Mistério EXU

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Ex
EXU

MISTÉRIO
EXU
PALETA COR

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Ex
EXU
M ISTÉ RIO E X U

CAPÍTULO 1

ORIXÁ EXU
Para o estudo do Orixá Exu, em sua origem cultural,
ou seja em sua raiz africana, na cultura Nagô de lín-
gua Yorubá, vamos recorrer a Pierre Verger, que foi o
primeiro a publicar um estudo sério e coerente, com
profundidade, sobre os Orixás Africanos. Divindades
cultuadas em várias Nações da Cultura Nagô, que
hoje correspondem á região da atual Nigéria e parte
da Republica do Benin.
Os textos abaixo fazem parte dos livros Orixás – Pierre
Fatumbi Verger (Ed. Corrupio, 2002 - Tradução de Maria
Aparecida da Nóbrega) e Notas Sobre o Culto aos Orixás
e Voduns, de Pierre verger. Não se esqueça de que Ver-
ger está se referindo a forma como é entendido o Orixá
Exu no Culto de Nação – na África. Ainda é importante
lembrar que com este texto podemos ter uma idéia, mas
que a compreensão mais abrangente implica em anos
de estudo de assunto tão complexo que envolve uma
cultura de valores muito diferentes dos nossos.
Também é importante ressaltar que os ensinamentos
sobre os Orixás na Cultura Nagô-Yorubá são transmiti-
dos por meio de mitos e lendas, criando toda uma mi-
tologia, que assim como a grega ou outras mitologias
apresentam suas divindades de forma muito humanas,
retratadas em um contexto que nos leva as situações
corriqueiras e até profanas com que nos deparamos.
Estas situações visam nos orientar na solução dos
problemas nossos e apresentar qual orixá pode nos
auxiliar em cada questão dependendo de seus êxitos
e vitórias apresentados na lendas. Quando se diz que
um orixá briga com outro não é um fato que se está
referindo mas uma forma de contar de forma marcante
quem é vencedor em tal questão, quem é o herói para
nos auxiliar em algo.
Antes de entrar no assunto, propriamente dito, veja-
mos o que pode-se entender por Mito, na palavra de
José Severino Croatto:
O mito é o relato de um acontecimento originário, no
qual os deuses agem e cuja finalidade é dar sentido a
uma realidade significativa.1

1 José Severino Croato, As Linguagens da Experiência Religiosa, Ed. Paulinas,


2004. p.209
M ISTÉ RIO E X U

Joseph Campbell, o maior mitólogo de todos os tempos,


no titulo Tu és Isso, define Mito como uma Metáfora. Usa
como exemplo “John corre como um veador em tal, e faz
a seguinte reflexão:
Metade da população mundial acha que as metáforas
de suas tradições religiosas, por exemplo, são fatos.
E a outra metade afirma que não são fatos, de forma
alguma. O resultado é que temos indivíduos que se
consideram fiéis porque aceitam as metáforas como
fatos, e outros que se julgam ateus porque acham que
as metáforas religiosas são mentiras.2
Continuando com Campbell, no titulo Mitos de Luz3
vamos encontrar mais uma reflexão importante sobre
mito, para o entendimento do “Mito na Umbanda”:
Mitos não pertencem, propriamente, á mente racional.
Em vez disso, borbulham das profundezas do poço
daquilo que Carl Jung chamava inconsciente coletivo.
Na minha opinião, o que ocorre com a nossa mitolgia
aqui no Ocidente é que os símbolos arquetípicos mito-
lógicos vieram a ser interpretados como fatos. Jesus
nasceu de uma virgem. Jesus ressuscitou dos mortos.
Jesus subiu ao Céu. Infelizmente, em nossa era de ce-
ticismo cientifico, sabemos que, na verdade, tais fatos
não aconteceram e, por essa razão, formas míticas são
consideradas mentiras. O termo mito significa atual-
mente mentira e, assim sendo, acabamos perdendo os
símbolos e o mundo misterioso de que falam [...] (p.19)
A mitologia é composta pelos poetas a partir de seus
insights e percepções. Mitologias não são inventadas,
são descobertas. É mais fácil prever que sonho se vai ter
hoje à noite do que inventar um mito. Os mitos provêm
da região mística da experiência essencial [...] (p.21)
Vamos encontrar nas religiões e ordens místico-filo-
sóficas os mais variados tipos de “Mitos Fundantes”,
como o mito de Adão e Eva para as três grandes reli-
giões monoteístas, ocidentais (Judaísmo, Cristianismo
e Islamismo); o mito de Olorun e Oxalá na cultura Yo-
rubá; o mito de Urano, Cronos e Zeus na cultura gre-
ga; o mito de Aton, Ptah e Amon na Cultura Egípcia e
outros mais, cada religião possui seus mitos para lhe
dar sentido.

2 Joseph Campbell. Tu és Isso Ed. Madras, 2003. pp.24-25


3 Joseph Campbell. Mitos de Luz Ed. Madras, 2006
ORIXÁS
OS ORIXÁS NA ÁFRICA
Por Pierre Verger

O termo “Orixá” nos parecera outrora relativamente


simples, da maneira como era definido nas obras de
alguns autores que se copiaram uns aos outros sem
grande discernimento, na segunda metade do século
passado e nas primeiras décadas deste. Porém, es-
tudando o assunto com mais profundidade, consta-
tamos que sua natureza é mais complexa. Léo Frobe-
nius é o primeiro a declarar, em 1910, que “a religião
dos iorubás tal como se apresenta atualmente só gra-
dativamente tornou-se homogênea. Sua uniformidade
é o resultado de adaptações e amálgamas progressi-
vos de crenças vindas de várias Direções”. Atualmen-
te, setenta anos depois, ainda não há, em todos os
pontos do território chamado Iorubá, um panteão dos
orixás bem hierarquizado, único e idêntico. As varia-
ções locais demonstram que certos orixás, que ocu-
pam uma posição dominante em alguns lugares, estão
totalmente ausentes em outros. O culto de Xangô, que
ocupa o primeiro lugar em Oyó, é oficialmente inexis-
tente em Ifé, onde um deus local, Oramfé, está em seu
lugar com o poder do trovão. Oxum, cujo culto é muito
marcante na região de Ijexá, é totalmente ausente na
região de Egbá. Iemanjá, que é soberana na região
de Egbá, não é sequer conhecida da região de Ije-
xá. A posição de todos estes orixás é profundamente
dependente da história da cidade onde figuram como
protetores Xangô era, em vida, o terceiro rei de Oyó.
Oxum, em Oxogbô, fez um pacto com Larô, o fun-
dador da dinastia dos reis locais, e em conseqüência
a água nessa região é sempre abundante. Odudua,
fundador da cidade de Ifé, cujos filhos tornaram-se
reis das outras cidades iorubás, conservou um caráter
mais histórico e até mesmo mais político que divino.
Veremos mais adiante que as pessoas encarregadas
de evocar Odudua não entram em transe, o que des-
taca seu caráter temporal...
[...] A religião dos orixás está ligada à noção de família.
A família numerosa, originária de um mesmo antepassa-
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do, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria, em


princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabe-
lecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre cer-
tas forças da natureza, como o travão, o vento, as águas
doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possi-
bilidade de exercer certas atividades como a caça, o tra-
balho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento
das propriedades das plantas e de sua utilização...
[...] O orixá é uma força pura, axé imaterial que só se
torna perceptível aos seres humanos incorporando-
se em um deles. Esse ser escolhido pelo orixá, um
de seus descendentes, é chamado seu elégùn, aquele
que tem o, privilégio de ser “montado”, gùn, por ele.
Torna-se o veículo que permite ao orixá voltar a terra
para saudar e receber as provas de respeito de seus
descendentes que o evocaram.
Os elégùn muitas vezes são chamados iyawóòrìxà (iaô),
mulher do orixá. Este termo tanto se aplica aos homens
quanto às mulheres e não evoca uma idéia de união ou
de posse carnal, mas a de sujeição e de dependência...

(VERGER, Ed. Corrupio, 2002)


ORIXÁ EXU
EXU ELEGBARÁ
ÉSÚ ELÉGBÁRA
Ésú na África

Como personagem histórica, Exu teria sido um dos


companheiros de Odùduà, quando da sua chegada a
Ifé, e chamava-se Èsù Obasin. Tornou-se, mais tarde,
um dos assistentes de Orunmilá, que preside a adivi-
nhação pelo sistema de Ifá. Segundo Epega, Exu tor-
nou-se rei de Kêto sob o nome de Èsù Alákétu.
É Exu que supervisiona as atividades do mercado do
rei em cada cidade: o de Oyó é chamado Èsù Akesan.
Como orixá, diz-se que ele veio ao mundo com um
porrete, chamado ogó, que teria a prioridade de trans-
portá-lo, em algumas horas, a centenas de quilôme-
tros e de atrair, por um poder magnético, objetos situ-
ados a distâncias igualmente grandes.
Exu é o guardião dos templos, das casas, das cidades
e das pessoas.
Ele é representado por uma estátua, enfeitada com fiei-
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ras de búzios, tendo em suas mãos pequenas cabaças


(àdò), contendo os pós por ele utilizados em seus traba-
lhos. Seus cabelos são presos numa longa trança, que
cai por trás e forma, em cima, uma crista para esconder
a lâmina da faca que ele tem no alto do crânio. Isso por
sinal, é dito em uma de suas saudações:
“Sonso abè kò lòri erù”.
[“A lâmina (sobre a cabeça) é afiada, ele não tem (pois)
cabeça para carregar peso”.
“ Sentado, sua cabeça bate no teto; de pé, não atinge
nem mesmo a altura do fogareiro”.

