Avaliacao Cultivares

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AVALIAÇÃO DE CULTIVARES DE MILHO

NO NORDESTE BRASILEIRO

Hélio Wilson Lemos de Carvalho! ,Manoel Xavier dos Santos' ,


Maria de Lourdes da Silva Leal', Antonio Augusto Teixeira Mouteíro" ,
Benedito Carlos Lemos de Carvalho"

RESUMO - Vinte e três cultivares de milho foram avaliadas em dezenove locais do nordeste
brasileiro, no ano de 1996, em blocos ao acaso com três repetições, visando conhecer o
comportamento desses materiais para fins de recomendação na região. A análise de variância
conjunta mostrou diferenças entre as cultivares, os locais e inconsistência das cultivares frente às
variações ambientais. Os híbridos mostraram melhor comportamento produtivo que as variedades
e populações, destacando-se os Zeneca 8501, BR 3123, Braskalb XL 370, como mais produtivos.
As variedades melhoradas BR 106, BR 5011 e BR 5004, de porte e ciclo normal e as de porte baixo
e ciclo precoce, BR 5028 e BR 5037, mostraram bom potencial para produtividade, justificando as
suas recomendações para exploração na região. A utilização dessas cultivares em substituição às
variedades tradicionais trará mudanças substanciais no rendimento da cultura na região, promovendo
uma renda melhor para o agricultor e uma redução na importação desse produto.

PALAVRAS-CHAVE: interação cultivares x locais, variedades, híbridos, semi-árido.

EVALUATION OF CORN CULTIVARS IN NORTHEAST BRAZIL

ABSTRACT - The behavior oftwenty three com cultivars were evaluated at nineteen environment
of Northeast Brazil in 1996, in order to recommend to the region. Significant differences were
found for cultivars, environments and the interaction environIi1ents x cultivars. Hybrids yielded
higher than varieties, siaríding out Zeneca 8501, BR 3123 and Braskalb XL 370. The normal height
and cycle varieties BR 106, BR 5011 and BR 5004 and short height and early cycle ones the BR
5028 and BR 5037, showed high productivity, justifying their recommendation to the region. The
use of those cultivars for replacement of the traditional ones will bring substantial changes for the
region, promoting higher profit for the farmers and reduction of com imports .

. KEY -WORDS: Interaction cultivars x environment, varieties, hybrids, semi-arid.

I Eng.-Agr., M.Se., Embrapa Tabuleiros Costeiros, Av. Beira-Mar, 3250, Caixa Postal 44, CEP 49001-970, Araeaju, SE.
2 Eng.-Agr., Ph.D., Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 152, CEP 35701-970, Sete Lagoas, MG.
J.Eng.-Agr., M. Se, EPACE, CEP 60.115-221, Fortaleza, CE.
4 Eng.-Agr., Ph.D. EBDA, CEP 44.635-150, Salvador, BA.

Rev. Cient. Rural, v.3, n.2 p.27-36 - 1998 27


CARVALHO et alo Avaliação cultivares milho no Nordeste ...

