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Rentabilidade do cultivo de abacaxi: um estudo em Tangará da

Serra/MT

Rita Camila Keserle de Oliveira (UNEMAT) - [email protected]


Willian Krause (UNEMAT) - [email protected]
Cleci Grzebieluckas (UNEMAT) - [email protected]
Josiane Silva Costa dos Santos (UNEMAT) - [email protected]

Resumo:

O objetivo do estudo foi avaliar a rentabilidade do cultivo de abacaxi em uma propriedade


rural do município de Tangará da Serra/MT. É uma pesquisa descritiva, aplicada e abordagem
quantitativa. O instrumento de coleta foi roteiro estruturado, registro fotográfico e observação
in loco. A análise baseou-se na produção em um hectare de terra. Para calculo dos indicadores
de rentabilidade foram utilizadas ferramentas de análise econômica e contábil a fim de avaliar
os custos de produção e o índice de lucratividade. A pesquisa ocorreu no período de fevereiro
de 2018 a junho de 2019. O estudo permitiu identificar que a atividade é rentável
economicamente apresentando índice de lucratividade de 35,12% e fluxo de caixa de R$
24.076,61, com produção do abacaxi a um custo total unitário de R$ 1,18.

Palavras-chave: Custos. Manejo. Lucratividade. Abacaxizeiro

Área temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões

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XXVI Congresso Brasileiro de Custos – Curitiba, PR, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2019

Rentabilidade do cultivo de abacaxi: um estudo em Tangará da Serra/MT

Resumo
O objetivo do estudo foi avaliar a rentabilidade do cultivo de abacaxi em uma propriedade
rural do município de Tangará da Serra/MT. É uma pesquisa descritiva, aplicada e
abordagem quantitativa. O instrumento de coleta foi roteiro estruturado, registro fotográfico e
observação in loco. A análise baseou-se na produção em um hectare de terra. Para calculo dos
indicadores de rentabilidade foram utilizadas ferramentas de análise econômica e contábil a
fim de avaliar os custos de produção e o índice de lucratividade. A pesquisa ocorreu no
período de fevereiro de 2018 a junho de 2019. O estudo permitiu identificar que a atividade é
rentável economicamente apresentando índice de lucratividade de 35,12% e fluxo de caixa de
R$ 24.076,61, com produção do abacaxi a um custo total unitário de R$ 1,18.

Palavras-chave: Custos. Manejo. Lucratividade. Abacaxizeiro

Área Temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

1 Introdução
O cultivo do abacaxi contribui para o crescimento da fruticultura do país devido o
clima propício, disponibilidade de área e tecnologia, destacando-se na fruticultura pela
qualidade do fruto, apreciado em todo o mundo, mas principalmente pela alta rentabilidade da
cultura (FREITAS LEAL et al., 2009; CRESTANI et al., 2010). A produção mundial de
abacaxi, em 2016, foi de aproximadamente 25,9 milhões de toneladas, cerca de 47% dessa
produção concentrou-se nos cinco principais países produtores Costa Rica (11,4%), Brasil
(10,4), Filipinas (10,1%), Índia (7,6%) e Tailândia (7%),(IBGE, 2016).
O Brasil produz aproximadamente 1,8 bilhão de frutos de abacaxi por ano. Em 2018
foram vendidas mais de 92 mil toneladas ocupando a 7ª posição do setor da fruticultura,
(COMPANHIA DE ENTREPOSTOS E ARMAZÉNS GERAIS DE SÃO PAULO -
CEAGESP, 2019). Sendo assim, a cultura contribui para o crescimento do agronegócio,
transformando-se numa das bases para economia da fruticultura em várias regiões do país
(CUNHA et al., 2005). Os maiores produtores de abacaxi do Brasil são os estados da Paraíba,
Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e Tocantins com participação de 67% da produção
nacional (IBGE, 2017).
Contudo, o abacaxizeiro apresenta dificuldades em desenvolver frutos com um padrão
exigido pelo mercado, devido formas de manejo inadequado como, espaçamento e adubação
incorretos e outros relacionados ao escalonamento da produção, interferindo diretamente no
padrão de qualidade da fruta e consequentemente na comercialização impactando na
rentabilidade (ANDRADE NETO et. al., 2011; MARQUES et al., 2011).
No contexto, o estado de Mato Grosso possui condições edafoclimáticas propícias para
a propagação da cultura, todavia, os produtores apresentam dificuldade de manejo e,
principalmente, na gestão de custos do sistema de produção adotado (SECRETARIA DE
ESTADO DE AGRICULTURA FAMILIAR - SEAF, 2018). Esta dificuldade na gestão
reflete diretamente sobre a formação do preço de venda, pois não tendo um controle das
despesas e dos custos, a empresa pode vir a ter prejuízos e isso ameaça a sua sobrevivência,
principalmente em meio a um mercado competitivo (CORBARI; MACEDO, 2012;
ZAHAIKEVITCH, 2012).
Tangará da Serra-MT, ocupa a primeira posição na produção de abacaxi no estado de
Mato Grosso com área plantada e colhida de 115 ha, rendimento médio de 35.000 frutos/ha
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superior a média estadual que é de 22.924 frutos/ha (IBGE, 2017). Em face do contexto, a
pesquisa tem como objetivo avaliar a rentabilidade do cultivo de abacaxi em uma propriedade
rural do município de Tangará da Serra/MT. Portanto, justifica-se o estudo em razão de que a
gestão de custos é uma ferramenta útil que auxilia os agricultores avaliarem de forma efetiva
os reais valores investidos e seus respectivos retornos financeiros com a cultura do abacaxi.