CAPÍTULO 2

ALGUMAS LENDAS E MITOS DE EXU


Por Alexandre Cumino
EXU E OS DOIS AMIGOS,

Dois amigos se orgulhavam muito de sua amizade e


lealdade, eram vizinhos.
Viviam bem, mas não realizavam oferenda a Exu.
Certa tarde, se encontravam os dois, como de cos-
tume, conversando nos limites de sua propriedade,
quando Exu passou por entre eles, usando um cha-
péu metade branco e metade vermelho. Estranhando
aquela figura entre eles, um comentou com outro:
- Muito estranho aquele homem de chapéu vermelho.
- Chapéu vermelho, não. O chapéu era branco.
E assim passaram a discutir a cor do chapéu entrando
em briga e inimizade. Muitas vezes Exu parece ser “o
espírito de porco” na mitologia nagô-yorubá, mas o
que não nos damos conta é que ele vem para mexer e
cutucar o nosso ego.
O fato dos homens não fazerem oferenda a exu diz
muito a seu respeito, pois quem não oferenda exu, não
oferenda a ninguém, que passa uma idéia de auto-su-
ficiência com relação ao sagrado.
Exu nos lembra o tempo todo que vivemos em so-
ciedade e precisamos uns dos outros, para um bem
viver, já que o ser humano é um ser relacional, que não
existe fora da malha dos relacionamentos.

4 Este “lugar consagrado” é onde se faz firmeza ou assentamento, Yangi é a pedra de


Laterita Vermelha, original da África
M ISTÉ RIO E X U

Por isso, se diz que “na Umbanda, sem Exu não se faz
nada”, o que não se limita a ele apenas, pois é Exu que
abre a porta de comunicação deste mundo para outro
mundo, entre o ayê (a terra) e o orun (o céu).
Quanto aos dois amigos, o orgulho de uma amizade
também pode ser elemento da vaidade humana que é
colocada em xeque quando é questionada a verdade
de cada um. Estar certo ou ter razão segundo o ego
de cada um muitas vezes é colocado acima da harmo-
nia do conjunto.
Quanto às lendas, são metáforas e cabe a nós, inter-
pretar e compreender o seu simbolismo.

EXU GANHA O PODER SOBRE


AS ENCRUZILHADAS
Exu não tinha Riqueza, não tinha fazenda, não tinha
Rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão.
Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro. Então
um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ia a Casa de Oxalá todo os dias. Na casa de Oxalá, Exu
se distraía, vendo o velho fabricando seres humanos.
Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali fi-
cavam pouco, quatro dias, oito dias, e nada aprendiam.
Traziam oferendas, viam velho orixá, apreciavam sua
obra e partiam.
Exu ficou na casa de Oxalá dezesseis anos. Exu pres-
tava muita atenção na modelagem e aprendeu como
Oxalá fabricava as mãos, os pés, a boca, os olhos,
o pênis dos homens, aos mãos, os pés, a boca, os
olhos, a vagina das mulheres.
Durante dezesseis anos ali ficou ajudando o velho orixá.
Exu não perguntava.
Exu observava.
Exu prestava atenção. Exu aprendeu tudo.
Um dia Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzi-
lhada por onde passavam os que vinham à sua casa.
Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxes-se
uma oferenda a Oxalá. Cada vez mais havia humanos
para Oxalá fazer. Oxalá não queria perder tempo reco-
lhendo os presentes que todos lhe ofereciam.
Oxalá nem tinha tempo para as visitas.
Exu tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxa-
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lá Exu coletava os ebós para Oxalá. Exu recebia as


oferendas e as entregas a Oxalá. Exu fazia bem o seu
trabalho e Oxalá decidiu recompensá-lo. Assim, quem
viesse à casa de Oxalá teria que pagar também algu-
ma coisa a Exu.
Quem estivesse voltando da casa de Oxalá também
pagaria alguma coisa a Exu. Exu mantinha-se sempre
a postos guardando a casa de Oxalá.
Armado de um Ogó, poderoso porrete, afastava os in-
desejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilân-
cia. Exu trabalhava demais e fez ali a sua casa, ali na
encruzilhada. Ganhou uma rendosa profissão, ganhou
seu lugar, sua casa.
Exu ficou rico e poderoso. Ninguém pode mais passar
pela encruzilhada sem pagar alguma coisa a Exu.
Fonte: Reginaldo Prandi, Mitologia dos Orixás. Editora
Companhia das Letras, 2001, pp 40.
EXU, O FILHO FAMINTO DE ORUNMILÁ
“Um dia Orunmilá foi procurar Oxalá em seu palácio.
Orunmilá e sua mulher queriam ter um filho.
Chegando ao palácio de Oxalá, Orunmilá encontrou
Exu Yangui sentado à esquerda da entrada principal.
Já dentro do palácio, e diante do velho rei, Orunmilá fez
seu apelo, escutando de Oxalá uma resposta negativa.
O velho rei afirmou-lhe que ainda não era tempo da
chegada de um filho. Orunmilá, insatisfeito e ao mes-
mo tempo curioso, perguntou à Oxalá quem era aque-
le menino sentado à porta do palácio e pediu ao rei, se
poderia levá-lo como filho. Oxalá garantiu-lhe que não
era o filho ideal de se ter, ao que Orunmilá insistiu tanto
em seu pedido que obteve a graça de Oxalá.
Tempos depois nasceu Exu, filho de Orunmilá. Para
espanto dos pais, nasceu falando e comendo tudo
que estava a sua volta, acabando por devorar a pró-
pria mãe. Exu aproximou-se de Orunmilá para também
comê-lo, entretanto o adivinho tinha consigo uma es-
pada e enfurecido partiu para matar o filho. Exu fugiu,
sendo perseguido por Orunmilá, que a cada espaço
do céu alcançava-o, cortando Exu em duzentos e um
pedaços. A cada encontro, o ducentésimo primeiro pe-
daço transformava-se novamente em Exu. Assim termi-
naram por atingir o último espaço sagrado e, como não
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tinham mais saída, resolveram entrar num acordo.


Exu devolveu tudo o que havia comido, inclusive sua
mãe, em troca seria sempre saudado primeiro em to-
dos os rituais”.

ODU OGBE - OGUNDA


1° Lenda de Ifa
Do Livro: Poemas de Ifa e Valores de Conduta Social
Entre os Yorubás da Nigéria
Autor Prof. King (África do Oeste) Pág. 219.
Orientador: Prof. Dr. Fábio de Rubens da Rocha Leite.

Gbengbeleku adivinhou onde quis.


Foi feito um jogo divinatório para Igun, primogênito de
Eledunmare, no dia em que adoeceu e a preocupação
de seu pai era curá-lo.
Igun, primogênito de Eledunmare, que é Agotun, aque-
le que faz da chuva uma fonte de riqueza.
Eledunmare fez tudo o que pôde, sem sucesso. Cansa-
do, abriu-lhe a porta do aye para que ele fosse morar lá.
Toto Ibara foi quem adivinhou para Orunmilá quando
este lamentava sua falta de sorte na vida. Ele foi con-
sultar seu adivinho para saber se teria dinheiro para
poder criar os filhos, para poder ter um lar.
Por essa razão foi consultar Ifá. Seus adivinhos o acon-
se-lharam a fazer um ebó com cinco galinhas. Fazen-
do esse ebó, no quinto dia toda a riqueza desejada
chegaria ás suas mãos.
As galinhas deveriam ser sacrificadas a seu Eleda, uma
a uma, diariamente, até completar cinco dias. Cada
galinha sacrificada teria as vísceras retiradas e colo-
cadas numa cabaça, cobertas com azeite de dendê e
levadas a uma encruzilhada. O resto da galinha pode-
ria ser consumido por ele e sua família. A caminho da
encruzilhada onde seria entregue a oferenda, deveria
ir cantando alto: que a sorte venha a mim, que a sorte
venha a mim! Até chegar à encruzilhada onde seria
entregue a oferenda. Esse ritual deveria prosseguir por
cinco dias.
Orunmilá fez conforme o orientado. Assim, ele come-
çou a fazer o ebó. Sacrificava as galinhas e levava suas
vísceras para a encruzilhada. Lá chegando, deposita-
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va a oferenda e despejava azeite de dendê por cima.