1. INTRODUÇÃO et al., (1996), em Sergipe e no Rio Grande do Norte


respectivamente, além de comprovarem esses resultados,
A busca de cultivares de alto potencial detectaram também o bom comportamento apresentado
para produtividade e portadoras de características de pelos híbridos Braskalb XL 604, Agromen 1030, Cargill
um milho moderno é de fundamental importância para 701, Cargill 805, dentre outros, e das populações CMS
elevar a produtividade média desse cereal no nordeste 39, CMS 50 o CMS 22; enfatizando que essas populações
brasileiro, onde, o rendimento médio é de 614kg/ha constituem-se em excelentes alternativas para
(IBGE, 1996). As variedades de milho predominantes exploração na região.
na região apresentam plantas de porte alto, ciclo tardio,
além de serem susceptíveis ao acamamento e Considerando esses aspectos, realizou-se
quebramento do colmo. A utilização desses materiais, o trabalho com o objetivo de avaliar variedades,
aliados ao manejo inadequado dispensado à cultura e populações e híbridos de milho visando à seleção daqueles
às irregularidades climáticas da região, são fatores com alto potencial para produtividade e portadores de
preponderantes que levam à baixa produtividade características de um milho moderno para recomendação
alcançada pela cuItllra. na região.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Somando esforços, 'os Centros de
Pesquisa Agropecuária dos Tabuleiros Costeiros
Os ensaios foram realizados no ano agrícola
(CPATC/Embrapa) e de milho e sorgo (CNPMS/
de 1996, nos Estados do Piauí (Teresina' e Teresina',
Embrapa), juntamente com as Empresas Estaduais de
Parnaíba, Angical, Guadalupe, Itaueira e Uruçuí), Ceará
Pesquisa da Região, vêm desenvolvendo um programa
(Russas, Barreira, Missão Velha e Quixadá), Rio Grande
intensivo de avaliação de variedades, populações e
do Norte (Ipanguassu), Paraíba (Itaporanga),
híbridos de milho visando selecionar materiais de alto
Pernambuco (Araripina e Serra Talhada), Alagoas
potencial para produtividade, de porte baixo de plantas
(Uniãos dos Palmares) e Bahia (Adustina e Barreiras).
e espigas, de ciclos normal (semi-tardio), precoce e
super-precoce, tolerantes no acamamento e
Nas áreas experimentais os solos são do
quebramento do colmo e com bom empalhamento das
tipo: Aluvial- (Teresina', Quixadá Missão Velha, Russas,
espigas, visando substituir as variedades tradicionais
Barreiras e União dos Palmares); Latossolo Vermelho-
usadas na região, o que trará mudanças substanciais
Amarelo - (Teresina', Guadalupe, Uruçuí, Itaporanga);
no rendimento da cultura, a nível de agricultura. A
Podzólico Vermelho-Amarelo (Araripina, Serra Talhada
precocidade do milho, é um caráter de extrema
e Adustina); Brunizém-Escuro (Angical), Brunizém-
importância para a região Nordeste do Brasil em razão
de permitir um melhor aproveitamento da estação Avermelhado(Itaueira) e Areia Quartzosa (Parnaíba).
. "
chuvosa, com possibilidade de escapar do estresse
hídrico no período do florescimento e ainda proporcionar Utilizou-se o delineamento experimental em
uma estação de crescimento mais curta. blocos ao acaso, com 23 tratamentos (4 populações, 7
variedades e 12 híbridos) em 3 repetições. Cada parcela
Trabalhos de competição de cultivares de constou de 4 fileiras espaçadas de 1,Om e 0,50m entre
milho realizados no nordeste brasileiro demonstraram covas dentro das fileiras. Foram colocadas 3 sementes
o bom desempenho apresentado pelos cultivares BR por cova, deixando-se 2 plantas por cova, após o
106, BR5011, BR 5004, BR 107, todos de porte e ciclo desbaste. Foram colhidas as duas fileiras centrais de
normal, as quais, superaram as variedades Centralmex forma integral, correspondendo a uma área útil de 10,Om2•
e Dentado Composto, ambos de porte alto e ciclo tardio
(CARVALHO & SERPA, 1987; CARVALHO 1988). As adubações realizadas em cada
Nesses trabalhos ficou demonstrado também que, em experimento, em virtude de serem bastante diferentes,
termos de precocidade, destacaram-se as cultivares BR foram colocadas na Tabela I, a fim de facilitar o
5028, BR 5033, CMS 35 e BR 5037. A superioridade acompanhamento.
dessas últimas cultivares foi também comprovada por
CARVALHO et al.(l992), LIRA et al. (1993), nos Foram medidos os dados referentes no
Estados de Sergipe e Ceará respectivamente. Trabalhos f1orescimento masculino, altura de planta e de espiga,
mais recentes (CARVALHO et alo 1996 e MONTEIRO estande de colheita, número de espigas colhidas e peso

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CARVALHO et ai. Avaliação cultivares milho no Nordeste ...

TABELA I - Fórmulas de adubação (kg/ha) utilizadas nos ensaios. Região Nordeste, 1996.

Piauí Ceará Rio Grande Parafba Pernambuco Alagoas 8ahia


do Norte

Nutrientes Tcrcsina I Tcrcsina2 Pumafba Angical ltaucira Guadalupc" Uruçuf+ Barreira Missão
Velha
Quixadâ Russas
lpanguassu ltaporanga Araripina*
s/cálcario
.
Araripina"

clcálcario
Serra
Talhada
União dos
Palmares
Adustina Barreiras

N 70 70 90 70 70 90 90 70 80 60 60 20 50 50 40 60 60 60
P,O, 80 80 100 80 80 100 100 40 60 !O 60 60 60 80 80
K,O 50 50 60 50 50 60 60 25 50 15 30 30

Fontes: N - Uréia; PP5 - superfosfato simples; K20 cloreto de potássio.


