto risco (por exemplo, beber e fumar em excesso, direção
imprudente, faltar às consultas do pré-natal com o obstetra e não comer direito nem
dormir o suficiente). Quando o transtorno é agravado por álcool ou abuso de substâncias,
há um risco maior de complicações na gravidez ou no nascimento, como parto prematuro
(Scrandis, 2017).
3 Cuidado com tratamentos “alternativos”. Alguns médicos – e muitas vezes amigos ou
familiares – irão incentivá-la, durante a gravidez, a substituir as medicações prescritas,
optando por fitoterápicos, vitaminas ou outros compostos vendidos sem receita. Alguns
deles podem de fato ser benéficos para a gravidez (um exemplo é o ácido fólico, que
reduz o risco de defeitos no tubo neural). Mas, como vimos no Capítulo 6, não há
evidência de que compostos naturais como os ácidos graxos ômega 3 (óleo de peixe), óleo
de linhaça, erva-de-são-joão ou raiz de valeriana possam substituir o lítio,
anticonvulsivantes ou antipsicóticos. Cuidado com a suposição comum de que
medicações compradas em lojas de produtos naturais são mais seguras que medicações
prescritas.
Tenha em mente os fatores que afetam a saúde fetal que devem ser evitados por
todas as grávidas: tabaco, álcool, drogas, obesidade, dieta pobre, excesso de
cafeína e desidratação.
Não há regras rígidas sobre que medicações tomar ou não durante a gravidez. A
decisão – por exemplo, tomar lítio, lamotrigina, um ASG ou uma combinação –
costuma se basear em que medicações já mantiveram você estável antes.
O achado de pesquisa mais importante é que altas dosagens de valproato
(divalproato de sódio) estão relacionadas a aptidões cognitivas mais baixas em bebês,
em comparação com outros anticonvulsivantes. As linhas de tratamento atuais
sugerem evitar valproato na gravidez (Haskey; Galbally, 2017).
Se seu humor está ciclando com altos e baixos na gravidez, continuar seu
tratamento pré-natal talvez seja o mais sensato.
Se decidir parar com suas medicações, a redução gradual é sempre melhor do
que a retirada abrupta; parar de repente pode causar uma recaída.
Se você está gravemente deprimida ou tendo um episódio misto, a
eletroconvulsoterapia apresenta risco menor ao feto do que a maioria das drogas
(por mais paradoxal que possa parecer). Embora haja poucos estudos até o
momento, a estimulação magnética transcraniana (Capítulo 6) pode também ser
uma opção.
Discuta com o médico riscos e benefícios de amamentar enquanto tomar
medicações.
Leve sempre em conta a psicoterapia ou práticas de meditação baseadas em
atenção plena como complementos de suas medicações, seja na gravidez, seja no
pós-parto, quando você fica mais vulnerável a recorrências.
Uma rotina diária relativamente estruturada e previsível irá ajudar a minimizar sua
privação de sono e instabilidade de humor.
Mantenha o registro de seus humores e medicações e, se não estiver grávida, de
seu ciclo menstrual, usando sua tabela do humor.
Fontes: Cohen (2007); Haskey e Galbally (2017); Kenna et al. (2009); Miklowitz e Gitlin
(2014a); Scrandis (2017); Ward e Wisner (2007).
◼ “E se eu já estiver grávida?”
O número de gravidezes não planejadas chega a 50%. Os riscos de uma
gravidez não planejada são ainda mais elevados em mulheres com transtorno
bipolar, porque mania e hipomania podem levar a escolhas sexuais impulsivas e
porque medicações estabilizadoras do humor às vezes têm in uência na e cácia
das pílulas anticoncepcionais (ver “Escolha de anticoncepcionais”, adiante). Dê
uma olhada no Capítulo 9, especialmente no tópico intitulado “Evitar
situações sexuais de risco”, quando seu humor estiver escalando. Trabalhar com
um obstetra-ginecologista que esteja familiarizado com transtornos do humor e
com os efeitos de diferentes anticoncepcionais no humor pode ser muito útil.
Quer sua gravidez tenha sido planejada ou não, talvez você só que sabendo
que está grávida lá pelo terceiro mês, quando muitas das medicações para
doença bipolar já tiverem tido seus efeitos no feto em desenvolvimento. Veja
quais são os riscos que você pode querer discutir com seu médico.
O risco de defeitos no tubo neural (por exemplo, espinha bí da, um
fechamento incompleto das vértebras na espinha dorsal) aumenta se você
estiver tomando valproato ou carbamazepina entre 17 e 30 dias após a
concepção.
O risco de anomalias cardiovasculares (coração) é in uenciado por
medicações tomadas entre 21 e 56 dias após a concepção. O lítio traz
riscos de anormalidades cardiovasculares (4,1% contraposto a 0,6% das
mulheres que não tomam lítio durante a gravidez) (Diav-Citrin et al.,
2014).
Em raros casos, o uso de lítio durante a gravidez pode ser associado à
síndrome da hipotonia infantil: letargia, coloração azulada da pele, tensão
muscular anormal e hipotiroidismo. Felizmente, essa síndrome é
temporária.
Anormalidades como lábio leporino ou palato fendido são associadas a
medicações (particularmente anticonvulsivantes, como a lamotrigina)
tomadas entre a 8ª e a 11ª semanas (de 8 a 20 semanas para
anormalidades craniofaciais).
As alarmantes taxas de malformações fetais (por exemplo, defeitos no
coração, espinha bí da) reportadas para algumas medicações
estabilizadoras do humor (veja a próxima seção) precisam ser comparadas
com a taxa usual de base, de 2-4%, nos bebês de mães saudáveis que não
estão tomando medicações psiquiátricas (Stewart, 2011).
Pode ser difícil dizer se você está deprimida ou apenas experimentando fadiga,
ganho de peso, lentidão, mudanças no apetite e perturbações do sono, que com
frequência acompanham a gravidez ou a fase pós-parto. Na realidade, os médicos
costumam não detectar a depressão no diagnóstico de pacientes grávidas. Mesmo
assim, há importantes diferenças entre os estados de fadiga da gravidez e uma
depressão clínica.
Lori Altshuler e colegas (2008) identificaram sete sintomas que indicam depressão
maior na gravidez. Esses sintomas podem ocorrer em qualquer dos três trimestres e
avançar no pós-parto. Examine a lista e circule qualquer sintoma que você tenha
apresentado a maior parte do tempo na semana passada.
Humor depressivo
Sentimento de culpa
Redução do interesse e do tempo gasto no trabalho/atividades.
Lentidão na fala e nos movimentos
Sentir-se muito pior de manhã ou à noite
Sentir-se mais cansada que o usual
Isolar-se dos outros
Se você tem vários desses sintomas, considere consultar seu psiquiatra ou obstetra
para determinar se deve retomar as medicações que interrompeu antes de engravidar
ou se precisa de dosagem maior. Se tiver um terapeuta, talvez seja bom aumentar a
frequência das sessões.
No pós-parto, preencha a “Escala de depressão pós-parto de Edimburgo”,
disponível em: https://shorturl.at/bLY18. Essa escala tem itens que são mais
característicos de depressão durante a fase de pós-parto (por exemplo, sensação de
pânico ou sentir-se incapaz de lidar com a situação).
◼ “E se eu quiser amamentar?”
Os benefícios que amamentar traz à saúde, da mãe e do bebê, são bem
conhecidos, mas é compreensível que você se preocupe com os efeitos de suas
medicações no bebê. Uma revisão na revista Pediatrics (Fortinguerra; Clavenna;
Bonati, 2009) concluiu que a maioria das medicações psiquiátricas é secretada
no leite materno, mas elas diferem consideravelmente em seus efeitos adversos
para o bebê.
Lítio e anticonvulsivantes podem ser detectados no sangue de recém-
nascidos. Logo após o nascimento, fígado, rins e a barreira hematoencefálica do
bebê ainda estão em maturação, o que signi ca que o bebê pode ter no sangue
alta concentração de qualquer medicação que a mãe tome. Mas há divergências
a respeito de se essas medicações podem ser tomadas ou não durante a
amamentação. A American Academy of Pediatrics tem a rmado que o lítio não
deve ser tomado quando se amamenta, mas a recomendação se baseia em dados
muito limitados. Na realidade, Viguera, Newport e colegas (2007) concluíram
que a concentração de lítio no sangue em bebês amamentados era de apenas
25% em relação à das mães que tomam lítio, muito mais baixa que o esperado.
Além disso, não foram detectados atrasos expressivos de crescimento ou
desenvolvimento ou outros efeitos adversos graves, e as pequenas alterações em
testes de laboratório do bebê não mostraram ser clinicamente signi cativas.
DICA DE CUIDADOS PERSONALIZADOS
INTERROMPER AS MEDICAÇÕES NA GRAVIDEZ
ESCOLHA DE ANTICONCEPCIONAIS
Planejar a gravidez obviamente lhe dará maior controle sobre a gestão de
seu transtorno e para o desenvolvimento saudável de seu bebê. Essa é uma
razão pela qual a contracepção efetiva é importante. Mas, mesmo que você
nunca tenha tido intenção de engravidar, é bom conhecer as interações entre as
medicações psiquiátricas que está tomando e os anticoncepcionais orais
(pílulas). Alguns anticonvulsivantes, como carbamazepina, oxcarbazepina e
topiramato aumentam o metabolismo dos hormônios sexuais como o
estrógeno e a progesterona e podem tornar seu anticoncepcional menos e caz.
Como resultado, você talvez precise recorrer a outras formas de contracepção
(por exemplo, diafragma, camisinha ou uma pílula anticoncepcional com dose
mais elevada de estrógeno) caso esteja tomando essas medicações (Joffe, 2007).
A pílula anticoncepcional também pode tornar certas medicações – em
particular a lamotrigina e o valproato – menos e cazes por reduzir a
concentração da medicação no sangue. Portanto, se você toma pílula
anticoncepcional, talvez precise aumentar sua dosagem de lamotrigina ou usar
outro método contraceptivo para obter pleno benefício do estabilizador do
humor (Scrandis, 2017). Além disso, se você de repente parar de tomar sua
pílula anticoncepcional, seu estrógeno irá cair e você pode ter um repentino
aumento dos níveis de lamotrigina, o que eleva o risco de erupções ou da
síndrome de Stevens-Johnson (ver Capítulo 6). Portanto, certi que-se de
noti car seu médico se você parar ou começar a tomar anticoncepcionais orais.
◼ Elevação da prolactina
Níveis elevados do hormônio prolactina (hiperprolactinemia) são perigosos
porque podem aumentar seu risco de câncer de mama e, quando você também
tem ciclos menstruais infrequentes, levar a reduções na produção de estrógeno.
Níveis baixos de estrógeno podem, por sua vez, causar infertilidade e redução
da densidade óssea, o que aumenta seu risco de osteoporose (Joffe, 2007).
Quando elevada, a prolactina pode causar ciclos menstruais infrequentes,
galactorreia (vazamento de leite dos seios), aumento dos seios, amenorreia,
enxaquecas ou diminuição do apetite sexual (Ali; Khemka, 2008).
Você tem risco maior de hiperprolactinemia se seu tratamento inclui certas
drogas antipsicóticas. Entre 48 e 88% das pessoas que tomam risperidona
desenvolvem hiperprolactinemia. O risco é alto também com alguns dos outros
ASGs (Kishi et al., 2017). Portanto, se você tem histórico familiar de câncer de
mama, é particularmente importante ter seus níveis de prolactina checados
enquanto tomar ASGs.
Se você tem elevação de prolactina mas nenhuma evidência de
irregularidades menstruais, talvez não precise ser tratada por isso. Mas se está
tendo sintomas ativos de hiperprolactinemia, pode precisar interromper sua
medicação antipsicótica e passar para um agente que tenha menor
probabilidade de elevar a prolactina. Se seu médico detecta baixos níveis de
estrógeno, assim como uma prolactina elevada, um anticoncepcional hormonal
que aumente o estrógeno pode também ser recomendado.
Se começar a ganhar peso, converse com seu médico a respeito de mudar sua
dosagem de medicação, tomá-la em outra hora do dia, mudar para medicação que
tenha menor risco de ganho de peso (por exemplo, aripiprazol, lamotrigina), ou, se
você não tem doença hepática ou renal, acrescentar a droga metformina para
promover perda de peso.
◼ Transtornos da tiroide
Perturbações da tiroide aparecem com maior frequência junto da depressão
do que de outros tipos de transtorno psiquiátrico. Fique alerta em relação a
essas condições, particularmente a baixa produção de hormônios da tiroide, ou
hipotiroidismo, mais comum em mulheres do que em homens. Algumas
mulheres começam a desenvolver problemas de tiroide na época da menarca,
outras após o parto, e outras ainda como parte normal do envelhecimento.
Uma variedade de fatores – doença autoimune, de ciência de iodo,
predisposição genética e certas medicações – podem causar transtornos da
tiroide.
Existe alguma evidência de que a ciclagem rápida e o hipotiroidismo
(ambos mais comuns entre as mulheres) estão associados, mas nem todos os
estudos chegam a essa conclusão (Buoli; Serati; Altamura, 2017). O lítio
suprime o hormônio tiroide e causa hipotiroidismo em algumas pessoas.
Portanto, seu médico precisa checar sua tiroide como parte de seu controle
regular do sangue, especialmente quando você começar a tomar uma nova
medicação.
Se você tem um nível baixo de hormônios da tiroide, pode precisar de um
suplemento como a levotiroxina. Como se descobriu que ela reduz a frequência
dos episódios depressivos, você não precisa necessariamente ter uma tiroide
menos ativa para se bene ciar da suplementação para a tiroide. Mas, se você
começar a tomar uma suplementação para a tiroide, que atenta a eventuais
sintomas de hipertiroidismo, que podem gerar riscos de brilação atrial ou
osteoporose. Os sintomas de uma tiroide hiperativa são mudanças
reconhecíveis no seu ciclo menstrual, calores e suores, palpitações do coração,
car com “pele salgada”, olhos saltados, mudanças no peso ou no apetite,
ansiedade e diarreias frequentes ou movimentações no intestino. Seu médico
pode medir se você tem hipertiroidismo por meio de exames de sangue
convencionais. Se tiver, é provável que precise parar de tomar o suplemento,
reduzir a dose ou mudar para outra forma de suplementação. Tomar um
suplemento para a tiroide pode ser uma ação de reequilíbrio, mas quando você
está com uma depressão que não reage a tratamentos, pode ser mais simples e
mais e caz tomar o suplemento do que acrescentar outro estabilizador do
humor ou antipsicótico atípico ao seu mix.
◼ Enxaqueca
Há um vínculo claro entre enxaquecas e transtornos de humor ou
ansiedade. Um estudo recente concluiu que a taxa de transtorno bipolar entre
mulheres com enxaqueca era quatro vezes mais alta que entre mulheres sem
enxaqueca (Jette et al., 2008). Das pessoas que são tratadas para enxaqueca,
nada menos que 19% podem ter transtorno bipolar (Kivilcim et al., 2017).
Embora os homens também tenham enxaqueca, a taxa entre as mulheres é pelo
menos o dobro. As jovens podem desenvolver enxaqueca por volta da primeira
menstruação e depois seguir tendo nas fases pré-menstrual ou menstrual de
seus ciclos.
As enxaquecas são muito piores que as dores de cabeça comuns: costumam
começar de manhã e durar pelo menos 4 horas, podem ocorrer em apenas um
dos lados da cabeça, criar uma sensação de latejar, pioram com a atividade
física e com frequência exigem que a pessoa descanse na cama. Para tratá-las,
você pode usar medicações “triptan” [à base de triptamina] voltadas
especi camente para enxaquecas, como sumatriptano ou zolmitriptano. Mas as
enxaquecas também podem ser tratadas com sucesso usando valproato ou
outros anticonvulsivantes. Se você tem propensão a enxaquecas, evite
medicações (por exemplo, a risperidona) que elevem os níveis de prolactina.
O lítio pode melhorar as enxaquecas, mas não é considerado um tratamento
de primeira escolha. Um dos velhos antidepressivos, amitriptilina, tem
demonstrado experimentalmente reduzir a frequência das enxaquecas, mas os
problemas de tomar antidepressivos tricíclicos quando você tem transtorno
bipolar tornam essa opção arriscada. A Mayo Clinic tem um site informativo1
sobre novos tratamentos para enxaqueca: www.mayoclinic.org/diseases-
conditions/migraine-headache/diagnosis-treatment/drc-20360207. Em termos
mais gerais, certi que-se de que o médico com o qual você trata da enxaqueca
conversa com seu psiquiatra a respeito dos efeitos das medicações para
enxaqueca em seu humor e sobre potenciais interações medicamentosas com
seus estabilizadores do humor.
