Apostila Do Curso de Auriculoterapia Completo PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 27

Sumário

Introdução a Auriculoterapia................................................................2
Auriculoterapia segundo a Reflexologia ................................................5
Auriculoterapia segundo a Medicina Tradicional Chinesa .................... 14
Semiologia .......................................................................................... 21
Referencias ......................................................................................... 26

2
INTRODUÇÃO
As práticas de cuidado que tem origem na vivência das populações
originárias se perpetuaram por gerações e foram sendo disseminadas em
diversos contextos, sendo reconhecidas, atualmente, como Práticas
Integrativas e Complementarem (PIC) em saúde no Brasil, acompanhando o
reconhecimento internacional, onde são chamadas Medicinas Alternativas e
Complementares ou Medicina Tradicional Complementar (MTC).
Desde a Conferência Internacional de Alma Alta (1978) a Organização
Mundial da Saúde (OMS) recomenda a inserção das Práticas Integrativas e
Complementares (PIC) para seus países membros. Essa inserção amplia as
possibilidades de cuidado, aproximando a relação terapeuta-usuária/o,
incentivando as estratégias de autocuidado, sendo complementares aos
tratamentos planejados reconhecendo as limitações da perspectiva biomédica,
além da praticidade no uso, segurança e baixo custo para o financiamento.
Desde a década de 1980 o Brasil tem registros da inserção de PIC nos
contextos de Saúde Pública, mas vale lembrar que, em alguns casos, os
registros científicos não contemplam as experiências das populações
originárias. Queremos ressaltar que antes mesmo da consolidação da Medicina
e das profissões que trabalham no campo da Saúde Pública, os povos já se
produziam práticas de cuidado a partir dos saberes construídos em suas
vivências.
No nosso contexto, a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC), implantada no ano de 2006 através da Portaria nº
971/GM/MS, legitimou que no itinerário terapêutico do Sistema Único de Saúde
(SUS) fossem implementadas ofertas das PIC, especialmente na Atenção
Primária, por ser coordenadora do cuidado, por ter perspectiva territorial, mais
próxima das pessoas das comunidades e pelo seu objetivo de contemplar a
integralidade do cuidado. Recentemente a lista de práticas reconhecidas se
expandiu para 28, estando estre elas a Auriculoterapia.

3
Fonte: Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica. Módulo II

A Auriculoterapia é uma prática que tem o pavilhão auricular como um


microssistema, pois a orelha representa todo o organismo. Há relatos de que
povos que viviam no Egito Antigo, 2.000 anos A.C., utilizavam pontos das
orelhas para cuidar de sintomas relacionados a dores crônicas e inflamações, e
do uso do pavilhão auricular como instrumento de punções, sangrias e
cauterizações. Mas foi na década de 1940 que o médico francês Paul Nogier
investiu nos estudos desta terapêutica, depois de observar que alguns
pacientes chegavam com marcas de cauterização na orelha feitas por
curandeiros.
Os estudos de Paul Nogier influenciaram o desenvolvimento da
auriculoterapia na Medicina Tradicional Chinesa, a partir das relação com os
meridianos da acupuntura. Em 1958 o Mapa Auricular elaborado pelo médico
francês foi publicado na Revista de Medicina Tradicional de Shangai
impulsionando investimentos nos estudos que aumentaram nas décadas de 70
e 80 do século passado, avançando para o reconhecimento da auriculoterapia
como terapia de microssistema pela OMS em 1990.

4
AURICULOTERAPIA SEGUNDO A REFLEXOLOGIA
1. Anatomia da Orelha

A orelha apresenta três partes: orelha externa, orelha média e orelha


interna. O pavilhão auricular é a parte externa da orelha em forma de concha.
Na auriculoterapia, é essa parte que é utilizada para aplicar os pontos reflexos.

A orelha externa apresenta duas faces: a anterior e a posterior

Fonte: Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica.


Módulo II

Neste curso, vamos utilizar um desenho genérico da Orelha Humana,


com enfoque na face anterior do pavilhão. No entanto, a anatomia da orelha é
diferente em cada pessoa. Por isso, cabe ao profissional examinador
reconhecer em cada indivíduo as estruturas que compõem a orelha de acordo
com o mapa auricular disponibilizado neste curso. As estruturas da orelha
externa são:

Concha da orelha: cavidade ou escavação na parte de dentro da orelha


externa, delimitado pela antélice. É divida em duas partes:

5
a. Cimba da Concha (Cimba): cavidade menorzinha que fica na
parte de cima da orelha, acima do ramo da hélice.
b. Cavidade da Concha (Cava): cavidade que fica mais ao centro
da orelha. Fica abaixo do ramo da hélice.

