ANEXO 3 - Guia - RPPN
ANEXO 3 - Guia - RPPN
ANEXO 3 - Guia - RPPN
Implementar Reservas
Particulares do
Patrimônio Natural
Campo Grande - MS
Novembro - 2006
Guia para Criar e Implementar
Reservas Particulares do Patrimônio Natural
Ficha Técnica
Equipe de produção
Anna Mendo, bióloga e analista ambiental do IBAMA/MS
Flávia Néri, turismóloga e fiscal ambiental da SEMA/IMAP/Gerência
de Conservação de Biodiversidade
Ivens Domingos, médico veterinário e técnico em conservação do
Programa Pantanal para Sempre, WWF-Brasil
Jucinéia Freitas, psicóloga e analista ambiental do IBAMA/MS
Julia Boock, bióloga e mestre em meio ambiente e
desenvolvimento local
Laércio Sousa, administrador de empresas e gestor das RPPNs
Neivo Pires I e II
Marco Costacurta, mestre em meio ambiente e desenvolvimento
regional e responsável técnico pela REPAMS
Sandro Menezes Silva, doutor em botânica e gerente do Programa
Pantanal da CI-Brasil
Wilson Loureiro, doutor em economia e política florestal e
coordenador dos Programas ICMS Ecológico e RPPN do Instituto
Ambiental do Paraná (IAP)
Produção, edição e revisão de textos
Daniela Venturato, jornalista da REPAMS
Denise Oliveira, jornalista do WWF-Brasil
Sandra Damiani, jornalista da Conservação Internacional
Apoio: Gustavo Quinquinel, estagiário da CI-Brasil
Revisão, capa e arte: Allison Ishy
Diagramação e projeto gráfico: Yara Medeiros
Fotos: Daniel De Granville | fotograma.com.br, exceto:
Bill Konstant /CI (pp.23 e 24), Flávia Castro/CI (pp. 21 e 22),
Haroldo Palo Jr (pp. 26 e 27), Lucélia Berbet (pp. 28 e 29),
Mauro Cruz (p. 32), Silvio Vinci Esgalha (pp. 30 e 31)
Impressão: Gráfica e Editora Gibim
FICHA CATALOGRÁFICA
Bibliografia.
Apoio: SEMA e IBAMA.
AS UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO NO BRASIL 08
RESERVA PARTICULAR DO
PATRIMÔNIO NATURAL - RPPN 14
CASOS EXEMPLARES 18
IMPLEMENTANDO RPPNS 42
&
A A criação de Unidades de Conservação (UCs)
é uma estratégia adotada por muitos países para
garantir o acesso das gerações atuais e futuras
aos recursos naturais. Desde a criação das
primeiras UCs, quando os conceitos para
estabelecê-las estavam baseados apenas na
conservação da natureza, com preservação de
belezas cênicas e espaços de recreação, houve
uma significativa evolução.
Hoje, há o entendimento de proteção da di-
versidade biológica e dos
recursos hídricos, manejo
de recursos naturais, desen- As Unidades de
volvimento de pesquisas ci- Conservação
entíficas e manutenção de ajudam na
sistemas ecológicos e climá- proteção da
ticos, o que representa um diversidade
importante instrumento biológica de
para a sobrevivência de uma região
muitas espécies, inclusive a
humana.
Nesse processo pôde ser observada uma
mudança nas ações dos governantes, ao repen-
sarem as relações sociais e econômicas diante
dos recursos naturais. Como reflexo dessa mu-
dança, foi instituído no Brasil, por meio da Lei no
9.985, de 18 de julho de 2000, o Sistema Nacio-
nal de Unidades de Conservação da Natureza
(SNUC), que estabelece critérios e normas para
criação, implantação e gestão das Unidades de
Conservação. Seus principais objetivos são:
Ë a manutenção da diversidade biológica, va-
lorizando-a social e economicamente;
'
Ë a proteção de espécies ameaçadas e dos re-
cursos hídricos e edáficos1;
Ë a preservação e restauração de ecossistemas;
Ë a promoção do desenvolvimento sustenta-
do e princípios e práticas de conservação da
natureza;
Ë a proteção de paisagens naturais e de carac-
terísticas relevantes de natureza geológica,
geomorfológica, espeleológica, arqueológi-
ca, paleontológica e cultural;
Ë a promoção de oportunidades para a reali-
zação de pesquisa, educação, interpretação,
recreação e turismo ecológico.
Unidades de Conservação
São espaços territoriais e seus ambientes, in-
cluindo as águas jurisdicionais, com caracte-
rísticas naturais relevantes, legalmente insti-
tuídos pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regimes
especiais de administração, aos quais se apli-
cam garantias adequadas de proteção.
