Dinoflagelado

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Acta bot. bras. 21(2): 411-419.

2007

Dinoflagelados em diversos habitats e hidroperíodos na


zona costeira do sul do Brasil
Luciana de Souza Cardoso1,3 e Lezilda Carvalho Torgan2

Recebido em 5/05/2005. Aceito em 27/10/2006

RESUMO – (Dinoflagelados em diversos habitats e hidroperíodos na zona costeira do sul do Brasil). Informações sobre a riqueza,
densidade, diversidade e distribuição de dinoflagelados em habitats aquáticos (lagoas abertas e fechadas, canais, açudes e áreas úmidas),
em relação aos períodos de águas altas e baixas, são apresentadas. O estudo baseou-se em amostragens realizadas em 23 pontos,
localizados nas margens leste (área da Lagoa do Casamento) e oeste (área do Butiazal de Tapes) da laguna dos Patos, no ano de 2003.
Foram identificados 11 táxons, cuja distribuição teve maior homogeneidade no período de águas altas. Durinskia baltica (Levander)
Carty & Cox foi o único táxon cuja distribuição não se alterou pelo hidroperíodo. Peridinium gatunense Nygaard foi uma espécie
indicadora de águas altas e P. umbonatum Stein foi indicadora de habitats associados à área do Butiazal de Tapes. Esta área mostrou ter
mais alta diversidade de Dinophyceae em relação à área da Lagoa do Casamento, independente do hidroperíodo, refletindo a maior
diversidade e especificidade de habitats aquáticos. O tipo de habitat influenciou significativamente (p<0,01) a riqueza, densidade e
diversidade de dinoflagelados, e a densidade foi significativamente (p<0,01) influenciada pelo hidroperíodo. A análise de agrupamento
mostrou que pH e temperatura da água foram as variáveis abióticas que mais influências tiveram sobre a estrutura da comunidade de
dinoflagelados neste estudo.

Palavras-chave: Dinophyceae, ecologia, água doce, zona subtropical

ABSTRACT – (Dinoflagellates in different habitats and hydroperiods on the coast of southern Brazil) Data on richness, density,
diversity and distribution of dinoflagellates in aquatic habitats (open and closed lagoons, channels, reservoirs and wetlands) during high
and low water periods are presented. The study was based on 23 point samples, located on the eastern (Lagoa do Casamento area) and
western (Butiazal de Tapes area) shores of Laguna dos Patos, in 2003. Eleven taxa were identified; taxon distribution was more
homogeneous during the high-water period. Durinskia baltica (Levander) Carty & Cox was the only taxon whose distribution was the
same for both hydroperiods. Peridinium gatunense Nygaard was a high-water indicator species and P. umbonatum Stein was an indicator
of habitats associated with the Butiazal de Tapes area. This area had higher Dinophyceae diversity than the Lagoa do Casamento area,
regardless of hydroperiod, due to the higher diversity and specificity of aquatic habitats. Habitat type significantly (p <0.01) influenced
richness, density and diversity of dinoflagellates, and density was significantly influenced (p <0.01) by hydroperiod. Cluster analysis
showed that pH and water temperature were the abiotic variables that had greater influence on the dinoflagellate populations in this
study.

Key words: Dinophyceae, ecology, freshwater, subtropical zone

Introdução dinoflagelados mais bem conhecidos ecologicamente


são as espécies de Peridinium e Ceratium (Pollingher
Dinoflagelados de água doce compreendem 2.000 1988).
espécies atuais, pertencentes a aproximadamente 130 Ceratium, Peridinium e Peridiniopsis são
gêneros (Taylor 1987). Apesar da importância de aparentemente cosmopolitas; preferem águas duras
Dinophyta em muitas águas doces, muito pouco é com alta concentração de cálcio e toleram uma ampla
conhecido sobre os fatores que influenciam sua variação de condições ambientais. Muitos dinofla-
ocorrência (Grigorszky et al. 2003a). São organismos gelados são encontrados em corpos d’água bem
unicelulares com ciclo de vida que permite habitar, oxigenados, pois evitam sistemas eutróficos que sofrem
alternativamente, o plâncton (como células vegetativas depreciação periódica de oxigênio. Por esta razão eles
móveis) e o bento (como cistos imóveis). Os não são encontrados em tanques supridos com água

