Cap 04 Veneno Ou Remedio
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EXPOSIÇÃO AOS AGROTÓXICOS E CÂNCER AMBIENTAL
Sergio Koifman
Ana Hatagima
INTRODUÇÃO
O câncer agrega um conjunto de doenças que resultam de uma série
de alterações no DNA em uma única célula ou clone desta célula levando à
perda da função normal, crescimento aberrante ou descontrolado e, em
muitos casos, a metástases. Vários genes, freqüentemente mutados ou per-
didos, têm sido identificados e entre eles estão alguns proto-oncogenes e
genes supressores de tumor, cujas funções incluem a indução da prolifera-
ção celular em situações específicas e a interrupção da proliferação em cé-
lulas danificadas, respectivamente. Além destas, outras mutações também
podem ocorrer em genes envolvidos no reparo de DNA, no controle do
ciclo celular, na angiogênese e na produção da telomerase (Brennan, 2002).
O padrão de perdas ou mutações é complexo, mas na maioria dos tumores
esse evento ocorre em, pelo menos, um proto-oncogene e em um ou mais
genes supressores de tumor na célula em questão, resultando em uma pro-
liferação celular descontrolada (Vogelstein & Kinzler, 1998).
Os carcinógenos químicos são compostos eletrofílicos que atacam o
núcleo de carga negativa do DNA, podendo causar mutações que, por sua
vez, aparentemente iniciam uma cadeia de eventos que leva ao câncer.
Para que uma célula cancerosa se produza, é necessária uma longa série de
eventos capazes de agredir continuamente o DNA celular. Assim, acredita-
se que uma célula de câncer de cólon se formaria a partir de pelo menos
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AGROTÓXICOS E CÂNCER
Agrotóxicos
O termo agrotóxico é usado para denominar uma ampla variedade de
produtos químicos utilizados para destruir ervas daninhas (herbicidas), in-
setos (inseticidas) e fungos (fungicidas). Esses produtos são amplamente
usados na agricultura, horticultura, reflorestamento e no processamento
secundário destes produtos nas indústrias (McDuffie et al., 2001).
Os organoclorados são um grupo de diversos produtos químicos sinté-
ticos, muitos deles liberados no ambiente nas últimas décadas com a utili-
zação de agrotóxicos ou produtos industriais. Estes agrotóxicos incluem,
por exemplo, o dichlorodiphenyl-trichoroethane (DDT), muito usado nos Es-
tados Unidos, de 1940 até 1960, para o controle de insetos no manejo de
florestas, na agricultura e na proteção nas contruções. O uso intenso de
DDT nos EUA ocorreu no início de 1960, sendo banido em 1972. Os
biphenyls polychorinated (PCBs) também foram extensivamente usados nos
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BIOTRANSFORMAÇÃO DE XENOBIÓTICOS
Xenobióticos são substâncias químicas (naturais ou artificiais) estra-
nhas ao organismo, tais como as drogas, produtos industriais, agrotóxicos,
poluentes, alcalóides, metabólitos de plantas e toxinas produzidas por fun-
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CONCLUSÕES
Conforme apresentado, estudos epidemiológicos têm documentado a
associação entre a exposição a agrotóxicos e o desenvolvimento de câncer
em diferentes localizações anatômicas e faixas etárias, sobretudo em popu-
lações agrícolas diretamente expostas. A reprodução de resultados similares
em investigações realizadas com populações em diferentes países, empre-
gando metodologias distintas, sugere a natureza causal de muitas das associ-
ações descritas, como no caso dos tumores hematológicos, sobretudo linfo-
mas não-Hodgkin. Entretanto, lacunas importantes no conhecimento cientí-
fico permanecem, como é o caso da controvérsia existente entre a exposição
a agrotóxicos organoclorados e o desenvolvimento de câncer de mama.
As hipóteses explicativas para o processo da carcinogênese associada à
exposição aos agrotóxicos têm aumentado, sobretudo graças ao desenvolvi-
mento de novas técnicas citogenéticas e de biologia molecular nas últimas
décadas. Estas técnicas tornaram possível o monitoramento de alterações
no DNA (ensaios do cometa e de micronúcleo) e a análise molecular (PCR
– reação em cadeia da polimerase) de polimorfismos genéticos envolvidos
nos mecanismos de metabolização de agentes xenobióticos e reparo do
DNA, possibilitando a identificação de diferentes padrões de suscetibili-
dade frente a exposições aos agrotóxicos.
No Brasil, onde o consumo de agrotóxicos na agricultura vem se ampli-
ando de forma contínua, a análise dos efeitos deste tipo de exposição ambi-
ental começa a documentar um perfil epidemiológico da distribuição de
câncer tanto em populações ocupacionalmente expostas a estes agentes
químicos, como na população geral indiretamente afetada pela contamina-
ção alimentar e dos recursos hídricos.
Em conjunto, os resultados descritos nestes estudos revelam o panora-
ma de possibilidades de investigação sobre os efeitos do emprego de agro-
tóxicos no Brasil associados ao processo de carcinogênese, bem como a
necessidade de que esta produção científica seja ampliada em parceria com
diferentes campos do conhecimento. Desta forma, será possível aprofun-
dar o conhecimento científico do tema em nossa realidade e a adotar medi-
das voltadas para a intervenção sanitária legal visando, principalmente, à
prevenção de diversos tipos de câncer associados com a exposição ambien-
tal aos agrotóxicos.
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