A Nova Jerusalém - A Cidade Celestial - Luiz Henrique Caracas

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Apocalipse 21.

1–27 (NAA)
O novo céu e a nova terra

21
1
E vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já
não existe. 2Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte
de Deus, preparada como uma noiva enfeitada para o seu noivo. 3Então ouvi uma voz
forte que vinha do trono e dizia:
— Eis o tabernáculo de Deus com os seres humanos. Deus habitará com eles. Eles
serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles e será o Deus deles. 4E lhes
enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem
pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.
5
E aquele que estava sentado no trono disse:
— Eis que faço novas todas as coisas.
E acrescentou:
— Escreva, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.
6
Disse-me ainda:
— Tudo está feito! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem
sede, darei de graça da fonte da água da vida. 7O vencedor herdará estas coisas, e eu
serei o Deus dele e ele será o meu filho. 8Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos,
aos abomináveis, aos assassinos, aos imorais, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os
mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que está queimando com fogo e
enxofre, a saber, a segunda morte.
A nova Jerusalém
Então veio um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias dos últimos sete
9

flagelos e falou comigo, dizendo:


— Venha, vou mostrar-lhe a noiva, a esposa do Cordeiro.
10
E ele me levou, no Espírito, a uma grande e elevada montanha e me mostrou a
cidade santa, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, 11a qual tem a glória de
Deus. O seu brilho era semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe
cristalina. 12Tinha uma muralha grande e alta, com doze portões, e, junto aos portões,
doze anjos. Sobre os portões estavam escritos nomes, a saber, os nomes das doze
tribos dos filhos de Israel. 13Três portões se achavam a leste, três, ao norte, três, ao sul,
e três, a oeste. 14A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e sobre estes estavam
os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.
15
Aquele que falava comigo tinha por medida uma vara de ouro para medir a
cidade, os seus portões e a sua muralha. 16A cidade tinha a forma de um quadrado, de
comprimento e largura iguais. E mediu a cidade com a vara, e tinha doze mil estádios.
O seu comprimento, largura e altura são iguais. 17Mediu também a sua muralha, e
tinha cento e quarenta e quatro côvados, pela medida humana que o anjo usava. 18A
muralha é feita de jaspe e a cidade é de ouro puro, semelhante a vidro límpido. 19Os
alicerces da muralha da cidade estão enfeitados de todo tipo de pedras preciosas. O
primeiro alicerce é de jaspe; o segundo, de safira; o terceiro, de calcedônia; o quarto,
de esmeralda; 20o quinto, de sardônio; o sexto, de sárdio; o sétimo, de crisólito; o
oitavo, de berilo; o nono, de topázio; o décimo, de crisópraso; o décimo primeiro, de
jacinto; e o décimo segundo, de ametista. 21Os doze portões são doze pérolas, e cada
um desses portões é feito de uma só pérola. A praça da cidade é de ouro puro, como
vidro transparente.
22
Não vi nenhum santuário na cidade, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus
Todo-Poderoso, e o Cordeiro. 23A cidade não precisa do sol nem da lua para lhe dar
claridade, pois a glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a sua lâmpada. 24As nações
andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória. 25Os seus portões
jamais se fecharão de dia, pois nela não haverá noite. 26E lhe trarão a glória e a honra
das nações. 27Nela não entrará nada que seja impuro, nem o que pratica abominação e
mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro.

 O clímax de Apocalipse e da Bíblia, onde o plano divino culmina com a erradicação


do pecado e a realização do propósito original de Deus para a humanidade.
 Desde Adão e Eva, a história bíblica tem apontado para esse momento de restauração
e redenção total.

 Cumprimento das Promessas e Esperanças

 As promessas feitas às sete igrejas são cumpridas na visão do novo céu e nova
terra, contrastando a perfeição da Nova Jerusalém com as imperfeições das sete
cidades (Ap 2—3).
 A Nova Jerusalém representa a realização das esperanças e sonhos do povo de
Deus, manchados pelo pecado, mas agora cumpridos em sua plenitude celestial.

