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Centro de Educação a Distância

Universidade do Estado de Santa Catarina


Universidade Aberta do Brasil

FLORIANÓPOLIS
CEAD/UDESC/UAB

didatica.indb 1 13/12/2018 16:27:18


Copyright © CEAD/UDESC/UAB, 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição - Caderno Pedagógico

Governo Federal Centro de Educação


a Distância (CEAD/UAB)
Presidente da República
Dilma Rousseff Diretor Geral
Estevão Roberto Ribeiro
Ministro de Educação
Fernando Haddad Diretora de Ensino de
Graduação
Secretário de Regulação e Ademilde Silveira Sartori
Supervisão da Educação
Superior Diretora de Pesquisa e Pós-
Luis Fernando Massonetto Graduação
Sonia Maria Martins de Melo
Diretor de Regulação e
Supervisão em Educação Diretora de Extensão
a Distância Solange Cristina da Silva
Hélio Chaves Filho
Diretor de Administração
Governo do Estado de Ivair De Lucca
Santa Catarina
Chefe de Departamento de
Governador Pedagogia a Distância
João Raimundo Colombo CEAD/UDESC
Rose Clér Beche
Secretário da Educação
Marco Antônio Tebaldi Secretária de Ensino de
Graduação
Maria Helena Tomaz
UDESC
Coordenadora de Estágio
Reitor Isabel Cristina da Cunha
Sebastião Iberes Lopes Melo
Coordenadora UDESC Virtual
Vice-Reitor Gabriela Dutra de Carvalho
Antonio Heronaldo de Sousa
Coordenador Geral UAB
Pró-Reitora de Ensino Estevão Roberto Ribeiro
de Graduação
Sandra Makowiecky Coordenador Adjunto UAB
Ivair De Lucca
Pró-Reitor de Extensão,
Cultura e Comunidade Coordenadora de Curso UAB
Paulino de Jesus F. Cardoso Carmen Maria Cipriani Pandini
Pró-Reitor de Administração Coordenadora de Tutoria UAB
Vinícius A. Perucci Fátima Rosana Scoz Genovez
Pró-Reitora de Planejamento
Cecília Just Milanez Coelho

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Carmen Maria Cipriani Pandini (Org.)
Giselia Antunes Pereira
Vanessa de Almeida Maciel

Didática
Caderno Pedagógico
1ª Edição

Florianópolis

Diretoria da Imprensa Oficial


e Editora de Santa Catarina

2011

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Professoras autoras
Carmen Maria Cipriani Pandini (Org.)
Giselia Antunes Pereira
Vanessa de Almeida Maciel
Design instrucional
Ana Cláudia Taú

Projeto instrucional
Ana Claudia Taú
Carmen Maria Pandini Cipriani
Roberta de Fátima Martins

Projeto gráfico e capa


Adriana Ferreira Santos
Elisa Conceição da Silva Rosa
Pablo Eduardo Ramirez Chacón

Diagramação
Albert T. Fischer Günther
Elisa Conceição da Silva Rosa
Pablo Eduardo Ramírez Chacón
Sabrina Bleicher

Revisão de texto
Roberta de Fátima Martins

P189d Pandini, Carmen M. Cipriani


Didática: caderno pedagógico / Carmen M. Cipriani Pandini (org.),
Giselia Antunes Pereira, Vanessa de Almeida Maciel; design instrucional
Ana Cláudia Taú – Florianópolis : UDESC/CEAD/UAB, 2011.

186 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-64210-33-2

1. Educação. – 2. Educação a distância. – 3.Didática – I. Pereira,


Giselia Antunes. – II. Maciel, Vanessa de Almeida. – III. Taú, Ana Cláudia.
– IV.Título
CDD: 371.3 - 20 ed.

Ficha elaborada pela Biblioteca Central da UDESC

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Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Programando os estudos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

CAPÍTULO 1 - A Didática e a sua Trajetória Histórica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Seção 1 – Gênese da Didática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18


Seção 2 - Períodos Históricos da Didática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

CAPÍTULO 2 - Teorias do Conhecimento, Teorias Pedagógicas e a Didática: o Ensinar e o


Aprender. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Seção 1 - Teorias do conhecimento e a educação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64


Seção 2 - As correntes que influenciam a Didática e as práticas
pedagógicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Seção 3 - Teorias de aprendizagem e as implicações pedagógicas . . . . . . . . . 82
Seção 4 - Por uma opção didática de ensinar e aprender: a problematização do
cotidiano e a aprendizagem significativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

CAPÍTULO 3 - A Instituição Escolar e sua Função: o Papel do Professor e os Elementos da


Didática na Relação Educativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Seção 1 - O fazer docente e as múltiplas faces da relação didática. . . . . . . . 111
Seção 2 - A função da escola e o papel do professor: o saber e o saber ensinar
(pressupostos da Didática) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

CAPÍTULO 4 - A Didática e a Formação do Educador, sua Identidade e


Profissionalização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143

Seção 1 - A Didática na formação de educadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147


Seção 2 - O papel mediador da Didática na construção da identidade do
professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156

Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169


Conhecendo as professoras autoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
Comentários das atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
Referências das figuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183

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Apresentação
Prezado(a) estudante,

Você está recebendo o Caderno Pedagógico da disciplina de Didática. Ele foi


organizado, didaticamente, a partir da ementa e objetivos que constam no
Projeto Pedagógico do seu Curso de Pedagogia a Distância da UDESC.

Este material foi elaborado com base na característica da modalidade de ensino


que você optou para realizar o seu percurso formativo – o ensino a distância.
É um recurso didático fundamental na realização de seus estudos; organiza os
saberes e conteúdos de modo a que você possa estabelecer relações e construir
conceitos e competências necessárias e fundamentais a sua formação.

Este Caderno, ao primar por uma linguagem dialogada, busca problematizar a


realidade, aproximando a teoria e prática, a ciência e os conteúdos escolares,
por meio do que se chama de transposição didática - que é o mecanismo de
transformar o conhecimento científico em saber escolar a ser ensinado e
aprendido.

Receba-o como mais um recurso para a sua aprendizagem, realize seus estudos
de modo orientado e sistemático, dedicando um tempo diário à leitura. Anote
e problematize o conteúdo com sua prática e com as demais disciplinas que irá
cursar. Faça leituras complementares, conforme sugestões e realize as atividades
propostas.

Lembre-se que na educação a distância muitos são os recursos e estratégias


de ensino e aprendizagem, use sua autonomia para avançar na construção de
conhecimento, dedicando-se a cada disciplina com todo o esforço necessário.

Bons estudos!

Equipe CEAD\UDESC\UAB

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Introdução

Para introduzir o estudo desta disciplina, lembramos Maria Cecília Cortez de


Souza (2000) que escreveu que a escola é um lugar de memória. Esta é (...) tecida
em função de múltiplas perspectivas, e o enfrentamento de todas as práticas, suas
estratégias e os conflitos com elas, tornaram-se peças obrigatórias da dramaturgia
escolar de cada aluno... E acrescenta, ainda sem elas, não haveria o que contar. Por
isso, falar de Didática é também respeitar as particularidades de cada época e
do que esta representou para a história da educação e para a história de cada
sujeito envolvido com ela. E é essa história que nutre a Didática, os modelos
pedagógicos, os projetos formativos, as práticas e a profissionalização. Nutre,
também, as reflexões realizadas ao longo das práticas, os processos de avaliação
e os redimensionamentos das ações independentemente do espaço escolar.

Este Caderno trata não só da trajetória histórica da Didática, das tendências e


teorias educacionais e da aprendizagem, mas de questões ligadas aos processos
de profissionalização do professor, suas competências e suas práticas. Possibilita
conhecer as definições de Didática que estiveram atreladas a sua origem, e o
quanto os passos da gênese da Didática foram essenciais para que se fosse
institucionalizada a intencionalidade nas práticas educativas. Além disso, você
irá conhecer ideias pedagógicas de educadores europeus e brasileiros que
influenciaram a Didática, as práticas educativas, bem como os projetos da
sociedade.

No estudo, poderá reconhecer detalhes e atos que marcaram a história da


Didática, além de perceber o quanto as teorias do conhecimento influenciaram
as teorias da aprendizagem e por consequência, as práticas pedagógicas.
Perceberá o papel da Didática no processo de formação do educador, bem como
sua função mediadora na construção da identidade do professor, no seu projeto
de formação inicial e continuada, fazendo uma articulação com a resignificação
da sua prática docente.

Melhor é estudar o Caderno para conhecer tudo isso... Esperamos que você
reconheça a escola: como uma instituição com a finalidade de atender às
necessidades de seus alunos, historicamente situados; que esteja articulada às
exigências da sociedade contemporânea; e como um espaço de apropriações e

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de aprendizagens significativas...E, na Didática, busque as reflexões e as melhores
formas de ensinar para o aprender com sentido.

Um abraço

As professoras, Carmen, Giselia e Vanessa

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Programando os estudos
Estudar a distância requer organização e disciplina; assim como estudos diários e
programados para que você possa obter sucesso na sua caminhada acadêmica.
Portanto, procure estar atento aos cronogramas do seu curso e disciplina para
não perder nenhum prazo ou atividade, dos quais depende seu desempenho. As
características mais evidenciadas na EAD são o estudo autônomo, a flexibilidade
de horário e a organização pessoal. Faça sua própria organização e agende
as atividades de estudo semanais. Para o desenvolvimento desta Disciplina
você possui a sua disposição um conjunto de elementos metodológicos que
constituem o sistema de ensino, que são:

»» Recursos materiais didáticos, entre eles o Caderno Pedagógico.

»» O Ambiente Virtual de Aprendizagem.

»» O Sistema de Avaliação: avaliações a distância, presenciais e de


autoavaliação.

»» O Sistema Tutorial: coordenadores, professores e tutores.

Ementa
A reconstrução da Didática em uma perspectiva histórico-crítica de educação.
O processo de ensino e suas relações. A Didática e a formação do educador.
Objetivos e conteúdos de ensino. Avaliação do processo ensino-aprendizagem.
A especificidade da educação e de sua administração. A transformação histórico-
social da Didática. O professor e sua identidade profissional. O processo de
ensino. A avaliação do processo de aprendizagem.

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Objetivos de Aprendizagem

Geral

Compreender a partir do estudo histórico da Didática, quais são as tendências, as


teorias educacionais e da aprendizagem e as questões ligadas aos processos de
profissionalização do professor, suas competências e suas práticas.

Específicos

»» Diferenciar as tendências liberais e progressistas e analisar a trajetória


histórica da Didática, da sua gênese ao momento histórico atual.

»» Relacionar a teoria do conhecimento, as teorias pedagógicas e a Didática,


de forma que você possa compreender quais são as principais correntes
pedagógicas e suas implicações no processo ensino-aprendizagem e na
Didática.

»» Compreender o papel do professor no contexto da ação pedagógica


reconhecendo os elementos e os pressupostos da Didática na relação
educativa de forma a compreender a função da instituição escolar e a
importância do professor para a realização das abordagens pedagógicas
e práticas educativas.

»» Compreender a importância da Didática na formação de educadores e o


seu papel mediador na construção da identidade do professor.

Carga horária

54 horas/aula.

Anote as datas importantes das atividades na disciplina, conforme sua agenda


de estudos:

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DATA ATIVIDADE TIPO

Conteúdo da disciplina

Veja, a seguir, a organização didática da disciplina, distribuída em capítulos os quais


são subdivididos em seções, com seus respectivos objetivos de aprendizagem.
Leia-os com atenção, pois correspondem ao conteúdo que deve ser apropriado
por você e faz parte do seu processo formativo.

Capítulos de Estudo: 4

Capítulo 1 - O primeiro capítulo aborda a trajetória histórica da Didática. As


definições de Didática que estiveram atreladas a sua origem e os
passos da gênese. Apresenta, ainda, as ideias pedagógicas que
influenciaram a Didática no Brasil. Os detalhes, os fatos que marcaram
a história da Didática no sistema educacional brasileiro.

Capítulo 2 - O capítulo 2 trata do conhecimento e suas bases filosóficas e


epistemológicas, e as relações do conhecimento com as teorias de
aprendizagem, fazendo uma conexão com as práticas docentes.
Nessa perspectiva, aborda as diversas possibilidades de perceber o

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mesmo fenômeno sob diferentes tendências e teorias educacionais
e pedagógicas.

Capítulo 3 - O capítulo 3 aborda a relação entre o ensino e a aprendizagem,


partindo de suas definições. Discute os processos do ensinar e do
aprender como ações diferentes, pois envolvem sujeitos diferentes.
Trata, também, da atividade de aprendizagem e das diferentes
formas de compreender o ensino. Relaciona experiências e saberes
de formação aos princípios pedagógicos.

Capítulo 4 - O quarto capítulo destaca a Didática atuando no processo de


formação do educador. E apresenta o seu papel mediador na
construção da identidade do professor e no projeto de formação
inicial e continuada, bem como à resignificação da sua prática no
cotidiano docente.

Passemos, agora, ao estudo dos capítulos.

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CAPÍTULO 1
A Didática e a sua Trajetória Histórica
Giselia Antunes Pereira

Neste capítulo, você conhecerá o olhar histórico da Didática


partindo da sua gênese à atualidade. Percorrer a trajetória
histórica é uma forma sistematizada de refletir sobre as
questões pedagógicas que envolvem o processo de ensino-
aprendizagem. No que se refere a abordagem sobre didática
contemporânea o capítulo dará ênfase à Didática Crítica.
Trata-se de uma proposta didática transformadora que busca
(re)significar as práticas educativas, na qual o professor não
atua pelo aluno, mas com o aluno.

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CAPÍTULO 1
A Didática e a sua Trajetória Histórica

Objetivo geral de aprendizagem


Diferenciar as tendências liberais e progressistas e analisar a
trajetória histórica da Didática, da sua gênese ao momento
histórico atual.

Seções de estudo
Seção 1 – Gênese da Didática
Seção 2 – Percurso histórico da Didática no Brasil

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Iniciando o estudo do capítulo

Durante o percurso deste capítulo, você irá conhecer a gênese da Didática


e poderá perceber o quanto a sua origem se refletiu nos séculos de sua
história.

Você também conhecerá os caminhos históricos da Didática a partir de


cinco períodos distintos: Didática Tradicional, na vertente leiga e religiosa;
Didática Escolanovista, Didática Tecnicista, Didática Critico-Reprodutivista
e Didática Crítica. Neste sentido, percorrerá a trajetória histórica de forma
sistematizada para refletir sobre as questões pedagógicas que envolvem o
processo de ensino-aprendizagem.

Por fim, você estudará a Didática contemporânea, na qual verá com maior
ênfase a Didática Crítica. Você poderá compreender que a Didática Crítica
trata-se de uma proposta didática transformadora que busca (re)significar
as práticas educativas, na qual o professor não atua pelo aluno, mas com
o aluno.

Seção 1 – Gênese da Didática

Objetivos de aprendizagem

»» Compreender as definições de Didática que estiveram


atreladas a sua origem.

»» Perceber o quanto os passos desde a gênese da Didática


contribuíram para que se fosse institucionalizada a
intencionalidade nas práticas educativas.

»» Conhecer quem foram os educadores europeus a sistematizar


o conjunto de ideias pedagógicas que embasaram os
primeiros períodos da Didática no Brasil.

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Didática

CAPÍTULO 1
Você já pensou sobre o que quer dizer didática? Do que trata esse campo
do saber?

Quando adjetivamos que determinado professor é “didático”, estamos


entendendo que há algo de muito bom na ação daquele professor
quanto a promoção da aprendizagem dos seus alunos. Por isso a Didática
é um campo que certamente desperta muita curiosidade, interesse e a
vontade de conhecer mais. Mas será que a Didática na sua essência é do
conhecimento de todos os professores? Esta é uma questão que assinala a
chave do processo de ensino-aprendizagem e, portanto, deve ser tratada
com maior consideração. A Didática, como você poderá constatar ao longo
desse capítulo, é uma das componentes mais importantes da prática
pedagógica do professor.

A origem da Didática está relacionada ao aparecimento do ensino no


decorrer da evolução da sociedade. Mas, é na Grécia Antiga, quando
procedimentos educativos já faziam parte da reflexão de filósofos e
pensadores, que a Didática veio a ser inaugurada.

O educador e filósofo que marcou a inauguração da Didática na Antiguidade


Clássica foi Sócrates. (HAYDT, 2006).

Para Sócrates (século V a.C.), o saber não é algo que o mestre transmite
ao discípulo. A pessoa alcança o saber ou o conhecimento sozinha, a
partir de um processo de descoberta.

Haydt (2006) explica os dois momentos do método socrático denominado


de ironia: a refutação e a maiêutica.

»» Na refutação, Sócrates procurava levantar as opiniões


dos discípulos sobre um determinado assunto. De
questionamento em questionamento os alunos iriam ao
encontro do esclarecimento das dúvidas de Sócrates e,
aos poucos, percebendo que afinal não conheciam tão
bem o assunto em discussão. Reconhecer que não sabiam

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CAPÍTULO 1

era o primeiro sentimento que Sócrates queria provocar


nos discípulos, para então passar ao segundo momento: a
maiêutica.

»» A maiêutica era um processo dialético e pedagógico que


levava os discípulos a descobrirem e formularem as próprias
respostas, partindo-se do conhecido para o desconhecido e
do fácil para o difícil.

Você pode constatar que, nesse período, a situação didática foi vivida e
pensada antes de ser objeto de sistematização e de se constituir como
referencial do discurso ordenado de uma das disciplinas do campo
pedagógico. Por isso, Castro (1991) denomina de didática difusa o período
que segue da Antiguidade Clássica ao século XVII, no qual se ensinava
intuitivamente ou seguia-se a prática vigente.

O termo “didática” só aparece efetivamente quando ocorre a primeira


tentativa de teorizar os conhecimentos pedagógicos, possibilitando a
intervenção intencional e planejada no processo de ensino-aprendizagem,
deixando de ser assim um ato espontâneo. Possibilitou-se, com isso, que
as escolas se tornassem locais onde o processo de ensino passaria a ser
sistematizado.

Essa formação teórica da didática para sistematizar as ligações entre


ensino-aprendizagem ocorre no século XVII, quando João Amós Comênio
O nome Comênio é o (1592-1670), um pastor protestante, escreve a primeira obra clássica sobre
aportuguesamento da as- Didática, conhecida por Didática Magna. A partir desta obra, a Didática
sinatura latina (Comenius) passa a ser instituída como uma nova disciplina que tem como essência a
de Jan Amos Komensky,
nascido em 1592, em “arte de ensinar tudo a todos”. (LIBÂNEO, 2009).
Nivnice, Morávia (hoje, a
República Tcheca

20 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 1
De onde surgiu o termo didática?

A Didática tem derivação do termo em latim medieval “didáctica”; este, por sua
vez, deriva do grego “didaktikê”, feminino do adjetivo “didáktikos”, da raiz “didak”,
de “didaskein” que corresponde ao ensinar. (CUNHA, 1982 apud GASPARIN, s/d,
p. 87). Curiosamente Heckler e seus colaboradores (1994, apud GASPARIN, s/d, p.
87) acrescentam que o semantema da palavra não seria “dida”, mas uma forma
hipotética “dão”, cujo sentido é também ensinar. Segundo eles a forma “didas” ou
“dida” parece repetitiva. O lexema original seria, portanto, dá. Há uma margem de
interpretação, onde o fato de o prefixo grego “di” significar duas vezes, indica a
parte repetitiva da palavra “didática”; enquanto “da” constituiria o elemento que
encerra o sentido fundamental da palavra

Mesmo sem a precisão dessa imersão à raiz da palavra, Gasparin (s/d) afirma que
essa leitura do lexema gramatical da palavra didática faz sentindo na medida em
que ensino na ordem prática é sempre uma repetição.

Por que Magna?

Comênio chama sua didática de “Magna” porque


ele não queria uma obra restrita, localizada. Ela
precisava ser grande, como o mundo que estava
sendo descoberto naquele momento, com a
expansão do comércio e das navegações.

Ao ouvir falar de uma escola onde as crianças


são respeitadas como seres humanos e como
seres dotados de inteligência, de aptidões,
de sentimentos e de limites, estas parecem
concepções atuais da infância. Do mesmo modo
que o direito de todas as pessoas de terem Figura 1.1 - Comênio
acesso à educação parece um princípio que
só surgiu nas últimas décadas. De fato, essas ideias se consagraram apenas no
século XX e, assim mesmo, não em todos os lugares do mundo. Mas, elas já eram
defendidas há muito tempo antes por Comênio, em pleno século XVII, o que fez
este pensador tcheco ser o grande nome da Didática Moderna.

Comênio foi considerado o primeiro educador a formular a ideia da difusão


do conhecimento e a criar princípios e regras do ensino. Para a época
em que vivia, Comênio desenvolveu ideias avançadas para as práticas
educativas nas escolas. E de acordo com o momento histórico, Comênio
respondia as duas necessidades de seu tempo:

21

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CAPÍTULO 1

1. o aparecimento da burguesia mercantil nas cidades europeias; e

2. o direito, reivindicado pelos protestantes de livre interpretação de


textos religiosos, proibido na época pela Igreja Católica.

Algumas das principais características da didática de Comênio, segundo


Libâneo (2006) eram:

»» a de educação como um elo que conduzia a felicidade eterna


com Deus, portanto, a educação era um direito natural de
todos;

»» a Didática deveria estudar características e métodos de


ensino que respeitassem o desenvolvimento natural do
homem, a idade, as percepções e a capacidade para o
conhecimento;

»» propunha que se deveria ensinar uma coisa de cada


vez, respeitando a compreensão da criança, partindo do
conhecido para o desconhecido;

»» os conhecimentos deveriam ser adquiridos a partir da


observação das coisas e dos fenômenos, utilizando e
desenvolvendo sistematicamente os órgãos e os sentidos.

Em sua obra, Comênio organizou a Didática em quatro períodos: a


infância, a puerícia, a adolescência e a juventude. Para além de propor um
método de ensino, Comênio foi um importante pensador que introduziu
questionamentos acerca da educação de crianças menores de seis anos e
o que elas deveriam aprender

Na atualidade, que referenciais os professores possuem para orientar a


sua prática pedagógica? Seriam os Parâmetros Curriculares Nacionais -
PCNs, a Didática Magna do nosso tempo? E o que dizer do projeto político
pedagógico da escola?

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Didática

CAPÍTULO 1
Apesar de Comênio ter sido o primeiro educador a tentar desenvolver
reflexões e métodos que auxiliassem no processo de ensino e aprendizagem,
sua Didática Magna foi alvo de críticas por defender um método de ensino
com base na transmissão do saber.

Passado quase um século da publicação da Didática Magna, surge Jean


Jacques Rousseau (1712–1778) como o autor da segunda grande revolução
didática. Como filósofo e educador Rousseau se destaca quando põe em
relevo a natureza da criança e compreende o processo educativo como um
procedimento natural, exercido sem pressa e sem livros. Do seu ponto de
vista, a criança é um ser com características próprias, e desse modo, não
poderia ser vista como um adulto ou a partir de suas manifestações.

Diferentemente de Comênio, que ao seguir as


pegadas da natureza, pensava em domar as
paixões das crianças, Rousseau partia da ideia
da bondade natural do homem, corrompido
pela sociedade. (CASTRO, 1991).

Segundo Castro (1991), Rousseau discute e


embasa a proposta de reforma da sociedade,
considerando-a tão necessária quanto à
reforma da Educação. Foi esse pensamento
que o fez participar da renovação ideológica
que precedeu à Revolução Francesa. Do
Figura 1.2 - Rousseau
século XVII ao século XX, diferentes correntes
pedagógicas foram influenciadas pelas ideias
desse filósofo.

Tendo como princípio pedagógico que a verdadeira finalidade da educação


era ensinar a criança a viver e aprender a exercer a liberdade, Rousseau
estava deixando um legado que viria influenciar não só o pensamento
educacional dos séculos passados, mas, também da atualidade.

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CAPÍTULO 1

Segundo Libâneo (2001), as ideias de Rousseau


não foram postas em práticas por ele, apesar
dele ter contribuído expressivamente para
um novo foco da educação. Quem aplicou e
levou suas ideias adiante foi Heinrich Pestalozzi
(1746–1827).

Para este pedagogo suíço, que dedicou sua vida


à educação de crianças pobres e às instituições
de ensino, a transformação da sociedade iria se
processar por meio da educação. Por isso, ao
advogar a ideia de que a educação era um meio
de regenerar a sociedade, estava entendendo-a
Figura 1.3 – Pestalozzi
como um instrumento de reforma social dando
continuidade as ideias de Rousseau.

O método intuitivo proposto por Pestalozzi possuía três passos:

1. a exposição do conhecimento, começando por seus elementos mais


simples e concretos, de forma a estimular a compreensão;
2. o processo de observação ou percepção pelos sentidos, denominado
por ele de intuição;
3. a fixação do conhecimento que se dava por meio de uma série
progressiva de exercícios graduados, baseados mais na observação do
que no mero estudo das palavras.
Em síntese, o método pestalozziano partia dos seguintes princípios (HAYDT,
2006):

»» a relação entre o mestre e o discípulo deveria estar baseada


no amor e no respeito mútuo;
»» o professor deveria respeitar a individualidade do aluno;
»» o objetivo do ensino não propunha a exposição dogmática
e a memorização mecânica, mas sim o desenvolvimento
intelectual do educando;
»» a aprendizagem escolar deveria contemplar a aquisição
de conhecimentos, bem como o desenvolvimento de
habilidades e o domínio de técnicas;

24 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 1
»» o ensino deveria seguir a ordem psicológica, ou seja,
respeitar o desenvolvimento infantil;
»» enquanto método de instrução intuitivo, deveria ter por
base a observação ou a percepção sensorial, começando
pelos elementos mais simples.
Os elementos inovadores do método Pestalozzi é também chamado de
lição das coisas. Neste método, o que se priorizava era: o emprego do
cálculo mental, o uso de técnicas silábicas e fonéticas da linguagem; o
estudo das ciências feito em contato direto com o ambiente natural e a
combinação de atividades intelectuais com os trabalhos manuais.

As ideias de Comênio, de Rousseau e de Pestalozzi influenciariam os


métodos de muitos outros pensadores da educação, como é o caso do
pedagogo alemão Johann Friedrich Herbert (1766-1841).

Na leitura de Libâneo (2001), esse pensador da educação continua sendo o


inspirador da pedagogia conservadora. Pedagogia essa que muito se fez
presente na história da educação brasileira.

Segundo Herbert, educação deve ocorrer em função da moralidade, sendo


atingida por meio da instrução do que se deve aprender.

Para a educação conservadora de Hebert, a função principal do professor


é instruir os alunos de modo a introduzir ideias corretas em suas mentes.
Controlando os interesses dos alunos os professores devem influenciá-
los de tal modo a favorecer a assimilação de novas ideias. O método de
ensino, por sua vez, consiste em provocar a acumulação de ideias nas
mentes das crianças.

Com isso, Herbert visionava ser o criador de uma pedagogia científica, a


partir da formulação de um método único de ensino e sob influência dos
seus conhecimentos de Psicologia e Filosofia. (LIBÂNEO, 2001; CASTRO,
1991).

25

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CAPÍTULO 1

Em seu método, conforme esclarece Libâneo (2001), estavam contidos


quatro passos que deveriam ser rigorosamente seguidos:

1. a preparação e a apresentação da nova matéria de forma clara e


completa, denominando-o de clareza;
2. a comparação/associação entre as ideias antigas e novas;
3. a sistematização dos conhecimentos, tendo em vista a generalização;
4. a aplicação, o uso dos conhecimentos adquiridos por meio de exercícios,
que denominou de método.
Esse método, que o celebrizou, foi aprimorado e traduzido por seus
discípulos em cinco passos formais: preparação, apresentação, assimilação,
generalização e aplicação.

Você pode imaginar a significância da pedagogia científica de Hebert ao


observar hoje alguns professores praticando este método ?

O sistema pedagógico proposto por


Herbert e seus seguidores trouxe
várias colaborações para a constituição
da Didática e da prática docente,
quando vem fortalecer a necessidade
de estruturação, ordenar o processo
de ensino e exigir compreensão
dos assuntos estudados. Entretanto,
o fato de o ensino ser entendido
como repasse de ideias do professor
para a cabeça do aluno, onde os
alunos devem compreender o que
Figura 1.4 – Transmissão de conhecimento o professor transmite, faz com que
o ato pedagógico supervalorize a
aprendizagem automática. Neste
ponto, o método herbertiano mereceu críticas, por deixar de mobilizar a
atividade mental reflexiva dos alunos. (LIBÂNEO, 2001; CASTRO, 1991).

26 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 1
As ideias pedagógicas de Comênio, Rousseau, Pestalozzi e Herbert, além
de outros pensadores que não foram aqui citados, como, por exemplo,
Jonh Dewey, formaram as bases do pensamento pedagógico europeu e
influenciaram as concepções pedagógicas denominadas de Pedagogia
Tradicional e de Pedagogia Renovada. (LIBÂNEO, 2001). Sendo que na
história da constituição da Didática no Brasil, estas pedagogias são também
conhecidas por Didática Tradicional e Didática Escolanovista. (VEIGA, 1994).

A partir da didática comeniana, duas linhas da didática se opuseram.


(CASTRO, 1991). De um lado, edificou-se a linha metodológica e, de outro,
a linha oposta que parte do sujeito. Acompanhe:

»» A linha metodológica, a qual está fundamentada no


que se conhecia sobre a natureza no século XVII ou sobre
a Psicologia no começo do século XIX, acentua o aspecto
externo e objetivo do processo de ensinar, embora o
fizesse em nome do sujeito (criança, aluno, aprendiz) que se
pretendia ensinar de modo eficiente.

»» A linha oposta parte do sujeito, de seus desejos e de suas


necessidades, acentuando a dimensão inata do educando.

Observe que a Didática do século XIX oscilou assim entre esses dois
modos de interpretar a relação didática: ênfase no sujeito - que seria
induzido, talvez “seduzido” a aprender pelo caminho com curiosidade
e motivação - ou ênfase no método, como caminho que conduz do
não saber ao saber, caminho formal descoberto pela razão humana.

Sem perder de vista seu conceito, as teorias sobre a gênese da Didática


a trata etimologicamente como a arte ou técnica de ensinar. Mas, essa
definição de origem comeniana não pode ser vista de modo literal. Ao longo
do seu conceito histórico, a Didática avançou e tomou um sentido mais
amplo, enquanto vertente teórica da Pedagogia, e passou a contemplar o
estudo do processo de ensino-aprendizagem. Mesmo que para isso tenha

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CAPÍTULO 1

tido que persistir em manter seu conteúdo, diante das tentativas de outras
áreas incorporarem para si os conteúdos que são objetos da Didática, como
é o caso da Metodologia.

Mas, por que a dimensão do conceito de Didática como arte de ensinar


não é mais suficiente?

Porque o ato de ensinar precisa estar comprometido com o processo de


aprender. Ensinar e aprender são duas facetas do mesmo processo, e
que se realizam em torno do currículo sob a mediação do professor. Por
isso, poderia se considerar que a Didática não se reduz à mera repetição
de técnicas mesmo que muitos esperem isso dela. Nesse sentido,
torna-se impossível imaginar a Didática enquanto, simplesmente, uma
instrumentalização técnica, tratada como um componente isolado ou
algo fechado em si mesmo. Qualquer ação didática está revestida de sua
dimensão política e se processa em suas relações com a sociedade em
geral.

A Didática refere-se ao estudo teórico do ensino e sua relação com a prática.


Envolve reflexão sistemática sobre o processo de ensino-aprendizagem
que ocorre na educação escolar e sobre todos os aspectos relacionados ao
ensino, dos quais se destacam:

a) a função social da escola;

b) o planejamento e a definição dos objetivos pedagógicos;

c) o currículo e a seleção de conteúdos;

d) os recursos e os materiais didáticos;

e) as avaliações do ensino e da aprendizagem;

f) as concepções pedagógicas que norteiam as práticas;

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Didática

CAPÍTULO 1
g) a relação professor-aluno;

h) a postura política do professor sobre a realidade sociocultural do


aluno;

i) os saberes da docência;

j) a educação como meio de transformação social.

Como você pôde acompanhar, são múltiplas as dimensões tratadas


pela Didática. Na atualidade, educadores e pesquisadores defendem
que a Didática é o estudo do processo de ensino e aprendizagem que
compreende formas de organização do ensino, uso e aplicação de técnicas
e recursos pedagógicos, controle e a avaliação da aprendizagem, postura
do professor e principalmente objetivos político-pedagógicos e críticos
sobre o ensino.

Seção 2 – Percurso histórico da Didática no Brasil

Objetivo de aprendizagem

»» Analisar a trajetória dos métodos de ensino e de


aprendizagem, a partir da teoria pedagógica tradicional até
a perspectiva histórico-crítica, na conjuntura das mudanças
sociais, a fim de favorecer a compreensão dos processos
educativos escolares.

Para compreender melhor a trajetória histórica da Didática e a sua inserção


no contexto da educação brasileira, serão apontados os cinco enfoques
utilizados por Veiga (1994) para caracterizar a Didática. A história da Didática
se apresenta nos seguintes períodos: Tradicional, Escola Nova, Tecnicista,
Crítico-Reprodutivista e Histórico-Crítica.

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CAPÍTULO 1

Didática Tradicional

Do século XVI ao XVII, os jesuítas foram os principais educadores a atuar


no cenário educativo brasileiro. O Ratio studiorum publicado pelos jesuítas
em 1500 seria a orientação para o modelo tradicional da Didática.

O Ratio Studiorum preceitua a formação intelectual clássica estreitamente


vinculada à formação moral embasada nas virtudes evangélicas, nos
bons costumes e hábitos saudáveis.

Segundo Negrão (2000), o documento Ratio Studiorum explicita


detalhadamente:

»» as modalidades curriculares;
»» o processo de admissão,
»» acompanhamento do progresso e a promoção dos alunos;
»» métodos de ensino e de aprendizagem;
»» condutas e posturas respeitosas dos professores e alunos;
»» os textos indicados para estudo;
»» a variedade dos exercícios e atividades escolares;
»» a frequência e a seriedade dos exercícios religiosos;
»» a hierarquia organizacional; e
»» as subordinações.