1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências, Departamento de Botânica, Av. Bento Gonçalves 9500, Prédio 43433,
Bairro Agronomia, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil
2
Museu de Ciências Naturais, Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Rua Dr. Salvador França 1427, Bairro Jardim Botânico, 90690-000
Porto Alegre, RS, Brasil ([email protected])
3
Autor para correspondência: [email protected]

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residuária (Pollingher 1988). Entretanto, relações entre águas altas (nível de água médio de 1,43 m), na estação
a importância de táxons de Dinophyta e estado trófico de outono (maio e junho/2003), e período de águas
têm sido controvérsias (Grigorszky et al. 2003a). Em baixas (nível de água médio de 1,07 m), na estação de
regiões subtropicais, luz não é um fator limitante, pois primavera (outubro a dezembro/2003).
está disponível ao longo do ano. Nestas regiões, a As amostragens em zonas pelágicas (em nove
sucessão sazonal é fortemente influenciada por ventos pontos, Tab. 1) foram realizadas com o uso de moto-
e chuvas (Pollingher 1986). bomba (Sthil P835), onde um volume de 200 ou 300 L
O conhecimento sobre a diversidade de foi concentrado em rede com malha de 25 µm. As
dinoflagelados de águas continentais no Brasil é limitado amostras em zonas litorâneas (em 15 pontos, Tab. 1)
(Rocha 2000). No Rio Grande do Sul, apenas oito foram obtidas com rede de arraste superficial e através
táxons foram registrados em águas dulciaquícolas de espremido de macrófitas aquáticas. O material foi
(Torgan et al. 2003). Rosa et al. (1987) mencionaram fixado com formol 4%.
a ocorrência de Peridinium gatunense Nygaard em As espécies foram identificadas de acordo com
açudes da região do curso inferior do rio Jacuí; Grigorszky et al. (2003b), Popovsky (1970; 1983)
Franceschini (1992) a presença de Peridinium volzii Popovsky & Pfiester (1986; 1990) e Thompson (1950).
Lemmermann e Peridiniopsis oculatum (Stein) Alguns organismos foram identificados em nível
Bourrelly no lago Guaíba e lagos artificiais de Porto genérico e outros em conferatur, devido a carência
Alegre; Garcia & Vélez (1995) citam Peridinium de estudos taxonômicos sobre Dinophyceae em águas
umbonatum Stein para lagoa costeira de Emboaba; e continentais brasileiras.
Torgan et al. (2003) registrou Gymnodinium
aeruginosum Stein, G. incoloratum Conrad &
Kufferath, G. latum Skuja e Peridinium achromaticum
Levander para a laguna dos Patos. O conhecimento
da variação de atributos da comunidade em distintos
habitats aquáticos da Planície Costeira era inexistente.
O presente trabalho teve por objetivo avaliar a
riqueza, diversidade, distribuição e variação da
densidade de dinoflagelados, levando em consideração
os distintos habitats aquáticos do litoral médio do Rio
Grande do Sul e o hidroperíodo, bem como identificar
espécies indicadoras desta variação espacial e
temporal.

Material e métodos

O estudo baseou-se em amostragens realizadas


em habitats aquáticos localizados nas margens leste
(área da Lagoa do Casamento) e oeste (área do
Butiazal de Tapes) da laguna dos Patos, entre as
coordenadas 30º40’S-30º10’S e 50º30’W-51º30’W
(Fig. 1). Foram selecionados 23 pontos de amostragem
(alguns locais com dois pontos de amostragem A e B).
Na área da Lagoa do Casamento (LC), os tipos de
habitats selecionados foram três lagoas abertas (P3,
P4, P7-P9, P11-P12), dois banhados (P1-P2, P5-P6) e
um canal (P10). Na área do Butiazal de Tapes, os tipos
de habitats selecionados foram quatro lagoas fechadas
(P13-P14, P16-P17, P19, P21), um açude (P15) e dois Figura 1. Localização dos pontos de amostragem nas respectivas
banhados (P18, P20). Estes ambientes foram áreas de estudo (Lagoa do Casamento - LC e Butiazal de Tapes -
amostrados, no turno da manhã, durante o período de BT), na região do litoral médio do Rio Grande do Sul.