MENOPAUSA
“Passar pela menopausa foi um inferno total. Eu acabei me estabilizando com os suplementos de estrógeno,
mas aí, depois de todos esses anos, meu médico resolveu tirar o estrógeno. Por que será que ele não quis
entender que sem ele eu ia car totalmente bagunçada?”
– Mulher de 52 anos com transtorno bipolar II
Não se sabe muita coisa sobre transtorno bipolar e menopausa, exceto que a
menopausa é uma época que oferece risco aumentado de oscilações de humor e
recorrências. Uma síntese de nove estudos concluiu que 46 a 91% das mulheres
bipolares reportaram piora em seus sintomas depressivos durante a menopausa
e, com menor frequência, de seus sintomas de mania ou hipomania (Perich;
Ussher; Meade, 2017).
Mulheres com transtorno bipolar podem ser mais sensíveis às reduções no
estrógeno que ocorrem na menopausa. Obviamente, não é porque seus
humores pioram perto, durante ou depois da menopausa que apenas os
hormônios expliquem isso. Muitas mulheres têm outas mudanças de vida no
nal de seus 40 e nos 50 anos, por exemplo, lhos indo embora de casa,
divórcios, novos casamentos, doenças, morte dos pais e outras transições.
Portanto, se você está perto da idade da menopausa e começa a experimentar
uma desestabilização ou piora de seu humor, peça que seu obstetra-
ginecologista faça uma avaliação endocrinológica (por exemplo, níveis de
hormônio folículo-estimulante, estradiol, hormônio luteinizante, hormônio da
tiroide) e converse com seu psiquiatra para ver se precisa ajustar suas
medicações (por exemplo, você pode precisar baixar a dosagem de lamotrigina
por seus efeitos nos níveis de estrógeno). Pode ser útil também usar sua
psicoterapia ou sessões de terapia em grupo para explorar os efeitos que o
envelhecimento e recentes transições de vida possam ter sobre sua saúde
emocional e física.
Algumas mulheres com transtorno bipolar decidem começar uma terapia de
reposição hormonal, ou TRH (geralmente estrógeno e progesterona, embora
algumas tomem apenas estrógeno). Há alguma evidência de que a TRH ajuda
a estabilizar os humores na perimenopausa (o tempo imediatamente anterior à
menopausa; Freeman et al., 2002), e que também reduza sintomas como os
calores. A TRH também traz outros benefícios à saúde, como aumentar a
densidade óssea, mas há relatos de casos de mulheres em TRH que cam
maníacas ou começam a ciclar rapidamente. Além disso, a TRH aumenta o
risco de câncer de mama e de doença cardíaca. Discuta a opção de TRH tanto
com seu obstetra-ginecologista como com seu psiquiatra e procure se informar
sobre atualizações nessa área, em que as mudanças ocorrem com frequência.
Se a menopausa afeta a depressão, o oposto também é verdade? O Estudo
do Humor e Ciclos de Harvard, que envolveu 976 mulheres deprimidas e não
deprimidas com idades de 36 a 45 anos, investigou se a depressão tem um
efeito sobre a transição que envolve a perimenopausa, durante a qual ocorrem
várias mudanças biológicas e hormonais (Harlow et al., 2003). A
perimenopausa ocorre em mulheres com uma idade média de 47,5 anos e pode
durar de 4 a 8 anos. É marcada por um declínio na função ovariana e é uma
fase de risco aumentado de recorrências da depressão.
Em comparação com mulheres que não têm histórico de depressão, as
mulheres com depressão reportaram ter seu primeiro ciclo menstrual em uma
idade mais precoce. Em um estudo de acompanhamento que durou 3 anos,
mulheres com histórico de depressão alcançaram a perimenopausa mais cedo
do que mulheres que não tinham histórico de depressão, particularmente
quando sua depressão era grave e elas estavam tomando antidepressivos para
combate-la. Mulheres com depressão também tinham níveis mais elevados de
hormônio folículo-estimulante e hormônio luteinizante e níveis mais baixos de
estrógeno do que as não deprimidas (Harlow et al., 2003).
Apesar não haver participação de nenhuma mulher com transtorno bipolar,
os resultados podem ter implicações no seu caso se você estiver chegando à
idade da menopausa: talvez você desenvolva sintomas de perimenopausa antes
que mulheres de sua idade, especialmente se estiver tomando antidepressivos,
assim como estabilizadores do humor. Se suas menstruações começaram a car
irregulares, mais curtas, com manchas de sangue entre as menstruações, ou
pararam de vez, consulte seu obstetra-ginecologista para fazer uma checagem
de seus níveis de hormônios e determinar se você está no início da menopausa.
Algumas mulheres optam pela TRH nessa época.
Algumas coisas com as quais você teve contato neste capítulo podem deixá-
la desanimada e fazê-la sentir que está “perdida se zer, igualmente perdida se
não zer”. Sem dúvida, para as mulheres, lidar com o transtorno bipolar pode
ser um malabarismo muito mais difícil do que para os homens, e as escolhas
que você será solicitada a fazer podem muitas vezes parecer bastante injustas.
Felizmente, você tem como ajustar seu tratamento para minimizar efeitos
teratogênicos durante a gravidez, efeitos em seu ciclo menstrual, e a
probabilidade de desenvolver síndrome do ovário policístico, doenças
metabólicas, da tiroide ou hiperprolactinemia. Antes de começar qualquer nova
medicação, discuta com seu médico de que maneira os efeitos adversos podem
ser reduzidos. Lembre-se de que todas as medicações, mesmo a aspirina, têm
efeitos colaterais de longo prazo. (Para maiores informações sobre transtorno
bipolar em seus lhos ou nos lhos que você planeja ter, ver Capítulo 14.)
O Capítulo 13 oferece um panorama diferente sobre a questão da
autogestão: como lidar de modo e caz dentro da sua família ou no ambiente
de trabalho depois de um episódio da doença. Pessoas com transtorno bipolar
costumam experimentar di culdades nesses dois ambientes – e problemas que
não se devem inteiramente ao seu comportamento. Muitos deles derivam do
fato de os outros terem uma compreensão inadequada do transtorno (ver a
história de Martha, no Capítulo 1). Discutirei a seguir várias estratégias que
podem lhe dar maior poder de negociação nos relacionamentos com a sua
família, seu ambiente social e no trabalho. Como você tem visto ao longo deste
livro, lidar com o seu transtorno envolve familiarizar os outros com os fatos a
respeito dele e deixar claro para si mesmo o que pode e o que não pode ser útil
para a sua recuperação.
1 Site em inglês, mas é possível traduzi-lo automaticamente durante sua navegação. (N.T.) ↩
CAPÍTULO 13
Como funcionar bem em casa e no
trabalho
Comunicação, habilidades para resolver
problemas e como lidar de modo eficaz
com o estigma
Por que Cindy está tão irritada? A maioria dos familiares com os quais
tenho trabalhado são pessoas bem intencionadas, afetuosas, que
honestamente querem fazer o melhor para o seu parente com transtorno
bipolar. Mas nem sempre sabem o que fazer quando aquele membro da
família reage negativamente à tentativa de ajuda. Acabam se sentindo
frustrados e sobrecarregados com o esforço que se exige deles para se
adaptarem ao transtorno, e então costumam dizer e fazer coisas que
envolvem críticas ou que não ajudam em nada.
As reações de seus parentes ao seu transtorno, particularmente durante o
período em que você está se recuperando, costumam refletir os mesmos
estilos de lidar ou de atribuir causas que você usou em vários estágios de
seu ajuste à sua doença (ver Capítulo 4): subidentificar-se com o transtorno
(atribuir suas mudanças de comportamento – aquelas que provavelmente
são parte da doença – à sua personalidade ou a hábitos) ou superidentificar-
se com ele (atribuir à doença todos ou a maior parte de seus
comportamentos, mesmo os normais). Parentes muito críticos costumam
subidentificar você com o transtorno, como Cindy vinha fazendo. Podem
acreditar que as suas alterações de comportamento de base biológica,
relacionadas à doença – incluindo oscilações de humor residuais de seu
último episódio que não tenham ainda sido esclarecidas –, são na verdade
causadas por seu caráter ou seu perfil moral, suas motivações inconscientes,
ou sua falta de empenho. Um membro da família que acredite que esses
fatores têm um papel como causa também irá achar que você tem maior
controle sobre suas oscilações de humor do que tem na realidade. Seu
parente então pode ficar irritado e crítico ou mesmo hostil.
◼ Superproteção
Alternativamente, você pode descobrir que seus parentes fazem questão
de observá-lo com extremo cuidado e administrar todos os detalhes de seu
transtorno, a ponto de você se sentir tratado como uma criança. Isso com
frequência é chamado de “superenvolvimento emocional”. Parentes que
ficam superenvolvidos (o mais típico é que seja um pai ou mãe ou cônjuge)
tendem a superidentificar você com o transtorno ou a rotular suas reações
cotidianas como sinais de sua doença. Por exemplo, dizem que sua doença
se reflete no fato de você ficar irritado com coisas que podiam muito bem
irritá-lo antes de você ficar doente. Às vezes, tanto eles quanto você estão
certos – sua raiva pode ser estimulada por coisas reais, mas seu transtorno
faz você reagir com um nível de intensidade emocional desproporcional às
circunstâncias. De toda forma, você pode começar a sentir que o fato de
eles rotularem seu comportamento está fazendo você se sentir pior. Parentes
podem lembrá-lo a toda hora das medicações que você tem que tomar, ou
dizer que você precisa falar com o médico ou terapeuta a respeito de
problemas ínfimos que você enfrente em casa ou no trabalho, ou mesmo ir
falar com seu médico sem avisar você disso.
Você pode até constatar, como ocorre com alguns dos meus pacientes,
que quando reclama que seus parentes estão sendo superprotetores eles
usam seu diagnóstico bipolar como uma arma contra você. Por exemplo,
você pode expressar incômodo com um parente por ele ficar fazendo
perguntas demais a respeito de suas medicações, e então vê-lo dizer que sua
reação é um sinal da sua doença. Então acaba-se entrando num ciclo vicioso
em que você se queixa de eles estarem sendo invasivos, o que faz eles
reagirem como se você estivesse ciclando para um episódio, o que por sua
vez deixa você mais incomodado com o fato de eles o rotularem como
alguém mentalmente doente, levando-os a reforçar suas crenças de que você
está mesmo ciclando, e os tornando ainda mais críticos e superprotetores.
Isso é conhecido como padrão de interação com “emoção expressa”, e pode
aumentar seu risco de recorrências (Miklowitz; Biuckians; Richards, 2006;
Miklowitz; Chung, 2016).
◼ Problemas com intimidade
Vamos ver agora outro tipo de reação emocional que costuma surgir
entre cônjuges ou parceiros durante o período de recuperação: um
desconforto com a intimidade física. O desconforto de seu parceiro pode
não estar associado a críticas ou a superproteção; em vez disso, você talvez
sinta a pessoa distante e retraída emocionalmente. A intimidade física pode
ter sido interrompida totalmente durante ou logo após seu último episódio
(como Martha experimentou com o marido depois de hospitalizada), ou
pode ter diminuído aos poucos ao longo do tempo, após múltiplos
episódios.
É muito comum os relacionamentos chegarem a um ponto vulnerável no
período de recuperação, mesmo que o episódio tenha sido menor. Muitos
cônjuges ficam com raiva dos eventos ocorridos durante o episódio e não se
sentem confortáveis com a proximidade. É particularmente provável que
isso ocorra se você largou as medicações – contra o desejo dele(a) – antes
de seu episódio mais recente.
Se você no momento está hipomaníaco, pode ter um aumento no
impulso sexual, mas seu cônjuge/parceiro(a) talvez se retraia por alguma
desconfiança em relação ao seu transtorno. Por exemplo, é possível que sua
parceira fique mais cautelosa em razão de seus recentes surtos de
irritabilidade. O oposto às vezes também ocorre: você pode estar
deprimido(a) e seu parceiro(a) talvez queira restabelecer o contato físico,
mas isso faz você se sentir sob pressão, desconfortável com seu corpo, ou
inseguro a respeito de si mesmo como parceiro sexual. Não é incomum que
as pessoas percam o apetite sexual durante e após um episódio de
depressão.
Se você tem estado bem há algum tempo, quem sabe ache mais fácil
negociar intimidade com seu parceiro. Mas mesmo clientes meus que têm
continuado bem se queixam que questões básicas de confiança entre eles e
seus parceiros foram violadas por seus estados anteriores de doença e que a
intimidade emocional e física tem sido difícil de restabelecer. Se você está
experimentando um ou mais desses problemas, certamente não é o único.
Felizmente, esses problemas de casal podem ser resolvidos usando algumas
habilidades de reconstrução de relacionamento, descritas nas próximas
seções.
Solução eficaz: O primeiro passo para lidar de modo efetivo com os familiares após
um episódio da doença é educá-los sobre seu transtorno. Isso costuma ser uma boa
ideia, mesmo que sua família funcione bem, e mais importante ainda após um
episódio, quando as emoções negativas às vezes estão no auge.
É improvável que seus parentes adotem logo uma visão médica sobre
seu transtorno – o pai de Evan, por exemplo, precisou de bastante tempo.
Mas com a exposição repetida a informações educativas, seus parentes
podem começar a reavaliar suas crenças de que o seu comportamento tem a
ver com má vontade ou intenções negativas da sua parte. Foi o caso de
Gray, que, com sua esposa, Arlene, fez terapia de casal para ajudar a se
adaptar ao transtorno bipolar dela.
Randy: Você ficou muito brava comigo hoje cedo. O que aconteceu?
[pergunta que visa a esclarecer]
Cindy: Tentei puxar o assunto do imposto, e você simplesmente me cortou.
Não sei por que fico insistindo.
Randy: (uma pausa) Então você ficou frustrada comigo. Você queria que eu
resolvesse essa questão de uma vez. [parafraseando]
Cindy: (ainda irritada) Sim, é claro que eu queria! E já pedi para você fazer
isso um milhão de vezes.
Randy: (assentindo com a cabeça.) Certo, eu entendo que é frustrante
mesmo. Mas em parte é porque eu estou tendo muita dificuldade para me
concentrar. E você se preocupa que talvez eu acabe não fazendo, é isso?
[tentando esclarecer]
Cindy: (mais calma.) Talvez eu tenha sido muito ríspida com você, mas a
questão é quando você vai decidir fazer isso? O dia 15 está logo aí.
Carol:Pai, por favor, você poderia ligar antes vir aqui? Isso me daria a
chance de arrumar a sala antes de você chegar.
Terapeuta: Muito bem, Carol. E diga a ele como isso vai fazer você se sentir.
Seus familiares com frequência farão o melhor que podem para tentar
ajudá-lo. Eles se beneficiarão de saber, de maneira construtiva, o que podem
fazer de outro modo. Formular pedidos positivos pode soar artificial no
início, mas ajudará a esclarecer suas necessidades sem afastar seus parentes.
Agora examine um cenário em que você faz o melhor que pode com as
ferramentas de comunicação, mas parece que isso pouco ajuda no seu
relacionamento. Você pode ficar chateado por ser o único que tenta usar
habilidades de comunicação ou resolver problemas com eficácia, enquanto
os outros parecem continuar agindo como sempre. Por exemplo, você pode
ser muito educado ao pedir a seus parentes próximos que mudem de
comportamento, mas a maneira com que eles pedem que você faça o
mesmo continua soando desafiadora e humilhante. Claro que se você
perguntar a eles qual a visão que têm do problema, poderão dizer que estão
tentando ser diplomáticos e que é você que, em troca, se mostra defensivo.
Latisha, 18 anos, tinha certeza de que os outros na escola dela estava fazendo
fofocas a seu respeito, inventando histórias que prejudicavam sua reputação, e a
evitando quando tentava se enturmar. Dava vários exemplos, em geral quando já
estava se sentindo ansiosa e deprimida quanto às suas habilidades de se
socializar. Ela teve o feedback de uma de suas amigas, que contou que, quando
Latisha estava nesse estado ansioso, soava agressiva (por exemplo, ela
perguntava: “Ei, por acaso vocês estavam falando de mim?”), e então os outros
se afastavam. Na terapia, ela aprendeu que sua previsível sequência de ficar
ansiosa, agir de modo agressivo e depois ficar tentando entender o afastamento
deles contribuía para seu humor depressivo. Seu mantra era “ficar curiosa” a
respeito do estado mental de seus pares, mesmo que isso às vezes implicasse
fazer-lhes perguntas pessoais. A terapia ajudou a descartar a suposição de que
estivessem sempre pensando nela e a julgando.
