Prospecção Geofísica E Geoquímica

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PROSPECÇÃO

GEOFÍSICA E
GEOQUÍMICA
Análise de dados de
prospecção geofísica
Cristiano Rocha Born

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever as técnicas de tratamento de dados de prospecção geofísica.


>> Explicar a interpretação de dados de prospecção elétrica, magnética e gra-
vimétrica.
>> Demonstrar a aplicação de mapas e perfis geofísicos na prospecção mineral.

Introdução
A tecnologia vem desempenhando um papel cada vez mais protagonista em todas
as atividades humanas, incluindo os processos de obtenção de matérias-primas,
como é o caso da mineração. A evolução dos equipamentos destinados à obtenção
de dados sobre a subsuperfície, por meios indiretos, vem desempenhando um
papel fundamental no conhecimento geológico e, por consequência, na prospecção
mineral.
Os dados geofísicos obtidos por qualquer um dos métodos utilizados no ciclo
prospectivo — como gravimetria, magnetometria, métodos elétricos — não forne-
cem, por si só, informações que direcionem a busca mineral. Pra isso, é preciso
processar esses dados para que eles se tornem informações e, assim, possam
ser correlacionados espacialmente com o conhecimento já estabelecido sobre o
local sob outras abordagens, como litologia, geologia estrutural, geoquímica, etc.
A geofísica contempla, então, um conjunto de conhecimentos relacionados à
compreensão física e tecnológica envolvida não só com a obtenção dos dados e os
equipamentos utilizados, mas também com a forma de organizar e sistematizar as
informações para que possam ser interpretadas, adquirindo significado geológico.
2 Análise de dados de prospecção geofísica

Nesse contexto, um dos produtos mais úteis são os mapas, que fornecem infor-
mações valiosas para embasar decisões de fazer ou não pesados investimentos
envolvidos na sondagem geológica.
Neste capítulo, você aprenderá sobre as técnicas de processamento de dados,
assim como a forma de interpretá-los. Além disso, verá como os mapas e perfis
geofísicos são utilizados na prospecção mineral.

Técnicas de tratamento de dados


A forma mais simples de apresentar dados geofísicos é a partir de gráficos
que mostrem a variação da grandeza medida em relação à distância ou ao
tempo, conforme o que for mais apropriado (Figura 1). O gráfico apresen-
tará algum tipo de forma de onda mais ou menos complexa, que refletirá
as variações físicas na geologia da subsuperfície, superpostas às variações
indesejáveis de fatores não geológicos (como o efeito de cabos elétricos de
força, no exemplo magnético, ou a vibração do tráfego, no caso da sísmica),
da imprecisão instrumental e dos erros na coleta de dados. A configuração da
forma de onda pode apresentar um grau de incerteza, devido à dificuldade de
interpolação da curva entre estações muito espaçadas. A tarefa do geofísico
é separar o sinal do ruído e interpretar o sinal em termos da estrutura do
terreno (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).

600
Campo magnético (nT)

500

400

300

200
0 10 20 30 40 50
Distância (m)

Figura 1. Gráfico ilustrando a variação da intensidade do campo magnético ao longo de um


perfil de magnetometria.
Fonte: Adaptada de Kearey, Brooks e Hill (2009).

A análise de formas onduladas como essas representa um aspecto essen-


cial do processamento e da interpretação de dados geofísicos. Atualmente,
quase todas as técnicas descritas neste capítulo podem ser implementadas
utilizando-se planilhas eletrônicas. As formas de onda de interesse geofísico
Análise de dados de prospecção geofísica 3

são geralmente funções contínuas (analógicas) de tempo ou espaço. Para apli-


car o poder dos computadores digitais à tarefa de análise, os dados precisam
ser expressos na forma digital, como quer que tenham sido originalmente
registrados (REYNOLDS, 2011).
Uma função que é regular por certo intervalo de tempo pode ser — a partir
de recursos digitais — salva de maneira discreta, com os valores instantâneos
em cada local amostrado. A Figura 2a mostra uma demonstração analógica
de dados, enquanto a Figura 2b mostra a função contínua sendo trocada
por uma sequência de valores discretos, com intervalos fixos de tempo.
Esse processo é inerente a diversos métodos geofísicos, em que as leituras
de algum parâmetro (como campo gravitacional ou magnético) são obtidas
a partir de pontos ao longo das linhas de levantamento. A confiabilidade e
a precisão com que os valores digitais representam a forma de onda origi-
nal são dependentes da amplitude e do intervalo de amostragem (KEAREY;
BROOKS; HILL, 2009).

