Organização Do Trabalho Pedagógico 2015
Organização Do Trabalho Pedagógico 2015
Organização Do Trabalho Pedagógico 2015
do Trabalho Pedagógico
EDUCAÇÃO INFANTIL
2015
SUPERINTENDÊNCIA EXECUTIVA
Antonio Ulisses Carvalho
DEPARTAMENTO DE LOGÍSTICA
Maria Cristina Brandalize
Prezadas Equipes:
É com imensa alegria que apresentamos o Caderno de Organização do Trabalho Pedagógico
(OTP) para orientar os encaminhamentos no interior das unidades educativas que ofertam educação
infantil, no período de 09 a 13 de fevereiro de 2015, destinado também à Semana de Estudos
Pedagógicos (SEP).
Considerando que teremos 24 horas para a OTP, sugerimos a distribuição dessa carga horária,
da seguinte forma:
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Acolhimento e organização da equipe para o trabalho em 2015
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Estudo e reflexões sobre o tempo da experiência na educação infantil,
com ênfase na experiência de alimentar-se
Nessa acepção, para construir sentidos sobre o que representa na prática cotidiana esses
conceitos, é fundamental nesse processo de formação em que os profissionais da Educação
Infantil do município de Curitiba se encontram, refletir sobre algumas questões que permeiam “o
tempo e a experiência da criança na Educação Infantil”.
Diante do vídeo 1, refletir com o grupo: o que podemos considerar em relação ao tempo de
cada pessoa?
Após essa reflexão, organizar o grande grupo em sete pequenos grupos. Cada pequeno
grupo realizará um dos desafios sugeridos que está nas filipetas, por sorteio. O desafio terá a
duração de 10’ ou até ouvir o sinal de que o tempo acabou (sugerimos que a mediadora da
instituição planeje o espaço e os materiais para essa proposta com antecedência).
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Frente ao desafio que cada grupo recebeu, qual foi o sentimento diante da experiência e do
tempo disponibilizado?
A partir da apreciação do vídeo, como cada criança reage diante de proposições em que se tem
que esperar para realizar o que foi proposto?
Como foi a experiência das crianças de lidar com a situação da espera?
Nessa perspectiva, trazemos para reflexão, nos dois textos que seguem, as ideias das DCNEI
e de algumas autoras que nos auxiliam a avançar na construção de saberes sobre uma prática
pedagógica que valorize os tempos e as experiências das crianças no cotidiano da Educação
Infantil.
Texto 1
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Nessa perspectiva, Nascimento (2010) ao pesquisar sobre o que as crianças pensam sobre
o tempo, apontou falas que contribuem para que reflitamos sobre os modos como as crianças
significam o tempo:
O que é tempo?
É chuva, é sol, é como está o dia!
É o futuro.
No futuro, a gente é grande!
E esse tempo do relógio?
É hora, é a hora que dá as coisas, hora que dá a entrada, que dá a saída, que
dá a merenda.
Qual a atividade que demora mais aqui na escola?
A sala de música, que a gente fica um tempão sem fazer nada!
Desenho, que demora, demora...
E a atividade mais rápida?
Computador.
Parquinho, parquinho é rapidão, num instante a tia toca logo o sino e já é hora
de sair, a gente nem brincou direito.
Brinquedoteca é rapidão também! (p. 9, grifos nossos)
Nessas falas, fica evidente que para a criança da Educação Infantil o tempo subjetivo do prazer
tem mais significado do que o tempo objetivo e cronológico do relógio. Para Nascimento (2010):
Esses relatos indicam que as crianças utilizam recursos psicológicos para definir
o tempo cronológico. Para elas, o tempo real é o tempo do prazer. Pode-se
observar também como o tempo cronológico atropela o tempo psicológico,
para quem ainda não entende sua noção. Para a criança, a hora é aquilo que é
determinado por um fazer obrigatório, é a hora que dá as coisas, hora que dá a
entrada, que dá a saída, que dá a merenda.