As Unidades de Conservação são divididas
em dois grupos:
Unidades de Conservação de
Proteção Integral
É permitido apenas o uso indireto dos seus
recursos naturais.
Unidades de Conservação
de Uso Sustentável
Há compatibilização da conservação da na-
tureza com uso sustentável de parcela de
seus recursos naturais.
1
Pertencente ou relativo ao solo. Fonte: Dicionário Houaiss
UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL
Categoria Objetivo Uso
Estações Preservar e pesquisar. Pesquisas científicas, visitação pública com
Ecológicas objetivos educacionais.
Reservas Preservar a biota2 e demais atributos naturais, Pesquisas científicas, visitação pública com objetivos
Biológicas sem interferência humana direta ou modifica- educacionais.
(REBIO) ções ambientais.
Parque Preservar ecossistemas naturais de grande rele- Pesquisas científicas, desenvolvimento de atividades de
Nacional vância ecológica e beleza cênica. educação e interpretação ambiental, recreação em conta-
(PARNA) to com a natureza e turismo ecológico.
Preservar sítios naturais raros, singulares ou de Visitação pública.
Monumentos
grande beleza cênica.
Naturais
Refúgios de Proteger ambientes naturais e assegurar a exis- Pesquisa científica e visitação pública.
Vida Silvestre tência ou reprodução da flora ou fauna.
2
Biota: Seres vivos. Fonte: Mini Aurélio - 2001
UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL
Categoria Característica Objetivo Uso
Área de Área extensa, pública ou privada, Proteger a biodiversidade, disciplinar São estabelecidas normas e restrições
Proteção com atributos importantes para a o processo de ocupação e assegu- para a utilização de uma proprieda-
Ambiental (APA) qualidade de vida das populações rar a sustentabilidade do uso dos de privada localizada em uma APA.
humanas locais. recursos naturais.
Área de Área de pequena extensão, pública Manter os ecossistemas naturais e re- Respeitados os limites constitucionais,
Relevante ou privada, com pouca ou nenhu- gular o uso admissível dessas áreas. podem ser estabelecidas normas e res-
Interesse ma ocupação humana, com carac- trições para utilização de uma proprie-
Ecológico (ARIE) terísticas naturais extraordinárias. dade privada localizada em uma ARIE.
Floresta Área de posse e domínio público Uso múltiplo sustentável dos recursos Visitação, pesquisa científica e manu-
Nacional com cobertura vegetal de espécies florestais para a pesquisa científica, tenção de populações tradicionais.
(FLONA) predominantemente nativas. com ênfase em métodos para explo-
ração sustentável de florestas nativas.
Reserva Área de domínio público com uso Proteger os meios de vida e a cultu- Extrativismo vegetal, agricultura de
Extrativista concedido às populações extra- ra das populações extrativistas tra- subsistência e criação de animais de
(RESEX) tivistas tradicionais. dicionais, e assegurar o uso susten- pequeno porte. Visitação pode ser
tável dos recursos naturais. permitida.
UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL
Categoria Característica Objetivo Uso
Reserva de Área natural de posse e domínio Preservar populações animais de es- Pesquisa científica.
Fauna (REFAU) público, com populações animais pécies nativas, terrestres ou aquá-
adequadas para estudos sobre o ticas, residentes ou migratórias.
manejo econômico sustentável.
Reserva de Área natural, de domínio públi- Preservar a natureza e assegurar as Exploração sustentável de compo-
Desenvolvimento co, que abriga populações tradi- condições necessárias para a re- nentes do ecossistema. Visitação e
Sustentável (RDS) cionais, cuja existência baseia-se produção e melhoria dos modos pesquisas científicas podem ser per-
em sistemas sustentáveis de ex- e da qualidade de vida das popu- mitidas.
ploração dos recursos naturais. lações tradicionais.
Reserva Particular Área privada, gravada com Conservar a diversidade Pesquisa científica, atividades de
do Patrimônio perpetuidade. biológica. educação ambiental e turismo.
Natural (RPPN)
!
Reserva
Particular do
Patrimônio
Natural
"
R Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN) é uma categoria de unidade de conserva-
ção criada pela vontade do proprietário rural, ou
seja, sem desapropriação de terra. No momento
em que decide criar uma RPPN, o proprietário
assume compromisso com a conservação da na-
tureza, pois uma vez criada, será para sempre.
