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CONTRASTES EM ZONEAMENTO: PLANO DIRETOR DE

MARECHAL DEODORO E PLANO DE MANEJO DA ÁREA


DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DE SANTA RITA
Larissa Audrey Marinho de Souza1
Fellipe Eduardo Soares Souza Barbosa2
Libel Pereira da Fonseca3

Engenharia Ambiental

ciências humanas e sociais

ISSN IMPRESSO 1980-1785


ISSN ELETRÔNICO 2316-3143

RESUMO

A Área de Proteção Ambiental de Santa Rita – APA (Lei nº 9.985/2000, Art.15º) está
inserida em três munícios do estado de Alagoas: Maceió, Marechal Deodoro e Co-
queiro Seco. O objetivo deste artigo é apontar os contrastes desses respectivos Planos
e a falta de sincronia no uso do espaço geográfico, fato que vem dificultando as ações
dos gestores ambientais responsáveis. Objetivam-se ainda neste artigo detectar as
principais ameaças à APA, bem como apontar potencialidades no zoneamento terri-
torial do Plano de Manejo da mesma, visto que esses instrumentos buscam assegurar
a efetividade do direito ao meio ambiente sadio, devendo ser conjugados de maneira
que um não sobreponha ao outro, tendo como foco principal a defesa das áreas am-
bientalmente protegidas. A partir das análises feitas sobre as definições e asaplicabi-
lidades dos planos, foi possível observar a divergência entre as zonas propostas, fato
que dificulta a gestão da região com relação ao uso e ocupação.

PALAVRAS-CHAVE

Unidade de Conservação; Política urbana; Pressão antrópica

Ciências Humanas e Sociais | Alagoas | v. 6 | n.3 | p. 207-218 | Maio 2021 | periodicos.set.edu.br


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ABSTRACT

The Environmental Protection Area of Santa


​​ Rita - APA (Law nº 9.985 / 2000, Art.15º) is
inserted in three municipalities in the state of Alagoas: Maceió, Marechal Deodoro and
Coqueiro Seco. The purpose of this article is to point out the contrasts of these respec-
tive Plans and the lack of synchrony in the use of geographic space, a fact that has been
hampering the actions of responsible environmental managers. The aim of this article is
to detect the main threats to the APA, as well as to point out potentialities in the territo-
rial zoning of the Management Plan, since these instruments seek to ensure the effecti-
veness of the right to a healthy environment, and must be combined in such a way that
one does not. overlap the other, with the main focus on the defense of environmentally
protected areas. From the analyzes made on the definitions and applications of the
plans, it was possible to observe the divergence between the proposed zones, a fact
that makes the region’s management difficult in terms of use and occupation.

KEYWORDS

Conservation Unit; Urban policy; Anthropic pressure.

1 INTRODUÇÃO

Os conflitos socioambientais referentes ao uso e ocupação do solo ocorrem há


um longo período, tendo em vista que as primeiras áreas protegidas tinham somen-
te características de reserva de recursos, pois segundo Diegues (1996, p. 17) “para o
naturalismo da proteção da natureza do século passado, a única forma de proteger a
natureza era afastá-la do homem”. No ano de 1962 foi realizado o I Congresso Mun-
dial sobre Parques Nacionais, onde foi discutida pela primeira vez a possibilidade de
exploração econômica nas áreas protegidas (BRITO, 2008).
Desta forma, com o objetivo de contribuir para a manutenção da diversidade bioló-
gica e promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais, foi criado
no Brasil, no ano de 2000, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), por
meio da Lei nº 9.985/2000. O SNUC é composto por doze categorias de Unidade de Con-
servação (UC), que se dividem entre Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso
Sustentável, nestas estão as Áreas de Proteção Ambiental (APA) (BRASIL, 2000).
A APA de Santa Rita foi criada em 1984, abrangendo os municípios de Maceió,
Marechal Deodoro e Coqueiro Seco, municípios que apresentam constante cresci-
mento populacional, tendo suas terras ocupadas e exploradas de forma rápida e de-
sordenada. Este fato elenca a necessidade de uma organização referente ao uso e
ocupação do solo de forma eficiente e que preserve os ambientes naturais da região.
Neste trabalho foram analisados os conflitos existentes nos zoneamentos do
Plano de Manejo da APA e do Plano Diretor do Município de Marechal Deodoro com
base nas seguintes zonas presentes do plano de manejo: Zona de Conservação Am-
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biental Paisagística (ZCAP), Zona de Conservação Ambiental de Transição (ZCAT) e


Zona de Recuperação Ambiental Compensatória (ZRAC).