Depois de colocar azeite de dendê começava a rezar
pedindo que a sorte chegasse pra ele.
Havia um mato em frente à encruzilhada onde Orun-
mi-lá entregava as oferendas e ali vivia Igun, o filho de
Eledunmare. Assim que Orunmilá deixava os ebós e
saía dali, Igun ia lá e comia a oferenda.
Igun, filho de Eledunmare, tinha cinco doenças: uma
na cabeça, outra nos braços, outra no peito. Nas cos-
tas tinha uma corcunda e era aleijado dos pés.
No primeiro dia em que comeu a oferenda de Orunmi-
lá, viu-se curado do problema que tinha na cabeça e
surpreendeu-se. No dia seguinte, Orunmilá levou no-
vamente seu ebó à encruzilhada repetindo os mesmos
rituais, sem saber que alguém comia sua oferenda. As-
sim que Orunmilá saiu da encruzilhada Igun foi lá e co-
meu de novo a oferenda. Os dois braços de Igun que
não se esticavam, depois de ter ele comido a oferen-
da, se esticaram. No terceiro dia Orunmilá continuou
o seu processo, levando sua oferenda à encruzilhada.
Mal terminaria de colocar o ebó na encruzilhada Igun
foi lá e comeu dessa oferenda. O peito de Igun, que
era inchado, desinchou assim que acabou de comer:
No quarto dia, Orunmilá levou seu ebó à encruzilhada,
cantando: que a sorte venha a mim, que a sorte venha
a mim! Mal terminara de colocar o ebó na terra Igun
foi lá novamente e o comeu. Assim que acabou de
comer, a corcunda que havia em suas costas desa-
pareceu. No quinto dia Orunmilá levou sua oferenda à
encruzilhada para completar os rituais.
No caminho ia cantando o mesmo refrão dos dias an-
teriores. Mal terminara de colocar o ebó na terra Igun
foi lá novamente e o comeu. Na manhã do sexto dia
seus dois pés aleijados haviam adquirido vitalidade e
ele passou a andar sem dificuldade. Começou a cami-
nhar por todos os cantos.
E foi assim que ele se curou de todas as suas doenças.
Impressionado com esses fatos Igun levantou-se e foi
ao orun para encontrar-se com Eledunmare. Este, logo
percebeu que o filho estava curado e lhe perguntou
quem o curara.
Igun relatou todo o ocorrido a Eledunmare, disse-lhe
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que quem entregava as oferendas era Orunmilá e


acrescentou que sempre que Orunmilá levava ebó a
encruzilhada ele entoava o refrão – Que a sorte venha
a mim! Que a sorte venha a mim!
Eledunmare disse a Igun que presentearia essa pes-
soa com riquezas. Pegou então os quatro ado (dons,
graças) e os deu a Igun para que os levasse a Orun-
milá, no aye. Igun disse a Eledunmare que não sabia
chegar à casa de Orunmilá e o pai o orientou dizendo
que, assim que chegasse ao aye, perguntasse às pes-
soas e elas lhe indicaram o caminho. Antes de Igun
sair do orun Eledunmare recomendou que Orunmilá
poderia escolher apenas um dos quatro ado e Igun
deveria trazer de volta os três restantes – o ado da ri-
queza, dinheiro e prosperidade, o ado da fertilidade, o
ado da longevidade e o ado da paciência.
Igun voltou para o aye trazendo os quatro ado. Ao che-
gar, foi à casa de Orunmilá e lá, mostrou a ele os quatro
ado. Orunmilá se surpreendeu muito. Perplexo, em dú-
vida quanto ao que fazer, mandou chamar os filhos a fim
de lhes pedir conselho sobre qual dos quatro escolher.
Os filhos o aconselharam a escolher o ado da longevi-
dade para que vivesse muito. Orunmilá chamou então
suas esposas a fim de lhes pedir conselho sobre qual
dos quatro deveria escolher. As esposas o aconselha-
ram a escolher ado da fertilidade para que pudessem
ter muitos filhos. Orunmilá chamou seus irmãos a fim
de lhes pedir conselho sobre qual dos quatro deveria
escolher. Os irmãos aconselharam a escolher o ado da
prosperidade para que pudessem ter muita riqueza e
dinheiro. Orunmilá mandou chamar seu melhor amigo.
Esse melhor amigo era Exu. Quando Exu chegou à sua
casa, Orunmilá relatou-lhe o ocorrido e lhe pediu con-
selho quanto á escolha que deveria fazer. Exu, homem
hábil, fez as seguintes perguntas a Orunmilá: - Teus
filhos te aconselharam a escolher qual ado?
Orunmilá respondeu:
– O da longevidade.
Exu lhe disse para não escolher esse lado porque não
há uma única pessoa que tenha vencido a morte e lem-
brou que, por mais tempo que se viva, se morre um dia.
Exu perguntou então:
M ISTÉ RIO E X U

– E tuas esposas te aconselharam a escolher qual ado?


Orunmilá respondeu:
– O da fertilidade.
Exu lhe disse para não escolher esse ado porque Orun-
mi-lá já tivera filhos, perguntou-lhe de novo:
– E teus irmãos? Te aconselharam a escolher qual ado?
Orunmilá respondeu:
– O da prosperidade.
Exu lhe disse pra não escolher esse ado porque se ficas-
se rico eliminaria a pobreza da família. E acrescentou que
se seus irmãos quisessem prosperar deveriam trabalhar.
Orunmilá perguntou então a Exu qual dos ado deve-
ria escolher. E Exu lhe disse para escolher o ado da
paciência porque sua paciência era insuficiente para
permitir que chegasse onde desejava. Caso Orunmilá
seguisse de fato o conselho e escolhesse o ado da
paciência, todos os ado restantes seriam seus. Orun-
milá aceitou a orientação de Exu. Escolheu o ado da
paciência e devolveu a Igun os três restantes.
Nem os filhos nem as esposas, nem os irmãos ficaram
felizes com sua escolha.
Igun partiu então, de volta, levando consigo os três ado
restantes para devolvê-lo a Eledunmare. Mal andara
um pouco com eles o ado da riqueza lhe perguntou:
– Onde está Paciência?
Igun respondeu que ela ficara na casa de Orunmilá Ri-
queza disse a Igun que voltaria para ficar com Paciên-
cia porque só fica onde ela está. Igun lhe disse que isso
era inaceitável e que Riqueza deveria retornar com ele
ao orun. Riqueza insistiu que só fica onde há paciência
e que, por isso, não tinha porque retornar ao orun. Em
pouco tempo, desapareceu da mão de Igun e nesse
tempo foi juntar-se á Paciência na casa de Orunmilá.
Fertilidade também perguntou a Igun por Paciência.
Igun lhe respondeu que ela estava na casa de Orunmilá.
Fertilidade lhe disse que só fica onde há Paciência. As-
sim, Fertilidade levantou-se e procurou estar, em pouco
tempo, junto com Paciência na casa de Orunmilá.
Longevidade também perguntou a Igun onde estava Pa-
ciência. Igun lhe respondeu que ela estava na casa de
Orunmilá. Longevidade também foi se juntar a Paciência.
Quando Igun chegou ao orun Eledunmare lhe perguntou
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onde estavam os três ado restantes. Igun lhe respondeu


que retornara para contar a Eledunmare que todos os
ado haviam querido ficar junto com Paciência na casa de
Orunmilá. E que pretendia retornar ao aye para buscá-los
e trazê-los de volta ao orun. Eledunmare lhe disse que ele
não precisava ir buscar os três ado pois, de fato, todos
pertencem a quem escolher Paciência. Quem tiver pa-
ciência terá Longevidade, Fertilidade, Procriará e viverá
bem com o que procriar. E terá também riqueza.
Assim tudo transcorreu bem com Orunmilá e, com es-
sas graças, veio a ser rei de ketu. Procriou e viveu bas-
tante com esses ado. Teve tanta riqueza que construiu
casas pelo mundo.
Feliz por essas conquistas montou em seu cavalo e
cantou: Recebi o ado da riqueza, recebi o ado da fer-
tilidade, recebi o ado da longevidade, oh, recebi o ado
da paciência. Dançou e alegrou-se. Louvou seus adi-
vinhos e louvou também a Exu, o seu amigo.

ALUMAN E A SECA
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma
grande seca.
Seus campos estavam áridos, a chuva não caía.
As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam co-
bertos de folhas mortas caídas das árvores. Nenhum
orixá invocado escutou suas queixas e gemidos. Alu-
man decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços
de carne de bode. Exu comeu com apetite desta ex-
celente oferenda. Só que Aluman havia temperado a
carne com molho muito apimentado. Exu teve sede.
Uma sede tão grande que toda a água de todas as
jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas
casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua
sede! Exu foi à torneira da chuva e abria sem pena. A
chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu
no dia seguinte e no dia depois, sem parar. Os campos
de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos de
Aluman cantaram sua gloria.
Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode
com o tempero no ponto certo da pimenta.
Havia chovido bastante. Mais seria desastroso! Pois,
em todas as coisas, o de-mais é inimigo do bom.
M ISTÉ RIO E X U

EXÚ E OGÃ
Exú sempre foi o mais alegre e comunicativo de todos
os orixás. Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre ou-
tras funções, a de comunicador e elemento de ligação
entre tudo o que existe. Por isso, nas festas que se re-
alizavam no orun (céu), ele tocava tambores e cantava,
para trazer alegria e animação a todos. Sempre foi as-
sim, até que um dia os orixás acharam que o som dos
tambores e dos cânticos estavam muito altos, e que
não ficava bem tanta agitação. Então, eles pediram a
Exú, que parasse com aquela atividade barulhenta,
para que a paz voltasse a reinar.
Assim foi feito, e Exú nunca mais tocou seus tambores,
respeitando a vontade de todos.Um belo dia, numa
dessas festas, os orixás começaram a sentir falta da
alegria que a música trazia. As cerimônias ficavam
muito mais bonitas ao som dos tambores. Novamen-
te, eles se reuniram e resolveram pedir a Exú que vol-
tasse a animar as festas, pois elas estavam muito sem
vida.Exú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito
ofendido quando sua animação fora censurada, mas
prometeu que daria essa função para a primeira pes-
soa que encontrasse.
Logo apareceu um homem, de nome Ogan. Exú con-
fiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânti-
cos para animar todas as festividades dos orixás. E,
daquele dia em diante, os homens que exercessem
esse cargo seriam respei-tados como verdadeiros pais
e denominados Ogans.
Laroyê!