Fossa Triangular: Concha ou cavidade em formato de triângulo que fica


entre o ramo superior e inferior da antélice.

Hélice: delimita a margem da orelha, circundando o pavilhão até o lóbulo. A


Hélice apresenta ainda 2 regiões:

a. Ramo da Hélice: é o “raminho” no final da hélice, inserido no centro da


concha da orelha (entre a cavidade da concha e a cimba da concha).

b. Tubérculo da Hélice (Darwin): É uma “deformidade” localizada na


parte alta da hélice, perto do ramo da hélice, porém NEM TODAS as pessoas
vão apresentar esse tubérculo, outras pessoas possuem dois tubérculos.

c. Cauda da Hélice: é o começo da Hélice, que fica na parte de baixo da


orelha, em contato com o lóbulo.

6
Fonte: Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica. Módulo II

Antélice: É uma estrutura endurecida formando um “arco” que contorna a


cavidade da concha da parte de baixo até a parte de cima da orelha. Ela se
divide na parte de cima em 2 ramos: superior e inferior.

a. Ramo Superior da Antélice: ramo da antélice que se divide para cima.


Fica acima da Fossa Triangular.

b. Ramo Inferior da Antélice: ramo da antélice que se divide para baixo.


Fica entre a Cimba da Concha e a Fossa Triangular.

Escafa: cavidade em formato de “canal” que fica entre a Hélice e a Antélice


acompanhando a antélice da parte de baixo até a parte de cima da orelha.

Trago: proeminência ou abaulamento endurecido, entre o ramo da Hélice e


o lóbulo, em geral é em formato de triângulo ou arredondo.
Anatomicamente fica entre a incisura superior e a Incisura Intertrágica. Sua
parte interna é chamada de subtrago.

Incisura anterior (superior do trago): é um encurvamento da borda de


cima do trago que continua do Trago e até o ramo da Hélice.

Incisura intertrágica: é um encurvamento da borda de baixo do Trago que


fica entre o trago e o Antitrago.

Antitrago: pequena “deformidade” endurecida que fica na parte de cima do


lóbulo, no final da Antélice. Ele continua na sua borda até a Incisura
Intertrágica.

Incisura Antitrágica: pequena curva que fica entre o Antitrago e a Antélice.

Lóbulo da orelha: região amolecida na parte mais baixa da orelha.

2. Inervação do pavilhão auricular

7
A orelha é uma região por onde passam vários nervos. Podemos dividir a
orelha em áreas que estão sob a ação de 3 nervos predominantes:

a. Nervo auricular magno: abrange a região inferior no Lóbulo e a Hélice


borda da orelha

b. Ramo auricular do nervo vago: abrange a região central da orelha, na


concha da orelha

c. Ramo auriculotemporal: abrange as região superior e média da orelha


passando pelo Trago, Antélice, Fossa Triangular e a parte superior da Hélice

3. Representação embriológica das regiões da orelha

Os órgãos e tecidos se desenvolvem a partir das 3 camadas germinativas


(ou folhetos embrionários) do feto – o Endoderma, o Ectoderma e o
Mesoderma.

Esses folhetos são os três tipos primários de tecido encontrados no


embrião e serão responsáveis pela formação de todos os órgãos do corpo
humano desde a infância até a idade adulta.

A orelha é uma das poucas estruturas do corpo que são formados por
estes três tecidos.

O mesoderma é responsável pela formação dos músculos, vasos e


células sanguíneas, ossos, cartilagem, articulações, glândulas, coração, órgãos
genitais, útero, testículos e tecido linfático

8
Fonte: Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica. Módulo II

O endoderma forma os órgãos internos como: estômago e intestinos,


pulmões, amígdalas, fígado, pâncreas, sistema urinário, tireoide e o timo.

O ectoderma forma a pele, a medula espinhal, cabelos, unhas, glândulas


sudoríparas, córnea e lentes oculares, dentes, mucosa do nariz a regiões do
cérebro e nervos, glândula pineal, hipófise e medula do rim.

4. Zonas reflexas

De acordo com a representação embriológica e a inervação do pavilhão


auricular, a distribuição dos pontos e zonas reflexas corresponde à posição de
um feto invertido no pavilhão auricular.