A obra simboliza a influência da vertente religiosa na Pedagogia Tradicional,


tornando-a sinônima de catequese e evangelização. Que tipo de homem
pretendia-se formar com essa orientação? Em sua essência, se pretendia
que a formação do homem fosse universal, humanista e cristã. Para atingir
esse ideal, marcado pela visão essencialista, a educação tinha seu ensino
humanista de cultura geral. O ensino era completamente alheio à realidade
da colônia e era marcado pelo conservadorismo cultural.

30 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 1
Figura 1.5 - Jesuítas catequizando os Índios

A concepção pedagógica tradicional se caracteriza por uma visão


essencialista de homem, isto é, o homem é concebido como
constituído por uma essência humana e imutável. A educação
cumpre moldar a existência particular e real de cada educando à
essência universal e ideal que o define enquanto ser humano. Para a
vertente religiosa, tendo sido o homem feito por Deus a sua imagem
e semelhança, a essência humana é considerada, pois, criação divina.
Em consequência, o homem deve se empenhar para fazer por
merecer a dádiva sobrenatural.
A expressão mais acabada dessa vertente é dada pela corrente
do tomismo, que consiste numa articulação entre a filosofia de
Aristóteles e a tradição cristã; tal trabalho de sistematização foi
levado a cabo pelo filósofo e teólogo medieval Tomás de Aquino [...]
E é justamente essa corrente (uma forma de doutrina) que está na
base do Ratio Studiorum [...]. (SAVIANI, 2004, p. 127)

Como forma de retratar os pressupostos didáticos, Veiga (1994) aponta um


conjunto de instrumentos e regras que o Ratio Studiorum trazia, tais como:

»» a valorização do estudo privado, em que o professor definia


o método de estudo, o conteúdo e o horário;
»» as aulas ministradas de forma expositiva;
»» as tarefas cobradas oralmente com exercícios corrigidos
pelo professor e repetidos pelos alunos;

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CAPÍTULO 1

»» os estudos que privilegiavam o exercício da memória e


o desenvolvimento do raciocínio e, por isso, ao planejar
as aulas o professor levava em consideração a correção, a
repetição, a explicação, a interrogação e o ditado;
»» os livros deveriam ser criteriosamente escolhidos pelo
professor; o conteúdo deveria tratar de matérias da aula
anterior e da próxima;
»» outros instrumentos didáticos a serem trabalhados pelo
professor eram o desafio que estimulava a competição e a
disputa vista como defesa de ideia, sendo os exames orais
e escritos.
Nesse enfoque tradicional da didática dos jesuítas, os conteúdos eram
selecionados a partir da cultura universal. Além disso, os instrumentos de
avaliação privilegiavam a quantidade de conhecimentos transmitidos ao
aluno, sem tão pouco considerar a qualidade dos mesmos.

A Didática Tradicional centra-se no método de ensinar e por isso deve


se basear em um conjunto de normas e regras para ensinar a dar aula.
Os conteúdos, a prática pedagógica, são neutros e completamente
desvinculados de nossa realidade. (VEIGA, 1994).

Libâneo (1991) acentua que na tendência liberal tradicional, os conteúdos


são os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas
Sebastião José de Carvalho repassados ao aluno como verdades. Neste sentido, Libâneo (1994) classifica
e Melo passou à história
conhecido por seu título as tendências pedagógicas vinculadas à didática em dois grupos:
de nobreza, Marquês de
Pombal. Durante o seu a) as de cunho liberal que incluem as Pedagogias Tradicionais, renovada
trabalho como ministro do
Rei de Portugal, Pombal em seus desdobramentos e as Tecnicistas;
foi o principal responsável
pela expulsão dos jesuítas b) a de cunho progressista, que incluem as Pedagogias Libertadoras,
de Portugal e das colônias.
Conhecidos por seu méto- Libertárias e Crítico-sociais dos conteúdos.
do de ensino eficiente, os
jesuítas, atuavam como O plano da Ratio Studiorum no Brasil fica enfraquecido com a expulsão dos
força católica em Portugal.
jesuítas, por Marquês de Pombal, em 1759.

32 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 1
Passado mais de um século, é aprovada a Reforma Educativa proposta por
Benjamin Constant. Dessa proposta surge a vertente leiga da Pedagogia
Tradicional que suprime o ensino religioso das escolas públicas, passando o
Estado a assumir a laicidade. A partir deste marco, distingui-se, no interior
dessa pedagogia, duas vertentes que compuseram a base da Didática
A laicidade é a separação
Tradicional: a religiosa e a leiga. da sociedade civil e das
religiões. Nesta separação
Anteriormente, quando a sociedade era de economia agrária-exportadora, o Estado não exerce
qualquer poder religioso
a educação não era considerada um valor social importante, servia apenas e as igrejas qualquer
de instrumento de dominação. poder político. No caso da
Educação, significa dizer
que a Escola não assume
Com a virada do século e por reflexo da própria Reforma, a educação passa nenhuma postura religiosa
a ser mais valorizada, mas mantendo o sentido de dominação. Nessa época, no processo de ensino-
a escola buscava disseminar uma visão burguesa de sociedade, a fim de -aprendizagem.
fortalecer a constituição da burguesia como classe dominante. Ideias
liberais que partiram das camadas senhoriais rurais e perduram até hoje.

Apesar de manter o caráter essencialista de homem, a vertente leiga


da Pedagogia Tradicional está centrada na ideia de natureza humana, Na visão de Gómez (1998),
essencialmente racional, desprendida da visão religiosa. Por isso, muitos a função social da escola
é desenvolver o processo
dos princípios pedagógicos da Pedagogia Tradicional foram perpetuados, de socialização do aluno
tendo em conta que a escola continuou com a função social de reproduzir e, nessa perspectiva, são
a realidade social. dois os objetivos prio-
ritários desse processo:
incorporação do aluno
Como refere Veiga (1994), foi desta maneira que a Didática, no âmbito da no mundo do trabalho; a
Pedagogia Tradicional leiga, centrou-se no intelecto, na essência, atribuindo formação do cidadão para
intervenção na vida públi-
um caráter dogmático aos conteúdos, sendo seus métodos, princípios ca. Essa socialização pode
universais e lógicos. O método mais empregado foi o expositivo, baseado ter como pano de fundo
a reprodução dos valores
nos quatro passos formais de Herbert. Você lembra quais são? Preparação, sociais e dominantes ou a
Comparação, Sistematização, Aplicação. transformação deles.

Para além dos passos formais, a metodologia herbartiana utilizava


a demonstração, a chamada oral, a revisão de matéria com vistas a
memorização. O livro didático era muito valorizado assim como a leitura
e o quadro. A relação professor-aluno era hierárquica e autoritária. Nessa
metodologia, o professor torna-se o centro do processo de ensino-
aprendizagem, concebendo o aluno como um ser receptivo e relativamente
passivo. Na sala de aula, não há interação e a disciplina é a forma de garantir
a atenção, o silêncio e a ordem. Predomina uma didática que separa teoria
da prática.

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CAPÍTULO 1

Como você pode acompanhar nesse estudo, a Pedagogia Tradicional


foi introduzida no final do século XIX com o advento do movimento
renovador, o qual procurou marcar as novidades das propostas veiculadas
naquele momento, que classificou, como tradicional, a concepção até
então dominante. Assim, a expressão concepção tradicional ficou atribuída
a correntes pedagógicas que se formularam desde a Antiguidade, tendo
em comum uma visão filosófica essencialista de homem e uma visão
pedagógica centrada no educador (professor), no adulto, no intelecto, nos
conteúdos cognitivos transmitidos pelo professor aos alunos, na disciplina
e na memorização.

Didática da Escola Nova

A organização Didática Tradicional passou a ser posta em causa em função


das transformações sociais e políticas. Não é por acaso que a era do
liberalismo e do capitalismo, da industrialização e da urbanização tenha
exigido novos olhares sobre a Educação. A preocupação que a escola
atendesse aos interesses de classes deu lugar à proposta de uma escola
voltada aos interesses dos indivíduos. Passou-se a questionar a educação do
ponto de vista pedagógico, por meio da consolidação das ideias da Escola
Nova e da superação das concepções consideradas antigas, tradicionais,
ou seja, aquelas voltadas para o passado.

É preciso considerar que já se iniciam em vários países do mundo as novas


doutrinas socialistas, progressivamente dominadas pelo marxismo, que
ao final do século XXI vão se opor mais fortemente ao movimento liberal,
pretendendo transformar a sociedade, tornando-a mais justa e igualitária.

Mesmo com a disseminação tardia, o movimento escolanovista no Brasil


iniciou-se na década de 30, do século XX. Nos primeiros anos dessa década,
é lançado o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, com a origem da
Didática como disciplina nos cursos superiores de formação de professor
e culmina com a criação do Conselho Nacional de Educação e da primeira
universidade brasileira, instituição do Ministério da Educação e Saúde
Pública da presidência do Governo Vargas.

34 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 34 13/12/2018 16:27:19


Didática

CAPÍTULO 1
Você sabe o que foi o Manifesto dos Pioneiros?

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, datado de 1932, foi escrito


durante o governo de Getúlio Vargas e consolidava a visão de um segmento
da elite intelectual que, embora com diferentes posições ideológicas,
vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da sociedade
brasileira do ponto de vista da educação. Redigido por Fernando de
Azevedo, dentre 26 intelectuais, entre os quais, Anísio Teixeira, Afrânio
Peixoto, Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima
e Cecília Meireles. Ao ser lançado, em meio ao processo de reordenação
política resultante da Revolução de 30, o documento se tornou o marco
inaugural do projeto de renovação educacional do país. Além de constatar
a desorganização do aparelho escolar, propunha que o Estado organizasse
um plano geral de educação e defendia a bandeira de uma escola única,
pública, laica, obrigatória e gratuita.

Conforme as vertentes de atuação desse movimento doutrinário,


ideológico, suas denominações caracterizavam-se por Escola Nova, Escola
Ativa ou também Renovada Progressivista. (VEIGA, 1994; LIBÂNEO, 2009).

A Didática da Escola Nova buscou a superação das concepções


consideradas antigas, tradicionais, voltadas para o passado. Pois esta nova
vertente educacional se opunha a concepção Herbetiana (tradicional),
onde há o predomínio do aspecto psicológico sobre o lógico. Na Escola
Nova, a criança é o centro do ensino, considerada um ser ativo e que deve
ter liberdade, iniciativa e autonomia no processo de ensino.

Por outro lado, Pereira (2003) destaca que as influências dos pensadores
da Escola Nova, mesmo admitindo divergências, estes passam a assumir Na Europa, como nos
um princípio norteador singular, de valorização do indivíduo como ser Estados Unidos, pode-se
livre, ativo e social. Nesse processo, o centro da atividade escolar não é encontrar influências esco-
lanovistas diferentes: sob
o professor nem os conteúdos disciplinares, a centralidade passa a ser o o olhar da Psicopedagogia
aluno. está Claparede, Ferriere e
Bovet; a Psicologia de Cal
Rogers; a Medicina Peda-
gógica com Montessori e
Decroly; e a Sociopedago-
gia de Freinet, Cousinet e
Dewey.

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CAPÍTULO 1

A característica mais marcante do escolanovismo tem como ponto


central a valorização da criança. O papel do professor passa a ser de
facilitador do processo de busca pelo conhecimento do aluno. Portanto,
cabe ao professor organizar e coordenar as situações que estimulem
o aprendizado, com intuito de adaptar suas ações às características
individuais.

Na vertente escolanovista, o papel da escola é atender às diferenças


individuais, não considerando a realidade na qual a escola está inserida;
considera os problemas que ocorrem na educação como sendo da
escola e não da sociedade. O caráter neutro é acentuado e o contexto
político-social ignorado. A prática pedagógica é vista em si mesma, sem
desvinculação com o caráter mais amplo. A cultura geral, ao invés de vir
do acúmulo do conhecimento do passado, passa a se basear na função
das experiências que o aluno vivencia frente a um problema. “Trata-se de
aprender a aprender” (LUCKESI, 1994, p. 58), sendo que o mais importante
é o processo de aquisição do saber, mais do que o saber propriamente dito.
(LIBÂNEO, 1985). Por isso, os adeptos da escola nova costumam dizer que o
professor não ensina; antes, ajuda o aluno a aprender.

Os princípios de atividade, individualização, de liberdade constituem o


tripé da proposta didática escolanovista.

»» A individualização está atrelada à ideia de que o aluno


aprende melhor o que faz por si próprio e a ideia de que não
é possível ensinar tudo a todos ao mesmo tempo.

36 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 1
»» A atividade envolve o aprender a aprender e o aprender
fazendo, tendo o professor que colocar o aluno em situações
de exigências intelectuais, de criação, de expressão verbal,
escrita, plástica e outras, a partir de um ambiente alegre,
estimulante e dotado de materiais didáticos. Nessa didática,
os métodos e as técnicas mais valorizadas são: centros de
interesse, estudo dirigido, unidades didáticas, métodos de
projetos, jogos autoeducativos, aula passeio, texto livre,
imprensa na escola, correspondência interescolar etc. O
ensino é concebido como um processo de pesquisa, partindo
do pressuposto de que os assuntos de que trata o ensino
devem partir de situações problemas. (VEIGA, 1994). Os
passos do processo de pesquisa incluem a determinação do
problema, levantamento de dados, formulação de hipótese,
envolvimento de alunos e professores em experimentações,
configuração ou rejeição de hipóteses formuladas.
»» Para atender o princípio de liberdade o professor precisava
colocar o aluno em condições adequadas para que, partindo
das suas necessidades e estimulando os seus interesses,
pudesse buscar por si mesmo conhecimentos e experiências.
Nesse princípio, partia-se do pressuposto de que o aluno
aprenderia melhor com liberdade, ou seja, fazendo por si
próprio. Não se trata apenas de aprender fazendo, no sentido
de trabalho manual, ações de manipulação de objetos.
Para isso, é importante proporcionar ao aluno situações
que mobilizem sua aprendizagem. Sendo o professor o
facilitador desse processo.
Apesar de ter ignorado no interior da escola o contexto político-social, a
didática da escola nova se reveste de importância social e pedagógica,
na medida em que pôs em causa a didática tradicional e proporcionou
avanços teóricos.

Didática Tecnicista

Com o desenvolvimento do processo de industrialização e a ênfase no


desenvolvimento econômico, o país viveu nas décadas de 60 a 80 a fase de
ajustar a educação a favor do desenvolvimento econômico.

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didatica.indb 37 13/12/2018 16:27:19


CAPÍTULO 1

Como forma de atender a demanda de urbanização e do sistema fabril, o


país precisava então reconfigurar seu sistema educativo, sendo necessário
para isso repensar o processo de ensino e de aprendizagem. Vale ressaltar
que, em muitas escolas privadas, os princípios da didática escolanovista
continuaram a ser disseminados e evoluindo a partir de outras bases
teóricas da Psicologia, como a do construtivismo.

No âmbito das políticas públicas, os princípios escolanovistas deram


lugar aos princípios tecnicistas, uma vez que deixaram de atender aos
interesses do grupo dominante. Sob o amparo da Didática Tecnicista,
a escola assume um papel de atuar no aperfeiçoamento da ordem
social vigente, nesse caso do sistema capitalista, cujo interesse
imediato é o de produzir indivíduos competentes para o mercado de
trabalho. (PEREIRA, 2003).

Nessa dinâmica em que surge a Didática Tecnicista, também conhecida por


Pedagogia Tecnicista, a fundamentação que lhe serviu de inspiração foi a
teoria behaviorista de aprendizagem, apresentada por Skinner. (LIBÂNEO,
2009).

Skinner passou a ser considerado um influente psicólogo do século


XX, quando criou o modelo chamado de análise experimental do
comportamento. Sobre a teoria behaviorista de Skinner, Lacanallo et al
(2007) apontam:

»» O condicionamento ocorria pelo associacionismo. Por


meio de experiências, que envolviam associação, aplicou a
instrução programada à aprendizagem.
»» O conhecimento das variáveis controladoras do
comportamento, poderia controlar ou predizer
comportamentos, possibilitando o desenvolvimento das
tecnologias comportamentais para os vários contextos
humanos.
»» O aluno deveria ser reforçado a cada tarefa e imediatamente
a ela, conferindo o acerto ou erro da resposta dada.

38 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 38 13/12/2018 16:27:19


Didática

CAPÍTULO 1
»» Em relação à disposição das salas, os alunos poderiam ser
agrupados em séries ou classes, mas cada um prosseguiria
em seu próprio nível.
»» Esse processo tinha como objetivo substituir o professor, em
algumas situações de aprendizagem, por meio da máquina
de ensinar, alterando o papel do professor, considerando
que as máquinas lhe poupariam tempo e trabalho, e por
consequência, mudariam as práticas tradicionais.

À luz desses princípios, o trabalho didático foi remodelado, dando ênfase


a novos recursos e instrumentos de ensino, passando-se a ter maior rigor
no planejamento tanto em relação à forma como aos objetivos e metas.
Neste sentido:

»» a produção de livros didáticos apresenta caráter instrumental;

»» os recursos audiovisuais passam a ser supervalorizados;

»» a avaliação da aprendizagem privilegia o uso de instrumentos


quantitativos.

Segundo Lacanallo et al (2007), na vertente tecnicista, os objetivos


pedagógicos deveriam indicar os conteúdos programáticos e estes, as
estratégias de ensino; e a avaliação deveria verificar o atingimento dos
objetivos propostos e bem definidos, a partir de verbos previamente bem
selecionados, tudo que garantisse um controle do processo de ensino e da
aprendizagem com total eficácia e eficiência. O arranjo mais simplificado
dessa sequência didática resultou nos seguintes passos. (LIBÂNEO, 2009):

1. objetivos e metas operacionais;

2. ênfase nos conteúdos

3. estratégias e avaliação da aprendizagem dos alunos face aos objetivos


iniciais.

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didatica.indb 39 13/12/2018 16:27:19


CAPÍTULO 1

A partir do pressuposto da neutralidade científica e dos princípios de


racionalidade, eficiência e produtividade, a Didática Tecnicista reorientou
o processo educativo de maneira a torná-lo objetivo, fragmentado e
operacional. (VEIGA, 1994). De modo semelhante ao que ocorreu no
trabalho fabril, buscou-se a objetivação do trabalho pedagógico.

No quadro abaixo, é possível encontrar muitas semelhanças entre as


designações de cargos e funções exercidos na escola e na fábrica.

Fábrica Escola
Diretor Diretor
Supervisor Supervisor

Assistente Social Orientador Educacional


Psicólogo Psicólogo

Operários (mão de obra técnica) Professores

Resultados: Produtos Resultado: Alunos certificados


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Quadro 1.1- Equivalências das tipologias dos cargos e funções exercidos na fábrica e na escola.
Fonte: Adaptado de Bianchetti e Palangana, s.p., 2000.

Uma forma de perceber melhor essa


relação empresa escola pode ser vista nas
imagens do vídeo da música “Another
Brinck in the Wall”, da banda Pink Floid, na
qual se verifica o princípio da racionalidade
na educação. No vídeo, você verá cenas
de escola, sendo que algumas delas
acontecem dentro de uma fábrica.
Figura 1.6 – Cenas do filme The Wall

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Didática

CAPÍTULO 1
Pautado nos pressupostos de racionalidade técnica, a didática tecnicista
advogava a divisão e a fragmentação do trabalho escolar com a justificativa
da produtividade, tendo com isso, acentuado as distâncias entre quem
planejava e quem executava. Sendo o planejamento feito por especialistas
e técnicos de educação. O professor e o aluno são meros executores de
atividades prontas. Com isso, a presença da racionalidade técnica sobre o
ser e o fazer da escola passa a ser acentuada.

Segundo o paradigma de Schön, a racionalidade técnica,


incorporada desde a formação pelo docente impede a criação de
atos pedagógicos que favoreçam a manifestação da curiosidade, a
quebra de preconceitos, a criatividade e a criação de condições para
o professor aprender a inserir espaços onde a reflexão-na-ação seja
possível. (SANTOS, 2001, p. 63).

Nessa tendência, Libâneo (1985) destaca que a escola deveria ser produtiva,
racional e organizada e que formasse indivíduos capazes de se engajar
rápida e eficientemente no mercado de trabalho. Para que a escola fosse
realmente produtiva, era preciso racionalizar o trabalho pedagógico, torná-
lo mais “científico”, que implicava em torná-lo observável e quantificável.

Se na Didática Tradicional a iniciativa cabia ao professor e na


Didática Escolanovista a iniciativa deslocou-se para o aluno, na
Didática Tecnicista o elemento principal passou a ser a organização
racional dos meios, colocando o professor e o aluno em uma posição
secundária e convertendo a organização do processo em garantia da
eficiência. Os meios e os recursos passam a ser o centro da prática
educativa.

Deste modo, na Didática Tecnicista, o ensino apresenta o saber de um modo


fragmentado, comportamentalizado. O ensino se baseia na disciplina,
é racionalizado e mecanicista, desvalorizando a reflexão e a crítica. A
quantidade se destaca em relação à qualidade sendo que, nessa didática,
a desvinculação entre teoria e prática é ainda mais forte. O processo de
ensino é caracterizado por elementos de entrada, de processo, de saída e
de avaliação.

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CAPÍTULO 1

Como você pode ver, esta didática se revestiu de outros fundamentos, já


não está mais sob a influência da Igreja, mas sob outros condicionantes
sociais. Para Saviani (1999), essa pedagogia encerra o conjunto de
teorias não críticas, pois nelas, os saberes estão dissociados do contexto
sociopolítico e cultural que a determina. Seja na Didática Tradicional,
Escolanovista ou Tecnicista, a educação é vista como instrumento de
equalização social e superação da marginalidade, em uma sociedade
harmoniosa. Nessa sociedade, a marginalidade é um fenômeno acidental
que afeta individualmente um número maior ou menor de seus membros.

A Didática Crítico-Reprodutivista

A partir de 1974, surgiram estudos direcionados a crítica da educação


dominante, que passaram a evidenciar as reais funções do caráter político
educacional. Desde a Didática Tradicional, esses ideais políticos vinham
sendo mascarados. O reforço maior desses ideais ocorreu sob o amparo do
regime político ditatorial que fez crer que a educação era neutra. O enfoque
crítico-reprodutivista, que se originou desses estudos empreendidos na
década de 70, veio enfatizar o aspecto político em detrimento da técnica,
denunciando o caráter reprodutor da escola.

Volte as cenas do vídeo musical do Pink Floid e observe:

Figura 1.7– Cenas do filme The Wall

Como você pode notar, na escola dessa época havia uma força reprodutora
do saber que estava muito arraigada aos interesses políticos dominantes.

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Didática

CAPÍTULO 1
Quando é, então, que a escola passa a ser reprodutora do saber?

De acordo com Giroux (1988), a escola é reprodutora quando transmite


para as diferentes classes sociais, conteúdos que não somente legitimam
a cultura dominante, mas também direcionam os alunos para postos
diferenciados na força de trabalho.

Trata-se da reprodução do saber historicamente acumulado de forma


acrítica. Desse modo, pode-se questionar para que servem os conteúdos
se não forem articulados com a realidade sociocultural que envolvem os
educandos? Foi essa incoerência que levou ao questionamento da prática
escolar e que foi demonstrada pelos críticos ao reprodutivismo da escola.

Enquanto enfoque didático essa tendência alertou para o fato de não


ser possível compreender a educação, senão a partir dos seus fatores
condicionantes sociais. A consistência dessa crítica ocorre quando ela
aponta que a função da educação, da forma como vinha acontecendo,
consistia essencialmente na reprodução da sociedade em que ela estava
inserida. Nessa medida, não cabia à educação nenhum papel transformador,
modificador das condições existentes, mas apenas o papel de reprodutora
da estrutura social vigente.

Contudo, a concepção crítico-reprodutivista se limitava a analisar as


relações entre educação e sociedade, não apresentando nenhuma proposta
didática que fosse além do discurso. (VEIGA, 1994). Esta concepção, às
vezes, tem levado os educadores a uma espécie de impotência, inércia,
fazendo com que os mesmos fiquem à espera de mudanças na estrutura
social para que, de forma mecânica, mudanças também ocorram em sua
prática pedagógica.

Na tentativa de ultrapassar o tecnicismo, cuja ênfase recaía sobre a


dimensão técnica, saltou-se para o pólo oposto, dando ênfase à dimensão
política, levando alguns educadores a uma espécie de impotência, inércia,
fazendo com que os mesmos ficassem à espera de mudanças na estrutura
social. Mas, essa redução ao ato do discurso não tirou o mérito da denúncia
do caráter reprodutor da escola.

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CAPÍTULO 1

Enquanto nas didáticas não críticas a educação era vista como forma de
equalização social e de superação da marginalidade, para a teoria crítico-
reprodutivista a educação entendia as teorias educacionais vigente como
instrumento de discriminação social, fator este que acabava por acentuar
a marginalização. (SAVIANI, 1999).

Com esse olhar a teoria-crítico-reprodutivista revelava que a sociedade era


marcada pela divisão de classes antagônicas, com isso desconstruía a visão
de uma sociedade harmoniosa defendida pelas didáticas anteriores.

A contestação ao reprodutivismo da escola foi o mérito dessa Didática. Foi


esse enfrentamento e esse desbravar da Didática Crítica-Reprodutivista
que abriu espaço para o surgimento da Didática Crítica.

A Didática Crítica

Entre a segunda metade da década de 70 e início dos anos 80, como forma
de superação da influência liberal ou das teorias ditas não críticas e sob
influência da Didática crítico-reprodutivista, surge a proposta dialética de
perceber a relação entre a educação escolar e a sociedade.

A abertura política no final do regime militar contribuiu para a organização


de mobilizações de educadores em busca de transformação social,
econômica e de uma educação critica.

Tendo por base esse fundo político de transição e a partir de orientações


marxistas, consolida-se no meio educacional a Didática Crítica (VEIGA,
1994), também designada de Pedagogia Progressista. (LIBÂNEO, 2009).

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Didática

CAPÍTULO 1
Na proposta da Didática Crítica, compete a escola difundir conteúdos
ligados às realidades sociais. Como a educação é mediatizada pela
realidade, o agir no interior da escola deve contribuir para transformar a
própria sociedade. Assim, professores e alunos se mobilizam para atingir
um nível de consciência dessa realidade, visando à transformação social.

É por essa razão que, na vertente da Didática Crítica, o aluno é compreendido


como um ser concreto situado historicamente, uma vez que possui um
saber que é resultado da sua vivência. Neste sentido, o aluno precisa ser
valorizado pelo professor para que seu saber seja reelaborado e resulte na
alteração da realidade em que vive.

O professor, por sua vez, é valorizado por seu papel de autoridade, que faz a
mediação do saberes no processo de ensinar e de aprender. A presença do
professor, portanto, é fundamental, porque nessa Didática ela vem tornar
possível uma ruptura entre a experiência pouco elaborada e dispersa dos
alunos em direção ao saberes universais permanentemente reavaliados
face às realidades sociais.

Observe que com essa caracterização do aluno e do professor, Veiga (1994)


mostra que na Didática Critica o trabalho pedagógico não está centrado
no professor ou no aluno, mas na formação integral do aluno. Para que
isso ocorra, a escola deve resgatar sua função primordial de difusão dos
saberes e de reelaboração crítica por parte dos professores e dos alunos.

Veiga (1994) ressalta que o enfoque da Didática, nessa perspectiva, é o de


trabalhar para ir além dos métodos e técnicas, procurando assim, associar
as dicotomias entre educação-sociedade, ensino-pesquisa, teoria-prática,
forma-conteúdo, professor-aluno.

Sobre os cinco enfoques históricos que marcam o percurso da Didática,


os quatro primeiros apresentam reducionismos e são caracterizados por
vários tipos de formalismos, ao passo que a Didática Crítica procura superar
essas dicotomias. A partir de Veiga (1994) pode-se dizer que:

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CAPÍTULO 1

»» A Didática Tradicional veiculou a transmissão de conhecimento


historicamente acumulados por meio de aulas expositivas. O seu
formalismo é marcado como um formalismo lógico, em que os
métodos de ensino são princípios universais e lógicos. O enfoque
da Didática é centrado nos conteúdos, sendo o professor o
protagonista dessa história.

»» A Didática escolanovista é centrada nos métodos e técnicas didáticas


que partem de pressupostos psicopedagógicos e experimentais. O
elemento formal é o psicológico, voltado para a atividade do aluno,
que passa a ser o protagonista dessa Didática. Nela, o ensino é
concebido como processo de pesquisa desvinculado das relações
sociais.

»» Na Didática Tecnicista, o ensino é visto como uma estratégia


para alcançar produtos previstos. O formalismo é marcado pela
dimensão da racionalidade técnica, que passa a ser privilegiada em
relação às demais dimensões do processo educativo. No enfoque
tecnicista, o processo de ensino é mecanizado e alicerçado nos
pressupostos da tecnologia educacional, visando a produtividade,
e por consequência, o alcance da eficiência e da eficácia.

»» Quanto à Didática Crítica-Reprodutivista, ao buscar a


desmistificação da neutralidade na transmissão do conhecimento
e constatar o elemento ideológico do ensino, esta vertente nega
sua especificidade, ou seja, sua dimensão técnica, apresentando
assim mais um tipo de formalismo, o social, o qual é todo projetado
para a dimensão política. Desta forma, limita a Didática negando
sua dimensão técnica.

Na tentativa de ultrapassar as relações dicotômicas do processo de ensino


e aprendizagem, assentada em pressupostos das pedagogias críticas, a
Didática Crítica procura também superar os reducionismos e o formalismo
que marcaram os outros enfoques didáticos. Com isso, estamos dizendo
que a Didática Crítica busca superar o intelectualismo formal do enfoque
tradicional, evitando os efeitos do espontaneísmo escolanovista,
combatendo a orientação desmobilizadora do tecnicismo e recuperando
as tarefas especificadamente pedagógicas, desprestigiadas a partir do
discurso reprodutivista. A Didática comprometida procura compreender e
analisar a realidade social onde a escola está inserida.

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Didática

CAPÍTULO 1
Agora, acompanhe as duas tendências da pedagogia progressista que
sustentam e orientam as práticas da Didática Crítica.

Pedagogia Libertadora

Uma das tendências que fundamenta a Didática Crítica é a da Libertação.


Essa tendência é representada por Paulo Freire (1921-1997).
Paulo Freire nasceu em
Paulo Freire defendeu uma proposta pedagógica que se opôs ao modelo Recife, Pernambuco,
tradicional, pois considerava que a escola reproduzia as desigualdades em 1921. Formou-se em
Direito e logo em seguida
sociais. Ele propunha que a escola deveria se apresentar como uma via descobriu sua vocação de
de contestação e luta. Sua atuação foi dedicada ao campo pedagógico e Educador. Porém, não de
político, entendendo a educação articulada à compreensão da política. um educador formal, mas
de um educador para a
liberdade, que continua
a exercer influências em
práticas pedagógicas em
todo Brasil e fora dele.

Partindo da concepção de que a sociedade contemporânea se apresenta


em permanente conflito de forças contrárias, e essas forças são designadas
como opressores e oprimidos, onde os primeiros são os causadores da
desumanização e os oprimidos objetos dos opressores, Paulo Freire
almeja a transformação radical da sociedade, a qual, segundo ele, exige
um processo de educação das massas que as habilite a tomar consciência
da sua condição de oprimidos e as leve a empreender a sua libertação.

Tal tendência destacou a conscientização e a mudança como temas centrais


do processo educativo. A conscientização seria uma função da educação
escolar e também uma das possibilidades de promover mudança de uma
sociedade de oprimidos para uma sociedade de iguais. (AZEVEDO, 2010).

Paulo Freire defende a educação pela conscientização do homem, na luta


política, com vocação para ser o sujeito da história e não para objeto dela,
a fim de transformar e libertar o homem popular.

Na verdade, seria incompreensível se a consciência de minha presença


no mundo não significasse já a impossibilidade de minha ausência
na construção da própria presença. Como presença consciente no

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CAPÍTULO 1

mundo, não posso escapar à responsabilidade ética no meu mover-


me no mundo. Se sou puro produto da determinação genética ou
cultural ou de classe, sou irresponsável pelo que faço no mover-me
no mundo e se careço de responsabilidade não posso falar em ética.
Isto não significa negar os condicionamentos genéticos, culturais,
sociais a que estamos submetidos. Significa reconhecer que somos
seres condicionados mas não determinados. (FREIRE, 2009, p.11)

A educação desse ponto de vista seria um meio para a compreensão e


transformação da história, em oposição à visão pragmática de um futuro
determinado, seja pela dimensão biológica, econômica, social e cultural.

Os fundamentos da educação libertadora propostos por Paulo Freire


baseiam-se na ideia de um conhecimento processado por meio das
relações dialéticas educando-realidade e pela superação do preconceito
seja de qual for a sua ordem. (AZEVEDO, 2010).

Se o educador é o que sabe, se os educandos são os que nada


sabem, cabe àquele dar, entregar, levar, transmitir o seu saber aos
segundos. Saber que deixa de ser de “experiência feita” para ser de
experiência narrada ou transmitida. [...] Não é de estranhar, pois, que
nesta visão ‘bancária’ da educação, os homens sejam vistos como
seres da adaptação, do ajustamento (FREIRE, 1981, p.68).

Na educação bancária, em lugar


de comunicar-se, o educador faz
“comunicados” e depósitos que os
educandos, meras incidências, recebem
pacientemente, memorizam e repetem.
Segundo Paulo Freire, a educação
bancária ou domesticadora não faz o
homem ser mais, mas o desumaniza. Por
outro lado, a educação libertadora deve
eliminar o muro de divisão e a diferença
de classe entre educador e educando.
(AZEVEDO, 2010).
Figura 1.8 - Alunos aplicando conceitos de Geometria na
confecção de pipas Nessa perspectiva de romper dicotomias,
a presença do educador ou educadora
não pode passar despercebida pelos alunos na classe e na escola, a
presença é, em si, política. Não pode ser uma omissão, mas um sujeito de
opções. (FREIRE, 2009).