 A Presença de Deus na Nova Jerusalém

 Eternidade é definida pela presença direta de Deus entre os homens, algo que
Moisés não poderia experimentar sem morrer (Êx 33:20).
 Na Nova Jerusalém, "o tabernáculo de Deus está entre os homens" (Ap 21:3),
cumprindo todos os anseios dos santos ao longo dos séculos.

 A Nova Jerusalém como Comunidade e Novo Éden

 A cidade é vista como uma comunidade de crentes, onde Deus habita,


representando a interdependência humana vivida de forma concreta.
 João utiliza material do Antigo Testamento, especialmente de Isaías e Ezequiel,
para descrever a Nova Jerusalém como um lugar santíssimo eterno e um novo
Éden, cumprindo definitivamente as esperanças do povo de Deus e
recompensando os santos por sua fidelidade.

DUAS MULHERES CIDADES


A Nova Jerusalém desce do céu para a nova criação e, assim como a meretriz Babilônia,
é tanto uma mulher quanto uma cidade: a noiva e esposa do Cordeiro (19:7; 21:2,9) e “a
cidade santa, a nova Jerusalém” (21:2), “cidade do meu Deus” (3:12).

1. A Noiva versus a Prostituta


Nova Jerusalém: A noiva casta, a esposa do Cordeiro (21:2,9).
Babilônia: A prostituta com quem os reis da terra fornicam (17:2).

2. Esplendor Divino versus Esplendor Mundano


Nova Jerusalém: Seu esplendor é a glória de Deus (21:11-21).
Babilônia: O esplendor da Babilônia resulta da exploração de seu império (17:4;
18:12,13,16).

3. Luz e Glória versus Corrupção e Sedução


Nova Jerusalém: As nações andam em sua luz, que é a glória de Deus (21:24).
Babilônia: A corrupção da Babilônia e a sedução das nações (17:2; 18:3,23; 19:2).

4. Submissão a Deus versus Domínio Terreno


Nova Jerusalém: Os reis da terra trazem sua glória a ela (21:24).
Babilônia: Babilônia governa sobre os reis terrenos (17:18).

5. Glória a Deus versus Riqueza Extorquida


Nova Jerusalém: Trazem glória e honra das nações a ela (21:26).
Babilônia: A riqueza luxuosa da Babilônia extorquida de todo o mundo (18:12-17).

6. Pureza versus Impureza


Nova Jerusalém: A impureza, a abominação e a falsidade são excluídas (21:27).
Babilônia: As abominações, impurezas e seduções da Babilônia (17:4,5; 18:23).

7. Água e Árvore da Vida versus Vinho da Embriaguez


Nova Jerusalém: A água da vida e a Árvore da Vida para a cura dos povos (21:6;
22:1,2).
Babilônia: O vinho da Babilônia que embriaga as nações (14:8; 17:2; 18:3).
8. Vida e Cura versus Morte e Assassinato
Nova Jerusalém: A vida e a cura (22:1,2).
Babilônia: O sangue dos assassinatos (17:6; 18:24).

9. Convite versus Chamado para Sair


Nova Jerusalém: O povo de Deus é convidado a entrar na Nova Jerusalém (22:14).
Babilônia: O povo de Deus é chamado a sair da Babilônia (18:4).
Conclusão:

Reflexão: A Nova Jerusalém representa a esperança e redenção final para o povo de


Deus, enquanto Babilônia representa a corrupção e julgamento final.
Aplicação: Considerar o chamado para viver na luz da Nova Jerusalém, rejeitando as
corrupções simbolizadas por Babilônia.

A Nova Jerusalém como Lugar


A descrição da Nova Jerusalém combina várias tradições do Antigo Testamento em uma
imagem rica e coerente de um lugar onde as pessoas vivem na presença imediata de
Deus. Podemos analisá-la em três aspectos principais: lugar, pessoas e presença de
Deus.

