Trabalho 1000004536
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CATEGORIA: CONCLUÍDO
Realização: Apoio:
RESUMO
A proposta do presente artigo é voltar o olhar para a prática profissional do
assistente social inserido na assistência social, frente à demanda específica de crianças
vítimas de abuso sexual, considerando os antagonismos que compõem a sua atuação
nesse setor, analisando as potencialidades e limitações de forma crítica, a fim de dar
contribuições sólidas acerca do tema.
INTRODUÇÃO
O/a Assistente Social se insere em uma realidade complexa e contraditória,
encontrando em sua prática limites para uma atuação diferenciada daquela instituída
tradicionalmente, gerando inúmeros limites e obstáculos para um agir comprometido com
os princípios e diretrizes do Código de Ética Profissional. De acordo com Marilda
Iamamoto (2001) ao analisar os desafios da atuação profissional do assistente social,
menciona:
“(...) um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é
desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de
trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas
emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só
executivo”. (2001:20)
Desse modo, o assistente social deve buscar a consolidação do Projeto Ético
Político através da sua prática, identificando seus limites e também as alternativas acerca
de suas atividades, fazendo da sua prática caminhos diferentes da rotina mecanizada das
bases estruturantes já existentes.
Para tal questão, Mirian Veras Baptista (1995) traz uma importante contribuição: “O
problema da rotina não está, portanto nela própria – ela é algo necessário – mas no fato
de ela ser imposta como um fim, em detrimento do real enfrentamento das questões e do
processo de criação e renovação de conhecimentos e práticas.” (1995:118).
De forma a expressar a quantidade de crianças abusadas sexualmente1 no Brasil,
utiliza-se da mais recente pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica (IPEA)
1
Hartman e Burgess (1989) definem o abuso sexual, como a exploração de criança por adulto, que a utiliza como fonte de prazer
sexual. A violência sexual caracteriza-se:
“[...] por um ato ou jogo sexual, em uma relação heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou
adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente, ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual
sobre sua pessoa ou de outra pessoa (AZEVEDO; GUERRA, 1998, p.33)”.
e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) de 2016, feito justamente para
expressar estatisticamente o número de violências contidas nacionalmente. A pesquisa
aponta que cerca de 50,9% dos abusos sexuais cometidos foram contra crianças abaixo
de 13 anos, sendo assim, expressam a maioria dos casos. Em 42,4% dos casos, as
vítimas relataram não ser a primeira vez. Conhecidos e amigos das famílias das vítimas
são responsáveis por cerca de 30% dos casos, os pais e padrastos são responsáveis por
12% cada. Números expressivos e que necessitam ser avaliados de forma emergencial.
Os objetivos deste artigo são: analisar a atuação do assistente social inserido na
assistência social, acerca da sua atuação frente à demanda de abuso sexual infantil;
apresentar referencial teórico sobre o tema do abuso sexual infantil e o papel do
assistente social no que se refere ao tema; elaborar um instrumento de coletas de dados;
coletar dados junto aos profissionais de assistência social; e analisar os dados coletados
durante a pesquisa com base no referencial teórico.
METODOLOGIA
O presente trabalho foi produzido com referencial teórico e pesquisa qualitativa, de
natureza exploratória descritiva, realizada com Assistentes Sociais que trabalham ou já
trabalharam com vítimas de abuso sexual infantil.
A pesquisa qualitativa, assim como cita Gil (2008), é um método utilizado por
pesquisadores para explicar o porquê das coisas. Nela o pesquisador é ao mesmo tempo
o sujeito e o objeto de suas pesquisas, sendo o principal objetivo do método a produção
de informações aprofundadas e atualizadas, levando em consideração aspectos da
realidade, centrando-se na dinâmica das relações sociais.
De acordo com Mynaio (2008):
“O método qualitativo é adequado aos estudos da história, das representações e
crenças, das relações, das percepções e opiniões, ou seja, dos produtos das
interpretações que os humanos fazem durante suas vidas, da forma como
constroem seus artefatos materiais e a si mesmos, sentem e pensam” (MINAYO,
2008, p.57).
No atual trabalho, optou-se por utilizar pesquisa exploratória descritiva, para que os
elaboradores tenham uma mais proximidade com o tema abordado, utilizando-se de
levantamentos bibliográficos, citações e entrevistas com indivíduos. Almeja-se fazer uma
análise descritiva do objeto de estudo, considerando o referencial teórico e os dados
coletados através de entrevista aberta semiestruturada com questionário previamente
elaborado, a fim de trazer flexibilidade para aprofundar ou confirmar as informações
apresentadas, se necessário.