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Didática

CAPÍTULO 1
Observe que na didática libertadora em vez de falar de “educador
do educando” e de “educando do educador”, usar-se-ão os termos
“educador-educando” e “educando-educador”.

A característica principal da educação libertadora encontra-se em sua


essência: problematizadora, isto é, não deve trazer certezas ou verdades
acabadas e muito menos suscitar segurança, mas procurar levantar
problemas e provocar conflitos transformadores. Com a problematização
do ensino, o diálogo é o instrumento para a libertação, é o método para a
comunhão mediatizante da humanidade, o meio de os homens entrarem
em comunhão. Nesse processo, em que se realiza a discussão, dos relatos
de experiências vividas, assembleias, a pesquisa participante, o trabalho em
grupo, vão surgindo temas geradores que podem vir a ser sistematizados
para efeito de consolidação de conhecimentos.

Foi sob os temas geradores que o método de alfabetização se apoiou, ou


seja, os alunos são alfabetizados com as palavras que usam no dia a dia,
sempre associando o processo de alfabetização com a vida.

Paulo Freire vem mostrar, com seu método de alfabetização, que essa
prática pedagógica é muito mais que uma técnica para ensinar a ler; trata-
se de uma educação comprometida com a vida, é uma alfabetização
política e filosófica, porque lê a realidade de opressão com olhos críticos e
porque aprende a ler a gramática das relações sociais.

Pedagogia Histórico-Crítica

A perspectiva de uma abordagem dialética da educação inicia com a


busca de uma didática, que valorize o coletivo e seja comprometida com a
transformação da sociedade. (NACANALLO et al, 2007; VEIGA, 1994). Nessa
perspectiva, o aluno é considerado um ser concreto, onde são enfocados
e discutidos todos os problemas a partir do contexto histórico onde estão

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CAPÍTULO 1

inseridos. Para que isso ocorra, os conteúdos de ensino assumem grande


relevância para se propor uma pedagogia coerente com a realidade do
aluno (NACANALLO et al, 2007).

A pedagogia Histórico-Crítica valoriza as realidades sociais, na qual os


indivíduos estão inseridos, o que faz com que essa perspectiva dê relevância
ao aspecto dos conteúdos vivenciados pelo aluno e aos conteúdos
acadêmicos.

A questão que essa perspectiva coloca é: qual a finalidade social dos


conteúdos escolares?

Fundamentalmente, essa nova postura implica trabalhar os conteúdos


de forma contextualizada e que estes possam ser integrados e aplicados
teórica e praticamente no dia a dia do educando. Como refere Gasparin
(2007), essa forma de tratar os conteúdos escolares faz com que aumente
a responsabilidade do professor e aumente a responsabilidade aluno no
processo de ensinar e aprender. Ambos são coautores do processo ensino-
aprendizagem.

Os conteúdos refletem a realidade na qual se insere a escola e são


apropriados para serem superados, chegando-se à produção de um novo
saber. O aluno passa a dominar os conteúdos, tornando-se determinado e
capaz de operar, conscientemente, mudanças na realidade.

O enfoque histórico-crítico parte de uma análise das realidades sociais,


salienta o compromisso e finalidade política da educação. O ponto de
partida do novo método não será a escola nem a sala de aula, mas a
realidade social mais ampla. (GASPARIN, 2007).

50 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 1
Por isso no enfoque histórico-crítico não cabe o conteúdo como um produto
fragmentado, neutro, pronto, que vem de fora, paralelo à vida das pessoas
envolvidas no processo, que buscam na própria realidade, no contexto
onde estão inseridas, o verdadeiro conteúdo da educação. Assim, cada
parte, cada fragmento do conhecimento só adquire seu sentido pleno na
medida em que se insere no todo maior de forma adequada. Trabalhando-
se neste conteúdo, e sistematizando-o, pode-se torná-lo suficiente para
ser usado em qualquer situação de vida. Dessa forma, o conteúdo não se
constitui um fim em si mesmo, mas um meio para atingir um fim, que é a
transformação social.

Evidentemente, essa nova forma pedagógica de agir exige que se


privilegiem a contradição, a dúvida, o questionamento; que valorizem a
diversidade e a divergência; que se interroguem as certezas e as incertezas.

Para o desenvolvimento dessa proposta pedagógica, a teoria dialética do


conhecimento torna-se o marco referencial para fundamentar a concepção
metodológica, o planejamento do processo educativo e a ação professor-
aluno.

O conhecimento, segundo essa teoria, resulta do trabalho humano no


processo histórico de transformação do mundo e da sociedade, através
da reflexão sobre esse processo. Nessa perspectiva, entende-se o
conhecimento em continuo movimento, que parte da síncrese, passando
pela análise e chegando à síntese (GASPARIN, 2007 apud CORAZZA, 1991).

Segundo Saviani (2004), nessa concepção, o ponto de partida para


socialização de determinado assunto inicia-se com a síncrese, que
corresponde ao momento de afirmação, ou seja, o momento de explicitar a
visão de conjunto do todo. Trata-se de uma totalidade precária ou caótica.
O mesmo que Paulo Freire chama de problematização.

A análise ocorre como momento de mediação, de negação da visão


inicial, de antítese. Negar não significa descartar o conhecimento que está
no ponto de partida. No momento de análise, ocorre a reestruturação
do conhecimento. Enquanto prática docente, no momento da análise, o
professor precisa propor conceitos particulares relacionados ao assunto
que será abordado, procurando não se limitar apenas à exposição de
um conteúdo e buscando outras técnicas e recursos que favoreçam a
aprendizagem dos alunos.

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CAPÍTULO 1

O ponto de chegada corresponde ao momento de síntese. É o momento


em que se estabelece uma nova totalidade, concreta, caracterizada por
novas relações e determinações. É, portanto, um momento de reelaboração
da visão caótica do momento inicial. A síntese pressupõe a necessidade
de se articular os conceitos entre si, contextualizar o assunto estudado
na prática social dos alunos, ressaltando a relevância social do mesmo.
Na continuidade, esse ponto de chegada pode se constituir em um novo
ponto de partida.

Perceba que a síncrese passa pelo conhecimento sensorial concreto, o


empírico, o concreto percebido. Enquanto que a análise compreende
abstração, separação dos elementos particulares de um todo,
identificação dos elementos essenciais, das causas e contradições
fundamentais. Finalmente, a síntese resulta no concreto pensado,
que corresponde a um novo concreto mais elaborado, uma prática
transformada.

Esse movimento de síntese à síntese pela mediação da análise constitui


uma orientação segura tanto para o processo de descoberta de novos
conhecimentos no âmbito de pesquisa científica como para o processo de
socialização de conhecimentos no âmbito educativo. (SAVIANI, 1999).

Essa metodologia dialética de ensino-aprendizagem perpassa todo o


trabalho pedagógico, estruturando e desenvolvendo o processo de
construção do conhecimento escolar.

Veja que há uma diferença conceitual entre transmissão e


socialização do conhecimento. A transmissão remete as didáticas
liberais que reproduzem o saber enquanto que a socialização implica
em apropriação e transformação.

52 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 1
O que se pode perceber, dessa concepção metodológica dialética, é que
ela adota o seguinte paradigma para construção do saber:

1. ter a prática como ponto de partida;

2. teorizar essa prática; e

3. voltar à prática para transformá-la.

Por isso, a ideia dessa proposta pedagógica, derivada da teoria dialética do


conhecimento, tem como primeiro passo partir da prática social dos sujeitos
da educação. Esse processo de prática-teoria-prática não é estanque, mas
se desenvolve ciclicamente, possibilitando ao aluno a busca contínua de
novos conhecimentos e novas práticas. O conhecimento teórico adquirido
pelo educando retorna à pratica social de onde partiu, visando agir sobre
ela com entendimento mais crítico, elaborado e consistente, intervindo em
sua transformação.

Essas fases do método dialético de construção do conhecimento escolar,


prática-teoria-prática, partindo do nível de desenvolvimento real dos
alunos, trabalhando na zona de seu desenvolvimento potencial, para
chegar a um novo nível de desenvolvimento real, estão aliadas à teoria
sócio-interacionista de Vygotisky. (GASPARIN, 2007).

Em seu conjunto, essa metodologia de ensino-aprendizagem apresenta


três características desafiadoras, que incluem:

1. nova maneira de planejar as atividades com professores e alunos;

2. novo processo de estudo por parte do professor, pois todo conhecimento


a ser trabalhado deve ser visto sob uma perspectiva totalmente
diferente da Didática Tradicional;

3. novo método de trabalho professor-aluno, que tem como base o


processo dialético: pratica-teoria-prática.

Um dos desafios que a Didática Crítica nos coloca é de libertar o potencial


transformador das práticas educativas.

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CAPÍTULO 1

É importante realçar que, apesar de a Didática Tradicional ter sido


alvo de críticas por ser considerada mera transmissora de conteúdos
desarticulados da realidade, é importante perceber que a Didática,
em cada momento da sua história, constituiu uma especificidade em
resposta ao período social no qual estava vivendo.

Depois de acompanhar a trajetória histórica sobre a Didática você pode


notar que muito foram os focos. Porém, é importante saber que na
atualidade o seu objeto consiste em como fazer a prática pedagógica
concreta e articulada com a perspectiva de transformação social, sendo que
esse agir se amplia de sentido quando estiver articulado ao para que fazer
e porque fazer. Um educador que estiver apoiado nesses referenciais não
vai transmitir conteúdos aos alunos, não vai entregar conceitos já prontos
que devem ser reproduzidos e não vai depositar conteúdos. Desse modo,
a educação bancária não tem vez. Por consequência acontece uma ruptura
concreta da memorização como categoria central do processo educativo.

Síntese do capítulo

»» A origem da Didática esteve relacionada ao aparecimento do


ensino, no decorrer da evolução da sociedade. Passando a ser
inaugurada, ainda que de forma difusa, na Grécia Antiga, quando
procedimentos educativos já faziam parte da reflexão de filósofos
e pensadores.

»» Comênio foi considerado o Pai da Didática, por ser o primeiro


educador a formular a ideia da difusão do conhecimento e a
criar princípios e regras do ensino. A sua obra Didática Magna se
constituiu em um marco histórico para Didática e exerceu muita
influência nas práticas educacionais.

54 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 1
»» Foram as ideias pedagógicas de Comênio, Rousseau, Pestalozzi
e Herbert, somadas as ideias de outros pensadores, como Jonh
Dewey, que formaram as bases do pensamento pedagógico
europeu e vieram a influenciar a Didática Tradicional e Escolanovista
no Brasil.

»» A história da Didática se constitui em cinco períodos: Tradicional,


Escola Nova, Tecnicista, Crítico-Reprodutivista e Crítica.

»» A Didática Tradicional veiculou a transmissão de conhecimento


historicamente acumulados por meio de aulas expositivas.

»» A Didática escolanovista é centrada nos métodos e técnicas


didáticas que partem de pressupostos psicopedagógicos e
experimentais.

»» Na Didática Tecnicista, o ensino é visto como uma estratégia para


alcançar produtos previstos.

»» A Didática Crítica-Reprodutivista aponta que há uma falsa


neutralidade na transmissão do conhecimento e constata o
elemento ideológico do processo de ensino e aprendizagem.

»» O enfoque da Didática Crítica é o de trabalhar no sentido de ir


além dos métodos e técnicas, procurando associar as dicotomias
entre educação-sociedade, ensino-pesquisa, teoria-prática, forma-
conteúdo, professor-aluno.

»» A Didática Tradicional, a Didática Escolanovista e a Didática


Tecnicista são consideras pedagogias liberais ou não críticas
porque privilegiam a reprodução do saber e a manutenção da
ordem dominante.

»» Na Didática Crítica, os conteúdos refletem a realidade na qual


se insere a escola e são apropriados para serem superados,
chegando-se à produção de um novo saber. Nessa perspectiva, a
educação é influenciada pela realidade e por isso o agir no interior
da escola deve contribuir para transformar a própria sociedade.

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CAPÍTULO 1

Você pode utilizar as linhas abaixo para produzir a síntese do seu processo
de estudo:

Atividades de aprendizagem

1. A Didática é uma ramificação da Pedagogia e se refere aos conteúdos


de ensino e aos processos próprios para a construção do conhecimento.
Em Comenius, você viu que a Didática se refere à arte de ensinar. Desde
então, por muito se perpetuou que o ensino foi objeto da Didática.
Indique e explique qual é objeto de estudo da Didática na atualidade.

56 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 56 13/12/2018 16:27:20


Didática

CAPÍTULO 1
2. Nessa retrospectiva histórica, procurou-se destacar os aspectos sócio-
econômicos, políticos e educacionais que serviram de base para
identificar as propostas pedagógicas presentes na educação, bem
como os enfoques do papel da Didática. Desse modo, indique qual a
característica fundamental que marca a distinção entre as Didáticas
consideradas liberais e a Didática Crítica.

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CAPÍTULO 1

Aprenda mais...
Algumas obras interessantes que contemplam os estudos desse capítulo são:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática


educativa. 39 ed. São Paulo: Paz e terra, 2009.

GASPARIN, João Luiz. Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. 4


ed.. Campinas: Editora autores Associados, 2007.

Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. A Reconstrução Educacional do


Brasil. Ao povo e ao Governo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1932.
COMÊNIUS, João Amós. Didática Magna. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1985.

Veja alguns filmes relacionados ao conteúdo desse capítulo:

»» Olhos Azuis (EUA, 2006);


»» Escritores da Liberdade (EUA, 2007);
»» Um Sonho Possível (EUA, 2010).

A partir desses filmes, é possível refletir sobre as concepções didáticas


apresentadas pelos diferentes professores. Além disso, os filmes também
apontam a necessidade de os saberes escolares estarem articulados às
vivências dos alunos.

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CAPÍTULO 2
Teorias do Conhecimento, Teorias Pedagógicas e
a Didática: o Ensinar e o Aprender
Carmen Maria Cipriani Pandini

Neste capítulo, você estudará sobre a teoria do conhecimento e


suas bases filosóficas e epistemológicas, tendo a possibilidade
de perceber como ele pode ser compreendido e as classificações
que obteve durante os séculos. Você terá a oportunidade de
aprender sobre a relação entre o conhecimento e as teorias
de aprendizagem, fazendo uma conexão com as práticas
pedagógicas. Nessa perspectiva, verá as diversas possibilidades
de perceber o mesmo fenômeno sob diferentes tendências e
abordagens educacionais.

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CAPÍTULO 2
Teorias do Conhecimento, Teorias Pedagógicas
e a Didática: o Ensinar e o Aprender

Objetivo geral de aprendizagem


Relacionar a teoria do conhecimento, as teorias pedagógicas e
a didática de forma que você possa compreender quais são as
principais correntes pedagógicas e suas implicações no processo
ensino-aprendizagem e na Didática.

Seções de estudo
Seção 1 – Teorias do conhecimento e a educação
Seção 2 – As correntes que influenciam a
Didática e as práticas pedagógicas

Seção 3 – Teorias de aprendizagem e as implicações


pedagógicas

Seção 4 – Por uma opção didática de ensinar e aprender:


a problematização do cotidiano e a aprediza-
gem significativa

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Iniciando o estudo do capítulo

Construir conhecimentos implica transformar saberes. Na escola, os saberes


que alunos e professores possuem e constroem refletem as histórias de vida,
experiências, expectativas, informações e conhecimentos. Eles podem ser
formais e informais, ou seja, quando a escola usa um método sistematizado
e atua sobre os diversos elementos da relação educativa estamos diante
do saber escolar (oriundo da escola formal), porém há o saber informal,
proveniente da educação não formal (do saber não escolar) que faz parte
do conjunto de saberes que constituiu a educação como processo.

Neste capítulo, você estudará as relações entre o ensinar e o aprender,


partindo de uma investigação sobre o conhecimento como parte
integrante da relação educativa. Neste sentido, estudará as bases teóricas
que subordina as relações entre sujeito, objeto e contexto, e orientam a
construção do pensamento e as aprendizagens formais e informais ao
longo da vida!

Mas, o que isso interessa à Didática? Se o núcleo da Didática é a relação


ensino-aprendizagem, nesta relação estão implicados objetivos,
conteúdos, métodos e as diferentes formas de organização do ensino,
bem como a cultura organizacional e as tendências do currículo. Mas,
não é somente isso; para organizar o ensino de modo eficiente é preciso
compreender como este aluno aprende e em que base este conhecimento
se situa. É preciso também entender quais e como são os condicionantes
naturais, sociais e culturais que interagem nesta relação – na relação
ensino-aprendizagem. Como educadores, é importante saber como
o sujeito, o nosso aluno, vai formando suas competências cognitivas e
quais são as variáveis implicadas na construção dos conhecimentos e do
pensamento e nas estratégias de resolução de problemas, bem como nas
diversas aprendizagens e suas finalidades.

Neste contexto e do ponto de vista didático, a função do professor está


situada entre:

a) a mobilização de estratégias para que seu aluno encontre meios


para construir suas aprendizagens de modo significativo ao longo
da vida;

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Didática

CAPÍTULO 2
b) os procedimentos de avaliação para recontextualização
contínua da Didática, de maneira a redimensionar as práticas de
acordo com os contextos gerados pela prática; c) as diversas
circunstâncias em que se encontra o sujeito da educação com
suas respectivas finalidades.

c) as diversas circunstâncias em que se encontra o sujeito da


educação com suas respectivas finalidades.

A Didática, portanto é uma área importante da Pedagogia, pois sua


preocupação está voltada à qualidade das aprendizagens dos alunos, sendo
assim, é uma das principais áreas da educação.

Para iniciar nosso estudo, podemos dizer que o conhecimento (construído,


também na relação ensino-aprendizagem) sempre foi importante no
desenvolvimento da humanidade e das sociedades. Sempre foi objeto
de debate e é considerado patrimônio importante das sociedades, sendo
considerado um “capital imaterial e intelectual” incontestável, servindo,
para além de outros âmbitos e esferas, à compreensão do ser humano e
seus dilemas.

O conhecimento, portanto, não se limita às descrições, às hipóteses,


aos conceitos, às teorias, aos princípios e procedimentos que são
úteis ou verdadeiros, por isto existem muitas formas de explicá-lo. As
mudanças nas formas de concebê-lo na relação sujeito e objeto implicam
também diferentes concepções de aprendizagem, o que exigem maneiras
diferenciadas nos procedimentos de ensino e nas práticas educativas como
um todo.

Para entender melhor essa relação entre as teorias do conhecimento e


a educação, vamos ao estudo do Capítulo. Ao longo dos estudos, você
certamente compreenderá o papel da escola e a função do educador
frente à atividade docente e do seu papel no desenvolvimento do projeto
didático.

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CAPÍTULO 2

Seção 1 – Teorias do Conhecimento e a Educação

Objetivos de aprendizagem

»» Analisar o processo de construção do conhecimento do


ponto de vista da sua epistemologia e da apropriação dos
saberes.

»» Compreender a relação da construção do conhecimento


com as propostas educacionais ao longo da história.

No decorrer da história da humanidade, as diversas filosofias desenvolveram


espontaneamente suas teorias com o objetivo de evidenciar os meios
científicos para elucidar questionamentos e objetivos aos quais, o
conhecimento se aplica e fundar sua validade nas diversas áreas. As
reflexões sobre a natureza do conhecimento geraram as teorias do
conhecimento, e estas fornecem explicações sobre ele, nem sempre
consensuais, porém importantes ao desenvolvimento da humanidade. É
a epistemologia que estuda o conhecimento. Esta é a ciência que pode
nos fornecer as explicações sobre as teorias e as várias ciências. Veja sobre
o que ela trata, especificamente.

Epistemologia significa, etimologicamente, discurso (logos) sobre


a ciência (episteme), e surgiu somente no século XX no dicionário
filosófico. Segundo estudiosos, é uma área de difícil definição devido
à natureza dos problemas que ela aborda. Mas, em síntese, podemos
dizer que “teria por função resolver o problema geral das relações
entre a filosofia e as ciências procurando saber se tal problema é
verdadeiro ou se deve procurar outras funções e métodos fora da
perspectiva filosófica. (JAPIASSU, 1934, p. 24).

Partindo do que aborda a epistemologia, podemos concluir que existem


diferentes formas de estudar, classificar e compreender o conhecimento e
suas aplicabilidades nos diversos campos do saber, sendo que é a relação
conhecimento-processo, conhecimento-estado nos ajuda a captar a
realidade a ser conhecida. Da mesma forma, a relação sujeito-objeto nos
permite explicar suas múltiplas formas de estruturação em relação ao
desenvolvimento do pensamento e da inteligência, consideradas as mais

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Didática

CAPÍTULO 2
diversas influências – orgânicas, naturais, culturais, socioculturais, políticas
etc..

Exemplo
É sempre bom lembrar que um conhecimento é provisório,
inacabado e está em constante transição. Ele depende de muitas
variáveis e circunstâncias.

As questões relativas ao conhecimento foram debatidas e estudadas,


especialmente, pelos gregos antigos; podemos dizer que, ao longo dos
séculos e na sociedade contemporânea, não encontramos um consenso
sobre a maneira como os problemas podem ser resolvidos.

Vamos conhecer algumas teorias que explicam o conhecimento no


decorrer dos séculos para entender melhor aspectos relativos às teorias e
abordagens que fundamentam a educação e seus processos?

Os estudos que você realizou até aqui, nas disciplinas de Filosofia e Sociologia
certamente, serão muito úteis também nesta disciplina, principalmente em
relação ao fornecimento de subsídios para a compreensão do fenômeno
educativo e sua Didática, pois fundamentam não só as teorias das ciências,
como também as relações socioculturais do ser humano no mundo – que
é objeto das referidas áreas e disciplinas dos currículos formativos.

Para fins didáticos, dividiremos a história do conhecimento em períodos


(épocas), em uma linha do tempo, assim ficará mais fácil para você
compreender as pertinências à educação e ao processo educativo, com
suas variações pedagógicas, filosóficas e relacionar ao interesse deste
Caderno, ou seja, a Didática.

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CAPÍTULO 2

Vamos lá?

Período pré-socrático: o Universo e os fenômenos da natureza

A história do pensamento humano não é recente, esta corrente de


pensamento foi a primeira na Grécia Antiga, antes do século IV a.C. Os
filósofos dessa época procuravam explicar tudo através da razão e do
conhecimento científico. Dedicavam-se ao estudo do Universo e com os
fenômenos da natureza. Entre os filósofos desse período, podemos citar:
Heráclito, Pitágoras Tales de Mileto.

Heráclito

Heráclito protagonizou uma


visão do mundo baseada na ideia
de “eterna mudança”, do fluir
constante do real, que se constitui
no fundamento dinâmico inerente
a todas as coisas. É considerado
por muitos estudiosos, o “pai
da dialética”, pois afirmava que
a realidade (a natureza) é um
constante vir a ser. Nada é igual
ao que já foi. Usa a metáfora que
ninguém se banha no rio duas
vezes.
Figura 2.1 - Hendrickje banhando-se no
rio, 1654, óleo sobre painel, 61,8x47 cm,
National Gallery, Londres

Período Clássico ou Socrático: amplo desenvolvimento cultural e científico

O Período Clássico abrange os séculos V e IV a.C.. Foi um período de


intenso desenvolvimento cultural e científico da Grécia Antiga. É a época
de Sócrates! Ele fazia suas reflexões sobre o homem buscando entender
o funcionamento do Universo a partir de uma análise científica. Para
o filósofo Sócrates, o valor estava na oralidade. Sócrates nunca deixou
registros escritos de sua teoria, suas ideias estão nas heranças filosóficas

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Didática

CAPÍTULO 2
escritas por Platão, seu discípulo. Sócrates ressaltava que opiniões não são
verdades, pois não se fundamentam em argumentos científicos nem no
poder da memória.

Platão registra em suas obras o efeito “maléfico” da aquisição da escrita


pelo homem para o conhecimento. Segundo o filósofo, à memória era
confiado todo e qualquer registro. Portanto, com o uso da escrita, o
homem perderia sua “essência”, como ser do conhecimento, se lhe fossem
subtraídas as habilidades de memorizar, que faziam parte do mundo das
ideias. Levando essas verdades até a sua morte, Platão, solicita em uma carta
a seu discípulo Aristóteles de não levar os seus escritos ao conhecimento
público; recomendando, inclusive, a destruição do documento escrito em
que fazia essa solicitação.Aristóteles, contrariando Platão, publica a carta
e argumenta dizendo que a materialidade era a supremacia do homem
das ideias, pois mantinha sob controle o que a oralidade, supostamente,
perdida. (PANDINI, 2004, p. 99). As letras, segundo ele, “foram inventadas
para que possamos conversar até mesmo com o ausente, são os signos de
sons”. (MANGUEL, 1997, p. 61).

Platão defendia que as ideias formavam o lócus do conhecimento


intelectual; ou seja, para Platão, o mundo conhecido por nós não é a
verdade, o que se vê é uma representação do verdadeiro, que se encontra
em um mundo à parte, o Mundo das Ideias. Esse mundo apenas seria
compreendido se fosse separado das aparências.

Platão escreveu suas obras em forma de diálogos, pois para ele, o


conhecimento é resultado do convívio entre homens que discutem
O diálogo não é apenas a
de forma livre e cordial. forma como o filósofo se
expressa, mas também
Aristóteles, outro grande filósofo deste período, que como já dito era a base de seu método
filosófico de descoberta
discípulo de Platão, defendeu a concepção de que “a essência de cada da verdade.
coisa está na própria coisa”.

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CAPÍTULO 2

Aristóteles foi um dos primeiros pensadores a realizar pesquisas científicas.


Suas investigações deram origem a diversas áreas do conhecimento, dentre
elas podemos destacar a Biologia, a Zoologia, a Física, a História Natural, a
Poética, a Psicologia, além de disciplinas ligadas diretamente à Filosofia,
como a Ética, a Teoria Política, a Estética e a Metafísica.

De modo geral, Aristóteles fazia uma lista das hipóteses já enunciadas sobre
determinado assunto e demonstrava sua inconsistência para, em seguida,
buscar respostas que preservassem o melhor das hipóteses analisadas.

Neste período também viveu Parmênides de Eléia, filósofo do Século V


Para Parmênides, o
pensamento humano a.C (530 a.C. a 460 a.C.) que defendia a que a verdade era imutável, caso
pode atingir o contrário, seria mera opinião. Esse filósofo é considerado o fundador da
conhecimento genuíno e a escola de pensamento de Eleia e, segundo estudiosos, Parmênides foi o
compreensão pela mente
e não pelas sensações filósofo mais influente que precedeu Platão.
– que segundo ele, será
enganoso e falso.

Aristóteles

De todos os grandes pensadores


da Grécia Antiga, Aristóteles (384-
322 a.C.) foi o que mais influenciou
a civilização ocidental. Até hoje,
o modo de pensar e produzir
conhecimento deve muito ao
filósofo. Foi ele o fundador da
ciência que ficaria conhecida como
Lógica e suas conclusões nessa área
não tiveram contestação alguma
até o século 17. Sua importância
no campo da educação também
é grande, mas de modo indireto.
Poucos de seus textos específicos
sobre o assunto chegaram aos Figura 2.2 - Aristóteles
nossos dias. A contribuição de
Aristóteles para o ensino está principalmente em escritos sobre
outros temas. (Revista Nova Escola on-line, 2011).

Período Pós- Socrático

O período pós-socrático se constituiu por grandes doutrinas (explicações)


sobre a Natureza. Os filósofos desse período estavam preocupados em
explicar o homem, a natureza, as relações entre ambos e deles com a

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Didática

CAPÍTULO 2
divindade. Predominavam as preocupações com a ética, uma vez que os
filósofos já não se ocupavam diretamente com a Política, a Física, a Teologia
e a Religião.

Entre as novas tendências que surgiram, duas escolas filosóficas se


destacaram: estoicismo e o epicurismo.

»» O estoicismo: este pensamento filosófico que possui influência


das teorias de Platão, Aristóteles e os Cínicos. Influenciou
diretamente os romanos e o cristianismo nascente com questões
religiosas e morais. “A arte de bem viver”, considerando a ética e
as questões morais eram mais importantes do que as questões
teóricas. Era uma filosofia prática que atingia todas as classes e
pregava o cosmopolitismo, considerando que o homem devia ser
um cidadão do mundo. De acordo com o estoicismo, enquanto o
animal é guiado pelo instinto, o homem é guiado pela razão. O
mundo que a razão apresenta ao homem é a natureza e não existe
nada superior a ela. Deus, portanto, não está fora da natureza, mas
impregnado nela. Neste sentido, a natureza é governada pela razão
divina e tudo tem um motivo para ser e nós não podemos mudar
isso. Por conseguinte, nossa atitude diante das adversidades e da
própria morte deve ser de serena resignação.

»» O epicurismo, como o próprio nome já sugere, foi a Escola de


pensamento formada a partir do pensamento de Epicuro. Defendia
uma moral cujo objetivo era a felicidade do homem principalmente
atingida pelo cultivo do espírito. Mais do que uma instituição de
investigação filosófica, a escola fundada por Epicuro consistia
em uma comunidade, ou seja, um grupo devotado à vida em
comum, ao cultivo da amizade e da virtude. A filosofia epicurista
apresentava uma perspectiva dogmática, cujo aprendizado do
corpo era doutrinário de seu mestre. Os epicuristas procuravam
associar o conhecimento empírico à apreensão racional, e de ter
na Ética o centro de suas atividades de pensamento. Essa Escola
sempre teve uma orientação empírica que se opunha à academia
platônica, muito mais especulativa.

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CAPÍTULO 2

Período Medieval

O período Medieval é o tempo da Escolástica. Filosofia que era ensinada nas


escolas Medievais. A fé e a razão eram os princípios de todas as lições. Tudo
era explicado por meio desses princípios, cujo pensamento privilegiou a
atividade, a razão e a vontade humana. Temos, nesse período, duas
correntes, a Escolástica e a Patrística. O personagem mais relevante dessa
época foi Tomás de Aquino (1224/5-1274). Tomás de Aquino deu ênfase ao
mundo real e ao aprendizado pelo raciocínio, e defendeu a autonomia
da razão na busca de respostas, embora não negasse a relação de
subordinação da razão à fé.

Tomás de Aquino

Numa época em que a Igreja ainda


buscava em Santo Agostinho (354-
430) e seus seguidores grande parte
da sustentação doutrinária, Tomás de
Aquino formulou um amplo sistema
filosófico que conciliava a fé cristã com
o pensamento do grego Aristóteles
(384-322 a. C.) - algo que parecia
impossível, até herético, para boa parte
dos teólogos da época. Não se tratava
apenas de adotar princípios opostos aos
dos agostinianos - que se inspiravam no
idealismo de Platão (427-347 a. C.) e não
no realismo aristotélico - mas de trazer Figura 2.3 - Tomás de Aquino
para dentro da Igreja um pensador que
não concebia um Deus criador nem a vida após a morte. (Revista
Nova Escola, 2011).

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Didática

CAPÍTULO 2
Período Moderno: Renascimento Cultural e Científico

Podemos dizer que a Teoria do Conhecimento propriamente dita inicia


na Idade Moderna, no século XVII, com Galileu e outros cientistas.
Cabe destacar que todos
Eles construíram um modelo novo de pesquisa sobre os fenômenos os precursores foram
do mundo. E redimensionaram a função das ciências, provocando os importantes para todas as
definições subsequentes,
demais filósofos a estudarem as possibilidades, os limites e o potencial com relação ao
do conhecimento humano. Filósofos como Descartes, Bacon, Leibniz, desenvolvimento do
Espinoza, Locke, Berkeley e Hume foram os responsáveis pelo surgimento pensamento.
de duas grandes correntes que traduzem o sentido dos tempos atuais: o
racionalismo e o empirismo.

O pensamento filosófico moderno, portanto, se desenvolveu durante os


séculos XV ao XIX. Inicia pelo Renascimento e se estende até meados do
século XIX e pode ser dividido em:

»» Filosofia do Renascimento;

»» Filosofia do século XVII;

»» Filosofia do século XVIII;

»» Filosofia do século XIX.

A Filosofia do século XIX refere-se ao período moderno cuja concepção


de conhecimento deixa de ser influenciada pela religião. Neste período, o
conhecimento passa a ser concebido como racional e científico.

É nesta época que vive René Descartes, precursor do pensamento filosófico


moderno. Ele pôs em dúvida o pensamento de Aristóteles e questionou
até que ponto o homem teria a capacidade de conhecer a verdade. Para
ele, os homens se baseavam em opiniões, mas as certezas poderiam estar
muito distantes. Ele desenvolve o método cartesiano, afirmando que só
existe aquilo cuja existência pode ser comprovada.

Baseado no método cartesiano Descartes deu início a seus estudos,


colocando em dúvida sua própria existência.

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CAPÍTULO 2

Descartes chegou, então, à conclusão de que uma consciência


clara de seu pensamento provava sua própria existência. Isto foi
considerado um fato verdadeiro sob o qual ele passou a provar a
existência de diversas outras coisas. Sua conclusão foi divulgada e
registrada por meio da bem conhecida e clássica frase de origem
latina: Cogito, ergo sum, ou “Penso, logo existo”.

