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RESUMO
O objetivo central do artigo é analisar o tema das organizações criminosas no Brasil de forma
geral, primeiramente tecendo uma abordagem técnica, trazendo as principais
jurisprudências e leis a este respeito. Investigam-se as organizações criminosas,
enfatizando também as formas eficazes de combate ao crime organizado. De outra feita,
examinam-se a investigação criminal e os meios de obtenção de prova, no que diz respeito
aos meios taxativamente previstos e permitidos. Em seguida, averigua-se o procedimento
criminal a ser aplicado, trazendo referências tanto legislativas quanto jurisprudenciais e por
fim da execução penal. Outras abordagens temáticas são também correlacionadas ao texto
com analogias necessárias sobre organizações criminosas no Brasil, assim como acerca da
investigação criminal e processo e execução penal.
ABSTRACT
The main objective of this Paper is to analyze the issue of criminal organizations in Brazil in
general, first weaving a technical approach, bringing the main jurisprudence and laws in this
regard. On the one hand, Criminal organizations are investigated, also emphasizing effective
ways of combating organized crime. On the other hand, the criminal investigation and the
means of obtaining evidence are examined, with regard to the means strictly foreseen and
allowed. Then, the criminal procedure to be applied is investigated, bringing both legislative
and jurisprudential references and, finally, the criminal execution. Other thematic approaches
are also correlated to the text with necessary analogies about criminal organizations in Brazil,
as well as about criminal investigation and criminal prosecution and execution.
193 VirtuaJus, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 193-205, 2º sem. 2021 – ISSN 1678-3425
Artigo: Organizações criminosas no Brasil: atuação da República Federativa do Brasil no combate ao
crime organizado e o crime institucionalizado
1 INTRODUÇÃO
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Letícia Marques Lanna
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crime organizado e o crime institucionalizado
no Poder Legislativo, havendo grande contato entre membros de facções criminosas com
membros do Poder Legislativo, e também do Poder Judiciário.
A nova norma federal (Lei nº 13.964/2019), conhecida como Pacote ou Lei Anticrime
implementou modificações nas legislações penal e processual penal, tendo como objetivo o
endurecimento do combate às associações criminosas e o aperfeiçoamento do quadro normativo
penal brasileiro.
O pacote anticrime adicionou dois parágrafos ao artigo, tratando de questões processuais
importantes: o estabelecimento penal e o regime de cumprimento da pena.
Com a nova redação, as lideranças de organizações criminosas armadas ou com acesso
às armas iniciam o cumprimento da pena em estabelecimentos penais de segurança máxima, ou
seja, numa execução penal mais rigorosa.
Além disso, os réus condenados por integrar organizações criminosas ou por crimes
praticados através delas ficam afastados dos benefícios prisionais - como a progressão de
regime e o livramento condicional - quando existirem elementos que indiquem a manutenção
do vínculo associativo com a organização. O condenado, portanto, ficará restrito ao regime mais
rigoroso enquanto ainda houver algum tipo de vínculo ou contato com a organização criminosa
pela qual foi condenado.
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no Poder Legislativo, havendo grande contato entre membros de facções criminosas com
membros do Poder Legislativo, e também do Poder Judiciário.
Há diversas facções criminosas no Brasil, aproximadamente 70, como é o caso do
Primeiro Comando da Capital (PCC); Comando Vermelho; Sindicato do Crime; Família do
Norte; Família Monstro; Bando dos 30; Bando dos 40, atuando de maneira transnacional.
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acima de tudo, a luta pela liberdade, justiça e paz, a união contra a injustiça dentro das
prisões, liberdade e resgaste dos presos integrantes do PCC, com a ajuda mútua para
contratação de advogados.
O Comando Vermelho surgiu em 1979, no Sistema Prisional Brasileiro, a partir da
colaboração entre criminosos políticos e criminosos comuns durante a Ditadora Militar,
com o intuito de melhorar as condições dos presos.