Aplicação: N - 1/3 no plantio, 2/3 em cobertura aos 30 dias após o plantio. Nos ensaios do Piauí: 1/3 no plantio, 1/3 após
a emissão da 8a folha e 1/3 após a emissão da 12" folha.
°
P 2 5 - Em fundação
KP - 1/3 no plantio; 2/3 em cobertura após 30 dias (lJ plantio.
* Nesses ensaio usou-se 3,6kg/ha de sulfato de zinco, aplicando-se Y2 em fundação e Y2 na primeira cobertura.
* * Usou-se 1OOOkg/ha de calcário dolomítico.

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CARVALHO et ai. Avaliação cultivares milho no Nordeste ...

de grãos. Os dados de f1orescimento masculino foram f1orescimento masculino, em razão de serem tomadas
tomados quando 50% das plantas das duas fileiras em uma repetição, não foram submetidos a análise
centrais emitiram os pendões. A altura da planta foi estatística. Os demais dados foram submetidos a uma
medida do solo até à base do pendão e, a altura da espiga, análise de variância por local, obedecendo-se ao modelo
do solo até a base de inserção da primeira espiga. Os em blocos ao acaso, e logo após, a uma análise de
pesos de grãos de todos os tratamentos foram ajustados variância conjunta, considerando aleatórios os efeitos
para o nível de 15% de umidade. Os dados de de blocos e ambientes e, fixo, o efeito de cultivares,
conforme modelo abaixo:

yijk = J..L+ C, + Aj + CAij + BI Aij + Eijk ' em que:

J..L média geral; Cr: efeito da cultivar i; Aj: efeito do ambiente j; CAif efeito da

interação da cultivar e com o ambiente j; B/Aif efeito do bloco k dentro do

ambiente j; Eijk: erro aleatório.


CARDOSO et ai (1997). Cultivares com menor altura
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO de planta e espiga conferem uma maior tolerância ao
quebramento e acamamento do colmo, reduzindo as
As cultivares mostraram uma redução no perdas provocadas pelo tombamento das plantas, com
tempo necessário para atingir à fase de f1orescimento posterior contacto das espigas com o solo. As médias
masculino, à medida que se avançou do paralelo 2°S detectadas para a altura de plantas e espiga foram,
(ParnaibalPiauí) para o paralelo 12°S (Barreiras/Bahia, respecti vamente, 212 em e 103 em, sobressaindo as
sendo mais precoces nos Estados do Rio Grande, Ceará cultivares CMS 39, BR 501, Agromen 2010, Germinal
e Piauí, onde requereram 46, 47 e 53 dias, 600 e AG514 com maiores valores para a altura da planta
respectivamente, para atingir essa fase (Tabela 1II). A e, as CMS 39 e BR 5011, para a altura de espiga, apesar
precocidade é um caráter de extrema importância no de não diferirem estatisticamente de muitas outras. Vale
nordeste brasileiro, onde é comum a frustração de safras, acrescentar que todo o conjunto avaliado mostrou boa
ocasionadas por problemas de chuvas (quantidade e tolerância ao quebramento e acamamento do colmo,
distribuição). As cultivares precoces utilizam melhor a caracteristicas de extrema importância em uma lavoura
estação chuvosa com grandes possibilidades de escapar de milho.A média detectada para o estande de colheita
de invernos irregulares, e ainda proporcionar uma foi de 35 plantas/parcela, correspondendo a uma
estação de crescimento mais curta, fazendo com que o população de 35.000 plantas/ha, registrando-se uma
produto chegue mais cedo ao mercado. As populações redução de 5.000 plantas/ha, quando comparado com o
CMS 52, CMS 59 e CMS 453, seguida das variedade estande proposto (40.000 plantas/ha). No conjunto
BR 473 e BR 5037 e, dos híbridos BR 2121, Germinal avaliado, as cultivares CMS 39, Pioneer 3041, BR 5033
600, Cargill 70 I e Cargill 805 mostraram boa e Dina 716 mostraram maior redução de plantas na
precocidade, tornado-se alternativas importantes, para época da colheita, o que refletiu negativamente nas suas
a região.A análise de variância conjunta mostrou efeitos produtividades médias de grãos (Tabela IV). Na mesma
significati vos, a I % de probabilidade, pelo teste F, para tabela nota-se que a média geral detectada para o
cultivares, ambientes e interação cultivares x ambientes, número de espigas colhidas foi de 37 espigas/parcela,
no tocante aos caracteres altura de planta e de espiga, correspondendo a 37.000 espigas/ha, destacando-se as
estande de colheita e número de espigas colhidas, cultivares Agromen2010,BR 106,BR2121 e Braskalb
evidenciando diferenças entre as cultivares, os XL 370 com produções variando entre 40 a 44 espigas/
ambientes e no comportamento das cultivares frente às parcela.
variações ambientais (Tabela IV). Resultados As cultivares revelaram-comportamento
semelhantes, em ensaios de competição de cultivares diferencial, entre si, ao nível de I% de probabilidade,
na Região, foram encontrados por CARVALHO (1988), pelo teste F dentro de cada ambiente, para o peso de
CARVALHO e SERPA (1987), LIRA et alo (1993) e