CAPÍTULO 3
A CRIAÇÃO E GERAÇÃO DOS ORIXÁS
Por Rubens Saraceni

O NASCIMENTO DE EXU
Olorum, que cria e gera o tempo todo, havia individu-
alizado as faculdades geradoras de suas criações. E,
depois de feito isso, continuou a gerar nelas, só que,
daí em diante, o que cada matriz gerava ficava dentro
da realidade que ela era em si mesma.
M ISTÉ RIO E X U

E, ainda que todas estivessem em Olorum, as suas


gerações já não se integravam ao todo indiferenciado
que ele é em si, mas sim, passaram a ser as partes do
todo, que é ele em si mesmo.
O que cada uma de suas matrizes gerava permane-
cia nelas, sendo que o que estava sendo gerado em
uma não sabia do que havia sido gerado em outra.
Cada uma expandia-se cada vez mais no interior de
Olorum, mas sem que se tocassem, porque cada uma
das matrizes geradoras era uma realidade dentro dele,
o senhor de todas as realidades.
Olorum, que tanto vê por fora quanto por dentro quan-
do contempla algo, contemplou-se e viu-se pleno in-
ternamente, mas não se viu por fora.
Então ele pensou, e no seu pensar gerou uma matriz
que imediatamente começou a gerar o seu exterior.
Mas, como tudo estava no seu interior, no exterior de
Olorum formou-se o vazio, gerado pela matriz pensa-
da por ele. E ela recebeu o nome de Matriz Geradora
do Vazio.
Mas, mais tarde, passou a ser chamada de Mãe Ge-
radora do Vazio e de Senhora do vazio existente no
exterior de Olorum.
Só que, como ela só gerava o vazio, ainda que fos-se
a matriz que o gerava, ela começou a sentir-se vazia.
E não adiantou Olorum comunicar-lhe que havia pen-
sado em ocupar o vazio gerado por ele com o que
estava gerando nas outras matrizes, pois ela insistia
que o vazio era seu e que ele deveria criar algo que o
preenchesse. Olorum pensou, pensou e pensou!
E no seu pensar, pensou uma solução, não só para a
sua matriz geradora do vazio à sua volta, como para
todas as outras, sobrecarregadas em suas realidades,
que não paravam de se expandir no interior dele.
Então, Olorum pensou para a sua matriz geradora
do vazio uma geração única, mas que a preencheria
totalmente.
E Olorum depositou em sua matriz modeladora o seu
pensamento, que logo gerou um ser único na criação,
ser esse que a preencheu parcialmente e que, aqui na
Terra, é chamado de Orixá Exu!
O Orixá Exu é fruto do desejo de sua matriz, geradora
M ISTÉ RIO E X U

do vazio, tornar-se plena em si mesma, e da vonta-


de de Olorum de torná-la geradora de algo mais que
Exu tem em sua ascendência divina Olorum, que é a
plenitude em si, e a matriz geradora do vazio, que é a
ausência dele no seu lado de fora.
E assim, daí em diante, sempre que Olorum contem-
plava a si mesmo, via no seu interior tudo o que todas
as suas matrizes haviam gerado e via no seu exterior o
vazio infinito, ocupado por Exu, que, por ter sido gera-
do na matriz modeladora da matriz geradora do vazio,
ora se sentia pleno e ora se sentia vazio.
Quando Exu se sentia pleno, gargalhava alegre e ale-
grava Olorum. Mas quando se sentia vazio, recolhia-
se ao âmago de sua matriz geradora e lamentava a
solidão em que vivia, incomodando Olorum com seus
lamentos, pois era unigênito e não tinha ninguém com
quem compartilhar suas alegrias e suas tristezas.
Olorum pensou uma solução para o problema de Exu
e, no âmago da sua matriz geradora do vazio, gerou
uma forma oposta em tudo a ele, mas que o comple-
taria em tudo e o tornaria pleno em si mesmo quando
se recolhesse ao âmago da matriz que o havia gerado.
E assim foi gerada uma companheira para alegrar Exu
quando ele se recolhesse ao âmago da matriz que o
gerara. Essa sua companheira tornou-se a moradora
do interior da matriz geradora do vazio. Mas, quando
Exu se deslocava feliz no vazio infinito, ela ficava triste
com a ausência dele e chorava de tristeza lamentando
ter como companheiro alguém que ficava alegre e feliz
quando saía e que se sentia solitário quando retornava.
Ela só se entristecia e chorava quando ele saía, pois
se alegrava e transbordava de felicidade quando ele
retornava para o interior da matriz que o havia gerado.
E ela, nesse seu transbordar de alegria e felicidade,
não deixava Exu sentir-se solitário, pois não o largava
um só instante, falando e sorrindo feliz o tempo todo.
Só que Exu só se alegrava e gargalhava quando saía
do interior da matriz que o gerava, criando o primeiro
paradoxo na criação do Divino Criador Olorum.
Não que Exu não gostasse da companhia dela que, com
sua alegria e felicidade, anulava a sua solidão. Olorum a
havia pensado para que ela preenchesse a solidão dele.
M ISTÉ RIO E X U

Mas quando ele começava a dar sinais de que estava


com saudade da imensidão infinita do vazio, ela começa-
va a entristecer-se e a soluçar. E não adiantava Exu dizer
que só ia dar uma voltinha pelo vazio e que logo estaria
de volta, pois nada a alegrava novamente.
Ele virava-lhe as costas e mergulhava no vazio, esque-
cendo-a e voltando a gargalhar feliz.
Olorum, se de um lado ficava feliz ao ouvir as gargalha-
das alegres de seu filho Exu, por outro ficava triste por
causa da tristeza da sua filha que habitava no âmago
da sua matriz geradora do vazio. Que problema!
Olorum pensou, pensou e pensou. E no seu pensar
criou uma solução que iria influenciar tudo dali em
diante. Era algo drástico e que colocaria um fim à tris-
teza daquela sua filha unigênita, pois ela era a única
que ele gerara no âmago da sua matriz geradora do
vazio no seu lado de fora. O fato é que, quando Exu re-
tornou e a viu alegre e feliz, desejou multiplicar-se nela
e ela desejou multiplicá-lo em sua matriz modeladora
e geradora.
E o que Olorum havia pensado realizou-se! E antes de
ele voltar a sentir saudades da liberdade do vazio, ela
gerara, ainda pequenino, uma réplica dele, que cha-
mou de “papai” assim que balbuciou as primeiras síla-
bas. E também a chamou de mamãe.
Estava formada a primeira família no imenso vazio do
lado de fora de Olorum.
Então ela dividia sua alegria e felicidade com Exu e
com seu filhinho que, ao contrário dele, vivia grudado
nela não lhe deixando muito tempo para vivenciar sua
alegria e felicidade com seu companheiro. Quando ela
deixou de lado o filhinho para repetir o que havia sido
tão agradável, aí foi a vez de o pequenino chorar e ber-
rar que queria o colo da sua mamãe. E só se aquietou
quando ela voltou até onde o havia deixado, e alegrou-
o e tornou-o feliz com seus carinhos maternos.
Exu, vendo aquela criança chamar para si toda a aten-
ção da sua companheira, começou a sentir saudades
da imensidão do vazio.
Então, viu que ela já não se entristecera tanto com sua
partida, que, em vez de chorar, só soluçou de tristeza.
Mas o pequenino, vendo o seu pai partir e sumir no
M ISTÉ RIO E X U

vazio, começou a chorar e a chamá-lo de volta, fazen-


do sua mamãe desdobrar-se para alegrá-lo, enquanto
dizia-lhe que Exu logo vol-taria para o âmago da matriz
geradora do vazio, que é onde vive a família dele. Exu
voltou para o vazio infinito e, longe da sua família, sen-
tiu-se livre e gargalhou feliz.
Mas, chegou um momento em que começou a sentir
saudades da sua companheira e do pequenino que
deixara nos braços dela. Então voltou para o âmago
da matriz do vazio, feliz e alegre porque sentia sau-
dades dela e do filhinho. Só que, ao chegar, em vez
de encontrar sua companheira sorridente, alegre e rin-
do de felicidade com a sua volta, a encontrou com
um novo filhinho nos braços enquanto o outro, já mais
crescido, procurava chamar sua atenção, pois estava
enciumado porque a sua mãe voltara parte da atenção
ao seu irmãozinho mais novo.
Ela, em vez de abraçá-lo toda feliz e contente, come-
çou a reclamar de sua ausência, e de que tinha de
cuidar sozinha de dois filhos, que não a largavam um
só instante, não lhe dando descanso.
Foram tantas as reclamações, que Exu nem teve como
sentir-se triste e solitário, pois, só para deixar de ouvir
as reclamações dela, pegou o filhinho mais novo em
um braço e o mais velho em outro e foi dar uma vol-
ta com eles, só voltando depois de um bom tempo e
com os dois já adormecidos.
Ela, ao ficar sozinha voltou a ficar triste e a chorar, tan-
to porque sentia saudade de Exu quanto dos dois fi-
lhinhos. Mas, ao vê-lo e aos filhinhos, alegrou-se por
completo e sorriu alegre e feliz.
Como os pequeninos se cansaram de tanto que brin-
caram com Exu no vazio infinito, continuaram a dor-
mir, e ela pode tê-lo só para si por algum tempo. E
dali em diante, ainda que vivesse feliz no vazio infinito,
no âmago da sua matriz geradora ele nunca mais se
sentiu solitário e triste, pois sua família, cada vez mais
numerosa, não o deixou um só instante solitário... ou
em paz!
Então Olorum sorriu feliz e pensou: “Eis aí o modelo de
família que ocupará o meu lado de fora, que alegrará
meus olhos sempre que eu me contemplar!”.
M ISTÉ RIO E X U

Fonte: Rubens Saraceni, Orixá Exu, Madras Editora.

