The Wrong Prom Date - Alexandra Moody

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01 - Hayley ............................................................................................................. 8
02 - Ethan ............................................................................................................ 21
03 - Hayley ........................................................................................................... 33
04 - Hayley ........................................................................................................... 44
05 - Ethan ............................................................................................................ 54
06 - Hayley ........................................................................................................... 72
07 - Hayley ........................................................................................................... 89
08 - Ethan .......................................................................................................... 100
09 - Hayley ......................................................................................................... 113
10 - Ethan .......................................................................................................... 120
11 - Ethan .......................................................................................................... 129
12 - Hayley ......................................................................................................... 137
13 - Hayley ......................................................................................................... 147
14 - Ethan .......................................................................................................... 162
15 - Hayley ......................................................................................................... 177
16 - Ethan .......................................................................................................... 190
17 - Hayley ......................................................................................................... 204
18 - Hayley ......................................................................................................... 211
19 - Ethan .......................................................................................................... 224
20 - Hayley ......................................................................................................... 234
21 - Ethan .......................................................................................................... 244
22 - Hayley ......................................................................................................... 251
23 - Hayley ......................................................................................................... 261
Epílogo ............................................................................................................... 271
Sobre a Autora ................................................................................................... 284

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Essa tradução é realizada pelo grupo Literary Affection. Nosso
grupo não possui fins lucrativos, este é um trabalho voluntário
e não remunerado.

Traduzimos livros com o objetivo de acessibilizar a leitura para


aqueles que não sabem ler em inglês, sendo esses livros sem
previsão de publicação no Brasil. Nós não aceitamos doações de
nenhum tipo e proibimos que nossas traduções sejam vendidas!
Também deixamos expresso aqui que, caso algum dos livros
lançados sejam comprados por alguma editora no Brasil, o livro
em questão será retirado de nosso acervo.

Não faça a distribuição dos livros em grupos abertos ou blogs.


Estejam cientes que o download é exclusivo para uso pessoal e
privado!

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Uma comédia romântica colegial fofa de derreter o coração, perfeita
para os fãs de Jenny Han e para todos que adoram um
relacionamento falso e um romance em que o garoto se apaixona.
A história de Hayley e Ethan fará você rir, chorar e desmaiar de
uma só vez.

Será que um relacionamento falso pode lhe render o par dos seus
sonhos no baile de formatura?

Hayley Lawson não tem a menor chance de conseguir um par para


o baile de formatura. Graças a um boato que deu errado, os
garotos da escola estão convencidos de que ela só está interessada
em namorar rapazes da faculdade. Ela certamente não está
ansiosa esperando que alguém a convide para o grande baile.

Mas, quando sua paixão de longa data retorna à cidade, as


esperanças de Hayley de conseguir o encontro dos sonhos de
repente se reacendem. Owen Beck é tudo o que ela sempre quis em
um rapaz, mas depois de anos de espera, ela não pode confiar
apenas no destino para uni-los. Se ela quiser ir ao baile de
formatura com ele, terá que colocar seu coração em jogo e convidá-
lo pessoalmente. No entanto, seu convite não sai exatamente como
planejado e, quando o gêmeo de Owen aparece para "salvá-la", e
assim ela acaba nos braços do irmão errado.

No entanto, ela ainda pode ter uma chance com Owen. Ethan
conhece seu irmão melhor do que ninguém e parece achar que um
pouco do bom e velho ciúme pode fazer com que Owen convide
Hayley para o baile de formatura. 6
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01 - Hayley

Oficialmente, é o pior dia da minha vida! Até pior do que o dia em que fiz xixi
nas calças no jardim de infância ou quando esqueci minha única fala na peça
da escola. Meu carro havia quebrado, o que não era tão terrível assim, mas
isso aconteceu bem na frente do xerife da cidade, que estava me dando uma
carona para casa enquanto um guincho levava meu bebê embora.

Senti que ia morrer de vergonha enquanto estava sentada no banco de trás da


viatura e olhava pela janela. Eu não era nenhuma delinquente que precisava
de caronas da polícia, e o xerife me lançava olhares tão severos pelo espelho
retrovisor que eu estava preocupada em, de repente, revelar todos os segredos
obscuros que tinha. Não que os segredos que eu tinha fossem obscuros, talvez
humilhantes? Com certeza.

— Hayley, me lembra novamente, por que o seu carro estava parado no meio
da estrada? — perguntou ele.

— Havia uma raposa — menti, engolindo em seco e tentando não parecer tão
assustada quanto me sentia.

— Uma raposa? Eu pensei que você tinha dito que era um esquilo…
Droga.

— Sim, eu estava chegando lá. Havia um esquilo que parecia uma raposa que
atravessou a estrada correndo. Achei que tinha batido nele e parei o carro
para sair e dar uma olhada, mas ele saiu correndo da estrada e entrou nos
arbustos. Eu sabia que estava tudo bem, então tentei ir embora, mas meu
carro não pegou.

— Entendo.

Tentei manter meu rosto sério, recusando-me a ceder a pressão de seu olhar
perspicaz. Tudo o que eu conseguia ver eram seus olhos no espelho, mas eles

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eram mais do que suficientes para me intimidar. Eu não precisava ver o resto
do seu rosto para sentir o peso de sua desaprovação.

— E você não pensou em encostar o carro primeiro? — ele perguntou.

— Senhor, a vida de um esquilo estava em jogo.

Eu não podia acreditar que estava mentindo para um policial, mas também
não podia contar exatamente a verdade a ele. Minha música favorita começou
a tocar no rádio e eu parei o carro para poder cantar a plenos pulmões a letra
e dar a música a homenagem que ela merecia. Não é como se tivesse outros
carros por perto, e simplesmente não dá para cantar Taylor Swift e dirigir ao
mesmo tempo. Especialmente quando você também está dançando no banco
do motorista. Se eu pudesse reescrever as regras da estrada, essa seria a
primeira coisa que todos os novos motoristas aprenderiam: não dance e dirija;
pare e cante. Infelizmente, eu não achava que o Xerife Daniels concordaria.

Suspirei enquanto pensava no meu dilema. Eu estava arrasada por meu carro
não estar funcionando, mas estava mais preocupada em como todos
reagiriam. Meus pais provavelmente ficariam zangados e minha melhor amiga,
Madi, nunca iria me deixar esquecer disso. Ela costumava me dizer que eu
era a pior motorista do mundo e eu já estava começando a achar que ela
poderia ter razão.

Finalmente chegamos a minha rua, e, ao pararmos na frente da minha casa,


olhei para as janelas procurando por olhares curiosos. Nunca estive tão
ansiosa para sair de um carro na vida, mas também não queria testemunhas.
Já era ruim o suficiente ter que contar aos meus pais sobre meu carro
quebrado, eles não precisavam ver minha vergonhosa carona com o xerife.
Felizmente, parecia que não tinha ninguém nos observando.

— Bom, obrigada pela carona, Xerife Daniels.

Fui abrir a porta, mas ela estava trancada, e uma onda de medo me percorreu.
Talvez ele tenha mudado de ideia sobre me deixar em casa. Será que ele
realmente poderia me prender por ter problemas com o carro? Esperava
sinceramente que não, porque sabia que não me sairia bem na prisão. Eu

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falava sem pensar o tempo todo, o que provavelmente não cairia bem com
meus companheiros de cela. Além disso, macacões simplesmente não eram o
meu estilo.

O xerife girou em seu assento e olhou por cima do ombro para mim, através
das barras de metal que nos separavam.
— Espero que esta seja a última vez que a vejo no banco de trás do meu carro,
Hayley. Da próxima vez que achar que atropelou um esquilo, certifique-se de
encostar o carro antes de parar.

— Sim, senhor.

Ele assentiu, e meu coração pareceu voltar a bater quando ouvi o trinco da
porta de trás sendo liberado. Saí do carro às pressas, mais do que feliz por ter
escapado. Respirei fundo várias vezes quando pisei na minha garagem. Eu
quase podia sentir a liberdade no ar ao meu redor. Era uma sensação fresca
e nítida que parecia realmente encher meus pulmões, ao contrário do banco
de trás da viatura, que estava tão quente e sufocante.

O xerife não precisava me avisar, eu não tinha a menor intenção de ver o


banco de trás daquele carro novamente. Eu quebraria mais as regras, o que,
infelizmente, significava não parar mais no meio da estrada para cantar. De
agora em diante, eu nem mesmo me arriscaria a receber uma multa de
estacionamento.

Eu mal tinha dado três passos na entrada da minha garagem quando ouvi a
porta de um carro sendo fechada com um clique. Parei imediatamente, e meus
olhos se voltaram na direção do som. Felizmente, tinha vindo da casa ao lado
e não do carro do Xerife Daniels, que ainda estava parado no meio-fio atrás de
mim.

A última coisa que eu precisava era que algum vizinho intrometido


testemunhasse minha caminhada da vergonha, mas quando meus olhos
pousaram nos ombros largos de Owen Beck, qualquer pensamento sobre
minha vergonhosa jornada para casa sumiu. Meu cérebro parecia ter
desligado, e minha mente ficou em branco, porque Owen era a última pessoa
que eu esperava ver saindo do carro ao lado.

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Eu pisquei várias vezes enquanto esperava que meu cérebro reiniciasse, e
levou vários longos momentos antes que eu pudesse formar um pensamento
coerente. Owen sempre teve esse efeito sobre mim e parecia que as coisas não
tinham mudado.

O que diabos ele estava fazendo aqui? Era o meio do semestre escolar, e Owen
deveria estar ocupado na prestigiada academia para a qual havia ganhado
uma bolsa de futebol. Ele esteve lá durante todo o ensino médio e eu só o via
de relance quando ele visitava minha casa durante as férias. Certamente não
era época de férias agora, então sua presença me deixou perplexa. Tentei
pensar em um bom motivo para seu misterioso retorno, mas não consegui
encontrar nada.

Eu deveria ter ido até ele e lhe dado as boas-vindas, como uma pessoa normal
faria, mas meu corpo estava congelado no lugar e tudo o que eu podia fazer
era observar enquanto ele começava a caminhar em direção à casa com a sua
mãe. Ele não olhou na minha direção, mas talvez fosse uma coisa boa. Graças
ao treino intenso de torcida após a escola e o meu carro quebrado, eu estava
um pouco desgrenhada hoje à noite. O fato de eu estar observando-o como
uma colegial apaixonada também não teria sido uma boa impressão para mim.

Era difícil não notar como Owen estava incrivelmente lindo hoje em dia. Ele
havia ganhado um monte de músculos desde a última vez que o vi, e parecia
ter ficado ainda mais gostoso, se é que isso era possível. Será que realmente
se passaram apenas alguns meses desde sua última visita ao país? Porque a
quantidade de músculos que ele havia adquirido nesse período simplesmente
não poderia ser humanamente possível.

Só quando ele entrou na casa e desapareceu de vista foi que consegui me livrar
da minha surpresa ao vê-lo e começar a me mexer novamente. Era como se
eu tivesse acordado de um sonho, com meus membros formigando, como se
estivessem adormecidos há horas. Minha audição parecia ter voltado a
funcionar também, porque de repente ouvi o porta-malas do carro fechar com
força e finalmente notei que Owen não estava sozinho com sua mãe.

Seu irmão Ethan estava ao lado do carro, com duas grandes bolsas
penduradas em cada um dos ombros. Ele estava olhando na direção da casa,

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mas não se moveu imediatamente na direção dela. Era difícil acreditar que os
dois podiam ser gêmeos, já que eles não poderiam ser mais diferentes.

Os irmãos Beck podiam ter os mesmos olhos azuis, mas a semelhança entre
os dois acabava aí. Owen tinha cabelos loiros claros, um bronzeado constante
e músculos grandes devido ao futebol que jogava. O cabelo de Ethan era
escuro e constantemente bagunçado. Ele também não estava fazendo nenhum
favor a si mesmo com a falta de cuidado que ele tinha com seu guarda-roupa
todos os dias. As camisetas largas de bandas, as calças jeans velhas e os tênis
surrados dificilmente eram o que uma adolescente sonharia.

Ethan ainda frequentava o mesmo colégio que eu, o Lincoln High, mas você
nem perceberia. Ele sempre parecia se fundir com o cenário, então não era
difícil entender porque Owen sempre foi mais popular. Eu duvidava que já
tivesse dito mais do que duas palavras para Ethan, mas isso não me impediu
de seguir em direção a ele. Se alguém soubesse o porquê que Owen estava em
casa, seria o irmão dele.

— Ei, Ethan — o chamei.

Ele estava ajustando uma das malas em seus ombros, mas seus movimentos
pararam ao som da minha voz e ele se virou muito lentamente para me olhar.
Seus olhos se arregalaram um pouco enquanto me via caminhar na direção
dele, ele empurrou os óculos para cima do nariz à medida que sua surpresa
inicial se transformou em confusão. Morávamos um ao lado do outro há anos
e eu nunca o havia cumprimentado aleatoriamente antes. Eu mesma ficaria
chocada se ele puxasse conversa comigo. Vários segundos se passaram antes
que ele finalmente respondesse.

— Hayley, eu posso te ajudar? — sua voz era profunda e surpreendentemente


suave. Não era difícil perceber a cautela em seu tom, ao menos ele sabia quem
eu era, o que eu supunha que era um bom começo.

Formei um grande sorriso em resposta. Eu não podia simplesmente ir até ele


e começar a interrogá-lo sobre seu irmão, então tentei uma tática diferente.

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— Parece que é você quem precisa de ajuda. Quer uma mãozinha com essas
malas? — acenei com a cabeça para a bagagem pesada que pesava em seus
ombros. Apesar do tamanho das malas, ele não parecia estar lutando com
elas.

— Obrigado, mas eu dou conta — ele disse balançando a cabeça rapidamente.


Ele estava prestes a se virar, e eu vi minha oportunidade escapando.

— Seu irmão está de volta à cidade? — balbuciei. As palavras saíram tão


rapidamente que seria um milagre se ele as tivesse ouvido corretamente.

Ethan virou a cabeça de volta na minha direção, e uma ruga se formou em


sua testa. Todo o corpo parecia tenso, e tive a sensação de que ele não estava
tão feliz quanto eu com o retorno de seu irmão.

— Bem, você acabou de vê-lo subir a nossa garagem, então eu diria que isso
responde à sua pergunta.

— Não exatamente — murmurei, o que me rendeu um leve sorriso de Ethan


— Deixe-me reformular, por que seu irmão voltou à cidade?

— Por favor, não me diga que você é membro do fã-clube dele… — o sorriso
desapareceu rapidamente, e sua expressão escureceu.

— Claro que não — zombei. Eu não era apenas uma membro, eu era a
presidente.

Eu estava apaixonada por Owen há muitos anos, mas não estava disposta a
admitir isso para Ethan. Owen Beck era completamente inatingível, e quanto
menos pessoas soubessem da minha paixão por ele, melhor.

Não que eu estivesse sozinha em minha paixão. Mesmo no ensino


fundamental, ele tinha sido como um deus entre nós, meros mortais. Todas
as garotas estavam atrás dele. Diferentemente da maioria das garotas, no
entanto, eu não tinha esquecido essa paixão quando começamos o ensino

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médio e Owen deixou a cidade. Toda vez que eu o via, meu coração ainda
palpitava como louco, e esse sentimento estava voltando a me atingir agora.
Era engraçado, porque eu nem sempre gostei de Owen. Na verdade, eu
acreditava que ele era completamente arrogante, mas um dia, na aula de
inglês, ele me surpreendeu.

Todos nós tínhamos recebido uma tarefa de poesia para o dever de casa e a
de Owen era tão boa que o professor havia pedido a ele para lê-la na frente da
turma. Eu pude ver imediatamente o motivo, porque o poema era lindo.
Mostrava que havia muito mais nele do que o astro do futebol que a escola
conhecia e amava. Havia uma alma reflexiva e profunda, escondida sob as
camadas de humor e frivolidade. Suas palavras haviam revelado seu coração
atribulado, e eu me apaixonei por ele ali mesmo na aula. Certamente não
ajudou o fato de ele ser lindo e ter ficado ainda mais atraente ao longo dos
anos.

— Então, por que o Owen está em casa? — Eu instiguei.

— Por que você quer tanto saber?

— Eu não quero — eu disse e minhas bochechas esquentaram, me esforcei


para manter contato visual com ele — Sabe de uma coisa, não importa, eu
estava apenas puxando conversa. Vejo você por aí, Ethan.

Eu me virei e corri para a entrada da garagem antes que ele pudesse


responder, ou antes de minhas bochechas ficarem vermelhas e me
denunciasse, como sempre faziam quando eu estava envergonhada. Eu não
precisava que Ethan Beck descobrisse minha paixão secreta por seu irmão.
Eu teria que deixar o mistério do retorno de Owen à Lincoln para outro dia.

Meu constrangimento me acompanhou para dentro de casa, mas logo foi


substituída por um frenesi de nervos ao lembrar de como esta tarde
estressante e emocional havia começado. Meu carro estava quebrado, e eu
precisava contar aos meus pais. Andei lentamente pela casa procurando
minha mãe, papai ainda estaria no trabalho, então pelo menos eu não teria
que enfrentá-lo, ainda.

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Bati na porta do escritório de minha mãe e a sensação de apreensão só
aumentou quando ela me chamou para entrar. Abri a porta, entrando com
calma na sala. Como sempre, seu escritório estava uma bagunça, e hoje
parecia que uma fábrica de cortinas tinha explodido aqui.

Mamãe trabalhava como designer de interiores, mas não era exatamente a


pessoa mais organizada, então ela nunca guardava suas coisas.

— Hayley, querida, você está em casa — mamãe disse, me dando um sorriso.


Ela pegou dois pedaços de tecido e os trouxe até mim — Estou substituindo
aquelas cortinas sem graça na sala de estar. Qual você prefere, o verde caçador
ou o verde esmeralda? — Seus olhos estavam brilhantes de entusiasmo, como
se tivesse acabado de me pedir para escolher entre uma viagem em família
para a Disneylândia ou uma viagem para o SeaWorld. Ela sempre ficava assim
em relação ao trabalho. Minha mãe era uma daquelas pessoas que viviam a
vida nos extremos emocionais do espectro. Ela nunca se expressava de forma
contida.

— Er, nenhum dos dois?

Seus olhos se estreitaram, e ela assentiu decisivamente com a cabeça.

— Sim, você está completamente certa. Deveríamos estar procurando algo


mais neutro — ela se virou para voltar à sua mesa e começou a procurar mais
opções — Como foi o seu dia na escola?

— Foi bom.

— E o treino das líderes de torcida correu bem?

— Uh, claro — uau, eu realmente estava tendo dificuldade para contar a ela o
que tinha acontecido com o carro. Mamãe era uma mãe compreensiva, então
não deveria ser tão difícil. Eu costumava ser muito boa em assumir a
responsabilidade pelos meus erros. O carro quebrou e nem foi culpa minha,
mas a volta para casa no carro da polícia me assustou. De repente, parecia
que eu tinha feito algo errado.

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— A Laurie ainda está te pressionando?

— Ela não seria a Laurie se não estivesse pressionando — eu respondi.

A capitã do nosso grupo de líderes de torcida me fez correr voltas no campo


durante a maior parte do treino, porque eu fui idiota o suficiente para parar
para beber água. Aparentemente, isso significava que eu não tinha resistência.
Eu não era a pessoa favorita de Laurie, então minhas punições sempre foram
particularmente brutais, e a de hoje não foi diferente. Eu não sabia porque ela
não gostava de mim, mas tinha a sensação de que era porque eu não a adorava
como a maioria das outras garotas da equipe.

Teria sido tão fácil continuar conversando sobre as líderes de torcida, mas eu
sabia que precisava contar a verdade sobre o meu carro. Ergui os ombros,
sabendo que era agora ou nunca. E não tinha opção, porque eu queria
desesperadamente que meu carro fosse consertado.

— Mãe, meu carro quebrou hoje — eu disse rápido, como se estivesse


arrancando um Band-Aid. Meu rosto até se contraiu em preparação, como se
eu estivesse me preparando para a dor que vinha quando você arranca o
adesivo da pele.

— O quê? — Mamãe girou para me encarar, uma expressão de preocupação


gravada em seu rosto — O que aconteceu?

— Bom… — eu comecei minha explicação sobre como eu havia parado o carro


enquanto dirigia para casa para cantar uma música da Taylor Swift. Isso, pelo
menos, mamãe entendeu, e ela concordou com a cabeça. Ela provavelmente
teria feito a mesma coisa, já que ambas tendemos a cantar com muitos
movimentos de mão, especialmente quando se trata das músicas da Taylor.
Quando cheguei à parte onde o carro precisou ser rebocado e o xerife me levou
para casa, ela se aproximou rapidamente e me abraçou forte.

— Oh, minha pobre garotinha, isso deve ter sido tão aterrorizante para você.
Eu abafei uma risada. Não tinha certeza se "aterrorizante" era a palavra certa,
mas pelo menos ela não estava brava comigo.

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— O motorista do guincho levou o carro para a oficina do Mike — eu disse,
saindo do abraço dela — Ele me disse que precisamos ligar para o Mike
amanhã para ver qual é o problema.

Mamãe assentiu seriamente.

— Vou adiar minha primeira reunião amanhã para poder te levar à escola —
disse ela, assentindo seriamente.

— Mamãe, você não precisa fazer isso. Provavelmente consigo convencer um


dos meus amigos a me dar uma carona — minha casa ficava um pouco fora
do caminho, mas eu tinha certeza de que ficaria bom por uma manhã.

— Não seja boba, eu te levo — ela parecia determinada a ajudar, e eu sabia


que não havia como discutir com ela depois que se decidisse. Passei o pé pelo
chão enquanto pensava em minha próxima pergunta.

— Você acha que o papai vai ficar chateado comigo?

Meu pai tendia a se preocupar por toda a nossa família. Provavelmente era
bom que um de nós levasse a vida a sério, mas eu estava nervosa que ele
surtaria quando descobrisse que havia um problema com o carro. Mamãe me
segurou pelos ombros e começou a me levar em direção à porta.

— Não se preocupe com seu pai, ele vai ficar bem. Agora, que tal começar a
fazer sua lição de casa?

— Acho que posso começar a fazer minha redação de inglês — soltei um


suspiro e sorri.

Senti uma sensação de calma me envolver enquanto saía do escritório. Mamãe


tinha entendido perfeitamente o que aconteceu com o carro. Eu deveria saber
que ficaria tudo bem. Mas meu alívio durou pouco e foi rapidamente
substituído por irritação quando vi minha irmã me esperando no final do
corredor.

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Kitty era quatro anos mais nova do que eu e era praticamente a personificação
da Regina George de Meninas Malvadas na vida real - ela era má. Sua vida
girava em torno de ser popular e ela fazia praticamente qualquer coisa para
dominar sua série na escola. Ela até entrou para a equipe de torcida do ensino
médio para aumentar seu status. Eu só torcia porque gostava, e não suportava
metade das meninas do nosso time.

— Você está tentando me fazer morrer de vergonha? — ela gritou para mim.

— Ah, oi, Kitty, como foi a escola? — eu não parei para perguntar o que eu
tinha feito para deixá-la chateada agora, sempre havia alguma coisa, passei
direto por ela. Mas Kitty aparentemente estava em uma missão, porque me
seguiu pelo corredor.

— O que todos na escola vão pensar quando descobrirem que minha irmã
estava em um carro de polícia? — ela continuou — Eu não posso ser parente
de alguma criminosa.

— Vocês ainda vão fazer aquela venda de bolos na sexta-feira? — eu sempre


achei que a melhor maneira de lidar com os acessos dela era fingir que eles
não estavam acontecendo. Isso só a irritava mais, o que eu secretamente
adorava.

Eu entrei no meu quarto, e Kitty parou do lado de fora da porta, cruzando os


braços sobre o peito e me dando seu olhar mais carrancudo.

— Eu não vou deixar você arruinar minha reputação, então estou te dando
esse único aviso — ela ordenou — Seja lá qual for a encrenca em que você está
se metendo, ela para agora.

Tentei conter o riso que ameaçava escapar do meu peito. De verdade. Mas
parecia que simplesmente não conseguia evitar, e um pequeno grunhido
escapou de mim. O som só fez os olhos da minha irmã se encherem de mais
desprezo, e eu comecei a falar rapidamente antes que as coisas piorassem.

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— Olha, obrigado pela conversa. Você realmente me colocou no caminho certo
— eu dei um tapinha no ombro dela antes de fechar a porta do meu quarto.

— Não vou deixar você me arruinar! — ela gritou através da porta.

Dessa vez, não consegui conter minha risada. Tinha achado que a viagem de
volta para casa no carro da polícia tinha sido ruim, mas a reação exagerada
de Kitty realmente me fez perceber o quão insignificante foi. Não havia motivo
para tanto drama.

Fui até a minha mesa para ligar o laptop e me afundei na cadeira enquanto
esperava o computador iniciar. Minha mesa ficava sob a janela do meu quarto
e, quando olhei para fora, conseguia ver diretamente a casa dos Beck, mais
precisamente, o quarto do Ethan.

Ele estava sentado na cadeira da escrivaninha dedilhando sua guitarra, como


fazia todos os dias quando chegava da escola. A mãe dele estava sempre
falando com a minha sobre a banda em que ele tocava com os amigos. Eu não
tinha ideia se eles eram bons, pois nunca o tinha ouvido tocar. Dada a
quantidade que ele praticou, ele não poderia ser terrível.

Enquanto observava Ethan, não pude deixar de pensar sobre o irmão dele e
me perguntar por que ele tinha voltado para casa. Mesmo durante as férias
escolares, Owen raramente estava por perto, já que sempre tinha um
acampamento de futebol para ir. Será que ele voltaria por muito tempo ou seria
uma visita curta? Eu poderia me atrever a esperar que ele ficasse em casa por
mais do que alguns dias? Eu estava desesperada para saber, mas não tinha
como descobrir. Talvez eu devesse tentar perguntar a Ethan sobre seu irmão
novamente.

Como se sentisse que eu estava observando, Ethan ergueu os olhos da


guitarra e olhou diretamente nos meus olhos. Entrei em pânico e
instintivamente abaixei a cabeça. Fiz isso tão rápido que perdi o equilíbrio e
caí da cadeira, meus braços e pernas agitando no ar enquanto eu caía no
chão. Não havia como Ethan não ter percebido e eu devia ter parecido uma
completa idiota.

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Enquanto eu estava deitada no chão do meu quarto, me senti completamente
envergonhada, ainda mais constrangida do que havia ficado ao falar com o
Ethan mais cedo. Ele não apenas me pegou encarando-o, mas minha reação
só piorou tudo, não tinha como perguntar sobre o Owen agora. Eu teria sorte
se pudesse sequer olhar nos olhos dele novamente.

Quando se tratava dos irmãos Beck, parecia que havia uma coisa da qual eu
podia ter certeza: eu não conseguia evitar agir como uma completa idiota perto
de qualquer um deles.

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02 - Ethan

Minha vida estava arruinada. Bem, talvez não completamente, mas era seguro
dizer que meu futuro era sombrio. Meu irmão finalmente tinha feito algo
estúpido o suficiente para perder a bolsa de atleta e ser expulso da academia
esnobe em que ele vinha estudando nos últimos anos. No entanto, a pessoa
que mais sofreria com as consequências dos erros dele, seria eu.

Nossa família sempre tomava café da manhã juntos e, embora eu


normalmente não me importasse, hoje era uma tortura. Papai estava em uma
viagem de negócios, então era só mamãe, Owen e eu sentados ao redor da
mesa da cozinha. Ninguém estava falando e mamãe mal tinha tocado na
comida. Ela nem conseguia olhar para o meu irmão, o que era uma mudança
perceptível em relação à forma como ela normalmente tratava o queridinho da
família.

O silêncio que se estendia entre nós, não era apenas desconfortável, era
doloroso. Era como se o silêncio tivesse sugado a umidade do ar e as moléculas
ao nosso redor se tornassem ásperas e frias, roçando contra nossa pele. Era
uma diferença marcante em relação à atmosfera da casa na noite anterior.
Owen tinha chegado em casa ontem e mamãe tinha praticamente perdido a
voz depois de horas de discussão com meu irmão. Até papai tinha dado sua
opinião pelo telefone, que mesmo a milhares de quilômetros de distância,
deixou sua desaprovação mais do que evidente na noite passada.

Eu tinha me retirado para o meu quarto na primeira oportunidade. Eu


realmente não queria participar da briga, especialmente quando ainda estava
animado pelo fato de Hayley Lawson finalmente ter falado comigo. Pode ser
que ela tenha feito isso apenas para me perguntar sobre meu irmão, mas eu
não deixaria esse pequeno detalhe estragar o momento. Ela tinha me notado
pela primeira vez, eu mal podia acreditar nisso.

— Você vai comigo para a escola hoje — disse mamãe, finalmente quebrando
o silêncio. Ela ainda se recusava a olhar nos olhos do meu irmão, mas estava
bem claro que ela se dirigia a ele. — Precisamos te matricular para que você
possa começar na próxima semana.

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Graças à sua expulsão, Owen estava voltando para Lincoln High, e eu estava
apreensivo. Nós não éramos do tipo de gêmeos que liam os pensamentos um
do outro, éramos do tipo que não se suportavam, e a distância entre nós só
havia piorado desde que ele se mudou. A academia que ele frequentou o
transformou completamente, e ao longo dos anos, ele passou de um pouco
autoconfiante para completamente convencido. Ele realmente achava que
tinha criado o sol e que ele brilhava apenas para ele. A última coisa que eu
queria era ver o rosto arrogante dele nas aulas pelo resto do ano.

— Claro, mãe — ele deu a ela seu sorriso característico, que normalmente era
uma das armas mais mortais em seu arsenal.

Aquela coisa era como mágica e sempre conseguiu encantar até mesmo os
críticos mais severos. De professores irritados a treinadores rigorosos,
ninguém conseguia resistir ao Owen quando ele sorria para eles assim, e
nossa mãe era a mais ingênua de todos. Ela mal o olhou, e o sorriso dele
vacilou.

— Esta escola é a sua última chance — ela disse — E você tem uma sorte
incrível por estarem permitindo que você se matricule lá depois do que você
fez. Se eu ouvir um único sussurro de que você não está agindo como um
aluno exemplar, vou trancar você no seu quarto e jogar a chave fora até você
se formar. Esse bom comportamento começa hoje.

Ele abriu a boca para dizer algo, mas mamãe já estava fora da cadeira e indo
em direção à cozinha antes que ele pudesse pronunciar uma palavra. Dizer
que ela estava furiosa era um eufemismo, e eu não a culpava. Owen tinha feito
muitas coisas estúpidas ao longo dos anos, mas finalmente tinha ido longe
demais.

Ele mal tinha falado comigo desde que voltou e eu estava mais do que feliz
para que as coisas continuassem assim. Eu não queria ouvir nada que saísse
da boca do Owen. Infelizmente para mim, eu estava sozinho com ele.

— Contente em me ter de volta, irmão?

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De repente, eu estava sentindo falta do silêncio constrangedor que havia
preenchido a casa durante toda a manhã. Olhei para o lado e dei uma mordida
na minha torrada para evitar ter que responder. Eu realmente não queria
mentir, então preferia apenas fingir que ele não estava falando.

— Bem, pelo menos as garotas em Lincoln ficarão felizes em me ver — ele


grunhiu.

Meu estômago retorceu quando pensei na única garota que já tinha mostrado
interesse na chegada dele: Hayley. E se ele notasse ela também? Ele a viu
observando ele ontem? Minha torrada parecia ficar presa na minha garganta
com esse pensamento. De alguma forma, consegui engolir antes de focar no
meu irmão mais uma vez.

— Você está de olho em alguma delas?

— Não — Owen recostou-se na cadeira — Mas com certeza terei muitas delas
me desejando quando estiver de volta à aula.

— Com certeza — murmurei concordando.

O resto do ano começava a parecer que poderia se estender por uma


eternidade. Owen de volta era como uma forma de punição e eu realmente
tinha que me perguntar o que eu tinha feito de errado para merecer isso.

— Pelo que ouvi, estarei de volta bem a tempo para o baile — ele continuou —
Você tem um par? — eu não respondi e ele me deu um sorriso satisfeito —
Acho que não.

— Não seja tão presunçoso, você também não tem um par — comentei.

Seus olhos brilharam com diversão.

— É verdade, — disse, seus olhos brilhando com diversão — mas ao contrário


de algumas pessoas, posso ter qualquer garota que eu queira. Além disso, eu

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nunca garantiria um par para o baile antes de um ou dois dias antes da dança.
As garotas ficam muito grudentas e quem sabe o que você pode estar perdendo
se ficar preso cedo demais?

Coloquei o resto da minha torrada de volta no prato, perdendo meu apetite.


Meu irmão parecia não se importar por ter perdido sua bolsa de estudos. Será
que as garotas eram realmente tudo o que ele conseguia pensar agora? Ele
não se sentia mal por ter deixado a mãe tão chateada da maneira como ele
fez?

Peguei meu prato e me levantei da mesa. Eu não queria ouvir seja lá qual fosse
a coisa estúpida que meu irmão diria em seguida.

— Onde você vai? — ele resmungou enquanto observava meu pedaço de


torrada pela metade.

— Para a escola, alguns de nós ainda são bem-vindos lá — eu não esperei


para ouvir a resposta dele.

***

— E aí, perdedor? — Isla perguntou, enquanto se jogava na cadeira ao meu


lado.

Eu estava sentado na sala de aula, mergulhado em meus pensamentos sobre


o retorno do Owen, e minha amiga era uma distração bem-vinda. Enquanto a
olhava, notei que ela tinha tingido as pontas do cabelo escuro de azul durante
o fim de semana, combinado com suas botas militares, jeans justos e a camisa
xadrez amarrada na cintura. Ela parecia uma espécie de princesa punk
coreana.

— Novo penteado? — perguntei.

— Sim — ela sorriu enquanto enrolava as mechas azuis de cabelo em um dos


dedos — Eu pareço legal o suficiente para estar na sua bandinha agora?

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— Definitivamente você tem a aparência certa, mas ainda tem o pequeno
problema de não ter ouvido musical, então acho que a coisa da banda não vai
acontecer — eu disse, rindo.

— Eu tenho ouvido musical, só enfrento mais dificuldade para acertar o tom.


E vocês teriam sorte em ter o meu estilo musical desafinado — ela ainda estava
sorrindo, então eu sabia que ela não estava se ofendendo.

Nós éramos amigos desde sempre, e essa não era nem de longe a primeira vez
que eu brincava com ela sobre sua falta de habilidades musicais. Na verdade,
ela não era tão ruim assim cantando, mas estávamos fazendo piadas sobre
isso há tanto tempo que às vezes eu esquecia que não era verdade.
— Acho que vou ter que me contentar em ser a maior fã da banda — ela
continuou — Você acha que vou precisar tatuar o seu rosto nas minhas costas
para ganhar meu lugar no fã-clube?

— Ah, não.

— Por favor, não faça isso — Colin acrescentou enquanto se sentava na


carteira ao meu lado — O Ethan já tem fãs suficientes, e não queremos dar a
eles ideias.

— Eu não tenho fãs.

— Claro que tem — Isla disse rindo — Não que você preste alguma atenção
neles.

— Eu não tenho fãs — repeti.

— Então, aquelas garotas sempre gritando o seu nome quando a banda toca
são apenas um produto da minha imaginação? — ela perguntou.

Respondi com um grunhido, decidindo que era mais fácil ignorar o comentário
do que tentar convencer a Isla do contrário.

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— De qualquer forma, se você vai tatuar o rosto de alguém nas suas costas,
não deveria ser o do Dex? — perguntei em vez disso.

Dex era o nosso baterista e namorava Isla há quase um ano. Ele estava na
faculdade e era a principal razão de conseguirmos a maioria dos shows da
banda. Ele era um expert em convencer os gerentes dos locais a nos darem
uma chance, algo que eu tinha certeza que Colin e eu falharíamos
miseravelmente se dependesse de nós.

Isla estava prestes a responder, mas fui distraído quando Hayley Lawson
entrou na sala de aula. Meu olhar a seguiu enquanto ela ia se sentar ao lado
de uma de suas amigas, seu rabo de cavalo alto balançando enquanto ela se
movia pelo ambiente.

A aula da manhã era a melhor e pior parte do meu dia. Era a melhor porque
eu começava cada manhã com meus dois melhores amigos. Mas também era
a pior porque todos os dias eu via Hayley entrar na sala e, todos os dias, ela
não percebia a minha presença. Ela poderia finalmente ter conversado comigo
na noite passada, mas eu sabia que era só por causa do meu irmão. Era mais
uma razão para odiá-lo. Ele chamou a atenção da garota de quem eu gostava
sem nem mesmo tentar.

— Quem sabe o Ethan é quem precisa de uma tatuagem nas costas — Colin
disse, percebendo para onde eu estava olhando.

— Cala a boca — Dei um soco no braço dele.

— Você não quer dizer uma tatuagem no coração? — Isla acrescentou.

— Eu também socaria seu braço, mas não posso, porque você é uma garota
— fiz uma careta para ela.

— Isso é tão sexista — respondeu Isla.

Revirei os olhos e toquei levemente meu punho contra o braço dela.

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— Muito melhor — ela riu antes de ficar séria — Você vai parar de ficar
suspirando por ela algum dia?

— Eu não estou suspirando por ninguém.

— Bem, está — disse Colin — Você está há anos.

— E está ficando ridículo — acrescentou Isla — Você é o vocalista principal da


Velocity. E eu sei que isso não significa nada para a maioria dos idiotas da
nossa escola, mas vocês ganharam a batalha das bandas no ano passado, e
são incrivelmente talentosos. Tem garotas que dariam tudo para sair com
você. Garotas da faculdade.

— Ela têm razão, sabe — Colin acrescentou — Várias garotas estavam


esperando por nós nos bastidores de sábado à noite e tenho quase certeza de
que elas não estavam lá por minha causa.

— Claro que estavam.

— Sim, porque as garotas gostam de caras magros e ruivos — respondeu ele,


com sarcasmo escorrendo de sua língua.

— Elas adoram quando você está tocando guitarra — Isla disse a ele.

Eu concordei com ela. O talento de Colin quando ele tocava era incomparável,
e não teríamos vencido a batalha das bandas no ano passado sem ele.

Colin fez uma careta. Ele nunca teve muita sorte com garotas, o que
provavelmente explica porque ele não acreditava na gente. Eu também não
tinha exatamente o melhor histórico, mas era apenas porque eu estava
completamente obcecado pela única garota que nunca olharia duas vezes para
mim.

Eu me lembro do momento exato em que me apaixonei por Hayley. Tínhamos


treze anos, e era o primeiro dia de aula de educação física do ano. Bobby
Newman tinha chegado perto de Hayley e dito que ela estava bonita. Lembro

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dela corando até o momento em que ele baixou o olhar para o peito dela e
parabenizou seus seios por finalmente aparecerem. Ela o socou no nariz,
fazendo-o chorar até o consultório da enfermeira.

Aquele momento pareceu um raio me atingindo. Sempre achei que Hayley


fosse bonita. Mas foi a atitude dela que fez meu coração dar um salto. Hayley
não aceitava desaforo de ninguém, o que só a tornava mais atraente. Havia
algo muito sexy em uma garota que sabia se impor. Porém, não tinha
esperança nenhuma de chamar a atenção dela. Eu estava tão completamente
fora do campo de visão dela, que me perguntava se era apenas um borrão no
fundo, sempre que estávamos na mesma sala.

Realmente não ajudava muito as minhas chances o fato de que Hayley parecia
gostar do meu irmão. Ela sempre estava tão cheia de vida, mas sempre que
ele estava por perto, parecia um coelho nos faróis. Seus olhos ficavam grandes,
e ela parecia querer sair correndo. Na noite passada, quando ela o viu, parecia
completamente incapaz de se mover. Foi doloroso vê-la descer a garagem e se
transformar em uma estátua quando o Owen saiu do carro. Só percebeu que
eu estava ali depois que ele tinha entrado em casa.

Essa era outra razão importante pela qual eu não queria meu irmão de volta
na escola comigo. Se ele percebesse o quão incrível a Hayley era, eu a perderia
para sempre. Owen era tão centrado em si mesmo que eu estava torcendo para
que isso não acontecesse.

— Por que você não sai com alguém que realmente sabe que você existe? —
perguntou Isla.

Ela estava falando com o que eu chamava de voz materna, que ela adorava
usar em cima do Colin e de mim sempre que sentia a necessidade de nos dar
conselhos. Ela não era exatamente alguém que economizava em opiniões,
então essa voz costumava aparecer diariamente.

— Hayley sabe que eu existo — resmunguei. Pelo menos ela mostrou que sabia
o meu nome na noite passada, o que era algo.

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— Você tem certeza disso? — perguntou Colin — Eu sei que você gosta dela,
mas talvez a Hayley seja igual a todas as outras líderes de torcida da nossa
escola.

Ele não estava olhando para Hayley quando falou. Em vez disso, estava
concentrado nas mechas loiro-platinado da capitã do time de líderes de
torcida. Laurie não tinha nada a ver com Hayley, no entanto, ela era uma
rainha do gelo que governava nossa escola, causando terror nos corações de
todos os seus súditos. Eu frequentemente a via passando por estudantes no
corredor como se eles não estivessem lá, e ela realmente não teria a menor
ideia de quem eu era. Fiquei chocado que o Colin sequer pudesse sugerir que
as duas poderiam ser parecidas.

— Hayley sabe que eu existo — repeti — E ela não é nada parecida com a
Laurie.

Olhei para a Isla em busca de apoio, mas ela estava me olhando com a cabeça
inclinada para o lado, como se estivesse me avaliando.

— Talvez, se você tirasse seus óculos na escola, as garotas aqui te notariam


— ela sugeriu — Você nunca os usa nos shows, e os óculos só enfatizam toda
aquela vibração de nerd recluso que você sempre transmite. Isso está
prejudicando sua imagem.

— Eu preciso dos meus óculos para ler, Isla — além disso, se eles não
estivessem no meu rosto, eu me esqueceria deles, era muito mais fácil usá-los
o tempo todo.

— E você sempre veste roupas tão desleixadas — ela continuou, como se não
tivesse me ouvido — Você passa todas as manhãs na sua garagem fazendo
musculação, e todos nós vimos, no verão passado, o físico que você está
escondendo debaixo dessas camisetas folgadas. Se você usasse roupas um
pouco mais ajustadas, talvez tivesse mais sorte em chamar a atenção das
garotas daqui.

— Você andou assistindo a um daqueles programas de transformação de


novo?

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— Só estou tentando ajudar — Isla revirou os olhos

— Bem, eu agradeço, mas não preciso que as garotas me notem.

— Claro que precisa — ela continuou — Sabe, se você fosse um pouco mais
confiante e se esforçasse metade do que o seu irmão se esforça na aparência,
você atrairia tanta atenção quanto ele. Por favor, me deixa te levar às compras?

— Não envolva o Owen nisso e não vamos às compras, minhas roupas estão
boas.

Isla sabia perfeitamente que eu não me dava bem com meu irmão gêmeo,
então fiquei surpreso por ela tê-lo usado como parte de seu pequeno discurso
animador. Também foi estranho ela tê-lo mencionado, porque eu não tinha
contado a nenhum dos meus amigos que Owen voltaria para à Lincoln High
para terminar o ano. Ele só começará as aulas na semana seguinte e eu não
consegui admitir a terrível verdade em voz alta. Todos eles descobrirão em
breve e eu provavelmente nunca ouviria o fim disso. Esta será minha última
semana de paz na escola, não queria que Owen perturbasse isso.

— Cara, até eu sei que suas roupas não estão boas — disse Colin.

A professora entrou na sala, e as conversas na sala de aula diminuíram à


medida que ela se sentava em sua mesa e começava a fazer a chamada. Eu
mal estava prestando atenção nela, ao invés disso, olhei entre meus dois
amigos.

— Eu não vou mudar quem sou para chamar a atenção das garotas — sibilei
para eles.

— Eu não estou dizendo que você precisa mudar. Só estou sugerindo que você
realce seus pontos fortes — respondeu Isla — Estou cansada de esperar vocês
dois arranjarem namoradas, então é hora de melhorarem o jogo.

Eu gemi. Era isso mesmo que minha vida tinha se tornado?

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Colin estava com um sorriso largo, e eu fiz uma careta para ele por se deleitar
com o meu sofrimento. No entanto, seu sorriso rapidamente desapareceu
quando Isla também mirou nele.

— Não fique tão confortável, Colin — ela acrescentou — Vamos focar no seu
desempenho horrível com garotas no almoço.

Ele engoliu visivelmente, e eu tive que conter um sorriso. Eu podia não ter
jeito quando se tratava de garotas, mas Colin era ainda pior. Ele mal conseguia
formar uma frase quando elas estavam por perto e, embora o sermão de Isla
para mim tivesse sido ruim, eu tinha certeza de que o dele seria pior.

— Agora, turma — disse a Sra. Carpenter, sua voz tinha ficado mais alta e
atraiu minha atenção para a frente da sala — Temos um anúncio a fazer esta
manhã. Podem dar atenção ao Angus, por favor?

Ela acenou na direção de Angus Fable, que estava de pé na frente da sala. Seu
peito estava estufado, e ele usava um sorriso confiante enquanto observava a
classe. Angus era o presidente do conselho estudantil e tinha grande
satisfação em ter todos o observando em uma sala. Eu não o conhecia tão bem
assim, mas não era um grande fã do cara. Ele era desonesto demais para o
meu gosto, o que provavelmente o tornava um presidente perfeito.

— Oi, pessoal — ele disse, enfatizando suas palavras com um grande, e


desnecessário, aceno de mão — Tenho algumas notícias empolgantes para
vocês esta manhã. Sei que todos estavam esperando por este momento, mas
estou feliz em anunciar que os ingressos para o baile estarão à venda no
almoço de hoje — Um frenesi de gritinhos e aplausos animados ecoou pela
sala. O sorriso de Angus se alargou — O tema da dança deste ano será O
Inverno Encantado…

— Realmente original — Colin reclamou baixinho ao meu lado.

— E o conselho estudantil terá uma mesa montada na cafeteria, onde vocês


poderão comprar os ingressos — continuou Angus — Se tiverem alguma
pergunta, podem ficar à vontade para falar comigo ou com um dos outros

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representantes estudantis. E da minha parte é isso. Pode continuar, Sra.
Carpenter — finalizou lançando um sorriso falso para a professora antes de
se retirar da sala.

Assim que Angus saiu, a classe explodiu em barulho novamente, o som de


vozes animadas abafando qualquer coisa que a professora estivesse tentando
dizer. Todos estavam falando sobre o baile, e meu olhar imediatamente se
dirigiu para Hayley. Ela estava conversando com outra líder de torcida sentada
ao lado dela e parecia tão feliz quanto todo mundo na sala com o anúncio de
Angus.

— Cara, eu tinha esquecido que era em breve. Nossa escola tem bailes demais
— resmungou Colin.

Concordei enfaticamente. Toda a classe estava ansiosa pelo baile, mas tudo o
que eu conseguia pensar era que era outra oportunidade de rejeição. Havia
apenas uma garota com quem eu queria ir, mas não havia chance de isso
acontecer nesta vida.

— Acho que vamos ter que ir a outro baile sozinhos — disse.

Não consegui evitar olhar na direção de Hayley e desejar que as coisas fossem
diferentes.

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03 - Hayley

Tinha dificuldade em me concentrar no quadro branco. Não era exatamente


uma surpresa, considerando que fiquei distraída durante toda a manhã, e
também não ajudava o fato de a Srta. French estar escrevendo problemas de
matemática incrivelmente complicados lá em cima. Eu não tinha certeza do
que ia fazer quando crescesse, mas sabia que nada na minha vida adulta
exigiria algo além de adições e multiplicações básicas. Talvez um pouco de
subtração, mas não precisaria de mais do que isso.

Falando sério, quem se importava com o valor de x, quando havia questões


muito mais urgentes? Principalmente, com quem eu iria ao baile? Eu tinha
deixado o baile em segundo plano na minha mente, mas agora que os
ingressos estavam prestes a serem vendidos, não conseguia pensar em mais
nada.

Soltei um suspiro longo, o som chamando a atenção da Madi. Ela estava


sentada ao meu lado, escrevendo diligentemente o problema em seu caderno
de matemática, mas olhou para cima quando ouviu o som.

Ela começou a rabiscar uma nota e a passou discretamente para mim.

— O que houve? — dizia a nota.

Eu não respondi por escrito e apenas dei de ombros em resposta. Madi não
entendia o que eu estava passando porque, ela tinha passado quase todo o
ensino médio namorando. Ela não sabia como era desejar um cara que não
sentia o mesmo por você. Ela também não tinha ideia de como era miserável
esperar por um garoto te convidar para um baile. Era especialmente difícil
quando nenhum dos garotos da escola estava interessado em você. Minhas
chances de ter um par para o baile de formatura eram tão remotas que eu
poderia ir para a fila na hora do almoço e comprar meu único ingresso agora.

Esperava que meu encolher de ombros desestimulasse Madi, mas assim que
o sinal tocou, ela começou a me questionar novamente.

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— Sério, Hayles, o que há de errado? — ela perguntou enquanto pegávamos
nossos livros para ir para a próxima aula.
— Você sabe como me sinto em relação à matemática. Sempre me deixa para
baixo.

A Srta. French olhou para cima da sua mesa e franziu a testa para mim. Sim,
ela definitivamente ouviu isso. Ops. Acelerei um pouco o passo para sair da
sala e evitar os olhares furiosos que ela estava me lançando. A Srta. French
realmente não era minha maior fã. Madi me parou assim que estávamos no
corredor.

— Eu sei que não é a matemática que está te incomodando. Você está estranha
a manhã toda.

Mordi meu lábio enquanto a olhava. Ela tinha um olhar determinado nos
olhos, e eu sabia que ela não ia desistir até que eu admitisse a verdade.

— Ok, tá bom. Acho que estou preocupada com o baile. Não tenho certeza com
quem vou.

Seus olhos se iluminaram de surpresa, como se isso fosse a última coisa que
ela esperava que eu dissesse.

— Você não pode ir com um daqueles caras da faculdade com quem você
sempre sai?

Engoli um nó grosso na garganta, incapaz de encarar o olhar de Madi. Todos


os meus amigos achavam que eu só namorava caras mais velhos mas, na
verdade, era uma completa mentira. Tinha saído em um encontro com um
cara que estava na faculdade no ano passado, e foi um desastre total. Não
tínhamos nada em comum, e ele constantemente falava sobre política — um
assunto do qual eu tinha pouco conhecimento ou interesse. Ele me olhava
como se eu fosse burra, e seu tom condescendente me fazia sentir assim. Eu
talvez não fosse a pessoa mais inteligente, mas pelo menos meu biscoito tinha
gotas de chocolate e confeitos, e eu não era um tédio total como ele.

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No entanto, eu não conseguia admitir a verdade sobre o meu péssimo encontro
para os meus amigos. Então, eu exagerei um pouco e disse a eles que o
encontro tinha sido tão incrível que eu não queria mais namorar garotos do
ensino médio. Fiquei presa com essa mentira idiota desde então e não tinha
ideia de como admitir a verdade.

A pior parte era que a história se espalhou, e agora os caras da escola nem se
davam ao trabalho de me convidar para sair. Todos eles presumiram que eu
ia recusar, e eu tinha certeza de que o baile não seria diferente. Sorri
levemente para Madi e acenei com a cabeça.

— Você está certa. Tenho certeza de que consigo convencer um deles a ir.

Sua testa se franziu enquanto me olhava. Aparentemente, eu não tinha


mentido com convicção suficiente, e comecei a falar rapidamente antes que
ela pudesse me interrogar mais.

— Agora, acho que devemos nos concentrar em assuntos mais importantes,


como o que vamos vestir.

— Por favor, não me diga que você quer ir comprar vestidos — Madi gemeu.

Se alguma coisa pudesse levantar meu ânimo, era a ideia de fazer compras,
então comecei a sorrir.

— Isso é uma pergunta? Claro que quero ir comprar vestidos.

— Mas eu sou alérgica a compras — ela reclamou.

— Você não é alérgica, e precisamos ir logo se quisermos encontrar os vestidos


perfeitos a tempo. Você tem algo planejado para este fim de semana?

— Seria ruim se eu dissesse que sim só para evitar uma ida às compras?

— Muito ruim — respondi com uma risada — E você só estaria adiando o


inevitável.

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— Tudo bem, tudo bem, você venceu. Não tenho nada planejado.

— Perfeito. — Eu poderia não ter um par, mas isso não significava que eu não
ia encontrar os dois vestidos mais incríveis da cidade para nós usarmos.
Comecei a caminhar em direção à minha próxima aula, me separando de
Madi. — Deixe a tarde de sábado livre — gritei por cima do ombro para ela.

Ela confirmou com os dois polegares para cima, mas considerando a


expressão resignada em seu rosto, dava para ver que ela estava apreensiva
com isso. Eu sabia que ela mudaria de ideia assim que eu encontrasse algo
incrível para ela vestir. Fui para o meu armário para trocar meus livros. Ele
ficava bem perto da secretaria da escola, e enquanto eu começava a pegar os
que eu precisava para minha próxima aula, a porta da secretaria se abriu.
Meu olhar se desviou para ela no exato momento em que Owen Beck saiu de
lá com sua mãe ao seu lado. Meu coração apertou ao vê-lo e meu corpo vibrou
de curiosidade. Sua expressão estava franzida em uma careta e sua mãe não
parecia muito mais feliz.

Os dois passaram sem olhar na minha direção, mas eu não consegui desviar
meus olhos deles. Por que Owen estava na secretaria? Por que ele estava na
escola afinal? Eu estava desesperada para saber a resposta, mas vendo o quão
tenso ele parecia, percebi que agora não era um bom momento para perguntar.

Ainda fixada em Owen, fechei meu armário, mas instantaneamente senti uma
dor violenta quando meu dedo ficou preso na porta. Meus livros caíram dos
meus braços, e eu puxei o ar entre os dentes enquanto afastava minha mão
da porta de metal. Várias palavras de baixo calão escaparam dos meus lábios
enquanto meu dedo começava a latejar.

Fuzilei o armário com um olhar furioso.

— O que foi que eu fiz para você? — sibilei antes de me abaixar para pegar
meus livros caídos. Meu dedo estava realmente doendo, e eu continuava
tentando mexê-lo na esperança de que a dor pudesse diminuir.

— Ei, você está bem?

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Meu olhar subiu ao som da voz masculina. Por um breve momento, mantive
a esperança vertiginosa de que Owen tinha vindo me ajudar. Em vez disso,
olhei para cima e encontrei o irmão dele parado ali.

Fiquei surpresa ao ver que a preocupação iluminava seu olhar enquanto ele
se agachava para ficar na minha altura. Eu nunca tinha ficado tão perto de
Ethan antes, e percebi que não conseguia desviar meu foco de seus olhos
azuis. Eles eram tão claros que me lembravam o céu em um dia quente de
verão. Mas não o céu acima de nós. Não, a tonalidade clara de azul me fez
pensar no ponto onde o céu mergulhava em direção ao horizonte e a cor
parecia desbotar ligeiramente. Por um momento, senti-me presa em seu olhar,
mas rapidamente me lembrei de mim mesma e voltei minha atenção para
minha mão.

— Eu estou bem — eu disse — Só tive uma briga com meu armário.

— Parece que o armário ganhou — ele respondeu.

— Sim, bem, esta semana realmente não está sendo a minha semana —
resmunguei para mim mesma.

— Por que não está sendo a sua semana? — Ethan perguntou enquanto me
passava um dos meus livros didáticos — Isso tem a ver com o carro de polícia
te dando carona para casa ontem à noite?

Meu estômago afundou, e meus olhos se moveram pelo corredor na esperança


de que ninguém tivesse ouvido. Felizmente, nenhum dos alunos que
passavam parecia estar ouvindo.

— Você viu isso?

Ele assentiu, embora tenha tido dificuldade em manter o contato visual


enquanto explicava.

— Chegamos em casa ao mesmo tempo. Foi difícil não perceber.

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Engoli em seco e tentei permanecer calma. Então, não apenas eu tinha me
envergonhado na frente desse cara, mas agora, ele provavelmente achava que
eu era algum tipo de criminosa insignificante. Ainda pior era a possibilidade
de que Owen também pudesse ter visto. Minhas chances com ele já eram
pequenas, mas isso poderia me tirar da disputa para sempre.

— Você estava com algum tipo de problema? — ele perguntou.

— Não, claro que não. Meu carro quebrou e o policial teve a gentileza de me
dar uma carona para casa enquanto o guincho o levava embora, não é grande
coisa — respondi o mais rápido e silenciosamente possível, me levantando e
organizando os livros em meus braços, pronta para encerrar a conversa —
Obrigada pela ajuda. Tenho que ir para a aula.

Saí caminhando rumo a sala da próxima aula, mas parei ao lembrar do que
havia provocado o incidente com o meu armário em primeiro lugar. Virei e
procurei o final do corredor. Ainda estava movimentado com alunos indo para
as aulas, mas Owen era uma figura marcante, e não era difícil avistá-lo
enquanto ele desaparecia ao virar a esquina com sua mãe. Meu coração
afundou ao perceber que tinha perdido mais uma oportunidade de falar com
ele.

— Vai ser difícil manter isso em segredo — disse Ethan, seguindo meu olhar
até onde seu irmão tinha desaparecido. Agora que ele tinha ido embora,
finalmente percebi que não era a única garota olhando na direção de Owen.
Vários grupos de garotas próximas estavam rindo e claramente cochichando
sobre ele. Aparentemente, foi preciso apenas uma aparição do cara para
reativar o clube de fãs de Owen Beck.

— O que vai ser difícil de manter em segredo?

Ethan soltou um longo suspiro antes de responder.

— Owen está voltando para Lincoln High.

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— O quê? — girei para olhar para Ethan. Minha resposta tinha sido animada
demais e rapidamente tentei recuar — Quer dizer, ele está?

Desta vez, consegui soar mais neutra, mas, na verdade, mal conseguia
respirar. Isso não podia estar acontecendo. Era como um sonho se tornando
realidade.

Ethan assentiu, mas parecia que a ideia o deixava completamente miserável.

— Mas por quê?

— Porque meu irmão é um idiota — disse ele — Você não estava indo para a
aula?

— Ah, sim, ia.