1. Paraíso, Cidade Santa e Templo


- Paraíso: "A Nova Jerusalém é o mundo natural em seu estado ideal, resgatado e
reconciliado com a humanidade, cheio da presença divina e mediador das bênçãos da
vida escatológica." (22:1-2)
- Cidade Santa: "Ela cumpre o ideal do lugar antigo onde céu e terra se encontram, e
Deus governa seu povo." (21:2,10-11)
- Templo: "É o santuário da presença imediata de Deus, onde seus adoradores veem
sua face." (21:22)

2. O Monte Sagrado
- "O 'grande e alto monte' (21:10) para o qual a cidade desce é a montanha cósmica
onde céu e terra se encontram, refletindo sua ancestralidade mitológica e sua função
como morada divina." (Ezequiel 40:2; Zacarias 14:6-21)
3. Pedras Preciosas e Materiais do Paraíso
- "A cidade é construída com pedras preciosas e metais do paraíso, refletindo sua
origem divina e a beleza da nova criação." (21:18-21; Isaías 54:11-12)

4. A Água da Vida e a Árvore da Vida


- "A presença da água da vida e da Árvore da Vida representa o alimento e a bebida da
vida escatológica." (22:1-2; Ezequiel 47:1-12)

5. A Cidade como Templo


- "A ausência de um templo específico na cidade indica que toda a cidade é sagrada,
sendo o local da presença imediata de Deus." (21:22; Ezequiel 48:35)

6. Cidade do Reino de Deus


- "A Nova Jerusalém é a sede do reino de Deus, a luz do mundo para as nações que
trazem sua glória e honra a ela." (21:24-26; Isaías 60:3)

7. Contraste com a Babilônia


- "Enquanto a Babilônia representa exploração e corrupção, a Nova Jerusalém
simboliza a glória e a pureza." (17:4; 18:12-13; 21:27)

8. A Presença de Deus e do Cordeiro


- "Deus e o Cordeiro são o templo da Nova Jerusalém, onde sua presença ilumina toda
a cidade." (21:22-23)

A Nova Jerusalém como Presença Divina em Apocalipse

1. Teocentrismo de Apocalipse e a Nova Jerusalém


- "O teocentrismo de Apocalipse, tão evidente nos capítulos 4 e 5, concentra-se
novamente na descrição da Nova Jerusalém." (Bauckham, 2022)

2. Cumprimento Escatológico da Criação de Deus


- "É a antiga criação repleta da presença de Deus." (Bauckham, 2022)
- "Apenas quando toda a perversidade tiver sido destruída e seu reino vier, o trono de
Deus estará no mundo." (Bauckham, 2022)

3. A Presença Imediata de Deus na Nova Jerusalém


- "Então, quando a Nova Jerusalém descer do céu, Deus fará sua morada com a
humanidade na terra." (Bauckham, 2022)
- "Toda a Nova Jerusalém é um santo dos santos, a presença imediata de Deus a
preenche." (Bauckham, 2022)

4. A Ausência de Templo e a Presença Permeante de Deus


- "No lugar de um templo, a companhia ilimitada de Deus e do Cordeiro." (Apocalipse
21:22, Bauckham, 2022)
- "A cidade que é permeada pela santidade divina está igualmente cheia do esplendor
de Deus." (Bauckham, 2022)

5. A Beleza e a Glória de Deus na Nova Criação


- "Ela não precisa do sol, da lua ou de lâmpada, pois tem a glória de Deus refletida no
brilho de sua resplandecência multicolorida." (Apocalipse 21:23, Bauckham, 2022)
- "A nova criação, bem como a antiga, terá sua própria beleza dada por Deus."
(Bauckham, 2022)

6. Vida Eterna e Presença Contínua de Deus


- "A vida é eterna porque está imediatamente conectada à sua fonte perpétua no
Senhor." (Bauckham, 2022)
- "Deus dá a água da vida, que flui de seu trono e rega a Árvore da Vida." (Apocalipse
21:6, 22:1, Bauckham, 2022)