Figura 2. Modos de representação: (a) apresentação analógica das informações; (b) a função
apresentada enquanto valores discretos, a partir de determinados intervalos de tempo.
Fonte: Kearey, Brooks e Hill (2009, p. 33).

Os dois parâmetros que definem um espaço amostral de uma campanha


geofísica quanto à sua digitalização são a precisão de amostragem (faixa
dinâmica) e a frequência de amostragem. Vejamos a seguir as principais
características de cada (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).

„„ Faixa dinâmica (dynamic range): trata-se de uma expressão da razão


entre a maior amplitude mensurável (Amáx) é a menor amplitude men-
surável (Amín) numa função amostrada.
4 Análise de dados de prospecção geofísica

„„ Frequência de amostragem (sampling frequency): corresponde ao


número de pontos de amostragem por unidade de tempo ou de dis-
tância. Não há perda significativa de conteúdo de informação, desde
que a frequência de amostragem seja muito maior que o mais alto
componente de frequência na função amostrada. Assim, se uma forma
de onda é amostrada a cada dois milissegundos (intervalo de amos-
tragem), a frequência de amostragem é de 500 amostras por segundo
(ou 500 Hz). Amostrando-se a essa razão, serão preservadas todas as
frequências acima de 250 Hz na função amostrada.

Com a ferramenta matemática da análise de Fourier, é possível


decompor ondas periódicas das mais diversas complexidades em
uma sequência de ondas senoidais (e também de cossenoidais). Essa decompo-
sição acontece de forma que as frequências sejam números múltiplos inteiros,
cuja base de repetição seja a frequência fundamental, com frequência de 1/T.
Utilizando-se um algoritmo, a transformada de Fourier é utilizada computacio-
nalmente sem dificuldades, podendo ser incorporada em planilhas-padrão, como
Microsoft Excel (BRIGHAM, 1974). Também é possível utilizá-la em distribuições
de informações em área (RAYNER, 1971), como no caso de mapas de contorno
gravimétrico e magnético.

Filtragem digital
Na geofísica, o tratamento de dados pressupõe o conhecimento de que todo
dado é uma combinação de sinal e ruído. O sinal compreende a forma de
onda relacionada às feições geológicas (camada geológica, fraturas e dobras,
diápiros, domos, entre outros) investigadas, enquanto o ruído representa
todos os outros componentes da forma de onda.
Pode-se ainda classificar o ruído como ruído aleatório, quando derivado
de uma causa randômica, ou então como ruído coerente, quando gerado de
uma fonte identificável, como, fios de alta tensão nos métodos elétricos/
eletromagnéticos, trilhos de trem nos métodos magnetométricos, etc. Esses
componentes ruidosos precisam ser filtrados para que se obtenha um dado
geofísico coerente e aplicável (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).
Análise de dados de prospecção geofísica 5

Imageamento e modelagem
Na medida em que os dados geofísicos são submetidos a um processamento
que ressalte a informação geológica no sinal, esses dados são trabalhados
para que recebam um destaque que possibilite a interpretação geológica.
Para esse objetivo, o imageamento e a modelagem são utilizados (KEAREY;
BROOKS; HILL, 2009).
No imageamento, os dados obtidos pelo método geofísico são transfor-
mados de modo a indicar uma imagem da feição geológica que foi examinada.
Quando falamos de levantamentos magnéticos rasos, por exemplo, mapas
sombreados são comuns (ou então com cores ou contornos), correlacionando
o teor de sombra ou de cor com a variação do campo magnético, variação esta
que se espera estar vinculada com as estruturas geológicas e/ou conteúdos
metálicos procurados. A técnica do imageamento possui alta capacidade
de transformar um volume de dados enorme numa forma facilmente com-
preensível, que é a própria imagem visual. Sua desvantagem, entretanto, é
que não raro pode ser complexo obter dados quantitativos a partir de uma
imagem (REYNOLD, 2011).
Na modelagem, o profissional opta por um modo específico de concepção
estrutural (modelo) do substrato geológico, utilizando-se dele para realizar
previsões sobre a subsuperfície. Tal modelo é então adaptado de forma a
poder combinar-se com os dados geofísicos obtidos. A precisão de tal ajuste
depende da proporção entre o sinal e o ruído, e também da própria escolha
do modelo (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).

