Texto 4 - ROBERT Kelley
Texto 4 - ROBERT Kelley
Texto 4 - ROBERT Kelley
Robert Kelley1
1
Historiador do Departamento de História na Universidade da California, campus de Santa Barbara. Espe-
cialista em História do Meio Ambiente, em especial a processos técnicos de implantação de sistemas de
águas e esgotos. Foi consultor de agências governamentais nos Estados Unidos sobre este tema.
2
Abreviatura de White, Anglo-Saxon e Protestant [branco, anglo-saxão e protestante]. Tem sentido pejora-
tivo, designando um grupo relativamente homogêneo de indivíduos de religião protestante
1
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
Esta é uma concepção errônea fundamental que precisa ser varrida. O método his-
tórico de análise não é relevante simplesmente para o destino de nações, ou para proble-
mas de guerra e paz. Ele é essencial a cada tipo de situação prática imediata. Um júri que
é solicitado a considerar o alinhamento de barreiras para controle de fluxo [de água] pa-
recerá cheio de dúvidas e não-convencido quando dito apenas das características de vazão
e teorias de engenharia. Quando ajudado a ver o sistema como produto final de gerações
de decisões acumuladas, vazão a vazão, elaborado por tentativa e erro, e a atual experi-
ência, assim como à luz de princípios de engenharia, as incertezas do júri desaparecem e
o julgamento correto torna-se claro. O Conselho da cidade, que conhece uma parte de sua
comunidade, principalmente como um problema de segurança para engenheiros (desde
que as construções são velhas) e para a polícia (desde que os bêbados devem ser protegi-
dos regularmente), e para o coletor (desde que suas receitas fiscais estão caindo), o Con-
selho pensa [a cidade] em termos de escavadeiras e bolas de demolição. Quando convi-
dado a ver a comunidade como vizinhança com fundas raízes no tempo e uma caracterís-
tica histórica que, se preservada ou restaurada, alcançará o sentido da cidade sobre si
e ascendência britânica que, supostamente, detêm enorme poder econômico, político e social. Costuma
ser empregada para indicar desaprovação ao poder excessivo de que esse grupo gozaria na sociedade
norte-americana.
2
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
mesma, este mesmo Conselho mudará seus planos e começará a pensar em uma “velha
cidade”, alteração de fachadas e revitalização.
Uma legislatura de Estado debruça-se sobre revisar um sistema de serviço civil
que procederá confiante, [tendo] em mente inovações maiores, até aprender, por meio de
um estudo histórico, que em tempos remotos perdidos na memória estas inovações foram
escolhidas e eram carentes. Uma empresa que está crescendo rapidamente, precisa de um
historiador para explicar a origem e o propósito das políticas existentes. Desde que a co-
munidade empresarial deve agora prestar muita atenção a seus entornos sociais, é preciso
historiadores em escritórios de negócios públicos para explicar por que a Georgia é do
modo que é, ou como californianos responderam a assuntos particulares no passado e
responderão provavelmente no futuro. Uma cidade rumando para um litígio com o distrito
de irrigação circundante sobre os direitos da água deve perguntar-se, em especial, uma
questão essencialmente histórica e não legal: como os direitos da água se originaram e
evoluíram?
Nestes exemplos, reside outra definição de história pública. A questão significa-
tiva de discriminar entre o tipo de história a que nós estamos acostumados e história pú-
blica é a seguinte: quem está colocando a questão para a qual o historiador é procurado
para dar uma resposta? Na história acadêmica, nós administramos a necessidade humana
generalizada de compreender seu passado e difundir esta compreensão, por meios de es-
colaridade formal, a cada geração. Pesquisadores, estimulados por seus interesses inte-
lectuais particulares, e por seu senso de onde o conhecimento histórico do passado é in-
completo ou impreciso, persegue individualmente linhas escolhidas de investigação.
Agências de fomento podem dar ou retirar fundos de apoio em ajuda do projeto, mas a
escolha inicial do tópico encontra-se com o pesquisador.
