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História Pública, suas origens, natureza e perspectivas

Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28


DOI102307/3377666

Robert Kelley1

No seu sentido mais simples, História Pública se refere ao emprego de historiado-


res e ao método histórico fora da academia: em governo, corporações privadas, mídia,
sociedades históricas e museus, mesmo em práticas privadas. Historiadores públicos es-
tão no trabalho sempre que, em sua capacidade profissional, eles são parte do processo
público. Um problema precisa ser resolvido, uma política precisa ser formulada, o uso de
uma fonte ou a direção de uma atividade tem de ser mais efetivamente planejada – e um
historiador é chamado a mostrar a dimensão do tempo: isto é História Pública.

A PERSPECTIVA DOS HISTORIADORES

O historiador tem um modo especial de olhar para os negócios humanos, e um


modo especial de explicá-los. Ele institivamente põe a questão: como os negócios huma-
nos evoluíram no tempo até sua situação hoje? Esta é essencialmente uma característica
genética da mente: isto é, mente que assume que nós não entendemos coisa alguma até
nós escavarmos suas origens, seus subsequentes desenvolvimentos e seus antecedentes
causais. Cada disciplina acadêmica, de fato, consiste de pessoas que olham para o mundo
diferentemente, que têm uma sensibilidade compartilhada. Nós vivemos em um mundo,
mas lançar um olhar ao modo com que acadêmicos de disciplinas distintas extraem isso
no papel é ser lembrado como nossas mentes filtram diversamente sobre o que nós per-
cebemos e refletimos. As distinções são talvez mais graficamente aparentes em pinturas.
Sobre uma tela colorida, uma cidade grega parecerá como blocos primários de cores. Um
artista que é sensível à forma e à linha, especialmente, pintará a mesma cena como uma
estrutura interligada de planos e figuras geométricas. Entre um grupo de cientistas sociais
procurando explicar a Guerra do Vietnã, o cientista político falará sobre o processo de
tomada de decisão; o sociólogo verá a dinâmica das elites militares e o racismo WASP2

1
Historiador do Departamento de História na Universidade da California, campus de Santa Barbara. Espe-
cialista em História do Meio Ambiente, em especial a processos técnicos de implantação de sistemas de
águas e esgotos. Foi consultor de agências governamentais nos Estados Unidos sobre este tema.
2
Abreviatura de White, Anglo-Saxon e Protestant [branco, anglo-saxão e protestante]. Tem sentido pejora-
tivo, designando um grupo relativamente homogêneo de indivíduos de religião protestante

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como fatores significativos; o economista apontará, ao invés disso, para a pesquisa de


recursos e mercados. Com suas próprias suposições, cada visão é válida, cada uma ajuda-
nos a trabalhar em direção a um entendimento completo.
Porque o modo histórico de pensar tem sido profissionalmente situado quase uni-
camente na comunidade acadêmica, onde foi posto para uso em matérias muito distantes
no tempo, a história foi pensada para ser como as Artes e as Humanidades. Isto é, pensada
para produzir coisas que são interessantes, essenciais para o espírito humano, mas não
imediatamente úteis. Uma mente cultivada deveria ter um conhecimento de história: este
é um truísmo aceito. A conexão da História com o mundo real, no entanto, foi pensada
para ser limitada a campos sofisticados, como a política externa ou a condução de gover-
nos na Casa Branca.