A GERAÇÃO DE OXALÁ
Já revelamos como se deu a geração de Exu, mas,
como Olorum, ao gerar algo em uma de suas matri-
zes, gera esse mesmo algo em todas as outras, se na
sua matriz geradora do vazio Exu havia sido gerado,
nas outras, outros Orixás também haviam sido.
E Olorum gerou na sua matriz geradora das matrizes
geradoras um Orixá que aqui na Terra, quando surgiu
o seu culto, recebeu o nome de Oxalá.
Exu havia sido gerado na matriz geradora do vazio, e
Oxalá havia sido gerado no âmago da matriz geradora
de matrizes.
Dois Orixás opostos em muitos aspectos, pois, se Exu
reinava feliz no vazio à volta de Olorum; Oxalá, ao ser
gerado no âmago da matriz geradora de matrizes, ha-
via sido gerado no âmago da plenitude, pois, de certa
forma, sua matriz geradora gerava tudo.
E, por ter tudo à sua volta, pois vivia no centro gera-
dor da plenitude existente no interior de Olorum, Oxa-
lá sentia-se pleno em todos os sentidos e vivia feliz e
contente no âmago da matriz que o havia gerado.
Oxalá, de onde se encontrava, contemplava a pleni-
tude existente em Olorum e sorria feliz e contente, e
esse seu sorriso alegrava Olorum, que não se cansava
de contemplá-lo, sempre contente e feliz!
Mas, como os outros Orixás começavam a sair do
âmago de suas matrizes geradoras e deslocarem-se
pelo todo existente em Olorum, este ordenou a Oxa-
lá que também saísse para conhecer seus irmãos e
irmãs, todos gerados no seu pensar quando ele quis
animar o vazio existente no seu lado de fora.
Oxalá sempre respondia que estava contente e feliz ali
mesmo, e que gostaria de permanecer dentro de sua
matriz geradora por toda a eternidade.
– Mas você tem muitos irmãos e irmãs, cada um deles
unigênito, pois cada um foi o único gerado por mim
nas suas matrizes geradoras, Oxalá! Saia de sua ma-
triz geradora e venha conhecê-los, meu filho!
– Papai, diga a eles para virem até aqui, assim todos
eles me conhecerão e a todos conhecerei!
M ISTÉ RIO E X U

– Meu filho, você precisa sair de dentro do âmago des-


sa sua matriz geradora, sabe?
– Não sei não, papai. Aqui me sinto pleno, contente e
feliz!
– Eu sei que você se sente assim, pois eu o gerei na
matriz que pensei para que ela gerasse em meu âma-
go a plenitude. Mas há um problema, meu filho.
– Que problema é esse, papai?
– Filho amado, tudo o que as matrizes geradoras ge-
ram deve sair para fora delas e deve passar a viver e
existir nos seus exteriores. Esse é o princípio da exis-
tência delas em meu lado de dentro ou meu lado inte-
rior, sabe?
– Já estou sabendo, papai. O que acontecerá se eu
não sair?
– Você amadurecerá e tornar-se-á prisioneiro do âma-
go da matriz que o gerou; e envelhecerá e ficará para-
lisado, perdendo toda a sua capacidade de mover-se.
– Como é que é?! Eu me tornarei um paralítico? É isso,
papai?
– Sim, é isso, meu filho amado. Agora, saia já daí e
venha se juntar aos seus irmãos e irmãs, todos já fora
de suas matrizes geradoras!
– Está bem, papai. Sairei!
E Oxalá contemplou mais uma vez o interior ou âmago
da matriz que o gerara, a matriz geradora da plenitude
em Olorum!
Então, deparou-se com a sua primeira dificuldade: como
sair do interior da sua matriz geradora, se todas as ou-
tras matrizes também haviam saído dela e interpunham-
se até o espaço onde, muito distante, ele via os outros
Orixás, já fora de suas matrizes geradoras, e cada um
vivendo na realidade que ela era em si mesma?
Então Oxalá perguntou a Olorum:
– Papai, como faço para sair, se todas as outras matri-
zes estão em volta e interligadas ao âmago dessa que
me gerou?
– Pense, meu filho. Pense, que você saberá como sair
do âmago dela para alcançar o seu exterior que é uma
realidade em si mesma.
– Farei isso, papai!
Oxalá pôs-se a pensar. E no seu pensar ele fechou-se
M ISTÉ RIO E X U

em si mesmo.
Oxalá pensou, pensou e pensou! E tanto Oxalá pen-
sou, que se tornou um pensar em si mesmo; e seu
pensar tornou-se pensamento puro e sua mente al-
cançou o âmago de Olorum, que é pensamento puro
e puro pensar.
No seu pensar, Oxalá transcendeu a si mesmo, à ma-
triz geradora de matrizes que o gerara, e alcançou o
âmago de Olorum, o seu pai e seu criador que o criara
no seu pensar e o gerara em sua matriz geradora da
plenitude, que era ele em si mesmo. No âmago do
pensamento de Olorum, pensou, pensou e pensou. E
tanto pensou que se tornou o pensamento de Olorum,
e ambos passaram a pensar juntos, e os dois pensa-
res tornaram-se um só pensamento.
E Olorum pensava por meio de Oxalá e este pensava
em Olorum.
O filho unigênito retornava ao âmago de seu pai por
meio do ato de pensar. E ali Oxalá permaneceu por um
longo tempo, até que pensou isso:
“Eu sou fruto do pensamento! Eu sou o próprio ato de
pensar! Eu sou o pensamento puro que, em si mesmo
gera tantas alternativas que não há uma que não pos-
sa ser pensada.
No âmago do meu pai, eu sou o meu pai, e o meu pai
realiza-se em mim, pois todo filho é fruto do seu pai.
Pai e filho são a mesma coisa, ainda que o filho tenha
sido criado no pensar do seu pai, este está por inteiro
nele, pois traz em si o pensamento que o criou. O meu
pai está por inteiro em mim e eu sou parte indissociada
do meu pai. Em mim, o meu pai é Oxalá, mas, no meu
pai, eu sou Olorum!... meu pai!”
Então Olorum, com Oxalá de volta ao pensar que o
gerara, falou:
– Meu filho, esta é a verdade suprema, fruto do meu
pensamento! Quando todos atinarem com ela, ninguém
se sentirá fora de mim porque eu estou em cada uma
das coisas que eu pensei e gerei. Elas estão em mim e
eu estou em todas elas, amado filho pensador!
Oxalá, que era só pensamento, falou ao seu pai Olorum:
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– Papai, cada um de nós, os seus filhos Orixás, somos


uma de suas partes, não?
– São sim, meu filho.
– Todos nós o trazemos por inteiro e o exteriorizamos
por meio de um dos seus aspectos, não?
– Vocês me exteriorizam sim, meu filho.
– O senhor está em nós, e nós somos parte do senhor,
não?
– É isso mesmo, meu filho.
– Eu sou o seu pensamento, meu pai?
– Não, meu filho. Você é fruto do meu pensamento.
Mas, por ser fruto do meu pensamento, toda vez que
você pensar, estará pensando por meu intermédio, es-
tarei me manifestando no seu pensamento e exteriori-
zando-me por meio do seu ato de pensar.
– Eu o entendo e entendo-o por mim, meu pai e meu
criador!
– Eu sei que sim, meu filho amado. Você também é
fruto do meu entendimento.
– O que mais eu sou, meu pai?
– Você é parte de mim, e eu sou você por inteiro, por-
que você é o fruto do meu pensar.
– Papai, é bom estar de volta. Aqui, sinto em meu âma-
go a plenitude que antes, na matriz que me gerou, eu
sentia em minha volta.
– Eu sei que está se sentindo assim, meu filho.
– Por que isso, meu pai?
– Pense, meu filho!
E Oxalá, no âmago do pensamento de Olorum, pen-
sou, pensou e pensou na razão de sentir em seu âma-
go a plenitude que antes sentia em sua volta. E che-
gou um momento em que Oxalá, que era pensamento
puro, pensou:
– Meu pai, só sentimos a plenitude interior quando es-
tamos por inteiro no senhor e deixamos de ser uma de
suas partes e tornamo-nos o senhor por inteiro. É isso,
meu pai?
– É isso sim, meu filho amado. A plenitude exterior,
todos a alcançarão como fruto do próprio esforço em
construí-la em sua volta. Mas a plenitude interior, só
em mim será alcançada.
M ISTÉ RIO E X U

– Por que isso é assim, meu pai?