As entrevistas foram concedidas de forma legal a autorizada por cinco assistentes
sociais que já trabalham ou trabalharam com a demanda de abuso sexual infantil, sendo
duas em entrevistas individuais, outras duas em entrevista dupla e a última foi concedida
via e-mail, com o questionário. Das quatro entrevistas presenciais, houve um mediador
fazendo a interlocução, utilizando-se de gravação e anotações, que contribuíram
significativamente para a análise de dados.
Após a coleta de dados, foi feito a categorização, que pode ser entendido, de
acordo com Olaenaga e Ispizúa (1989), como processo de redução de dados, destacando
nestes processos seus aspectos mais importantes.
A partir deste parâmetro, foram utilizados livros e artigos científicos para construção
da base teórica, a fim de subsidiar com as entrevistas, as considerações finais.
DESENVOLVIMENTO
Na atualidade, a problemática da proteção à infância e adolescência passou a ser
assumida como um dever de todos, como esclarece a Constituição Federal em seu ART
227:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de
2010)”.
Para compreender o papel da assistência social no atendimento a crianças e a
adolescentes vítimas de violência sexual, é necessário reconhecer sua consolidação
como política pública. A assistência social, na perspectiva da efetivação de direitos, ganha
status legal dentro do tripé da seguridade social estabelecido no art. 194 da Constituição
Federal, sendo a seguridade compreendida como “um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência social e à assistência social” (BRASIL, 1988).
O dispositivo legal que regulamenta a assistência como política pública, é a Lei
Federal nº 8742/1993, conhecida como Lei orgânica de Assistência Social (LOAS). Sendo
a lei atualizada por meio da Lei Federal nº 12.435/2011, que incluiu Escuta de crianças e
adolescentes em situação de violência sexual, atualização essa, que contribuiu para o
Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual, que por sua vez, é um instrumento
de garantia e defesa de direitos com o objetivo de fortalecer e implementar ações
fundamentais para assegurar a proteção integral à criança e ao adolescente em situação
ou risco de violência sexual.
O Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual, oferece o Serviço de
Enfrentamento à Violência de ação continuada que está vinculado à proteção especial de
média complexidade no que se refere a política de assistência social, que desempenha
papéis como a proteção de famílias que já vivenciaram as violações de direitos, porém
não é exclusivo dela, tendo a proteção social básica seu papel também, na prevenção de
riscos e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Para tais planos de ações a assistência social se divide em equipamentos e
prestação de serviços que irão efetivar a ação da prevenção e proteção continuada,
sendo uma delas o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social)
que oferece acolhimento, atendimento multiprofissional, psicossocial e jurídico, a partir do
momento que o indivíduo já teve seus direitos violados. Um dos Instrumentos do CREAS
é o PAEFI (Proteção e atendimento especializado a Famílias e Indivíduos).
O trabalho desenvolvido com as crianças e com adolescentes vítimas de violência
sexual pauta-se no atendimento psicossocial desenvolvido por uma equipe
multiprofissional, que tem por objetivo interromper, atender,orientar e acompanhar a
criança.
Devido à gravidade da situação da violência vivida por crianças e por adolescentes, o
serviço de atendimento deve ser norteado por uma proposta ética que garanta a
dignidade e proteção a crianças, sendo elas/eles sujeitos sem capacidade de defesa.
Cada categoria de profissionais tem seu código ético que rege essas questões, mas isso
não exclui a necessidade de estabelecerem acordos internos para melhor atender as
demandas, nesse sentido, os profissionais devem ter o comprometimento com o
atendimento oferecido a fim de garantir o pleno desenvolvimento de autonomia individual,
familiar e social, e evitar a revitalização.
O adoecimento, nos postos de trabalho, dos técnicos que atuam com violência é
uma constante. De acordo com Alcofrado (2018) no campo específico da violência sexual,
os profissionais entrevistados apontam a falta de apoio institucional ao trabalho específico
com as vítimas, no que tange ao suporte emocional, na perspectiva do cuidar do cuidador
tem levado ao comprometimento da saúde desses trabalhadores. Até porque, atuar com a
dor do outro, na qualidade de testemunho indireto do ato abusivo sexual, não é tarefa fácil
para nenhum profissional, requerendo teste um suporte emocional para que tal realidade
não imprima um adoecimento físico e/ou mental dos profissionais envolvidos
(ALCOFRADO, 2018 p.379).