— Te vejo por aí, Hayley — ele foi embora antes que eu pudesse perguntar
mais alguma coisa sobre o irmão dele. Estava claro que ele não estava
animado com a ideia de Owen se juntando a nós na escola novamente, mas
para mim, era a melhor notícia do ano.

Uma sensação de empolgação correu por mim enquanto eu ia para a aula. Eu


tinha uma queda por Owen há tanto tempo, e agora que ele estava de volta,
eu finalmente poderia ter uma chance com ele. Ele nunca tinha me dado muita
atenção antes, mas eu estava esperando que desta vez as coisas fossem
diferentes.

Enquanto eu passava por um pôster do baile que estava colado na parede,


senti uma súbita explosão de otimismo. Esta manhã, não havia ninguém por
quem eu estivesse interessada em ir para o baile, mas era incrível como muita
coisa podia mudar em algumas horas. Agora que Owen estava voltando para
a escola, finalmente havia alguém que eu poderia imaginar como meu par. O
único problema era que ele também precisava se ver indo ao baile comigo.

Eu me preocupei com isso durante toda a minha próxima aula, e assim que o
sinal para o almoço tocou, eu corri para encontrar Madi no armário dela. Ela
sempre era a voz da razão na nossa pequena dupla, e eu precisava da opinião
dela sobre o que fazer.

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A encontrei enquanto ela guardava seus livros, com Cole encostado no armário
ao lado dela. Ele estava sorrindo olhando para ela, os olhos dele enrugados de
felicidade enquanto ela ria de algo que ele tinha dito. Os dois eram muito fofos
juntos, e por um momento, eu me perguntei se o Owen e eu seríamos tão fofos
assim se estivéssemos juntos. Mas logo afastei essa ideia, eu estava indo longe
demais. O sorriso da Madi cresceu quando ela fechou a porta do armário e me
viu vindo em sua direção.

— Eu sei que seu carro está inutilizável, mas Cole se ofereceu para nos dar
uma carona para fazer compras de vestido no fim de semana.

— Isso seria ótimo — respondi, mas não soou nem perto do entusiasmo
necessário. Eu estava distraída demais para criar o nível apropriado de
animação.

O sorriso da Madi vacilou um pouco.

— O que aconteceu? — ela me conhecia bem demais.

— Acabei de ouvir que o Owen Beck vai voltar para Lincoln High.

— O quê?

— O Owen está voltando para Lincoln — repeti.

Os olhos da Madi estavam arregalados de surpresa, mas ela também estava


me observando atentamente. Ela sabia que eu tinha a maior queda pelo Owen
no passado, mas eu nunca contei a ela que isso não desapareceu com o tempo.
Eu pude ver que ela estava tentando decifrar exatamente o quanto eu estava
afetada pela notícia. A resposta? Muito.

— Bem, isso é inesperado — disse o Cole, entrando na conversa — Não consigo


imaginar ele desistindo da bolsa atlética. Ele estava em uma das melhores
escolas de futebol do país. Você sabe o que aconteceu?

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— Na verdade, não. Foi o Ethan quem me contou a notícia, e tudo o que ele
disse foi que o Owen está voltando porque é um idiota. Não é uma explicação
muito boa.

— Não, isso não nos dá muita informação — concordou Cole.

Nós três começamos a caminhar lentamente em direção à cafeteria. Eu estava


praticamente transbordando de vontade de falar com a Madi a sós.

— Uh, Mads, precisamos ir ao banheiro — eu gaguejei, quando chegamos


perto de um.

— A gente precisa?

— Sim, eu tenho uma, uh, emergência de rímel e preciso da sua ajuda — Dei
um sorriso de desculpas para o Cole — Nos encontramos na cafeteria — eu
disse a ele antes de puxar a Madi. Eu não ia dar a ela a oportunidade de
discutir. Isso era muito importante.

— O que exatamente é uma emergência de rímel? — ela perguntou, enquanto


eu a arrastava para dentro da sala.
— Uma desculpa muito patética para ficar a sós com você. Preciso conversar
com você.

— Ah — ela riu — Você podia ter dito, o Cole teria entendido.

— Prefiro muito mais as abordagens do tipo enigma e espionagem.

Ela balançou a cabeça para mim, diversão brilhando nos olhos.

— Então, o que está acontecendo?

Olhei para as cabines do banheiro. As portas estavam abertas, então eu sabia


que estávamos sozinhas. Respirei fundo e soltei minha resposta.

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— Eu quero ir ao baile com o Owen.

— Então, você ainda gosta dele? — Madi começou a sorrir.

— Isso é o eufemismo do século.

— Você me disse que tinha superado sua paixão por ele anos atrás — ela
pareceu surpresa com a minha resposta.

— Uh… — Fiquei sem palavras procurando uma resposta.

— Foi bem antes do baile Sadie Hawkins no oitavo ano — ela continuou —
Você foi lá para minha casa para se arrumar e disse, e cito, 'Eu superei
completamente minha paixão pelo Owen Beck!'

A Madi estava certa. Eu tinha dito isso a ela, mas infelizmente, não era a
verdade. Eu estava determinada a convidar o Owen para ir ao baile comigo,
mas acabei amarelando no último minuto e a Laurie o convidou em vez de
mim. Fiquei tão envergonhada pelo meu fracasso épico que fingi que não
gostava mais dele. Minha paixão pelo Owen continuou sendo um segredo
desde então, e não estava certa se meu pobre coração aguentaria vê-lo ir a
outro baile com a garota errada. Desta vez, deveria ser eu.

— Eu o vi ontem à noite, e aparentemente, a paixão foi reacendida — minhas


bochechas esquentaram enquanto eu balançava a cabeça.

— E quanto à sua regra de só namorar caras mais velhos?

— Não é uma regra rigorosa — resmunguei. Na verdade, não era uma regra
de jeito nenhum, era mais um canto inconveniente em que eu tinha me
encurralado. Já estava na hora de mudar isso — E acho que estou cansada
dessa coisa de cara mais velho, de qualquer maneira, com certeza cansei disso
se o Owen Beck está de volta à cidade. Então, você acha que sou idiota por
pensar que poderia ir com ele?

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— Claro que não — ela respondeu imediatamente — Ele seria louco se não
quisesse ir com você.

— Obviamente — eu disse, fazendo-a rir — O problema é que os garotos são


todos loucos. Como posso fazer isso dar certo?

— Bem, em primeiro lugar, não se estresse. O baile ainda está a, semanas de


acontecer, e você tem bastante tempo. Ele nem voltou para a escola ainda, e
parece que mais ninguém sabe que ele está voltando.

Relaxei um pouco com suas palavras, ela estava certa, ainda havia semanas
até o baile, provavelmente estava me preocupando à toa. Ainda assim, eu
sempre gostava de ter um plano quando se trata dessas coisas. Certamente
não ia acontecer se eu deixasse tudo para o destino.

— Mas uma vez que ele estiver de volta na escola. O que devo fazer?

— Você não precisa fazer nada além de ser você mesma perto dele e deixá-lo
ver o quão incrível você é. Se ele conhecer a verdadeira você, ele vai te convidar
para o baile. Tenho certeza disso — Madi sorriu.

Soltei um suspiro e concordei com a cabeça. Madi sempre foi a voz da razão,
e eu confiava nela, mas dessa vez, sentia que talvez ela estivesse errada.
Permitir que o Owen me conhecesse de verdade era um pensamento agradável,
mas eu tinha visto como as garotas estavam olhando para ele no corredor
mais cedo, e sabia que não seria tão simples assim. Muitas garotas estariam
competindo por sua atenção, e se eu quisesse ser a escolhida para ir ao baile
com ele, precisaria encontrar uma maneira de me destacar e convencê-lo a me
escolher. Só queria saber como fazer isso acontecer.

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04 - Hayley

Comprar vestidos para o baile simplesmente não era a mesma coisa quando
você tinha um intruso indesejado.

— E esse aqui, Madi? — perguntou Cole, levantando um vestido para mostrar


a ela.

Tinha recortes grandes e reveladores que a Madi não usaria de jeito nenhum.
Além disso, era de um laranja neon. Madi e eu torcemos o nariz ao mesmo
tempo. Cole poderia ser um dos caras mais gatos da escola, mas claramente
não tinha bom gosto quando se tratava de escolher vestidos. Rapidamente, eu
roubei o cabide dele.

— Sinto muito dizer isso, Cole, mas suas habilidades no campo de futebol não
parecem se traduzir em senso de moda. Que tal você deixar a seleção de
vestidos para a Madi e para mim? — Coloquei o vestido de volta no cabide com
firmeza — Na verdade, tem um fliperama algumas portas abaixo. Por que você
não vai jogar alguns videogames?

O rosto do Cole se iluminou com a ideia, e ele se virou para a Madi.

— Você se importaria?

— Vai — ela respondeu, um pouco rápido demais e pigarreou antes de


continuar — Quer dizer, é claro que não me importaria. Vai lá se divertir.

Ele sorriu e deu um beijo na bochecha dela antes de sair da loja de vestidos.
Madi e eu soltamos um suspiro de alívio ao mesmo tempo e começamos a rir.

— O Cole é o melhor namorado, mas é o pior parceiro de compras do mundo


— ela disse.

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— É como se ele tivesse um sensor embutido para as roupas mais horríveis
da loja — concordei — Tenho quase certeza de que o primeiro vestido que ele
pegou era, na verdade, uma fantasia de Halloween.

— Era mesmo — Madi fez uma careta enquanto balançava a cabeça — Sinto
muito que ele tenha invadido nossa ida às compras. Quando ele se ofereceu
para nos levar hoje, não achei que ele realmente entraria nas lojas.

— Tudo bem — Dispensei o pedido de desculpas dela com um gesto — Se ele


não tivesse nos dado uma carona, provavelmente não estaríamos aqui.

Ficar sem carro era um saco. Só dava para pedir carona para minha mãe
algumas vezes. Além disso, era bem mais fácil se ela não soubesse que eu
estava procurando um vestido para o baile. Minha mãe tinha sido rainha da
beleza quando era mais jovem e era ainda mais obcecada por roupas do que
eu. Parecia uma coisa boa até você vivenciar uma sessão de compras com nós
duas, virava algum tipo de esporte de resistência que, geralmente, só
terminava quando as lojas fechavam à noite. Confesso que adorava fazer
compras com a mamãe, mas sabia que não tinha como a Madi aguentar isso.

— Alguma novidade sobre quando vão consertar seu carro?

— Ainda estão esperando por uma peça — falei, enquanto começava a olhar
as araras de vestidos novamente — Mas parece que ele está fora há uma
eternidade.

— Só tem alguns dias — disse Madi.

— É verdade, mas tive que dividir caronas para a escola com a Kitty, e não sei
quanto mais desse castigo consigo aguentar. Você acha que o Xerife Daniels
consideraria me levar? Chegar à escola em uma viatura policial parece uma
alternativa melhor agora.

Madi trocou um olhar de compreensão comigo. Ela sabia o terror que minha
irmã era. Provavelmente, deveria me considerar sortuda por Kitty ainda estar
no ensino fundamental e o campus dela ficar do outro lado da cidade. Pelo
menos, não precisava vê-la durante o dia.

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— Tenho certeza de que seu carro estará consertado antes que perceba — ela
disse.

— Tomara que sim.

Fui distraída de nossa conversa quando um tecido azul-claro chamou minha


atenção. Ignorei os outros vestidos na arara e fui direto até ele. Adorava usar
azul, especialmente em tons mais claros. Enquanto pegava o vestido, ficava
cada vez mais convencida de que era o ideal para mim.

— Olá, lindeza — disse enquanto o admirava.

O tecido tinha um movimento natural que eu tinha certeza que ficaria incrível
quando eu entrasse no baile. A forma também era perfeita, realçando todas as
características certas do meu corpo.

— Azul definitivamente é a sua cor — Madi se aproximou sorrindo

— É exatamente o que eu estava pensando — concordei.

Azul também era a cor dos olhos do Owen, não que eu gostasse dele por causa
disso. Segurei o vestido contra o meu corpo e me olhei no espelho mais
próximo. Já estava apaixonada pelo vestido, e nem tinha certeza se era do
meu tamanho.

— Vou experimentar esse. — falei, encarando Madi novamente — Você


encontrou alguma coisa?

— Nunca consigo imaginar como esses vestidos ficarão quando estiverem


vestidos — ela mordeu o lábio inferior enquanto balançava a cabeça.

— Deixa comigo.

A assistente da loja veio pegar meu vestido para levar ao provador, enquanto
eu procurava algumas opções para Madi. Minha melhor amiga era tão bonita

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que ficaria incrível em qualquer coisa que eu escolhesse, mas sabia que ela
ficava maravilhosa em cores mais escuras, então foquei nelas. Também sabia
que não havia chance dela sequer considerar experimentar algo se achasse
que estava muito revelador.

Acabei encontrando várias opções para Madi experimentar, e ambas fomos


para os provadores. Enquanto vestia o vestido azul e me olhava no espelho,
senti uma onda de empolgação. O vestido marcava minha cintura, e o tecido
flutuava elegantemente ao redor das minhas pernas. Havia até um leve brilho
no material que eu não tinha percebido antes. Era perfeito. O único problema
era que eu ainda não tinha o par para acompanhá-lo.

Enquanto me encarava no espelho, fiquei me perguntando se Owen ia gostar


do vestido. Provavelmente era bobagem esperar que ele gostasse. Minhas
chances de ir ao baile com ele eram tão pequenas agora quanto tinham sido
no início da semana. Mas meu coração claramente não tinha recebido o
memorando, porque parecia inflar de expectativa enquanto imaginava a
reação dele.

— Vestiu? — perguntou Madi.

Afastei a cortina do provador e sorri ao olhar para minha amiga. Ela estava
usando um vestido azul-marinho reluzente, curto na frente e com uma saia
mais longa atrás. Era provocante, divertido e perfeito para o baile.

— Caramba, Mads, o Cole vai ter um ataque cardíaco quando te ver nisso.

— Você acha? — ela sorriu enquanto rodopiava, dando uma olhada em si


mesma no espelho enquanto o fazia

— Tenho certeza.

— Como você encontrou isso? Juro que olhei em todas as araras — seu olhar
desceu para mim, e seu sorriso se alargou. Ela soltou um assobio baixo.

— Falando em ataques cardíacos, esse vestido está perfeito em você.

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— Sim, acho que é esse — passei as mãos pela lateral do meu vestido
enquanto devolvia o sorriso.

— Com certeza — concordou.

Ela olhou novamente para o espelho, incapaz de conter o sorriso enquanto


admirava seu vestido mais uma vez. Ela parecia uma visão, e fiquei aliviada
por termos encontrado algo tão perfeito para ela tão rapidamente. Madi não
estava brincando quando disse que era alérgica a compras. No momento em
que ela entrava em uma loja de roupas, quase sempre começava a ficar mal-
humorada, e isso só piorava quanto mais tempo levávamos.
— E você achando que fazer compras comigo seria doloroso — disse.

— Bem, às vezes milagres acontecem — ela respondeu. — Mas lembre-se,


ainda não vimos os sapatos ou acessórios. Quem sabe quanto tempo isso vai
levar… — disse parecendo genuinamente aterrorizada com a ideia, o que me
fez rir.

— Acho que vou te poupar hoje. Ainda temos bastante tempo antes do baile
para encontrar o resto — chegamos até aqui sem ela ficar de mau humor, e
eu não queria abusar da sorte.

— Você terminou de fazer compras? — A mandíbula dela caiu de surpresa.


— Nunca termino, mas provavelmente não seria justo com o Cole. Não
podemos esperar que ele fique o dia inteiro em uma sala de fliperama
enquanto fazemos compras.

— Acho que isso poderia ser um pouco cruel — ela concordou, não
conseguindo esconder sua alegria com a ideia de encerrar as compras do dia.
O rosto dela iluminou como o de uma criança na manhã de Natal. — Então,
vamos comprar esses? — Ela apontou para nossos vestidos.

— Bem, acho que seria um crime deixá-los para trás, e já tive uma quantidade
excessiva de encontros com a lei esta semana.

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— Acho que é melhor pegarmos então — disse ela balançando a cabeça para
mim, mas sorrindo.

Ambas trocamos de volta para nossas roupas normais e nos encontramos no


caixa para pagar pelos vestidos. Eu estava empolgada por termos encontrado
roupas tão incríveis para o baile, mas enquanto a assistente de vendas fechava
meu vestido em uma capa, senti um tremor de nervosismo no estômago. Pelo
que eu tinha ouvido, Owen ia voltar para a escola na segunda-feira, e eu ainda
não tinha um plano para fazer com que ele me convidasse para o baile.

— Cole disse que nos encontraria perto da caminhonete dele. — Disse Madi,
levantando o olhar do celular quando saímos da loja. Sua expressão mudou
quando ela olhou para mim — O que houve?

Não queria estragar o clima, especialmente quando se tratava de compras e


definitivamente não quando tínhamos acabado de encontrar vestidos
incríveis. No entanto, não podia negar a decepção que sentia por não ter um
par para o baile.

— Ainda estou preocupada com o meu par para o baile — disse.

— Por que você estaria preocupada com um par para o baile? — Cole
perguntou, se aproximando por trás de nós.

Parecia que ele tinha surgido do nada, e eu empalideci, desejando que ele não
tivesse ouvido.

— Pensei que você estivesse no fliperama…

— Não, estava com fome e fui pegar um burrito. Estava indo jogar um pouco
quando recebi a mensagem da Madi. Então, por que está preocupada?

— Ah, bem… — Sério, por que o Cole tinha que ouvir isso?

— Ainda não fui convidada, então é natural ficar preocupada.

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— Os ingressos acabaram de começar a ser vendidos, e tenho certeza de que
muitos caras adorariam te convidar — Cole me tranquilizou.

— Mas, não aquele que ela quer. — respondeu Madi. Lancei a ela um olhar
firme, e Madi fez uma careta — Desculpa — ela falou silenciosamente,
percebendo que provavelmente não deveria ter revelado o meu segredo na
frente do namorado dela.

— Por quem você está interessada? — Cole claramente não percebeu a troca
silenciosa entre mim e a Madi.

Eu suspirei, e a leve irritação que sentia pelo deslize da língua da Madi


desapareceu. Cole não era como a maioria dos caras, e não achava que ele
sairia fofocando para os amigos sobre mim. Quem sabe, talvez ele até pudesse
falar bem de mim para o Owen quando ele voltasse.

— Você não pode contar para ninguém — ordenei.

— Vai direto para o cofre — Cole levou a mão aos lábios e fingiu trancá-los
com uma chave invisível.

— É bom que seja assim. — Avisei enquanto me preparava para contar a ele
meu segredo — Quero ir com o Owen Beck.

— Ah, é. — Cole disse, formando um sorriso lento nos lábios — Bem, ele volta
para a escola na segunda-feira e teria sorte se fosse com você. Não vejo qual é
o problema.

— O problema é fazer o Owen convidá-la para o baile… — Madi respondeu.


Cole ficou em silêncio por alguns momentos enquanto considerava minha
situação impossível.

— Por que você mesma não o convida?

— Ela não pode fazer isso — Madi respondeu imediatamente.

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— Por quê? — Cole perguntou, focando toda a sua atenção em mim — Ele vai
ficar impressionado por você tomar a iniciativa. Os caras gostam de uma
garota que vai atrás do que quer.

Madi parecia longe de estar convencida, mas eu me senti entusiasmada com


a ideia. Eu tinha ficado com muito medo de convidar Owen para o baile Sadie
Hawkins anos atrás, talvez fosse o destino eu ter perdido minha chance
naquela época para poder convidá-lo agora.

— Você acha que isso poderia funcionar? — Perguntei a Cole.

— Se não funcionar, pelo menos você não perdeu tempo esperando que ele a
convidasse. — Ele deu de ombros.

Não era a resposta que uma garota daria. Madi teria me tranquilizado e me
dito que é claro que Owen diria sim. Isso teria me dado mais confiança para
realmente seguir em frente. Eu até gostei de como a resposta direta e objetiva
de Cole tinha sido, sua abordagem era simples, e eu realmente não podia
criticá-la.

— Então, se você e a Madi não estivessem namorando, e ela viesse até você e
te convidasse para ir a um baile, você teria topado? — Perguntei.

— Com certeza — ele disse com uma risada. — Poxa, eu provavelmente teria
dito a ela para me convidar de novo só para eu poder gravar o momento e
guardar como lembrança para sempre.

— Você é um nerd — disse Madi revirando os olhos, mas sorrindo para ele.
Ele passou o braço por cima do ombro dela e a puxou para perto, sussurrando
em seu ouvido.

— Quando se trata de você, sempre.

— E agora, oficialmente, eu preciso de um balde para vomitar — resmunguei,


os dois podiam ser um pouco demais às vezes. — Lembrem-se, pessoal, somos
um triciclo agora, não uma bicicleta. Não quero ser uma terceira roda!

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— Ok, somos um triciclo — Cole riu, abaixando o braço que estava em volta
de Madi.

— Falando sério, você deveria só perguntar a ele. O pior que pode acontecer é
ele dizer não.

— E eu fico envergonhada para sempre — acrescentei.

— Não há motivo para se envergonhar. No mínimo, ele ficará lisonjeado e


impressionado com a sua confiança — disse Cole balançando a cabeça.

— Acho que sim — respondi, virando-me para Madi. — E você, Mads, o que
acha?

— Cole tem alguns bons pontos, mas a decisão é sua — ela disse. — Acho que
seria bem assustador convidar alguém para o baile se você não tem certeza de
qual será a resposta. Entendo se você não quiser seguir em frente com isso.

— Bom, sou totalmente a favor de quebrar estereótipos de gênero. —


Respondi. Eu estava procurando uma maneira de me destacar entre a
multidão de garotas que estavam atrás do Owen, e isso certamente faria com
que ele me notasse. Gostei também que era uma opção pró-ativa. Eu não era
exatamente o tipo de garota que gostava de ficar sentada esperando os outros.
— Quem sabe, talvez ele diga sim — acrescentei.

— Tenho certeza de que sim — Madi me tranquilizou.

Olhei para Cole para avaliar sua reação, mas ele só deu de ombros.

— Não faço ideia do que ele vai dizer. Não saio com o cara há anos.

Franzi o nariz à medida que a incerteza vacilava dentro de mim. Não estava
exatamente encorajada pela resposta desapegada de Cole ou pelo otimismo de
Madi. A verdade era que nenhum deles podia prever o que Owen diria. No

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entanto, eu não estava mais no oitavo ano e me recusava a me deixar intimidar
pela incerteza.

— Ok, vou fazer isso. — disse — Da próxima vez que encontrar Owen, vou até
ele e o convido para o baile.

Soava simples o suficiente. Mas até mesmo o pensamento acelerou as batidas


do meu coração. Eu era obcecada por Owen Beck há anos. Eu realmente ia
convidá-lo para o baile? E o que eu faria se ele dissesse não?

Bufei, afastando minhas preocupações. Não ia deixar o medo me calar. Já


tinha passado tempo demais apaixonada por Owen, e estava na hora de eu
fazer algo a respeito. Ia convidá-lo para o baile, e pronto. Era uma ótima ideia
na teoria, só não percebi que veria ele de novo tão cedo.

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05 - Ethan

Nós arrasamos em nosso ensaio da banda no sábado à tarde. Nossa música


foi executada com paixão e precisão, algo que estava faltando nos nossos
últimos ensaios. Estávamos praticando para um show que seria no final da
semana seguinte, e foi a primeira vez que conseguimos passar por nosso novo
repertório sem errar. Tínhamos adicionado várias músicas novas
recentemente, então uma onda de satisfação me inundou com a conquista.

— E é assim que se faz — Dex comemorou, enfatizando seu comentário com


um choque de pratos.

Colin e eu sorrimos de volta para ele, e ao olhar entre os dois, pude ver que
eles sentiam a mesma euforia que eu. Não havia sensação melhor do que
acertar um conjunto de músicas. Vamos arrasar no show no próximo fim de
semana.

— Ah, querido, você foi incrível — Isla disse, pulando do capô do carro do pai
de Colin e correndo até Dex.

Ela tinha assistido silenciosamente ao nosso ensaio, como sempre fazia. E,


como de costume, decidiu terminar mostrando a Dex o quanto tinha gostado.
Colin e eu nos viramos rapidamente, pois os dois começaram a se beijar. Eu
não queria ver Isla assim, era como assistir à sua irmã ficar toda quente e
intensa.

— Sério, pessoal — Colin gemeu.

Os dois estavam ocupados demais se beijando para responder.

— Então, nos vemos no ensaio na quarta-feira — chamei Dex por cima do


ombro. Não olhei, porque já tinha visto o suficiente de suas línguas se
entrelaçando para uma vida inteira. Dex conseguiu respirar o suficiente para
gritar:

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— Até lá, cara!

Acenei com a mão e segui Colin para fora da garagem.

— Eles precisam arrumar um quarto — Colin disse. — E minha garagem não


conta.

Acenei com a cabeça em total concordância.

— Eu amo a Isla e o Dex, realmente amo, mas gostaria que eles esperassem
até que estivéssemos longe da vista deles para começar a se beijar.

— Fora do alcance dos ouvidos também — concordou Colin. — Não há nada


pior do que ouvir os barulhos que eles fazem.

Nós dois estremecemos e começamos a rir.

— Então, tem algum plano para esta noite — Colin perguntou enquanto me
acompanhava até o meu carro.

— Não, e você?

— Vou jantar na casa da minha avó — ele disse, embora não parecesse nada
feliz com isso. — Preparado para o retorno do seu irmão à escola na segunda-
feira?

Finalmente tinha cedido e contado aos meus amigos sobre Owen. Não que eu
tivesse tido muita escolha depois que os rumores começaram a circular. Eu
esperava que as pessoas da nossa escola tivessem coisas melhores para falar.
Minha testa franziu enquanto pensava na ideia do meu irmão andar pelos
corredores da escola todos os dias.

— Acho que nunca estarei pronto, já é ruim o suficiente que ele esteja de volta
em casa há uma semana.

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Colin balançou a cabeça em solidariedade. Ele estava bem ciente de como meu
irmão poderia ser. Ele havia testemunhado os anos de tormento pelos quais
passei e já tinha visto o lado mais cruel de Owen em mais de uma ocasião.
Não ajudava que Owen nunca usasse o nome de Colin quando falava com ele.
Em vez disso, ele sempre o chamava de "perdedor" na cara dele, então Colin
definitivamente não era o maior fã do meu irmão.

— Bem, que ele também seja expulso da Lincoln — disse.

— Tomara — concordei.

Chegamos ao meu carro e Colin parou, apoiando-se no porta-malas enquanto


eu o observava cuidadosamente colocar minha guitarra no banco de trás.

— Você já pensou mais sobre o baile? — ele perguntou, enquanto eu fechava


a porta.

— Não — com meu irmão de volta em casa, o baile era a última coisa em
minha mente.

— Você nem considerou convidar sua garota dos sonhos…

— Você está falando igual à Isla — revirei os olhos.

— Bem, provavelmente é porque ambos queremos que você seja feliz e estamos
cansados de te ver amando a Hayley de longe.

— Não é bem assim — resmunguei.

— É sim e acho que você deveria convidá-la para o baile. Quer dizer, ela
finalmente falou com você no final da semana passada.

— Mas, foi só para perguntar sobre meu irmão — suspirei enquanto balançava
a cabeça. — A Hayley não tem interesse em ir ao baile comigo. Ela mal sabe
que eu existo.

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— Você não pode afirmar isso.

— E mesmo que ela soubesse que eu existo, garotas como a Hayley saem com
atletas, não com nerds da música. A melhor amiga dela está namorando o
cara mais popular da escola, então não há como ela olhar duas vezes para
mim. — A ideia foi o suficiente para eu desejar ser um pouco mais parecido
com meu irmão. Eu posso não gostar de Owen, mas ele não tem
absolutamente nenhum problema em conversar com as pessoas ou fazer
amigos.

— Talvez você esteja subestimando a Hayley — respondeu Colin. — Quer dizer,


a razão pela qual você gosta dela não é porque ela não é como a maioria das
garotas populares?

— Acho que sim — concordei, mas eu ainda achava que não tinha chance. —
De qualquer forma, é melhor eu ir para casa. Eu disse à mamãe que limparia
as folhas da entrada da garagem.

— Ah, você é um menino tão bonzinho — Colin pegou minha bochecha e a


puxou e começou a me chamar como se eu fosse um bebê.

— Você é um idiota — disse afastando a mão dele.

Colin riu e começou a voltar para sua casa.

— Vejo você na segunda, filhote.

— Divirta-se com a vovó — respondi.

Colin levantou o dedo do meio para mim antes de se virar para subir as
escadas até a porta da frente. Balancei a cabeça para ele e entrei no carro para
ir para casa. Meu carro estava precisando de muitos consertos. Tossia como
um fumante sempre que ligava e o material dos bancos estava começando a
desgastar com a idade. A ferrugem na porta e a tinta descascada não
contribuem muito para melhorar sua aparência. Mas era o único carro que eu
tinha, então eu tentava ao máximo cuidar dele.

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Era um milagre que aquela coisa ainda funcionasse, mas até então eu não
tinha tido nenhum problema. Ela fez um barulho alto e uma nuvem de fumaça
preta apareceu no meu retrovisor quando arranquei da calçada, era
assustador o quanto eu havia me acostumado com isso. Qualquer outra
pessoa estaria preocupada, mas eu havia aprendido a aceitar os defeitos
estranhos do meu carro.

Quando cheguei em casa, Owen estava na frente cortando a grama. Era um


tanto surpreendente, já que meu irmão raramente fazia algo para ajudar em
casa quando estava aqui. Ele devia estar tentando ganhar alguns pontos com
a mamãe, já que meus pais estavam furiosos com ele por ter perdido a bolsa
de estudos.

Era quase uma mudança bem-vinda ver meus pais bravos com meu irmão.
Ele sempre foi o favorito em nossa casa, a criança que nunca errava. E sua
ausência definitivamente fez o coração dos meus pais ficarem mais carinhosos
com ele. Eles costumavam sentir muita falta dele quando ele estava na
academia e sempre atendiam aos seus desejos quando ele voltava para casa.

Eu não achava que ele já tinha cortado a grama alguma vez na vida, e era
óbvio que ele não sabia o que estava fazendo. Não tinha conseguido cortar
uma linha reta na grama, e parecia incrivelmente confuso com o que deveria
ter sido uma tarefa fácil. Owen desligou o motor quando me viu saindo do
carro.

— E aí, perdedor — disse ele desligando o aparelho quando me viu saindo do


carro. Já mencionei que meu irmão é um total idiota?

— Owen — eu disse o cumprimentando. — Eu não fazia ideia de que você


tinha habilidades em trabalhos manuais…

— Eu tenho um encontro esta noite, e a mãe disse que eu poderia pegar o


carro dela se eu cortasse o gramado — Owen sorriu.

— É claro que sim — murmurei.

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Owen deveria estar de castigo e na pior encrenca em que já esteve, mas meus
pais não só o deixaram sair para um encontro, como também permitiram que
ele levasse a posse mais valiosa da mãe. O carro dela era um Jaguar antigo, e
ela não me deixaria encostar nele nem em mil anos, mas as regras eram
diferentes quando se tratava de Owen.

Não havia nem mesmo se passado uma semana desde que a mãe estava lhe
dando o tratamento do silêncio, mas eu provavelmente não deveria ter ficado
surpreso que ela tivesse cedido tão rapidamente. Owen sabia ser persuasivo
quando queria, e eu o tinha visto usar seu charme vezes o suficiente para
saber o quão facilmente ele manipulava as pessoas e a mãe estava longe de
ser imune.

Uma pequena parte de mim se perguntava se Owen estava simplesmente


pegando o carro porque ele sabia o quão desesperado eu estava para o dirigir.
Por anos, Owen vinha pegando as coisas só porque sabia que eu gostava delas.
Quando éramos crianças, ele roubava coisas bobas, como meus carrinhos de
brinquedo, ou pedia aos nossos pais todos os presentes que ele sabia que eu
queria no nosso aniversário. Isso foi escalando ao longo dos anos, e eu aprendi
a não mostrar interesse em nada que eu gostava quando ele estava por perto,
especialmente quando se tratava de garotas, porque quando entramos na
adolescência, ele começou a levá-las também.

Eu aprendi da maneira mais difícil que meu irmão não tinha limites para até
onde ele iria para me machucar. Eu tinha sido burro o suficiente para contar
a ele sobre minha primeira paixão, ela era uma garota da minha aula de
música, e eu tinha me apaixonado por ela assim que a ouvi tocar o violino.
Claro, Owen a convidou para sair no dia seguinte. Eles namoraram por apenas
uma semana antes dele terminar com ela, partindo o coração dela de tal forma
que ela nunca mais se aproximou de mim. Era como se eu fosse culpado por
associação.

A próxima vez que ele atacou foi quando ele me viu dançando com uma garota
na nossa festa da oitava série. Eu nem estava interessado em namorar a
garota, mas no final da noite, Owen já estava beijando ela. Roubar garotas
quase virou um esporte para ele depois disso. Até nas últimas férias de verão,
Owen só ficou em casa por uma semana, e ainda assim ele conseguiu seduzir
uma garota por quem eu estava interessado. Tínhamos trocado um sorriso na

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piscina local, mas Owen deve ter visto, porque quando eu fui embora, ela
estava sentada no colo dele, rindo.

Era um milagre que eu tivesse conseguido esconder meu interesse pela Hayley
dele ao longo dos anos, senão ela provavelmente teria sido adicionada à lista
também.

— Então, um encontro — eu sugeri. — Quem é a garota sortuda?

— Apenas a líder de torcida principal da Lincoln — ele respondeu. — Ela é a


terceira garota da escola que me convidou para o baile até agora. Eu nem
voltei para lá ainda, e já estou tendo que afastar todas essas investidas…

Não foi assim tão surpreendente. Eu ouvi muitas garotas na escola falando
dele nesta semana. Isso foi o suficiente para me fazer querer arrancar meus
ouvidos.

— Líder de torcida principal… Você está falando da Laurie, certo?

— Exatamente.

Era difícil imaginar a rainha de gelo da Lincoln High se jogando para cima do
meu irmão, mas pelo que eu tinha visto, ela sempre tinha sido do tipo de
garota que ia atrás do que queria.

— Então, você vai ao baile com ela, né?

— Ha, não — um sorriso começou a se espalhar pelo rosto dele. — Como eu


disse, estou mantendo minhas opções em aberto. Eu disse a ela a mesma
coisa que direi para todas as garotas. Eu não vou decidir sobre um encontro
até um dia antes do baile, então a resposta é não, por enquanto. Se elas
quiserem uma chance de ir comigo, elas vão ter que me impressionar. Laurie
parecia bem ansiosa para provar a si mesma, então espero que ela seja
impressionante esta noite.

Eu balancei a cabeça, incapaz de esconder o nojo do meu rosto.

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Meu irmão era um completo cafajeste, e eu não conseguia acreditar que tantas
garotas caíam por ele. Owen estava deliberadamente as iludindo, e ele nem se
importava. Ele estava as rejeitando e dando a elas um cruel sentimento de
esperança, tudo numa mesma respiração. Era doentio. Mas, esse era o Owen,
passando por cima de tudo na vida sem qualquer consideração por qualquer
pessoa além de si mesmo. Eu amava meu irmão, em algum lugar lá no fundo,
bem… bem… no fundo. Mas, na maioria das vezes, eu realmente não o
suportava.

A porta do carro bateu atrás de mim, e eu me virei para ver Hayley e Madi
saindo de uma caminhonete que estava parada no meio-fio. Eu não reconheci
o veículo até perceber Cole Kingston sentado no banco da frente. Ele acenou
para as duas garotas antes de partir, e elas compartilharam um riso enquanto
o observavam se afastar em alta velocidade.

Ambas carregavam sacolas de vestidos grandes e tinham sorrisos felizes


estampados em seus rostos. No entanto, suas expressões idênticas mudaram
no momento em que perceberam que Owen e eu estávamos parados no nosso
gramado da frente. As garotas trocaram sussurros acalorados, seus olhares
piscando em nossa direção. Provavelmente estavam falando sobre Owen, e ele
devia ter percebido isso, porque o peito dele parecia se encher de orgulho em
resposta. Revirei os olhos. Meu irmão era tão previsível.
Eu estava prestes a começar a caminhar em direção à casa novamente, mas
Madi pegou a sacola de vestido de Hayley e apontou na nossa direção. Hayley
lançou a ela um olhar sujo antes de soltar um longo suspiro e seguir em nossa
direção.

Meu estômago se revirou enquanto a observava se aproximando e uma onda


de nervosismo passou por mim. De alguma forma, eu tinha conseguido
conversar com Hayley duas vezes na última semana sem me envergonhar e
eu não estava certo se conseguiria manter a compostura novamente. Como
estava, era um milagre que os nervos que sempre sentia perto dela ainda não
tivessem me causado uma crise de gagueira.

Eu realmente poderia ter tanta sorte novamente?

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Owen parecia ter percebido que ela estava se aproximando também, pois ele
inclinou a cabeça perto da minha e perguntou:

— Qual é o nome dela?

Meus nervos foram esquecidos por um breve segundo enquanto eu franzia a


testa para ele. Como ele poderia não se lembrar dela?

— É Hayley.

— Hayley — ele repetiu o nome como se estivesse praticando a palavra, e um


pequeno sorriso ergueu o canto dos lábios dele, como se ele gostasse do som.
Eu não queria que ele gostasse de nada dela, mesmo que fosse apenas o nome
dela. Ele já estava levando várias garotas na conversa, e não precisava
adicionar mais uma. Pelo jeito divertido que ele estava olhando para Hayley,
ele parecia estar considerando essa ideia.

Ela estava mordendo o lábio inferior enquanto se aproximava, e seus olhos


estavam arregalados como se ela estivesse preocupada. Seus passos estavam
hesitantes ao pisar em nosso gramado, e tive a impressão de que ela não
estava tão entusiasmada em nos alcançar.

— Oi, Ethan — ela disse, parando na nossa frente.

Meu coração deu um salto quando ela disse meu nome. Eu queria dizer algo
legal em resposta, mas fiquei em branco. Acabei apenas parado lá, olhando, o
oposto exato do que eu queria. No entanto, ela não estava me olhando, e seus
olhos estavam fixos no meu irmão.

— Owen, bem-vindo de volta. — Sua voz deu um guincho nervoso ao


pronunciar o nome dele, não que ele tivesse percebido. Owen estava ocupado
demais admirando Hayley para ter ouvido sua saudação.

Eu esperei que meu irmão dissesse algo, mas seus olhos ainda estavam
ocupados com as pernas de Hayley. Sim, elas eram incríveis, mas o resto dela

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também era. Quando ficou claro que Owen não ia responder, de alguma forma
consegui encontrar minha voz.

— Oi, Hayley, tem alguma coisa que você queria?

— Ah, hum, sim, não — ela estava murmurando e parecia desconfortável


enquanto ficava na nossa frente.

Eu nunca a tinha visto tão perturbada antes, e ela começou a recuar. Por um
segundo, parecia que ela ia sair tão rapidamente quanto tinha chegado, então,
uma expressão determinada entrou em seu olhar. Parecia se fortalecer até que
ela enrijeceu os ombros e parou de se mover.

— Na verdade, tinha algo que eu queria perguntar. — Ela finalmente disse,


mas, novamente, ela não estava me olhando quando falou. Seus olhos
estavam completamente focados no meu irmão. Ela quase não respirou antes
de rapidamente disparar sua pergunta. — Quero dizer, você provavelmente vai
achar que é bobo, e talvez não queira ir, mas nosso baile está chegando, e eu
estava me perguntando se você quer ir comigo?

Um choque frio me percorreu quando percebi que suas palavras eram


dirigidas a Owen. Eu faria praticamente qualquer coisa para ir ao baile com
Hayley, e não conseguia entender porque, de todas as pessoas, ela tinha
perguntado ao Owen. Meu irmão não era um cara bom, especialmente quando
se tratava de garotas. Ele acabara de me contar sobre seu plano de brincar
com possíveis encontros até o dia anterior ao baile, e parecia que Hayley estava
prestes a entrar na lista das garotas infelizes. Ele ia partir o coração dela, e
eu não conseguia acreditar que ia ter que assistir a isso.
Finalmente, Owen ergueu o olhar das pernas de Hayley e a encarou nos olhos.
Um sorriso arrogante ergueu o canto dos lábios dele, enquanto a observava.

— Você está me convidando para o baile? Isso é fofo…

Owen era tão desagradável, e eu não conseguia me impedir de fazer uma


careta. Hayley claramente não percebia, porque suas bochechas ficaram
vermelhas brilhantes diante de sua resposta degradante.

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Será que ela realmente não conseguia enxergar o quão falso meu irmão era?
Que seus poros estavam praticamente transpirando um falso charme? Que
sua voz estava impregnada com o fedor pútrido da insinceridade?

Hayley mordeu o lábio inferior e seus olhos se encheram de apreensão


enquanto esperava que ele continuasse. Eu sabia o que estava por vir. Ele já
tinha rejeitado três garotas, e Hayley seria a quarta. A ideia de Hayley ser
magoada por meu irmão era pior do que o choque de ela ter convidado Owen
para o baile em primeiro lugar. Eu precisava fazer algo para evitar isso, mas
me sentia impotente.

— Devo admitir que estou lisonjeado — ele continuou. — Porque você é


atraente e tudo mais, mas…

Mas, era incrível como uma palavra tão pequena poderia ter um impacto tão
forte. Os ombros de Hayley imediatamente caíram, e sua pele ficou com um
tom doentio de branco. Ela sabia o que estava por vir, tanto quanto eu sabia,
e parecia que ela queria nada mais do que desaparecer.

Eu realmente não conseguia assistir a esse desastre se desenrolar bem diante


dos meus olhos, e em um momento de insanidade, tive uma ideia. Era uma
ideia estúpida, e Hayley provavelmente ia me matar por isso, mas eu faria
qualquer coisa para impedir que ela fosse magoada. Comecei a rir antes de
poder repensar. Owen parou no meio da frase e ambos se viraram para me
olhar. Eu estava nervoso e desajeitado, e realmente não era bom em
interpretar, então teria que fazer o show da minha vida agora mesmo.

— Hayley não estava te convidando — eu disse a Owen, que imediatamente


começou a franzir a testa.

— Na verdade, eu… — A voz de Hayley foi se apagando conforme ela viu meus
olhos arregalados e o sutil balançar de cabeça. Sua testa se franziu enquanto
ela olhava entre nós dois, e eu tentei desesperadamente transmitir
silenciosamente o fato de que ela não deveria terminar sua frase.
Aparentemente, eu a tinha confundido o suficiente, porque ela não continuou
falando. Eu precisava agir rápido antes que essa confusão se dissipasse, no
entanto. Ela merecia muito mais do que ser enrolada por Owen.

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— Por que você pensaria isso? — Owen zombou.

Minha boca ficou seca com a pergunta dele, e tentei impedir o pânico de surgir
em meus olhos. Eu precisava de uma resposta viável, mas só uma, veio à
minha mente. Hayley definitivamente ia me matar agora.
Eu ri novamente antes de caminhar até ela e colocar um braço ao redor dos
ombros dela. O gesto foi meio desajeitado, porque eu estava surtando
silenciosamente, mas esperançosamente, não parecia assim para Owen, que
me observava com interesse aguçado. Tentei ignorá-lo e olhei nos olhos dela.
— Porque nós estamos namorando. Não é, querida?

Hayley levantou uma sobrancelha com o apelido, mas felizmente não afastou
meu braço do ombro dela. Ela não era o tipo de garota que permitiria que um
cara a chamasse por um apelido carinhoso, e pelo olhar que ela me dava, ela
não estava impressionada.

— Vocês estão namorando? — Owen interrompeu nossa "disputa" silenciosa


de olhares.

Hayley manteve o olhar fixo nos meus olhos por mais alguns segundos.
Esperava que ela pudesse ver minha preocupação, que ela pudesse entender
os pensamentos silenciosos que eu estava gritando para ela. Ela precisava
concordar com isso. A testa dela se aprofundou enquanto ela olhava para
Owen mais uma vez.

— Uh, é, né — sua resposta saiu como uma pergunta e ela não parecia nada
certa. Pelo menos, ela não tinha negado isso.

Comecei a sorrir antes que ela pudesse reconsiderar, ou antes, que Owen
percebesse que estávamos ambos mentindo.

— Então, é claro que vou ao baile com você. Embora eu desejasse que você
tivesse me dado a oportunidade de fazer o convite. Eu queria te fazer uma

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serenata com um convite para o baile no meu show no próximo final de
semana.

— Bem, é uma pena que eu vá perder isso — Hayley disse.

Parecia que ela já tinha superado a surpresa inicial e estava entrando no


território da raiva.

— Realmente é — concordei, ignorando completamente o sarcasmo que


emanava de sua voz. Será que ela realmente não entendia que eu estava a
salvando agora? — De qualquer forma, vou te acompanhar até em casa.
Não dei a Hayley a chance de objetar enquanto a virava para longe de Owen e
a guiava em direção à casa dela. Meu irmão parecia um pouco confuso com o
que tinha acabado de testemunhar, mas havia uma centelha de interesse em
seus olhos que não estava lá antes. Eu não conseguia afastar Hayley dele com
rapidez suficiente.

Mantive meu braço sobre os ombros dela, enquanto cruzamos o gramado e


caminhamos até a entrada da casa dela. Madi não estava em lugar algum à
vista, então imaginei que ela devia ter entrado. No momento em que estávamos
na varanda da frente de Hayley, fora do campo de visão de Owen, ela encolheu
os ombros para se livrar do meu braço. Ela olhou de volta para a minha casa
para se certificar de que ele não poderia nos ver antes de explodir.

— O que há de errado com você?

Fiquei olhando para ela em branco por vários segundos, tentando descobrir
como responder. Eu tinha acabado de ajudá-la, mas ela claramente não via
as coisas da mesma forma.

— Você arruinou tudo! — Hayley gostava de usar bastante as mãos enquanto


falava e seus movimentos pareciam aumentar conforme ela ficava mais
irritada. Pelas dimensões de seus gestos, ela estava realmente furiosa comigo.
Eu tinha tomado uma decisão tão rápida que não tive tempo de me preparar
para as consequências. Eu precisava explicar rápido antes que isso saísse do
controle.

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— Olha, eu só fiz um favor a você, o Owen ia te rejeitar lá atrás.
— Você não sabe disso — ela cruzou os braços sobre o peito

— Na verdade, sei — continuei. — Ele estava literalmente me dizendo que não


ia decidir com quem iria, até um dia antes do baile. Ele já rejeitou vários outros
convites, e era óbvio que ele estava prestes a fazer o mesmo com o seu. Não
finja que você não viu também. Não havia chance nenhuma de ele concordar
em ir ao baile com você.

— O quê? — O sangue esvaiu-se de seu rosto enquanto ela ouvia, e os ombros


dela cederam, até mesmo seus olhos ficaram brilhantes como se ela estivesse
segurando as lágrimas. Felizmente, ela as manteve afastadas, porque eu não
sabia se conseguiria lidar com vê-la chorar. — Então, eu realmente não tinha
uma chance?

A visível decepção de Hayley me fez sentir culpado. A verdade sobre as


motivações de Owen deve ter sido difícil para ela entender, e eu provavelmente
fui muito direto no meu desespero em fazê-la entender. Eu tinha feito tudo
isso para evitar que ela sentisse a dor da rejeição, mas parecia que ela ainda
tinha se machucado.

— Eu gostaria de poder dizer algo diferente — murmurei.

Ela assentiu lentamente, e seu olhar se tornou distante enquanto ela


considerava o que eu tinha dito. Fiquei desconfortável na varanda dela,
esperando que ela processasse tudo. Eu ainda estava preocupado que ela
pudesse chorar, mas era melhor assim do que na frente do meu irmão.

As lágrimas não vieram, e quando ela finalmente voltou a me olhar, parecia


que sua frustração inicial também havia voltado. Ela bufou e jogou os braços
para o alto.

— Bem, obrigada pela ajuda, mas agora ele acha que estamos namorando —
ela reclamou. — A escola inteira vai pensar a mesma coisa.

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Sua decepção foi como uma adaga no meu coração. A ideia de namorar comigo
era tão absurda? Provavelmente. Eu é quem estava louco se acreditasse que
ela sequer consideraria isso.

— Se isso te consola de alguma forma, você provavelmente tem mais chance


com o Owen agora do que tinha antes, se ele acha que estamos namorando —
eu murmurei.

— E o que isso quer dizer?

— Só que meu irmão talvez não tivesse planejado aceitar seu convite para o
baile antes, mas saber que você está namorando comigo muda as coisas.
Owen sempre cobiçou as garotas que ele acha que eu gosto, e agora que ele
acredita que estamos namorando, provavelmente vai se interessar por você
também.

A testa de Hayley se franziu enquanto ela considerava minhas palavras.

— Você realmente acha que ele se interessaria por mim por causa disso?

— Posso quase garantir — a ideia me deixou enjoado, mas era a verdade.

Eu poderia ter salvado Hayley de ser rejeitada, mas ao fazer isso, a transformei
em um brinquedo brilhante que Owen teria que ter. Agora, ele provavelmente
teria mais interesse em tê-la como par para o baile. Talvez eu não devesse ter
intervindo de jeito nenhum.

— Então, ainda pode haver uma chance de mudarmos isso?

Meu peito apertou com a esperança em sua voz.

— Não faremos nada disso — eu respondi.

— Você me meteu nessa encrenca, Ethan — ela disse. — Você tem que me
ajudar a consertar.

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Na verdade, eu não precisava. Eu estava bem feliz com Hayley ficando o mais
longe possível do meu irmão, mas eu não tinha ideia de como colocar isso em
palavras sem admitir que gostava dela. Quando eu não respondi, seus olhos
amoleceram um pouco.

— Olha, porque você interrompeu, nenhum de nós jamais vai saber com
certeza como Owen teria respondido lá atrás. Quer dizer, ele já rejeitou
algumas garotas, mas talvez comigo fosse diferente.

— Talvez — eu concordei a contragosto, não era um leitor de mentes, mas


supunha que havia uma pequena chance de ela estar certa.

— E, se ele realmente não estiver decidindo sobre um par para o baile até o
dia anterior, então talvez eu ainda tenha tempo — ela continuou. — Talvez eu
ainda tenha uma chance.

Ela tinha mais do que uma chance. Hayley era a garota mais linda que eu já
tinha conhecido, por dentro e por fora, e Owen teria que ser um idiota para
não ver isso. Era sorte para mim que, na verdade, meu irmão era um idiota.

— Não posso te ajudar.

— Você nunca gostou de alguém que não gostava de você? — Ela estendeu a
mão e tocou levemente minha mão, claramente não dissuadida.

Tentei ignorar o formigamento em minha pele, onde os dedos dela tocaram os


meus, e minha voz estava rouca quando respondi.

— Claro.

— E se você tivesse a chance de ficar com ela, o que faria?

— Tudo o que pudesse…

— Então, você não consegue compreender o que estou tentando dizer — ela
implorou. — Ethan, eu preciso de você. Por favor, você vai me ajudar?

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A adaga afundou mais fundo em meu coração. Ouvir o quanto ela queria
desesperadamente meu irmão era tortura. Seus olhos eram tão grandes e
inocentes enquanto me encarava. Eu sabia que não havia como negar a Hayley
algo que ela queria, mesmo que fosse ajudá-la a levar meu irmão ao baile.
Caramba, eu era um completo bobo por essa garota, e ela não tinha
absolutamente nenhuma ideia disso.

— O que exatamente você está pensando? — Falei entre dentes, soltando um


suspiro.

Seu rosto se iluminou, e a esperança brilhou em seus olhos.

— Então, você vai me ajudar?

— Eu não disse isso.

— Você sabe que quer — ela respondeu.

— Realmente, não quero.

— Você não precisa se preocupar. Vai ser simples — ela continuou, como se
eu não tivesse dito nada. — Owen acha que estamos namorando e logo, logo
todo mundo vai saber disso na escola. Se o que você disse é verdade, tudo o
que você vai precisar fazer é continuar fingindo namorar comigo. Owen
finalmente vai me notar e vai querer me levar ao baile.

— Fácil assim, né?

— Fácil assim. Olha, amanhã eu vou passar na sua casa, e a gente pode
conversar melhor sobre o nosso plano. Mas isso vai funcionar, eu sei que vai.
Balancei a cabeça, sem palavras. No que estava me metendo?

— Então, a gente se vê de manhã, tá? — Ela não poderia estar mais animada.

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— Uh, claro.

— Perfeito.

Todo o seu comportamento havia mudado enquanto ela dava meia-volta e


entrava em sua casa. Havia uma leveza em seus passos que estava ausente
antes, e um grande sorriso iluminou seu rosto, fazendo seus olhos brilharem.
Meu comportamento provavelmente havia mudado também, mas duvidava
que fosse para melhor. Essa era uma ideia terrível, mas eu só tinha a mim
mesmo para culpar.

Fiquei olhando para a porta da frente dela, tentando entender como tudo
aquilo havia acontecido. Eu deveria estar eufórico depois de finalmente
conseguir falar mais do que algumas frases com a Hayley. Não tinha pensando
nas palavras uma vez sequer, e no final da nossa conversa, mal estava
nervoso. Acho que discutir com uma garota fazia você se preocupar menos em
impressioná-la, mas, ainda assim, era progresso. Eu até tinha colocado meu
braço sobre o ombro dela em um momento, e em qualquer outro dia, eu estaria
nas nuvens. Em vez disso, fiquei me perguntando como tinha me metido em
uma posição tão estranha.

Voltei para minha casa em um torpor total. Tudo o que conseguia pensar era
em como eu sou um idiota por concordar com esse plano. Só alguém cujo
cérebro estivesse nublado pelo amor não correspondido poderia achar que isso
era uma boa ideia. Quanto mais pensava nisso, mais eu começava a me
perguntar se poderia usar esse plano a meu favor.

Hayley queria chamar a atenção de Owen fingindo namorar comigo, mas e se


eu finalmente conseguisse fazer com que ela me visse como algo mais do que
apenas seu vizinho nerd? Essa poderia ser minha única chance de ficar com
Hayley, então talvez, em vez de me preocupar com Owen, eu devesse tentar
mostrar a ela o quão bom namorado eu poderia ser. Hayley pode ter sua visão
do plano, mas eu também estava formando uma na minha cabeça. Talvez,
afinal de contas, eu não fosse tão idiota.

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06 - Hayley

— Como foi? — Madi me perguntou no momento em que entrei em meu


quarto. Ela estava sentada na minha cama, mordiscando o lábio inferior
enquanto me observava com olhos preocupados.

— Bem, você saberia como foi se tivesse ficado observando dos arbustos como
uma boa melhor amiga faria. É como a segunda regra cardinal das melhores
amigas.

— E qual é a primeira regra?

— Que melhores amigas nunca deveriam postar uma foto ruim uma da outra
no Instagram.

— Esta é a primeira vez que ouço falar dessas supostas regras de melhores
amigas, e mesmo que existissem, só você acharia que espionar seria uma delas
— disse ela rindo. — Eu não ia me esconder nos arbustos.

— Bem, elas existem, e não se trata de espionagem, é mais como um apoio


moral secreto. Eu realmente poderia ter aproveitado sua opinião sobre como
tudo aconteceu.

O rosto de Madi começou a se abater.

— Então, imagino que convidar Owen para o baile de formatura não tenha
dado certo…

— Não exatamente. É mais um trabalho em andamento…

— Como assim?

— Ethan estava lá, e ele interrompeu Owen antes que ele me respondesse. Ele
achou que Owen ia me rejeitar, então ele se intrometeu.

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— Você acha que ele estava certo? — a voz de Madi era suave quando ela falou,
e eu sabia que ela estava tentando ser gentil comigo.
Eu queria dizer que Ethan estava completamente errado, mas lá, no fundo, eu
sentia que ele estava dizendo a verdade. Owen não havia falado comigo como
um cara prestes a aceitar um convite para o baile, e mesmo que eu realmente
não conhecesse Ethan, por alguma razão, eu confiava no que ele tinha dito.

— Acho que não sei ao certo, — respondi — mas eu criei um plano para
consertar isso.

— Hayley, isso é realmente uma boa ideia? Suas ideias nem sempre terminam
bem — a preocupação nos olhos de Madi só aumentou.

— Claro que sim.

— Você já esqueceu do plano que fez no verão passado?

— Bem, não…

— Porque eu não acho que alguém concordaria que levar um unicórnio inflável
gigante para o mar é uma boa maneira de impressionar um salva-vidas
bonitão.

— Foi uma ótima ideia e funcionou. Chamei a atenção dele.

— Porque você foi levada pelo mar…

— Ok, talvez aquela não fosse a melhor ideia, mas esta vai funcionar. Tenho
certeza. — Madi parecia duvidosa, mas ela ainda não tinha ouvido os detalhes
do que eu estava pensando — Não olhe para mim assim; você nem sabe qual
é o plano.

— Está bem, me conte sobre seu brilhante plano — disse ela soltando um
longo suspiro.

73
Eu sorri.

— Ok, se você insiste nisso, mas teremos que começar do início…

Continuei contando a ela tudo o que tinha acontecido desde que pisei no
gramado da casa dos Beck. Eu contei como meu convite mal sucedido para o
baile nunca teria funcionado desde o início, porque Owen não escolheria uma
acompanhante até o dia anterior ao baile. Descrevi como Ethan tinha me
resgatado da rejeição ao fingir ser meu namorado e terminei com a parte mais
importante: como Ethan e eu continuaríamos fingindo que estávamos juntos
para que Owen finalmente notasse a minha existência e eu me tornasse a
garota que ele escolheria como sua acompanhante.

— Então, o que você acha? — disse apertando minhas mãos ao terminar.

Madi tinha franzido a testa o tempo todo durante a minha explicação


detalhada, e parecia que ela ainda não estava convencida de que meu plano
era tão brilhante quanto eu pensava.

— Então, você está me dizendo que você quer namorar Ethan para que o irmão
dele fique com ciúmes e queira te roubar dele?

— Sim, é isso mesmo. — Quando ela colocou dessa forma, parecia um pouco
estranho. — Mas não é como se o Ethan e eu estivéssemos realmente
namorando. É só fingimento. Madi ficou em silêncio por vários segundos e
então disse:

— Por que Ethan concordaria com isso?

— Bem, porque ele arruinou meu convite para o baile e quer me ajudar a
consertar.