As chamadas zonas reflexas ou áreas se baseiam no conceito do


pavilhão auricular como um microssistema em que é encontrada a
representação de todos os órgãos e estruturas do corpo humano. Assim temos:

9
Os pontos na área do lóbulo da orelha estão relacionados à cabeça e a
face; Os pontos na área da Escafa estão relacionados aos membros
superiores; Os pontos na área da Antélice representam o sistema músculo-
esquelético e no Ramo Superior da Antélice os membros inferiores e no Ramo
Inferior a região glútea e ciático;

Os pontos na região da concha representam os órgãos internos sendo


que na área da cimba da concha estão os órgãos da região abdominal e na
cavidade da concha (cava) os órgãos da região torácica. Os pontos da região
da fossa triangular estão relacionados aos órgãos da pelve e genitais internos.

Nas estruturas anatômicas no pavilhão auricular encontram-se pontos


referentes ao sistema nervoso, sistema endócrino, genito-urinário, etc. Como
exemplo, o ponto cérebro possui ação em caso de cefaléia e também na
deficiência cognitiva. Um exemplo no sistema endócrino: o ponto hipófise pode
ser utilizado em casos de menstruação irregular e também na homeostasia dos
níveis hormonais.

Existem pontos distribuídos pelo pavilhão auricular que também atuam


nos princípios da auriculoterapia reflexa e que são identificados pela ação
específica no organismo. Eles não atuam somente em uma parte localizada do
corpo, mas possuem um efeito geral nas funções corporais.

O nome do ponto, geralmente é uma referência ao efeito que ele faz ou


do órgão correspondente. Por exemplo: o ponto Alergia é utilizado, para
tratamento de alergias e outras indicações. Já o ponto hipotensor atua na
redução da pressão arterial elevada (hipertensão).

 Lóbulo da orelha

Estes pontos atuam na analgesia do dente, cefaleia, articulação


temporomandibular (ATM), ansiedade, insônia, estresse, inflamação da tonsila
palatina (amigdalite), faringite, afta, labirintite, otite, conjuntivite, olheiras, rugas,
entre outras

 Pontos da cavidade da concha da orelha (Cava)

10
Na cavidade da concha da orelha (CAVA) temos os pontos que irão atuar
em órgãos que estão localizados no tórax e do abdome superior como
Coração, Pulmão, Traquéia, Estômago, Esôfago e Boca.

 Estrutura Anatômica: Cimba da Concha (Cimba)

No interior da cimba da concha estão os pontos que irão atuar em órgãos


localizados no abdome. É usa em problemas gastrointestinais como
constipação, dispepsia, flatulência, indigestão, gastrite, vômitos, etc. Também
usado em pontos Rim e Bexiga pode atuar sobre problemas urinários, ardência
ao urinar, problemas da próstata e incontinência.

 Estrutura Anatômica: Ramo da Hélice

Nesta região os pontos com ação reflexa estão localizados entre a raiz da
hélice e o interior da Concha. O ponto Estômago é usado para problemas
gástricos como gastrite, refluxo, vômitos e náuseas.

 Estrutura Anatômica: Hélice

Nesta região encontramos pontos relacionados com genitais (genital


externo e uretra) responsáveis por impotência sexual, prurido, irritação no
escroto, infecções urinárias, ardência ao urinar e urgência miccional. Na região
terminal do intestino (reto e ânus) abordamos problemas de hemorróida, fissura
anal, constipação, sangue nas fezes e coceira no ânus.

Nesta estrutura ainda encontram-se pontos denominados como hélice


numerados de 1 a 6 com ação anti-inflamatória e antitérmica. Elas atuam
diretamente sobre os membros superiores como mão dedos, punho, cotovelo,
ombro, região cervical, ATM (Articulação Temporomandibular), dentes, ouvido,
faringe e região ocipital.

 Estrutura Anatômica: Incisura Anterior (Superior do Trago)

O ponto do Ouvido Externo é responsável por déficit auditivo, zumbido, otite,


inflamações no pavilhão auditivo, prurido local e disfunções da ATM

 Estrutura Anatômica: Trago

11
Nesta região do Trago encontramos pontos que atuam nos órgãos
correspondentes ao nariz externo para abordagem de problemas como gripe,
rinite, coriza e obstrução nasal.

