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QUINTAS (Amaro) . — O sentido social da Revolução Praieira. São Paulo.


1968. Civilização Brasileira.
Bem andou o Professor Amaro Quintas em reeditar seu excelente ensaio sô-
bre o "sentido social da revolução praieira", publicado pela primeira vez em 1946.
Aliás, no caso quase podemos dizer que se trata de edição e não de reedição,
pois as duas primeiras tiragens do seu trabalho tiveram circulação limitada. Da
primeira vez foi publicado como tese de concurso à cadeira de História do Brasil,
do velho e tradicional Ginásio Pernambucano, hoje Colégio Estadual de Per-
nambuco, e como de comum acontece com os trabalhos dessa natureza, pràtica-
mente teve sua circulação restrita àquêles que assistiram as provas de concurso
e a alguns privilegiados aos quais o Autor pôde distribuir o trabalho. Da segunda
vez, estampou-o na Revista de História, em 1954, graças à gentileza de seu Dire-
tor, Professor Eurípedes Simões de Paula e por empênho do autor destas linhas.
Entre uma e outra tiragem, ambas de circulação restrita e fora do comércio, como
lembramos, coube ainda a quem esta subscreve publicar pequeno artigo no nú-
mero inaugural da mesma Revista de História, em tão boa hora fundada em 1950.
O que se pretendeu nesse nequeno artim foi tão sómente chamar a atenção dos
leitores do sul do Brasil para n trabalho do ensaísta pernambucano e, tanto quan-
to possível, divulgar algumas das idéias contidas em seu estudo, o primeiro vi-
sando a uma interpretação social do simpático movimento de 1848.
Lembrávamos nue até então nenhum dos historiadores que se ocuparam da
"Praieira" (e não foram muitos) viu nela mais do que um movimento político, a
traduzir a rivalidade de liberais e conservadores em tôrno da qual girou pràti-
camente a vida política do segundo reinado. Abrimos uma exceção para Joaquim
Nabuco, o único que, de fato, havia percebido alguma coisa além do comum dos
autores, dedicando à apreciação do movimento diversas páginas de sua obra ca-
pital, embora a sua preocupação não fôsse senão a de ressaltar a atuação do pai
como juiz dos revolucionários. Todavia, embora discordando inteiramente dos
motivos e dos ideais da revolução, fêz Nabuco um trabalho honesto, sabendo ver
o lado sério da revolta e reconhecendo o papel que nela tiveram as massas. "Não
se pode deixar de reconhecer no movimento praieiro a fôrça de um turbilhão po-
pular", lembrava o autor de "Um estadista do Império', para concluir: "Muito
provàvelmente a praieira representa a queixa de uma população contra sua
triste condição". Aliás, não fazia o grande estadista senão repetir o pensamento
de seu progenitor: "Não se trata ali (na Praieira) ~ente de questões políticas;
a estas questões políticas estão associadas questões sociais e as questões sociais
são de grande alcance, de grande perigo".
Realizando acurada pesquisa nos arquivos pernambucanos, manuseando co-
leções de jornais e outras publicações da época, penetrando fundamente nas idéias
dos responsáveis pelo movimento, através de seus escritos, pôde o ilustre profes-
sor do Recife apresentar-nos algo de nôvo, fornecendo como que uma primeira
mão nesse trabalho de interpretação de um dos principais movimentos de nossa
história. A situação social, econômica e poltíica de Pernambuco nos meados do
século passado conduzia ao descontentamento em que vivia a maior parte da
população, à hostilidade para com as classes dominantes, à aspiração, duma orga-
nização mais racional e compatível com a época, à arregimentação de fôrças ca-
pazes de, a qualquer momento, tentar solapar a estrutura social e econômica (e
conseqüentemente política), à infiltração de idéias propagadas por algumas fi-
guras curiosas que então habitavam o Recife: Antônio Pedro de Figueiredo,
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Soares de Azevedo, Abreu e Lima, Borges da Fonseca, quase todos cultores do


socialismo utópico da Eurapa daqueles dias, entusiasta de Fourier, de Saint-Simon,
de Louis Blanc, de Owen, especialmente depois da chegada ao Recife de Louis
Vauthier, engenheiro francês de tendências socialistas, igualmente cultor daqueles
autores, e cuias idéias foram em Pernambuco por êle divulgadas. Sôbre a figura
curiosa dêste Vauthier, contratado pelo conde da Boa Vista, então presidente da
província. para realizar algumas n'was públicas no Recife, Gilberto Frevre escre-
veu um de seus mais not4veis ensaios (Um engenheiro francês no Brasil), cabendo
ainda ao autor de Caça Grarde e Senzala divulgar em primeira mão o diário da-
quele engenheiro, fonte preciosa para o conhecimento de Pernambuco na época.
Aliás. neste setor das fontes, cumpre ressaltar eme ainda an Professor Amaro
Quintas a história das idéias no Brasil ficou devendo a divuleação de um dos
documentos mais valiosos para o conhecimento da época, qual a revista O Pro-
gresso, de Antônio Pedro de Figueiredo, ruins números foram todos reproduzidos
num belo volume editado pelo Arquivo Público de Pernambuco, com introdução
e anotações do professor Quintas.
Interessou especialmente ao autor de O sentido social da revolução praieira,
que muito oportunamente a Civilizarão Brasileira acaba de pôr ao alcance dos
estudiosos, em edição comercial, a filiação da "Praieira" ao socialismo europeu
manifestado na revolução de 1848. Aquele espírito quarent-huytard, que êle
próprio estudou numa conferência que teve a feliz idéia de iuntar ao volume que
ora se publica. Aliás, foi oportuna a junção ao presente volume de outros traba-
lhos menores que o professor Amaro Quintas havia publicado em opúsculos ou
em revistas locais de pequena circulação. Em O sentido social da revolução praieira,
tal como foi publicado pela Civilização Brasileira, temos, pois, tudo que o Pro-
fessor Quintas escreveu sôbre o palpitante tema. Outros assuntos existem na
História de seu Estado à espera de sua capacidade de pesquisa, de análise e de
interpretação. De um outro já nos deu prova: a revolução de 1817. Porque
não reeditá-lo?
ODILON NOGUEIRA DE MATOS

LIMA SOBRINHO (Barbosa). — Presença de Alberto Tôrres: sua vida e seu


pensamento. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 1968. 520 páginas.
Inegàvelmente a maior figura de pensador político do Brasil republicano,
construtivo e conseqüente, Alberto Tôrres sempre teve tuna visão muito nítida
dos problemas brasileiros, e estava pronto a exercer a sua ação benéfica como um
programa político que, à época, era superior a qualquer plano partidário.
Suas propostas de reforma, mais políticas que econômicas, não sofriam a
invalidade da imitação estrangeira, nem favoreciam os grupos, especialmente os
agentes estrangeiros da exploração comercial. As reformas teriam a via revisionista
constitucional, uma limitação que nem sempre apareceu como uma panacéia, mas
que tinha a vantagem de ser apoiada pelo nacionalismo compreensivo, tranqüilo e
irredutível. Compreende-se, portanto, que numa época em que se fala tanto de
realidade brasileira, a obra do grande pensador fluminense esteja novamente em
evidência. Daí a oportunidade do presente volume sôbre a presença de Alberto

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