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Tabela 1. Dinophyceae ocorrentes nos habitats aquáticos associados à Lagoa do Casamento e ao Butiazal de Tapes, durante o hidroperíodo
de águas altas (A) e baixas (B) (P= pelágica; L= litorânea).

Áreas Lagoa do Casamento Butiazal de Tapes

P11-P12

P12-P13

P16-P17
P7- P9
P1-P2

P5-P6

P10

P15

P18

P19

P20

P21
P3

P4
Pontos de amostragem

Lagoa fechada
Lagoa fechada
Lagoa fechada

Lagoa fechada

Lagoa fechada
Lagoa aberta

Lagoa aberta

Lagoa aberta

Lagoa aberta
Banhado

Banhado

Banhado

Banhado
Canal
Habitat aquático
Zonas L P P L L/P L L/P L/P L L/P L L L L/P

Táxons Hidroperíodo
Durinskia baltica (Levander) Carly & Cox B A A,B A,B A A,B A,B A B B A A,B A,B
Gymnodinium sp. B
cf. Gymnodinium B B
Katodinium sp. B B
Peridinum willei Huitfeld-Kaas A A,B A A,B
Peridinum cf. lomnickii Wolozynska A A A A,B A A A B A,B
Peridinum gatunense Nygaard A A A A A A A A A,B A,B
Peridinum umbonatum Stein A A,B A B A,B B
cf. Peridinum B
Thompson intermedium (Thompson) B A B B
Bourrelly
Woloszynskia neglecta (Scilling) Thompson A,B A,B B A A A,B A,B A

A quantificação dos organismos foi efetuada estudadas e hidroperíodos. ANOVA foi empregada
segundo método de Utermöhl (1958), em câmaras de para verificar a significância da variação da distribuição
sedimentação e microscópio invertido (Olympus IX70) dos dados usados na análise descritiva, bem como a
somente para amostras coletadas em zonas pelágicas. correlação entre os mesmos. Análise de agrupamento
O volume de material analisado variou de 1 mL a foi utilizada para verificar a similaridade entre as
32 mL, para atingir uma eficiência amostral mínima unidades amostrais (habitats e hidroperíodos) em relação
de 80% (Papas & Stoermer 1996). A densidade foi aos dados de densidade das espécies. Análise de
estimada em cél.L-1, de acordo com APHA (1992). espécie indicadora (Dufrêne & Legendre 1997) foi
Adotou-se o critério proposto por Lobo & Leighton realizada com o intuito de determinar as espécies que
(1986) para abundância e dominância das espécies em mostraram alta especificidade de habitat.
cada amostra. A riqueza de espécies foi verificada pelo Análise descritiva, de variância (ANOVA) e de
número de táxons presentes em cada amostra e a correlação r-Pearson (p<0,05) foram realizadas com
diversidade específica pelo índice de Shannon-Wiener o programa Statistica® (Statsoft Inc. 1996), enquanto
(Shannon & Weaver 1949 apud Krebs 1978). que, análises de agrupamento (técnica de ligação
O tratamento estatístico dos dados foi efetuado simples e distância euclidiana) e de espécie indicadora
somente para amostras quantificadas (Tab. 2) através foram efetuadas com o programa PC-ORD®
de análise descritiva, ANOVA bi-fatorial, análise de (MacCune & Mefford 1995).
correlação (r-Pearson, p<0,05) e análise de
agrupamento (técnica de ligação simples e distância Resultados
euclidiana). Dados de densidade das espécies foram
transformados (log x+1) antes de processar as análises. Riqueza – A riqueza de dinoflagelados nas áreas de
Análise descritiva foi utilizada para verificar a estudo foi baixa, um total de 11 táxons foram
distribuição dos dados de riqueza, diversidade e registrados (Tab. 1; Fig. 2-18). Em águas continentais
densidade em relação aos tipos de habitats, áreas dulceaquícolas geralmente esse grupo apresenta baixa