Neste período, encontramos também o pensamento de Francis Bacon,


filósofo inglês precursor do movimento filosófico ou método experimental
chamado Empirismo. De acordo com o método empírico, só pode ser
verdadeiro aquilo que pode ser demonstrado. Este método foi depois
desenvolvido pelos filósofos John Locke e Thomas Hobbes.
Thomas Hobbes e John
Locke foram filósofos
Esse período é também a fase do iluminismo, no qual a reflexão se pauta
ingleses iluministas. sobre a experiência, a razão e o método científico que, na época parecem
O primeiro defendia a ser as únicas formas de construção do conhecimento. São adeptos desta
ideia de que os homens
só podem viver em uma teoria Hegel, Montesquieu, Diderot, D’Albert, Kant e Rousseau (que muito
sociedade pacífica se con- influenciou a Educação).
cordarem em submeter-se
a um poder absoluto e
centralizado, ou seja, o É Emmanuel Kant que, a partir de sua preocupação com a natureza do
Estado, denominado por conhecimento humano, nos apresenta uma nova teoria do conhecimento.
ele de O Leviatã (nome Para ele, o conhecimento humano é inerente ao próprio homem. Ele diz
de sua principal obra). O
segundo foi o principal que não é possível conhecer as coisas em si, mas a imagem que se produz
teórico do liberalismo e das mesmas.
suas teorias deram origem
as concepções modernas
de identidade do “eu”.

A partir dessas ideias de Kant surge o apriorismo, que defende que o


conhecimento se origina da razão e nos sentidos. O homem nasce com
o entendimento e a sensibilidade e ambos convergem. A sensibilidade é
a capacidade passiva sendo afetada pelos objetos exteriores e tem duas
formas puras, a priori: o espaço e o tempo.

72 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 2
A partir dessas hipóteses, Kant contesta o inatismo e o empirismo.
O primeiro, porque é uma teoria que defende que o sujeito já nasce
pronto e o segundo porque centra-se na realidade exterior (os objetos do Para Kant, a relação
conhecimento). Para esta teoria, nada está no pensamento que não tenha entre o inato e o
empírico consiste em
estado primeiramente nos sentidos. que a estrutura da
razão é inata, e os
Kant, por sua vez, também foi contestado. Por quem? Pelo filósofo Georg conteúdos que a razão
conhece dependem da
Wilhelm Friedrich Hegel, ou simplesmente Hegel, como é conhecido! Ele experiência, ou seja,
também teceu críticas ao inatismo e ao empirismo; então você pode estar são fornecidos pela
se perguntado, por que, então as críticas, ou quais críticas? É por isso que experiência e, portanto,
se diversificam no tempo
para Hegel, a razão é histórica e as três interpretações das teorias (inatismo, e no espaço.
empirismo e o apriorisno kantiano) desprezaram a existência dela.

Para Hegel, a razão tem de ser necessariamente, a unidade essencial


do objetivo e do subjetivo. Este conhecimento racional forneceria
aos indivíduos um potencial de consciência, de ação sobre o mundo e
de cidadania que o tornaria senhor do seu próprio destino. (STOER;
MAGALHÃES, 2003, p. 1180)

Você deve estar e perguntando: mas, o que tudo isso tem a ver com a
Didática? Mais adiante, você verá com maior clareza este assunto. Porém
podemos adiantar que todas essas teorias possuem uma relação direta
com a Didática porque é seu objeto de estudo: o que é o ensino e a
aprendizagem, e quem faz parte deste processo? O aluno, suas experiências,
suas formas de vida, sua maneira de ver, perceber e aprender o mundo...
e isso não é Filosofia, também? Não é percurso? Conhecimento? Você já
de estar percebendo que já ouviu falar dessas teorias na educação, não é
mesmo? Ainda tem mais... Vamos seguir?

Na época Moderna, do século XIX ainda temos o


positivismo de Augusto Comte. O positivismo foi
um paradigma que influenciou a educação no
Brasil de maneira muito contundente,
principalmente na época da Ditadura Militar. As
ideias positivistas permitiram uma postura
tecnicista na educação que prevaleceu por muitas
Figura 2.4 - Conteudismo

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CAPÍTULO 2

décadas e em algumas escolas ainda se vivencia resquícios dela. É uma


educação que valoriza a experiência como base do conhecimento, os
comportamentos desejáveis dos alunos e não aqueles que podem ser
mensurados.

Você sabe o que é tecnicismo?

No tecnicismo, os comportamentos desejados devem ser reforçados


na medida em que servem ao desenvolvimento econômico. À
escola cabe formar trabalhadores eficientes e produtivos. No Brasil, o
positivismo data da segunda metade da década de 50, mas é no final
da década de 60 e início da década de 70 que a escola se adéqua à
orientação política, econômica e militar. A educação está voltada aos
anseios da sociedade capitalista. Esta tendência gerou uma teoria
educacional definida como “pedagogia tecnicista”. (SAVIANI, 1984).

No século XIX, também, viveu o filósofo Karl Marx e suas ideias deram a
origem a teoria marxista. Antes de falar da sua teoria, responda: - Sabem por
quem Marx foi influenciado? Por Hegel! É isso mesmo! aquele pensador
que defendeu a ideia que a razão é histórica... Marx criou o materialismo
dialético.

Esta teoria se fundamentava no método dialético e é por meio dele que


Marx explica o funcionamento da sociedade – por meio do materialismo
Você terá oportunidade dialético. Este, mais tarde, vem influenciar a teoria histórico cultural de
de aprofundar esta teoria Vigotsky, que é a base do Curso de Pedagogia a Distância da UDESC.
em várias disciplinas e
passará a entender como
esta influenciou não só a Como você pode ver, a Idade Moderna inaugura a fase do conhecimento
teoria histórico cultural, científico, e o considera um capital importante à emancipação dos
mas também a tendência
Humanista de Paulo Freire. indivíduos e das nações. Poder conhecer o mundo – natural ou social –
correspondia a conhecer e compreender as suas leis, limitações e domínios
para compreender a Humanidade. Esta possibilidade colocava o sujeito no
centro da história.

E, para fechar esta seção sobre as teorias do conhecimento buscamos


em Freire uma reflexão para o que significa conhecer... Nascido
no século XX, influenciado pelas ideias de Marx, Engels, Gramsci,
Dewey, o educador social e humanista Paulo Freire (1983), diz que
conhecer, na dimensão humana, não é o ato pelo qual um sujeito,

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Didática

CAPÍTULO 2
transformado em objeto, recebe, dócil e passivamente, os conteúdos
que outro lhe dá ou impõe. O conhecimento, pelo contrário, exige
uma presença curiosa do sujeito em face do mundo e requer sua
ação transformadora sobre a realidade. Ele demanda uma busca
constante. Implica em invenção e reinvenção. (FREIRE, 1983, p. 16).

Portanto, para Freire, o conhecimento é um movimento dialético, porque


reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer.
Segundo ele é neste movimento que podemos reconhecer conhecendo
e, ao reconhecer-se é possível perceber o “como” de seu conhecer e os
condicionamentos a que está submetido seu ato. Desta forma reconhecemos
também as formas de orientação no mundo. Podemos entender da
seguinte forma: para o aluno, conhecer o que antes não conhecia, deve
engajar-se em uma ação autêntica, o que gera um processo de abstração
por meio da reflexão, em que esta em relação direta “ação-objeto”, esta
circunscrita na realidade do mundo. O sujeito só pode conhecer aquilo que
reconhece e se apropria como ação vivida e refletida. Assim, na concepção
humanista de Paulo Freire é somente como sujeito, na sua condição de
existência e não fora dela, que este pode realmente conhecer.

Por esta condição é que se pode afirmar que, em um processo educativo,


o sujeito “só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do
aprendido, transformando-o em apreendido, reinventando-o; aquele
que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais
concretas”. (FREIRE, 1983, prefácio).

Desse modo, podemos inferir que o conhecimento


vai formando uma unidade na pluralidade de
concepções, experiências, desejos e expectativas
tecendo, assim, o que aos poucos vai se transformando
em referencial didático ao professor e aluno.

Figura 2.5 - Método Paulo


Freire

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CAPÍTULO 2

Exemplo
Encontramos ai, novamente a Didática, percebeu? Pois, se “o
conhecimento incide na ação, como atributo do sujeito e não
como algo que se dê à sua revelia”, como afirma Moreira (2001,
p. 72), estamos diante da necessidade de compreender as teorias
da educação e da aprendizagem, para que, a partir das condições
e circunstâncias em que se encontram e agem os sujeitos, a partir
da dinâmica das ações sociais, dos saberes e motivações dos
sujeitos, possamos melhor estabelecer as estratégias didáticas
para o desenvolvimento do processo educativo.

Veja que a escola, ao sistematizar o saber, agrega também a possibilidade


da produção de novos conhecimentos, diferentes dos que se originaram
da pesquisa científica, e os conteúdos trabalhados na construção desses
conhecimentos não são “resultados pura e simplesmente da ciência” ou
da cultura, interagem com as diversas formas de dispersão social. É o
ensino que vai significá-los, considerando os objetivos de aprendizagem
com metodologias próprias do processo educativo, realizando, assim, a
transposição didática, ou seja, a simplificação dos saberes das ciências,
transformando-os em saberes escolares e consequentemente na
construção das competências.

Na sequência, você irá perceber como as teorias do conhecimento se


relacionam com as teorias da educação e com as práticas pedagógicas.
Vamos adiante?

76 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 2
Seção 2 – As correntes que influenciam a Didática e as
práticas pedagógicas

Objetivo de aprendizagem

»» Compreender a partir de uma perspectiva histórica quais são


as correntes teóricas que influenciam a Didática e as práticas
pedagógicas.

A partir do século XIX e início do século XX, ainda com a permanência das
teorias empiristas, aprioristas, inatistas, e positivistas, as quais afirmam que
só se pode ter como verdadeiro aquilo que apreendemos pelos nossos
sentidos e que pode ser mensurado, surge o construtivismo, o neo-
construtivismo, o sociointeracionismo ou a abordagem histórico-cultural
(que tem como representante Vigtoski, como você viu muito brevemente),
suas derivações e métodos. Essas novas concepções teóricas nascem,
portanto, como contraponto às teorias até então vigentes buscando
dar explicações de como o aluno aprende e sob quais circunstâncias e
contextos, ele o faz

Toda abordagem epistemológica sempre parte da seguinte questão:


qual o papel do objeto e do sujeito no processo de conhecimento? Que
outras variáveis interagem nesta relação?

Antes de darmos continuidade as explicações acerca desta questão, é


importante saber o que é objeto. Entende-se por objeto tudo aquilo que
pode ser estudado pelo homem, incluindo a si mesmo e até o próprio
pensamento; pode ser material e imaterial, portanto, qualquer realidade
material, psíquica ou espiritual pode ser objeto epistemológico. Certo?

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didatica.indb 77 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

Mas, que teorias e bases epistemológicas podem nos dar algumas


respostas sobre como construímos, como se constitui o conhecimento e,
por sua vez, como acontece a aprendizagem, e como deve ser o ensino?
Existem relações diretas?

Segundo o estudioso Davidov, que se baseia na compreensão da teoria


histórico-cultural, psicologia de embasamento filosófico e dialético
marxista, o “conhecimento de um indivíduo e suas ações mentais
(abstração, generalização etc.) formam uma unidade. [...] o conhecimento
não surge em dissociação da atividade cognitiva do indivíduo e não existe
sem referência a ele”. (DAVIDOV, 1998 apud LIBÂNEO, 2004). Portanto, é
justificável considerar os conhecimentos como o resultado das ações
mentais que implicitamente abrangem o conhecimento e, por outro
lado, como um processo por meio do qual podemos obter este resultado
no qual reflete o funcionamento das ações mentais – nunca isoladas do
contexto histórico e cultural.

Assim, podemos entender que o termo “conhecimento” designa tanto o


resultado do pensamento (a reflexão da realidade) quanto o processo pelo
qual se obtém esse resultado (ou seja, as ações mentais). (DAVIDOV apud
LIBÂNEO, 2004), e que se realizam suas abstrações, generalizações e, assim,
formam-se os conceitos e geram-se as aprendizagens.

Desse modo, perceba que é necessário tratar pedagogicamente o


conteúdo das diversas áreas do conhecimento de modo a promover
uma reflexão epistemológica por meio de estratégias didáticas e
de ensino, como suas metodologias e processos. Estas promovem
sistematização dos diversos conteúdos formando um conjunto
de conhecimentos, gerando diferentes modos de aprendizagem
possibilitando o objeto cognoscível ao aluno – por sua vez, ele
construirá suas próprias abstrações e sínteses – ou seja, aprenderá!

78 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 78 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
Nesta perspectiva, o professor possui um papel fundamental – o de mediador,
mobilizando situações problematizadoras para que o seu aluno se aproprie
do objeto, produzindo novos saberes e conhecimentos. É importante dizer
que esta dinâmica, entretanto, necessita de intencionalidade, que é dada
pelo planejamento.
O planejamento deve considerar
Para problematizar essa questão, apresentamos uma situação para que os fatores internos e externos à
seja analisada no contexto do ensino e da aprendizagem, fazendo alusão escola, os conceitos científicos
às possibilidades das teorias de aprendizagem e pedagógicas. e valores culturais advindos
da sistematização das ciências
e da intencionalidade prática
pedagógica.

Situação Problematizadora – no cotidiano, coisas de escola

Paulo estava brincando no parque com sua filha e ouviu umas


pessoas conversando... tratava-se de escola, educação etc.
Como todo “bom” professor, Paulo começa a prestar atenção,
o diálogo é longo, mas num dado momento ouviu o seguinte:

- Eu acho que os alunos têm condições de aprender tudo, desde


que o professor tenha um bom planejamento.

- Toda a criança ou adulto tem condições de aprender e aprende,


e se já conhecem muita coisa, muitas coisas eles já sabem e o
professor deve levar em conta isso.

- Eu acredito que para que os alunos possam aprender eles


devem ter alcançado certo nível de desenvolvimento, caso
contrário não dá certo... eles não podem passar adiante.

- Ah, eu acho que não... alguns nunca vão aprender, sempre foi
assim, você não vê o Fabinho? É igual ao pai, nunca aprendeu a
ler e o Fabinho é filho dele, você acha que com o Fabinho será
diferente?

- Bom, mas eu tenho pra mim que é o professor que sabe e os


alunos vão lá para que ele passe os conhecimentos para eles.
Essa coisa de dizer que os alunos sabem é balela, sabem essas
coisas do dia a dia, mas das matérias, não!

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didatica.indb 79 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

Reflita sobre esta questão!


O que você pensa sobre esse diálogo? Insira sua impressão em seis linhas, e acompanhe a
seção seguinte.

É importante que você perceba que o modo como cada professor concebe
o sujeito, o objeto e seus processos, vai influenciar ou determinar seu
fazer pedagógico, independente do espaço educativo. Assim, cada teoria
vai desenhar uma forma de compreensão e, consequentemente, uma
atuação do professor no processo educativo – em relação ao ensino, à
aprendizagem e, ainda em relação à construção das atitudes e valores ao
longo da vida.

O professor que acredita na visão construtivista de aprendizagem, por


exemplo, entende que a questão da maturação é importante para o
desenvolvimento e construção do conhecimento e apropriação dos
conceitos, assim ele desenvolverá o seu projeto didático baseado nesta
concepção – nela estará implícita a visão de sociedade, concepção de
homem e valores. Esta concepção irá refletir na prática do professor, e, sendo
coerente com sua prática, irá programar sua proposta didático-pedagógica
selecionando conteúdos e desenvolvê-los, considerando a maturação das
estruturas mentais, segundo os estágios de desenvolvimento e realizando
a avaliação com base nesses princípios.

80 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 80 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo é um processo de
mudanças sucessivas - qualitativas e quantitativas das estruturas do
pensamento. O sujeito constrói e reconstrói continuamente as estruturas
que o tornam cada vez mais apto ao equilíbrio. Não necessariamente
seguem a idade biológica e sim o estado de maturação. Os Estágios
considerados por Piaget para avaliar a aprendizagem e o desenvolvimento
são os seguintes: sensório motor; pré-operatório, operatório concreto e
operatório formal.

Por outro lado, se um professor possuir uma visão ou sua concepção for
behaviorista, por exemplo, ele acredita que os fatores internos não são
centrais no processo de desenvolvimento, a aprendizagem vai depender
muito do ambiente. É uma tendência comportamentalista, e se o ambiente
não possui estrutura, os professores podem dizer não há condições para
desenvolver uma boa aula.

Uma visão sociointeracionista ou histórico-cultural demandará um


professor centrado no papel do mediador, mobilizador e problematizador,
em que percebe no seu aluno um sujeito ativo e contextualizado no mundo,
com todas as suas vivências, circunstâncias atuando no seu processo de
construção do conhecimento; verá o aluno como um sujeito histórico,
situado e propenso a aprender com o outro. Irá defender como educador
que para a criança se desenvolver ela precisa aprender, como afirmava
Vigotsky, pois um bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento,
afirmava a sua teoria.

Importante também dizer que, como docente, você não está imune às
formas como vê o mundo, ao modo como percebe a criança no mundo
e as finalidades do ensino e da educação. Os princípios da “boa didática”
são os que consideram que o aprendizado é feito de um conjunto de
elementos e fatores, cabe ao professor assumir uma forma própria para
verificar o lugar deste aluno, suas expectativas e suas necessidades – ou
seja, sua real condição no mundo, como lembrava Paulo Freire, um ser de
histórias, dilemas, medos, inseguranças, corajoso, audacioso, enfim, um
ser múltiplo... Será impossível desenvolver uma boa prática pedagógica se
não houver a preocupação com a capacidade de resolver problemas, se o

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didatica.indb 81 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

professor não for um pesquisador e não tiver a humildade de aprender a


aprender a cada dia, com cada circunstância.

A seguir, você estudará melhor essas teorias, que serviram de apoio às


teorias da educação e da pedagógica e da didática.

Seção 3 – Teorias de aprendizagem e as implicações


pedagógicas

Objetivo de aprendizagem

»» Compreender as relações entre as teorias do conhecimento e


da aprendizagem e as implicações na educação e na prática
pedagógica.

O Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis anuncia o seguinte verbete


para o termo teoria: sf. (gr theoría) 1. Princípios básicos e elementares de
uma arte ou ciência. 2. Sistema ou doutrina que trata desses princípios.
3. Conhecimento especulativo considerado independente de qualquer
aplicação. 4. Conhecimento que se limita à exposição sem passar à ação,
sendo, portanto, o contrário da prática. 5. Conjectura, hipótese. 6. Utopia. 7.
Noções gerais, generalidades. 8. Opiniões sistematizadas. 9. Relação entre
um fato geral e os fatos particulares que dependem dele.

Considerando o que nos apresenta o


moderno dicionário, esboçamos o que
poderia ser o conceito de teoria para
nos ajudar a compreender o conteúdo
que segue:

Figura 2.6 - Teoria

82 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 82 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
Um conjunto de princípios sobre os quais repousa um sistema ordenado
de elementos científicos, que possuem a finalidade de explicar os fatos,
as circunstâncias e as bases que evidenciaram os fenômenos com as suas
particularidades e generalizações.

Neste contexto, é importante que você perceba que a teoria servirá para
dar explicações acerca de um fato ou um fenômeno, mas devemos lembrar
que para tal explicação devem ser consideradas as variáveis implicadas
neste fenômeno, como por exemplo: o espaço, o tempo, as condições
sociais e culturais, ideologias e assim por diante. Isso não é mais novidade,
porque você viu como, ao longo do desenvolvimento do pensamento da
Humanidade, as pessoas construíam suas teorias com base, muitas vezes, em
suas crenças, nas suas ideologias, embora tivesses seus métodos válidos...
também não podemos esquecer que os paradigmas nos orientam nas
definições e modelos educacionais.
Na educação, o
paradigma pode ser
Para o processo educativo, as teorias são as bases para a compreensão conceituado como um
do fenômeno educativo e servem para balizar as práticas docentes, as “Sistema de premissas
teóricas que representa,
estratégias didáticas, a avaliação e o fazer pedagógico, como um todo. explica e orienta a
A partir delas os professores compreendem melhor como os alunos se forma como se aborda
apropriam dos conceitos e toda a dinâmica envolvida na arte de ensinar e de o currículo e que se
concretiza nas práticas
aprender - objeto de estudo da Didática. Elas nos proporcionam elementos pedagógicas e nas
para explicar a relação entre o conhecimento e as formas de resolução de interações professor-
problemas, bem como as relações entre as teorias do conhecimento e aluno objeto de estudo/
conhecimento”. (BEHAR,
teorias e tendências pedagógicas, que são a base do desenvolvimento do 2009).
planejamento didático e do aprender, por conseguinte.

Em educação, podemos dizer que as teorias possuem a finalidade de


nortear o fazer pedagógico segundo um conjunto de princípios, onde
devem ser considerados o contexto, o sujeito e o objeto.

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CAPÍTULO 2

Como você pode ver, buscamos na Didática as bases para a organização


do processo ensino-aprendizagem, a formulação dos objetivos, a seleção
dos conteúdos e dos métodos, as formas de organização e gestão do
ensino. Hoje, a Didática não pode mais ser entendida meramente como
um conjunto de métodos ou um amontoado de técnicas; a Didática está
intimamente ligada às questões que envolvem o desenvolvimento do
pensamento, o desenvolvimento social e cultural, com vistas a uma
relação coerente entre a teoria e a prática do sujeito na sociedade.

No início deste capítulo, você estudou sobre as principais teorias do


conhecimento, com base em uma referência histórica... como se fosse
uma linha do tempo...Em seguida, viu as principais correntes teóricas
que influenciaram diretamente a educação. Agora, você verá, de forma
analítica, como essas tendências teóricas embasaram ou perpassam as
práticas pedagógicas e as teorias da educação. Considerando as diferentes
teorias do conhecimento e as vertentes das teorias psicopedagógicas, ao
longo dos séculos, é possível compreender um pouco mais os modelos
didáticos adotados nos diversos espaços escolares.

1. O empirismo (Bacon e Lock): a experiência


Para o empirismo, a experiência adquirida em função do meio físico é
mediada pelos sentidos que é a única fonte de conhecimento humano. O
sujeito se encontra, por sua própria natureza, vazio, como uma “tábua rasa”,
uma folha de papel em branco. Nesse sentido, entende-se a experiência
como individual, particular e subjetiva, portanto, não universal. Locke refuta
a ideia das teorias inatas e, com isto, destaca a importância da educação e
da instrução na formação do homem.

a) A concepção empirista de educação:

A concepção empirista considera o saber algo externo ao indivíduo,


que, por sua vez, é o receptor passivo da instrução, a ação esperada dele
é de armazenamento de informação. O comportamento é determinado
tão somente por fatores externos. O objeto é enfatizado relativamente
ao sujeito. O conhecimento já se encontra presente na realidade,
necessitando apenas passar pelos sentidos para ser incorporado pelo
sujeito. Nessa perspectiva, a aquisição de conhecimento resulta de um
processo de descoberta possibilitado pela experiência com o mundo
exterior.

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Didática

CAPÍTULO 2
b) A Didática e a Prática Pedagógica de acordo com o
empirismo:

No que se refere a Didática, os empiristas entendem que a ação do


professor é diretiva. O aluno aprende se, e somente se, o professor
ensina. O professor acredita no mito da transferência do conhecimento.
O professor possui o saber e detém o poder estabelecido por hierarquia.
O professor, ainda, é o detentor e o transmissor de conhecimento
e é superior aos alunos. O educando recebe passivamente os
conhecimentos, por intermédio dos conteúdos, tornando-se um
depósito do conhecimento.

2. Inatismo: indivíduo nasce pronto

Para esta corrente, o conhecimento é pré-formado do sujeito, e as estruturas


mentais se atualizam na medida em que o ser humano amadurece, vai
reorganizando sua inteligência pelas percepções que tem da realidade, vai
se tornando apto a realizar aprendizagens cada vez mais complexas.

a) Concepção inatista de educação

A teoria inatista se fundamenta na concepção inspirada na filosofia


racionalista e idealista. Considera que o indivíduo já nasce pronto
e que o meio não tem influência sobre o seu desenvolvimento, na
construção do conhecimento, personalidade e valores. O individuo
é um ser biologicamente determinado e a educação é determinada
pela atuação do sujeito no processo. Ou seja, não possui influência
significativa no aprendizado, uma vez que o aluno é ator do próprio
desenvolvimento.

b) A Didática e a Prática Pedagógica inatista

Na prática pedagógica, o papel do professor é o de facilitar que estas


condições de formações inatas se manifestem. Entende-se, nesta
visão, que o sujeito deve atuar de modo espontâneo, uma vez que
a interferência poderá tolher a criatividade e espontaneidade do
aluno. Essa concepção fundamenta as pedagogias espontaneístas,
onde atribuem o sucesso ou o fracasso na aprendizagem ao aluno, é o
responsável e deve responder por seu desempenho, aptidão, dom ou
maturidade. (REGO, 1996).

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CAPÍTULO 2

3. Apriorismo: Gestalt

Esta teoria se opõe ao empirismo porque considera que o indivíduo, ao


nascer, já traz consigo, determinadas as condições do conhecimento e da
aprendizagem. Estas se manifestarão imediatamente ou progressivamente
pelo processo geral de maturação. Toda atividade de conhecimento é
exclusiva do sujeito, o meio não participa dela.

Dentro do apriorismo surge a Gestalt: que afirma que o conhecimento


se produz porque existe, no ser humano, uma capacidade interna, inata,
que predispõe o sujeito ao conhecimento; há uma supervalorização da
percepção como função básica para o conhecimento da realidade. A teoria
da Gestalt é conhecida, também, como a da aprendizagem por “insight”.

a) Concepção apriorista - Gestalt e educação

Parte do pressuposto de que a consciência pré-existe no sujeito.


Portanto, a capacidade cognitiva (inteligência) é definida
geneticamente. As qualidades e capacidades básicas de cada ser
humano já se encontram prontas por ocasião de seu nascimento. A
ação do meio pode, no máximo, acelerar ou não o aparecimento da
consciência, uma vez que todo o processo de desenvolvimento se
submete a um núcleo fixo inato.

b) A Didática e a Prática Pedagógica apriorista

A pedagogia apriorista é não diretiva e o professor assume o papel


de auxiliar do aluno, um facilitador. O aluno já tem um saber que ele
precisa, apenas, trazer à consciência, organizar ou, ainda, rechear de
conteúdo. O professor deve intervir o mínimo possível.

A ênfase é a educação ou Pedagogia tradicional baseada em testes


de aptidão, prontidão e coeficiente de inteligência. O professor é um
transmissor de conhecimento e a avaliação baseia-se no produto e
não no processo.

4. Behaviorismo (Pavlov): comportamentalista

A teoria comportamentalista foi influenciada por Pavlov (1849-1939),


fisiólogo russo. Desenvolveu experiências com cachorros investigando

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Didática

CAPÍTULO 2
os comportamentos reflexos originados por estímulos. Isto é chamado
de teoria do condicionamento humano. Watson realizou estudos sobre a
influência do meio no comportamento animal e humano, a partir de um
programa de estímulo e resposta. Todo estímulo eficaz provoca sempre
uma resposta imediata, de alguma espécie.

a) Concepção comportamentalista e behaviorista de educação

Parte do pressuposto de que a consciência humana é gerada pelos


estímulos que o ambiente lhe proporciona. O homem é concebido
como um ser extremamente plástico, que desenvolve a sua inteligência
a partir da experiência sensorial. A aprendizagem é entendida como
o processo pelo qual o comportamento é modificado como resultado
da experiência, isto é, mecanicamente determinado por estímulos
externos. Para os behavioristas, a aprendizagem é entendida como
uma modificação do comportamento provocada pelo agente que
ensina, pela utilização adequada dos estímulos reforçadores, sobre o
sujeito que aprende (o que tanto pode ser negativo como positivo).

b) A Didática e a Prática Pedagógica behaviorista

A ênfase é na educação tecnicista em que o método é mais


importante do que o conteúdo. O professor é um transmissor de
conhecimento. O planejamento: objetivos, estratégias e conteúdos
são definidos previamente e se mantêm com o rigor apresentados,
portanto, inflexível; os objetivos são instrucionais e mensuráveis,
assim como a avaliação é baseada na mensuração no produto e não
no processo. Os comportamentalistas consideravam a aprendizagem
e desenvolvimento, como sinônimos, identificando um com o outro.

5. Construtivismo (Jean Piaget): interacionismo

O construtivismo ou interacionismo apresenta-se epistemologicamente


compreendendo a interação do sujeito com o objeto. A epistemologia
construtivista foi desenvolvida por Jean Piaget, que se preocupou em
estudar o sujeito e as questões ligadas à inteligência.

Para ele, o conhecimento se constrói na interação do sujeito/objeto.


As estruturas não estão pré-formadas, são construídas. Há, no ser vivo,
elementos variáveis e invariáveis e ocorre uma construção contínua

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CAPÍTULO 2

de estruturas variadas. Segundo Piaget, a inteligência constitui-se em


um mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova, cujo
funcionamento prolonga o da organização biológica e o supera, em função
da elaboração de novas estruturas; isso implica uma construção contínua.

Para Piaget, o conhecimento tem início quando o recém-nascido, por


intermédio de seus reflexos, que fazem parte de sua bagagem hereditária,
age assimilando alguma coisa do meio físico ou social. Ele se dedicou a
estudar, a partir das estruturas iniciais do recém-nascido, as sucessivas
estruturações, discernindo um conjunto de etapas características,
chamadas estágios ou níveis de conhecimento. Aos estágios correspondem
certas estruturas cognitivas que, em cada um, são constituídas por novos
esquemas de atividades cognitivas.

a) Concepção construtivista de Educação

Na pedagogia construtivista, o professor acredita que seu aluno é


capaz de aprender sempre, e a partir do que o aluno construiu até
então ocorre nova construção de conhecimento. O objetivo, no
construtivismo, é o aprendizado profundo, não um comportamento
imitativo. O aluno constrói a sua inteligência a partir das interações com
o ambiente que provocam equilibrações sucessivas. A aprendizagem
precede o desenvolvimento que segue uma sequência fixa e universal
de estágios. O desenvolvimento é visto como um processo de
adaptação que tem como modelo a noção biológica do organismo
em interação constante com o meio.

b) A Didática e a Prática Pedagógica

Na relação educativa, exige respeito ao processo individual e à construção


do conhecimento observando as etapas do desenvolvimento. O
professor assume o papel de facilitador e mediador, deve respeitar
os “erros” do aluno, proporciona-lhes desafios para que ele próprio
tire suas conclusões, elaborando hipóteses e testando-as. O professor
deve organizar as situações de aprendizagem, considerando o seu
aluno no papel ativo, sujeito do seu processo de conhecimento e da
sua aprendizagem.

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didatica.indb 88 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
6. Sociointeracionismo ou teoria histórico-cultural (Vigotsky): o papel da
mediação

Nesta forma de conceber o sujeito e a aprendizagem, temos como


representante Lev Semenovich Vigotsky. Este estudioso, embora se
interesse também pela interação sujeito-objeto, dá ênfase à interação
social ao longo do desenvolvimento do ser humano.

Sua pergunta central era: qual a influência da aprendizagem no


desenvolvimento mental da criança? Chegou a muitas conclusões
concebendo o indivíduo com um sujeito socialmente situado, para
responder a esta indagação.

Segundo esta teoria, ao nascer, o sujeito é herdeiro de toda evolução


filogenética cultural, e seu desenvolvimento dar-se-á em função
de características do meio social em que vive, daí o quantitativo de
sociocultural ou sócio-histórica atribuída não só à teoria de Vigotsky, mas
também a outros representantes da escola soviética, como Leontiev e
Luria, principalmente.

O papel do meio social não é o de ativador, mas o de formador das funções


psicológicas. Vigostky afirma que o aparecimento das estruturas cognitivas
não é simplesmente a atualização progressiva (ligada a maturações
nervosas), mas de um conjunto de pré-formações, construções autênticas
com aberturas sucessivas sobre possibilidades. Segundo ele, todas as
funções aparecem duas vezes: primeiro no nível social, depois no individual
– entre as pessoas (interpsicológica) – e, depois no interior do sujeito
(intrapsicológica). (VIGOTSKY, 1984, p. 64).

a) Concepção histórico-cultural e a educação

O conhecimento se dá do plano social para individual, por meio da


mediação do sujeito que domina e utiliza o objeto do conhecimento. O
sujeito do conhecimento é um sujeito socialmente influenciado; uma
síntese das relações sociais de sua época. O objeto do conhecimento
não tem existência em si mesmo; é influenciado pelas relações
humanas e pela cultura e todas as circunstâncias do meio. A mediação
se efetiva pela linguagem, e esta tem papel determinante na formação
da consciência humana. A aprendizagem precede o desenvolvimento
- quanto mais aprendizagem mais desenvolvimento.

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CAPÍTULO 2

b) A Didática e a Prática Pedagógica histórico-cultural

A prática educativa deve estar voltada às ações que potencializam o trabalho


em grupo, os projetos interdisciplinares, a ênfase está no processo e não
no produto, o professor tem um papel de mediador; os planos de ensino
são flexíveis e consideram a dinâmica da escola; a avaliação é diagnóstica
e processual.

Na teoria de Vigotsky, a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) foi


um dos conceitos desenvolvido e ela pode ser definida como uma zona
cognitiva onde os alunos são capazes de resolver seus problemas com
auxilio de seus pares. Para Vigotsky, o professor deve atuar na Zona
de Desenvolvimento Proximal, de modo a fazer com que seus alunos
alcancem a Zona de Desenvolvimento Real (ZDR), que é entendida como
aquele estágio em que o aluno pode resolver sozinho seus problemas.
Neste contexto, então, o professor deve criar situações que atuem na ZDR,
mas levando em conta a ZDP, ou seja, eles devem ser mediados de modo a
favorecer a aprendizagem. Para tanto, é muito importante que o professor
desenvolva trabalhos colaborativos fazendo equipes mistas, com alunos
mais experientes isto promoverá a ascensão para a ZDR, o que significa
aprendizado e desenvolvimento.

Diante do exposto cabe dizer que há um consenso, hoje, de que o


conhecimento é resultante da interação do homem com o meio. Sabemos,
também, que a ciência não é fruto espontâneo e acabado, mas produto
de um processo de trabalho individual e coletivo.

É interessante notar que os conhecimentos não são o objeto de ensino, mas


o resultado obtido na interação sociocultural, no confronto com a pessoa-
realidade, pela mesma razão, os objetos da ciência não são os livros, mas os
fenômenos naturais e sociais. Pedagogicamente falando, o conhecimento
é o objetivo e não o objeto.

