Pierre Hadot - Que - e - A - Filosofia - Antiga
Pierre Hadot - Que - e - A - Filosofia - Antiga
Pierre Hadot - Que - e - A - Filosofia - Antiga
v. 23 N. 75 (1996): 547-551
H e n r iq u e C. d e L i m a Vaz
CES-BH
P
ierre Hadot é conhecido e eminente especialista das pesquisas
sobre a filosofia da Antigüidade tardia e especialmente do neo-
platonismo. Dirige uma nova tradução do c o r p u s plotiniano
em francês, nas Éditions du Cerf, acompanhada de introdução, co-
mentários e notas, para a qual já contribuiu com importantes tradu-
ções de E n é a d a s tr . 50 (I1I, 5); E n é a d a s tr . 38 (VI, 7); E n é a d a s tr . 9 (VI,
9). Enriqueceu os estudos plotinianos com uma brilhante introdução
sob o título P I o tin o u I a s im p lic ité d u r e g a r d (1989). Renovou nosso
conhecimento do retórico M ário Vitorino, provavelmente o primeiro
neo-platônico cristão de expressão latina, cuja influência sobre Santo
Agostinho é conhecida, e do filósofo neo-platônico Porfírio, o biógra-
fo de Plotino, com a monumental monografia P o r p h y r e e t V ic to r in u s ,
2 vols., 1968.
Por outro lado, com o preâm balo à presente síntese, P. Hadot traçou
o program a das suas pesquisas e as grandes linhas da sua visão da
filosofia antiga, sobretudo helenística, na lição inaugural do seu pri-
m eiro curso no C o llê g e d e F r a n c e em 1983: L 'h is to ir e d e la p e n s é e
i h e llé n is tiq u e e t r o m a in e e em artigo no anuário da m esm a instituição
(1 9 8 4 -1 9 8 5 ): L a p h ilo s o p h ie c o m m e m a n iê r e d e v iv r e . Esses dois tex-
tos estão reproduzidos em E x e r c ic e s S p ir itu e ls e t p h ilo s o p h ie a n tiq u e ,
2a. ed., pp. 197-227. Todos os seus trabalhos anteriores preparavam ,
pois, o Prof. Pierre Hadot para oferecer-nos um a brilhante interpre-
tação da filosofia antiga que responde, de um ponto de vista funda-
m ental m as que tem m erecido pouca atenção dos historiadores, à
pergunta sobre a natureza desse fenôm eno espiritual e intelectual
único que atravessa toda a história cultural e social da Antigüidade.
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O destino da ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p h ilo s o p h ia nos tem pos que se seguiram ao fim da
Antigüidade segue um roteiro singular. É sabido que, pelos m e-
nos desde o 11 século, com São Justino, os apologistas cristãos
apresentaram a form a de vida e a doutrina propostas pela nova
religião com o a v e r a p h ilo s o p h ia , e reivindicaram para si o título
de philosophoi. É verdade que essa receptividade ao pensam ento
e ideal de vida filosóficos, reinterpretados segundo as exigências
doutrinais e éticas do q u é r ig m a c r is tã o , encontrou desde o início
oposição decidida em autores com o Taciano e Tertuliano, dando
origem , de resto, a um a tradição anti-filosófica que alcançará os
tem pos m odernos com Pascal, S. Kierkegaard e outros. Prevale-
ceu, no entanto, a idéia da p h ilo s o p h ia c h r is tia n a celebrada por
Santo Agostinho e que dará seus frutos m ais am adurecidos com
Tom ás de Aquino e a escolástica m edieval. Nessa transposição
cristã da antiga p h ilo s o p h ia verificou-se, porém , um a separação
entre o m odo de vida e o discurso. Este passa a integrar a th e o lo g ia
num sentido já especificam ente cristão e que irá constituir um
corpo teórico sem pre m ais vasto e com plexo. Já o m odo de vida
é transposto para a prática espiritual cristã, com eçando pelo
m onaquism o de expressão grega nos fins do 111 século, e ela her-
dará m uito dos estilos de vida e dos exercícios espirituais dos
filósofos antigos. Assim a história da espiritualidade cristã pode
ser lida com o a continuação em outro clim a espiritual e obedecen-
do a outras m otivações, do antigo bios p h ilo s o p h ik o s .
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