Na história pública, o historiador responde questões postas por outros. Ele serve
como um consultor, um profissional, um membro de uma equipe. Existem épocas quando
interesses intelectuais de historiadores acadêmicos e as necessidades do público fluem
naturalmente juntos. Em tais situações, o historiador é chamado para fornecer informação
de uma já adquirida expertise. O Congresso [Americano] desenvolve um renovado inte-
resse em planejamento nacional, e ele notifica o principal historiador expert em história
deste processo para as audiências do comitê [de planejamento]. Ou, face eventualmente
a perspectiva de iniciar procedimento de impeachment, ele forma um grupo de
3
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
NOVAS DIREÇÕES
4
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
lançar programas semelhantes. Logo americanos cresceriam treinados para a visão dos
historiadores no trabalho em processos de tomada de decisões como historiadores, tra-
zendo seu particular método de análise e explanação para se conectar com pontos em
voga, assim como administradores públicos, economistas, engenheiros, procuradores, e
outros profissionais trouxeram sua expertise para fazer políticas e que estão agora esta-
belecidos neste processo.
Isso teria, claro, o resultado de expandir grandemente o emprego profissional para
historiadores, um objetivo bem digno de se alcançar. Há grande número de jovens pessoas
que desfrutariam história e que ficariam felizes de praticar isto profissionalmente. Manter
vivo o estudo pós-graduado assegurando que departamentos de história continuarão a ser
lugares de vitalidade intelectual. Isto, a seu turno, estimulará o ensino, e também o em-
preendimento mais amplo de intelectuais históricos. Há, no entanto, um mais largo pro-
pósito a ser servido por este empreendimento. No presente, pessoas em posições de res-
ponsabilidade não pensam historicamente, embora eles gostem de pensar que eles pen-
sam. Eles pensam, ao contrário, em termos de contextos imediatos. A rotatividade em
posições executivas é sempre rápida, legisladores vêm e vão, e poucos têm mais do que
um escasso entendimento de como coisas chegaram a ser do modo que elas são, o que
conduz a políticas particulares, que têm sido tentadas e encontradas, e quando a roda está
sendo reinventada. Se, ao enviar jovens pessoas para fazer carreiras em história pública,
nós vagarosamente mudamos esta situação, à medida que o método histórico de análise
torne-se um elemento integral em toda tomada de decisão, nós deveremos ter feito uma
contribuição significativa à vida americana. Políticas historicamente fundamentadas, em
pequenos e largos conjuntos, não podem evitar ajudar a ser mais vibrantes em concepção,
e elas são provavelmente mais efetivas, consistentes e, espera-se, mais alinhadas com a
realidade humana. Num longo trajeto, elas deveriam ser menos dispendiosas para admi-
nistrar. Este é um grande ideal, e quem pode dizer que nós devemos sempre perceber isto?
Isto não é maior, porém, do que a crença de que reforçar nosso ensino - a que nós somos
convencidos, por outros processos, que nós não podemos concretamente descrever - a
cidadãos mais humanos e informados, e, portanto, uma sociedade mais civilizada. Todo
empreendimento profissional deve ter um abrangente propósito social, mesmo que este
propósito possa iludir-nos e ser preenchido com erro e incapacidade humana. Transformar
e oferecer o processo público pela sociedade americana, trazendo a consciência histórica
5
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
dentro de uma função de trabalho na condução diária dos negócios, é um propósito hono-
rável em caráter e elegante em suas dimensões.
EXEMPLOS
6
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
3
Em 1978, um empresário de Los Angeles liderou um campanha para aprovar a Proposta 13, uma medida
eleitoral que limitava os impostos sobre a propriedade na Califórnia, inspirando uma revolta fiscal no
país.
7
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
que são essenciais em organizações de todo tipo. Eles deveriam pensar-se, Brunner ob-
serva, como especialistas em administração de informações. Sob os auspícios do Pro-
grama Pós-Graduado de Estudos sobre História Pública aqui em UCSB (e com o fundo
NEH)4, nós temos tomado uma série de conferências, a mais recente delas com um grupo
de executivos de negócios. Destas pessoas nós aprendemos que o conceito de Brunner é
bastante eloquente. Uma sala inteira de executivos corporativos, representando firmas
como Dow Cornings, Dataproducts, Hewlett Packard, Banco da América e Banco Inte-
ramericano, informaram-nos que o mercado de serviços de informação está explodindo,
que especialistas em gestão de informação estão muito em demanda.