4 Não contam a ninguém, mas admitem ter transtorno bipolar em suas fichas de
convênio médico, deixando aberta a possibilidade de que isso seja descoberto pelo
empregador (embora o risco seja menor desde o advento da LGPD).
5 Não contam a ninguém no trabalho, e não usam o convênio médico da empresa para
cobrir seus custos psiquiátricos.
Não há uma solução válida para todos (se bem que, em geral, recomendo
evitar a primeira opção). Vou descrever os prós e contras de revelar ao chefe
ou a colegas o seu transtorno, para ajudá-lo a decidir que opção parece ser a
melhor para você no seu ambiente de trabalho atual ou futuro.
Revelar logo ao seu chefe pode ser um passo para permitir mudanças
posteriores na estrutura ou nas suas atribuições (ver quadro “Ajustes
razoáveis no ambiente de trabalho para pessoas com transtorno bipolar”,
adiante). Você pode contar com maior proteção legal se revelar que tem
transtorno bipolar quando está bem. Se seu empregador ficar a par disso
com antecedência, vocês podem tentar juntos a solução de problemas a
respeito de ajustes que pareçam razoáveis durante seus períodos de doença,
e depois, quando começar a se recuperar (como fez Louise).
Pode haver situações em que você sente que deve revelar o transtorno ao
seu chefe, como quando falta muitas vezes ou tem uma clara deterioração
na produtividade de seu trabalho. Algumas pessoas esperam para ver se seu
desempenho de fato falha e, então, revelam o transtorno ao chefe ao
pedirem uma folga ou outros ajustes no trabalho. Este pode ser um plano
sensato, mas o senso de oportunidade é importante: seu chefe pode se sentir
incomodado por essa revelação se ela ocorrer quando você, por exemplo,
está tentando cumprir um prazo importante. Além disso, quando você está
num período ativo da doença, talvez não seja capaz de avaliar se o
desempenho no seu trabalho de fato mudou ou precisa de ajustes.
Horário de trabalho
Trabalhar em horários regulares, diurnos ou noturnos, em vez de alternar turnos
de trabalho diurnos e noturnos.
Adotar turnos de trabalho que se adaptem melhor aos seus ritmos circadianos
(por exemplo, de 10h às 19h em vez de 8 às 17h; trabalhar turnos de 3 horas
por 5 dias em vez de turnos de 5 horas por 3 dias).
Evitar trabalho logo cedo se você sofre de “ressaca de medicação”.
Reduzir as horas de trabalho ou mudar de período integral para meio período
quando tiver oscilações de humor.
Ser dispensado de horas-extras (ou fazer menos).
Concluir algumas tarefas trabalhando em casa.
Gestão do estresse
Ter permissão de dividir responsabilidades por projetos com outros.
Ser colocado em sala ou ambiente mais distante de fontes de ruído e de
estímulo.
Reestruturar seu ambiente de trabalho para evitar superestimulação (por
exemplo, trabalhar em local bem iluminado, espaçoso).
Ser dispensado de fazer certas tarefas que historicamente tenham
desencadeado suas oscilações de humor.
Obter apoio ou aconselhamento de um programa de apoio a funcionários.
Interromper o trabalho para pausas ou almoço, para aliviar a pressão; exercitar-
se, caminhar, meditar ou usar técnicas de relaxamento.
Fazer maior número de pausas curtas em vez de duas pausas grandes durante
os expedientes de 8 horas.
Poder contar com autonomia na questão de definir metas.
Ausências do trabalho
Ter permissão para ausências curtas para ir ao médico, com possibilidade de
compensar as horas.
Ter permissão para folgas mais extensas com um atestado médico.
Ter permissão para sair mais cedo quando tiver oscilações de humor mais
graves ou reações de ansiedade/estresse.
Prevenção eficaz: Quando iniciar um novo emprego, tenha uma rotina regular diurna
e noturna e limite a carga de trabalho inicial. Esses ajustes ajudam a impedir que o
trabalho desencadeie hipomania durante o expediente de trabalho e depressão após
o expediente.
A té aqui tenho falado sobre como você pode lidar com seu transtorno
bipolar. Mas, e se você acha que está observando os primeiros sinais de
bipolaridade em um de seus lhos, o que deve fazer com essa informação?
Sabe-se há muito tempo que o transtorno bipolar tem forte componente
genético. Você talvez esteja preocupado a respeito do que isso signi ca para
seus lhos ou para os lhos que venha a ter no futuro. Algumas pessoas com
transtorno bipolar cam até em dúvida se devem ter lhos. Talvez essa seja
uma questão especialmente presente se você acabou de ser diagnosticado (ou o
seu cônjuge ou parceiro/a) e pretende constituir família. Não obstante, muitas
pessoas que têm a doença há um bom tempo levantam a mesma questão. Se
nem você nem seu parceiro tem transtorno bipolar, mas outros parentes de
primeiro ou segundo grau têm – irmãos, tias e tios, avós –, talvez se preocupe
com a possibilidade de um ou mais de seus lhos terem herdado esses genes e
que desenvolvam o transtorno bipolar mais tarde.
Essas preocupações são justi cadas. Uma das muitas coisas que nos
preocupam em relação a nossos lhos é que possam ter um transtorno do
humor, e quando o transtorno bipolar está presente em nossa família essa
preocupação é ainda maior. A perspectiva de transmitir o transtorno às
gerações seguintes pode gerar sentimentos de ansiedade ou culpa, embora,
como comentei em capítulos anteriores, não tenhamos controle sobre os genes
que transmitimos. Neste capítulo, espero responder a algumas das questões que
você possa ter a respeito do risco do transtorno bipolar para os seus lhos e de
seus sintomas associados, e sobre o que se pode esperar se um lho seu for
diagnosticado.
Vamos começar com a pergunta que ouço com maior frequência: “Se eu
tenho transtorno bipolar, meus filhos terão também?”.
Pesquisadores falam de diversas maneiras a respeito do risco de uma doença,
mas, em geral, referem-se à probabilidade percentual, durante o tempo de vida,
de que você ou alguém aparentado desenvolva uma doença particular. É difícil
quanti car o risco para o transtorno bipolar porque há vários subtipos
diferentes e transtornos comórbidos, como discutimos ao longo deste livro.
Não obstante, saber os riscos reais e que fatores aumentam esse risco fará com
que se sinta mais no controle do resultado de seu próprio transtorno de humor
ou daquele do seu lho.
Na população em geral, entre 1 e 2% dos adultos têm transtorno bipolar.
Um agregado de estudos clínicos nos Estados Unidos, Europa e Ásia, todos
baseados em entrevistas estruturadas e em métodos sistemáticos de diagnóstico,
concluiu que, ao longo de 17 estudos com 31.443 crianças (idades entre 7 e 21
anos), 576 (1,8%) tinham alguma forma de transtorno do espectro bipolar
(bipolar I, II, e transtorno bipolar não especí co ou “não especi cado de outro
modo”; ver a seguir) (Van Meter et al., 2016).
Se você é mãe e tem transtorno bipolar, as chances de que seu lho o
desenvolva são de 10% aproximadamente. O valor aumenta para 25% se
incluímos o risco de transtornos do humor em geral, como depressão maior
sem mania, transtorno bipolar não especí co, assim como os tradicionais
transtornos bipolar I e II (Craddock; Sklar, 2013). Fato importante, os lhos
de pais bipolares têm maior probabilidade ao longo do tempo de desenvolver
transtornos depressivos (30 a 40% em alguns estudos) do que transtornos
plenos bipolar I ou II (Duffy et al., 2014; Hillegers et al., 2005). Alguns
estudos concluíram que o risco para a prole é mais alto quando o pai ou a mãe
desenvolveram o transtorno bipolar precocemente (antes dos 21 anos) em vez
de mais tarde (Hafeman et al., 2016; Vieta et al., 2018).
Essas estatísticas re etem médias de certo número de estudos. Talvez você
ache reconfortante essa porcentagem relativamente baixa, ou quem sabe ela
levante outras questões: será que há algo que eu possa fazer para reduzir ainda
mais o risco para o meu lho? Se ele tem depressão agora, será que terá mania
mais tarde? Como saber se um sinal é de transtorno bipolar relacionado a um
transtorno comórbido comum como TDAH – ou apenas uma angústia de
adolescente? Se meu lho for diagnosticado – ou tiver vários aspectos do
transtorno bipolar, mas não se quali car atualmente para esse diagnóstico –,
como irá funcionar na escola, em casa ou com seus companheiros no futuro?
Neste capítulo, você verá:
Como reconhecer os sintomas de transtorno bipolar em crianças e
adolescentes: de que modo diferem dos sintomas de outros transtornos ou
das oscilações de humor comuns a crianças ou adolescentes.
Como identi car os sinais precoces de alerta de episódios de depressão ou
mania e o que fazer com essa informação.
Que tipos de desfechos podemos esperar quando uma criança é
diagnosticada com transtorno bipolar.
A natureza dos comprometimentos cognitivos no transtorno bipolar
pediátrico e como eles contribuem para os problemas sociais ou escolares.
Que tratamentos são mais e cazes.
Como você verá a seguir, recomendo começar com uma avaliação
psiquiátrica completa de seu lho, feita por um médico competente (ver
detalhes adiante sobre como encontrar um). Algumas das suas perguntas
podem ser respondidas por essa avaliação, embora você talvez que ainda
perdido com os termos que seu médico emprega para descrever seu lho (por
exemplo, Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor [TDDH] ou
“bipolar não especí co”). Talvez que em dúvida quanto à validade desses
diagnósticos ou o que eles implicam em termos de tratamento e cuidados a
longo prazo. A expectativa é que os termos do diagnóstico quem mais claros
para você depois que ler este capítulo, assim como a conexão entre esses
diagnósticos e os tratamentos recomendados.
Por m, espero ajudá-lo a equilibrar seu conhecimento dos sinais e sintomas
de transtorno bipolar em seu lho com a decisão de evitar atuar como “pai ou
mãe helicóptero”. Tenho visto muitos pais amorosos se tornarem
hipervigilantes quando veem que o lho mostra sintomas discretos, e
começarem a fazer uma varredura minuciosa das mínimas mudanças de humor
da criança. Podem pedir que professores, pais de amigos do lho ou treinadores
de esportes os noti quem de qualquer explosão emocional, choro,
irritabilidade ou momentos em que o lho fale muito rápido, ou que se
vangloriando ou fazendo coisas demais ao mesmo tempo. Essa abordagem é
certamente compreensível em razão dos riscos envolvidos, mas tem aspectos
negativos. Pode levá-lo a exagerar o sentido do que está vendo e criar uma
tensão desnecessária em seu lho. Neste capítulo, meu objetivo é dar a você
uma compreensão a respeito do que procurar e do que fazer em relação às suas
observações, sem centrar a vida de sua família em torno da expectativa da
emergência da doença.
◼ A reação na Europa
Psiquiatras europeus criticaram fortemente o movimento de bipolaridade
infantil dos Estados Unidos, a rmando que médicos americanos estavam
dando diagnósticos incorretos. Alguns pesquisadores europeus sugeriram que
psiquiatras americanos receitavam estimulantes e antidepressivos em excesso, o
que provocava mania em crianças que estavam apenas deprimidas ou tinham
TDAH (Reichart; Nolen, 2004). Outros achavam que as companhias
farmacêuticas americanas estavam estimulando tais diagnósticos a m de
vender mais remédios. Já outros chegaram a pensar que o transtorno bipolar
pediátrico era exclusivo dos Estados Unidos. Em um simpósio internacional
em 2003, quando descrevi as características de crianças bipolares que estávamos
vendo em nossos estudos, um psiquiatra infantil da Irlanda me perguntou:
“Nunca vi uma criança assim em meus 30 anos de prática. Será que é alguma
coisa que vocês inventaram do lado de cá do Atlântico?”.
Esses choques de pontos de vista podem ter outras raízes. Por exemplo, há
uma grande diferença entre Estados Unidos e Europa na maneira com que as
doenças são identi cadas e tratadas. No Reino Unido, por exemplo, os médicos
que tratam de doenças mentais nem sempre dão um diagnóstico, mas podem
listar as áreas problemáticas da criança por ordem de importância. Ter um
transtorno do humor pode não ocupar um lugar alto na lista de problemas, que
inclui abuso físico, cabular aulas e alcoolismo dos pais, o que faz com que a
existência de transtorno bipolar em uma criança não seja o foco de atenção.
Também há diferenças populacionais entre Estados Unidos e Europa. O
psiquiatra americano Robert Post e seus colegas no Stanley Research
Consortium concluíram que o histórico familiar de doença bipolar era mais
comum entre adultos com transtorno bipolar nos Estados Unidos do que na
Europa, assim como ter experiências na infância de abuso ou de doenças
médicas comórbidas (por exemplo, doença da tiroide) (Post et al., 2017).
Também apontaram que doenças médicas em geral eram mais comuns em
crianças nos Estados Unidos do que na Europa, diferença in uenciada por
vários fatores, entre eles exercícios físicos e dieta.
Minha visão dessa controvérsia é que, pelo menos nas décadas de 1990 e
início de 2000, os médicos americanos talvez tenham exagerado no diagnóstico
de transtorno bipolar em crianças, enquanto os da Europa subdiagnosticaram.
Há prós e contras em ambas as posições: ao superdiagnosticar o transtorno, nós
nos Estados Unidos talvez tenhamos dado às crianças medicações
desnecessárias, notadamente ASGs, antipsicóticos atípicos, que ocasionaram
signi cativo ganho de peso e problemas metabólicos. E a tendência europeia de
subdiagnosticar o transtorno bipolar pode ter deixado sem explicação o fracasso
escolar, perturbações no relacionamento entre pares e tentativas de suicídio, ou
ter feito com que fossem atribuídos a outros diagnósticos, como o de TDAH.
Tratamentos que teriam sido e cazes para essas crianças – tanto médicos
quanto psicológicos – foram ignorados (Youngstrom et al., 2005).
Hoje, os médicos nos EUA são mais cautelosos em diagnosticar crianças
com transtorno bipolar (ou aceitar rotineiramente o diagnóstico bipolar em
uma criança encaminhada para tratamento). Mas ainda há distorções no
diagnóstico e no tratamento. Por exemplo, médicos podem ainda aplicar o
rótulo pelo fato de o transtorno ter linhas gerais de tratamento mais de nidas
do que outros transtornos: você pode tratar a criança com transtorno bipolar
com estabilizadores do humor ou ASGs, e, se ela não reagir bem, com
antidepressivos, outros estabilizadores do humor ou antipsicóticos, ou
psicoterapia (Schneck et al., 2017). Os algoritmos de tratamento
farmacológico para crianças com TDO ou transtorno de conduta são menos
óbvios.
Dan, 37 anos, estava preocupado que sua filha Justine, 14 anos, viesse
a ser expulsa da escola. No início do ano escolar, ela havia se
ausentado por duas semanas em razão de um episódio depressivo.
Faltando apenas uma semana para o final do semestre, ela estava
faltando rotineiramente às aulas (alegando ódio por vários
professores), ficando mais agressiva verbalmente em casa e na escola,
e indo dormir cada vez mais tarde. Considerando o histórico familiar
de mania, Dan ficou preocupado, achando que ela estivesse
manifestando transtorno bipolar, mas sua preocupação mais imediata
era de que ela fosse expulsa da escola. Ele explicou à direção que a
menina nunca se estabilizara totalmente do seu último episódio
depressivo e solicitou que lhe fosse dada uma certa tolerância em
relação ao limite de faltas.
Seu filho pode ter alguns sintomas maníacos ou depressivos e não outros. Talvez
tenha múltiplos sintomas de mania, mas que podem não ser muito intensos ou durar
tempo suficiente para interferir em sua aptidão para funcionar na escola. O humor dele
pode oscilar, indo e voltando, entre euforia, irritabilidade e tristeza, sem se fixar num
polo suficiente para atender a todos os critérios diagnósticos. Se seu filho tem vários
desses sintomas de baixo perfil, talvez tenha transtorno bipolar subliminar ou não
específico (veja também o Capítulo 3). Se o transtorno bipolar também está presente
em sua família, é bom ter uma avaliação de seu filho e ver se precisa de tratamento. O
tratamento precoce pode ou não envolver estabilizadores do humor ou ASGs. Há
programas de psicoeducação e treino de aptidões para a família (ver Capítulo 6) que
podem ser relevantes para você (Fristad; Macpherson, 2014; Miklowitz et al., 2013).