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Com relação a análise quantitativa (Tab. 2), os


resultados da ANOVA demonstraram que o tipo de
habitat influenciou significativamente (p < 0,01) a
riqueza, onde a média mais elevada ocorreu no canal
2 3 4 5 (quatro espécies) e a menor nas lagoas abertas (uma
espécie). Esta variação pode ser bem observada
(Fig. 20A) no gráfico de análise descritiva dos dados,
onde as lagoas fechadas e o canal do Sangradouro
foram os habitats mais ricos em dinoflagelados.
8 10 Densidade – A densidade total de dinoflagelados variou
12
de 0 a 6512 cél L-1, apresentando valores superiores
6 no período de águas baixas (Tab. 2, Fig. 20E). O valor
máximo (6389 cél L-1) foi observado no canal do
Sangradouro (P10), devido a dominância de Durinskia
11 baltica (Levander) Carty & Cox. Densidades
9
7 13 relativamente altas (>58 cél L-1), encontradas nas
lagoas fechadas (P14, P17 e P21) da área do Butiazal
14 de Tapes, foi decorrente da abundância de Peridinium
gatunense Nygaard, no período de águas altas, e
Peridinium umbonatum Stein, no período de águas
baixas. A distribuição e abundância dos mesmos foi
15 16 17 18 tratada anteriormente por Cardoso e Torgan (2005). A
densidade elevada (213 cél L-1), encontrada no período
Figura 2-18. Dinophyceae registradas para os habitats associados de águas baixas na Lagoa das Capivaras (P17), foi
às áreas da Lagoa do Casamento e do Butiazal de Tapes: decorrente da dominância de Woloszynskia neglecta
2. Durinskia baltica (Levander) Carty & Cox. 3. Peridinium
umbonatum Stein. 4-5. Peridinium cf. lomnickii Woloszynska. (Schilling) Thompson. As baixas densidades (0 a
6-7. Peridinium gatunense Nygaard. 8-9. Peridinium willei Huitfeld- 10 cél L -1 ) ocorreram em todos os pontos de
Kaas. 10-11. Thompsodinium intermedium (Thompson) Bourelly. amostragem na área da Lagoa do Casamento, exceto
12. Katodinium sp. 13. cf. Peridinium. 14. cf. Gymnodinium. para o canal do Sangradouro (P10) e Lagoa dos
15-17. Woloszynskia neglecta (Schilling) Thompson.
18. Gymnodinium sp. (Escala = 10 µm exceto 13 = 2,5 µm).
Gateados Sul (P12A e B) no período de águas baixas.
Os resultados da ANOVA demonstraram que a
densidade de dinoflagelados foi significativamente
riqueza, quando comparado com outros grupos de algas, (p<0,01) influenciada pelo hidroperíodo (média mais
associado ao fato que algumas espécies são bastante elevada no período de águas baixas); pelo tipo de
frágeis, sendo eliminadas pela fixação. habitat (canal Sangradouro como o local com maior
A riqueza nas amostragens qualitativas (zonas densidade média); e espaço-temporal pela interação
pelágica e litorânea) variou em relação aos pontos de entre tipo de habitat com hidroperíodo. Estas variâncias
amostragem (Fig. 19; Tab. 1). As lagoas fechadas na podem ser bem observadas nos gráficos de análise
área do Butiazal de Tapes (P13 e P14 - Lagoa do descritiva dos dados (Fig. 20E, 20B, 20F, respecti-
Charutão, P16 e P17 - Lagoa das Capivaras, P19 e P20 vamente).
- lagoa e banhado entre dunas), bem como o canal do Durante o período de águas baixas ocorreu
Sangradouro (P10) e banhado da Fazenda Rincão do correlação significativa (r = 1,00 p < 0,05) entre os
Anastácio (P5 e P6), na área da Lagoa do Casamento, habitats conectados à Lagoa do Casamento (P12, P10
apresentaram maior riqueza de táxons (6 a 8 spp.) em e P4). Este fato esteve relacionado com a dominância
comparação com as lagoas abertas em conexão com a de Durinskia baltica nestes pontos de amostragem
laguna dos Patos (1 a 4 spp.). A riqueza nestas últimas (Tab. 2). Contudo, no período de águas altas, correlação
(P3, P4, P7 a P9B, P11 a P12B) esteve relacionada significativa foi verificada entre os ecossistemas
com o hidroperíodo, observando-se maior número de associados à Lagoa do Casamento (r = 0,82 a 1,00
táxons no período de águas altas (Fig. 19) devido à p<0,05 nos P9, P10, P4 e P3), devido à dominância de
contribuição de águas oriundas da bacia do lago Guaíba. Durinskia baltica e/ou de Peridinium gatunense, e