2 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para elaboração deste artigo é pautada na pesquisa


exploratória. A coleta de dados se deu por meio de consulta direta aos órgãos ges-
tores de âmbito estadual e municipal, entre eles, o Instituto de Meio Ambiente (IMA/
AL), Secretaria Municipal de Marechal Deodoro e Secretaria Municipal de Coqueiro
Seco. O acervo técnico contempla pesquisa bibliográfica, visita a campo e elaboração
de um documentário, por meio da realização de entrevistas com os participantes da
elaboração do Plano de Manejo: Alex Nazário (IMA/AL), Rosângela Lyra Lemos (IMA/
AL); a atual gestora da APA-SR: Kadja Monaysa (IMA/AL); os atuais secretários de meio
ambiente de Marechal Deodoro e Coqueiro Seco: Mateus Gonzalez (SEMMA/MD) e
Redson Cavalcante (SEMMA/CS), respectivamente.

3 CARACTERIZAÇÃO DA APA

A Área de Proteção Ambiental (APA) de Santa Rita (SR) foi criada pela Lei Estadu-
al n° 4.607 de 19 de dezembro de 1984 e regulamentada pelo Decreto Conselho Es-
tadual de Meio Ambiente (CEPRAM) nº 6.274 de 5 de junho de 1985, com a finalidade
de “[...] preservar as características dos ambientes naturais e ordenar a ocupação e uso
do solo naquela área” (ALAGOAS, 1985).
Inserida nos municípios de Coqueiro Seco, Marechal Deodoro e Maceió a APA
de Santa Rita possui uma área total de 10.230 hectares, sendo 68,84% abarcados pelo
município de Marechal Deodoro, cidade pertencente à região metropolitana da capi-
tal Maceió (IMA, 2015, p. 27). Nesse território há a presença dos mais diversos biomas
como manguezais, restingas e uma fitofisionomia predominantemente (93% da Uni-
dade de conservação, excluindo cursos d’agua) formada por floresta ombrófila aberta
(INSTITUTO..., on-line), além de uma grande biodiversidade marinha e lagunar, por
meio do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM).
Importante salientar ainda que a APA-SR e a APA Marituba do Peixe são as úni-
cas Unidades de Conservação do Estado de Alagoas que possuem Plano de Manejo.
O objetivo do Plano da APA-SR, segundo o próprio documento, é:

Assegurar as condições naturais de reprodução e de


desenvolvimento da flora e da fauna nativas; impedir
alterações nos recifes, desembocaduras das lagoas e perfis
dos canais, que possam prejudicar o equilíbrio ecológico do
estuário; resguardar a população local e ao meio ambiente
dos efeitos negativos da industrialização e urbanização;
possibilitar o desenvolvimento harmônico e sustentável das

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atividades pesqueiras, agrícolas e artesanais da população


local; resguardar a vegetação natural e sua flora característica,
bem como a fauna residente e/ou migratória e seus ambientes
naturais; impedir a degradação do meio ambiente, envolvendo
as populações tradicional e não-tradicional à informação e
à necessidade de preservação; conservar o meio aquático,
assegurando a manutenção da qualidade da água, permitindo
a renovação dos recursos pesqueiros e a balneabilidade das
praias. (IMA, 2015, p. 24).

O Plano de Manejo é de suma importância para a gestão das Unidades de


Conservação, tendo em vista que ele norteia o uso do espaço onde a UC se in-
sere. Deve ser esclarecida a restrição de algumas atividades a fim de minimizar
os impactos negativos, além de propor medidas para recuperar e/ou proteger
integralmente áreas que já sofreram algum tipo de degradação anteriormente.

