Morfofisiologia Da Orelha

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MORFOFISIOLOGIA DA ORELHA

1
Sumário
NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................................... 2
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
Orelha externa............................................................................................................... 4
Porção cartilagínea ........................................................................................................ 5
Porção óssea ................................................................................................................. 7
Orelha interna ............................................................................................................. 13
SEMIOLOGIA DO CANAL AUDITIVO ................................................................... 21
Anamnese: .................................................................................................................. 21
Inspeção direta ............................................................................................................ 22
Palpação ..................................................................................................................... 22
Inspeção indireta ......................................................................................................... 23
Otoscopia/Video-otoscopia ......................................................................................... 24
Otoscopia .................................................................................................................... 24
Exame citológico ........................................................................................................ 28
Características Anormais na citologia do canal auditivo .............................................. 30
• CERUME ................................................................................................................. 30
• BACTÉRIAS ............................................................................................................ 30
LEVEDURAS ............................................................................................................ 31
LEUCÓCITOS ........................................................................................................... 32
Radiografia do sistema auditivo .................................................................................. 33
Canalografia de contraste positivo ............................................................................... 34
Tomografia computadorizada ...................................................................................... 35
Ressonância Magnética ............................................................................................... 35
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 36

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO

O órgão da audição permite reconhecer três segmentos: orelha externa - Auris


externa, orelha média - Auris media e orelha interna - Auris interna. Nos animais
domésticos o órgão do equilíbrio e o órgão da audição servem, respectivamente,
para a manutenção do equilíbrio e orientação da posição do corpo no espaço
além de atuar na percepção de ruídos e sons. As primeiras funções dizem
respeito à ação da gravidade e são dirigidas por circuitos complexos por meio
do rombencéfalo para o núcleo vestibular no cerebelo (trato vestibular central).
O órgão do equilíbrio e o da audição situam-se em conjunto, na porção petrosa
do osso temporal, sendo ambos anatômica e funcionalmente supridos pelo nervo
vestibulococlear (VIII par de nervo craniano) (NICKEL, 1979; DIDIO, 1999;
TORTORA; GRABOWSKI, 2002; KÖNIG; LIEBICH, 2011).

Orelha é o nome dado às estruturas que compõe os sistemas auditivo e


vestibular periféricos. Localiza-se na região temporal do crânio e a maioria de
suas porções está inserida no osso temporal. O limite entre a orelha externa e a
orelha média é a membrana timpânica. O limite entre a orelha média e a orelha
interna é a janela oval (Figura 1) (DIDIO, 1999; TORTORA; GRABOWSKI, 2002;
JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008; KÖNIG; LIEBICH, 2011).

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Orelha externa

A orelha externa dos mamíferos domésticos e seres humanos são compostas


por duas partes: a aurícula e o meato acústico externo. A aurícula ou pina é a
porção cartilagínea que se salienta da cabeça. O meato acústico externo é o
canal que comunica a base da aurícula com a membrana timpânica, distendido
por meio de uma abertura no osso temporal. A descrição anatômica da orelha
externa é dividida em duas porções, a porção cartilaginosa, e a óssea (NICKEL,
1979; DIDIO,1999; TORTORA; GRABOWSKI, 2002; HEINE, 2004; DYCE;
SACK; WENSING, 2010; KÖNIG; LIEBICH, 2011)

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Porção cartilagínea

O pavilhão auricular dos Mamíferos domésticos apresenta formato de funil; seu


polo distal é bem aberto para receber o som e, o proximal, ondula-se, formando
um tubo que se curva no sentido medial para conectar-se com o meato acústico
externo. Nos animais, a aurícula pode voltar-se em direção à origem do som; as
aurículas direita e esquerda podem mover-se de forma independente, de modo
que cada uma possa se concentrar em sons isolados. O animal não precisa virar
a cabeça, como os seres humanos, que apresentam orelha externa imóvel.
(NICKEL, 1979; HEINE, 2004; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KÖNIG ;
LIEBICH, 2011). O formato da aurícula dos mamíferos domésticos é
determinado pela cartilagem auricular de sustentação.

Na maioria desses animais, essa cartilagem é suficientemente rígida para


manter a aurícula sempre ereta. Em muitas raças de cães, a cartilagem é
relativamente flexível, permitindo que a aurícula se dobre; mesmo assim, a
maioria dos cães pode empinar as orelhas e fazê-las virar quando necessitam
de maior atenção ao som (NICKEL, 1979; HEINE, 2004; DYCE; SACK;
WENSING, 2010; KÖNIG; LIEBICH, 2011).

O meato acústico externo tem origem na região onde a parte ondulada da


cartilagem auricular se estreita e termina no tímpano. O meato possui partes
cartilaginosas e ósseas, e seu revestimento interno esta repleto de glândulas
sebáceas e ceruminosas tubulares. Estas ultimas secretam a cera (cerúmen),
que supostamente impede a poeira de chegar à delicada membrana timpânica.
A orelha do cão é a de maior interesse clínico. Infelizmente, seu meato acústico
externo é curvo, tornando difícil a passagem do otoscópio reto para o exame da
parte proximal do meato e do tímpano (NICKEL, 1979; HEINE, 2004; DYCE;
SACK; WENSING, 2010; KÖNIG; LIEBICH, 2011). O pavilhão auricular, em
algumas espécies de animais, tem a forma de um cartucho pontiagudo, e, na
superfície interna côncava, a cavidade do cartucho, a escafa é distendida de
forma plana. Essa superfície interna mostra uma tênue e pouco móvel cobertura
de pêlos, com longos pêlos de proteção (trago), que se posicionam na

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proximidade do conduto auditivo e que, na profundidade do pavilhão, são mais
esparsos e finos (NICKEL, 1979; HEINE, 2004; DYCE; SACK; WENSING, 2010;
KÖNIG; LIEBICH, 2011). A base estrutural do pavilhão auricular da cobaia
(Cavia porcellus ) e do rato (Rattus rattus) é de natureza elástica. A cartilagem
auricular é recoberta por uma delgada pele e consiste em uma aurícula bastante
grande com destaques cartilaginosos, além de concavidades que são
homólogas às aurículas da maioria das outras espécies de mamíferos
(KIERNAN; MITCHELL, 1974; COOPER; SCHILLER, 1975). As cobaias
apresentam um canal cartilaginoso bastante tortuoso e longo, formando o meato
auditivo externo. A extremidade medial do canal cartilaginoso é contínua com a
porção óssea do canal auditivo externo. A porção cartilaginosa da orelha da
cobaia é de aproximadamente duas a três vezes o comprimento da porção óssea
do canal auditivo externo (COOPER; SCHILLER, 1975). O conduto auditivo
externo da cobaia é menor que o do rato, permitindo a visão somente da
membrana timpânica e do cabo do martelo, enquanto que no rato é possível
visualizar a membrana timpânica, que não veda todo o conduto auditivo externo,
e a cadeia ossicular (ALBUQUERQUE, 2006). Por causa do comprimento e
tortuosidade do canal cartilaginoso, é extremamente difícil de visibilizar a
membrana timpânica no ouvido da cobaia, no entanto, esta membrana pode ser
examinada com o espéculo pediátrico. A exposição cirúrgica do canal ósseo e a
membrana timpânica deve ser alcançada pela remoção ou incisão do canal
cartilaginoso (COOPER; SCHILLER, 1975).