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CARVALHO e t ai. Avaliação cultivares lTlilho no Nordeste ...

TABELA Il. Índices pluviornétricos (rnm) ocorridos durante o experimental e as coordenadas geográficas de cada local. Região Nordeste, 1996.

Meses Piauí Ceará R.G. Parafba Pernarnbuco Alagoas Bahia


Norte
Tcrcsina Parnaíba Angical Itaucira Guada-lupc Uruçui Barreira Missão Quixadá Russas Ipan- ltaporanga Serra Araripina União dos Adustina Barreiras
Velha guassu Talhada Palmarcs
Janeiro 154* 217' 106,' 145' 211' 240* 197' ISI' 100' 222'" 117'

Fevereiro 349 110' 104 201 119 86 168 323 33 56 124 114

Março 436 419 260 215 97 176 257 21S 310 270 113' 134' 123* 354 124

Abril 2S3 455 369 103 95 104 296 205 310 210 359 100 ISO 164 155' 43

Maio 34 153 66 160' 27

Junho O 77 65 20S 61

Julho 220 32

, Agosto 221 46

Total 1222 898 950 625 456 577 961 943 S34 636 506 464 434 864 S09 321 39S

Coordenadas

Geográficas

Latitude 05"05'5 02"63'5 06"15'5 07"36'5 06"56'5 OS"OS'5 4"13'5 07"15'5 4"59'5 4"56'5 05"37'5 07"IS'5 OS"I7'5 07"33'5 09"06'5 10"32'5 12"09's

Longitude 42"49'W 41"41'W 42"51'W 43"02'W 43"50'W 42"25'W 3S"44'W 39"OS'W 39"01'W 37"58'W 36"50'W 38"04'W 3S"29'W 40"34'W 36"04'W 38"07'W 44"59'W

Altitude 72m 15m 72m 230m ISOm 310m 80m 360m 190m 20m 70m 289m 365m 620m 156m 250m 435m

'" Mês de Plantio

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CARVALHO et al. Avaliação cultivares milho no Nordeste ...

TABELA III - Florescimento masculino médio (dias) observado nos ensaios realizados nos Estados da
Região Nordeste do Brasil, 1996.
Cultivares Piauí Ceará Rio G. Norte Pernambuco Alagoas Bahia Média
AG514 51 48 46 59 60 61 55
Agromen 2010 52 48 47 61 60 60 57
BR 106 51 48 47 63 63 62 56
BR 2121 50 45 46 57 57 58 53
BR 3123 52 49 47 61 60 61 56
BR473 50 46 46 58 57 58 53
BR 5004 51 46 47 60 60 61 55
BR 5011 51 49 47 60 61 62 56
BR 5028 51 48 46 61 61 60 55
BR 5033 50 47 47 58 58 59 54
BR 5037 46 45 42 56 56 57 53
Braskalb XL 370 51 47 46 60 62 63 58
Cargill 70 I 50 47 47 59 59 60 53
Cargill 805 50 46 46 57 57 59 53
CMS 39 53 49 47 64 64 63 58
CMS 45.3 49 45 45 57 57 56 52
CMS 52 47 45 42 55 55 55 51
CMS 59 50 44 43 57 57 58 52
Dina 766 50 47 46 57 60 59 54
Germinal600 50 47 46 58 59 60 53
Pioneer 3041 52 48 48 61 60 61 56
Pioneer 3051 50 47 45 60 60 58 54
Zeneca 8501 51 49 47 61 61 61 56
Média 53 47 46 59 59 60 55