O VALOR PRÁTICO DA HISTÓRIA

Esta é uma concepção errônea fundamental que precisa ser varrida. O método his-
tórico de análise não é relevante simplesmente para o destino de nações, ou para proble-
mas de guerra e paz. Ele é essencial a cada tipo de situação prática imediata. Um júri que
é solicitado a considerar o alinhamento de barreiras para controle de fluxo [de água] pa-
recerá cheio de dúvidas e não-convencido quando dito apenas das características de vazão
e teorias de engenharia. Quando ajudado a ver o sistema como produto final de gerações
de decisões acumuladas, vazão a vazão, elaborado por tentativa e erro, e a atual experi-
ência, assim como à luz de princípios de engenharia, as incertezas do júri desaparecem e
o julgamento correto torna-se claro. O Conselho da cidade, que conhece uma parte de sua
comunidade, principalmente como um problema de segurança para engenheiros (desde
que as construções são velhas) e para a polícia (desde que os bêbados devem ser protegi-
dos regularmente), e para o coletor (desde que suas receitas fiscais estão caindo), o Con-
selho pensa [a cidade] em termos de escavadeiras e bolas de demolição. Quando convi-
dado a ver a comunidade como vizinhança com fundas raízes no tempo e uma caracterís-
tica histórica que, se preservada ou restaurada, alcançará o sentido da cidade sobre si

e ascendência britânica que, supostamente, detêm enorme poder econômico, político e social. Costuma
ser empregada para indicar desaprovação ao poder excessivo de que esse grupo gozaria na sociedade
norte-americana.

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mesma, este mesmo Conselho mudará seus planos e começará a pensar em uma “velha
cidade”, alteração de fachadas e revitalização.
Uma legislatura de Estado debruça-se sobre revisar um sistema de serviço civil
que procederá confiante, [tendo] em mente inovações maiores, até aprender, por meio de
um estudo histórico, que em tempos remotos perdidos na memória estas inovações foram
escolhidas e eram carentes. Uma empresa que está crescendo rapidamente, precisa de um
historiador para explicar a origem e o propósito das políticas existentes. Desde que a co-
munidade empresarial deve agora prestar muita atenção a seus entornos sociais, é preciso
historiadores em escritórios de negócios públicos para explicar por que a Georgia é do
modo que é, ou como californianos responderam a assuntos particulares no passado e
responderão provavelmente no futuro. Uma cidade rumando para um litígio com o distrito
de irrigação circundante sobre os direitos da água deve perguntar-se, em especial, uma
questão essencialmente histórica e não legal: como os direitos da água se originaram e
evoluíram?
Nestes exemplos, reside outra definição de história pública. A questão significa-
tiva de discriminar entre o tipo de história a que nós estamos acostumados e história pú-
blica é a seguinte: quem está colocando a questão para a qual o historiador é procurado
para dar uma resposta? Na história acadêmica, nós administramos a necessidade humana
generalizada de compreender seu passado e difundir esta compreensão, por meios de es-
colaridade formal, a cada geração. Pesquisadores, estimulados por seus interesses inte-
lectuais particulares, e por seu senso de onde o conhecimento histórico do passado é in-
completo ou impreciso, persegue individualmente linhas escolhidas de investigação.
Agências de fomento podem dar ou retirar fundos de apoio em ajuda do projeto, mas a
escolha inicial do tópico encontra-se com o pesquisador.
Na história pública, o historiador responde questões postas por outros. Ele serve
como um consultor, um profissional, um membro de uma equipe. Existem épocas quando
interesses intelectuais de historiadores acadêmicos e as necessidades do público fluem
naturalmente juntos. Em tais situações, o historiador é chamado para fornecer informação
de uma já adquirida expertise. O Congresso [Americano] desenvolve um renovado inte-
resse em planejamento nacional, e ele notifica o principal historiador expert em história
deste processo para as audiências do comitê [de planejamento]. Ou, face eventualmente
a perspectiva de iniciar procedimento de impeachment, ele forma um grupo de

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historiadores consultores e pergunta-lhes sobre o processo. O Departamento de Defesa


inicia um longo estudo de políticas básicas, e traz, como consultores, historiadores aca-
dêmicos que tornaram-se autoridades no campo. Consciência ambiental emerge e histo-
riadores são chamados para dar conselhos e servir como testemunhas expert em litígios.
John Hope Franklin recentemente descreveu-nos o modo no qual procuradores formaram
uma equipe com historiadores experts em história na história de relações de raça durante
a apresentação de testemunho que levaram à decisão da Suprema Corte de Brown versus
Secretariado de Educação em 1954.
Quando historiadores acadêmicos desempenham-se profissionalmente desta
forma, eles estão fazendo o papel de historiadores públicos. No entanto, nós não devemos
ver historiadores entrando em processos públicos de uma grande maneira – isto é: cente-
nas e, eventualmente, milhares de lugares, não apenas em Washington, mas por dentro da
sociedade americana – até sua potencialidade ser amplamente reconhecida e eles estive-
rem permanentemente empregados como praticantes historiadores públicos e não sim-
plesmente como historiadores acadêmicos conduzindo uma ocasional tarefa de serviço
público.