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Porção óssea
O osso temporal dos mamíferos domésticos originam-se da fusão de várias
unidades ósseas, as quais ainda se encontram separadas. Entre elas, podem
ser diferenciadas a porção escamosa do temporal, a porção petrosa com o
processo mastóideo e a porção timpânica (Pars tympanica) (NICKEL, 1979;
HEINE, 2004; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KÖNIG; LIEBICH, 2011). Da
porção escamosa, projetam tanto o processo occipital (caudalmente) quanto o
processo retrotimpânico (ventralmente), o qual envolve o processo auditivo
externo no sentido caudal. No forame retroarticular, atrás dessa projeção,
posicionase a entrada para o meato temporal, o qual permanece rudimentar em
gatos e suínos (NICKEL, 1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KÖNIG;
LIEBICH, 2011). A porção petrosa é também designada com a parte timpânica
como pirâmide petrosa e, apesar de fusionar-se nos carnívoros e bovinos com a
porção escamosa, permanece separada desse osso nos outros animais
domésticos. A porção petrosa forma o fechamento caudoventral do osso
temporal e inclui a orelha interna com a cóclea, o vestíbulo e os ductos
semicirculares. Ela se posiciona encaixada profundamente entre a porção
temporal timpânica e a escamosa (KÖNIG; LIEBICH, 2011). Sua face medial
voltada para a cavidade craniana contém o poro acústico interno, que leva para
o meato acústico, e através do qual penetram os nervos facial e os ramos
acústico e do equilíbrio do nervo vestibulococlear. Entre a face rostraI e medial
da porção petrosa, a crista da parte petrosa eleva-se de forma evidente nos
carnívoros e nos equinos (DYCE; SACK; WENSING, 2010; KÖNIG; LIEBICH,
2011). O segmento caudal da porção petrosa alcança a superfície craniana na
direção ventral pelo processo mastóideo. Este é normalmente aumentado em
forma de tubérculo nos equínos, sendo mais discreto nos outros animais
domésticos (DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011). A porção
timpânica desses animais, situada em sentido rostroventral à base do osso
temporal, contém na bula timpânica a cavidade timpânica da orelha.
Dorsolateralmente abre-se o meato acústico externo, o qual termina no poro
acústico externo. Para a fixação da membrana timpânica, forma-se um anel

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incompleto. Na porção dorsal da cavidade timpânica, encontram-se os ossículos
auditivos, o martelo, a bigorna e o estribo (NICKEL, 1979; DYCE; SACK;
WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011). Na cobaia, o osso temporal se situa
na região posterior-inferior do crânio. Ele está localizado entre o osso occipital
caudalmente, o osso parietal dorsalmente e o osso frontal, palatino, esfenoide,
maxilar e etmoidal rostralmente. Na delimitação com o osso parietal contém o
orifício do canal temporal, que é variável em tamanho (COOPER; SCHILLER,
1975; OLIVEIRA, 1982; WISOCKI, 2005a, WISOCKI, 2005b; ALBUQUERQUE
et al., 2009).

Quatro elementos podem ser distinguidos no osso temporal de cobaias adultas:


o escamoso, petroso, timpânico e parte mastóidea. As delimitações entre essas
partes do osso temporal não são nítidas. A parte timpânica articula-se
paracentralmente com o osso occipital e o osso basoesfenoide, e seu alongado
ápice estão embutidos entre o núcleo e a asa do osso. A parte petrosa do osso
temporal está ligada com a parte basal do osso esfenóide e o corpo do
basoesfenoide (COOPER; SCHILLER, 1975; OLIVEIRA, 1982; WISOCKI,
2005a, WISOCKI, 2005b). No rato, a parte timpânica é muito mais desenvolvida;
consiste no anel timpânico, bula timpânica formando a parte ventro-látero-rostral
do osso temporal (WISOCKI, 2008). Nas Cobaias, essas articulações não são
contínuas e formam as aberturas dilaceradas, média e posterior. A porção
mastoidea forma o processo mastoide junto com o osso occipital, especialmente
o processo paracondilar. O orifício externo do canal do nervo facial é encontrado
no limite da porção mastoidea e timpânica. A parte escamosa do osso temporal
situa-se dorsal e posteriormente à porção timpânica e mastóidea e forma
conexões com os ossos parietal, frontal, palatinos e etmóide. Neste local
encontra-se o acetábulo da articulação temporo-mandibular, ou seja, no
processo zigomático. Assim pode-se afirmar que esta articulação localiza-se no
arco zigomático. A parte timpânica é composta de três porções separadas
distintamente, um anel timpânico, uma bula timpânica e uma bula dorsal
(COOPER; SCHILLER, 1975; WISOCKI, 2005a, WISOCKI, 2005b). O anel
timpânico da cobaia é um cilindro regular que forma as paredes do canal auditivo
externo, que em um ângulo direito penetra na parede lateral da bula timpânica
com a sua base. Este cilindro é elevado em sua parte anterior e inferior, no

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entanto, declina na parte póstero-superior da sua circunferência. Há um forame
na borda do canalículo timpânico entre a circunferência inferior do cilindro e a
parede lateral da bula timpânica (COOPER; SCHILLER, 1975; WISOCKI, 2005a,
WISOCKI, 2005b).

A bula timpânica é uma formação que limita o considerável espaço aéreo do


osso temporal da cobaia. Tem a forma de um trapézio com bordas arredondadas
e paredes ósseas muito finas. Acima do anel timpânico, no limite das partes
mastóide e escamosa, há uma proeminência contendo uma câmara de ar
chamada bula timpânica dorsal. Na região dorsal (superfície interna, ao lado do
cérebro) entre a porção dorsal da bula, há o forame do nervo petroso maior e
menor. A cápsula óssea do labirinto, que, por analogia ao osso temporal humano
pode ser chamado parte pétrosa do osso temporal, é em forma de pirâmide e
fica ao lado da fossa anterior e posterior do crânio, construindo um fragmento da
base do crânio (COOPER; SCHILLER, 1975; GOKSU et al,. 1992; WISOCKI,
2005a, WISOCKI, 2005b). A bula da cobaia e do rato se encontra na parte
póstero-inferior do crânio e somente a porção petrosa e o osso timpânico são
unidos (ALBUQUERQUE, 2006; WISOCKI, 2008; ALBUQUERQUE et al., 2009).
Na parte póstero-superior da pirâmide, há uma pequena depressão para a fossa
cerebelar e fossa subarqueada. Esta segundo Wisocki (2008), no rato,
caracteriza-se por ser profunda. O canal semicircular superior e, em parte, o
canal semicircular posterior circundam a entrada para essa depressão. Há uma
sutura separando a parte petrosa do mastoide do osso temporal no interior da
fossa subarqueada na parede lateral. A convexidade da parte inicial do canal
semicircular posterior aparece na parede posterior da fossa (COOPER;
SCHILLER, 1975; WISOCKI, 2005b). Diretamente inferior à fossa subarqueada
da cobaia, há uma abertura externa do arqueduto vestibular. O ápice da pirâmide
contém a abertura do canal da tuba auditiva (COOPER; SCHILLER, 1975;
WISOCKI, 2005b; ALBUQUERQUE, 2006). Uma característica peculiar
anatômica importante para o canal auditivo externo e porção óssea da orelha na
cobaia, é que a porção extratemporal do nervo facial encontra-se em estreita
proximidade com o canal auditivo, além disso, o aspecto ventral deste canal é
cartilaginoso na junção com o canal ósseo. Esta posição vulnerável foi
determinada pela localização incomum do forame estilomastoideo no osso

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temporal, que é posicionado caudal e dorsal para o canal auditivo externo ósseo
(COOPER; SCHILLER, 1975).

No rato, a superfície lateral da parte petrosa forma a parede medial da cavidade


timpânica e parte da parede posterior. As outras paredes pertencem à porção
timpânica. Fortes músculos como o masseter, os músculos do pescoço e os
músculos supra-hióideos constituem a vizinhança externa do osso temporal
(WISOCKI, 2008).

Orelha média
A orelha média dos mamíferos domésticos é uma cavidade aerada do osso
temporal, também chamada de caixa do tímpano ou cavidade timpânica, que
situase entre a orelha externa e a interna, sendo revestida por mucosa. A
membrana timpânica limita a orelha externa da média. Na orelha média
encontram-se três ossículos: martelo, bigorna e estribo que estão suspensos por
ligamentos e dois músculos, o músculo estapédio e o músculo tensor do
tímpano; por entre os ossículos passa o nervo corda do tímpano, ramo do nervo
facial. A orelha média comunica-se com o antro da mastóide pelo ádito do antro;
com a rinofaringe pela tuba auditiva e com a orelha interna pelas janelas oval e
redonda (COOPER; SCHILLER, 1975; NICKEL, 1979; OLIVEIRA, 1982;
DIDIO,1999; TORTORA; GRABOWSKI, 2002; HEINE, 2004; WISOCKI, 2005b;
SOUZA, 2007; WISOCKI, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG;
LIEBICH, 2011).