4 A IMPORTÂNCIA DA APA PARA OS MUNICÍPIOS

Dentre as três cidades que permeiam a APA, Maceió e Marechal Deodoro são
respectivamente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010),
o primeiro e o terceiro município alagoano em produto interno bruto (PIB), onde, o
turismo é uma das forças motrizes do setor de serviços de ambos os municípios. O
turismo nesses municípios, como na maior parte das cidades da mesorregião da Zona
da Mata alagoana, se dá principalmente pelas belas praias e pela gastronomia típica.
Dentre as principais iguarias da região de Santa Rita encontra-se o Sururu (Mytella-
charruana) um molusco Bivalva endêmico da região lagunar de Mundaú que atrai
turistas o ano todo por seu sabor exótico.
Segundo Lima (2015), a variedade de biomas, ecossistemas aquáticos, vege-
tação, paisagens e biodiversidade permite a região da APA de Santa Rita o desen-
volvimento de pesca, turismo, lazer e produção de alimentos. Consequentemente, a
criação de uma grande quantidade de empregos, diretos ou indiretos, que beneficiam
a população e movimentam a economia local.
Além disso, segundo Bruijnzeel (1990) e Calder (1998 apud BACELLAR, 2005), a
grande capacidade evapotranspirativa da vegetação aumentaria a umidade atmos-
férica e, consequentemente, as precipitações locais. Ou seja, além do benefício da
evapotranspiração oceânica ao qual a região da APA de Santa Rita é permeada, as
manutenções dos biomas florestais na APA garantem segurança hídrica à região. Se-
gurança essa que é fundamental para a manutenção, por exemplo, da monocultura
de cana de açúcar, principal commodities do setor agrícola do Município de Marechal.
Todos esses benefícios e serviços ambientais só são possíveis pela presença
preservada dos biomas e ecossistemas terrestres e aquáticos na região da APA. Res-
trições ambientais são essenciais para a preservação do manguezal, habitat do sururu
e de caranguejos, responsáveis não apenas pela fonte de renda local, mas também

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pela sustentabilidade e o equilíbrio ecológico. Além disso, a inexistência da conser-


vação dos ambientes costeiros e marinhos acarretará gradativamente na perda de
sua biodiversidade, visto que é responsável pelas condições de abrigo e de suporte
à reprodução e à alimentação de várias espécies entre os ecossistemas terrestres e
marinhos, afetando diretamente o turismo local.

5 AÇÕES ANTRÓPICAS IMPACTANTES COMO


AMEAÇA AOS ECOSSISTEMAS EXISTENTES

O Estado de Alagoas desde o princípio é uma região bastante visada pelos gran-
des empreendedores por ser uma área de solo fértil para a agricultura e por estar lo-
calizada em uma extensão repleta de belezas naturais, fato que gerou intensa procura
por espaço para empreender, principalmente no setor sucroalcooleiro. Assim, algu-
mas das dinâmicas de uso e ocupação do solo permeiam até hoje, gerando diversos
desafios para a região como a especulação imobiliária, a grilagem de terras e os in-
cêndios criminosos em áreas de desejável concessão e ocupação.
Para exemplificar os problemas ambientais supracitados pode-se elencar al-
guns fatos ocorridos na região da APA, como as intensas queimadas provocadas na
maioria das vezes pelos próprios moradores da região, a fim de retirar os carangue-
jos do seu habitat natural para caça e posterior comercialização. O monitoramento
de queimadas realizado pelo IMA/AL no mês de novembro de 2019, registrou 4
(quatro) relatórios de queimadas, e em todos eles havia registros do fogo da região
da APA-SR. Além disso, na ida a campo com o intuito de levantamento de informa-
ções para a elaboração deste trabalho, foram observadas evidências dessas queima-
das, a exemplo das Figuras 1 e 2.

Figuras 1 e 2 – Queima ilegal na Ilha de Santa Rita – Marechal Deodoro/AL

Fonte: Autores.

Na região lagunar os desafios não são menores, pois entre essas áreas passam
linhas de transmissão, tubulações de oleodutos, gasodutos e no entorno do Polo
Cloroquímico de Alagoas (PCA) passam tubulações de etenoduto, que são uma
ameaça para essa região por se configurarem em atividades de risco de alto impac-
to ambiental (IMA, 2015, p. 6).