2 2 Manejo do abacaxi
O preparo do solo no cultivo do abacaxi é essencial para favorecer o desenvolvimento
e o aprofundamento do sistema radicular da planta. Os solos de textura média, com boa
drenagem do excesso de água, são os mais indicados (INSTITUTO CAPIXABA DE
PESQUISA, ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL - INCAPER, 2003). Antes
do plantio recomenda-se a análise de solo para avaliar a necessidade de calcário. Tal
procedimento é indicado com antecedência de 30 a 90 dias antes de realizar o plantio. A
calagem pode ser feita antes da aração ou das gradagens para garantir a absorção em maior
profundidade (MODEL; SANDER, 1999). O preparo do solo pode ser feito por meio da
aração e gradagem do terreno, numa profundidade mínima de 30 cm (EMBRAPA, 2000 e
2013).
Os espaçamentos para produção de frutos com características comerciais são: 1,20 m x
0,40m x 0,40m ou 1,50m x 0,40m x 0,40 m (ruas x fileiras x plantas) com, respectivamente,
31.250 e 26.315 plantas ha-1 e 94.375 e 75.524 kg de frutos/ha (EMBRAPA, 2013). O plantio
pode ser feito com vários tipos de mudas, coroa, filhote, filhote-rebentão e rebentão. Todavia,
a mais utilizada no Brasil é a filhote. Utilizar mudas sadias, vigorosas, colhidas em bom
estado fitossanitário é de grande importância para garantir a qualidade dos frutos
(EMBRAPA, 2013).
Após a colheita da muda é necessário fazer a seleção por tamanhos (30 cm a 40 cm; 40
cm a 50 cm, 50 cm a 60 cm), para plantio em talhões separados. Esta prática auxilia no
crescimento de plantas e frutos uniformes. Nesta etapa também é feito o descarte das mudas
com sintoma de doenças (EMBRAPA, 2013).
A época de plantio está relacionada com o manejo da cultura, com ou sem irrigação.
No período sequeiro é mais indicado realizar o plantio no final da estação seca e início da
chuvosa. Todavia, plantios feitos no segundo semestre do ano, o produtor precisa fazer o
tratamento de indução floral antes do mês de junho do ano seguinte. Isso é necessário para
que não ocorra a floração natural precoce e ainda, a colheita dos frutos em época de elevada
oferta e preços baixos (EMBRAPA, 2000). O processo de floração do abacaxizeiro
compreende o ciclo que varia de 12 a 30 meses, até a produção do primeiro fruto, de acordo
com as condições ambientais e de manejo da cultura (KIST, 2011).
O abacaxizeiro é uma cultura pouco mecanizada, por isso requer o uso intensivo de
mão-de-obra em todas as fases do processo produtivo, principalmente no plantio das mudas.
Todavia, alguns maquinários e implementos têm sido desenvolvidos, no entanto, o alto custo
reduz o acesso a essa tecnologia (EMBRAPA, 2013).
Em relação ao controle de pragas e doenças torna-se necessário inspecionar
periodicamente a área do plantio, com frequência mínima mensal para detectar quaisquer
problemas fitossanitários em seu estádio inicial, pois o ataque acarreta grandes perdas na
produção de frutos (EMBRAPA, 2009). Além das pragas e doenças, é indispensável o
controle das plantas daninhas, tendo vista que o abacaxizeiro possui crescimento lento e
sistema radicular superficial, torna-se vulnerável a concorrência com as plantas daninhas, que
podem atrasar o desenvolvimento da cultura e reduzir a produção (EMBRAPA, 2013).
Sendo uma planta exigente em nutrientes, a maioria dos solos não supre suas
necessidades, por isso se faz necessário maior eficácia no manejo de adubação. A nutrição
mineral correta contribui para frutos saudáveis e de boa aparência (SOUZA, 1999). Todavia,
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o produtor deve levar em consideração a época de plantio, que é fundamental não coincidir o
período de floração com o período de frio. Isto evita a indução natural do fruto e pode causar
problemas como a falta de uniformidade da produção e colheita, aumento no custo de
produção e dificuldades de manejo (CUNHA, 1989), podendo gerar obstáculos para o
agricultor, como redução no tamanho dos frutos, colheita estendida (CARVALHO et al.,
2005). Esta diferença que a floração natural proporciona, faz o rendimento da produção do
abacaxi ser menor que o esperado pelo produtor, crescimento desigual, além de dificultar os
tratos fitossanitários e a colheita (SAMPAIO et. al., 1997)
Para se obter uma plantação uniforme é necessário utilizar a indução artificial. Este
processo envolve a aplicação de produto que faz todas as plantas florescer ao mesmo tempo,
permitindo que a colheita seja feita em todo talhão, reduzindo custos, principalmente os de
mão de obra (CUNHA, 1989).
A colheita dos frutos deve ser feita em estágios de maturação diferentes, de acordo
com o seu destino e a distância do mercado consumidor. Quando o fruto se destina à indústria,
deve ser colhido com casca mais amarela do que verde (maduro). Já os frutos destinados ao
mercado para consumo in natura devem ser colhidos mais cedo, em geral quando surgem os
primeiros sinais amarelos na casca para chegar em boas condições ao consumidor. Em caso de
comercialização em mercados locais ou regionais, frutos com até a metade da superfície
amarela são também indicados (EMBRAPA, 2013). Além disso, deve-se evitar colher frutos
verdes, pois não amadurecem mais na fase pós-colheita, ou seja, não atingem a qualidade
exigida para consumo e, ainda, com baixo teor de açúcar e aroma pouco atraente
(GUMARÃES; MATOS, 2012).
O Brasil já tem normas de comercialização do abacaxi, o que melhora o ganho do
produtor e as opções de preço e qualidade para o consumidor, aplicadas pela Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP, 2003). Os frutos que são escoados
no mercado interno e dos países do Mercosul, são normalmente transportados a granel, em
caminhões sem refrigeração. Na pós-colheita, os produtores priorizam a ausência de defeitos,
alta rentabilidade na produção, facilidades na colheita, transporte e ausência de doenças.
Entretanto, os consumidores priorizam o sabor doce do abacaxi e ausência de defensivos
agrícolas (CHITARRA; CHITARRA, 2005).