A cavidade timpânica desses animais situa-se no interior do osso temporal, no


qual se projeta lateralmente a membrana timpânica e, medialmente, o
promontório da porção petrosa. Sua porção dorsal é o recesso epitimpânico, no
qual se localizam os ossículos da orelha média e o nervo corda do tímpano e,
ventralmente, a bula timpânica. A parede medial é lisa e interrompida por duas
aberturas. Diferencia-se rostrodorsalmente o forame do vestíbulo de forma oval,
o qual é fechado pela lâmina oval do estribo. O forame do vestíbulo desemboca
no átrio da orelha interna, dorsalmente ao forame da cóclea, de forma circular, o
qual se situa mais ventralmente e é fechado pela membrana timpânica

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secundária (NICKEL, 1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH,
2011).

A membrana timpânica no cão mostra-se disposta transversalmente de forma


elíptica e, no gato, projeta-se de forma pontiaguda. No suíno, ela é circular e no
bovino e no equíno, oval (NICKEL, 1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010;
KONIG; LIEBICH, 2011). Nos animais domésticos, os ossículos são resultantes
de ossificação membranosa, nos quais permanecem aderidas partes de
resíduos cartilagíneos e diferenciam-se em martelo, bigorna e estribo. Os ossos
estão articulados uns aos outros em sindesmose, estabelecendo uma conexão
funcional, a qual alcança desde o tímpano até o forame vestibular.

O tímpano e os ossículos formam o aparelho de condução e ampliação do som.


Nos animais jovens, entre a bigorna e o estribo, pode surgir o osso lenticular
como um osso próprio que mais tarde pode fusionar-se com a bigorna (NICKEL,
1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011). O martelo situa-
se mais lateralmente, inserindo-se ao tímpano. O cabo do martelo está fixado na
camada própria do tímpano. Em um exame do tímpano, ele é visto como estria
maleolar a qual se eleva alguns milímetros sobre o tímpano. A superfície
articular, em forma de sela, da cabeça do martelo articula-se com o corpo da
bigorna (NICKEL, 1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH,
2011).

A bigorna possui dois ramos de comprimentos diferentes. O ramo longo da


bigorna pode apresentar o osso lenticular em ângulo reto e bem saliente, o qual
se articula com a cabeça do estribo. O estribo mostra, junto à sua cabeça, dois
pedúnculos, que se colocam sobre a base da bigorna. O último está fixado à
margem do forame vestibular por meio do ligamento anular da bigorna (NICKEL,
1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011). Os ossículos
da orelha média estão mantidos na sua posição por meio de ligamentos e de
dobras de mucosa semelhantes às serosas. O cabo do martelo está unido, pelo
ligamento lateral do martelo, ao anel timpânico e, pelo ligamento rostral do
martelo, à parede do recesso epitimpânico. A cabeça do martelo esta fixada pelo

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ligamento superior do martelo ao teto do recesso epitimpânico (NICKEL, 1979;
DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011).

A cabeça e o cabo do martelo são mantidos adicionalmente no seu local pelas


pregas anterior e posterior do martelo, nas quais também se encontra o nervo
corda do tímpano. Próximo ao recesso epitimpânico, em parte deste separado
somente por uma mucosa, passa o nervo facial. O ramo curto e o corpo da
bigorna estão fixados ao recesso epitimpânico pelo ligamento da bigorna;
complementando a fixação desta, participa o seu ligamento anular (NICKEL,
1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011).

Segundo Cooper e Schiller (1975) e Wisocki (2005b), na cobaia, o complexo


incudomaleolar é formado pelo martelo e pela bigorna, que constituem uma
estrutura uniforme, indissociável. Entretanto, a observação minuciosa revelou
uma sutura entre os ossículos. Só a cabeça do martelo está situada no espaço
superior da cavidade timpânica. O corpo da bigorna e seus processos já se
encontram na bula ventral. O eixo que atravessa a cabeça do martelo e o
processo curto da bigorna é a maior dimensão do complexo ossicular.

Este complexo, deitando-se com seu longo eixo no plano sagital, adere na
parede superior do anel timpânico com a sua superfície lateral. Judkins e Li
(1997) descreveram que os ossículos na orelha média do rato não são fundidos,
observação também exarada por Albuquerque et al. (2009) ao comparar os
ossículos da orelha média do rato e da cobaia. Este autor relata ainda que na
cobaia o martelo e a bigorna são fusionados, formando uma junção chamada
incudomalear, enquanto que no rato estes não são fundidos; também na cobaia
o estribo é maior e tem um formato triangular, no rato, o estribo apresenta ramos
anterior e posterior que são mais estreitos e tem um formato arredondado. Os
ossículos auditivos do rato são delgados e delicados. O martelo tem um oblongo
distintamente desenvolvido, a cabeça do martelo apoia-se em um pescoço longo
e uma fina alça, consideravelmente mais fino que o pescoço. A bigorna
assemelha-se ao dente molar humano, tem um braço longo e um braço mais
curto, este último não muito mais curto que o anterior.

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O estribo é de estrutura delicada e seus membros apresentam escavações. O
membro posterior é um pouco mais escavado do que a anterior e faz com que a
cabeça do estribo não se estenda apenas lateralmente, mas também um pouco
rostralmente. (JUDKINS; LI, 1997; WISOCKI, 2008). Na cobaia e no rato a
membrana timpânica de formato plano em uma posição quase vertical, é fixada
ao anel timpânico no local onde a cabeça do martelo está conectada com o cabo
do martelo. O cabo do martelo, formando uma fina lámina óssea, adere à
membrana timpânica, com sua borda lateral, que se expande em direção ao fim
formando uma barra fixa no “umbigo''da membrana.

A parte do cabo é cartilaginoso e é chamado de escudo timpanico, Na parte


superior da borda medial do cabo do martelo, há um anexo do músculo tensor
do tímpano (COOPER; SCHILLER, 1975; OLIVEIRA,1982; WISOCKI, 2005b,
WISOCKI, 2008). Browning e Granich (1978) descreveram que a chinchila
apresentava um canal auditivo externo tortuoso por onde não era possível,
mesmo com um especulo auricular, visualizar toda a membrana timpânica,
bigorna e seu martelo apresentavam-se fusionados por cartilagem (seus corpos
caracterizam-se com sendo uma barra horizontal).

Orelha interna

A orelha interna dos mamíferos, também chamada labirinto, abriga o órgão


auditivo terminal, denominado cóclea e os órgãos vestibulares terminais que são:
utrículo, sáculo e ductos vestibulares, estruturas fundamentais para a
manutenção do equilíbrio.

A cóclea, dentro da orelha interna, contém as células responsáveis pela


percepção do som e apresenta a forma de um caracol. Infelizmente, para os
pesquisadores, esse órgão encontra-se no interior do osso temporal, que é uma
estrutura óssea altamente mineralizada, densa e de difícil acesso (COOPER;
SCHILLER, 1975; NICKEL, 1979; OLIVEIRA, 1982; ECHTELER; FAY; POPPER,
1994; DIDIO,1999; TORTORA; GRABOWSKI, 2002; WISOCKI, 2005b; SOUZA,

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2007; WISOCKI, 2008; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008; DYCE; SACK;
WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011).

Nos animais domésticos, a orelha interna é formada nos seus segmentos


centrais por um sistema fechado de labirintos ósseos e ductos membranosos de
paredes finas, o labirinto membranoso, o qual apresenta na sua parede interna
o aparelho vestibular como órgão de recepção do sentido do equilíbrio e o ducto
coclear com o epitélio sensorial para o sentido da audição (NICKEL, 1979;
DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011).