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6 CONFLITOS E POTENCIALIDADES ENTRE OS PLANOS

O plano diretor, conforme art. 12 da Constituição Federal é o instrumento básico


da política de desenvolvimento e expansão urbana (BRASIL, 1988). Este documento
define as exigências fundamentais de ordenamento da cidade que delineiam o cum-
primento da função social da propriedade urbana. Devido ao fato da região em questão
se tratar de uma localidade dona de um litoral de belezas cênicas e de uma economia
voltada ao turismo alicerçada em uma forte influência do artesanato e da gastronomia
alagoana, o aumento demográfico ocorre de maneira acelerada e desordenada.
Desta forma, a fim de instituir regras de uso e ocupação do solo urbano com o
objetivo de consolidar e aperfeiçoar a infraestrutura básica, concentrar o adensamen-
to de maneira a evitar os vazios urbanos e a expansão urbana desnecessária, garan-
tindo a qualidade ambiental, foi criado o Plano Diretor de Marechal Deodoro por meio
da Lei Municipal nº 919 de 9 de novembro de 2006.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Plano de Manejo
é um documento que estabelece normas, restrições para o uso, ações a serem
desenvolvidas e manejo dos recursos naturais da UC, podendo também incluir a
implantação de estruturas físicas, visando à minimização dos impactos negativos,
garantindo a manutenção dos processos ecológicos e sua preservação. Ainda de
acordo com o MMA, uma das ferramentas mais importantes do Plano de Manejo é
o zoneamento das UC, que organiza espacialmente em zonas sob diferentes graus
de proteção e regras de uso.
Em consonância com as definições supracitadas, as três zonas propostas no
Plano de Manejo da APA de Santa Rita escolhidas para analisar neste trabalho foram:
Zona de Conservação Ambiental Paisagística (ZCAP), Zona de Conservação Ambien-
tal de Transição (ZCAT) e Zona de Recuperação Ambiental Compensatória (ZRAC).
Equiparando essas zonas com o zoneamento do Plano Diretor Municipal de Marechal
Deodoro, constataram-se alguns conflitos e contradições com as seguintes zonas:
Zona de Ocupação Restritiva (ZOR 4), Zona de Ocupação Preferencial (ZOP 4) e Zona
Especial de Interesse Turístico (ZEIT 2 e 3).
Tais conflitos dificultam a utilização equilibrada das espécies e dos ecossistemas
da região, conciliados com os benefícios econômicos de interesse de sua população.
Nessa análise, é possível verificar grande redução das áreas legalmente protegidas por
grande avanço do perímetro urbano.
De acordo com o Plano de Manejo, as Zonas de Conservação Ambiental (ZCA)
se tratam de áreas com alta fragilidade ecológica, onde as atividades humanas devem
se desenvolver com muito controle, pois há a presença de ecossistemas protegidos
pela legislação ambiental, visto que margeiam a Orla Lagunar, possuindo áreas alaga-
diças e manguezais (IMA, 2015, p. 240).
Já as Zonas de Recuperação Ambiental (ZRA) são aquelas formadas por áreas
onde o meio natural sofreu alterações significativas na sua função ambiental, neces-
sitando assim, de apoio dos órgãos públicos e da sociedade civil organizada, para que
seja possível recuperar ao máximo as áreas que sofreram alterações. (IMA, 2015, p. 243)

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De acordo com o Plano Diretor, as Zonas de Ocupação Restritiva (ZOR) cons-


tituem-se em parcelas do território municipal com baixa intensidade de ocupação e
restrição ambiental, com predomínio de uso residencial.
As Zonas de Ocupação Preferencial (ZOP) é a região do território municipal com
melhor capacidade de infraestrutura urbana, com predominância de uso residencial
onde deve ocorrer o incentivo à ocupação dos vazios urbanos, com média intensida-
de de ocupação.
Por fim, as Zonas de Especial Interesse Turístico (ZEIT) são porções do território mu-
nicipal destinadas prioritariamente aos usos e atividades de apoio ao turismo sustentável.
Leva-se em consideração nesse caso, em primeira instância, o comparativo en-
tre as zonas dos planos em questão:

6.1 ZONA DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL PAISAGÍSTICA –


ZCAP E ZONA DE OCUPAÇÃO RESTRITIVA – ZOR4

Figura 3 – Área de conflito ZCAP e ZOR 4

Fonte: Google Earth Pro.

O conflito entre essas zonas foram encontrados em um trecho de área localiza-


do nas coordenadas 9º44’24.41”S de Latitude e 35°51’5.69”O de Longitude.
A ZCAP é classificada no Plano de Manejo como uma área que compreende apenas
faixas naturais pouco descaracterizadas, com a presença de residências antigas, precárias
e que sobrevivem dos recursos naturais da região, caracterizados pelos sítios, chácaras e
fazendas que mantêm a paisagem geográfica pouco alterada (IMA, 2015, p. 240)
No entanto, a ZOR 4, segundo o Plano Diretor, apesar de relatar restrições am-
bientais, incentiva a instalação de atividades de uso residencial, abrindo lacunas para
o crescimento populacional desordenado, gerando vários impactos nos ecossistemas
locais, fato que ocorre atualmente.

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6.2 ZONA DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL DE TRANSIÇÃO –


ZCATE ZONA DE OCUPAÇÃO PREFERENCIAL – ZOP 4

Figura 4 – Área de conflito ZCAT e ZOP 4

Fonte: Google Earth Pro.