2.1 Custos de produção


Custo é considerado um gasto respectivo a determinados bens e serviços necessários
para a produção de outros bens e serviços, sendo classificados quanto à forma de associação
dos custos aos produtos (diretos e indiretos) e ao desempenho do volume produzido (fixos e
variáveis) (BRUNI; FAMÁ, 2012). Os custos de produção geralmente são desconhecidos
pelos produtores nacionais, mesmo sendo uma importante ferramenta. Para a mensuração
destes os produtores devem realizar a contabilidade de todos os processos do sistema
produzido, pois permite ao produtor o controle e entendimento do lucro ou prejuízo da
atividade, aumentar sua eficiência produtiva e utilizar estratégias perante o mercado
competitivo (VIANA; SILVEIRA, 2008; MARTIN et al., 1998).
O custo de produção consiste nas despesas efetivamente desembolsadas pelo agricultor
mais a depreciação de máquinas e benfeitorias específicas da atividade, incorporando- se
outros componentes de custos, visando alcançar a totalidade, facilitando o produtor à decisão
de continuar ou não produzindo determinada cultura (MATSUNAGA et al.,1976).
Para estimar os custos das atividades agrícolas é necessário um conjunto de dados a se
conseguir com os produtores como, operações agrícolas, materiais de consumo, componentes
de custos indiretos da produção, preços de máquinas, insumos utilizados entre outros. Com
estas informações é possível estruturar o custo de produção, constituído por diversos
componentes (LEAL et al., 2009; MARTIN et al., 1998) conforme apresentado no tópico
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materiais e métodos.