grãos (Tabela V). Constatou-se que alguns ambientes CARVALHO et ai. 1992; LIRA et alo 1993;
foram mais propícios ao cultivo do milho, produzindo MONTEIRO et alo 1996 e CARDOSO et al. 1997). A
acima da média geral (5.034 kg/ha), destacando-se, entre amplitude de variação observada na produtividade média
esses, os municípios de Parnaíba, Teresina e Angical das cultivares nos dezenove locais foi de 4.050 kg/ha
(Piauí), lpangnassu, (Rio Grande do Norte) e Missão (CMS 59) a 6.171 kg/ha (Zeneca 8501), com média
Velha (Ceará), os quais mostraram superioridades de geral de 5.034 kg/ha, expressando o grande potencial
15% a 42%, em relação à média geral. A variação para a produtividade das cultivares avaliadas. Essas
observada entre os ambientes foi de 3.240 kg/ha (União variações nos rendimentos refletem não só o potencial
dos Pai mares) a 7.143 kg/ha (Parnaíba), revelando a das cultivares, como também, diferenças nas condições
existência de uma ampla faixa de variação entre os de solo e clima da Região Nordeste e as diferentes
ambientes, o que é importante pelo provimento de distribuições de chuvas registradas a nível de ambiente
condições variáveis para discriminação dos genótipos. (Tabela lI) e, os difetentes níveis de adubação que foram
Os coeficientes de variação oscilaram de 5,4% a 16,8%, utilizados nos ensaios.
conferindo boa precisão aos ensaios.
Os híbridos mostraram melhor adaptação
A análise de variância conjunta (Tabela V) que as variedades e populações, especialmente, os
evidenciou diferenças significativas, a I% de Zeneca 8501, BR 3123 e Braskalb XL 370, que
probabilidade, pelo teste F, para os efeitos de cultivares, mostraram superioridades de 23%, 19% e 18% em
ambientes e interação cultivares x ambientes, relação à média geral (5.034 kg/ha), apesar de não
evidenciando comportamento diferenciado entre as diferirem estatisticamente de alguns outros. A média
cultivares, os ambientes, além de mostrar inconsistência de produtividade dos híbridos foi de 5.610 kg/ha,
no comportamento das cultivares frente às mudanças superando em 27% o rendimento médio das variedades
ambientais, à semelhança do ocorrido em outros e populações. As variedades BR 106, BR 5011 e BR
trabalhos de competição de cultivares realizados na 5028 mostraram produções semelhantes ao híbrido duplo
região (COSTA, 1976; CARVALHO, 1988;

32 Rev. Cient. Rural, v.3, n.2 p.27-36 - 1998


CARVALHO et al. Avaliação cultivares milho no Nordeste ...

TABELA IV - Comportamento das cultivares quanto às alturas (em) de planta e espiga, estande de colheita,
número de espigas colhidas e resumo das análises de variância conjuntas referentes às variáveis
estudadas. Região Nordeste do Brasil, 1996.

Cultivares Altura das plantas Altura das espigas Estande de colheita Espigas colhidas
AG514 226 I II 36 38
Agromen 20 IO 226 L06 38 41
BR 106 220 109 36 42
BR 2121 220 110 37 40
BR 3123 213 107 36 38
BR473 210 103 35 36
BR 5004 213 105 36 35
BR 5011 229 113 35 37
BR 5028 208 103 36 36
BR 5033 202 99 32 32
BR 5037 207 99 36 38
Braskalb XL 370 218 110 37 44
Cargi1l701 208 96 37 39
Cargill 805 207 91 36 37
CMS 39 231 119 31 33
CMS 453 207 99 36 37
CMS 52 185 84 35 37
CMS59 190 94 36 37
Dina 766 200 93 32 32
Germinal600 226 108 36 38
Pioneer 3041 215 101 33 35
Pioneer 3051 208 98 32 33
Zeneca 8501 214 105 37 38
Médias 212 103 35 37
C.V. (%) 6,5 10,8 7,6 10,1
F(C) 44,4** 32, I ** 33,3** 39,7*
F(L) 377,4** 191,5** 10410** 80,9**
F(CXL) 1,4** 1,2** 2,6** 2,7**

D.M.S. 7 6 2 2

** Significativo a I % de probabilidade, pelo teste F.

Rev. Cient. Rural, v.3, n.2 p.27-36 - 1998 33


CARVALHO et ai. Avaliação cultivares milho no Nordeste ..:

TABELA v- Produtividade média de grãos(kg/ha) das cultivaresnos vários ambientes e resumo das análises de variância por

locale conjunta. Região Nordeste do Brasil,1996.