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Tabela 2. Densidade (cél L-1) e diversidade (bits ind-1) dos táxons de Dinophyceae e variáveis abióticas nos habitats aquáticos dos
ecossistemas associados à Lagoa do Casamento e ao Butiazal de Tapes, durante o hidroperíodo de águas altas e baixas. (SD = sem
dados).

Hidroperíodo Águas Altas


Áreas Lagoa do Casamento Butiazal de Tapes
Pontos de amostragem P3 P4 P9A P9B P10 P12A P12B P14 P17 P21

Durinskia baltica (Levander) Carty & Cox 0,5 3,70 0,20 9,30
Peridinium cf. lomnickii Woloszynska 0,10 10,10 6,10
Peridinium gatunense Nygaard 4,20 0,10 0,20 0,1 98,10 18,90 58,0
Peridinium umbonatum Stein 28,80 1,90
Peridinium willei Huitfeld-Kaas 0,10
Thompsodinium intermedium (Thompson)
Bourrelly
Woloszynskia neglecta (Schilling) Thompson 0,50 0,10 0,40
Densidade total 0,5 7,90 0,30 10,10 0,1 137,20 27,30 58,0
Diversidade 0,0 0,69 0,56 0,36 0,0 0,79 0,84 0,0
Variáveis abióticas
temperatura H2O 20,6 15,90 16,60 16,6 16,20 17,0 17,20 16,90 16,00 17,0
pH 6,7 8,80 6,80 6,8 6,20 6,8 6,80 6,50 6,70 6,7
condutividade (µS cm-1) 107,0 0SD 195,00 171,0 0SD 187,0 187,00 28,30 35,00 25,2
transparência Secchi (cm) 35,0 27,50 25,00 25,0 55,00 30,0 25,00 35,00 180,00 55,0
profundidade coluna d’água (cm) 270 0SD 130 115 280 250 295 115 200 65

Hidroperíodo Águas Baixas


Áreas Lagoa do Casamento Butiazal de Tapes
Pontos de amostragem P3 P4 P9A P9B P10 P12A P12B P14 P17 P21
Durinskia baltica (Levander) Carty & Cox 0,50 6389,3 114,00 368,00
Peridinium cf. lomnickii Woloszynska
P. gatunense Nygaard 6,00
P. umbonatum Stein 102,00 8,00
P. willei Huitfeld-Kaas 96,0
Thompsodinium intermedium (Thompson)
Bourrelly
Woloszynskia neglecta (Schilling) Thompson 26,7 3,00 3,00 213,30
Densidade total 0,50 6512,0 117,00 371,00 102,00 213,30 14,00
Diversidade 0,00 0,1 0,12 0,05 0,50 0,00 0,88
Variáveis abióticas
temperatura H2O 22,4 22,50 20,30 20,3 21,8 20,30 20,40 34,00 25,70 31,20
pH 6,9 6,90 7,20 7,4 6,1 6,90 6,90 6,30 5,60 6,30
condutividade (µS cm-1) 119,0 80,00 230,00 250,0 13,7 116,50 12,60 22,10 12,00 13,30
transparência Secchi (cm) 25,0 30,00 12,50 12,5 50,0 25,00 25,00 0SD 0SD 0SD
profundidade coluna d’água (cm) 200 200 100 60 130 250 275 0SD 0SD 0SD

entre os ecossistemas associados ao Butiazal de Tapes Diversidade – Os valores máximos da diversidade