3. Materiais e métodos
3.1. Área, objeto de estudo e caracterização da pesquisa
O estudo foi realizado numa propriedade familiar produtora de abacaxi, localizada no
Assentamento Antônio Conselheiro, município de Tangará da Serra/MT, sudoeste mato-
grossense a 250 km da capital Cuiabá. Possui uma área de 11.597,702 km² e população
estimada de 98.828 habitantes (IBGE, 2017) e índice de desenvolvimento humano (IDH)
municipal de 0,729 (IBGE, 2010). A propriedade possui 27 hectares sendo 10 utilizados no
plantio de abacaxi sendo considerada a maior produtora do município.
A pesquisa se caracteriza como descritiva, aplicada e abordagem quantitativa. As
pesquisas descritivas buscam investigar, analisar, registrar e classificar os fatos ou fenômenos
sem a interferência do pesquisador, enquanto as quantitativas buscam a quantificação dos
resultados produzindo em percentuais e valores monetários (RICHARDSON et al., 2016). A
pesquisa aplicada tem por objetivo fazer uma exploração acerca de um tema, que ao decorrer
da pesquisa fica mais consistente, geralmente esse tipo de pesquisa é usado por economistas e
pesquisadores sociais (MINAYO et al., 2007). O instrumento de coleta foi roteiro estruturado,
registros fotográficos e observação in loco.

3.2 Coleta e análise de dados


A coleta de dados começou em fevereiro de 2018 início do plantio e se estendeu até
junho de 2019 com a colheita. Para isso foi escolhido um talhão de cinco mil e setecentos
metros quadrados e realizado acompanhamento mensal registrando o manejo, os custos e as
receitas do sistema produtivo. Todavia, a análise final foi com base em um hectare de terra
cultivado. A padronização dos tamanhos dos frutos seguiu as normas de classificação do
abacaxi do programa brasileiro para a modernização da horticultura (CQH/CEAGESP, 2003).
A análise dos dados seguiu o modelo de Martin et al. (1998) que classificam os custos em:
Custo operacional efetivo (COE) constituído pela somatória das despesas com mão-de-obra,
operações mecanizadas e materiais consumidos.
Custo operacional total (COT) “custo que o produtor incorre a curto prazo pra
produzir e para repor a sua maquinaria e continuar produzindo” (MARTIN et al, 1998, p 9),
tais como depreciação, seguros, encargos financeiros, despesas com administração etc..
Outros custos fixos como a remuneração da terra, instalações e maquinários bem como uma
estimativa dos demais custos fixos. Considerou-se aqui o arrendamento da terra em valor por
hectare de R$ 630,00 ano/há valor praticado na região. Chegando-se assim aos Custo total de
produção (CTP) - a somatória do COE, COT e outros custos fixos.
Para se obter a rentabilidade utilizou-se a receita bruta (RB) calculada da seguinte
forma: RB = R . Pu
Onde:
R= rendimento da atividade por unidade de área
Pu = Preço unitário
Margem bruta sobre o COE - resultado que sobra após o produtor pagar o custo operacional
efetivo e em relação a esse mesmo custo (em %), considerando um valor de preço unitário de
venda do produto e o rendimento do sistema de produção para a atividade:
Margem Bruta sobre o COE = ((RB - COE) / COE) x 100
Onde:
RB = Receita Bruta;
COE = Custo Operacional Efetivo.
Margem bruta sobre o COT = ((RB - COT) / COT) x 100
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Onde:
COT = Custo Operacional Total
Margem bruta sobre o CTP = ((RB - CTP) / CTP) x 100
Onde:
CTP = Custo Total de produção
Ponto de equilíbrio - são os indicadores de custo em termos de unidades de produto.
Determina um nível de produção mínima necessária para cobrir esses custos de acordo com o
preço de venda, calculado da seguinte forma:
Ponto de equilíbrio (COE) = COE / Pu
Ponto de equilíbrio (COT) = COT / Pu
Ponto de equilíbrio (CTP) = CTP / Pu
Onde:
Pu = Preço unitário de venda do produto
Lucro operacional (LO) - é responsável por medir a lucratividade da atividade no curto prazo,
demonstrando as condições financeiras e operacionais da atividade. Indica a diferença entre a
receita bruta e o custo operacional total por hectare, usando a seguinte fórmula:
LO = RB - COT
Índice de lucratividade (IL) - mostra a taxa disponível de receita da atividade após a dedução
de todos os custos operacionais do período:
IL = (LO / RB) x 100
Onde: LO = Lucro operacional
O fluxo de caixa é obtido pela formula: FCX = (RB- (COT-DEPR)) – constitui a diferença
das entradas e saídas efetivas de caixa.
Onde
DEPR= Depreciação