Sobre as respostas às perguntas referentes a que atividades são mais ou menos
demoradas, é importante destacar que as aulas de música duram 30 minutos,
e parquinho e brinquedoteca duram 60 minutos, o que mostra que o tempo
psicológico não está, nesse caso, diretamente relacionado ao cronológico.
(p. 9 , grifo nosso)
Parafraseando Barbosa (2013, p. 219-220) esperamos que nas instituições de Educação Infantil
da RME de Curitiba os adultos construam tempos para estar junto com as crianças, fazer-se
presente e deixar as crianças atentas, interessadas, tranquilas de forma a assegurar conforto,
solicitude e respeito. Assim, é fundamental:
Valorizar o realizado, escutar o que dizem as palavras e os gestos, escutar os
pontos de vista. Não solicitar em excesso, intrusivamente, obliterando ou
roubando o tempo de inventar. [...] As crianças aprendem, com o apoio de seus
educadores, a decidir sobre os usos de seus próprios tempos – os pessoais e os
coletivos, a alegrar-se com suas possibilidades, criar acontecimentos, é isso que
cria, em toda a criança, experiências e repertórios que a acompanharão por toda
a vida, em sua alegria de viver, e que trarão, a partir das suas singularidades,
juntamente com a potência do coletivo, a novidade ao mundo. (BARBOSA, 2013,
p. 119-220)
Considerando o exposto e o cotidiano de sua turma, propomos, em pequenos grupos e pos-
teriormente no grande grupo, uma reflexão sobre as seguintes questões3:
a) Como você percebe o tempo institucional, objetivo, cronológico e predeterminado e o tempo
subjetivo e psicológico da criança?
b) O tempo subjetivo da criança é considerado ou o tempo objetivo da instituição é o que regula o
tempo em todos os momentos?
c) Qual a possibilidade de uma experiência terminar quando termina o tempo subjetivo da criança?
³ Estas questões foram elaboradas a partir das ideias apresentadas por Nascimento (2013).
9
Texto 2
Nessa mesma perspectiva, Barbosa (2014) apontou em sua palestra no 8.º Seminário Municipal
da Educação Infantil do Município de Curitiba que as interações humanas têm um caráter simbólico
que abarca “a interpretação constante dos próprios atos e dos atos dos outros como uma cena que
envolve a presença de dois ou mais atores que exercem influência recíproca (negociação, partilha,
co-construção)”.
Portanto, o cotidiano da Educação Infantil possui um “espaço coletivo de educação onde as
crianças pequenas encontram, todos os dias, um mesmo grupo de colegas e de adultos com
os quais irão aprender a se relacionar”. A autora assinala que neste espaço as interações são
abrangentes, na medida em que cada criança ao ir para a instituição educativa leva consigo os
hábitos e as culturas de suas famílias, que vêm à tona nas interações. E salienta ainda que essas
trocas entre as crianças interferem nas relações dentro da instituição, que muitas vezes também
repercutem no ambiente familiar.
Isso implica considerar, em conformidade com Barbosa (2013), que: as crianças ao interagirem
descobrem que existem diferentes modos de fazer as coisas; as crianças são profundamente
influenciadas pelos coetâneos, elas começam a estabelecer relacionamentos consistentes com os
amigos e aprendem a comunicar-se, a criar uma sociedade infantil; as relações com os seus pares
contribuem para o desenvolvimento das competências sociais das crianças; as crianças aprendem
na interação com seus companheiros comportamentos que não poderiam aprender com os
adultos, porque são elementos culturais da infância.