Os pontos Vício/mania e Fome e sede ajudam em processos de


dependência química e emocional, compulsão alimentar, obesidade e anorexia.
O ponto supra-renal atua em problemas circulatórios, inflamatórios, articulares
e problemas alérgicos.

 Estrutura Anatômica: Incisura Intertrágica

Nessa região entre o Trago e Antitrago encontram-se pontos que


representam órgãos endócrinos como o ponto endócrino e ovário. Atuam em
problemas de tireoide, Diabetes, Reumatismo, e problemas ginecológicos como
cólicas menstruais, fluxo menstrual excessivo ou escasso, disfunção sexual e
ovários policísticos.

Os pontos visão 1 e 2 estão relacionados com problemas da visão como


glaucoma, miopia e outros.

 Estrutura Anatômica: Antitrago

Nesta região os pontos se localizam na parte interna e externa. Os pontos


atuam, na sua maioria, em processos de dor, emocionais e mentais como
ansiedade, depressão, psicoses, esquizofrenia, convulsão, neuroses, pânico e
compulsão, problemas de memória e concentração, etc.

 Estrutura Anatômica: Escafa

Nesta região encontram-se pontos e regiões que, na sua maioria,


representam os membros superiores com ação osteomuscular sobre o ombro,
braço, clavícula, punhos e dedos. Atuam proporcionando analgesia nas partes
reflexas correspondentes.

O ponto alergia é usado para processos alérgicos, coceira e asma


brônquica.

 Estrutura Anatômica: Antélice

12
Nesta região encontram se os pontos que representam a coluna vertebral.
São pontos que atuam em processos osteomusculares de dores aguda e
crônica nas áreas correspondentes da coluna vertebral.

Outros pontos aí situados, como Glândulas mamárias 1 e 2, Calor,


Tireoide, e Abdome atuam respectivamente sobre problemas da mama e do
aleitamento, alterações da tireoide, obesidade, fogachos e problemas
gastrintestinais.

 Estrutura Anatômica: Ramo Superior da Antélice

Nesta região os pontos representam o quadril e os membros inferiores.


Atuam em processos de dores musculoesqueléticas do quadril, joelho, dedos
do pé e calcanhar.

 Estrutura Anatômica: Ramo Inferior da Antélice

Nesta região os pontos atuam em processos de dor. O ponto Simpático


pode ser associado aos pontos reflexos para potencializar a ação em caso de
dores osteomusculares da região glútea, quadril sacral e de hérnia de disco.

 Estrutura Anatômica: Fossa Triangular

Nesta região encontram-se pontos que atuam em órgãos localizados na


região pélvica. Possui o ponto SHEN MEN que é um dos mais utilizados em
associação com outros porque potencializa sua ação.

Os pontos Útero, ovário e Pelve atuam sobre esses órgãos regulando as


funções menstruais, fertilidade, mioma, inflamações pélvicas.

Os pontos febre, hipotensor, hepatite e constipação atuam sobre a


temperatura corporal, hipertensão, cefaleia tensional e dores, Distúrbios do
fígado e da vesícula, dores abdominais e flatulência.

13
MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
1. A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é uma medicina milenar de


aproximadamente 5000 anos. Para entendermos sua filosofia precisamos
deixar de lado comparações com a biomedicina, pois se trata de outra
racionalidade médica.
A MTC considera o Qi (pronuncia-se “tchin”) como o sopro da vida,
que circula o organismo e pode assumir diversas formas. O Qi é como um
motor do corpo, e quando não flui harmonicamente, temos a manifestação
das doenças. A MTC visa harmonizar e restabelecer o fluxo de Qi pelo
orrganismo através de várias técnicas, como acupuntura, auriculoterapia, e
moxabustão, por exemplo.

2. TEORIA YIN YANG

Segundo a MTC todo o universo é formado pela união de dois


componentes opostos que se complementam: o Yin e o Yang. Yin e Yang
podem ser representados metaforicamente como o sol que bate em uma
montanha, formando dois lados, onde há o “lado exposto à sombra” (Yin) e
o “lado exposto ao sol” (Yang), mas que no decorrer do dia, com a
mudança da posição solar e a sombra, podem deslocar-se, remetendo à
ideia de movimento e transformação. A montanha é a mesma, mas
dependendo da hora do dia, pode estar Yin ou Yang, portanto, possui as
duas qualidades: claridade e sombra/noite e dia.
Dentro do símbolo Yin há um pouco de Yang, representado pelo
círculo claro e, dentro do símbolo Yang, há um pouco de Yin, representado
pelo círculo escuro. Isso nos remete à ideia de que nada é absoluto e
estático. Não há nada que seja apenas Yin ou apenas Yang, apenas
feminino ou masculino, apenas preto ou branco, apenas claro ou escuro.
Há sempre alguma característica masculina dentro do feminino, assim
como há sempre alguma característica feminina dentro do masculino. O
dia se transforma na noite e a noite se transforma no dia. O excesso de Yin