– Pense, Oxalá!
E mais uma vez Oxalá pensou, pensou e pensou. E tan-
to Oxalá pensou, que chegou um momento que falou:
– Meu amado pai, o senhor me criou no seu pensa-
mento. Então, no seu pensamento eu sou pleno, pois
o senhor me pensou na sua plenitude. Mas o senhor
me gerou na matriz geradora que gera a plenitude no
seu interior e, para ser gerado, eu me desloquei do seu
pensamento e fui me alojar no âmago dessa sua matriz,
que, ainda que não esteja fora do senhor, é um meio
onde os seus pensamentos frutificam. É isso, meu pai?
– É isso sim, Oxalá. Tudo é fruto do meu pensamento.
E eu, como pensamento, só me realizo se o que eu
pensar vier a se frutificar na matriz correspondente a
cada coisa que eu penso.
– Eu entendo, meu pai.
– Eu sei que entende, meu filho. Afinal, eu o gerei no
meu entendimento de que só eu me frutificando em
você, como um fruto meu me frutificaria gerando em
sua volta a plenitude que só em meu âmago existe
como um estado permanente.
E Oxalá, como pensamento puro e indissociado do
pensamento de Olorum, pensou, pensou e pensou.
E tanto pensou e falou com Olorum, que chegou um
momento que amadureceu na plenitude existente no
âmago dele que sentiu aquela plenitude.
Então, sentindo-se plenitude pura e pura plenitude,
Oxalá falou a Olorum:
– Meu pai, vou sair do âmago da matriz onde o senhor
me gerou e vou passar a viver na realidade em volta
dela, que é ela em si mesma, meu pai!
– Por que você quer fazer isso, meu filho?
– Eu entendi que, mesmo tendo-o por inteiro em mim
e eu sendo parte do senhor, só me realizarei como
plenitude se exteriorizar de mim mesmo essa plenitude
existente aqui no seu âmago.
– Por que você quer exteriorizá-la de si mesmo,
meu filho?
– Meu pai, se cada pensamento seu é gerado em uma
matriz geradora diferente, então só há uma que gera a
plenitude, não é mesmo?
M ISTÉ RIO E X U

– É isso mesmo, Oxalá.


– Então os meus irmãos e irmãs Orixás, ainda que te-
nham sido pensados pelo senhor e gerados em matri-
zes que, no que geram são plenas em si mesmas, não
geram a plenitude, que só é gerada na matriz que me
gerou... – e Oxalá calou-se.
– Conclua seu pensamento, meu filho!
– Bom... eu deduzi que os meus irmãos e irmãs são
plenos no aspecto em que são o senhor em si mes-
mos. Mas não o serão em todos eles se eu não ma-
nifestar essa sua plenitude a partir da realidade que
existe no exterior da matriz onde fui gerado, realidade
esta que contém todas as outras, pois todas as outras
matrizes-realidades foram geradas por ela.
Na verdade, todas as outras realidades estão dentro da
realidade que a matriz geradora da plenitude é em si
mesma. E, se eu não ocupar com minha presença essa
realidade à volta dela, as outras que estão dentro dela
sentirão falta da plenitude que manifesto, pois essa ple-
nitude é o senhor em mim, e se realizando por mim.
– É isso, meu filho amado! Agora retorne à matriz que
o gerou e, a partir dela, ocupe a sua realidade, que
contém em si, mas, como suas partes de si, todas as
outras realidades que a tornam plena em si mesma.
– Assim farei, meu pai. Peço sua licença para recolher-
me à realidade que o senhor gerou para mim.
– Você tem a minha licença, meu filho primogênito e
unigênito.
– Por que sou seu primogênito-unigênito, meu pai?
– Porque antes de eu gerar todos os seus irmãos e ir-
mãs, eu o gerei na matriz geradora de matrizes. Como
eu poderia gerar os seus irmãos e irmãs, se antes eu
não o tivesse gerado? Você é o modelo original de to-
dos eles, meu filho!
– Meu pai...
– Eu sei, meu filho. Em você eu estou por inteiro em to-
dos os meus aspectos. Mas neles, eu estou por inteiro
nos aspectos que eles manifestam. Em um eu estou
por inteiro nos aspectos que ele me realiza. Em outro
eu estou nos aspectos que esse outro me realiza. Mas
só em você, por ter sido gerado na matriz geradora
M ISTÉ RIO E X U

de matrizes, eu estou por inteiro e em todos os meus


aspectos. Em você eu me realizo por inteiro e em to-
dos os meus aspectos o tempo todo, Oxalá! Você é o
modelo da plenitude existente em mim, plenitude esta
que deverá ser conquistada por todos, se quiserem
me sentir por inteiro em seus âmagos! Você terá as-
cendência sobre todos eles, pois, além de ser o meu
primogênito-unigênito, é o modelo para todos eles... e
será o modelador deles.
– Assim disse o meu pai, assim eu sou!
– Agora volte para o âmago da matriz onde o gerei, e
seja o que pensei que fosse.
E Oxalá retornou para o âmago da matriz geradora
das outras matrizes e contemplou seu interior pela úl-
tima vez, deixando-a em seguida. E só conseguiu sair
para a realidade à volta dela após passar pelo interior
de todas as outras matrizes que, assim que ele en-
trava no âmago delas, começavam a se sentir plenas
em si mesmas e tudo faziam para retê-lo em seus in-
teriores... e só o liberavam depois dele consolá-las e
prometer-lhes que tudo faria para tornar plenas em si
mesmas to-das as suas gerações.
E cada uma delas imantou Oxalá com a sua qualidade
original.
Da matriz geradora da piedade, Oxalá recebeu a sua
qualidade e tornou-se gerador do perdão e irradiador
da piedade.
Da matriz geradora da misericórdia, Oxalá recebeu a
sua qualidade e tornou-se gerador e irradiador da mi-
sericórdia.
Da matriz geradora da compaixão, Oxalá recebeu
a sua qualidade e tornou-se gerador e irradiador da
compaixão.
E foram tantas as qualidades originais absorvidas por
Oxalá que, quando finalmente ele chegou à sua rea-
lidade original, já era o mais piedoso, fraterno, amo-
roso, compreensivo, tolerante, paciente, perseverante,
resignado, humilde, quieto, pensativo, reflexivo, ani-
mador etc. de todos os Orixás.
Como todas as realidades eram as matrizes em si
mesmas, da sua realidade Oxalá contemplou todas
as existentes no interior de Olorum e, admirado com
M ISTÉ RIO E X U

a sua grandeza e grandiosidade interior, caiu de joe-


lhos e começou a soluçar. E os soluços de Oxalá, que
eram da admiração, alegria e contentamento, atraíram
a atenção de todos os outros Orixás, cada um vivendo
dentro da sua realidade. Um a um, todos se voltaram
na direção dos soluços e viram que havia mais alguém
além deles. E todos se dirigiram para onde estava Oxa-
lá e, ao vê-lo de joelhos e soluçando de tanta admira-
ção, alegria e contentamento, foram se ajoelhando em
volta dele, também soluçando admirados, alegres e
contentes por descobrirem que não estavam sozinhos
no interior de Olorum.
Oxum, a mais arguta das filhas de Olorum, atinou entre
soluços de admiração, alegria e contentamento que
Oxalá era Olorum manifestado como Orixá, e aí, já aos
prantos, atirou-se de bruços aos pés dele e saudou-o:
– Epa, Babá! Dê-me a sua benção, meu pai!
Oxalá, vendo-a estirada na sua frente e com a cabeça
encostada nos seus joelhos, e repetindo sua sauda-
ção sem parar, cruzou as costas dela e, após tocar
com as mãos em seus ombros, ordenou-lhe:
– Levante-se e dê-me o seu abraço, filha do nosso pai
e minha irmã mais nova Oxum!
Oxum levantou-se respeitosamente e de joelhos e aos
prantos, pediu-lhe:
– Babá, abrace-me o senhor primeiro para eu poder
sentir como é bom ser abraçada pelo primogênito-u-
nigênito do nosso pai e nosso Divino Criador Olorum!
Eu quero eternizar em meu ser imortal o seu abraço,
meu irmão mais velho e meu pai exteriorizado, que se
exteriorizou para tirar do meu íntimo a sensação de
vazio que vibrava nele.
Oxalá abraçou Oxum com tanto amor, mas com tanto
amor que outro amor igual ao que ele vibrava por ela
jamais Oxum encontrou. E quando ele a apertou con-
tra seu peito largo e forte, ela sentiu-se tão confortada,
mas tão confortada, que do seu peito jorrou uma po-
derosa luz rosada que encantou a todos os Orixás ali
reunidos à volta de Oxalá.
E a luz rosa de Oxum envolveu a todos que, admira-
dos com a beleza da sua luz interior, todos emitiram
essa saudação.
M ISTÉ RIO E X U