Os princípios primordiais do Comando Vermelho são "cinco pilares" da facção:
liberdade, respeito, luta, justiça e união. Outra anotação registra os "10 mandamentos do
Comando Vermelho.
Entre os membros fundadores da facção, que se tornaram notórios depois de suas
prisões, estão os líderes Rogério Lemgruber, William da Silva Lima, o "Professor"; Luiz
Fernando da Costa, o "Fernandinho Beira-Mar";[5] Márcio dos Santos Nepomuceno, o
"Marcinho VP"; Gilberto Martins da Silva, o "Mineiro da Cidade Alta"; Elias Pereira da
Silva, o "Elias Maluco"; e Fabiano Atanásio da Silva, o "FB".O CV possui ramificações
em outros estados brasileiros como Acre, Amapá, Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Mato
Grosso, Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima e Tocantins.
O Primeiro Comando da Capital é uma das maiores organizações criminosas do
Brasil. A facção atua principalmente em São Paulo, mas também está presente em todos os
estados brasileiros, além de países próximos como Paraguai, Bolívia, Colômbia e
Venezuela. Possui cerca de 30 mil membros, sendo 8 mil apenas no estado de São Paulo.
A organização é financiada principalmente pelo tráfico de drogas, mas roubos de
cargas, assaltos a bancos e sequestros também são fontes de faturamento. O grupo está
presente em 90% dos presídios paulistas, os negócios particulares dos líderes e da própria
facção têm um faturamento estimado pela inteligência policial em, no mínimo, 400 milhões
de reais por ano. Alguns policiais e promotores acreditam que esse número pode chegar a
cerca de 800 milhões de reais.
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No Brasil, a integração desse crime com o Poder Público resulta no principal modo
de atuação dessa prática ilícita, uma vez que esta se mistura com as atividades estatais e se
camufla a elas.
Por esse motivo, esse é de difícil identificação e, como consequência, há uma grande
taxa de impunidade
Em regra, todas as partes que atuam nesses esquemas estão acordadas: as empresas
vencedoras da licitação; as que apresentam propositalmente para perder; os agentes
públicos responsáveis pela contratação; os políticos que os nomearam e os intermediários.
Tudo isso torna a investigação mais difícil e a maleabilidade da organização criminosa,
maior.
Portanto, são as condições que permitem a execução desse crime, os possíveis
autores e vítimas, as particularidades que possibilitam a caracterização desse delito, a
diferenciação deste em relação a outras atividades ilícitas e como se desempenha a
criminalidade política no nosso país.
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Na década de 80, foi constituída uma Comissão Especial sobre o Crime Organizado, no
Congresso Nacional, que tinha como relator o então Deputado Federal Michel Temer e por
objetivo estudar a legislação vigente de forma a elaborar uma lei eficaz no combate ao Crime
Organizado.
Em 1988 é promulgada a vigente Constituição Federal brasileira, a primeira após o
regime Militar, e que instituiu um Regime Democrático e Social de Direito, logo valorou com
precisão as garantias individuais. Em 1995, foi sancionada a lei de “Combate ao Crime
Organizado” – Lei n.° 9.034/95 – esta lei “veio com tantos defeitos” que foi impossível sua
aplicação de forma ampla. Tais defeitos constituíam na paradoxal figura do Juiz Inquisidor em
um Sistema Acusatório, tal como adotado pelo Brasil após a Constituição Federal de 1988.
E na ausência de uma definição precisa para o Crime Organizado, de forma a delimitar
sua esfera de atuação e permitir sua efetiva repressão. Todavia, com a referida lei também
ocorreram alguns avanços, tais como a identificação criminal, a delação premiada, etc.
Ainda no intuito de combater a criminalidade organizada foi promulgada a Lei n.
9.613/98, que dispõe sobre os crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, tal
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lei constitui-se numa tentativa de evitar a lavagem de dinheiro no país, já que como já foi dito
esta é a atividade que torna mais vulneráveis as organizações criminosas.