14
se transforma no Yang. Segundo o Livro de Ouro da Medicina Chinesa
(1989): “o frio extremo provoca intenso calor (febre) e o calor intenso
provoca frio extremo (arrepios)”.
Não há o certo e o errado, o feio e o bonito, como costumamos
caracterizar no ocidente. Para a MTC, ambas as características são
opostas e complementares e devem estar em constante equilíbrio com o
universo.

3. OS PRINCIPAIS ÓRGÃOS NA VISÃO DA MTC

A medicina chinesa possui uma visão distinta em relação à função e


às características dos órgãos e tecidos. Para a MTC, eles exercem papéis
que vão além da fisiologia básica que estudamos na biomedicina, pois o
corpo e a mente estão integrados, são indivisíveis. Com isso, está
atrelada, também, a cada órgão a sua característica emocional, formando
uma parte da personalidade do indivíduo, que somados representam o
todo. Assim, um distúrbio em um órgão pode gerar desequilíbrios tanto
psíquicos quanto funcionais.
Para a MTC, existem cinco principais órgãos, chamados de Zang -
que significa “sólido” - e seis principais vísceras, chamadas de Fu, que
significa “oco”.
Os Zang, além de suas funções fisiológicas, armazenam o Qi e
transformam-no. São considerados órgãos “sólidos” com característica Yin.
Já os Fu, digerem os alimentos, transportam e eliminam os seus detritos.
Precisam ser “ocos” para receber os alimentos e dar passagem e, por
isso, possuem característica Yang.

15
Os cinco órgãos (Zang) principais na MTC são: Coração, Baço,
Pulmão, Rim e Fígado; as seis vísceras (Fu) são: Intestino Delgado, Triplo
Aquecedor, Estômago, Intestino Grosso, Bexiga e Vesícula Biliar.

Para cada órgão existe uma víscera acoplada e, juntos, fazem parte
de um dos cinco movimentos que iremos ver em breve. Suas funções, por
sua vez, estão atreladas às características de cinco elementos da
natureza: Fogo, Terra, Metal, Água e Madeira. Todos os órgãos, apesar de
ter mais característica Yin, terão, também, uma raiz Yang, assim como
todas as vísceras, mesmo sendo Yang, possuirão algumas características
Yin.

4. CINCO MOVIMENTOS

Parte do entendimento sobre fisiologia e fisiopatologia da MTC está


fundamentada sob a ótica do Yin e Yang e dos cinco movimentos. Este
modelo continua atual e permanece sendo ensinado até os dias de hoje
nas universidades de MTC da China e no resto do mundo.

Os chineses antigos analisaram características de cada um dos


movimentos e fizeram relações entre eles, permitindo explicar uma série
de eventos da natureza (estações do ano, mudanças climáticas, períodos
do dia, etc.), incluindo, também, a correlação desses movimentos com os
órgãos que compõem o organismo do ser humano. Para a MTC, o
indivíduo está em constante relação com o meio em que vivemos e sujeito
às influências decorrentes deste meio.

16
Pela fisiologia chinesa, os cinco movimentos estão em relação de
interdependência e geram- se mutuamente na seguinte ordem: o Fogo
alimenta a Terra (com suas cinzas, o fogo produz a terra); a Terra alimenta
o Metal (a terra reúne os metais); o Metal alimenta a Água (os metais
enriquecem a água que brota das fontes minerais); a Água alimenta a
Madeira (a água irriga a planta, a madeira) e a Madeira alimenta o Fogo (a
madeira faz crescer o fogo). O elemento que alimenta é denominado
elemento-mãe e o elemento que é alimentado é denominado elemento-
filho.
Ex: Fogo é mãe da Terra que por sua vez é mãe do Metal, já o Fogo
é filho da Madeira que por sua vez é filha da Água.
Há, também, o ciclo de dominância, ou ciclo Ke, no qual um
elemento exerce dominância sobre o outro. O ciclo de dominância é um
ciclo de controle, de limite, para impedir o crescimento desgovernado de
qualquer um dos movimentos. Sua figura, vista por esta ordem, é
representada por meio de uma estrela de cinco pontas ou de um
pentagrama.
Neste ciclo: o Fogo domina o Metal (o fogo derrete o metal), a Terra
domina a Água (a terra barra a água), o Metal domina a Madeira (o metal
corta a madeira), a Água domina o Fogo (a água apaga o fogo) e a
Madeira domina a Terra (a madeira consome a terra).
Quando estes dois ciclos funcionam harmonicamente, temos saúde.
Estas forças produzem- se e controlam-se mutuamente com o objetivo de
manterem-se em equilíbrio. Fazendo uma analogia com a biomedicina,
podemos entender estes dois movimentos como o sistema simpático e o
parassimpático onde um sistema controla o outro e, juntos, estão em
harmonia.