3 Avalie se sua hipervigilância não tem raízes na própria infância. É possível que
você esteja querendo ser para o seu filho o pai ou a mãe que nunca teve quando
criança – que colocasse em primeiro lugar as necessidades do filho. Tenha em
mente que a maioria das crianças se sente melhor com “andaimes”. Isso significa
oferecer à criança estrutura e apoio quando ela começa a aprender uma tarefa (por
exemplo, como lidar com seus humores), e então ir gradualmente retirando esse
apoio conforme ela aprende a tarefa por sua conta.
Essa ilustração não tem intenção de sugerir que todo adolescente que
manifesta sinais de transtorno bipolar esteja pensando em se suicidar, mas que
esse é um aspecto a ser levado em conta já que pode car encoberto. Se um dos
pais tem a con ança do lho (mesmo que apenas temporariamente), pode estar
em melhor posição para ajudar o adolescente a lidar com impulsos de
automutilação, que talvez ele tenha muita di culdade para ignorar.
◼ Automutilação
À parte as tentativas de suicídio, comportamentos de automutilação (por
exemplo, cortar-se) são cada vez mais comuns em adolescentes e parecem mais
comuns no transtorno bipolar do que na depressão maior (Weintraub et al.,
2017). Às vezes, cortar-se re ete impulsos autodestrutivos, ou pode estar
associado a outros comportamentos de alto risco (por exemplo, dirigir bêbado
ou drogado, fazer movimentos muito perigosos no skate, car até tarde da
noite para conversar com pessoas na internet). Alguns programas de
tratamento promissores para automutilação em adolescentes estão descritos no
quadro “Tratamento e caz”, a seguir.
◼ Problemas cognitivos
Geralmente, os problemas cognitivos são avaliados por testes de
neuropsicologia, como repetir uma lista de palavras ou copiar uma gura
desenhando-a. Esses estudos nem sempre chegam às mesmas conclusões ao
comparar crianças bipolares e crianças saudáveis. Não obstante, a maioria dos
estudos indica que, quando comparadas com voluntários saudáveis da mesma
idade, crianças com transtorno bipolar têm problemas com a memorização de
palavras ou histórias, com atenção, memória operacional, funções executivas
(aptidões como planejar, organizar e tomar decisões), percepção visual e
memória visual (Pavuluri et al., 2009; Walshaw; Alloy; Sabb, 2010). Alguns
estudos constataram problemas também com leitura e uência verbal (Joseph
et al., 2008).
Estudos de neuroimagem têm concluído que crianças com transtorno
bipolar têm menor ativação das áreas pré-frontais do cérebro (envolvidas na
função executiva, memória, orientação por metas e controle emocional).
Dé cits corticais pré-frontais podem se manifestar como problemas para
relembrar do que tratava uma história, compreender os passos para realizar
uma tarefa, manter-se na execução da tarefa ou regular as reações emocionais.
Crianças com transtorno bipolar costumam ter correspondentemente maior
ativação das áreas “límbicas” do cérebro inferior, como a amígdala, que
desempenha papel crucial na regulação das emoções. A ideia aqui é que o
desenvolvimento anormal da amígdala pode levar a problemas no
processamento das emoções no circuito que a conecta ao córtex pré-frontal,
também conhecido como circuito do “controle afetivo” (Townsend; Altshuler,
2012). Em crianças com transtorno bipolar, o córtex pré-frontal tem melhor
controle sobre os impulsos que chegam da amígdala, levando a maior
contenção na expressão de emoções. Tratamentos farmacológicos, e até alguns
tratamentos psicossociais, podem melhorar a aptidão das áreas pré-frontais em
modular a amígdala e outras áreas límbicas (Chang; Saxena; Howe, 2006).
Esses achados de pesquisa podem ser bem desanimadores para os pais, que
cam especulando se o lho foi relegado a uma vida de funcionamento
cognitivo medíocre. No entanto, há uma expressiva variação no funcionamento
escolar e social das crianças que têm transtorno bipolar. Algumas mostram
signi cativas melhoras na cognição quando tomam estabilizadores do humor
ou medicação antipsicótica. Além disso, os dé cits de aptidão não são sempre
estáveis ao longo do tempo: comprometimentos vistos em uma idade não se
manifestam necessariamente mais tarde.
Se você observa que seu filho tem problemas de memória verbal, em manter a
atenção ou processar visualmente, eles podem não ser causados pelas mesmas
vulnerabilidades subjacentes que causam o transtorno bipolar. Podem decorrer
inteiramente de outro transtorno, ou de um que seja comórbido ao transtorno bipolar,
como o TDAH. Uma bateria completa de testes neuropsicológicos aplicados por
psicólogo qualificado – em geral acompanhado por um relatório em linguagem para
leigos – irá responder muitas de suas questões sobre a origem do comprometimento
cognitivo de seu filho e sobre o que esperar ao longo do tempo. Esta bateria de testes
não revela se seu filho tem transtorno bipolar, mas pode esclarecer áreas que sejam
mais difíceis para ele ou ela na escola, e identificar ajustes possíveis em um plano
educacional individualizado (PEI). Você pode pedir uma ressonância magnética, mas
talvez não compense o tempo e dinheiro envolvidos. Imagens do cérebro não são
ferramentas diagnósticas. Em geral, fique cético se um provedor disser que testes
neurológicos ou neuropsicológicos de qualquer tipo determinam se seu filho tem um
“cérebro bipolar”.
2 De que maneira o profissional explica por que o transtorno bipolar (versus outro
transtorno) é o diagnóstico correto para o seu filho? O médico consegue explicar, a
um nível em que você (e idealmente seu filho também) possam entender, em que o
diagnóstico de transtorno bipolar difere de outros transtornos associados? Ou então o
avaliador diz algo como “Eu não uso o sistema do DSM-5” ou “Não acho que
diagnósticos sirvam para muita coisa”? Se ele ou ela enfatiza dimensões em vez de
categorias (por exemplo, “Acho que seu filho está no espectro autista” ou “ele tem um
nível moderado de depressão, mas não é grave”), tudo bem, mas ele precisa ser capaz
de esclarecer que dimensões são mais relevantes para o seu filho, onde ele ou ela
colocam seu filho dentro dessas dimensões, e como tais dimensões moldam o
tratamento. Você pode perguntar se o avaliador acha que os comportamentos de seu
filho se devem a um transtorno do humor, se são reações a eventos ambientais (por
exemplo, uma mudança recente, uma doença na família), ou mesmo fruto do
desenvolvimento normal. Se você tiver uma explicação alternativa sobre o
comportamento de seu filho, exponha-a.
◼ TDAH
No Capítulo 3, o tópico “O diagnóstico parece adequado? Ou será que você
tem outro tipo de transtorno?” sobre falsos diagnósticos e transtornos
comórbidos descreve muitas das maneiras pelas quais podemos distinguir o
transtorno bipolar adulto de outros transtornos, e a maioria também se aplica a
crianças e adolescentes. O quadro a seguir resume algumas das principais
diferenças entre transtorno bipolar e TDAH.
Como você pode ver, vários sintomas ocorrem em ambos os transtornos:
irritabilidade, fala rápida, dispersão e aumento de energia. Outros sintomas –
como grandiosidade e humor exaltado – são aspectos-chave do transtorno
bipolar e só raramente ocorrem no TDAH. Crianças com TDAH geralmente
são dispersas, mas as que têm transtorno bipolar podem experimentar a
dispersividade apenas quando maníacas ou hipomaníacas. Para perceber essas
diferenças, o médico precisa avaliar o curso da doença ao longo do tempo: o
transtorno bipolar é episódico, enquanto o TDAH é visto como um estado
relativamente constante de comprometimento do funcionamento cognitivo (a
não ser que a criança se bene cie de tratamento com psicoestimulantes ou
outros agentes).
Nova pesquisa: Crianças com transtorno bipolar sempre se livram dos sintomas?
O estudo “Course and Outcome of Bipolar Youth (COBY)” examinou o que ocorre
com crianças bipolares ao longo do tempo usando uma medida dimensional do curso
da doença – o número de semanas que elas ficam bem. Afinal, uma doença pode ser
tolerável se os piores sintomas só estão presentes algumas semanas por ano. O
estudo, realizado em três ambientes universitários, acompanhou 367 crianças e
adolescentes com transtornos do espectro bipolar (bipolar I, II ou não específico) por
4 anos (Birmaher et al., 2014). A conclusão foi de que crianças podem ser
classificadas segundo seu padrão de curso de 4 anos como segue: (1) um grupo
rotulado como “predominantemente eutímico” (24% da amostra) ficou livre de
sintomas em média 84,4% das semanas do estudo; (2) um grupo “moderadamente
eutímico” (34,6%) ficou bem em 47,3% das semanas; (3) um grupo “doente com um
curso de melhora” (19,1% da amostra) ficou bem em 42,8% das semanas; e (4) um
grupo de “jovens predominantemente doentes” (22,3%) ficou isento de sintomas
apenas em 11,5% das semanas.
O que isso significa? De novo, os desfechos são muito heterogêneos: no estudo
“COBY”, cerca de 1 em cada 4 crianças diagnosticadas com transtorno do espectro
bipolar ficou livre de sintomas pela maior parte dos 4 anos seguintes. As que se
mostraram predominantemente eutímicas tiveram manifestação de mania mais tarde
(12 anos) do que crianças com diferentes cursos da doença (9 a 11 anos). Crianças
com cursos da doença mais eutímicos também tiveram: (1) sintomas depressivos
menos graves no início do estudo, (2) menor histórico familiar de transtornos
psiquiátricos, e (3) menor incidência de abuso sexual na infância. Alguns desses
fatores são passíveis de mudança. Por exemplo, se notamos depressão cedo o
suficiente, podemos atuar para ajudar a criança a ficar livre de sintomas ajustando a
medicação ou combinando-a com formas de psicoterapia baseadas em evidência
(discutidas adiante neste capítulo). Podemos incentivar pessoas na família que
tenham transtornos psiquiátricos a obter tratamento para se tornarem cuidadores
mais eficazes.
Digamos que seu lho teve uma avaliação psiquiátrica completa, e o médico
recomendou estabilizadores do humor, ASGs ou antidepressivos. Será que é o
caso de seguir essas recomendações? Decidir se é o caso ou não de incentivar
seu lho a tomar medicações psiquiátricas é algo muito difícil. Nenhum de nós
gosta de ver o lho tomando medicações, especialmente quando estas têm
sérios efeitos colaterais e não oferecem garantia de funcionar. Ouvimos
histórias de crianças que tomam montes de medicações com apenas 12 anos de
idade. Por que alguém iria querer ver o lho condenado a uma vida inteira
tomando vários remédios? Por outro lado, você talvez esteja vendo o quanto
seu lho sofre e o quanto a vida dele ou dela poderia ser mais plena se seus
humores se estabilizassem.
Expliquei em capítulos anteriores por que a maioria de nós acredita que as
medicações são a primeira linha de tratamento do transtorno bipolar. Sabemos
que psicoterapias e tratamentos complementares ou alternativos não tratam
adequadamente do transtorno bipolar quando ministrados isoladamente. Seja
cético em relação a pro ssionais que dizem a você coisas como “ser bipolar não
é o ponto que eu focalizo... Eu me importo mais em desenvolver um
relacionamento com a criança e explorar seu histórico” ou “a maioria das
crianças que atendo não precisa de medicamentos”. Esse tipo de posição pode
soar como música aos seus ouvidos, mas tal médico ou não atende
regularmente crianças bipolares ou vê apenas crianças que estão com formas
mais leves ou moderadas da doença, para as quais as medicações são mais uma
questão de qualidade de vida do que uma necessidade de saúde. Se o seu lho
tem de fato transtorno bipolar I ou II, é alta a probabilidade de que precise
tomar medicações antes que possa ser capaz de se bene ciar de uma
psicoterapia.
E se ele ou ela tem uma condição subliminar como transtorno bipolar não
especí co? A decisão de tomar medicação muitas vezes depende do grau de
comprometimento presente. Se a criança está perdendo aulas, queixando-se de
que não consegue dormir, e parece irritável, isolada, desinteressada e infeliz, as
medicações provavelmente são necessárias. Se seu lho anda pilhado e cheio de
planos, faz um monte de coisas e costuma ter pouco sono, examine se esses
sintomas estão piorando com o tempo. Ele está indo bem na escola, em casa, e
com seus companheiros, ou há cada vez mais problemas em um ou mais desses
contextos? Ele é capaz de se concentrar ao fazer as tarefas na aula assim que
chega à escola? À noite consegue fazer a lição de casa? O relacionamento
familiar tem uma base sólida, ou os humores dele estão começando a perturbar
todo mundo?
Embora ainda não aprovado pela FDA, existe pelo menos um teste em larga
escala indicando que a lurasidona é mais e caz que placebo para depressão
bipolar em crianças (idade média de 14) ao longo de um período de seis
semanas. Esse estudo indicou que a lurasidona também era e caz para aliviar
ansiedade e melhorar o funcionamento, sem causar ganho de peso signi cativo.
Seus efeitos colaterais mais comuns (em comparação com placebo) foram
náusea e dormir em excesso (Delbello et al., 2017).
A maioria dos médicos evita usar antidepressivos com crianças com
transtorno bipolar, reconhecendo os riscos de mania induzida por
antidepressivo (ver Capítulo 6). Não está claro se o risco é comparável em
crianças e adultos com transtorno bipolar (Bhowmik et al., 2014). De todo
modo, as orientações práticas recomendam que, se seu lho com transtorno
bipolar for tomar um antidepressivo para depressão ou ansiedade, ele deve
tomar também um antipsicótico ou um estabilizador do humor (Schneck et
al., 2017). Essa combinação pode não eliminar o risco de mania, mas irá
reduzi-lo.
No início do tratamento de depressão, o médico de seu lho deve obter
amostras de sangue para determinar se ele tem um nível baixo de hormônio da
tiroide ou se certos níveis metabólicos (por exemplo, per l de lipídios em
jejum) são um argumento contra o uso de ASGs. Níveis baixos de hormônio
da tiroide são correlacionados a depressão em adultos e o lítio pode
comprometer o funcionamento da glândula tiroide.
◼ Cuidados de manutenção
Como explicado anteriormente, as medicações usadas para estabilizar o
episódio agudo podem não ser as mesmas usadas para evitar futuros episódios
de depressão ou mania (tratamento de manutenção). Seu lho pode estar
tomando várias medicações em altas doses durante os 9 a 12 meses necessários
para a recuperação de um episódio maníaco ou misto (Geller et al., 2008;
Miklowitz et al., 2014), mas o médico dele talvez possa simpli car o regime
antes disso. Muitos médicos recomendam que crianças continuem com ASGs
em combinação com estabilizadores do humor pelo tempo su ciente para
certi car-se de que a mania foi controlada, após o que recomendam
interromper o antipsicótico durante os cuidados de manutenção.
Muitas crianças com transtorno bipolar são mantidas com medicações para
TDAH e estabilizadores do humor. O consenso é de que aquelas com
transtorno bipolar e TDAH podem receber sais mistos de anfetamina assim
que estabilizam seu estado de humor. Estimulantes devem ser combinados com
estabilizadores do humor e/ou ASGs em vez de ministrados isoladamente
(Scheffer et al., 2005). As orientações gerais para manter uma criança com um
antidepressivo nos cuidados de manutenção seguem um conjunto similar de
regras.
CONCLUSÕES E DIREÇÕES
Reconhecer que crianças e adolescentes podem se tornar bipolares é um
avanço em nosso campo, e pode facilitar o diagnóstico e tratamento de
transtornos do espectro bipolar agora que os médicos têm acesso a modos mais
sistemáticos de coletar informações diagnósticas e avaliar progressos (por
exemplo, usando entrevistas estruturadas ou avaliações online de estados de
humor). Mas nosso melhor reconhecimento da doença não nos permitiu,
ainda, adequar tratamentos especí cos a crianças e situações familiares
particulares. Embora saibamos que as medicações melhores para mania em
geral diferem das que são melhores para depressão, também sabemos que
combinar medicações, intervenções psicossociais e atuação dos pais (como
buscar soluções junto aos sistemas escolares) são cruciais para crianças com o
transtorno. No futuro, jovens com transtorno bipolar poderão receber
combinações de medicações e tratamentos psicológicos ajustadas na medida a
cada estágio da doença, e também a atributos individuais da criança – idade, se
há ou não histórico familiar de transtorno bipolar, e levando em conta padrões
de comorbidades (Malhi et al., 2017).
Um dos maiores problemas das famílias tem sido a pouca disponibilidade
de tratamentos farmacológicos e psicossociais ministrados por especialistas.