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Outra condição a ser considerada na experiência é a diversidade. Para Augusto (2013) esta é
a segunda condição para que a experiência seja significativa para as crianças. E pode ser realizada
“por meio da articulação de propostas diversas em atividades individuais ou coletivas, regulares e
sistemáticas, constituindo campos mais amplos”. (p. 23)
Nessa dimensão, de acordo com as DCNEI (2010), a diversidade de experiências é fundamental
para que as crianças, tendo como eixo norteador as interações e brincadeiras, tenham no cotidiano
das instituições de Educação Infantil, experiências que:
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Outras demoram mais. Às vezes, encontram dificuldades técnicas em solucionar seus
problemas, em outras se entretêm com o que observam na mesa ao lado, pensam,
alimentam novas ideias, iniciam novos projetos quando já deviam estar encerrando o
programado. Por isso, construir uma experiência que respeite os tempos de criação
de cada um é um desafio para o professor, mas necessário à Educação Infantil, já que
aprender a reconhecer e lidar com seus próprios tempos, o interno e o
externo, é também objeto de aprendizagem das crianças. (p. 25-27, grifo
nosso)
Diante dessas três condições para que as crianças construam sentidos e conhecimentos
em suas experiências, é indispensável considerar a vida cotidiana das crianças dentro e fora da
instituição educativa, na mesma perspectiva que Barbosa (2013), isto é:
É a partir das vidas cotidianas que os bebês realizam suas experiências iniciais
com os objetos, com os amigos, com as pessoas que os alimentam, com suas
brincadeiras e com as histórias que escutam e as músicas que ouvem. São esses
pequenos atos, feitos em conjunto, que dão início à construção de um mundo real
e à formação de um mundo imaginário assim como à possibilidade de inventar
formas dilatadas da vida, ligando as artes do fazer às artes do viver. [...]
Com os adultos e as demais crianças, cada bebê ou criança aprende maneiras de
estar e se relacionar com o mundo, criar seu estilo de ser. Cabe aos adultos em
seu papel de acompanhantes mais experientes, ofertar tempo para escutar uma
poesia, uma música, uma voz, imagens, ideias que ampliem as sensibilidades
infantis. [...]
A vida cotidiana é a vida mesma; nela estão em funcionamento os sentidos,
capacidades, sentimentos, paixões, ideias, pensamentos. É através das
experiências compartilhadas na vida cotidiana que aprendemos muito daquilo que
usamos para estar no mundo e conviver com os demais, é com essa bagagem
que nos inserimos como coparticipes nos valores e especificidades de nossas
culturas. Construir a experiência, narrar a experiência, aprender da experiência.
(BARBOSA, 2013, p. 218-219)
E, nesse contexto, Augusto (2013) nos previne quanto ao uso do termo experiência na Educação
Infantil:
Somos expostos cotidianamente a inúmeras situações, às vezes conhecidas,
outras vezes novas. Mas nem todas se constituem em experiência
educativa. Uma análise de um dia vivido na instituição de Educação Infantil pode
apontar uma lista de inúmeras atividades pelas quais as crianças e professores
passam e que pouco as afetam. Atividades com pouco ou nenhum desafio, como
preencher fichas de tarefas simples, ligar pontos, colorir desenhos prontos etc.;
conhecer uma grande quantidade de informações extraídas dos livros, sem
conversar com os colegas sobre os sentidos que isso tem para cada um;
longos períodos de espera conduzidos de forma heterônoma pelos adultos;
exercícios repetitivos de coordenação motora, preparatórios de alfabetização,
entre outros, são alguns exemplos de vivências que comumente não constituem
uma experiência transformadora. (p. 20)
Portanto, quando propomos às crianças atividades como fazer bolinhas de papel crepom, não
estamos contribuindo para ampliar as experiências educativas das crianças. Da mesma forma, é
indispensável que o professor não negligencie o planejamento e fique somente no espontaneísmo.
Ele precisa ser um estudioso da infância, um pesquisador, na medida em que:
Pensar um currículo como um conjunto de práticas que articulam experiências
implica assumir que não basta ao professor e à própria instituição deixar o tempo
passar e apenas acompanhar as experiências espontâneas e casuais das
crianças. ( p. 19-21)
Desse modo, nas instituições de Educação Infantil da RME de Curitiba, esperamos que sejam
efetivadas propostas que coloquem a criança no centro do trabalho pedagógico, como protagonista
nas experiências. Isso implica também na marca da autoria do adulto ao desenvolver seu trabalho
como profissional da Educação Infantil.