NOVAS DIREÇÕES

Na primavera de 1975, meu colega G Wesley Johnson e eu sentamos em meu


escritório falando de todas estas questões e explorando a questão: como poderia este
avanço ser feito? Nós concluímos que o melhor método era começar treinando pequenos
grupos de estudantes pós-graduados em habilidades de História Pública, imbuindo-os
com a ideia de público mais do que uma carreira acadêmica, e enviá-los para fora, um
por um, para demonstrar seu valor por seu trabalho. Cada coisa tem seus pequenos inícios,
como cada disciplina acadêmica aprendeu quando ela começou a se tornar pública. Eco-
nomistas tiveram de demonstrar sua utilidade antes deles serem tomados seriamente, e o
mesmo seria verdade, nós acreditávamos, com historiadores. Nós não seríamos capazes
de rodar todo os Estados Unidos, em massa, contratando historiadores, mas nós devería-
mos ser capazes de convencer uns poucos escritórios governamentais ou empresas de
negócios a fazerem e entrarem nisso. Se pelos nossos esforços nós pudéssemos mostrar
que a ideia de história pública funcionava, então outras instituições pelo país poderiam

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lançar programas semelhantes. Logo americanos cresceriam treinados para a visão dos
historiadores no trabalho em processos de tomada de decisões como historiadores, tra-
zendo seu particular método de análise e explanação para se conectar com pontos em
voga, assim como administradores públicos, economistas, engenheiros, procuradores, e
outros profissionais trouxeram sua expertise para fazer políticas e que estão agora esta-
belecidos neste processo.
Isso teria, claro, o resultado de expandir grandemente o emprego profissional para
historiadores, um objetivo bem digno de se alcançar. Há grande número de jovens pessoas
que desfrutariam história e que ficariam felizes de praticar isto profissionalmente. Manter
vivo o estudo pós-graduado assegurando que departamentos de história continuarão a ser
lugares de vitalidade intelectual. Isto, a seu turno, estimulará o ensino, e também o em-
preendimento mais amplo de intelectuais históricos. Há, no entanto, um mais largo pro-
pósito a ser servido por este empreendimento. No presente, pessoas em posições de res-
ponsabilidade não pensam historicamente, embora eles gostem de pensar que eles pen-
sam. Eles pensam, ao contrário, em termos de contextos imediatos. A rotatividade em
posições executivas é sempre rápida, legisladores vêm e vão, e poucos têm mais do que
um escasso entendimento de como coisas chegaram a ser do modo que elas são, o que
conduz a políticas particulares, que têm sido tentadas e encontradas, e quando a roda está
sendo reinventada. Se, ao enviar jovens pessoas para fazer carreiras em história pública,
nós vagarosamente mudamos esta situação, à medida que o método histórico de análise
torne-se um elemento integral em toda tomada de decisão, nós deveremos ter feito uma
contribuição significativa à vida americana. Políticas historicamente fundamentadas, em
pequenos e largos conjuntos, não podem evitar ajudar a ser mais vibrantes em concepção,
e elas são provavelmente mais efetivas, consistentes e, espera-se, mais alinhadas com a
realidade humana. Num longo trajeto, elas deveriam ser menos dispendiosas para admi-
nistrar. Este é um grande ideal, e quem pode dizer que nós devemos sempre perceber isto?
Isto não é maior, porém, do que a crença de que reforçar nosso ensino - a que nós somos
convencidos, por outros processos, que nós não podemos concretamente descrever - a
cidadãos mais humanos e informados, e, portanto, uma sociedade mais civilizada. Todo
empreendimento profissional deve ter um abrangente propósito social, mesmo que este
propósito possa iludir-nos e ser preenchido com erro e incapacidade humana. Transformar
e oferecer o processo público pela sociedade americana, trazendo a consciência histórica

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dentro de uma função de trabalho na condução diária dos negócios, é um propósito hono-
rável em caráter e elegante em suas dimensões.