No aparelho vestibular, as células epiteliais são diferenciadas como células


sensoriais secundárias que participam no sentido do equilíbrio, agrupadas como
mácula do sáculo e como mácula do utrículo, respectivamente, localizadas nas
entradas dos ductos sob a forma de espessamento das paredes formando a
ampola. No ducto coclear, situa-se o órgão de transdução sonora como sede do
órgão do sentido da audição. As câmaras internas dos labirintos membranosos
são 13 preenchidas com endolinfa, que, na sua composição, se assemelha ao
líquido intersticial celular. Os dois sistemas de cavidade estão em conexão por
meio do ducto de união (NICKEL, 1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010;
KONIG; LIEBICH, 2011).

O labirinto semicircular está envolto por um revestimento ósseo, o labirinto


ósseo, o qual é formado pela porção petrosa do osso temporal. A forma e a
expansão do labirinto ósseo correspondem, em dimensão aumentada, às do
labirinto membranoso. O labirinto ósseo é constituído de uma cavidade central
chamada de vestíbulo, ductos semicirculares ósseos caudodorsais e uma cóclea
fechada rostroventralmente.

Entre os dois labirintos, existem espaços preenchidos por endolinfa que, por
intermédio do aqueduto do vestíbulo e do aqueduto da cóclea, respectivamente,
estão em conexão com o espaço subaracnóideo (NICKEL, 1979; DYCE; SACK;
WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011).

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O órgão do equilíbrio nos animais domésticos está localizado na parede dos
ductos semicirculares dos dois sacos dorsais, o sáculo e o utrículo.
Adicionalmente, participam do equilíbrio células sensoriais receptoras situadas
nos três ductos semicirculares e nas suas ampolas membranosas, as quais se
abrem no utrículo. Os ductos semicirculares estão organizados uns em relação
aos outros aproximadamente em ângulo reto. Um ducto semicircular rostral
situa-se em posição transversal, um posterior em posição vertical e um lateral
em posição horizontal. Cada ducto semicircular forma, na passagem para o
utrículo, uma dilatação, que é denominada de ampola membranosa.

Os ductos semicirculares rostral e posterior unem-se em um pedúnculo comum


(NICKEL, 1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011). O
sáculo, o utrículo e os três ductos semicirculares formam o órgão vestibular
responsável pelo equilíbrio. A parede dos sacos dorsais está recoberta por um
epitélio plano de uma só camada, apoiado em tecido conjuntivo frouxo. Na
superfície interna medial dos sacos dorsais, espessam se, em seções
circunscritas, regiões ovais, que se elevam como mácula do sáculo e mácula do
utrículo. Na mácula do sáculo e na mácula do utrículo encontram- se feixes de
fibras do nervo vestibular, o qual é um segmento do nervo vestibulococlear.

No epitélio sensorial modificado das máculas, distribuem-se essas fibras.


Diferenciam-se dois tipos de células, as de sustentação e as sensoriais (NICKEL,
1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011). 14 A construção
da parede da cobertura interna dos ductos semicirculares corresponde
fundamentalmente à dos sacos dorsais.

Os três ductos semicirculares dilatam-se no local de união com o utrículo,


formando uma ampola membranosa. Nesse local, a mucosa espessa-se
evidenciando-se no lúmen constituindo a base da região receptora dos ductos
semicirculares, a crista ampular. Esta contém, na sua superfície livre células
sensoriais e de sustentação, que atuam como órgão receptor sensorial (NICKEL,
1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011). O ducto coclear
está em conexão, por meio do ducto de união, com as evaginações do aparelho
vestibular e da mesma forma é preenchido com endolinfa. Pelo movimento da

15
endolinfa, as ondas sonoras são transportadas para esse segmento interno da
orelha, oriundas das partes externas e médias da orelha, alcançando a janela
oval e, com isso, o vestíbulo da orelha interna (NICKEL, 1979; DYCE; SACK;
WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011).

A cóclea é parte do labirinto ósseo, constituída pelo canal espiral da coclea, que
mostra, no equíno, duas lâminas espirais; no bovino, três; no suíno, quatro; e
nos carnívoros, três ao redor de um eixo central ósseo, o modíolo. A margem
livre do modíolo projeta-se como lâmina óssea no lúmen disposta em espiral do
ducto coclear, dividindo-o incompletamente em uma rampa vestibular óssea
superior e em uma rampa timpânica óssea inferior. Na lâmina espiral óssea,
próximo ao modíolo, situa-se o gânglio espiral do nervo coclear (NICKEL, 1979;
DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011).

Na cóclea óssea, encontram-se três canais membranosos em forma de tubo, os


quais se dispõem desde o fuso da cóclea, em direção à sua extremidade, a
rampa do vestíbulo, superior; ducto coclear, médio; e rampa do tímpano, inferior.
A rampa do vestíbulo inicia-se na base do estribo, junto ao forame vestibular
oval; continua com a rampa timpânica no canal espiral ósseo da cóclea e, depois,
na sua extremidade, por meio do helicotrema, une-se à rampa timpânica. Esta
termina na base da cóclea com a membrana timpânica secundária, que fecha a
janela coclear no forame coclear redondo.

As áreas internas das duas rampas são recobertas por um epitélio simples e
preenchidas com perilinfa. O ducto coclear médio situa-se entre as duas rampas
e conecta-se no seu trajeto com a cóclea óssea. Esse ducto inicia e termina em
fundo cego. Contrariamente às duas rampas, o ducto coclear contém endolinfa
(NICKEL, 1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011).

O ducto coclear configura-se como um conduto espiralado triangular em forma


de cunha, cujo ângulo agudo da extremidade interna conecta-se à margem livre
da lâmina espiral óssea do modíolo. Ele inclui o órgão de transdução sonora. Na
parede do ducto coclear distinguem-se três diferentes segmentos: uma rampa

16
vestibular, o ducto coclear e a rampa do tímpano. A superfície lateral vestibular
é uma lâmina de parede fina de tecido conjuntivo, a qual está em contato, por
um lado, com a rampa do vestíbulo e, por outro, com o ducto coclear (NICKEL,
1979; DYCE; SACK; WENSING, 2010; KONIG; LIEBICH, 2011).

Na cobaia e nos ratos, o labirinto ósseo inclui a cóclea, os órgãos vestibulares e


três ductos semicirculares. A cóclea da cobaia não tem lâmina espiral óssea
espessa, assim aparece como uma considerável proeminência da parede medial
na cavidade timpânica (COOPER; SCHILLER, 1975; WISOCKI, 2005a;
WISOCKI, 2005b; WISOCKI, 2008). O esqueleto interno da cóclea na cobaia é
composta de lâmina espiral e o modíolo.

A lamina espiral óssea é fixada ao modíolo centralmente e com a forma do canal


espiral de três giros completos e meio giro a três giros completos e três quartos
de um novo giro (COOPER; SCHILLER, 1975; WISOCKI, 2005a; WISOCKI,
2005b); no rato é formada por dois giros completos e meio giro a dois giros
completos e três quartos de giro (WISOCKI, 2008; ALBUQUERQUE et al., 2009);
no humano a formação da coclea é igual ao do rato (DIDIO, 1999; TORTORA;
GRABOWSKI, 2002) Na cobaia e no rato o orifício da janela oval, obviamente,
fechado pela platina do estribo, fica na parte inferior do vestíbulo. A parede
antero-inferior do vestíbulo conduz ao canal espiral coclear.

Os ductos superiores (anterior) e semicircular lateral saem a partir do vestíbulo


lateral e estendem-se superiormente e lateralmente em conformidade. Cada um
deles representa uma ampola (parte ampulares) neste local (WISOCKI, 2005b;
WISOCKI, 2008). O ducto semicircular superior de cobaias e ratos deixa o
vestíbulo e forma uma elevação no espaço aéreo superior, posterior ao
complexo maleocuidal. O referido ducto estende dorsalmente e posteriormente
e circunda a fossa subarqueada na sua região posterior, unindo-se com o ducto
semicircular posterior. Juntos, eles entram na parte postero-medial do vestíbulo
(WISOCKI, 2005a; WISOCKI, 2005b; WISOCKI, 2008).