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Considerando essa fundamentação e as experiências propostas para as crianças da sua
turma, propomos as seguintes reflexões, primeiramente em pequenos grupos, por turma, e
posteriormente no grande grupo.
a) Quais experiências estão sendo proporcionadas às crianças da sua turma de Educação Infantil?
b) Como estão sendo consideradas as condições de interação, de diversidade e de continuidade
dessas experiências? Exemplifique.
c) O que você acredita que é necessário rever na sua prática educativa para construir contextos de
experiências que respeitem os tempos de investigação, exploração e criação das crianças?
Ao considerar as nossas reflexões sobre o tempo e a experiência das crianças das turmas de
Educação Infantil, convidamos cada profissional a direcionar o seu olhar para os tempos das
crianças nas experiências de alimentação no cotidiano das instituições de Educação Infantil, nas
propostas que seguem.
De acordo com o Parecer CNE/CEB n.º 20/2009, as instituições de Educação Infantil devem
assegurar a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado como algo indissociável ao
processo educativo :
As práticas pedagógicas devem ocorrer de modo a não fragmentar a criança nas
suas possibilidades de viver experiências, na sua compreensão do mundo feita
pela totalidade de seus sentidos, no conhecimento que constrói na relação
intrínseca entre razão e emoção, expressão corporal e verbal, experimentação
prática e elaboração conceitual. As práticas envolvidas nos atos de alimentar-se,
tomar banho, trocar fraldas e controlar os esfíncteres, na escolha do que vestir,
na atenção aos riscos de adoecimento mais fácil nessa faixa etária, no âmbito
da Educação Infantil, não são apenas práticas que respeitam o direito da criança
de ser bem atendida nesses aspectos, como cumprimento do respeito à sua
dignidade como pessoa humana. Elas são também práticas que respeitam
e atendem ao direito da criança de apropriar-se, por meio de experiências
corporais, dos modos estabelecidos culturalmente de alimentação e promoção
de saúde, de relação com o próprio corpo e consigo mesma, mediada pelas
professoras e professores, que intencionalmente planejam e cuidam da
organização dessas práticas. (p. 9)
A partir daqui, vamos sistematizar alguns conhecimentos importantes ligados a uma das
várias necessidades das crianças em nossos espaços educativos (escolas, CEIs e CMEIs): a
alimentação.
Pretendemos que vocês reflitam sobre as experiências de alimentar-se em grupos, no
cotidiano da unidade, compreendendo os aspectos nutricionais e culturais da alimentação,
analisando o tempo e a organização do espaço, as ações de cuidado e bem-estar neste momento,
para assim propor a construção de práticas alimentares saudáveis.
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Para aquecer nossa conversa, convidamos vocês para a leitura da crônica A arte de
produzir fome, de Rubem Alves:
Adélia Prado me ensina pedagogia. Diz ela: "Não quero faca nem queijo; quero é fome".
O comer não começa com o queijo. O comer começa na fome de comer queijo. Se não tenho
fome é inútil ter queijo. Mas se tenho fome de queijo e não tenho queijo, eu dou um jeito de
arranjar um queijo...
Sugeri, faz muitos anos, que, para se entrar numa escola, alunos e professores deveriam
passar por uma cozinha. Os cozinheiros bem que podem dar lições aos professores. Foi na
cozinha que a Babette e a Tita realizaram suas feitiçarias... Se vocês, por acaso, ainda não as
conhecem, tratem de conhecê-las: a Babette, no filme "A Festa de Babette", e a Tita, em "Como
Água para Chocolate". Babette e Tita, feiticeiras, sabiam que os banquetes não começam com
a comida que se serve. Eles se iniciam com a fome. A verdadeira cozinheira é aquela que sabe
a arte de produzir fome...
