REIS, José Carlos - A História Entre A Filosofia e A Ciência. 2006

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REIS, Jos Carlos. A Histria, entre a Filosofia e a Cincia. Belo Horizonte: Autntica, 2006.

1 HISTRIA CIENTFICA a histria cientfica buscar diferenciar as duas dimenses objetivas do tempo, passado e presente, e tender a no profetizar sobre o futuro. Como conhecimento das diferenas humanas, a histria cientfica dar nfase ao evento: irrepetvel, singular, individual, com seu valor intrnseco, nico (p.8).

PRINCPIO

DA

OBERSVAO

POSSIBILIDADE

DE

UMA

UNIVERSALIDADE EPISTEMOLGICA O princpio da observao constitui a distino essencial entre a abordagem cientfica da histria e a abordagem filosfica. Ao abandonar a influncia da filosofia e pretender assumir uma forma cientfica, o conhecimento histrico aspira objetividade. A questo que se pe, ento, no a da universalidade ontolgica da histria-objeto, mas a da possibilidade de se chegar a uma universalidade epistemolgica (p.10). 2.1 TODAVIA ESSA POSSIBILIDADE EPISTEMOLGICA NO PODE DISSOCIAR O SUJEITO DO OBJETO, EMBORA NO SE POSSA FALAR EM TERMOS DE IDENTIDADE, DA O CONFLITO CONTNUO DA NEUTRALIDADE AXIOLGICA DO HISTORICISMO E SUA CARGA WEBERIANA. 2.2 HISTORICISMO COMO PONTO COMUM DAS TENDNCIAS DE CONSTRUO CIENTFICA DA HISTRIA a recusa explcita da filosofia da histria, a tentativa de dar um estatuto cientfico histria, o esforo de objetividade e a valorizao do evento, percebido diferentemente por cada um. So posies historicistas no sentido amplo do termo, isto , que recusam o absoluto da razo intemporal e a submetem s condies histricas objetivas (p.13).

CAPTULO 1 PRINCPIOS DA ESCOLA METDICA, DITA POSITIVISTA

1 FUNO DO HISTORIADOR A funo do historiador seria a de recuperar os eventos, suas interconexes e suas tendncias atravs da documentao e fazer-lhes a narrativa. Essas tendncias, esse trabalho da histria, podiam ser vistos no Estado e em suas atividades a histria se limitaria a documentos escritos e oficiais de eventos polticos (p.16-17). 1.1 PRINCPIOS DE MTODO a) o historiador no juiz do passado, no deve instruir os contemporneos, mas apenas dar conta do que realmente se passou (p.17); b) o historiador seria capaz de escapar a todo condicionamento social, cultural, religioso, filosfico etc. em sua relao com o objeto, procurando neutralidade (p.17); c) a histria resgate atravs de documentos; d) a tarefa do historiador consiste em reunir um nmero significativo de fatos; e) os fatos extrados dos documentos rigorosamente criticados, devem ser organizados em uma sequncia cronolgica, na ordem de uma narrativa (p.17); f) a histria-cincia pode atingir a objetividade e conhecer a verdade histrica objetiva, se o historiador observar as recomendaes anteriores (p.17). 1.2 EXTERNALIDADE DOS FATOS HISTRICOS A histria cientfica, portanto, seria produzida por um sujeito que se neutraliza enquanto sujeito para fazer aparecer o seu objeto. Ele evitar a construo de hipteses, procurar manter a neutralidade axiolgica e epistemolgica, isto , no julgar e no problematizar o real. Os fatos falam por si e o que pensa o historiador a seu respeito irrelevante (p.18).

2 ESPRITO POSITIVO FRANCS apego ao documento, o esforo obsessivo em separar o falso do verdadeiro; o medo de se enganar sobre as fontes; a dvida metdica, que muitas vezes se toma e impede a interpretao; o culto do fato histrico, que dado, bruto, nos documentos (p.23).

PORQUE

REIS

NO

CONSIDERA

POSITIVISTA,

MAS

APENAS

TENDENCIALMENTE No positivo no sentido de Comte, pois no fala de leis da histria e no procura o seu sentido pelo menos, no explicitamente. Seu mtodo positivo no exclui hipteses, desde que essa surja das fontes histricas criticamente constatadas (p.25).