O que corporações cada vez mais precisam em suas equipes, eles dizem-nos, são
analistas e planejadores. Isto é, eles necessitam de pessoas que tenham as habilidades e
qualidades que historiadores tradicionalmente desenvolvem: comunicação narrativa em
forma concisa clara; um apetite de pesquisa extenso; um interesse em resolver problemas;
e o poder de conceptualização. Pessoas são importantes para alargar organizações que são
boas para apresentar coisas, aprender rápido, capturar rapidamente as ideias, ter um amplo
corpo de conhecimento geral para recuperar, entender trabalhos da sociedade mais ampla,
e que podem ligar coisas. As “habilidades para negócios” estritas que tais pessoas preci-
sam adquirir são relativamente simples, relacionados a leitura de alvos e programação.
Nós antecipamos, portanto, que estudantes pós-graduados em História Pública se
moverão dentro de posições na comunidade em geral, seja em níveis governamentais ou
negócios corporativos, nem tanto como “historiadores” a preencher um posto especifica-
mente designado, mas como planejadores, analistas, gestores de fluxos internos de infor-
mações, diretores de negócios públicos, funcionários em empresas privadas, assistentes
para administradores e similares. A variedade de tais posições abertas a eles, tocando em
mídias e em tais campos imensos como administração médica, é impossível listar de al-
guma maneira compreensiva. Certamente, o rápido crescimento da profissão de gestão de
recursos culturais, envolvendo preservação histórica, museus e outras, continuará a for-
necer um grande cenário de emprego para profissionais historiadores, neste caso alguém
onde a pesquisa e a escrita históricas estiverem no centro do empreendimento. Onde quer
4
National Endowment for Humanities [Fomento Nacional para Humanidades] apoia pesquisa,
educação, preservação e programas públicos em Humanidades.
8
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
que estejam localizados, historiadores treinados com a História Pública ideal – que o mé-
todo histórico é singularmente valioso em resolver problemas e elaborar políticas – ser-
virão como missionários para este conceito, e colocarão isto para usar a cada oportuni-
dade. A tática fabiana de permissão, em resumo, fornece o modelo que a profissão histó-
rica deveria seguir como procura, em nossa própria época, a começar a alargar seu papel
na vida nacional.
9
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
muitas maneiras nas quais historiadores podem ser empregados, fora da academia, e lhes
deu conhecimento pessoal e a expectativa de assistência futura com a profissão.
Em nosso planejamento do programa, nós falávamos com historiadores já empre-
gados em lugares públicos. Nós aprendemos que estudantes precisam trabalhar em situa-
ções de equipe, o que é o contrário da atividade profissional entre historiadores acadêmi-
cos, e eles necessitam usar o conceito de pesquisa orientada por uma missão. Em lugares
públicos, normalmente, eles estarão envolvidos em ajudar suas organizações atingirem
seus objetivos, e as questões por eles respondidas para explorar – como antes observado
– não serão como entre historiadores acadêmicos, levantadas simplesmente fora de seus
interesses próprios. Para adquirir experiência direta neste tipo de equipe, a pesquisa ori-
entada por missão, o seminário central foca sobre o problema de questões atuais para a
cidade de Santa Bárbara. Os estudantes são questionados conjuntamente para pesquisar e
escrever um estudo histórico de algum problema, de tamanho de livro, que é então posto
a ser usado para o planejamento e operações pela cidade. Durante este processo, eles
aprendem a como fazer pesquisa centrada na comunidade (embora recursos de biblioteca,
quando disponíveis, também são usados). Eles aprendem onde as fontes documentárias
na cidade estão para ser encontradas: em escritórios de voto, arquivos de agrimensores,
registros de tribunal, registros de impostos, arquivos de jornal, atas do conselho da cidade,
casas particulares, subsolos, sótãos empoeirados e memórias particulares – apenas para
começar a lista. Eles também aprendem como trabalhar com várias mídias, incluindo te-
levisão, para transmitir ao público o que é aprendido, e eles recebem instruções do que é
a principal habilidade do historiador, extraindo notas de pesquisa numa prova narrativa.