O SNUC não estabelece tamanho mínimo ou
máximo para a criação de uma RPPN, desde que
sejam cumpridos os objetivos de conservação da
biodiversidade, estabelecidos no artigo 21 da Lei
nº 9.985. Atividades recreativas, turísticas, de edu-
cação e pesquisa são permiti- Mato Grosso
das na reserva, desde que se- do Sul foi o
jam autorizadas pelo órgão primeiro
ambiental responsável pelo seu estado a
reconhecimento. publicar
Além de conservar áreas legislação de
privadas, as RPPNs ajudam a criação e
proteção de
proteger o entorno das Unida-
reservas
des de Conservação públicas,
privadas no
formando corredores de vege-
Brasil
tação e servindo de abrigo e
pontos de passagem para animais silvestres.
Atualmente, existem no Brasil mais de 530 mil
hectares protegidos por RPPNs, distribuídos em
714 reservas (CNRPPN, 2006). O movimento em
favor das RPPNs vem organizando-se em associ-
ações de proprietários de reservas privadas em
todo o país. Devido à necessidade de maior arti-
culação, organização e representatividade junto
aos órgãos federais, várias associações decidiram
instituir a Confederação Nacional de Reservas
Particulares do Patrimônio Natural (CNRPPN).
#
Criada em 2001, a CNRPPN é uma associa-
ção civil sem fins lucrativos, constituindo-se
como entidade representativa nacional e inter-
nacional das associações de RPPNs que se orga-
nizaram de maneira independente e autônoma.
São objetivos da CNRPPN:
Ë representar as associações;
Ë defender e preservar o meio ambiente;
Ë integrar as RPPNs em nível nacional, buscar e
promover o reconhecimento e benefícios;
Ë promover e incentivar a conservação da
biodiversidade e o ecoturismo no Brasil.
A CNRPPN congrega 15 associações de propri-
etários de reservas privadas que representam di-
versos estados brasileiros. Você pode obter infor-
mações sobre cada uma delas no site:
www.rppnbrasil.org.br
Associação de RPPNs do MS
A REPAMS é uma organização civil sem fins
lucrativos que congrega proprietários de RPPNs
de Mato Grosso do Sul. Atualmente, existem 33
RPPNs, que protegem 118.370,45 hectares, sen-
do que 22 proprietários participam como associ-
ados. A REPAMS promove a preservação do meio
ambiente em áreas particulares, contribuindo para
o crescimento, em área e qualidade, desta cate-
goria de Unidade de Conservação.
RPPNs e SNUC
Art. 21 - A Reserva Particular do Patrimônio
Natural é uma área privada, gravada em perpetui-
dade, com o objetivo de conservar a diversidade
biológica. O parágrafo segundo desse mesmo ar-
tigo indica que nas RPPNs só serão permitidas:
I - a pesquisa;
II- a visitação com objetivos turísticos, recreati-
vos e educacionais.
$
Histórico e evolução da
legislação para RPPNs
%
Casos
exemplares
&
A As RPPNs têm, cada vez mais, servido como
instrumento adicional para o fortalecimento do
Sistema de Unidades de Conservação, promo-
vendo a proteção e apoio à pesquisa sobre a
biodiversidade, possibilitando o aumento da
conectividade da paisagem natural e a prote-
ção de áreas-chave ao longo dos biomas brasi-
leiros. Relacionamos alguns exemplos de RPPNs
que procuram desenvolver atividades aliando
a conservação da natureza e a sustentabilidade.
'
pal atrativo da RPPN, que é cuidadosamente
monitorado pelos guias capacitados para orien-
tar os visitantes sobre como devem se portar
dentro de uma Unidade de Conservação", expli-
ca o proprietário Eduardo Folley Coelho.
Durante a caminhada pela trilha, são obser-
vados bandos de queixadas (Tayassu pecari), ma-
cacos pregos (Cebus apella), grupos de sagüis
(Callithrix sp.) e pássaros. A vegetação é típica
do Cerrado peripantaneiro, mesclando espécies
de flora da Mata Atlântica (bromélias e orquí-
deas), ipês e aroeiras, entre outras.
A área foi beneficiada pelo Programa de In-
centivo às RPPNs do Pantanal, obtendo recursos
para levantamento de fauna e flora e para reali-
zação do seu primeiro Plano de Manejo, uma
ferramenta fundamental para orientar as futu-
ras atividades a serem desenvolvidas.
O Plano de Manejo, que consiste em diversas
etapas, iniciando com estudos preliminares so-
bre fauna, flora e uso turístico da área, deverá
ser concluído até dezembro de 2006. O docu-
mento vai dar subsídios e auxiliar os proprietári-
os na tomada de decisões sobre os usos atuais e
futuros da reserva, incluindo a melhor definição
das áreas mais propícias para visitação turística,
atividades mais adequadas de serem desenvolvi-
das, assim como definição de áreas prioritárias
para a conservação.