RESULTADOS
Foi conduzida a primeira entrevista no CRAS Alto Boqueirão, local de trabalho da
primeira entrevistada, que tem um longo histórico diante as políticas de assistência,
formada desde 2008, a técnica respondeu de forma coerente todas as perguntas dirigidas
a ela, algumas falas com mais propriedade por conta da aproximação com determinados
temas.
Perante a segunda entrevista, a técnica que atua hoje em uma rede de acolhimento
a pessoas em situação de rua, respondeu às perguntas se baseando em sua atuação do
passado, ou seja, na atualidade ela não tem mais contato com vítimas de abuso sexual, o
que despertou mais interesse nos interlocutores em saber e até realizar uma comparação
no que diz respeito ao atendimento a esta demanda. Ao responder as perguntas, foi
possível notar extremas semelhanças entre as resposta, comparando à primeira
entrevista, entretanto notou-se o retrocesso em alguns aspectos, tais quais: os
profissionais tinham certo respaldo estatal no que se refere a sua saúde mental, um
programa chamado “Cuidando do Cuidador” era responsável por promover consultas
visando uma melhor qualidade de vida aos profissionais. Tal programa já não existe mais,
inclusive ao saber disso a técnica entrevistada se mostrou desapontada por tal retrocesso.
As semelhanças se deram devido ao campo de atuação de ambas as assistentes sociais,
que é o da assistência social.
Seguindo o roteiro estipulado na metodologia a terceira entrevista foi respondida
através de um questionário físico e não através de um interlocutor como nas outras duas,
a assistente social do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) de Ponta
Grossa e pós-graduada em Gestão Social evita responder algumas questões visando seu
lado ético e a falta de propriedade em alguns assuntos, entretanto reforça o apoio e o
trabalho psicológico, já que em seu campo de atuação, tal demanda é direcionada a área
psicológica. Destaca também a porta de entrada das denúncias do seu território, sendo
elas: CREAS e a NUCRIA (Núcleo de Proteção à criança e ao adolescente vítimas de
crimes).
Nas duas últimas entrevistas, realizadas conjuntamente, assistentes sociais da
defensoria pública estabeleceram e reafirmaram seus papéis dentro do espaço no qual
atuam. Direcionaram o fato da limitação que seus campos de trabalho reproduzem e no
que isso reflete em sua atuação. Acompanhando os casos após os primeiros
procedimentos, identificam e avaliam a partir de leituras de relatórios que inclusive são os
encaminhamentos que chegam até elas, sendo assim, ambas têm contato apenas com as
situações que já são abrigadas.
Ao responder à primeira pergunta que trata dos primeiros procedimentos ao entrar
em contato com a vítima de abuso sexual infantil, todas as entrevistadas deram a mesma
resposta, nenhuma delas entra em contato com a criança ou adolescente vítima do abuso
sexual, justamente por evitar uma revitalização, o contato sempre é feito com o
responsável.
Assim como a primeira pergunta, as respostas da segunda se assemelham quando
foram interpeladas mediante a idade das vítimas que os profissionais atendem. Notou-se
que a primeira e a segunda entrevistada mantiveram uma média entre a idade das vítimas
de abuso sexual atendidas em crianças de 0 a 11 anos. Já no contexto da terceira
questão que é referente ao perfil social dos indivíduos que chegam até o técnico,
enquadra-se basicamente em todas as respostas, o abuso ocorre em todas as esferas,
não segue um padrão racial, étnico e econômico.
Apesar disso, as respostas mantiveram coesão pelo fato de mencionarem o
território de extrema vulnerabilidade no qual atuam, ou seja, constatam abusos em
regiões pauperizadas e vulneráveis.
Ao serem questionadas sobre o prazo de acompanhamento para com as vítimas,
assim como nas anteriores, foi consenso entre as assistentes sociais em que não existe
prazo determinado para se ter um acompanhamento, depende de caso, da necessidade,
agravamento e até mesmo da articulação entre as políticas públicas. Já no caso de
defensoria pública, não há nenhum tipo de acompanhamento.
Apesar de a quinta pergunta que se refere a verba voltada às instituições não ter
sido respondida por duas das assistentes sociais entrevistadas, as três primeiras
constataram que há uma certa deficiência da atuação profissional neste quesito. Segundo
elas, a parte financeira acaba ficando para a gestão pública, e elas acabam por não
questionar até pelo fato de não ter propriedade no assunto, apesar de serem capacitadas,
segundo o próprio código de ética, a planejar certas políticas, programas e projetos, e
todos necessitam de avaliações financeiras.
