10.3-Fichamento Antunes

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Fichamento 166 paginas

ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho. Ensaios sobre a afirmação e a


negação do
trabalho. São Paulo: Boitempo, 2001.

“As mediações de ordem, cuja finalidade é a preservação primeira das funções


vitais da reprodução individual e societal, têm as seguintes características
definidoras:
1) os seres humanos são parte da natureza, devendo realizar suas
necessidades elementares por meio do constante intercâmbio com a própria
natureza;
2) eles são constituídos de tal modo que não podem sobreviver como
indivíduos da espécie à qual pertencem (...) baseados em um intercâmbio sem
mediações com a natureza (como fazem os animais), regulados por um
comportamento instintivo determinado diretamente pela natureza, por mais
complexo que esse comportamento instintivo possa ser.
(Mészáros, 1995: 138).” (P.22)

“Dada a inseparabilidade das três dimensões do sistema do capital, que são


completamente articuladas – capital, trabalho e Estado – é inconcebível
emancipar o trabalho sem simultaneamente superar o capital e também o
Estado.” (P.24)

“Por ser um sistema que não tem limites para a sua expansão (ao contrário dos
modos de organização societal anteriores, que buscavam em alguma medida o
atendimento das necessidades sociais), o sistema de metabolismo social do
capital configurou-se como um sistema, em última instância, ontologicamente
incontrolável” (p.25)

“Não se pode pensar em outro sistema de controle maior e mais inexorável – e,


nesse sentido, ‘totalitário’ –do que o sistema de capital globalmente
dominante”, que impõe “seu critério de viabilidade em tudo, desde as menores
unidades de seu ‘microcosmo’ até as maiores empresas transnacionais, desde
as mais íntimas relações pessoais até os mais complexos processos de
tomada de decisão no âmbito dos monopólios industriais, favorecendo sempre
os mais fortes contra o mais fracos” (idem: 41).” (P.27)

“Pode-se dizer que junto com o processo de trabalho taylorista/fordista erigiu-


se, particularmente durante o pós-guerra, um sistema de “compromisso” e de
“regulação” que, limitado a uma parcela dos países capitalistas avançados,
ofereceu a ilusão de que o sistema de metabolismo social do capital pudesse
ser efetiva, duradoura e definitivamente controlado, regulado e fundado num
compromisso entre capital e trabalho mediado pelo Estado.” (p.40)
“Nesse universo temático, eles discutem a necessidade de apontar para a
especificidade dessas mutações e as consequências que elas acarretam no
interior do sistema de produção capitalista, onde estaria ocorrendo a
emergência de “um regime de acumulação flexível nascido em 1973”, do qual
são características a nova “divisão de mercados, o desemprego, a divisão
global do trabalho, o capital volátil, o fechamento de unidades, a reorganização
financeira e tecnológica”, entre tantas mutações que marcam essa nova fase
da produção capitalista (Harvey, 1996: 363-4). O que, sugestivamente, Juan J.
Castillo disse ser pela expressão de um processo de liofilização organizativa,
com eliminação, transferência, terceirização e enxugamento de unidades
produtivas (Castillo,1996: 68, e 1996a)”. (p.52)

“Como enfatizam Costa e Garanto, enquanto o modelo japonês implementou o


“emprego vitalício” para uma parcela de sua classe trabalhadora (30%,
segundo os autores), algo muito diverso ocorre no Ocidente, onde a segurança
no emprego aparece com ênfase muito mais restrita e limitada, mesmo nas
empresas de capital japonês estabelecidas na Europa.” (p.59)

“Os trabalhadores das duas empresas foram envolvidos no processo de


intensificação de seus próprios trabalhos, pelo autocontrole de seu padrão de
qualidade, e também pelo controle de qualidade referente aos demais
companheiros. Ou seja, além de fazer o controle de qualidade de seu trabalho
eles realizavam também o controle da qualidade do trabalho dos
companheiros.” (p.82)

“Com a reconfiguração, tanto do espaço quanto do tempo de produção, dada


pelo sistema global do capital, há um processo de re-territorialização e também
de desterritorialização. Novas regiões industriais emergem e muitas
desaparecem, além de cada vez mais as fábricas serem mundializadas, como
a indústria automotiva, onde os carros mundiais praticamente substituem o
carro nacional.” ( P.115)

“Dos serviços públicos cada vez mais privatizados, até o turismo, onde o
“tempo livre” é instigado a ser gasto no consumo dos shoppings, são enormes
as evidências do domínio do capital na vida fora do trabalho. Um exemplo
ainda mais forte é dado pela necessidade crescente de qualificar-se melhor e
preparar-se mais para conseguir trabalho. Parte importante do “tempo livre” dos
trabalhadores está crescentemente voltada para adquirir “empregabilidade”,
palavra que o capital usa para transferir aos trabalhadores as necessidades
de sua qualificação, que anteriormente eram em grande parte realizadas pelo
capital (ver Bernardo, 1996).” (p.126)

“só poderei falar razoavelmente em ser social quando entendermos que sua
gênese, seu elevar-se em relação à sua própria base e a aquisição de
autonomia, se baseia no trabalho, na realização contínua de posições
teleológicas” (idem: 9). (p.137)
“O que possibilita a Lukács afirmar que o desenvolvimento do trabalho, a busca
das alternativas presentes na práxis humana, encontra-se fortemente apoiado
sobre decisões entre alternativas.” (p.138)

“Dizer que uma vida cheia de sentido encontra na esfera do trabalho seu
primeiro momento de realização é totalmente diferente de dizer que uma vida
cheia de sentido se resume exclusivamente ao trabalho, o que seria um
completo absurdo.” (p.143)

“O ato teleológico, expresso por meio da colocação de finalidades é, portanto,


uma manifestação intrínseca de liberdade, no interior do processo de trabalho.
É um momento efetivo de interação entre subjetividade e objetividade,
causalidade e teleologia, necessidade e liberdade. (p.144)

“Um trabalhador contemporâneo, cuja atividade seja altamente complexa e que


cumpra um horário de sete horas por dia, trabalha muito mais tempo real do
que alguém de outra época, que estivesse sujeito a um horário de quatorze
horas diárias, mas cujo trabalho tinha um baixo grau de complexidade. A
redução formal de horário corresponde a um aumento real do tempo de
trabalho despendido durante esse período” (p.173)

“Primeira: a luta pela redução da jornada ou tempo de trabalho deve


estar no centro das ações do mundo do trabalho hoje, em escala mun
dial.”

“Segunda: o direito ao trabalho é uma reivindicação necessária não porque se


preze e se cultue o trabalho assalariado, heterodeterminado, estranhado e
fetichizado (que deve ser radicalmente eliminado com o fim do capital), mas
porque estar fora do trabalho, no universo do capitalismo vigente,
particularmente para a massa de trabalhadores e trabalhadoras (que totalizam
mais de dois terços da humanidade) que vivem no chamado Terceiro Mundo,
desprovidos completamente de instrumentos verdadeiros de seguridade social,
significa uma desefetivação, desrealização e brutalização ainda maiores do que
aquelas já vivenciadas pela classe-que-vive-do-trabalho.”(p. 176)

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