EXEMPLOS

Felizmente, o profissional modelo já está na arena pública, provado e experiente,


embora historiadores acadêmicos tenham posto nisto pouca atenção. Para o Programa de
Pós-Graduação em Estudos de História Pública na Universidade Santa Barbara, nós te-
mos tido um fluxo de conferencistas visitantes que são agora praticantes historiadores
públicos em muitos lugares separados: Estado e governos de cidades, em corporações
privadas, em programas de preservação histórica, em sociedades históricas e em práticas
privadas. Entre elas, aquelas que representam a História Pública em talvez seu mais com-
pleto desenvolvimento, ou seja: trabalho em escritórios oficiais federais. Dois particular-
mente me vêm à mente: Richard Hewlett, principal historiador do Departamento de Ener-
gia, e Wayne Rasmussen, que mantém posto similar em Agricultura. Suas carreiras apre-
sentam para nós, em microcosmo, os estágios de desenvolvimento em cada lugar pelos
quais a História Pública passará. Hewlett e Rasmussen começaram seus trabalhos há mais
de vinte anos atrás, quando suas presenças em suas organizações foram especialmente
ignoradas. Eles se empenharam por longos anos à sólida pesquisa básica no trabalho e na
história de suas agências, conduzindo escrita de narrativas históricas. Ao mesmo tempo,
eles adquiriam o comando dos arquivos e fontes documentais de suas agências sem rivais
em suas organizações.
Eventualmente, sua presença como um crescente recurso valioso de elaboração de
política era reconhecida. Solicitações de administradores veteranos começaram a chegar
a suas mesas. Como esta política tinha sido adotada, e o que era a origem desta operação
ou unidade administrativa? Tinha a agência enfrentado questões particulares no passado
e como foram elas resolvidas? Com o tempo, o tráfico contínuo de tais solicitações cres-
ceu, assumindo sempre a maior parte do tempo dos escritórios históricos. Por volta dos
anos 1970, as operações mantidas por Heylett e Rasmussen tinham completado uma evo-
lução progressiva de ser simplesmente escritórios obscuros enterrados em catacumbas
cuja função ninguém parecia entender para elementos essenciais em elaboração de polí-
ticas. Nos últimos dias da Comissão de Energia Atômica (sucedida pela Administração

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de Desenvolvimento e Pesquisa de Energia, e agora pelo Departamento de Energia),


Heylett foi contratado com regularidade como consultor para o comissionário, e sentou
com a comissão como conduzindo suas deliberações.
O Departamento de Agricultura esteve recentemente envolvido numa pesquisa de
reexame de sua estrutura interna, e Rasmussen esteve intimamente envolvido em preparar
explicações históricas do sistema existente e seus predecessores.
Esta é a evolução do papel e da função que deve idealmente ocorrer sempre que
uma organização instala um escritório histórico. O problema é identificar em que nicho,
no qual um historiador com um conceito de história pública em mente, pode começar seu
trabalho. O objetivo final tem de ser a implantação de um escritório histórico em cada
organização de tamanho significativo. No entanto, isso tomará um longo tempo a ser al-
cançado. Em 1975, quando nós estávamos gestando nosso programa, nós acreditávamos
que a fronteira inexplorada para a situação dos historiadores nos milhares de governos
locais, em nível da cidade e do país, estava quase inteiramente sem escritórios históricos.
Havia exceções, como na cidade de Rochester, Nova York, onde, por décadas, Blake
McKelvey sustentou [escritório], agora sucedido por Joseph Barnes. Compromissos com
a preservação histórica rapidamente cresceram, incentivado pela legislação federal e pro-
jetos de desenvolvimento urbano, e parecia que historiadores eram sempre mais necessi-
tados em escritórios de planejamento urbano. Agora, no entanto, a revolta da taxa de im-
posto encabeçada pela Campanha da Proposição 13,3 da Califórnia, pode dramatica-
mente reduzir as fontes de fundos que podem financiar a inserção de historiadores, como
historiadores, em governos urbanos e regionais.
É improvável, em cada situação, que haverá “portas da frente”: isto é, situações
onde historiadores serão contratados no início de sua capacidade profissional e colocar-
se no trabalho com o título apropriado. No entanto, haveria muitos pontos de entrada
“portas de trás”, não apenas em governos, mas especialmente em corporações de negó-
cios. Lawrence Bruser, agora no escritório de negócios públicos da Corporação Mitsui,
tem sido insistente por alguns anos em que não há uma crise de empregos para historia-
dores, existe uma crise de identidade. De fato, historiadores têm um número de qualidades