Onde procurar esses tratamentos, ou algo próximo deles pelo menos? A
crescente disponibilidade de cuidados baseados em evidência em vários centros
de saúde mental, e mais os programas online, aos poucos vai mudando o
cenário da saúde mental para melhor. O capítulo “Recursos para pessoas com
transtorno bipolar” a seguir é um bom início para localizar pro ssionais, assim
como recursos online que podem ser úteis a você, seu lho e sua família.
O transtorno bipolar coloca vários desa os que são difíceis de entender,
exceto para aqueles que sofrem dele. Agora que você chegou ao nal deste
livro, espero que tenha se convencido de que as estratégias aqui recomendadas
– informar-se o melhor possível sobre o transtorno, obter tratamento médico
consistente, aproveitar ao máximo a psicoterapia, con ar em seus apoios sociais
e usar as ferramentas de autogestão – podem ajudá-lo a lidar com o transtorno
no dia a dia. Como muito bem expressou um de meus pacientes que tem se
mantido estável há algum tempo: “Aprendi a controlar meu transtorno em vez
de ser controlado por ele”.
RECURSOS PARA PESSOAS
COM TRANSTORNO BIPOLAR
ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
A seguir, listamos organizações abrangentes que oferecem não apenas uma
série de serviços e informações online, mas também, em muitos casos, serviços
comunitários assistenciais e contatos de telefone/e-mail.
SITES
As indicações a seguir são recursos restritos à internet. Eles oferecem uma
variedade de informações e costumam contar com aspectos interativos como
salas de bate-papo e fóruns, mas não têm presença física na comunidade e
tampouco telefone para contato (quando indicado, disponibilizam e-mail).
BIRMAHER, B. New hope for children and teens with bipolar disorder. New
York: ree Rivers Press, 2004.
COHEN, B. M.; LOWE, C. Living with someone who’s living with bipolar
disorder: A practical guide for family, friends, and coworkers. San Francisco:
Jossey-Bass, 2010.
GREENBERGER, D.; PADESKY, C. A. Mind over mood: Change how you feel
by changing the way you think. 2nd ed. New York: Guilford Press, 2015.
MIKLOWITZ, D. J.; GEORGE, E. L. e bipolar teen: What you can do to
help your teen and your family. New York: Guilford Press, 2007.
PHELPS, J. Why am I still depressed?: Recognizing and managing the ups and
downs of bipolar II and soft bipolar disorder. New York: McGraw-Hill, 2006.
SMITH, H. T. Welcome to the jungle: Everything you ever wanted to know about
bipolar disorder but were too freaked out to ask. Newburyport, MA: Conari
Press, 2010.
HAMILTON, S. F. Fast girl: A life spent running from madness. New York: Dey
Street Books, 2016.
PAULEY, J. Skywriting: A life out of the blue. New York: Ballantine Books,
2005.
STEELE, D. His bright light: e story of Nick Traina. Des Plaines, IL: Dell,
2000.
WEILAND, M. F.; WARREN, L. Fall to pieces: A memoir of drugs, rock ‘n’ roll,
and mental illness. New York: William Morrow, 2009.
REFERÊNCIAS
A
Abuso físico, histórico de, 161, 171
Aceitação do tratamento, 257-259, 284. Ver também Medicação, concordância
com
Aceitar o diagnóstico. Ver também Lidar com o diagnóstico; Diagnóstico
determinar a diferença entre personalidade/temperamento e sintomas, 134-
136
histórico familiar e, 167-168
psicoterapia e, 244-246
reação emocional ao diagnóstico, 128-130
rejeição do diagnóstico, tratamento e sintomas, 80-81
visão geral sobre, 125-127, 144-147
vulnerabilidade biológica e, 175
Aceleração na energia, 69. Ver também Energia, níveis de
Ácido valproico. Ver Valproato
Adesão. Ver Medicação, concordância com
Adolescentes. Ver também transtorno bipolar infantil/transtorno do dé cit de
atenção com hiperatividade (TDAH) e, 108-110
automutilação e, 581-582
determinar a diferença entre personalidade/temperamento e sintomas em,
137-138
diagnóstico de transtorno bipolar não especí co e, 92-93
diagnóstico e, 604
medicação e, 604-605, 608-614
tendências suicidas e, 578-579
transtorno bipolar e, 576-578, 594-595
visão geral, 560-561
Agentes ansiolíticos, 27, 62. Ver também Medicação
Agentes de ação dupla (serotonina-norepinefrina), 229
Agitação
depressão e, 21
período pós-parto e, 479-480
tendências suicidas e, 436, 442
Agitação psicomotora, 72
Agressão, 574, 596
Ajustes, 534, 540-545
Ajustes para de ciências, 534-537, 540-545
Ajustes razoáveis, 534, 540-545
Álcool, uso de. Ver também Comportamentos de abuso de substâncias;
Substâncias, uso de
como fator de risco, 292
comportamento sexual e, 367
episódios bipolares e, 179-180
fatores genéticos e, 166-167
gravidez e, 465-466
manter amizades mesmo evitando, 334-335
técnicas de autogestão e, 324-332
tendências suicidas e, 436
transtorno bipolar infantil e , 592-593
transtornos mentais induzidos por substância/medicação e, 121-124
visão geral, 78-82
Alcoólicos Anônimos, 327
Alegria excessiva, 59
Alprazolam, 237
Alucinações, 74-75, 116
Amamentação
medicação e, 476-478
riscos e benefícios da, 467, 474
sono e, 478-479
Ambiente de trabalho
estigma e, 273-275
estratégias de autocuidados para lidar com, 540-552
exemplo de, 46-48
funcionamento comprometido e, 59
lidar com, 46-49
passos preventivos em relação a, 364
programar atividades prazerosas e, 411
psicoterapia e, 246
transtorno bipolar infantil e, 571, 599-601
visão geral, 495-496, 526-541, 551-552
Ambiente escolar. Ver também Desempenho escolar
distinguir transtorno bipolar de TDAH e, 110
programar atividades prazerosas e, 411
psicoterapia e, 246
transtorno bipolar infantil e, 559-560, 598-601
Ambiente familiar. Ver também Histórico familiar; Membros da família
como fator de proteção, 292
exemplo de, 46, 50
funcionamento comprometido e, 59
lidar no, 46-50
melhorar os relacionamentos familiares, 501-526
não concordância e, 277-278
problemas encontrados após um episódio, 497-500
psicoterapia e, 246
tensão na família, 292
transtorno bipolar infantil e, 596, 602-605, 606-607
visão geral, 495-496, 551-552
Amigos. Ver também Círculo íntimo de apoio social; Relacionamentos; Apoio
dos outros
comportamento sexual e, 365-367
con itos com, 189-192
envolver seu médico e , 371-373
envolvimento em planos de prevenção de recaídas, 345-350
lidar com o diagnóstico e, 130
manter amigos enquanto se evita álcool ou drogas, 335, 337
oscilações de humor e sintomas nos outros e, 135-136
perceber o transtorno bipolar em, 135
perspectivas relacionadas a episódios de humor, 62, 70-71, 81-82
tendências suicidas e, 75-77, 435-437, 443-448
Amitriptilina, 491
Ansiedade. Ver também Transtornos de ansiedade
continuum do transtorno bipolar e, 19
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461-462
diagnóstico e, 87
identi cação de sintomas prodrômicos e, 353
mapear humores e, 303-304
medicação e, 237-238
psicoterapia e, 244
restabelecer a intimidade e, 525
tendências suicidas e, 436, 442
transtorno bipolar infantil e, 32, 571-572, 574
Anticoncepcionais orais, 482
Anticonvulsivantes. Ver também Estabilizadores do humor; medicações
individuais
antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e, 223-224
escolha de anticoncepcionais e, 482
gravidez e, 470, 472
período pós-parto e, 475-476
Antidepressivos. Ver também Medicação; medicações individuais
comparados com estabilizadores do humor, 201-203
curso do transtorno bipolar em mulheres, 460
enxaquecas e, 490
gravidez e, 472
junto com outras medicações, 228
período pós-parto e, 479-480
suplementos de tiroide junto com, 234
tendências suicidas e, 441-442
transtorno bipolar infantil e, 559, 560, 611
transtorno bipolar resistente a tratamento e, 233
transtornos de ansiedade e, 119-120
transtornos mentais induzidos por substância/medicação e, 121-122
uso de substâncias e, 329
visão geral, 26, 27, 61, 228-233
Antipsicóticos. Ver também Antipsicóticos de segunda geração (ASGs);
medicações individuais
gravidez e, 468
período pós-parto e, 478
visão geral, 223
Antipsicóticos atípicos. Ver Antipsicóticos de segunda geração (ASGs)
Antipsicóticos de segunda geração (ASGs). Ver também Medicação; medicações
individuais
antidepressivos e, 230-231
ciclo menstrual e, 483
curso do transtorno bipolar em mulheres, 460
efeitos colaterais e, 269
esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo e, 116
gravidez e, 465, 467, 472
hipomania e mania e, 212
lítio e, 204, 214
perturbações do sono e, 322
peso e, 485
prevenção de episódio maníaco e, 375
tendências suicidas e, 441
transtorno bipolar infantil e, 559-560, 610, 614-615
transtorno bipolar resistente a tratamento e, 233
visão geral, 27, 62, 228-233
Apoio dos outros. Ver também Círculo íntimo de apoio social;
Relacionamentos
como fator de proteção, 292
prevenção de recaídas e, 343-350
visão geral, 333-337
Apoio social. Ver Círculo íntimo de apoio social; Apoio dos outros
Aptidões de comunicação
ambientes de trabalho e, 547
escuta ativa, 509-511
localização de falhas, 520-525
pedidos positivos para mudar, 511-514
solução de problemas e, 514-525
visão geral, 508-525
Aptidões para procurar emprego, 548
Aripiprazol
mudanças no peso e, 485
transtorno bipolar infantil e, 610
visão geral, 223, 226, 227
Armoda nil, 238
Asenapina, 223, 228, 610
ASGs. Ver Antipsicóticos de segunda geração (ASGs)
Aspectos mistos, 86. Ver também Episódios mistos
Assumir riscos, 363-364, 435-436, 596
Atenção funcional
identi cação de sintomas prodrômicos e, 353
mudanças na, 59, 75
transtorno bipolar infantil e, 582-584
Atenção plena [mindfulness]
depressão e, 393, 408-410
estratégia de ativação comportamental e, 406
gravidez e, 467, 481
perturbações do sono e, 323
tendências suicidas e, 442, 451-453
transtorno de personalidade borderline e, 113
visão geral, 28
Atividades sociais, 416. Ver também Atividades prazerosas
Autoavaliação. Ver também Avaliação
depressão e, 393-399
diagnóstico e, 96-98
fatores genéticos e, 164-174, 167f
Autocon ança, 69
Autocuidados para pais, 572-573
Autoculpa, 43
Autodeclarações, 418-431
Automedicação, 327-331, 593-594. Ver também Uso de substâncias
Automutilação, 438-439, 574, 581-582
Autorrevelação em relação à doença, 532-541
Atividades prazerosas
estratégia de ativação comportamental e, 406
lista de, 407-409
programação de, 411-420
Atitude de superproteção dos membros da família, 499-500, 518-520
Atribuição causal, 498
Ausência de sintomas de humor, 353
Automutilação não suicida (AMNS), 438, 574, 581-582
Auxílio-doença, 550-551
Avaliação. Ver também Diagnóstico
autoavaliação e, 96-98
transtorno bipolar infantil e, 31-32, 556, 583-589
entrevista de diagnóstico e, 101-103
B
Bem-Estar, manutenção. Ver Técnicas de autogestão
Benefícios por de ciência da Previdência Social, 550-551
Benzodiazepínicos, 237-238, 442
Bloqueadores dos canais de cálcio, 221
Breve lista de sintomas depressivos: autorrelatório, 395-398
Bupropiona, 229, 230
C
Canais de cálcio (CACNA1C), 162
Carbamazepina
antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e, 224
escolha de anticoncepcionais e, 482
gravidez e, 469
período pós-parto e, 478
visão geral, 219-220, 222
Cariprazina, 223, 227
Cascata de sinalização da proteína quinase C, 176
Cascatas de sinalização intracelular, 176
Causas do transtorno bipolar. Ver também Vulnerabilidade biológica;
Estressores ambientais; Fatores genéticos; Estresse
educando membros da família quanto a, 503-505
modelo de vulnerabilidade ao estresse e, 154-157, 157f
visão geral, 151-154, 192-193
Cetamina, 28, 235-236. Ver também Medicação
Ciclagem ultradiana, 576
Ciclagem ultrarrápida, 576
Ciclo menstrual
curso do transtorno bipolar em mulheres, 460
mapear humores e, 308
visão geral, 482-483
Circuitos neurais, 175-177
Círculo íntimo de apoio social. Ver também Membros da família; Amigos;
Apoio dos outros
envolver seu médico e, 372-373
formas do, 336
tendências suicidas e, 436-437, 444-448
visão geral, 335
Citalopram, 229
Clonazepam, 237, 321, 375
Clorpromazina, 223
Clozapina, 223
Coaching de emprego, 548, 550
Cognições, 19, 418-431. Ver também Pensamento
Combinação de olanzapina- uoxetina, 610
Comorbidades
ansiedade, 88
diagnóstico e, 104-124
medicação e, 237-238
psicoterapia e, 246
transtorno bipolar infantil e, 568, 590-596
uso de substâncias e, 327
visão geral, 82, 106-108
Comportamento. Ver também Comportamento imprudente; Comportamento
sexual
depressão e, 393
identi cação de sintomas prodrômicos e, 354
visão geral, 62-64, 156
Comportamento ativado, 70-71. Ver também Episódios maníacos
Comportamentos autodestrutivos, 78-80
Comportamentos de abuso de substâncias, 78-80, 593-594. Ver também
Álcool, uso de; Drogas, uso de; Substâncias, uso de
Comportamento imprudente, 59. Ver também Comportamento; Compor‐
tamento sexual
Comportamento sexual. Ver também Comportamento
gravidez e, 464, 468-470
passos preventivos em relação a, 364-367
problemas encontrados após um episódio, 500-501
restabelecer intimidade e, 525-526
transtorno bipolar infantil e, 595
Concordância. Ver Concordância com a medicação
Concordância com a medicação, 259-260, 280-283, 284. Ver também Aceitar
o tratamento; Medicação; Não concordância
Condições limítrofes, 82
Conectividade neural (TENM4), 162
Con itos com os outros
aptidões de comunicação e, 508-525
como fator de risco, 292
folgas e, 521
psicoterapia e, 246
solução de problemas e, 514-525
transtorno bipolar infantil e, 596
visão geral, 189-193
Con itos interpessoais. Ver Con itos com os outros
Consciência, 24
Consciência social, 19
Consequências de um episódio, 41-43
Consistência, 531
Contar às pessoas a respeito da doença, 532-541
Contexto dos sintomas. Ver também Sintomas
identi cação de sintomas prodrômicos e, 354-355
identi cando sinais de alerta de mania e, 358
transtorno bipolar infantil e, 596
Contracepção, 482
Contrato, escrito
evitar um episódio maníaco e, 369-370, 379-387
formas de, 380-382
visão geral, 344, 345
Controle, falta de, 273-274
Controle de natalidade, 482
Cortar-se (comportamento). Ver Automutilação
Course and Outcome of Bipolar Youth (COBY), estudo, 600
Crenças
reestruturação cognitiva, 418-431
uso de substâncias e, 328-331
Crenças arraigadas, 418-431
Criatividade
aceitação do diagnóstico e, 145
ambientes de trabalho e, 528
fatores genéticos e, 164
lítio e, 211
não concordância e, 267-268
Críticas, 508-525
Cuidados de emergência, 368-379, 440-443
Cuidados de saúde, 99-100
Culpa, 59, 76, 392, 510-511
D
Declarações re exivas, 510-511
Delírios, 74-75, 116. Ver também Delírios de grandeza
Delírios de grandeza, 74-75. Ver também Delírios
Depressão. Ver também Episódios de transtorno do humor
ambientes de trabalho e, 530, 537
antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e, 223-225
apoios sociais e, 333-335
baixas depressivas, 38
cetamina e, 235-236
classi cação de humores e, 300-302
como preditor de funcionamento, 25
continuum do transtorno bipolar e, 19-20