Ciência para a
conservação do Pantanal
!
Em razão da caça indiscriminada, o muriqui es-
tava reduzido a aproximadamente 10 indivíduos
na floresta da fazenda, mas, graças a Feliciano e
às pesquisas realizadas em suas terras, a popula-
ção foi estabilizada - o número de mortes já não
ultrapassa o de nascimentos - e conta, no último
censo em 2006, com 226 animais. Além do
muriqui, vivem na RPPN outros três importantes
primatas: o sagüi-da-serra ou sagüi-taquara
(Callithrix flaviceps), considerado um dos mais
ameaçados dessa família; o barbado ou bugio
(Alouatta guariba), que está em situação vulnerá-
vel; e em maior abundância, o macaco-prego
(Cebus nigritus).
Atualmente, a reserva é gerenciada pela Ong
Preserve Muriqui, presidida por Ramiro Abdala. As
pesquisas são mantidas através de parcerias com
organizações de fomento ao conhecimento cien-
tífico. O objetivo, adianta Ramiro, é buscar a auto-
suficiência com o desenvolvimento do ecoturismo
na região em parceria com a comunidade. "É in-
discutível que preservar exige dedicação e dá tra-
balho, mas é um ato voluntário de contribuição
positiva para com o futuro de nosso planeta e uma
herança preciosa para as futuras gerações", ressal-
ta o neto de Feliciano.
"
Um refúgio para
o gavião-de-penacho
No municí-
pio de Corgui-
nho (MS), próxi-
mo à Serra de
Maracajú, numa
região de fur-
nas, paredões e
paisagens exóti-
cas, localiza-se a
RPPN Vale do
Bugio. A propri-
edade de 95
hectares de extensão foi adquirida pelo empresá-
rio Lauro Roberto Barbosa de Souza na tentativa
de garantir a proteção do ninho do gavião-de-
penacho, uma ave ameaçada de extinção.
Filho de caçadores, Souza lidera uma nova cor-
rente da família e de muita gente na região que
deseja preservar o Pantanal. A RPPN Vale do Bugio
fazia parte da Fazenda Araçatuba, usada extensi-
vamente para criação de gado. "Fiquei muito emo-
cionado ao saber da existência dessa ave na reser-
va e de que é preciso estudar e proteger melhor
essa espécie assim como outras, por isso, quero
reservar um pedacinho do planeta para salvar esse
bicho", conta Souza.
No local, também existem muitos pequizeiros,
espécie arbórea da qual o gavião-de-penacho se
alimenta. Além do ideal de conservação da área, o
proprietário pretende desenvolver pesquisas para
obter mais dados sobre a fauna e flora da região.
Com a oportunidade de participar de um pro-
grama de financiamento a fundo perdido, Souza
está implementando em sua reserva um Centro
de Pesquisas com objetivo de ampliar o conheci-
mento científico sobre a RPPN.
#
Capacitando pessoas
para a proteção da natureza
$
Até o primeiro semestre de 2006, 1.591 pes-
soas foram capacitadas na RPPN. Nas atividades
de ecoturismo, além do contato direto com uma
área íntegra de Floresta Atlântica, a natureza brin-
da o visitante com paisagens de rara beleza, como
o 'Salto Morato', uma queda d´água de aproxi-
madamente 100 metros, e a 'Figueira do Rio do
Engenho', cuja raiz forma um "portal" sobre os seis
metros de largura do rio de mesmo nome.
Desde a sua criação, já passaram por lá mais
de 70 mil visitantes. "Nossa intenção é promover,
nos cursos, pesquisas em todas as outras ativida-
des, oportunidades de contato direto com a natu-
reza, de forma organizada, e que levem à
sensibilização e ao aumento do respeito e do co-
nhecimento sobre o meio ambiente", reforça Ma-
ria de Lourdes Nunes, diretora-executiva da Fun-
dação O Boticário de Proteção à Natureza.
%
Ecoando a proteção
da Mata Atlântica no Sul da Bahia
'
Infra-estrutura destaca
RPPN Sesc Pantanal
!
Sustentabilidade
conquistada pela diversificação
!!
Como
criar RPPNs
!"
O O primeiro passo para criar uma RPPN é
providenciar a documentação obrigatória.
Uma alternativa para agilizar o processo junto
ao órgão ambiental é solicitar auxílio à
associação de proprietários de RPPNs do seu
estado ou região.
!&
em RPPN, essa área mostra que é possível manter a
biodiversidade com o envolvimento dos proprietá-
rios privados, numa ação conjunta com o poder pú-
blico na implementação de um sistema eficiente de
áreas protegidas.