— Você tem certeza disso?

— Claro.

74
Uma pequena parte de mim não estava convencida de que isso era verdade.
Ethan acreditava que tinha me salvado da vergonha da rejeição, então por que
ele se sentiria obrigado a consertar algo que ele não achava ser um problema?
Eu não queria que Madi duvidasse de suas intenções, ainda mais quando ela
já estava cética o suficiente sobre meu plano, então mantive isso para mim.
— Ainda acho que isso não é uma boa ideia — disse Madi.

— Você também achou que o concurso Amor Verdadeiro era uma má ideia, e
veja como aquilo acabou.

Os olhos de Madi se estreitaram ligeiramente. Ela realmente odiava quando


eu trazia à tona o concurso de caridade estilo solteirão que nossa escola tinha
feito, e hoje não foi diferente. Eu não sabia porque ela ficava tão envergonhada
com isso. Todo mundo adorou assistir, e agora ela estava em um
relacionamento perfeito com Cole.

— Isso não é a mesma coisa — disse Madi. — Parece errado fingir namorar
alguém.

— Bem, não é como se Ethan não soubesse que é fingimento, e nenhum de


nós tem sentimentos um pelo outro, então eu não vejo o problema.

— Ainda acho que isso não vai terminar bem — disse e soltou um longo
suspiro.

— Você tem que ter fé, Mads. Tudo vai dar certo.

— Você disse a mesma coisa sobre o cisne — disse balançando lentamente a


cabeça para mim.

***
Era domingo de manhã e caminhei até a casa de Ethan. Sua mãe atendeu a
porta e sorriu radiante ao me ver parada ali. Havia um toque de surpresa em
seus olhos, mas isso era esperado, eu não era uma visitante regular na casa
dos Beck. A Sra. Beck, no entanto, me conhecia razoavelmente bem, ela era
amiga da minha mãe desde que nos mudamos para a casa ao lado.

75
— Hayley — ela saudou.

— Oi, Sra. Beck, o Ethan está em casa?

Ela franziu um pouco a testa com a pergunta.

— Você quer ver o Ethan?

— Sim, nós temos, ah, temos um projeto em que estamos trabalhando juntos.

— Ah, é aquele de ciências sociais sobre o qual ele tem falado?

— É esse mesmo — respondi rapidamente. Um relacionamento falso meio que


contava como ciências sociais, certo?

— Bom, entre. — Ela me fez um gesto para entrar. — Eu não tenho certeza se
ele estará pronto para te receber. Ele nunca sai da cama antes das dez aos
finais de semana.

— Nossa, como eu gostaria de poder dormir até essa hora. Eu sempre acordo
no mesmo horário que o sol e não consigo voltar a dormir. É como uma
maldição.

— Ou uma bênção — disse a Sra. Beck rindo.

A segui pelo interior da casa e ela me pediu para esperar na cozinha enquanto
ela ia chamar o Ethan.

— Ele desce em um minuto. — Ela disse quando voltou — Posso te oferecer


algo para beber? Café? Água-

— Uma água seria ótimo, obrigada. Cafeína e eu não nos damos muito bem.
Ela sorriu e assim que me serviu um copo, Ethan apareceu na porta. Seus
cabelos estavam todos desarrumados e havia uma marca de sono marcando

76
o lado de seu rosto. Ele estava vestindo moletom e uma camiseta larga, parecia
que ele acabara de acordar.

O que realmente me surpreendeu, porém, foi o fato de Ethan não estar usando
seus óculos. Ele sempre os usava na escola, e eu não conseguia me lembrar
de tê-lo visto sem eles, mas agora que as armações não contornavam seus
olhos, eu podia vê-los com muito mais clareza. Será que eles sempre tinham
esse anel escuro de azul ao redor? O contraste era bastante marcante e eu
senti como se estivesse olhando para um pedaço de luz que tinha cortado
através de um oceano azul-escuro.

Levou um momento para eu perceber que Ethan estava franzindo a testa para
mim e que eu devia estar encarando. Eu pulei do banco em que estava sentada
e fui até ele, dando um largo sorriso.

— Bom dia, sol.

Ele não devolveu o sorriso. Em vez disso, ele parecia ligeiramente aflito.

— Hayley, quando você disse que viria hoje, eu pensei que estava se referindo
a uma hora de visita educada.

— Uma hora educada de visita.

— Um ser humano nem deveria estar acordado a essa hora.

— Ele está sempre tão mal-humorado de manhã? — perguntei olhando por


cima do ombro para a mãe do Ethan.

— Normalmente é pior — ela respondeu.

— Nesse caso, vamos para o meu quarto agora — disse Ethan fazendo um
gesto para que eu o seguisse e eu o acompanhei.

— Deixe a porta aberta — sua mãe chamou atrás de nós.

77
— Sim, sim — ele respondeu enquanto começava a subir as escadas com
passos lentos.

— Cara, você é muito mal-humorado de manhã — comentei sorrindo enquanto


subia os degraus atrás dele.

Ele estava mais relaxado também, mas não comentei essa parte com ele. Ele
sempre era tão tímido quando eu estava por perto, mas parecia que ele ainda
estava muito sonolento para agir como era de costume.

— Não, eu só ainda não acordei — ele insistiu.

— Mesmo assim, mal-humorado.

Ele se virou para mim quando chegamos à porta do quarto dele. — E dizer
para alguém que ele está mal-humorado já fez com que ele ficasse menos mal-
humorado?

— Provavelmente não, mas eu meio que estou curtindo o mau-humor, não


tentando consertá-lo.

— Você sabe que você não faz absolutamente nenhum sentido às vezes, né?
— disse Ethan balançando a cabeça para mim.

— Tudo faz sentido aqui em cima — eu disse dando de ombros e tocando com
um dedo na minha têmpora.

Ele balançou a cabeça mais uma vez e entra em seu quarto, eu o segui
lentamente. Meu quarto tinha uma visão direta para o quarto do Ethan, então
eu já tinha visto partes dele antes, só não percebi o quão estranho seria entrar
lá dentro. Eu nunca tinha estado no quarto de um menino antes e não tinha
ideia de como agir.

A primeira coisa que notei foi o cheiro. Sempre imaginei que o quarto de um
menino cheirava a suor e meias de academia com uma semana de uso, mas o
quarto de Ethan não era nada assim. Cheirava um pouco a lençóis recém

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lavados, com um toque de colônia e estava ridiculamente arrumado. Até
mesmo a cama estava feita, e ele tinha acabado de se levantar dela alguns
minutos atrás.

— Você teve tempo de fazer a cama — perguntei enquanto ficava perto da


extremidade dela.

— Sim, bem, nem todos tratam seus quartos como chiqueiros — ele disse me
lançando um olhar significativo.

— Meu quarto não é um chiqueiro.

— Você esquece que eu posso ver daqui. Você tem uma pilha de roupas que
quase chega ao teto em cima da sua mesa — disse ele e eu não precisava
seguir seu olhar para a janela para saber que ele estava certo.

— É o lugar a qual elas pertencem. São roupas que estão limpas demais para
precisarem ser lavadas, mas foram usadas o suficiente para não se
encaixarem mais no meu guarda-roupa. — Eu disse cruzando os meus braços
sobre o peito enquanto o encarava. Ele balançou a cabeça para mim, como se
eu não estivesse entendendo o ponto. — De qualquer forma… Eu prolonguei
a palavra, ansiosa para deixar de lado meu jeito um tanto bagunçado. Ethan
claramente não entendia que a minha bagunça tinha um propósito.

— Você quer falar sobre o plano? — Ele sugeriu.

— Sim, o plano. Pulei na pergunta, feliz demais para falar sobre qualquer coisa
além do meu quarto. Olhei por cima do ombro em direção à porta aberta.

— Owen não voltou para casa após o encontro dele ontem à noite, então você
não precisa se preocupar com ele ouvindo — disse Ethan, adivinhando meus
pensamentos.

— Ele estava em um encontro — perguntei com meu coração afundando


dolorosamente.

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— Sim, mas não deixe isso te abalar. Duvido que tenha sido algo sério.

O olhar de Ethan amaciou, mas não conseguiu amenizar o golpe. A ideia de


Owen saindo com outra pessoa me atingiu em cheio, eu já sentia que tinha
poucas chances de chamar a atenção dele. Que chance eu teria quando ele
estava saindo com outras garotas?

— Você sabe com quem ele saiu?

— Você realmente quer saber? — Perguntou Ethan franzindo a testa ao


observar minha expressão.

Eu pensei que a resposta fosse óbvia, mas ao considerar a pergunta, não


estava tão certa. Eu estava curiosa para saber com quem Owen tinha saído,
mas ao pensar nisso, percebi que também não queria imaginá-lo com outra
pessoa. Eu tinha meu próprio plano para Owen e se pensasse nele com outra
garota, poderia perder a coragem de seguir em frente.

— Na verdade, provavelmente não. — Suspirei e abanei a cabeça. Precisava


me manter focada no objetivo final e não ficar com ciúmes e distraída. Às
vezes, permanecer na ignorância era mais agradável. — De qualquer forma,
nós realmente deveríamos começar a tratar dos negócios — eu disse, tentando
empurrar os pensamentos sobre o encontro do Owen para o fundo da minha
mente.

— Deveríamos — concordou Ethan. — Você quer sentar? Você sabe que não
precisa ficar parada no canto assim.

— Ah, obrigada — eu disse, no entanto, hesitei por mais alguns momentos,


incerta sobre onde ir.

As únicas opções para sentar eram na cama ao lado dele ou na cadeira de sua
escrivaninha. Havia uma guitarra de aparência cara na cadeira, que eu tinha
medo de tocar, mas algo sobre sentar ao lado de Ethan na cama também me
deixava nervosa. Ethan limpou a garganta, e percebi que estava encarando os
olhos dele novamente. Engoli em seco e olhei rapidamente para o lado.
Definitivamente, a cadeira da escrivaninha.

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Manuseei a guitarra com cuidado enquanto a levantava do assento e a
colocava no colo. Passei os dedos sobre algumas cordas e tentei não rir quando
Ethan fez uma careta ao som.

— Por favor, tenha cuidado.

— Não se preocupe, não vou machucar o seu bebê. Além disso, como você
sabe que eu não sou um prodígio musical secreto? — Disse sorrindo.

— Porque já estive em aulas de música com você. — Ele disse com os olhos
revirados — Você era tão ruim que o professor pegou a sua flauta de você na
quinta série, e, na sexta série, você fez a Sra. Lowell chorar quando tentou
tocar a flauta.

— Eram lágrimas de alegria — eu respondi.

— Eu estava lá, Hayley. Não havia nada de alegre na sua versão de 'Mary Had
a Little Lamb'. Na verdade, eu diria que você praticamente assassinou aquele
pobre cordeirinho.

— Ok, talvez instrumentos de sopro não sejam a minha praia. — Inclinei a


cabeça enquanto o olhava. — Como você consegue se lembrar disso? — Eu
mal conseguia me lembrar de ambos os incidentes.

As bochechas de Ethan se aqueceram ligeiramente enquanto ele desviava o


olhar e dava de ombros.

— Acho que tenho uma boa memória.

— Bom, é melhor do que a minha.

Ele assentiu, embora ainda se recusasse a encontrar meus olhos.

— Então, vai me contar sobre o seu plano — ele continuou.

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Puxei o lábio inferior entre os dentes enquanto assentia.

— Quer dizer, não tenho exatamente tudo mapeado ou algo assim, mas pensei
que poderíamos sair em um encontro falso no próximo fim de semana e
garantir que Owen nos veja juntos. E talvez, você pudesse falar bem de mim
perto dele.

— Esse é o plano — disse Ethan levantando uma sobrancelha.

— Bem, sim…

— Não é bom.

— Você disse que Owen só precisava pensar que estávamos namorando e ele
ficaria com ciúmes. Você tem uma ideia melhor? — eu disse, soltando um
suspiro irritado.

— Bem, para começar, um encontro não vai ser suficiente.

— Não vai? — Meus ombros caíram.

— Não. Ele precisa ficar totalmente convencido de que gostamos um do outro,


e isso vai exigir muito mais do que apenas um encontro.
— Então, saímos em dois encontros?

Ele balançou a cabeça.

— Isso não é o tipo de coisa em que podemos fingir estarmos juntos apenas
quando ele está por perto. Owen está de volta à escola amanhã. Ele vai
perceber que algo está acontecendo se nós nos ignorarmos na escola, mas
agirmos de maneira diferente quando ele estiver por perto.

— Então, você está dizendo que vamos ter que fingir estar namorando o tempo
todo? — Franzi a testa.

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— Basicamente.

Ethan conhecia melhor o irmão, então eu confiava que ele sabia do que estava
falando. Eu estava surpresa que ele estivesse tão disposto a se comprometer
com um plano tão intenso, eu estava esperando ouvir o contrário de Ethan.

— E você está bem com isso? — Eu perguntei.

Sua testa se franziu enquanto um lampejo de incerteza passava por seus


olhos.

— Não diria que estou bem com isso…

— Então, por que você está me ajudando? — Era uma pergunta que me
incomodava desde que Madi a trouxe à tona ontem.

Sua pele pareceu empalidecer, mas ele sustentou meu olhar ao responder.

— Eu estraguei seu convite para o baile, e quero ajudar a consertar isso —


sua voz estava sem emoção e tive a nítida impressão de que ele estava apenas
me dizendo o que eu queria ouvir.

— É só isso? Ontem você disse que estragar meu convite para o baile estava
me ajudando…

Ele engoliu visivelmente, e seus olhos desviaram. Definitivamente, havia uma


razão pela qual ele estava me ajudando que ele não estava me contando.

— Ethan, tem algo que você não está me dizendo. — Perguntei — Porque, por
mais que eu aprecie sua ajuda, não tenho certeza se quero continuar com isso
quando não sei qual é a sua motivação.

Seus olhos voltaram para mim, e por um momento, pensei que pudesse ver
pânico neles, porém a sua expressão mudou tão rapidamente que era
impossível saber. Ele soltou lentamente um suspiro enquanto assentiu.

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— Ok, você me pegou, tem algo que deixei de fora. — Ele admitiu — Mas foi
apenas porque estou envergonhado.

— Do que você está envergonhado?

— Há uma garota de quem gosto. — Confessou e suas bochechas coraram um


pouco em resposta. — Mas ela realmente não sabe que eu existo. Eu pensei
que talvez se namorássemos, ela finalmente me notaria. Acho que é por isso
que concordei com o plano.

— Ah — De repente, me senti culpada por pressioná-lo por uma resposta. —


Desculpe, Ethan, eu não tinha ideia.

— Bem, agora você sabe.

— Agora eu sei — murmurei concordando.

Eu estava curiosa para saber quem era a garota, mas não parecia certo
perguntar sobre ela quando ele já estava tão envergonhado. Saber que ele
concordou com o nosso relacionamento falso por um motivo semelhante já era
o suficiente para me deixar mais tranquila.

— Bem, vamos torcer para que o plano funcione para você também, então.

— Vamos torcer para isso — concordou ele com um pequeno sorriso, quase
hesitante. Eu nunca tinha notado antes, mas o sorriso dele era meio fofo.
Havia uma simpatia aberta nele que oferecia um vislumbre do cara genuíno
escondido por trás da quietude. Isso me fazia sentir como se pudesse confiar
nele.

— Então, qual é a nossa história se as pessoas perguntarem? — Disse Ethan


— Como nós começamos a namorar?

Eu rapidamente desviei o olhar dos lábios dele e me concentrei nos olhos.

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— Provavelmente deveríamos contar algo próximo da verdade para não nos
atrapalharmos.

— Então, nós apenas dizemos a eles que começamos a namorar ontem?

— Tenho certeza de que eles vão querer mais detalhes do que isso…

— Ok. — Ele respondeu, franzindo levemente a testa enquanto pensava. —


Então, o que você sugere?

— Que tal nós contarmos que você secretamente teve um interesse por mim
há um tempo e finalmente viu uma chance de falar comigo ontem e me
convidar para sair.

Ele riu de forma desconfortável e desviou o olhar de mim, seus olhos baixando
para o chão.

— Você acha que as pessoas acreditariam nisso?

— Quer dizer, não é tão absurdo assim. Por que eles não acreditariam?

— Bem, porque moramos um ao lado do outro a anos e nunca conversamos


— Ele tropeçou nas palavras ligeiramente e tossiu para limpar a garganta —
Se eu realmente tivesse um interesse secreto em você, certamente teria falado
com você antes…

Ele ainda parecia evitar contato visual comigo, mas talvez ele só achasse a
ideia embaraçosa. Mas o que ele disse fazia sentido, se ele realmente tivesse
uma queda por mim já teria, ao menos, tentado iniciar uma conversa comigo.

— Claro, mas ninguém mais sabe que nunca conversamos.

— Suponho que não. — Ele concordou — Talvez, se acrescentarmos que você


também tinha um interesse secreto por mim, então isso possa despertar ainda
mais o interesse de Owen. Podemos contar às pessoas que nosso
relacionamento foi como destino.

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— Destino, hein. — Isso me fez sorrir. Eu poderia trabalhar com o destino.
Afinal, foi bem sortudo que Ethan estava lá quando pedi a Owen para o baile,
ou eu simplesmente teria sido rejeitada.
— Ok, acho que essa história vai funcionar, mas vamos precisar de regras
para o nosso relacionamento.

— Regras parecem uma boa ideia — concordou ele com um aceno.

— Alguma sugestão? — Perguntei.

— Bem, a primeira e mais óbvia regra deveria ser que eu escolho os encontros.

— Provavelmente você vai nos levar a algum barzinho para ouvir uma banda
que ninguém nunca ouviu falar — franzi o nariz.

— Talvez — ele sorriu.

Eu não gostava de como a primeira regra soava, mas como Ethan concordou
em me ajudar, o mínimo que eu poderia fazer era tentar não ser difícil em
relação a isso.

— Tudo bem, você pode escolher os encontros. Próxima regra: nada de ficar
pegando em mim.

— Você acha que vou ficar pegando em você? — Ethan explodiu em risadas e
não pude deixar de me sentir um pouco envergonhada enquanto ele
continuava rindo.

— Nada de beijos também — isso pareceu calá-lo.

— Você realmente acha que meu irmão vai acreditar que você é minha
namorada se ele não nos ver beijando?

Soltei um suspiro, frustrada.

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— Ok, você pode ter razão nisso. Nada de beijos, a menos que seja na frente
de Owen.

Ele assentiu, embora seus olhos traíssem seu desagrado com a ideia.
Provavelmente, ele estava apenas repelido pela ideia de me beijar. Eu achei
que também ficaria enojada com isso, mas a ideia não era tão desconfortável
quanto eu esperava. Foi especialmente fácil imaginar isso de manhã, porque
o cabelo bagunçado e os olhos sonolentos dele o faziam parecer quase sexy.

Imediatamente fiz uma careta com o pensamento. Ethan Beck não era sexy.
Culpei o fato de estar no quarto dele pelo meu momento temporário de
insanidade. Estar nesse espaço pequeno e cercada pelo cheiro
surpreendentemente tentador dele, fez parecer que meu cérebro deu um bug.

— Alguma outra regra? — Perguntei rapidamente.

Ele assentiu com a cabeça, mas hesitou antes de falar. Quando finalmente
começou a falar, sua voz estava calma.

— Se isso não der certo, você ainda vai ao baile comigo.

— Você quer ir ao baile juntos?

— Por causa do plano, talvez eu não tenha a chance de convidar mais


ninguém. Pelo menos assim, nós dois ainda teremos um par. — Ele deu de
ombros.

— Mas e quanto à sua garota misteriosa? Você não quer levá-la?

— Eu adoraria levá-la, obviamente. Mas, se nosso plano der certo, não


saberemos até o dia do baile se Owen vai levá-la. Seria tarde demais para
convidar a garota de quem gosto para o baile e ela merece mais do que ser
minha reserva.

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— Então, você não pode ir ao baile com ela se me ajudar — murmurei
enquanto um turbilhão de culpa se acumulava em minhas entranhas, mas
Ethan rapidamente balançou a cabeça.

— Eu não teria nenhuma chance com ela se não a ajudasse — respondeu ele.
— O baile de formatura é apenas uma noite, e é uma noite que fico feliz em
perder se isso significar que tenho uma chance de ficar com ela para sempre.

Foi uma resposta muito gentil e quase senti um pouco de inveja da garota de
quem ele gostava. Quem diria que os rapazes poderiam ser tão atenciosos?
Parecia que a garota misteriosa devia ser incrível se ele estava disposto a
esperar por ela.

— Ok, bem, se você tem certeza…

— Tenho certeza.

— Então, acho que temos um acordo — fiquei de pé e estendi a mão para ele
apertar em nosso acordo.

O canto de sua boca se ergueu quando ele se levantou e deu um passo em


minha direção. Fiquei surpresa com a altura de Ethan, e o suave aroma de
sua colônia ficou mais forte à medida que ele se aproximava de mim. Ele
colocou sua mão grande em volta da minha e eu engoli quando ele a apertou
com firmeza.

— Combinado — ele concordou.

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07 - Hayley

— Tem certeza de que não teve nenhuma notícia do mecânico? — Perguntei


para minha mãe ao entrar na cozinha na manhã de segunda-feira. Já fazia
quase uma semana desde que meu carro tinha ido para conserto, e eu estava
começando a me preocupar de que talvez nunca mais o visse.

— Bom dia para você também — ela disse me lançando um olhar por cima de
sua xícara de café.

Como sempre, os cabelos castanhos dela caíam em ondas brilhantes e, mesmo


sem maquiagem, sua pele tinha um brilho radiante. Eu não tinha ideia de
como ela conseguia parecer tão perfeita de manhã, enquanto eu sempre
parecia algum tipo de rato do pântano que acabara de sair do esgoto.

— Bom dia, mãe. Então, alguma novidade?

Ela soltou um suspiro e balançou a cabeça.

— Nada desde que você me perguntou ontem à noite, e por favor, não me peça
para ligar para ele novamente. Mike disse que a peça vai demorar um pouco
e que ele falaria conosco no fim desta semana.

— Isso é tortura! — Eu gemi e desabei em um dos banquinhos da cozinha.

— Realmente, não é o fim do mundo. — Mamãe estendeu a mão e deu um


tapinha no meu braço. — Pelo menos, nós temos um pouco mais de tempo
juntas na ida para a escola. — Ela sorriu amplamente para mim e parecia
genuinamente feliz com a ideia. Ninguém nunca poderia dizer que o coração
da minha mãe não estava no lugar certo.

Infelizmente, a tortura não era passar tempo com a mamãe, era a viagem de
dez minutos para a escola com minha irmã mimada que eu não conseguia
suportar. A ideia de ficar presa no carro com Kitty por mais uma semana era
o suficiente para me fazer pensar em faltar à escola.

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— Ah, sério mesmo que ela vai andar com a gente de novo a semana inteira?
— E assim, minha manhã tranquila foi interrompida abruptamente.

Virei para encontrar Kitty parada na porta da cozinha, o rosto dela torcido de
nojo enquanto me olhava. Engraçado, nós duas compartilhamos o mesmo
sentimento, eu também não queria estar perto dela de jeito nenhum.

— Vou começar a dirigir sozinha assim que puder, Kitty, acredite em mim.

Kitty virou o olhar para nossa mãe.

— Mãe, isso é tão injusto. Nossos horários são totalmente diferentes, e ou eu


chego muito cedo na escola, ou espero muito tempo depois. Não posso só pegar
uma carona com a mãe da Carly?

— Não. Não vou deixar ela sair do caminho dela só para você evitar uma
viagem de carro com sua irmã. Um tempinho extra na escola não vai te matar
por uma semana. — Respondeu à mãe. — Você vem conosco, e ponto final.

— Mas a Hayley é tão irritante.

— Isso é engraçado vindo de você — bufei.

— Meninas! — Nossa mãe advertiu.

Lancei a ela um olhar culpado, mas Kitty simplesmente cruzou os braços


sobre o peito.

— Foi Hayley que começou! — Ela reclamou.

— A mãe sabe quem começou, ela estava aqui o tempo todo — respondi
prontamente.

Mamãe gemeu e esfregou a ponta do nariz.

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— Estou velha demais para isso — resmungou.
Eu entendi isso como meu sinal para sair antes que a discussão piorasse.

— Vou tomar um banho — saí correndo da sala antes que Kitty pudesse dizer
mais uma palavra. Por que eu não poderia ter tido um irmão?

Arrastei os pés enquanto me arrumava. Eu já tinha dificuldade em lidar com


a minha irmã nos melhores momentos, mas ela sempre estava
particularmente sarcástica de manhã e eu não estava mentalmente preparada
para entrar imediatamente na segunda rodada com ela.

Ela sempre tinha sido uma criança tão doce, mas mudou tanto quando se
aproximou do seu último grupo de amigos. São todas líderes de torcida, mas
não do tipo incrível como eu. Eu torcia porque amava, mas as garotas com
quem a Kitty andava, faziam isso por status e popularidade e elas não estavam
ficando mais legais conforme ficavam mais velhas.

Uma vez vestida, soltei um longo suspiro e me preparei para descer e entrar
no carro. O desentendimento na cozinha com Kitty tinha sido relativamente
tranquilo esta manhã, e era fácil para mim sair. Não podia simplesmente pular
de um carro em movimento se ela começasse de novo, embora eu não pudesse
negar que já tinha considerado isso muitas vezes.

Cheguei à porta da frente e fiquei surpresa quando a abri para encontrar Kitty
parada no degrau da frente conversando com Ethan. Ele tinha uma mochila
pendurada em um ombro, e as mãos estavam enfiadas nos jeans. Ele estava
usando os óculos de volta nesta manhã, ele os empurrou para cima do nariz
enquanto desviava a atenção de minha irmã para mim. Um pequeno sorriso
puxou o canto de seus lábios quando ele percebeu minha confusão. Saí para
cumprimentá-lo.

— Ethan, o que você está fazendo aqui? — Perguntei, mas Kitty não deu a ele
a chance de responder.

— Ele estava me contando sobre algumas das músicas que a banda dele tem
ensaiado — ela respondeu por ele.

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Ela continuava ajeitando o cabelo e piscando os cílios para Ethan. Ela parecia
quase atrapalhada, o que era totalmente diferente da minha irmã. A ficha caiu
enquanto eu a observava: Kitty estava completamente apaixonada por ele.
Como eu nunca tinha percebido isso antes?

— Tenho quase certeza de que Ethan não está aqui para conversar com você
sobre a banda dele — eu disse, ganhando um olhar irritado da minha irmã.
Eu me concentrei em Ethan, ao invés disso — Pensei que não te veria até a
escola.

— Ah, sim, sobre isso… — Ele ajustou os óculos novamente, e tive a impressão
de que era um tique nervoso dele — Eu estava me perguntando se você
precisava de uma carona.

— Você estava?

— Bem, eu pensei que, já que seu carro não estava na entrada, ele ainda deve
estar no conserto e provavelmente é o mínimo que posso oferecer para minha
namorada… — ele estava meio que enrolando, mas era meio fofo e meu
coração deu um solavanco inesperado quando ele me chamou de namorada.
Eu sabia que íamos estar interpretando um papel juntos, mas não estava
preparada para ouvi-lo me chamar assim tão cedo.

— Vocês dois estão namorando? — Kitty perguntou, não conseguindo


esconder o nojo em sua voz.

Eu ignorei o comentário dela, assim como ignorava a maior parte do que Kitty
tinha a dizer. Deixando a atuação de lado, foi realmente atencioso da parte do
Ethan oferecer-se para me levar de carro. E agora que ele havia soltado a
bomba de "namorada" na frente da minha irmã, eu mal podia recusar. Para
ser honesta, eu teria felizmente me amarrado no teto do carro dele em vez de
entrar em um veículo com Kitty.

— Meu carro ainda está na oficina, então, sim, isso seria incrível — respondi,
e o sorriso dele se alargou novamente em resposta.

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Fiquei mais uma vez impressionada com o quanto o rosto de Ethan mudava
quando ele sorria, era como ver o nascer do sol: acontecia devagar, mas cada
vez que atingia o horizonte, iluminava um pouco mais o mundo.

— Você está pronta para ir agora?

— Sim — virei-me rapidamente para minha irmã antes de sair. — Você pode
dizer para a mãe que não preciso de carona?

Minha irmã assentiu, com a boca ainda aberta de choque, isso devia ser a
primeira vez. Segui Ethan para fora de casa, ansiosa demais para sair de perto
da Kitty antes que ela retomasse o suficiente a compostura para me chamar
com algum comentário sarcástico. Ela permaneceu parada na varanda da
frente, uma expressão descontente começando a se formar em seu rosto
enquanto nos via partir.

— Acho que ela pode gostar de você — comentei quando já estávamos fora do
alcance da audição dela.

— Ela só estava sendo amigável — disse Ethan.

— A Kitty não é amigável.

— Ela me parece bem legal.

Balancei a cabeça. O pobre rapaz estava claramente alheio e quase senti pena
dele, a última pessoa que eu gostaria que tivesse uma queda por mim seria a
Kitty. Provavelmente ela ergueu um altar para ele em seu guarda-roupa ou
algo assim. Pelo menos, ela agia de forma mais simpática quando ele estava
por perto.

O carro de Ethan estava estacionado na rua. Claramente, ele tinha dado mais
de uma volta pelo quarteirão, mas, ao entrar no banco do passageiro, pude
ver que ele cuidava bem do carro. Não havia nem um pouco de sujeira no
chão, e até o painel estava livre de poeira. Havia uma capa de violão no banco

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de trás, e ao olhar para ela, percebi que estava coberta de adesivos de
diferentes cidades.

— Você viaja bastante? — Perguntei, apontando para a capa.

— Nah, meu pai está sempre viajando a trabalho e ele me traz adesivos dos
lugares por onde ele passa. Coloco os lugares que também quero visitar na
capa. — Disse ele balançando a cabeça.

— São muitos lugares — comentei e ele deu de ombros.

— Bem, quero viajar por todo lugar quando terminar a escola.

Olhei para a capa e observei os adesivos mais uma vez, Ethan não estava
brincando quando disse que queria viajar por todo lugar. Havia adesivos da
Islândia ao Vietnã, e até da Austrália. Franzi o nariz para o último.

— Você realmente quer ir para a Austrália, né?

— Bem, sim. Isso está no topo da lista de coisas para fazer.

— Mas lá tem aranhas.

— Temos aranhas aqui.

— E quando você não está sendo perseguido por aranhas, também tem cobras,
tubarões e crocodilos para lidar. Você realmente quer morrer tão jovem. — Eu
disse e desta vez, ele riu.

— Tenho quase certeza de que a maioria dos turistas que visitam a Austrália
sobrevivem para contar a história.

Contive um arrepio. Eu não lidava bem com bichos rastejantes e não


conseguia entender como ele estava tão tranquilo em relação a visitar um país
cheio de criaturas mortais.

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— Bem, não diga que eu não te avisei.

— Não vou — concordou ele.

Ethan deu partida no carro, e eu dei um pulo quando um barulho alto e


estrondoso soou do escapamento. Aparentemente, eu tinha coisas maiores
com que me preocupar do que criaturas aterrorizantes da Austrália, eu teria
sorte se conseguisse chegar até a escola.

— Como meu carro está na oficina e esse troço ainda está rodando?
— Ethan riu ao perceber a expressão chocada em meu rosto.

— Apenas sorte, suponho. Isso, e eu cuido bem dela.

— Cuido bem do meu carro também — respondi.

— Não disse o contrário.

— Você deu a entender.

— Não, eu não dei.

— Sim, deu sim.

Ele se esforçou para conter um sorriso.

— Acho que vamos ser aquele casal que está sempre brigando.

— Não, não vamos.

Ele arqueou uma sobrancelha, como se dissesse "veja". Bufei, mas não
consegui evitar rir. Ethan podia ser quieto na escola, mas parecia não ter medo
de falar o que pensava quando você o pegava sozinho.

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— Isso vai ser impossível. Não poderia existir um casal mais desesperançado
no mundo do que nós.

— Ou talvez, você se surpreenda. — Respondeu ele. Seus olhos estavam


sérios, como se ele realmente acreditasse que nós dois poderíamos realmente
fazer isso funcionar. — Coisas mais loucas já aconteceram. — Acrescentou.

— Suponho — concordei, embora não estivesse certa se compartilhava sua


confiança. Ethan e eu éramos simplesmente muito diferentes e eu estava
ficando cada vez mais nervosa em fazer o nosso relacionamento falso parecer
real.

Ele se virou para focar na estrada enquanto saímos da calçada. O rádio tocava
uma música antiga de rock que eu nunca tinha ouvido antes, e Ethan estava
sutilmente balançando a cabeça no ritmo enquanto dirigia. Não era Taylor
Swift, mas também não era tão ruim assim.

Não voltamos a falar até chegarmos ao estacionamento da escola. O carro de


Ethan tossiu uma última vez quando paramos e o silêncio substituiu o
constante ronco do motor. Era um milagre que o carro tivesse chegado inteiro
até aqui, mas eu estava menos preocupada com a minha segurança e mais
ansiosa pelo que nos esperava além das grandes portas da frente da escola.

— Então, como fazemos isso? — Perguntei, virando-me para ele.

— Fazer o quê?

Revirei os olhos.

— Essa coisa de relacionamento falso na escola. A gente senta junto na aula?


A gente fica de mãos dadas? Até onde a gente precisa levar isso?

— Eu diria que quanto mais longe, melhor — respondeu ele.


Dei um tapa no ombro dele.

— Não seja nojento.

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— Eu não fui!

— Ah, é?

— Não, não fui.

— Claro — soltei um suspiro e recuei enquanto tentava entender nosso


próximo passo.

Definitivamente, deveríamos ter falado sobre o nosso primeiro dia de volta à


escola na nossa seção de planejamento ontem. Eu estava tão focada no quadro
geral que a logística do dia a dia do nosso relacionamento falso nem tinha
passado pela minha mente.

— Por que você não age como agiria com qualquer um dos seus outros
namorados? — Ele sugeriu.

Franzi a testa, e meu peito se apertou de incerteza.

— Na verdade, eu não tive muitos outros namorados.

— Eu pensei que você saísse para encontros o tempo todo — seus olhos se
arregalaram de surpresa.

— Não tantos quanto você possa pensar. — Respondi, não estava preparada
para contar a Ethan o quão patética eu realmente era ou o quão desastrosos
eram a maioria dos meus encontros. — E posso ter saído em encontros, mas
nunca tive um namorado. Então, você vai ter que liderar.

— Okay… — Ele prolongou a palavra e tive a nítida impressão de que ele


estava desconfortável com a ideia. — Isso pode ser um pouco difícil, já que o
relacionamento mais longo que tive durou apenas uma semana.

— O quê? Eu pensei que você soubesse o que estava fazendo.

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— Eu pensei que você soubesse o que estava fazendo.

Praguejei enquanto alcançava minha bolsa e pegava meu celular para enviar
uma mensagem de emergência para a Madi.

— Com quem você está falando? — Ethan perguntou.

— Com a Madi. Precisamos de conselhos de uma especialista em


relacionamentos se vamos fazer isso funcionar.

Ethan, porém, me interrompeu, colocando suavemente a mão sobre meu


celular.

— Acho que podemos descobrir entre nós dois — ele disse.

Enquanto olhava nos olhos dele, me vi abaixando o celular. Ele parecia tão
certo, e sua confiança era reconfortante. Quero dizer, quão difícil seria fingir
um relacionamento, afinal?

— Vamos começar devagar. — Ele continuou. — Hoje, vamos de mãos dadas


e sentaremos juntos no almoço, isso deve ser o suficiente para fazer todo
mundo falar sobre o relacionamento. Parece possível?

Soltei um suspiro, a pressão no meu peito diminuindo com suas palavras.

— Sim, parece possível.

— Bem, então, parece que temos um plano de jogo.

— Sim — Concordei. Gostei que Ethan tenha sugerido que começássemos a


mostrar nosso falso relacionamento de maneiras pequenas. Eu não tinha
certeza de como reagiria se ele tivesse proposto que nos beijássemos na
cafeteria ou algo assim. Dar as mãos estava totalmente dentro das minhas
capacidades.

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Pelo menos, pensei que estava, até sair do carro e andar pela frente para
encontrar Ethan, meu pulso começou a acelerar quando parei diante dele. Eu
sabia que deveria pegar na mão dele e que isso não significava nada, mas por
algum motivo, estava surtando. Nunca tinha entrado na escola segurando a
mão de um cara antes, por que algo tão simples parecia tão difícil?

— Acho que esta é a parte em que damos as mãos — ele murmurou.

Olhei para cima, para os olhos hesitantes dele.

— Sim, acho que é — concordei. Seria só eu ou ele também parecia nervoso?

— Posso? — Ele perguntou, estendendo a mão na minha direção.

Assenti e ele gentilmente pegou minha mão na dele. Sua pele estava quente,
e a sensação de sua pegada era reconfortante. Ele tinha calos nos dedos, que
eu supunha serem da guitarra, mas descobri que até gostava um pouco da
leve aspereza contra a minha pele. Meu coração estava batendo
freneticamente, mas eu tinha certeza de que era apenas porque estava nervosa
em chamar a atenção de Owen. Ethan me deu um dos seus pequenos sorrisos,
como se entendesse exatamente como eu estava me sentindo.

— Isso não é tão ruim — ele disse.

— Não, não é completamente terrível — concordei com uma risada. Era apenas
o primeiro passo em nosso relacionamento falso, mas, de certa forma, isso me
fez sentir bem.

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08 - Ethan

Eu não conseguia parar de lançar olhares furtivos para Hayley enquanto


caminhávamos pelo estacionamento em direção à escola. Estávamos de mãos
dadas e eu tinha que continuar olhando para elas para me convencer de que
o momento era real. Já tinha imaginado isso em minha cabeça um milhão de
vezes, mas nunca tinha imaginado o quão descontroladamente meu coração
bateria contra meu peito ou como meu estômago ficaria tenso em uma mistura
de nervosismo e excitação.

Em minha mente eu sabia que o momento era tudo fingimento, mas meu
corpo estava feliz e ignorando a crua realidade da situação. Provavelmente, eu
deveria ter tentado conter meu entusiasmo, no entanto, viver esse momento
era muito mais agradável. Pode não ser um momento real, mas se fosse o
único que eu teria com Hayley, então eu ia apreciar cada segundo.

Foi só quando entramos na escola que fui tirado da minha bolha idílica. No
início foi sutil, uma pessoa olhava em nossa direção e depois outra, mas
quando entramos nos corredores movimentados e repletos de alunos com seus
armários, parecia que todos por quem passávamos estavam olhando para
nossas mãos entrelaçadas.

Eu nunca tinha sido uma pessoa que buscava atenção, mas certamente a
tinha agora. Não foi exatamente um estímulo à confiança ver tantos olhares
confusos em nossa direção. Dadas as expressões perplexas que nos
saudavam, estava claro que todos na escola estavam tentando entender
porque Hayley e eu estávamos juntos.

Sim, eu estava bem ciente de que Hayley era boa demais para mim, mas ficou
evidente o quanto isso era verdade enquanto caminhávamos pelo corredor de
mãos dadas.

Eu sabia que toda essa atenção era um mal necessário. Precisávamos espalhar
a notícia de que agora éramos um casal e pelos olhares que estávamos
recebendo, eu tinha certeza de que não levaria muito tempo até que todos na
escola soubessem sobre nós. Esse tipo de fofoca era boa demais para não se
espalhar. A líder de torcida e o nerd da música: éramos um par improvável.

100
— Então, você vai me encontrar para o almoço? — Hayley perguntou quando
paramos perto do meu armário. Ela soltou minha mão enquanto eu abria a
porta e pegava meus livros e imediatamente senti falta do contato entre nós,
me perguntando quando teria a chance de segurar a mão dela novamente.
Provavelmente, seria um pouco difícil com os braços cheios de livros.

— Claro, mas você não vai para a aula de orientação?

— Eu tenho que me encontrar com a orientadora educacional esta manhã —


ela disse balançando a cabeça em afirmação.

— Você vai pegar os resultados do teste de aptidão profissional?

— Sim, mas eu não faço ideia que tipo de trabalho ela vai sugerir para mim.
Espero que seja algo bom — ela disse suspirando.

— Tenho certeza de que será.

— Eu não tenho — resmungou.

— Ela sugeriu que eu seria adequado como músico, então não fique nervosa.
Devem ser bem precisos.

— Daí porque estou assustada. — Disse com um tremor exagerado. — De


qualquer forma, melhor eu ir, ou vou me atrasar. Te vejo no almoço.

— Sim, até lá.

Ela virou e desapareceu pelo corredor rápido demais. Fiquei olhando para ela,
ainda não conseguindo acreditar no que estava acontecendo entre nós. Eu
sabia que nada sobre nosso relacionamento era real, mas eu não conseguia
evitar adorar cada momento que passava com ela. O som de um punho
batendo no meu braço me trouxe de volta à realidade. Virei para encontrar
um Colin muito confuso ao meu lado.

— O que diabos foi isso? — Ele perguntou.

— Uh… — Por onde eu começaria a explicar?

101
— Por que você estava de mãos dadas com a Hayley?

— Porque estamos namorando?

— O quê? Desde quando?

— Você pode baixar o tom de voz? — Murmurei, meus olhos percorrendo o


corredor movimentado para ver se alguém estava escutando. Felizmente,
agora que Hayley tinha ido embora, parecia que eu tinha voltado a ser invisível
para todos ao meu redor.

— E aí? — Colin instigou em tom de voz mais baixo dessa vez, felizmente.

Meu peito apertou enquanto eu considerava o que dizer ao meu amigo. Eu


poderia mentir e dar a ele a mesma história de cobertura que Hayley e eu
tínhamos inventado ontem, mas Colin e eu sempre contávamos a verdade um
para o outro. Não podia começar a mentir para ele agora. Olhei ao nosso redor
mais uma vez antes de começar e sim, ninguém estava prestando atenção em
nós.

— Na verdade, nós não estamos namorando. — Comecei. — Estamos apenas


fingindo.

— Por que diabos você faria isso?

Um suspiro escapou de mim.

— Ela queria convidar Owen para o baile, mas eu sabia que ele não iria com
ela. Eu disse a ela que, se fingíssemos estar namorando, ela poderia ter uma
chance. Owen sempre quis tudo que eu tinha, uma namorada não deveria ser
diferente.

— Sim, porque seu irmão é um idiota.

— Basicamente.

— Por que você sugeriria isso a ela?

102
Levantei uma sobrancelha.

— Certo. — Ele respondeu. — Porque é a Hayley e você cortaria um membro


se ela pedisse.

— Eu não cortaria um membro.

— Sim, cortaria.

Colin ficou em silêncio por vários momentos antes de finalmente suspirar.

— Estou tentando encontrar um motivo para apoiar você nisso, juro que estou,
mas não vejo isso terminando bem. Você enlouqueceu se acha que essa é uma
boa ideia.

— Eu não enlouqueci.

— É loucura fingir namorar a garota por quem você está secretamente


apaixonado há anos só para que ela possa se aproximar de Owen, é receita
para um coração partido. Isso vai te destruir quando ele finalmente notá-la e
ela te largar por ele.

— Bem, ela não pode me largar, porque nós não estamos realmente
namorando.

— Questão de semântica — ele resmungou.

— E ela não vai me largar por ele, porque assim que ela passar um tempo de
verdade comigo, ela vai ver que somos perfeitos um para o outro.

— Owen já namorou qualquer garota que ele quis, e essa garota já o quer.
Você não tem chance de fazer isso funcionar — Colin disse balançando a
cabeça, aparentemente ele não compartilhava do meu otimismo.

Cruzei os braços sobre o peito e tentei não franzir o cenho para o meu amigo.
Eu sabia que Colin estava apenas cuidando de mim, e ele mencionou alguns
pontos bem válidos. Mas eu sentia que essa poderia ser minha única chance
de ficar com a Hayley.

103
— Eu sei que as chances de um final feliz são pequenas, mas acho que vale a
pena o arriscar.

Colin balançou a cabeça novamente. Parecia que não havia nada que eu
pudesse dizer para convencê-lo de que isso era uma boa ideia.

— E Isla, o que ela acha? — Ele perguntou.

— Isla não acha nada, porque ainda não contei para ela.

— Por que não?

— Bem, a julgar pela sua reação, não consigo imaginar que a notícia vá ser
bem recebida — e eu não precisava que os dois dos meus amigos mais próximos
se unissem contra mim.

— Você está certo nisso. — Ele concordou — Então, você planeja manter isso
em segredo dela?

— Por enquanto, sim. Quanto menos pessoas souberem a verdade, melhor —


dei de ombros.

— Bem, espero que esteja certo sobre isso, porque ela está vindo na nossa
direção.

Colin mal tinha terminado de falar quando Isla se lançou sobre mim, agarrou
meu braço e começou a pular para cima e para baixo.

— Por favor, me diga que os rumores são verdadeiros — ela disse.


Colin me lançou um olhar significativo, mas o ignorei enquanto me
concentrava em Isla.

— Que rumores?

— Aqueles de que você está namorando Hayley Lawson, também conhecida


como o amor da sua vida! — Ela estava cheia de empolgação por mim e senti
uma pontada de culpa se levantar no meu peito.

— Como você já ficou sabendo disso?

104
— Então é verdade? — Ela bateu no meu braço. — Por que não sou a primeira
a ouvir essa notícia?

— Ai! — Reclamei esfregando o ponto dolorido onde a mão dela tinha me


atingido. Para alguém tão pequena, ela sabia muito bem como dar um soco.

— Não tenho pena de você, você mereceu isso. — Disse ela revirando os olhos,
mas logo voltou a ficar entusiasmada. — Não consigo acreditar que isso está
acontecendo, hoje pode ser o melhor dia da minha vida.

— Você está namorando a Hayley ou sou eu? — Eu disse abanando a cabeça


para ela.

— É claro que é você, só que é como algo saído de um conto de fadas e você
sabe o quanto gosto de finais felizes.

— Não vá se empolgando demais com o final feliz — disse Colin.

— Onde está o seu otimismo, O'Leary? Você está arruinando a vibe agora com
tanta negatividade — ela disse e lançou um olhar de desagrado a ele.

Minha empolgação estava longe de ser tão grande quanto a de Isla, mas dei a
Colin um olhar significativo.

— É isso aí, cara. Não estrague a nossa vibe.

— Desculpa, desculpa. Fico realmente feliz por você, Ethan — disse ele rindo
e passando a mão pelos cabelos.

— Ótimo — Isla assentiu com aprovação antes de voltar para mim — Então,
me conta tudo. Quando isso aconteceu?

— No sábado, depois do treino — respondi. Isla me conhecia muito bem e logo


perceberia que eu estava mentindo se não conseguisse tornar isso
convincente. Respirei fundo antes de continuar. — Hayley chegou em casa na
mesma hora que eu, e eu vi uma oportunidade de conversar com ela. —
Respirei novamente. Droga, isso estava difícil. — Acho que toda sua motivação
para que eu tomasse uma atitude deve ter me influenciado, porque, antes que

105
eu percebesse, estava a convidando para sair. Eu nunca acreditei que ela
realmente aceitaria.

A história não era tão diferente do que tinha acontecido, tirando meu irmão e
toda a coisa de relacionamento falso. Hayley foi inteligente em sugerir que
mantivéssemos a história o mais próxima possível da verdade. Não teria
conseguido mentir de forma convincente para a Isla de outra forma.

Os olhos de Isla se encheram de admiração, então imaginei que ela tinha


acreditado.

— Quer dizer, isso é exatamente o que venho te dizendo para fazer o tempo
todo — ela disse. — Só não acredito que você finalmente fez. Como você não
nos contou o que tinha planejado antecipadamente?

— Foi tudo bem espontâneo — respondi. — O momento parecia certo, então


eu fui em frente.

— Que romântico. — Ela disse colocando a mão no peito.

— Sim, foi. — Sorri fraco para ela e assenti. Achei melhor encerrar a conversa
o mais rápido possível antes que ela quisesse mais detalhes. — Podemos falar
mais sobre isso depois, mas acho melhor irmos para a aula antes que a gente
se atrase. — Comecei a caminhar antes que Isla pudesse protestar. Realmente,
eu não era um mentiroso muito confiante e experiente, mas parecia que tinha
passado por essa sem arranhões.

***

Tinha concordado em almoçar com Hayley na cafeteria, mas no caminho para


encontrá-la, comecei a me arrepender da decisão. Normalmente, ficava do lado
de fora durante o almoço e preferia evitar a cafeteria, porque o lugar era como
uma selva e não estava diferente hoje. Quando entrei no salão, avistei
imediatamente meu irmão e senti vontade de vomitar. Era o primeiro dia dele
de volta à Lincoln e ele já tinha se acomodado na mesa popular, como se fosse
sua casa. Ele parecia a personificação da confiança enquanto estava cercado
por algumas das garotas mais bonitas da escola. Todas estavam penduradas
em cada palavra sua e ele descrevia animadamente alguma jogada dramática
de futebol americano para elas.

106
O encontro do meu irmão com Laurie deve ter corrido bem, pois ela estava
agarrada a um dos braços dele e parecia completamente encantada por ele.
Eu não tinha ideia de como ele fazia isso. Como ele poderia ter se encaixado
tão rapidamente e facilmente na escola depois de ter estado ausente por anos?
Ele podia ser um idiota, mas certamente sabia como atrair as pessoas.

— Ethan, aqui! — Hayley chamou.

Virei e encontrei Hayley sentada em uma mesa, acenando para mim. Ela tinha
guardado um lugar ao seu lado e sorria enquanto fazia gestos entusiasmados
para me aproximar. Ela estava sentada com Madi e Evan. Lembrei que a amiga
deles, Teagan, geralmente sentava com eles também, mas ela conseguiu um
pequeno papel em um filme e estava filmando em Hollywood. Ela também
estava namorando a estrela do filme, Liam Black, e durante semanas, era tudo
de que as pessoas conseguiam falar. As pessoas na nossa escola realmente
adoram fofocas.

Me sentei na cadeira ao lado de Hayley e lhe dei um sorriso nervoso. Eu tendia


a evitar situações em que ficava preso falando com pessoas que não conhecia
muito bem e agora estava lembrando exatamente o porquê. Não tinha ideia do
que dizer para Madi ou Evan. Nunca tinha trocado uma palavra com Evan
antes, mas me sentei ao lado de Madi em biologia no ano passado. Ela era
bem simpática na época, mas eu não poderia perguntar como ela tinha ido no
exame de biologia do ano passado. Meu coração estava acelerado, e por um
momento, desejei ser mais parecido com meu irmão. Owen já teria Hayley e
suas amigas comendo na palma da mão dele. Por que eu tinha que ser tão
desajeitado?

— Ethan — cumprimentou Evan com um sorriso largo. — Legal você se juntar


a nós no circo hoje.

— Circo? — Sim, meu coração estava acelerado, mas então ele fez um gesto
para a cafeteria e eu finalmente entendi. Esse lugar era muito parecido com o
zoológico. — Circo, certo. Sim, uma das macacas insistiu para que eu me
sentasse com ela. — Olhei para Hayley com o canto do olho e lhe dei um
pequeno sorriso, enquanto Madi e Evan riam.

107
— Ei, eu não sou uma macaca — ela respondeu, lançando um olhar irritado
para seus dois amigos. — Se eu fosse um animal de circo, seria um leão ou
algo legal.

— Você é meio feroz — Evan provocou.

— E você passa muito tempo se cuidando — Madi acrescentou.

— Eu realmente não sei por que aguento vocês — Hayley disse fazendo gesto
de negação com a cabeça para os dois.

— Porque você nos ama — respondeu Evan. — Agora, vocês dois precisam nos
contar quando começaram a namorar? — seus olhos pareciam se estreitar na
grande distância entre mim e Hayley enquanto fazia a pergunta, e eu sabia
que precisávamos melhorar nossa atuação se quiséssemos que as pessoas
acreditassem na nossa mentira.

Passei um braço sobre o ombro de Hayley, agindo muito mais corajoso do que
me sentia. Sua pele estava quente ao toque, e meu estômago se agitou quando
nos conectamos. Dar as mãos esta manhã não tinha sido tão íntimo quanto
isso. Estávamos bem mais próximos do que nunca, mas eu queria estar ainda
mais próximo.

Um toque de surpresa surgiu nos olhos de Hayley com o contato, mas ela não
afastou meu braço, em poucos instantes, começou a se acomodar contra mim.
Foi muito mais natural do que eu esperava, parecia que ela pertencia ali.

— No fim de semana — respondeu Hayley, enviando um sorriso caloroso na


minha direção. — Nós somos vizinhos há séculos, então acho que dá para
dizer que estava acontecendo faz um tempo.

Certamente, nada estava acontecendo do lado de Hayley, mas você não teria
percebido pela maneira como ela estava olhando para mim. Ela sempre
conseguia papéis menores em nossas peças escolares, mas agora, estava
dando uma atuação bastante convincente. Havia adoração total em seus
olhos, e uma parte de mim teve que pensar se era porque ela estava
imaginando meu irmão ao lado dela. Imediatamente, me senti enjoado.

108
— Sim, isso já estava acontecendo há muito tempo — dei a Evan um sorriso
forçado. Eu não era nem de longe tão convincente quanto Hayley, mas Evan
parecia estar comprando a ideia.

— Bem, vocês dois realmente formam um casal fofo — ele disse.

Aparentemente, ele estava convencido. Madi ficou bem quieta durante toda a
conversa, imagino que fosse porque ela sabia a verdade. Não conseguia pensar
na Hayley escondendo nosso acordo de sua melhor amiga.

— Uh, obrigado? — respondi.

Hayley deve ter notado o quanto eu estava desconfortável respondendo a


perguntas sobre nosso relacionamento falso, porque ela rapidamente mudou
o rumo da conversa.

— Mas chega de falar sobre nós — disse ela. — Vocês nunca vão adivinhar o
que a orientadora sugeriu para minha futura carreira.

— Designer de moda? — Madi respondeu imediatamente.

— Eu gostaria — Hayley disse e negou com a cabeça.

— Física quântica — Evan arriscou.

— É como se não fôssemos amigos — Hayley revirou os olhos para ele e se


voltou para mim. — Ethan, algum palpite?

— Guia turístico na Austrália? — Ironizei.

Ela me olhou por vários segundos antes de começar a rir.

— Guia turístico na Austrália? — Ela perguntou, ainda rindo.

— Bem, você deu a entender que era um trabalho que nunca adivinhariam.
Então, fui com algo improvável…

109
— Aquele foi um palpite ótimo, então — ela disse. — Mas não. Ela disse que
meus resultados de teste indicam que sou perfeitamente adequada como
instrutora de direção.

Madi e Evan explodiram em risadas.

— Você está falando sério? — Madi perguntou entre risos.

— Super sério — respondeu Hayley, ganhando outra rodada de risadas de


seus amigos. — Eu disse a vocês que essas coisas não eram precisas.

— Esse realmente é o pior trabalho possível para você — disse Madi.

— Você é tão ruim assim em dirigir? — Perguntei.

— Sim! — Veio a resposta ressonante de todos na mesa, incluindo Hayley.

— Então, acho que é melhor eu continuar dirigindo para nos trazer para a
escola — disse rindo.

— Acho que é mesmo — concordou Hayley, retribuindo meu sorriso. Ela


parecia realmente satisfeita com a ideia.

— Então, Ethan, seu irmão está de volta à Lincoln — disse Evan. Owen era a
última pessoa de quem eu queria falar, e eu realmente gostaria que
pudéssemos voltar a rir sobre a habilidade ruim de direção de Hayley. No
entanto, não conseguia ver uma forma de evitar o assunto.

— Sim, ele voltou — eu disse, contendo o suspiro que parecia natural sempre
que eu precisava falar sobre meu irmão. Olhei na direção de Owen e vi que ele
estava atualmente de pé na cadeira, fazendo um som de buzina através das
mãos, como se estivesse soprando um chifre no ar, nem queria começar a
adivinhar o por quê. Ele era tão exibido, então não era surpresa vê-lo fazendo
de tudo para chamar atenção.

Enquanto me virava de volta para os outros, notei que Hayley também estava
olhando para Owen. Pensei que ela tivesse me olhado com adoração antes,
mas isso não era nada comparado ao que vi em seus olhos agora. Havia um
anseio neles que era impossível de ignorar e devastador de ver. Queria

110
competir com meu irmão pela afeição de Hayley, mas vê-la olhando para ele
assim me fez sentir como se eu já tivesse perdido.

Ela piscou quando focou na nossa mesa novamente e o olhar em seus olhos
desapareceu rapidamente. Era como se nunca tivesse estado lá, mas eu sabia
que seria difícil esquecer isso.

— Então, por que ele está de volta à Lincoln? — Perguntou Evan, inclinando-
se sobre a mesa. Claramente, ele mal podia esperar para ouvir todos os
detalhes, e ele não era o único. Madi e Hayley também pareciam intrigadas.

— Ele perdeu a bolsa de estudos — eu disse com um encolher de ombros. Não


era exatamente um segredo, e qualquer pessoa com um mínimo de inteligência
poderia deduzir isso.

— O que ele fez? — Os olhos de Evan se arregalaram, como se estivesse


chocado ao ouvir a notícia.

— Algo estúpido — respondi. Recusei-me a entrar em detalhes, não era fã do


meu irmão, mas também não ia espalhar rumores maldosos sobre ele.

— Deve ter sido bem grave para ele perder a bolsa de estudos… — Madi franzia
a testa enquanto me olhava.

— Não foi algo bom, mas prefiro não falar sobre isso — novamente, dei de
ombros.

Madi assentiu, e imediatamente, o assunto foi encerrado. O fato de eles terem


sido tão rápidos em respeitar meu desejo de não falar sobre Owen, me fez
gostar dos amigos de Hayley. Muitas pessoas nesta escola não teriam cedido
tão facilmente.

Eles começaram a falar sobre algum trabalho que tinham para a aula de
teatro, e minha atenção se desviou do grupo. Acabei me pegando olhando para
meu irmão novamente e fiquei surpreso ao vê-lo olhando de volta para a nossa
mesa.

Especificamente, ele parecia concentrado em como meu braço estava sobre os


ombros de Hayley. Ele desviou o olhar assim que o vi e quase questionei se ele

111
estava nos observando de fato, meu estômago se apertou de preocupação, no
entanto. Hayley e eu só estávamos fingindo namorar por um dia. Será que ela
já tinha despertado o interesse de Owen? Só esperava que eu tivesse
interpretado o olhar errado, porque eu não estava pronto para desistir de
Hayley. Ainda não. Nunca!