Quando indagadas no contexto de medidas a serem tomadas em relação ao
abusador, uma das assistentes sociais não respondeu à pergunta, entretanto as outras
quatro técnicas, sem exceção disseram que não trabalham com essa demanda, mediante
o abusador. E novamente houve concordância entre elas em que não se tem nenhum tipo
de capacitação para se trabalhar com essa demanda e a responsabilidade como
profissional é com a criança ou adolescente vítima do abuso, é o compromisso com o
código de ética, a defesa da família, a primazia do interesse do direito da criança.
Novamente houve um consenso em mais uma resposta na questão que se refere
aos subsídios que o ECA traz para o profissional. As respostas se direcionaram para a
relação do aparato legal que o mesmo traz. O ECA é uma diretriz na qual deveria
direcionar não somente a profissão Serviço Social, mas sim todos os profissionais que
possa a vir trabalhar com crianças e adolescentes, já que o mesmo tem como primazia
referente a questão na qual pede para que as profissionais expressem a relação do
Estado frente a atuação do mesmo, somente duas das entrevistadas também
responderam, as duas primeiras. A primeira entrevistada mostra-se extremamente
insatisfeita com a relação do Estado para com os profissionais da assistência. Essa
relação se dá expressamente em “uma via de mão única”, ou seja, o que é requisitado a
elas, ou melhor: exigido, além de muitas vezes não fazer parte de suas demandas ou
funções, acaba por não retornar às mesmas em relação ao seu desfecho. Sendo assim, o
processo torna-se paliativo justamente por cada um fazer um pouco e nenhum ter uma
visão da totalidade do contexto.
A segunda entrevistada coloca que a relação varia de equipamento para
equipamento, acentua o fato de que depende do local no qual o profissional atua, ainda
explicita o fato de que a área do ministério público acaba por ter essa visão de totalidade
que outras esferas acabam não tendo, sendo assim, a resposta vai de encontro com a
primeira justamente por confirmar ter essa segregação dentro da própria profissão.
Ao serem inquiridas a explicitar as redes que compõem o atendimento a vítimas de
abuso sexual infantil; as respostas se assemelham dentre as cinco entrevistadas, exceto
pela terceira entrevistada que acrescentou o NUCRIA em sua resposta. A rede de
proteção é composta pela Saúde (onde entram hospitais, unidades de saúde e clínicas),
Educação (especificamente escolas) e a Assistência (CRAS, CREAS, acolhimento
NUCRIA e em algumas esferas o Conselho Tutelar). O conselho tutelar não faz parte da
rede de proteção de algumas esferas municipais, O Ministério Público e a defensoria
pública são outros canais no qual recebem e tem contato com as vítimas de abuso sexual
infantil, compondo assim a rede de proteção.
Quando questionadas em relação ao maior canal de denúncias, todas responderam
que é o Disque 100 pelo fato de o anonimato trazer certa “segurança” ao denunciante.
Porém, há também outros meios como: o 181; 156; o conselho tutelar; a delegacia;
ministério público e NUCRIA.
Ao serem deferidas mediante a algum respaldo do Estado para com elas, todas as
entrevistadas ressaltaram o fato de não ter nenhum respaldo estatal, seja ele psicológico,
emocional e afins Entretanto a segunda entrevistada, que atuou com esta demanda a
cerca de 6 anos atrás, citou um programa existente na época chamado de “cuidando do
cuidador”, no qual era realizado com duas psicólogas por volta de duas vezes no mês, tal
respaldo foi de extrema importância para a técnica e na atualidade não existe mais.
As duas assistentes sociais que responderam à pergunta referente aos maiores
impactos sociais do abuso sexual afirmaram que o maior impacto sentido pela vítima é o
psicológico, aquele trauma que muitas das vezes são irreversíveis e que acaba afetando
toda sua vida social. As respostas foram breves em tal pergunta justamente por não terem
propriedade psicológica de fala. São nestes espaços que se podem reivindicar a
sustentação das políticas públicas, direcionadas é claro, para cada demanda. O mais
importante de tais espaços é a participação da sociedade civil, sendo assim, é um dos
poucos aparatos no qual é direta a participação da democracia, prevista inclusive na
constituição brasileira.
Concordado por todas, o trabalho multidisciplinar é um trabalho complexo, ao qual
é de extrema importância, pois potencializa a capacidade protetiva no sentido de
prevenção, tendo vários olhares diferenciados para buscar um mesmo propósito, que é a
segurança da criança e o seu bem estar.