Interpolação
A partir dos avanços tecnológicos vinculados à computação, do aprimoramento
dos métodos da geofísica e da evolução das técnicas de levantamentos
geológicos, é cada vez mais viável a avaliação assertiva dos atributos sob
investigação, assim como a obtenção de previsão da margem de erro envolvida
no processo, que se vincula também ao modelo escolhido para representar o
espaço. Surge assim a interpolação como o processo matemático que obtém
valores intermediários entre os valores discretos de uma função (STARK, 1979).
Assim, tornou-se imperiosa a necessidade da implementar junto a um
software de manejo dessas informações — notadamente o chamado Sistema
de Informações Geográficas (SIG) — caminhos mais eficientes de analisar os
dados, assim como metodologias que possibilitem avaliar o grau de confiança
e significância dos resultados obtidos (PAVÃO, 2014).
6 Análise de dados de prospecção geofísica

A ideia básica que estrutura a interpolação é que, de maneira geral, os


valores de algum atributo tendem a ser similares àqueles mais próximos do
que em relação àqueles que estão a uma maior distância (CÂMARA; MEDEIROS,
1998). A interpolação espacial é um procedimento que, a partir de valores
observados em locais determinados, estima o valor do atributo onde ele não
foi sondado (BURROUGH, 1986).

Hartkamp et al. (1999) fornecem uma classificação resumida dos


tipos de interpoladores:
„„ Globais/locais: os interpoladores locais são utilizados para regiões especí-
ficas do mapa, de modo que a modificação de um valor reage localmente
sobre os locais próximos. Por outro lado, os interpoladores globais partem
do pressuposto de levar em conta todos os pontos da região amostrada;
assim, a modificação de um valor tem consequência em todo o conjunto.
Tais interpoladores tendem a suavizar as superfícies.
„„ Determinísticos/estocásticos: os interpoladores estocásticos utilizam-se da
teoria da probabilidade, recorrendo a critérios estatísticos na definição dos
pesos determinados aos locais amostrados para o cálculo das interpolações.
Já os interpoladores determinísticos tem como base a geometria da forma
como os pontos amostrados distribuíram-se espacialmente.

Podemos citar alguns exemplos de técnicas de interpolação: inverso pon-


derado da distância (IDW); natural neighbor (vizinho natural): spline; kriging
(krigagem); radial basis function (função da base radial); local polynomial
interpolation (polinômio local) e global polynomial interpolation (polinômio
global).

A interpretação de dados de prospecção


elétrica, magnética e gravimétrica
O problema da ambiguidade na interpretação geofísica reside no fato de
que muitas configurações geológicas diferentes podem reproduzir as me-
didas observadas. Deve-se levar em conta também que os dados coletados
de maneira experimental apresentam uma margem de erro inerente à sua
obtenção, incluindo mais um grau de incerteza à ambiguidade. Assim, a inter-
pretação geofísica busca determinar as características subsuperficiais que
possam responder ao maior número de soluções possíveis para as hipóteses
formuladas a partir dos dados obtidos e da realidade de campo (PARKER,
1977). Embora essas dificuldades sejam inerentes à geofísica, essa ciência
Análise de dados de prospecção geofísica 7

constitui inestimável valor para a prospecção, sendo um fator fundamental


nos programas de exploração de recursos geológicos (KEAREY; BROOKS; HILL,
2009). Veremos a seguir alguns tópicos importantes sobre a interpretação de
dados de prospecção elétrica, magnética e gravimétrica.