O ducto semicircular lateral da cobaia situa-se no plano horizontal, deixa o


vestíbulo e corre posteriormente com o seu arco, cruzando o nervo facial

17
ligeiramente acima do segundo geniculum. Mais adiante, encontra-se na parede
inferior da bula dorsal e segue posteriomente e inferiormente, aproximando o
ducto semicircular posterior, sem se unir à bula dorsal e entra no vestíbulo
separado em sua parede póstero-superior (COOPER; SCHILLER, 1975;
WISOCKI, 2005b).

Na cobaia, o ducto semicircular posterior se situa no plano vertical, na parte


piramidal posterior do osso temporal. Origina-se na parte posterior do vestíbulo
e corre superiormente, situando-se na parede medial e posterior da fossa
subarqueada (COOPER; SCHILLER, 1975; WISOCKI, 2005b). Aproximando-se
do orifício da fronteira à entrada da fossa subarqueada, o ducto semicircular
posterior da cobaia, se conecta com o ducto semicircular superior, formando uma
membrana ósseo comum (crus membranaceum commune), que depois entra
novamente no vestíbulo em sua parede póstero-medial (COOPER; SCHILLER,
1975; WISOCKI, 2005b). No rato, os ductos semicirculares se originam nas
paredes posterior e superior do vestíbulo.

Três ductos saem do vestíbulo e dois entram. Os ductos semicirculares, lateral


e superior, encontram-se em um plano quase vertical; o posterior encontra-se
quase horizontalmente. Todos os três ductos semicirculares cercam a fossa
subarqueada, o ducto superior, posteriormente e medialmente, o ducto lateral,
lateralmente (do lado da caixa do tímpano) e o ducto posterior inferiormente
(WISOCKI, 2008). A anatomia microscópica e a histologia da cóclea foram muito
bem descritas em meados do século XIX por Retzius, Huschke, Reissner,
Kolliker, Deiters, Hensen e Corti, e, de acordo com os seus estudos, sabe-se que
a cóclea é composta por um labirinto ósseo, dentro do qual é encontrada uma
estrutura celular, o labirinto membranáceo. Esses detalhes são facilmente
visualizados em uma secção histológica da cóclea paralela ao seu eixo maior
(BURKITT; YOUNG; HEATH, 1994; ECHTELER; FAY; POPPER, 1994). Embora
o diâmetro do labirinto ósseo diminua da base para o ápice coclear, as estruturas
do labirinto membranoso apresentam um aumento nítido (LIM, 1986). Portanto,
no órgão de Corti, as células localizadas no giro apical são maiores que aquelas
localizadas no giro basal.

18
Os estereocílios e a membrana basilar são mais longos, enquanto a membrana
tectorial apresenta-se mais volumosa no ápice 17 coclear. Essas medidas
variam de espécie para espécie e estão relacionadas com a capacidade
perceptiva de determinadas frequências. Em algumas espécies mimíferas,
ocorre variação linear ao longo do comprimento da cóclea e em outras existe um
exagero em determinadas posições da cóclea, que está de acordo com a
especialização funcional dessas regiões (BURKITT; YOUNG; HEATH, 1994;
ECHTELER; FAY; POPPER, 1994).

Determinadas regiões dentro do ducto coclear passam por um alto grau de


diferenciação e forma, a partir de células epiteliais, a região sensorial da cóclea
- o órgão de Corti - formado pelas células ciliadas externas, célula ciliada interna
e células de suporte, que repousam sobre a membrana basilar. Por meio da
microscopia de luz, é possível identificar nas células ciliadas, uma superfície
apical, onde as células ciliadas do órgão de Corti estão diferenciadas em dois
tipos celulares de acordo com a disposição dos seus estereocílios e da sua ultra-
estrutura: as células ciliadas internas e externas. Inicialmente acreditava-se que
as células ciliadas internas e externas eram diferentes em número e em forma,
mas que desempenhavam funções sensoriais similares (KIMURA, 1966;
ANGELBORG; ENGSTRÖM, 1973; DAVEY, 1979; LIM, 1986; BURKITT;
YOUNG; HEATH, 1994).

As células ciliadas internas apresentam a forma globosa com um núcleo disposto


centralmente e formam uma fileira única disposta ao longo do epitélio espiral
sensorial. Seus estereocílios estão dispostos em “U” na superfície apical e há
uma ponte filamentar que liga a fileira de estereocílios mais longos à membrana
tectorial. As células do sulco interno ou células marginais internas formam uma
camada fina na face modiolar das células ciliadas internas. As células falangeais
internas situam-se entre as células ciliadas internas e as células pilares internas,
dispostas em uma fina camada celular. As células ciliadas externas têm o
formato cilíndrico e os seus núcleos localizam-se na sua porção basal.
Entretanto, em várias espécies de mamíferos domesticos, a sua face lateral está
em contato apenas com o fluido.

19
Os seus estereocílios estão dispostos em “W” em três ou quatro fileiras, sendo
maiores e mais finos que os seus equivalentes nas células ciliadas internas
(KIMURA, 1966; ANGELBORG; ENGSTRÖM, 1973; LIM, 1986; ECHTELER;
FAY; POPPER, 1994). Em humanos três diferentes tipos de receptores
sensoriais da orelha interna são observados e consiste em epitélio sensorial,
uma região de epitélio especializado que forma a camada entre o labirinto ósseo
e o labirinto membranoso: 18 mácula, crista ampular e órgão de corti. Os
receptores sensoriais apresentam esteriocílios na superfície apical das células
ciliares, que ao se deslocarem, promovem abertura de canais de cátions,
despolarizando essas células (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

O órgão de Corti na espécie humana é uma estrutura epitelial altamente


especializada que contém células receptoras que convertem energia mecânica
na forma de vibrações em energia eletroquímica, resultando em excitação de
receptores sensitivos da audição (BURKITT; YOUNG; HEATH, 1994). Em
humanos, o vestíbulo é composto de duas câmaras membranosas: o sáculo e o
utrículo, cada qual contendo uma mácula simples.

As máculas são receptores sensoriais que detectam a aceleração linear e a


gravidade, compõem-se de um epitélio colunar simples que contém células de
suporte e células ciliares. O epitélio é revestido por uma camada de glicoproteína
gelatinosa; no topo desta camada estão os corpos cristralinos chamado de
otoconia ou otólitos que são pequenos grânulos calcários. Estimuladas por
alterações da posição da cabeça, os otólitos deslocam os cílios para um lado ou
outro produzindo uma hiperpolarização ou despolarização das células
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

À microscopia eletrônica de varredura verificam-se células de Hensen na cóclea


da cobaia, as quais não são identificadas no rato, sendo as demais estruturas
semelhantes em ambos animais. Quanto à microdissecção, a cobaia foi de mais
fácil manipulação pelo tamanho e rigidez do osso temporal. A disposição da
membrana timpânica e cadeia ossicular, favorece o estudo da orelha da cobaia
(ALBUQUERQUE, 2006).