Quando contestadas sobre como o serviço social pode fortalecer o debate contra a
violência sexual infantil para além da assistência, as respostas aqui novamente
coincidem. Todas ressaltam a importância da articulação de todas as esferas, o Serviço
Social como profissão crítica e dialógica pode fortalecer os espaços incluindo debates aos
espaços familiares, grupais e até mesmo de conselhos, consolidando o papel de cada um
enquanto cidadão e enquanto profissional. É necessário evidenciar a primazia da
convivência sócio familiar e comunitária, assim como trazem as duas entrevistadas
conjuntamente: “Acolhimento de criança e adolescente deve ser de fato excepcional e não
ser a regra, que é um problema do Estado”, justamente pelo contexto histórico trazer uma
chamada cultura do acolhimento, e o Serviço Social pode e deve desconstruir tais
conceitos. São nestes espaços que se podem reivindicar a sustentação das políticas
públicas, direcionadas é claro, para cada demanda. O mais importante de tais espaços é
a participação da sociedade civil, sendo assim, é um dos poucos aparatos no qual é direta
a participação da democracia, prevista na constituição brasileira.
Concordado por todas, o trabalho multidisciplinar é um trabalho complexo, ao qual
é de extrema importância, pois potencializa a capacidade protetiva no sentido de
prevenção, tendo vários olhares diferenciados para buscar um mesmo propósito, que é a
segurança da criança e o seu bem estar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após feita a análise sobre a profissão Serviço Social e o profissional Assistente
Social que atua com vítimas de abuso sexual infantil, é possível destacar a importância da
teoria no campo profissional, é nessa conjunção que a práxis do profissional é construída.
Além deste fato, a teoria influencia a prática muito além deste aspecto de construção, é a
partir dela que é possível estabelecer uma visão totalitária da realidade, assim como cita
ARAÚJO ao referenciar NETTO: “Teoria é um conjunto de ideias e conceitos
sistematizados que surgem da realidade e reproduz idealmente a estrutura e dinâmica do
objeto que servem para analisar a própria realidade.”, ou seja, ela é fundamental para o
fortalecimento da atuação profissional.
Fazendo a pesquisa de campo para o presente artigo, é perceptível que a prática
acaba refutando com a teoria, não apenas por falta de vontade dos profissionais, e sim
pelas demandas absurdamente elevadas que chegam aos mesmos. Desta forma, além de
faltar recursos para que projetos, programas e políticas sejam idealizados (a partir desse
processo de totalidade que a teoria traz) pelos profissionais, o tempo acaba por ser um
dos maiores inimigos consequentemente, pois se tem muitas demandas, de outros órgãos
e esferas inclusive, as quais precisam ser respondidas. E isto vem como certa exigência
estatal, fazendo com que estas profissionais atendam estas demandas de forma
imediatista e com medidas paliativas.
Ao longo de toda a pesquisa percebeu-se que houve até mesmo certo retrocesso
em relação ao cuidado com as/os profissionais. A cerca de mais ou menos 6/7 anos atrás
havia um respaldo psicológico para que as/os assistentes sociais não saíssem tão
prejudicados emocionalmente ao trabalhar com tais demandas, como o abuso sexual, por
exemplo, e atualmente não há nenhum tipo de cuidado, trazendo agravamentos à saúde
mental deste profissional, como a síndrome do pânico.
Portanto, o maior desafio do profissional de Serviço Social é superar suas
limitações. Limitações estas que são postas em seus ambientes de trabalho, limitações
que os impedem de garantir tudo que é expressado pelo código de ética, conforme a sua
formação profissional, limitações que o forçam a reforçar medidas imediatistas e
paliativas, limitações posta de forma proposital pelo sistema para que a ordem capitalista
seja mantida, indo então contra toda a militância presente em suas dimensões ético-
políticas.
REFERENCIAL TEÓRICO
AGUIAR. Antonio Geraldo. Serviço Social E Filosofia Das Origens A Araxá. 2ª Edição.
Editora unimep e Cortez.
ESTEVÃO, Ana Maria R. O que é serviço social. Editora Brasiliense. Primeira edição 1984, 6ª
edição 1992.6ª impressão 2008.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 18 ed.
Petrópolis: Vozes, 2001.
VALENTE, Carolina Cabral. Araxá, Sumaré E Teresópolis. Grupo de estudos: passei direto.
VIOLÉNCIA 2018, Atlas de. Crianças são maiores vítimas de estupro no país. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/brasil/atlas-da-violencia-2018-criancas-saomaiores-vitimas-de-estupro-
no-pais-22747251>. Acesso em: 10 de abril de 2019.