Diante disso, podemos perguntar:

90 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 90 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
Face ao volume do conhecimento que se multiplica rapidamente, a
diversidade de culturas, situações, expectativas, como pode a escola
ser transmissora ou socializadora do conhecimento historicamente
produzido, sem ser uma instituição ultrapassada parada no tempo, e sim
favorecedora de situações de aprendizagens significativas?

Podemos responder de várias formas, mas também devemos dizer que


novos papéis estão sendo exigidos dos professores, os principais são: o
aprender a aprender, o aprender a pensar e aprender a pensar sobre
o pensar e o fazer... Cabe inferir que as teorias refletem concepções de
mundo e não se trata de certo ou errado, dependem de circunstâncias,
paradigmas, dos valores e crenças... O importante é situá-las no tempo,
pois é bom lembrar que todas as abordagens têm repercussões positivas
ou negativas na prática pedagógica, basta situar nosso aluno como um
sujeito – no mundo.

Analisemos melhor, a seguir, o que isso significa na prática – diante das


relações entre o ensinar e o aprender.

Seção 4 – Por uma opção didática de ensinar e aprender:


a problematização do cotidiano e a
aprendizagem significativa

Objetivo de aprendizagem

»» Compreender o ensino e a aprendizagem como processo


na perspectiva da teoria e da prática na relação didático-
pedagógica.

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didatica.indb 91 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

Ensinar e aprender são dois processos diferentes porque envolvem sujeitos


diferentes, ou seja, um professor e um aluno; e mecanismos e instrumentos
distintos. No primeiro caso, são utilizadas estratégias didático-pedagógicas
para mobilizar situações para que o aluno construa seus conhecimentos, se
aproprie do objeto; no segundo, são utilizados outros mecanismos, aliados
a mediação do meio sociocultural para fazer a apropriação do objeto a ser
conhecido, ou seja, a dinâmica do aprender.

Nesse contexto, é importante dizer que os dois processos (ensinar


e aprender) embora distintos, são completamente dependentes
um do outro, se consideramos os objetivos de cada ação e algumas
tendências e teorias do conhecimento e da aprendizagem,
estudadas no capítulo anterior. Se atividade de aprender está
intimamente ligada ao ensinar, então entendemos que o papel do
professor é crucial – pois é por meio do ensino intencional que se
gera o saber escolar e a aprendizagem (que deve ser significativa
para ter sentido para o aluno) A mediação favorece o processo de
aprender, não determina!

Compreendida como uma tessitura reconstrutiva e problematizadora


da realidade, a aprendizagem significativa exige que se incorpore uma
contextualização social do saber e os princípios da Didática. Esta relação
exige:

a) uma reflexão epistemológica (que pode dar conta da lógica da


construção dos saberes);

b) uma reflexão psicológica (que pode dar conta da lógica da


apropriação dos saberes em geral);

c) uma reflexão pedagógica (que se ancora nas ciências da relação e


princípios educativos).

Estas variáveis a serem consideradas no ensino possibilitam tornar o objeto


cogniscível ao aluno e construir aprendizagens. Assim, o professor precisa
mobilizar situações para que o aluno se aproprie do objeto, produzindo
o conhecimento; esta dinâmica necessita de uma atividade intencional,

92 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 2
considerando os fatores internos e externos, científicos e culturais da
relação educativa, presente na dinâmica do currículo e seus processos.

Na relação entre o ensinar da docência e o aprender do aluno, é importante


que o professor desenvolva capacidades para mobilizar situações
problematizadoras que orientam a ação do aluno nesse processo,
inserindo-o em um contexto de aprendizagem desafiador. Para tanto, é
inerente à ação docente:

»» a motivação da aprendizagem;

»» a explicitação de objetivos;

»» a organização e seleção de conteúdos;

»» a compreensão do nível cognitivo do aluno;

»» a definição metodológica e dos meios e fins;

»» a avaliação do processo.

Aprender, portanto, é colocar-se na relação com o objeto do saber,


“aprender é uma relação entre duas atividades: a atividade humana que
produziu aquilo que se deve aprender e a atividade na qual o sujeito que
aprende se engaja – sendo a mediação entre ambas assegurada pela
atividade daquele que ensina”. (CHARLOT, 2000, p. 28).

Neste contexto, a concepção de aprendizagem deve ser assumida como


desenvolvimento mental e intelectual contínuo, durante um processo de
apropriação ativa e consciente dos conhecimentos sobre os fundamentos
das ciências e sua aplicação prática, que pode ser entendida como
construção dos conceitos em um movimento de atividade. Aprender é
sempre um processo ativo. Para se apropriar de um objeto ou fenômeno,
é preciso efetuar a atividade correspondente que está concretizada no
objeto ou no fenômeno considerado.

93

didatica.indb 93 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

Quando se diz que alguém se apropriou de algo ou de um instrumento,


significa dizer que aprendeu a utilizá-lo corretamente, e que as ações e
operações motrizes e mentais necessárias se formaram. “[...] o processo
de apropriação se realiza durante a atividade que o sujeito desenvolve
em relação aos objetos e fenômenos do mundo do meio ambiente, onde
se concretizam essas aquisições da humanidade”. Tal atividade não pode
se formar em si mesma na criança ou formar-se mediante comunicação
prática ou verbal com as pessoas que a rodeiam, numa atividade comum a
elas. (LEONTIEV apud BAQUERO, 1998, p. 109-110).

Se a aprendizagem escolar obedece aos “métodos de exposição do


conhecimento”, e às teorias do conhecimento, conforme afirma Libâneo
(2004), ela também está intimamente ligada às teorias pedagógicas,
ou seja, à prática docente. Essa relação implica uma série de elementos
(conteúdo, forma, métodos, objetivos, avaliação), cuja questão central é
Didática, como você viu anteriormente.

Apresentamos, a seguir, algumas concepções de ensino, segundo Pérez


Gómez (1998):

a) Ensino como transmissão cultural (tradicional): Este visa a


transmitir conhecimentos disciplinares que constituem cultura;
centra-se mais nos conteúdos (disciplinares) do que nas habilidades/
interesses dos alunos; modelo de ensino: arbitrário, memorialístico
e fragmentário.

b) Ensino como treinamento de habilidades (ambientalistas): Este


visa a treinar habilidades e capacidades formais das mais simples
às mais complexas; centra-se no desenvolvimento de capacidades
vinculadas ao conteúdo e ao contexto em que serão aplicadas,
como membro de uma comunidade; modelo de ensino: eficientista.
Ensino como fomento do desenvolvimento natural (naturalistas):
visa ao desenvolvimento natural, espontâneo do aluno; centra-se
nos meios, recursos que facilitem o desenvolvimento do aluno,
mas, governado por suas próprias regras. Modelo de ensino:
espontaneísta.

c) Ensino como produção de mudanças conceituais


(interacionista): este objetiva a transformação do aluno mais
do que o conhecimento que ele possa acumular; centra-se

94 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 94 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
no pensamento, na capacidade e no interesse do aluno e não
nas disciplinas. Modelo de ensino: investigativo, provocador,
mobilizador.

d) Ensino como desenvolvimento humano e cultural: da teoria


sócio-histórica de L. Vigotsky, cuja abordagem sobre o ensino
centra-se na sua preocupação também com sujeito, que o
considera um sujeito inserido em um mundo sócio-histórico
cultural. Essa herança se move para o plano psicológico com o
auxílio do professor e de pessoas experientes. Modelo de ensino:
mediador, com ênfase às interações sociais.

e) Ensino como movimento emancipador: da educação popular,


que é o ensino por temas geradores, que estabelece uma relação
dialógica entre professor e aluno, relação crítica e autoavaliativa.
Modelo de ensino: emancipador e mediador.

Cabe salientar, então, que não existem modelos ou sistemas ideais de


ensino e aprendizagem, que são tidos como infalíveis e redentores, a
eficiência na elaboração e aplicação nos contextos escolares depende,
fundamentalmente da proposta pedagógica da escola e da coerência do
professor e de sua disponibilidade diante do ato de ensinar.

Diante disso, é papel do professor planejar atividades orientadoras de


ensino com vistas a atender os critérios da ciência, com base em princípios
pedagógicos, o que é essencial ao desenvolvimento do ser humano, por
meio do processo de escolarização.

As atividades orientadoras de ensino estabelecem necessidades


básicas que, segundo Moura (2001, p. 155), compreendem e resultam,
respectivamente em: Chamamos de atividade
orientadora de ensino aquela
que se estrutura de modo
a) ensinar - traçar ações; a permitir que os sujeitos
interajam, mediados por
um conteúdo negociando
b) definir estratégias - o modo ou os procedimentos de como significados, com o objetivo de
colocar os conhecimentos em jogo no espaço educativo, solucionar coletivamente uma
buscando instrumentos auxiliares de ensino; situação problema.

c) recursos metodológicos – adequação para cada objetivo e ação


(livro, giz, computador, ábaco etc.);

95

didatica.indb 95 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

d) os processos de análise e síntese - ao longo da atividade, que


são momentos de avaliação permanente para quem ensina e
aprende.

Analise, a seguir, uma situação problematizadora, que nos ajuda a refletir


sobre premissas do ensinar e aprender:

Situação problematizadora

Um professor após um documentário sobre “os problemas do


Planeta” faz uma discussão com seus alunos e anota algumas
causas que estão contribuindo para “o mal estar da Terra”,
em seguida organiza móveis da sala de modo a favorecer a
interação dos alunos, a troca entre eles e o diálogo. Para realizar
a atividade, solicitou que trouxessem para a escola textos
ou livros que abordassem o futuro do Planeta Terra, algum
tema que estivesse em pauta hoje nos jornais, na televisão,
documentários etc., (o tema central seria o “aquecimento
global”) e assim deveriam montar uma justificativa em conjunto
com seus pares, argumentando a necessidade de se fazer algo
para melhorar a vida na Terra. Os alunos foram orientados a fazer
a atividade em duplas, receberam o tempo previsto e o objetivo
da ação. Começaram
a realizar a tarefa.
Foi um “alvoroço” só
e o entusiasmo era
visível... trouxeram
revistas, jornais de
circulação diária,
revistas mais antigas
e até gravação de
programa de jornal
televisivo... Era nítida
a motivação e a
vontade de conhecer
o que os colegas
trouxeram. Figura 2.7 - Situação Problema

96 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 96 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
Reflita sobre esta questão!
Como você classifica esta atividade orientadora de ensino? Que tipo de ensino você acha que a
professora realizou? Será que o objetivo da professora foi atingido? Por quê?

Neste contexto e situação, é preciso considerar que a partir do momento em


que se dá um significado para o ensinar, o aprender faz mais sentido para
o aluno. Desta forma ele conseguirá mais facilmente compreender também
os objetivos daquela atividade e relacioná-la com a vida, com o cotidiano
e, com base na motivação ele terá condições de fazer as REFLEXÕES, as
ANÁLISES, as SÍNTESES e compreender os conceitos e aplicar nas situações
reais de vida, fazendo as transposições necessárias.

Esta situação é diferente de quando se solicita ao aluno que faça uma


atividade apenas explicando como fazer, sem dizer para que serve, ou seja,
não se explicita os objetivos. Se o aluno não entender o motivo de estarem
fazendo o trabalho conjunto, por exemplo, o trabalho fica comprometido,
o que gera uma grande confusão na cabeça dos alunos e problemas para
o professor, porque a experiência vai ser um fracasso. Desse modo, o
significado das ações que participam da atividade é apropriado por eles
formando o sentido que corresponde à atividade desenvolvida.

97

didatica.indb 97 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

Portanto, é importante que você compreenda que o significado das ações


dos alunos que participam da referida atividade será apropriado por eles,
fornecendo ou não ações no sentido correspondente ao seu significado e
ao objetivo desejado pelo professor. E isto não ocorria ou não ocorre na
educação tradicional, na qual é geralmente o professor o que sabe mais.

Paulo Freire (2002) ressalta que a educação tradicional transforma alunos


em reprodutores e copiadores; sujeitos acríticos, tendo o discurso do
educador como verdade absoluta, não permitindo participação no
processo educacional. Esta Prática

[...] conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo


narrado [...] os transformam em ‘vasilhas’, em recipientes a serem
‘enchidos’ pelo educador. Quanto mais vá “enchendo” os recipientes
com seus ‘depósitos’, tanto melhor educador será. Quanto mais se
deixarem docilmente ‘encher’, tanto melhores educandos serão.
(FREIRE, 2002, p. 58).

Desta forma, a educação se reduz apenas um ato de depositar, em que


os alunos são os depositários e o professor o depositante. Do contrário,
se realizamos uma prática problematizadora, como concebe Freire,
com situações que sejam capazes de reconhecer e situar o aluno como
sujeito, temos a oportunidade de torná-lo mais crítico, mais atuante, pois
os conteúdos e os saberes farão sentido para ele. Ao se sentir incluído,
irá participar, atuar para transformar a sua realidade pelo processo de
aprendizagem.

Exemplo
Nesta perspectiva, a relação educativa passa a ser horizontal,
pois a troca de experiências não é vertical, sendo que o diálogo
passa a ser central na relação de ensino e aprendizagem

98 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 98 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
Não seria possível à educação problematizadora, que rompe com os
esquemas verticais característicos da educação bancária, realizar-se como
prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os
educandos.

Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que,


enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao
ser educado, também educa”. Ambos, assim, se tornam sujeitos
do processo em que crescem juntos e em que os ‘argumentos de
autoridade’ já não valem. (FREIRE, 2002, p. 68).

É importante dizer que todo problema exige uma contextualização.


Na escola, principalmente. Os fenômenos não podem ser analisados
superficialmente ou isoladamente, mas em uma perspectiva interdisciplinar
ou globalizada, ou seja, contextual relacionando-os às variáveis que estão
implicadas nessa relação.

A problematização não aceita a memorização, a dita “decoreba”, ou a


repetição mecânica dos conhecimentos, pois esta não permite que os
alunos percebam a realidade de forma mais completa e real e avancem
no seu desenvolvimento, potencializando novos conhecimentos.

É a problematização que torna a aprendizagem motivadora e autêntica


e propicia o domínio do conhecimento e a apropriação com significado
por meio da atividade do aluno, mas com a mediação do professor, que
favorece o desenvolvimento da Zona de Desenvolvimento Proximal.
Segundo Leontiev (1988, p. 68), atividade se refere “àqueles processos
que, realizando as relações do homem com o mundo, satisfazem uma
Por atividade, designamos os
necessidade especial correspondente a ele.” processos psicologicamente
caracterizados por aquilo que
Vygostsky (1978) definiu como Zona de Desenvolvimento Proximal o processo, como um todo, se
dirige (i.e., objeto), coincidindo
a distância entre o nível evolutivo real determinado pela resolução sempre com o objetivo que
independente do problema e o nível de desenvolvimento potencial pela estimula o sujeito a executar
resolução de problema sob a orientação de adultos ou com a colaboração essa atividade, isto é, o motivo”.
(LEONTIEV, 1992, p. 68).
de colegas mais capazes.

99

didatica.indb 99 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que


ainda não amadureceram, mas estão em processo de maturação,
funções que amadurecerão amanhã, mas que estão correntemente
em um estado embrionário. Tais funções podem ser chamadas de
‘botões’ ou ‘flores’ do desenvolvimento, em vez de serem chamadas
de ‘frutos’ do desenvolvimento. (VIGOSTSKY apud MOLL, 1996, p.
153).

Com relação à atividade, podemos dizer que as operações mentais feitas


pelo aluno consistem no modo de execução de uma ação. É o conteúdo
necessário de qualquer ação, determinada pela natureza da tarefa. “Uma
mesma ação pode ser efetuada por diferentes operações, mas uma mesma
operação também pode realizar diferentes ações, porque uma operação
depende das condições em que o alvo da ação é dado, enquanto uma ação
é determinada pelo alvo”. (LEONTIEV, 1992, p. 74).

Vigotsky enfatiza, portanto, que a Zona de Desenvolvimento Proximal se


estende pela resolução de problemas com auxílio de adultos (no caso,
o professor) ou de seus pares mais experientes, de modo que há uma
aprendizagem assistida, pela atividade, e caracteriza a “aprendizagem
cooperativa”, que acaba transformando-se em novo conhecimento. O
caráter transformador e as diferentes interpretações presentes na atividade
estão inseridos na capacidade de “resolver os problemas” para poder agir
sobre a situação criada pela problematização e construir o pensamento.
Neste contexto, é muito importante que o professor perceba que toda
a ação demanda uma pedagogia contextualizada, sendo, portanto,
fundamental que ele reconheça que: dialeticamente falando, toda a
realidade é problemática, não porque contém defeito, mas porque é
dinâmica, precisamente dialética.

O desenvolvimento do pensamento se dá, portanto, por meio da atividade


de aprendizagem (formação de conceitos teóricos, generalização, análise,
síntese, raciocínio teórico, pensamento lógico). Se dá pelo questionamento
Saber questionar significa e pela indagação, que favorece o processo de construção de uma atividade
saber ver a realidade como
sempre questionável, problematizadora.
inclusive, significa ver o
próprio questionamento.
Os problemas, em certo
A atividade humana é global, mas se desdobra em distintos tipos concretos
sentido não são “proble- de atividade, cuja diferenciação é dada pela especificidade de seu conteúdo.
mas”, mas, expressão Segundo a teoria histórico-cultural, que começou a ingressar no Brasil
mais viva da sua dinâmica.
(DEMO, 2000, p. 48). ainda na segunda metade da década de 70, de forma bastante tímida,
tendo como representantes Leontiev, Lúria, Vigotsky, Moll etc., cada tipo

100 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 100 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
de atividade possui um conteúdo perfeitamente definido de necessidades,
motivos, tarefas e ações.

Por exemplo, o conteúdo objetal da atividade do jogo é


substancialmente diferente da atividade de estudo ou da
atividade profissional. “O que distingue uma atividade de outra
é o objeto da atividade [...] que confere à mesma determinada
direção”. (LEONTIEV apud LIBÂNEO, 2004. p. 120).

Aprender, neste sentido, implica uma relação com o saber, atingindo o


melhor nível possível de desenvolvimento das capacidades de pensar,
raciocinar, resolver problemas, que supõe determinados requisitos.
(LIBÂNEO, 2006, p. 97). Aprender é adquirir um saber que não precisa ser
necessariamente um saber escolar, andar de bicicleta, por exemplo, é
uma aprendizagem e, significa ter domínio de algo que nos é importante,
ninguém aprende o que não é relevante para sua vida, e aí está o grande
desafio do professor.

Nesse contexto, é importante dizer que os dois processos (ensinar e


aprender) embora distintos, são completamente dependentes um do
outro se consideramos os objetivos de cada ação. Aprender é sempre um
processo ativo. Para se apropriar de um objeto ou fenômeno, é preciso
efetuar a atividade correspondente que está concretizada no objeto ou no
fenômeno considerado.

Observe que a aprendizagem é, por excelência, construção. Ação


e tomada de consciência da coordenação das ações, , por isto é
importante o professor conhecer como ocorre a aprendizagem para
poder ter uma clareza para a organização da sua aula ou ação e que,
acima de tudo, conheça a realidade de seus alunos.

101

didatica.indb 101 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

É partir de questões ou situações reais e concretas, contextualizadas,


que interessem de fato aos alunos. Compreender a situação-problema
é o objetivo do projeto. As ações e os conhecimentos necessários para a
compreensão são discutidos e planejados entre o professor e os alunos.
Todos têm tarefas e responsabilidades. É como se fosse uma viagem:
estamos em São Paulo (o que sabemos) e queremos chegar a Salvador
(o caminho simboliza o que vamos aprender). Temos que decidir o que
fazer, o que levar, dividir tarefas. Durante a viagem, teremos também de
tomar novas decisões. A aprendizagem se dá durante todo o processo e
não envolve apenas conteúdos. Aprendemos a conviver, a negociar, a nos
posicionar, a buscar e selecionar informações e a registrar tudo isso.

É com base nessa perspectiva que os pressupostos pretendem se delinear


com relação à Didática. É na perspectiva da mediação que o professor
se torna uma peça chave para a organização de situações de ensino
que objetivam promover uma educação que atenda às perspectivas da
sociedade no que se refere à educação. Na medida em que se avança
no campo do conhecimento, por meio da utilização dos diversos
meios e instrumentos, o nível conceitual e a capacidade de raciocínio e
argumentação do aluno será maior. A escola e o professor possuem um
papel fundamental. É o que veremos no capítulo seguinte.

Síntese do capítulo

Neste capítulo, você estudou sobre:

»» As relações entre o ensinar e o aprender, partindo de uma


investigação sobre o conhecimento como parte integrante da
relação educativa.

»» O objeto e o núcleo da Didática que é a relação ensino-


aprendizagem, e viu que, nesta relação, estão implicados objetivos,
conteúdos, métodos e as diferentes formas de organização do
ensino, bem como a cultura organizacional e as tendências do
currículo.

102 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 102 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
»» A teoria do conhecimento, analisando que passou por um logo
processo de desenvolvimento e foi muito útil à Humanidade,
também compreendeu que este não se limita às descrições, às
hipóteses, aos conceitos, às teorias, aos princípios e procedimentos
que são úteis ou verdadeiros, por isto existem muitas formas de
explicá-lo.

»» As relações entre as teorias do conhecimento e a educação,


analisando as interlocuções e influências nas práticas pedagógicas
e da Didática.

»» O conhecimento na relação com a aprendizagem é um movimento


dialético, porque exige a reflexão crítica de cada um sobre o ato
mesmo de conhecer e aprender.

»» As teorias de aprendizagem em que a mediação é fundamental


para as relações entre o ensinar e o aprender e o funcionamento
das ações mentais – nunca acontecem de forma isolada, e sim no
contexto histórico e cultural.

Você pode utilizar as linhas abaixo para produzir a síntese do seu processo
de estudo:

103

didatica.indb 103 13/12/2018 16:27:21


CAPÍTULO 2

Atividades de aprendizagem

Analise o texto do professor Antônio Nóvoa, e responda às problematizações


que seguem:

São três os aspectos que me parecem centrais na refundação da


escola: uma nova organização do trabalho escolar, uma nova relação
com o espaço cultural e uma nova concepção do conhecimento.

Quero referir-me, em primeiro lugar, à necessidade de adotarmos


formas inovadoras de trabalho, quebrando a rigidez tradicional
do “modelo escolar” e desenvolvendo práticas de diferenciação
pedagógica, de redefinição dos espaços e tempos letivos, de gestão
integrada, de reconceitualização do currículo.

Em segundo lugar, quero salientar a importância de repensar o lugar


da escola, já não como um “templo do saber”, recolhido e isolado
da sociedade, mas como uma “peça” (uma peça importante, mas
apenas uma peça!) de um espaço cultural habitado por saberes e
instituições que devem tomar parte ativa no esforço de educar e de
formar.

Por último, quero chamar a atenção para a urgência de romper com


concepções excessivamente “clássicas” do conhecimento, abrindo
o currículo à contemporaneidade (cultural, artística, científica,
tecnológica) e favorecendo a reflexão crítica sobre o próprio saber.
Nada disso é novo. Há muito que sabemos o que é preciso fazer.

Agora, é preciso ter a coragem de fazer. Não é uma questão de boas


intenções. É uma questão de vontade e de competência.

(Fonte: Revista Pátio, Ano VII - Nº 27 - Dilemas Práticos dos Professores


- Agosto à Outubro 2003).

104 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 104 13/12/2018 16:27:21


Didática

CAPÍTULO 2
1. Diante do que foi dito e com base no conteúdo do Caderno Pedagógico,
que práticas poderiam “romper com concepções excessivamente
‘clássicas’ do conhecimento, abrindo à instituição à contemporaneidade
(cultural, artística, científica, tecnológica) e favorecendo a reflexão
crítica sobre o processo educativo? [...]” de que espécie de coragem
o pesquisador fala? A quem compete essa coragem? Que “boas
intenções” seriam essas? E como se poderiam construir as competências
necessárias?

2. De que forma os métodos (caminhos para se atingir os objetivos), os


procedimentos (etapas, passos, técnicas, uso de materiais/meios) e os
conteúdos devem ser articulados para que as atividades de ensinar
e aprender sejam significativas para o aluno e problematizadoras do
cotidiano?

105

didatica.indb 105 13/12/2018 16:27:22


CAPÍTULO 2

Aprenda mais...
Para aprofundar seus conhecimentos indicamos as seguintes leituras:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática


educativa. Petrópolis: Vozes, 1997.

LIBÂNEO, José Carlos. Produção de saberes na escola: suspeitas e apostas.


In: CANDAU, Vera (Org.). Didática, currículo e saberes escolares. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.

PERRENOUD, Philippe. Práticas pedagógicas e profissão docente: três


facetas. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação. Perspectivas
sociológicas. Tradução de Helena Faria, Helena Tapada, Maria João Carvalho e
Maria Nóvoa. Lisboa: Dom Quixote, 1993.

106 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 106 13/12/2018 16:27:22


CAPÍTULO 3
A Instituição Escolar e sua Função:
o Papel do Professor e os Elementos da
Didática na Relação Educativa
Carmen Maria Cipriani Pandini

Este capítulo aborda uma contextualização da ação


educativa, tendo como foco a Didática e o papel do
professor. Considera a instituição escolar como um
espaço de múltiplas apropriações, em cujo contexto de
educação deve-se considerar as diversas variáveis, tais
como: a cultura, os aspectos sociais e as experiências de
cada sujeito envolvido. Discute-se o papel do professor
diante da tarefa de educar considerando as influências
das diferentes teorias de aprendizagem e as abordagens
que tendem a ser efetuadas com base nas escolhas
feitos pelo professor e delimitações do currículo.

didatica.indb 107 13/12/2018 16:27:22


didatica.indb 108 13/12/2018 16:27:22
CAPÍTULO 3
A Instituição Escolar e sua Função:
o Papel do Professor e os Elementos da
Didática na Relação Educativa

Objetivo geral de aprendizagem


Compreender o papel do professor no contexto da
ação pedagógica e reconhecer os elementos e os
pressupostos da Didática na relação educativa; neste
contexto, analisar a função da instituição escolar e o
papel do professor no fazer pedagógico.

Seções de estudo
Seção 1 – O fazer docente e as múltiplas faces da
relação didática

Seção 2 – A função da escola e o papel do professor:


o saber e o saber ensinar (pressupostos da
Didática)

didatica.indb 109 13/12/2018 16:27:22


Iniciando o estudo do capítulo

À escola, historicamente, foi atribuída a responsabilidade de “transmitir”


conhecimentos. Essa atribuição é tributária da instituição científica, que
tem como finalidade produzir novos conhecimentos e inovações. Cabe a
essa mesma instituição: gerar novas possibilidades de compreensão dos
fenômenos educativos, a partir de conhecimentos científicos existentes,
gerados pelas ciências; transformar conhecimentos em competências
e habilidades para que o sujeito possa aplicá-las no seu dia a dia, ou
seja, é a instituição escolar que deve promover as articulações entre os
conhecimentos científicos, a cultura e as experiências gerando os saberes
escolares e a construção de competências no sujeito.

Neste sentido, a escola, com os seus métodos e técnicas, estabelece uma


relação direta entre conhecimento escolar e conhecimento científico e a
tarefa dos docentes consiste em organizar esses conteúdos e métodos de
modo que eles permitam fazer com que os alunos aprendam e construam
valores necessários à convivência no mundo e à construção e ampliação
da cidadania.

A escola, ao organizar-se em torno de um conjunto de conteúdos e


metodologias, agrega para si a responsabilidade não só de produzir um
novo conhecimento, a responsabilidade não do que foi construído pelas
ciências até agora, mas também construir valores cívicos, culturais e éticos.
E este é o papel das diferente disciplinas, áreas ou campos do saber que
constituem os currículos escolares, independentemente de como são
organizados: por disciplinas, módulos, eixos etc..

Neste sentido, a metodologia de ensino deve focar nos elementos, na


direção do ensinar a pensar, por meio de instrumentos e processos de
reflexão que orientem a construção de formas e habilidades de pensamento,
de conceitos, com base no estudo e interação com os conteúdos, que
possibilitem a resolução de problemas. Você viu no capítulo anterior,
que a atividade de aprender consiste em encontrar soluções gerais para
problemas específicos, e em apreender os conceitos mais gerais que dão
suporte a um conteúdo, para aplicá-los a situações concretas.

Assim, é possível perceber que o saber escolar nasce na escola e sua


elaboração ocorre na relação pedagógica, em que estão incluídos
elementos tais como: conteúdos, técnicas, métodos, experiências, sujeitos,

didatica.indb 110 13/12/2018 16:27:22


Didática

CAPÍTULO 3
teorias, tempo, espaço, cujo processo de apropriação se dá por parte
do aluno com a mediação do professor. As elaborações são subjetivas e
dependem da cultura e das experiências e não unicamente das respostas
do professor e dos conteúdos. Há de se colocar em cena, nesta relação
educativa, a simbiose do entrelaçamento entre conteúdo e forma, teoria e
Os conteúdos não
prática sob um ponto de vista dialógico. Este diálogo instiga o pensar do são o resultado puro
aluno e sua capacidade de reflexão. das ciências, são uma
combinação de vários
elementos: cultura,
Em uma escola cujo ensino é focado na solução de problemas, o aluno, experiências, ideologias
necessariamente, se defronta com situações reais e está sendo orientado etc. e interagem com
à busca de alternativas e soluções, consequentemente, ele aprende e com as diversas formas de
dispersão social, sendo
o significado. Nesse modelo de escola, os movimentos que o professor que o ensino vai significá-
instaura nas relações com os alunos devem ser de parceria; o professor los, devendo considerar
deve mobilizar-se no sentido de construir estratégias para a construção de também o paradigma
vigente e o lugar do aluno
uma escola que atenda as perspectivas do aluno como ser no mundo. – como sujeito no mundo.

Vamos ao estudo das seções?

Seção 1 – O fazer docente e as múltiplas faces da relação


didática
Objetivos de aprendizagem
»» Analisar o papel e a importância do professor, no contexto
da ação pedagógica

»» Reconhecer o papel da Didática na articulação entre as terias


da aprendizagens e teorias pedagógicas

»» Perceber a importância do Planejamento, no contexto da


didática.

A “arte de ensinar”: como tudo começou?

Como você pode ver anteriormente neste Caderno Pedagógico, Comênio,


em sua obra “Didática Magna” (1657), elaborou uma proposta de reforma

111

didatica.indb 111 13/12/2018 16:27:22


CAPÍTULO 3

da escola e do ensino e lançou as bases para uma pedagogia que prioriza


a “arte de ensinar”. Essa forma de ensinar foi denominada por Comênio
de “Didática” em oposição ao pensamento pedagógico predominante até
então, ou seja, a escola secundária. Essa mudança de enfoque alterou
a prática diária da escola do ponto de vista da relação professor-aluno,
A função específica da
escola secundária era
dos meios e procedimentos utilizados, do conteúdo ensinado e gerou a
desenvolver no homem, produção de teorias pedagógicas direcionadas para a “arte de ensinar”.
por meio do intelecto,
suas potencialidades,
e passa a se preocupar É nesse contexto que se pode compreender o papel de Comênio, quando
com um processo de propõe elaborar uma “Didática Magna”, isto é, “um método universal de
ensinar que enfatiza ensinar tudo a todos”. A preocupação de Comênio com a “arte de ensinar”
o desenvolvimento da
individualidade humana. introduziu, no cenário pedagógico, a ênfase nos meios e no processo,
necessários ao desenvolvimento daquele momento – colocando em
segundo lugar, o que até então era o centro: a formação de um homem
ideal.

A partir desse momento, a produção e a aquisição de conhecimentos sobre


a Didática, que se traduz em “a arte de ensinar”, passou a ser necessária para
a formação do professor. A Didática, como síntese do seu objeto, ou seja,
a organização da prática pedagógica, voltou cada vez mais seu foco de
estudos, não sobre os aspectos técnicos, mas sim sobre os meios de ensino.
Isso significa dizer que, na sala de aula, surgem “fenômenos” singulares
e assim devem ser tratados, cada qual considerando a natureza de seu
contexto. Por isso, projetos desenvolvidos em determinadas instituições e
espaços não se aplicam a outros, pois as realidades são diferentes, embora
parecidas – turmas diferentes, culturas diversas, expectativas distintas etc.

Os projetos educativos, portanto devem nascer das necessidades


do contexto em que o professor atua, na diversidade sociocultural
existente e cada prática deve considerar o local, sem perder de vista
a dimensão global. Não basta ao professor ter a competência para
ensinar, descuidando-se de enxergar mais longe para tomar
consciência das intenções que movem o sistema escolar na formação
dos sujeitos-professores, e de sujeitos-alunos.

112 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 3
Trata-se de definir, com base na teoria pedagógica, a orientação da
formação humana, as diretrizes de organização das situações educativas
e os meios de ensino a serem adotados naquela situação ou contexto.
Depois disso, estruturar as formas pelas quais se inter-relacionam as
políticas educacionais, a organização e a gestão das escolas e as práticas
didático-pedagógicas na sala de aula.

Esta seria a tarefa primordial de pedagogos e profissionais da educação.


(LIBÂNEO, 2006, p. 78). Toda essa discussão deve ser concretizada no e
pelo planejamento. O professor deve prestar atenção às informações
disponíveis e tratá-las em função da multiplicidade que se constrói a partir
dos saberes e conhecimentos que se originam nos contextos sociais – e isto
nasce do local e do global (glocal) do individual e do coletivo, e assim por
diante, tendo presente que o planejamento deve ser flexível e dinâmico.

Para contextualizar, analise as situações didáticas abaixo:

111

didatica.indb 113 13/12/2018 16:27:22


CAPÍTULO 3

Reflita sobre estas questões!


Analise e registre suas impressões sobre o que foi visto até aqui:
a) pressupostos da didática do professor; b) dos meios adotados;
c) o que o professor privilegiou; d) qual a teoria implícita adotada;
e) do ponto de vista da motivação, o que ela determina em nível
de aprendizado?; f) onde você acha que há equívoco e o que isto
implica na vida dos alunos?