20
SEMIOLOGIA DO CANAL AUDITIVO

Anamnese:

A anamnese é o ponto inicial, e de maior importância, no levantamento de


informações relevantes para descobrir um possível diagnóstico ou causa, não só
na clínica de pequenos animais, mas em todos os sistemas e espécies. Na
clínica médica veterinária,muitas vezes, os tutores desconhecem os sinais que
seus animais de estimação apresentam, envolvendo a orelha. Geralmente,
procuram o atendimento por outro motivo, ou apenas quando a doença de ouvido
se torna severa (GOTTHELF, 2007). Neste momento são inquiridos sobre outros
sinais apresentados pelo animal, o que revela as possíveis causas de
(GIUFFRIDA, LUCAS, 2008). Uma anamnese completa deve iniciar do princípio,
de um simples interrogatório, porém com detalhes, desde o tempo de evolução
dos sinais clínicos, se é um quadro recorrente, ou se houve anteriormente
alguma terapia médica frente ao caso. O relato do tutor sobre a utilização de
alguma antibioticoterapia sistêmica ou tópica, podem facilitar na triagem

de complicações com a resistência bacteriana ou a intolerância a determinados


fármacos, bem como a manifestação de ototoxidade. Meneios de cabeça, odor
fétido, inclinação de cabeça, movimentos bruscos de cabeça contra objetos,
manifestação de prurido, secreções aderidas à entrada do meato acústico
externo, déficit de audição, sensibilidade dolorosa na região do pavilhão
auricular, são sinais característicos de doenças otológicas (GIUFFRIDA, LUCAS,
2008). Nos casos mais graves, há manifestações associadas a lesões dos
componentes neurológicos das orelhas média e interna. Pode haver presença
de conjuntivites, ptose palpebral, paralisia palpebral e distúrbios do equilíbrio
relatados pelo tutor ou observados pelo médico veterinário no momento da
consulta (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008). Adicionalmente, a maioria dos animais

21
levados ao veterinário com algum tipo de afecção otológica, provavelmente,
apresenta uma dermatopatia como causa primária (HARVEY.,et al, 2004). Dessa
forma, cabe ao médico veterinário realizar uma íntima associação entre a
anamnese do aparelho auditivo e anamnese dermatológica (GIUFFRIDA,
LUCAS, 2008).

Inspeção direta

A inspeção direta é um meio de detecção de sinais de alterações otológicas,


pela inspeção cuidadosa do aspecto dos pavilhões. Além da presença de
secreções óticas aderidas, pode visualizar qualquer tipo de manifestação
dermatológica no que se refere a classificação de lesões. A presença de edema,
otohematoma, ácaros, corpo estranho, pelos ectópicos, neoplasia, pólipos,
eritrema ou alterações anatômicas patológicas dos pavilhões também são
evindeciadas á simples inspeção, visto que, a comparação bilateral da simetria
dos pavilhões pode ajudar na detecção de alterações morfológicas (GIUFFRIDA,
LUCAS, 2008). Assim como a localização, os sinais clínicos dependem da
extensão, sendo observadas alterações como eritema, edema, descamação,
cerume e crostas, alopecias, escoriações, inclinação e ato de balançar a cabeça,
prurido e presença de dor quando ocorre a palpação da cartilagem auricular ou
da bula timpânica (MEDLEAU; HNILICA, 2003).

Palpação

Iniciando a palpação pela cartilagem, ela deve apresentar a textura normal do


pavilhão, homogênea com a cartilagem flexível e delgada. A presença de
aumentos de volume de 16 consistência flutuantes, está associada a
otohematoma, assim como alterações cartilagíneas podem ser retrações ou
rugosidades grosseiras da superfície do pavilhão, geralmente causadas por
lacerações ou hematomas não tratado (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008).

22
Com o seguimento da palpação em direção ao conduto auditivo a orelha
apresenta um grau de mobilidade, razoável, em relação ao crânio.É possível, em
algumas raças, palpar o cone cartilagíneo, com sua textura lisa, homogênea e
flexível, até as proximidades de sua flexura em direção à bulha timpânica. A
glândula parótida é indiretamente palpada durante esse exame, e o aspecto
lateral do conduto auditivo faz relação topográfica com ela. As alterações
morfológicas do cone cartilagíneo são representadas pelas irregularidades de
sua superfície (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008).

Quase sempre há perda de flexibilidade e aquisição de uma consistência dura à


palpação, bem comum na calcificação metaplásica das cartilagens do conduto
auditivo, secundária ás otites crônicas(GOTTHELF, 2007). A palpação de áreas
de flutuação na região parotídea pode representar, abscessos paraaurais,
associadas a otites crônicas graves. Contudo, as alterações na glândula salivar
devem estar entre os diagnósticos diferenciais (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008).
Aumentos de volumes de consistência firme podem significar neoplasias de
origem ótica (HARVEY et al.,2004).

Inspeção indireta

Por meio de equipamentos tecnológicos, é realizada a inspeção indireta da


orelha e suas estruturas mais internas. Na rotina clínica, esses meios de
diagnóstico são extremamente importantes e básicos para realização das
consultas na área da dermatologia veterinária.

23
Otoscopia/Video-otoscopia

O exame otoscópico, nada mais é que a inspeção indireta realizada no interior


do conduto auditivo pelo otoscópio ou vídeo-otoscópio (GIUFFRIDA, LUCAS,
2008). Nunca deve ser realizado isoladamente, sem anteriormente ter feito uma
avaliação do estado geral do paciente e histórico. Adicionalmente, deve-se
examinar sempre as duas orelhas, mesmo havendo suspeita clínica de apenas
uma (HARVEY.,et al 2004). É possível que antes de realizar o exame, seja
necessária, a limpeza dos canais auditivos para sua melhor visualização, visto
que, a presença de pelos é normalmente, encontrada em alguns cães
(GOTTHELF, 2007).

No momento do exame do canal auditivo, sua correta manipulação é necessária


para avaliar todo o comprimento do canal auditivo. O pavilhão deve ser segurado
suavemente, de modo que, seja puxado, e a cartilagem se mova para cima e
longe do plano sagital (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008). A cânula otoscópica é dura,
muitas vezes, com ponta afiada, e quando é empurrada para dentro do canal
auditivo inflamado gera desconforto doloroso. Por esse motivo, em cães e gatos
pequenos, com canais doloridos ou sensíveis, deve-se realizar contenção
química ou anestesia geral. Preconiza-se a utilização de fármacos que
mantenham aproximadamente 20 minutos de sedação, tempo suficiente para
realizar a limpeza e o exame de ambas as orelhas (HARVEY et al.,2004).

Otoscopia

anormal da orelha Diante da avaliação otoscópica em uma orelha inflamada,


temos a presença de edema, eritema e calor, visto que, na maioria dos casos a
inflamação afeta o canal auditivo inteiro, geralmente, no canal vertical. (MILLER,
2013). A inflamação quando é bilateral, fica confinado a região côncava do
pavilhão auricular e canal vertical , visto que, particularmente, quando houver

24
pouca descarga, seja um quadro sugestivo de atopia, assim como, a ausência
de descarga com presença de eritema, seja sujestivo de alergia (LUCAS,
CALABRIA, PALUMBO 2016). Dado que os tecidos glandulares estão contidos
dentro de um tubo cartilaginoso, o inchaço causado pela inflamação irá reduzir
o diâmetro do lúmen , dificultando a passagem do otoscópio (FEITOSA, 2008).
Além disso, a inflamação também resulta em um aumento da secreção das
gândulas, presentes no revestimento epitelial do canal auditivo, ocorrendo uma
variação de solução lipídica para uma solução aquosa (HARVEY., et al 2004).
Essa descarga, de cor amarelo claro a castanho escuro, acumulada no canal
audutivo externo gera proliferação microbiana.

O seu conteúdo pode ser aquoso, fino ou pus, sendo que alguns animais que
apresentam defeitos graves ou generalizados na queratinização podem
apresentar uma secreção amarelada com aspecto gorduroso, mas que pode ser
estéril e de natureza não inflamatório (GOTTHELF, 2007; FEITOSA, 2008). A
presença de erosões e úlceras na região do canal devem ser observadas com o
otoscopio ou videotoscopio. A ulceração de Frank está comumente associada à
infecção com bactérias gram negativas. Algumas úlceras óticas também podem
significar doenças autoimunes ou neoplasias óticas.