Desde essa época, a CI-Brasil vem apoiando pon-
tualmente a criação e a gestão de RPPNs no país.
Em 2003, por meio do Fundo de Parceria para
Ecossistemas Críticos (CEPF3), foi instituído o Progra-
ma de Incentivo às RPPNs da Mata Atlântica, coor-
denado pela Aliança pela Conservação da Mata
Atlântica. Por meio de editais abertos anualmente,
os proprietários rurais podem receber apoio à cria-
ção de novas reservas ou para gestão de áreas já
reconhecidas, em cinco estados brasileiros: BA, ES,
MG, RJ e SP. Até o momento, foi apoiada a criação
de cerca de 85 novas reservas, totalizando quase
7.000 hectares, além de serem beneficiadas 35 re-
servas nesses estados com apoio para gestão e
implementação.
No Pantanal, a CI-Brasil implementou em 2005
um fundo de apoio às RPPNs nos mesmos moldes
daquele já existente para a Mata Atlântica, e iniciou
o Programa de Apoio às RPPNs do Pantanal, que
contempla dez municípios nos Corredores de
Biodiversidade Serra de Maracaju-Negro e Miranda-
Serra da Bodoquena. O primeiro edital lançado
apoiou a criação de sete reservas, que juntas
totalizam cerca de 2.500 hectares de novas áreas
protegidas, além de apoiar a implementação e ges-
tão de outras dez reservas, que protegem aproxi-
madamente 25.000 hectares.
O grande desafio desses fundos é conseguir
alavancar mais recursos para a manutenção desse apoio
e, na medida do seu crescimento, expandir a sua área
de atuação. Dessa forma, será possível garantir a
sustentabilidade das RPPNs e difundir, entre os proprie-
tários rurais, a idéia: quem conserva merece apoio.
3
Fundo formado com recursos do Banco Mundial, do Fundo para o Meio
Ambiente (GEF), da Fundação Mac Arthur e do governo do Japão para apoiar
ações nos hotspots de biodiversidade. Na Mata Atlântica, parte dos recursos do
Fundo destinam-se ao apoio às Unidades de Conservação, sendo operado pela
Conservação Internacional.
!'
Perguntas freqüentes
"
Implementando
RPPNs
"
C Como qualquer outra Unidade de Conserva-
ção pertencente ao SNUC, é necessário que o
proprietário rural realize estudos sobre a sua área
para elaboração do Plano de Manejo. Esse estu-
do contribuirá para aumentar o conhecimento
sobre a reserva e promover um manejo adequa-
do dos recursos naturais, resultando em efici-
ente uso e gestão da área.
É importante ressaltar que há necessidade da
realização do Plano de Manejo no prazo máximo
de cinco anos a partir da data de criação da RPPN.
Até que seja estabelecido o Plano de Manejo na
reserva, somente serão permitidas atividades e
obras destinadas a garantir a sua proteção, fisca-
lização e a realização de pesquisas científicas.
O documento deve abordar todos os aspec-
tos referentes à RPPN, desde a legislação sobre
as atividades desenvolvidas até as normas que
deverão ser seguidas dentro da reserva. Esse
documento orienta o proprietário na adminis-
tração e no gerenciamento de toda a área.
"!
Roteiro Metodológico
Facilitando o planejamento
Etapas do planejamento
1) Estabelecendo parcerias
Para diminuir e otimizar custos, o proprietário
deve procurar identificar e estabelecer parcerias
"#
e outras formas de cooperação para a elabora-
ção do Plano de Manejo, seja com universidades,
prefeituras, secretarias, organizações locais, Ongs
e pesquisadores que podem deter informações
aplicáveis à elaboração do documento.
2) Composição da equipe
Dependendo do tamanho da RPPN e da dis-
ponibilidade de recursos, o Plano de Manejo pode
ser elaborado e coordenado pelo proprietário
rural. Por ser uma atividade que requer conheci-
mento de diversas áreas e, principalmente, práti-
ca da metodologia de elaboração desse documen-
to, com ênfase no planejamento, é aconselhável
a contratação de um profissional ou equipe. É
importante que o proprietário se envolva tecni-
camente para o maior sucesso do trabalho.
3) Levantamento de informações
Essa é a fase de levantamento bibliográfico e
cartográfico, na qual serão buscadas as infor-
mações já disponíveis na literatura, em institui-
ções locais, regionais e nacionais, e junto a téc-
nicos e pesquisadores. Materiais como imagens
de satélite e mapas podem ser adquiridos sem
custo no IBAMA, SEMA, IBGE, INPE ou outras
instituições públicas.