Os órgãos e vísceras estão inseridos nestes movimentos, possuindo


funções e características distintas, de acordo com cada um dos
movimentos.
• No elemento Fogo estão o Coração e o Intestino Delgado. O
elemento Fogo possui, também, o Pericárdio (conhecido como o
envoltório do coração, que veremos em seguida) e o Triplo

17
Aquecedor;
• No elemento Terra estão o Baço e o Estômago;
• No elemento Metal estão o Pulmão e o Intestino Grosso;
• No elemento Água estão o Rim e a Bexiga;
• No elemento Madeira estão o Fígado e a Vesícula Biliar.

Pelo ciclo de geração dos órgãos: o Baço alimenta o Pulmão, o Pulmão


alimenta o Rim, o Rim alimenta o Fígado, o Fígado alimenta o Coração.
Temos que o Baço é a mãe do Pulmão, o Pulmão é a mãe do Rim, o Rim
é a mãe do Fígado e o Fígado é mãe do Coração e do Pericárdio.
Pelo ciclo de dominância: o Baço controla o Rim, o Pulmão controla
o Fígado, o Rim controla

o Coração, o Fígado controla o Baço.

Nas páginas seguintes temos um resumo geral de algumas características


de cada movimento…

18
19
20
SEMIOLOGIA
1. Avaliação clínica a parir dos “Sinais Vermelhos”

A referência bibliográfica produzida sobre o auriculoterapia aponta a


prática com um instrumento auxiliar no tratamento de diferentes condições de
saúde, espacialmente as que estão relacionadas a queixas de dores e
adoecimento psíquico. Por ser um método simples, é possível ser ofertada na
Unidade Básica de Saúde (UBS) e/ou em visitas domiciliares – em se tratando
do contexto da Atenção Primária.

Apesar da simplicidade na oferta da auriculoterapia, é importante fazer


uma boa avaliação clínica pois, apesar dos riscos serem muito pequenos, eles
podem acontecer. As principais consequências da oferta de auriculoterapia,
sem uma avaliação complexa, integral, estão relacionadas ao retardo ou a não
identificação de um problema, que possa estar sendo beneficiado pela
auriculoterapia indiretamente. Isso porque, cada usuária/o tem um histórico da
sua condição de saúde que está para além das queixas apresentadas em cada
encontro.

É importante se perguntar: Será que esse sintoma está relacionado a uma


doença grave? Será que esse paciente precisa ter acesso à algum tratamento
específico para essa doença? Durante a entrevista inicial, uma das
possibilidade é estar atento aos “Sinais Vermelhos”, ou “Red Flags”, que são os
sinais e/ou sintomas que indicam alguma condição mais grave. Essa avaliação
média é necessária para que possamos garantir que as/os usuárias/os tenham
acesso ao tratamento médico que complemente o cuidado, tenha acesso a
investigação de condições mais sérias e graves no seu processo de saúde-
doença, tenha acesso a tratamento integral e ao aconselhamento sobre
condições de saúde mais complexas.

Podemos nos referenciar nas seguintes categorias: Não urgente, quando


a/o usuária/o deve ser encorajada/o a procurar um médico em uma consulta de
rotina dentro de 7 dias; Alta prioridade, quando a/o usuária/o deve ser

21
avaliada/o por um médico no mesmo dia; e Urgente quando a/o paciente
requer um atendimento imediato por serviço de Emergência ou Pronto Socorro.