4. Resultados e discussão
O agricultor iniciou o cultivo de abacaxi há 14 anos e atualmente produz
aproximadamente um milhão de frutos por safra, sendo considerado o maior produtor de
abacaxi de Tangará da Serra - MT. A propriedade tem característica familiar onde irmãos, pai,
esposa e filho trabalham juntos, entretanto, no período de safra necessitam contratar mão de
obra. O crescimento da atividade impulsionou o produtor em investir em maquinários
próprios para cultura do abacaxi como, trator, caminhão, plantadeira de abacaxi, equipamento
para pulverização e uma despolpadora a fim de aproveitar os frutos menores não
comercializáveis. Comercializa em grande escala direto para supermercados da cidade de
Tangará da Serra e também em outros municípios de Mato Grosso. O produtor tem
dificuldade para gerir os gastos da propriedade e as despesas pessoais, além de não trabalhar
com planejamento em longo prazo.
A fim de auxiliá-lo na gestão e conforme mencionado na metodologia, foi feito
acompanhamento mensal do processo produtivo do abacaxi (15 meses) focando na gestão de
custos. As mudas foram plantadas com espaçamento de 1,0x0,5x0,35 totalizando 38.035
plantas por hectare e colhidas 30.428 unidades comercializáveis. Do total da produção 76% de
frutos maiores atingiram respectivamente pesos médios 1,727kg, 10% (1,296,20kg) e 14%
(996,14kg). O preço médio unitário obtido na venda foi de R$1,78/un.
A Tabela 1 apresenta o detalhamento dos custos (cultivo sequeiro) com operações
mecanizadas, manuais, materiais consumidos e outros custos operacionais representando
respetivamente COE R$27.995,23, COT R$35.142,23 e CTP R$35.772,23. Destaca-se que a
maior representatividade do COE (35%) foi com materiais consumidos. Os demais custos
elevam-se em razão da depreciação e do seguro, obtendo-se assim um custo unitário total de
produção R$1,1756/un.
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Tabela 1- Detalhamentos dos custos da produção de um hectare de abacaxi


Item Unidade Qtde. P. Unit. (R$) Valor (R$)
A - Operações mecanizadas e manuais ha un
Análise de solo 1,00 56,00 56,00 0,0018
Limpeza da área h/m 4,18 140,00 585,20 0,0192
Gradagem h/m 3,48 140,00 487,20 0,0160
Calagem e esterco h/m 5,21 140,00 729,40 0,0240
Adubação e herbicida h/m 5,25 140,00 735,00 0,0242
Nivelação h/m 1 140,00 85,40 0,0028
Limpeza da área d/h 2 70,00 121,80 0,0040
Transporte de mudas d/h 2 70,00 121,80 0,0040
Plantio de mudas d/h 3 70,00 243,60 0,0080
Adubação d/h 17 70,00 1.217,30 0,0400
Capina manual d/h 23 70,00 1.583,40 0,0520
Indução floral d/h 2 70,00 133,70 0,0044
Colheita abacaxi d/h 35 70,00 2.435,30 0,0800
Controle fitossanitário d/h 2 70,00 121,80 0,0040
Total dos custos operacionais 8.656,90 0,2845
B - Material consumido -
Combustível litro 833,33 3,84 3.199,99 0,1052
Água litro 1.395,27 0,01 11,16 0,0004
Luvas par 68,00 3,25 221,00 0,0073
Mudas un 38.035 0,10 3.803,50 0,1250
Calcário kg 4.349,33 0,50 2.174,67 0,0715
Esterco - cama de frango kg 10.438,4 0,15 1.565,76 0,0515
Adubo 4.14.8 kg 347,95 3,00 1.043,85 0,0343
Uréia kg 46,97 2,40 112,73 0,0037
Ethrel litro 1,74 420,00 730,80 0,0240
Sulfato de amônia e cloreto de potássio kg 2.087,68 1,99 4.154,48 0,1365
Calda l 27,84 24,00 668,16 0,0220
Metrimmex l 17,05 63,33 1.079,78 0,0355
Podium EW l 0,87 68,00 59,16 0,0019
Ametrina 500 l 17,4 29,50 513,30 0,0169
Total material consumido 19.338,33 0,6355
C - Custo operacional efetivo (COE) (A+B) 27.995,23 0,9200
D - Outros custos operacionais
Depreciação de máquinas 5.057,00 0,1662
Seguro 2.090,00 0,0687
Total de outros custos operacionais 7.147,00 0,2349
E - Custo operacional total (COT) (C+D) 35.142,23 1,1549
F - Outros custos fixos
Arrendamento da terra 630,00 0,0207
Total de outros custos fixos 630,00 0,0207
G - Custo total da produção (CTP) (E+F) 35.772,23 1,1756
Fonte: Dados da pesquisa (2019)
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A Tabela 2 demonstra que a atividade é rentável, pois apresentou índice de