Interpretação gravimétrica
A interpretação gravimétrica pode ser dividida entre interpretação direta e
indireta. A primeira fornece as informações respectivas que as caracterizam
de maneira direta a partir das anomalias gravimétricas, não tendo neces-
sariamente uma relação com a morfologia do corpo (KEAREY; BROOKS; HILL,
2009). Alguns dos métodos diretos são abordados a seguir.
A profundidade-limite aplica o conhecimento de que qualquer anomalia
gravimétrica tem sua influência reduzida com o inverso do quadrado da dis-
tância de suas fontes (fórmula da força de atração gravitacional). Logo, busca
identificar a profundidade-limite em que a porção superior de um maciço
geológico poderia estar e ainda ser a fonte de uma anomalia gravimetria
observável. Assim, estruturas com grande profundidade apresentam menor
amplitude e maior extensão do que estruturas rasas. O número de onda-
-amplitude relaciona-se com a profundidade da fonte da anomalia de maneira
quantificável, de modo a obter a profundidade máxima — ou profundidade-
-limite (limiting depth) — a partir da qual o topo do corpo anômalo poderia
se situar (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).
Diferentes métodos podem ser aplicados para obter essa profundidade-
-limite, como o método de meia distância (half-width method), o método
da razão gradiente/amplitude (gradient-amplitude ratio method) (Figura 3)
ou então métodos de segunda derivada (second derivative methods), como
excesso de massa (excess mass), ponto de inflexão (inflection point) e es-
pessura aproximada (approximate thickness). A técnica de determinação da
profundidade da fonte pela deconvolução de Euler também é aplicável para
anomalias gravimétricas (KEATING, 1998). Em todos estes casos, obtém-se um
dado fundamental para a interpretação gravimétrica: a profundidade a partir
da qual as informações coletadas tem maior probabilidade de terem vindo,
de acordo também com o modelo geológico do local. Sem essa perspectiva, o
profissional envolvido com a interpretação dos dados oriundos da gravimetria
teria dificuldade em avaliar a representatividade dos dados coletados.
8 Análise de dados de prospecção geofísica

Figura 3. Método da razão gradiente/amplitude: (a) no gráfico, X1/2 representa a distância


horizontal desde o maior valor da anomalia até o ponto em que atingiu metade de seu
valor máximo (sendo adquirido pelo método da meia distância); (b) a razão entre gradiente
e amplitude.
Fonte: Adaptada de Kearey, Brooks e Hill (2009).

Já na interpretação indireta, simula-se — por meio de um modelo — o


corpo causador de uma anomalia gravimétrica. Tal corpo modelado pode ter
sua “anomalia teórica” calculado, de tal forma que o modelo é modificado
até que a anomalia teórica fique próxima da anomalia que foi registrada em
campo. Para anomalias cujas características espaciais as aproximem de um
formato bidimensional, as formas geométricas utilizadas nesses modelos
teóricos são cilindros horizontais; já para anomalias tridimensionais, esferas,
prismas retangulares ou então cilindros verticais. Pode-se ainda combinar
esses sólidos para que a simulação de uma anomalia observada seja realizada
(KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).

Na Baía de Darnley, no noroeste do Canadá, uma anomalia foi ob-


servada como possuidora de uma simetria aproximadamente radial
(Figura 4a), com um perfil através da anomalia que é modelável a partir de uma
sequência de cilindros paralelos cujos diâmetros diminui com o aumento da
profundidade, configurando um cone invertido como morfologia geral (Figura
4b) em ambos os modelos tentados (STACEY, 1971; KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).
Análise de dados de prospecção geofísica 9

Figura 4. Representação da Baía de Darnley: (a) apresentação de anomalia gravimetria, com


geometria radial e com isocontornos expressos em gu, apresentando o valor de 250 cada
linha; (b) as possibilidades interpretativas de modelamentos cilíndricos, apresentando o
Modelo I e o Modelo II, ambos com cilindros verticais coaxiais.
Fonte: Kearey, Brooks e Hill (2009, p. 265).

O processo de interpretação indireta, como envolve um modelamento


teórico e uma comparação com a realidade, baseia-se numa metodologia
iterativa, em que há uma melhora gradativa, aproximando-se a anomalia
calculada daquela observada, a partir de quatro passos principais (GÖTZE;
LAHMEYER, 1988; KEAREY; BROOKS; HILL, 2009):

1. formulação de um modelo factível;


2. obtenção de suas respectivas anomalias gravimétricas;
3. confrontação entre a anomalia que foi observada e aquela obtida pelos
cálculos oriundos do modelo;
4. modificação do modelo de forma a aprimorar a correspondência entre
o que foi calculado e o que foi observado, retornando para o passo 2.