112
09 - Hayley

— Então, acho que o primeiro dia da operação “namoro falso” foi bem — eu
disse, enquanto Ethan me levava para casa. Tínhamos dado as mãos entre
algumas das nossas aulas e almoçado juntos sem problemas. Se todo o esforço
para fingir estar namorando alguém fosse assim, eu diria que estávamos em
um caminho bastante tranquilo.

— Foi um bom começo — ele concordou. — Seus amigos são legais.

— Sim, eles são os melhores. — Sorri amplamente para ele. Eu estava


preocupada que fosse ficar estranho ter Ethan sentado conosco no almoço,
mas Madi e Evan o tinham aceitado imediatamente. Na verdade, eles
provavelmente tinham gostado dele um pouco demais, o que poderia causar
problemas quando eu finalmente fizesse a troca dos irmãos Beck, desde que
o plano funcionasse, é claro.

— Você acha que seu irmão nos notou? — Perguntei. Eu estava morrendo de
vontade de mencionar isso a Ethan o dia todo, mas não queria parecer muito
ansiosa.

Ele hesitou e me lançou um olhar de canto de olho enquanto dirigia.

— Não tenho certeza se o nosso relacionamento está realmente no radar dele


ainda — disse me olhando de canto de olho, com a voz suave e hesitante, como
se estivesse preocupado em me dar a notícia.

Meus ombros caíram um pouco, mas tentei não ficar desanimada. Só


estávamos nisso há um dia e ainda tínhamos muito tempo para fazer dar
certo.

— Mas não se preocupe. É só o primeiro dia dele de volta à Lincoln High.


Tenho certeza de que assim que ele se estabelecer, ele vai se interessar mais
— continuou Ethan, como se pudesse perceber minha preocupação.

Concordei lentamente, sabendo que Ethan provavelmente estava certo. Se ele


não estava preocupado, então eu também não deveria estar. Eu só precisava

113
ser paciente, mas isso era difícil quando tantas garotas tinham se jogado em
cima de Owen hoje. Todas elas estavam em cima dele no almoço e Laurie, em
particular, estava chamando a atenção dele. Enquanto Ethan parecia pensar
que tínhamos bastante tempo, eu temia que uma daquelas garotas
conquistasse o coração de Owen antes que eu tivesse uma chance.

— Então, a orientadora realmente sugeriu para você se tornar uma instrutora


de direção? — Ethan perguntou.

— Sim! — Eu estava quase aliviada em falar sobre algo que não fosse Owen.
A ideia de vê-lo com todas aquelas outras garotas no almoço estava me
deixando ansiosa, e eu precisava de uma distração. — Eu simplesmente não
consigo acreditar que seja verdade. Acho que ela pode estar me zoando.

— Você acha?

— Ou talvez, meu teste tenha sido trocado de alguma forma.

— Essa, provavelmente, é uma razão mais provável do que a professora te


zoando.

— Provavelmente — concordei. — Embora eu jure que ela tinha um brilho


maligno nos olhos quando estava me falando sobre minha brilhante carreira
na indústria de instrutores.

— Como exatamente é um brilho maligno? — Ethan parecia estar lutando


para não sorrir.

— Como se eu tivesse vislumbrado a alma dela e tudo o que estava lá era


escuridão.

— Uau. Você conseguiu tudo isso em um olhar?

— O que posso dizer? Sou perceptiva assim.

Ethan ficou em silêncio por vários segundos antes de soltar uma risada baixa.
— Acho que nada passa despercebido por você, então.

— Não mesmo. Sou praticamente onisciente.

114
— Vou tentar lembrar disso — ele sorriu.

Olhei pela janela e fiquei surpresa ao ver que já estávamos entrando na


garagem de Ethan. O fato de eu ter sido pega de surpresa provavelmente
significava que eu teria que trabalhar nessa coisa de ser onisciente. A viagem
tinha passado tão rápido. Conversar com Ethan tinha sido tão fácil que eu
tinha perdido completamente a noção do tempo.

— Obrigada por me trazer em casa — eu disse. — Não consigo nem começar


a te dizer o quanto eu aprecio isso.

— Não tem problema — ele respondeu. — Sua casa até fica meio no caminho
da minha.

— É verdade — eu ri.

Minha mão alcançou a maçaneta da porta, mas me contive de abri-la quando


olhei em direção à minha casa e vi Kitty parada na frente. Ela estava
praticando uma coreografia com uma de suas amigas chatas, e eu realmente
não estava no clima para uma confrontação.

Ethan seguiu meu olhar e sorriu ao me ver franzindo a testa.

— Você e sua irmã realmente não se dão bem, né?

— Ela não está fácil de se conviver nos últimos tempos. Tudo o que ela
consegue pensar é em ser popular e isso não traz exatamente o melhor dela à
tona — suspirei e balancei a cabeça.

— Isso vindo de uma líder de torcida como você — ele respondeu. — Uma que
também é popular…

— Ei, eu torço porque gosto — respondi. — E eu não sou realmente popular.


Madi é a que todos amam.

— Se você não acha que é popular, então não tenho certeza se você se enxerga
claramente. — Um olhar de surpresa passou pelo rosto de Ethan.

115
— Sou um pouco briguenta demais para a maioria das pessoas — dei de
ombros.

— A maioria das pessoas é maluca.

— Verdade — eu concordei sorrindo.

Olhei na direção da minha casa novamente. Na verdade, estava impressionada


com alguns dos movimentos que minha irmã estava fazendo enquanto
dançava. Ela tinha melhorado muito desde a última vez que a vi fazer uma
coreografia. Eu adoraria elogiar a forma dela, mas sabia que não tinha sentido.
Ela provavelmente jogaria as palavras de volta na minha cara.

— Então, vamos sair ou ficar aqui franzindo a testa para uma garota de treze
anos pelo resto da noite? — Perguntou Ethan.

— Vamos sair. Eu odiaria dar essa satisfação a ela — ri e abri a porta do carro.

Ele sorriu em resposta antes de sair do carro.

— Então, você precisa de carona novamente de manhã?

Mordi o lábio e olhei para a minha triste garagem vazia. Meu carro ainda devia
estar em reparo.

— Parece que sim — eu disse, virando de volta para Ethan. — Não se importa,
né?

— Claro que não, afinal você é minha namorada — piscou para mim antes de
se virar para a casa dele. — Te vejo de manhã, amor — ele me chamou por
cima do ombro.

— Sim, te vejo então, querido — revirei os olhos e tentei não rir.

Ele me lançou um sorriso antes de dar um pequeno aceno de despedida. Me


virei para a minha casa e soltei um suspiro. Minha irmã já estava me
encarando do outro lado do gramado e sua amiga me lançava um olhar de
desgosto igual. Ethan não tinha ideia da sorte que tinha por ter um irmão.

116
***

Ethan me levou para a escola pelo resto da semana. Ele nem sempre podia
me dar carona para casa, pois eu precisava ficar até mais tarde nos ensaios
de líder de torcida algumas noites, e comecei a temer quando minha mãe
passaria para me pegar com minha irmã maldita no banco do carona.

Ainda não havia notícias sobre quando meu carro seria consertado. A peça
que o mecânico precisava estava demorando mais do que o esperado, e
realmente parecia que meu carro estava indo embora para sempre. Já estava
começando a esquecer o cheiro dele. Quanto tempo seria até que eu esquecesse
como ele parecia também?

— Claro que você vai recuperar o carro — disse Madi, enquanto saímos juntas
da aula. Eu estava me preocupando com meu carro pela enésima vez, mas já
era sexta-feira e estava claro que eu não ia dirigir novamente naquela semana.

— Minha mãe me disse que me mandaria uma mensagem assim que tivesse
boas notícias do mecânico — respondi. — Ela ia ligar para ele esta manhã,
mas como não há mensagem, estou supondo que isso significa que não há
boas notícias.

— Bem, pelo menos nem tudo é ruim. Você resolveu o problema de ter que vir
para a escola com sua irmã. — Madi me deu um sorriso tranquilizador.

— Sim, o Ethan tem sido um anjo da guarda esta semana — concordei. — Não
sei o que teria feito sem ele.

Meu estômago deu uma reviravolta estranha com as palavras, e o nível de


gratidão que eu sentia por ele me surpreendeu. Antes desta semana, Ethan
era como um estranho para mim, mas nossas idas de carro sempre foram
divertidas, e eu estava começando a esperar por elas. Ele era fácil de se
conviver durante o almoço, e dar as mãos entre as aulas estava se tornando
cada vez mais natural.

— Ele está fazendo um esforço considerável para te ajudar — disse Madi.

— Sim, ele é realmente fofo. Mas me sinto um pouco mal por estar
atrapalhando tanto a vida dele. Ele tem deixado os amigos dele de lado a

117
semana toda para ficar no refeitório comigo, então eu disse a ele que iríamos
almoçar com eles hoje.

— E vocês têm o primeiro encontro esta noite, certo? — Madi perguntou


enquanto reorganizava os livros em seus braços e eu assenti em resposta.

— Não faço ideia do que vamos fazer. Tudo o que sei é que preciso usar roupas
confortáveis e que ele arrumou algo que o irmão dele notaria, seja lá o que
isso signifique — eu disse.

Eu estava completamente sem pistas sobre o encontro, mas descobri que


estava realmente ansiosa por isso. Nosso relacionamento podia ser fingido,
mas passar tempo com o Ethan era real, e eu gostava disso muito mais do que
provavelmente deveria.

— Ainda não gosto disso — ela disse franzindo a testa. — Você tem certeza
mesmo de que quer fazer todo esse esforço só para ir ao baile com Owen?

— O que você quer dizer? Claro que tenho certeza. — Parei no meu caminho
para olhá-la.

— É só que ele parece tão diferente do que eu me lembro — disse ela mordendo
os lábios enquanto ajeitava uma mecha de cabelo solto atrás da orelha.

— Sim, ele ficou ainda mais bonito…

— Eu não estou falando de aparência — ela respondeu. — Não sei. Ele sempre
foi muito confiante, mas parece que isso se intensificou ou algo assim… —
Madi estava olhando profundamente nos meus olhos, como se estivesse
procurando algum tipo de concordância. Quando ela não encontrou, franziu
levemente a testa e continuou. — E ele costumava ser tão engraçado, mas está
tão sério agora. Acho que sinto que ele mudou muito e talvez ele não seja mais
o mesmo cara por quem você se apaixonou.

Parei enquanto considerava o que ela tinha dito. Owen não tinha parecido
excessivamente sério quando falei com ele no sábado. Por outro lado, não
tinha sido exatamente uma conversa adequada e Ethan tinha nos
interrompido antes que pudéssemos realmente conversar. Confiaria mais na

118
opinião da Madi do que na de qualquer pessoa, mas também sabia que Owen
nunca tinha sido alguém para se levar ao pé da letra.

Quando olhava para ele, ainda via o mesmo garoto assustado que tropeçou
nas palavras enquanto lia seu poema na aula. Ele tinha roubado meu coração
quando falou sobre como escondia sua bela alma atrás de grossas paredes.
Talvez essas paredes tivessem endurecido ao longo dos anos, mas isso não
significava que ele não fosse ainda o mesmo cara por baixo de tudo.

— Olha, ele provavelmente tem muitas coisas acontecendo agora com seu
retorno à escola. Talvez ele esteja agindo de forma diferente porque está
nervoso?

— Se você diz — Madi respondeu, embora sua testa não relaxasse. Eu


realmente gostaria que ela não fosse tão negativa em relação a tudo isso, mas
sempre esteve na natureza da Madi se preocupar. Normalmente, era uma
coisa boa, porque pelo menos uma pessoa na nossa pequena dupla tinha
algum senso, porém, eu precisava que ela se arriscasse comigo agora.

— Melhor eu ir encontrar o Ethan. Ele disse que estaria me esperando perto


do meu armário — eu disse e Madi assentiu e forçou um sorriso.

— Divirta-se. Vejo você mais tarde — ela disse antes de desaparecer pelo
corredor.

Eu não conseguia tirar a preocupação da Madi da minha cabeça enquanto ia


encontrar o Ethan. Ela tinha instintos bastante bons sobre essas coisas, e eu
não queria ignorar completamente o que ela tinha dito, mas sentia que ela
estava errada sobre Owen. Ele ainda era o mesmo cara vulnerável que havia
escrito aquele poema e revelado sua alma ou não era?

119
10 - Ethan

— Você não pode me dar nenhuma pista sobre onde vai me levar no nosso
encontro falso esta noite? — Hayley perguntou.

Sorri e balancei a cabeça.

— Não e antes que você me pergunte, não, não é um bar de baixa categoria.

— Você promete que não é um bar de baixa categoria? — Hayley inclinou a


cabeça, os olhos estreitando enquanto avaliava minha resposta.

— Acho que nem existem bares de baixa categoria em Lincoln. Tenho quase
certeza de que você está segura. — Eu ri.

— Ótimo. Agora, sobre a questão mais urgente; onde na Terra nós vamos
almoçar?

Nós nos encontramos perto do armário dela, mas eu a levei para fora e
estávamos a caminho de onde eu costumava almoçar com meus amigos.
Quando avistei eles, parei e apontei para Colin e Isla, que estavam sentados
lá em cima nas arquibancadas.

— Vocês almoçam nas arquibancadas? — Hayley perguntou, a testa franzindo


de confusão. — Quer dizer, eu sei que nunca vejo vocês na cafeteria. Mas eu
não imaginava que vocês estariam aqui fora.

— Você tem uma alternativa melhor? — Sorri com o quanto o conceito parecia
confundi-la.

— Bem, não — ela respondeu. — Mas por que não almoçar lá dentro como
todo mundo?

— Porque eu gosto do ar fresco. Vamos lá — comecei a conduzi-la pelas


escadas em direção a Colin e Isla. Hayley não me fez mais perguntas sobre o
nosso arranjo de almoço, então supus que ela estava de boa com isso.

120
Comer ao ar livre não era apenas sobre o ar fresco para mim. Era mais do que
isso. Eu gostava da liberdade que vinha de sentar perto do campo de futebol,
e detestava ficar enclausurado em ambientes fechados. A cafeteria sempre
parecia forçada e barulhenta, havia muitas pessoas, e eu achava aquilo
avassalador. O topo das arquibancadas era o meu pequeno oásis longe de todo
o caos. Parei quando alcancei meus amigos e sorri para Hayley.

— Hayley, você conhece Colin e Isla — eu disse, apresentando-os.

— É claro — Hayley me empurrou e sorriu antes de sentar ao lado deles. — É


como se ele tivesse esquecido que estudamos juntos há séculos — ela disse
para Isla, que riu.

— Ele pode ser um pouco lerdo às vezes — Isla concordou. Ela estava tentando
manter a compostura, mas eu pude ver que ela estava praticamente
explodindo de excitação. Finalmente ver eu e Hayley juntos parecia um sonho
realizado para ela.

— Com certeza — Hayley disse e se virou para dar um sorriso para Colin. —
E aí, Colin?

Ele emitiu um som que parecia uma mistura entre um pequeno gemido com
um suave engasgo em resposta e suas bochechas ficaram vermelhas
brilhantes. Essa não era a primeira vez que eu o via ficar atrapalhado ao falar
com uma garota. Seria fácil brincar sobre isso com ele, mas eu sabia o quanto
isso o envergonha. No entanto, Hayley mal parecia notar que Colin estava
agindo de forma estranha e continuava a conversar.

— Eu vi aquelas fotos que você tirou para o último jornal da escola. Elas
estavam incríveis.

O rosto dele de alguma forma conseguiu ficar ainda mais vermelho.

— Você deveria ver o Instagram dele — Isla disse. — Esse garoto tem um
talento nato.

Hayley tirou o telefone da bolsa e pediu o nome de usuário de Colin. Isla


respondeu por ele, porque parecia que Colin ainda estava lutando para
encontrar a voz. Os olhos de Hayley se arregalaram quando a conta dele

121
apareceu na tela. Ela passou vários momentos olhando suas fotos antes de se
virar para ele.

— Isso é incrível. Você sabe disso, né?

Meu coração se aqueceu com o elogio dela. Colin adorava tocar na banda, mas
também era incrivelmente apaixonado por fotografia. Seu Instagram era
principalmente uma galeria de suas imagens. Todas eram incríveis, mas,
particularmente, havia uma série de fotos de partes da cidade que foram
danificadas nos incêndios florestais do ano passado que eram
impressionantes. Elas sempre tiravam meu fôlego quando eu as olhava.

— Valeu — Colin finalmente conseguiu responder.

Hayley continuou olhando as fotos, e eu pude ver que ela estava curtindo e
comentando com muitos emojis. Isso era uma das coisas que eu realmente
adorava na Hayley, ela sempre arranjava tempo para ouvir as pessoas e se
interessar pelo que estavam fazendo ou falando.

Hayley só se afastou do telefone quando Isla viu seus sapatos e exigiu saber
onde ela os comprou, a fazendo sorrir enquanto começava a explicar. Era
estranho ver Isla se dando tão bem com Hayley. Eu mal conseguia
acompanhar enquanto elas conversavam detalhadamente sobre sapatos e
depois roupas, eu estava com ciúmes de como Hayley parecia rapidamente à
vontade entre meus amigos. Mas era assim que ela era, não ficava
sobrecarregada ou nervosa perto de pessoas novas, como eu ficava.

— Você vai sentar? — Me perguntou Colin parecendo estar mais relaxado


agora que Hayley não estava focada inteiramente nele. Sua voz estava firme,
mas havia um toque de diversão em seus olhos.

Agora, era eu quem começava a ficar vermelho. Eu estava tão absorto em


assistir Hayley conversar com meus amigos que tinha ficado parado sobre eles
como um idiota nos últimos minutos. Eu rapidamente me sentei no banco de
frente para Colin.

— É bom tê-lo de volta com a gente — ele continuou. — Não tenho certeza se
aguentaria outro almoço ouvindo Isla falar sobre Dex.

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— Ela passa todos os almoços elogiando ele — eu ri.

— Sim, mas geralmente tenho uma barreira. — Ele me lançou um olhar


crítico, mas eu sabia que ele estava apenas brincando.

Colin era quase tão próximo de Isla quanto era de mim e não era como se ele
nunca tivesse passado algum tempo sozinho com ela. Voltei a minha atenção
para as garotas e percebi que o assunto da conversa tinha mudado para
penteados.

— Minha mãe me mataria se eu tentasse tingir o meu — Hayley estava


dizendo, enquanto observava as pontas azuis do cabelo escuro de Isla com
inveja. — Mas o seu parece tão legal, queria poder experimentar.

— Bem, talvez você não possa tingir o cabelo, mas poderia colocar extensões
coloridas — Isla sugeriu.

— Isso funcionaria? — O rosto de Hayley se iluminou.

— Com certeza. Assim você pode se divertir um pouco com o cabelo e não terá
que se meter em encrenca.

— Você acha que poderia me ajudar com isso?

— Claro — Isla sorriu. — Você vai ao show do Ethan neste fim de semana? Eu
poderia ir à sua casa antes e te ajudar com o cabelo…

Hayley hesitou e me lançou um olhar incerto. Pareceria estranho se minha


namorada não quisesse ir à minha apresentação, mas eu também não tinha
certeza se seria algo que Hayley gostaria.

— Você gostaria de vir? — Eu perguntei a ela. Minha voz estava suave e um


pouco nervosa. — É sábado à noite. Eu sei que já temos um encontro
planejado para esta noite, mas não há regra contra dois encontros em um fim
de semana…

Um pequeno sorriso levantou os lábios de Hayley, e por um momento, pensei


ter vislumbrado um lampejo de animação em sua expressão. Porém, seus
olhos começaram a escurecer e me perguntei se era porque ela estava

123
lembrando que eu a estava convidando apenas como seu falso namorado. Eu
queria poder dizer a ela que eu estava falando sério e que queria fazer tudo
com ela.

— Isso parece ótimo — ela disse fazendo a Isla soltar um grito animado.

— Ok, vou até a sua casa no sábado à tarde com algumas extensões. Isso vai
ser tão divertido! — Ela bateu palmas e as duas mergulharam de volta na
discussão sobre cabelos.

Balancei a cabeça incrédulo. Era ótimo que Isla e Hayley se dessem tão bem,
mas parte de mim sentia que estava começando uma amizade para a qual o
mundo ainda não estava pronto. Eu estava nervoso quando o almoço
começou, mas comecei a relaxar quando ficou claro que Hayley estava se
encaixando bem com meus amigos. Na verdade, era quase como se ela
estivesse convivendo com eles há tanto tempo quanto eu. Mas parecia que eu
tinha relaxado cedo demais, porque a próxima pergunta de Isla para Hayley
fez meu coração disparar.

— Então, Ethan foi bem vago nos detalhes. Quero ouvir mais sobre como vocês
ficaram juntos… — disse ela.

Hayley me lançou um olhar, seus olhos cheios de incerteza sobre o que dizer.
Já tínhamos concordado que a ambiguidade era nossa melhor amiga, mas eu
esperava que ela conseguisse improvisar alguns detalhes extras sem
problemas. Dei um leve encolher de ombros, esperando que ela pudesse ver
que eu confiava nela para dizer o que quisesse. Hayley sorriu em resposta,
então imaginei que a mensagem foi entendida.

— Bem, eu não tenho certeza do que Ethan já te contou, mas começou no fim
de semana passado — ela disse, focando novamente em Isla.
— Eu tinha acabado de comprar meu vestido de baile e estava pensando em
com quem eu deveria ir. Parecia que o destino estava fazendo Ethan ficar no
gramado da frente da casa dele, quando eu cheguei em casa.

Eu sorri com sua menção ao destino. Eu tinha certeza de que Hayley sentiu
que minha presença naquele momento era o oposto do destino na época. Não
que você pudesse perceber agora. Ela contou a história com um grande sorriso
no rosto, como se realmente gostasse de relembrar o incidente que nos uniu.

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— Ele me viu lutando com a embalagem do meu vestido e veio me ajudar —
ela continuou. — Eu não conseguia acreditar que ele estava realmente falando
comigo. Quer dizer, eu o tinha notado através da cerca por anos. Acho que
Ethan também, porque ele me convidou para sair e eu não hesitei em dizer
sim.

Isla estava cativada enquanto Hayley falava, e estava radiante quando a


história terminou.

— Bem, já estava na hora de vocês finalmente ficarem juntos — ela disse.

Um tremor de pânico percorreu meu corpo com as palavras de Isla. Ela não
estava ciente de que a história de Hayley era inventada e ao insinuar que nosso
relacionamento era esperado há muito tempo, ela fez parecer que sabia que
eu estava interessado em Hayley há anos. Eu estava longe de estar pronto
para admitir a Hayley que a história para nosso relacionamento era
completamente verdadeira do meu lado.

Rezei para que Hayley não tivesse percebido o deslize, mas é claro que ela
começou a franzir a testa e então olhou na minha direção como se estivesse
procurando uma explicação. Não tinha a intenção de esclarecer sua confusão
e comecei a falar rapidamente antes que ela pudesse fazer qualquer pergunta.

— Isla, você ainda vai levar o Dex para o show no sábado à noite?

Isla não parecia ter notado o olhar questionador de Hayley e respondeu


alegremente. Meu corpo todo permaneceu tenso enquanto eu tentava desviar
a conversa o mais longe possível do meu segredo de amor não correspondido.
De alguma forma, consegui manter todos em outros tópicos e, uma vez que as
garotas começaram a falar sobre um novo programa na Netflix, o comentário
de Isla sobre mim parecia ter sido completamente esquecido.

O resto do nosso almoço correu sem incidentes e Hayley estava genuinamente


sorrindo quando se despediu de Colin e Isla, e nos separamos para irmos para
a aula.

— Isso foi divertido — Hayley disse assim que os dois desapareceram da vista.
— Colin é tão doce e eu estou oficialmente apaixonada pela Isla.

125
— Juro que você conseguiria fazer amizade com qualquer pessoa — eu disse
rindo.

— Não com qualquer pessoa, eu tenho padrões elevados — disse ela franzindo
a testa.

— Mesmo?

— Sim, só faço amizade com pessoas legais.

— Então, você está dizendo que Isla e Colin são legais?

— Com certeza — ela respondeu. — Isla tem uma energia tão positiva e o
melhor senso de estilo, e Colin é um fofo, é impossível não gostar dele.

Colin não tinha feito muito além de corar toda vez que Hayley lhe fazia uma
pergunta durante o almoço, mas eu estava apenas feliz de que ela gostasse
dos meus amigos.

— E eu? Eu sou legal? — Perguntei, me vi querendo saber a resposta para isso


mais do que qualquer outra coisa.

— Ainda não tenho certeza — ela disse enquanto inclinava a cabeça e me


olhava.

— Então, meus amigos são legais, mas eu não sou?

— Como eu disse, tenho padrões elevados — ela sorriu.

Revirei os olhos, mas não consegui evitar sorrir junto com ela. Antes que eu
percebesse, chegamos às portas que levavam de volta à escola. Nenhum de
nós fez menção de abri-las, e enquanto Hayley hesitava, ela ajeitou uma
mecha de cabelo que havia escapado atrás da orelha enquanto me olhava.

— Como está indo até agora o nosso relacionamento falso? — ela perguntou.

Engoli em seco e tentei pensar em como deveria responder. Seria estranho se


eu dissesse a ela que era a melhor coisa que já me aconteceu, certo?

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— Está indo bem? — Falei, soando completamente incerto, não conseguia
pensar em mais nada para dizer.

— Não, eu quis dizer como está indo com a garota de quem você gosta?

— Ah, ela. — Droga. — Não estou certo.

Queria dar um soco na minha garganta por ter contado a Hayley que
concordei com o relacionamento falso para chamar a atenção de outra garota.
Na época, não tinha ideia de qual motivo dar a ela e isso foi tudo o que
consegui pensar. Estava realmente me arrependendo disso agora.

— É mesmo? — Hayley franziu um pouco a testa. — Se você me dissesse


quem ela é, talvez eu pudesse ajudar você a descobrir se está funcionando.
Posso fazer um pouco de reconhecimento ou algo assim. Sou muito sutil.

— Tenho certeza de que você é — respondi com um sorriso. — Mas ainda não
estou pronto para dizer quem ela é. — Hayley assentiu, compreendendo. Tinha
um pressentimento ruim de que ela continuaria me perguntando sobre a
garota, então continuei rapidamente. — Quero dizer, definitivamente acho que
ela está começando a me notar. Provavelmente levará mais tempo antes que
ela perceba o quanto sou incrível.

— Incrível, huh? — Ela disse sorrindo.

— Sim, um verdadeiro achado.

— Bom, se você precisar que eu faça algo para ajudar a acelerar as coisas para
você, é só me avisar.

— Vou fazer isso — dei a ela um sorriso rápido antes de verificar a hora no
meu relógio.

— Caramba, daqui a cinco minutos tenho aula de Educação Física e ainda


preciso me trocar. Nos encontramos no carro depois da aula?

— Sim, nos vemos lá — disse Hayley.

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Me virei e corri para a sala de aula, um sentimento de inquietação revolvendo
em meu estômago. As perguntas de Hayley me pegaram de surpresa e, agora,
eu estava praticamente fugindo dela. Não gostava de mentir para ela sobre a
garota de quem gostava, mas não podia admitir a Hayley que ela era a garota
em questão.

Esperançosamente, chegaria um momento em que eu poderia ser totalmente


honesto com ela. Por enquanto, eu só tinha que seguir com meu plano atual
e continuar mostrando a Hayley o quão bem estávamos juntos - começando
com o nosso primeiro encontro hoje à noite.

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11 - Ethan

Eu estava um emaranhado de nervos quando a noite caiu. Hayley chegaria


em casa a qualquer momento para o nosso encontro e, a cada segundo que
passava, meu pulso acelerava mais. Eu realmente queria impressionar Hayley
esta noite, e esperava que o que eu tinha planejado desse certo.

— Por que está tão arrumado? — Owen resmungou ao entrar na cozinha. Eu


estava andando de um lado para o outro nos últimos dez minutos, enquanto
esperava Hayley aparecer e comecei a desejar que tivesse escolhido outro lugar
para fazer isso. Não queria conversar com Owen agora.

— Tenho um encontro — meu tom estava cortante e eu esperava que ele


percebesse que eu não queria falar mais sobre isso.

Nem estava tão arrumado assim. Eu apenas tinha colocado meu jeans bom e
uma camiseta melhor do que uma das camisetas velhas de banda que eu
sempre usava. Owen, ou era muito desatento para perceber que eu queria que
ele saísse ou simplesmente não se importava, porque ele se apoiou na bancada
da cozinha e zombou de mim.

— Com aquela garota, Hayley?

— Sim — eu praticamente rosnei.

— Bom, boa sorte — poderia ter parecido um sentimento amigável, mas eu


sabia que meu irmão não tinha terminado. — Provavelmente você vai precisar,
ela é boa demais para um nerd como você.

Meus nós dos dedos estalaram enquanto minhas mãos se cerravam em


punhos. Felizmente, a campainha tocou e eu tive uma desculpa para escapar
da cozinha e do meu irmão. Corri para atender e, quando abri a porta, o fôlego
escapou dos meus pulmões.

Hayley estava linda. Ela sempre estava, mas era o sorriso caloroso que
iluminava seus olhos quando me viu que fazia meu coração se elevar. Ela

129
parecia genuinamente feliz em me ver, uma expressão que eu nunca tinha
visto em seus olhos antes. Pelo menos, não em relação a mim.

— Oi — eu pigarreei para limpar minha garganta, de repente estreita.

— Oi, Ethan — ela soava tão relaxada em comparação a mim e havia um toque
de curiosidade em seus olhos. Obviamente, ela não estava surtando como eu.
— Então, eu vou descobrir qual é o nosso encontro super-secreto agora?

Eu ri e assenti.

— Me siga. — A peguei pela mão e a conduzi para dentro, rezando para não
estragar isso de alguma forma. Ela felizmente me deixou guiá-la pela casa,
mas parou quando entramos na sala de estar e encontramos Owen ali parado.

— Oi, Hayley — disse meu irmão, dando a ela um sorriso que parecia genuíno.

Ele tinha as mãos enfiadas nos bolsos do jeans como se estivesse um pouco
nervoso, e seu rosto tinha mudado completamente. Ele não parecia em nada
com o idiota egoísta que estava me interrogando na cozinha há apenas um
minuto. De alguma forma, ele tinha conseguido se mostrar como um cara
legal, normal e acessível. Não era a primeira vez que eu via essa atuação e
sabia que provavelmente não seria a última. Ele vinha enganando garotas há
anos com esse show e eu não conseguia imaginar que ele fosse abandoná-lo
agora, já que funcionava tão bem para ele.

— Oi, Owen. Como foi a sua primeira semana de volta à Lincoln? — As


bochechas de Hayley ficaram cor-de-rosa enquanto ela sorria de volta para
ele.

— Foi ótima. Todo mundo foi tão acolhedor, mas eu fiquei triste por não ter
nenhuma aula com você…

— Ficou? — Os olhos de Hayley se arregalaram ligeiramente.

— Claro que sim. Você sempre foi uma das minhas líderes de torcida favoritas.

A boca de Hayley tinha se entreaberto um pouco e eu podia ver que ela estava
sem palavras. Não perdi o brilho astuto nos olhos de Owen quando ele também

130
notou a reação dela, parecia que o plano de Hayley já estava funcionando
melhor do que o esperado. Eu precisava afastá-la dele antes que ela
percebesse isso e me dispensasse na hora. Isso seria exatamente o que Owen
queria e eu não podia deixar isso acontecer.

— Vamos, Hayley — eu disse, apertando levemente a mão dela. — Vamos.

Ela virou-se para mim, e seus olhos estavam um pouco perdidos. No entanto,
ela me deu um leve aceno com a cabeça e eu rapidamente a conduzi para
longe. Só quando saímos da sala é que ela pareceu recobrar os sentidos.

— O que você acha que aquilo significou? — para mim — Será que Owen está
começando a ficar com ciúmes?

— Possivelmente — eu disse, dando a ela um sorriso apertado. — Certamente


parece que estamos indo na direção certa.

— Você realmente acha? — seu rosto se iluminou de empolgação.

— Sim, acho — doeu admitir em voz alta.

— Uau — ela continuou. — Quero dizer, eu esperava que isso pudesse


funcionar, mas era difícil ter certeza. Você acha que eu deveria voltar lá e
conversar mais com ele? — Ela estava falando sem parar e era óbvio o quanto
ela estava empolgada, porém, eu balancei rapidamente a cabeça.

— Definitivamente não é uma boa ideia você voltar lá e falar com ele. Quando
se trata de Owen, você não pode parecer muito ansiosa, senão ele vai perder
o interesse.

— Verdade — ela murmurou. — Você acha… — Sua voz foi sumindo à medida
que eu a levava para fora e ela avistava o jardim. Ela soltou minha mão
enquanto avançava cambaleando.

— Ethan… — ela soltou um suspiro audível. — Isso é incrível.

Meu coração tinha parado com antecipação enquanto esperava pela reação
dela, e comecei a sorrir ao vê-la percorrer o encontro que eu tinha planejado.
Passei a tarde cobrindo o jardim com luzes de fadas, que estavam brilhando

131
suavemente nas árvores. Havia uma manta de piquenique montada no meio
da grama e, além dela, estava a tela do projetor que me levou mais de uma
hora para descobrir como montar. Eu estava tão nervoso que Hayley achasse
isso bobo, mas pelo olhar maravilhado em seu rosto, ela sentia exatamente o
oposto.

— Você realmente fez tudo isso? — Ela perguntou, finalmente se virando para
mim.

— Não é nada — dei de ombros.

— Isso definitivamente não é nada.

Ela pegou minha mão mais uma vez e me puxou em direção à manta de
piquenique. Estava cheia de almofadas e quase todos os petiscos de cinema
que eu podia pensar. Afinal, eu queria que o encontro fosse perfeito. Enquanto
Hayley se sentava na manta, ela ainda olhava ao redor do meu quintal
chocada.

— Parece com um conto de fadas — ela disse. — Você realmente não precisava
fazer todo esse esforço.

— Claro que sim — respondi. — Estamos tentando convencer Owen de que


estamos em um relacionamento real e, se eu tivesse a sorte de namorar uma
garota como você, esse seria exatamente o tipo de encontro que eu faria para
ela.

Hayley olhou para mim, e suas bochechas pareciam esquentar.

— A garota de quem você gosta é muito sortuda — ela disse. — E eu espero


que ela note você depois de tudo isso, porque se alguém merece uma garota
incrível, é você.

— Obrigado — murmurei.

Meu corpo inteiro parecia flutuar ao som de suas palavras, e eu me senti como
se estivesse flutuando. A certeza de que ela não percebia que era a garota
misteriosa era a única coisa que me mantinha firmemente conectado à Terra.

132
— Então, que filme vamos assistir? — Ela perguntou, pegando um pedaço de
pipoca e colocando na boca.

— Meninas Malvadas — respondi.

— Você está falando sério?

— Sim…

— Você sabe que esse é o meu filme favorito de todos os tempos, certo?

— É o que eu ouvi.

— A Madi te contou, não é? — Seus olhos se estreitaram, e ela me observou


como se estivesse tentando me entender.

— Não posso revelar minhas fontes.

— Com certeza foi ela — os olhos de Hayley brilharam de confiança, e um


sorriso brincou em seus lábios. — Não acredito que você pesquisou sobre mim
antes do nosso encontro.

Eu dei de ombros de brincadeira, embora não tenha admitido ou negado ter


perguntado a Madi sobre o filme. Ela provavelmente pensaria que eu era um
perseguidor se eu contasse a verdade. Mas eu não podia evitar que já soubesse
qual era o filme favorito de Hayley. Ela tinha feito um trabalho de inglês sobre
"Meninas Malvadas" no ano passado e deixou bem claro na época que achava
que era a maior obra-prima já feita.

— Vamos começar o filme? — Perguntei.

Ela acenou com entusiasmo e se acomodou nas almofadas enquanto eu ligava


a tela do projetor. Senti um fluxo de nervos passar por mim enquanto ia me
sentar. Eu queria me sentar perto de Hayley mais do que tudo, mas também
não queria deixá-la desconfortável. Eu poderia ter organizado o encontro
perfeito, mas era um desastre quando se tratava de ser o encontro perfeito.
Eu não tinha ideia de como agir com tranquilidade nesse tipo de situação.
Owen não teria problemas se estivesse na minha posição.

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— Você vai sentar? — Hayley perguntou, me observando hesitar.

— Sim, claro — respondi rapidamente. — Eu estava apenas pensando que


provavelmente deveríamos nos sentar bem perto. O quarto de Owen tem vista
para o quintal, então queremos que isso pareça íntimo…

Hayley olhou por cima do ombro em direção à casa. O quarto de Owen estava
no térreo e a luz estava acesa, ele não podia ser visto pela janela, mas não
ficaria surpreso se decidisse verificar o que estávamos fazendo aqui fora em
algum momento da noite. A maneira como ele estava olhando para Hayley
antes me deixou preocupado e, apesar de todo o esforço que fiz nesta noite,
meio que desejei ter organizado um encontro com Hayley longe de casa.

Hayley olhou de volta para mim e sorriu enquanto batia no chão ao lado dela.

— Você está certo. Boa ideia, Ethan.

Soltei o ar enquanto me abaixava no chão ao lado dela. Estava escuro e


romântico com as luzes de fadas pairando sobre nós, mas ficar tão perto de
Hayley me fez travar completamente. Mesmo quando o filme começou, eu não
conseguia relaxar.

— Você provavelmente poderia colocar o braço em volta dos meus ombros —


murmurou Hayley.

Ela olhou para cima e nos meus olhos, e as luzes da tela do projetor refletiram
na sua pele. Ela estava tão linda esta noite, era fácil entender por que eu
estava completamente sob o seu encanto. Engoli em seco e assenti antes de
envolver levemente meu braço ao redor dela.

Sua cabeça descansou suavemente no meu ombro e eu pude sentir o doce


aroma do perfume que ela estava usando. Mantive meus olhos fixos na tela,
mas, na verdade, não estava assistindo ao filme, porque todos os meus
sentidos estavam focados na garota sentada ao meu lado. Era uma espécie
doce de tortura ter o amor da sua vida tão incrivelmente perto, mas saber que
ela nunca poderia ser sua.

Pareceu que o filme acabou num piscar de olhos. Hayley riu e falou metade
das falas do filme, mas tinha se aquietado no final, e quando a olhei, percebi

134
que ela estava dormindo, seu rosto era tão suave enquanto ela descansava.
Durante o dia, estava cheio de fogo e paixão, mas quando ela dormia, tinha o
sorriso mais suave nos lábios e parecia completamente em paz.

— Hayley — sussurrei, dando um leve sacudir nos seus ombros.

— Hmm? — Ela esticou lentamente o corpo e abriu os olhos sonolentos. Ela


começou a sorrir suavemente quando me viu, mas momentos depois, parecia
que a realidade a alcançou e ela se ergueu abruptamente. — Eu não acabei
de dormir durante Meninas Malvadas!

— Parece que sim — eu disse sorrindo suavemente.

— Não, isso não aconteceu — ela apontou um dedo na minha direção. — E


você vai levar esse segredo para o túmulo.

— Juro pela minha honra — jurei, cruzando um dedo sobre meu peito e
deixando escapar mais algumas risadas.

— Por favor, me diz que eu não ronquei.

— Você não roncou — neguei com a cabeça. — Eu não fazia ideia de que você
estava dormindo até o filme acabar. Eu provavelmente deveria ter percebido
algo quando você não gritou 'Ela nem estuda aqui!'

— Essa é a minha frase favorita — ela disse rindo.

— Eu diria que poderíamos assistir ao final do filme de novo a partir desse


ponto, mas está ficando tarde e você parece estar bem cansada.

— Sim, eu ainda não consigo acreditar que dormi em cima de você. Foi uma
semana realmente longa — disse ela abafando um bocejo ao assentir.

— Só teremos que assistir ao final juntos em outra ocasião — eu disse me


levantando e estendendo as mãos para a ajudar a se levantar.

— Eu gostaria disso — concordou.

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Acompanhei-a pelo jardim e pela casa até a porta da frente. Estava silencioso
dentro de casa e eu imaginei que Owen tinha saído. No entanto, Hayley não
perguntou por ele e também não parecia procurá-lo. Pela primeira vez, parecia
que meu irmão não estava em sua mente. Quando chegamos à porta da frente,
ela parou e se virou para mim.

— Hoje à noite foi incrível, Ethan. Obrigada por organizar um encontro tão
perfeito. — Antes que eu percebesse o que ela estava fazendo, ela tinha me
abraçado, e eu lentamente abaixei os braços em volta dela para retribuir.

Esperava que o abraço terminasse quase tão rápido quanto começou, mas ela
continuou por vários segundos e, quanto mais ela mantinha o abraço, mais
meu coração acelerava. Era apenas um abraço, mas para mim, era tudo.

— Vejo você amanhã à noite no seu show — ela disse se afastando lentamente,
parecia quase relutante.

— Você ainda quer ir?

— Sim, claro. Preciso ver do que se trata toda essa agitação.

Ela me lançou um sorriso antes de se virar para sair. A observei enquanto


caminhava pelo gramado da frente e começava a descer sua própria garagem.
Ela estava quase fora de vista quando olhou na minha direção uma última
vez. Ela sorriu e acenou discretamente e eu levantei a mão em resposta.

Eu estava apaixonado por Hayley Lawson há anos, mas meus sentimentos


estavam se intensificando conforme passávamos mais tempos juntos.
Enquanto a observava sumir de vista, percebi que talvez Colin estivesse certo:
esse plano provavelmente ia partir meu coração.

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12 - Hayley

— Seu cabelo está incrível! — Isla gritou animada.

Girei na minha cadeira e dei um grito abafado quando me vi no espelho. Isla


havia passado os últimos vinte minutos colocando extensões cor de rosa no
meu cabelo, e eu não poderia ter ficado mais feliz com o resultado. Eu parecia
incrível.

— Acho que você pode ser minha nova ídola da moda — eu disse sorrindo ao
me virar para ela.

— Bom, fico feliz por poder ajudar — ela disse sorrindo também.

Girei de volta para o espelho para dar outra olhada, tocando levemente o rosa
no meu cabelo. Era um contraste tão grande com meus fios castanhos, mas
eu adorava. Se não fosse pelos meus pais e pelo fato de que Laurie
provavelmente me expulsaria do time de líderes de torcida, eu teria tingido
permanentemente. Fiquei curiosa para saber o que Owen pensaria da
mudança.

— Então, o que as pessoas vestem para um show? — perguntei.

— Nada muito exagerado — disse Isla. — E algo que você possa dançar.

— Você vai vestir isso hoje à noite? — Indiquei para a roupa dela. Isla estava
usando uma saia xadrez curta e uma camiseta que estava cortada logo acima
do umbigo. Ela usava botas até os joelhos pelas quais eu teria vendido minha
alma, e o cabelo dela estava preso em dois coques.

— Sim — afirmou ela dando uma voltinha.

Assenti e fui até o meu guarda-roupa, começando a procurar entre as roupas,


enquanto Isla se sentava na minha cadeira de escritório.

— Você sabe que dá para ver diretamente o quarto do Ethan daqui, certo? —
Ela disse, olhando pela janela.

137
— Sim, eu sei — virei para ver Isla acenando pela janela aberta. Fui até ela e
vi Ethan nos olhando de volta. Ele sorriu quando me viu e começou a fazer
gestos apontando para o meu cabelo antes de desenhar um coração no ar.

— Awn, ele adorou o rosa — disse Isla.

— Claro que sim. — Eu respondi. — Ficou ótimo — fiz um "obrigada" mudo


para Ethan antes de espantá-lo com um movimento das mãos. Ele riu antes
de voltar para a guitarra, que estava apoiada em sua escrivaninha.

— Acho que entendo por que você o notou através da cerca — disse Isla. —
Você tem um lugar na primeira fila para o show do Ethan. Viu o que ele está
escondendo sob aquelas camisetas largas? Isso provavelmente convenceria a
maioria das garotas a lhe dar uma chance — ela riu, mas eu abanei a cabeça.

— O que ele está escondendo? — Perguntei.

— Uh, o abdômen definido dele.

— O Ethan tem um abdômen definido? — Fiquei olhando sem entender.

— Como você não notou? O quarto dele está bem ali! — Ela riu e me olhou
como se eu fosse maluca. Para ela, provavelmente eu era. Que tipo de garota
não conferiria seu namorado quando tivesse essa oportunidade?

— Ah, acho que sou apenas azarada — respondi rapidamente. — Eu mal o


vejo no quarto dele. Quanto mais sem camisa.

— Bem, talvez você tenha sorte agora que vocês estão namorando… — Ela
ergueu as sobrancelhas para mim e eu rio desconfortavelmente. Não estava
ficando mais fácil ter conversas com as pessoas sobre o nosso relacionamento
quando eu sabia que tudo era apenas falso.

Mas, a menção de Isla sobre o abdômen de Ethan me deixou curiosa e uma


pequena parte de mim se perguntou como eles eram. Olhei para a janela e
rapidamente desviei o olhar novamente. Não era para eu ter nenhum interesse
no abdômen de Ethan. Comecei a voltar para o meu guarda-roupa, esperando
colocar um pouco de distância entre a janela e eu.

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— Então, você e o Ethan já namoraram alguma vez? — Perguntei, enquanto
empurrava alguns cabides sem pensar. Depois do comentário de Isla sobre o
corpo dele, eu estava um pouco preocupada de que ela pudesse secretamente
gostar dele e meu estômago estava em nós só de pensar na possibilidade de
ela ser a garota de quem ele realmente gosta. Isla era incrível e eu poderia
facilmente ver Ethan se apaixonando por ela.

— Eca, não — respondeu Isla. — Ele é tipo um irmão para mim.

— Então vocês nunca chegaram perto de namorar?

— Como eu disse, eca. Eu nem chego perto de ser o tipo dele. Além disso, eu
tenho uma queda por caras com tatuagens.

— Tem mesmo? — Arqueei uma sobrancelha e olhei para ela.

— Ah, sim — ela disse. — Meu namorado, Dex, tem um dos braços cobertos
por tatuagens e é a coisa mais sexy que existe. Ele também tem uma na coxa…
— Ela deixou o comentário no ar e seus olhos pareciam vagar como se ela
estivesse imaginando. — De qualquer forma, — continuou, balançando a
cabeça como se quisesse desviar o rumo dos pensamentos em que estava —
você vai vê-lo hoje à noite, ele é o baterista da banda.

— Legal — hesitei alguns segundos antes de continuar. — Qual é o tipo do


Ethan?

— Você, obviamente — disse ela rindo.

Sorri e assenti, mesmo sabendo que não era verdade. Voltei minha atenção
para o guarda-roupa e comecei a tirar diferentes opções. Demorou algumas
tentativas antes que Isla e eu finalmente concordássemos com um conjunto.

— É esse — disse Isla, quando experimentei uma saia jeans desfiada e uma
blusa preta. A blusa era transparente, e eu planejava usar algumas joias no
pescoço para completar o visual. — Mas eu deixaria os saltos e usaria tênis —
completou. — Muito melhor para dançar.

139
Fiz um biquinho, olhando para os sapatos fofos que escolhi para usar. Eu
basicamente sempre usava saltos quando saía e odiava a ideia de deixá-los de
lado.

— Dá para dançar com esses — insisti, mas Isla balançou a cabeça.

— Confie em mim, você vai desejar ter usado os tênis se optar pelos saltos.

— Tudo bem, tudo bem — tirei os sapatos e troquei por um par de tênis
brancos simples. Eles eram definitivamente mais confortáveis, mas eu
realmente sentia falta da altura extra que meus saltos me davam.

— Perfeito — disse Isla, enquanto eu ficava em pé. — Ethan vai pirar quando
te ver vestida assim.

Minhas bochechas coraram e meu estômago se contorceu com o comentário.


Não era Ethan que meu traje deveria impressionar. Também não conseguia
entender muito bem o jeito estranho como meu coração saltou com a ideia de
Ethan gostar de como eu estava vestida. Provavelmente era apenas uma
reação ao elogio. O telefone de Isla vibrou e ela pulou da cama.

— Dex está lá fora para me buscar — disse. — Ethan vai te encontrar aqui
ou você vai até a casa dele?

— Eu vou até a casa dele — Ethan tinha se oferecido para vir me buscar, mas
rapidamente descartei essa ideia. O motivo de sairmos juntos era para que
Owen nos visse, o que não aconteceria se Ethan viesse até aqui me buscar. —
E eu provavelmente deveria ir lá agora, então vou te acompanhar até a porta
— acrescentei.

Isla me seguiu pelas escadas e para fora no meu jardim da frente. Seu rosto
se iluminou ao ver o carro do namorado parado na rua, mas sua expressão
mudou rapidamente. Ela franziu a testa e estreitou os olhos quando viu Owen
apoiado na porta do passageiro, conversando com Dex pela janela aberta.

— Aff — disse ela, diminuindo a velocidade até parar. Todo o seu rosto se
contorceu, como se houvesse um mau cheiro chegando até nós. Sua atenção
estava fixa em Owen e tive a sensação de que ele era o motivo do desconforto
dela.

140
— Você tem algum problema com Owen? — questionei, franzindo a testa
enquanto a olhava.

— Sim, eu não suporto o cara.

Meus olhos se arregalaram com a veemência em sua voz.

— Por quê?

— Uh, você já o conheceu? Ele é um idiota completo.

Balancei a cabeça, incapaz de entender como ela poderia pensar algo assim.

— Ele sempre pareceu muito legal comigo.

— Bem, é claro que você pensaria assim — respondeu Isla. — Você é uma líder
de torcida bonita, então ele não vai agir com o seu eu horrível habitual perto
de você.

Fiquei sem palavras. Isla e eu tínhamos nos dado tão bem esta tarde e achei
difícil acreditar que poderíamos ter opiniões tão diferentes sobre Owen. Olhei
para ele, procurando o idiota que Isla via. No entanto, eu simplesmente não
conseguia enxergar aquele lado nele. Ele estava sorrindo alegremente
enquanto conversava com Dex e não parecia haver nada desagradável ou
malicioso nele.

— Talvez você o tenha encontrado em um momento ruim? — Sugeri,


esperando dar a ela o benefício da dúvida.

— Bem, se for o caso, acho que todo momento é ruim com Owen — Isla riu ao
comentar.

Minha testa franzida ficou mais acentuada. Ela realmente parecia odiá-lo, mas
isso não significava que seus sentimentos em relação a ele estivessem
corretos.

— Então, ele é amigo do seu namorado? — perguntei, esperando mudar o


assunto sobre o quão horrível Owen era.

141
— Não, ele provavelmente está tentando fazer Dex comprar bebidas alcoólicas
para ele — ela falou como se não fosse a primeira vez que isso acontecia e
soltou um suspiro antes de continuar. — De qualquer forma, acho que devo
ir, te vejo lá. — Ela me deu um sorriso antes de ir lentamente para o carro.

Owen olhou para ela enquanto se aproximava e fiquei surpresa ao ver o que
parecia ser uma careta em seu rosto quando a cumprimentou. Isla não estava
brincando quando disse que eles não se davam bem. Eu nunca tinha visto ele
fazer uma expressão tão hostil antes e eu não conseguia entender porque eles
não gostavam um do outro. Ambos eram pessoas tão legais. O que eu estava
perdendo?

Tentei afastar o pensamento da minha mente e me apressei em direção à casa


de Ethan. No entanto, não conseguia me esquecer da interação que acabara
de presenciar. Era como um mistério que eu precisava desvendar. Estava tão
envolvida em meus pensamentos que não percebi que meu nome estava sendo
chamado até pisar no gramado da frente da casa dos Beck.

— Hayley? Hayley, espera — virei lentamente quando Owen correu para me


alcançar. Ele estava usando um sorriso radiante, sem nenhum traço do
desprezo que tinha visto em seu rosto apenas momentos atrás, enquanto se
aproximava. Era quase como se eu tivesse imaginado a expressão.

— Ficou ótima, Hayley — ele soltou um assobio baixo enquanto avaliava


minha roupa.

Eu teria esperado que um elogio de Owen me deixasse feliz, mas esse


simplesmente parecia ricochetear em mim sem deixar marca. Eu ainda estava
distraída por tudo o que Isla havia dito sobre ele, então finalmente reuni meus
pensamentos e sorri de volta para ele.

— Obrigada — um silêncio constrangedor se estendeu entre nós, e


rapidamente tentei preenchê-lo. — O dia está bonito hoje — eu imediatamente
quis me dar um tapa. O dia está bonito hoje? Poderia ter dito algo mais sem
graça?

— Sim, está — ele riu. — Especialmente agora que você está aqui.

142
Soltei uma risada constrangida em resposta. Owen sempre parecia tão à
vontade com as garotas, mas aquilo soara piegas. Será que essas cantadas
realmente funcionavam com as pessoas? Pelo menos ele não estava indo
embora depois do meu estúpido comentário sobre o clima.

— Sabe, senti falta de te ver no refeitório ontem — ele continuou.

— Sentiu? — Ele percebeu que eu não estava lá?

— Claro — ele respondeu. — Para ser sincero, fiquei surpreso por você não ter
se sentado na nossa mesa no almoço esta semana. Você costumava sempre
sentar conosco…

— As coisas mudam — dei de ombros.

— Sim, entendo — concordou ele, passando a mão pelo cabelo enquanto sorria
para mim. Ele tinha aquele tipo de sorriso que poderia derreter o coração de
uma garota e, quando estava dirigido a mim, eu me transformava em massa
maleável em suas mãos.

— Você ainda está torcendo?

Eu assenti. Aparentemente, eu não apenas me transformava em massa


maleável, mas também não era capaz de falar quando Owen sorria para mim
daquele jeito.

— Isso é bom. Lembro-me de como você era incrível nisso.

Ruborizei com o elogio dele e me perguntei por que Isla não conseguia enxergar
o quanto Owen era incrível. Talvez, se ela tivesse ouvido o poema dele todos
aqueles anos atrás e soubesse sobre as barreiras que ele mantinha, estaria
mais disposta a lhe dar uma chance. Ele era tão doce por baixo da superfície,
seus olhos só precisavam estar abertos para ver isso.

A porta da frente se abriu, interrompendo o encanto de Owen, e virei para ver


Ethan no batente. Ele estava vestindo sua camiseta folgada de sempre e jeans,
e o cabelo dele estava penteado de um jeito bagunçado, como se tivesse
acabado de acordar. Ele não estava usando os óculos e algo apertou dentro de
mim ao vê-lo.

143
Os olhos dele se iluminaram quando me viu e a forma como ele olhou para
minha roupa fez meu pulso tremer. Ele não assobiou como seu irmão e
certamente não me encarou, no entanto, eu podia ver a apreciação em seus
olhos conforme ele se aproximava de mim.

— Oi — eu disse quando ele parou a apenas alguns centímetros de distância.


A palavra saiu quase como um guincho e senti minhas bochechas corarem
ligeiramente de vermelho. Porém, Ethan não pareceu notar, ele pegou minha
mão e depositou um beijo leve nas costas dela, fazendo minha pele arrepiar.

— Oi — ele respondeu. Sua voz era profunda e fiquei surpresa com como uma
única palavra poderia enviar vibrações percorrendo todo o meu corpo. Ele
começou a sorrir, como se soubesse que estava me afetando. — Você está
linda. O cabelo rosa está demais.

— Obrigada, Isla é uma fada madrinha — eu disse sorrindo e tocando uma


das mechas rosas.

— Ela fez um ótimo trabalho — concordou ele. — Você está pronta para esta
noite?

— Claro que estamos — fui interrompida antes que pudesse responder.


Virei-me, tendo esquecido completamente que Owen estava atrás de mim. Sua
expressão estava sombria e eu pude perceber que ele não gostou de ser
ignorado.

— O que você quer dizer com nós? — Rosnou Ethan.

— Oh, eu não te contei? Um grupo vai ao bar onde sua bandinha vai tocar
esta noite…

A maneira como ele falou sobre a banda de Ethan me fez franzir o cenho. Eu
não fazia ideia se Ethan era bom, mas parecia que Owen estava sendo
desnecessariamente condescendente com o irmão. Devia ser coisa de irmãos,
eu implicava com Kitty praticamente por qualquer coisa.

— Por que você faria isso? — Perguntou Ethan. Sua voz soava tão cautelosa,
como se não confiasse nas intenções de seu irmão.

144
— Um irmão gêmeo não pode vir apoiar o outro? — Respondeu Owen dando
de ombro.

— Você nunca veio a uma das minhas apresentações antes.

— E planejo mudar isso hoje à noite.

— Bem, espero que você aproveite o show — respondeu Ethan, franzindo a


testa com incerteza. Sua voz estava tensa e ele parecia incomodado com o fato
de Owen estar vindo. Sua expressão se acalmou quando ele voltou sua atenção
para mim. — Pronta para ir?

— Sim, mal posso esperar — assenti rapidamente e sorri.

Ethan segurou minha mão e me conduziu até o carro dele. Olhei por cima do
ombro enquanto caminhávamos e fiquei surpresa ao ver que Owen ainda
estava lá nos observando. Seu olhar estava estreitado em nossas mãos
entrelaçadas, como se isso o incomodasse.

Quando eu tinha entrado em seu gramado uma semana atrás, Owen mal
havia me notado. Agora, ele parecia não conseguir desviar o olhar. Parecia que
o relacionamento falso com Ethan estava fazendo sua mágica em Owen. Mas,
eu não tinha ideia se tínhamos feito o suficiente para fazer com que ele me
convidasse para o baile.

Entramos no carro e Ethan ligou o motor sem comentar. Ele ainda parecia
descontente com Owen indo à sua apresentação esta noite, e eu não tinha
ideia do que dizer.

— É ruim que Owen venha esta noite? — Perguntei.

— Não é ruim. Acho apenas que ele está fazendo isso para me irritar — ele
disse relaxando um pouco e sorrindo para mim.

— Ele faz isso com frequência?

— Tentar me irritar? — Ethan riu. — O tempo todo.

145
— Acho que é a mesma coisa com minha irmã.

— Acho que sim — concordou ele. No entanto, pelo olhar em seu rosto, Ethan
claramente sentia que nossas situações eram completamente diferentes.
Owen e Ethan eram gêmeos, então supus que não poderia ser a mesma coisa
que eu e minha irmã mais nova. Sempre pensei que gêmeos seriam melhores
amigos, mas talvez os irmãos Beck fossem prova de que isso não era verdade.