(r = 0,95 a 0,96 p < 0,05 nos P14, P17 e P21), devido a específica da comunidade de dinoflagelados (Tab. 2;
dominância de Peridinium gatunense. A dominância Fig. 20C) foram registrados nas lagoas fechadas, como
desta última espécie também foi responsável pela alta a Lagoa das Capivaras (P17; 0,84 bits.ind -1), no
correlação (r = 0,95 a 1,00 p < 0,05) entre a Lagoa dos período de águas altas, e Lagoa Redonda (P21;
Gateados Sul (P12) com os ecossistemas associados 0,88 bits ind-1), no período de águas baixas. Valores
ao Butiazal de Tapes (P14, P17 e P21). nulos foram registrados nos pontos de amostragem

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especificidade de habitat ou hidroperíodo. Peridinium


Número de táxons

umbonatum foi uma espécie significativa (p<0,05), cujo


valor indicador foi de 59,4%, especificando os habitats
de lagoas pequenas, rasas, fechadas e isoladas da área
do Butiazal de Tapes. Peridinium gatunense foi outra
espécie significativa (p<0,05) cujo valor indicador foi
de 63,2%, especificando o período de águas altas.

Pontos de amostragem
Discussão
Figura 19. Riqueza de dinoflagelados nos pontos de amostragem
A comunidade de dinoflagelados, neste estudo,
para os períodos de águas altas (A) e baixas (B). ( = A;  = B;
 = Total). apresentou baixa riqueza (11 táxons) e diversidade
(< 1 bits ind-1). Fato este esperado, pois é comum a
ocorrência de poucas espécies deste grupo em águas
onde apenas uma espécie foi registrada, pois a eqüidade dulceaqüícolas. No Estado do Rio de Janeiro, onde um
torna-se também nula. número expressivo de trabalhos sobre a diversidade
Os resultados da ANOVA mostraram que o tipo de algas foi realizado (Menezes & Teixeira Junior 2001)
de habitat e áreas amostradas influenciaram significati- somente 16 táxons infragenéricos foram registrados.
vamente (p<0,01) a diversidade. Com relação ao tipo À semelhança de nosso estudo, Peridinium foi o gênero
de habitat, a diversidade média foi menor nas lagoas mais bem representado em número de táxons.
abertas (0,12 bits ind-1) do que nas lagoas fechadas Segundo Pollingher (1988), Peridinium é um dos
(0,50 bits ind-1). Esta mesma variação foi observada gêneros de dinoflagelados mais bem conhecido, sob o
na análise efetuada para as áreas, visto que, o primeiro ponto de vista taxonômico e ecológico. Popovsky &
tipo de habitat ocorre na área da Lagoa do Casamento Pfiester (1990) descreveram 20 espécies com suas
enquanto que as lagoas fechadas, na área do Butiazal respectivas variedades. Embora P. gatunense e
de Tapes. Estas variâncias podem ser bem observadas P. umbonatum possuam ampla distribuição geográfica,
nos gráficos de análise descritiva dos dados (Fig. existia uma lacuna no conhecimento sobre a
20C-D, respectivamente). distribuição e abundância destas duas espécies na
região subtropical brasileira. As primeiras informações
Similaridade – A análise de agrupamento dos táxons,
sobre a variação espacial e temporal destas espécies
nos pontos de amostragem, evidenciou a ocorrência
encontram-se em Cardoso & Torgan (2005).
de dois grupos com 50% de informação (Fig. 21). O
O cálculo de diversidade em comunidades com
grupo 1 formado pela Lagoa das Capivaras (P17) que
um número reduzido de táxons não contribuiu para uma
diferiu das demais unidades amostrais pela dominância
interpretação da estrutura da mesma, quando
de Woloszynskia neglecta, no período de águas
comparada com outras comunidades com maior
baixas, onde foi registrado o pH mais baixo (5,6)
riqueza de táxons. Uma alta diversidade não representa
(Tab. 2). O grupo 2 foi formado pelas demais unidades
um alto valor ecológico (Dunn 1994), mostrando-se
amostrais, estando estas subdivididas em dois
um critério questionável especialmente quando habitats
subgrupos. O subgrupo 2a, composto pelas lagoas
com diferentes níveis de produtividade são comparados,
abertas e canal na área da Lagoa do Casamento, devido ou quando o número de espécies raras é grande. Neste
a dominância de Durinskia baltica, e onde teve-se o caso, as espécies indicadoras oferecem uma maior
menor registro de temperatura da água (15,9ºC) e contribuição sobre as condições ecológicas.
maior valor de pH (8,8) (Tab. 2). O subgrupo 2b, A novidade da análise de espécie indicadora de
formado preferencialmente pelas lagoas fechadas da Dufrêne & Legendre (1997) é a combinação da
área do Butiazal de Tapes, esteve caracterizado pela abundância relativa de espécies com sua freqüência
dominância de Peridinium gatunense ou P. relativa de ocorrência nos vários grupos de unidades
umbonatum, juntamente com os valores mais elevados amostrais. Espécies indicadoras são definidas como
de temperatura da água (31,2 e 34ºC) (Tab. 2). aquelas mais características de cada grupo,
Espécies indicadoras – A análise de espécie indicadora encontradas, principalmente, em um único grupo e
revelou duas espécies capazes de indicar a presente na maioria das unidades amostrais referentes.