Interpretação magnética
A interpretação de anomalias magnéticas tem muitas similaridades com
a interpretação gravimétrica, tanto em termos de metodologia quanto de
limitações, na medida em que nos dois casos há campos potenciais naturais
cuja atração sofre uma atenuação a partir do inverso do quadrado da dis-
tância. Entretanto, há algumas diferenças que aumentam a dificuldade da
interpretação magnética: um corpo causador produz anomalias de gravidade
10 Análise de dados de prospecção geofísica

que podem ser positivas ou negativas, de acordo com as rochas que estão ao
redor; já a anomalia magnética contém intrinsecamente elementos que, pela
natureza dipolar do magnetismo, são simultaneamente positivos e negativos
(KEAREY; BROOKS; HILL, 2009), como ilustrados na Figura 5.

Figura 5. Anomalias magnéticas (∆B) e gravimétricas (∆g) em atuação sobre um mesmo


corpo bidimensional.
Fonte: Kearey, Brooks e Hill (2009, p. 293).

Outro fator que distingue a interpretação gravimétrica da magnética —


adicionando elementos de complexidade para esta em relação àquela — é que
a densidade é uma propriedade da massa do corpo, enquanto a magnetização
depende de uma pequena porção do corpo geológico — a que é ferrimag-
nética — sendo por isso mais variável. Há ainda o fato de que a densidade é
uma grandeza escalar e, em contrapartida, a intensidade de magnetização é
uma grandeza vetorial, de modo que morfologias geológicas similares podem
produzir anomalias magnéticas muito contrastantes. Por isso, as anomalias
magnéticas são frequentemente muito menos relacionadas com a forma do
corpo causador do que as anomalias gravimétricas (KEAREY; BROOKS; HILL,
2009), e é fundamental para o profissional que interpreta esses dados ter a
compreensão dessas propriedades. Da mesma forma como na gravidade, na
magnetometria todos os fatores externos a respeito da natureza e morfologia
do ente geológico causador da anomalia devem ser utilizados visando a
redução da ambiguidade dos dados obtidos.
Análise de dados de prospecção geofísica 11

Interpretação geoelétrica
A interpretação elétrica (como do potencial espontâneo) é similar às inter-
pretações magnéticas, na medida em que há dois polos envolvidos nas duas
técnicas; portanto, pode-se obter as variações de potencial ao redor de
corpos polarizados de formas simples, como esferas, elipsoides e camadas
inclinadas (SUNDARARAJAN; RAO; SUNITHA, 1998), ao estipular-se hipóteses
sobre a maneira como a carga se distribui. A interpretação qualitativa, con-
tudo, prevalece, embora não seja a única. As informações vinculadas com
a simetria — ou a falta dela — produz dados relevantes sobre a direção de
mergulho do corpo, por exemplo (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).
Por sua vez, a análise quantitativa permite a elaboração de seções e mapas
de resistividade real da região investigada, e também a determinação das
interfaces entre meios com resistividades distintas, além da profundidade
das estruturas e morfologia. Atualmente, existem dois tipos principais de
modelagem utilizando dados elétricos: a modelagem por suavização e a
poligonal (OLAYINKA; YARAMANCI, 2000).
Por fim, a análise de efeito de massa tem o objetivo de determinar zonas
anômalas, visando a interpretação da configuração da estratigrafia local e
a variação dos valores de resistividade aparente (BORGES, 2007).

Aplicação de mapas e perfis geofísicos


A aplicação da geofísica na investigação geológica pode ser utilizada nas
mais variadas escalas e abordagens investigativas, desde estudos em escala
global (KEAREY; VINE, 1996) até às explorações localizadas (VOGELSANG, 1995;
MCCANN et al., 1997). Mesmo que a geofísica possa levar a ambiguidades e
incertezas com seus resultados, conforme temos visto ela é um modo ágil,
com bom custo-benefício, para a aquisição de dados relevantes de cunho
prospectivo. É fundamental, entretanto, recordar que a geofísica não elimina
a necessidade das sondagens geológicas; quando bem aplicada, possui a
capacidade de aprimorar bastante o planejamento de exploração, maximi-
zando a cobertura superficial de obtenção de informações e minimizando as
perfurações necessárias (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009). Veremos, em seguida,
exemplos da aplicação de mapas e perfis geofísicos na prospecção mineral.
Podemos dar um exemplo de depósitos de sal, que, além de sua vinculação
com a indústria do petróleo (como selante do reservatório), podem ser hospe-
deiros de metais de interesse econômico. Na medida em que a camada de sal
é menos densa, e arqueia formando domos (os famosos domos salinos), ela
12 Análise de dados de prospecção geofísica

apresentará propriedades físicas contrastantes com as rochas encaixantes,


como baixa densidade, suscetibilidade magnética negativa, alta velocidade
de propagação de ondas sísmicas e alta resistividade elétrica (resistência
específica) (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009) (Figura 6).