Cultivares Piauí Ceará

Teresina 1 Teresina 2 Parnaíba Angical Guadalupc Itaueira Uruçuí Russas Barreira Missão Quixadá
Velha
Zeneca 850 Ic 7853 7350 7590 7317 6970 6307 4410 5100 4203 6575 6733
BR3123d 6690 6700 8753 6717 6067 7057 5197 5857 5563 6830 5100
Braskalb XL 370d 7307 6890 7643 7367 5753 5540 4910 5967 4213 8069 5650
Agromen 2010' 7173 6167 7527 5893 6597 5923 4197 5600 5150 6268 5517
Pioneer 3041 d 8510 6577 10323 6460 6243 5160 5380 3250 4443 6677 3310
Cargill805" 7397 6447 7147 7400 4700 5703 4577 4667 4807 6096 6450
AG 514' 6610 5600 7550 5710 5560 5177 4376 4800 4153 6563 6600
Cargill701< 6627 6333 7130 5850 5703 5333 3840 5233 4447 6244 5900
Germinal600' 7143 6397 7480 6450 5040 5547 4050 4467 3837 6856 5350
Pioneer 3051" 6860 6700 7743 6067 3667 4967 4743 3267 3710 6863 4223
Dina 766" 7110 6033 8640 5867 5877 4633 5033 3200 3550 3903 5123
BR2121< 5297 5377 6620 6000 4127 5087 3577 5167 4453 5760 4650
BR 106" 5780 5480 6220 5100 5300 4150 3717 4000 4050 6713 3300
BR 5028" 6230 4963 6610 5800 5400 4700 3517 4550 . '3920 4717 5600
BR5011" 6563 4963 6967 5450 4860 4017 3379 5033 3433 5951 4433
BR 5004" 6257 5237 6042 5430 4617 4037 3960 5400 3440 4517 4017
BR 5037" 5883 5317 6248 5773 4227 3839 3600 4133 3630 5235 5250
CMS 453" 5117 5480 6512 4787 4670 3480 3833 3667 3430 5359 3900
CMS 39" 6300 5127 7013 5253 5510 4220 4533 2700 2983 6009 2677
BR 473< 6337 4550 6057 4510 5353 3417 3327 3267 3043 5519 3710
BR 5033" 5667 4323 6997 4730 4960 3287 3550 3667 3360 4674 3177
CMS 52" 5337 4517 5820 4670 3830 3293 3380 3817 3230 4583 4300
CMS 59" 4910 4427 5660 4283 3227 377,7 3880 5350 3310 4511 4100
Médias 6476 5694 7143 5777 5142 4723 4129 4442 3929 5847 4742
C. V.(%) 6,8 5,4 5,6 5,6 7,6 8,4 8,3 10,0 12,8 7,4 13,2
F(Tl 12,4** 23,8** 21.1** 22,8 17,3** 19,9** 9.8** 13,9** 5,3** 16,7** 9.9**
D.M.S. (5%) 1390 979 1268 1021 1231 1257 1082 1399 1581 1369 1979
F(Tx L)