– Ora, aiê, ieô, Oxum! Vinde a mim o seu amor, minha


mãezinha!
Quando Oxum abraçou Oxalá e fundiu o seu amor ao
dele, houve uma explosão luminosa que a todos alcan-
çou e a todos imantou com sua vibração de amor.
Oxum, mergulhada em um êxtase indescritível, pois por
meio de Oxalá abraçava Olorum, o fez soluçar alto de
tão contente e feliz que se sentia. E até hoje, quando
uma filha de Oxum o abraça, ele sacode o tórax. Em
silêncio, está soluçando de alegria e contentamento,
pois, ao abraçar suas filhas, é como se ele tornasse a
abraçá-la.
Quanto tempo durou aquele abraço do Orixá primogê-
nito de Olorum com a sua filha gerada na sua matriz
geradora do amor incondicional ninguém sabe dizer,
porque o fator tempo inexiste no interior dele. Mas, se-
gundo Exu, o mais bem informado dos Orixás, mas o
mais indiscreto de todos, Oxum amadureceu todo o
seu amor nos bra-ços de Oxalá, que a tem na conta de
sua filha-irmã ou irmã-filha, e ele sente um certo ciúme
por ela.
Foi Exu quem disse, sabem? Se bem que sempre que
Oxum fica contrariada com algo ou alguém, somente
Oxalá consegue descontraí-la e alegrá-la.
O fato é que foi na realidade da matriz geradora da ple-
nitude que todos os Orixás se encontraram, souberam
da existência de outros, conheceram-se e às realida-
des em que viviam.
A realidade de Oxalá é a única que permite que todos
os Orixás se encontrem e conversem entre si sem sa-
írem de fato de dentro das suas realidades, pois entre
as deles não há contato, já que são isoladas entre si.
E até hoje, quando um Orixá quer transmitir algo a ou-
tro ou a todos os outros, ele vai à realidade de Oxalá,
que desde aquele primeiro encontro tornou-se o local
que todos se reúnem.
Após todos os Orixás se abraçarem, se conhecerem e
se reconhecerem como unigênitos, criou-se entre eles
um sentimento único de irmandade, pois, se haviam
sido gerados em matrizes diferentes, cada um era em si
mesmo um dos aspectos ou qualidades de Olorum, o
Divino Criador de tudo e de todos. Também é por tudo
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o que relata a lenda do nascimento de Oxalá que, nos


templos de Umbanda, ele é colocado no ápice deles.
Oxalá é o único Orixá por meio do qual o Divino Cria-
dor Olorum manifesta-se integralmente e em todos os
seus aspectos, pois nos outros Orixás ele manifesta-
se no seu aspecto que eles são em si.
Fonte: Rubens Saraceni, Orixá Exu, Madras Editora.

CAPÍTULO 4
A SAÍDA DOS ORIXÁS
Por Rubens Saraceni

Então chegou o momento que Olorum determinou que


os seus filhos e filhas Orixás iniciassem a saída de sua
morada interior e começassem a ocupar sua morada
exterior.
A Oxalá coube a primazia, porque ao sair, ele que é
o es-paço em si mesmo, criaria o meio ou o espaço
indispensável para que os outros Orixás pudessem se
deslocar e dar início à concretização de sua morada
exterior com a criação dos mundos que seriam ocupa-
dos pelos seres espirituais.
Não foi fácil para nenhum dos Orixás deixar de viver na
morada interior, no íntimo do Divino Criador Olorum.
Para Oxalá foi mais difícil ainda, porque ele, o primo-
gênito, iniciaria a saída. Quando se viu diante do portal
de saída, virou-se e contemplou mais uma vez o rosto
de Olorum que o contemplava com os olhos fixos e
sérios, como a dizer-lhe: “Vá em frente, meu filho! Eu
sou você por inteiro e você é parte de mim.”
Oxalá olhou cada um dos seus irmãos e irmãs divinos,
e dos olhos deles corriam lágrimas.
Ele curvou-se, cruzou o solo divino que ainda pisava,
tocou-o com a testa, beijou-o, e dos seus olhos caí-
ram lágrimas que cintilaram ao tocá-lo.
E ali suas lágrimas ficaram incrustadas no solo, como
uma marca de sua partida. E em cima dele muitas ou-
tras lágrimas haveriam de ser derramadas pelos outros
Orixás, à medida que fossem partindo.
Oxalá levantou e virou-se novamente para o portal. E,
já resoluto, avançou por ele com passos firmes, mas, à
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medida que foi saindo, seu corpo explodiu e um clarão


ofuscante que se projetou no infinito, clareando em vol-
ta da morada exterior do nosso Divino Criador Olorum.
E Oxalá curvou-se após ter dado o primeiro passo e
cruzou o espaço à sua frente. Então levantou, já não
tão ere-to como quando saíra, deu um segundo pas-
so e aí se curvou e cruzou o espaço à sua frente pela
segunda vez... e quando Oxalá se curvou pela sétima
vez e cruzou o espaço à sua frente, já não conseguiu
se levantar senão só um pouco, e ainda assim porque
se apoiava em seu cajado, que é o eixo sustentador
do mundo manifestado, denominado “paxorô”.
Ele voltou-se na direção em que ficava a sua morada
interior e já não a viu, pois o que viu foi o espaço vazio
infinito em sua volta. E ele olhou para toda a sua volta
e não viu nada além do espaço vazio.
Então, o peso da sua responsabilidade foi tanto que
ele caiu de joelhos, e com a voz embargada emitiu
essas frases:
– Pai, por que fez isso comigo se o amo tanto?
– Pai, por que me separou de você, se me sinto parte
do senhor?
– Pai, sem o senhor eu sou o que vejo em minha volta,
nada, meu pai amado!
– Por que, meu pai amado?
E Oxalá, de joelhos e apoiado em seu cajado, chorou
o mais dolorido pranto já ouvido desde então na mora-
da exterior. E todos os outros Orixás, que estavam do
lado de dentro da morada interior e o viam a apenas
sete passos do portal de saída, emocionaram-se tanto
com o pranto dele que também se ajoelharam e cho-
raram o mais sentido dos choros, pois tanto choraram
a angústia dele quanto a que sentiam, porque também
teriam que deixar a morada interior.
Olorum, vendo todos os Orixás ajoelhados e choran-
do, ordenou:
– Meu filho Ogum, o espaço já existe na minha mo-
rada exterior. Agora é sua vez de levar para ela o seu
mistério e abrir os caminhos para que seus irmãos e
irmãs possam segui-los em segurança o vivenciarem
os destinos que reservei para cada um. Siga sempre
em frente, pois já existe um caminho feito por mim e
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trilhado por Oxalá. E, ainda somente depois que você


der o sétimo passo veja o espaço infinito em sua volta
e nada mais, no entanto, onde seu pé direito pousar
no seu sétimo passo, ali se iniciará o caminho que o
conduzirá até onde Oxalá se encontra agora.
– Meu amado pai Olorum, eu vejo meu amado irmão
bem ali, ajoelhado diante do portal de saída dessa sua
morada, meu pai!
– Ogum, assim que você der o primeiro passo depois
da soleira desse portal você só verá o vasto e infinito
espaço vazio, à sua volta. Não titubeie, pois só encon-
trará o cami-nho que o levará até Oxalá caso dê sete
passos resolutos, meu filho.
– Assim diz o meu pai e meu Divino Criador Olorum,
assim farei, meu pai amado!
E Ogum despediu-se e cruzou o portal de saída. E
quando deu o primeiro passo e olhou à sua direita e à
sua esquerda e nada viu além do espaço ainda vazio,
mas infinito em todas as direções, um tremor percor-
reu-lhe o corpo de cima para baixo. Mas ele continuou
a caminhar.
E ao dar o sétimo passo com o seu pé direito, Ogum
ajoelhou-se e cruzou o espaço vazio diante dos seus
pés. E cruzou o espaço acima da sua cabeça; e cru-
zou o espaço a sua frente; e cruzou o espaço a suas
costas; e cruzou o espaço a sua direita; e cruzou o
espaço a sua esquerda... e viu seu irmão Exu, que deu
uma gargalhada e, à guisa de saudação, falou-lhe:
– Ogum, meu irmão! Que bom vê-lo aqui do lado de
fora da morada do nosso pai e nosso Divino Criador
Olorum! Por que você demorou tanto para sair?
– Exu, é bom revê-lo, meu irmão! O que você faz por
aqui?
– O que eu faço por aqui?
– Foi o que lhe perguntei, Exu.
– Eu já ando por aqui há tanto tempo, que eu nem sei
há quanto tempo eu ando por aqui, sabe?
– Não sei não. Explique-se, Exu!
– Ogum, lá vem você com seus pedidos de explicação
de novo!
– Explique-se, está bem?
– Já que você insiste, digo-lhe que é por causa do fa-
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tor adiantador que gero, sabe?