Esse trecho de área fica localizado próximo a um estuarino lagunar, mais pre-
cisamente nas coordenadas 9°44’19.81”S de Latitude e 35°49’40.40”O de Longitude.
A definição de ZCAT no Plano de Manejo é:

[...] área de transição urbano-rural, onde o uso do solo


apresenta aspectos agrícolas ou de pastagem próximos às
áreas urbanizadas [...] boa parcela se encontra em terrenos
sujeitos a alagamento ou contíguas às APP e só são passiveis
de alteração do uso do solo por meio de ocupação sustentável
levando em consideração as restrições de taxa mínima de
permeabilidade do solo. (IMA, 2015, p. 241).

Com base no Plano Diretor, a ZOP 4 constitui-se em parcela do território mu-


nicipal com melhor capacidade de infraestrutura urbana, com predominância de uso
residencial onde ocorre o incentivo à ocupação dos vazios urbanos, com média in-
tensidade de ocupação, em desconformidade com o Plano de Manejo.

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6.3 ZONA DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL COMPENSATÓRIA –


ZRAC E ZONA ESPECIAL DE INTERESSE TURÍSTICO – ZEIT 2 E 3

Figura 5 – Área de conflito ZRAC e ZEIT 2 e 3

Fonte: Google Earth Pro.

Nas coordenadas 9º44’37.90”S de Latitude e 35°49’22.25”O de Longitude, próxi-


mo ao estuarino lagunar, foi o ponto de conflito escolhido entres essas zonas.
Diante do exposto na página 244 do Plano de Manejo, a ZRAC foi modificada con-
sideravelmente por ações antrópicas, transformando e/ou comprometendo os proces-
sos naturais existentes no local. Porém todas essas ações irregulares anteriores e atuais
à criação da APA, são passiveis de regularização ambiental pelos órgãos ambientais
competentes e devem visar alternativas e medidas de recuperação e compensação dos
danos no local através do Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD).
Ao considerar o exposto no Plano Diretor, especificamente na caracterização da
ZEIT 2 e 3, é citado que esta zona faz parte de poções do território municipal destina-
das prioritariamente aos usos e atividades de apoio ao turismo sustentável, deixando
pouco evidente as restrições em suas diretrizes, uma vez que estabelecer o incentivo
ao turismo requer modificações do ambiente natural local com vias de acesso e o
incentivo à ocupação com atividade hoteleira.

7 CONCLUSÃO

Portanto, é possível concluir que as regiões que estão compreendidas na APA de


Santa Rita têm grande importância sobre os nativos, o ecossistema local e as atividades
agrícolas, visto que quando esses ambientes são alterados de forma não condizente
com o proposto no Plano de Manejo da APA ou no Plano Diretor do município geram
grandes impactos ambientais e sociais. Dessa forma, se faz necessário que haja uma
análise técnica para se definir o uso e ocupação do solo nos dois planos supracitados.

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A partir das comparações realizadas e sendo notório que o território em ques-


tão sofreu modificações consideráveis ao logo do tempo, é perceptível que, atual-
mente, os planos possuem conflitos que afetam o uso do solo de forma correta nes-
tas regiões, levando a culminar diversos problemas, como o progressivo avanço do
perímetro urbano sobre as áreas de proteção ambiental, contrariando não apenas o
que preconiza a legislação, mas também as próprias características físicas do territó-
rio, gerando conflito entre o poder público e o mercado imobiliário no processo de
planejamento do território do município.
Com o intuito de dirimir estes conflitos e tornar a definição do uso do solo mais
clara, seria necessário que houvesse uma equiparação dos documentos, mantendo
diretrizes, objetivos e restrições compatíveis, viabilizando assim, a gestão ambiental
participativa, o desenvolvimento urbano e imobiliário ordenado e a conservação e
preservação dos recursos naturais para as gerações atuais e futuras.

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Data do recebimento: 14 de novembro de 2020


Data da avaliação: 8 de dezembro de 2020
Data de aceite: 15 de dezembro de 2020

1 Discente de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Tiradentes UNIT/AL.


E-mail: [email protected]

2 Discente de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Tiradentes UNIT/AL.


E-mail: [email protected]

3 Mestre em Engenharia Química; Engenheiro Químico; Professor; Membro do Grupo de Pesquisa de


Iniciação Científica do Centro Universitário Tiradentes UNIT/AL. E-mail: [email protected]

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