Quando vivi nos Estados Unidos, minha família e eu visitávamos, vez por outra, uma parenta
distante, nascida na Alemanha. Seus hábitos germânicos eram rígidos e implacáveis. Não
admitia que uma criança se recusasse a comer a comida que era servida. Meus dois filhos,
meninos, movidos pelo medo, comiam em silêncio. Mas eu me lembro de uma vez em que,
voltando para casa, foi preciso parar o carro para que vomitassem. Sem fome, o corpo se
recusa a comer. Forçado, ele vomita.
Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe
em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce
da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do latim "affetare", quer dizer "ir
atrás". É o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros platônico, a fome que
faz a alma voar em busca do fruto sonhado.
Eu era menino. Ao lado da pequena casa onde morava, havia uma casa com um pomar
enorme que eu devorava com os olhos, olhando sobre o muro. Pois aconteceu que uma
árvore cujos galhos chegavam a dois metros do muro se cobriu de frutinhas que eu não
conhecia. Eram pequenas, redondas, vermelhas, brilhantes. A simples visão daquelas frutinhas
vermelhas provocou o meu desejo. Eu queria comê-las. E foi então que, provocada pelo meu
desejo, minha máquina de pensar se pôs a funcionar. Anote isso: o pensamento é a ponte que
o corpo constrói a fim de chegar ao objeto do seu desejo.
Se eu não tivesse visto e desejado as ditas frutinhas, minha máquina de pensar teria
permanecido parada. Imagine se a vizinha, ao ver os meus olhos desejantes sobre o muro, com
dó de mim, tivesse me dado um punhado das ditas frutinhas, as pitangas. Nesse caso, também
minha máquina de pensar não teria funcionado. Meu desejo teria se realizado por meio de um
atalho, sem que eu tivesse tido necessidade de pensar. Anote isso também: se o desejo for
satisfeito, a máquina de pensar não pensa. Assim, realizando-se o desejo, o pensamento não
acontece. A maneira mais fácil de abortar o pensamento é realizando o desejo. Esse é o
pecado de muitos pais e professores que ensinam as respostas antes que tivesse havido
perguntas.
Provocada pelo meu desejo, minha máquina de pensar me fez uma primeira sugestão
criminosa. “Pule o muro à noite e roube as pitangas.” Furto, fruto, tão próximos... Sim, de fato
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era uma solução racional. O furto me levaria ao fruto desejado. Mas havia um senão: o medo.
E se eu fosse pilhado no momento do meu furto? Assim, rejeitei o pensamento criminoso, pelo
seu perigo.
Mas o desejo continuou e minha máquina de pensar tratou de encontrar outra solução:
"Construa uma maquineta de roubar pitangas". McLuhan nos ensinou que todos os meios
técnicos são extensões do corpo. Bicicletas são extensões das pernas, óculos são extensões
dos olhos, facas são extensões das unhas. Uma maquineta de roubar pitangas teria de ser uma
extensão do braço. Um braço comprido, com cerca de dois metros. Peguei um pedaço de bambu.
Mas um braço comprido de bambu, sem uma mão, seria inútil: as pitangas cairiam.
Achei uma lata de massa de tomates vazia. Amarrei-a com um arame na ponta do bambu.
E lhe fiz um dente, que funcionasse como um dedo que segura a fruta. Feita a minha máquina,
apanhei todas as pitangas que quis e satisfiz meu desejo. Anote isso também: conhecimentos
são extensões do corpo para a realização do desejo.
Imagine agora se eu, mudando-me para um apartamento no Rio de Janeiro, tivesse a ideia de
ensinar ao menino meu vizinho a arte de fabricar maquinetas de roubar pitangas. Ele me olharia
com desinteresse e pensaria que eu estava louco. No prédio, não havia pitangas para serem
roubadas. A cabeça não pensa aquilo que o coração não pede. E anote isso também:
conhecimentos que não são nascidos do desejo são como uma maravilhosa cozinha na casa de
um homem que sofre de anorexia. Homem sem fome: o fogão nunca será aceso. O banquete
nunca será servido.