– Não sei não, que fator é esse?
– Bom, até onde eu já sei, ele faz com que eu chegue
sem-pre adiantado nos acontecimentos, e este é um
acontecimento e tanto, não?
– Que é um acontecimento e tanto, disso não tenho
dúvidas. Mas, como você chegou aqui, se só Oxalá
havia saído?
– Ah, Oxalá passou por aqui mas, como ele estava
muito triste e derramando lágrimas, eu achei melhor ir
até ele quando ele deixar de derramar lágrimas. Afinal,
eu gero o fator hilariador, não o entristecedor, sabe?
– Já estou sabendo... porque Exu ri até sem motivos.
– Ogum, a falta de motivos para se rir é algo hilário,
ainda que muitos pensem o contrário. Mas, se formos
atrás dos motivos da falta de risos, aí vemos que é
algo tão tolo, que se torna hilário.
– É, se Exu está adiantado e diz isso, então você já
sabe de algo que logo descobrirei, certo?
– Foi o que eu disse, Ogum.
– Então Oxalá não tinha nenhuma razão para sentir-se
tão triste e angustiado. É isso, Exu?
– Não mesmo Ogum! Logo logo, isso aqui estará
fervilhando, de tantos seres que estão à espera da
concretização dos mundos, que todos os que fica-
rem na morada interior desejarão vir para cá. E isto
aqui estará tão cheio, que muitos desejarão retornar
a ela, sabe?
– Ainda não sei, mas, se você, que chegou aqui antes
de o espaço existir, e não sei como, está dizendo, en-
tão logo saberei.
– E então, para onde você está indo, Ogum meu irmão
à minha direita?
– Vou até onde está Oxalá, Exu.
– Posso acompanhá-lo?
– Pode sim, com você ao meu lado esquerdo, creio
que não me sentirei tão só, não é mesmo?
– Se é Ogum! Comigo no seu lado esquerdo ninguém
nunca se sentirá só.
– Então vamos, Exu. Já vejo o caminho que conduz
até Oxalá.
– Você vai seguir os passos dele?
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– Vou, Exu.
– Você não quer seguir por um caminho alternativo
que é mais curto?
– Caminho alternativo? Que caminho é esse?
– É um atalho, um desviozinho! Mas leva até ele do
mesmo jeito, certo?
– Errado, Exu! Atalhos ou desviozinhos podem levar a
mui-tos lugares, mas nunca levarão alguém até Oxalá
ou qual-quer outro lugar, pois todos eles levam aos
seus domínios, que estão localizados no vazio. Isso
sim, é certo!
– Tudo bem que isso é certo. Mas uma passadinha
nos meus domínios não faz mal a ninguém, sabe?
– Não sei e não quero saber. Quem quiser que siga
seus convites. Vamos?
– Vamos para onde?
– Ao encontro de Oxalá, oras!
– Não, não!
– Por que não?
– Esse caminho que leva a Oxalá é muito reto, é retís-
simo mesmo! E Exu só trilha caminhos tortos ou tortu-
osos, sei lá!
– Até a vista, Exu!
Ogum seguiu o caminho que conduzia até Oxalá. Logo
chegou onde ele estava. Após saudá-lo cruzando o
solo e o espaço à frente dele, levantou-se e os dois
abraçaram-se.
Então ficaram no aguardo da chegada dos outros Ori-
xás que não demoraram a chegar. E quando passou
muito tempo sem mais nenhum outro aparecer, ini-
ciaram suas funções de poderes criadores na mora-
da exterior do nos-so Divino Criador, gerando essas e
muitas outras lendas sobre eles, que contaremos em
outro livro.
Texto extraído do livro Lendas da Criação - A saga dos
Orixás de Rubens Saraceni, Editora Madras.

CAPÍTULO 5
EXU,
VAZIO ABSOLUTO OXALÁ,
ESPAÇO INFINITO
Por Rubens Saraceni
M ISTÉ RIO E X U

Muitos têm Exu como o primeiro Orixá gerado, que,


por isso, tem a primazia no culto.
Essa primazia se justifica se entendermos a criação
como um encadeamento de ações divinas destinadas
à geração do Universo e dos meios para que os seres
pudessem evoluir.
Nós aprendemos que dois corpos não ocupam o mes-
mo “espaço” e, a partir daí, deduzimos que, para ha-
ver o espaço, tinha que haver algo em outro estado
que permitiu a criação de uma base estável para que,
aí sim, tudo pudesse ser criado. Esse estado é o de
“vazio”, pois, só não havendo nada dentro dele, algo
poderia ser criado e concretizado, mas como outro es-
tado. Então, unindo o primeiro Orixá (Exu) e o primeiro
estado da criação vazio absoluto), temos a fundamen-
tação do Mistério Exu.
O Mistério Exu é em si o “vazio absoluto” existente no
exterior de Deus e guarda-o em si, dando-lhe a exis-
tência e sustentação para que, a partir desse estado,
tudo o que é criado tenha seu lugar na criação.
Por ser Exu o guardião do vazio absoluto, e este ter
sido o primeiro estado da criação manifestado por
Deus, então Exu é, de fato, o primeiro Orixá manifes-
tado por Ele.
Logo, Exu é o primeiro Orixá, o mais velho de todos,
o primeiro a ser cultua-do. Por ser e trazer em si o va-
zio absoluto, tem que ser invocado e oferendado em
primeiro lugar e deve ser “despachado” de dentro do
templo e firmado no seu exterior para que um culto
possa ser realizado, pois, se assim não for feito, a pre-
sença de Exu dentro dele implica a ausência de todos
os outros Orixás, já que seu estado é o do “vazio ab-
soluto”. Porque junto com o Orixá Exu vem o vazio
absoluto, os seus intérpretes religiosos deduziram cor-
retamente que, nesse estado de vazio, não é possível
fazermos nada.
Logo, a ato de invocar o Orixá Exu em primeiro lugar é
correto, porque, antes de Olorum manifestar os outros
Orixás, manifestou-o e criou o vazio absoluto à sua
volta. O ato de oferendá-lo antes dos outros Orixás
está fundamentado nessa sua primazia, pois não se
oferenda primeiro ao se-gundo Orixá manifestado, e
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sim ao primeiro.
O ato de despachá-lo para fora do templo fundamen-
ta-se no fato de que, se ele está presente dentro do
templo, com ele está o seu “vazio absoluto”, no qual
nada existe. Então, é pre-ciso despachá-lo e assen-
tá-lo no exterior do templo, para que outro estado se
estabeleça e permita que tudo aconteça.
Avançando um pouco mais na interpretação das ne-
cessidades primordiais para que tudo pudesse ser “ex-
teriorizado” por Deus, como no “vazio absoluto” (Exu)
não havia como se sustentar em alguma coisa, eis que,
após esse pri-meiro estado da criação, Olorum mani-
festou o seu segundo estado: o “estado do espaço”!
• O vazio absoluto é a au-sência de algo.
• O espaço é a presença de um estado.
Deus criou o espaço “em cima” do vazio absoluto.
Logo, se antes só havia o vazio absoluto, o espaço
foi criado dentro dele, e, à medida que o espaço foi se
ampliando, o vazio absoluto foi distendendo-se ao in-
finito para abrigá-lo e permitir-lhe ampliar-se cada vez
mais, de acordo com as necessidades da mente cria-
dora de Olorum. Aqui, já entramos na genealogia (no
nascimento) dos Orixás e em uma teogonia a partir
dos estados da criação.
Esse segundo estado (o espaço) dentro do primeiro (o
vazio absoluto) criou uma base que se amplia segundo
as necessidades do Criador, e começa a nos mostrar os
Orixás como estados da criação, pois se Exu é o vazio
absoluto, o Orixá que é em si o espaço se chama Oxalá.
Sim, Oxalá é o espaço infinito porque é capaz de conter
todas as criações da mente divina do nosso Divino Criador.
Porém, o que nos levou à conclusão de que Oxalá é em
si o mistério do “espaço infinito”? Ora, o mito revela-nos
que Olorum confiou-lhe a função de sair do seu interior e
começar a criar os mundos e os seres que os habitariam.
Como algo só pode ser criado se houver um espaço
onde possa ser “acomodado” e antes só havia “vazio
absoluto” à volta de Olorum, assim que Oxa-lá saiu (foi
manifestado), com ele saiu seu estado (espaço infini-
to), que se expandiu ao infinito dentro do vazio.
O espaço não é maior ou menor que o vazio, porque
são estados, mas ambos são bem definidos:
M ISTÉ RIO E X U

• o vazio absoluto é o estado de ausência de qualquer


coisa (o vazio).
• o espaço infinito é o estado de presença de alguma
coisa (a ocupação).
Como Olorum tem em si tudo, e tudo ocupa um lugar
no espaço, então Oxalá, como estado preexistente
em Olorum, já existia no seu interior. E, como a mente
criadora de Olorum ocupa um espaço, este era Oxalá,
pois foi a Oxalá que Ele confiou a missão de criar os
mundos e povoá-los com os seres que seriam criados.
Logo, Oxalá traz em si esse estado de espaço infinito
que pode abrigar nele tudo o que for criado pela men-
te de Olorum. Portanto, Oxalá também traz em si o
poder criador.
O vazio absoluto é um es-tado e não algo mensurável.
O espaço infinito, ainda que não seja mensurável, é a
existência de algo. E, como se esse algo denomina-
do “espaço infinito” se abriu e expandiu-se dentro do
vazio absoluto, criaram-se dois estados opostos com-
plementares:
• O vazio absoluto
• O espaço infinito
Exu e Oxalá são ligados umbilicalmente por causa des-
ses dois primeiros estados da criação. Exu é o vazio
exterior de Olorum, e Oxalá, o seu espaço exterioriza-
do. Exu é a ausência, e Oxalá é a presença. Em Exu
nada subsiste, e em Oxalá tudo adquire existência.
Exu, por ser o vazio absoluto, nada cria em si. Em
Oxalá, por ele ser o espaço em si mesmo, tudo pode
ser criado.
Exu e Oxalá são oposto-complementares porque sem
a existência do vazio absoluto o espaço não poderia
se expandir ao infinito. Como ambos são estados, não
são antagônicos, pois onde um está presente, o outro
está ausente. O vazio absoluto é anterior ao espaço
infinito. E, porque é anterior, Exu é o primeiro Orixá ma-
nifestado por Olorum e detém a primazia. E, se tudo
preexistia em Olorum, ainda que não fosse interna-
mente o Orixá mais velho é, no entanto, o primeiro a
existir no seu exterior.
Texto extraído do livro Orixá Exu de Rubens Saraceni,
Editora Madras.
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