Sobre as situações apontadas acima, é importante que você perceba que


diante das novas demandas, da sociedade que se atualiza é cada vez mais
transitória, os sistemas de ensino e seus professores precisam desenvolver
processos para análise e feedback no sentido de construir projetos que
interessem aos alunos e atendam aos seus objetivos, com abertura para as
múltiplas formas de se trabalhar esse conhecimento.

Os sistemas devem romper com os modelos tradicionais e herméticos


que não se aplicam a distintos contextos, devem levar em consideração
a influência da afetividade na aprendizagem e que a motivação (ou a
falta dela), muitas vezes, está diretamente relacionada aos fracassos
escolares, à aversão à escola.

112 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 114 13/12/2018 16:27:22


Didática

CAPÍTULO 3
Um professor, portanto, deve conhecer seus alunos, respeitar a forma de
ser e sentir do seu aluno, se souber valorizar o que ele sabe e entender
que, muitas vezes, o fazer “bagunça” ou “dormir na sala” se dá porque não
se sente motivado e as aulas não são interessantes, ou porque existem
causas externas que precisam ser observadas, como a fome, a violência
doméstica, a falta de afeto etc..

Retomando o quadro anterior podemos fazer a seguinte análise:

»» Do ponto de vista didático, o professor da situação 1 errou ao


conduzir a aula daquela forma, independente das razões. O castigo
não vai fazer com que os alunos sejam diferentes, não é tirando
algo de que gostam que serão mais atenciosos, “obedientes” ou
mais “estudiosos”; na aula seguinte, talvez farão igual ou pior,
tampouco considerar a aula dada ou mandar aluno para fora da
sala vai resolver qualquer relação problemática e delicada ou
fazê-lo ser diferente ou aprender mais na próxima atividade. Não
é nessa relação de perspectiva que o professor deve trabalhar ou
conduzir sua docência. É preciso estabelecer algumas regras, por
isto se fala em “contratos” entre alunos, professores e colegas de
turma, conforme podemos ver na fala da professora da situação 3.

»» Não se pode separar os alunos em “fracos” e “fortes”, ainda que essa


seja uma classificação dada por muitos professores, principalmente
se entendemos que cada sujeito é único e tem seu próprio ritmo
de aprendizagem, tampouco falar com o aluno daquela forma,
vai desestimulá-lo ainda mais e tirar-lhe o gosto pela escola e pela
matéria, como propôs o professor da situação 4.

»» Está no caminho certo a condução dada pelo professor na


situação 3, quando o professor reúne os alunos e compartilha ideias
e atividades, depois discute as dificuldades em aprendizagem e
auxilia na condução do processo de docência, ajudando o aluno a
se tornar mais integrado e responsável. Quanto às teorias retome
o que foi estudado e dê a sua interpretação; vemos situações
de educação de tendência inatista (situação 2) e de tendência
sociointeracionista (situação 3). Exceto pela distinção entre o mais
e menos inteligente, esta situação está na tendência construtivista.
Não se pode constranger o aluno, pois isto também é motivo de
desmotivação.

111

didatica.indb 115 13/12/2018 16:27:22


CAPÍTULO 3

A exemplo das situações descritas, e sobre a diversidade na sala


de aula, Marli André alerta que “O professor deve, como animador,
ajudar o grupo a construir sua identidade coletiva, aprender a
trabalhar cooperativamente, a tomar consciência de suas diferenças e
desigualdades e a agir de acordo com elas”. (ANDRÉ, 2002, p. 20).

Sobre os pressupostos de uma


pedagogia diferenciada, André
afirma que o aluno deve ser o
centro do processo educativo e o
professor deve ser um orientador,
uma fonte de recursos e de apoio.
Assume, também, os princípios
de que a aprendizagem ocorre
por meio de um processo ativo
de envolvimento do aprendiz na
construção de conhecimentos,
que decorrem de suas interações
com o ambiente e com o outro.
Enfatiza o ensino voltado para as
competências e o trabalho com
projetos, pesquisas e situações- Figura 3.1 - Processo ativo de envolvimento do aprendiz
na construção de conhecimentos
problema. (ANDRÉ, 2002, p. 19).

É preciso questionar a cultura em que se vive, a cultura do currículo, a


cultura que está em contínuo desenvolvimento. É preciso problematizar
as particularidades que ambos os elementos deste processo supõem: as
dimensões didáticas, pedagógicas, antropológicas, psicológicas, históricas
que são determinantes nas relações que se estabelecem no ensino-
aprendizagem.

Vamos adiante? Gostou de realizar este exercício? O mundo caminha e a


educação pouco avança em algumas instituições, mas do século XVI em
que viveu Comênio, passando pelo Século XVII de Rousseau e Herbet,
tributários da Filosofia Moderna, passando pelo Século XIX de Piaget,

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didatica.indb 116 13/12/2018 16:27:22


Didática

CAPÍTULO 3
Vygotsky, Dewey; pelo Século XX de Skiner, de Anísio Teixeira, Carl Rogers,
Gardner, Libâneo, Perrenoud e Paulo Freire muito já se estudou, se refletiu,
e se vivenciou na educação brasileira... Muito se aprendeu sobre o Homem,
sobre a sociedade e sobre as relações entre o ensinar e o aprender... Alguns
expoentes e filósofos continuam vivos e atuais nas práticas pedagógicas,
nas infinitas instituições escolares espalhadas pelo mundo e por nosso País.

Hoje, apesar de tantos avanços, estudos e pesquisas, encontramos


professores que repousam sobre suas certezas, sobre a tese de uma
reprodução funcionalista, assim como são muitos os alunos que ainda
saem das escolas envoltos em teorias que as consideram e as divulgam
como “certas”. E não pode ser assim, você concorda, não é? Porque
“aprendizagem é parceira da incerteza, da dúvida e do questionamento.
A escola geralmente desconhece esse desafio, porque a pedagogia dos
professores está inserida na modernidade cartesiana das certezas”. (DEMO,
2000, p. 55).

Como professor em formação, você pode praticar a docência com base


democrática e emancipadora a cada dia, pois é função professor a
promoção do desenvolvimento da capacidade de pensar, mediante a inter-
relação entre o objetivo e o subjetivo, com base na experiência social em
toda a sua complexidade ideológica e cultural, que precisa ser considerada
na relação teoria e prática.

Mas, o que é necessário saber para construir “boas” práticas pedagógicas?

Segundo Libâneo (1998), o professor precisaria, no mínimo, de uma cultura


geral mais ampliada, capacidade de aprender a aprender, competência
para saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da
linguagem informacional, saber usar os meios de comunicação e articular
as aulas com as mídias e multimídias. Libâneo destaca alguns pontos, nos
quais devem estar baseadas as atitudes docentes:

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CAPÍTULO 3

Boas práticas pedagógicas:


»» assumir o ensino como mediação: aprendizagem ativa do aluno com a mediação
pedagógica do professor;
»» modificar a ideia de uma escola e de uma prática pluridisciplinares para uma escola e
uma prática interdisciplinares;
»» conhecer estratégias do ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender;
»» persistir no empenho de auxiliar os alunos a buscarem uma perspectiva crítica dos
conteúdos, a se habituarem a aprender as realidades enfocadas nos conteúdos escolares
de forma crítico-reflexiva;
»» assumir o trabalho de sala de aula como um processo comunicacional e desenvolver a
capacidade comunicativa;
»» reconhecer o impacto das novas tecnologias da comunicação e informação na sala de
aula (televisão, vídeo, jogos, computador, internet, CD-ROM etc.);
»» atender à diversidade cultural e respeitar as diferenças no contexto da escola e da sala de
aula; investir na atualização científica, técnica e cultural, como ingredientes do processo
de formação continuada;
»» integrar, no exercício da docência, a
dimensão afetiva; e,
»» desenvolver comportamento ético e saber
orientar os alunos em valores e atitudes
em relação à vida, ao ambiente, às relações
humanas, a si próprios.

Figura 3.2 – Boas práticas pedagógicas

Do ponto de vista didático, é essencial ressaltar que a formação é algo que


pertence ao próprio sujeito e se inscreve em um processo de ser (nossas
vidas e experiências, nosso passado etc.) e em um processo de ir sendo
(nossos projetos, nossa ideia de futuro), então o papel do professor deve
ser o de mediador.

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didatica.indb 118 13/12/2018 16:27:22


Didática

CAPÍTULO 3
Seção 2 – A função da escola e o papel do professor: o
saber e o saber ensinar (pressupostos da
Didática)
Objetivos de aprendizagem
»» Analisar a função da escola no desenvolvimento integral e
inclusão do aluno na sociedade.

»» Perceber que o ensinar não é uma mera atividade pedagógica,


é composta por muitos elementos e é defendida na relação
com o contexto e experiências.

O país é a própria diversidade curricular. Toda essa complexidade e


diversidade cultural, social e econômica, precisa ser contemplada no
processo escolar. Neste sentido, considerada essa tendência, os professores
devem ser orientados a construírem seus projetos nas suas próprias
escolas, com base em modelos lá constituídos, com maior adequação às
necessidades e às características dos alunos e da comunidade envolvida.
Para Castells,

[...] a tarefa das escolas e dos processos educativos é desenvolver


no sujeito que aprende a capacidade de aprender, em razão das
exigências postas pelo volume crescente de dados acessíveis na
sociedade e das redes informacionais, da necessidade de tratar com
um mundo diferente e, também, de educar a juventude em valores e
ajudá-la a construir personalidades flexíveis e eticamente ancoradas.
(apud HARGREAVES, 2001, p. 16).

Segundo Libâneo (1998), “A Escola que sonhamos, é aquela que assegura a


todos a formação cultural e científica para a vida social e pessoal, profissional
e cidadã, possibilitando uma relação autônoma, crítica e construtiva com a
cultura em suas várias manifestações (...)”. (LIBÂNEO, 1998, p. 3). É verdade,
a escola que sonhamos é aquela que nos permite o desenvolvimento da
cidadania e patrocina a inclusão do aluno possibilitando-o a interagir com
seus pares, na construção de um alicerce sólido de valores dando-lhes
condições de criar seu próprio modus operandi, por meio do conjunto de
conhecimentos e suas experiências vivenciadas na escola.

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didatica.indb 119 13/12/2018 16:27:22


CAPÍTULO 3

Assim, “a escola, ao provocar a reconstrução das preocupações simples,


facilita o processo de aprendizagem permanente, ajuda o indivíduo
a compreender que todo conhecimento ou conduta encontram-se
condicionados pelo contexto e, portanto, precisam ser comparados
com outras representações, assim como com a evolução de si mesmo e
do próprio contexto”. (SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998, p. 13-15).

Concordando com Paulo Freire (1981) quando explica que a formação


nunca se dá por mera acumulação. “É uma conquista feita com muitos
auxílios: dos mestres, dos livros, das aulas, dos computadores (...). Assim,
percebemos o papel da escola, ainda que a formação dependa sempre
de um trabalho pessoal, com base na premissa de que ninguém forma
ninguém, cada um forma-se a si próprio” (FREIRE, 1981, p. 79), ela tem um
papel fundamental na formação do sujeito, considerando as três áreas de
abrangência da educação na escola:

Quadro 3.1 – Áreas de abrangência da educação na escola

Para Bernstein (1987, apud SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998, p. 16), “A escola


deve transformar-se numa comunidade de vida e, a educação deve ser
concebida como uma contínua reconstrução da experiência”. E muito mais
do que transmitir informação, a função da escola contemporânea deve se
orientar para provocar a organização racional da informação fragmentária
recebida e a reconstrução das pré-concepções acríticas, formadas pela
pressão reprodutora do contexto social, por meio de mecanismos e meios
de comunicação cada dia mais poderosos e de influência mais sutil.

Assim sendo, a instituição escolar assume um importante lugar na


transformação do sujeito, pois se parte do princípio de que a realidade é

112 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 120 13/12/2018 16:27:22


Didática

CAPÍTULO 3
composta por um resultado das interações e de múltiplas forças, ações e
influências. Assim, torna-se mais fácil refletir sobre que relações podem ser
feitas com o que acontece na escola cotidianamente e com o que se vê
na sociedade. É a escola que sistematiza, por meio de um planejamento
intencional, os saberes dispersos e/ou produzidos na sociedade e pela
ciências, respectivamente.

Entretanto, para compreender como toda esta engrenagem funciona, é


preciso ter uma visão geral de como funciona essa sociedade, os paradigmas,
suas estruturas e suas complexas conexões socioeconômicas e científicas.
Como vimos no capítulo anterior, é importante obter conhecimentos
também das diversas teorias pedagógicas e curriculares para compreender
melhor certas ações no âmbito da escola e de suas práticas:

O papel da teoria pedagógica ou de uma teoria curricular é explicitar


o que se espera da escola, ou seja, que saberes, que experiências,
que práticas esperam que os alunos interiorizem para fazer uso
deles diante de demandas e de exigências da vida e da sociedade.
(LIBÂNEO, 2006, p. 106).

Quando se fala, portanto, em análise e do papel da Didática, do professor e


do ensinar não significa dizer que existem modos eficientes e infalíveis para
a realização de práticas que consigam fazer com que os alunos aprendam
os conhecimentos ou os conteúdos selecionados para um determinado
currículo escolar, entretanto, deve-se considerar seriamente as intrincadas
conexões entre o que se ensina nas escolas, nas respectivas salas de aula,
e as relações que se estabelecem dentro e fora dela para atuar sobre os
elementos essenciais do ensino e da aprendizagem na prática escolar:
sujeitos, processos e resultados.

Diante disso, perceba que o saber e o saber ensinar, mesmo sendo


dimensões distintas, se complementam na medida em que fornecem
elementos para pensar o fazer pedagógico na perspectiva da formação
inicial e contínua e estabelece parâmetros para a composição da “trama
educativa” – materializada na ação e competências docentes.

As competências didático-pedagógicas devem favorecer o


desenvolvimento do aluno quanto a capacidade de resolver problemas,
atuando sobre as situações que lhe se apresentam no seu dia a dia. Assim,
é preciso ter em conta a função social da instituição e as finalidades do
ensino no contexto em que ele acontece.

111

didatica.indb 121 13/12/2018 16:27:22


CAPÍTULO 3

Note que o ensino não acontece no vazio, pressupõe experiências


e habilidades para a resolução de problemas inerentes a vida e ao
mundo, no qual o nosso aluno é parte integrante. O aluno não está
ali por acaso ou pura e simplesmente para passar pela escola, para
cumprir uma convenção, ele está em formação e a escola deve cumprir
sua finalidade - favorecer a construção de competências e valores para
o convívio em sociedade e desenvolvimento de seu papel.

O docente, neste sentido, deve estar preparado (formado) para atender


a estas necessidades e finalidades educativas e, na sua área de atuação,
precisa saber responder aos objetivos da sua função, área ou disciplina em
que atua. Nesta perspectiva, Guiomar Namo de Mello (2001) diz que para
tal, se requer um docente que:

»» Mobilize conhecimentos e valores em face da diversidade cultural


e étnica brasileira, das necessidades especiais de aprendizagem,
das diferenças entre homens e mulheres, de modo a ser capaz não
só de acolher as diferenças como de utilizá-las para enriquecer as
situações de ensino e aprendizagem em sala de aula.

»» Não se limite a aplicar conhecimentos, mas possuir características


do investigador em ação.

»» Seja capaz de problematizar uma situação de prática profissional,


de mobilizar em seu próprio repertório ou no meio ambiente os
conhecimentos para analisar a situação.

»» Possua competências de explicar como e por que toma e


implementa suas decisões, tanto em situações de rotina como
diante de imprevistos, revelando capacidade de metacognição
de seus próprios processos e de transferência da experiência para
outras situações.

»» Capaz de fazer previsões, extrapolações e generalizações a partir


de sua experiência, registrá-las e compartilhá-las com seus colegas.

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didatica.indb 122 13/12/2018 16:27:22


Didática

CAPÍTULO 3
Com base nestas premissas, é possível pensar na realidade que envolve o
trabalho docente e indagar:

Para que serve um professor? Que papel ele deve desempenhar de


modo a atender às expectativas de formação dos seus alunos? Que
estratégias ele deve mobilizar para “satisfazer” aquele aluno que já
não lhe basta o livro texto e aulas expositivas? O que fazer diante das
investidas globalizantes e da tecnologia, da multiculturalidade, da
digitalização da saciedade?

Não é difícil presumir que o professor precisa ter competência científica


e técnica. Ele deve conhecer muito bem a disciplina em que vai atuar, ou
tópico que irá abordar; saber da relevância que ele possui no contexto
da aula, do curso, do currículo e da sua aplicabilidade prática. Assim, para
que o professor possa elaborar seus “contratos didáticos” de modo a que
sejam entendidos pelos alunos e sirvam como orientação, conhecimento e
aprendizagem. O professor não pode oferecer um saber fragmentado ou
desvinculado da sua finalidade, deve saber e dizer para que serve!

Como você já viu, para além da competência teórica, técnica e científica,


é preciso que o professor possua uma competência didático-pedagógica,
que não se resume ao conhecimento e aplicação de um amontoado de
métodos, mas a um conjunto de elementos que envolvem a prática
educativa, que estão relacionados ao currículo, aos sujeitos e sua cultura,
aos valores e representações sociais e aos aspectos de comunicação,
informação e socialização de saberes. O que significa dizer que o professor
precisa dominar o conteúdo, da sua finalidade, da aplicabilidade, mas
saber também, qual o melhor modo
de o aluno aprendê-lo e apreendê-
lo! Assim, se pensarmos que ao
considerar elementos de caráter
transdisciplinar, podemos supor que
é possível construir uma competência
didático-pedagógica crítica e reflexiva
e de natureza democrática estamos Figura 3.3 - Competência didático-pedagógica
diante de uma proposição afirmativa. de natureza democrática

111

didatica.indb 123 13/12/2018 16:27:22


CAPÍTULO 3

Desse modo, concordaríamos que não basta ensinar a matemática, por


exemplo, é preciso saber expressar como se dá a relação entre o conteúdo
trabalhado em sala de aula com as diversas situações vivenciadas no
cotidiano pelo aluno, ou seja, é preciso ter competência para fazer a
transposição didática deste saber aprendido na disciplina para que as
problematizações e aplicabilidades práticas surjam. Assim, nos deparamos,
com a importância de possuir o domínio dos saberes da disciplina, para
saber ensinar, ensinando e contextualizando... e assim, o ciclo não se fecha
porque os saberes se renovam...

A prática pedagógica, portanto, deve ter como referência aspectos de


vida, de expectativas e de condições em que vivem os seus alunos. As
formas como são elaboradas as estratégias dependem das concepções
que o docente tem acerca de si, do sujeito, do objeto, da educação e
sua função.

Nesse sentido, a forma como o educador se coloca diante da relação com


o saber e o modo como ele vê seu aluno e pretende atingir o resultado
final, vai determinar o modelo de ensino, e por consequência, o modelo
de aprendizagem que ele se propõe a realizar. Dito isso, podemos dizer
que existem várias maneiras de desenvolver este ou aquele conteúdo,
certamente cada professor irá apresentar propostas diferentes.

Cabe dizer, entretanto, que essa ação docente depende de muitos


fatores que, podem ser de ordem interna ou externa à escola,
(institucional ou social), estão relacionados à sua formação e
competência, (formação) como também estão relacionados aos
alunos e a motivação deles (motivação). Por último, depende,
também, do tipo de educação e de ensino – formal e não formal, entre
outros aspectos que podem ser levantados.

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didatica.indb 124 13/12/2018 16:27:22


Didática

CAPÍTULO 3
É interessante que você reconheça que uma visão de ensino corresponde
a uma visão de aprendizagem. As teorias e concepções refletem uma visão
de mundo, e não se trata de dizer “isto está certo e aquilo está errado”, é
importante que se diga que a instituição e seus professores, ao fazerem
suas escolhas, determinam a forma como realizam suas atividades e, por
consequência, geram modelos de ensino e seus métodos. Muitas são as
maneiras de usar os recursos, desenvolver os conteúdos e fazer educação.
Os métodos de ensino
constituem apenas uma
Cada professor tem a sua maneira de executar sua função com base nas três categoria da Didática, que exige
dimensões que o constitui: os saberes da formação, os saberes da profissão e condição próprias em relação
aos métodos epistemológicos
as experiências ou os saberes do cotidiano, mas ele não pode mais ser aquele e científicos, correspondentes
que chega na sala de aula, colocar sua pasta sobre a mesa, abre o livro e ao processo de conhecimento
expõe o conteúdo, para que seja reproduzido pelo aluno em uma dada e relativos às ciências e suas
pesquisas, respectivamente.
prova. Tampouco pode ser aquele professor que chega na sala de aula
abre o notebook e despeja slides na parede fria e branca, sob a pretensa
autorização dada pelas inovações tecnológicas. Nada muda, neste caso,
apenas o suporte e a forma. Os conteúdos do ensino, em qualquer nível,
precisam ser entendidos, nessa perspectiva, com significado dinâmico,
em uma dimensão de construção social, levando-se em conta a sua
concepção histórico-cultural.
Aos poucos, você irá percebendo
que, ao construir referências e
Os elementos do processo educativo e da didática devem estar sempre em fundamentos sobre o seu fazer
convergência. Observe o esquema abaixo: pedagógico, é possível visualizar
a importância dos saberes e
das competências que cada
um tem no desenvolvimento
dos projetos educativos e nas
respostas que necessitamos ter
da prática na escola.

Esquema 3.1 - Processo de convergência

111

didatica.indb 125 13/12/2018 16:27:22


CAPÍTULO 3

O professor deve assumir uma postura de mediador, ser um agente


facilitador e um profissional que desempenha sua função, tendo com
base em um planejamento voltado às necessidades de formação e sociais,
respectivamente, e saiba ter discernimento que os métodos empregados
dependem da forma como você conduz a sua aula. Às vezes, um quadro
e um giz ou pincel abrem mais possibilidades do que o colorido das
“transparências” na parede nua da sala.

Portanto, a atividade prática do professor pode ser percebida como


fonte de conhecimento da experiência e da reflexão, integrando as
competências, apreciando a própria habilidade no agir, dialogando com
a própria ação e aceitando os desafios e dificuldades que esta provoca.

Cabe alertar! Não é possível desvincular a prática das teorias e tendências


pedagógicas do ensinar e do aprender, também do ensino superior.
Estas estão irreversivelmente impregnadas da totalidade de um currículo
formativo (visível) e no currículo oculto (invisível). Assim, as reflexões sobre
a organização do currículo, de certo modo, correspondem, também, às
dimensões nucleares de uma identidade profissional e que fazem parte de
um “conjunto de intenções expressas em um projeto político cultural e de
um conjunto de vivências que constituem as práticas que desenvolvemos”
(MOREIRA, 2005), as quais podemos também chamar de currículo, e que
resultam em um projeto profissional e um “modelo” de ação pedagógica.

Neste contexto, você pode perceber que existem múltiplas


possibilidades de organização das práticas, e podem (todas) romper
com a lógica tradicional, possibilitando aos gestores e professores
desenvolverem marcos interpretativos condizentes com as diversas
realidades institucionais e com parâmetros mais democráticos. Neste
sentido, a Didática, que é teoria e prática do processo de ensino,
mantendo a unidade entre objetivos, conteúdos, métodos e formas
organizativas do ensino, oferece os princípios para as conexões entre
o ensino e a aprendizagem para desenvolver condições específicas às
situações que se criam nos diferentes modelos pedagógicos.

112 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 126 13/12/2018 16:27:22


Didática

CAPÍTULO 3
Para exercitar um pouco a inclusão integral e democrática do aluno no
processo educativo, que tal realizar uma experiência, perguntando algumas
coisas aos alunos? Quantas vezes nos preocupamos em perguntar para os
alunos “coisas da escola”? Será que não seria uma saída para diagnosticar o
que está acontecendo, compreendê-lo um pouco mais e melhor e mudar
práticas? Vamos tentar?

Inclusão integral e democrática do aluno no processo educativo

Na escola eu gosto muito de ____________________________________


e não gosto de ___________________________________________.

Se eu pudesse, na escola eu mudaria _______________________________.

Eu tenho facilidade para aprender quando ____________________________.

Eu tenho dificuldade para aprender quando ___________________________.

Eu aprenderia melhor se ______________________________________.

Eu gostaria que a escola me ensinasse a _____________________________.

Eu gostaria que minha professora fosse ______________________________.

Na escola, eu tenho direito de ___________________________________


e o dever de _____________________________________________.

Além das aulas normais, eu participo de _____________________________


ou gostaria de participar de ____________________________________.

Depois da aula normal, eu tenho que _______________________________.

Minhas amizades na escola me ajudam a _____________________________.

Se eu não estivesse estudando, eu penso que estaria ________________________.

Para mim, bom aluno é aquele que ________________________________.

Quando eu erro me sinto __________________________________porque


____________________________________________________.

A nota é importante para mim para ________________________________.

Na minha casa moram _________ pessoas. Moro nesse bairro há _____________.

Continua...

111

didatica.indb 127 13/12/2018 16:27:23


CAPÍTULO 3

Em casa, costumo ajudar ______________, mas não gosto muito de _________.

Além do trabalho em casa, eu também ______________________________.

Sempre que posso eu assisto na TV ________________________________.

Na TV, eu gosto mais de __________________, mas não gosto de __________.

Quandopossobrincar,meubrinquedofavoritoé__________________________e
também gosto de brincar de ___________________________________.

Quando tenho um tempo livre, eu ainda participo de ______________________


____________________________________________________.

Sobre a violência, eu penso que__________________________________.

Para me defender, eu procuro ___________________________________.

Na minha idade, eu penso muito em _______________________________.

Quando eu penso no meu futuro _________________________________.

Se a minha escola fosse___________________ eu seria mais ____________.

Os professores em seus espaços educativos precisam exercitar mais o


diálogo e o “ouvir os mais alunos”. É importante que tomemos como
prática dar voz aos alunos. Isto não é perda de tempo nem significa perda
de poder!

Se você é professor, faça este teste para ver o que as crianças dizem!
Se não for, preste atenção nos itens e, se quiser, faça a entrevista, você
pode usá-los no seu trabalho de curso ou prática de estágio. Assim, terá
a oportunidade de identificar o que pensam os alunos sobre algumas
questões essenciais da escola e das relações.

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didatica.indb 128 13/12/2018 16:27:23


Didática

CAPÍTULO 3
Coletar esses dados também permite uma caracterização da realidade
e aquilo que eles esperam da educação escolar. Possibilita conhecer o
universo de representações à luz de fundamentos teórico-metodológicos
do planejamento do ensino e pode orientá-lo a partir de seus objetivos e
desenvolvimento, assim como a avaliação das aulas e atividades.

Para Paulo Freire, somente o diálogo, que implica um pensar crítico, é capaz,
também, de gerá-lo. Sem ele, não há comunicação e sem comunicação
não há verdadeira educação. A que, operando a superação da contradição
educador-educandos, se instaura como situação gnosiológica, em que os
sujeitos incidem seu ato cognoscente sobre o objeto cognoscível que os
mediatiza. (FREIRE, 2002, p. 83).

É preciso que os professores sejam críticos e que junto com os alunos,


criem ambientes propícios à aprendizagem, construam espaços
estimulantes, não somente físicos ou materiais, mas também afetivos. A
forma como se compreende como o aluno aprende depende muito da
forma como concebemos as teorias, do que valorizamos e do modo como
estabelecemos as conexões com o mundo e com o outro.

Segundo Libâneo (1998, p. 84),

Os educadores críticos estão desafiados a repensar objetivos e


processos pedagógico-didáticos em sua conexão com as relações
entre educação e economia, educação e sociedade técnico-
científica-informacional, para além dos discursos contra o domínio
do mercado e a exclusão social.

Neste contexto, o trabalho do professor se central na função de mediador,


solidifica laços em relação à construção de uma aprendizagem significativa,
integrada e inclusiva.

Podemos dizer ainda que os alunos não são “moldados”, não podem ser
controlados nem vigiados com o intuito de produzirem mais; haverá uma
participação ativa por parte deles e sucesso na aprendizagem se esta for
constituída sob alicerces de base solidária, democrática e cidadã; quando
o professor for um agente que os faça refletir e os torne parte integrante do
processo, como sujeitos partícipes de sua própria trajetória. É importante
o clima de colaboração entre colegas, atitudes de solidariedade e
responsabilidade, este é um aspecto construtivo para a aprendizagem. É
preciso ter claro que existem saberes diferentes, que devem ser respeitados,
e é preciso saber trabalhar com essas diferenças.

111

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CAPÍTULO 3

É importante você compreender que o professor não pode ser aquele


que exige que seus alunos escrevam ou memorizem frases sem sentido.
Ele deve ser um mediador, um agente facilitador e um profissional
capaz de desempenhar sua função tendo como base um planejamento
voltado às necessidades educativas e sociais.

Esse planejamento deve levar em conta, basicamente, três funções:


1) abordar os problemas que a atividade coloca; 2) escolher na sua
ação procedimentos que são mais adequados às personalidades e aos
saberes do aluno; e, 3) tentar estabelecer com ele uma relação propícia à
aprendizagem. Sabe-se, ainda, que uma das atividades do educador é a de
proporcionar condições para a aprendizagem do aluno; assim, o ensino foi
compreendido, segundo Perez (1998), como uma atividade prática em que
se pressupõe dirigir as trocas educativas para orientar em um determinado
sentido as influências que se exercem sobre as novas gerações.

A atividade prática do professor foi percebida como fonte de conhecimento


da experiência e da reflexão, integrando as competências, apreciando a
própria habilidade no agir, dialogando com a própria ação e aceitando os
desafios e dificuldades que esta provoca. Para Perez Gomes (1998), esta ação
deve assentar-se sobre o bom julgamento ilustrado pelo saber e apoiar-se
em um senso crítico que seja capaz de apreciar o que convém fazer, o que
é possível e como fazê-lo dentro de determinadas circunstâncias.

Saiba Mais...
A resolução do CNE de 8 de maio de 2001 traça as diretrizes curriculares nacionais para a formação
de professores da Educação Básica, em nível superior. Algumas características que devem nortear
as atividades docentes são:
»» orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos;
»» comprometer-se com o sucesso da aprendizagem dos alunos;
»» assumir e saber lidar com a diversidade existente entre os alunos;
»» incentivar atividades de enriquecimento cultural;
»» desenvolver práticas investigativas;
»» elaborar e executar projetos para desenvolver conteúdos curriculares;
»» utilizar novas tecnologias, estratégias e materiais de apoio;
»» desenvolver hábitos de colaboração e trabalho em equipe.

112 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 3
Perceba que essas diretrizes nos orientam na direção de um modelo do
professor profissional reflexivo, ou seja, existe uma PRÁTICA, que deve se
articular à TEORIA, mas é fundamental voltar à PRÁTICA para repensá-la
e avaliá-la constantemente. Esta deve
ser a dinâmica. O professor deve ser um
profissional capaz de desenvolver essa
capacidade de reflexão, pois a prática
pedagógica não é neutra, ela transforma
ou mantém a realidade como está.
Deve estar em permanente estado de
aperfeiçoamento e atualização.

Entender o processo de ensino como um processo de construção – por


meio da ação que remeta à reflexão, dedicada a transcender o senso
comum para que se possa perceber a educação na sua totalidade, a partir
das situações problematizadas e contextualizadas que o ato traz em si e
saber, acima de tudo, analisar as suas próprias práticas, de modo a resolver
problemas, de inventar estratégias - deve ser uma meta a ser perseguida.

A formação do professor deve apoiar-se em teorias, sejam elas curriculares


ou da própria área, mas deve também estar diretamente relacionada à
abordagem das situações de ensino que geram a aprendizagem por meio
de AÇÃO – CONHECIMENTO – PROBLEMA, articulando sempre teoria e
prática para conseguir construir a capacidade de análise e tirar conclusões
de modo a saber agir sobre.

Esquema 3.2 – Aprendizagem por meio de ação – conhecimento – problema

111

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CAPÍTULO 3

Desse modo, o professor vai construindo habilidades e superando os


obstáculos encontrados no cotidiano da ação pedagógica e tudo isto se
transforma em rotina, que vai construindo e instituindo um jeito próprio de
ensinar e resolver os problemas que vão surgindo no cotidiano do espaço
escolar, seja ele formal ou não formal.

Para finalizar este capítulo, reafirmamos que a atividade do professor é


complexa, e a diversidade das situações de trabalho impõe que se busquem
formas e estratégias para resolver as situações de ensino-aprendizagem.
Então, refletir sobre o exercício docente é uma das questões importantes
para agir sobre as atividades do professor. Perrenoud propõe reflexões
sobre a aprendizagem por meio da experiência, a utilização da intuição
e da reflexão na ação e sobre a ação. É o que ele vai desenvolver como
prática reflexiva.

E os elementos motivadores da reflexão, segundo Perrenoud (2001, p. 40),


são os seguintes:

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Didática

CAPÍTULO 3
A reflexão/ação se dá pela práxis, portanto, é uma forma de agir, e um lócus
de identidade, sob os quais há um sentido e um modo de ser docente, logo,
é um tornar-se a cada momento. Como diz Paulo Freire, só podemos ser
sendo, é no movimento dialético que estruturamos nosso plano de ação
no mundo, e, neste caso, no fazer educativo e escolar.

Como você teve oportunidade de ver, o docente não age sozinho, ele
interage com os alunos e com outras pessoas em um meio constituído por
relações sociais, hierarquias e normas, sendo assim, a atividade docente
exige uma capacidade de se comportar como sujeito, ator que interage
com outras pessoas e com as várias dimensões do currículo.

No início da carreira, o professor tem uma experiência de base: teoria e


simulações (estágio) ou experiências docentes sem um conhecimento
oficial, legitimado pela formação; a aprendizagem tem valor de confirmação,
provar a si próprio e aos outros que ele é capaz de ensinar, a experiência
tende a se transformar em rotina, como já foi citado. Aos poucos, o professor
vai percebendo novas formas e possibilidades de ação e incorporando-as a
sua prática do dia a dia.