lucratividade de 35,12% e fluxo de caixa de R$24.076,61. O fluxo de caixa é um o indicador
mais utilizado para medir o resultado de uma atividade, pois permite mostrar o montante que
sobra para cobrir os demais custos fixos, risco e retorno do capital (MARTIN et al., 1998). Ao
se analisar o ponto de nivelamento sobre o COE, foram necessários 15.728 un, restando assim
14.700 unidades para cobrir os demais custos.

Tabela 2 – Indicadores de rentabilidade do cultivo de um hectare de abacaxi


Dados para análise Valor ha Unidade de referência
Preço médio de venda/un 1,78 R$
Produtividade/ ha 30.428 un
Vendas de mercadorias 54.161,84 R$
Margem Bruta (COE) 93,47 %
Margem Bruta (COT) 54,12 %
Margem Bruta (CTP) 51,41 %
Ponto de Nivelamento (COE) 15.728 un
Ponto de Nivelamento (COT) 19.743 un
Ponto de Nivelamento (CTP) 20.097 un
Lucro operacional (LO) 19.019,61 R$
Lucro operacional (UN) 10.686 un
Índice de lucratividade (IL) 35,12% %
Fluxo de caixa (FCX) 24.076,61 R$
Fluxo de caixa (FCX) 13.526 un
Fonte: Dados da pesquisa (2019)

A quantidade produzida aqui identificada é superior em relação a outro produtor


também de Tangará da Serra que comercializa para o Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE), que plantou 40 mil mudas de abacaxi/ha e colheu 24 mil frutos
(GUIMARÃES et al., 2017) e ainda no Acre que produziu e média 14.528 frutos por hectare
(AMARAL, 2018) ambos pelo sistema de cultivo sequeiro . Contudo, inferior ao estudo de
Souza, Coutinho e Torres (2010) que obtiveram produção com sistema irrigado de 41.000
frutos, com peso médio de 1,500 kg e COT de R$13.515,40.
Já índice de lucratividade aqui foi inferior ao estudo de Souza, Coutinho e Torres
(2010) que identificaram 54,14% vendido a um preço médio de R$0,76/un e Guimarães et al.
(2017) com 93,80%.

Considerações finais
Com base nos custos e receitas levantados de acordo com a realidade do produtor, foi
possível verificar que o cultivo de abacaxi é rentável para o agricultor, com índice de
lucratividade de 35,12% e fluxo de caixa de R$ 24.076,61. Os custos com maior
representatividade foram os com materiais consumidos, indicando uma produção tecnificada
que tem obtido alta produtividade com frutos nos padrões de comercialização. Recomenda-se
estudos desta natureza sejam realizados com outros cultivos na região, a fim de confrontar os
indicadores de rentabilidade aqui identificados bem como os níveis de produtividade.
XXVI Congresso Brasileiro de Custos – Curitiba, PR, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2019

Referências
ABRAFRUTAS. Fruticultura quer ampliar mercado. Disponível em:
https://abrafrutas.org/2018/11/28/fruticultura-quer-ampliar-mercado/. Acesso em: 23 maio
2019.

ANDRADE NETO, R. de C.; NEGREIROS, J. R da S.; ARAÚJO NETO, S. E. de;


CAVALCANTE, M. de J. B.; ALÉCIO, M. R.; SANTOS, R. S. Diagnóstico da
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(Documento, 125).

BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Gestão de Custos e Formação de Preços: com aplicações na


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CARVALHO, S. L. C. de; NEVES, C. S. V. J.; BÜRKLE, R.; MARUR, C. J. Épocas de


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