3
Em 1978, um empresário de Los Angeles liderou um campanha para aprovar a Proposta 13, uma medida
eleitoral que limitava os impostos sobre a propriedade na Califórnia, inspirando uma revolta fiscal no
país.

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que são essenciais em organizações de todo tipo. Eles deveriam pensar-se, Brunner ob-
serva, como especialistas em administração de informações. Sob os auspícios do Pro-
grama Pós-Graduado de Estudos sobre História Pública aqui em UCSB (e com o fundo
NEH)4, nós temos tomado uma série de conferências, a mais recente delas com um grupo
de executivos de negócios. Destas pessoas nós aprendemos que o conceito de Brunner é
bastante eloquente. Uma sala inteira de executivos corporativos, representando firmas
como Dow Cornings, Dataproducts, Hewlett Packard, Banco da América e Banco Inte-
ramericano, informaram-nos que o mercado de serviços de informação está explodindo,
que especialistas em gestão de informação estão muito em demanda.
O que corporações cada vez mais precisam em suas equipes, eles dizem-nos, são
analistas e planejadores. Isto é, eles necessitam de pessoas que tenham as habilidades e
qualidades que historiadores tradicionalmente desenvolvem: comunicação narrativa em
forma concisa clara; um apetite de pesquisa extenso; um interesse em resolver problemas;
e o poder de conceptualização. Pessoas são importantes para alargar organizações que são
boas para apresentar coisas, aprender rápido, capturar rapidamente as ideias, ter um amplo
corpo de conhecimento geral para recuperar, entender trabalhos da sociedade mais ampla,
e que podem ligar coisas. As “habilidades para negócios” estritas que tais pessoas preci-
sam adquirir são relativamente simples, relacionados a leitura de alvos e programação.
Nós antecipamos, portanto, que estudantes pós-graduados em História Pública se
moverão dentro de posições na comunidade em geral, seja em níveis governamentais ou
negócios corporativos, nem tanto como “historiadores” a preencher um posto especifica-
mente designado, mas como planejadores, analistas, gestores de fluxos internos de infor-
mações, diretores de negócios públicos, funcionários em empresas privadas, assistentes
para administradores e similares. A variedade de tais posições abertas a eles, tocando em
mídias e em tais campos imensos como administração médica, é impossível listar de al-
guma maneira compreensiva. Certamente, o rápido crescimento da profissão de gestão de
recursos culturais, envolvendo preservação histórica, museus e outras, continuará a for-
necer um grande cenário de emprego para profissionais historiadores, neste caso alguém
onde a pesquisa e a escrita históricas estiverem no centro do empreendimento. Onde quer

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National Endowment for Humanities [Fomento Nacional para Humanidades] apoia pesquisa,
educação, preservação e programas públicos em Humanidades.

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que estejam localizados, historiadores treinados com a História Pública ideal – que o mé-
todo histórico é singularmente valioso em resolver problemas e elaborar políticas – ser-
virão como missionários para este conceito, e colocarão isto para usar a cada oportuni-
dade. A tática fabiana de permissão, em resumo, fornece o modelo que a profissão histó-
rica deveria seguir como procura, em nossa própria época, a começar a alargar seu papel
na vida nacional.

