Mistério EXU
Mistério EXU
Mistério EXU
Ex
EXU
MISTÉRIO
EXU
PALETA COR
Ex
EXU
M ISTÉ RIO E X U
CAPÍTULO 1
ORIXÁ EXU
Para o estudo do Orixá Exu, em sua origem cultural,
ou seja em sua raiz africana, na cultura Nagô de lín-
gua Yorubá, vamos recorrer a Pierre Verger, que foi o
primeiro a publicar um estudo sério e coerente, com
profundidade, sobre os Orixás Africanos. Divindades
cultuadas em várias Nações da Cultura Nagô, que
hoje correspondem á região da atual Nigéria e parte
da Republica do Benin.
Os textos abaixo fazem parte dos livros Orixás – Pierre
Fatumbi Verger (Ed. Corrupio, 2002 - Tradução de Maria
Aparecida da Nóbrega) e Notas Sobre o Culto aos Orixás
e Voduns, de Pierre verger. Não se esqueça de que Ver-
ger está se referindo a forma como é entendido o Orixá
Exu no Culto de Nação – na África. Ainda é importante
lembrar que com este texto podemos ter uma idéia, mas
que a compreensão mais abrangente implica em anos
de estudo de assunto tão complexo que envolve uma
cultura de valores muito diferentes dos nossos.
Também é importante ressaltar que os ensinamentos
sobre os Orixás na Cultura Nagô-Yorubá são transmiti-
dos por meio de mitos e lendas, criando toda uma mi-
tologia, que assim como a grega ou outras mitologias
apresentam suas divindades de forma muito humanas,
retratadas em um contexto que nos leva as situações
corriqueiras e até profanas com que nos deparamos.
Estas situações visam nos orientar na solução dos
problemas nossos e apresentar qual orixá pode nos
auxiliar em cada questão dependendo de seus êxitos
e vitórias apresentados na lendas. Quando se diz que
um orixá briga com outro não é um fato que se está
referindo mas uma forma de contar de forma marcante
quem é vencedor em tal questão, quem é o herói para
nos auxiliar em algo.
Antes de entrar no assunto, propriamente dito, veja-
mos o que pode-se entender por Mito, na palavra de
José Severino Croatto:
O mito é o relato de um acontecimento originário, no
qual os deuses agem e cuja finalidade é dar sentido a
uma realidade significativa.1
CAPÍTULO 2
Por isso, se diz que “na Umbanda, sem Exu não se faz
nada”, o que não se limita a ele apenas, pois é Exu que
abre a porta de comunicação deste mundo para outro
mundo, entre o ayê (a terra) e o orun (o céu).
Quanto aos dois amigos, o orgulho de uma amizade
também pode ser elemento da vaidade humana que é
colocada em xeque quando é questionada a verdade
de cada um. Estar certo ou ter razão segundo o ego
de cada um muitas vezes é colocado acima da harmo-
nia do conjunto.
Quanto às lendas, são metáforas e cabe a nós, inter-
pretar e compreender o seu simbolismo.
ALUMAN E A SECA
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma
grande seca.
Seus campos estavam áridos, a chuva não caía.
As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam co-
bertos de folhas mortas caídas das árvores. Nenhum
orixá invocado escutou suas queixas e gemidos. Alu-
man decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços
de carne de bode. Exu comeu com apetite desta ex-
celente oferenda. Só que Aluman havia temperado a
carne com molho muito apimentado. Exu teve sede.
Uma sede tão grande que toda a água de todas as
jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas
casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua
sede! Exu foi à torneira da chuva e abria sem pena. A
chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu
no dia seguinte e no dia depois, sem parar. Os campos
de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos de
Aluman cantaram sua gloria.
Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode
com o tempero no ponto certo da pimenta.
Havia chovido bastante. Mais seria desastroso! Pois,
em todas as coisas, o de-mais é inimigo do bom.
M ISTÉ RIO E X U
EXÚ E OGÃ
Exú sempre foi o mais alegre e comunicativo de todos
os orixás. Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre ou-
tras funções, a de comunicador e elemento de ligação
entre tudo o que existe. Por isso, nas festas que se re-
alizavam no orun (céu), ele tocava tambores e cantava,
para trazer alegria e animação a todos. Sempre foi as-
sim, até que um dia os orixás acharam que o som dos
tambores e dos cânticos estavam muito altos, e que
não ficava bem tanta agitação. Então, eles pediram a
Exú, que parasse com aquela atividade barulhenta,
para que a paz voltasse a reinar.
Assim foi feito, e Exú nunca mais tocou seus tambores,
respeitando a vontade de todos.Um belo dia, numa
dessas festas, os orixás começaram a sentir falta da
alegria que a música trazia. As cerimônias ficavam
muito mais bonitas ao som dos tambores. Novamen-
te, eles se reuniram e resolveram pedir a Exú que vol-
tasse a animar as festas, pois elas estavam muito sem
vida.Exú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito
ofendido quando sua animação fora censurada, mas
prometeu que daria essa função para a primeira pes-
soa que encontrasse.