5) Levantamentos de campo
Consiste em visitas à RPPN e ao seu entorno
para reconhecimento e levantamento dos seus
aspectos gerais: pontos fortes e fracos, proble-
mas, ameaças e oportunidades para seu funcio-
namento. É nessa ocasião que são feitas todas
as coletas de material biológico e da
socioeconomia, de acordo com as característi-
cas da RPPN e seu entorno.
"%
Nessa oportunidade, também são feitas as vi-
sitas e entrevistas com autoridades locais, vizinhos
e com todas as instituições que possam influen-
ciar de alguma maneira o manejo da RPPN.
7) Desenho do planejamento
Essa é a etapa específica da definição das
atividades e normas para a RPPN, ou seja, trata
da estratégia de manejo que será delineada a
partir do cruzamento e da integração de todo
o conhecimento obtido na fase dos levanta-
mentos e tratamento das informações, que é o
diagnóstico.
O início dos trabalhos dá-se pela definição
dos objetivos específicos de manejo, seguin-
do-se o desenho do zoneamento da RPPN. Logo
após, são escolhidas as áreas de atuação den-
tro de cada zona, para as quais são definidas
as atividades e normas que levarão ao funcio-
namento da RPPN como um todo.
9) Divulgação do plano
Essa etapa é desejável, mas pode ocorrer si-
multaneamente à implementação do plano. A sua
divulgação vai fortalecer a existência da RPPN, pois
demonstrará o quanto o proprietário está com-
prometido com os objetivos de criação da UC,
além de facilitar o conhecimento da área por in-
teressados, servindo, ainda, de modelo a ser se-
guido por outros.
"'
Como realizar
o diagnóstico
#
O O diagnóstico é uma etapa fundamental no
planejamento e no manejo de qualquer Unida-
de de Conservação, pois traz as informações so-
bre os diferentes aspectos da área, como com-
posição da fauna e da flora, constituição geoló-
gica, principais feições de relevo e característi-
cas socioeconômicas regionais, entre outras.
Para a realização de um diagnóstico é ne-
cessário que sejam contempladas pelo menos
três escalas de área: a propriedade como um
todo, a reserva e a região do entorno. Para cada
uma dessas escalas, o grau de complexidade
dos diagnósticos pode ser diferente, não sen-
do necessária, para todas essas áreas de
abrangência, a coleta de dados primários, isto
é, dados coletados diretamente em campo.
Em geral, esse trabalho é feito por equipes
multidisciplinares. A contratação de diversos es-
pecialistas para elaboração de um diagnóstico
completo tem custo elevado, o que torna inviável,
para alguns proprietários, cobrir todos os temas
sugeridos no roteiro metodológico com informa-
ções resultantes de dados primários. Alguns te-
mas, no entanto, são imprescindíveis para uma
boa caracterização da área, permitindo, assim, a
realização de um diagnóstico adequado e, con-
seqüentemente, de um bom planejamento.
Em relação aos fatores relacionados ao meio
físico, também chamados de fatores abióticos4,
são mais relevantes temas como geologia e re-
4
Abióticos: componentes do ecossistema que não incluem os seres vivos.
Exemplos: substâncias minerais, os gases e os elementos climáticos isolados.
Fonte: Mini Aurélio - 2001
#
levo, visando levantar possíveis pontos de maior
fragilidade quanto à erosão ou então áreas po-
tenciais para visitação em função de atrativos cê-
nicos, montanhas e cavernas, entre outros.
Já a hidrografia, com potenciais atrativos
como cachoeiras e locais de banho, rios e suas
respectivas matas ciliares, representam impor-
tantes vias de deslocamentos de várias espécies
da fauna e, em muitos ca-
sos, são utilizados como
Fazem parte do mananciais para abasteci-
diagnóstico mento humano.
biótico, a Em relação ao meio
vegetação, biótico5, em geral fazem
além de alguns parte dos diagnósticos a
grupos de vegetação, além de alguns
fauna grupos da fauna (nota-
damente de vertebrados),
como mamíferos, aves, rép-
teis e anfíbios. Um bom diagnóstico da vegeta-
ção é fundamental para a definição dos dife-
rentes ambientes na área de abrangência do
Plano de Manejo. Essa etapa permite a carac-
terização das diferentes zonas da reserva para
fins do zoneamento. A definição dos diferen-
tes tipos de cobertura vegetal deve ser feita em
uma escala compatível com os objetivos de pla-
nejamento da reserva.
Muitas vezes, ao adequar-se as diferentes
fisionomias à proposta de classificação do Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
conforme sugerido no Roteiro Metodológico,
perde-se qualidade de informação em função
da escala de mapeamento. Pode ser feita uma
combinação entre a classificação proposta pelo
IBGE e alguma outra que seja mais adequada
localmente, inclusive usando terminologia que
seja de conhecimento dos gestores e demais
envolvidos com o manejo da reserva.