Figura 6. Representações do domo de sal de Grand Saline, nos Estados Unidos: (a) represen-
tação das anomalias magnéticas; (b) a anomalia de gravidade. As isolinhas representam um
mesmo valor de medição, seja magnéticas (nT) ou gravimétricas (gu).
Fonte: Kearey, Brooks e Hill (2009, p. 24).

Como visto na Figura 6b, a baixa densidade do sal, quando comparado


com as rochas adjacentes, é assinalada de maneira marcante. Quando esse
indício é interpretado em conjunto com as isolinhas magnéticas (com seu
contraste magnético negativo), constitui exemplo bastante didático para a
compreensão de uma aplicação dos métodos geofísicos para a investigação
prospectiva.
Outro domo salino, em Haynesville, Texas, Estados Unidos, quando ana-
lisado a partir da sua resistividade elétrica anomalamente alta, demonstra
o fluxo preferencial das correntes elétricas no corpo de sal (Figura 7) (BOIS-
SONNAS; LEONARDON, 1948; KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).
Análise de dados de prospecção geofísica 13

Figura 7. Domo de sal em Haynesville, Estados Unidos, identificado sobre as isolinhas anômalas
de resistividade elétrica (Ω.m), indicando alta resistividade para o domo.
Fonte: Adaptada de Boissonnas e Leonardon (1948).

Um mapa de contorno magnético pode fornecer muitos dados qua-


litativos sobre um corpo geológico, principalmente quando nos
referimos aos mapas aeromagnéticos. Tais mapas frequentemente fornecem
subsídios fundamentais para o entendimento da subsuperfície, de maneira
a determinar zonas-alvo de prospecção mineral. É importante recordar que
áreas com embasamento cristalino profundo e extensa cobertura sedimentar
acabam por apresentar-se com contraste magnético suave, refletindo estruturas
do embasamento. Já as regiões ígneas e metamórficas são representadas
por anomalias com maior complexidade, pois os efeitos de feições geológicas
profundas podem ser atenuados por anomalias comprimentos de onda curtos
e mais superficiais (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).

Uma maneira convencional de representar as anomalias gravimétricas é


por meio de perfis (Figura 8a) ou como mapas de contorno (Figura 8b), também
chamados de isogal, chegando aos mapas gravimétricos propriamente ditos
(Figura 8c). O processamento de imagem utiliza técnicas similares àquelas
empregadas em SIG, em que as imagens (coloridas ou sombreadas) podem
representar informações sobre a estrutura geológicas que seriam impossíveis
em mapas sem esse processamento. Do mesmo modo, o georreferenciamento
também pode ser aplicado no tratamento e representação de dados de
anomalias magnéticas (LEE; PHARAOH; SOPER, 1990).
14 Análise de dados de prospecção geofísica

(a)

(b)

(c)

Figura 8. Georreferenciamento no tratamento e representação de dados de anomalias


magnéticas: (a) perfis de anomalias Bouguer; (b) mapa de anomalia Bouguer de caráter
regional (painel esquerdo) e seu respectivo mapa residual (painel direito), com abrangência
de contorno de 2 mGal (c) mapas gravimétricos da Bacia do Recôncavo a partir da anomalia
Bouguer (esquerda) e com primeira derivada vertical da anomalia Bouguer (direita) — a
coloração quente ilustra, de maneira geral, anomalias positivas.
Fonte: (a) e (b) Lima e Carvalho (2019, p. 460); (c) Ramos e Ferreira (2016, documento on-line).
Análise de dados de prospecção geofísica 15

O levantamento magnético é um dos métodos geofísicos mais utilizados


em termos da extensão de linhas levantadas (PATERSON; REEVES, 1985), pois
é ágil e tem ótima relação custo-benefício. Os levantamentos magnéticos são
usados amplamente na busca de depósitos metálicos, uma tarefa realizada
rápida e economicamente por métodos aerotransportados. Os levantamentos
magnéticos podem encontrar depósitos de sulfetos maciços (Figura 9), ainda
mais quando utilizados conjuntamente com métodos eletromagnéticos. O
alvo mais utilizado, entretanto, são os depósitos de ferro, pela presença de
magnetita (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).