Dizia Miguel de Unamuno: "Saber por saber: isso é inumano..." A tarefa do professor é a
mesma da cozinheira: antes de dar faca e queijo ao aluno, provocar a fome... Se ele tiver fome,
mesmo que não haja queijo, ele acabará por fazer uma maquineta de roubá-los. Toda tese
acadêmica deveria ser isso: uma maquineta de roubar o objeto que se deseja...
(Rubem Alves)
Quais as impressões que tiveram após a leitura? Que reflexões podemos fazer sobre a experiência,
a interação, o respeito aos tempos?
Observando o painel de fotografias das comemorações em família trazidas por vocês, façam
as seguintes reflexões:
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Texto 3
Herança cultural
As refeições em geral são feitas em grupos, em pares. São momentos que possibilitam
escolhas, interação com o outro, compartilhar experiências e comemorar, entre outras situações.
A etimologia da palavra comemorar é de origem latina – commemorare – e significa trazer à
memória. Commemorare também significa com-memorare, isto é, “recordar com, recordar junto
com o outro”.
http://vejabh.abril.com.br/edicoes/parques-publicos-sao-opcao-divertida-aniversario-criancas-756656.shtml
http://www.mundodastribos.com/kit-completo-para-festa-de-aniversario-infantil-onde-comprar.html
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Para saber mais:
Texto 4
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Nos dias atuais, nos grandes centros urbanos, o excesso de trabalho e de atividades variadas
que ocupam muito de nosso tempo, faz com que tenhamos pouco ou nenhum tempo para preparar
as refeições, bem como saboreá-las. Na tentativa de priorizar as tarefas e ações do modo de vida
da sociedade atual, dá-se pouca relevância ao ato de comer refeições saudáveis e com calma,
aligeiram-se os momentos de refeições, por vezes preferindo refeições rápidas (fast-food, comidas
congeladas, salgadinhos, alimentos pré-cozidos). Essa é uma realidade vivida por algumas de
nossas crianças quando estão em casa, sendo privadas de sentir aromas e sabores dos alimentos.
1. Conversem no grande grupo sobre qual o papel de sua unidade para oportunizar a
prática social de alimentar-se. Como propor momentos de alimentação que permitam uma
experiência rica e de bem-estar para as crianças e adultos?
3. Analisem o vídeo da cidade de San Miniato, na Itália (13’3’’ a 17’41’’). Olhando para as crianças,
para as ações de educar e cuidar, o que podemos destacar? Sugerimos que este vídeo seja visto
na íntegra, nas permanências, para compreender as experiências das crianças.
4. Após estes repertórios e reflexões, assistam aos vídeos da unidade e discutam sobre este
momento:
• De que forma ocorre o deslocamento das crianças até as mesas (no caso da alimentação ser
realizada em sala) ou da sala de atividades para o refeitório?
• É percebido tempo de espera pelas crianças?
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• Quanto tempo é destinado para cada alimentação oferecida?
• Como as crianças interagem no ambiente? (Escolhem onde sentar? Sentam agrupadas por
turma? Conversam com os colegas e professores? Servem-se sozinhas?)
• As crianças são informadas previamente sobre o cardápio de cada refeição?
• As crianças demonstram preferência por alguns alimentos, bem como rejeitam alguns?
• Que ações são desenvolvidas tendo em vista os aspectos de saúde e bem-estar das crianças?
• Como aprimorar estes momentos, garantindo melhor qualidade às crianças?
Vamos planejar!
No grande grupo:
• Procurem pensar sobre os momentos de alimentação realizados em sua unidade, com um olhar
diagnóstico.