Logo apareceu um homem, de nome Ogan. Exú con-
fiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânti-
cos para animar todas as festividades dos orixás. E,
daquele dia em diante, os homens que exercessem
esse cargo seriam respei-tados como verdadeiros pais
e denominados Ogans.
Laroyê!
CAPÍTULO 3
A CRIAÇÃO E GERAÇÃO DOS ORIXÁS
Por Rubens Saraceni
O NASCIMENTO DE EXU
Olorum, que cria e gera o tempo todo, havia individu-
alizado as faculdades geradoras de suas criações. E,
depois de feito isso, continuou a gerar nelas, só que,
daí em diante, o que cada matriz gerava ficava dentro
da realidade que ela era em si mesma.
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A GERAÇÃO DE OXALÁ
Já revelamos como se deu a geração de Exu, mas,
como Olorum, ao gerar algo em uma de suas matri-
zes, gera esse mesmo algo em todas as outras, se na
sua matriz geradora do vazio Exu havia sido gerado,
nas outras, outros Orixás também haviam sido.
E Olorum gerou na sua matriz geradora das matrizes
geradoras um Orixá que aqui na Terra, quando surgiu
o seu culto, recebeu o nome de Oxalá.
Exu havia sido gerado na matriz geradora do vazio, e
Oxalá havia sido gerado no âmago da matriz geradora
de matrizes.
Dois Orixás opostos em muitos aspectos, pois, se Exu
reinava feliz no vazio à volta de Olorum; Oxalá, ao ser
gerado no âmago da matriz geradora de matrizes, ha-
via sido gerado no âmago da plenitude, pois, de certa
forma, sua matriz geradora gerava tudo.
E, por ter tudo à sua volta, pois vivia no centro gera-
dor da plenitude existente no interior de Olorum, Oxa-
lá sentia-se pleno em todos os sentidos e vivia feliz e
contente no âmago da matriz que o havia gerado.
Oxalá, de onde se encontrava, contemplava a pleni-
tude existente em Olorum e sorria feliz e contente, e
esse seu sorriso alegrava Olorum, que não se cansava
de contemplá-lo, sempre contente e feliz!
Mas, como os outros Orixás começavam a sair do
âmago de suas matrizes geradoras e deslocarem-se
pelo todo existente em Olorum, este ordenou a Oxa-
lá que também saísse para conhecer seus irmãos e
irmãs, todos gerados no seu pensar quando ele quis
animar o vazio existente no seu lado de fora.
Oxalá sempre respondia que estava contente e feliz ali
mesmo, e que gostaria de permanecer dentro de sua
matriz geradora por toda a eternidade.
– Mas você tem muitos irmãos e irmãs, cada um deles
unigênito, pois cada um foi o único gerado por mim
nas suas matrizes geradoras, Oxalá! Saia de sua ma-
triz geradora e venha conhecê-los, meu filho!
– Papai, diga a eles para virem até aqui, assim todos
eles me conhecerão e a todos conhecerei!
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em si mesmo.
Oxalá pensou, pensou e pensou! E tanto Oxalá pen-
sou, que se tornou um pensar em si mesmo; e seu
pensar tornou-se pensamento puro e sua mente al-
cançou o âmago de Olorum, que é pensamento puro
e puro pensar.
No seu pensar, Oxalá transcendeu a si mesmo, à ma-
triz geradora de matrizes que o gerara, e alcançou o
âmago de Olorum, o seu pai e seu criador que o criara
no seu pensar e o gerara em sua matriz geradora da
plenitude, que era ele em si mesmo. No âmago do
pensamento de Olorum, pensou, pensou e pensou. E
tanto pensou que se tornou o pensamento de Olorum,
e ambos passaram a pensar juntos, e os dois pensa-
res tornaram-se um só pensamento.
E Olorum pensava por meio de Oxalá e este pensava
em Olorum.
O filho unigênito retornava ao âmago de seu pai por
meio do ato de pensar. E ali Oxalá permaneceu por um
longo tempo, até que pensou isso:
“Eu sou fruto do pensamento! Eu sou o próprio ato de
pensar! Eu sou o pensamento puro que, em si mesmo
gera tantas alternativas que não há uma que não pos-
sa ser pensada.
No âmago do meu pai, eu sou o meu pai, e o meu pai
realiza-se em mim, pois todo filho é fruto do seu pai.
Pai e filho são a mesma coisa, ainda que o filho tenha
sido criado no pensar do seu pai, este está por inteiro
nele, pois traz em si o pensamento que o criou. O meu
pai está por inteiro em mim e eu sou parte indissociada
do meu pai. Em mim, o meu pai é Oxalá, mas, no meu
pai, eu sou Olorum!... meu pai!”