Cultivares Rio G. do Paraíba Pernarnbuco Alagoas Sergipc Bahia Análise


Norte Conjunta
Ipanguassu Itaporanga Araripina Araripina Serra União dos N. Sra. das Cruz das Adustina Barreiras
clcálcario s/cálcario Talhada Pai mares Dores Almas
Zeneca 850 I 6333 3633 6427 5347 6150 3600 7890 6195 4438 9174 6171
BR 3123 6943 3833 6060 4867 5250 3017 7611 5137 4659 7844 5988
Braskalb XL 370 6483 4113 6300 4950 6350 2800 7447 6923 4679 5811 5960
Agromen 2010 6283 4070 5870 4440 5350 3467 6671 6060 5048 7944 5772
Pioneer 3041 6573 3860 6360 4387 5125 4300 8618 4730 3903 5357 5693
Cargill 805 7050 5043 5393 5893 4067 3917 6025 4300 4545 6880 5643
AG 514 7050 3480 5087 5310 6200 3117 8228 5815 5106 6249 5635
C~rgill 701 5600 3500 5467 4550 5750 3700 6455 4855 5366 8636 5546
Germinal 600 5973 3350 5703 4480 4050 3577 7607 5055 5432 5583 5401
Pioneer 3051 6203 3720 4460 3967 5533 3517 7415 6900 4542 5849 5282
Dina 766 6900 4223 4560 5410 3350 3300 7670 6150 5376 4751 5270
BR 2121 5583 3R 10 4453 4493 4000 3717 4610 5638 4721 7080 4963
BR 106 5650 3320 4490 4390 5450 4167 5117 4197 4205 4487 4728
BR 5028 5887 2897 3990 2550 4000 2673 5605 4560 5070 4288 4644
BR 5011 5660 3750 4160 3410 4267 2973 5971 3870 4369 3917 4637
BR 5004 6530 2977 4280 3873 3000 2873 5762 4920 4386 3922 4546
BR 5037 5333 3530 3950 3460 4367 3900 5286 3728 4123 3867 4508
CMS 453 5317 2940 3747 3920 3500 3217 5656 4065 4754 4997 4397
CMS 39 5117 3200 4910 3670 3500 2100 4948 4042 3995 3522 4349
BR 473 4373 3223 4310 3373 4333 2750 53R9 4582 3732 5138 4299
BR 5033 5373 3383 3400 3193 2467 2750 5345 5542 5155 3350 4207
CMS 52 4727 3140 4207 4210 3800 2400 4771 4242 4105 3423 4086
CMS 59 4833 2703 4020 3660 3200 2700 4798 4315 3780 3603 4050
Médias 5903 3552 4852 4250 4481 3240 6300 5036 4586 5464 5034
C. V.(%) 10,3 16.8 9,2 12,8 13,8 12.0 10,7 14,8 7,6 10,3 9,8
F(T) 4,7** 2,2** 12,7** 6,7** 9,6** 6,6*" 10,3** 5,3** 6.7** 29,0** 118, I **
D.M.S. (5%) 1922 1881 1400 1717 1943 1219 2117 2235 1095 1772 265
F(T x L) 5.S'
** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.

"população, "variedade, c híbrido simples, "híbrido triplo, "híbrido duplo.

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CARVALHO et aI. Avaliação cultivares milho no Nordeste ...

BR 2121, confirmando o bom desempenho produtivo bom potencial para a produtividade, constituindo-se numa
quetem demonstrado em trabalhos realizados na região alternativa importante para a região.
(CARVALHO, 1988; CARVALHO et alo 1992 e
CARDOSO et aI. I997). Vale ressaltar que a população de baixa
renda, tanto urbana quanto rural, no nordeste brasi leiro,
Considerando que o milho exerce uma apresenta sério problema de desnutrição provocada,
expressiva importância econômica para a região, sendo basicamente, por déficit protéico, o que gera um
cultivado em uma gama considerável de diferentes problema muito grave para a região. Por outro lado,
condições ambientais e diferentes sistemas de cultivo, sabe-se que o milho é um alimento tradicional, rico em
atingindo baixos níveis de rendimentos no nordeste energia e bastante utilizado na alimentação humana e
brasileiro, torna-se imprescindível a recomendação de animal. No entanto, as proteínas do milho são de baixo
cultivares de alto potencial para a produtividade e valor biológico, correspondendo, nutricionalmente, a
portadoras de características de milho moderno. Em cerca de 40% da proteína do leite, já que detém baixos
razão da grande maioria dos produtores de milho teores de dois aminoácidos essenciais- lisina e triptofono.
utilizarem baixos níveis tecnológicos, na recomendação O desenvolvimento de cultivares de milho para alta
de cultivares é aconselhável averiguar às condições qualidade protéica, detentoras, nutricionalmente, de 80%
prevalescente para cada sistema de cultivo. Por essa e 90% do valor biológico da proteína do leite, permitiu
razão, para uma agricultura mais tecnificada é aumentar o valor nutritivo do milho. Portanto, a
recomendável a utilização dos híbridos, por mostrarem substituição gradual de cultivares de milho normal por
melhor adaptação e uniformidade para as alturas de cultivares de alta qualidade protéica trará benefícios
planta,de espiga e florescimento, e responderem melhor substanciais para a região, não só no combate à fome e
a utilização dos insumos modernos. As variedades BR à desnutrição, como também na formulação de rações
5011, BR 106 e BR 5004, de porte e ciclo normal, que mais baratas, com menores quantidades de concentrados
expressaram rendimentos médios acima da média geral proteícos, que permitirão a redução de custos em
para variedades e populações, podem ser também criações de animais monogástricos, tais como: aves,
. .
aproveitadas para cultivo em ambientes de alta sumos e peixes.
tecnologia, em razão dos rendimentos que apresentaram.
A variedade BR 5028, de porte baixo e ciclo precoce, Nesse contexto, o híbrido duplo BR 2121 ,
bastante difundida na região mostrou bom potencial para de boa adaptação para a região e as populações CMS
a produtividade. A semelhança das anteriores, essa 453 e CMS 52, precoces, e a variedade BR 473, de
cultivar repetiu o bom comportamento apresentado em boa precocidade, constituem-se em alternativas
trabalhos realizados no nordeste brasileiro, justificando importantes para o nordeste brasileiro, por permitirem o
a sua recomendação, especialmente, naquelas áreas com fornecimento de proteínas de alta qualidade biológica a
menor distribuição de chuvas, em razão da sua um baixo custo de produção.
precocidade.
3. CONCLUSÕES
A variedade BR 5037 tem como grande
vantagem para a região a sua precocidade. Essa cultivar 1.0s híbridos mostram melhor adaptação que as
de bom potencial para a produtividade associado a um variedades e populações, especialmente, os Zeneca
porte baixo de planta encontra-se bastante difundida na 850 I,BR 3123 e Braskalb XL 370, sendo recomendados
região, principalmente, nas áreas mais secas do Rio para exploração em sistemas de produção de alta
Grande do Norte, onde tem contribuído para reduzir as tecnologia, por responderem melhor ao uso de insumos
frustrações da safra nos anos de invernos mais curtos.
A BR 5033, de porte baixo e ciclo precoce, também 2.As variedades BR 106, BR 5011 e BR 5004, de porte
bastante aceita na região, apresentou no presente e ciclo normal apresentam bom potencial para a
trabalho um baixo estande de colheita, que refletiu produtividade, justificando as suas recomendações para
negativamente no seu rendimento, contradizendo os bons o nordeste brasileiro. As BR 5028, de porte baixo e
resultados que tem sido relatados em trabalhos realizados ciclo precoce, e a BR 5037, de porte baixo e ciclo
na região, conforme os autores já mencionados. A superprecoce, devem ser amplamente recomendadas,
população CMS 39, de porte e ciclo normal, apresentou basicamente, para as regiões de menor precipitação do