Biótico: Relativo aos organismos vivos e aos processos vitais. Fonte: Aurélio 2001
5
#
Os grupos de fauna mais usualmente diag-
nosticados nos Planos de Manejo das Unidades
de Conservação são os de vertebrados, pois além
de serem mais fáceis de reconhecimento, po-
dem funcionar como bons indicadores
ambientais. Os invertebrados, dentre os quais
os insetos, maior grupo de organismos vivos,
funcionam muito bem a esses propósitos, po-
rém são de mais difícil captura e identificação,
exigindo a contribuição de diversos especialis-
tas nesse trabalho.
Enquanto entre os vertebrados temos relativa-
mente poucas espécies, so-
mente num grupo de inse-
tos é possível obter-se
listagens com mais de uma O diagnóstico
centena de espécies, muitas deve ser
das quais ainda desconheci- direcionado
das pela Ciência. Sugere-se aos objetivos
que um inventário detalha- da área e à sua
do dos diversos grupos de inserção
invertebrados seja realizado regional
dentro dos programas de
pesquisa da reserva após a
elaboração e aprovação do
Plano de Manejo, e se alguma "novidade" interes-
sante nesses grupos for encontrada, que seja
considerada por ocasião da revisão do plano.
Outros pontos importantes a serem conside-
rados na elaboração dos diagnósticos relacio-
nam-se à visitação na área, à infra-estrutura dis-
ponível para a gestão da reserva (tanto de pes-
soal como de edificações e benfeitorias), à dis-
ponibilidade de equipamentos para uso na área,
além de outros aspectos devidamente listados
no Roteiro Metodológico.
O importante é ressaltar que o diagnóstico
de uma RPPN para fins de planejamento deve
ser bem direcionado aos objetivos da área e à
sua respectiva inserção no contexto regional.
#!
Nesse sentido, reunir os especialistas responsá-
veis pela produção dos diagnósticos em um se-
minário de planejamento, no qual cada um con-
tribua dentro de sua respectiva especialidade
para um entendimento mais geral da área e de
sua importância para a conservação, pode ser
uma excelente opção para fazer com que o ma-
nejo da reserva seja feito em bases mais consis-
tentes e adequadas.
Quanto aos demais níveis de diagnóstico,
como da área da propriedade e do seu respec-
tivo entorno, o objetivo principal é detectar de
que forma podem ser potencializados os es-
forços de conservação, como, por exemplo, por
meio da promoção de conexões com outras
áreas protegidas existentes na região, além de
verificar como as atividades em curso na pro-
priedade ou no seu entorno podem concorrer
com os objetivos de conservação da reserva.
Ainda deve ser lembrado que todas as infor-
mações dos diagnósticos, sejam elas primárias
ou secundárias, devem estar devidamente
georreferenciadas, ou seja, vinculadas às coor-
denadas geográficas que situem exatamente
onde o dado foi coletado, de forma a permitir
que seja feito o devido monitoramento dessas
informações ao longo do desenvolvimento das
diferentes atividades planejadas para a área.
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Os mapas e plantas temáticas são excelentes
formas de espacialização das informações dispo-
níveis em um diagnóstico. Vale lembrar que, no
caso de informações secundárias, nem sempre é
possível obter dados que permitam uma
espacialização. Nas plantas e mapas, podem ser
sistematizadas e compiladas diferentes bases de
dados, sejam resultantes de trabalhos já existen-
tes na região em questão, seja daqueles proveni-
entes dos inventários e levantamentos feitos por
ocasião do Plano de Manejo da reserva.
Zoneamento de áreas
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Pode ocorrer visitação, desde que não comprometam a recuperação.
Exemplos de Zoneamento
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#'
Programas de Manejo
Projetos Específicos
$
A Além de preservar belezas cênicas e ambien-
tes históricos, as RPPNs assumem cada vez mais,
objetivos de proteção de recursos hídricos, ma-
nejo de recursos naturais, desenvolvimento de
pesquisas científicas, manutenção de equilíbri-
os climáticos, entre vários outros serviços
ambientais que recém começamos a entender e
valorizar. Proteger a diversidade biológica de um
país é compromisso de todos os setores da soci-
edade e não apenas ação do Poder Público.
É preciso união, integração e organização na
busca de maior integração e intercâmbio de in-
formações e experiências para que as RPPNs con-
tinuem sendo exemplo de cidadania e respon-
sabilidade socioambiental.