FORMAÇÃO NO PROGRAMA DE ESTUDOS EM HISTÓRIA PÚBLICA

Nós admitimos a primeira classe ao Programa de pós-graduação em Estudos de


História Pública no outono de 1976. Com a ajuda da Fundação Rockfeller, (que forneceu
três anos de subsídios para bolsas de graduação), nós aceitamos nove estudantes para
estudar para o grau de mestre, nós olhamos cuidadosamente para ver se [os projetos de
estudantes] revelavam algum empreendedor, tomada de risco, qualidade de mente e ca-
racterística. Nós continuamos desde então a fazer esta nossa mais alta prioridade, além da
capacidade para performance intelectualmente forte. Desbravar esta dificuldade, requer
alguma resistência e disposição para fazer de seu próprio jeito. Há poucos modelos a
seguir e muito pouco no modo de um padrão estabelecido de progressão de carreira em
História Pública.
Essencialmente, o currículo de História Pública é uma opção, uma segunda rota
pela qual o estudante pode adquirir um grau de mestre ou de doutor. Isto foi ajustado para
equipar o estudante para que ele acreditasse no que viesse a frente, na maneira de prová-
veis desafios e habilidades necessárias. Nós continuaremos a aprender como nós proce-
demos, e já, no segundo ano do programa, nós começamos um processo de lapidar e re-
formar o currículo. O coração do programa é um seminário central semestral, feito por
cada candidato a mestrado e por estudantes doutorandos calouros. Isto oferece, primeiro
de tudo, um fórum contínuo no qual discutir a natureza da História Pública e seus desafios
éticos: como equipar historiadores a manter sua integridade, sob pressão, para produzir
resultados desejados, mais do que uma história que é verdade para os fatos? Para os se-
minários centrais, nós trazemos historiadores do país, já trabalhando em lugares públicos,
para servir de conferencistas visitantes. Isto provou ser algo de mais valioso do programa
e de fecundas características. Não apenas deu aos estudantes conhecimento direto de

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muitas maneiras nas quais historiadores podem ser empregados, fora da academia, e lhes
deu conhecimento pessoal e a expectativa de assistência futura com a profissão.
Em nosso planejamento do programa, nós falávamos com historiadores já empre-
gados em lugares públicos. Nós aprendemos que estudantes precisam trabalhar em situa-
ções de equipe, o que é o contrário da atividade profissional entre historiadores acadêmi-
cos, e eles necessitam usar o conceito de pesquisa orientada por uma missão. Em lugares
públicos, normalmente, eles estarão envolvidos em ajudar suas organizações atingirem
seus objetivos, e as questões por eles respondidas para explorar – como antes observado
– não serão como entre historiadores acadêmicos, levantadas simplesmente fora de seus
interesses próprios. Para adquirir experiência direta neste tipo de equipe, a pesquisa ori-
entada por missão, o seminário central foca sobre o problema de questões atuais para a
cidade de Santa Bárbara. Os estudantes são questionados conjuntamente para pesquisar e
escrever um estudo histórico de algum problema, de tamanho de livro, que é então posto
a ser usado para o planejamento e operações pela cidade. Durante este processo, eles
aprendem a como fazer pesquisa centrada na comunidade (embora recursos de biblioteca,
quando disponíveis, também são usados). Eles aprendem onde as fontes documentárias
na cidade estão para ser encontradas: em escritórios de voto, arquivos de agrimensores,
registros de tribunal, registros de impostos, arquivos de jornal, atas do conselho da cidade,
casas particulares, subsolos, sótãos empoeirados e memórias particulares – apenas para
começar a lista. Eles também aprendem como trabalhar com várias mídias, incluindo te-
levisão, para transmitir ao público o que é aprendido, e eles recebem instruções do que é
a principal habilidade do historiador, extraindo notas de pesquisa numa prova narrativa.
Enquanto isso, os estudantes do programa estão envolvidos em outras atividades também:
fazendo conferências também dentro do programa; e adquirindo tais competências práti-
cas como a escrita de aplicações concedidas. Também, durante o primeiro quarto do
curso, os estudantes matriculam-se em seminário sobre a história e a natureza do plane-
jamento, e outros no uso de ciência social, métodos quantitativos em pesquisa histórica.
Por estas experiências diversas em grupos, um forte senso de comunidade se de-
senvolve em cada classe de estudantes pós-graduados no Programa, que grandemente
melhora e intensifica cada atividade de aprendizagem. De um modo negado aos tradicio-
nais estudantes pós-graduados, que se espelham muito em seus seminários e trabalham
individualmente em suas pesquisas, os estudantes do programa de História Pública