Figura 9. Perfil representando anomalia magnética em maciço rochoso maciço, sulfetado, em


Quebec, Canadá. A área marcada com hachura refere-se à demarcação do corpo mineralizado
(deduzida de medidas eletromagnéticas).
Fonte: Adaptada de Kearey, Brooks e Hill (2009).
16 Análise de dados de prospecção geofísica

O levantamento magnético é um auxiliar muito útil para o mape-


amento geológico. Estudos como de Koppe (1990) e de Viter (1997)
afirmam que a realização de estudos geofísicos é indispensável para estimar a
espessura e relações espaciais das sequências e principais estruturas regionais
e locais. Em geral, as despesas com geofísica representam entre 5 e 20% do
orçamento global das campanhas de prospecção (SOARES, 2001). Se contarmos
apenas o aerolevantamento, esse percentual cai para 2%. Billings e Richards
(2000) comentam que a aerogeofísica, e particularmente o aeromagnetismo, é
o alicerce da indústria da exploração mineral nos últimos 50 anos, sendo um
componente extremamente relevante nos projetos da empresa Rio Tinto, tanto
na geração quanto na seleção de áreas. Por sua vez, Smith (1990) sintetiza as
principais feições investigadas na geofísica em prospecções de ouro (Quadro 1).

Quadro 1. Enfoque geofísico das feições geológicas em prospecções auríferas

Feições físicas Enfoque geofísico

Realce no conteúdo de potássio Pesquisa gamaespectrométrica e de


superfície

Estruturas principais Pesquisa aeromagnetométrica,


gravimétrica e magnetotelúrica

Intrusivas profundas Aeromagnetométrica, gravimétrica e


magnetotelúrica
Fonte: Adaptado de Smith (1990).

Na interpretação geolétrica qualitativa, a passagem dos eletrodos em uma


zona causadora de anomalia é mais intensa quando a estrutura é vertical
ou subvertical, como diques. Essa aplicação é especial para a prospecção
mineral, na medida em que estruturas verticais ou subverticais podem ser-
vir de condutos aos magmas carregados de minerais, bem como soluções
hidrotermais mineralizantes (ARCANJO, 2011). Nesse âmbito, Borges (2007)
elaborou diferentes modelos geofísicos para uma mesma situação geológica
a partir de dados geoelétricos obtidos por diferentes métodos, por meio da
simulação de um dique mais resistivo e outro menos resistivo, conforme
ilustrado na Figura 10.
Análise de dados de prospecção geofísica 17

Figura 10. Diferentes tipos de anomalias geoelétricas a partir de simulações de aquisições de


informações de tomografia elétrica, realizadas sobre um dique intrusivo, a partir de modelos
gerados no programa Res2Dmod: (a) modelo geológico; (b) a partir do dipolo–dipolo; (c) por
Wenner; (d) por polo–polo; (e) por polo–dipolo; (f) Wenner-Schlumberger; (g) por gradiente.
Em seguida, respostas de um dique resistivo com os arranjos: (h) dipolo–dipolo; (i) Wenner;
(j) polo–polo; (k) polo–dipolo; (l) Wenner-Schlumberger; (m) gradiente.
Fonte: Borges (2007, documento on-line).

Neste capítulo, vimos como tratar os dados obtidos nos métodos gravi-
métricos, magnéticos e elétricos na prospecção mineral. Estudamos também
como interpretar essas informações de maneira a torná-las úteis no ciclo
prospectivo. Além disso, pudemos verificar como disponibilizar essas infor-
mações de maneira visual, ou seja, por meio de mapas, perfis, etc.
18 Análise de dados de prospecção geofísica

Referências
ARCANJO, J. B. A. Fotogeologia: conceitos, métodos e aplicações. Salvador: CPRM, 2011.
BILLINGS, S. D.; RICHARDS, D. Quality control of malha regularded aeromagnetic data.
Exploration Geophysics, v. 31, p. 212–217, 2000.
BOISSONNAS, E.; LEONARDON, E. G. Geophysical exploration by telluric currents with
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Leituras recomendadas
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2012.
20 Análise de dados de prospecção geofísica

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