• Tendo em vista o cotidiano de sua unidade e as práticas educativas que nela são desenvolvidas,
quais se constituem experiências fundamentais para as crianças? Quais necessitam de mais
tempo? Quais merecem frequência no planejamento? O que não pode faltar?
Agora, organizados por turmas de atuação, elaborem um roteiro de trabalho para suas turmas
contemplando as experiências fundamentais para as crianças e os momentos de alimentação,
articulando o cuidar e educar, e prevendo os tempos para estas ações. Considerar nesse roteiro as
práticas educativas essenciais para a turma e os momentos de refeição realizados na instituição
que se configuram em situações educativas e que oportunizam às crianças construírem e
compartilharem conhecimentos.
Dicas e sugestões 4
Para que os momentos das refeições se tornem agradáveis para as crianças e profissionais, apresentamos aqui
alguns cuidados básicos a serem pensados e planejados:
1. Procure estabelecer um tempo para as refeições. Para isso, observe no seu grupo de crianças a média de tempo que elas
gastam para se alimentar. Quando as refeições tomam um período de tempo muito prolongado, às vezes, as
crianças acabam dispersando ou mesmo ficando irritadas (tempos de espera).
2. É importante que a criança reconheça os alimentos separadamente, por nome. Por isso não misture a comida
no prato a nomeie sempre que possível, ao lado da criança, enquanto interage com ela.
3. O local onde são feitas as refeições deve ser limpo, tranquilo, arejado, sem uso de TV. O cuidado com a estética
e aconchego são importantes: toalhas na mesa ou jogos americanos, guardanapos, talheres, pratos e copos.
4. Esteja atento e próximo às crianças para propiciar segurança e afetividade e para auxiliar nas experiências de
alimentar-se.
5. É importante aproveitar a curiosidade da criança. Se ela rejeitar o alimento, pode estar querendo dizer que não
(re)conhece aquele sabor. Mostre a ela que é importante provar para saber se o sabor agrada ou não, o que não
significa forçar a criança a comer.
6. No decorrer do ano faça com as crianças receitas de pão, bolachas, bolos para que elas possam reconhecer o
alimento pelo cheiro.
7. Convide as crianças para ajudar na colocação das mesas (toalhas e utensílios), bem como na ornamentação
deste espaço (vaso de flor, suporte para talheres, jogo americano, porta-guardanapo, quadros para as paredes).
4 Estas propostas foram elaboradas a partir das ideias apresentadas na Seção 2 – Alimentação: as práticas e costumes alimentares, Coleção
PROINFANTIL, Módulo III, Volume 6.
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Para continuidade
Esta será uma prática contínua nas unidades, tendo em vista que as
necessidades das crianças impulsionam as tomadas de decisão.
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REFERÊNCIAS
AUGUSTO, S. O. A experiência de aprender na Educação Infantil. In: Novas Diretrizes para a
Educação Infantil. Salto para o Futuro, Ano XXIII, Boletim 9, junho 2013.
ALVAREZ, L. Além da nutrição. In: Revista Educação Infantil, Editora Segmento, São Paulo, n.11,
p. 38-43, out., 2014.
_____. Tempo e Cotidiano: tempos para viver a infância. Leitura: Teoria & Prática, Campinas,
v. 31, n. 61, p. 213-222, nov., 2013.
NASCIMENTO, R. H.; ROSA, C. V. Sabor, saúde e afeto. In: Revista Avisa lá, Editora Instituto
Avisa lá: São Paulo, n. 22, p.15-17, abr. 2005.
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FICHA TÉCNICA
Elaboração
Francine Pereira de Araujo
Gisele Aparecida de Souza
Joseane de Fátima Machado da Silva
Silvana Regina Cordeiro Cruz
Coordenação
Vera Lúcia Grande Dal Molin
Giselle Viviane Barcik
Diagramação
Drieli Costa Lopes
Thieny Cleto Camargo
Revisão
Rosângela Carla Pavão Pereira
Sueli Vieira dos Santos
EDUCAÇÃO
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