7. A Adoração Eterna diante do Trono de Deus


- "Eles verão a sua face." (Apocalipse 22:4, Bauckham, 2022)
- "Na Nova Jerusalém, todos desfrutarão esse imediatismo sem interrupção."
(Bauckham, 2022)

8. O Governo Divino e a Liberdade Humana


- "No reino divino, a teonomia e a autonomia humana coincidirão por completo."
(Bauckham, 2022)
- "O governo de Deus sobre eles é uma participação em seu governo." (Apocalipse
22:5, Bauckham, 2022)

A NOVA JERUSALÉM COMO LUGAR


A descrição da Nova Jerusalém é uma tecelagem fascinante de muitos fios da tradição
do AT em uma imagem coerente e ricamente sugestiva de um lugar em que as pessoas
vivem na presença imediata de Deus. Pode ser analisada em seus três aspectos: lugar,
pessoas e presença de Deus. Estudaremos um de cada vez, embora seja inevitável nos
referirmos aos outros em diversos momentos.
Como um lugar, a Nova Jerusalém é, ao mesmo tempo, paraíso, cidade santa e templo.
Como paraíso, é o mundo natural em seu estado ideal, resgatado dos destruidores da
terra, reconciliado com a humanidade, cheio da presença divina e mediador das bênçãos
da vida escatológica para a humanidade. Como cidade sagrada, cumpre o ideal do lugar
antigo, [ 62 ] onde céu e terra se encontram bem em seu centro e de onde Deus governa
seu mundo e seu povo, as nações são atraídas ao esclarecimento e todos vivem em uma
comunidade teocêntrica ideal. Como templo, é o santuário da presença imediata de
Deus, onde seus adoradores veem sua face.

O “grande e alto monte” (21:10) para o qual a cidade desce tem uma ancestralidade
mitológica extensa, bem como uma derivação imediata de Ezequiel 40:2. [ 63 ] É a
montanha cósmica na qual o céu e a terra se encontram, os deuses habitam e as cidades
sagradas foram construídas com templos em seu centro. O paraíso ficava no “monte
santo de Deus” (Ezequiel 28:14). O monte Sião, em que Jerusalém e o templo se
situavam, não era fisicamente tão alto, mas era, mitologicamente, uma montanha
altíssima (Ezequiel 40:2): “Seu santo monte, belo e majestoso, é a alegria de toda a
terra” (Salmos 48:2). Como morada do Senhor, a sede de seu governo, “a cidade do
grande Rei”, era invencível (Salmos 48). Ainda que o trono de Deus fosse no céu, o
monte Sião era o estrado dos seus pés (Salmos 99). Nos últimos dias, deveria ser
elevado acima de todas as colinas, tornando-se concretamente o monte cósmico a que
foi simbolicamente comparado e o templo em seu topo traria todas as nações até ele
(Isaías 2:2). Além disso, era para ser o local do paraíso restaurado (Isaías 11:9; 65:25).
Desse modo, o próprio centro da Nova Jerusalém em Apocalipse 21:10 sugere o lugar
ideal. Tudo que a Jerusalém terrena não poderia fazer mais do que simbolizar se tornará
realidade. Enquanto os construtores da antiga Babilônia (Gênesis 11:1-9) tentaram unir
a terra ao céu com o orgulho que João viu repetir-se na Roma contemporânea, a Nova
Jerusalém — que vem de Deus — realmente os unirá.