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adquirem um sentimento de identidade corporativa e envolvimento comum. O nível de


assistência mútua, e a profundidade dos laços pessoais entre os participantes do programa,
está bastante além da experiência dos estudantes pós-graduados. Viagens a campo aper-
feiçoam o sentido de comunidade. Uma valiosa viagem desta natureza a cada ano é ir ao
escritório estatal de gestão de recursos culturais em Sacramento [Capital da Califórnia]
com suas atividades de preservação histórica, tanto quanto se relacionam com comunida-
des locais e com o sistema de parque estatal. Estudantes e professores fazem refeições em
comum com conferencistas visitantes, em retiros de professores-alunos, quando necessi-
dades de discussão extensa do programa e de estudantes individuais constituem a agenda.
Nós estimulamos estudantes no Programa a pegarem trabalhos fora do departa-
mento em campos tais como Administração Pública e Economia de negócios. Quando
somos capazes de desenvolver cursos em outros departamentos, eles normalmente tor-
nam-se exigentes. O Departamento continua a exigir competência numa língua estran-
geira, envolvendo um exame. Nós também enfatizamos para que o historiador não tenha
apenas um método a oferecer, mas o controle amplo de história humana e as perspectivas
sobre governos, ideias, e instituições sociais tal como um controle oferece. Os estudantes
estão envolvidos em intensivos seminários de leituras, e num grande negócio de estudo
conjunto em preparação para um compreensivo exame em nível de mestrado amplo (nor-
malmente em história americana). Eles também iniciam movendo-se em direções indivi-
dualizadas durante o inverno, de acordo com a direção particular de História Pública a
que eles desejam se dirigir, e seus estudos associados. Tomando trabalho com professores
individuais no departamento, eles desenvolvem um especial campo em áreas como pre-
servação histórica, estudos urbanos, a história da tecnologia, história dos recursos hídri-
cos, estudos sobre meio-ambiente, entre outros. Isto, por sua vez, conduz a um nível de
exame compreensivo de segundo mestrado.

EXPERIÊNCIA PRÁTICA PARA ESTUDANTES.

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Ao final de três bimestres de residência, os estudantes [do] M.A [Master of Arts]5