Do ponto de vista da didática, ser professor significa tomar decisões


pessoais e individuais constantes, porém, sempre orientadas por normas
institucionais e coletivas, as quais são elaboradas por um currículo oficial e
real (que envolve outros profissionais e a própria instituição como instância
de poder). Assim, podemos deduzir que o professor não pode definir a
ação educativa (enquanto construção autônoma), porque não está só
no processo, ele faz parte de uma coletividade e a partir dela aprender
a olhar o todo de modo curioso e inquieto, pois “o homem, como um
ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz
constantemente o seu saber.” (FREIRE, 1981, p. 47). Portanto, seja crítico e
em permanente estado de aprendiz, e auxilie os seus alunos a construírem
saberes autênticos.

A seguir leia a síntese, realize as atividades e aprenda mais com as indicações!

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CAPÍTULO 3

Síntese do capítulo

»» Cabe a escola o gerar novas possibilidades de compreensão dos


fenômenos educativos, a partir de conhecimentos científicos
da cultura e as experiências gerando os saberes escolares e a
construção de competências no sujeito.

»» A metodologia de ensino deve focar os elementos na direção


do ensinar a pensar, por meio de instrumentos e processos de
reflexão que orientem a construção de formas e habilidades de
pensamento, de conceitos com base no estudo e da interação
com os conteúdos, que possibilitem a resolução de problemas.

»» Os conteúdos não são o resultado puro das ciências, são uma


combinação de vários elementos: cultura, experiências, ideologias
etc.

»» Na sala de aula, surgem “fenômenos” singulares e assim devem ser


tratados, cada qual considerando a natureza de seu contexto.

»» Os sistemas devem romper com os modelos tradicionais e


herméticos que não se aplicam a distintos contextos.

»» É preciso uma problematização da cultura em que se vive, do


currículo que está em desenvolvimento e das particularidades
que ambos os elementos do processo supõem – das dimensões
didáticas, pedagógicas, antropológicas, psicológicas, históricas aos
determinantes que as relações que se estabelecem nas práticas.

»» Como professor em formação, você pode praticar a docência


com base democrática e emancipadora a cada dia, pois é função
professor a promoção do desenvolvimento da capacidade de
pensar, mediante a inter-relação entre o objetivo e o subjetivo, com
base na experiência social em toda a sua complexidade ideológica
e cultural, que precisa considerada na relação teoria e prática.

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Didática

CAPÍTULO 3
»» O professor precisaria, no mínimo, de uma cultura geral mais
ampliada, capacidade de aprender a aprender, competência para
saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da
linguagem informacional, saber usar os meios de comunicação e
articular as aulas com as mídias e multimídias.

»» A instituição escolar assume um importante lugar na transformação


do sujeito, pois se parte do princípio de que a realidade é composta
por um resultado das interações e de múltiplas forças, ações e
influências.

»» O saber e o saber ensinar, mesmo sendo dimensões distintas, se


complementam na medida em que fornecem elementos para
pensar o fazer pedagógico na perspectiva da formação inicial e
contínua.

»» As competências didático-pedagógicas devem favorecer o


desenvolvimento no aluno da capacidade de resolver problemas,
atuando sobre as situações que se apresentam no dia a dia.

»» O docente, neste sentido, deve estar preparado (formado) para


atender a essas necessidades e finalidades educativas e, na sua área
de atuação, precisa saber responder aos objetivos da sua função,
área ou disciplina em que atua.

»» O professor precisa ter competência científica e técnica. Ele deve


conhecer muito bem a disciplina em que vai atuar, ou tópico que
irá abordar; saber da relevância que ele possui no contexto da aula,
do curso, do currículo e da sua aplicabilidade prática.

»» Para além da competência teórica, técnica e científica, é preciso


que o professor possua uma competência didático-pedagógica.

»» Cada professor tem a sua maneira de executar sua função, de


acordo com a circunstância que se coloca no cotidiano e pela
lógica que este imprime, mas deve considerar a sociedade vigente
e as necessidades de seus alunos.

»» É preciso que os professores criem, junto com os alunos, ambientes


propícios à aprendizagem, construam ambientes estimulantes, não
somente físicos ou materiais, mas espirituais, ligados à afetividade.

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CAPÍTULO 3

Você pode utilizar as linhas abaixo para produzir a síntese do seu processo
de estudo.

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Didática

CAPÍTULO 3
Atividades de aprendizagem

1. Observe as imagens a seguir e responda à questão:

Figura 3.4 e 3.5 - Diferentes espaços escolares

Analise os espaços escolares e construa argumentos para descrever


uma relação didática estabelecida pelo professor com a sua turma
de alunos que ocupa este ambiente. Como você descreveria este
professor e como ele encaminha sua prática pedagógica. Defina que
tipo de educação ele está inserido. O que pode sugerir dessas relações?
Registre suas impressões.

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CAPÍTULO 3

2. Analise a seguinte tarefa solicitada por um determinado professor aos


seus alunos. Analise a imagem e registre seu comentário.

Figura 3.6 - Atividade realizada no caderno de um aluno

Que espécie de atividade mental você acha que esse aluno constrói
com tal modelo de tarefa? Com essa prática, o educador proporciona
ao aluno a oportunidade de elaborar suas sínteses e aprofundar
o conceito que tem de si, do outro, do mundo, mediatizado pela
realidade? Onde está o diálogo crítico entre professor e aluno? Há uma
problematização da realidade? Existirá o diálogo e a consideração da
experiência do aluno?

O que você acha? Insira suas impressões e use argumentos para aprovar
ou reprovar esta postura didática.

112 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 138 13/12/2018 16:27:23


Didática

CAPÍTULO 3
Aprenda mais...

Leia um pouco mais sobre os saberes e formação do professor:

O professor e seus saberes


O professor é um sujeito que possui uma formação específica, cuja
função é mobilizar teorias e métodos para efetivar a relação ensino-
aprendizagem, concorda, não é? Então, ele o faz em uma instituição,
que pode ser formal ou informal. O saber docente se compõe por
vários saberes provenientes de diferentes fontes: saberes curriculares,
das disciplinas, profissionais e da experiência.
Para Larossa (2002), a “experiência é o que nos passa, o que nos
acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece,
ou o que toca. A experiência deve ser separada da informação. [...]
O sujeito da experiência seria algo como um território de passagem,
algo como a superfície sensível que aquilo que acontece afeta de
algum modo, produz alguns afetos inscreve algumas marcas, deixa
alguns vestígios. [...] o sujeito da experiência se define não por
atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua
disponibilidade, por sua abertura. [...] o saber da experiência se dá
na relação entre o conhecimento e a vida humana. (LAROSSA, 2002,
p. 24).
Os saberes da experiência são constituídos com os fundamentos
da prática e da competência profissional, podemos dizer que os
professores ocupam posição estratégica no interior das relações
complexas que unem as sociedades contemporâneas aos saberes que
elas produzem e mobilizam com diversos fins.
Os processos de aquisição e aprendizagem dos saberes ficam
subordinados, material e ideologicamente, às atividades de produção
de novos conhecimentos. Porém, todo saber implica um processo
de aprendizagem e de formação e exige um desenvolvimento
e sistematização, por isso os professores têm função social tão
importante quanto a comunidade científica, pois produzem saberes
importantes à compreensão da “estrutura didático-pedagógica”.

111

didatica.indb 139 13/12/2018 16:27:23


CAPÍTULO 3

Continua...

É interessante notar, porém, que a relação dos saberes docentes


não se reduz a uma função de transmissão dos conhecimentos já
constituídos, prontos e acabados. Sua prática integra diferentes
saberes que formam várias categorias. Veja quais são, segundo Tardif
e Lessard (1991).
Saberes profissionais – conjunto de saberes transmitidos pelas
instituições de formação de professores, a articulação dessas
ciências com a prática se estabelece através da formação inicial
ou contínua, mas os teóricos dificilmente atuam diretamente no
meio escolar; esses saberes profissionais podem se manifestar nos
saberes pedagógicos ou doutrinas (Escola Nova) que fornecem
um arcabouço ideológico à profissão.
Saberes das disciplinas – oferecidos e selecionados pela
instituição universitária, nas diversas disciplinas oferecidas
pela mesma; transmitem-se nos programas e departamentos,
emergem da tradição cultural e dos grupos sociais produtores de
saberes.
Saberes curriculares – correspondem aos discursos, objetivos,
conteúdos e métodos, a partir dos quais a instituição escolar
categoriza e apresenta os saberes sociais selecionados por ela
da cultura erudita, sob a forma de programas escolares que os
professores devem aprender e aplicar.
Saberes da experiência – saberes específicos do trabalho
cotidiano e no conhecimento de seu meio. Eles incorporam-
se à vivência individual e coletiva sob a forma de habitus e de
habilidades, de saber fazer e de saber ser.

112 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 140 13/12/2018 16:27:23


Didática

CAPÍTULO 3
Continua...

Perceba que como professores a tendência é priorizar os saberes


da experiência, e é a partir deles que concebemos os modelos de
excelência profissional no interior de sua profissão. Eles formam
um conjunto de representações a partir dos quais interpretam,
compreendem e orientam sua profissão e sua prática cotidiana em
todas as suas dimensões. Eles constituem por assim dizer, uma cultura
algo nos acontece, nos alcança; que se apodera de nós, que nos
tomba e nos transforma. O trabalho do professor exige um continuo
processo de formação, sendo indispensável o desenvolvimento
de atitudes, tais como a curiosidade, a investigação, o diálogo,
para poder construir alternativas metodológicas que atendam às
demandam do processo de escolarização.
Não há nenhum modelo certo a ser seguido nem perfil ou estereótipo
profissional ideal.
O que é interessante notar, segundo Veiga (2002),
[..]é que o projeto pedagógico da formação, alicerçado na concepção do
professor como agente social, deixa claro que é o exercício da profissão
do magistério que constitui verdadeiramente a referência central tanto
da formação inicial e continuada como da pesquisa em educação.
Por isso, não há formação e prática pedagógica definitivas: há um
processo de criação constante e infindável, necessariamente refletido e
questionado, reconfigurado. (VEIGA, 2002. p. 85-86).
Por isso é relevante salientar que o papel do processo é decisivo na
construção de um projeto pedagógico, e a formação continuada é
fundamental. São de suma importância as discussões sistemáticas
nas escolas sobre planejamento, avaliação ou quaisquer assuntos
relacionados às relações intraescolares. A reflexão sobre a prática
é fundamental, porém, desde que seja uma reflexão orientada em
critérios para além do cotidiano.
Fonte: PANDINI, Carmen. Didática I, 2008.

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CAPÍTULO 4
A Didática e a Formação do Educador, sua
Identidade e Profissionalização
Vanessa de Almeida Maciel

Nesse capítulo, você terá a oportunidade de estudar sobre


a contribuição da Didática na formação do educador, tendo
em vista as constantes transformações da sociedade atual.
Pretendemos ressaltar sobre a construção da identidade do
professor tendo a Didática como mediadora deste processo,
na perspectiva da profissionalização docente.

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CAPÍTULO 4
A Didática e a Formação do
Educador, sua Identidade e Profissionalização

Objetivo geral de aprendizagem


Compreender a importância da Didática na formação de
educadores e o seu papel mediador na construção da identidade
do professor.

Seções de estudo
Seção 1 – A Didática na formação de educadores
Seção 2 – O papel mediador da Didática na construção da
identidade do professor

didatica.indb 145 13/12/2018 16:27:23


Iniciando o estudo do capítulo

Neste capítulo, você estudará a importância da Didática da formação do


educador, a partir do significado social e político que demanda pensarmos
nossa atuação como professores.

Nossa perspectiva, é a do trabalho docente como práxis, em que a unidade


teoria e prática se caracterizam pela ação-reflexão-ação. E é desta forma
que concebemos o trabalho docente, para que o professor não se torne
escravo meramente de um instrumental didático, mas sim, para que possa
questioná-lo e avaliá-lo, a partir da realidade em que atua.

Nesse sentido, é importante que você tenha uma visão ampla do contexto
em que se desenvolve a atuação docente. É importante, também, que o
processo de pensar e refletir faça parte deste contexto, na possibilidade de
se compreender a prática pedagógica presente nas instituições escolares.

didatica.indb 146 13/12/2018 16:27:23


Didática

CAPÍTULO 4
Seção 1 – A Didática na formação de educadores

Objetivo de aprendizagem

»» Compreender a importância da Didática na formação


profissional de professores a partir de pressupostos didático-
pedagógicos que envolvem a atuação docente.

No mundo atual, da alta competição tecnológica, da economia


institucionalizada, mas não da riqueza distribuída, fala-se em “sociedade do
conhecimento”, do conhecimento como diferenciador social. Vivemos em
um mundo marcado por profundas transformações econômicas, culturais e
sociais acarretando inúmeras contradições para o ensino. A redefinição das
barreiras espaciais da globalização tem configurado pressões políticas que
se manifestam no ensino, através das políticas públicas e no direcionamento
dos recursos destinados à educação.

Globalização, multiculturalismo, questões de gênero e de raça, novas


formas de comunicação, manifestações culturais de adolescentes
e jovens, expressões de diferentes classes sociais, movimentos
culturais e religiosos, diversas formas de violência e exclusão social
configuram novos e diferenciados cenários sociais, políticos e
culturais. A teoria educacional e a Didática não podem ignorar esta
realidade. O impacto desses processos no cotidiano escolar é cada
vez maior. (CANDAU, 2000, p. 89).

A escola tem respondido lentamente às mudanças que envolvem a


diversidade cultural, as novas tecnologias e as novas formas de pensar
e aprender. Todas essas questões precisam ser enfrentadas também
no âmbito da formação de professores, pois exigem outros campos de
saberes diante de problemas cada vez mais complexos. Ou seja, esses
fatores trazem novos e grandes desafios e exigências para o processo de
formação dos profissionais em educação.

Essas exigências vão desde a necessidade de construir a identidade


profissional, até o desenvolvimento de novas habilidades e competências
que possibilitem a mediação, como a construção de novos saberes, tendo
em conta a realidade atual.

147

didatica.indb 147 13/12/2018 16:27:23


CAPÍTULO 4

Nesse contexto, a Didática deve caracterizar-se como mediação entre


o “para quem ensinar”, “para que ensinar”, “o que ensinar” e “como
ensinar”. Ela deve atuar no sentido de despertar a tomada de consciência,
possibilitando um novo olhar sobre a educação e, com isso, possibilitando
o desvelamento das contradições que permeiam a dinâmica da sala de
aula, como ponto de partida para a construção de uma nova Didática,
contextualizada e socialmente comprometida com a formação do
professor.

A formação do professor é hoje considerada como um processo contínuo de


profissionalização.

Com estas colocações, pretende-se realçar a importância em examinar


aspectos relativos ao ensino, à função do professor e à questão da pesquisa.
Em se tratando de educação universitária, nas práticas sociais, compreende-
se que a universidade é um espaço privilegiado para se produzir ciência,
sendo a sua base o tripé: ensino, pesquisa e a extensão. Porém, de acordo
com a lógica da nossa sociedade, só uma minoria tem acesso à pesquisa,
enquanto a maioria somente ao ensino.

Desta forma, a pesquisa fica restrita somente àqueles que têm o privilégio de
“pensar”, enquanto os outros apenas executam. Reivindica-se a disseminação
da prática da pesquisa em todos os segmentos da escolaridade. Portanto, o
pedagogo comprometido com a educação e preocupado em tornar o fazer
pedagógico cada vez mais próximo das demandas da escola deve adotar
como prática a investigação científica como atitude pedagógica.

É importante você observar que pensar a presença da atividade de


pesquisa na educação escolar implica, assim, discutir, ao mesmo tempo,
componentes do exercício do ensino como também perspectivas político-
pedagógicas que orientem a relação com as proposições teóricas a ela
vinculadas (à pesquisa).

148 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 148 13/12/2018 16:27:23


Didática

CAPÍTULO 4
Interessam aqui contribuições de Freire (1996), discutir alguns saberes que
considera fundamentais à prática educativo-crítica, e que, por isso, devem
ser indispensáveis na formação docente. Para ele, a prática educativo-crítica
envolve propiciar condições nas relações entre educadores e educandos,
como experiência de assumir-se como ser social e histórico.

Neste processo, tem-se como pressuposto que ensinar relaciona-se


com o conhecimento existente e ao mesmo tempo está em questão
a produção de conhecimentos ainda não existentes. Assim, ensinar,
aprender e pesquisar articulam-se em dois movimentos, quando se ensina
e aprende o conhecimento existente e quando se trabalha a produção
do conhecimento ainda não existente. Tomando como base esta relação,
ensinar exige pesquisa. Para Freire,

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres


se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino contínuo
buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei,
porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando,
intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o
que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (1996,
p. 32).

Movido pela força da militância político-educacional, Freire dimensiona o


ato de ensinar como ação integrada em um processo de conhecimento
permanente do professor (educador), no qual está imbricado o movimento
de indagação, pois pressupõe uma disposição para apreender os sujeitos,
as relações e, enfim, os saberes envolvidos no ato de ensinar.

Constitui este processo uma exigência que dá lugar à curiosidade que,


posta de maneira rigorosa e metódica, passa de uma curiosidade ingênua,
espontânea, para uma curiosidade epistemológica. Para o professor,
esse trânsito implica respeitar os saberes dos educandos quanto ao
conhecimento já existente e o conhecimento ainda em elaboração; e o
compromisso em compreender que esta ingenuidade não se transforma
automaticamente.

A expectativa político-educacional novamente se expressa pela ideia de


que, “a superação e não a ruptura se dá na medida em que a curiosidade
ingênua, sem deixar de ser curiosidade, pelo contrário, continuando a ser
curiosidade, se criticiza”. (FREIRE, 1996, p. 34).

149

didatica.indb 149 13/12/2018 16:27:23


CAPÍTULO 4

Neste momento emerge e se desenvolve a curiosidade epistemológica.


Continuando a reflexão afirma:

A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao


desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como
procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta
faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade
sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente
impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele
algo que fazemos. (FREIRE, 1996, p. 35).

Para o autor, o professor deve perceber que, nesse caso, sem a curiosidade,
não se aprende nem se ensina, porque o constante exercício estimula a
imaginação, a intuição, a dúvida, a comparação, entre outras coisas.

A todo instante esta curiosidade lida com o conhecimento provisório na


promoção da curiosidade espontânea para a curiosidade epistemológica.
Por conseguinte, ensinar exige reflexão crítica sobre a prática, na
formação permanente dos professores este é o momento fundamental.

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades


para a sua própria produção ou a sua construção. [...] É preciso
insistir: este saber necessário ao professor – que ensinar não é
transferir conhecimento – não apenas precisa ser apreendido por
ele e pelos educandos nas suas razões de ser, ontológica, política,
ética, epistemológica, pedagógica, mas também precisa de ser
constantemente testemunhado, vivido. (FREIRE, 1996, p.52).

É a partir da atividade investigativa que o professor mobiliza os diferentes


saberes pedagógicos e metodológicos, avalia, propõe, redimensiona
os elementos que estão presentes direta e indiretamente na sua prática
pedagógica. O envolvimento investigativo é fundamental, para que
os aspectos relevantes do que vem sendo objeto sejam socializados,
uma vez que a tarefa docente não é uma ação isolada, mas socialmente
comprometida.

Na ação da interlocução, ou seja, num movimento que busca assimilar a


compreensão da natureza humana como construção permanente em
relação possível de compartilhamento tem-se o diálogo. Ou seja, “Não é
no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-
reflexão”. (FREIRE, 2011, p.108).

150 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 150 13/12/2018 16:27:23


Didática

CAPÍTULO 4
Dialogar é partilhar saberes e experiências, tanto na definição do que
será pesquisado quanto na busca de soluções, é fundamental.

É notória a importância que


Freire dá à ação de diálogo
como indispensável na educação
problematizadora, pensando
em uma educação como prática
potencial e superação de práticas
conservadoras. O diálogo, para
ele, se revelará por meio da
palavra como principal elemento
para sua constituição. E esta, a Figura 4.1 - A importância do diálogo
palavra – com nova condição –
será constituída no movimento
ação e reflexão.

O conceito de práxis apresenta-se aqui como representação da atuação


dos indivíduos no mundo, isto é, como fonte de conhecimento implica
na ação e no pensamento crítico sobre esta ação, sobre o mundo para
transformá-lo.

Neste quadro de sentidos, o diálogo é o encontro dos homens mediatizados


pelo mundo, onde têm oportunidade para pronunciá-lo compreendendo
a própria experiência. Mas, ele se coloca como uma exigência para a
constituição dos homens: “O diálogo é o encontro em que se solidarizam o
refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado
e humanizado [...]” (FREIRE, 2011, p.109). Na ótica da relação pedagógica,
tal pensamento faz derivar uma concepção do papel do professor como
quem também se reconheça mediatizado na construção de seus saberes.

151

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CAPÍTULO 4

Fica claro, portanto, a importância do papel didático da pesquisa na


formação docente, pois o potencial da pesquisa desenvolve no professor
a competência para pensar o próprio trabalho, em uma perspectiva de
uma prática profissional refletida.

Observe que, nesse sentido, é fundamental uma educação crítica que


proporcione o acesso a um processo de ensinar e aprender de forma
significativa, diferente do ensino tradicional, fragmentado, que vemos
como desafio de superação dentro dos espaços de aprendizagens.

Portanto, falar em prática pedagógica é ter presente uma concepção


de mundo/homem/sociedade, bem como ter conhecimento de uma
proposta pedagógica institucional que visa à aprendizagem para o
desenvolvimento dos alunos envolvidos nesse processo. Reforçamos a ideia
de que a Didática não é neutra. Ou seja, a ação pedagógica não poderá
ser uma ação neutra. É uma atividade entendida e praticada de forma
ideologizada. “A ação do educador não poderá ser, então, um “quefazer
neutral”, mas um “quefazer” ideologicamente definido”. (LUCKESI, 2010, p.
25).

Por entendermos que a ação pedagógica tem uma intencionalidade,


salientamos o destaque para o exercício recíproco da interação professor-
aluno; aluno-professor e aluno-aluno. Um influencia o outro e essa interação
acarreta mudanças na prática pedagógica. Quer dizer, na sala de aula, tais
interações devem ser constantes a fim de que os estímulos que movem
esse processo de ensino-aprendizagem sejam em todos os momentos
despertados pela curiosidade de aprender cada vez mais. Segundo Luckesi,
a prática educacional “tem que ser uma ação comprometida ideológica e
efetivamente. Não se pode fazer educação sem paixão”. (LUCKESI, 2010,
p.26).

Pois é, mediante tais relações concretizadas em sala de aula, ensinar exige


respeito aos saberes e à autonomia do educando; sobretudo quando o
respeito à autonomia e à dignidade tem relação com a ética, e não um favor
que podemos ou não conceder uns aos outros. (FREIRE, 1996). Ter presente
que se deve respeito ao educando, seja ele criança, jovem ou adulto, exige

152 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 4
uma prática educativa que condiz com a realidade existente. Ou seja, o
essencial é “partir daquilo que o aluno possui, potencializá-lo e conotá-lo
positivamente é sinal de respeito por sua contribuição, o que, sem dúvida,
favorece sua autoestima”. (COLL, 2004, p. 53).

É a partir da interatividade em
sala de aula que o professor
mobiliza os diferentes saberes,
avalia, propõe, redimensiona os
elementos que estão presentes
direta e indiretamente na
sua prática. O envolvimento
interativo é fundamental para
que os aspectos relevantes do
que vem sendo objeto de estudo
sejam socializados, uma vez que
a tarefa educacional não é uma
ação isolada, mas socialmente Figura 4.2 - Respeito aos saberes e à autonomia do educando
comprometida.

Trazer a prática reflexiva, na perspectiva da aprendizagem, implica em


considerar a diversidade que existe na sala de aula, o que constitui um dos
elementos importantes para pensarmos a diversificação das atividades
respeitando os ritmos e estilos de aprendizagem, propondo interações
que serão articuladas/implementadas, abrindo espaços para a socialização
do conhecimento.

A tendência investigativa mais recente e mais forte é a que concebe o


ensino como atividade reflexiva. Trata-se de um conceito que perpassa
não apenas a formação de professores como também o currículo, a
metodologia, o planejamento, a avaliação e a formação do aluno no
sentido mais amplo e significativo. Conforme Nóvoa (1992), a formação
crítico-reflexiva do professor implica produção da própria vida, da
profissão docente e da escola. É o desenvolvimento pessoal, profissional e
organizacional, respectivamente.

Podemos começar a pensar sobre a prática pedagógica analisando o


seguinte contexto histórico: a prática e reflexão foram tratadas e pensadas
como desarticuladas/fragmentadas. Ação e reflexão compõem um todo
inseparável. A educação tem oscilado, por vezes, entre dois extremos: o

153

didatica.indb 153 13/12/2018 16:27:23


CAPÍTULO 4

predomínio da teoria e a experiência irrefletida, em lugar do processo de


ação – reflexão – ação.

Temos, como desafio atual, um processo de formação sistemática, que se


propõe a instruir, acompanhar, instigar o aluno a aprender a pensar.

Aprender a pensar significa tentar pensar soluções de problemas,


fazer questionamentos, instigar a curiosidade de aprender cada
dia um pouco mais, no contexto da sociedade atual. Isto significa
também para o professor criar situações em que este pensar
apareça e torne-se um fio condutor do processo de ensino-
aprendizagem.

Quando nos reportamos à trajetória escolar por nós vivenciada, muitas


vezes não tivemos a possibilidade de enfrentar problemas reais, porque
a sala de aula privilegiava a repetição, a memorização, a reprodução de
discursos distantes da nossa realidade.

Contudo, é necessário que exista um diálogo entre a teoria e prática,


de modo que uma se alimente da outra, em uma relação dialética. Esse
contexto impõe mudanças na prática de sala de aula considerando
fundamentalmente a teoria e a prática como indissociáveis.

O princípio da ação-reflexão-ação atende a um reclamo cada vez mais


frequente de que devemos estar atentos e preocupados em dar uma
boa aula, a fim de que o objetivo maior seja alcançado: a aprendizagem
do aluno. A reflexão da prática leva o professor a replanejar suas ações,
possibilitando o acompanhamento do processo de aprendizagem dos
seus alunos.

Contudo, isso supõe assumir riscos, tomar decisões, mobilizar recursos,


rever estratégias, ousar na prática educativa de ensinar. E mais: precisamos
construir estratégias e/ou atividades pedagógicas que conduzam a pensar
a teoria não como direção da prática, mas como apoio à reflexão sobre a
prática.

154 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 154 13/12/2018 16:27:24


Didática

CAPÍTULO 4
Os desafios anteriores remetem a outro, inovar a prática pedagógica
seguida do componente mais sensível nesse processo: a “qualidade” do
ser professor, indissociável da ideia de uma constante recuperação da sua
competência para inovar e para intervir, ao mesmo tempo em que procura
por (re)fazer sua condição profissional.

Buscando traduzir pedagogicamente a inovação didática, seguem algumas


virtudes às quais o professor deverá ficar atento:

»» participar do mundo da cultura, sobretudo pela leitura assídua


com as fontes culturais mais importantes;

»» participar do mundo da informação e da comunicação, para


garantir sua contemporaneidade na sala de aula;

»» atualizar-se permanentemente em sua área de atuação, no


campo pedagógico e didático, acompanhando com dedicação as
evoluções teóricas e práticas.

Mediante tudo o que foi apresentado, perceba que o professor pode


aprimorar o seu trabalho utilizando-se de instrumentos pedagógicos que
conduzam a uma aprendizagem significativa, tais como: o planejamento
e a avaliação, sem voltar ao ensino tradicional, mas sim associando, em
uma perspectiva de reflexão dialética, o modo de fazer e o princípio que
lhe dá suporte. No seu papel de mediador da aprendizagem, o professor
deve ter uma relação ética e de cumplicidade com o desenvolvimento e a
aprendizagem dos alunos.

Como vimos, a Didática pode contribuir de modo bastante significativo


para a formação do professor, desde que seja fomentada de acordo com
os desafios que são colocados cotidianamente para este profissional e aos
diferentes contextos sociais e culturais em que sua prática se realiza.

155

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CAPÍTULO 4

Seção 2 – O papel mediador da Didática na construção da


identidade do professor

Objetivo de aprendizagem

»» Entender o papel mediador da Didática na construção da


identidade do professor como fundamental para a prática
pedagógica no processo de formação docente.

Atualmente na área educacional, podemos perceber contínuos


movimentos em busca de novas posturas pedagógicas que sinalizam
mudanças importantes na prática educativa.

Nesse movimento, os professores se veem desafiados a colocar em prática


novas formas de ensinar, tendo que assumir seu lado experimentador no
cotidiano e transformar a sala de aula em espaços de aprendizagem. Tudo
isso porque a prática de sala de aula não pode ser mais a mesma, supondo
que seria necessário ao professor o domínio da prática pedagógica, sem
perder de vista a ideia do professor como pesquisador; incluindo pensar
o planejamento e a avaliação como processo permanente, enfatizando a
articulação entre conhecimento, habilidades, atitudes e valores.

Contudo, nas palavras de Gadotti (1989),


o pedagogo tornou-se mais um policial
da educação que um homem formado
para criar educação. Gadotti critica o fato
de a Pedagogia parecer formar
pedagogos obedientes, servis. E
reivindica para o educador não só o
direito de se contradizer, mas a prática da
Figura 4.3 - Articulação entre conhecimento, desobediência.
habilidades, atitudes e valores
Aproxima-se desta reflexão Arroyo (2008), com sua discussão do ofício
de ser professor. Nessa, observa que cotidianamente as imagens e
autoimagens de ser mestre se tornam cada vez mais confusas impedindo
que se reconheça que elas carregam uma construção social, cultural e
política a levar em conta.

156 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 156 13/12/2018 16:27:24


Didática

CAPÍTULO 4
Além disso, este mesmo autor, alerta que:

É pesada a imagem da tradição que padecemos. A maioria dos


professores e professoras de Educação Básica foram formados (as)
para serem ensinantes, para transmitir conteúdos, programas, áreas
e disciplinas de ensino. [...] É verdade que essa imagem de ensinante
vem sendo alterada, no diálogo com a prática, nas interrogações
vindas do convívio com a infância, adolescência ou juventude. No
diálogo com colegas, nos confrontos políticos, na sensibilidade com
Figura 4.4 - Educação a dinâmica social e cultural fomos reaprendendo nossa condição de
como humanização educadores (as). Um aprendizado através de um diálogo tenso que
vai reconstruindo o rosto desfigurado e indefinido. (ARROYO, 2008,
p. 52).

Inscrevendo sua discussão também em torno de uma identidade da ação


educativa, para Gadotti, o pedagogo, o educador, ao repensar a educação,
está também repensando a sociedade. Não existe uma igualdade entre
política e educação: existe uma identidade. O ato educativo é essencialmente
político. O papel do pedagogo é um papel político. A Pedagogia intervém
na prática educativa dando-lhe uma orientação e sentido, e criando
condições organizativas e metodológicas para sua viabilização, definindo
seu traço mais característico: a intencionalidade.

A figura do professor – educador, nos termos dos autores em tela – torna-


se central, pois,

[...] quanto mais nos aproximamos do cotidiano escolar mais nos


convencemos de que ainda a escola gira em torno dos professores,
de seu ofício, de sua qualificação e profissionalismo. São eles e elas
que a fazem e reinventam. (ARROYO, 2008, p. 19).

Pimenta nos fala que,

[...] uma identidade profissional constrói-se, pois, com base na


significação social da profissão; na revisão constante dos significados
sociais da profissão; na revisão das tradições. Mas também
na reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que
permanecem significativas. Constrói-se, também, pelo significado
que cada professor, como ator e autor, confere à atividade docente
no seu cotidiano com base em seus valores, seu modo de situar-se
no mundo, sua história de vida, suas representações, seus saberes,
suas angústias e seus anseios, no sentido que tem em sua vida
o ser professor, bem como em sua rede de relações com outros

157

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CAPÍTULO 4

professores, nas escolas, nos sindicatos e em outros agrupamentos.


(PIMENTA, 2000, p.42).

Poderíamos citar um número de autores que na literatura educacional


recente vêm propondo a reflexão da prática profissional como um caminho
eficaz na melhoria da formação humana, bem como busca pela identidade
do educador nesse contexto de docência.

E valendo-nos da contribuição e estudos da Selma Garrido Pimenta, a autora


entende que a natureza do trabalho docente é ensinar como contribuição
ao processo de humanização dos alunos historicamente situados. Para isso,
atribui ao trabalho de formação de professores nas licenciaturas, a tarefa
de desenvolver com os futuros professores “conhecimentos, habilidades,
atitudes e valores” que possibilitem aos mesmos “irem construindo seus
saberes-fazeres docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino
como prática social lhes coloca no cotidiano”. (PIMENTA, 2002, p.18).

Nesse sentido, faz-se necessário mobilizar alguns saberes que orientam


nesse processo de construção da identidade do vir a ser professor
que configuram a docência - os saberes da experiência, os saberes do
conhecimento e os saberes pedagógicos.

Experiência

De toda maneira, podemos começar pelos saberes da docência – a


experiência, que constituem o primeiro passo a mediar o processo
de observação e leitura dos saberes acumulados pelos educandos de
licenciatura. Estamos falando do valor dos conhecimentos prévios de cada
aluno. Segundo Pimenta,

Quando os alunos chegam à licenciatura já têm saberes sobre o que


é ser professor. Os saberes de sua experiência de alunos de diferentes
professores em toda sua vida escolar. Experiência que lhes possibilita
dizer quais foram os bons professores, quais eram bons em conteúdo,
[...] Quais foram significativos em suas vidas, isto é, contribuíram para
sua formação humana [...]. (PIMENTA, 2002, p. 42).