Rev. Cient. Rural, v.3, n.2 p.27-36 - 1998 35


CARVALHO et al. Avaliação cultivares milho no Nordeste ...

nordeste, visando reduzir os riscos de frustração das CARVALHO, H.W.L. de, SANTOS, MX. dos.; LEAL,
safras. M. de L. da S. Cultivares de milho para os
tabuleiros costeiros de Sergipe. Aracaju:
3.As cultivares para alta qualidade proteíca têm Embrapa/CPATC, 1996. 5 p.(Embrapa/CPATe.
expressiva importância para a região, por permitirem o Comunicado Técnico, 6).
fornecimento de proteína de alta qualidade biológica a
um baixo custo de produção, reduzindo os custos na CARVALHO, H.W.L. de.; SERPA, J.E.S.
formulação de rações e os níveis de desnutrição, Comportamento de cultivares de milho no
provocado por um déficit proteíco, na população Estado de Sergipe. I - Ensaios de recebimento
nordestina de baixa renda. 1982, 1984 e 1985. Aracaju: EMBRAPA/
CNPCO, 1987. 32 .. (Embrapa/CNPCO. Boletim
4. BIBLIOGRAFIA de Pesquisa, 1)

CARDOSO, M.J.; CARVALHO, H.W. L. de.; COSTA, S.N. Interação cultivares de milho (Zea
PACHECO, C.A.P.; SANTOS, M.X. dos.; LEAL, mays L.) x anos x localidades nos Estados
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Boletim de pesquisa, 3). EMPARN, 1993. 22 p. (EMPARN. Boletim de
pesquisa, 23)
CARVALHO, H.W.L. de .MAGNAVACA, R.; LEAL,
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Brasileira. Brasília, v.27, n.7, p.1037-1 082, 1992. LIMA, E. da c.c. LEAL, M. de L. da S. Avaliação
de cultivares de milho no Estado do Ceará no biênio
1994/1995. In: Seminário de Pesquisa
Agropecuária, 1, 1996. Fortaleza. Anais ...
Fortaleza: Epace, 1996.p. 99-102.

36 Rev. Cient. Rural, v.3, n.2 p.27-36 - 1998

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