— Certamente ajudará com nosso plano se ele estiver lá esta noite —


continuou Ethan, aparentemente tentando dar um toque positivo às coisas.

— Você acha que está indo bem até agora? O plano, digo…

— Eu diria que sim — Ethan não olhou na minha direção ao responder, e seus
olhos permaneceram focados na estrada à frente.

— Bem, isso é uma coisa boa, certo?

— Sim, claro que é — ele respondeu rapidamente. Seus ombros estavam


tensos enquanto falava e tive a impressão de que ele não estava sendo
totalmente sincero. Ele olhou para mim e me deu um sorriso forçado. — Você
não deveria se preocupar. Se as coisas continuarem assim, tenho certeza de
que Owen será seu até o baile.

Eu assenti e devolvi o sorriso forçado com um sorriso meu. A reafirmação dele


deveria me deixar animada, mas por algum motivo, meu coração não deu um
salto como eu esperava. Nem mesmo se agitou. Continuou batendo com o
mesmo ritmo metódico, e eu tive que me perguntar: por quê?

146
13 - Hayley

O show de Ethan aconteceria em um bar na cidade vizinha à nossa. Eu nunca


tinha visto o lugar antes, mas conforme nos aproximamos do local, a fila do
lado de fora das portas me surpreendeu. Mal havia anoitecido e já havia uma
grande multidão esperando para entrar.

— É aqui que você vai tocar? — Perguntei a Ethan, enquanto eu me


surpreendia com o tamanho da fila para entrar.

— Não fique tão surpresa — ele sorriu como se estivesse levando isso como
um elogio. — Vem, vamos dar a volta por trás e entrar pela entrada dos
funcionários.

Eu me senti um pouco como um filhote perdido enquanto o seguia. Ele virou


em um beco e, como estava escuro, eu normalmente teria recusado ir mais
longe. No entanto, estranhamente, eu confiava em Ethan e o segui felizmente,
sem questionar. Só quando chegamos aos fundos do prédio que finalmente vi
alguma luz que saia de uma porta aberta. Soltei um suspiro aliviado quando
vi Isla e o restante da banda esperando lá.

— Finalmente. Eu pensei que vocês estavam logo atrás de nós — Isla sorriu
radiante ao nos ver e veio direto até mim.

— Ficamos conversando com Owen — expliquei.

— Bom, vocês estão aqui agora — Isla franziu o nariz ao ouvir o nome dele,
mas continuou como se eu não tivesse mencionado. — Dex, conheça a Hayley.
— Disse ela se virando e acenando com a mão para um rapaz alto.

Ele estava de costas para a porta e demorou um segundo até meus olhos se
ajustarem e eu perceber que era o namorado dela. Meus olhos naturalmente
desceram para o seu braço tatuado. Isla estava certa, elas realmente
combinavam com ele.

— Você é o namorado/baterista, certo? — Eu disse.

147
— Isso mesmo — Dex riu. — E você deve ser a líder de torcida da qual o Ethan
está sempre falando. — Seus olhos se desviaram na direção de Ethan e ele lhe
deu um sorriso cúmplice.

— Sim, eu devo ter falado sobre você nos ensaios desta semana — Ethan
tossiu enquanto me olhava.

— Você fez isso mesmo? — Ethan assentiu, embora parecesse nitidamente


desconfortável, o que me fez sorrir. — Coisas boas, espero.

— Sempre — ele disse, fazendo meu sorriso aumentar. Mesmo quando não
estávamos juntos, parecia que Ethan era um ótimo namorado falso.

— Ei, Colin. — Eu disse me virando para ele, que também estava esperando
silenciosamente junto à entrada dos funcionários.

— Hayley. — Ele respondeu num sussurro. Ele não encontrou meus olhos, e
suas bochechas ficaram de um tom semelhante ao do seu cabelo ruivo. Eu
não tinha certeza do que acontecia comigo, mas Colin sempre ficava muito
nervoso quando eu estava por perto. Nós não nos conhecíamos muito bem,
mas eu esperava que ele não achasse que eu era como muitas das outras
líderes de torcida da nossa escola. Algumas delas tinham reputações cruéis,
e eu realmente não queria ser colocada no mesmo balaio.

Eu não tinha deixado passar o fato de que Dex lembrava de mim simplesmente
porque eu era líder de torcida e eu odiava pensar que os amigos do Ethan só
pensavam em mim dessa forma. Com sorte, à medida que me conhecessem
melhor, eles iriam perceber que havia mais em mim do que um par de
pompons.

— Então, vamos fazer isso? — Perguntou Isla. Ela estava com o tom de voz de
jogo e parecia pronta para iniciar uma conversa motivacional pré-
apresentação. Os rapazes riram e tive a sensação de que ela fazia isso com
frequência.

— Sim, querida, vamos fazer isso. — Disse Dex, puxando para que ela ficasse
encurralada em seus braços. — Que tal você levar a Hayley para dentro e nos
deixar preparar as coisas?

148
— Mas eu posso ajudar — Isla fez um biquinho.

— Nós sabemos que você pode — disse Ethan. — Mas pode ser mais divertido
para vocês duas no bar. Além disso, você vai querer um bom lugar na multidão
para assistir ao show.

Isla olhou para mim e assentiu.

— Ok, se vocês insistem. — Respondeu, antes de voltar seu olhar para Dex.
— Você vai arrasar lá fora esta noite. — Disse a ele antes de se levantar nas
pontas dos pés e lhe dar um beijo intenso.

Colin e Ethan se encolheram visivelmente.

— Sério, pessoal, a gente tem que assistir a isso? — Perguntou Colin.

Dex riu ao se afastar de Isla. Ela lhe deu um último beijinho na bochecha
antes de recuar e me indicar para segui-la em direção à porta. Olhei para
Ethan, que me deu um aceno encorajador. No entanto, depois do beijo de Isla
e Dex, eu não achava que poderia simplesmente sair sem dizer nada a ele.
Uma verdadeira namorada deveria, no mínimo, desejar boa sorte.

Virei para Ethan e sorri enquanto me aproximava para lhe dar um rápido beijo
na bochecha. À medida que meus lábios roçavam nele, meu estômago deu um
salto. Sua pele estava áspera por fazer a barba e isso fez meus lábios
arrepiarem. Eu estava envolta na deliciosa fragrância de sua loção pós-barba,
misturada com o sutil cheiro de roupa lavada do seu quarto. O aroma era, ao
mesmo tempo, tentador e reconfortante, e eu gostava da combinação muito
mais do que provavelmente deveria.

— Quebre a perna lá fora. — Eu disse, percebendo que eu tinha ficado tempo


demais, dei um passo rápido para trás.

— Obrigado. — A voz de Ethan estava ligeiramente rouca, e de repente me


senti desconfortável parada ali olhando para ele. Lhe lancei outro sorriso antes
de me virar rapidamente e seguir em direção à entrada dos funcionários. Isla
estava sorrindo enquanto eu a seguia para dentro.

— Aquele foi um beijo com classificação de 13 anos. — Ela disse.

149
— Melhor do que aqueles filmes com classificação restrita que vocês fazem —
eu a empurrei com o ombro, fazendo-a rir.

— O quê? Eu não posso me controlar. O Dex é gato.

— Você devia ter visto a expressão nos rostos de Ethan e Colin.

— Bem, eles sempre podem ir embora se não gostarem do que veem.

Eu sacudi a cabeça, mas não consegui evitar sorrir. Eu realmente gostava de


como Isla não se importava com o que os outros pensavam. Eu queria ser mais
parecida com ela. Eu achava que era uma pessoa bastante determinada, mas
não chegava nem perto do nível de indiferença da Isla quando se tratava das
opiniões das pessoas.

Entramos pela entrada e segui Isla por um corredor longo. Ela andava com
determinação, como se já tivesse estado aqui muitas vezes.

— Os caras já tocaram aqui antes? — Perguntei.

— Sim. Eles tocam aqui no primeiro sábado de todo mês. — Ela respondeu.
Parecia bastante impressionante ter uma apresentação fixa assim e, dado a
fila que estava do lado de fora, devia ser um lugar muito popular.

— Então, a banda deve se dar muito bem aqui para ser convidada de volta
sempre.

— Ah, sim — disse ela, com um olhar orgulhoso nos olhos. — A faculdade que
o Dex frequenta fica logo ali na esquina e este lugar fica cheio de estudantes
nos fins de semana. Todos adoram a banda.

— E o bar não se importa que nenhum de vocês tenha vinte e um anos? —


Perguntei.

— Este lugar não costuma pedir documentos das pessoas — Ela respondeu.
— Estou surpresa de que mais alunos da escola não saibam disso.

150
A notícia provavelmente se espalharia esta noite, já que Owen estava vindo
com os amigos. Não mencionei isso para Isla. Eu tinha a sensação de que ela
não receberia essa notícia tão bem e não queria estragar o entusiasmo dela.

Acompanhei Isla subindo um conjunto de escadas e minha boca caiu quando


ela abriu a porta que levava a área do bar. Estava completamente lotado. Eu
meio que esperava que a banda de Ethan estivesse tocando em algum lugar
tranquilo, com apenas alguns clientes regulares apoiados no balcão, meio que
ouvindo o que estava acontecendo no palco. No entanto, isso parecia
legitimamente o lugar para estar em uma noite de sábado.

— Tem tanta gente aqui! — Exclamei, tendo que elevar a voz para ser ouvida
acima da música alta e das pessoas conversando no bar.

— Com certeza. — Respondeu Isla com um sorriso encantado. — Como eu


disse, a banda é realmente popular entre os estudantes universitários e você
vai entender o porquê quando eles começarem a tocar. Vamos lá, vamos
arrumar um lugar perto do palco.

Isla pegou minha mão e abriu caminho pela multidão. Fiquei contente que ela
estivesse liderando o caminho, porque eu ainda estava chocada com a
quantidade de pessoas para quem o Ethan teria que se apresentar. Eu não
conseguia imaginar nada pior do que cantar para uma multidão desse
tamanho. Eu já ficava assustada o suficiente cantando no chuveiro com medo
de ser ouvida pela minha família.

Enquanto andávamos, vasculhei a multidão em busca de Owen e seus amigos.


No entanto, não reconheci ninguém por quem passamos. Talvez eles ainda
não estivessem aqui. Esperançosamente, chegariam antes da apresentação
começar. Eu sabia que Ethan não estava muito animado com a ideia de seu
irmão o assistindo tocar, mas eu não gostaria de pensar em Owen vindo até
aqui para apoiá-lo e perdendo parte da performance.

Paramos quando encontramos um lugar que não estava muito cheio, mas
ainda estava perto do palco. Não estávamos bem na frente, mas teríamos uma
visão bastante boa dos rapazes quando subissem ao palco.

— Você acha que eles vão começar em breve? — Perguntei.

151
— Caramba, espero que sim. — Não foi Isla quem respondeu, mas uma garota
loira ao lado dela. Ela estava usando um vestido extremamente revelador e
parecia ser alguns anos mais velha do que nós. Dado a maquiagem pesada
dela, era difícil precisar exatamente a idade dela.

— Sim, eles estão demorando uma eternidade para começar hoje à noite. —
Concordou a amiga morena. Ela estava tão pouco vestida quanto a primeira
garota e as duas pareciam bonecas em tamanho real. No entanto, elas tinham
sorrisos amigáveis, então decidi não culpá-las por suas pernas longas e
aparência deslumbrante. Não era culpa delas parecerem com a Barbie Malibu
e a Disco Barbie.

Malibu empurrou uma mecha do seu cabelo loiro-branco atrás da orelha


enquanto conferia a hora no telefone. Ela fez um biquinho de decepção para o
telefone antes de olhar para nós novamente.

— Vocês costumam vir às apresentações do Velocity com frequência? —


Perguntei.

— Todo santo mês. — Respondeu Isla.

— É a minha primeira vez — eu admiti.

— Oh, você vai adorar os caras — disse ela. — A música deles não é o meu
estilo normal, mas é muito divertido assistir eles tocando. — Eu não gostei de
como Malibu falava sobre os membros da banda como se fossem amigos
íntimos. Também me senti um pouco desconfortável com o quanto seus olhos
brilhavam enquanto ela falava sobre eles. No entanto, Isla não parecia
incomodada pelo comportamento delas, então tentei não deixar isso me afetar.
Afinal, eu não era realmente namorada do Ethan.

— Sim, eles são todos tão gatos. — Concordou sua amiga.

Me mexi desconfortavelmente. Como a Isla não se sentia constrangida ouvindo


isso? Ela parecia mais divertida do que qualquer outra coisa.

— Qual dos caras é o seu favorito? — Ela perguntou às duas garotas.

152
— Definitivamente o Ethan. — Disse Malibu, fazendo meu estômago se
retorcer — A voz dele é tão sexy. Eu faria praticamente qualquer coisa para
tê-lo sussurrando coisas no meu ouvido.

Isla estava sorrindo enquanto me lançava um olhar de canto de olho. Juro que
ela estava realmente se divertindo com o quão desconfortável isso estava me
deixando.

— Mesmo? — Ela perguntou, direcionando a pergunta para a garota.

— Com certeza.

— Eu prefiro o Colin — disse sua amiga. — A maneira como ele toca guitarra
me faz imaginar o que mais ele pode fazer com as mãos.

Os lábios de Isla se contorceram como se ela tivesse acabado de provar algo


azedo.

— Vou fingir que ela está falando das habilidades dele de tricotar. — Ela
sussurrou para mim antes de aumentar a voz novamente. — Como vocês duas
podem não achar o Dex o mais gato? — Perguntou, parecendo realmente
decepcionada.

— Eu não sou muito fã das tatuagens. — Disse Malibu.

— O quê? Como você pode não amar as tatuagens? — Questionou Isla e seus
olhos se arregalaram como se ela tivesse acabado de ouvir a coisa mais
ridícula do mundo.

As garotas pararam de ouvir, pois uma delas apontou para algo atrás de nós.

— Lá vem a Lana com nossas bebidas. — Disse Malibu, cutucando sua amiga
antes de se concentrar em nós novamente. — Aproveitem o show, meninas.
Vai ser ótimo.

As duas garotas desapareceram na multidão, e Isla as observou partir com


uma expressão de desaprovação nos olhos.

153
— Essas garotas claramente não têm bom gosto. — Murmurou, balançando a
cabeça enquanto as observava. Um olhar divertido entrou nos olhos dela,
quando ela se virou de volta para mim. — Você deveria ter visto a sua cara.

— O que havia de errado com o meu rosto?

— Só o fato de você não parecer muito animada com a forma como elas
estavam falando sobre o Ethan…

— Bem, foi bem estranho. Elas nem o conhecem.

— Ah, é totalmente estranho, mas você não pode deixar isso te afetar. O Ethan
é um cara legal, então você não precisa se preocupar com as fãs dele.

— Eu não estou preocupada com as fãs dele — respondi rapidamente. — Eu


só não sabia que ele tinha fãs.

Isla levantou uma das sobrancelhas, claramente sem convencer-se.

— Você vai se acostumar. Além disso, garotas como aquelas duas têm se
jogado para cima do Ethan faz tempo e ele não deu bola para nenhuma delas.

— Elas se jogam para cima dele? — Perguntei completamente paralisada.

— Oh, com certeza.

Levei vários momentos para tentar processar a informação. Ethan tinha sido
bem honesto sobre o fato de que não tinha tido muita experiência com garotas.
Eu pensei que fosse porque ele não tinha tido oportunidade, mas
aparentemente eu estava errada. Por que ele rejeitaria os avanços de garotas
como a Barbie Malibu? Eu não conseguia entender.

— Por que ele não quis nenhuma dessas garotas? — Perguntei.

— Acho que ele só teve olhos para você o tempo todo. — Seus lábios se
curvaram em um sorriso astuto.

— Sim, acho que sim. — Dei uma risada insegura.

154
Parecia que tínhamos feito um ótimo trabalho em convencer Isla da nossa
história de cobertura. Ela tinha caído como um patinho. Não havia como ela
saber sobre a garota misteriosa dos sonhos de Ethan, se acreditasse que ele
tinha uma paixão antiga por mim. Ele tinha sido bem evasivo ao revelar a
garota para mim, então não era surpreendente se ele não tivesse contado aos
amigos. Eu nem mesmo tinha admitido para a Madi que tinha uma queda pelo
Owen todos esses anos.

Pensando na paixão de Ethan, de repente fazia sentido ele não estar


interessado em mais ninguém. Ele gostava tanto dela que essas garotas nem
sequer estavam no radar dele, isso era realmente doce.

Eu gostaria de poder dizer o mesmo sobre Owen e que ele só tinha olhos para
mim. Dado como ele agia perto das garotas na escola, ainda estava claro que
ele estava mantendo suas opções abertas. Eu estava contando com esse
relacionamento falso com Ethan para mudar isso, no entanto.
Esperançosamente, quando terminássemos com isso, eu seria a única garota
que Owen enxergaria.

Enquanto eu pensava no irmão de Ethan, meu olhar começou a vagar pela


sala em busca dele. Eu esperava que ele já estivesse aqui agora. Ainda não
havia nenhum sinal dele, mas isso não era surpreendente. Estávamos
completamente cercados de pessoas agora e era quase impossível enxergar
além dela, eu mal conseguia ver o bar através da multidão, quanto mais
distinguir um cara no meio dos fãs.

— Você está procurando alguém? — Perguntou Isla.

— Só dando uma olhada. — Eu disse, balançando a cabeça rapidamente —


Você acha que vai demorar muito para eles subirem ao palco?

Um brilho de empolgação entrou nos olhos de Isla quando me virei para ela.

— Não, os caras estão entrando agora!

Isla não foi a única a perceber, e os aplausos começaram a se espalhar pela


multidão. Olhei para cima bem a tempo de ver Ethan, Colin e Dex assumirem
suas posições no palco. Ethan e Colin estavam na frente com guitarras

155
penduradas nos ombros, enquanto Dex se posicionava atrás da bateria no
fundo.

Os três estavam sorrindo ao tomarem suas posições e era fácil se envolver na


empolgação da multidão enquanto esperávamos que eles começassem. Os
olhos de Ethan percorreram todas as pessoas reunidas diante dele e, quando
ele me viu, seu sorriso se alargou ainda mais e ele piscou.

Algo sobre o seu piscar de olhos fez meu coração sorrir. Ele parecia tão
confiante no palco que eu não conseguia conciliar essa versão de Ethan com
a que eu via na escola todos os dias. Esse não era o Ethan que evitava a
atenção ou que fugia das multidões na escola. Havia algo tão magnético nele
que eu achei impossível desviar o olhar.

Quando Ethan se aproximou do microfone, Colin começou a tocar sua


guitarra. Reconheci os acordes iniciais da música "Radioactive", do Imagine
Dragons, quase imediatamente. As pessoas aplaudiram enquanto Colin
tocava, mas quando Dex se juntou na bateria e Ethan começou a cantar o
verso de abertura, um rugido de som irrompeu da multidão.

Senti calor e frio ao mesmo tempo. Arrepios percorreram meu corpo, e eu não
conseguia desviar o olhar. Senti a voz de Ethan pulsando pelo meu sangue
como se fosse parte de mim e a sala cheia de pessoas ao nosso redor parecia
desaparecer. Eu não podia fazer nada além de ficar ali parada e ouvir. A banda
não era apenas boa, eles eram brilhantes e eu podia entender completamente
por que a Barbie Malibu achava a voz de Ethan sexy. A maneira como ele
parecia acariciar cada palavra me fez desejar ser uma de suas letras. Ouvindo-
o agora, eu não tinha ideia de como não tinha percebido isso antes.

O ar ao nosso redor parecia que tinha se tornado radioativo, assim como o


nome da música que estavam tocando, e ela era a única coisa bombeando
oxigênio respirável para a sala. Quando a música chegou ao fim, finalmente
senti como se pudesse respirar novamente e a realidade pareceu me atingir de
uma vez só.

Os gritos da multidão ao nosso redor perfuraram meus ouvidos, e Isla estava


pulando ao meu lado, bombeando o punho no ar. Ela sorriu quando percebeu
minha expressão chocada.

156
— Eles são bons, né?

— Uh, sim! — Bom não começava a descrever o que eu acabara de ouvir.

Os rapazes começaram sua próxima música, entrando em um cover de rock


de "Shape of You" de Ed Sheeran. Eu nunca tinha considerado que a música
poderia ser tocada dessa forma, mas juro que era melhor do que o original.
Eles tocaram música após música, cada uma com sua própria interpretação
de músicas populares diferentes. Eles tinham um som tão distintivo e faziam
cada peça ser deles.

Enquanto relaxava no show, comecei a dançar ao som da música com Isla.


Cantei junto todas as músicas e ri quando Isla mandava beijos para Dex
sempre que ele olhava para o nosso lado. Estava tendo uma das melhores
noites que tive em muito tempo e não queria que acabasse.

Isla me cutucou enquanto recuperamos o fôlego no final de uma das músicas


deles.

— A próxima será a última música — ela disse, fazendo meu rosto cair.

— Já?

Ela assentiu, seu rosto quase tão desapontado quanto o meu.

— Tenho certeza de que Ethan fará um bis para você no quarto dele, se você
pedir gentilmente.

Eu ri e revirei os olhos para ela. O assustador é que eu não odiava totalmente


a ideia.

Isla pegou o celular e começou a gravar os meninos. Ela tinha filmando


intermitentemente a noite toda, então imaginei que era algo que ela fazia em
todos os shows. Eu queria pedir a ela para enviar cópias das gravações para
mim, porque eu precisava desesperadamente ouvir as versões das músicas
que eles tocaram esta noite novamente.

157
Voltei minha atenção para o palco enquanto Ethan terminava de falar
baixinho com Colin e Dex. Os dois deram um aceno para ele antes que Ethan
se aproximasse do microfone mais uma vez.

— Obrigado a todos por serem uma plateia tão incrível esta noite — ele disse,
fazendo a sala explodir em outra rodada de aplausos. — Tenho uma música
especial com a qual gostaria de terminar. — Seus olhos se dirigiram na minha
direção e, pela primeira vez naquela noite, ele parecia um pouco nervoso. —
Vejam, tem essa garota com quem vou ao baile, — a multidão toda fez um som
de aww — mas eu nunca a convidei oficialmente. Então, Hayley Lawson, aqui
estou eu perguntando…

Ele começou a dedilhar as cordas do violão e lágrimas, sem ser convidadas,


vieram aos meus olhos assim que reconheci imediatamente "Love Story" de
Taylor Swift.

— Ele está tocando Taylor Swift para mim? — Nem mesmo tinha certeza de
quem estava perguntando, apenas que não conseguia acreditar que ele estava
tocando uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos. Quando ele
começou a cantar a letra, pensei que poderia desmaiar. Ele havia trocado as
palavras para que a música fosse da perspectiva de um rapaz, e sua voz
profunda tornou a música completamente diferente da original.

Os outros rapazes da banda se juntaram a ele após o primeiro verso e toda a


sala começou a dançar. Eles transformaram a música em uma balada de rock
e eu amei a versão deles, ainda mais do que achava possível. Dancei e cantei
junto com todos os outros e quando a música terminou, senti que nada
poderia superar aquele momento.

Ethan saltou do palco e entrou na plateia, ele abriu caminho entre a multidão
e parou na minha frente. Havia um leve brilho de suor em sua testa e ele
reluzia contra a pele, dando-lhe um visual desgrenhado, mas sexy. A
confiança que ele tinha mostrado no palco parecia vacilar enquanto ele me
dava um sorriso ansioso.

— Então, o que você diz? — Ele perguntou. — Você quer ir ao baile comigo?

Eu sorri e pulei em direção a ele, envolvendo meus braços ao redor do pescoço


dele.

158
— Claro, com certeza!

A incerteza em seu sorriso desapareceu enquanto ele olhava nos meus olhos.
Ethan realmente tinha um sorriso encantador, era o tipo de sorriso ao qual
você não podia deixar de retribuir. Não que eu precisasse de ajuda agora, eu
já estava sorrindo para ele perfeitamente bem por conta própria.

— Beija logo ela! — Alguém gritou. Eu não precisava me virar para saber que
era a Isla, mas quando olhei na direção dela, pude ver que seu celular estava
apontado para nós enquanto ela gravava e ela me deu um olhar travesso.

— Nós não precisamos fazer isso — murmurou Ethan.

Mas eu meio que sentia que deveríamos. A audiência estava assistindo e Isla
iria suspeitar que algo estava acontecendo com o nosso relacionamento se não
nos beijássemos depois de tudo isso. Então, sem mais um momento de
hesitação, eu me virei e estiquei os dedos dos pés para que eu pudesse
encostar meus lábios nos dele. Eu tinha a intenção de que o beijo fosse um
selinho rápido, apenas para agradar Isla, mas algo se mexeu dentro de mim
quando senti os lábios de Ethan nos meus. Sua respiração estava quente e
seus lábios eram doces, seu perfume acolhedor se envolveu ao meu redor e
me vi desejando mais do que apenas um beijo simples.

Meus lábios pareciam ter vontade própria à medida que o beijo se


aprofundava. Seu peito forte pressionava contra mim, enquanto seus braços
se enrolavam em volta da minha cintura. Eu podia sentir um leve gosto de
suor salgado nos lábios dele e parecia que o ritmo pulsante da sua música
ainda ecoava em meu sangue. Cada fibra do meu ser estava sob o feitiço de
Ethan, exceto por uma vozinha na minha cabeça que me dizia que eu não
deveria querer isso. Mas eu não conseguia, por mais que tentasse, lembrar o
porquê.

Me afastei um pouco para respirar. Eu me sentia dividida entre me afastar,


como eu sabia que deveria, e diminuir a distância entre nós novamente ou
continuar o beijando. Meu corpo estava desesperado por mais, mas meu
cérebro estava uma bagunça completa. Esse não era o irmão Beck que eu
supostamente deveria querer beijar e eu não conseguia entender o que estava
sentindo.

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Eu estava congelada, a apenas um fôlego de distância de Ethan e lentamente
olhei em seus olhos. Ele estava me encarando com o mesmo tipo de
intensidade que eu podia sentir no fundo do meu estômago. Não tinha certeza
do porquê de ele estar me olhando daquela maneira. Talvez ele estivesse
irritado por eu tê-lo beijado ou talvez ele fosse como eu e estivesse confuso
sobre se tinha gostado ou não.

Não tive a chance de entendê-lo, porque várias garotas interromperam o nosso


momento, implorando para tirar uma foto com Ethan. Rapidamente, dei um
passo para trás e olhei para o lado. Eu estava muito confusa com o que
acabara de acontecer e com tudo o que estava sentindo.

Isla veio correndo para o meu lado.

— Você amou? Diz que você amou! — Perguntou Isla, que veio correndo para
o meu lado assim que me distanciei de Ethan.

Levei um momento para perceber que ela não estava falando do beijo
avassalador que eu acabara de experimentar com Ethan.

— Ah, o pedido de ir ao baile? — Senti vontade de dar um tapa na testa, claro


que ela estava falando do pedido para o baile. — Eu amei, não poderia ter
pedido um convite mais perfeito para o baile.

— Foi incrível! — Ela elogiou.

Sorri e acenei enquanto ela falava, mas minha mente ainda estava a milhas
de distância e completamente focada no beijo. Isla manteve a conversa
enquanto caminhávamos pela multidão em direção à saída, embora eu não
conseguisse lembrar de uma única coisa que ela disse.

Foi somente quando me afastei de Ethan que lembrei que Owen deveria estar
aqui esta noite. Assim que a música começou, eu não tinha pensado no irmão
de Ethan nem uma vez. Tudo me veio à mente de repente e percebi que Ethan
deve ter me beijado apenas para deixar Owen com ciúmes. Definitivamente,
era algo que eu deveria ter considerado antes de nos beijarmos.

160
O que era mais difícil de engolir era a consciência de que, embora o convite
para o baile do Ethan tivesse sido a coisa mais incrível que alguém já tinha
feito por mim, ele só tinha feito isso para sustentar a mentira que tínhamos
começado.

Eu precisava me lembrar de que tudo o que tinha acabado de acontecer era


falso. Ethan estava apaixonado por outra garota e essa noite era apenas parte
do plano. O único problema era que Ethan era tão convincente que eu estava
tendo dificuldade em convencer o meu coração de que estávamos apenas
fingindo.

161
14 - Ethan

Essa noite estava se tornando a melhor noite da minha vida. Não só a banda
tocou melhor do que nunca antes, mas Hayley adorou a música que toquei
para ela. Ela ainda estava sorrindo de orelha a orelha enquanto eu a levava
para casa e meu peito enchia de felicidade ao saber que eu tinha colocado
aquele sorriso no rosto dela.

— Como você sabia tocar uma música da Taylor Swift? — ela exclamou.

— Não posso revelar todos os meus segredos — não que fosse um grande
mistério. O quarto dela ficava logo do outro lado da cerca do meu e ela não
mantinha o volume baixo quando estava ouvindo música.

— E a forma como você deu um toque de rock foi tão legal. Não sei como você
fez isso.

— E eu não sei como você faz mortais para trás.

— Mortais para trás são fáceis. — Ela resmungou. — O que você fez lá fora
esta noite foi especial, nem todo mundo pode aprender a fazer isso. Você sabe
disso, né?

Havia tanta sinceridade na voz dela que minhas bochechas começaram a


esquentar. Já tinha recebido muitos elogios sobre minha música antes, mas
nenhum deles significava mais para mim do que os de Hayley.

— Só estou tocando algumas notas diferentes juntas — eu disse.

— Algumas notas, minha bunda — murmurou baixinho.

— E como é que ninguém na escola sabe o quão incríveis vocês são?

— Não é exatamente algo que eu divulgue na escola — dei de ombros.

— Você não quer que as pessoas saibam o quão incrível você é? — perguntou
franzindo um pouco a testa.

162
Balancei a cabeça e sorri.

— Tudo o que eu quero é que as pessoas de quem eu me importo gostem do


que eu faço.

Um sorriso suave se formou em seus lábios. Eu queria dizer a Hayley que ela
era uma dessas pessoas, queria dizer o quanto essa noite tinha significado,
que o beijo que compartilhamos foi um dos momentos mais marcantes da
minha vida. Mas eu não podia dizer nada disso. Não podia contar a verdade
enquanto ela ainda gostava do meu irmão.

Continuamos falando sobre o show durante o resto da viagem para casa. Pela
forma como Hayley continuou elogiando nossa apresentação, eu temia que
teria dificuldade em sair do carro, porque minha cabeça estava começando a
inchar de tanto orgulho. Quando finalmente parei na entrada da minha casa,
ela parecia hesitante em sair do carro. Ela olhou para a casa dela pela janela
do passageiro e soltou um suspiro.

— Acho que eu deveria entrar — disse sem se mover para sair e eu esperava
que fosse porque ela queria ficar comigo um pouco mais. Eu não estava pronto
para dizer boa noite a ela, porque nunca quis que essa noite terminasse.

Deixando escapar outro suspiro, Hayley abriu a porta. Ela se moveu devagar,
como se fosse doloroso deixar o carro. Pelo menos, era isso que eu esperava
que ela estivesse sentindo. Eu também saí do carro e encontrei-a na calçada.
Ela estava torcendo as mãos enquanto olhava para cima para mim e havia um
toque de incerteza no olhar dela.

— Obrigada pela minha música esta noite.

— Não foi nada — eu disse.

— Não, foi tudo — ela deu um passo em minha direção e envolveu gentilmente
seus braços ao redor da minha cintura. Não hesitei em puxá-la para mais
perto e retribuir o abraço. Ficamos ali por vários segundos longos e achei o
abraço impossível de quebrar. Como um gesto tão simples podia ter tanto
significado? Parecia quase tão íntimo quanto o beijo que tínhamos

163
compartilhado mais cedo nesta noite e, pelo jeito que Hayley continuava me
abraçando, eu esperava que ela pudesse estar sentindo o mesmo.

Suas bochechas pareciam um pouco coradas quando ela se afastou do abraço,


mas ela virou antes que eu pudesse ter certeza.

— Até segunda-feira, Ethan — ela chamou enquanto se apressava em direção


à casa dela. Ela parecia tão relutante em me deixar antes, mas agora parecia
que ela queria se afastar o mais rápido possível. Eu realmente não entendia
as garotas, e Hayley era mais complicada do que a maioria. Ainda assim, eu
sentia que mal tocava o chão quando entrei em casa. A noite tinha sido um
sucesso completo.

— Como foi o show, querido? — minha mãe perguntou quando entrei.

Segui a voz dela até a sala de estar e a encontrei assistindo TV. Ela sorriu
quando entrei na sala e desligou o programa que estava assistindo.

— Foi ótimo — eu disse, apoiando-me no batente da porta.

— Hayley gostou da música?

— Sim, ela adorou.

— Ah, eu sabia que ela ia gostar. Quando você me contou o que estava
fazendo, achei a coisa mais fofa que já ouvi — ela disse batendo palmas.

— Mãe — eu resmunguei. — Não foi fofo.

— Definitivamente foi.

Balancei a cabeça e me aproximei para dar um beijo na bochecha dela.

— Estou exausto, então vou para a cama.

— Doces sonhos, querido — ela disse.

— Sim, para você também.

164
A adrenalina do show estava começando a passar enquanto subia as escadas.
E meu cansaço realmente me atingiu quando alcancei o patamar e encontrei
meu irmão parado no corredor.

— Eu vi a sua apresentaçãozinha hoje à noite, não posso dizer que estou


impressionado. — Sua voz era condescendente e, se suas palavras não
deixassem claro que ele achava que a minha banda era uma piada, o esgar de
desprezo em seu rosto certamente cumpriu a função. — A proposta de ir ao
baile no final foi uma das coisas mais patéticas que já vi.

Até agora, eu tinha esquecido completamente que Owen tinha planejado vir
ao show hoje à noite. Eu não o vi e nem os amigos dele durante minha
apresentação. Hayley também não tinha mencionado ele, então eu estava
supondo que ele não tinha se feito presente para ela.

— É, bem, eu não tenho certeza por que você se deu ao trabalho de vir.

— Como eu disse, estava apoiando meu irmão.

— É, claro que estava — fui andar direto por Owen, mas ele me parou
pressionando uma mão firmemente contra o meu peito.

— Posso ajudar em alguma coisa? — perguntei.

— Na verdade, pode — ele abaixou a mão do meu peito e enfiou as mãos nos
bolsos traseiros. — Acho que já que eu estava lá para te apoiar hoje à noite,
talvez seja hora de você tentar mostrar um pouco de apoio para mim
também…

— E o que exatamente isso significa? — franzi a testa.

— Mamãe cortou minha mesada como parte do castigo por eu ter perdido
minha bolsa de estudos — ele disse. Sua voz estava tensa, como se lhe doesse
fisicamente admitir isso. — Você pode me emprestar algum dinheiro? Eu vi a
multidão de pessoas no seu show hoje à noite. Você deve ter recebido um
pagamento decente por isso.

— Você quer que eu te empreste dinheiro? — Eu perguntei, mal conseguindo


esconder minha surpresa. Owen nunca me pediu nada.

165
— Sim — ele disse com os dentes cerrados, era claro que ele estava
envergonhado de estar pedindo e não conseguia encarar meu olhar. — Então,
você pode fazer isso?

— Para o que é??

— Um bom irmão não faria perguntas — Owen apenas cruzou os braços sobre
o peito.

— É, bem, considerando que você perdeu sua bolsa de estudos por vender
drogas na escola, eu tenho que me perguntar se você não está apenas
financiando seu próximo investimento — não é como se ele fosse um traficante
ou algo assim, mas Owen estava vendendo maconha para todos os seus
amigos. Eu detestava a ideia de ele repetir isso na Lincoln, o que é o motivo
pelo qual eu tentei manter a causa de sua expulsão em segredo na escola. Eu
não queria que as outras crianças tivessem ideias sobre Owen e o
convencessem a vender de novo.

Os lábios de Owen permaneceram cerrados enquanto ele me lançava um olhar


furioso. Quando ele não respondeu, eu assumi que tinha acertado em cheio.

— Você sabe que não pode fazer essa merda de novo — eu o repreendi. — Já
estragou bastante a sua vida. Não repita o mesmo erro.

— Como se você se importasse — ele resmungou.

Meu irmão era um idiota, mas é claro que eu me importava com ele. Eu não
queria que ele se metesse em mais problemas. Ser expulso seria o menor dos
seus problemas se a polícia descobrisse sua pequena operação. Ele teve sorte
que a antiga escola dele não o denunciou.

— Eu me importo — eu disse. — É por isso que não vou te dar dinheiro algum.

— Não é para drogas, Ethan. Apenas me empresta o dinheiro — pediu


novamente, mas sua expressão se tornou sombria.

— Não posso correr esse risco — abanei a cabeça para ele. — Eu estou te
fazendo um favor — disse antes de passar por ele e seguir para o meu quarto.

166
— Você vai se arrepender disso — Owen ameaçou.

Fechei a porta do meu quarto, o cortando. Eu me senti mal por dizer não a
ele, mas me lembrei que eu recusei ajudar meu irmão a estragar seu futuro.
Descansei minha cabeça contra a porta fechada enquanto respirava fundo, a
noite tinha sido incrível, mas um encontro com o meu irmão e ela rapidamente
se transformou em lixo. Tê-lo em casa era muito mais difícil do que eu tinha
imaginado.

***

Hayley estava praticamente pulando enquanto vinha ao meu encontro no meu


carro na manhã de segunda-feira. Ela estava sorrindo de orelha a orelha e
parecia transbordar de felicidade. Alguma coisa realmente boa deve ter
acontecido para colocá-la de tão bom humor.

— Adivinha? — Ela perguntou.

— Tem uma liquidação na sua loja de roupas favorita?

— Quem me dera. Adivinha de novo.

— A escola foi cancelada?

— Não.

— Você fez uma tatuagem com o meu nome no braço?

— Você é péssimo nesse jogo — ela riu. — Não, o meu carro vai ser consertado
hoje! Estará pronto para pegar depois da aula.

— Finalmente. Eu estava preocupado que eu teria que te levar por aí para


sempre.

— Ei! — exclamou ela me dando um soco no braço e eu me afastei fingindo


estar magoado.

— Ai…

167
— Isso não deve ter doído — ela riu.

— Você tem punhos de fúria. Vou ter sorte se conseguir segurar minha
guitarra de novo — ela revirou os olhos para mim, mas eu sorri

— Então, você precisa de carona até a oficina para pegar o seu carro? Desde
que eu ainda possa dirigir e tudo… — Olhei significativamente para o braço
que ela tinha acabado de socar, fazendo-a rir de novo.

— Obrigada, mas meu pai vai sair mais cedo do trabalho para me levar — ela
disse negando minha carona com a cabeça. — Acho que ele quer me dar mais
uma bronca sobre ser uma motorista mais responsável ou algo assim. Não sei
quantas vezes eu preciso dizer a ele que às vezes carros simplesmente
quebram e não foi culpa minha.

— Talvez o mecânico explique isso para ele?

— Espero que sim — ela respondeu.

— Então, nada de mais caronas juntos para a escola…

— Acho que não — sua expressão caiu por um momento antes de se animar
novamente. — Mas você ainda é meu namorado, então você não vai se livrar
de mim tão facilmente.

— Eu nem sonharia com isso.

Ela sorriu enquanto eu abria a porta do carro para ela antes de fechá-la
delicadamente assim que ela se acomodou no banco do passageiro. Fiquei
triste por essa ser nossa última ida para a escola juntos. Nossas idas juntos
era uma das melhores partes do meu dia e eu esperava por elas muito mais
do que podia admitir a ela. Enquanto entrava no carro, Hayley começou a
pular em seu assento.

— Ah, quase esqueci, eu tenho mais uma adivinhe o quê.

— Outra? Eu estava pelo menos perto de acertar com as minhas outras


tentativas? — eu ri.

168
— Nem um pouco.

— Acho que você vai ter que me contar então.

— Prefiro te mostrar — ela pegou o celular na bolsa e virou para mim. —


Preciso que você me ligue.

— Okay… — Tirei o celular do bolso de trás e percebi que havia um pequeno


problema com o pedido dela. — Pode ser um pouco difícil sem o seu número…

— Você pode salvar como Falsa Namorada/Fã Número Um da Velocity — ela


disse corando e rapidamente me passou o número dela.

— Número um, hein? A Isla poderia discordar.

— Você pode só me ligar? — ela pediu.

— Okay, okay — toquei em chamar e a tela dela se acendeu quando o telefone


começou a tocar. Assim que ouvi o toque, meu peito se encheu de calor. Era
uma gravação da voz da música da Taylor Swift que eu tinha cantado para ela
no fim de semana.

— Como você conseguiu esse áudio?

— A Isla gravou um vídeo da música, e eu pedi para ela me mandar.

— E você colocou como toque de chamada?

— Não é todo dia que um cara canta a sua música favorita para você. Acho
que você não sabe o quanto eu amei — Hayley deu de ombros.

— Bem, fico feliz que você tenha gostado — ela não sabia o quanto eu amei
cantar aquela música para ela.

— Gostei.

Liguei o carro enquanto Hayley se acomodava no banco. Era tão fácil estar
com ela assim que me fazia desejar mais uma vez que nosso relacionamento

169
fosse real. Não tinha percebido o quanto eu ia adorar passar tempo com
Hayley, seria realmente difícil superar isso quando nosso tempo juntos
chegasse ao fim.

Eu tinha que continuar lembrando a mim mesmo que ela não me via desse
jeito e que Owen era quem ela queria. Eu tinha esperanças de que pudesse
fazê-la mudar de ideia, mas não estava certo se estava fazendo o suficiente.
Talvez ela tenha amado tanto minha música a ponto de colocá-la como toque
de chamada, mas isso não significava que ela também me amava. Quando
chegamos à escola, hesitei antes de sair do carro.

— Então, você pensou mais sobre seus planos para conquistar Owen?

— Ah, mais do mesmo, acho — ela se mexeu no banco, mas não me olhou nos
olhos ao responder.

— Mais do mesmo?

— Sim, mais mão dada na escola e encontros e essas coisas — ela disse. Ela
parecia vaga e quase desinteressada, como se o assunto a deixasse
desconfortável.

— Você ainda quer que ele te convide para o baile, certo?

— É, acho que sim — sua testa franziu com a pergunta.

— Okay…

Ela levantou o olhar para mim, e tive a sensação de que ela estava nervosa.

— Quero dizer, é claro que eu quero ir com ele, mas estou preocupada com
você. Seu convite para o baile na outra noite… — Sua testa se franziu como
se ela estivesse procurando as palavras, mas todas saíram em um fluxo
apressado assim que ela começou a falar de novo. — Bem, eu sei que você não
estava realmente me convidando para o baile e que era apenas para ajudar a
convencer seu irmão sobre nosso relacionamento falso, mas eu continuo
pensando que isso pode ter arruinado suas chances com a garota de quem
você gosta — disse inspirando profundamente antes de continuar. — Como

170
você pode levá-la ao baile depois de me convidar daquela maneira? — sua voz
tinha ficado quieta e seus olhos estavam grandes de preocupação.

Eu não tinha ideia de como ela queria que eu respondesse, eu nem sabia a
resposta eu mesmo. Definitivamente, eu não estava pensando no meu irmão
quando cantei para ela, e ela era a garota misteriosa, então eu já estava indo
ao baile com exatamente a pessoa que eu queria. O que eu ia dizer? Reuni
meus pensamentos por vários segundos antes de responder.

— Como eu disse antes, não estou preocupado em levar a garota que eu gosto
ao baile, ela é especial o suficiente para que eu esteja disposto a esperar. E eu
não cantei aquela música para fazer meu irmão sentir ciúmes, eu cantei
porque você merece ser convidada para o baile da maneira certa. Se as coisas
não funcionarem com Owen, nós ainda vamos, certo?

— Certo…

— Então, eu queria te convidar da maneira que achei que você merecia.

Hayley começou a sorrir lentamente, e senti a pressão ao redor do meu


coração aliviar com a visão. Eu não estava mais claro sobre se os sentimentos
dela por Owen haviam mudado, mas me senti encorajado pelo fato de ela não
parecer tão ansiosa para ir ao baile com ele quanto estava quando começamos
tudo isso.

— Você ainda está preocupada? — perguntei.

— Não tanto — ela balançou a cabeça devagar.

— Ok, ótimo.

Ela parecia muito mais feliz enquanto saímos do carro e entrávamos na escola
de mãos dadas. Porém, tive a sensação estranha de que algo não estava certo
enquanto caminhávamos pelo corredor. As pessoas continuavam a olhar na
nossa direção e várias garotas com quem eu nunca tinha conversado antes
me cumprimentaram ao passarmos.

Eu dei um breve aceno, mas fiquei chocado demais para responder. Por que
elas estavam de repente falando comigo? Eu estava segurando a mão de

171
Hayley há uma semana, então talvez a popularidade dela de alguma forma
estivesse me contagiando.

Minha confusão só aumentou quando seguimos para a sala do diretor. Os


olhares curiosos nos seguiram durante todo o caminho e um grupo de garotas
riu quando passamos, não havia nada de normal nesse comportamento.
Assim que Hayley e eu nos sentamos na sala, perguntei a ela se sabia o que
estava acontecendo, ela havia começado a se sentar ao meu lado na sexta-
feira e fiquei feliz em ver que não foi algo isolado.

— Ah — ela respondeu. — A atenção extra pode ser culpa minha.

— Porque… — eu a incentivei.

— Porque a Hayley compartilhou o vídeo do seu show em todas as redes


sociais — disse Isla, sentando-se do outro lado de Hayley. — Metade da escola
a segue, então praticamente todo mundo viu.

— Você não está chateado, está? Por favor, me diz que você não está chateado,
eu não achei que seria um problema — Hayley corou e olhou na minha
direção.

Eu não estava exatamente chateado, mas também não sabia ao certo como
me sentir. Eu adorava apresentar minha música, mas não queria chamar
atenção para mim na escola por causa disso.

— Caramba, você está chateado — disse Hayley quando eu não respondi. —


Eu posso tirar — ela pegou o celular, mas rapidamente coloquei minha mão
sobre a dela para impedir.

— Você não precisa tirar o post.

— Você tem certeza? Porque não me importo — ela disse e eu balancei


rapidamente a cabeça.

— O que você disse sobre a música, afinal?

— Umm…

172
O celular dela estava aberto em sua conta do Instagram, então eu o peguei e
olhei para a tela. Eu podia ver o vídeo do show como a postagem mais recente
dela e, abaixo dela, ela tinha escrito uma fileira inteira de emojis de coração.
Eu sorri ao olhar para eles.

— Os emojis de coração são pela música, pelo cara ou pelo convite para o
baile?

— Todas as opções acima? — Hayley deu de ombros.

Meu coração deu um pequeno salto quando eu devolvi o celular a ela. Eu


provavelmente estava interpretando demais os emojis de coração dela. Ainda
havia uma expressão preocupada no rosto dela e eu odiava ter feito ela se
sentir culpada por compartilhar o vídeo.

— Juro que não me importo que você tenha postado. Fiquei apenas surpreso,
só isso.

— Eu deveria ter perguntado primeiro — ela respondeu. — Sua performance


foi tão incrível. Sinto que todos no mundo precisam ouvi-la.

Seus olhos estavam grandes e cheios de sinceridade. Ela realmente amava


minha música e eu a deixaria compartilhá-la com qualquer um, se isso
significasse que eu poderia ouvi-la falar sobre isso dessa maneira.

— Obrigado, Hayley.

Ela me deu um sorriso caloroso antes de se inclinar para perto.

— Além disso, com toda essa atenção, sua garota misteriosa definitivamente
vai te notar agora, né? — disse com a voz baixa para que ninguém pudesse
ouvir.

— Isso é verdade — sorri brilhantemente enquanto ela se afastava de mim.


Ela talvez não soubesse que era a garota misteriosa, mas dada a maneira como
Hayley estava me olhando, eu não parecia invisível para ela agora. Eu ia
considerar isso uma pequena vitória.

173
Hayley franziu ligeiramente a testa ao perceber minha expressão feliz, mas
Isla puxou o braço dela e chamou sua atenção antes que eu pudesse entender
o motivo. As duas estavam se tornando muito próximas para o meu gosto. Eu
queria que elas fossem amigas, mas também estava preocupado com Isla
revelando acidentalmente a verdade sobre meus sentimentos muito reais por
Hayley.

— Ei, Romeu — disse Colin, sentando-se ao meu lado e eu revirei os olhos.

Hayley poderia ter adorado minha música da Taylor Swift, mas Colin nunca
me deixaria ouvir o fim disso. Ele tinha me chamado por esse nome estúpido
durante todo o fim de semana.

— Ouvi dizer que todo mundo na escola tem um novo cara para idolatrar —
continuou ele. — E o nome dele é Ethan Beck!

— Ninguém está me idolatrando — resmunguei. Pelo menos, ninguém que eu


me importasse.

— Quase todas as garotas com quem cruzei no caminho para a aula estavam
falando sobre o quão incrível foi o seu convite para o baile — ele respondeu.
— Elas não paravam de elogiar a sua voz e eu juro que ouvi uma delas usar o
termo 'nerd sexy'. Acho que isso é bem preciso, menos a parte do sexy, é claro.

— Claro.

Ele se aproximou mais de mim antes de continuar.

— Isso é ótimo para divulgação da banda — ele disse. — Ouvi pessoas falando
em vir ao nosso próximo show.

Isso, pelo menos, era algo que eu poderia apoiar. Eu talvez não quisesse
atenção extra na escola, mas quanto mais pessoas viessem nos assistir,
melhor.

— E tudo isso só por causa da postagem da Hayley? — perguntei e ele negou


com a cabeça.

174
— Ela não foi a única a postar a música. Algumas das amigas dela também
postaram, e todas têm muitos seguidores, depois daquele concurso de
solteiros que elas fizeram. Você deveria ler os comentários no vídeo, todo
mundo adorou.

— E você disse que era uma ideia estúpida.

— Tenho quase certeza de que eu disse que seria estúpido não fazer — ele
respondeu.

Eu ri. Sim, definitivamente não foi assim que nossa conversa aconteceu.

— Então, o que você vai fazer com sua nova fama? — perguntou Colin.

— O que todas as pessoas famosas fazem. Vou encontrar uma cabana na


floresta e me esconder até as pessoas terem esquecido como eu pareço.

— Bem, espero que a sua cabana tenha espaço suficiente para dois. Não tenho
certeza se a sua namorada vai deixar você ir sozinho — o canto da boca de
Colin se ergueu.

— Eu gostaria — olhei na direção de Hayley e sorri enquanto a observava


conversando animadamente com Isla.

Hayley era incrivelmente bonita, mas o que a tornava realmente especial era
o quanto ela se importava com as pessoas. Estávamos em um relacionamento
falso, então ela realmente não precisava fazer um esforço com os meus amigos,
mas desde a primeira conversa, ela os adotou como próprios. Eu podia ver o
quanto Isla e Colin também haviam aprendido a amá-la e eu sabia que não
era o único que ficaria com o coração partido quando ela seguisse em frente
com meu irmão.

Pensar em Hayley e Owen juntos fez uma expressão azeda se formar no meu
rosto. Meu irmão não a merecia e eu gostaria que Hayley pudesse enxergá-lo
como o cara que ele realmente era. Eu queria que ela percebesse o quão
perfeitos éramos juntos, mas parecia uma tarefa impossível quando ela estava
tão cega pelos sentimentos que tinha por Owen. O baile estava a menos de
duas semanas agora, e o meu tempo com ela estava se esgotando.

175
176
15 - Hayley

Eu estava me sentindo tão confusa e, pela primeira vez, não era porque eu
tinha acabado de sair da aula de matemática. Não era um sentimento novo
exatamente, mas certamente estava ficando mais perceptível nos últimos dias,
e tinha tudo a ver com o cara ao meu lado.

Ethan segurava minha mão enquanto ele me acompanhava até a sala de aula.
Minha pele formigava onde nos tocávamos e ele estava passando levemente o
polegar nas costas da minha mão, o que estava fazendo meu coração dar
pequenos saltos. Eu continuava olhando para nossas mãos, tentando
entender a reação, mas não consegui. Era apenas Ethan com quem eu estava
de mãos dadas, eu não deveria estar sentindo nada, certo?

Adicionando à minha confusão estava o sentimento que eu tinha quando ele


me perguntou sobre ir ao baile com Owen hoje de manhã. Eu tinha me sentido
dividida com a pergunta. Até aquele momento, eu acreditava que um encontro
com Owen era o que eu queria e a resposta deveria ter sido fácil, mas parecia
muito mais complicado do que um simples sim e fiquei chocada ao descobrir
que não tinha certeza do que eu queria mais.

Eu estava fora do meu normal desde então, e tinha passado a manhã tentando
entender meus sentimentos. Eu continuava tentando limpar minha mente
para poder pensar logicamente sobre isso, mas eu continuava me distraindo
enquanto caminhávamos pelo corredor. No começo, era minha mão
formigando, depois parecia que cada garota que passávamos estava piscando
os olhos para Ethan. Ele parecia completamente alheio a essa atenção
repentina, mas eu definitivamente havia percebido.

Eu estava supondo que as garotas da escola estavam notando ele, porque


tinham visto as imagens da apresentação dele na noite de sábado. Todas
estavam olhando para ele com olhos frescos e meu estômago retorcia ao
pensar na garota desconhecida por quem ele estava apaixonado. Nosso plano
estava claramente funcionando para muitas das garotas da escola e eu tinha
que me perguntar se estava funcionando para ela também. Ethan certamente
pareceu empolgado com a ideia quando eu mencionei a possibilidade para ele
na sala de aula, eu realmente gostaria que ele não parecesse tão feliz.

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Ele apertou minha mão imediatamente. Fez meu estômago revirar, mas eu
sabia que não deveria dar muito sentido a isso. Provavelmente, ele só estava
tentando parecer um bom namorado. E ele estava fazendo um ótimo trabalho
nisso.

— Então, te vejo no almoço? — eu perguntei a ele.

Ele hesitou, e sua expressão caiu um pouco.

— Eu estava pensando em talvez almoçar nas arquibancadas de novo hoje —


ele disse. — Toda a atenção que tenho recebido por causa do convite para o
baile está um pouco demais para mim. Não sei se aguentaria a cantina.

— Ah — acho que ele deve ter percebido todas as garotas dando uma conferida
nele. Eu entendia completamente por que ele gostaria de evitar seus olhares
curiosos, mas isso não significa que eu não estava decepcionada. Eu gostava
de almoçar com o Ethan. — Eu sairia e comeria com vocês, mas não vi a Madi
durante todo o fim de semana e não quero que ela pense que a abandonei.
Além disso, a Teagan finalmente voltou para a escola hoje e vai querer nos
contar tudo sobre sua experiência em Hollywood.

— Então, adiamos o almoço juntos?

Eu lhe dei um sorriso, embora não chegasse aos meus olhos. — Claro.

— E seu pai ainda vai te buscar depois da aula?

Eu assenti. O pensamento deveria ter me animado, porque eu estaria


recuperando meu carro, mas meu entusiasmo anterior tinha diminuído.
Ethan e eu não tínhamos mais aulas juntos pelo resto do dia e eu odiava não
vê-lo até amanhã.

— Eu acho que vou te ver amanhã então — eu disse.

— Sim, até lá — ele disse, mas não saiu imediatamente.

Em vez disso, ele abaixou lentamente os lábios até a minha bochecha e os


pressionou suavemente contra a minha pele. Formigou onde ele me beijou e

178
eu fechei os olhos enquanto inspirava o seu cheiro. Eu não tinha ideia de como
ele conseguia transformar um simples beijo na bochecha em algo tão
intoxicante, mas quando ele deu um passo para trás, eu me senti tonta e um
pouco atordoada.

Ele me deu um sorriso caloroso antes de se virar para ir embora. Eu o observei


sair, meu coração batendo rápido e minha bochecha ainda quente onde ele
tinha roçado os lábios nela. Eu não sabia bem o que estava acontecendo entre
nós, mas sabia que estava gostando disso.

***

Teagan estava praticamente flutuando enquanto entrava na cantina no


horário do almoço. Ela estava tão feliz que seus pés mal pareciam tocar o chão
enquanto ela caminhava e seu rosto estava radiante quando ela veio se sentar
à nossa mesa. Ela acabara de voltar de filmar um papel em um filme de
Hollywood, então não foi surpresa que ela estivesse de bom humor.

— Como foi? — Evan perguntou, quando ela se sentou.

— Você sabe como foi. Conversamos todas as noites — Teagan corou.

— Mas nós não sabemos — disse Madi.

— Sim, conta tudo — acrescentei e ela riu. Eu tinha recebido algumas


mensagens de Teags nas últimas semanas, mas elas tinham sido muito vagas
nos detalhes.

— Ok, ok. Foi incrível! — ela lutava para conter o sorriso radiante nos lábios.
— Eu só tinha um papel pequeno, e os dias eram longos, mas eu amei cada
segundo disso.

— E como foi com o Liam? — eu perguntei. Liam era o namorado dela e um


dos atores mais gatos de Hollywood. Não era tão difícil acreditar que ele estava
namorando Teagan, já que os dois tinham uma química tão boa. Além disso,
o fato de que eles ficavam perfeitos juntos não prejudicava em nada. Eles
deveriam estar em um anúncio de perfume ou algo assim e, conhecendo
Teagan, provavelmente estariam um dia.

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— Ele foi ótimo. Ele ainda tem mais um mês de filmagem, então vai demorar
um pouco antes de eu vê-lo de novo.

— Espera aí, então ele não vai ao baile? — expressão de Evan caiu.

Teagan balançou lentamente a cabeça, a decepção brincando em seus olhos.

— Ele não pode vir.

— Bem, você vai ter que ir comigo — disse Evan.

— Mas eu pensei que você estava namorando alguém… — Teagan começou a


franzir a testa.

— Não deu certo — Evan deu de ombros antes de envolver um braço ao redor
do ombro de Teagan e puxá-la para perto. — Além disso, eu prefiro mil vezes
ir com a minha melhor amiga.

Ela riu e tentou se livrar dele, mas ele segurou firme.

— Diga que você vai comigo… — ele disse, olhando para ela com os olhos de
cachorro abandonado.

— Eu vou se você me soltar.

— E é assim, meninas, que se consegue um par para o baile — ele disse


sorrindo triunfante e soltou o braço.