curso do transtorno bipolar em mulheres e, 460, 461
desaceleração e, 70
diagnóstico e, 55-57
distinguir transtorno bipolar de transtorno de personalidade borderline e,
112
educando membros da família quanto a, 501-508
enfoques diferentes da, 61-81
espiral do humor e, 401-405
esquizofrenia e, 115-118
estatísticas sobre, 61
estratégia de ativação comportamental e, 406-418
experiências de, 64, 65
fatores genéticos e, 166
grandiosidade e, 69
gravidez e, 470-472
identi cação da, 394-398
identi cação de sintomas prodrômicos e, 353, 356
lidar com, 393
manifestações da, 399-401
mapear o humor e, 300-304
período pós-parto e, 475-476, 479
perturbações do sono e, 77
reestruturação cognitiva, 418-431
relacionamento familiar e, 497-526
tendências suicidas e, 437
transtorno bipolar infantil e, 554, 557, 559, 571-573, 577-581, 393, 400-
401
transtorno ciclotímico e, 113-115
transtorno depressivo maior recorrente e, 190
transtornos da tiroide e, 489
uso de substâncias e, 327-331
visão geral, 60, 61, 389-393
Depression and Bipolar Support Alliance (DBSA), 30
Depressão pós-parto, 475-476
Depressão unipolar, 28
imprevisibilidade, 531
Desatenção, 353
Desenvolvimento de emprego, 547-548
Desenvolvimento fetal, 469-473. Ver também Gravidez
Designação de episódios, 86
Desempenho escolar, 567-568, 571, 582-584, 598-601. Ver também Função
cognitiva; ambiente escolar
Desequilíbrio químico, 153-154, 174-180. Ver também Vulnerabilidade
biológica
Desregulação imune, 177-179
Desvenlafaxina, 229
Diagnóstico. Ver também Aceitação do diagnóstico; Lidar com o diagnóstico
ausência de um teste de nitivo para bipolaridade, 178
autoavaliação e, 96-98
como membros da família experimentam o, 497-501
confusão a respeito do, 135-136
continuum do transtorno bipolar e, 20
critérios de, 83-93
utuações de humor e sintomas nos outros e, 135-136
histórico familiar e, 157-158, 169
oscilações de humor e, 64-67
passos em direção ao, 98, 99-104
perguntas que os médicos fazem e, 68
precisão do, 104-124
problema de personalidade versus transtorno, 133-141
progressão dos episódios bipolares e, 93-96, 94f
reações ao, 131
rejeição do, 80-81, 130-134
relacionamento familiar e, 501-526
repercussão emocional do, 128-129
revelação no ambiente de trabalho, 531-541
transtorno bipolar infantil e, 32, 556-558, 567-570, 583-589, 589-596,
604
uso de substâncias e, 80
visão geral, 32, 51, 55-58, 82, 83-85, 123-124, 125-126
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders [Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais] (DSM-5)
continuum do transtorno bipolar e, 20-21
diagnóstico e, 84-86, 105
níveis de atividade e, 67
transtornos comórbidos e, 106
transtornos mentais induzidos por substância/medicação e, 121-122
Diagnóstico duplo, 327. Ver também Comorbidades; Diagnóstico
Diagnóstico incorreto, 104-124. Ver também Diagnóstico
Diazepam, 237
Dieta, saudável/balanceada, 22
Di culdades de concentração, 59, 61, 75, 571, 601
Direção imprudente, 363-364, 436
Discinesia tardia, 223
Discriminação, 533-536
Discussões. Ver Con itos com os outros
Dispersividade, 59
Divalproato de sódio. Ver Valproato
Doença. Ver Saúde física
Doenças médicas. Ver Saúde física
Dopamina, sistema
episódios bipolares e, 180-181
medicação e, 238
vulnerabilidade biológica e, 175
Dor, condições que envolvem, 461
Drogas, uso de. Ver também Comportamentos de abuso de substâncias; Uso de
substâncias
como fator de risco, 292
comportamento sexual e, 367
fatores genéticos e, 166
gravidez e, 466
manter amizades apesar de evitar, 335, 337
técnicas de autogestão e, 324-332
tendências suicidas e, 436
transtorno bipolar infantil e, 593
transtornos mentais induzidos por substância/medicação e, 121-124
visão geral, 78-81
Duloxetina, 229
E
Educação da família e treinamento em aptidões de comunicação, 570-571
Educar os outros, 49, 501-509
Efeitos colaterais das medicações. Ver também Medicação
antidepressivos e, 231
antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e, 223-227
antipsicóticos e, 223
carbamazepina e oxcarbazepina e, 219-220, 222
cetamina e, 235-236
curso do transtorno bipolar em mulheres, 460
gravidez e, 469
lamotrigina e, 218, 222
lítio e, 208-212, 214, 222
não concordância e, 269-272
perturbações do sono e, 321
peso e, 488
transtorno bipolar infantil e, 559-560
tratamento de depressão e, 389-390
valproato e, 216-218, 222
visão geral, 195
Efeitos colaterais do tratamento. Ver também Tratamento
eletroconvulsoterapia (ECT), 240, 241
estimulação cerebral profunda, 242
Eletroconvulsoterapia (ECT)
gravidez e, 466
tendências suicidas e, 436
visão geral, 239-241
Emoção Expressa (EE), 191
Encaminhamento para diagnóstico, 99-100
Energia, níveis de, 59, 67-69, 354, 404
Entrevista para diagnóstico, 101-104, 585-586. Ver também Avaliação
Enxaqueca, 490-491
Episódios bipolares. Ver também Depressão; Sintomas hipomaníacos; Episódios
maníacos; Oscilações de humor
estresse e, 179-193
progressão dos, 94-96, 94f
visão geral, 59
vulnerabilidade biológica e, 179-180
Episódios de transtorno do humor. Ver também Depressão; Episódios maníacos
consequências dos, 41-43
controle de, 38
enxaquecas e, 490-491
Episódios maníacos. Ver também Mania; Episódios de transtorno do humor
antidepressivos e, 229, 232
ambientes de trabalho e, 530, 537, 544-545
apoio dos outros e, 345-350
como os outros experimentam, 71-73
controle de, 40
curso do transtorno bipolar em mulheres, 460
educando membros da família quanto a, 501-509
estatísticas sobre, 61
experiências de, 64-67
gravidez e, 471-472
mudanças no pensamento e na percepção e, 73
não concordância e, 262
período pós-parto e, 479
perturbações do sono e, 77
prevenção de, 350-387
relacionamento familiar e, 497-526
transtorno bipolar infantil e, 32, 555, 558
transtornos mentais induzidos por substância/medicação e, 121-123
visão geral, 59-60, 339-343
Episódios mistos
curso do transtorno bipolar em mulheres, 460
estatísticas sobre, 60
manifestações de, 399-401
período pós-parto e, 480
tendências suicidas e, 438
transtorno bipolar infantil e, 569
visão geral, 60
Equilíbrio na vida, 22, 545-546
Escitalopram, 229
Escuta ativa, 509-511, 518-520. Ver também Aptidões de comunicação
Espessura cortical (NCAN), 162
Esquecer de tomar medicações, 278-280. Ver também Concordância com a
medicação; Não concordância
Esquizofrenia, 19, 115-118
Estabilizadores do humor. Ver também Lítio; Medicação; medicações individuais
antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e, 224-227
cetamina e, 235-236
criatividade e, 267
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461
efeitos colaterais e, 269
esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo e, 116
gravidez e, 465, 470, 472
período pós-parto e, 479
peso e, 488
prevenção de episódio maníaco e, 373-379
tendências suicidas e, 442, 454
tipos de, 204-222
transtorno bipolar infantil e, 560, 575, 614-615
transtorno bipolar resistente a tratamento e, 233-234
transtorno ciclotímico e, 115
visão geral, 26, 27, 61, 202-204, 221
Estados de ciclagem rápida
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461
diagnóstico e, 93
distinguir o transtorno bipolar do transtorno de personalidade borderline e,
112
estatísticas sobre, 61
hipotiroidismo e, 489
medicação e, 234
prevenção de episódio maníaco e, 374
transtorno bipolar infantil e, 569
transtornos mentais induzidos por substância/medicação e, 121-123
tratamento de depressão e, 389-390
Estados de humor eutímicos, 61
Estados de humor “montanha-russa”, 62-67. Ver também Oscilações de humor
Estados de humor normais. Ver Estados de humor eutímicos
Estatuto da Pessoa com De ciência (Lei n.º 13.146/2015), 534
Constituição Federal, 534
Lei brasileira, 536
Estigma
ambientes de trabalho e, 528, 537
auxílio-doença e, 550
precisão do diagnóstico e, 127
psicoterapia e, 246
visão geral, 135-136
Estimulantes, 559, 612, 615. Ver também Medicação
Estimulação cerebral profunda, 242
Estimulação do nervo vago, 242
Estimulação magnética transcraniana, 241
estimulação do nervo vago, 242
Estimulação magnética transcraniana, 28, 241-243, 467
Estresse
ambientes de trabalho e, 544-545
ciclo menstrual e, 482
con itos com os outros e, 189-193
episódios bipolares e, 179-193
gravidez e, 481
mapear o humor e, 305-307
modelo de vulnerabilidade ao estresse, 154-157, 157f
perturbações do sono e, 322
tendências suicidas e, 436, 441-443, 455
visão geral, 152-154
vulnerabilidade biológica e, 175
Estressores sociais, 305-307. Ver também Estresse
Estudos de gêmeos, 159-160. Ver também Fatores genéticos
Estudos farmacogênicos, 27
Estratégia de ativação comportamental
depressão e, 393, 403-418
e cácia da, 417-418
transtorno bipolar infantil e, 569-572
Estratégias cognitivas, 113, 406
Estratégias de distração, 394, 442, 447
Estratégias focadas nas emoções, 394
Estratégias para lidar, 46-49, 393, 394. Ver também Lidar com o diagnóstico
Estratégias para lidar com o cognitivo, 394
Estressores ambientais. Ver também Estresse
episódios bipolares e, 180
psicoterapia e, 246
visão geral, 155
vulnerabilidade genética e, 155-157, 168, 171
Estudo Holandês sobre Filhos Bipolares, 571
Eventos celulares, 155
Eventos da vida. Ver também Estresse
ações preventivas em relação a, 264
como fator de risco, 292
eventos estressantes, 183-185
mapear o humor e, 305-307
menopausa e, 491
tendências suicidas e, 436, 441-443, 454
visão geral, 181-183
Evitar, 144
Exercício de prevenção de recaídas. Ver também Prevenção
envolver seu médico, 368-379
identi cando sinais de alerta de mania, 351-358
montando um contrato de prevenção da mania, 379-387
passos preventivos, 359-367
visão geral, 343-345, 386-387
Expansividade, 59
Experiências psicóticas, 105, 223. Ver também Delírios; Delírios de grandeza;
Alucinações
Explosões temperamentais, 21, 569. Ver também Transtorno disruptivo da
desregulação do humor (TDDH)
Expressões embotadas, 72, 116
F
Farmacoterapia. Ver Medicação
Fase aguda da doença, 94, 497-501
Fase ativa da doença, 94
Fase de recuperação, 22-23, 94, 257-259
Fase prodrômica, 94, 351-353
Fase residual, 94
Fator neurotró co derivado do cérebro (BDNF)
cetamina e, 235
lítio e, 208
visão geral, 162
Fatores de proteção, 291-293
Fatores de risco
gravidez e, 466
tendências suicidas e, 436-437
transtorno bipolar infantil e, 554
uso de substâncias e, 326-327
visão geral, 290-292
Fatores nanceiros. Ver também Gestão do dinheiro
auxílio-doença e, 550-551
encaminhamento para diagnóstico e, 99-100
passos preventivos relacionados a, 359-363
Fatores genéticos. Ver também Histórico familiar
exame da própria família, 164-174, 167f
fatores ambientais e, 156, 168, 171
implicações práticas dos, 168-172
lítio e, 208
papel dos, 157-164, 159f
sistemas de classi cação e, 19-20
transtorno bipolar infantil e, 554, 587
visão geral, 27-28, 153, 154-157
vulnerabilidade biológica e, 175
Fatores moleculares, 155, 161-163
Fatores neurológicos
estresse e, 183-184
transtorno bipolar infantil e, 582
visão geral, 152-156, 174-180
Férias de medicação, 262. Ver também Não concordância
Ferramentas para “melhorar o momento”, 451-452
Flufenazina, 223
Fluoxetina, 229, 610
Fluvoxamina, 229, 480
Folgas, 521. Ver também Aptidões de comunicação
Fraqueza pessoal, 273-274
Frustração, 498
Fuga, 434-435
Funcionamento, 19, 596-603. Ver também Funcionamento comprometido
Funcionamento cerebral
estresse e, 183
transtorno bipolar infantil e, 582
visão geral, 152-156, 174-180
Funcionamento cognitivo
como preditor de funcionamento, 25
distinguir transtorno bipolar de TDAH e, 108
lítio e, 211-212
medicação e, 238
reconhecimento do, 25-26
sistemas de classi cação e, 19
transtorno bipolar infantil e, 556, 582-584
Funcionamento comprometido. Ver também Funcionamento
distinguir transtorno bipolar de TDAH e, 108-111
transtorno bipolar infantil e, 596-603
visão geral, 60
Funcionamento interpessoal, 311, 313
Funcionamento social, 59
G
Gabapentina, 221
Gatilhos, observar e monitorar, 292, 294-295. Ver também Tabelas do humor
Gene SLC6A4, 162
Gênero. Ver também Mulheres com transtorno bipolar
tendências suicidas e, 436
transtorno bipolar infantil e, 578
Genes clock, 162
Gestão de cuidados, 99-100
Gestão do dinheiro, 360-363. Ver também Fatores nanceiros
Grandiosidade, 59, 69-70
Grau de recuperação, 22
Gravidez
aulas de atenção plena durante a, 481
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461
interromper medicações durante a, 477
visão geral, 463-474
Grupos de apoio, 253-255, 573. Ver também Psicoterapia
Grupos de apoio à família, 255. Ver também Psicoterapia
Grupos de apoio mútuo, 253-255. Ver também Psicoterapia
H
Haloperidol, 223
Herdabilidade, 159-161, 164. Ver também Fatores genéticos
Hesitação, 571
HIPAA, 100
Hiperatividade, 108
Hipertimia, 138
Hipertiroidismo, 490
Hipervigilância, 572
Hipótese da estabilidade do ritmo social, 186-189
Hipotiroidismo, 234, 489
Histórico de abuso emocional, 161
Histórico de abuso sexual, 161, 171, 366
Histórico familiar. Ver também Ambiente familiar; Fatores genéticos
ausência de, 170-172
exame da própria família, 164-174, 167f
manifestação precoce da bipolaridade e, 31-32
possibilidades de transmissão do transtorno, 172-174
prevenção e, 173
transtorno bipolar infantil e, 616
tratamento e, 174
visão geral, 158-159, 159f
Hospitalização. Ver Tratamento de internados
Hostilidade, 596
Humor eufórico, 59, 65-66
Humor exaltado
identi cação de sintomas prodrômicos e, 352, 354-355
transtorno bipolar infantil e, 571, 596
visão geral, 59
Humor irritável
identi cação de sintomas prodrômicos e, 354
mapear humores e, 304-305
transtorno bipolar infantil e, 569, 574-577, 596
visão geral, 59, 61
Humores. Ver também Tabelas de humores; Oscilações de humor
descrição dos humores, 300-302
identi cação de sintomas prodrômicos e, 354-355, 404-405
menopausa e, 491-493
Métrica do Ritmo Social (MRS), 311-314
observar e monitorar, 292, 300-304
transtorno bipolar infantil e, 569-573, 576, 596
uso de substâncias e, 329
visão geral, 61-63
I
Imagem corporal, problemas com, 462
Imprudência ao dirigir, 363-364, 436
Impulsividade
tendências suicidas e, 436
transtorno do dé cit de atenção com hiperatividade (TDAH) e, 108
visão geral, 60-61, 78-81
Inconsistência com medicação. Ver Concordância com medicação
Individualidade, 17-18, 21-23
Inibidor da monoamina oxidase (MAOI), 232. Ver também Antidepressivos
Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Ver também
Antidepressivos; Medicação
gravidez e, 472
período pós-parto e, 479
visão geral, 27, 231-232
Inquietação, 436
Insônia, 78, 571. Ver também Sono
Instabilidade, 531, 596
Interesse, perda de, 59
Interromper medicações. Ver Concordância com medicação; Não concordância
Interrupções na medicação. Ver Concordância com a medicação; Não
concordância
Intervenções comportamentais, 322, 570. Ver também Estratégia de ativação
