Prospecção Geofísica E Geoquímica
Prospecção Geofísica E Geoquímica
Prospecção Geofísica E Geoquímica
GEOFÍSICA E
GEOQUÍMICA
Análise de dados de
prospecção geofísica
Cristiano Rocha Born
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A tecnologia vem desempenhando um papel cada vez mais protagonista em todas
as atividades humanas, incluindo os processos de obtenção de matérias-primas,
como é o caso da mineração. A evolução dos equipamentos destinados à obtenção
de dados sobre a subsuperfície, por meios indiretos, vem desempenhando um
papel fundamental no conhecimento geológico e, por consequência, na prospecção
mineral.
Os dados geofísicos obtidos por qualquer um dos métodos utilizados no ciclo
prospectivo — como gravimetria, magnetometria, métodos elétricos — não forne-
cem, por si só, informações que direcionem a busca mineral. Pra isso, é preciso
processar esses dados para que eles se tornem informações e, assim, possam
ser correlacionados espacialmente com o conhecimento já estabelecido sobre o
local sob outras abordagens, como litologia, geologia estrutural, geoquímica, etc.
A geofísica contempla, então, um conjunto de conhecimentos relacionados à
compreensão física e tecnológica envolvida não só com a obtenção dos dados e os
equipamentos utilizados, mas também com a forma de organizar e sistematizar as
informações para que possam ser interpretadas, adquirindo significado geológico.
2 Análise de dados de prospecção geofísica
Nesse contexto, um dos produtos mais úteis são os mapas, que fornecem infor-
mações valiosas para embasar decisões de fazer ou não pesados investimentos
envolvidos na sondagem geológica.
Neste capítulo, você aprenderá sobre as técnicas de processamento de dados,
assim como a forma de interpretá-los. Além disso, verá como os mapas e perfis
geofísicos são utilizados na prospecção mineral.
600
Campo magnético (nT)
500
400
300
200
0 10 20 30 40 50
Distância (m)
Figura 2. Modos de representação: (a) apresentação analógica das informações; (b) a função
apresentada enquanto valores discretos, a partir de determinados intervalos de tempo.
Fonte: Kearey, Brooks e Hill (2009, p. 33).
Filtragem digital
Na geofísica, o tratamento de dados pressupõe o conhecimento de que todo
dado é uma combinação de sinal e ruído. O sinal compreende a forma de
onda relacionada às feições geológicas (camada geológica, fraturas e dobras,
diápiros, domos, entre outros) investigadas, enquanto o ruído representa
todos os outros componentes da forma de onda.
Pode-se ainda classificar o ruído como ruído aleatório, quando derivado
de uma causa randômica, ou então como ruído coerente, quando gerado de
uma fonte identificável, como, fios de alta tensão nos métodos elétricos/
eletromagnéticos, trilhos de trem nos métodos magnetométricos, etc. Esses
componentes ruidosos precisam ser filtrados para que se obtenha um dado
geofísico coerente e aplicável (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).
Análise de dados de prospecção geofísica 5
Imageamento e modelagem
Na medida em que os dados geofísicos são submetidos a um processamento
que ressalte a informação geológica no sinal, esses dados são trabalhados
para que recebam um destaque que possibilite a interpretação geológica.
Para esse objetivo, o imageamento e a modelagem são utilizados (KEAREY;
BROOKS; HILL, 2009).
No imageamento, os dados obtidos pelo método geofísico são transfor-
mados de modo a indicar uma imagem da feição geológica que foi examinada.
Quando falamos de levantamentos magnéticos rasos, por exemplo, mapas
sombreados são comuns (ou então com cores ou contornos), correlacionando
o teor de sombra ou de cor com a variação do campo magnético, variação esta
que se espera estar vinculada com as estruturas geológicas e/ou conteúdos
metálicos procurados. A técnica do imageamento possui alta capacidade
de transformar um volume de dados enorme numa forma facilmente com-
preensível, que é a própria imagem visual. Sua desvantagem, entretanto, é
que não raro pode ser complexo obter dados quantitativos a partir de uma
imagem (REYNOLD, 2011).
Na modelagem, o profissional opta por um modo específico de concepção
estrutural (modelo) do substrato geológico, utilizando-se dele para realizar
previsões sobre a subsuperfície. Tal modelo é então adaptado de forma a
poder combinar-se com os dados geofísicos obtidos. A precisão de tal ajuste
depende da proporção entre o sinal e o ruído, e também da própria escolha
do modelo (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).
Interpolação
A partir dos avanços tecnológicos vinculados à computação, do aprimoramento
dos métodos da geofísica e da evolução das técnicas de levantamentos
geológicos, é cada vez mais viável a avaliação assertiva dos atributos sob
investigação, assim como a obtenção de previsão da margem de erro envolvida
no processo, que se vincula também ao modelo escolhido para representar o
espaço. Surge assim a interpolação como o processo matemático que obtém
valores intermediários entre os valores discretos de uma função (STARK, 1979).
Assim, tornou-se imperiosa a necessidade da implementar junto a um
software de manejo dessas informações — notadamente o chamado Sistema
de Informações Geográficas (SIG) — caminhos mais eficientes de analisar os
dados, assim como metodologias que possibilitem avaliar o grau de confiança
e significância dos resultados obtidos (PAVÃO, 2014).