Então Olorum, com Oxalá de volta ao pensar que o
gerara, falou:
– Meu filho, esta é a verdade suprema, fruto do meu
pensamento! Quando todos atinarem com ela, ninguém
se sentirá fora de mim porque eu estou em cada uma
das coisas que eu pensei e gerei. Elas estão em mim e
eu estou em todas elas, amado filho pensador!
Oxalá, que era só pensamento, falou ao seu pai Olorum:
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CAPÍTULO 4
A SAÍDA DOS ORIXÁS
Por Rubens Saraceni
– Vou, Exu.
– Você não quer seguir por um caminho alternativo
que é mais curto?
– Caminho alternativo? Que caminho é esse?
– É um atalho, um desviozinho! Mas leva até ele do
mesmo jeito, certo?
– Errado, Exu! Atalhos ou desviozinhos podem levar a
mui-tos lugares, mas nunca levarão alguém até Oxalá
ou qual-quer outro lugar, pois todos eles levam aos
seus domínios, que estão localizados no vazio. Isso
sim, é certo!
– Tudo bem que isso é certo. Mas uma passadinha
nos meus domínios não faz mal a ninguém, sabe?
– Não sei e não quero saber. Quem quiser que siga
seus convites. Vamos?
– Vamos para onde?
– Ao encontro de Oxalá, oras!
– Não, não!
– Por que não?
– Esse caminho que leva a Oxalá é muito reto, é retís-
simo mesmo! E Exu só trilha caminhos tortos ou tortu-
osos, sei lá!
– Até a vista, Exu!
Ogum seguiu o caminho que conduzia até Oxalá. Logo
chegou onde ele estava. Após saudá-lo cruzando o
solo e o espaço à frente dele, levantou-se e os dois
abraçaram-se.
Então ficaram no aguardo da chegada dos outros Ori-
xás que não demoraram a chegar. E quando passou
muito tempo sem mais nenhum outro aparecer, ini-
ciaram suas funções de poderes criadores na mora-
da exterior do nos-so Divino Criador, gerando essas e
muitas outras lendas sobre eles, que contaremos em
outro livro.
Texto extraído do livro Lendas da Criação - A saga dos
Orixás de Rubens Saraceni, Editora Madras.
CAPÍTULO 5
EXU,
VAZIO ABSOLUTO OXALÁ,
ESPAÇO INFINITO
Por Rubens Saraceni
M ISTÉ RIO E X U
sim ao primeiro.
O ato de despachá-lo para fora do templo fundamen-
ta-se no fato de que, se ele está presente dentro do
templo, com ele está o seu “vazio absoluto”, no qual
nada existe. Então, é pre-ciso despachá-lo e assen-
tá-lo no exterior do templo, para que outro estado se
estabeleça e permita que tudo aconteça.
Avançando um pouco mais na interpretação das ne-
cessidades primordiais para que tudo pudesse ser “ex-
teriorizado” por Deus, como no “vazio absoluto” (Exu)
não havia como se sustentar em alguma coisa, eis que,
após esse pri-meiro estado da criação, Olorum mani-
festou o seu segundo estado: o “estado do espaço”!
• O vazio absoluto é a au-sência de algo.
• O espaço é a presença de um estado.
Deus criou o espaço “em cima” do vazio absoluto.
Logo, se antes só havia o vazio absoluto, o espaço
foi criado dentro dele, e, à medida que o espaço foi se
ampliando, o vazio absoluto foi distendendo-se ao in-
finito para abrigá-lo e permitir-lhe ampliar-se cada vez
mais, de acordo com as necessidades da mente cria-
dora de Olorum. Aqui, já entramos na genealogia (no
nascimento) dos Orixás e em uma teogonia a partir
dos estados da criação.
Esse segundo estado (o espaço) dentro do primeiro (o
vazio absoluto) criou uma base que se amplia segundo
as necessidades do Criador, e começa a nos mostrar os
Orixás como estados da criação, pois se Exu é o vazio
absoluto, o Orixá que é em si o espaço se chama Oxalá.
Sim, Oxalá é o espaço infinito porque é capaz de conter
todas as criações da mente divina do nosso Divino Criador.
Porém, o que nos levou à conclusão de que Oxalá é em
si o mistério do “espaço infinito”? Ora, o mito revela-nos
que Olorum confiou-lhe a função de sair do seu interior e
começar a criar os mundos e os seres que os habitariam.
Como algo só pode ser criado se houver um espaço
onde possa ser “acomodado” e antes só havia “vazio
absoluto” à volta de Olorum, assim que Oxa-lá saiu (foi
manifestado), com ele saiu seu estado (espaço infini-
to), que se expandiu ao infinito dentro do vazio.
O espaço não é maior ou menor que o vazio, porque
são estados, mas ambos são bem definidos:
M ISTÉ RIO E X U
#EUSOUUMBANDA