comportamental
Intervenções educacionais, 343, 501-508
Intimidade, 500-501, 525-526
Inventário Geral de Comportamentos (P-IGC-10M), 562-567
formas da, 563-566
transtorno bipolar infantil e, 562, 567
Isolamento, 406, 436
K
“Kit esperança”, 451-453
L
Labilidade dos humores, 352
Lamotrigina
escolha de anticoncepcionais e, 482
gravidez e, 470
período pós-parto e, 478
peso e, 488
visão geral, 27, 218-220, 222
Levotiroxina, 234, 490
LGPD, 532
Lidar com o diagnóstico. Ver também Aceitar o diagnóstico; Estratégias para
lidar; Diagnóstico
determinar a diferença entre personalidade/temperamento e sintomas, 135-
136
utuações de humor e sintomas nos outros e, 135-136
histórico familiar e, 168-170
psicoterapia e, 246
reação emocional ao diagnóstico, 128-129
rejeição do diagnóstico, tratamento e sintomas, 82-83, 130-134
superidenti cação como forma de lidar, 142-144
visão geral, 125-128, 145-147
Liotironina, 234
Lítio. Ver também Medicação; Estabilizadores do humor
antipsicóticos de segunda geração (SGAs) e, 223-224, 226
ciclo menstrual e, 483
comparado ao valproato, 215
criatividade e, 268
descoberta do, 205-206
dosagem de, 206, 214
efeitos colaterais e, 208-212, 269
enxaquecas e, 490-491
exames de sangue para toxicidade e, 212-214
gravidez e, 466-468, 469, 476-478
como funciona o, 207-208
não concordância e, 262
período pós-parto e, 476-478
peso e, 488
prevenção de episódio maníaco e, 373-374
reação ao, 208, 209
tendências suicidas e, 442
transtorno bipolar infantil e, 610, 612
transtornos da tiroide e, 234, 489
visão geral, 27, 28, 204-214, 222
vulnerabilidade biológica e, 177
Livros, 624-627
Loquacidade, 59
Lorazepam, 237, 375
Lurasidona, 223, 227, 228, 611
M
Mania. Ver também Episódios maníacos
antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e, 223-224
classi cação de humores e, 300-302
diagnóstico e, 55-57
diferentes pontos de vista sobre, 62-81
gravidez e, 468-470
identi car sinais de alerta de, 351-359
mapear o humor e, 300-304
medicação e, 212
não concordância e, 265-266
ter saudades, 265-266
transtorno bipolar infantil e, 571
transtorno do dé cit de atenção com hiperatividade (TDAH) e, 108
uso de substâncias e, 328-331
Manifestação da depressão de tipo recorrente clássico, 399
Manifestação de dupla depressão, 400
Manifestação precoce do transtorno bipolar, 31-33, 571-573. Ver também
Transtorno bipolar infantil
Manutenção, 204, 612. Ver também Técnicas de autogestão
aceitação e, 147, 257-259
amamentação e, 476-478
benefícios da, 197-198
ciclo menstrual e, 483
combinar mais de uma, 203, 225, 228
como fator de proteção, 292
compreensão, 43-44
comunicação com os médicos em relação a, 43
continuum de transtorno bipolar e, 19-21
curso do transtorno bipolar em mulheres, 460, 461
depressão e, 389-390
desregulação imune e, 177
diagnóstico e, 84, 90-92
distinguir transtorno bipolar de TDAH e, 108
dosagem, 613
educando membros da família quanto a, 506
e cácia da, 275
escolha de anticoncepcionais e, 482
esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo e, 117
estabilizadores do humor, 202-222
evitar um episódio maníaco e, 371-372
extensão de tempo em você pode esperar tomar, 201-202
fatores genéticos e, 171-172
funcionamento cognitivo e, 25-27
gravidez e, 464-466, 466-468, 470-473
Medicação. Ver também Antidepressivos; Antipsicóticos atípicos;
Estabilizadores do humor; Não concordância; Antipsicóticos de segunda
geração (ASGs); Efeitos colaterais das medicações; Tratamento; medicações
individuais
para condições comórbidas, 237-238
período pós-parto e, 476-478
perturbações do sono e, 322
peso e, 488
pesquisa relacionada a, 196-197
prós e contras da, 280-283
psicoterapia e, 245, 246, 250
razões alegadas para parar com, 263-273
rejeição do diagnóstico, tratamento e sintomas, 127
tendências suicidas e, 441, 454
transtorno bipolar infantil e, 32, 559, 576, 583, 593, 601, 604-605, 608-
614
transtorno bipolar resistente a tratamento e, 233-237
transtorno ciclotímico e, 115
transtorno de personalidade borderline e, 112-113
transtornos de ansiedade e, 120
transtornos mentais induzidos por substância/medicação e, 121-124
tratamento agudo versus preventivo e, 199-200
visão geral, 27-30, 38, 52, 61-62, 195-196, 202, 255-256
vulnerabilidade biológica e, 174-177
Medicações adjuvantes, 272-273. Ver também Medicação
Médicos. Ver também Pro ssionais de saúde mental
comunicação com, 44
desconforto com, 371-372
diagnóstico e, 96, 99-104
efeitos colaterais e, 269-273
gravidez e, 468
mapeamento do humor e, 308
perguntas feitas pelos, 68
pontos de vista em relação a episódios de humor, 63
precisão do diagnóstico e, 104-106
prevenção de episódio maníaco e, 368-379
rejeição do diagnóstico, tratamento e sintomas, 82
tendências suicidas e, 76-77, 440-444
Medo, 572
Membros da família. Ver também Círculo íntimo de apoio social; Ambiente
familiar; Apoio dos outros
aptidões de comunicação e, 508-525
con itos com, 189-193
educação sobre o transtorno bipolar, 501-508
envolver seu médico e, 372-373
envolvimento em planos de prevenção de recaídas, 345-350
utuações de humor e sintomas nos outros e, 135-136
lidar com o diagnóstico e, 82, 130
observando transtorno bipolar em, 135-136
perturbações do sono e, 77-78
pontos de vista relativos a episódios de humor, 62, 71-73, 81-82
reações emocionais negativas de, 497-499
tendências suicidas e, 76-77, 436-437, 444-449
uso de substâncias e, 80
visão geral, 495
Menopausa, 491-493
Metformina, 488
Métrica do Ritmo Social (MRS). Ver também Rotinas
exemplo de, 313-316
formulários para, 312
resistência a, 319-321
visão geral, 310-316
Mirtazapina, 229
Moda nil, 238
Modelos dimensionais, 19-20
Monitorar em excesso, 518-520
Monitoramento de humores e gatilhos, 292. Ver também Tabelas de humores
Monoamina oxidase A (MAOA), 162
Mudanças na memória
eletroconvulsoterapia (ECT) e, 241
não concordância e, 278-280
transtorno bipolar infantil e, 582-584
visão geral, 73-76
Mudanças no apetite, 59
Mulheres com transtorno bipolar
ciclo menstrual, 308, 461, 482-484
condições físicas relacionadas a, 485-491
curso do transtorno bipolar em mulheres, 460-461
enxaquecas e, 490-491
escolha de anticoncepcionais e, 482
gravidez, 461-474
menopausa, 491-493
período pós-parto, 474-481
visão geral, 459-461, 492-494
N
Não adesão. Ver Não concordância
Não concordância. Ver também Medicação; Concordância com a medicação
como fator de risco, 292
consequências da, 260-262
gravidez e, 476-477
razões para, 263-272
resumo dos prós e contras da medicação e, 280-283
visão geral, 259, 284
Narcolepsia, 238
Narcóticos Anônimos, 327
National Comorbidity Survey Replication, 107
Neuroestimulantes, 238. Ver também Medicação
Neuroimagem, estudos, 25, 582
Nimodipina, 221
Níveis de atividade, 59, 67-68, 354, 404-405
NMDA (N-metil-d-aspartato) receptor de glutamato, 162
Noção de si mesmo, perda da, 346
Norepinefrina, níveis de, 175
Novos antidepressivos, 229
O
Obesidade, 487-488
Observar humores e gatilhos, 292. Ver também Tabelas do humor
Olanzapina
período pós-parto e, 478
peso e, 488
transtorno bipolar infantil e, 610
visão geral, 223-227
Óleo de peixe (ácidos graxos ômega 3), 28-29, 237
Ômega 3, ácidos graxos (óleo de peixe)
gravidez e, 466
transtorno bipolar infantil e, 613
visão geral, 28-29, 236-237
Organizações internacionais, 619-622
Oscilações de humor. Ver também Depressão; Sintomas hipomaníacos; Mania;
Humores; Sintomas
confusão relacionada a sintomas e diagnóstico e, 134-136
determinar a diferença entre personalidade/temperamento e sintomas, 134-
142
diagnóstico e, 65-67
fatores genéticos e, 161
menopausa e, 491-493
não concordância e, 261-262
transtorno bipolar infantil e, 562
tratamento da depressão e, 389-390
visão geral, 56-61, 64-67
Otimismo, 361
Oxcarbazepina, 219-220, 482
P
Pai ou mãe “helicóptero”, 556. Ver também Parentalidade
Paliperidona, 223, 227
Parentalidade, 47, 50, 556, 572-573. Ver também Ambiente familiar
Paroxetina, 229, 480
Pedidos positivos, 511-514. Ver também Aptidões de comunicação
Pensamento. Ver também Cognições; Pensamento negativo na depressão
bipolar, 429
depressão e, 393
identi cação de sintomas prodrômicos e, 354-355, 404-405
reestruturação cognitiva, 418-431
visão geral, 58-63, 73-76
Pensamento hiperpositivo, 360-361
Pensamento negativo
depressão e, 401-402
desa ar, 424-427
gravidez e, 481
identi car, 420-424
na depressão bipolar, 429
reestruturação cognitiva, 418-431
Pensamentos acelerados, 58-63, 73-76
Pensamentos negativos automáticos
depressão e, 401-402
desa o a, 424-427
reestruturação cognitiva, 418-431
gravidez e, 481
identi cação de, 420-424
na depressão bipolar, 429
Pensamentos quentes. Ver também Cognições
desa ar, 424-428
identi car, 420-424
na depressão bipolar, 428-430
visão geral, 419-420
Percepção, mudanças na, 59, 73-76, 355, 404
Perda de interesse, 59. Ver também Depressão
Perimenopausa, 493
Período pós-parto, 461, 474-481
Personalidade, traços de
depressão e, 392-393
distinguir dos sintomas de transtorno bipolar, 126-127, 136-141
mudanças como resultado do transtorno bipolar, 141-142
Perturbações metabólicas
antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e, 223, 224
mulheres com transtorno bipolar e, 487-489
transtorno bipolar infantil e, 559-560
Peso, mudanças
ciclo menstrual e, 482-483
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461
efeitos colaterais da medicação e, 321
mapear humores e, 308
mulheres com transtorno bipolar e, 487-489
síndrome do ovário policístico (SOP) e, 485-486
síndrome metabólica e, 487-489
transtorno bipolar infantil e, 559-560
visão geral, 59
Plano de prevenção ao suicídio. Ver também Tendências suicidas
círculo íntimo de apoio social e, 446
formulários para, 455-457
visão geral, 454-455
Plano de saúde, 99-100, 532
Plano escrito
formulários para, 380-382
visão geral, 344-345
prevenir um episódio maníaco com, 369, 379-387
Plasticidade sináptica anormal, 154
Pontos fortes, 146
Pramipexol, 238
Prevenção. Ver também Exercício de prevenção de recaídas; Tratamento
desenvolver um plano de prevenção do suicídio, 454-457
envolver seu médico na, 368-379
episódios maníacos e, 341-343, 360-368
estratégia de ativação comportamental e, 406-418
família e outros fatores sociais na, 49
hipomania e mania e, 212-213
listar medidas preventivas, 344-345
não concordância e, 266-267
reestruturação cognitiva, 418-431
rejeição do diagnóstico, tratamento e sintomas, 129
tendências suicidas e, 77, 437-453
visão geral, 199-201, 386-387
Previsibilidade, 319-321, 531. Ver também Rotinas
Problemas no emprego. Ver Ambientes de trabalho
Processamento visual, 583
Processos neurocognitivos, 154
Processos psicológicos, 154, 275-277
Pro ssionais de saúde mental. Ver também Médicos; Psiquiatras; Terapeutas
como achar o pro ssional certo, 588-589
encaminhamento para diagnóstico e, 100
precisão do diagnóstico e, 104-106
transtorno bipolar infantil e, 583-589
Programa de Melhora Sistemática do Tratamento para Transtorno Bipolar
(STEP-BD), 294, 486
Programas de assistência a emprego, 547-548
Programas de doze passos, 327
Prolactina, elevação da, 486-487
Psicoestimulantes, 27. Ver também Medicação
Psicoterapia. Ver também Tratamento
duração da, 249-250
escolha da terapia certa, 248-249
gravidez e, 467
grupos de apoio mútuo e psicoeducacional, 253-255
medicação e, 195-196
pesquisa referente a, 196-197
psicoterapia individual, 250-252
razões para tentar, 245-248
terapia familiar e de casal, 252-253
transtorno de personalidade borderline e, 112-113
visão geral, 30-31, 38, 244-256
Psicoterapia individual, 250-252. Ver também Psicoterapia
Psiquiatras. Ver também Pro ssionais de saúde mental; Terapeutas
encaminhamento para diagnósticos e, 100
encontrar o provedor certo, 588-589
precisão do diagnóstico e, 104-106
prevenção de episódio maníaco e, 368-379
tendências suicidas e, 436-437, 440-444
transtorno bipolar infantil e, 583-589
Puberdade, 578
Q
Questionário sobre transtorno do humor: lista de checagem para a autogestão,
96-98
Quetiapina
gravidez e, 473
perturbações do sono e, 321
peso e, 488
transtorno bipolar infantil e, 610
visão geral, 223-227
R
Raiva, 60, 498
Rastreamento do ritmo social, 250-252
Reabilitação vocacional, 548-550
Recaída dos sintomas, 261, 465. Ver também Exercício de prevenção de
recaídas
Reconhecimento do transtorno bipolar pela sociedade, 25-27
Recorrências, 261, 465
Recursos, 619-627
Redução do afeto, 116
Reestruturação cognitiva, 418-431, 442
Reforço positivo, 406
Registrar humores, 44, 49-51. Ver também Tabelas do humor
Registros de pensamentos, 421-424
Registros médicos, revisão, 100-101
Regulação das emoções, 19, 522
Rejeição de diagnóstico. Ver Lidar com o diagnóstico; Negação; Diagnóstico
Relacionamento conjugal. Ver também Ambiente familiar; Membros da família;
Relacionamentos
aptidões de comunicação e, 508-525
con itos e, 189-193
exemplo de, 46-47, 49-50
envolver o cônjuge/parceiro(a) em planos de prevenção de recaídas, 345-
350
não concordância e, 277-278
gravidez e, 469
solução de problemas e, 514-525
psicoterapia e, 246
restabelecer intimidade e, 525-526
Relacionamentos. Ver também Círculo íntimo de apoio social; Membros da
família; Amigos; Relacionamento conjugal; Relacionamentos entre
companheiros; Apoio dos outros;
círculo íntimo de apoio social, 335-336
con itos e, 189-193
estigma e, 274-275
utuações de humor e sintomas nos outros e, 135-136
mantê-los e ao mesmo tempo evitar álcool ou drogas, 335, 337
melhorar os relacionamentos familiares, 501-526
não concordância e, 277-278
problemas encontrados após um episódio, 497-501
programar atividades prazerosas e, 411-412
restabelecer intimidade e, 525-526
tendências suicidas e, 444-449
Relacionamentos com companheiros, 560. Ver também Amigos;
Relacionamentos
Remédios de ervas, 28
Representação do transtorno bipolar na mídia, 23-24
Research Domain Criteria (RDoC), sistema, 19-20
Resiliência, 21-23
Responsabilização, 531
Retardo psicomotor, 72
Revelação do diagnóstico, 532-541
Riscos à saúde
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461
grandiosidade e, 69
gravidez e, 469
peso e, 488
tendências suicidas e, 436
Risperidona
enxaquecas e, 490-491
gravidez e, 472
peso e, 488
transtorno bipolar infantil e, 610
visão geral, 223, 226, 228
Ritmos circadianos, 162, 186, 235
Ritmos de sono-vigília. Ver também Sono
amamentação e, 479
ambientes de trabalho e, 544-545
estresse e, 186-189
exemplo de, 50
identi cação de sintomas prodrômicos e, 354-355, 404-405
medicação e, 238
Métrica do Ritmo Social (MRS), 311-315
técnicas de autogestão e, 44-45
transtorno bipolar infantil e, 570-571
visão geral, 22, 78, 187-189
Rotina de exercícios
ciclo menstrual e, 482
como fator de proteção, 292
Métrica do Ritmo Social (MRS), 313