6 Análise de dados de prospecção geofísica
Interpretação gravimétrica
A interpretação gravimétrica pode ser dividida entre interpretação direta e
indireta. A primeira fornece as informações respectivas que as caracterizam
de maneira direta a partir das anomalias gravimétricas, não tendo neces-
sariamente uma relação com a morfologia do corpo (KEAREY; BROOKS; HILL,
2009). Alguns dos métodos diretos são abordados a seguir.
A profundidade-limite aplica o conhecimento de que qualquer anomalia
gravimétrica tem sua influência reduzida com o inverso do quadrado da dis-
tância de suas fontes (fórmula da força de atração gravitacional). Logo, busca
identificar a profundidade-limite em que a porção superior de um maciço
geológico poderia estar e ainda ser a fonte de uma anomalia gravimetria
observável. Assim, estruturas com grande profundidade apresentam menor
amplitude e maior extensão do que estruturas rasas. O número de onda-
-amplitude relaciona-se com a profundidade da fonte da anomalia de maneira
quantificável, de modo a obter a profundidade máxima — ou profundidade-
-limite (limiting depth) — a partir da qual o topo do corpo anômalo poderia
se situar (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).
Diferentes métodos podem ser aplicados para obter essa profundidade-
-limite, como o método de meia distância (half-width method), o método
da razão gradiente/amplitude (gradient-amplitude ratio method) (Figura 3)
ou então métodos de segunda derivada (second derivative methods), como
excesso de massa (excess mass), ponto de inflexão (inflection point) e es-
pessura aproximada (approximate thickness). A técnica de determinação da
profundidade da fonte pela deconvolução de Euler também é aplicável para
anomalias gravimétricas (KEATING, 1998). Em todos estes casos, obtém-se um
dado fundamental para a interpretação gravimétrica: a profundidade a partir
da qual as informações coletadas tem maior probabilidade de terem vindo,
de acordo também com o modelo geológico do local. Sem essa perspectiva, o
profissional envolvido com a interpretação dos dados oriundos da gravimetria
teria dificuldade em avaliar a representatividade dos dados coletados.
8 Análise de dados de prospecção geofísica
Interpretação magnética
A interpretação de anomalias magnéticas tem muitas similaridades com
a interpretação gravimétrica, tanto em termos de metodologia quanto de
limitações, na medida em que nos dois casos há campos potenciais naturais
cuja atração sofre uma atenuação a partir do inverso do quadrado da dis-
tância. Entretanto, há algumas diferenças que aumentam a dificuldade da
interpretação magnética: um corpo causador produz anomalias de gravidade
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que podem ser positivas ou negativas, de acordo com as rochas que estão ao
redor; já a anomalia magnética contém intrinsecamente elementos que, pela
natureza dipolar do magnetismo, são simultaneamente positivos e negativos
(KEAREY; BROOKS; HILL, 2009), como ilustrados na Figura 5.
Interpretação geoelétrica
A interpretação elétrica (como do potencial espontâneo) é similar às inter-
pretações magnéticas, na medida em que há dois polos envolvidos nas duas
técnicas; portanto, pode-se obter as variações de potencial ao redor de
corpos polarizados de formas simples, como esferas, elipsoides e camadas
inclinadas (SUNDARARAJAN; RAO; SUNITHA, 1998), ao estipular-se hipóteses
sobre a maneira como a carga se distribui. A interpretação qualitativa, con-
tudo, prevalece, embora não seja a única. As informações vinculadas com
a simetria — ou a falta dela — produz dados relevantes sobre a direção de
mergulho do corpo, por exemplo (KEAREY; BROOKS; HILL, 2009).
Por sua vez, a análise quantitativa permite a elaboração de seções e mapas
de resistividade real da região investigada, e também a determinação das
interfaces entre meios com resistividades distintas, além da profundidade
das estruturas e morfologia. Atualmente, existem dois tipos principais de
modelagem utilizando dados elétricos: a modelagem por suavização e a
poligonal (OLAYINKA; YARAMANCI, 2000).
Por fim, a análise de efeito de massa tem o objetivo de determinar zonas
anômalas, visando a interpretação da configuração da estratigrafia local e
a variação dos valores de resistividade aparente (BORGES, 2007).
Figura 6. Representações do domo de sal de Grand Saline, nos Estados Unidos: (a) represen-
tação das anomalias magnéticas; (b) a anomalia de gravidade. As isolinhas representam um
mesmo valor de medição, seja magnéticas (nT) ou gravimétricas (gu).
Fonte: Kearey, Brooks e Hill (2009, p. 24).
Figura 7. Domo de sal em Haynesville, Estados Unidos, identificado sobre as isolinhas anômalas
de resistividade elétrica (Ω.m), indicando alta resistividade para o domo.
Fonte: Adaptada de Boissonnas e Leonardon (1948).
(a)
(b)
(c)
Neste capítulo, vimos como tratar os dados obtidos nos métodos gravi-
métricos, magnéticos e elétricos na prospecção mineral. Estudamos também
como interpretar essas informações de maneira a torná-las úteis no ciclo
prospectivo. Além disso, pudemos verificar como disponibilizar essas infor-
mações de maneira visual, ou seja, por meio de mapas, perfis, etc.
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