— Bem… não é bom fazer uma serenata para uma garota durante um show
— disse Teagan, concentrando sua atenção em mim.

Eu comecei a sorrir. Não pude evitar. Ethan cantando minha música favorita
foi a melhor coisa que já aconteceu comigo, e me enchia de felicidade sempre
que eu pensava nisso. O fato de ele não estar fazendo isso apenas como parte
do nosso relacionamento falso só me fazia amar ainda mais.

— Então, você está namorando o Ethan? — ela continuou.

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Eu engoli antes de responder. Eu não queria mentir para mais uma pessoa,
mas tudo fazia parte do acordo e a ideia de estar com o Ethan não parecia
mais tão distante.

— Sim, estamos namorando.

— Desde quando?

— Há pouco mais de uma semana.

— Bem, o convite para o baile dele foi muito fofo — Teagan elogiou. — Ele
certamente ganha pontos extras por isso.

— Fofo? — Evan respondeu. — Foi incrível. Eu não tinha ideia de que o Ethan
poderia cantar assim. Por favor, me diga que você vai me levar ao próximo
show dele.

Eu sorri com o entusiasmo de Evan. Eu adorava ter tido uma pequena parte
em espalhar sobre a banda do Ethan. Eu sabia que toda a atenção o deixava
nervoso, mas o talento do grupo era inegável e o mundo inteiro precisava ouvir
o quão bons eles eram. Meu estômago afundou quando percebi que talvez eu
não pudesse estar no próximo show dele. Seria depois do baile, então quem
sabe se eu ainda seria bem-vinda.

— Vamos ver — eu disse a Evan, provavelmente era melhor ser cautelosa.

— Vamos ver? — Evan balançou a cabeça para mim. — Vamos ver? Hayley,
achei que éramos amigos.

— Claro, somos amigos! Só não tenho detalhes sobre o próximo show deles,
mas se eu for, você pode ir.

— Bom — seu sorriso brincalhão habitual voltou, e ele parecia satisfeito com
minha resposta. Eu só esperava que Ethan não se importasse se nós dois
fôssemos e que eu não tivesse que decepcionar Evan.

— Ouvi dizer que o irmão do Ethan também voltou para a escola? — Teagan
perguntou.

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— Sim, ele voltou… — minha voz ficou mais fraca enquanto eu olhava para o
outro lado da sala onde ele costumava se sentar. Ele não estava na cadeira
dele e, ao invez disso, o vi se aproximando de nós. Era como se as palavras de
Teagan o tivessem convocado magicamente.

— Falando do diabo — Madi disse. — Por que ele está vindo até aqui?

— Eu não faço ideia — murmurei. Mal consegui dar a resposta antes que
Owen se juntasse a nós. Ele pegou uma cadeira enquanto se aproximava e a
colocou bem ao meu lado.

— Hayley — ele disse, me dando um de seus sorrisos irresistíveis.

Eu não pude deixar de notar como sua expressão carecia do calor de seu
irmão. Em vez disso, o sorriso estava cheio de excesso de confiança, como se
ele soubesse que ninguém poderia deixar de se sentir totalmente desarmado,
porque ele estava exibindo-o na nossa direção. Parecia ter o efeito oposto em
mim, porque em vez de relaxar, senti meu corpo se tensionar e uma leve
franzida apareceu em minha testa. Procurei em seus olhos o cara incrível que
eu sabia estar por trás de toda a fanfarronice, mas hoje não parecia conseguir
vê-lo.
— Ei, Owen — eu esperei que ele reconhecesse os outros na minha mesa, mas
quando ficou claro que ele não tinha intenção de falar com eles, eu continuei.
— Posso ajudar com alguma coisa?

— Só vim dizer “olá” para minha garota favorita — ele deu de ombros.

Minha garota favorita? Olhei para Madi, e ela parecia tão confusa quanto eu.
Uma semana atrás, mal lembrava o meu nome e agora eu era sua garota
favorita. Ethan tinha me dito que se eu namorasse com ele, então seu irmão
começaria a me notar, mas isso parecia uma virada drástica.

— Bem, oi… — eu disse me virando lentamente para ele novamente.

— Oi — ele riu como se achasse sua resposta engraçada antes de se inclinar


para a frente em sua cadeira. — Então, nenhum Ethan com você hoje?

— Não hoje. Ele está almoçando com os amigos.

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— Legal, legal — Owen ficou em silêncio por vários momentos antes de
continuar. — Na verdade, eu estava me perguntando se poderia te roubar por
um segundo?

— Uh, claro.

— Perfeito.

Ele pegou minha mão e me puxou para cima. Sua pegada estava um pouco
forte demais, a ponto de quase doer. Provavelmente ele só não sabia a própria
força.

— Até mais, pessoal — disse para meus amigos, dando de ombros.

Não ouvi a resposta deles enquanto Owen me arrastava para longe. Ele
continuou me puxando até que estivéssemos no corredor, parando assim que
saímos da cantina. Felizmente, ele soltou minha mão e o alívio que senti foi
instantâneo.

— Então, você me roubou — eu disse. — O que está acontecendo?

— Nada, na verdade. Eu só pensei que poderia ser bom para nós conversarmos
a sós.

— Ok…

— O que você achou do show do Ethan no sábado à noite?

— Foi incrível — eu elogiei, um sorriso natural se formando nos meus lábios


ao pensar na apresentação. — Você foi? O que achou?

— Sim, eu fui. Foi difícil de assistir aquele convite para o baile no final.

— Ah, por quê?

— Acho que foi difícil assistir meu irmão conseguir a garota mais bonita da
escola… — Owen olhou profundamente nos meus olhos enquanto falava e seu
olhar estava praticamente ardendo. No entanto, suas palavras não
provocaram reação em mim. Ele acabara de me chamar de garota mais bonita

183
da escola e eu não senti nada. Quase queria bater com o punho no meu peito
para verificar se meu coração ainda estava funcionando. Quando a única
reação que ele recebeu foi uma leve franzida, Owen continuou.

— De qualquer forma — ele disse. — Acho muito fofo como você apoia a banda
de Ethan, mesmo que eles não sejam tão bons assim.

— Mas eles são ótimos.

— Como eu disse, você é fofa.

Franzi a testa novamente e olhei para o chão, uma enxurrada de perguntas


passando por mim. Que jogo Owen estava jogando? O que ele queria, e por que
estávamos aqui fora conversando? Quando olhei para ele novamente, Owen
estava focado intensamente no meu rosto.

— Ei, você tem um cílio — ele disse e antes que eu pudesse me mexer para
tentar tirá-lo, ele levantou a mão e acariciou gentilmente meu rosto, passando
o polegar suavemente pela minha bochecha.

Fiquei olhando nos olhos dele, esperando que minha respiração prendesse e
minha pele formigasse, mas nenhuma dessas sensações veio. Mesmo olhando
nos olhos dele, eu não senti a sensação alegre no meu estômago que
costumava sentir na presença dele. Era como se meu corpo tivesse esquecido
completamente que já tive uma queda por esse cara.

Uma tosse no final do corredor fez meus olhos se desviarem do olhar de Owen.
Laurie estava na entrada da cantina, olhando para mim com um olhar
carrancudo. Isso não era algo exatamente novo, mas a intensidade do seu
olhar estava mais forte do que o habitual. Eu a tinha dando em cima de Owen
desde que ele havia voltado para a escola, então isso provavelmente explica a
reação. Parecia que ela não queria nada mais do que vir até nós e arrancar as
mãos de Owen de mim, mas ela virou e foi embora assim que percebeu que eu
a estava observando. Não era exatamente o estilo de Laurie fugir de uma
confrontação, e eu me perguntava por quê.

— Pronto — disse Owen, afastando a mão. — Sabe, acho que deveríamos sair
juntos alguma vez.

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— Deveríamos? — questionei, meus olhos voltaram rapidamente para ele.

— Sim, acho que está na hora de nos conhecermos melhor. Quero dizer, você
mora bem ao lado da minha casa e ambos somos bem populares. É natural
que sejamos amigos.

Deveria ter aproveitado a oportunidade. Era o momento que eu esperava desde


que Owen voltou para Lincoln. Meu coração, no entanto, não estava pulando
de empolgação, ao invés disso, meu corpo estava me pedindo para colocar
distância entre nós. Por que eu não estava feliz com a oferta de Owen?

— Claro, podemos sair juntos algum dia. — Dei a ele um sorriso forçado.

Não era a resposta que eu queria dar, mas isso era algo que eu desejei por
tanto tempo quanto podia lembrar. Não podia dizer não quando parecia que
meu plano de conquistar Owen finalmente estava funcionando.

— Ótimo. — Disse ele começando a dar um sorriso genuíno.

— Ótimo. — Por que eu não estava nas nuvens agora? Isso era exatamente o
que eu queria. — Bem, o sinal está prestes a tocar, eu deveria ir para a aula.

— Sim, claro — ele deu vários passos para trás enquanto voltava para a
cantina. — Vamos conversar em breve, Hayley.

— Mal posso esperar — respondi.

Por algum motivo, as palavras pareciam uma mentira. Assisti Owen ir embora,
me sentindo totalmente desanimada. Toda a conversa tinha sido tão estranha,
meu coração e minha mente não reagiram da maneira que eu esperava e eu
não estava empolgada com a ideia de passar tempo com Owen como eu sabia
que deveria estar. Mesmo quando olhava nos olhos dele, não vi nenhum
vislumbre do cara sensível e vulnerável que eu achava que estava escondido
dentro dele. Se algo estava escondido sob seu sorriso encantador, parecia ser
apenas arrogância.

Felizmente, Madi saiu das portas da cantina apenas momentos depois de


Owen me deixar. Eu realmente precisava da minha melhor amiga depois disso.

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— O que Owen queria? — Ela perguntou quando se aproximou de mim. Seu
rosto estava reservado e eu pude ver que ela estava se esforçando para não
revelar o que estava sentindo.

— Eu não sei ao certo — eu respondi. — Toda a conversa foi estranha, mas


acho que ele finalmente está me notando.

— Porque você está namorando o irmão dele…

— Sim.

Eu não tinha entendido completamente como esse conceito seria estranho até
experimentar na prática. Quero dizer, fazer Owen sentir ciúmes tinha soado
bom na teoria. Mas que tipo de cara iria atrás da namorada de seu próprio
irmão? Não tinha certeza se queria saber a resposta para essa pergunta.

— Ele disse que deveríamos sair juntos — eu disse.

— E o que você respondeu?

— Que poderíamos. — Um leve sinal de preocupação finalmente apareceu no


rosto de Madi, e eu rapidamente continuei. — Foi mais tipo um 'talvez'. Não é
como se tivéssemos marcado uma data ou algo assim.

O silêncio se estendeu entre nós e eu quase pude sentir a desaprovação de


Madi no ar ao redor dela. Ela claramente estava segurando sua opinião de
mim.

— Só me diga o que você está pensando… — pedi, soltando um suspiro.

— Apenas que não tenho um bom pressentimento sobre isso — ela disse. —
Quero dizer, quanto realmente sabemos sobre Owen hoje em dia? Ele foi
expulso da última escola dele, e isso parece um sinal vermelho para mim.

— Não sabemos por que ele perdeu a bolsa de estudos — eu argumentei. — E


duvido que tenha sido porque ele fez algo ruim. Provavelmente ele só deixou
suas notas caírem.

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— Acho que teve mais do que isso — Madi balançou a cabeça. — Cole ouviu
algumas coisas de alguns dos caras do time de futebol.

— Que coisas?

Um grupo de estudantes saiu da cantina, e Madi cruzou os braços ao redor


da cintura enquanto esperava eles passarem.

— Tudo o que ele ouviu foi que Owen se meteu em muitos problemas e teve
sorte de a polícia não estar envolvida.

— Tenho certeza de que é apenas conversa de vestiário. — Engoli um nó


pesado que se formou em minha garganta.

— Você tem certeza?

O buraco no meu estômago me dizia que eu não tinha, mas ela não precisava
saber disso.

— Olha, ele merece o benefício da dúvida — respondi.

— Então, você vai seguir em frente com o seu plano?

Fiquei em silêncio por vários segundos. Owen Beck tinha sido o cara dos meus
sonhos durante toda a minha vida, mas eu não estava tão certa de que ainda
era o caso. Passar tempo com Ethan me fez questionar tudo, e meus
sentimentos estavam uma bagunça. Meu coração não acelerava quando
conversava com Owen, e minha pele não formigava sob seu toque. Se havia
uma coisa que eu tinha aprendido hoje, era que Owen não despertava
nenhuma das emoções que eu começava a sentir por Ethan.

Infelizmente, não era tão simples assim. Ethan estava apenas comigo para
chamar a atenção de outra garota. Ele não gostava de mim de forma mais do
que amiga, e o que quer que eu sentisse era completamente unilateral. Eu
poderia me machucar se deixasse esses sentimentos continuarem se
desenvolvendo e eu precisava apagá-los o mais rápido possível.

Seria provavelmente melhor se eu terminasse a farsa toda com Ethan, mas


não conseguia me forçar a fazer isso. Queria que Ethan fosse feliz e ele

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precisava desse relacionamento falso para conquistar a garota dos seus
sonhos. Enquanto refletia sobre isso, senti todo o meu objetivo para o plano
mudar. Nosso relacionamento não era mais sobre mim: era sobre Ethan.

— Hayley? — Madi incentivou.

— Cheguei tão longe com o plano, — dei a ela um sorriso forçado, sabendo o
que eu tinha que fazer — eu devo a mim mesma segui-lo até o fim.

— E quanto a Ethan?

— E quanto a ele? — Tentei manter meu rosto impassível ao mencionar o


nome dele.

— Eu vi como seu rosto se iluminava quando você estava falando sobre a


música que ele tocou para você.

— Sim, porque foi incrível — eu respondi. — E ele cantou Taylor para mim,
como eu não poderia gostar?

— Gostar da música ou gostar dele?

O sinal tocou de repente, sinalizando o fim do intervalo, e senti que a


interrupção não poderia ter vindo em melhor hora. O corredor tinha estado
relativamente quieto até agora, mas grupos de pessoas pareciam surgir do
nada. Balancei a cabeça e comecei a me afastar de Madi enquanto me dirigia
para a aula.

— Eu não gosto de Ethan Beck.

Eu era uma mentirosa.

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189
16 - Ethan
Parecia que uma eternidade se estendia entre o agora e quando eu veria Hayley
novamente. O sino final havia acabado de tocar e um peso se instalou nos
meus ombros quando me lembrei de que não encontraria ela no carro após a
escola. Também não a levaria de carro de manhã, então teria que esperar até
o início da aula para ver o belo sorriso dela mais uma vez.

As pessoas ainda estavam me observando enquanto eu caminhava pelo


corredor, o que eu detestava, e eu só queria sair da escola o mais rápido
possível. Meu humor apenas piorou quando vi Laurie Wilson encostada na
porta do meu armário. Por que a rainha do gelo da Lincoln High decidiu que
aquele deveria ser seu lugar hoje? Ela não estava com ninguém, então eu não
conseguia entender por que ela estava lá. Seus olhos se iluminaram quando
ela me viu se aproximando.

— Ethan, eu estava esperando por você. — A líder de torcida da escola nunca


havia me dirigido duas palavras antes e achei muito difícil acreditar que ela
queria falar comigo agora.

— Você estava? — Olhei ao redor do corredor se esvaziando para checar se ela


não estava falando com outra pessoa, mas era o final do dia e todos estavam
se apressando para ir para casa. De alguma forma, ela tinha acertado meu
nome, mas eu não era o único Ethan nesta escola, então talvez ela tenha me
confundido com outra pessoa. — Tem certeza de que está falando com o cara
certo?

— Claro que sim, bobinho. Todo mundo sabe que você é o gêmeo do Owen —
ela disse soltando uma pequena risada.

— Certo. — Porque meu irmão popular era meu único atributo definidor na
vida. Sorte a minha.

— Olha, eu queria falar com você como amiga. — Ela continuou. Essa
conversa estava ficando mais estranha a cada minuto. — E eu sei que será
difícil de ouvir, mas você merece saber a verdade.

— Ok…

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— Você sabe que Hayley está te usando, certo? — ela disse respirando fundo.

Fiquei olhando para ela sem expressão em resposta.

— Hayley, sua namorada — Laurie esclareceu. — Ela está te usando.


Finalmente comecei a franzir o cenho. Eu estava bem ciente de que Hayley
estava me usando, mas isso fazia parte do nosso plano. Não conseguia
entender por que Laurie pensaria isso, ou por que ela se importaria o
suficiente para me contar.

— Realmente não sei do que você está falando. — Eu disse.

— Você é tão ingênuo assim? Ela está de olho no seu irmão. — Ela revirou os
olhos para mim.

— Por que você acha isso? — Outra coisa que eu estava ciente.

— Porque é óbvio. Eles estavam grudados um no outro no almoço.

— Estavam?

— Olhe. — Ela disse assentindo e erguendo o telefone para me mostrar a tela.

Baixei lentamente o olhar e vi que ela tinha tirado uma foto do corredor logo
fora da cantina da escola. A foto tinha sido tirada a certa distância, mas
claramente mostrava Owen com a mão acariciando a bochecha de Hayley.
Dada a angulação da foto, não consegui ver a expressão dela, mas não
precisava ver para saber como ela deve ter ficado radiante. Meus ombros
afundaram conforme eu falhei em controlar a onda de decepção que me
atingiu. Eu sabia que Owen começaria a prestar atenção em Hayley assim que
descobrisse que estávamos namorando, mas não tinha percebido que
aconteceria tão rápido. Eu não estava pronto para deixá-la ir.

Um sorriso puxou os lábios de Laurie, como se ela estivesse completamente


aproveitando minha decepção. De alguma forma, consegui me reunir antes de
responder a ela.

— Essa foto não prova nada. — Eu disse.

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— Prova que ela não é a garota certa para você — a voz de Laurie estava tão
confiante e eu odiava o quão facilmente suas palavras rachavam meu coração.
Ela estendeu uma mão segurando levemente meu braço e continuou. — Eu vi
o seu convite para o baile e você merece muito mais.

Meus olhos se arregalaram a ponto de parecer que eles poderiam sair da


minha cabeça. O mundo deveria ter virado completamente de cabeça para
baixo e de dentro para fora para que Laurie estivesse falando comigo assim.
Ela não era minha amiga, ela nem sequer era uma conhecida. Não fazia
sentido ela estar conversando comigo, muito menos tentando me consolar.

— Por que você está me contando tudo isso?

— Porque você merece saber — ela disse. — E talvez, secretamente, eu esteja


esperando que você perceba que há outras garotas por aqui que te valorizam
mais.

Havia um olhar flertante em seus olhos, e era bastante evidente que ela estava
falando dela mesma.

— Vocês não são amigas? — perguntei cautelosamente.

— Por favor, não me faça rir — ela respondeu. — Só porque estamos na mesma
equipe de líderes de torcida não significa que temos que ser amigas.

Supus que isso explicava porque Laurie estava tão disposta a jogar Hayley
debaixo do ônibus. Não explicava, porém, por que ela estava de repente
interessada em mim, Laurie nunca se importou comigo antes. O que ela tinha
a ganhar com isso agora? Duvidava que ela estivesse fazendo isso
simplesmente porque tinha visto o vídeo do meu show e gostou do som da
minha voz cantando.

— Então, você acha que talvez possa estar aberto a perceber outra pessoa? —
perguntei e ela piscou seus longos cílios para mim, me movi para me livrar do
seu aperto no meu braço.

— Olha, obrigado por compartilhar essa foto comigo, mas isso não muda nada.
Hayley ainda é a garota para mim.

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— Bem, não diga que eu não te avisei — Laurie suspirou e deu um passo para
trás.

Ela passou um dedo pelo meu braço antes de girar nos calcanhares e sair, me
deixando ainda mais confuso do que quando ela começou a falar comigo. Por
que Laurie de repente se importava comigo? Mas, mais importante, será que
meu tempo com Hayley finalmente havia acabado?

***

Não mencionei o encontro de Hayley com Owen quando a vi novamente. Era


apenas algumas horas após meu encontro com Laurie, mas a imagem
desapareceu da minha mente no momento em que abri a porta da frente e
encontrei Hayley ali parada. Ela estava sorrindo para mim tão radiante que
era fácil esquecer que ela tinha sentimentos pelo meu irmão. Levei um
momento para me lembrar de mim mesmo antes de conseguir falar.

— Hayley, o que você está fazendo aqui? — Perguntei, sua expressão diminuiu
um pouco e ela inclinou a cabeça.

— O quê? Uma garota não pode vir visitar o namorado? — ela perguntou.

— Claro que pode. Eu só estava me perguntando se havia algum motivo


específico…

— Pode ser que sim — ela disse. — Mas você vai ter que me convidar para
descobrir.

Havia um olhar brincalhão em seus olhos, e eu realmente queria saber o


motivo. Soltei uma risada e balancei a cabeça para ela.

— Você quer entrar?

Ela sorriu e assentiu enquanto eu dei um passo para trás para recebê-la. Meus
pais não estavam em casa e, felizmente, meu irmão também não estava.
Tínhamos todo o lugar só para nós, mas isso não duraria muito,
provavelmente minha mãe voltaria logo com as compras do supermercado.

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Levei Hayley para a sala de estar e fiz um gesto para que ela se sentasse no
sofá. Sentei ao lado dela, incapaz de resistir à oportunidade de estar perto
dela. Ela olhou ao redor e eu imaginei que estava procurando por Owen.

— Estamos sozinhos — eu disse a ela.

Notei que ela engoliu visivelmente ao ouvir isso e virou-se para me encarar.

— Seus pais não estão em casa?

— Não, e Owen também não está.

Ela assentiu, embora eu me perguntasse o que estava passando pela mente


dela, pois seu olhar desviou de mim um pouco rápido demais.

— Como está o seu carro? — Perguntei e seu corpo relaxou com a pergunta.

— Tudo consertado — ela respondeu. — Mas meu pai tem me dado sermão
desde que cheguei em casa. É parte da razão pela qual eu vim aqui, eu
precisava escapar. Juro, ele tem repetido o mesmo monólogo sobre segurança
ao volante nas últimas horas.

Tentei conter um sorriso. Hayley começou a usar gestos com as mãos para
enfatizar seu ponto. Ela era fofa quando estava agitada.

— Então, o mecânico não conseguiu convencê-lo de que não foi culpa sua?

— Ele fez o melhor que pôde e disse a ele que era porque algum computador
no carro estava quebrado, mas meu pai não parecia querer ouvir. Ele pode ser
um tanto teimoso às vezes. — Ela balançou a cabeça.

— Hmm, deve ser de onde você herdou isso.

— Ei! — ela deu um tapa no meu braço, me fazendo rir. — Eu não sou teimosa.

— Prefere que eu te chame de determinada?

Ela pensou por um momento antes de sorrir.

194
— Sim, essa é provavelmente a palavra mais precisa. E, falando de
determinação, estive pensando no nosso plano…

— Ok?

— Sinto que deveríamos estar fazendo mais para fazer com que Owen e a sua
garota misteriosa nos notem. O baile é na próxima semana e estamos ficando
sem tempo. — Eu queria que nossa conversa não tivesse virado para o meu
irmão e senti que Hayley estava enganada em sua avaliação da situação. Owen
estava notando-a rápido demais para o meu gosto e eu não queria nada mais
do que escondê-la.

— O que você está sugerindo? — perguntei, relutante.

— Bem, em primeiro lugar, — ela respirou fundo antes de continuar — acho


que ajudaria se eu soubesse mais sobre a garota de quem você gosta…

— Nada feito. — Neguei com a cabeça.

— Vamos, Ethan. Eu quero que esse plano funcione para você, então você tem
que me dar algo para trabalhar aqui!

Pânico me atravessou e fiquei sem saber como responder. Pareceria suspeito


se eu continuasse mantendo essa garota em segredo de Hayley. Depois de
passar tanto tempo juntos, nos tornamos amigos, e que tipo de amigo iria a
esses extremos para manter um crush em segredo? Ela só iria continuar me
perguntando sobre a garota e eu era terrível em mentir, mas talvez se eu lhe
desse uma dica sobre o meu crush, talvez isso fosse suficiente para acalmá-
la.

— Por favor, Ethan. Estou tentando ajudar.

Engoli, embora o movimento não tenha feito nada para aliviar a tensão que
me apertava. Era hora de dar a ela um pequeno fio de verdade.

— Tudo o que estou disposto a lhe dizer é que ela é uma líder de torcida.

— Ela é? — Os olhos de Hayley se arregalaram

195
— Sim, mas é só isso que você vai ter, não vou lhe contar quem ela é — as
sobrancelhas de Hayley se juntaram e ela desviou o olhar de mim. Ela ficou
completamente em silêncio e eu não tinha ideia do que ela estava pensando.

— Hayley? — Perguntei depois de um minuto ter passado sem uma palavra


dela.

— Desculpe, estava apenas pensando — seus olhos se concentraram em mim


novamente e ela me deu um sorriso.

— E…

— Saber que ela é líder de torcida é realmente útil. Eu posso falar bem de você
nos treinos e todas as garotas do time viram o seu pedido de convite para o
baile, que obviamente foi incrível. Sem saber quem é a pessoa exata, porém,
não posso ter certeza se está funcionando…

— Não vou dizer quem é — respondi.

— Sim, entendi — ela suspirou antes de parecer voltar a focar. Seus olhos
adquiriram um olhar determinado e seus lábios se inclinaram para cima,
como se ela tivesse tido uma ideia. — Ainda podemos fazer mais para fazer
Owen e a sua líder de torcida nos notarem.

Fiquei quieto enquanto a considerava. Não tinha certeza do que havia causado
tudo isso ou o porquê que Hayley de repente sentia que não estávamos fazendo
o suficiente. Eu tinha visto a foto no telefone de Laurie dela com Owen no
almoço e parecia que o plano estava funcionando muito bem. Ela deveria estar
comemorando a vitória, não sentindo que nosso plano era inadequado.

Ela parecia bastante focada na garota de quem eu gostava. Então, talvez, isso
explicasse porque ela estava sugerindo que fizéssemos mais para chamar a
atenção para nosso relacionamento. Talvez, ela estivesse preocupada que o
plano não estivesse funcionando para mim quando estava claramente
funcionando tão bem para ela? Duvidava que eu jamais entenderia o
funcionamento interno da mente de Hayley, mas não custava ouvi-la.

— Quando você diz que devemos fazer mais, o que exatamente você está
pensando? — Perguntei.

196
— Que precisamos elevar nosso relacionamento.

— E como nós elevamos?

— Bem, o ato de andar de mãos dadas na escola foi ótimo e seus dois
encontros foram incríveis. Mas, acho que realmente precisamos jogar o nosso
relacionamento na cara deles. Tipo, deveríamos postar fotos fofas juntos no
Instagram todos os dias.

— Certo…

— E pegue isso como exemplo — ela acenou para o espaço entre nós. —
Deveríamos estar em um relacionamento, devíamos estar sentados mais perto.
Me aproximei dela até que nossas pernas estivessem se tocando e coloquei
meu braço sobre o encosto do sofá.

— Assim está bom? — Perguntei.

— Melhor — sua respiração deu um solavanco quando ela assentiu.

Meu coração estava batendo rapidamente agora e estar tão perto de Hayley
tornava muito fácil sentir o doce aroma de seu perfume. Não conseguia ter
certeza porque Hayley queria elevar nosso relacionamento, mas
definitivamente não era contra a ideia, eu gostava demais de suas sugestões.

— Tem mais alguma coisa? — Minha voz saiu surpreendentemente rouca e


achei difícil olhar para qualquer lugar além de diretamente nos olhos dela.
Eles estavam enquadrados por seus longos cílios com reflexos mais claros de
verde neles que eu nunca tinha notado antes.

— Seria bom se fossemos vistos sendo mais íntimos. — Ela disse, sua voz mal
mais alta que um sussurro.

— Íntimos? — quase engasguei com a palavra. Meu coração disparou e eu


fiquei surpreso que Hayley não pudesse ouvir seus batimentos altos de onde
estava sentada.

197
— Tipo, beijar. — Ela esclareceu, enquanto um toque de nervosismo cruzava
seus olhos. Parecia envergonhada com a sugestão, mas realmente não deveria
estar.

Era algo que já tínhamos concordado em fazer como parte do nosso plano e
até já tínhamos compartilhado um beijo. Uma pequena parte de mim esperava
que talvez ela estivesse nervosa, porque esse próximo beijo poderia significar
algo mais para ela.

— Quero dizer, estou disposta a aguentar mais beijos, se você estiver — disse,
tentando soar muito mais tranquilo do que me sentia.

— Sim, acho que posso aguentar também — sua voz estava rouca e parecia
que ela realmente queria isso. Mas, com certeza, era apenas meu coração
apaixonado ouvindo o que queria ouvir. Hayley Lawson não poderia realmente
querer me beijar, poderia?

No entanto, seus olhos estavam em meus lábios e ela agora estava a apenas
um fôlego de distância. Minhas mãos estavam ansiosas para segurar seu rosto
com as palmas e meu estômago estava tenso enquanto eu resistia à tentação
de fechar a pequena distância entre nós. Seria realmente tão ruim se eu a
beijasse agora?

— Ethan, você não me disse que a Hayley estava vindo! — A voz da minha
mãe foi como um banho de água fria no rosto. Eu me afastei de Hayley e olhei
para a porta da sala de estar, onde minha mãe estava parada com sacolas de
compras nas mãos. Eu estava tão envolvido com Hayley que nem sequer a
ouvi abrir a porta da frente da casa.

Era difícil não perceber como os olhos da minha mãe estavam fixos no espaço
agora inexistente entre Hayley e eu no sofá. Havia um olhar atento em seus
olhos e eu sabia que estava em apuros. Minha mãe nunca precisou me
repreender por ter garotas em casa quando eu estava sozinho antes, mas eu
a ouvi ter essas conversas com Owen. Eu tinha quase certeza de que receberia
uma palestra semelhante mais tarde.

— Olá, Hayley. — Minha mãe continuou, dando a Hayley um sorriso sincero.


Minha mãe estava irritada, mas parecia que Hayley não estaria em apuros por
estar ali.

198
— Oi, Sra. Beck — Hayley sorriu para ela. — Precisa de ajuda para guardar
as compras?

— Não, são apenas essas poucas coisas hoje à noite — disse ela negando com
a cabeça e indo para a cozinha, nos deixando sozinhos novamente.

— Oh, você está encrencado por me convidar — disse Hayley e compartilhou


um sorriso cúmplice comigo assim que minha mãe saiu de vista.

— Bom, não é como se eu tivesse planejado. Você meio que apareceu na minha
porta sem aviso.

— Eu não te ouvi reclamando.

— Isso porque eu não estava.

Hayley riu, mas quando olhou para a porta pela qual minha mãe tinha
acabado de passar, soltou um suspiro.

— Acho que talvez eu deva ir para casa.

— Você não precisa ir embora… — eu disse e ela balançou a cabeça.

— Eu tenho toneladas de lição de casa para fazer hoje à noite e acho que sua
mãe quer falar com você.

Para mim, isso soava como uma boa razão para Hayley ficar. Eu preferiria
muito mais passar o tempo com ela do que receber uma palestra da minha
mãe. Eu também tinha minha própria lição de casa para começar, então não
me opus novamente.

Ela se levantou e eu a segui até a porta da frente. Parecia que ela havia
chegado apenas agora e eu não estava pronto para vê-la partir. Ela parou
quando estava parada no alpendre e olhou para cima para mim. Eu esqueci o
quão pequena ela era quando não estava usando saltos e parecia que eu a
dominava enquanto me apoiava na entrada.

— Obrigada por passar um tempo comigo — ela disse.

199
— Sempre — eu deixaria quase qualquer coisa para passar um tempo com ela
e não conseguia imaginar meu irmão fazendo o mesmo. Eu realmente desejava
que ela pudesse ver isso e ainda não conseguia entender por que ela gostava
mais de Owen do que de mim.

— Então, nos vemos amanhã? — Ela perguntou.

Eu acenei com a cabeça, embora meus pensamentos ainda estivessem focados


no meu irmão. Hayley virou-se para sair, mas eu estendi a mão para detê-la.

— Posso te perguntar algo?

— Sim — ela respondeu e eu respirei fundo antes de falar.

— Por que Owen? O que tem nele que você gosta tanto?

Seus olhos se iluminaram com surpresa, eu sabia que essa era a última
pergunta que ela esperava que fosse feita. Quando ela não respondeu após
vários segundos longos, rapidamente recuei.

— Você não precisa responder se não quiser. Estou apenas curioso.

— Não, está tudo bem — ela disse, embora seus olhos estivessem
preocupados. — Só estou tentando descobrir como responder.

Sua testa se enrugou em um fofo franzido, e tive a sensação de que a resposta


dela não era simples. Se ela gostasse dele apenas porque ele era popular ou
atraente, provavelmente já teria dito isso.

— Eu acho que a razão pela qual eu gostava tanto dele por tanto tempo era
porque eu sempre achei que havia mais nele do que o que todos os outros
viam. — Mais nele? Estávamos falando do mesmo Owen?

— Ok…

— Parecia que ele tinha uma alma profunda e sua atitude convencida era
apenas uma parede que ele erguia para esconder isso, como se tivesse medo
de mostrar ao mundo quem ele realmente era.

200
Eu mal tinha palavras para responder a ela. Ela não estava descrevendo meu
irmão, não podia ser. No entanto, eu mal tinha passado algum tempo com ele
nos últimos anos, será que de alguma forma eu tinha perdido a parte em que
meu irmão ganhou uma alma?

— O que te faz pensar isso?

— Você provavelmente vai achar que é bobo, mas foi na época do ensino
fundamental — disse com as bochechas corando um pouco. — Tínhamos que
escrever um poema para a aula de inglês e lê-lo para a turma. O poema de
Owen não era o que eu esperava. Suas palavras eram bonitas e tocantes. Elas
tocaram uma corda em mim e eu soube, naquele momento, que ele não era o
cara que todos pensavam que ele fosse.

— Um poema? — murmurei — Que poema?

— Devíamos escrever um poema de reflexão pessoal, não me lembro


exatamente o que ele escreveu, só lembro o que senti quando ouvi. Ele falou
sobre como ele não passava de uma sombra projetada por uma chama que
queimava tão intensamente. Como sua alma se sentia enjaulada e bloqueada
da vista.

Uma onda fria de choque me atingiu. Eram as minhas palavras. Ela não as
tinha entendido exatamente, mas aquele era o poema que eu havia escrito na
sétima série. E parecia que meu irmão, que estava em uma classe diferente
da minha, havia roubado o poema e o passado como se fosse dele. Eu sempre
pensei que tinha simplesmente perdido o pedaço de papel em que o tinha
escrito, acho que estava errado.

O fato de ele ter tirado algo tão pessoal de mim me fez sentir mal no estômago.
O poema não era sobre esconder uma personalidade verdadeira por trás de
um sorriso confiante, como Hayley pensava. Era sobre como as pessoas só
conseguiam ver meu irmão e que eu não passava de uma sombra em seu
rastro. Era a primeira vez que eu expressava isso de alguma forma, e eu não
podia acreditar que ele o tivesse roubado.

— Enfim, — ela continuou — acho que depois que ele leu o poema em voz alta,
comecei a perceber o quanto mais havia nele e gostei do que vi.

201
Hayley gostava do meu irmão por causa das palavras que eu tinha escrito. A
realização me atingiu como um caminhão desgovernado. Se Hayley tivesse me
ouvido ler o poema em voz alta na sétima série, ela teria gostado de mim em vez
disso? Eu nem conseguia começar a entender o quão confusa estava essa
situação.

— Você acha que é bobo — ela disse.

Eu pisquei várias vezes, percebendo que estava olhando para ela em silêncio
por tempo demais, e rapidamente fui responder.

— Não, não é bobo.

— Então por que você está me olhando de forma tão estranha?

— Motivo algum — eu não podia contar a ela a verdade. Não podia deixá-la
saber que ela estava apaixonada por uma mentira há anos.

— Definitivamente tem um motivo, desembucha.

— Não, não é nada — eu disse. — Só estou impressionado que você consiga


se lembrar de um poema de tanto tempo atrás.

— Como eu disse, isso me tocou — ela levantou um ombro em um encolher


de ombros. — Você acha que sou idiota por gostar de um cara por causa de
um poema?

— Eu nunca poderia pensar que você é idiota.

— Bem, de qualquer forma, agora você sabe por que comecei a gostar dele —
um pequeno sorriso curvou o canto dos lábios dela.

— Agora, eu sei — concordei.

— E eu deveria ir. A menos que você tenha outras perguntas para fazer…

— Não consigo pensar em nada.

202
— Ok, bom, até amanhã de manhã — ela se levantou e me deu um breve beijo
na bochecha antes de virar e sair andando.

Enquanto a observava partir, comecei a desejar que nunca tivesse perguntado


a ela por que ela gostava de Owen. Não havia nada que eu pudesse fazer para
mudar o passado e estava dividido sobre o quanto deveria contar a ela agora.
Seria devastador para Hayley descobrir que os sentimentos que ela
desenvolveu pelo meu irmão eram baseados em um poema que ele não
escreveu, mas será que eu realmente poderia deixá-la continuar acreditando
que ela gostava de um cara que não existia? Meu irmão não era o cara que ela
achava que ele era.

Fiquei parado na porta de casa muito tempo depois de Hayley ter ido embora,
muita coisa tinha mudado desde que Owen leu aquele poema na aula. Anos
haviam se passado e, se Hayley ainda tinha sentimentos por ele, eu tinha que
acreditar que eles eram baseados no homem que ele havia se tornado. O
poema era apenas um catalisador, se ela via mais em Owen do que todo
mundo via, então quem era eu para duvidar dos sentimentos dela?

Ainda assim, enquanto relembrava nossa conversa, uma pequena coisa


mantinha a esperança viva dentro de mim: se ela tinha gostado de Owen por
causa do meu poema, então talvez eu tivesse uma chance real com ela.

203
17 - Hayley

Naquela semana, fui à casa de Ethan todas as noites depois da escola com o
pretexto de deixar Owen com ciúmes e tirar fotos bonitas de nós para o meu
Instagram. No entanto, a verdade por trás de meus motivos era muito mais
sorrateira: eu não estava lá por causa de um relacionamento falso, eu
simplesmente gostava de sair com Ethan e queria fazer isso o máximo possível
antes que tivéssemos que nos separar.

No entanto, passar tempo com ele não estava ajudando a pôr um fim aos meus
sentimentos por ele, pelo contrário, estava piorando. Eles pareciam um tipo
de torneira vazando que, quanto mais você tenta fechar, mais água sai dela.
Mas como eu poderia parar de gostar do cara? Ele tinha o sorriso mais fofo e
eu estava ficando um pouco obcecada com aquelas ocasiões raras em que
aquele sorriso se transformava em uma risada. Ele também era incrivelmente
atencioso, sempre insistia em assistir ao que eu queria na TV quando
estávamos juntos. E ele até passou uma tarde me ajudando a aprender os três
acordes para tocar "Shake It Off", de Taylor Swift, no violão.

De alguma forma, consegui me atrapalhar. Era para ser uma música fácil de
aprender no violão, mas eu estava bem perdida. Talvez tivesse aprendido mais
com um professor diferente. Eu me distraía muito quando Ethan se movia
para corrigir meus dedos e frequentemente me esquecia de tocar quando ele
cantava junto com a música. Eu tinha que me lembrar o tempo todo de que
ele estava apaixonado por outra pessoa e eu também deveria estar.

— Como estão as coisas com Owen? — perguntou a Madi, enquanto


entrávamos juntas na cafeteria na sexta-feira.

— Owen? — Certo, Owen, o cara de quem eu supostamente deveria estar


apaixonada. Passei surpreendentemente pouco tempo pensando nele nesta
semana. — Não falamos desde segunda-feira.

Arrisquei um olhar na direção da mesa em que ele sempre almoçava. Ele


estava sentado ao lado de Laurie e tinha o braço casualmente sobre o ombro
dela. Eles pareciam o casal perfeito, rindo de uma piada juntos. Esperei por
um pontinho de ciúmes, mas em vez disso, não senti nada.

204
— Mas com certeza você o viu na casa de Ethan quando esteve lá depois da
escola, né?

— Quer dizer, eu o vi lá, mas ele geralmente está no quarto dele — respondi,
focando novamente em Madi. — E quando ele está por perto, Ethan e eu
estamos ocupados tentando deixá-lo com ciúmes, então ele tende a sair
irritado bem rápido.

— Então, você ainda está seguindo com o plano? — Madi inclinou a cabeça
enquanto me olhava.

— Obviamente — disse com um revirar de olhos. — Por que mais eu estaria


passando tanto tempo com Ethan?

— Por que ele é um cara legal?

— Bem, isso não dói — murmurei.

— O que não dói? — Virei para encontrar o Ethan parado atrás de mim e sorri.

O cabelo dele estava meio bagunçado hoje e ele empurrou os óculos para cima
do nariz enquanto me olhava. Eu adorava quando ele não estava usando os
óculos, porque podia ver seus olhos muito mais claramente, mas estava
começando a gostar deles também quando estavam no rosto. Eles davam uma
vibe nerd fofa difícil de resistir.

— Nos vemos lá na mesa — disse a Madi, nos deixando sozinhos.

— Então, o que não dói? — provocou Ethan, enquanto pegava minha mão e a
apertava. Eu esperava que os arrepios que sentia sempre que ele segurava
minha mão diminuíssem com o tempo, mas eles se recusam a desaparecer.

— Nada — respondi rapidamente.

A última coisa que eu precisava era que Ethan ouvisse que eu achava ele doce.
As coisas estavam indo tão bem entre nós e eu realmente não queria que ele
descobrisse o quanto eu estava começando a gostar dele. Se ele pensasse que
sentimentos reais estavam se desenvolvendo do meu lado, ele poderia

205
interromper o plano. Ele não era o tipo de cara que enganaria uma garota e
eu sabia que ele não sentia o mesmo por mim. Não, ele gostava de uma líder
de torcida diferente.

Não consegui evitar olhar rapidamente para a mesa popular onde a maioria
das líderes de torcida estava sentada. Era algo que eu tinha feito com mais
frequência nesta semana, enquanto tentava descobrir por quem Ethan estava
interessado. Todas as garotas do grupo eram bonitas, mas para muitas delas,
essa beleza era apenas superficial. Elas podiam ser agradáveis o suficiente
quando queriam algo, mas, na maior parte do tempo, seus sorrisos escondiam
o quão desagradáveis elas realmente eram. Eu até gostava de algumas das
garotas o suficiente, mas mesmo as que eu gostava não pareciam dignas de
Ethan. Nenhuma delas.

— Olhando para o meu irmão de novo? — Ethan perguntou, tendo notado a


direção para a qual eu estava olhando.

— Não — disse corando e negando com a cabeça. — Na verdade, estava


pensando na nossa próxima jogada para o plano.

Um lampejo de dúvida passou pelos olhos de Ethan, mas logo desapareceu.


Provavelmente ele achava que eu estava muito envergonhada para admitir que
estava observando Owen. Seu irmão estava no meio de todas as líderes de
torcida, então eu conseguia entender por que Ethan pensou que eu estava
focada no seu irmão gêmeo.

— Ok… E então, qual é a próxima jogada? — Disse e se aproximou um pouco


mais.

— Algo que eu não tenho certeza se você vai gostar.

— Por que você está tão nervosa? Deveria estar com medo?

— Muito. — Avisei, mas por algum motivo, não pareceu afetá-lo e ele sorriu.

— Ok, estou apavorado. O que você está pensando?

— Bom, vai ter uma festa neste final de semana na casa do Tanner. Owen vai
estar lá, junto com a maioria das líderes de torcida, então estava pensando

206
que deveríamos dar uma passada — injetei um entusiasmo falso demais na
minha voz, mas era melhor do que dizer isso com um tom que refletisse como
eu realmente me sentia. Eu mal estava empolgada com a ideia de ir à festa e
tentar fazer a líder de torcida misteriosa do Ethan notá-lo. Eu queria que ele
ficasse com a garota com quem ele sonhava, mas não conseguia imaginar
nenhuma daquelas garotas o fazendo feliz.

— Uma festa? — A boca do Ethan se curvou para baixo com minha sugestão.

— Sim. Pode ser divertido.

— Eu realmente não curto festas e duvido que Tanner queira que eu apareça
— disse Ethan, parecendo longe de convencido.

— Eu sei que você não costuma ir a festas, mas acho que você deveria abrir
uma exceção para essa. E as festas do Tanner não são exatamente exclusivas,
qualquer um pode ir.

— E você quer que a gente vá juntos.

— É.

Ainda assim, Ethan hesitou. Eu deveria ter aproveitado a hesitação dele e dito
que não precisávamos ir, mas estava tentando ajudá-lo. Ethan merecia tudo
o que queria na vida e essa festa poderia ser a minha última oportunidade de
ajudá-lo a fazer a garota dos seus sonhos ver o quão incrível ele era. Seria
muito mais fácil se ele simplesmente me dissesse quem ela era, embora uma
grande parte de mim realmente não quisesse saber.

— Olha, eu sei que você não está empolgado com a ideia — eu disse. — Mas o
baile é no próximo final de semana e estamos ficando sem tempo para deixar
Owen com ciúmes — o irmão dele mal entrava na lista de motivos pelos quais
eu queria ir à festa, mas provavelmente era o único argumento que eu poderia
fazer para convencer Ethan a ir. Ethan definitivamente não era o tipo de cara
de festas. — Essa pode ser a nossa última chance — continuei. — Podemos
intensificar nosso relacionamento falso na festa e se ele não quiser me levar
ao baile depois disso, acho que é seguro dizer que fizemos tudo o que
podíamos. Podemos convidar a Isla e o Colin também.

207
Os olhos de Ethan estavam preocupados enquanto ele me olhava. Ele ficou
em silêncio por vários momentos antes de finalmente suspirar e assentir.

— Acho que podemos ir, se é isso que você quer.

— Obrigada, Ethan.

Começamos a caminhar em direção à nossa mesa, mas de repente me senti


enjoada. Normalmente eu adorava ir a festas, mas a ideia de ver Ethan
terminando a noite nos braços de outra garota fez meu estômago se retorcer.
Eu estava tentando fazer a coisa certa por ele, mas às vezes, ser altruísta
realmente era complicado.

***

Não fui à casa de Ethan depois da escola naquele dia, ele tinha ensaio com a
banda e eu quase me senti tentada a perguntar se poderia ir assistir. Adorava
ouvi-los tocar e sabia que Isla ia aos ensaios deles, mas parecia ser um gesto
muito direto pedir isso. Era algo que uma namorada de verdade faria, não
uma falsa. Em vez disso, me esparramei no sofá na sala de estar e liguei a
Netflix. Não estava com vontade de vasculhar a quantidade insana de séries
em busca de algo para assistir, então coloquei um velho favorito: "The Vampire
Diaries". De alguma forma, consegui ver vários episódios antes de ser
interrompida.

— Aff, por favor, me diz que você não está vendo essa porcaria de novo — Kitty
disse ao entrar na sala.

Ignorei o comentário dela e mantive meus olhos na tela. Claramente, tinha


algo de errado com minha irmã se ela não conseguia apreciar a grandiosidade
que eram Damon e Stefan Salvatore. Quem se importava se as últimas
temporadas foram um pouco fracas quando você tinha esses caras para
suspirar?

Sempre achei louco que a Elena ficasse indecisa entre os dois irmãos. Seria
realmente tão difícil escolher? Mas, enquanto assistia, fiquei impressionada
com o fato de que eu também tinha meu próprio dilema com dois irmãos.
Havia Owen, aquele que eu queria há tanto tempo quanto conseguia me
lembrar, mas não estava tão animada em relação a ele como costumava estar.

208
E depois tinha Ethan, por quem não deveria estar interessada, mas estava
desenvolvendo sentimentos. Sentimentos que eu realmente precisava tentar
eliminar, já que ele gostava de outra pessoa.

— Essa série é estúpida — resmungou a Kitty.

— E ainda assim, você está assistindo — argumentei e erguendo o olhar para


onde ela estava sentada no sofá.

Ela me lançou um olhar furioso antes de voltar os olhos para a tela. Minha
irmã não era nada senão consistente em sua aversão por mim. Conhecendo-
a, provavelmente estava determinada a odiar o programa só porque eu gostava
dele.

— Vi o convite de baile do Ethan — ela disse.

Fiquei mais surpresa por ela estar realmente puxando assunto comigo do que
pelo fato de ela ter visto a apresentação dele.

— Foi bem legal — respondi.

— Bem legal? Foi incrível. Você não merece estar com ele.

Eu sabia que Kitty estava dizendo isso apenas porque ela era a Kitty, mas,
pela primeira vez, senti que talvez ela estivesse certa. Eu não merecia um cara
tão doce quanto o Ethan e quanto mais eu o conhecia, mais percebia que ele
estava totalmente fora da minha liga.

A garota de quem ele gostava tinha muita sorte de ter a afeição dele, quase
senti raiva dela por não notá-lo. Quer dizer, ele ignorava garotas atraentes e
concordava em fingir que estava namorando comigo só porque gostava dela e
isso era apenas a cereja no topo de uma grande lista de razões pelas quais ele
era um cara tão incrível. O episódio que eu estava assistindo chegou ao fim, e
eu estendi o controle remoto para Kitty.

— Você pode assistir a outra coisa, se quiser.

— Você já terminou? — perguntou ela, sem hesitar em pegar o controle


remoto.

209
— Sim, terminei. Tenho um fim de semana agitado e estou cansada, então
talvez vá para a cama cedo hoje à noite.

— Tanto faz — respondeu Kitty, já procurando por um novo programa para


assistir.

Subi para o meu quarto e troquei de roupa para um pijama. Enquanto me


preparava para dormir, me vi olhando pela janela novamente para o quarto de
Ethan. Era algo que percebi estar fazendo muito nessa semana, tinha se
tornado uma parte natural do meu dia verificar se ele estava lá.

Sorri ao avistá-lo, ele estava sentado à sua mesa, de shorts e uma camiseta
larga, dedilhando sua guitarra com os olhos fechados. Pela forma como seus
lábios se moviam, pude perceber que ele estava cantando e um fio de decepção
me envolveu, porque eu não conseguia ouvir sua voz.

Enquanto o observava, notei que a janela dele estava aberta, então me inclinei
para abrir a minha um pouco. Ela rangeu lentamente até haver uma pequena
abertura na base dela e o som da guitarra de Ethan começou a se espalhar
para o meu quarto. Todo o meu corpo se aqueceu quando sua voz sonhadora
se juntou à melodia suave. Seu tom era tão expressivo que eu conseguia sentir
as emoções da música em cada palavra.

Deitei-me na cama e ouvi enquanto ele cantava "Wonderwall" do Oasis. Ele


não tinha tocado essa música no show deles no fim de semana passado, mas
definitivamente era digna de ser ouvida. Fechei os olhos e permiti que o som
de sua voz me envolvesse, me levando para perto do sono.

Enquanto eu adormecia, um pensamento continuava rodopiando na minha


mente. Não estava certa se era possível se apaixonar por uma voz, mas, se
fosse, eu tinha me apaixonado pela voz de Ethan.

210
18 - Hayley

Tanner realmente sabia como fazer uma festa e elas haviam se tornado
bastante lendárias nos últimos anos. Sua família tinha uma grande
propriedade nos arredores da cidade, sem vizinhos por perto, e seus pais
geralmente estavam em viagens a negócios. Isso significava que a música
estava sempre no volume máximo e as pessoas sempre estavam bem bêbadas.

Os olhos de Ethan se arregalaram quando chegamos na casa do Tanner. Havia


muitas pessoas ricas em nossa cidade, mas a família de Tanner as fazia todas
parecerem pequenas. Ele vivia em uma mansão imensa que era, pelo menos,
cinco vezes o tamanho da minha casa. Ela era constantemente reformada e
tinha todos os aparelhos mais modernos, no entanto, nunca parecia tão
impecável depois que os convidados da festa de Tanner passavam por lá.

— É incrível, não é? — eu disse.

— Eu nem sabia que lugares assim existiam em Lincoln — disse Ethan


assentindo.

— Sim, o avô do Tanner era um magnata da mídia e acho que ele mandou
construir este lugar só porque podia.

Ethan tinha parado o carro, mas nenhum de nós se mexeu para sair. Havia
algo tão reconfortante em apenas estar sentada ali com ele, isso estava
totalmente em desacordo com a batida pesada que eu podia ouvir vindo de
dentro da casa.

— Você está linda esta noite — disse Ethan.

— Você é meu namorado falso, não tem que dizer isso — o informei, lutando
contra um sorriso e com minhas bochechas esquentando. Ele me olhou nos
olhos com intensidade e deu uma leve sacudida de cabeça.

— Realmente não preciso fazer isso — respondeu. — Eu quero.

211
Minha boca subitamente ficou seca. Ethan poderia ter achado que eu parecia
linda esta noite, mas ele era quem estava bonito. Seus óculos estavam um
pouco tortos e seu cabelo estava todo bagunçado, mas eu não conseguia
imaginá-lo mais perfeito do que estava agora. Eu precisava guardar esse
momento na minha mente porque sabia que esta noite seria a última vez que
iríamos fingir ser namorados.
Enquanto eu olhava nos olhos dele, senti como se estivesse caindo. Como se
estivesse desabando fora de controle e sendo puxada para baixo pela força
inescapável da gravidade. No entanto, não era o chão que eu sentia que estava
voando em direção. Era Ethan.

Inspirei profundamente e rapidamente desviei o olhar. Os sentimentos por


Ethan que eu estava tentando sufocar haviam avançado em direção à
superfície e estavam se recusando a ser ignorados. Eles não queriam que esta
noite fosse nossa última noite juntos, e uma coisa estava clara: eu não estava
apenas começando a gostar de Ethan, eu gostava dele.

— Hayley? — a voz de Ethan estava suave e ele parecia um pouco nervoso,


como se talvez pudesse ver todas as emoções que ele havia despertado dentro
de mim.

— Provavelmente deveríamos entrar — limpei a garganta e saí do carro antes


que ele pudesse protestar.

Respirei o ar fresco da noite, esperando que a brisa gelada ajudasse a dissipar


a névoa intoxicante que nublava minha mente. Eu não deveria gostar de
Ethan. Mas nem mesmo o ar fresco fez alguma coisa para mudar a maneira
como meu coração só queria bater por ele.

Ethan me deu um sorriso ao segurar minha mão. Pela maneira como ele
estava me olhando, ele estava completamente alheio a quanto eu gostava dele.
Era em momentos como esses que eu ficava aliviada por não ser possível ler
mentes, porque eu não sabia o que fazer com esses sentimentos. Eu não podia
agir sobre eles, não quando Ethan estava apaixonado por outra garota. Meu
estúpido coração estava sendo bastante esquecido e começou a acelerar
quando o polegar dele desenhou leves círculos nas costas da minha mão.

Entramos na festa e Ethan hesitou logo dentro da porta. O lugar estava lotado,
e algumas garotas já estavam tropeçando desajeitadamente em seus saltos. A

212
música estava muito mais alta lá dentro e eu pude entender porque Ethan
poderia estar se sentindo sobrecarregado com tudo aquilo.

— Devíamos pegar alguma bebida? — ele perguntou.

Olhei na direção da cozinha e imediatamente balancei a cabeça. Um grupo de


líderes de torcida estava perto da porta e eu não queria que ele se aproximasse
delas. A visão delas havia despertado um monstro verde de inveja em meu
estômago, já não estava mais certa se conseguiria ajudar Ethan a ficar com
uma daquelas garotas. Eu realmente precisava me recompor.

— Então, bebida? — ele insistiu.

— Não — neguei, não apenas por causa das líderes de torcida. Beber seria
uma ideia terrível agora, porque eu costumava ficar bêbada com uma única
bebida. Não queria correr o risco de ficar bêbada e despejar meus sentimentos
para ele.

— Que tal dançar então? — soltei a primeira alternativa que me veio à mente.

Os olhos de Ethan se voltaram nervosamente para o grupo agitado de jovens


dançando na sala de estar de Tanner.

— Uh…

Claramente, ele não era fã da ideia, mas eu não dei a ele a chance de se opor.

— Vamos lá, vai ser divertido — encorajei dando um sorriso tranquilizador e


o conduzindo pela mão para a multidão.

Ele me seguiu cautelosamente. A pista de dança estava caótica, mas consegui


encontrar um espaço vago no canto da sala que não estava muito lotado. A
música que estava tocando tinha uma melodia lenta e suave e Ethan envolveu
seus braços em volta da minha cintura enquanto começamos a nos mover. Eu
coloquei levemente minhas mãos em seu peito e quase imediatamente me
arrependi da decisão de dançar: ficar tão perto de Ethan não estava ajudando
em nada meu coração confuso, especialmente quando ele continuava sorrindo
para mim.

213
Ethan tinha um daqueles sorrisos que faziam você se sentir como se fosse a
única pessoa na sala. Eles não apareciam frequentemente, mas quando
apareciam, era um pouco como ver o sol espiar de trás de uma nuvem e te
envolver com seu calor reconfortante. Ele se inclinou para perto do meu
ouvido, os lábios quase tocando minha orelha, o atrito da sua barba por fazer
roçando minha bochecha enquanto ele se aproximava.

— Não danço muito bem — ele admitiu.

— Parece estar se saindo muito bem — de acordo com a sensação de


formigamento que percorria minha pele, ele estava se saindo mais do que bem.

Ele estava destruindo toda resistência que eu tinha. Tentei olhar para
qualquer lugar que não fosse o rosto dele, enquanto dançávamos. Saber que
eu gostava de Ethan como mais do que um amigo era como descobrir que eu
tinha uma coceira que não conseguia coçar. Quanto mais eu tentava ignorar,
mais ela parecia se fazer presente até que eu estava dolorosa e constantemente
ciente dos sentimentos dentro de mim.

Dançamos juntos durante toda a música. Estar tão perto de Ethan, mas saber
que nunca poderíamos estar juntos de verdade, era o tormento mais cruel. Ele
parecia alegremente alheio ao tumulto que eu estava vivendo, e eu desejava
poder voltar a ficar alheia também.

Quando a próxima música começou, avistei Isla e Colin do outro lado da sala
e praticamente pulei para fora do abraço de Ethan. Ele pareceu um pouco
chocado e confuso com minha reação até que apontei para eles.