[partem] para o estágio salariado. Planejado para durar seis meses, durante este período
os estudantes pesquisam e escrevem a história de um problema de preocupação atual das
organizações que os hospedam. Enquanto fazem isso, eles estão sob supervisão de um
superior na organização, e de um professor no departamento. Quando completado, e apro-
vado pelo conselho da universidade, este estudo torna-se a tese de M.A do estudante.
Estudantes doutorais participam da maior parte deste trabalho do primeiro ano,
embora eles não preparem para o M.A compreensivo ou tomam, necessariamente, uma
residência. Além do mais, seu programa de estudo objetiva, como é comum, uma série de
escritos em nível doutoral e exames orais, e uma dissertação sobre um tópico de história
pública. Eles apresentam três campos de história para exame, um em um campo geral de
história, e dois intimamente relacionados a, ou diretamente preocupados com, uma área
de interesse da História Pública. Um campo externo em outro departamento é apoiador
deste interesse. Um de nossos estudantes doutorais está interessado em história de tecno-
logia e em algo de comunidades locais, conduzindo-se para um programa de estudo apro-
priadamente designado. Outro está dirigindo-se para uma carreira na história da gestão de
recursos marinhos, em que lida ainda [com] um diferente grupo de experiências de apren-
dizado. A dissertação é para ser feita em conformidade com o princípio geral que governa
a natureza do M.A, tese; é para ser um tema maior no lugar público pelo qual uma orga-
nização hospedeira, ou um grupo de organizações, está interessada.
Nossa experiência com a primeira classe de estudantes ingressos foi a mais enco-
rajadora, e continuou a ser assim com a segunda classe também. Nós temos tido estudan-
tes internados num número de cidades (fazendo estudos de temas como direitos da água,
necessidades de preservação histórica, as operações de departamentos municipais, entre
outros); no aeroporto internacional de Los Angeles (fazendo um estudo de poluição so-
nora e controvérsias de expansão com comunidades circundantes); o escritório de pes-
quisa do governo no estado da capital (pesquisando a história do sistema civil do serviço
do Estado), o Serviço de Parque Nacional; e nos escritórios-sede de uma corporação na-
cional. Em vários casos, estas experiências têm levado seja a posições permanentes ou a

5
Master of Arts [M.A], que quer dizer mestre de artes, ou mestrado em artes, é um grau acadêmico de pós-
graduação de mestre concedido por universidades em um grande número de países, inclusive Estados
Unidos.

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promessa de tais posições quando o M.A for completado. Um estudante está indo para os
estudos doutorais na história da gestão dos recursos urbanos em outra universidade; outro
foi para uma escola pós-graduada de negócios para ter um segundo M.A; um terceiro está
se preparando para formar uma companhia privada para fazer estudos de impacto ambi-
ental; um quarto está se preparando para trabalhar para o estado em preservação histórica;
e um quinto está agora decidido, em vista de sua atividade no estágio, em prosseguir além
no programa para o doutorado. A segunda turma, agora mesmo preparando a partida para
ir para estágio em São Francisco (uma fundação privada), Kansas City (Departamento de
Trabalhos Públicos), Los Angeles (uma empresa privada) e outros envolvidos no Serviço
de Floresta dos Estados Unidos, a Universidade da California, uma organização de pes-
quisa privadamente custeada, a pesquisa federal Registro histórico da Engenharia Ame-
ricana, entre outros.
O programa é consideravelmente mais árduo, tanto para o corpo docente como
para os estudantes, do que o currículo tradicional. Os estudantes têm de trabalhar num
ritmo cansativo adquirindo habilidades muito mais variadas e novas do que aquelas nor-
malmente envolvidas em estudos pós-graduados. Aprendendo a como fazer pesquisa his-
tórica centrada na comunidade; adquirindo um controle de técnicas de história oral e de
habilidades de mídia; se aventurando em cursos de Administração Pública e outros em
Economia; desenvolvendo a habilidade para programas de computador, dividir tarefas de
pesquisa, e escrever narrativas históricas e peças de análise criadas coletivamente; estu-
dando a história de planejamento; colocando-se em conferências; trabalhando em uma
agência privada ou pública como um estagiário que está realizando análise histórica em
documentos de corporação ou de governo; enfrentando as complexidades éticas de ser
“historiador caseiro” que, todavia, está indo para dar as cartas, como a evidência ordena;
estas são tarefas que estudantes pós-graduados em História no passado nunca foram cha-
mados a assumir. Com tudo isso, no entanto, parece que vem um sentido de orgulho e
realização que traz uma atmosfera refrescante e um espírito otimista numa situação em
que, em anos recentes, tornou-se um espírito de depressão e de perda de propósitos. O
último dividendo, para o pessoal docente envolvido, está em trabalhar com tais estudan-
tes. Neste ponto, portanto, a História Pública pareceu-nos uma empresa bem merecedora
do pesado compromisso de tempo e energia que ela requer. É um empreendimento com

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História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666

muitos riscos, até agora tanto para professores como estudantes, e sua potencialidade faz
disso um encargo que é de longe preferível a ir como nós estávamos antes.

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