Nesses casos, devem ser recolhidas amostras para avaliação citológica,


histopatológica, cultura e teste de senbilidade (HARVEY et al.,2004). O exame
otoscópio pode revelar a presença de Otodectes cynotis ou otobius megnini,
ectoparasitas causadores da sarna de orelha, que são frequentemente,
acompanhados da presença de uma descarga castanha. A falha ao detectar os
ácaros durante o exame otoscópico e microscópico, não significa que não haja
infestação, por isso, é de extrema importância o exame ser minusioso.

A presença deses ácaros pode ser representada pela observação de delicados


parasitas esbranquiçados que caminham sobre a superfície do conduto, ou
larvas nos casos de miíase (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008). O canal audutivo
externo, pode apresentar hiperplasia epidérmica, nódulos, tumores, pólipos e
corpo estranhos, que são estruturas facilmente visualizadas durante a otoscopia
(Fig. 11) (HARVEY et al.,2004). À medida que a taxa de crescimento celular

25
dessas hiperplasias ou neoplasia se acentua, elas assumem um aspecto,
geralmente, penduculado e volumoso, mas mantém a textura e a coloração,
tornando-se friáveis e hemorrágicas (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008). O tímpano
deve ser avaliado quanto a sua cor, textura e integridade, geralmente, em casos
de otite externa, apresente-se acinzentado escuro ou marrom. Quando há
presença de perfurações no tímpano, temos um quadro sugestivo de otite média
, porém, a integridade do tímpano não exclui um quadro de otite média, visto
que, falhas podem ocorrer na otoscopia, logo, não é um meio diagnóstico muito
confiável para este caso. (HARVET et al.,2004) As rupturas timpânicas podem
apresentar-se como desde pequenas perfurações, geralmente ventrais, como
grande áreas de ruptura e necrose, expondo completamente a orelha média
(Fig.12). O espessamentos do tímpano, é visualização como uma membrana
menos translúcida que o normal, ou completamente opacificada, com coloração
esbranquiçada brilhante (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008).

26
27
Exame citológico

É importante ressaltar que as amostras citológicas devem ser realizadas antes


da realização da limpeza da orelha e colhida de ambas, preferencialmente, do
canal horizontal (HARVEY et al.,2004). Diante dos quadros patológicos, a
análise cuidadosa das secreções óticas pode trazer informações importantes na
avaliação clínica das otites (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008), pois determina se
antibióticos sistêmicos são indicados, ou quais os organismos são mais
significativos, e quando o tratamento deve ser interrompido (ANGUS et al.,
2004). O exame de cerúmen não corado, misturado com óleo, é um método
confiável para para determinação de infestação por otodectes cynotis (HARVEY
et al., 2004) e as informações sobre os organismos dentro do canal e o tipo de
natureza da resposta inflamatória pode ser obtida a partir do exame
miscroscópico de esfregaços corados (FEITOSA, 2008). O exame citopatológico
visa obter diagnósticos de lesões inflamatórias e neoplásicas sem a presença de
arquitetura tecidual, e,quando não é possível chegar a uma conclusão, pode
restringir os possíveis diagnósticos diferenciais (GRAÇA et al., 2007), sendo
considerada a mais importante ferramenta diagnóstica simples depois de um
exame completo do canal auditivo (WERNER, 2005).

28
Técnica para coleta de amostra citológica A amostra mais proveitosa para
citologia ótica é realizada por um swab estéril, colhido do canal auditivo e depois
rolado sobre uma lâmina de microscopia limpa (GOTTHELF, 2007). Alguns
clínicos como Griffin e Kowalski (1993), defendem o uso de colorações de Wright
modificadas, como o Diff-Quick. O uso de corantes a base de álcool é mais
vantajosos que os preparados aquosos (por exemplo, azul de metileno)
(HARVEY et al.,2004, GOTTHELF, 2007). Griffin (1993) preconiza a fixação pelo
calor para preparações ceruminosas, a fim de evitar a lixiviação dos lipídeos
associada ao uso de solventes. Como todo cerume contém lipídio, seria
apropriado fixar pelo calor todas as mostras, mas há opniões divergentes sobre
este assunto, e se essa fixação não for realizada, pode haver perda de
informações. Porém o uso dessa fixação, geralmente, não é necessária, a
menos que a amostra deva ser mantida para exame futuro (GIUFFRIDA,
LUCAS, 2008). Laboratórios comerciais, geralmente, utilizam a coloração de
gram porque, embora seja mais demorada, ela se torna necessária para
classificar o microorganismo, tanto pela morfologia (cocos, bastonete, difteróide)
quanto pelo status de coloração. Bactérias Gram-positivas e Gram- negativas,
bem como leveduras, aparecerão azuis ou púrpura (GOTTHELF, 2007).

Após a coloração, é importante secar a amostra em temperatura ambiente e


examinar no microscópio. Se desejável, a lâmina pode ser preservada
permanentemente colocando uma gota do meio para montagem de lâmina sob
o material corado e cobrindo com uma lamínula permitindo que a cola se fixe
(GOTTHELF, 2007). Deve-se focar a lâmina com lente de pequeno aumento até
encontrar uma área de interesse. As áreas com cerúmen e medicamentos
aplicados, não retém a coloração e são de pouco interesse (GOTTHELF, 2007).
A área selecionada deve conter uma camada fina com células ou débris de
queratina espalhadas uniformemente, para permitir uma avaliação minuciosa.
Diferentes áreas na lâmina podem levar a diferentes resultados, desta forma a
avaliação deve ser criteriosa em vários campos para certificar-se de todos os
achados clínicos relevantes (HARVEY et al., 2004).

29
Características Anormais na citologia do canal
auditivo

• CERUME

O conteúdo lipídico do cerume presente em canais auditivos externos inflamados


é mais baixo e a contagem de células, geralmente, é mais alta que a de cerume
de canais auditivos normais. Isso se reflete no aspecto microscópico do
esfregaço corado, que parece mais azulado na amostra de uma orelha com otite,
por exemplo, do que na orelha normal (HUANG, 1994).

• BACTÉRIAS

Ao contrário das leveduras, que são rapidamente identificadas usando a objetiva


de 40x, a avaliação apropriada para bactérias requer aumento maior com óleo
de imersão (objetiva de 100x, aumento de 1.000x) (GOTTHELF, 2007). Em
razão do pequeno tamanho, qualidade do equipamento e prática e habilidade, a
citologia pode ser mais sensível que a cultura bacteriana (TATER, 2003). As
bactérias cocóides encontradas no canal auditivo são gram-positivas, como por
exemplo, Staphylococcus spp, Streptococcus spp e Enterococcus spp, e a
maioria das bactérias em forma de bastonete são gram-negativas, como por
exemplo, Pseudomonas spp., Proteus spp. e coliformes (KOWALSKI, 1988). A
medida que a população microbiana do canal auditivo aumenta é dominada por
estafilococos, especialmente, Staphylococcus pseudintermedius (HARVEY et
al.,2004).

Ocasionalmente, a microbiota do ouvido permanece de natureza estafilocócica,


porém, mais frequentemente, ela se torna dominada por bacilos gram-negativos,

30
principalmente, Escherichia coli, Proteus spp. e Pseudomonas spp, Essas
mudanças da forma cocoide pra bastonetes, são facilmente detectadas ao
exame microscópico de amostras citológicas (ROSYCHUCK, 1994). A
diferenciação quanto à morfologia e o número de bactérias presentes no exame
citológico devem ser estimados em cada caso, pois a presença de bactérias no
canal auditivo externo, é considerado parte da microbiota normal da orelha
externa (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008).