— Vamos cumprimentá-los — disse e não esperei pela resposta dele, enquanto


atravessava a pista de dança a toda velocidade.

Parecia que não conseguia me afastar rápido o suficiente de Ethan. Sua


presença tinha sido intoxicante enquanto dançávamos, eu precisava me
recuperar antes de fazer algo estúpido, como admitir que queria que a parte
falsa do meu namorado falso desaparecesse.

Isla sorriu quando me avistou. Ela estava usando um vestido de lantejoulas


transparente, muito mais ousado do que seu estilo usual. Eu estava
começando a perceber que era necessário esperar o inesperado quando se

214
tratava do senso de moda de Isla, ela parecia adorar desafiar limites com suas
roupas e nada parecia estar fora dos limites.

— E aí, pessoal, fico feliz que vocês puderam vir — cumprimentei dando um
abraço de cumprimento tanto em Isla quanto em Colin. Isla retribuiu meu
abraço firmemente, mas Colin pareceu ficar um pouco tenso sob o meu toque.
Ele me deu um sorriso quando nos separamos, então parecia que o abraço
robótico dele era apenas devido à sua geral falta de jeito.

Ethan também cumprimentou seus amigos, mas eu fui rápida em pegar Isla
pela mão e arrastá-la para longe.

— Vocês se divirtam. Precisamos fazer coisas de garotas — chamei por cima


do ombro para os meninos. Eles se olharam e deram de ombros, mas estavam
felizes em nos deixar ir embora.

— Coisas de garotas? — Isla perguntou, assim que estivemos fora do alcance


auditivo dos rapazes.

— Sim, estou em crise, e você é minha amiga agora, então você precisa vir
segurar minha mão enquanto eu respiro fundo algumas vezes — a
preocupação nublou os olhos de Isla, mas ela assentiu e me seguiu para fora.

A festa tinha se espalhado pelo quintal de Tanner, estando tão movimentada


fora quanto estava lá dentro. Isla e eu vagamos pelo quintal até chegarmos a
um conjunto de balanços. Eles estavam pendurados em um galho de uma
árvore velha que parecia a um passo de tombar. Provavelmente seria um
acidente prestes a acontecer, mas os balanços eram exatamente o tipo de
refúgio que eu precisava agora. Sentei e comecei a me mover lentamente para
frente e para trás, enquanto recuperava o fôlego. Desde que cheguei à festa
com Ethan, estava lutando para encher meus pulmões de ar.

— Então, qual é a crise? — Isla perguntou depois de ficarmos balançando


silenciosamente por vários minutos a olhei para ela de canto de olho.

— Não tenho certeza se posso te contar — eu sabia que Ethan não ficaria feliz
comigo se eu revelasse a verdade sobre nosso relacionamento falso para sua
amiga, e não queria traí-lo dessa forma.

215
— Há alguém aqui que você quer que eu encontre para que você possa
conversar? — ela perguntou, com preocupação tocando seu olhar.

Neguei com a cabeça. Madi tinha um jantar de família e só chegaria à festa


mais tarde, enquanto Evan e Teagan tinham ido ao cinema. Eles eram as
únicas três pessoas a quem eu ousaria contar a verdade sobre Ethan. Quase
me senti aliviada por eles não estarem aqui. Não tinha certeza se estava pronta
para expressar minha confusão em palavras.

— Então, podemos simplesmente balançar até você se sentir melhor — Isla


disse.

Ela não me pressionou por uma resposta, me fazendo gostar ainda mais dela
por respeitar que eu não podia falar sobre minha situação. No entanto, me vi
querendo mais a opinião dela. Isla era uma das melhores amigas de Ethan e
ela saberia se meus sentimentos por ele eram tão sem esperança quanto
pareciam.

Uma parte de mim simplesmente desejava que meus sentimentos não fossem
reais. Talvez eles tivessem aparecido porque Ethan era um cara legal fingindo
ser meu namorado, talvez desaparecessem assim que nosso relacionamento
terminasse. Certamente tornaria minha vida muito mais simples se essa
paixão irritante e unilateral desaparecesse. Mas como você começa a descobrir
o quão reais são seus sentimentos? Olhei para Isla, imaginando se ela poderia
ter a resposta que eu estava procurando.

— Você teve muitos namorados? — perguntei a ela.

— Alguns — respondeu dando de ombros.

— Mas não deu certo?

— Não, esses caras eram uns chatos.

— Então, como você soube que Dex era o cara certo para você? — perguntei
e um sorriso suave iluminou seus lábios ao mencionar seu namorado.

— Tudo simplesmente parece melhor quando ele está por perto — ela disse.
— Há tantas coisas que eu amo nele, é claro, mas você sabe que é certo quando

216
não são apenas traços de personalidade que importam. É esse sentimento de
que estar juntos é tão fácil quanto respirar.

Franzi a testa enquanto considerava meu tempo com Ethan. Isso era
exatamente o que tinha me surpreendido: o quão fácil era estar com ele. Como
tudo parecia melhor quando ele estava por perto e como eu parecia notar sua
ausência como se houvesse uma pequena sombra cobrindo meu coração
quando ele não estava por perto.

— Você está reconsiderando estar com Ethan? — Isla inclinou a cabeça


enquanto me olhava.

— Na verdade, é o contrário — murmurei balançando a cabeça rapidamente,


fazendo Isla sorrir.

— Então, você realmente gosta dele, né?

— Acho que sim — soltei um longo suspiro enquanto assenti…

— Eu sabia! Vocês dois são perfeitos juntos, sabe disso, né? — disse ela e
começou a bater palmas e pular em seu balanço.

— Só estou preocupada que ele não sinta o mesmo. Quer dizer, você diz que
somos perfeitos, mas somos tão diferentes.

— Não seja boba, claro que ele sente o mesmo. E às vezes, ser diferente é
exatamente o que faz o relacionamento ser perfeito — Isla riu.

Senti como se ela estivesse apenas sendo gentil, no entanto, se Ethan tivesse
dito a ela que tinha sentimentos fortes por mim, seria apenas porque ele
estava desempenhando bem o seu papel.

— Se é por isso que você está aqui preocupada, então você está apenas
pensando demais — continuou Isla. — Ethan é louco por você. Você não
precisa se preocupar.

— Obrigada, Isla — lhe dei um sorriso forçado antes de olhar de volta para a
casa. Eu queria que suas palavras fossem verdadeiras, mas ela não sabia da

217
outra garota de quem ele gostava. — Devemos ir encontrar os caras de novo?
Acho que estou me sentindo um pouco melhor.

— Ótimo — ela pulou do balanço e eu a segui de volta para a casa.

Ainda estava confusa sobre meus sentimentos por Ethan, mas me senti um
pouco mais no controle deles depois de tomar um pouco de ar fresco. Quando
voltamos para a casa, fiquei surpresa ao encontrar Colin nos esperando na
cozinha, sozinho.

— Onde está Ethan? — Isla perguntou.

— Ele foi procurar o banheiro — Colin respondeu. — Ele está demorando uma
eternidade, então provavelmente está perdido.

— Talvez, vou ver se consigo encontrá-lo — eu disse. A ideia de hoje à noite


era que fôssemos vistos juntos afinal.

Eu vaguei na direção dos banheiros. Havia vários na casa, mas a maioria das
pessoas usava o que ficava perto da sala de estar. Virei pelo corredor que
levava até lá, mas parei subitamente. Ethan estava parado no final do corredor
e ele não estava sozinho.

Ele estava conversando com Laurie e vê-los juntos me pegou de surpresa.


Laurie normalmente nunca notaria que Ethan sequer existia, da mesma
forma, ela não parecia o tipo de garota com quem ele iniciaria uma conversa.
Mas eles estavam tão próximos um do outro enquanto falavam e, pela forma
como ela estava se inclinando em direção a ele, a conversa deles parecia
íntima.

Meu estômago afundou quando ela colocou a mão no peito dele e traçou os
dedos pelo torso dele. Ela estava sorrindo para ele de maneira sedutora e ele
não a estava afastando. Por que ele não a estava afastando? Lentamente, ela
se aproximou ainda mais dele, os lábios dela quase tocando os dele enquanto
ela envolvia um braço ao redor do pescoço dele. Uma onda de náusea me
atingiu, eu não conseguia assistir ao que aconteceria em seguida. Virei para
sair correndo, mas ao tentar fugir para a sala de estar, encontrei Owen parado
na porta, sorrindo para mim.

218
— Oi, Hayley. Eu estava esperando encontrar você esta noite.

Eu assenti, mal conseguindo olhá-lo nos olhos. Eu estava lutando para não
chorar neste momento e Owen Beck era absolutamente a última pessoa com
quem eu queria conversar.

— Podemos conversar? — Ele continuou.

— Na verdade, não posso — eu o empurrei para o lado e me apressei de volta


para a sala de estar lotada, mas não parei por aí. Em vez disso, abri caminho
pela multidão e saí apressadamente pela porta da frente. Eu queria sair dessa
festa estúpida o mais rápido que conseguisse, tudo o que eu queria era ir para
casa.

Foi só quando eu estava parada na varanda da frente de Tanner que percebi


que minha carona para casa estava envolvida com a líder de torcida mais
detestável de Lincoln High. Meu estômago se contorceu quando percebi a
amarga verdade: Laurie era a garota que ele queria o tempo todo.

— Hayley? — uma voz hesitante chamou meu nome.

Eu me virei para ver Owen parado na varanda atrás de mim. Ele parecia
surpreendentemente nervoso, e embora eu não quisesse falar com ele lá
dentro, não estava irritada que ele tivesse vindo atrás de mim. Se alguma
coisa, era bom não estar sozinha.

— Eu vi o que te fez sair daqui correndo — ele disse. — Meu irmão foi um
idiota por fazer isso com você.

Balancei a cabeça. Ethan não era um idiota, ele nunca tinha sido nada além
de honesto comigo e eu que fui a estúpida por desenvolver sentimentos pelo
cara.

— Beijar outra garota quando você tem uma namorada simplesmente não é
legal — ele acrescentou.

— Então, eles realmente se beijaram? — meu estômago afundou no chão.

219
— Caramba, você não viu isso? Eu achei que você tivesse visto — Owen fez
uma careta.

— Não, eu não vi — balancei a cabeça.

Parecia que ia acontecer, mas eu não tinha conseguido assistir. Engoli em


seco e olhei para o jardim da frente. Havia tantos carros estacionados do lado
de fora da casa, e eu desejava desesperadamente que um deles fosse meu.
Será que era errado eu estar tentada a roubar um? Quer dizer, eu não fazia
ideia de como dar partida em um carro sem as chaves, então chamar um Uber
provavelmente era a opção mais lógica e legal.

— Você quer conversar sobre isso? — Owen perguntou.

— Não. Eu só quero ir para casa, mas minha carona está ocupada no


momento.

— Estou de motorista essa noite — Owen deu um passo em minha direção. —


Posso te levar para casa, se quiser?

Olhei lentamente para cima, olhando nos olhos dele. O tom de azul era tão
parecido com o de Ethan e eles estavam abertos e cheios de preocupação. Ele
se parecia tanto com o irmão naquele momento, parecia que eu finalmente
estava vendo o cara que tinha escrito aquele poema todos aqueles anos atrás.
Essa era a versão de Owen pela qual eu tinha começado todo esse plano, mas
meu estômago não estava se enchendo de borboletas enquanto o olhava.
Ainda estava se retorcendo de dor por perder o garoto que eu nunca tive.

— Hayley? — ele incentivou.

— Isso seria bom — lhe dei um sorriso grato.

Eu o segui lentamente até o carro da mãe dele. Cada passo que eu dava era
difícil, mas vinha com um pouco de alívio, porque eu sabia que estava indo
para casa. Owen não falou muito enquanto dirigia e eu fiquei grata por seu
silêncio. Eu não queria discutir o que tinha visto ou a decepção que estava
sentindo. Por que Ethan tinha que gostar da Laurie? Ela não era uma boa
pessoa, ele merecia muito mais do que ela. Eu não achava que ele era o tipo

220
de cara que se interessaria por uma garota só porque ela era atraente, mas
talvez eu estivesse errada.

— Obrigada por me trazer — agradeci quando Owen estacionou na entrada de


sua casa e lhe dei um sorriso apertado.

— Não precisa me agradecer — ele disse. — Eu queria fazer isso.

Eu assenti e fui abrir a porta para sair, mas Owen colocou uma mão no meu
braço.

— Isso provavelmente é péssima hora, mas eu queria te convidar para sair há


muito tempo.

— O quê? — perguntei e virei para ele.

— Eu sempre tive uma queda enorme por você, mas depois que voltei para
Lincoln você já estava namorando meu irmão — confessou ele me dando um
sorriso tímido.

— Você teve? — fiquei sem palavras ao ouvi-lo e quis rir da ironia de tudo isso.
Finalmente eu tinha chamado a atenção de Owen, mas agora era o irmão dele
que eu desejava que estivesse dizendo essas coisas para mim.

— Tive — ele respondeu. — Eu nunca quis que você se machucasse, mas


estava secretamente torcendo para que Ethan bagunçasse tudo para que eu
pudesse ter uma chance com você.

Não pude fazer nada além de encará-lo. Nada disso parecia certo.

— E agora eu acho que ele bagunçou… — suas palavras pairaram no ar entre


nós e ele olhou profundamente nos meus olhos.

Estávamos tão perto um do outro no carro dele, mas sua proximidade não me
causava nenhum entusiasmo. Faíscas não estavam voando, meu coração mal
estava correndo fora de controle. Mas pela forma como ele estava me olhando,
ele se sentia completamente diferente. Havia uma fome em seu olhar e me
senti como um pedaço de carne que ele queria morder. Ele se inclinou mais
perto de mim e segurou minha mão.

221
— Eu gostaria de ter esperado para te perguntar isso, — ele disse, se
aproximando ainda mais — mas não temos muito tempo sobrando…

Dado o rumo de nossa conversa, eu não tinha certeza se queria que Owen
terminasse sua frase. No entanto, eu estava presa no carro com ele e minha
mão estava firmemente em sua mão. Eu mal conseguia abrir a porta e dar
uma cambalhota na calçada para escapar.

— Hayley — ele continuou. — Você iria ao baile comigo?

Eu lentamente retirei minha mão de sua mão e franzi o cenho para ele.

— Eu vou ao baile com seu irmão.

— Ainda? Depois do que ele fez hoje à noite?

As palavras de Owen me deixaram com um nó no estômago. Era isso que


aconteceu hoje à noite? Ethan finalmente havia colocado um fim no nosso
relacionamento falso? Beijar a Laurie parecia bem definitivo.

— Eu não sei — murmurei.

— Hayley, você merece mais do que alguém que trairia você. Por favor, me
deixe te levar ao baile.

Este era o momento pelo qual eu tinha esperado. Era a razão pela qual eu
comecei o plano com Ethan, afinal. Mas isso não me deixou nem um pouco
feliz.

— Então… — ele insistiu.

— Eu preciso pensar sobre isso.

— Claro, você precisa — uma pontada de decepção passou por seus olhos. —
Por que você não pensa sobre isso hoje à noite e me diz amanhã?

Eu assenti e finalmente me movi para sair do carro. Ele abaixou o vidro do


passageiro quando a porta foi fechada atrás de mim.

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— Eu realmente espero que você vá comigo — ele disse antes de dar ré no
carro para fora da entrada e sair pela rua. Ele nem esperou para ver se eu
chegava à porta de casa, antes de voltar para a festa.

223
19 - Ethan

As unhas de Laurie estavam cravadas em minha camiseta, mas no momento


em que ela as levantou para acariciar meu pescoço, eu a afastei rapidamente.

— O que você está fazendo? — rosnei.

Um sorriso astuto iluminou seus lábios enquanto ela olhava para cima, na
minha direção, entre seus cílios longos.

— Bem, eu disse que queria te contar um segredo e eu ia sussurrá-lo no seu


ouvido…

— Você não precisa me abraçar para fazer isso — respondi.

Ela me encurralou do lado de fora do banheiro há cerca de dez minutos e eu


estava lutando para me livrar dela desde então. Ela era o tipo de garota que
Hayley gostaria de chamar de "mão boba” e ela continuava me tocando, o que
estava me deixando realmente desconfortável.

Eu não ficava nervoso perto de garotas como Colin ficava, mas também não
era particularmente confiante. Eu não tinha ideia de como pedir
educadamente para Laurie tirar as garras da minha roupa sem ser rude, mas
no momento em que ela começou a envolver as mãos em volta do meu pescoço,
eu perdi a paciência.

— Olha, eu não entendo porque você está até falando comigo — eu disse. —
Você nunca sequer reparou em mim antes de eu começar a namorar a Hayley
e eu adoraria saber o que mudou para você querer falar comigo agora…

— Bem, a Hayley tem dito coisas incríveis sobre você para todas as garotas da
equipe — ela respondeu. — Como eu não ia querer falar com você?

Tive uma vontade súbita de me dar um tapa na cara. Eu nunca deveria ter
dito a Hayley que a garota de quem eu gostava era uma líder de torcida. Ela
levou esse lado do plano muito a sério esta semana, e suspeitava que ela havia
trabalhado duro para garantir que todas as líderes de torcida de Lincoln High

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soubessem o quão incrível eu era. Aparentemente, ela tinha feito um trabalho
bom demais.

— E eu nem te contei meu segredo ainda… — ela começou a se aproximar de


mim novamente, mas eu a segurei pelos pulsos antes que ela conseguisse
envolver os braços em volta do meu pescoço de novo.

— Eu acho que não preciso ouvir seu segredo, — eu respondi, soltando


gentilmente suas mãos — e eu realmente deveria ir embora. Minha namorada
vai querer saber onde eu estou…

— Bem, não deixe a velhinha aqui te impedir… — Laurie deu de ombros e me


deu um sorriso sabido.

Ela deu um passo para trás, e meus olhos estreitaram enquanto a observava.
Ela parecia extremamente determinada a me manter ali e sua mudança
repentina de ideia me deixou desconfiado, porém decidi não questioná-la. Eu
queria aproveitar a chance de escapar das garras dela enquanto ainda estava
lá.

— Tenha uma boa noite, Laurie — eu disse antes de me virar para sair.

— Você também, Ethan — ela chamou depois de mim.

Olhei por cima do ombro para ela e ela acenou com os dedos na minha direção.
Eu não confiava nem um pouco naquela garota. Voltei correndo para a cozinha,
aliviado ao ver que Colin ainda estava escondido lá. Isla estava ao lado dele
também, mas Hayley não estava em lugar algum.

— Ei, vocês viram a Hayley em algum lugar? — perguntei a eles.

— Ela não te encontrou? — Colin perguntou. — Eu disse a ela que você tinha
ido ao banheiro e ela foi te procurar.

— Eu não a vi — balancei a cabeça. — Este lugar provavelmente tem um


milhão de banheiros, então talvez ela tenha ido para o errado.

— Talvez — concordou Colin. — Mas o que te prendeu tanto, afinal?

225
— Laurie me encurralou perto do banheiro e não parava de falar.

— O que ela queria? — os olhos de Isla se estreitaram de suspeita.

— Não faço ideia, mas parecia que ela estava dando em cima de mim — ao
dizer as palavras em voz alta, eu soube que isso não podia estar certo. Eu nem
estava perto do tipo de Laurie.

— Pensei que ela estivesse namorando o Jake — disse Colin.

— Não, esse relacionamento durou, tipo, três segundos. Eles estavam


brigando o tempo todo — disse Isla, recebendo olhares surpresos de Colin e
de mim. — O quê? Não é crime ficar por dentro das fofocas da nossa escola.

— Não, mas é estranho. Você nem gosta da metade das crianças na escola —
respondeu Colin.

— O que só torna as fofocas mais emocionantes. Algumas das coisas que ouço
são tão suculentas que é melhor do que assistir a um episódio de 'Days of Our
Lives'.

— Eu não sabia que você gostava de novelas — eu disse.

— Amo — ela respondeu antes de me dar um sorriso convencido. — Falando


em fofocas suculentas, Hayley realmente parece gostar de você.

Não consegui evitar a careta que se formou no meu rosto. Rapidamente a


disfarcei quando lembrei que Isla acreditava que Hayley era minha namorada.

— Isso está longe de ser uma fofoca e eu espero que sim — eu disse. — Afinal
de contas, eu sou o namorado dela.

Colin revirou os olhos, mas felizmente Isla não percebeu sua expressão.

— Ela sabe o quanto você gosta dela também? — Isla continuou. — Porque
você deveria contar a ela.

— Exatamente sobre o que vocês duas têm conversado? — dessa vez, não
consegui controlar a minha careta.

226
— Ah, sobre isso e aquilo, mas você deveria ter certeza de que ela sabe o
quanto você gosta dela. As garotas merecem ouvir coisas assim o tempo todo.

— Elas merecem, é? — perguntei ironicamente.

— Sim. Você deveria nos acertar na cabeça com um martelo do seu amor pelo
menos uma vez por dia, e mesmo assim, ainda pode não ficar claro o quanto
você gosta da gente.

— Obrigado pela imagem, vou manter isso em mente — eu disse rindo.

— Sempre que precisar — respondeu Isla.

Olhei ao redor da cozinha mais uma vez, esperando avistar Hayley. Nós
deveríamos passar a noite fazendo Owen ficar com ciúmes, mas eu mal tinha
visto ela desde que chegamos.

— Devo tentar encontrar a Hayley — eu disse.

— Faça isso, garanhão — os olhos de Isla faiscaram com um olhar satisfeito.


— Acho que Colin e eu vamos dar um jeito na poncheira.

— Eu tenho a sensação de que ela já está com algo misturado — eu ri.

— Eu acho que provavelmente vou beber, então. Vamos lá, Colin — Isla pegou
na mão dele e o arrastou para o outro lado da cozinha, onde um grupo de
alunos da escola cercava uma tigela grande de ponche vermelho. Colin parecia
extremamente desconfortável ao se juntar ao grupo, mas Isla se sentiu em
casa enquanto puxava uma conversa com as pessoas ali. Meus dois amigos
não poderiam ser mais diferentes, mas isso não os tornava menos incríveis.

Respirando fundo, voltei para a sala de estar. Eu tinha pensado que estava
agitado antes, mas agora estava lotado de pessoas dançando e era quase
impossível se mover. Tive que empurrar e espremer meus colegas de classe
para fazer algum progresso e as luzes estavam tão fracas que encontrar Hayley
era como procurar uma agulha em um palheiro com os olhos vendados.

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Ainda assim, procurei a pista de dança lotada de um lado ao outro sem sorte.
Eu tinha enviado uma mensagem para ela, mas ainda não tinha recebido uma
resposta. Talvez estivesse muito barulhento para ela ouvir o telefone.

— Ethan — levantei os olhos do meu telefone para encontrar Madi sorrindo


para mim.

Ela estava vestindo uma blusa simples e jeans, mas Madi era o tipo de garota
que não precisava se arrumar para ficar deslumbrante. Ela era muito parecida
com Hayley nesse sentido. Hayley poderia ter aparecido hoje à noite com um
macacão de pijama com uma máscara facial que eu a teria achado a garota
mais bonita da sala.

— Ei, Madi — respondi com um sorriso caloroso. Madi e eu não éramos


exatamente amigos, mas fomos parceiros de biologia no ano passado, e eu
sentia que estava começando a conhecê-la um pouco melhor desde que
comecei a almoçar com a Hayley. Ela estava perto da porta da frente, então eu
presumi que ela não estava aqui há muito tempo. — Você chegou agora?

— Sim, eu fiquei presa em um jantar de família. Eu pensei que meu pai nunca
fosse me deixar sair — ela disse. — Como está a festa? Hayley está com você?

— Não — neguei com a cabeça. — Estive procurando, mas não consigo


encontrá-la em lugar nenhum.

— Eu pensei que vocês estivessem focados na operação relacionamento falso


hoje à noite? — Madi franziu a testa, disse em um sussurro baixo.

— Deveríamos estar, estávamos dançando antes e, depois, ela disse que


precisava de um tempo com as amigas, e eu não a vi desde então.

— Não é do feitio de Hayley simplesmente te deixar a noite toda — Madi


pareceu surpresa.

— Não é, mas se as coisas melhoraram com o meu irmão, então, quem sabe
— o som de decepção era claro na minha voz, mas parecia que eu não
conseguia evitá-lo.

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Madi inclinou a cabeça enquanto me olhava, e seus olhos se estreitaram como
se ela estivesse tentando ler minha mente.

— Te incomodaria se as coisas melhorassem com Owen? — ela perguntou


lentamente.

— Não, claro que não!

— Porque eu tenho observado vocês dois bem de perto nas últimas semanas,
e nunca te vi sequer olhar na direção de outra garota.

— Eu só estou fazendo a minha parte — respondi rapidamente, no entanto,


ela balançou a cabeça, seus olhos cheios de dúvida.

— Não, é mais do que isso. Se eu fosse uma mulher de apostas, diria que não
há um crush misterioso.

O pânico fez meus olhos se arregalarem, e Madi ofegou ao ver minha reação.
Ela tinha acertado em cheio com seu palpite e agora sabia disso.

— Estou certa, não estou? Não há um crush misterioso.

— Claro que há!

— Você gosta da Hayley, não é? — Madi não parecia ter ouvido minha resposta
e continuou falando como se eu não tivesse dito uma palavra.

A adrenalina percorreu meu corpo, e eu não queria nada mais do que escapar
do olhar penetrante de Madi. Eu não estava pronto para admitir meus
sentimentos para ninguém, muito menos para a melhor amiga de Hayley.

— Você está completamente errada — eu disse. — Eu gosto da Hayley, mas


não desse jeito. Quer dizer, ela é incrível e qualquer cara teria sorte de tê-la,
mas nós somos apenas amigos — eu estava balbuciando e Madi não parecia
acreditar em mim nem por um segundo.

— Está tudo bem gostar dela, sabe… — sua voz era gentil e havia um olhar de
conhecimento em seus olhos, como se ela pudesse facilmente enxergar através
das minhas mentiras.

229
— É? — eu perguntei. — Talvez você não tenha percebido, mas ela meio que
gosta do meu irmão.

— Você tem certeza disso?

— Bem, ela está apenas fingindo namorar comigo para fazer com que ele
perceba ela, então acho que os sentimentos dela estão bem claros.

— Não acho que estejam tão claros quanto você pensa — Madi me deu um
pequeno sorriso.

Meu coração deu um salto, embora soubesse que era sem esperança. Eu
queria que Madi estivesse certa mais do que qualquer outra coisa.

— Olha, você não precisa me dizer que gosta dela — disse Madi e pelo jeito
que ela estava me olhando, ela já estava convencida. — Mas, eu conheço
minha melhor amiga — continuou ela — e eu não acredito que Owen seja o
cara certo para ela, acredito que você poderia ser.

As palavras dela pareciam algo saído de um sonho. Madi realmente poderia


acreditar que eu era o cara certo para Hayley?

— Diga a ela como você se sente — ela continuou. — Qual é o pior que poderia
acontecer?

Eu conseguia imaginar muitas coisas ruins que poderiam acontecer se eu


abrisse meu coração para Hayley, mas eu ia perdê-la de qualquer jeito, então
o que estava me impedindo?

— Vou pensar nisso — eu disse, fazendo a Madi sorrir. — Mas, por enquanto,
eu deveria apenas continuar procurando por ela.

— Vou te deixar então, mas se eu a vir, vou dizer a ela que você está
procurando por ela. — Ela não conseguiu conter o sorriso enquanto me
olhava.

— Obrigado.

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— Sem problemas — disse Madi antes de passar por mim e entrar na casa.

Eu considerei segui-la, para procurar na sala novamente, mas achei que era
hora de tentar ligar para Hayley em vez disso. Estava muito barulhento na
casa, então abri a porta da frente e saí para o alpendre, onde estava mais
tranquilo. Arrependi-me de ter saído da casa no momento em que fechei a
porta atrás de mim. Meu irmão estava bem do lado de fora.

— Owen — eu disse o nome dele entre dentes.

Ele se virou e esfregou os olhos de forma dramática quando me viu, como se


não pudesse acreditar que eu estava ali.

— Uau, eu não sabia que o Tanner deixava perdedores como você nas festas
dele — ele riu. — Acho que ele é mais caridoso do que eu lhe dei crédito.

Bufei e fui para contorná-lo, mas Owen se moveu para bloquear meu caminho
e eu dei um passo rápido para trás.

— Você precisa de alguma coisa? — Perguntei.

— Bem, eu precisava — ele rosnou. — Era só um pouquinho de dinheiro, mas


você não me daria isso, né?

— Sério? Você quer falar sobre isso agora? — perguntei e não consegui evitar
um gemido que escapou da minha boca.

— Não muito — Owen deu de ombros. — Mas achei que deveria provavelmente
te informar que, quando eu disse que você iria se arrepender disso, eu não
estava brincando.

— Sim, ok, ótimo — eu não estava no clima para os jogos do meu irmão, então
o empurrei com mais força dessa vez para passar por ele.

— Decidi que a sua pequena namorada parecia um pagamento apropriado —


disse Owen enquanto segurava meu braço, me detendo.

Meu estômago apertou e a raiva irradiou pela minha pele com a ameaça dele.

231
— Deixe a Hayley fora disso — eu rosnei, fazendo os olhos de Owen dançarem
de alegria.

— Ah, você realmente se importa com ela — ele disse. — É uma pena que ela
vá terminar com você depois dessa noite.

— Do que você está falando?

— Apenas que ela estava simplesmente arrasada quando viu o quanto você e
a Laurie estavam próximos na festa, e o coraçãozinho dela parecia partir
quando eu contei o que aconteceu entre vocês dois…

— Nada aconteceu com a Laurie.

— Bem, eu sei disso e você sabe disso, mas Hayley foi tão facilmente
persuadida.

— Vou contar a ela a verdade.

— E em quem ela vai acreditar? O namorado que traiu ela ou o cara que a
consolou? Laurie é uma garota muito bonita, não foi difícil convencer Hayley
de que você prefere a líder de torcida.

O medo me agarrou quando percebi que ele tinha um ponto. Claro, Hayley
acreditaria nele. Eu, estupidamente, havia dito a ela que estava interessado
em uma líder de torcida, mas tinha que haver algo que eu pudesse fazer.

— Vou fazer Laurie contar a verdade a ela…

— Laurie foi quem me ajudou a ter essa ideia — disse ele explodindo em risos.
— Ela faria praticamente qualquer coisa para namorar comigo e estava mais
do que feliz em derrubar Hayley Lawson. Acho que conseguimos com certeza
isso hoje à noite, tudo o que preciso fazer agora é levar a Hayley para o baile
e aproveitar para assistir o seu coraçãozinho se partir.

— Não vou deixar você fazer isso.

— Então, me dê o dinheiro que eu pedi — os lábios dele se curvaram em um


sorriso desagradável.

232
— Isso não vai acontecer.

— Então, você só pode se culpar pelo que acontecer a seguir.

Nunca desejei tanto socar meu irmão em toda a minha vida. Não tinha ideia
por que ele era tão cruel comigo ou como poderia justificar fazer de tudo para
nos machucar, a mim e a Hayley, simplesmente porque eu tinha recusado
emprestar o dinheiro. Eu estava cansado dele. Arranquei meu braço de seu
aperto firme e o empurrei antes de seguir em direção ao meu carro.

— Acabou entre vocês! — Owen gritou atrás de mim. — Você já a perdeu!

No entanto, recusei-me a reconhecê-lo. Não podia perder algo que nunca tive,
mas não permitiria que Hayley acreditasse nas mentiras de Owen. Meus
próprios sentimentos à parte, não podia deixar que ele a usasse apenas para
me machucar. Só esperava que ainda não fosse tarde demais.

233
20 - Hayley

— Ugh, porque os meninos são tão chatos — resmunguei enquanto estava


sentada no balcão da cozinha, devorando sorvete como se não houvesse
amanhã.

— Você vai me contar o que aconteceu esta noite? — Perguntou minha mãe,
não respondendo diretamente à minha pergunta.

— Provavelmente não — minha resposta foi abafada por uma colherada de


sorvete e minha mãe balançou a cabeça para mim.

Ela provavelmente estava se perguntando se eu era realmente filha dela nesse


momento. Ela tinha toda a elegância e refinamento da rainha da beleza que
era, já eu, por outro lado, estava uma bagunça completa. Eu não conseguia
parar de pensar em como Ethan tinha beijado Laurie e minha mente
continuava tentando acrescentar imagens que eu não queria ver. Depois de
testemunhar os dois no corredor, era fácil demais criar uma imagem deles se
beijando e isso definitivamente não era algo que eu queria pensar.

Toda essa situação simplesmente parecia errada e, apesar do que eu tinha


visto, era difícil acreditar que fosse verdade. Era como se meus olhos
estivessem me enganando, porque eu sabia que Ethan não era o tipo de cara
que trairia uma garota, sendo relacionamento falso ou não. Nós tínhamos nos
tornado amigos nas últimas semanas e eu não achava que ele terminaria
nosso acordo sem falar comigo antes. Eu provavelmente estava
completamente errada, especialmente se Laurie fosse a garota dos sonhos
dele. Parecia que ela finalmente tinha notado ele e ele teria sido burro se não
a tivesse beijado.

Toda essa reflexão estava me dando dor de cabeça, eu me sentia justificada


em pelo menos culpar Ethan pelo meu cérebro latejante. Entre ele e o irmão
dele, eu estava completamente cansada de garotos naquela noite.

— Pai? — meu pai entrou na cozinha e o chamei me virando para ele. — Por
que os meninos são tão chatos? — questionei, talvez, esperançosamente, ele

234
tinha a resposta que eu estava procurando, já que minha mãe estava sendo
inútil.

— Algum menino te machucou? — Sua testa se franziu.

— Não, claro que não.

— Porque se machucaram, eu vou matá-los.

— Estou bem, ninguém me machucou, pai.

— Eu passei anos assistindo a programas de crimes reais como forma de


preparo para esse momento, sei como esconder um corpo.

Tive que segurar um sorriso. Meu pai podia ter sido rigoroso comigo, mas ele
se transformava em um leão da montanha superprotetor se eu estivesse em
risco de ser machucada.

— Juro que estou bem — repeti. — Foi mais uma pergunta filosófica.

— Então, por que o pote de sorvete? E por que você não está em casa dez
minutos depois do toque de recolher da festa e implorando por perdão como
de costume?

— A festa não estava legal, e eu não estava com vontade de ficar — dei de
ombros.

Ele continuou me encarando e eu podia praticamente ver as engrenagens


girando em seu cérebro. Sim, ele estava longe de ser convencido pelas minhas
mentiras, mas a campainha tocou, interrompendo, felizmente, o olhar fixo do
meu pai. Minha mãe foi atender, mas quando ela voltou, eu meio que desejei
que ela tivesse ignorado a campainha completamente.

— Ethan Beck está na porta — ela disse, havia um tom de sabedoria em sua
voz, como se ela soubesse perfeitamente que ele era o responsável pela minha
atual farra de sorvete. — Ele quer falar com você.

— Esse é o tal garoto? — meu pai empinou o peito como se estivesse se


preparando para a batalha.

235
Eu pulei da cadeira e fui rápido até ele antes que ele pudesse ir até a porta da
frente e fazer um escândalo.

— Não é o garoto.

Os olhos do meu pai se estreitaram.

— Eu juro.

— Tudo bem, mas se eu ver uma lágrima no seu rosto, ele tá acabado — ele
me encarou por mais um momento antes de começar a relaxar lentamente. —
Além disso, está quase na hora do seu toque de recolher, então você tem dez
minutos antes que eu saia lá fora e te arraste de volta.

— Ok, ok — saí correndo da sala antes que ele mudasse de ideia e criasse a
cena que ele claramente queria fazer.

Ethan era a última pessoa que eu queria ver depois dessa noite, mas eu sabia
que essa conversa teria que acontecer em algum momento. Poderia muito bem
ser agora. Empurrei meus ombros para trás ao abrir a porta da frente. Ethan
estava sentado no balanço do alpendre me esperando e ele se levantou quando
eu me aproximei.

— Não é verdade — ele disse enquanto se aproximava apressadamente de


mim. — O que Owen te contou, não é verdade.

Mordi o lábio inferior enquanto olhava nos olhos dele. Eu não tinha pensado
que Ethan fosse capaz de trair e ele parecia realmente angustiado. Sua pele
tinha ficado drasticamente pálida desde a última vez que o vi e seus olhos
cheios de tristeza eram profundos.

— Então, você não beijou Laurie?

— Não, todo mundo pensa que estou em um relacionamento com você e,


mesmo que você seja apenas minha namorada falsa, eu nunca faria isso com
você.

236
— Eu vi vocês dois na festa, ela estava grudada em você — respirei fundo ao
considerá-lo.

— E eu a afastei. Acredite quando digo que eu jamais gostaria de uma garota


como a Laurie — meu coração gelado parecia começar a aquecer e, enquanto
olhava nos olhos dele, eu acreditei nele. Ethan era um cara bom e não faria
isso comigo. Nós nem estávamos em um relacionamento, então que motivo ele
teria para mentir?

— Pensei que ela pudesse ser a garota dos seus sonhos — murmurei. —
Aquela por quem você está fazendo tudo isso.

— Ela não é a garota que eu gosto — ele olhou para baixo, para os pés, lutando
para encontrar meu olhar. Claramente, ele queria evitar o assunto, mas então
ele começou a falar novamente. — A garota que eu gosto é inteligente e bonita
— disse ele. — Ela é engraçada, gentil e cheia de vida. Laurie não é nada disso.

Ele lentamente me encarou. Seus olhos estavam um pouco nervosos, como se


ele não soubesse como eu reagiria às palavras dele. Estava achando difícil
processá-las e de repente era difícil respirar. Ouvir Ethan confessar seus
sentimentos por outra pessoa era como ter minha cabeça empurrada debaixo
d'água sem aviso prévio. Eu queria desesperadamente lutar para chegar à
superfície, mas não tinha ideia de qual era o caminho certo.

Ele ainda estava me olhando como se estivesse esperando por uma resposta,
mas tudo o que eu queria fazer era voltar para dentro e terminar aquele pote
de sorvete. Será que já tinham passado os dez minutos e meu toque de recolher
tinha acabado? Eu daria praticamente qualquer coisa para que meu pai viesse
aqui e me arrastasse para longe.

— Bem, ela parece incrível — eu lhe dei um sorriso forçado.

— Ela é — eu desejava que ele não estivesse me olhando com uma expressão
tão suave no rosto. Já era difícil o suficiente ouvir que ele gostava de outra
pessoa, quanto mais enquanto ele me olhava assim.

— Hayley, essa garota…

237
— Então, Owen me convidou para o baile — eu disse, interrompendo-o antes
que ele pudesse dizer mais uma palavra sobre a garota perfeita dele e
finalmente partir meu coração.

Ethan congelou. Parecia segurar a respiração por vários segundos longos, e


seus ombros ficaram tensos, como se ele estivesse se preparando para levar
um soco. Lentamente, a expressão em seu rosto mudou. A suavidade que
estava lá momentos atrás desapareceu e ele quase parecia decepcionado.

— Ele fez isso?

— Fez.

— E o que você disse a ele?

— Que precisava pensar sobre isso.

— Isso é bom — ele passou lentamente a mão pelo cabelo.

— É?

— Sim — ele inspirou profundamente antes de continuar. — Eu não acho que


você deveria ir ao baile com o meu irmão.

Meu coração pareceu parar e eu me debati enquanto tentava reiniciá-lo. Eu


não tinha ideia do que tinha mudado a mente de Ethan sobre o plano, mas
tudo em mim estava esperando que, apesar de tudo, ainda tivesse uma chance
com ele. Respirei fundo antes de responder.

— Por quê?

— Porque ele não quer ir ao baile com você pelos motivos certos. Você é uma
garota tão especial, Hayley, você merece ir ao baile com um cara que se
importa com você.

— Então, você não acha que Owen se importa comigo? — perguntei e franzi o
cenho, não era a resposta que eu estava esperando.

238
— Eu sei que ele não se importa — havia uma preocupação genuína nos olhos
de Ethan e eu podia dizer que ele estava achando difícil admitir isso para mim.
— Ele só quer ir com você, porque acha que isso vai me machucar. Você é
minha amiga e eu não posso deixar ele fazer isso com você.

Minha expressão de confusão só aumentou e era impossível negar a dor que


me atravessava enquanto falava. Não era particularmente agradável ouvir que
Owen não gostava de mim ou que ele só queria me usar para irritar Ethan.
Mas o que realmente doeu foi perceber que Ethan me via apenas como uma
amiga, uma amiga por quem ele estava tentando zelar.

Ethan ainda estava completamente apaixonado por outra pessoa e, enquanto


o observava, percebi que minha parte nisso havia terminado. Eu fiz o meu
melhor para ajudá-lo a conquistar o afeto da sua paixão misteriosa, mas agora
estava nas mãos dele. Não poderíamos manter essa farsa de relacionamento
para sempre. Em algum momento, eu precisava recuar e dar a Ethan a chance
de ficar com a garota que ele gostava. Suspirei, eu sabia o que precisava fazer.

— Eu agradeço pela sua preocupação — eu disse. — Mas eu sempre quis ir


ao baile com Owen, pelo menos desde que me lembro. Eu sei que você está
preocupado com as intenções dele, mas eu sou uma garota crescidinha e não
preciso que você cuide de mim.

— Hayley…

— Eu posso descobrir por mim mesma se Owen se importa comigo ou não. A


menos que haja outra razão pela qual você acha que eu não deveria ir com
ele…

Minhas palavras pairaram no ar, e eu esperava desesperadamente que Ethan


tivesse uma razão diferente. Que ele fosse tão contra eu ir ao baile com Owen,
porque ele mesmo queria me levar. Eu sabia que era pensamento ilusório,
especialmente depois de tudo que ele tinha dito essa noite, mas uma parte de
mim ainda tinha esperança de que talvez eu tivesse perdido algo.

Ethan olhou nos meus olhos e segurei a respiração enquanto esperava por
sua resposta. Eu não tinha ideia do que se passava em sua mente, mas quanto
mais tempo ele levava para falar, mais nervosa eu ficava.

239
— Não consigo pensar em nenhum motivo — ele finalmente murmurou.
Desviei o olhar para que ele não pudesse ver a decepção em meus olhos. Eu
sabia que essa resposta estava por vir, mas ainda assim era doloroso. — Você
tem certeza de que quer fazer isso?

— É o que eu queria, não é? — perguntei e olhei de volta para ele, dando de


ombros.

Dessa vez, quando seus ombros caíram, eu sabia que não estava imaginando.

— Então, você deveria ir com Owen. Apenas tome cuidado.

— Vou fazer isso — minha boca repentinamente ficou seca enquanto assenti.

Ethan deu um aceno decisivo e senti como se meu coração tivesse se partido
mais uma vez naquela noite enquanto ele se virava lentamente e saía do meu
alpendre. Envolvi meus braços ao redor do corpo enquanto o via se afastar,
desejando desesperadamente que ele tivesse dito as palavras que eu queria
ouvir. Ethan tinha sua própria garota dos sonhos, que claramente não era eu,
e se havia algo em que eu tinha certeza, era que Ethan merecia ser feliz.

***

— O que diabos aconteceu no fim de semana? — Madi sussurrou para mim


na manhã de segunda-feira.

— Bem, olá para você também — eu disse, enquanto a observava do meu


armário.

— Estou falando sério, Hayley. Só estive na escola por cinco minutos, mas já
ouvi as pessoas dizendo que Ethan te traiu na festa do Tanner, e que você
terminou com ele pelo irmão dele?

— Não falei com Owen desde a festa, então não faço ideia de onde esse rumor
começou — levantei uma sobrancelha para ela.

— E a parte em que Ethan te traiu?

240
— Outro rumor. Pelo menos, ele me disse que não era verdade e eu acreditei
nele — baixei minha voz antes de continuar. — De qualquer forma, você não
pode trair se você não está realmente em um relacionamento.

— Então, vocês ainda estão juntos — Madi soltou um suspiro aliviado.

— Não — eu disse enquanto fechava a porta do meu armário, depois me apoiei


nele enquanto observava a confusão no rosto da minha amiga aumentar.

— Eu realmente não consigo acompanhar — admitiu Madi. — Eu vi vocês


juntos durante toda a semana passada e estava começando a acreditar que
você realmente gostava dele.

— Talvez eu seja muito boa em fingir.

— Bem, nós duas sabemos que isso não é verdade, você é péssima em atuar.

— Então, talvez eu tenha gostado dele, mas ele não gostava de mim — bufei.

— Então, você realmente gostava dele — o rosto de Madi caiu.

Era difícil admitir em voz alta, mas eu não podia mentir para minha melhor
amiga, especialmente não sobre isso.

— Sim, eu gostava.

— Mas eu achava que ele gostava de você também.

— Eu não sou a garota que ele quer — tentei parecer tranquila, como se a
terrível verdade não me abalasse nem um pouco, mas minha voz saiu triste e
patética.

— Tem certeza? — ela perguntou. — Eu estava tão certa de que ele gostava de
você.

— Tenho certeza. Ele só me vê como amiga.

Madi passou um braço em volta dos meus ombros e me puxou para perto.

241
— Bem, então, ele é um idiota.

Eu não conseguia concordar com ela. Depois de passar as últimas semanas


com Ethan, eu o conhecia bem o bastante, ele estava longe de ser um idiota.
Ele simplesmente já estava apaixonado por outra pessoa, e eu apareci tarde
demais para ter alguma chance.

— Então, você vai ao baile com Owen? — Madi retirou o braço de volta. — Ele
está dizendo a todos que ouvem que vocês vão juntos.

— Ah, não — eu torci o nariz com nojo. Era loucura como eu podia ir de amar
a detestar alguém tão rapidamente. E, depois da noite de sábado, eu realmente
o detestava, não demorou muito para eu juntar as peças e perceber que Owen
devia ter mentido sobre o beijo entre Ethan e Laurie. Ethan tinha dito que o
irmão queria machucá-lo, e eu estava supondo que a mentira que ele me
contou era a maneira dele de fazer isso. Infelizmente, a mentira tinha
funcionado, mas não da maneira que Owen poderia ter pretendido.

— E você já disse a ele que não vão ao baile juntos? Aparentemente, ele acha
que vocês vão…

— Eu disse a Owen que ia pensar sobre isso e não falei com ele desde então.
Acho que minha resposta é bem clara.

— Então, com quem você vai, então?

— Comigo mesma — dei de ombros. — Acho que estou cansada de garotos no


momento e qualquer cara com quem eu fosse não seria o que eu queria, então
não vejo sentido nisso.

Os olhos de Madi ficaram tristes enquanto eu falava.

— Você poderia ir com Cole e comigo? — Ela sugeriu.

— Isso definitivamente não vai acontecer — respondi. — Não tenho medo de


ir sozinha, mas é melhor vocês guardarem algumas danças para mim.

Madi parecia que queria discutir mais sobre isso, mas foi interrompida quando
Isla veio voando em nossa direção.

242
— Não é verdade! Juro. Ethan nunca, em um milhão de zilhões de anos, te
trairia.

O que havia com as pessoas hoje de manhã e não dizerem "oi"?

— Ei, Isla, eu sei que não é verdade.

— Sabe mesmo? — ela parecia preparada para lançar um ataque defensivo


total, mas piscou e recuou.

— Sim, eu sei. Ethan é um cara bom. Eu até poderia ter acreditado por meio
segundo, mas quando o vi mais tarde naquela noite, não tive dúvida alguma
em minha mente.

— Caramba, estou tão aliviada de ouvir isso. Todo mundo estava falando sobre
isso quando cheguei à escola, e estava preocupada que vocês pudessem
terminar — os ombros de Isla relaxaram enquanto ela soltava um suspiro.

— Eles terminaram — respondeu Madi.

— Mas você acabou de dizer que acreditou nele — os olhos de Isla faiscaram
enquanto ela me lançava um olhar acusatório.

— Eu acreditei, mas nós dois simplesmente não estamos certos juntos.

— Vocês são perfeitos juntos.

— Ele gosta de outra pessoa — eu disse balançando a cabeça.

Isla ficou em silêncio por vários momentos.

— Isso não é possível — ela disse finalmente. O sinal para a primeira aula
tocou, e eu apertei meus livros contra o peito.

— Eu queria que as coisas fossem diferentes — respondi, enquanto começava


a me dirigir para a aula. — Mas, a triste verdade é que eu gosto de Ethan, mas
ele não gosta de mim do mesmo jeito.

243
21 - Ethan

Isla tinha me lançado olhares de desaprovação o dia todo. Eu não tinha certeza
do que exatamente tinha feito para irritá-la, mas eu estava tão triste com as
coisas com a Hayley que não me importava. O plano inteiro tinha
desmoronado no fim de semana e parecia que eu tinha perdido minha chance
com ela para sempre.

Eu estava prestes a revelar meus sentimentos à Hayley quando ela lançou a


bomba do baile com Owen em mim. O momento parecia certo e finalmente
senti que tinha reunido coragem suficiente, mas assim que ela me disse que
meu irmão a tinha convidado para o baile, eu soube que não podia expressar
como realmente me sentia.

Tentei desesperadamente avisá-la de que era uma ideia ruim, mas Hayley não
quis me ouvir. Apesar de tudo o que contei a ela sobre Owen, ela ainda queria
ir ao baile com ele. Será que ela estava tão cega para o fato de que ele não era
certo para ela? Será que ela realmente não se importava que ele estava apenas
usando ela?

Evitei meus amigos no almoço, optando por usar uma das salas de música
para praticar minha guitarra. Eu tinha contado ao Colin o que aconteceu na
noite de sábado, mas ainda não tinha tido coragem de contar a verdade para
Isla. Ela merecia saber a verdade sobre Hayley e nosso relacionamento falso e
como ele tinha se desfeito. No entanto, eu não conseguia encarar a
desaprovação dela, então abracei o desastre patético que eu era e me escondi.

— Onde você estava no almoço? — Colin perguntou, enquanto me alcançava


antes da minha próxima aula.

— Eu não tive muito tempo para tocar esta semana, então fui para uma das
salas de ensaio.

Colin olhou nos meus olhos por meio segundo antes de balançar a cabeça.

— Você é um péssimo mentiroso. Você sabe disso, né?

244
— Sim, eu sei — eu enfiei as mãos nos bolsos e arrastei o sapato no chão.

— Ainda com medo de contar a verdade para Isla?

— Você não estaria?

— Sim, provavelmente — Colin riu. — Ela parece achar que você e a Hayley
terminaram porque você gosta de outra pessoa.

— O quê? — meus olhos se acenderam com uma surpresa genuína. — Mas


ela sabe que gosto da Hayley há anos. Como ela poderia realmente pensar
isso?

— Bem, Isla conversou com a Hayley, e isso é o que ela disse que aconteceu…

— Isso não faz sentido algum — murmurei. — Terminamos porque a Hayley


queria ir ao baile com Owen.

— Ou talvez, a Hayley pense que você terminou o relacionamento falso por


causa do Owen e por causa da sua garota misteriosa — respondeu Colin. —
Hayley ainda está completamente alheia ao fato de que ela é a pessoa de quem
você gosta, afinal.

Ele tinha razão, mas infelizmente, isso não mudava nada. Hayley ainda queria
ir ao baile com o meu irmão, e por mais que eu desejasse que as coisas fossem
diferentes, ela deixou claro que queria estar com Owen.

Fui distraído por Colin quando um grupo de garotas passou por mim e me
lançou uma série de olhares de desdém. Eu soltei um suspiro e tentei ignorá-
las. Elas não foram os primeiros olhares de raiva que recebi hoje e
provavelmente não seriam os últimos. As pessoas nesta escola tendiam a
acreditar em todos os boatos que ouviam, e graças ao meu irmão, todos na
escola pareciam pensar que eu traí minha namorada.

— Estou realmente ansioso para que a escola acabe hoje — resmunguei.

— Não se estresse — Colin me deu um sorriso de simpatia. — Dê alguns dias,


e todos estarão amando ou odiando outra pessoa.

245
Eu esperava que isso fosse verdade. Infelizmente, os olhares de desdém eram
apenas uma parte da minha atual existência deprimente, a outra parte estava
caminhando pelo corredor em minha direção. Owen me lançou um sorriso
sarcástico cheio de puro ódio ao se aproximar, e eu sabia que ele não deixaria
as coisas entre nós tão facilmente.

— As garotas não parecem ser tão fãs suas agora — disse Owen ao se
aproximar. — Acho que seus quinze minutos de fama acabaram.

Foram as primeiras palavras que ele compartilhou comigo desde a noite de


sábado. Ele não me procurou em casa, e estava evitando jantares em família
de propósito, já que nossos pais ainda estavam furiosos com ele.

— Deixa ele em paz — rosnou Colin. Eu coloquei uma mão no peito dele,
tentando acalmar meu amigo, a última coisa que Colin precisava era se
indispor com Owen também.

— Vocês dois são patéticos — Owen riu e balançou a cabeça. — Quase sinto
pena por roubar sua namoradinha — ele fez uma pausa como se estivesse
pensando sobre isso. — Na verdade, talvez não sinta.

Meu peito apertou, enquanto os fragmentos restantes do meu coração


pareciam se despedaçar. Então, era verdade, Hayley e ele estavam namorando.
Eu tinha ouvido os rumores circulando na escola, mas não tinha parecido real
até eu ouvir isso confirmado por Owen. Ele sorriu ao perceber a expressão no
meu rosto e se inclinou para que sua boca ficasse perto do meu ouvido.

— Espero que você lembre desse sentimento e pense duas vezes antes de
mexer comigo de novo. E acredite quando digo que vai piorar quando você ver
a sua preciosa Hayley nos meus braços neste fim de semana.

Ele me deu um tapinha no ombro antes de seguir seu caminho. Fiquei olhando
para ele, completamente sem palavras. Normalmente, não tinha problema em
enfrentar meu irmão, mas agora, eu só queria ter dado o dinheiro estúpido
que ele pediu. Eu me sentia completamente impotente e não tinha ideia de
como proteger Hayley dele. Ele não podia ser impedido, ela não ouviria minhas
advertências. O que eu ia fazer?

246
— Você tem certeza de que seus pais não pegaram o bebê errado no hospital?
— perguntou Colin. — Acho realmente difícil acreditar que vocês dois são
parentes.

— Se ao menos fosse assim — murmurei.

— E você realmente vai deixar ele pisar em você desse jeito?

— Ele já tirou a única coisa que me importa. Qual é o sentido de revidar? —


soltei um suspiro e dei de ombros.

— Ah, por que você merece ser feliz?

Virei lentamente para longe da figura do meu irmão se afastando para olhar
para Colin.

— Mesmo que eu lute, não serei feliz — respondi. — Já contei a verdade à


Hayley sobre Owen, mas ela ou não se importou, ou não acreditou em mim.
Não há mais nada que eu possa fazer.

***

Levou três dias para Isla finalmente me encurralar. Eu tinha feito o possível
para evitá-la na escola, mas era um pouco mais difícil fazer isso quando ela
apareceu na nossa prática de banda na garagem do Colin.

— Por que você tem me evitado? — exclamou Isla, enquanto entrava pela porta
da garagem.

Era a primeira vez que a via entrar na sala sem correr imediatamente e se
jogar nos braços de Dex, então eu sabia que estava encrencado. Colin e Dex
compartilharam um sorriso irônico. Eles realmente precisavam aproveitar
tanto o meu sofrimento assim?

— Ethan Immanuel Beck. Fiz uma pergunta! — minha atenção voltou-se para
Isla, que agora tinha as mãos na cintura e uma expressão séria no rosto. Ela
tinha usado meu nome do meio, então eu sabia que ela estava realmente
chateada comigo.

247
— Eu não estava te evitando, Isla.

— Sim, você estava. Você chegou tarde na sala de aula todas as semanas e se
escondeu nas salas de ensaio na hora do almoço. E, como se isso não fosse
ruim o suficiente, você nem mesmo me disse que você e a Hayley terminaram!
Tive que ouvir a notícia de algum garoto maconheiro — um pequeno riso
escapou de Dex, e Isla direcionou seu olhar duro para ele. — Dexter. Colin.
Vocês dois podem nos dar um momento, por favor?

As expressões divertidas em seus rostos desapareceram e eles rapidamente


assentiram antes de saírem da sala. Essa era exatamente a razão pela qual eu
evitava dar más notícias à Isla. Ela podia ser realmente assustadora quando
queria, e agora, eu estava aterrorizado.

— Por que você não conversou comigo? — sua expressão rígida suavizou assim
que ficamos sozinhos. — Com todos os rumores circulando, eu estava
realmente preocupada com você.

As palavras dela foram como uma estaca fincada bem no meu peito. Eu odiava
mais do que tudo deixar a Isla chateada.

— Desculpe por não ter contado o que aconteceu no final de semana. Eu


simplesmente não sabia como explicar tudo para você.

— Você explicou direitinho para o Colin.

— Sim, eu sei. É que havia algumas coisas que eu não tinha te contado, e eu
não estava certo de que você entenderia.

— Que coisas? — confusão tomou conta dos olhos da Isla.

Inspirei profundamente e finalmente contei a verdade para Isla. A verdade


completa, incluindo todos os detalhes do acordo que eu tinha com Hayley. Ela
ficou em silêncio durante toda a história, sua expressão não mudou, parecia
ainda mais confusa. Quando finalmente terminei, ela balançava a cabeça.

— Nada disso faz sentido — disse, pelo menos ela não parecia brava.

— Bem, eu te contei tudo agora.

248
— O que você deveria ter feito desde o começo — ela retrucou antes que sua
expressão suavizou novamente. — Mas, sério, eu não acho que Hayley teria
terminado com você para ir ao baile com Owen. Acho que ela realmente gosta
de você.

— Ela disse que ir ao baile com o Owen era o que ela queria — eu disse
balançando a cabeça.

— Eu não acredito nisso — Isla respondeu imediatamente. — Sério, você


deveria ter visto ela quando me contou sobre vocês dois. Ela estava realmente
chateada por vocês terem terminado e a voz dela praticamente quebrou
quando ela falou sobre você gostar de outra pessoa.

— Tudo não passava de fingimento, Isla.

— Há coisas que você não consegue fingir — disse, parecendo não convencida.
— E embora seu relacionamento possa não ter sido real no início, eu vi como
ela olha para você e definitivamente acredito que tenha sido de verdade no
final.

As palavras dela me fizeram pausar e por um breve e esperançoso segundo,


me perguntei se ela estava certa.