3.1 SO HISTORIADORES POSITIVOS apiam-se em fatos, na experincia, em noes a posteriori; temem a no-objetividade e tendem ao concreto, evitando a especulao; tm uma viso otimista, progressista da histria (p.27). 3.2 Ao contrrio de Augusto Comte, as leis histricas so banidas e o verdadeiro historiador procura saber como as coisas realmente se passaram (p.27). 3.3 O CARTER POSITIVO DA HISTRIA-CINCIA ESTARIA EM: a) o seu modelo de conhecimento objetivo, as cincias naturais (p.28); b) o seu ideal de conhecimento verdadeiro (p.28); c) a sua herana: a crtica textual e a sua exigncia de rigor, de dvida, de certeza, de verdade (p.28).

4 EM RESUMO Ao historiador no competiria o trabalho da problematizao, da construo de hipteses, da reabertura do passado e da releitura de seus fatos. Ele reconstituiria o passado minuciosamente, por uma descrio definitiva. Tratados dessa maneira, os fatos histricos se tornariam verdadeiros seres, substncias, objetos que se pode admirar do exterior, copiar, contemplar, imitar, mas jamais desmontar, remontar, alterar, reinterpretar, rever, problematizar, reabrir (p.29).

CAPTULO 4 O PROGRAMA (PARADIGMA?) DOS ANNALES

1 OS ANNALES PRODRUZIRAM UMA MUDANA SUBSTANCIAL NO FAZER HISTRIA os Annales produziram uma descontinuidade, realizaram uma mudana substancial, porque apresentaram, sob o signo das cincias sociais, outra concepo do tempo histrico, outra noo de durao e de conhecimento da durao (p.75).

2 PROGRAMA DOS ANNALES Essa fidelidade [da primeira para a terceira gerao] no se traduziu em uma repetio, mas na renovao constante da pesquisa e na abertura da histria s necessidades do presente. O programa proposto pelos fundadores consistia fundamentalmente no seguinte: a interdisciplinaridade, a mudana dos objetos de pesquisa, que passavam a ser as estruturas econmico-social-mental, a

mudana na estrutura da explicao-compreenso em histria, a mudana no conceito de fonte histrica e, sobretudo, embasando todas as propostas anteriores, a mudana do conceito de tempo histrico, que agora consiste, fundamentalmente, na superao estrutural do evento (p.77-78).

3 A mudana fundamental que os Annales produziram foi a adeso ao ponto de vista das cincias sociais (p.78). 3.1 OBJETIVO DA ASSOCIAO S CINCIAS SOCIAIS adotar o seu ponto de vista, emprestar-lhes objetos, instrumentos, mtodos e oferecer-lhes a dimenso do tempo, que limita a validade de seus modelos e dos resultados de suas pesquisas pelo estabelecimento da durao de seus objetos e saberes (p.79).

4 REIVINDICAES DOS ANNALES os condicionamentos econmico-sociais das aes e das decises individuais; a sociedade global e as massas; as condies materiais e no os projetos ideolgicos, que ela tratar pela quantificao serial; a comparao, a anlise conceitual e a neutralidade ideolgica, bem como a longa durao e a pluralidade dos tempos. A histria visar aquilo que os homens no sabem que fazem, e no mais a seus planos declarados, a suas causas edificantes, as suas crenas libertrias (p.84-85).

CONCLUSO DA OBRA 1 LEGITIMIDADE DA HISTRIA a) porque a marca principal da civilizao ocidental; se se tira a histria da civilizao ocidental, essa seria outra, o que nos faz pensar que esse conhecimento age sobre os fundamentos mesmo da estrutura mental ocidental; b) o conhecimento histrico um prazer, o prazer do conhecimento do outro; c) o conhecimento histrico tem uma legitimidade intelectual: interessa ao homo sapiens, que quer se conhecer e se reconhecer, e quer conhecer por conhecer o que o rodeia a ele mesmo (p.109); d) o conhecimento histrico possui uma legitimidade social, til porque pe em contato os homens do presente com os do passado (p.110).

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