LEVEDURAS
A Malassezia spp. pode ser encontrada na citologia de mais de 96% dos cães e
83% dos gatos com canais auditivos normais (TATER, 2003), sendo habitante
normal da microbiota da orelha de cães.A malassezia pachydermatis é
extensamente reconhecida e predominante em cães, porém, os veterinários
devem determinar a relevância clínica da Malassezia para cada paciente, pois
seu suprecrescimento pode ser usado para determinar um estado patológico
(GOTTHELF, 2007). As leveduras do gênero Malassezia têm forma de garrafa
ou de amendoim, enquanto as do gênero cândida têm aspecto arredondado,
embora tal distinção não seja feita com facilidade (HARARI et al.,2004). A
cândida possui paredes finas, conformação redonda e oval, com uma fina e clara
cápsula que desloca e sedimenta a coloração dando uma aparência de halo ao
redor do corpo leveduriforme (HARVEY et al., 2004). A Candida albicans é
residente normal da pele de cães e gatos e sob circustâncias apropriadas pode
tornar-se um patógeno oportunista, assim como a Malassezia. Porém, a Candida
spp. não é um patógeno comum em casos de otite externa. Em um estudo de
Ginel et al., três dos 24 cães (12,5%) e dois dos 22 gatos (9,1%) com sinais
clínicos de otite externa possuíam evidência citológica e cultura de candida spp
(GINEL, 2002).

31
LEUCÓCITOS
Ao contrário das bactérias e leveduras, que podem ser encontradas no canal
auditivo normal, as células sanguíneas brancas somente estão presentes em
amostras citológicas de orelhas com anormalidades. A presença ou ausência de
leucócitos na citologia é uma ferramenta útil para monitorar a progressão da
doença ou resposta à terapia (ANGUS, 2004). Quando é realizado o
monitoramento de terapia em um caso difícil de otite por Pseudomonas spp, o
desaparecimento dos leucócitos durante a primeira reconsulta é um forte
indicativo da melhora mesmo que exista pequeno número de bactérias presentes
(GOTTHELF, 2005).

O registro de todas as citologias auxilia o médico veterinário a evitar decisões


terapêuticas inapropriadas (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008). •PARASITOS Tanto
nos cães como nos gatos o parasito mais comum associado à otite é o Otodectes
cynotis (SCOTT et al, 2000, CHICKERING, 1988). Quando existe um elevado
número de ácaros no canal auditivo externo, o diagnóstico pode ser facilmente
confirmado pela visualização direta dos ácaros e com o aumento proporcionado
pelo otoscópio ou vídeootoscópio.

A identificação de um único ovo ou ácaro em qualquer estágio de vida fornece


um diagnóstico definitivo (GOTTHELF, 2005). A otite otodécica causada pelo
ácaro otodectes cynotis está, frequentemente, associada a secreção farelenta,
meio ressecada, semelhante a “borra de café” (Fig. 13) (GRIFFIN, 1993). O
exame citológico do exsudato auditivo é um teste rápido para exame direto e que
proporciona informações úteis do ponto de vista do diagnóstico e da terapêutica
(ROSSER, 1988, CHICKERING, 1988). Quando se suspeita de sarna otodécica,
se indica o exame microscópico de preparações citológicas, porém, antes do
exame o cerume é depositado em uma lâmina de microscópio e misturado a óleo
mineral (Fig. 14) (ROSSER, 1988).

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Radiografia do sistema auditivo

Pelo exame radiográfico é possível avaliar o conduto auditivo, embora sua maior
parte seja constituída de tecidos moles, a avaliação radiográfica tem grande
importância semiológica quando tratamos da avaliação da orelha média e
alterações patológicas da orelha externa ( HARVEY, et al.,2004). As orelhas
externa e média possuem estruturas que são preenchidas com ar, e são
prontamente visualizadas nas radiografias, porém, a orelha interna localizada no
interior do osso temporal petroso, apresenta difícil visualização em radiografias
(KEALY, 2005).

Existem algumas projeções que são preconizadas para a realização do exame


radiográfico do canal auditivo, de modo, que não haja sobreposições excessivas
e possa ser visualizado as estruturas da orelha (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008).

As projeções mais úteis são a dorsoventral, a oblíqua lateral e a rostrocaudal. O


bom posicionamento é imprescindível para conseguir realizar uma adequada
interpretação radiográfica (HARVEY, et al., 2004). Na projeção dorsoventral, a
interpretação da imagem se baseia nas bulas timpânicas. Devem mostrar
simetria bilateral e aparecer como opacidades ósseas lineares, finas, nítidas e
distintas. Pode haver certa distorção e ocultação, em função da sobreposição
dos ossos petrosos temporais e a sombra de ar nos canais auditivos externos
deverá estar visível (HOSKINSON, 1993).

Na presença de alterações patológicas, esse posicionamento radiográfico


evidencia eventuais interrupções da continuidade do cone cartilagíneo, cujo
interior abandona a densidade de ar e assume maiores densidades devido a
proliferação de tecidos moles no interior do conduto. Observa-se também,
calcificações metaplásicas das cartilagens auricular e anular, que passam a
apresentar áreas irregulares de densidade óssea (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008).
A parede da bula pode estar espessada, irregular e esclerótica, nos casos de
otite média (KEALY, 2005). A projeção oblíqua lateral, também permite avaliar e
interpretar as bulas timpânicas, com contorno nítidos e borda externa lisa,

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contento sombra de ar visível no canal externo. Se houver alterações
predominantemente líticas na parede rostroventral da bula podem ser
associadas à inflamação crônica, ou alterações líticas dentro do osso petroso
temporal que podem indicar inflamação ou neoplasia (HOSKINSON, 1993).
Nessa situação as bulas timpânicas podem ser avaliadas individualmente e sem
praticamente nenhuma sobreposição de estruturas ósseas (GIUFFRIDA,
LUCAS, 2008).

Diante de alterações patológicas, as variações de aspecto radiográfico podem


variar desde a visualização de densidade de água no interior da bula, nos
quadros de otite média, até áreas de osteólise e proliferação óssea metaplásica.
Essas alterações dão á superfície da cúpula óssea um aspecto heterogêneo e
rugoso, tanto externo quanto internamente (GIUFFRIDA, LUCAS, 2008). A
terceira projeção mais usual na radiografia otológica é a rostrocaudal, na qual o
animal fica com a boca aberta para que o raio principal seja centrado paralelo ao
palato duro (GOTTHELF, 2005). Os tecidos moles, nessa situação, podem
produzir um aspecto de patologia do ouvido médio, por isso a imagem deve ser
interpretada com cuidado (HARVEY et al.,2004).

Em alguns casos de otite externa crônica, pode ocorrer calcificação das


cartilagens do canal auditivo externo, entretanto, sem a utilização de técnicas de
contraste não é possível avaliar a integridade da membrana timpânica, nem a
visualização da posição de uma neoplasia luminal obstrutiva, por exemplo,
(HARVEY et al.,2004).

Canalografia de contraste positivo

Consiste na técnica radiográfica utilizando contraste a base de iodo para avaliar


a integridade da membrana timpânica, e a anatomia do canal auditivo externo
(TROWER, 1998). A técnica é mais acurada que a otoscopia para detectar
rupturas iatrogênicas da membrana timpânica em cães normais e pode ser
usada para avaliar estenose do canal auditivo externo (HARVEY et al.,2004). A

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membrana timpânica intacta deve prevenir o fluxo de contraste na bula
timpânica, porém, qualquer vazamento desse contraste na orelha média é
considerado diagnóstico para a ruptura (GOTTHELF, 2005).

Tomografia computadorizada
A avaliação tomográfica do aparelho auditivo exige um bom posicionamento do
paciente para a realização da técnica, e também a uso de anestesia geral
(HARVEY et al.,2004). No diagnóstico de otite média a tomografia é mais
sensível do que a radiografia, devido à sua resolução de alto contraste em
tecidos moles. É uma técnica cara e menos acessível para as clínicas em geral
do que a radiografia, visto que, a técinica exige um grau maior de conhecimento
técnico dos protocolos de aquisição de imagem e um software de
pósprocessamento de imagens associado para geração de imagens
diagnosticadas (GOTTHELF, 2005).

Ressonância Magnética
A ressonância magnética emprega um princípio diferente do utilizado na
radiografia e na tomografia, por isso suas imagens resultantes complementares
do que substitutas da tomografia. Assim, a tomografia fornece melhor definição
para alterações ósseas e a ressonância gera melhor definição para lesões em
tecidos moles (HARVEY et al.,2004).

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