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No presente estudo, duas espécies de Peridinium da água foram as que mais influenciaram na estrutura
destacaram-se como indicadoras de habitats e das populações de dinoflagelados neste estudo. A
hidroperíodo: P. umbonatum em lagoas rasas e variação do pH entre os hidroperíodos foi geralmente
fechadas, enquanto que, P. gatunense durante o baixa no mesmo ambiente, exceto para a Lagoa do
período de águas altas. Estas duas espécies poderão, Casamento (P4) e para a Lagoa das Capivaras (P17).
provavelmente, ser usadas em monitoramentos futuros A temperatura da água foi a variável mais uniforme
da conservação de habitats bem como de mudanças em todos os habitats, com temperaturas mais baixas
climáticas locais. na estação do outono (período de águas altas) do que
A análise de agrupamento mostrou que, dentre as na primavera (período de águas baixas). Em um estudo
seis variáveis abióticas analisadas, pH e temperatura sobre dinoflagelados em 86 corpos de água na Hungria

Figura 20. Riqueza (A), densidade (B) e diversidade (C) em relação aos tipos de habitats (LA= lagoas abertas; C= canal; LF= lagoas
fechadas); diversidade (D) nas áreas estudadas (LC= Lagoa Casamento; BT= Butiazal de Tapes); densidade nos hidroperíodos amostrados
(E) (A- águas altas e B- águas baixas) e na combinação entre tipos de habitats e hidroperíodos (F).

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418 Cardoso & Torgan: Dinoflagelados em diversos habitats e hidroperíodos na zona costeira do sul do Brasil

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tiveram a distribuição ao longo de um gradiente de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do
temperatura (Grigorszky et al. 2003a). Sul 54: 75-114.
A ocorrência de habitats como lagoas pequenas, Grigorszky, I.; Borics, G.; Padisák, J.; Tótmérész, B.; Vasas,
rasas e isoladas entre dunas, na área do Butiazal de G.; Nagy, S. & Borbély, G. 2003a. Factors controlling the
Tapes, contribuiu para o aumento na riqueza dos occurrence of Dinophyta species in Hungary.
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dinoflagelados. Estes habitats, não foram influenciados Grigorszky, I.; Krienitz, L.; Padisák, J.; Borics, G. & Vasas, G.
pelo hidroperíodo. Por outro lado, na área da Lagoa do 2003b. Redefinition of Peridinium lomnickii Woloszynska
Casamento, a conectividade entre as lagoas pode ser (Dinophyta) by scanning electronmicroscopical survey.
considerado um fator determinante na distribuição mais Hydrobiologia 502: 349-355.
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Versão eletrônica do artigo em www.scielo.br/abb

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