Enquanto isso, os estudantes do programa estão envolvidos em outras atividades também:
fazendo conferências também dentro do programa; e adquirindo tais competências práti-
cas como a escrita de aplicações concedidas. Também, durante o primeiro quarto do
curso, os estudantes matriculam-se em seminário sobre a história e a natureza do plane-
jamento, e outros no uso de ciência social, métodos quantitativos em pesquisa histórica.
Por estas experiências diversas em grupos, um forte senso de comunidade se de-
senvolve em cada classe de estudantes pós-graduados no Programa, que grandemente
melhora e intensifica cada atividade de aprendizagem. De um modo negado aos tradicio-
nais estudantes pós-graduados, que se espelham muito em seus seminários e trabalham
individualmente em suas pesquisas, os estudantes do programa de História Pública
10
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
11
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
5
Master of Arts [M.A], que quer dizer mestre de artes, ou mestrado em artes, é um grau acadêmico de pós-
graduação de mestre concedido por universidades em um grande número de países, inclusive Estados
Unidos.
12
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
promessa de tais posições quando o M.A for completado. Um estudante está indo para os
estudos doutorais na história da gestão dos recursos urbanos em outra universidade; outro
foi para uma escola pós-graduada de negócios para ter um segundo M.A; um terceiro está
se preparando para formar uma companhia privada para fazer estudos de impacto ambi-
ental; um quarto está se preparando para trabalhar para o estado em preservação histórica;
e um quinto está agora decidido, em vista de sua atividade no estágio, em prosseguir além
no programa para o doutorado. A segunda turma, agora mesmo preparando a partida para
ir para estágio em São Francisco (uma fundação privada), Kansas City (Departamento de
Trabalhos Públicos), Los Angeles (uma empresa privada) e outros envolvidos no Serviço
de Floresta dos Estados Unidos, a Universidade da California, uma organização de pes-
quisa privadamente custeada, a pesquisa federal Registro histórico da Engenharia Ame-
ricana, entre outros.
O programa é consideravelmente mais árduo, tanto para o corpo docente como
para os estudantes, do que o currículo tradicional. Os estudantes têm de trabalhar num
ritmo cansativo adquirindo habilidades muito mais variadas e novas do que aquelas nor-
malmente envolvidas em estudos pós-graduados. Aprendendo a como fazer pesquisa his-
tórica centrada na comunidade; adquirindo um controle de técnicas de história oral e de
habilidades de mídia; se aventurando em cursos de Administração Pública e outros em
Economia; desenvolvendo a habilidade para programas de computador, dividir tarefas de
pesquisa, e escrever narrativas históricas e peças de análise criadas coletivamente; estu-
dando a história de planejamento; colocando-se em conferências; trabalhando em uma
agência privada ou pública como um estagiário que está realizando análise histórica em
documentos de corporação ou de governo; enfrentando as complexidades éticas de ser
“historiador caseiro” que, todavia, está indo para dar as cartas, como a evidência ordena;
estas são tarefas que estudantes pós-graduados em História no passado nunca foram cha-
mados a assumir. Com tudo isso, no entanto, parece que vem um sentido de orgulho e
realização que traz uma atmosfera refrescante e um espírito otimista numa situação em
que, em anos recentes, tornou-se um espírito de depressão e de perda de propósitos. O
último dividendo, para o pessoal docente envolvido, está em trabalhar com tais estudan-
tes. Neste ponto, portanto, a História Pública pareceu-nos uma empresa bem merecedora
do pesado compromisso de tempo e energia que ela requer. É um empreendimento com
13
História Pública, suas origens, natureza e perspectivas
Robert Kelley – THE PUBLIC HISTORIAN, v.1, n.1, 1978, p.16-28
DOI102307/3377666
muitos riscos, até agora tanto para professores como estudantes, e sua potencialidade faz
disso um encargo que é de longe preferível a ir como nós estávamos antes.
14