tendências suicidas e, 453
visão geral, 22
Rotinas
como fator de proteção, 292
desa os para manter, 318-319
gravidez e, 467
Métrica do Ritmo Social (MRS), 315-319
perturbações do sono e, 321-324
preencher tabelas de humores, 309
regular e manter, 316-319
resistência a, 319-321
técnicas de autogestão e, 44-45
visão geral, 310-324
Rótulo de doença, 273-274
Rótulos, 127-128, 273-274
Ruminações, 76-77, 601
S
Saúde física
transtorno bipolar infantil e, 594-595
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461
gravidez e, 468
psicoterapia e, 246
tendências suicidas e, 436
peso e, 487
Segundas opiniões, 105-106
Sentimentos de desânimo, 435, 436, 445
Sertralina, 229, 231, 480
Sinais de alerta. Ver também Sintomas
envolvendo outras pessoas em planos de prevenção de recaídas e, 345-349
identi cando, 343-345, 349-359, 402-405
psicoterapia e, 246
transtorno bipolar infantil e, 555, 571-572
Síndrome de Stevens-Johnson, 482
Síndrome do ovário policístico (SOP), 485-486
Sintomas. Ver também Depressão; Sintomas hipomaníacos; Mania; Oscilações
de humor; Sinais de alerta; sintomas individuais
aceitação do diagnóstico e, 126
autoavaliação e, 96-98
confusão em relação a, 135-136
continuum do transtorno bipolar e, 19
diagnóstico e, 65-67, 85-93
distingui-los de personalidade e temperamento, 136-141
educando membros da família quanto aos, 501-508
enfoques diferentes dos, 62-81
episódios maníacos e, 58-60
utuações de humor e sintomas nos outros e, 135-136
progressão de episódios bipolares e, 94-96, 94f
rejeição dos, 81-82
transtorno bipolar infantil e, 32, 555, 560-566, 568-574
transtornos comórbidos e, 104-124
tratamento agudo versus preventivo e, 199
visão geral, 56-62, 64-81
Sintomas hipomaníacos. Ver também Episódios maníacos; Sintomas
ambiente de trabalho e, 530-532, 537-539, 544-547
como os outros experimentam, 72-73
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461
deixando de perceber, 265-266
diagnóstico e, 55-56, 89-92
educando membros da família quanto a, 501-508
estatísticas sobre, 61
experiências de, 65-66
grandiosidade e, 70
gravidez e, 468-470
identi cação de sintomas prodrômicos e, 357
medicação e, 212
não concordância e, 261-262, 265-266
período pós-parto e, 479-480
transtorno ciclotímico e, 113-115
transtorno depressivo maior recorrente e, 118-119
transtornos mentais induzidos por substância/medicação e, 121-124
uso de substâncias e, 330
visão geral, 59-60, 340-343
Sintomas prodrômicos
contexto em que eles ocorrem, 258-259
depressão e, 401-405
identi cação de, 344-345, 351-358
lista de, 353-358, 404-405
passos para prevenção e, 360-367
transtorno bipolar infantil e, 571-572
Sintomas subliminares, 566, 574. Ver também Sintomas
Sistema de ativação comportamental, 183
Sistema de inibição comportamental, 183
Sistema de serotonina, 175, 180
Sistemas de classi cação, 19-20. Ver também Diagnóstico
Sistemas de segundo mensageiro, 175-176
Sites, 623-624
Solução de problemas. Ver também Aptidões de comunicação
localização de falhas, 520-525
membros da família superprotetores e, 518-520
visão geral, 514-525
Sono. Ver também Ritmos de sono-vigília
continuum do transtorno bipolar e, 20
diminuição da necessidade de, 59
mapear o humor e, 305
Métrica do Ritmo Social (MRS), 310-315
privação de, 292
rotinas e, 316
sono desmesurado, 317
transtorno bipolar infantil e, 571, 577, 596
visão geral, 60-61, 77-78, 321-324
Subidenti cação com o diagnóstico, 132-133, 144-145, 498 Ver também Lidar
com o diagnóstico; Negação; Diagnóstico
Superidenti cação com o diagnóstico, 131, 142-145, 498. Ver também Lidar
com o diagnóstico; Diagnóstico
Supressão do pensamento, 132
Surtos de pânico, 436, 462
Surtos de violência, 436
Suscetibilidade, 59
T
Tabelas do humor. Ver também Técnicas de autogestão; Registrar humores
ciclo menstrual e, 483
e cácia da medicação e, 275
exemplo de, 49-51, 297
formulários para, 298, 606-607
gravidez e, 467
não concordância e, 280
prevenção de recaídas e, 348-350
problemas com, 309
técnicas de autogestão e, 44-45
transtorno bipolar infantil e, 604-607
visão geral, 293-310
Tarefas para fazer em casa, 25-27
Técnicas de autogestão. Ver também Tabelas de humores; Rotinas; Ritmos de
sono-vigília; Apoio dos outros
aceitação do diagnóstico e, 145-147
ambientes de trabalho e, 528, 541-552
apoios sociais e, 333-337
após um episódio e, 43
aptidões de comunicação e, 508-509
depressão e, 389-390, 395, 430
estratégia de ativação comportamental, 406-418
evitar álcool e drogas recreativas, 324-332
exemplo de, 50
Exercício de manutenção do bem-estar e, 331-332
manter rotinas regulares e, 310-324
manter uma tabela do humor e, 293-310
prevenção de episódio maníaco e, 368
reestruturação cognitiva, 418-431
tendências suicidas e, 443
visão geral, 38, 44-45, 284, 289-293, 337
Técnicas de estimulação elétrica
eletroconvulsoterapia (ECT), 239-241, 442, 467
estimulação magnética transcraniana, 241-243
Técnicas de relaxamento, 442, 451-452, 546-547
Temperamento, 136-141. Ver também Personalidade, traços de
Tendências suicidas. Ver também Plano de prevenção ao suicídio
ajuda pro ssional e, 440-444
antidepressivos e, 229
cetamina e, 235-236
círculo íntimo de apoio social e, 444-448
continuum do transtorno bipolar e, 19-20
fatores de risco para, 436-437
fatores genéticos e, 166
ferramentas para “melhorar o momento”, 451-452
lítio e, 205
montar um plano de prevenção ao suicídio, 454-457
prevenir ações suicidas e, 437-453
revisar razões para viver, 448-451
transtorno bipolar infantil e, 559-560, 578-581
visão geral, 59-60, 76-77, 390, 433-435, 454-455
Terapeutas. Ver também Pro ssionais de saúde mental; Psiquiatras
encontrar o pro ssional certo, 588-589
mapear humores e, 308-309
período pós-parto e, 479-480
tendências suicidas e, 76-77, 440-444
transtorno bipolar infantil e, 584-589
Terapia. Ver Tratamentos psicossociais; Psicoterapia; Tratamento
Terapia baseada em mentalização, 113, 522-523, 581
Terapia cognitiva baseada em atenção plena (TCBM), 462, 481
Terapia cognitivo-comportamental (TCC)
funcionamento cognitivo e, 25-27
psicoterapia individual e, 251
reestruturação cognitiva, 418-431
tendências suicidas e, 442
transtornos de ansiedade e, 120
uso de substâncias e, 327
visão geral, 253
Terapia comportamental dialética (TCD)
automutilação e, 581
tendências suicidas e, 442
transtorno de personalidade borderline e, 112-113
Terapia da luz branca brilhante, 28, 243-244
Terapia de casal, 252-253. Ver também Psicoterapia
Terapia de reposição hormonal (TRH), 492
Terapia familiar, 252-253, 570-571. Ver também Psicoterapia
Terapia focada na família (TFF)
exercício de prevenção da recaída e, 343
transtorno bipolar infantil e, 508-509
visão geral, 252-253
Terapia interpessoal (TIP), 250-251
Terapia interpessoal e de ritmo social (IPSRT), 252, 311
Teste BALANCE, 215
Teste vocacional, 548
Tomada de decisões, 59
Tomar bebida alcoólica. Ver Álcool, uso de
Topiramato, 221, 482
Toxicidade do lítio, 213. Ver também Lítio
Trabalho voluntário, 549. Ver também Ambientes de trabalho
Traços quantitativos, estudos de, 163-164
Tranilcipromina, 232
Transdutores de sinal, 175-176
Transportador de serotonina (SERT), 162
Transtorno bipolar de manifestação pediátrica. Ver Transtorno bipolar infantil
Transtorno bipolar em geral. Ver também Transtorno bipolar I; Transtorno
bipolar II; Transtorno bipolar infantil;
Sintomas
após um episódio, 41-43
educando a família em relação a, 501-508
exemplo de, 37-41, 44-49, 49-51
visão geral, 38-49, 55-62, 81-82, 126-128
Transtorno bipolar I
aspectos do curso, 89
criatividade e, 267
diagnóstico e, 86-88
manifestação na infância, 574
mudanças no pensamento e na percepção e, 74
tratamento e, 90-92
visão geral, 61-62
Transtorno bipolar II
antidepressivos e, 231
criatividade e, 267
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461
diagnóstico e, 87-92
manifestação na infância, 574
tratamento e, 90-92
visão geral, 61-62
Transtorno bipolar induzido por medicação, 121-124
Transtorno bipolar infantil. Ver também Adolescentes; Manifestação precoce do
transtorno bipolar
atributos do, 574-584
avaliação e, 583-589
curso do, 596-603
depressão e, 578-581
determinar a diferença entre personalidade/temperamento e sintomas em,
136-137
diagnóstico e, 567-570, 604
diagnóstico e, 92-93
estágios iniciais do, 570-574
família e, 602-605, 606-607
fatores genéticos e, 166-167, 172-174
funcionamento cognitivo e, 582-584
histórico do, 556-560
medicação e, 604-605, 608-614
perturbações do sono e, 577
preocupações com, 44-45
riscos de, 464
sintomas e sinais do, 560-566, 570-574
tendências suicidas e, 578-581
transtorno bipolar não especí co
transtorno do dé cit de atenção com hiperatividade (TDAH) e, 108-110
transtornos comórbidos e, 568-569, 589-596
tratamento e, 174, 604-605, 608-617
visão geral, 31-33, 553-556, 616-617
Transtorno bipolar não especi cado de outro modo. Ver Transtorno bipolar
não especí co
Transtorno bipolar não especí co
diagnóstico e, 88, 92-93
episódios depressivos maiores e, 118
transtorno bipolar infantil e, 574
Transtorno bipolar resistente a tratamento
curso do transtorno bipolar em mulheres, 461
cetamina e, 235-236
medicação e, 27-29, 233-237
suplementos de tiroide e, 234-235
Transtorno ciclotímico, 113-115, 138, 574
Transtorno de ansiedade generalizado, 119-120, 558. Ver também Transtornos
de ansiedade
Transtorno de ansiedade social, 119
Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), 119-120
Transtorno de pânico, 119
Transtorno de personalidade borderline, 111-113
Transtorno depressivo distímico
determinar a diferença entre personalidade/temperamento e sintomas, 138
manifestação de dupla depressão e, 400
visão geral, 61
Transtorno depressivo maior, 118-119. Ver também Depressão
Transtorno depressivo persistente, 61
Transtorno desa ador de oposição (TDO), 32, 558, 560
Transtorno disruptivo da desregulação do humor (TDDH), 21, 592-593
Transtorno do dé cit de atenção com hiperatividade (TDAH)
medicação e, 27
transtorno bipolar infantil e, 32, 558, 559, 568, 569, 589-592, 612
visão geral, 108-111
Transtorno do espectro bipolar, 59
Transtorno esquizoafetivo, 116
Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), 119
Transtornos da alimentação, 166, 462
Transtornos da tiroide e suplementos, 234-235, 489-490. Ver também
Medicação
Transtornos de ansiedade, 119, 569. Ver também Ansiedade
Transtornos de conduta, 558, 560
Transtornos de personalidade, 111-113
Transtornos do espectro autista, 21
Transtornos do humor sazonais, 243-244
Tratamento. Ver também Tratamento de internados; Medicação; Tratamento
ambulatorial; Tratamentos psicossociais
aceitação do diagnóstico e, 145-146
automutilação e, 581-582
como fator de proteção, 292
compreensão, 43
comunicação com médicos a respeito de, 44
consequências de um episódio e, 41-43
continuum do transtorno bipolar e, 19
curso do transtorno bipolar em mulheres, 462
depressão e, 389-390
desregulação imune e, 177-178
diagnóstico e, 84, 90-92
distinguir transtorno bipolar de TDAH e, 108-109, 110-111
educando membros da família quanto a, 506-507
eletroconvulsoterapia (ECT), 239-241
enxaquecas e, 490-491
esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo e, 116-117
estimulação magnética transcraniana, 241-243
fatores genéticos e, 171-172
gravidez e, 466, 468-469
grupos de apoio mútuo e psicoeducacional, 253-255
mapear o humor e, 307-308
passos em direção a, 98-99, 99-104
período pós-parto e, 474-481
perturbações do sono e, 321, 577-578
pesquisa relacionada a, 196-197
reestruturação cognitiva, 418-431
rejeição do, 80-82, 127
tendências suicidas e, 434-435, 440-443, 454-455
transtorno bipolar infantil e, 32, 556, 559, 560, 570-572, 577, 581, 604-
605, 608-614, 614-617
transtorno ciclotímico e, 115
transtorno de personalidade borderline e, 112-113
transtornos de ansiedade e, 119
tratamento à base de luz, 243-244
tratamento preventivo agudo versus preventivo, 199-201
tratamentos alternativos e complementares e, 27
tratamentos médicos, 27-30
visão geral, 32-33, 81-82, 255-256
vulnerabilidade biológica e, 175-177
Tratamento à base de luz, 28, 243-244
Tratamento agudo, 199-201, 378, 610-612. Ver também Tratamento
Tratamento ambulatorial, 38-39, 370-371. Ver também Tratamento
Tratamento de internados. Ver também Tratamento
exemplo de, 37-40
prevenção de um episódio maníaco e, 368, 376-379
tendências suicidas e, 436, 440
visão geral, 38-39
Tratamento psicoeducacional em grupo, 253-255. Ver também Psicoterapia
Tratamentos alternativos. Ver também Tratamentos complementares;
Tratamento
gravidez e, 466-467
transtorno bipolar infantil e, 613
visão geral, 27-30
Tratamentos complementares, 27-30. Ver também Tratamentos alternativos;
Tratamento
Tratamentos médicos, 27-30. Ver também Tratamento
Tratamentos psicológicos. Ver também Tratamento
como fator de proteção, 292
transtorno bipolar infantil e, 614-617
visão geral, 30-31
Trauma, 161, 171
Trazodona, 229
Treino de aptidões, 581
Tricíclicos, 232, 491
Tristeza, 59
Turbilhão de ideias, 73-76
U
Uso de substâncias
tendências suicidas e, 436
transtornos mentais induzidos por substância/medicação e, 121-124
Uso de substâncias. Ver também Comportamentos de abuso de substâncias;
Álcool, uso de; Drogas, uso de
como fator de risco, 292
comportamento sexual e, 237
episódios bipolares e, 180
fatores genéticos e, 166
gravidez e, 466
manter amizades enquanto se evita, 335-337
não concordância e, 278-280
psicoterapia e, 246
técnicas de autogestão e, 324-332
transtorno bipolar infantil e, 593
visão geral, 78-81
V
Valproato
antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e, 224, 226
ciclo menstrual e, 483
comparado ao lítio, 215-216
efeitos colaterais e, 217-218, 272, 273
escolha de anticoncepcionais e, 482
gravidez e, 467, 469, 472
período pós-parto e, 478
peso e, 488
prevenção de episódio maníaco e, 373-374
transtorno bipolar infantil e, 611
visão geral, 214-216, 222
vulnerabilidade biológica e, 176-177
Venlafaxina, 229, 231, 232
Verapamil, 221
Vergonha
auxílio-doença e, 550
grandiosidade e, 69
não concordância e, 273-275
precisão do diagnóstico e, 127-128
ruminações e, 76
Viagens, 323-324
Vitaminas, 22, 28, 466-468
Vulnerabilidade, 154-157, 157f
Vulnerabilidade ao estresse, modelo, 154-157, 157f, 276. Ver também Estresse
Vulnerabilidade biológica
compreensão, 43-45
continuum do transtorno bipolar e, 19
educando membros da família quanto a, 503-508
episódios bipolares e, 179-180
mulheres com transtorno bipolar e, 464
não concordância e, 275-277
tratamento de pacientes internados e, 377-379
visão geral, 153-156, 174-180
Z
Zeitgebers sociais, 186-187
Zeitstorer, 186-188
Ziprasidona
peso e, 488
transtorno bipolar infantil e, 610
visão geral, 223, 226-228
Zolpidem, 321
Zonisamida, 227
SOBRE O AUTOR