No que se refere à delação premiada, a Lei de Proteção às Testemunhas, promulgada
em 1999, Lei n. 9.807/99, foi muito importante para auxiliar a delação. Outra lei relevante para
o combate do Crime Organizado foi a Lei n.° 10.217/01 que alterou a Lei n. 9.034/95 e
introduziu na legislação processual brasileira a inovação da infiltração de agentes de polícia ou
“de inteligência” nas organizações criminosas, com o objetivo de verificar o modus operandi e
colher provas, isso, é claro, com a devida autorização judicial.
Para muitos esta lei trouxe progresso para o combate ao Crime Organizado, todavia,
mas há quem diga que a lei não foi clara e por isso pode gerar mais dificuldades que soluções
para a problemática em questão.
Em regra, apesar da Constituição Federal de 1988 ofereça um extenso rol de direitos e
garantias individuais, o que deveria favorecer a aplicação do Direito penal, o que ocorre é que
a legislação penal e processual penal vigente é arcaica e deficiente, vez que oriunda de uma
época em que vigia um Estado totalitário, o que impossibilita a efetiva aplicação de um Direito
Penal Democrático.
Os legisladores têm aceitado os reclamos do Movimento da Lei e da Ordem, ofendendo
diretamente os fundamentos e princípios do vigente Estado Democrático e Social de Direito,
além disso, outro fator de propagação do clima de violência e insegurança é a incerteza da
aplicação das leis vigentes, vez que se por um lado a corrupção se faz presente em todas as
esferas do poder, por outro o sistema prisional não cumpre com a sua função.
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Análise que se propõe da presente lei em sede deste trabalho diz respeito às
consequências de sua inefetividade ou falta de aplicação para o surgimento cada vez mais
frequente e numeroso de facções criminosas organizadas dentro dos presídios brasileiros.
Assim, diante do disposto nos artigos 10 e 11 da LEP cabe refletir se a assistência aos
presos ali prevista vem sendo efetivada nos presídios brasileiros e principalmente se em algum
lugar deste imenso país pode-se afirmar com convicção que os que ali estão presos sairão dali
aptos a viverem dignamente em sociedade.
O PCC no final de 1998 e início de 1999, em Sorocaba São Paulo, encabeçou uma das
maiores rebeliões já ocorridas neste país, onde foram feitos reféns os próprios familiares dos
presos, o que até então não havia acontecido devido ao “Código de ética” firmado entre os
presos de que as suas famílias eram intocáveis.
Segundo dados da OAB/SP, previamente da rebelião uma equipe que havia feito uma
visita aquele presídio e formalizou uma notícia sobre a gravidade da situação não só lá mais em
outros presídios, decorrente da superlotação carcerária e do desrespeito à LEP, situação essa
que tornava, e ainda torna, os presídios brasileiros verdadeiros celeiros de marginalidade e
criminalidade.
Feitas as considerações acima e diante de tudo o que já foi narrado e discutido neste
trabalho pode-se afirmar com certeza que a inefetividade da LEP é um dos principais elementos
ensejadores da criação e proliferação das facções criminosas organizadas dentro do sistema
prisional.
Não há como se ressocializar um indivíduo que privado da sua liberdade não tem o
mínimo de dignidade necessária para ser tido como um ser humano, aliás, é bom lembrar que a
Constituição prevê que todos têm direito a uma vida digna, sem exclusão de qualquer pessoa
ou de qualquer situação em que esteja.
É preciso ressaltar que para tudo há uma solução, basta que existam pessoas sérias e
empenhadas em fazer valer a Lei de Execução Penal, sendo que uma das primeiras medidas a
serem tomadas deve ser a reavaliação dos presos do Sistema Prisional verificando a situação de
cada um deles, de forma a se fazer justiça, dando, quanto a execução da pena, a cada um o que
é seu de direito.