As tabelas abaixo mostram exemplos de sinais e sintomas, suas


correlações e classificação em situações relacionadas à intercorrências
psiquiátricas e à lombalgia, dorsalgia e cervicalgia:

Fonte: Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica. Módulo IV

22
Fonte: Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica. Módulo IV

2. Inspeção e palpação auricular

Considerando a conexão existente entre o pavilhão auricular e o


organismo, antes de iniciar de fazer a aplicação das sementes precisamos
conhecer a orelha de cada usuária/os para observar se existem reações
relacionadas às disfunções orgânicas. Ou seja, é importante avaliar se existem
alterações na orelha para identificar se alguns problemas já estão sendo
sinalizados, isso ajudará na definição dos pontos que serão utilizados durante o
tratamento. Chamamos, comumente, esta avaliação de anamnese e podemos
realizá-la de forma objetiva.

Dividimos este momento em 2 partes: inspeção/investigação e palpação.


Na primeira observamos se a área auricular denuncia adoecimento de acordo
com alterações na coloração da pele e/ou sensibilidade ao toque. É importante
estar em um local bem iluminado, não tocar a orelha nem higienizar a orelha

23
com água ou álcool antes da observação, considerar idade e sexo, olhar para
as duas orelhas e conhecer características do pavilhão auricular sem alteração.

O pavilhão auricular saldável tem tamanho, cor e umidade semelhantes,


firmeza e flexibilidade com a mesma cor que a pele do resto do corpo, hélice
avermelhada sem inflamação e hiperemia. Alterações na cor; excesso de
oleosidade; vasos sanguíneos ingurgitados e cor de sangue anormal;
furúnculos, bolhas, verrugas, lesões, espinhas; depressões, sulcos, rugas;
edema; descamação; assimetria e capilares dilatados são exemplos de
características que indicação alterações.

Todos os aspectos observados devem ser considerados a partir do que


a/o usuária/o relata quando chega para o atendimento, suas queixas,
demandas, histórico de adoecimento, casos de doenças crônicas na família,
condições de trabalho, etc.

Fonte: Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica. Módulo II

A palpação é a aplicação de pressão com instrumento indireto (apalpador)


ou instrumento direito (ponta do dedo) nas regiões auriculares que o terapeuta
identifique como pontos estratégicos de cuidado para os sinais e sintomas que
serão foco do tratamento.

24
A palpação pode ser feita com a/o usuária/o deitada, sentado ou em pé,
de acordo com o que for mais confortável para terapeuta e usuária/os, e a
pressão aplicada deve ser proporcional a sensibilidade. É importante observar
a expressão facial, bem como perguntar sobre a sensação disparada para
compreender possíveis denúncias de distúrbios, além disso é importante
observar se a dor é persistente. A Escala Comparativa de Dor (ferramenta de
validação de dor), apresentada abaixo, pode ser referência para o método de

palpação.

Fonte: Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica. Módulo II

3. Aplicação passo a passo


Fonte: Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica. Módulo II

25
a. Preparar a placa de auriculoterapia com as sementes e fita
microporosa;
b. Explicar sobre o procedimento e cuidados;
c. Realizar uma entrevista e anamnese;
d. Realizar a inspeção do pavilhão auricular do paciente;
e. Realizar a palpação do pavilhão auricular utilizando o
apalpador, identificando os pontos sensíveis no paciente;
f. Seleção dos pontos para aplicação;
g. Higienizar os pavilhões auriculares com algodão embebido em
álcool 70°;
h. Aplicar as sementes nos pontos selecionados;
i. Aplicar em ambas orelhas ou utilizando o critério da
lateralidade;
j. Tratamento semanal; com ciclo de 5 a 10 sessões;
k. Agendar retorno em 7 dias para avaliação e próxima aplicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
BARRETO, A. F (Org). Integralidade e Saúde: Epistemologia, Política e
Práticas de cuidado. Recife: Editora UFPE, 2012.

BARRETO, A. F (Org). Práticas Integrativas em Saúde: Proposições


Teóricas e experiências na saúde e educação. Recife: Editora da
Universidade Federal de Pernambuco (edUFPE), 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Atenção Básica. Política nacional de práticas integrativas e
complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso. Ministério da
Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. 2.
ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015a. 96 p.:il.

26
MINISTERIO DA SAÚDE. Formação em Auriculoterapia para profissionais
de saúde da Atenção Básica. Universidade Federal de Santa Catarina.
Módulo II – Auriculoterapia segundo a Reflexologia, 2016.

27

Você também pode gostar