Procure informações, tire suas dúvidas quan-
to à criação e gestão de RPPNs. Essas informa-
ções podem ser obtidas nos órgãos ambientais
de seu estado ou município, ou ainda nas asso-
ciações de proprietários de RPPNs de sua região.
Para informações no estado de Mato Grosso
do Sul procure a SEMA, IBAMA ou ainda a
REPAMS. Defender, preservar e conservar os re-
cursos naturais, promovendo assim o desenvol-
vimento sustentável, e incrementando a criação,
implantação e gestão das RPPNs é o trabalho
que vem sendo desempenhado pela REPAMS no
estado. A conservação da biodiversidade é o
desejo de deixar o patrimônio natural como he-
rança para essa e as futuras gerações!
$!
Instituições
de apoio e
associações
de RPPNs
$"
Instituições
de apoio
Fundação Cristalino
Av. Perimetral Oeste, 2001
CEP: 78580-000 - Alta Floresta/MT
Fone/fax: (66) 3521-8513
E-mail: [email protected]
Site: www.fundacaocristalino.org.br
Fundação Ecotrópica
Rua 3, nº 391 - Boa Esperança
Cep 78068-370 - Cuiabá/MT
Fone/fax: (65) 3052-6615/6619
E-mail: [email protected]
Site: www.ecotropica.org.br
$#
Fundação Pró Natureza (FUNATURA)
SCLN 107, Bloco B. salas 201/207
CEP 70743-520 - Brasília/DF
Fone/Fax: (61) 3274-5449/5324
E-mail: [email protected]
Site: www.funatura.org.br
IBAMA/DIREC
Ed. Sede - Bloco ASCEN - Setor de Clubes
Esportivos Norte, Trecho 2
CEP: 70818-900 - Brasília/DF
Fone: (61) 3316-1756
Site: www.ibama.gov.br
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Associações de
RPPNs no Brasil
$%
Associação de Proprietários de RPPNS do
Ceará, Piauí e Maranhão (ASA BRANCA)
Av. Santos Dumont 3060, sala 514
CEP: 60150-161 Fortaleza/CE
Fone/fax: (85) 4006-8079/8079
E-mail: [email protected]
Site: www.acaatinga.org.br/asabranca
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Associação dos Proprietários de RPPNs do
Bioma Amazônico e Colaboradores da
Natureza (ARBIAM)
Rua Cametá, Q 2 Casa 9 - Conjunto Débora
CEP: 69078-510 - Manaus/AM
Fone: (92) 3611-1601
E-mail: [email protected]
$'
Referências
bibliográficas e
complementares
%
Referências bibliográficas
Referências complementares
%
DIEGUES, A.C. O mito moderno da natureza intocada. Ed.
HUCITEC, São Paulo, 1996. 169 págs.
%
cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Vol. 2, 2 ed.
Nova Odessa, São Paulo: Instituto Platarum, 1998. 373 págs.
%!
Particular do Patrimônio Natural Parque Ecológico João Basso.
Rondonópolis: Styllus, 2003.
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Dicas de Sites
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Anexos
Anexo I
Mapa atualizado das RPPNs do MS
(Encartado nessa publicação)
Anexo II
Documentação exigida para criar RPPN
a) Cópia autenticada da cédula de identidade
do proprietário e do cônjuge, ou procurador, ou
do representante legal, quando pessoa jurídica;
b) Pessoa jurídica: contrato social atualizado,
indicando o representante legal;
c) Prova de quitação do Imposto sobre a Proprie-
dade Territorial Rural (ITR), correspondente aos
últimos cinco exercícios, ressalvados os casos de
inexigibilidade e dispensa previstos no art. 20
da Lei nº 9.393, de 19 de dezembro de 1.996,
ou certidão negativa de ônus expedida pelos
órgãos competentes;
d) Certificado de Cadastro do Imóvel Rural (CCIR)
do último ano;
e) Título de domínio, com a certidão
comprobatória da matrícula atualizada e do re-
gistro do imóvel em nome do atual adquirente
onde incidirá a RPPN, acompanhada da cadeia
dominial ininterrupta e válida desde a sua ori-
gem ou cinqüentenária;
f) Quando não for possível obter a certidão
cinqüentenária exigida neste ato, o proprietário
deverá apresentar a cópia do pedido corresponden-
te, acompanhado de certidão atual do registro do
imóvel fornecida pelo oficial de Registro de Imóveis
da circunscrição judiciária da propriedade;
g) Mapa ou planta da área total do imóvel indi-
cando os limites, os confrontantes, a área a ser
reconhecida, quando parcial, e a localização da
propriedade no município ou região.
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Anotações
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Anotações
Anotações