Em segundo lugar deve ser feita uma operação anticorrupção dentro dos presídios de
maneira a retirar dos quadros funcionais todos aqueles que participam ou de qualquer modo
concorrem para que as facções criminosas tenham acesso a armas, drogas, celulares e etc.
Nos Estados Unidos, em virtude do federalismo “sui generis” ali adotado, há diversos
sistemas processuais no território estadunidense.
O Inquérito Policial teve seus princípios fixados no século XIX. Continua sendo o
mesmo procedimento extrajudicial de cunho inquisitorial e presidido somente por ocupantes do
cargo de Delegado de Polícia. Também manteve o seu caráter escrito e burocrático, que acaba
por prejudicar a celeridade das investigações.
Observando o juizado de instrução francês, apesar de possuir diversas falhas que
possuírem algumas condições a serem sanadas, pode-se extrair de tal sistema investigatório
algumas particularidades para incorporá-las ao padrão nacional de investigação.
Se quando do advento do atual Código de Processo Penal o país carecia de infraestrutura
viária e de comunicações eficazes, a realidade atual é diferente.
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crime organizado e o crime institucionalizado
A atuação do Crime Organizado no período pós Guerra Fria demonstra que a Revolução
Tecnológica ocorrida neste período e que gerou mudanças radicais nos meios de transportes e
nas comunicações, não serviram apenas para a globalização da economia, mas também para a
globalização do crime, pois as respectivas mudanças ocorreram a tal velocidade que os
governos se viram incapazes de controlar a movimentação de bens, serviços, pessoas e ideias
em seus países
Segundo Jeffrey Robinson, o Crime Organizado transnacional é responsável pela
manutenção da economia de diversos países latino-americanos, a situação é tão grave que em
muitos países o fim do Crime Organizado seria o mesmo que a decretação de falência destes
países.
Mas não é apenas na América Latina que o Crime Organizado participa de forma
considerável do PIB, segundo Enzo Musco a lavagem de dinheiro participa com percentuais
considerais do PIB da Itália, Holanda e Germânia. De acordo com o mesmo, a lavagem de
dinheiro é um fenômeno macroeconômico, que interessa ao direito por ferir uma pluralidade de
princípios do Direito Penal e por representar um perigo e uma ofensa a ordem econômica.
Atualmente o meio mais utilizado para a lavagem de dinheiro é a Internet, por movimentar uma
grande soma sem qualquer fiscalização, proporcionando um verdadeiro “Paraíso Fiscal on
line”.
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Letícia Marques Lanna
7 APONTAMENTOS FINAIS
Em decorrência das circunstâncias, ser tido como concluído, o que pode ser dito é que
numa visão panorâmica da problemática foi iniciado um trabalho que merece ser melhor
desenvolvido de forma a trazer maiores expectativas de melhoras para um problema que atinge
não só a população carcerária, mas a sociedade como um todo.
Dessa forma, é preciso ressaltar que Movimento como o da Lei e da Ordem são
superficiais, não atendem às raízes do problema, buscam soluções imediatistas, desprezam os
princípios inerentes a dignidade pessoa humana e desprezam a ressocialização do apenado.
REFERÊNCIAS
LIMA, Regina Campos. A Sociedade Prisional e suas facções criminosas. Londrina: Edições
Humanidades, 2003.
LIPINSKI, Antônio Carlos. Crime Organizado & Processo Penal. Curitiba: Juruá, 2003.
MAIA, Rodolfo Tigre. O Estado desorganizado contra o crime organizado – anotações à Lei
Federal 9.034/95 (organizações criminosas). Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1997.
MICHAEL, Andréa. Crime Organizado funciona como holding, diz estudioso. Folha.
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Artigo: Organizações criminosas no Brasil: atuação da República Federativa do Brasil no combate ao
crime organizado e o crime institucionalizado
2000]. Salvador: I Congresso Nacional de Direito Penal e Criminologia, 2000. Anotações sobre
a conferência.
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