A Nova Jerusalém inclui o paraíso na forma da água da vida (22:1,2; veja 7:17; 21:6;
22:1; 22:17) e da Árvore da Vida (22:2; veja 2:7; 22:14,19). Ambas têm diversas fontes
do Antigo Testamento que o próprio João combinou (veja, quanto à água, Isaías 49:10;
55:1; Ezequiel 47:1-12; Zacarias 14:8; e, quanto à árvore, Gênesis 2:9; 3:24; Ezequiel
47:12). Juntos, representam o alimento e a bebida da vida escatológica. Na qualidade de
vida pertencente à nova criação, esta é eterna, ao contrário da outra, mortal, sustentada
pelos alimentos e bebidas obtidos nessa criação. Ela vem de Deus (21:6; 22:1), que é a
própria vida da nova criação, mas a ilustração sugere que, como o dom divino da vida
mortal é mediado por nós, por esta criação da qual fazemos parte, a vida será mediada,
de maneira escatológica, pela nova criação.

De uma forma não tão óbvia, ainda que reconhecida por quem estava familiarizado com
as tradições judaicas, a Nova Jerusalém foi construída com pedras preciosas e metais do
paraíso. Havilá, que a interpretação judaica incluía no paraíso, era a fonte do ouro e de
tais pedras (Gênesis 2:11,12). Além disso, Ezequiel, em um versículo que ecoa em
Apocalipse 21:19, diz ao rei de Tiro: “Você estava no Éden, no jardim de Deus; todas as
pedras preciosas o enfeitavam” (Ezequiel 28:13). A lista de todas as pedras preciosas
que se encontra no texto massorético é idêntica às primeiras nove da relação das doze
pedras no peitoral do sumo sacerdote (Êxodo 28:17-20), uma listagem que também
recebe a versão de João, como as preciosidades que adornavam os doze fundamentos da
Nova Jerusalém (Apocalipse 21:19,20). Ele soube, por meio de Ezequiel, que essa lista
representava todas as pedras preciosas existentes no paraíso. Diversas tradições judaicas
afirmavam que as joias do peitoral, entre outras, e o ouro usado nas vestes e na
decoração do templo provinham de lá (o misterioso Parvaim, fonte do ouro usado no
templo de Salomão [2Cr. 3:6; veja 1QGn.Apoc. 2:23], foi vinculado ao paraíso).
Ademais, uma tradição exegética anterior ao Apocalipse já havia identificado as pedras
preciosas com as quais a Nova Jerusalém seria construída: segundo Isaías 54:11,12,
seria com as joias das roupas do sumo sacerdote, que deveriam ser tão brilhantes que
funcionariam como o sol e a lua, a fim de iluminar essa cidade (cf. 4QPIs 1:4-9; LAB
26:13-15). Dessa forma, não só as doze joias de Apocalipse 21:19,20, mas também as
pedras e o ouro com que o restante da cidade é construído (21:18,21), caracterizam a
Nova Jerusalém como uma cidadetemplo enfeitada com todos os materiais preciosos
fabulosamente reluzentes do paraíso. Quando se diz que o lugar inteiro tinha “a glória
de Deus, e o seu brilho era como o de uma joia muito preciosa, como jaspe, clara como
cristal” (21:11), lembramos que o esplendor do Senhor é “semelhante a jaspe e
sardônio” (4:3) e que o mar de vidro diante de seu trono no céu é translúcido como o
cristal, refletindo sua glória (4:6). Provavelmente João quer dizer que toda a cidade,
com seus adornos fascinantes e seu ouro translúcido (21:18,21), brilham com a
magnificência refletida de Deus (veja 21:23).

A fonte paradisíaca dos materiais da Nova Jerusalém mostra que eles não devem ser
considerados meras alegorias para atributos dos indivíduos que a habitam. O linho fino
com que a noiva do Cordeiro se veste, ao se preparar para seu casamento, representa os
atos de justiça dos santos (19:7,8) realizados nesta vida, mas as joias que a enfeitam
quando chega o dia das núpcias (21:2,18-21) são a glória dada a ela por Deus na nova
criação. São a beleza da nova criação, refletindo o resplendor divino e transformados
em um lar para a humanidade glorificada.