— Por que ela iria ao baile com Owen se ela realmente gostasse de mim?

— Bem, é óbvio, não é? Se você disse a ela que gostava de outra pessoa, é
claro que ela ia se afastar e deixar você ir com aquela garota.

— Mas a garota de quem gosto é a Hayley.

— E você disse isso a ela?

— Bem, não…

— Então, ela absolutamente não tem ideia de que você não está apaixonado
por outra pessoa — Isla balançou a cabeça. — Vocês garotos são inúteis. Vocês
sabem disso, certo?

249
Meus olhos se arregalaram quando percebi que ela estava certa. Hayley nunca
me manteria em um relacionamento falso por mais tempo do que fosse
necessário. Agora que Owen a convidou para o baile, não havia razão para ela
continuar com o plano, especialmente se ela achasse que eu amava outra
pessoa. Ela achava que estava me dando a chance com a garota dos meus
sonhos, mas na realidade, ela era quem eu queria estar.

— O que eu vou fazer?

— Você vai contar a ela como você realmente se sente — Isla começou a sorrir.

— E se ela não gostar de mim? E se ela ainda gostar do Owen?

— Então, você pode continuar emburrado, exatamente como está agora, mas
se você não arriscar e não contar a ela a verdade, então você a perderá para
sempre.

Eu assenti lentamente, sabendo que Isla estava certa.

— Então, como faço isso? — Perguntei.

— Nós vamos criar um plano brilhante com a minha ajuda desta vez, é claro
— Isla sorriu.

— Obrigado, Isla.

— E é por isso que você sempre deveria me incluir em qualquer operação


secreta — disse revirando os olhos para mim. — Lembre-se disso para a
próxima vez, ok.

Ela se virou e saiu da garagem, acenando para Dex e Colin, que


aparentemente estavam ouvindo da porta o tempo todo.

— Então, você vai tentar reconquistar a Hayley? — Colin perguntou com um


sorriso, enquanto entrava de volta na garagem.

— Parece que sim, só espero que funcione — eu não consegui evitar um sorriso
que se estendeu pelos meus lábios em resposta.

250
22 - Hayley

O baile era uma daquelas coisas pelas quais você passava o ano inteiro ficando
empolgada, e quando se tratava de danças escolares, eu geralmente exagerava
na minha animação. Hoje à noite, meus sentimentos habituais de alegria não
estavam em lugar nenhum e um nó de apreensão se formava no meu estômago
quando eu pensava na noite que estava por vir.

Normalmente, eu me arrumava para todas as danças com a Madi, mas


inventei uma desculpa para evitar ir à casa dela. Eu estava feliz que ela tivesse
aceitado tão facilmente minha mentira, porque eu não tinha certeza se
conseguiria fingir qualquer entusiasmo hoje à noite. Eu sequer conseguia
começar a me arrumar. Em vez disso, sentei na minha cama, apenas olhando
para o belo vestido azul do baile pendurado na parte de trás da minha porta.

A janela do meu quarto estava fechada, e as persianas estavam firmemente


fechadas há uma semana. Hoje à noite foi a primeira vez que senti vontade de
espiar e dar uma olhada no quarto de Ethan. Queria vê-lo vestido em um
terno, mesmo sabendo que ele não estaria arrumado para mim. Meu coração
ainda dava um salto toda vez que eu pensava na incrível garota que ele
gostava, e meu estômago se apertava de desejo, desejando que essa garota
fosse eu.

Uma batida suave soou na minha porta e olhei para cima quando minha mãe
entrou no quarto. Seu rosto tinha uma expressão de expectativa, que caiu
rapidamente quando ela me viu.

— Você não está vestida — ela disse. — Por que você não está vestida? O baile
começa em vinte minutos.

— Não tenho mais certeza se quero ir — respondi.

— Por que não? — ela se aproximou e sentou na minha cama, olhando ao


redor do quarto com uma expressão de preocupação no rosto. Não havia
nenhuma peça de roupa no chão, e eu tinha passado o dia inteiro limpando
para distrair minha mente. Ela provavelmente achou que havia algo
gravemente errado comigo. Ela não estava errada.

251
— O garoto com quem eu queria ir gosta de outra pessoa — soltei um longo
suspiro.

— Pensei que você fosse com o Ethan e que vocês dois estivessem namorando
— eu não tinha contado isso a ela, então eu estava supondo que Kitty tinha
aberto a boca grande dela e falado demais.

— Nós terminamos — eu disse.

— Oh, sinto muito, querida.

— Não é grande coisa, nós só namoramos por algumas semanas — dei a ela
um sorriso triste.

— Ainda assim, términos nunca são fáceis.

— Não é tão ruim assim — eu era uma mentirosa de primeira, terminar com
Ethan tinha sido a pior experiência.

Mesmo que nosso relacionamento não fosse real, eu tinha passado cada
minuto da semana passada sentindo falta dele. Não sei porque decidi agir
como a santa e deixá-lo livre para que ele pudesse ir atrás da garota
misteriosa. Eu deveria ter deixado as coisas como estavam. Talvez ele tivesse
passado a gostar de mim da mesma forma que eu gostava dele?

— Então, é por isso que você não vai ao baile? — minha mãe perguntou. —
Por que você não tem um par?

— Eu acho — respondi.

— Bem, e se eu dissesse que tem um jovem muito bonito esperando na nossa


varanda da frente por você? — ela começou a sorrir lentamente.

— O quê? — eu me endireitei na cama.

O sorriso dela se alargou em um grande sorriso enquanto ela assentia. Eu


pulei da cama e corri para fora do quarto. Meu coração estava batendo a mil
por hora, e eu me perguntava se tinha sido errado sobre o Ethan. Será que ele

252
gostava de mim? Não hesitei enquanto pegava a porta da frente e a abria antes
de sair correndo para a varanda da frente. Meu coração acelerado freou
abruptamente quando vi quem estava me esperando.

— Owen?

Ele estava olhando para o quintal da frente e lentamente se virou para me


encarar. Ele estava vestido com um terno caro que lhe caía perfeitamente bem,
segurando um belo corsage de rosa-vermelha em suas mãos. Seu cabelo
estava penteado para trás com gel e ele parecia incrivelmente bonito. No
entanto, não era o rosto bonito que eu esperava ver na minha porta da frente.

— Você vai realmente assim ao baile? — os cantos dos olhos dele se franziram
com desgosto enquanto ele me avaliava.

Olhei para baixo e percebi que ainda estava vestindo minhas roupas de treino,
meu cabelo estava preso em um coque bagunçado e sem maquiagem. Eu nem
estava usando sapatos. Corei ao olhar para cima para ele. Sim, parecia que
eu tinha me vestido no escuro, mas ele precisava me olhar como se eu fosse
um pedaço de lixo grudado no sapato dele? Ele estava me encarando como se
quisesse nada mais do que me ignorar.

— O que você está fazendo aqui, Owen? — cruzei os braços sobre o peito.

— Te levando ao baile, é claro — disse, porém, ele não parecia tão certo de que
isso era uma boa ideia e seus olhos se desviaram novamente para minhas
calças de treino.

— Eu nunca concordei em ir com você.

— Você terminou com o meu irmão. Eu pensei que isso significava que você
tinha pensado a respeito e tinha caído em si. — Ele respondeu com um
desdém.

— Você pensou errado — rosnei.

— E daí? Você vai só ficar por aqui em casa esta noite? — os lábios dele se
ergueram lentamente em um esgar feio.

253
— Melhor do que ir ao baile com você.

— Não seja estúpida — ele balançou a cabeça para mim. — Suba as escadas,
coloque um pouco de maquiagem e um vestido. Eu posso esperar aqui fora
por cinco minutos.

— Você vai esperar muito mais do que cinco minutos, porque eu não vou a
lugar nenhum com você.

— Sabe, eu não tenho a noite toda para ficar esperando por uma pirralha —
disse ele e olhou para o relógio, quando me olhou novamente seus olhos se
estreitaram. — Você vai comigo ou não vai? Estou te dando uma última
chance.

— Nossa, você realmente é difícil — eu me virei para entrar de volta.

— Então, você não vai comigo?

Eu não o olhei quando abri a porta da frente e a fechei com força atrás de
mim. Isso era tudo a resposta que ele precisava.

Minha mãe estava parada nas escadas com uma expressão preocupada no
rosto.

— Pelo visto não foi bom.

— Ah, não, foi perfeito — respondi. — Deixei bem claro que não vou ao baile.

— Mas, eu pensei que você não fosse porque não tinha um par.

— Não, não vou porque não tenho um par com o cara certo.

Outra batida soou na porta atrás de mim e comecei a rosnar.

— Juro por todos os deuses das líderes de torcida, Owen. Vou te dar um tapa
na cabeça com esse corsage se você não… — minha voz desapareceu quando
abri a porta e encontrei Isla e Madi paradas ali, as duas explodiram em
risadinhas.

254
— Os deuses das líderes de torcida, sério mesmo? — perguntou Isla.

— Sim, sério mesmo — sacudi a cabeça para as duas, mas parei quando
percebi que ambas estavam deslumbrantes e vestidas para o baile.

Madi usava o lindo vestido com lantejoulas que eu a ajudei a escolher,


enquanto Isla vestia uma saia longa roxo-escuro que combinava com um top
curto. Havia uma fenda na saia que revelava um par de botas militares e
imediatamente senti inveja de quão bem ela conseguiu incorporar o visual.

— Nossa, vocês duas estão incríveis.

— E você não está nem um pouco pronta — Madi fez um som de reprovação.

Olhei para baixo para as minhas roupas de treino e fiz uma careta ao ver uma
mancha de sorvete em uma das pernas. Eu estava uma bagunça. A roupa era
perfeita para a noite que eu tinha planejado, não que eu quisesse contar para
as minhas amigas que eu havia decidido desistir do baile. Eu não conseguia
imaginar que isso seria bem recebido e parecia muito mais seguro evitar o
assunto completamente.

— O que Owen estava fazendo aqui? — Madi continuou. — Pensei que você
não fosse ao baile com ele.

— Eu não vou! — meu rosto se contorceu com nojo.

Não consegui acreditar que já tive uma queda pelo cara. Comecei a me
perguntar se ele tinha roubado aquele poema da sétima série da internet,
porque eu tinha quase certeza de que ele não estava escondendo nenhuma
alma bela sob sua fachada confiante. Ele era apenas um idiota.

— Parece que ele entendeu agora — respondeu Isla. — Passamos por ele na
sua entrada e ele parecia furioso.

— Bem, ele não tem direito de ficar assim. Eu nunca concordei em ir ao baile
com ele — respondi. — O que vocês estão fazendo aqui de qualquer forma?

— Você não apareceu na minha casa para se arrumar — disse Madi. — Então,
liguei para Isla para ver se ela sabia o que estava acontecendo. Ela também

255
não tinha ideia, então aqui estamos — ela olhou para Isla, que deu de ombros,
mas quando olhou de volta para mim, cruzou os braços. — Lamento te
informar, Hayley, mas eu nunca ia acreditar que você não pudesse ir porque
sua mãe tinha uma emergência de design de interiores que você precisava
ajudar.

— Não era tão inacreditável assim… — resmunguei.

— Foi uma desculpa terrível e você sabe disso — respondeu ela e balançou a
cabeça para mim.

— Sim, acho que foi bem fraquinha.

— Foi totalmente fraquinha — concordou Isla. — Mas, deixando a fraqueza de


lado, por que você ainda não está vestida para o baile?

Soltei um longo suspiro. Parecia que não havia como evitar essa pergunta.

— Porque eu não vou ao baile.

— Não seja estúpida, claro que vai — zombou Isla.

— Ela está certa — acrescentou Madi. — Você adora danças escolares e esse
é o baile de formatura, você não pode perder.

— Eu não sei, meninas. Só não estou sentindo vontade.

— Bem, isso é uma pena — Madi passou por mim e entrou na casa. Ela
segurou meu cotovelo e começou a me guiar escada acima.

— O que você está fazendo? — Protestei.

— Seguindo as regras de melhor amiga — respondeu ela. — E a regra número


três é sempre ignorar sua melhor amiga quando ela está sendo teimosa e fazer
o que é do seu melhor interesse, mesmo que ela te odeie por isso.

— Tenho quase certeza de que a regra número três é sempre contar uma à
outra se você tem comida nos dentes…

256
— Vamos lá, vamos te ajudar a se arrumar — disse Madi e revirou os olhos
para mim e sorriu. — Hoje à noite vai ser incrível, você confia em mim?

Soltei um suspiro, sabendo que não podia recusar Madi quando ela apelava
para a confiança.

— Sim, confio em você — murmurei.

— Ótimo — ela respondeu com um sorriso. — Porque se você não for, então
eu não vou e eu me sentiria realmente mal em deixar Cole plantado.

— É, acho que Dex também não entenderia — acrescentou Isla, nos seguindo
para o meu quarto. — Ele nem está mais no ensino médio.

— Vocês deixariam o baile por mim? — fiquei olhando para as duas com
choque.

— Bem, nós não vamos te deixar aqui sozinha mofando — disse Isla. — Então,
você vem?

Levei um momento para responder. Não fiquei tão surpresa que a Madi
deixaria de ir ao baile por mim, porque eu faria o mesmo por ela sem hesitar.
Mas Isla e eu tínhamos acabado de nos tornar amigas, e eu não conseguia
acreditar que ela abriria mão de ir ao baile também.

— Hayley? — Madi me incentivou.

— Ok, ok, vocês ganharam. Eu vou.

As duas pularam em cima de mim e me puxaram para um abraço coletivo.

— Você não vai se arrepender!

— Esta noite vai ser incrível! — As duas estavam gritando de empolgação, e


era contagiante.

Eu estava completamente pressionada entre as minhas duas amigas, mas


estava sorrindo tanto que ninguém imaginaria que minhas costelas estavam

257
a um aperto de serem esmagadas. Garotos eram totalmente supervalorizados
quando você tinha amigas como essas duas.

Isla e Madi não perderam tempo e logo começaram a mexer no meu cabelo e
na maquiagem. Madi não era fã de maquiagem, então ela deixou meu rosto
nas mãos de Isla. Nós já tínhamos arrumado o cabelo uma da outra várias
vezes em noites de pijama, então ela decidiu fazer um penteado para mim.

Elas trabalharam rápido e eficientemente, e fiquei surpresa quando ambas


anunciaram que tinham terminado em apenas vinte minutos. Normalmente,
eu levava pelo menos o dobro desse tempo para me arrumar para sair, mas
elas pareciam aproveitar ao máximo cada segundo que tínhamos. Afinal,
estávamos atrasadas.

— Ok, agora, coloque seu vestido — disse Madi, me apressando com as mãos.

Eu ri e rapidamente fiz o que ela disse. Era estranho ter nossos papéis
invertidos. Normalmente, Madi era a que estava ansiosa para ficar em casa,
enquanto eu precisava incentivá-la bastante para se arrumar e sair. Assim
que terminei de me vestir, Isla assobiou.

— Caramba, garota, você está incrível.

Virei para o espelho para dar uma olhada. Tinha esquecido o quão
perfeitamente o meu vestido de baile vestia, eu tinha combinado com um par
de saltos transparentes que minha mãe tinha encontrado para mim. Meus pés
quase pareciam estar envoltos em vidro e, combinados com o vestido azul, eu
me senti um pouco como Cinderela a caminho do baile. Minha maquiagem era
muito mais sutil do que eu normalmente usava, mas fiquei surpresa ao
descobrir que preferia o visual mais natural. Madi também tinha feito um
trabalho incrível no meu cabelo e, agora que estava pronta, não podia
acreditar que já tinha considerado não ir ao baile. Esse conjunto merecia ser
visto.

— Está perfeito! Muito obrigada por ajudarem.

— Não foi nada — respondeu Isla com um sorriso caloroso.

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— Você sempre faz mágica com as minhas transformações — Madi
acrescentou. — Só parecia justo que eu finalmente retribuísse o favor.

Houve uma batida na porta e minha mãe apareceu na porta.

— Vocês meninas… — sua voz foi diminuindo quando ela me viu, e seus olhos
ficaram vidrados enquanto me olhava. — Oh, Hayley, você está tão linda.

— Obrigada, mãe — agradeci e minhas bochechas esquentaram.

— Agora, espero que vocês estejam prontas, porque tem um carro na frente
esperando para levá-las ao baile.

— Tem? — perguntei.

Isla e Madi compartilharam um sorriso, mas não tentaram explicar. Madi


simplesmente enlaçou o braço no meu.

— Vamos lá, não vamos fazer o motorista esperar.

Saímos para fora e minha boca caiu quando vi uma limusine estacionada na
rua.

— Madi, a gente nem falou sobre pegar uma limusine para o baile —
murmurei.

— Eu sei — ela disse com um sorriso sugestivo na direção de Isla. — Foi você
quem organizou isso?

— Eu posso saber de alguma coisa sobre isso — disse ela com um encolher
de ombros e sorriu. — Mas pare de se preocupar com o porquê de ela está
aqui e vamos entrar logo — ela pegou minha mão e me puxou em direção à
limusine me fazendo rir.

Ao entrar no veículo, dei uma última olhada para a casa de Ethan e um pouco
da minha empolgação diminuiu. Senti sua ausência profundamente enquanto
estávamos nos preparando para ir ao baile, ele não era o cara com quem eu
inicialmente sonhava em ir, mas ele havia se insinuado no meu coração e não
havia como negar que ele era o que eu gostaria que estivesse ao meu lado.

259
Talvez eu não pudesse estar com Ethan hoje à noite, mas ao olhar para Madi
e Isla, sabia que ainda era incrivelmente sortuda. Ethan podia ter meu
coração, mas essas duas nutriam minha alma, eu sabia que teríamos uma
noite incrível juntas.

— Você está pronta para isso? — Madi perguntou.

— Sim, estou mesmo — sorri

260
23 - Hayley

O baile estava sendo realizado em um salão de festas de um hotel na cidade


ao lado da nossa, era uma viagem de vinte minutos para chegar lá. As garotas
aumentaram o volume da música no carro, e nós três cantamos a plenos
pulmões durante todo o caminho. O tempo parecia voar e quando o motorista
parou, senti que a viagem tinha acabado rápido demais. Ele abriu a porta para
nós, mas foi só quando saí da limusine que percebi que não estávamos no
hotel.

— Por que estamos na escola? — virei para minhas amigas e as peguei


trocando um olhar desconfortável. — Madi, Isla, o que está acontecendo?

— Isso é só uma parada rápida — disse Madi, ficando rapidamente séria. —


Angus está no comitê do baile e ele esqueceu de trazer as coroas para o rei e
a rainha do baile — ela suspirou e revirou os olhos enquanto falava. — Cole
disse a ele que estávamos atrasadas, então ele me mandou mensagem
perguntando se poderíamos pegá-las.

— Você está falando sério? — não podia acreditar que Angus esperava que
fizéssemos isso.

— Eu sei que é chato, mas eu disse a ele que pegaríamos — Madi deu de
ombros. — E é melhor irmos logo, senão vamos perder ainda mais do baile.

— Ok, onde elas estão? — soltei um suspiro, sabendo que ela estava certa.

— Na quadra da escola — ela respondeu rapidamente, felizmente, o motorista


tinha parado bem na entrada da quadra.

— Você quer que a gente espere no carro enquanto você pega? — perguntei.

— Na verdade, — Madi disse — eu estava esperando que você fosse por mim.
Já estou achando difícil andar de salto alto.

Olhei para os saltos agulha que ela estava usando, Madi tinha dificuldades
com qualquer sapato com altura e os saltos de seis polegadas eram

261
praticamente armadilhas mortais nos pés dela. Era um milagre que ela tivesse
chegado até aqui com eles esta noite.

— Ok, tudo bem, eu vou — era o mínimo que eu podia fazer considerando o
quanto ela me ajudou esta noite. — Mas é melhor você torcer para que as
portas não estejam trancadas, senão vamos ter que lidar com uma Laurie
muito brava quando ela não receber a coroa.

— Angus disse que elas deveriam estar abertas — Madi riu.

— E onde exatamente estão as coroas?

— No escritório atrás da quadra de basquete — ela respondeu.

Assenti e me virei para a quadra, indo em direção à porta tão rapidamente


quanto meus saltos permitiram. Agora que eu tinha aceitado que iria ao baile,
não queria perder mais nada. Surpreendentemente, a porta da quadra estava
aberta, exatamente como Madi tinha dito. O corredor à frente estava escuro,
mas não me dei ao trabalho de procurar pelo interruptor de luz, porque havia
um filete de luz vindo debaixo da porta que levava à quadra de basquete.

Me apressei em direção à porta e a abri, mas parei bruscamente quando vi o


corredor à frente. Centenas de velas cobriam o chão, iluminando a quadra em
um brilho romântico e suave. A visão delas era incrivelmente bonita, mas não
eram as velas que tiraram meu fôlego, era o fato de que, de pé no centro delas,
estava Ethan.

Ele parecia tão incrivelmente bonito. Estava vestido com um terno vinho que
parecia destacar seus ombros largos, e estava usando uma gravata borboleta
peculiar que era perfeita demais para ele. Seu cabelo estava bagunçado, como
sempre, mas era o tipo de bagunça que eu queria passar os dedos. Ele não
estava usando seus óculos, e eu podia ver seus olhos azuis incríveis com tanta
clareza.

Engoli em seco, mas o movimento foi difícil, porque minha boca estava tão
seca que parecia uma lixa. O que Ethan estava fazendo ali? Por que ele tinha
todas essas velas acesas? O ambiente parecia uma cena de filme romântico,
e enquanto eu olhava para aquilo, percebi que Ethan deve ter preparado tudo

262
para a garota de quem ele gostava tanto. Eu tinha interrompido
completamente o momento especial deles.

Virei rapidamente e alcancei a porta pela qual eu tinha acabado de entrar,


precisava sair dali rápido. Laurie podia fazer uma coroa de papel para ela,
tanto faz, de jeito nenhum eu ia ficar por perto e estragar o gesto de Ethan ou,
pior ainda, encontrar a garota dos sonhos dele. Parei quando Ethan chamou
meu nome.

— Hayley?

Virei devagar para encará-lo e lhe dei um sorriso forçado. Ele estava
caminhando na minha direção, com uma expressão preocupada. Sim, eu
oficialmente havia interrompido o momento romântico dele.

— Oi, Ethan. Desculpa pela intromissão, só vim pegar algo no escritório.

— Intromissão? — ele parecia confuso ao parar na minha frente, mas eu não


sabia o porquê.

— Ah, sim. Não vou demorar. Tem alguma chance de você ter visto um par de
coroas plásticas bem chamativas?

— Não posso dizer que vi — ele começou a sorrir lentamente.

— Bem, tenho certeza de que elas estão por aqui em algum lugar. Não dá
exatamente para coroar nosso rei e rainha do baile sem elas — eu estava
falando sem parar e comecei a andar na direção do escritório para procurar
as coroas antes de parecer ainda mais tola.

Eu não havia dado mais do que um passo antes que Ethan segurasse minha
mão para me deter. Meu coração se contorceu quando ele me tocou. Eu
realmente gostava de como minha mão se encaixava na dele. Era como se
fossem feitas uma para a outra.

— Hayley, espera — ele murmurou. — Você não se perguntou o que estou


fazendo aqui?

263
Olhei nos olhos dele e vi que suas profundezas azuis estavam cheias de
emoção. Havia tanto carinho neles, mas eu sabia que só podia ser porque ele
estava empolgado com a paixão dele.

— Bem, considerando todas as velas, eu suponho que você está tentando


entrar em contato com os mortos? — Desviei meu olhar dos olhos dele ao
responder, eu não queria dizer a verdade em voz alta.

— Você acha que eu entraria em contato com os mortos no nosso ginásio da


escola?

— Bem, eu esperaria que não. Já há forças do mal o suficiente na nossa escola


sem adicionar fantasmas na mistura também.

— Não estou tentando entrar em contato com os mortos — ele lutou para
conter um sorriso.

— Então, o que você está fazendo?

— Eu queria encontrar uma maneira de contar à garota de quem gosto a


verdade sobre os meus sentimentos — a expressão dele suavizou enquanto ele
me olhava.

Soltei um suspiro ao olhar pelo ginásio iluminado por velas. A forma como ele
tinha transformado um espaço tão comum em um lugar que parecia tão
mágico era incrível. As pequenas chamas cintilavam e a luz das velas dava à
sala um brilho suave. Era incrivelmente romântico e eu queria que fosse eu
de quem ele estava falando.

— Bem, ela é muito sortuda. É lindo!

— Igual a ela — ele respondeu.

Ele estava me olhando com tanta ternura que eu lutava para conter as
lágrimas que se acumulavam nos meus olhos. Por que eu não podia ser a
pessoa com quem queria estar?

— Eu realmente deveria deixar você continuar — eu disse, mas Ethan não


soltou minha mão.

264
— Você não quer ouvir sobre o momento em que percebi que ela era a pessoa
certa para mim?

— Ah, claro. — Não.

Seus olhos cintilaram na luz do fogo enquanto ele sorria com a memória.

— Na verdade, foi bem aqui nesses campos de basquete, o que é por isso que
escolhi este lugar para contar a ela como me sinto — ele disse. — Tínhamos
treze anos e era a primeira aula de ginástica do ano.

Meu coração afundou conforme ele contava a história. Ele não gostava apenas
de outra garota, ele gostava dela há anos. Eu não tinha como competir com isso.

— Deixe-me adivinhar, ela entrou na sala de aula de shorts de ginástica e você


percebeu que ela era um arraso total? — eu estava sendo um pouco sarcástica
demais, mas parecia que eu não conseguia controlar. Aparentemente, quando
eu estava triste, também me tornava um pouco mal-humorada.

— Não exatamente — Ethan realmente riu. — Foi mais como outro garoto
percebeu o quão bem o uniforme de ginástica dela ficava e quando ele fez um
comentário sobre isso, ela deu um soco no nariz dele.

— O quê? — meu corpo inteiro congelou.

— O nariz do garoto começou a sangrar, e ele começou a chorar — ele estava


sorrindo enquanto me olhava agora. — Ele saiu correndo para a enfermaria e
eu achei que era a coisa mais incrível que já tinha visto na minha vida.

— Mas… mas, aquela era eu.

— Sim, era você — o sorriso dele diminuiu um pouco enquanto ele assentiu.

— Mas você não gosta de mim — eu balancei rapidamente a cabeça. — Não,


você gosta de outra garota incrível.

265
— Hayley, eu gosto de você, eu sempre gostei de você. Acho que você é forte e
feroz, mas cheia de luz e risadas. Eu não poderia gostar de outra garota,
mesmo que tentasse, porque elas não seriam você.

Não era comum eu ficar sem palavras, mas esse era um daqueles momentos.
Encarei os olhos de Ethan em total incredulidade. Eu era a garota de quem ele
gostava? Eu não conseguia entender.

— Por favor, diga alguma coisa… — ele murmurou.

De repente, percebi o quanto ele parecia nervoso. Ele tinha acabado de abrir
o coração para mim e eu estava ali parada olhando para ele como uma boba.

— Eu também gosto de você — as palavras saíram de mim de uma vez, mas


depois respirei fundo para tentar me recompor antes de continuar. — Mas eu
pensei que você gostava de outra pessoa!

— Não, sempre foi você — ele balançou a cabeça rapidamente. — Eu só estava


com medo demais de te contar a verdade — Ethan começou a sorrir
lentamente em resposta. — Você realmente gosta de mim também?

— Sim, eu realmente gosto de você também.

Seu sorriso se alargou até que seu rosto inteiro praticamente brilhava de
felicidade. Ele estava lindo ao sorrir tão intensamente, e eu não conseguia
acreditar que ele realmente queria ficar comigo. Isso não parecia real e, apenas
no caso de se transformar em um sonho, decidi que precisava aproveitar ao
máximo. Eu me aproximei dele e envolvi meus braços em torno de seu
pescoço.

— E só para você saber, sou uma idiota completa porque não percebi o cara
incrível torcendo silenciosamente por mim quando dei um soco no Bobby
Newman no rosto. Queria tê-lo visto antes, porque ele é o melhor cara que já
conheci.

— É mesmo?

— Sim — fiquei nas pontas dos pés e o beijei.

266
Seus lábios eram macios, e as borboletas no meu estômago voaram quando
ele envolveu seus braços ao redor do meu corpo e me puxou para perto. Eu
pensei que nossos beijos anteriores eram incríveis, mas nenhum deles se
comparava a este. O beijo dele me deixou quente e arrepiada ao mesmo tempo.
Enviou formigamentos dos meus lábios até os meus dedos dos pés.

Eu poderia ter beijado Ethan para sempre, e agora que eu sabia que ele
também gostava de mim, isso parecia uma possibilidade tentadora demais. No
entanto, não tínhamos o tempo infinito, pelo menos, não agora. Afinal, ainda
tínhamos um baile de formatura para ir.

— Você me assustou por um segundo — Ethan confessou sorrindo quando


nos afastamos do beijo.

— Você me assustou por vários minutos — eu ri e saí do abraço dele. — Eu


pensei que tinha entrado em um gesto romântico para outra pessoa.

— Eu pensei que você veria tudo isso e perceberia imediatamente que era para
você — ele balançou a cabeça para mim.

— Às vezes, posso ser um pouco lerda.

— Não, você é perfeita — ele respondeu, o tipo de resposta que derreteu meu
coração, eu realmente poderia me acostumar com isso.

— Então, o que você acha de irmos juntos ao baile de formatura?

— Adoraria — peguei a mão dele, mas fiz uma pausa enquanto me virava para
a porta. Não podíamos sair correndo para a limusine ainda. — Mas talvez você
devesse apagar todas essas velas primeiro enquanto eu caço aquelas coroas
para o Angus.

— Isso parece um bom plano, mas você sabe que não há coroas aqui, né? —
de repente, a artimanha de Madi para me fazer entrar na quadra fazia sentido.

— Ah, é claro — me senti boba por não ter percebido isso antes, mas estava
impressionada com a esperteza da Madi. Como eu poderia ficar chateada
quando tudo tinha dado tão certo?

267
Apagamos todas as velas e trocamos alguns beijos furtivos pelo caminho antes
de finalmente sairmos da quadra para voltar à limusine. No momento em que
abrimos a porta para sair do prédio, fomos recebidos com aplausos. Olhei para
cima e vi que Dex, Colin e Cole haviam se juntado às garotas, todos gritando
e assobiando enquanto entrávamos no estacionamento de mãos dadas.
Minhas bochechas coraram de vergonha, mas eu também não conseguia parar
de sorrir.

— Vocês sabiam! — eu gritei enquanto nos aproximávamos.

— Bem, não tinha como Ethan ter feito isso sozinho — disse Isla.

— E eu assisti rom-coms suficientes com você para saber que você adora um
GGR — acrescentou Madi.

— GGR? — Cole perguntou olhando para Madi como se ela estivesse falando
em latim.

— Grande gesto romântico — Madi e eu respondemos ao mesmo tempo,


fazendo todos rirem. Madi estava completamente certa, eu adorava um bom
GGR e o de Ethan tinha sido incrível.

Olhei para ele, incapaz de conter o sorriso enquanto olhava em seus olhos. Eu
não achava que ele pudesse superar o seu "convite" à la Taylor Swift, mas
aparentemente eu estava errada. Não conseguia acreditar que ele tinha se
esforçado tanto para me dizer que eu era a garota de quem ele gostava o tempo
todo.

— Vocês são tão fofos que acho que vou vomitar — disse Isla.

Corrigi meu olhar e desviei os olhos de Ethan. Não tinha percebido que estava
com olhos de apaixonada e estava encarando ele, mas era realmente difícil
não se perder em seus olhos.

— Por favor, não vomite — disse Dex. — E agora que esses dois estão cheios
de amor, não deveríamos estar indo para o baile?

— Ah, sim! — Isla gritou, conduzindo todos em direção ao carro que estava
esperando.

268
Os outros começaram a entrar na limusine, mas Ethan me puxou para os
seus braços mais uma vez. Eu me senti completamente à vontade em seu
abraço, e era fácil demais bloquear nossos amigos e fingir que estávamos em
nosso próprio mundo. Eu já sabia que passaria a noite inteira nessa posição
exata com ele, balançando ao som de cada música.

— Sabe, você pode se arrepender de decidir ficar comigo — eu disse.

— E por quê?

— Porque vou esperar que você cante mais músicas da Taylor Swift para mim.

— Acho que posso lidar com isso — Ethan sorriu e balançou a cabeça.

— Mesmo?

— Hayley, vou cantar todas as músicas para você.

— Tem certeza?

— Sim, tenho certeza — ele sorriu e deu um beijo leve na minha testa, fazendo
borboletas voarem no meu estômago. — Tudo o que você precisa fazer é pedir.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando me lembrar de respirar. Eu ia


estar em apuros se Ethan continuasse assim, porque ele continuava a me
deixar sem fôlego.

— E se eu pedisse para você cantar uma para mim agora?

— Talvez devêssemos esperar até mais tarde — ele riu. — Eu tenho o par
perfeito para o baile em meus braços e eu realmente gostaria de levá-la para
dançar.

— Acho que isso é uma boa razão.

— Vocês vão entrar ou não? — Isla chamou do carro.

269
Olhamos na direção dela e rimos quando vimos a expressão descontente em
seu rosto. Parecia que a mantivemos longe da dança por tempo demais para
o gosto dela.

— Sim, estamos indo — respondi de volta para ela.

Saí dos braços de Ethan e ele segurou minha mão enquanto caminhávamos
em direção ao carro que nos aguardava. Segurar a mão dele ainda fazia minha
pulsação acelerar e meu coração voar. Eu nunca me cansaria desse
sentimento. Ao chegarmos à porta aberta do carro, parei e encarei Ethan mais
uma vez.

— Você realmente acha que sou o par perfeito para o baile?

— Hayley, você é perfeita em tudo — declarou e sorriu.

270
Epílogo

Nem nos meus sonhos mais loucos eu imaginava que estaria entrando no baile
de formatura com Hayley segurando minha mão. Se alguém tivesse me dito
um mês atrás que ela estaria aqui comigo como minha namorada de verdade,
eu nunca teria acreditado. Mas, aqui estávamos nós dois, entrando juntos na
grande sala de baile do Hotel Excelsior.

Angus e o comitê de baile realmente abraçaram o tema do "inverno


encantado". Parecia que a sala tinha sido atingida por uma tempestade de
neve, e tudo na grande sala estava coberto de branco. O chão estava revestido
por uma camada de confete branco, longas serpentinas brancas tremulavam
do teto, e enormes balões transparentes flutuavam no alto com flocos
brilhantes de prata e branco dançando dentro deles. Havia até mesmo uma
escultura de gelo junto a uma das mesas em forma de um grande floco de
neve.

Os olhos de Hayley estavam arregalados enquanto ela absorvia tudo aquilo,


ela soltou uma risada leve quando avistou uma cabine fotográfica com um
cenário nevado perto da entrada. Isla já estava lá dentro com Dex, e os dois
estavam fazendo poses ridículas para a câmera.

— Angus realmente caprichou — Hayley murmurou enquanto me encarava.

— Estava pensando a mesma coisa — eu ri. — Quase me surpreende que não


tenha uma máquina de neve aqui.

— Uma máquina de neblina conta? — Hayley apontou para o outro lado da


sala, onde a fumaça se espalhava pela pista de dança.

— Sim, eu acho que conta.

Hayley riu, e o som era tão alegre que meu coração se aqueceu em resposta.
Ela não parou de sorrir desde que saímos da academia da escola, eu faria
praticamente qualquer coisa para manter aquele sorriso em seu rosto.

— Você acha que deveríamos dançar? — perguntei.

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— Isso é uma pergunta? — ela não hesitou em segurar minha mão e me puxar
em direção à pista de dança. Ela já estava cheia de pessoas pulando como se
fossem as próximas estrelas do TikTok, mas Hayley nos conduziu entre os
corpos com facilidade. Chegamos tarde, então a festa já estava a todo vapor.

Quando alcançamos um pequeno espaço entre a multidão, ela parou e virou


para mim. Meu coração começou a bater mais rápido, e eu respirei fundo antes
de puxá-la para os meus braços. Hayley e eu finalmente estávamos juntos de
verdade, mas eu sabia que sempre ficaria nervoso quando ela estivesse por
perto.

A música que estava tocando felizmente tinha um ritmo constante, e nós dois
nos movemos lentamente juntos. Eu realmente não era um ótimo dançarino,
mas Hayley não parecia se importar. Ela encostou a cabeça no meu peito, e a
sala cheia parecia desaparecer ao fundo enquanto dançamos. Ela era a única
pessoa no mundo para mim, e apesar das pessoas ao nosso redor, parecia que
estávamos em nossa própria bolha perfeita. Eu nunca ia querer sair dela.

Infelizmente, nossa bolha não era completamente impenetrável e Hayley parou


de balançar em meus braços quando notamos o volume da música começando
a diminuir. Nós dois nos viramos quando Angus subiu ao palco e se aproximou
do microfone que estava alto no centro. Eu ri quando avistei sua roupa. Era
um azul brilhante com imagens de flocos de neve por toda parte.

— Ele está realmente usando isso? — Hayley perguntou.

— Meus olhos dizem que sim, mas meu cérebro se recusa a acreditar que seja
verdade — respondi, o terno parecia horrível à primeira vista, mas quanto
mais eu olhava para ele, mais me agradava. — Pode me chamar de louco, mas
acho que fica bem nele.

Hayley olhou para Angus novamente, seu olhar mais perspicaz dessa vez,
como se estivesse verificando se tinha perdido algo. Após vários segundos, ela
soltou uma risada suave.

— Sabe, acho que você pode estar certo.

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— Ah, não acredito que eles pararam a música para anunciar o rei e a rainha
do baile — Isla disse, se aproximando ao meu lado. — Ninguém se importa! —
ela gritou pelo salão, arrancando risadas de pessoas próximas a nós. Ela
franziu a testa ao avistar Angus.

— Ele veio vestido como uma das decorações?

— Aparentemente — respondi.

Isla balançou a cabeça, mas suspeitei que ela estivesse realmente


impressionada. Se havia uma coisa que a Isla apreciava, eram escolhas de
moda ousadas. Ela suspirou antes de se virar para nós.

— Então, quem vocês acham que vai ser coroado esta noite? — Perguntou ela.

— Só espero que não seja a Laurie ou o Owen — Hayley disse, franzindo o


nariz ao pensar nisso. — Não quero passar o resto do ano ouvindo a Laurie se
gabar disso nos treinos de líderes de torcida. E, sem ofensa para o seu irmão,
Ethan, mas o ego dele realmente não precisa de uma coroa.

Provavelmente eu deveria ter me sentido mal pela opinião de Hayley sobre


Owen ter caído tanto, mas não pude deixar de ficar feliz por ela finalmente nos
ver como realmente somos. Também não doeu que eu fosse a pessoa com
quem ela queria estar.

— Provavelmente ele a usaria todas as manhãs no café da manhã — respondi,


fazendo Isla rir.

— Ele tem a cabeça tão grande que duvido que coubesse — ela disse.

Procurei por meu irmão entre a multidão e o encontrei perto do palco ao lado
de Laurie. Ela estava usando a flor vermelha que eu tinha visto na nossa
cozinha mais cedo no dia, então eu supus que eles tinham vindo juntos ao
baile. Mas, nenhum dos dois parecia muito feliz com isso. Suas cabeças
estavam inclinadas uma na direção da outra enquanto conversavam, e, pelo
olhar de expressão raivosa de Laurie, dava para ver que estavam discutindo.
Dadas as mãos de Laurie apoiadas nos quadris e a forma como os olhos do
meu irmão continuavam se desviando, parecendo que procurando uma saída,

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eu estava imaginando que ele tinha estragado de alguma forma. Angus limpou
a garganta no microfone.

— Boa noite, Lincoln High! — sua voz estava cheia de entusiasmo e seu tom
cantarolante o fazia parecer um apresentador de game show cafona. — Espero
que todos tenham aproveitado a noite até agora. Certamente vi vocês
arrasando na pista de dança — ele enfatizou o ponto girando sobre o
calcanhar, recebendo algumas risadas, o que o fez ficar satisfeito por sua
pequena movimentação ter gerado uma reação.

— Então, é o momento que todos estavam esperando — continuou, tirando


um envelope do bolso interno de seu paletó e o segurando com cuidado nas
mãos, como se estivesse acariciando algo especial. — É hora de anunciar os
nomes do rei e da rainha do baile deste ano.

Ele olhou para o envelope e o abriu delicadamente. A sala inteira o observava,


e todos os murmúrios de conversa cessaram completamente enquanto
esperávamos pelo grande anúncio. Os olhos de Angus se iluminaram quando
ele dramaticamente retirou um pedaço espesso do envelope.

— Seus votos foram contados e estou feliz em anunciar que seu rei e rainha
do baile são…

Ele olhou ao redor da sala com um sorriso de quem sabia, deixando a pausa
pairar no ar. Ele estava realmente aproveitando o momento ao máximo.

— Owen Beck e Laurie Wilson! — Angus finalmente gritou no microfone.

Meus ombros caíram, Isla resmungou e Hayley soltou um suspiro de


desapontamento. Uma rodada de aplausos educados seguiu enquanto meu
irmão e Laurie desfilavam em direção ao palco. Qualquer evidência de sua
discussão momentos antes havia desaparecido de seus rostos, já que os dois
sorriam para a plateia.

O peito do meu irmão estava estufado enquanto ele ouvia os aplausos, e seus
passos pareciam se ampliar enquanto ele cruzava o palco. Ele deu um aperto
de mão firme em Angus quando o cumprimentou junto ao microfone, e seus
olhos brilharam de arrogância quando o presidente do grêmio estudantil

274
colocou uma faixa sobre seus ombros e entregou-lhe a coroa. Eu conseguia
ver que o título de "rei do baile" já estava subindo à cabeça dele.

Laurie não estava se comportando muito melhor. Suas mãos se esticavam


avidamente em direção à coroa quando Angus a ofereceu a ela. Ela arrancou-
a de suas mãos e a posicionou perfeitamente em sua cabeça antes mesmo de
ele poder parabenizá-la. Seus olhos estavam febris enquanto ela se virava para
a multidão, e seu sorriso era tão intenso que ela parecia uma criança que
tinha exagerado nas guloseimas. Ela acenou para todos, imitando o
movimento sutil que se espera ver de uma rainha se dirigindo ao seu público
apaixonado - não que nossos colegas realmente parecessem adorá-la.
Ninguém estava demonstrando muita empolgação com o resultado da votação.

— Não sei se consigo assistir a isso — Isla murmurou. — Quem diabos votou
no idiota e na idiotice?

— Não faço ideia — eu respondi.

— Por que alguém legal não poderia ter vencido? — ela continuou.

— Provavelmente, porque Laurie vem fazendo campanha há semanas —


Hayley disse, balançando a cabeça. — Além disso, as pessoas legais não
estavam ameaçando os alunos por votos. Ouvi dizer que Laurie estava dizendo
para as garotas do grupo que iria destruí-las se não votassem nela e no Owen.
Aposto que ela não estava ameaçando apenas as líderes de torcida.

— Você está falando sério? — Isla perguntou.

— Sim — Hayley assentiu. — Acho que o medo supera a gentileza quando se


trata de conseguir votos.

Olhei para trás para Laurie e meu irmão. Um fotógrafo estava tirando uma
foto dos dois no palco. Eles pareciam um casal perfeito enquanto posavam
juntos, mas a imagem que eles passavam era, claramente, apenas uma
encenação. Eles tinham discutido momentos antes e Owen parecia
desconfortável enquanto Laurie se jogava sobre ele, testando diferentes poses
para a câmera. Os sorrisos que usavam pareciam tão falsos quanto as coroas
douradas e berrantes que inchavam suas cabeças. Apesar da vitória, eu não
tinha certeza se ambos estavam realmente felizes.

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— E agora nosso rei e rainha terão sua primeira dança — Angus anunciou.

Owen passou o braço pelo de Laurie e começou a guiá-la para fora do palco.
Ele pisou na borda do vestido dela enquanto caminhavam, fazendo-a tropeçar,
e seus olhos faiscaram de irritação quando ela o cotovelou. No entanto, ele
parecia não perceber. Estava ocupado demais piscando para uma garota que
estava passando. Laurie e Owen realmente mereciam um ao outro, e eu já
tinha visto mais do que o suficiente daquela pequena performance deles por
uma noite.

— Talvez devêssemos pegar uma bebida para não precisarmos ficar parados
assistindo-os dançar? — sugeri.

— Sim! — exclamou Isla.

— Isso é uma ideia realmente boa — acrescentou Hayley.

Segurei a mão dela e nos dirigimos à mesa de bebidas, que estava no fundo
da sala. A música começou a tocar à medida que nos afastamos da pista de
dança. Eu não precisava me virar para saber o quanto meu irmão estaria
aproveitando toda a atenção que estava recebendo, enquanto todos o
observavam dançar com Laurie. Colin e Dex já estavam ao lado da mesa de
bebidas quando chegamos lá, conversando animadamente sobre nosso
próximo show.

— Vocês perderam a coroação — Isla disse, enquanto se esgueirava sob o


braço de Dex, fazendo com que ele repousasse sobre seus ombros.

— Você fala como se fosse um acidente — Colin respondeu. — E nós


conseguimos ver o palco o suficiente daqui atrás. Não precisava de um close
de Laurie e Owen sendo coroados.

— Sim, foi péssimo — concordou Isla com um arrepio, antes de olhar por cima
do ombro na direção deles.

Todos ao redor da pista de dança estavam parados, observando Owen rodopiar


Laurie pela sala. A música estava monótona e todo o espetáculo era

276
incrivelmente constrangedor. Eu não conseguia acreditar que a escola nos
fazia aturar essa bobagem.

— Então, vocês têm um show chegando? — Hayley perguntou.

— Sim, no próximo fim de semana. Vamos tocar em uma festa universitária


— Dex respondeu. — Vocês vão?

— Não tenho certeza, eu vou? — Hayley olhou na minha direção e inclinou a


cabeça enquanto me olhava.

— Você quer?

— Bem, tenho quase certeza de que existe uma regra que diz que as
namoradas devem ir a todos os shows — ela começou a sorrir lentamente.

— Eu não sabia que relacionamentos de verdade precisavam de um conjunto


de regras… — eu ri e a puxei para perto, envolvendo-a em meus braços.

— Ah, sim — ela respondeu. — Existem muitas regras e essa é a mais


importante.

— Bem, acho que você vai ao show então.

— Acho que vou — seus olhos brilhavam de antecipação, parecendo tão feliz
com a ideia.

Adorava o entusiasmo dela pelo nosso grupo, o que me deixava ainda mais
empolgado com a surpresa que eu tinha planejado para ela naquela noite. No
canto do meu olho, vi Angus acenando freneticamente para o nosso grupo. Ele
estava de pé ao lado do palco e seus gestos ficaram mais frenéticos à medida
que eu começava a me virar para ele. Ele estava tentando chamar nossa
atenção? Franzi a testa e apontei para o meu peito, um olhar de
questionamento nos olhos.

— Sim, você — ele pronunciou sem som quando viu que finalmente o tinha
notado. Então fez um gesto para Dex e Colin, começou a nos direcionar em
direção a ele.

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Eu esperava que Angus nos chamasse em algum momento durante a noite,
mas não achei que seria tão cedo. Dei-lhe um breve aceno antes de me voltar
para Hayley.

— Você pode nos dar licença por um minuto?

— Ah, claro — ela me olhou confusa, mas eu rapidamente a beijei na bochecha


e me virei para os rapazes antes que ela pudesse perguntar o porquê.

— Colin, Dex, vocês podem vir comigo?

Os dois não questionaram o pedido e seguiram felizes comigo em direção ao


palco. Isla e Hayley pareciam confusas com nossa partida repentina, mas eu
não tinha intenção de explicar para elas. Elas não sabiam que Angus havia
insistido para a banda tocar naquela noite, e eu queria manter assim para
surpreender as meninas.

Ainda me custava acreditar que nossa banda estava tocando no baile. Há


algumas semanas, ninguém na escola tinha ideia de que estávamos em uma
banda. Agora, depois que Hayley postou aquele vídeo da nossa apresentação
e ele viralizou por toda a escola, parecia que todos sabiam da Velocity. Angus
nunca teria nos convidado para tocar se ela não tivesse compartilhado o clipe.
Inicialmente, eu estava relutante em aceitar a oferta. Era uma grande coisa
tocar no baile, e eu não queria chamar mais atenção para mim na escola. Mas,
enquanto estava planejando a surpresa, percebi que um show no baile seria
a maneira perfeita de encerrar a noite. Mal podia esperar para ver a reação da
Hayley quando ela percebesse o que estava acontecendo.

— Vocês estão prontos? — Angus perguntou quando nos aproximamos dos


degraus que levavam ao palco. Seu terno de floco de neve era ainda mais
extravagante de perto, e ele exagerou um pouco no perfume. Eu conseguia
sentir a fragrância picante a certa distância.

— Eu pensei que você não queria que a gente subisse até as dez — respondi.

— É, bem, a dança inicial de Laurie e Owen está realmente acabando com o


clima. Ninguém se juntou a eles e a pista de dança está morta.

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Olhei na direção deles. Um grande círculo se formou em volta do casal
dançante, mas todos pareciam ter perdido o interesse enquanto assistiam. Era
doloroso testemunhar duas pessoas tão autossuficientes tentando dançar
juntas. Laurie continuava parando para ajustar a coroa e olhava para todos
ao seu redor com superioridade. Enquanto isso, o peito de Owen estava tão
inflado que parecia prestes a machucar as costas.

— Eu me pergunto por quê — Dex riu.

— Então, eu preciso de vocês no palco agora — Angus lançou a ele um olhar


sério. — Estão prontos?

Eu olhei para Colin e Dex, e ambos assentiram.

— Sim, estamos prontos — respondi.

— Bom. Eu só espero que vocês estejam tão bons quanto estavam naquele
vídeo — com isso, Angus virou-se e subiu rapidamente os degraus para o
palco. Enquanto pegava o microfone novamente, a música subitamente parou
no meio da canção. Owen e Laurie pararam de dançar e trocaram olhares
confusos ao se afastarem um do outro.

— Senhoras e senhores — Angus chamou. — Uma salva de palmas para o


nosso rei e rainha do baile.

O som de algumas palmas desanimadas veio como resposta. Aqueles que


estavam aplaudindo pareciam estar fazendo isso apenas porque estavam
satisfeitos que a primeira dança tinha acabado. Laurie parecia furiosa
enquanto franzia o cenho para Angus, e ela avançou para o palco, arrastando
Owen consigo. Ela não estava nada feliz por seu momento especial ter sido
interrompido, e parecia pronta para arrancar o microfone das mãos de Angus.
Angus deve ter notado, pois continuou rapidamente antes que ela tivesse a
chance de interrompê-lo.

— Agora, temos um último presente para vocês esta noite — ele disse. —
Recebi um monte de pedidos, então trabalhei um pouco de magia para que
isso acontecesse… — Ele olhou na nossa direção e estendeu um braço para
nós — Liderada pelo próprio Ethan Beck, façam barulho para… Velocity!

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Os alunos na pista de dança começaram a aplaudir e alguns começaram a se
mover em direção ao palco. Não era exatamente a recepção mais animada que
já tínhamos recebido, mas não deixei que isso me desconcentrasse. Eu tinha
certeza de que iríamos conquistar a plateia assim que começássemos a tocar.
Além disso, todos ainda estavam com um grande desânimo por causa da
dança de Owen e Laurie. No que diz respeito a atos de aquecimento, eles foram
terríveis.

Peguei minha guitarra e subi os degraus em direção ao palco. Meu coração


estava acelerado, e eu conseguia ouvir suas batidas fortes nos meus ouvidos
muito mais claramente do que os aplausos da plateia. Respirei fundo,
tentando me acalmar, à medida que me aproximava do microfone. Ao soltar o
ar, parecia que os nervos que pulsavam pelo meu sangue também iam embora.

Meu olhar percorreu a sala até encontrar Hayley parada ao lado da mesa de
bebidas. Seus olhos estavam arregalados e um sorriso surpreso iluminava seu
rosto. Ela pegou Isla pela mão e a arrastou através da multidão em minha
direção. Só quando ela estava parada bem na frente do palco que senti que
podia começar.

— Olá, Lincoln High! — chamei no microfone. — Agora que já tiramos as


formalidades do caminho, podemos realmente começar essa festa!

Todos aplaudiram, e enquanto Colin começava a dedilhar os acordes da nossa


primeira música, o som da multidão ficou ainda mais alto. As pessoas
imediatamente começaram a dançar, mas havia duas figuras na multidão que
estavam estranhamente imóveis. Laurie e Owen estavam ambos paralisados
no lugar, me encarando. Eles pareciam surpresos com a reação que a banda
estava recebendo, e embora a irritação de Laurie rapidamente tenha se
transformado em foco nos outros alunos, o olhar fulminante do meu irmão
estava fixo apenas em mim. De repente, Laurie agarrou Owen pelo braço e o
puxou para chamar sua atenção. Ele mal se moveu, então ela estalou os dedos
na frente do rosto dele.

— O quê? — ele resmungou.

— Faça alguma coisa — ela exigiu.

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Tudo o que Owen pôde fazer foi encolher os ombros e os olhos de Laurie
estreitaram de raiva em resposta. Ela bateu um de seus saltos no chão de
madeira antes de empurrar Owen e marchar para fora da sala. Isso pareceu
chamar a atenção dele e ele a observou sair, hesitando por vários momentos.
Finalmente, ele se virou e me lançou um último olhar de raiva antes de seguir
atrás dela.

Meu irmão e Laurie claramente não estavam felizes por eu ter roubado o
holofote deles, e nunca foi minha intenção fazer isso. Eu realmente esperava
que isso os fizesse perceber que existem coisas mais importantes do que
coroas de plástico e popularidade. Meus olhos procuraram Hayley e meu
coração se alegrou quando ela sorriu para mim. Ela valia mais do que um
milhão de coroas. Fico feliz que meu irmão nunca tenha realmente percebido
isso, senão eu poderia nunca ter tido uma chance com ela.

Movi meus lábios mais perto do microfone enquanto começava a cantar,


recebendo mais aplausos da multidão. Suas vozes se uniram à minha
enquanto cantavam junto, e a dança deles se tornou mais enérgica, jogando-
se na música. Mas não era a multidão que me interessava. Eu não conseguia
tirar os olhos de Hayley. Ela parecia tão fofa enquanto ela e Isla dançavam
juntas. Seus braços estavam entrelaçados nos ombros uma da outra, e elas
continuavam pulando enquanto cantavam.

Quando a música terminou, todos explodiram em aplausos e pedidos de mais.


Mas eu não precisava de encorajamento para continuar tocando. Eu estava
me divertindo muito e me sentia no topo do mundo enquanto tocávamos. Eu
não achei que minha noite pudesse melhorar, mas eu sabia que ainda tinha
mais uma surpresa reservada para Hayley. Quando chegou a nossa última
música, abaixei minha guitarra e fui para o lado do palco onde ela estava.
Agachei-me e ofereci minha mão.

— Acho que vou precisar de você aqui para essa.

— Mesmo? — perguntou, eu mal conseguia ouvir sua voz suave acima do


barulho na sala.

— Mesmo — respondi.

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Ela estava sorrindo amplamente e não hesitou em pegar minha mão enquanto
a ajudava a subir no palco. Mantive segurando sua mão enquanto voltava para
o microfone e sorri para a multidão.

— Obrigado, pessoal, por serem tão incríveis esta noite. É hora da nossa
última música da noite, e acho que vocês podem conhecer essa…

Um turbilhão de suspiros animados ecoou pela sala enquanto eu soltava


gentilmente a mão de Hayley e começava a dedilhar os acordes de "Love Story"
de Taylor Swift; a música do meu convite para o baile. Eu não tirei os olhos
do palco enquanto começava a cantar diretamente para Hayley. Senti o
significado da letra muito mais forte agora que ela era realmente minha
namorada. Acho que ela sentiu o mesmo, porque ela levantou as mãos para
as bochechas e os olhos dela ficaram lacrimejados.

Ela começou a pular de excitação e a dançar ao som da música quando os


caras se juntaram a mim na guitarra e na bateria. No entanto, esta não era a
versão da música que eu tinha tocado para ela antes. Tínhamos preparado
um medley de Taylor Swift e, enquanto mudávamos de tonalidade e
começamos a cantar a letra de "You Belong With Me” a multidão foi à loucura.
Hayley parou no palco e suas mãos foram para os lábios enquanto ela soltava
um suspiro. Seus olhos estavam arregalados e sua expressão chocada era
uma das coisas mais fofas que eu já tinha visto, mas ela rapidamente se
recuperou da surpresa e começou a dançar novamente.

Sua empolgação só aumentava à medida que avançávamos de música em


música, e ela soltava um grito animado cada vez que ouvia a música mudando.
Ela cantou cada palavra de cada música, e eu conseguia ouvir a multidão
cantando junto com ela. Tocamos cinco músicas diferentes da Taylor no total,
voltando para "Love Story" para o grand finale. Quando nosso medley chegou
ao fim, um coro de aplausos explodiu na sala como nunca tínhamos ouvido
antes. Colin e Dex correram para a frente e nós três nos curvamos juntos. Foi
uma apresentação que eu não esqueceria facilmente, e havia uma razão
principal para isso: Hayley. Peguei-a pela mão e os aplausos nos seguiram
enquanto saíamos do palco.

A primeira oportunidade que tive, a abracei, e os olhos dela brilhavam de


felicidade enquanto ela envolvia as mãos em volta do meu pescoço.

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— Isso foi um show incrível — ela disse. — Não acredito que você não me disse
que vocês iam tocar hoje à noite.

— Eu queria que fosse uma surpresa.

— Bom, com certeza foi. E vocês cantaram todas aquelas músicas da Taylor
para mim. Acho que este pode ser o melhor baile de todos.

— Se você acha que hoje à noite foi bom, você deveria ver o que eu planejei
para amanhã…

— Você está planejando superar isso amanhã? — sua voz estava tão incrédula
que eu ri e balancei a cabeça.

— Não, mas estou bastante animado para amanhã. Você quer saber por quê?

— Por quê?

— Porque amanhã é o primeiro dia em que posso realmente estar com você.

Ela começou a sorrir lentamente enquanto diminuía a distância entre nós


para capturar meus lábios com os dela.

— Talvez isso supere a noite de hoje, afinal.

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