Os alunos também sabem pela experiência socialmente acumulada sobre o


ofício do ser professor, e, desse fato, podemos citar as mudanças históricas
da profissão, o exercício e sua atuação em diferentes instituições escolares,

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didatica.indb 158 13/12/2018 16:27:24


Didática

CAPÍTULO 4
a não valorização social e financeira dos professores, a dificuldade em
ministrar aulas para turmas superlotadas; sabem um pouco sobre as
representações que a sociedade tem dos professores por meio dos meios
de comunicação.

Os saberes da experiência são também aqueles que os professores


produzem no seu cotidiano docente, num processo permanente
de reflexão sobre sua prática, mediatizada pela de outrem – seus
colegas de trabalho, os textos produzidos por outros educadores.
(PIMENTA, 2002, p. 20).

Portanto, o desafio está lançado aos cursos de licenciatura, que é o de


colaborar no processo de passagem de se verem como alunos ao ver-
se como professor. Isto é, de construir sua identidade de professor. Mas,
para que esta possibilidade possa vir acontecer somente os saberes da
experiência não bastam, é preciso ir mais além.

Conhecimento

Outro tipo de saber necessário aos docentes são os saberes da docência


– o conhecimento. Nos cursos de licenciatura, a maioria dos alunos
tem clareza de que serão professores de conhecimentos específicos que
envolvem sua área de atuação, e que, portanto, são saberes que poderão
ensinar em sua prática docente.

Mas, qual o significado que esses conhecimentos têm para si próprios?


Qual o significado desses conhecimentos na sociedade atual? Existe
diferença entre conhecimento e informações? Para que ensiná-los e que
significados esse ensino representa na vida das crianças e dos jovens?
Como as escolas trabalham o conhecimento? (PIMENTA, 2000).

Para responder a estas indagações acompanhe o raciocínio que nos orienta


a fundamentá-las.

159

didatica.indb 159 13/12/2018 16:27:24


CAPÍTULO 4

O conhecimento não é algo situado fora do indivíduo, tampouco algo que


o indivíduo constrói independentemente da realidade exterior e de suas
próprias capacidades. O sujeito constrói o conhecimento segundo suas
próprias referências, ou seja, o sujeito aprende pensando, compreendendo,
agindo sobre o objeto do conhecimento. O sujeito assimila o conhecimento
já instituído, mas também o modifica, constrói-reconstrói, cria-recria,
produz um novo conhecimento.

Sendo assim, salientamos a importância de planejar a atuação docente de


uma maneira flexível para permitir que as contribuições e os conhecimentos
dos alunos venham à tona.

É importante você compreender que o fato mais importante que influi na


aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe.

Segundo Coll (2004, p. 61) “Uma aprendizagem é tanto mais significativa


quanto mais relações com sentido o aluno for capaz de estabelecer entre
o que já conhece, seus conhecimentos prévios e o novo conteúdo que lhe
é apresentado como objeto de aprendizagem”.

Entende-se porque a ênfase ao aprender a aprender é tão importante,


uma vez que pressupõe o aluno ser cada vez mais autônomo em suas
aprendizagens. Tudo isso nos permite dizer que se está produzindo
aprendizagem significativa na medida em que se podem estabelecer
relações entre o que se aprende e o que já foi apreendido e que resultará
em um novo significado.

É na interação dialógica que professor e aluno, juntos, podem constituir


o sucesso da aprendizagem, pois o conhecimento é organizado e
sistematizado, e os conhecimentos cotidianos são ampliados e a estes
atribuídos novos significados que podem ou não estar vinculados à prática
educativa e social.

Aí entra o papel fundamental do professor, pois é sua responsabilidade


mediar e possibilitar as interações entre os alunos, no sentido de fazê-los

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Didática

CAPÍTULO 4
entender o conhecimento como um processo de descoberta, de produção,
de troca e cooperação. Coll, afirma que,

Certamente, o aluno é o responsável final da aprendizagem na


medida em que constrói o seu conhecimento, atribuindo sentido
e significado aos conteúdos do ensino, mas é o professor quem
determina, com sua atuação, com o seu ensino, que as atividades
nas quais o aluno participa possibilitem um maior ou menor grau de
amplitude e profundidade dos significados construídos e, sobretudo,
quem assume a responsabilidade de orientar esta construção numa
determinada direção. (COLL, 1994, p.156).

A possibilidade de o aluno intervir no processo de aprendizagem provoca-o


e impulsiona-o, promovendo a reelaboração do conhecimento. Isso é
importante porque o coloca como corresponsável pela sua aprendizagem.
Essa perspectiva exige a reeducação de novos olhares que superem
o ensino tradicional, fortemente difundido em nossas formações, que
cristaliza o conhecimento.

Segundo Pimenta (2000), o conhecimento não se reduz apenas à


informação. Conhecimento como informação é um primeiro estágio para
que posteriormente se construa um conhecimento que signifique para
o aluno. As informações são importantes, mas precisam passar por um
processamento muito complexo, a fim de se tornarem significativas.

Todas as informações, todos os dados da experiência devem ser trabalhados


de maneira consciente e crítica por quem os recebe. Conhecer implica
um segundo estágio, o de trabalhar com as informações classificando-as,
analisando-as e contextualizando-as. O terceiro estágio tem a ver com a
inteligência, a consciência ou sabedoria. As informações precisam ser
recebidas e trabalhadas para que se possa construir a inteligência.

É importante você compreender que não basta produzir


conhecimento, é preciso produzir condições para a produção desse
conhecimento, que podem ser muito bem articulados quando
pensamos os saberes que irão dar significado à formação do cidadão.
Como dizia Paulo Freire, “Ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.”
(1996, p. 25).

161

didatica.indb 161 13/12/2018 16:27:24


CAPÍTULO 4

Nesse sentido, a educação é um processo de humanização. Como prática


social, é realizada por todas as instituições da sociedade. Como processo
sistemático e intencional, ocorre em algumas, dentre as quais se destaca a
escola. A educação escolar, por sua vez, está assentada fundamentalmente
no trabalho de professores e dos alunos. A finalidade desta é contribuir
com o processo de humanização de uns e de outros pelo trabalho coletivo
e interdisciplinar deles com o conhecimento, numa perspectiva de inserção
social crítica e transformadora. (PIMENTA, 2000).

Figura 4.5 - Educação como humanização

Nessa direção, Arroyo (2008) ressalta a importância de se recuperar e


assumir a educação como humanização, pois considera que educar é
humanizar. Principalmente, na medida em que se vincula a educação
à humanização, pois há um avanço para outros vínculos (educação e
cidadania, por exemplo) ainda mais desafiadores para os profissionais da
escola pública.

Faz parte de nosso ofício entender os processos históricos e culturais,


o progresso do conhecimento acumulado, mas também faz parte de
nosso ofício entender que esse movimento não é linear, acumulativo
(o saber acumulado, como tanto falamos), é um processo truncado
pelos brutais mecanismos de desumanização. (ARROYO, 2008, p. 241).

Tanto para Arroyo (2008) como para o reconhecido filósofo e pensador-


militante da educação popular no Brasil, Paulo Freire, há um tenso
movimento histórico a captar de humanização e desumanização que vem
acompanhando os seres humanos desde a infância.

A história da infância e a realidade educacional mostram esse movimento


de humanização e desumanização. São milhares de crianças e adolescentes
que entram nas escolas públicas, trazendo marcas das condições em que

162 Universidade do Estado de Santa Catarina

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Didática

CAPÍTULO 4
vivem e sobrevivem; “são crianças e adolescentes roubados de alimentação,
moradia e saúde, mas sobretudo roubados de sua humanidade, proibidos
de ser, não apenas proibidos de ter, ler ou contar”. (ARROYO, 2008, p. 43).

Um outro sentido daria a nossa prática educativa como professores que


somos, a recuperação da humanidade, fazer da prática educativa momentos
pedagógicos de humanização. Muitos educadores, preocupados com o
fracasso escolar, evasão, repetência, lançam mão de recursos e estratégias
a fim de sanar estas dificuldades que tanto assolam a vida escolar desses
alunos, colocando esforços sobre o desenvolvimento de projetos políticos
pedagógicos, repensando as propostas da rede, modelando currículos,
repensando as avaliações, dinamizando os tempos, espaços e a estrutura
escolar etc..

De acordo com Arroyo,

Alguns programas de formação estão preocupados com que os


educadores (as) conheçam mais os educandos não apenas como
sujeitos de aprendizagens, de alfabetização, mas como sujeitos
humanos, sociais e culturais. Conhecê-los na concretude de suas
existências. Conhecer a história social da infância, da adolescência
e juventude. [...] Como educadores (as) conhecer a fundo as
possibilidades e limites materiais, sociais e culturais de ser gente, de
humanizar-se ou desumanizar-se, de desenvolver-se como humanos.
(ARROYO, 2008, p. 243).

Chegamos a um ponto central, não nascemos humanos, nos fazemos.


Passamos desde o nascimento por longos processos de aprendizagem
humana. Como professores que participamos de uma vivência humana
escolar, o ensino e as práticas se modificam.

Aprendemos com isso que, para o domínio de saber ensinar do professor,


não são suficientes os saberes da experiência e os conhecimentos
específicos, mas são necessários também os saberes da docência – os
saberes pedagógicos e didáticos.

Docência

Os saberes pedagógicos historicamente construídos e que não são o foco


da educação disciplinar, constituem um dos elementos importantes para

163

didatica.indb 163 13/12/2018 16:27:24


CAPÍTULO 4

formação do aluno, mas não são suficientes para a formação profissional


do cidadão preconizada na atualidade.

Pois bem, como caminho de superação, que nos empenhemos em


construir os saberes pedagógicos a partir das necessidades pedagógicas
da realidade existente. “Trata-se, portanto, de reinventar os saberes
pedagógicos a partir da prática social da educação”. (PIMENTA, 2002, p.
25).

Considerar a prática social como ponto de partida e como o ponto de


chegada possibilitará uma ressignificação dos saberes na formação de
professores. Pois, o futuro profissional não pode constituir seu saber-fazer
senão a partir de seu próprio fazer. Não é senão sobre essa base que o
saber, como elaboração teórica, se constitui. Portanto, em contato com os
saberes sobre a educação e a Pedagogia, podem encontrar instrumentos
para se interrogar e para alimentar suas práticas, confrontando-os. É aí que
produzem saberes pedagógicos, na ação. (PIMENTA, 2000).

O que se tenta, ao longo desses anos, é justamente pensar que toda prática
é envolvida por uma teoria. Mas não nos damos conta de quais conceitos
embasam nosso fazer. É a reflexão sobre o que eu faço que me faz agir de
uma forma específica. Até para apagar o quadro branco há uma teoria. O
problema é que o indivíduo não é estimulado a entender a teoria que há
por trás de cada prática.

É a reflexão sobre a prática que faz a ligação, o “casamento” entre a prática


e a teoria. Quando o indivíduo pensa, ele busca saber o que determinada
teoria significa para ele, qual o seu sentido, porque não age daquela forma,
enfim, esta reflexão de forma individual e com os outros, em grupo.

Afinal, todos nós lidamos com a prática que, por sua vez, tem fundamentação
teórica. Só se pode construir conhecimento a partir do que se pensa, do
que se sabe, a partir das dúvidas que se têm. Por isso, é essencial que, após
a prática, se pare para refletir sobre ela.

164 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 164 13/12/2018 16:27:24


Didática

CAPÍTULO 4
A Didática para assumir um papel significativo na formação da identidade
do professor deverá criar condições para que o sujeito se prepare filosófica,
científica, técnica e efetivamente para o tipo de ação que vai exercer. Uma
Didática que se traduza a partir de uma prática educativa crítica, forjadora
de um projeto histórico, assumido pelo educador, conjuntamente com
o educando e os outros membros dos diversos setores da sociedade.
(LUCKESI, 2010).

A Didática, como afirma Luckesi (2010, p. 30), “[...] deverá ser um elo
fundamental entre opções filosófico-políticas da educação, os conteúdos
profissionalizantes e o exercício diuturno da educação”, ou seja, formação
teórica, com a prática contextualizada e amor pela profissão.

É, nessa perspectiva, que escrevemos o presente material, no intuito de


contribuir com leituras, reflexões, pontos de vistas, discussões. Esperamos
que essa leitura lhe permita socializar experiências, compreender algumas
dimensões maiores que envolvem a prática docente.

Síntese do capítulo

Neste capítulo, você pode estudar:

»» O papel da Didática destina-se a atingir um objetivo principal – a


formação do educador.

»» O papel da Didática além de apontar possibilidades para a


organização do trabalho docente deverá preocupar-se, com o “o
que ensinar”, o “o como ensinar”, o “para que ensinar” e o “para
quem ensinar”.

»» Um dos desafios na formação do educador é a construção dessa


identidade, portanto, para nos considerar professor, devemos
nos identificar como professores. O professor vai constituindo-se
profissional ao longo se sua vida.

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CAPÍTULO 4

»» Os saberes da experiência, os saberes do conhecimento e os


saberes pedagógicos, constituem elementos que configuram a
docência no processo de construção da identidade do vir a ser
professor.

Você pode utilizar as linhas abaixo para produzir a síntese do seu processo
de estudo:

166 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 166 13/12/2018 16:27:24


Didática

CAPÍTULO 4
Atividades de aprendizagem

1. A partir do estudo do capítulo, na sua opinião, qual o papel o papel


que a Didática exerce na formação do educador? O que ao seu ver, a
Didática contribui na sua atuação como professor, em sua experiência
docente? Discorra com um breve comentário.

2. Refletindo sobre a construção da identidade do professor, sobre a


prática docente e do exercício da profissão, converse com três ou quatro
professores de sua comunidade indagando o que o levou a escolher a
profissão de professor.

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didatica.indb 167 13/12/2018 16:27:24


CAPÍTULO 4

Aprenda mais...

Algumas obras interessantes que completam os estudos desse capítulo são:

CANDAU, V. M. (org.). Rumo a uma nova didática. 19 ed. Petrópolis, RJ:


Vozes, 2008.

VEIGA, I. P. A. (org.). Lições de didática. Campinas, SP: Papirus, 2006. (Coleção


Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)

VEIGA. I. P. A. A prática pedagógica do professor de didática. 8 ed.


Campinas: Papirus, 2004.

ZABALLA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed


Editora, 2002.

168 Universidade do Estado de Santa Catarina

didatica.indb 168 13/12/2018 16:27:24


Considerações finais

Como você pôde acompanhar a Didática trilhou um longo caminho histórico.


Pôde perceber também que quando falamos em Didática tradicional a referência
é de séculos e quando falamos em Didática Crítica a referência é de décadas.
Com isso, podemos entender porque ainda somos principiantes no âmbito da
Didática Crítica. Por outro lado, conhecer a trajetória histórica da Didática nos
permite extrair as contribuições de cada um dos cinco períodos e fazer adaptações
para enriquecer nossa prática. Uma aula expositiva que teve origem na Didática
tradicional pode ser muito enriquecedora se for baseada no diálogo, ênfase da
Pedagogia libertadora de Paulo Freire. Um dado que os séculos de história da
Didática puderam mostrar foi o da necessidade de se estabelecer uma ruptura
concreta da memorização como categoria central do processo educativo e para
isso a escola precisa repensar algumas de suas práticas e o professor atualizar-se
constantemente em face desse novo aluno que frequenta sua instituição.

A escola é por definição um espaço de conhecimento e cultura, um espaço de


formação institucionalizada, ou seja, formal, porém não é o único lugar que
promove a construção de conhecimentos. O fazer pedagógico precisa estar
alicerçado no propósito de viabilizar formas críticas, criativas e significativas de
aprendizagem para a construção de competências e valores que atendam as
exigências dos sujeitos inseridos em uma sociedade, que está em constante em
transformação.

Assim, as opções metodológicas precisam estar em consonância com o projeto


social mais amplo. Nelas precisam ser compreendidos os objetivos vinculados
aos pressupostos didáticos para uma formação integral do aluno, considerando
sempre sua historicidade e cultura. Para tanto, o professor deve ter clareza das
reais condições da escola, suas finalidades, reconhecendo seus alunos como
parte do processo. Deve também reconhecer que a construção da aprendizagem
autêntica só pode ocorrer em condições socioculturais concretas e não se
referem apenas às atividades desenvolvidas em um ambiente escolar formal, o
aluno possui conhecimentos prévios, experiências que devem ser considerados
no processo de construção do conhecimento, entendendo que a atividade
cognitiva depende de uma série de fatores que são essenciais ao processo de
construção do conhecimento.

Neste Caderno, você viu que as teorias do conhecimento criam influências às


teorias pedagógicas e por consequência é possível reconhecer como o sujeito
aprende. Dessas teorias depende o encaminhamento da prática pedagógica

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e a Didática fornece os elementos para a sua concretização, auxiliando na
organização das mais diversas formas de ensinar. Nesta relação, está o professor;
ele é um agente fundamental no processo de aprendizagem e deve possuir
domínio dos instrumentos necessários ao desempenho da função, bem como
da teoria e das formas como o aluno aprende; deve possuir clareza dos objetivos
que norteiam a sua prática e levar em conta as experiências prévias, respeitando
os diversos ritmos – de pensar, de agir e compreender o mundo, deve promover
espaço para a criatividade e criticidade.

O professor precisa promover a capacidade dos alunos de problematizarem a


realidade, transformando os conteúdos em situações problemas, auxiliando-os
diariamente quanto ao desenvolvimento da capacidade de aplicar os conceitos
na prática, organizar pensamentos, analisar, interpretar, sintetizar e realizar as
transposições no seu cotidiano. Um professor também precisa perceber o seu
ambiente escolar como um espaço de interação e cooperação, considerando
uma rotina que envolve tempo, espaço e atividade e tempo-história... Todo
aluno tem o direito a uma boa educação e a uma educação que faça sentido
para ele, que envolva troca, interação e a valorização das experiências.

O professor é o mediador do processo e o planejamento é a base para a


preparação de qualquer atividade. Mas não basta prever conteúdo e método, é
preciso considerar outras variáveis: a cultura, os ritmos e a forma como tema ou
conteúdo é organizado. Lembre-se que avaliar é necessário e indispensável, mas
mais importante é desenvolvê-la, de modo a oportunizar mais aprendizado e
retroalimentação da prática.

Assim, devemos consideramos que a formação do educador é um processo


permanente de atualização, no qual se tecem relações entre reflexões teóricas e a
experiência docente é vivenciada nos mais diversos espaços escolares e práticas
e saberes singulares. Neste sentido, a Didática cumpre um papel importante no
sentido de propiciar uma reflexão sobre os limites e as possibilidades da atuação
docente na sociedade atual.

Nesse entendimento, a Didática nos inspira a pesarmos a ação do docente como


um eterno ir e vir de dúvidas, questionamentos, certezas, ganhos, persistência,
diálogos com os nossos pares... Enfim, refletir e avaliar a prática docente, antes de
mais nada, contextualizada e socialmente comprometida com a educação.

Um abraço,

Professora Carmen, Professora Giselia e Professora Vanessa

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Conhecendo os professoras autoras

Carmen Maria Cipriani Pandini

Graduada em Pedagogia pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Mestre em


Educação e Cultura pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Especialização em
Ensino Aprendizagem da Língua Portuguesa. Atua na Educação a Distância desde 2001, na UDESC.
Tendo atuado nas disciplinas de Prática de Ensino, Didática, Currículo, Planejamento e Avaliação e
Estágio Curricular Supervisionado. Na UnisulVirtual, atuou na função de Designer Instrucional e na
Assessoria de Inovação e Qualidade da Ead. Faz parte do grupo de pesquisadores da cooperação
internacional com a Universidade Ca’ Foscari de Veneza e Universidades da América Latina.
Atualmente é coordenadora do Curso de Pedagogia a distância da UDESC, pela Universidade
Aberta do Brasil.

Giselia Antunes Pereira

É graduada em Pedagogia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense. Doutora em Didática


e Tecnologia Educativa pela Universidade de Aveiro (Portugal). Faz parte do Grupo de Pesquisa
Formação de Educadores e Educação Sexual CNPq/UDESC que investiga o estado da arte de
objetos de aprendizagem. Atua no Curso de Pedagogia a distância do CEAD/UDESC, ministrando a
disciplina Fundamentos da Educação a Distância; e nos Cursos de Licenciatura da USJ, ministrando
as disciplinas de Didática e Currículo e de Sociologia. Ministrou a disciplina de Didática nos cursos
de Licenciatura, presenciais e a distância do MEN/CED/UFSC nos anos de 2008 a 2010. Exerceu
atividades ligadas ao ensino profissional no SENAI de Criciúma nos anos de 1997 a 2002.

Vanessa de Almeida Maciel

Graduada em Pedagogia com habilitação em Séries Iniciais e Educação Especial, pela Universidade
Federal de Santa Catarina (2002) e mestre em Educação, pela Universidade Federal de Santa
Catarina (2005). Atuou como professora da disciplina de Didática Geral para as licenciaturas
no Departamento de Metodologia e Ensino - MEN/CED/UFSC (2005-2007). E também, como
Coordenadora de Tutoria e Professora Tutora em Educação a Distância, do Curso de Especialização
em Gestão Escolar (2007-2008) na modalidade a distância, pela UFSC. Tem experiência na área de
Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, didática, educação a distância,
formação de educadores. Atualmente é professora da Universidade do Estado de Santa Catarina,
do Centro de Educação a Distância - CEAD.

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Comentários das atividades

Capítulo 1

1. A Didática é uma ramificação da Pedagogia e se refere aos conteúdos de


ensino e aos processos próprios para a construção do conhecimento. Em
Comenius, você viu que a Didática se refere à arte de ensinar. Desde então, por
muito se perpetuou que o ensino foi objeto da Didática. Indique e explique
qual é objeto de estudo da Didática na atualidade.

O ensino, como objeto da Didática, teve validade para época em que não
havia qualquer tipo de sistematização sobre o tema. Hoje, pensar que o
ensino se constitui em objeto da Didática é caracterizá-lo como um conceito
do passado, dominado, até certo ponto pela figura do professor como
elemento central do processo pedagógico, a Didática contemporânea inclui
a dimensão da aprendizagem. Pois, só há ensino de houver simultaneamente
aprendizagem. Assim, ensinar e aprender são duas faces de uma mesma
moeda. Isto que dizer que a Didática não pode tratar apenas do ensino.

Na atualidade, os educadores e pesquisadores defendem a ideia de que a


Didática é o estudo do processo de ensino e aprendizagem que compreendem
formas de organização do ensino, uso e aplicação de técnicas e recursos
pedagógicos, controle e a avaliação da aprendizagem, postura do professor
e principalmente objetivos político-pedagógicos e críticos sobre o ensino.

2. Nessa retrospectiva histórica, procurou-se destacar os aspectos sócio-


econômicos, políticos e educacionais que serviram de base para identificar
as propostas pedagógicas presentes na educação, bem como os enfoques
do papel da Didática. Desse modo, indique qual a característica fundamental
que marca a distinção entre as Didáticas consideradas liberais e a Didática
Crítica.

As didáticas de base liberal incluem as Pedagogias: Tradicional, Escolanovista


e Tecnicista. Nas tendências liberais, os conteúdos são os conhecimentos
e valores sociais acumulados pelas gerações adultas repassados ao aluno
como verdades, independentemente do seu foco ser o professor, o aluno
ou a racionalidade do método. Para que isso ocorra, os valores sociais e os
conteúdos devem ser reproduzidos no interior da escola.

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Na Didática Crítica, a escola tem o papel de difundir conteúdos ligados às
realidades sociais. Como a educação é mediatizada pela realidade, o agir
no interior da escola deve contribuir para transformar a própria sociedade.
Nessa Didática, os conteúdos refletem a realidade na qual se insere a escola
e são apropriados para serem superados, chegando-se à produção de um
novo saber. Para que haja esse alcance e se efetive a apropriação do saber, a
capacidade de memorização dos conteúdos não pode ser a única dimensão
a se privilegiar.

Capítulo 2

1. Diante do que foi dito, que práticas poderiam “romper com concepções
excessivamente ‘clássicas’ do conhecimento, abrindo à instituição à
contemporaneidade (cultural, artística, científica, tecnológica) e favorecendo
a reflexão crítica sobre o processo educativo? (...) de que espécie de coragem
o pesquisador fala? A quem compete essa coragem? Que “boas intenções”
seriam essas? E como se poderiam construir as competências necessárias?

Esta questão deve ser respondida com base no estudo realizado até aqui e
nas experiências que você possui, nas interlocuções que você estabeleceu
com os colegas e com as diversas fontes de estudo. Elas também podem
estar focadas sobre uma realidade de professor/a, caso já esteja em exercício.
Use sua criatividade e criticidade. Considere que a coragem se alicerça não só
nas teorias, mas na articulação com as práticas. As competências passam pela
capacidade de se abrir às demandas que surgem no dia a dia, pela inovação
e na capacidade de se renovar a cada dia, revendo também as práticas na
escola.

2. De que forma os métodos (caminhos para se atingir os objetivos) e


procedimentos (etapas, passos, técnicas, uso de materiais/meios) e os
conteúdos devem ser articulados para que as atividades de ensinar e aprender
sejam significativas para o aluno e problematizadoras do cotidiano?

Primeiramente, é necessário que haja uma compreensão da importância do


ensino e de como ocorre a aprendizagem. Mas, é fundamental destacar que
não se deve dar ênfase a um só elemento, é necessário selecionar métodos
adequados para cada situação, considerando o contexto. Estes, devem se
articular levando em conta as prioridades, os sujeitos envolvidos com base
em situações significativas. A competência do professor e sua criatividade
são fundamentais na forma como a aula vai de desenvolver. A mediação é
fundamental.

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Capítulo 3

1. Analise os espaços escolares e construa argumentos para descrever uma


relação didática estabelecida pelo professor com a sua turma de alunos
que ocupa este ambiente. Como você descreveria este professor e como ele
encaminha sua prática pedagógica. Defina em que tipo de educação ele está
inserido. O que pode sugerir dessas relações? Registre suas impressões.

Nesse contexto, é importante que você perceba que a escola é um espaço


de relações múltiplas entre múltiplos sujeitos com saberes múltiplos, que
aprendem e ensinam o tempo todo, múltiplos conteúdos de múltiplas
maneiras. Um professor teria uma postura tradicional, se utiliza esta disposição
o tempo todo sem se preocupar com a interação e trabalho cooperativo ou
colaborativo. Portanto, seria uma “educação de tendência conservadora ou
tradicional” e outra uma postura interacionista, de tendência sociocultural,
que valoriza a participação ativa do aluno no contexto da sua formação,
permitindo fazer com que ele se sinta parte do contexto. O professor possui
o papel de mediador.

2. Analise a seguinte tarefa solicitada por um determinado professor aos seus


alunos. Analise a imagem e registre seu comentário.

Que espécie de atividade mental você acha que esse aluno constrói com
tal modelo de tarefa? Com essa prática, o educador proporciona ao aluno
a oportunidade de elaborar suas sínteses e aprofundar o conceito que tem
de si, do outro, do mundo, mediatizado pela realidade? Onde está o diálogo
crítico entre professor e aluno? Há uma problematização da realidade?
Existirá o diálogo e a consideração da experiência do aluno?

O que você acha? Insira suas impressões e use argumentos para aprovar ou
reprovar esta postura didática.

Aqui você pode se posicionar com base nos estudos que você realizou neste
capítulo. É preciso instigar o aluno a pensar, criar situações contextualizadoras
que fazem sentido para o aluno. Esta atividade proposta pelo professor
não faz sentido para o aluno. É preciso problematizar. Para Paulo Freire,
problematização é a ação de refletir continuamente sobre o que se disse,
buscando o porquê das coisas, o para quê delas. Problematizar, portanto,
é propor a situação como problema. A problematização, portanto, nasce
da consciência que os homens, que sabem pouco o seu próprio respeito,
adquirem de si mesmos. Esse pouco saber faz com que os homens se
transformem e se ponham a si mesmos como problemas. (FREIRE, 2002, p.
68).

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Capítulo 4

1. A partir do estudo do capítulo, na sua opinião, qual o papel o papel que a


Didática exerce na formação do educador? O que ao seu ver, a Didática
contribui na sua atuação como professor, em sua experiência docente?
Discorra com um breve comentário.

Você deve ter desenvolvido em sua resposta que a Didática pode transformar o
processo didático-pedagógico do professor em ação reflexiva e questionada.
A prática pedagógica está imbuída num processo de formação de todos os
sujeitos envolvidos no processo de pesquisa como tendência investigativa.
A Didática propõe um papel articulador entre a teoria e a prática, bem
como busca esclarecer a realidade escolar, compreendê-la, e assim, poderá
organizar o processo de ensino-aprendizagem.

2. Refletindo sobre a construção da identidade do professor, sobre a prática


docente e do exercício da profissão, converse com três ou quatro professores
de sua comunidade indagando o que o levou a escolher a profissão de
professor.

Para essa questão é importante deixar registrado as razões que levaram os


três ou quatro professores da escolha da profissão de professor. Deixem-nos
bem à vontade em responder, e utilize o espaço abaixo para fazer as suas
anotações. Quanto à escolha dos professores, não importa a sua formação e
licenciatura, desde que esteja no exercício de sua atuação.

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Referências

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didatica.indb 182 13/12/2018 16:27:24
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Figura 1.3 - Pág. 24


Pestalozzi Figura 1.4 - Pág. 26
Fonte: Disponível em:<http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ Transmissão de conhecimento
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Acesso em: 18 nov. 2011. Acesso em: 18 nov. 2011

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Jesuítas catequizando os Índios Fonte: Disponível em: <http://184.172.238.185/~peace//wp-
Fonte: Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/ content/uploads/2011/04/Pink-Floyd-Another-Brick-In-The-Wall1.
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Acesso em: 18 nov. 2011.

Figura 1.7- Pág. 42 Figura 1.8 - Pág. 48


Cenas do filme The Wall Alunos aplicando conceitos de Geometria na confecção de pipas.
Fonte: Disponível em: <http://thaiintelligentnews.files.wordpress. Fonte: Disponível em: <: http://www.es.gov.br/site/files/arquivos/
com/2010/07/brick2-5.jpg>. Acesso em: 18 nov. 2011. imagem/pipa02200809.jpg>. Acesso em: 18 nov. 2011.

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Figura 2.1 - Pág. 66
Hendrickje banhando-se em um rio, 1654, óleo sobre painel,
61,8x47 cm, National Gallery, Londres
Fonte: disponível em:<http://www.rembrandtpainting.net/>.
Acesso em: 12 dez. 2011

Figura 2.2- Pág. 68


Aristóteles Figura 2.3 - Pág. 70
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ Tomás de Aquino
commons/a/ae/Aristotle_Altemps_Inv8575.jpg>. Fonte: disponível em: <http://www.amoryresponsabilidad.
Acesso em: 18 nov. 2011. webgarden.es/>. Acesso em: 12 dez. 2011.

Figura 2.4 - Pág. 73 Figura 2.5- Pág. 75


Conteudismo Método Paulo Freire
Fonte: Disponível em: <http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/ Fonte: Disponível em:<http://2.bp.blogspot.com/_u5T1VKWyw1g/
arquivos/File/imagens/5pedagogia/7conteudismo.jpg>. Acesso em: TEMqoAfcHZI/AAAAAAAABS4/qFZ90DIYbeo/s1600/Method_Paulo_
12 dez. 2011.. Freire.jpg>. Acesso em: 5 dez. 2011.

Figura 2.6 - Pág. 82 Figura 2.7 - Pág. 96


Teoria Situação Problema
Fonte: <http://laidentidaddelarte.files.wordpress.com/2010/07/ Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/_Bt3oKbQVwao/TCqgmPD5vmI/
farsa-universal-teoria-dna-rna_image003.jpg?w=382>. Acesso em: AAAAAAAAAGo/zLqOUKBD3dA/s1600/HPIM4399.JPG>.
12 dez. 2011. Acesso em: 12 dez. 2011

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Figura 3.1- Pág. 116
Processo ativo de envolvimento do aprendiz
Figura 3.2 - Pág. 118
na construção de conhecimentos
Boas práticas pedagógicas
Fonte: disponível em: <http://www.sxc.hu/photo/909359>.
Fonte: Adaptada de: <http://mrg.bz>. Acesso em 10 dez.2011
Acesso em 10 dez.2011

Figura 3.3 - Pág. 123 Figura 3.4 - Pág. 137


Competência didático-pedagógica de natureza democrática Diferentes espaços escolares
Fonte: Adaptada de: <http://365paracambiarelmundo.wordpress. Fonte: disponível em: <http://www.sxc.hu/photo/1193228 >.
com>. Acesso em 10 dez.2011 Acesso em 10 dez.2011

Figura 3.5 - Pág. 137


Diferentes espaços escolares Figura 3.6 - Pág. 138
Fonte: disponível em: <http://www.sxc.hu/photo/585360>. Atividade realizada no caderno de um aluno
Acesso em 10 dez.2011 Fonte: Acervo da autora (1941).

Figura 4.1 - Pág. 151


Figura 4.2- Pág. 153
A importância do diálogo
Respeito aos saberes e à autonomia do educando
Fonte: Adaptada de: <http://www.i-gsk.de/images/kommunikation-
Fonte: disponível em: <http://gimnaz5-tuva.edusite.ru/
99-kb.jpg>. Acesso em 10 dez.2011
images/21248549.jpg>. Acesso em 10 dez.2011

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Figura 4.3 - Pág.156 Figura 4.4 - Pág. 157
Articulação entre conhecimento, habilidades, atitudes e valores Educação como humanização
Fonte: disponível em:<http://3.bp.blogspot.com/-Il84KERMSQY/ Fonte: Disponível em: <http://www.aronsonblogs.com/AISG/wp-
TmQto0l86hI/AAAAAAAAAbw/gf8FaPVtBKs/s1600/ content/uploads/2011/10/bored.bmp>.
partidos+politicos+800.jpg>. Acesso em: 12 dez. 2011 Acesso em: 18 nov. 2011.

Figura 4.5- Pág. 162


Educação como humanização
Fonte: Disponível em: <http://mrg.bz/MK28fJ>.
Acesso em: 18 nov. 2011.

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