No princípio, Deus plantou um jardim para abrigar a humanidade (Gênesis 2:8). No


final, ele lhes dará uma cidade. Na Nova Jerusalém, as bênçãos celestiais serão
renovadas, mas ela é mais do que o paraíso reconquistado. Como cidade, ela atende ao
desejo humano de construir na natureza um lugar terreno de cultura e comunidade
humanas. Sabe-se que isso é dado por Deus e, portanto, vem do céu. Contudo, isso não
significa que a humanidade não contribua de modo algum para tal. Ela consolida a
história e a cultura humanas à medida que se dedica a Deus (veja 21:12,14,24,26),
enquanto exclui as distorções históricas e culturais opostas ao Pai que são representadas
pela Babilônia (veja 21:8,27; 22:15). Ela vem de Deus no sentido de que todo bem vem
dele e tudo que é humanamente bom é melhor ainda quando há reconhecimento de que
dele procede. Todavia, a cidade que, ao mesmo tempo, inclui o paraíso intacto (22:1,2) e
é adornada com sua beleza (21:19), remete à harmonia da natureza e da cultura terrena a
que as cidades antigas aspiravam, mas que as modernas traíram cada vez mais.
Como cidade, a Nova Jerusalém é a sede do reino de Deus. O trono que estava no céu
(cap. 4), agora está nela (22:1,3), que é tanto a luz do mundo, mediante a qual os povos
caminham (21:24; veja Is 60:3), quanto o centro ao qual as nações e seus reis se dirigem
em peregrinação, trazendo honrarias (21:24-26; veja Isaías 60:4-17; Zacarias 14:16).
Porém, enquanto em Isaías 60:5-17 a riqueza material das nações é trazida como tributo
a Jerusalém, em Apocalipse os reis da terra trazem “sua glória” e as pessoas oferecem “a
glória e a honra das nações” (21:26,27). A intenção é possivelmente contrastar com a
exploração da Babilônia, da prosperidade de seu império à custa de seus súditos (veja
18:11- 14), além de aprofundar o tema da glória que faz parte de toda a descrição. Ao
oferecer sua própria magnificência a Deus, evidentemente os reis e as nações não a
perdem, mas reconhecem sua fonte em Deus, a quem “glória e honra” pertencem por
inteiro. Não é por acaso que tal expressão aparece com tanta frequência nas doxologias
de Apocalipse (4:11; 5:12,13; 7:12; veja 19:1).

Em muitos aspectos, a descrição da Nova Jerusalém segue precisamente os modelos do


AT (em especial, Isaías 52:1; 54:11,12; 60; Ezequiel 40:2-5; 47:1-12; 48:30-34; Zacarias
14:6-21; Tobias 13:16,17). Sua característica mais singular é a ausência de um templo:
“Não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todopoderoso e o Cordeiro são o
seu templo” (21:22). Ezequiel chamou a Nova Jerusalém de “O Senhor está aqui”
(Ezequiel 48:35), Zacarias declarou que a cidade inteira era tão sagrada quanto o templo
(Zacarias 14:20,21) e Isaías, seguido por João (Apocalipse 21:27), excluiu dela os
ritualmente impuros, pois também foram repelidos do templo (Isaías 52:1; Salmos
24:3,4). Esses profetas foram longe, no sentido de visualizar toda a cidade como o
centro da presença sagrada de Deus, seu verdadeiro “monte santo”. No entanto, João
parece ter sido o primeiro a eliminar totalmente o santuário. A cidade não precisa de um
local especial para a presença de Deus, porque toda a cidade está cheia de sua presença
imediata. Como resultado disso, ela se torna um templo. Além das características já
citadas, o sinal mais marcante disso é sua forma perfeitamente quadrangular (21:16).
Ela é como nenhuma outra cidade jamais imaginada, como o Santo dos Santos no
santuário (1Reis 6:20). A assimilação radical da cidade a um templo, ainda mais
aprofundada em Apocalipse do que em suas fontes proféticas, mostra quão fundamental
é o tema da presença imediata de Deus para todo o conceito da Nova Jerusalém em
Apocalipse.

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